O que é História?

Buscando pensar o que é História, ao longo desta questão intentaremos tecer algumas
reflexões sobre a natureza, utilidade, e desenvolvimento deste domínio de conhecimento.
Acreditamos que para tal empreitada a análise das referidas características é essencial para que se
possa entender melhor este controvertido objeto.
Considerando seu “surgimento” na Grécia das póleis com Heródoto (comumente
conhecido como o grande pai da História) podemos verificar a forte ligação desse tipo de
conhecimento com o gênero narrativo de caráter essencialmente descritivo que, se pautando em
relatos, se assemelhava demasiadamente com o que nós da modernidade entendemos por
atividade jornalística. Justificamos essa afirmativa levando em consideração a falta de rigor
metodológico e de problematização, tantas vezes presente nos trabalhos desses profissionais.
Ainda na Grécia, mas também pensando em realidades próximas de nós, por exemplo: o
Egito Antigo, Roma, A Mesoamérica e os mexicas; e outras mais distantes, como: a Europa
moderna, das Luzes, Revoluções... percebemos que, além de uma natureza germinada na
narrativa oral, a História também detém como parte do seu ser, a relação com a política: sendo
utilizada para destronar, legitimar, convocar indivíduos e nações para todo o tipo de atividade –
bélica ou não – ao longo dos séculos.
Destacamos ainda certas transformações na própria noção do fazer e entender histórico.
Estas foram constituídas tanto a partir de desenvolvimentos como de retrações. Exemplos
interessantes podem ser encontrados quando se observa sua aproximação e afastamento da
literatura; seu contato com formas que impuseram um maior rigor crítico e metodológico; a
passagem por períodos em que a própria História foi negada (Iluminismo), em contraposição a
outros que a transformaram em gênero quase literário (Romantismo); sua transformação em
disciplina científica, e início da institucionalização e regulação da atividade enquanto ramo
reconhecidamente profissional.
Portanto, refletir sobre o que é História produz em nós impulsos variados que nos
direcionam para horizontes distintos. Nós aqui privilegiamos uma análise que almejou
historicizar este objeto, pois entender o que é História é refletir sobre o que ela significa para
alguém no espaço-tempo. Deste modo, para nós (com algum receio) esta incômoda pergunta
ainda pode ser respondida nos seguintes termos: uma “ciência dos homens no tempo” 1.

1
BLOCH, Marc Leopold Benjamin. Apologia da história, ou, o ofício de historiador, Rio de Janeiro: J. Zahar, 2002,
p. 55.