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Aula de TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA- Prof.a. Nádia N.

Pires
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO :
Unidade 1 -AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO TEXTO Unidade 3 - TIPOS DE ARGUMENTO: SELEÇÃO E COMBINAÇÃO
ARGUMENTATIVO  Preâmbulo.
 O discurso jurídico e o advogado.  Argumento pró-tese.
 Função persuasiva do texto jurídico.  Argumento de autoridade.
 Tipos de auditório: convencimento e persuasão.  Argumento de oposição.
 Silogismo a serviço da argumentação.  Argumento de senso comum.
 Demonstração e argumentação.  Argumento de causa e efeito

Unidade 2 - ESTRUTURA E LINGUAGEM DO TEXTO ARGUMENTATIVO: Unidade 4 - Produção do texto jurídico argumentativo: fundamentação e
conclusão
OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO RACIOCÍNIO ARGUMENTATIVO
 Planejamento do texto argumentativo.
 Situação de conflito.  Expressões introdutórias de parágrafos.
 Tese. Contextualização do real.  Uso de conectores.
 Tipos de prova e indícios.  Produção de fundamentação e de conclusão.
 Raciocínio dialético.  A fundamentação nas diferentes peças processuais.
 Hipóteses causais e condicionais Unidade 5 - Revisão e fixação de conteúdo
Unidade 1 - Teoria da argumentação
I. AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO TEXTO ARGUMENTATIVO
I.1.A contextualização da disciplina Teoria e Prática da Argumentação Jurídica
Essa cotextualização diretamente ligada a necessidade de continuidade do trabalho de produção das peças processuais iniciado na disciplina
anterior, buscando:
- Reconhecer as diferenças entre texto narrativo e texto argumentativo.
- Compreender a relevância da narração para a produção da argumentação.
- Identificar que a parte argumentativa da peça inicial refere-se ao “Do Direito”
Tipologia textual: narração, descrição, dissertação, argumentação e injunção.
Como vemos em Fetzner (2007), no Direito, é de grande relevância o que se denomina tipologia textual: narração, descrição,
argumentação, injunção e dissertação. O que torna essa questão de natureza textual importante para o direito é a sua utilização na produção
de peças processuais, como a Petição Inicial, a Contestação, o Parecer, a Sentença, entre outras, podendo cada uma delas apresentar
diferentes estruturas, a um só tempo. Para melhor compreender essa afirmação, temos como exemplo a estrutura da Petição Inicial, a qual
peça pertence a um gênero híbrido do discurso jurídico, o que exige do profissional do direito o domínio pleno desses tipos textuais.
Exemplo - Texto Narrativo
No texto narrativo, os fatos são vividos por personagens em determinado lugar e tempo. Além disso, há um narrador que assume duas
perspectivas básicas diante do texto agindo como uma personagem ou como um mero observador. Leia o texto abaixo:
Tragédia brasileira
Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade. Conheceu Maria Elvira na Lapa, prostituída com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em
petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria. Quando Maria Elvira se apanhou de
boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar urna surra, um tiro, urna facada. Não fez nada disso: mudou de casa. Viveram três anos assim. Toda vez que Maria Elvira
arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bom Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, encantado, Rua Clapp,
outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e inteligência , matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de
organdi azul. Manuel Bandeira
 O quê? Romance conturbado, que resulta em crime passional.
 Quem? Misael e Maria Elvira.
 Como? O envolvimento inconsequente de um homem de 63 anos com uma prostituta.
 Onde? Lapa, Estácio, Rocha, Catete e vários outros lugares.
 Quando? Duração do relacionamento: três anos.
 Por quê? Promiscuidade de Maria Elvira.
Quanto à estruturação narrativa convencional, acompanhe a sequência de ações que compõem o enredo:
 Exposição: a união de Misael, 63 anos, funcionário público, a Maria Elvira, prostituta;
 Complicação: a infidelidade de Maria Elvira obriga Misael a buscar nova moradia para o casal;
 Clímax: as sucessivas mudanças de residência, provocadas pelo comportamento desregrado de Maria Elvira, acarretam o descontrole emocional de Misael;
 Desfecho: a polícia encontra Maria Elvira assassinada com seis tiros
Exemplo - Texto Argumentativo
Os textos argumentativos , ao contrário, têm por finalidade principal persuadir o leitor sobre o ponto de vista do autor a respeito do assunto. Quando o
texto, além de explicar, também persuade o interlocutor e modifica seu comportamento, temos um texto argumentativo.
O texto dissertativo argumentativo tem uma estrutura convencional, formada por três partes essenciais.
 A introdução, na qual é apresentada a ideia principal ou tese;
 O desenvolvimento, que fundamenta ou desenvolve a ideia principal; e
 A conclusão
Exemplo: Estadão Quatro vereadores 'infiéis' perdem o mandato no PR 08/04/2008 22:57
Quatro vereadores perderam hoje seus cargos por trocarem de partido em cidades do interior paranaense. Por unanimidade, a Corte do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná
(TRE-PR) cassou os mandatos de Paulo Aparecido Ferreira Barbosa (vereador de Bandeirantes), Francisco Sanches Filho (Itambaracá), Antonio Carlos Ramalho dos Santos
(Amaporã) e Nerli Antunes dos Santos (Imbaú).
Barbosa elegeu-se pelo PSDB, mas migrou para o PT. Sanches Filho deixou o DEM para se filiar ao PMDB. Santos e Nerli trocaram o PTB pelo PSDB e PMDB, respectivamente.
Todos se elegeram por suas antigas legendas em 2004. Agora, chega a 19 o total de vereadores cassados pelo TRE-PR por infidelidade partidária, com base no entendimento do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de que o mandato pertence ao partido e não ao parlamentar.

I.2.O discurso jurídico e o advogado.


 O discurso argumentativo foi caracterizado de maneira intradiscursiva por suas diferentes formas estruturais, e de maneira
extradiscursiva pelo efeito perlocutório ao qual estaria vinculada, a persuasão. Segundo Perelman e Olbrechts-Tyteca, “o objeto da
teoria da argumentação é o estudo das técnicas discursivas que permitem provocar ou ampliar a adesão dos espíritos
às teses que se apresentam ao seu assentimento ”. Para teoria na argumentação na língua, bem como para a lógica natural, a
atividade argumentativa é co-extensiva a atividade da fala (enunciar é esquematizar, significar é dar uma orientação argumentativa).
 De acordo com Koch (1987), “a interação social por intermédio da língua caracteriza-se, fundamentalmente, pela argumentatividade”.
A proposta principal da autora é de que “o ato lingüístico fundamental é o ato de argumentar”. Isto significa que argumentar não é agir
na explicitude lingüística e sim montar o discurso envolvendo as intenções em modos de dizer cuja ação discursiva se realiza em
diversos atos argumentativos construídos na tríade: falar, dizer e mostrar. Com isso, o ato de argumentar é visto como ato de
persuadir, que “procura atrair a vontade”: envolvendo a subjetividade, os sentimentos, a temporalidade, buscando adesão e não
criando certezas.
Exemplo: Texto de Luís Fernando Veríssimo
Quando o nosso cortador de grama quebrou, minha mulher ficava sempre me dando a entender que eu deveria consertá-lo.
Mas eu sempre acabava tendo outra coisa para cuidar antes, o caminhão, o carro, a pesca, sempre alguma coisa mais
importante para mim. Finalmente ela pensou num jeito esperto de me convencer..
Certo dia, ao chegar em casa, encontrei-a sentada na grama alta, ocupada em podá-la com uma tesourinha de costura. Eu
olhei em silêncio por um tempo, me emocionei bastante e depois entrei em casa.
Em alguns minutos eu voltei com uma escova de dente e lhe entreguei..
'- Quando você terminar de cortar a grama,' eu disse, 'você pode também varrer a calçada.'
Depois disso não me lembro de mais nada. Os médicos dizem que eu voltarei a andar, mas mancarei pelo resto da vida'.
'O casamento é uma relação entre duas pessoas na qual uma está sempre certa e a outra é o marido...
I.3. Função persuasiva do texto jurídico
1.2.1. Elementos básicos participantes das condições da argumentação
As relações estabelecidas entre o texto e o evento, no momento de constituição da enunciação, que mais se destacam são:
 Os implícitos: 1 As pressuposições;
2. As Inferências;
 As marcas das intenções explícitas ou implícitas que o texto veicula;
 Os modalizadores que revelam sua atitude perante o enunciado;
 Os operadores argumentativos responsáveis pelo encadeamento dos enunciados (Koch, 1987).
O discurso para ser bem estruturado deve conter explícitos e implícitos, ou seja, todos os elementos necessários à sua compreensão, os
quais devem obedecer também às condições de progresso e coerência, para, por si só, produzir comunicação, em outras palavras, deve
constituir um texto. Dentre esses elementos devemos dar bastante atenção aos implícitos, sobretudo aos pressupostos e inferências.
Implícitos
Os implícitos são aquelas informações que necessitam de um ato de inferência ou de pressuposição para o entendimento, pois não
aparecem explicitamente no texto.
Exemplo: - A faculdade vai comprar o Manuelzão e Miguilim ?
- Está no provão.
 Informações explícitas: - Está no provão
 Informações implícitas: - (A resposta é dada como de modo a entender que o livro - Manuelzão e Miguilim (Campo Geral e Uma estória
de amor de Guimarães Rosa) - será comprado, pois consta na bibliografia do Provão do Curso de Letras )
a) PRESSUPOSIÇÃO :
DEFINIÇÃO: segundo KATZ E POSTAL (1966):
A pressuposição de uma sentença interrogativa é um conjunto de proposições afirmativas que dela podem ser derivadas. Estes autores
discutem a noção de pressuposição ( no texto pesquisado, apenas em relação às sentenças interrogativas). Assim, uma sentença
interrogativa tem como pressuposto o conjunto das sentenças declarativas que dela podem ser inferidas.
Exemplo: S = Quem rabiscou a parede da sala?
S1= Alguém rabiscou a parede da sala (PP), ou
S2= A parede da sala está rabiscada. (PP), ou
S3= A parede não estava rabiscada (PP), ou
S4= O que estava impresso na parede pode ser considerado rabisco (e não um bilhete).
CONCLUSÃO:
Um falante que diz uma sentença acredita que outros conteúdos pressupostos estarão sendo veiculados e serão aceitos pelo interlocutor. Do contrário, a
comunicação, quaisquer que sejam as circunstâncias, estará propensa a ruídos, os quais deverão ser "solucionados" pelas partes envolvidas.
Pressuposto é uma afirmação implícita que não pode ser negada pelo texto, porque há um elemento linguístico que o comprova.
Exemplo: - João parou de jogar. (O verbo parou pressupões que João jogava)
Pressupor é literalmente, supor de antemão, ou melhor, é a relação que fazemos através de idéias não expressas de maneira explícita, as
quais decorrem, obviamente, do sentido de certas palavras ou expressões contidas na frase.
Outro exemplo: “Paulo tornou-se um vegetariano convicto e um defensor ferrenho dos animais” .
 Informações explícitas : Informações implícitas:
- Paulo é vegetariano - Paulo tornou-se algo, logo: mudou de postura sobre determinado assunto.
- Paulo é um defensor ferrenho dos animais
O verbo tornar-se significa vir a ser, ou seja, tornar-se vegetariano; implicitamente nos informa que anteriormente Paulo não o era; logo:
Paulo era carnívoro, agora não o é mais.
INFERÊNCIA LÓGICA
Na inferência os argumentos apresentados anteriormente servem para fazer “inferências”; isto é, para executar uma dedução ou
demonstração.
Logo, se de uma o mais proposições (premissas) deduzimos a afirmação de certa proposição (conclusão) então teremos construído uma
inferência. Inferência é a operação pela qual, utilizando seu conhecimento de mundo, o receptor (leitor/ouvinte) de um texto estabelece
uma relação não explícita entre dois elementos (normalmente frases ou trechos) deste texto que ele busca compreender e interpretar.
Exemplo: Declaração: - Professor: Joãozinho, me diga sinceramente, você ora antes de cada refeição?
~ Joãozinho: Não professora, não preciso… A minha mãe é uma boa cozinheira.
A inferência científica é examinada por Charles Sanders Peirce em diversos trabalhos, sendo definida como um ato voluntário que
culmina na “adoção controlada de uma crença como consequência de um outro conhecimento” (PEIRCE, 1975, P. 32).
De acordo com Carlos Fontes (acesso 2009)
1. Designa-se por inferência a operação mental pela qual obtemos de uma ou mais proposições outra ou outras que nela(s) estava(m) já
implicitamente contida(s).
2. As inferências podem ser divididas em dois tipos: imediatas e mediatas.
a) A inferência imediata consiste em extrair de uma só proposição outra proposição, à qual se atribui o valor de verdade ou falsidade.
A inferência imediata pode ser obtida por oposição ou conversão.
b) A inferência mediata consiste numa conclusão obtida a partir de duas ou mais proposições. Este tipo de inferências podem ser de
três tipos: analógicas, indutivas e dedutivas.
3. O termo inferência usa-se por vezes como sinónimo de raciocínio. Embora tal associação não seja incorreta, a verdade é que inferência
possui um sentido mais abrangente que raciocínio.
4. O termo raciocínio será reservado aplicado apenas a um tipo de inferências, as mediatas.
Obs.: Mas o qual a diferença entre inferência e pressuposição?
Uma inferência é válida se, e somente se, a conjunção das premissas implicar a conclusão. Logo as inferências lógicas obedecem a
princípios tautológicos 1
I.4. Tipos de auditório: convencimento e persuasão .
Noção de auditório e acordo na T. Argumentação
O ORADOR E SEU AUDITÓRIO: Para o desenvolvimento da argumentação é necessária a atenção do auditório. É ela que irá
permitir que um orador venha ou não a influenciar diferentes tipos de interlocutores.
O auditório, em matéria de retórica, pode ser definido como “o conjunto daqueles que o orador quer influenciar com sua argumentação” (4) .
Portanto, o orador deve pensar conscientemente naqueles que busca persuadir, nos indivíduos que constituem o auditório ao qual dirige o seu
discurso.
Como se viu, em Garcia (1986) acerca dos silogismos categóricos, considerados como raciocínios analíticos, é impossível que a
conclusão seja falsa, a partir de premissas corretas e, de uma estrutura correta.
Desta forma, o que diferencia o raciocínio dialético do raciocínio analítico (demonstrativo) não é o aspecto formal, mas sim o material, é
dizer, pela natureza das premissas de que se utilizam.
O raciocínio dialético utiliza-se de premissas verossímeis, ou seja, de opiniões geralmente aceitas, ao passo que o analítico utiliza-se de
premissas verdadeiras e primeiras, que não podem sequer ser postas em dúvidas.
Sob à ótica de Aristóteles, a noção de argumento está ligada aos lugares [topoi] que constituem o objeto de investigação dos
Tópicos [em uma perspectiva mais direta] e da Retórica [de uma maneira transversal].
A importância atribuída por Aristóteles aos “topoi”, por sua vez, indica a influência que a escolha destes possui na obtenção de
resultados efetivos no processo argumentativo. Obs.: Mas o que é topoi?
Definição de topoi
No que tange ao vocábulo "topoi ", este aparece pela primeira vez no final do primeiro livro da Tópica, mas sua explicação encontra-se na
Retórica.
Aduz Aristóteles que os topoi são pontos de vista utilizáveis e aceitáveis em toda parte, que se empregam a favor ou contra o que é conforme
a opinião aceita e que podem conduzir à verdade. Mutatis mutandi (mudando o que deve ser mudado) , pode-se dizer que na tópica jurídica,
os topoi podem ser entendidos como os diversos pontos de vista compreendidos, ou comportados, pela norma (Chamone, 2006).
Exemplos: Na sala de aula, o professor estava analisando, com seus alunos, o Código Penal,
Um aluno de Direito foi fazer exame oral: “O que é uma fraude?”
Resposta do aluno: “É o que o Professor está fazendo.”
O professor muito indignado: “Ora essa, explique-se…”
O aluno responde: “Segundo o Código Penal comete fraude todo aquele que se aproveita da ignorância do outro para o prejudicar!”
1
*Tautologia : 1.Vício de linguagem que consiste em dizer, por formas diversas, sempre a mesma coisa. 2.Repetição de um mesmo conceito
Aluna regular do curso de Mestrado em Comunicação pela Universidade de Marília – Unimar. Artigo apresentado na disciplina de Teoria Semiótica: texto e imagem, sob orientação
da Profª Drª Linda Bulik. Marília 3 de junho de 2005.
Por outro lado, ao vincular incondicionalmente a argumentação à adesão, Perelman mostra que a sua teoria está intimamente ligada à
questão do assentimento (Perelman; Olbrechts-Tyteca, 199p.5).
A noção de argumentação sugere que apenas há argumentação no campo em que há liberdade de adesão. Neste caso, a idéia de
argumentação se mostra próxima da noção de diálogo, visto que o papel do auditório é imprescindível para que se argumente .
As teorias tópico-retóricas, especialmente as concepções de Perelman, representaram uma tentativa de ampliação do conceito de
racionalidade, de tal forma que dele fizessem parte tanto os julgamentos baseados em critérios de verdade quanto aqueles baseados em um
critério de aceitabilidade .
Essa vinculação estabelecida por Perelman, entre argumentação e auditório, apresenta uma noção de argumentação puramente
discursiva, associando sistematicamente os elementos postos à prova do interlocutor, deixando-a livremente subordinada a uma
atividade de propor teses, problematizá-las e respaldá-las pela adoção de razões, para criticá-las e refutá-las.
Porém não podemos esquecer à necessidade da aplicação de técnicas discursivas que produzem ou fazem crescer a adesão
dos interlocutores .
Técnicas argumentativas
Já que a argumentação visa à adesão do auditório a certas teses, as técnicas argumentativas se apresentarão sob dois aspectos
diferentes: "o aspecto positivo consistirá no estabelecimento de uma solidariedade entre teses que se procuram promover e as teses já
admitidas pelo auditório: trata-se de argumentos de ligação.
“O aspecto negativo visará abalar ou romper a solidariedade constatada ou presumida entre as teses admitidas e as que se opõem às teses
do orador: tratar-se-à da ruptura das ligações e dos argumentos de dissociação" (PERELMAN, 1987).
Exemplo: Um aluno de Direito foi fazer exame oral: “O que é uma fraude?”
Resposta do aluno: “É o que o Professor está fazendo.”
O professor muito indignado: “Ora essa, explique-se…”
O aluno responde: “Segundo o Código Penal comete fraude todo aquele que se aproveita da ignorância do outro para o prejudicar!”
O auditório como construção do orador (COLLI, Maciel, 2009)
O auditório presumido pelo orador deve estar o mais próximo possível da realidade para que a argumentação se mostre efetiva. Uma imagem
inadequada pode ter nefastas conseqüências, como por exemplo a repulsa coletiva em razão da exacerbada persuasão exercida pelo orador.
Deve-se, antes de tudo, conhecer aqueles para quem se fará uma argumentação e a quem se pretende conquistar.
Os autores salientam um importante ponto a ser esclarecido: o auditório heterogêneo. De fato, em um discurso para um auditório
heterogêneo, composto pela reunião de pessoas com diferentes caracteres, vínculos e funções, a tarefa é mais delicada. O orador, diante de
uma situação como essa, deverá utilizar múltiplos argumentos para conquistar o seu auditório. Trata-se de verdadeira arte, a tarefa de levar
em conta na argumentação um auditório multifacetado.
Em uma argumentação, não apenas o orador precisa se adaptar e transformar. O auditório, ao final do discurso, também deixa de ser o
mesmo. O “mundo de fantasia” exposto aos “ouvintes” oportuniza, por meio do condicionamento na relação orador-auditório, uma
transformação entre todos os sujeitos envolvidos.
A daptação do orador ao auditório (COLLI, Maciel, 2009)
Na argumentação, para o orador, mais importante que a própria consideração do que é verdadeiro ou probatório é o parecer que terá
daqueles a quem se dirige. É por esse fato que ao auditório incumbe a tarefa de determinar a qualidade da argumentação e o comportamento
dos oradores.
Justamente pelo fato de o orador estar sendo “quesitado” pelo auditório, o discurso daquele deverá ser adaptado à sua platéia. Um exemplo
muito claro utilizado na obra é o da diferença na utilização de provas para a adesão em um discurso entre um artigo cientifico e um romance
histórico.
Persuadir e convencer
Tendo em vista a infinidade de auditórios e a necessidade de constante adaptação do orador, a busca de uma técnica argumentativa que
pudesse ser imposta a todos os tipos de auditório, indiferentemente, faz-se sob à objetividade de transcender-se as particularidades históricas
ou locais (COLLI, Maciel, 2009).
Nessa parte do trabalho, os autores propõem a distinção entre a persuasão e o convencimento. A persuasão leva ao resultado (“Persuadir é
mais do que convencer, pois a convicção não passa da primeira fase que leva à ação”(5). O convencimento leva ao caráter racional da
adesão. “Propomo-nos chamar persuasiva a uma argumentação que pretende valer só para um auditório particular e chamar convincente
àquela que deveria obter a adesão de todo ser racional”(6).
A princípio, a comparação da concepção de convencimento e persuasão dos autores pode parecer a mesma que a de Kant, porém,
posteriormente, são apresentadas as diferenças.
A concepção kantiana faz da oposição subjetivo-objetivo o seu critério de distinção, enquanto que a teoria dos autores baseia-se no vínculo
entre persuasão-ação e convicção-inteligência. ARGUMENTAÇÃO

Convencimento Persuasão
convicção-inteligência persuasão-ação
Apelo a razão Apelo a emoção
Quanto ao papel normativo, que permitiria decidir qual a natureza convincente de uma argumentação, o autor classifica o auditório em três
espécies:
1º) auditório universal;
2º) o auditório como um único ouvinte;
3º) o auditório como deliberação consigo mesmo.
O Auditório Universal
Como auditório universal pode-se definir aquele que “é constituído por cada qual a partir do que sabe de seus semelhantes, de modo a
transcender as poucas oposições de que tem consciência. Assim, cada cultura, cada indivíduo tem sua própria concepção do auditório
universal” (COLLI, Maciel, 2009).
A argumentação feita a um auditório universal deverá convencer do caráter coercivo “das razões fornecidas, de sua evidência, de sua validade
intemporal e absoluta, independentemente das contingências locais ou históricas”(7).
A “verdade” de Kant desenvolve-se a partir desse convencimento. A “verdade” estaria ligada ao acordo comum de um juízo de entendimento
com relação a um objeto. Restaria dessa maneira apenas um juízo válido de razão a ser afirmado entre todos. Esse juízo “universal” e válido
estaria estampado nas crenças coletivas.
1.4. Silogismo a serviço da argumentação .
Silogismo e os Tipos de raciocínios - Estrutura lógica dos tipos de raciocínios:
Segundo Perelman e Olbrechts-Tyteca, “o objeto da teoria da argumentação é o estudo das técnicas discursivas que permitem provocar ou
ampliar a adesão dos espíritos às teses que se apresentam ao seu assentimento”. Para teoria na argumentação na língua, bem como para a
lógica natural, a atividade argumentativa é co-extensiva a atividade da fala (enunciar é esquematizar, significar é dar uma orientação
argumentativa) (Koch, 1987).
De acordo com M. Gex, o raciocínio pode ser classificado em três tipos diferentes:
. Raciocínio Dedutivo: o raciocínio dedutivo, ou dedução, é uma síntese de juízos que permite estabelecer uma relação de necessidade
lógica entre esses juízos. O(s) juízo(s) que servem de ponto de partida são designados por premissas, e aqueles a que se chega são
designados por conclusão. O raciocínio dedutivo é absolutamente rigoroso.
. Raciocínio Indutivo: o raciocínio indutivo, ou indução, consiste em generalizar uma propriedade ou uma relação verificada num certo
número de casos particulares para todos os casos semelhantes.
. Raciocínio por analogia: sendo conhecidas certas semelhanças entre objetos ou relações, supõem-se que existam outras características
semelhantes entre esses objetos ou relações.
Dedução: Dos três tipos de inferência, o da dedução é o mais simples e fidedigno. Parte de uma premissa maior para uma menor. Ele não
tem de criatividade, pois não adiciona nada além do que já é do conhecimento, mas é muito útil para aplicar regras gerais a casos
particulares.
Dedução: parte-se do geral para o particular , da generalização para a especificação.
A expressão formal do método dedutivo é o silogismo.
Exemplos de dedução : Todas as rosas daquele jardim são brancas. Todo o gado de João é da raça nelore.
Essas rosas são daquele jardim. Esse gado é de João.
Logo, essas rosas são brancas (seguramente). Logo, esse gado é da raça nelore.
Indução:
Segundo Peirce (1975), o raciocínio indutivo, ou sintético, é mais do que a mera aplicação de uma regra geral a um caso particular. Parte
de uma premissa menor para uma maior.
A indução é a inferência de uma regra a partir do caso e do resultado. Sendo assim, ela ocorre quando generalizamos a partir de certo
número de casos em que algo é verdadeiro e inferimos que a mesma coisa será verdadeira do total da classe.
Indução: partimos dos fatos particulares para a generalização; da observação e análise dos fatos concretos, específicos, para
chegarmos à norma, regra, lei, princípio, isto é, generalização.
“(...) A grande diferença entre a indução e a hipótese está em que a primeira infere a existência de fenômenos
semelhantes aos que observamos em casos similares, ao passo que a hipótese supõe algo de tipo diferente do que
diretamente observamos e, com freqüência, de algo que nos seria impossível observar diretamente. Daí deflui que
quando estendemos uma indução para bem além dos limites do observado, a inferência passa a participar da natureza da
hipótese. (...) A indução é claramente um tipo e inferência muito mais forte do que hipótese; e essa é a primeira razão
para distinguir uma da outra.” (PIERCE, 1975, p. 161)
Exemplos de indução: Essas rosas são daquele jardim. Essas laranjas são daquele pomar.
Essas rosas são brancas. Essas laranjas são da espécie lima..
Todas as rosas daquele jardim são brancas. Todas as laranjas daquele pomar são da espécie lima.
Alguns raciocínios da retórica clássica ligados à retórica moderna 2
 Raciocínio apodítico : aquele que possuía o tom da verdade inquestionável. Nele, a argumentação e realizada com tal grau de
fechamento que não resta ao receptor qualquer dúvida quanto a verdade do emissor.
 Exemplo: Zupavitin, a sopa que emagrece 1 quilo por dia. →
 O raciocínio implícito : se você quer emagrecer, deve tomar Zupavitin
 Raciocínio dialético: esse raciocínio busca quebrar a inflexibilidade do raciocínio apodítico, apontando para mais de uma conclusão
possível. Tornando-se um jogo de sutilezas que consiste em apresentar uma abertura no interior do discurso.
 Exemplo: Você poderia comprar várias marcas de sabão, mas há uma que lava mais branco;
 O raciocínio implícito: se você quer um sabão (pode escolhê-lo por vários critérios);
 Raciocínio retórico: visto como um procedimento para conduzir as idéias. Apesar de possuir certa semelhança com o raciocínio
dialético, o raciocínio retórico não busca um convencimento racional, mas igualmente emotivo (ou seja, persuasório).
 O raciocínio retórico é capaz de atuar junto a mentes e corações.
 Exemplo: No Dia das Mães, passe na joalheria Gargantilha de Ouro. Afinal, quem mais do que sua mãe para merecer um presente de valor?
2
CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. 15ª ed. São Paulo: Ática, 2002
Silogismo
Definição: Silogismo é a uma argumentação na qual, de um antecedente que une dois termos a um terceiro, infere-se um consequente que
une esses dois termos entre si.
O silogismo é constituído de três proposições declarativas que se conectam de tal modo que a partir das primeiras duas, chamadas
premissas, é possível deduzir uma conclusão.
A primeira, Premissa maior, deve ser universal - todo ou nenhum (não pode ser alguns)- pois sua característica é a universalidade.
A segunda, Premissa menor, será específica. Entre elas deve haver uma ideia comum. Essa é a condição indispensável para um silogismo
verdadeiro.
Geralmente se define silogismo como :Declarações ou premissas que se constituem em um ou dois juízos que precedem a conclusão, dos
quais ela decorre como consequente necessário dos antecedentes.
Estrutura: A partir da relação das ideias entre os dois juízos pode-se inferir a consequência.
Nas premissas, o termo maior (predicado da conclusão) e o termo menor (sujeito da conclusão) são comparados com o termo médio, e
assim temos a premissa maior e a premissa menor segundo a extensão dos seus termos
Algumas regras combinatórias determinam como e quando a estrutura do silogismo pode ser válida e verdadeira ou não.
 Premissas afirmativas - conclusão afirmativa;
 Premissas negativas - não se tira conclusão;
 Conclusão não pode ser maior que as premissas;
 Premissa afirmativa + premissa negativa - conclusão negativa;
 Duas premissas particulares - não há conclusão.
Um exemplo clássico de silogismo é o seguinte:
Todo homem é mortal. Premissas maior
Sócrates é homem. Premissas menor
Logo, Sócrates é mortal. Conclusão
A estrutra lógica do silogismo pode ser descrita do seguinte modo:
Todo homem é mortal (premissa maior)
homem é o sujeito lógico, e fica antes do verbo ;
é representa a ação , isto é, o verbo que exprime a relação entre sujeito e o predicado;
mortal é o predicado lógico, e fica após o verbo.
Se Sócrates é homem (premissa menor)
Logo, Sócrates é mortal (conclusão).
O silogismo pode ser:
- VÁLIDO quanto aos seus aspectos formais
- VERDADEIRO, quanto à matéria
- Ser uma coisa sem ser outra (a conclusão só pode ser verdadeira, se as duas premissas também o forem)
Ex. Premissa maior: Todo o comunista lê Marx
Premissa menor: Ora, o João lê Marx
Conclusão: Logo, o João é comunista
(Pela forma do silogismo, parece que o João é comunista. No entanto, se examinarmos as premissas, podemos ponderar se, pelo menos, a
maior é verdadeiro)
Regras do silogismo
Para que um silogismo seja válido, sua estrutura deve respeitar regras. Tais regras, em número de oito, permitem verificar a correção ou
incorreção do silogismo.
As quatro primeiras regras são relativas aos termos e as quatro últimas são relativas às premissas.
 São elas – regras relativas aos termos :
1.Todo silogismo contém somente 3 termos: maior, médio e menor;
2.Os termos da conclusão não podem ter extensão maior que os termos das premissas;
3.O termo médio não pode entrar na conclusão;
4.O termo médio deve ser universal ao menos uma vez;
5.
Tipos de Silogismo
Silogismos derivados (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.)
Silogismos derivados são estruturas argumentativas que não seguem a forma rigorosa do silogismo típico mas que, mesmo assim são formas
válidas.
Entimema: Trata-se de um argumento em que uma ou mais proposições estão subentendidas.
Exemplo: todo metal é corpo, logo o chumbo é corpo.
Neste caso, fica subentendida a premissa "todo chumbo é metal". Passando para a forma silogística:
Todo metal é corpo.
Todo chumbo é metal.
Todo chumbo é corpo.
Outro exemplo: Se estiver chovendo, eu levarei meu guarda-chuva.
Portanto, levarei meu guarda-chuva.
Neste argumento, falta a premissa “Está chovendo.”
Epiquerema: é um argumento em que uma ou ambas as premissas apresentam a prova ou razão de ser do sujeito, ou seja, são
premissas muidas de provas. Geralmente é acompanhada do termo porque ou algum equivalente.
Exemplo: Todos os professores devem saber um pouco de psicologia, porque o contato com mentalidades em formação exige deles
certa capacidde de compreender o coportamento e as reções dos jovens para melhor orientá-los e educá-los.
Ora, você é professor, logo precisa saber um pouco de psicologia
Silogismo non sequitur (não se segue): esta forma de silogismo é constituido de sofisma. Apesar de falacioso é muito utilizado devido á
ifluência de conceitos populares e inadequados ou por malicia.
Exemplo: Toda cidade tem igrejas Toda cidade tem igrejas;
Ora, Belém tem igrejas. Ora, Guamá tem igrejas;
Logo, Belém é uma cidade. Logo, Guamá é uma cidade.
Dilema
É um conjunto de proposições, em que a primeira é uma disjunção tal que, afirmando qualquer uma das proposições simples na premissa
menor, resulta sempre a mesma conclusão.
Exemplo: Se dizes o que é justo, os homens te odiarão.
Se dizes o que é injusto, os deuses te odiarão.
Portanto, de qualquer modo, serás odiado.
1.5.Demonstração e argumentação
Argumentar é expor de forma encadeada um conjunto de argumentos (razões) que justificam uma conclusão. Por outras palavras, um
argumento é um conjunto de premissas (razões, provas, ideias) apresentadas para sustentar uma tese ou um ponto de vista.
Conforme os tipos de argumentos (razões) que nos servimos para justificar uma dada conclusão, podemos estar perante uma demonstração
ou uma argumentação. Foi Aristóteles no Organon, quem fez pela primeira vez esta distinção.
No caso da demonstração, os argumentos (premissas) são verdadeiros e a partir deles só podemos deduzir uma conclusão verdadeira.
 Exemplo: Todos os mamíferos têm pulmões
Todas as baleias são mamíferos
Logo, todas as baleias têm pulmões
As premissas que partimos são verdadeiras e também inquestionáveis. A conclusão só pode ser uma. Negá-la seria entrar em
contradição. Aristóteles designou este tipo raciocínio de analítico.
No caso da argumentação os argumentos (premissas) são mais ou menos prováveis. Muitas pessoas são susceptíveis de serem
convencidos que os mesmos verdadeiros, mas nem todas irão concordar com esta posição. A conclusão está longe de gerar uma
unanimidade.
 Exemplo: Todos os alunos são estudiosos
João é aluno
Logo, João é estudioso.
A premissa que partimos é muito discutível. A conclusão inferida a partir da conclusão, embora logicamente válida, não obtendo a
concordância de todos.
Aristóteles designou este tipo raciocínio de dialético. Neste caso o orador não se pode limitar a expor algo que é admitido como verdadeiro,
mas tem que persuadir quem o ouve da sua veracidade das suas conclusões.
Com base nos exemplos anteriores, podemos afirmar que a argumentação se distingue da demonstração em muitos aspectos, tais como:
Na argumentação a conclusão é mais ou menos plausível; as provas apresentadas são susceptíveis de múltiplas interpretações,
frequentemente marcadas pela subjetividade de quem argumenta e do contexto em que o faz.
Na argumentação procura-se acima de tudo, convencer alguém que uma dada tese é preferível à sua rival. É por isso que só se argumenta
nas situações em que existem várias respostas possíveis. Toda a argumentação implica deste modo o envolvimento ou comprometimento de
alguém em determinadas teses
Na demonstração a conclusão é universal, decorrendo de forma necessária das premissas, e impõe-se desde logo à consciência como
verdadeira; as provas são sem margem de erro e não estão contaminadas por fatores subjetivos ou de contexto.
A demonstração assume um caráter impessoal. É por isso que podemos dizer que a mesma foi correta ou incorretamente feita, dado só se
admitir uma única conclusão.
O discurso argumentativo supõe a disponibilidade de duas ou mais pessoas (interlocutores), para confrontarem de forma pacífica, os seus
pontos de vista e argumentos.
Fazem-no de um modo que procura cativar a atenção e adesão às suas ideias por parte de quem os ouve (auditório).
Três das condições para que isso possa acontecer: o discurso dever ser coerente e consistente, isto é, crível, mas também o orador tem
que ser persuasivo.
Argumentação Falaciosa:
Falácia é, pois, todo o raciocínio aparentemente válido, mas, na realidade, incorreto que faz cair em erro ou engano. Tradicionalmente,
distinguem-se dois tipos de falácias: o paralogismo e o sofisma.
 O paralogismo é uma falácia cometida involuntariamente, sem má-fé;
 O sofisma, uma falácia cometida com plena consciência, com a intenção de enganar.
3.1. Como Evitar Falácias:
Cuidado com as palavras! Cuidado com o que você ouve, lê ou escreve.
 Você não deve acreditar em tudo o que ouve ou lê.
 Você deve ter habilidade para lidar com discursos, com textos, com o que lhe dizem, com argumentos que lhe apresentam nos
debates do dia-a-dia.
 Deve distinguir o que o vulgo confunde.
 Deve ter critérios para aceitar ou rejeitar enunciados, argumentos, declarações feitas. Muitas carecem de fundamentação.
A distinção entre eles é o compromisso com a ética, não com a lógica.
Exemplo: Professor, eu preciso tirar boa nota. Se eu aparecer em casa com nota tão baixa, minha mãe pode sofrer um ataque cardíaco.
3.2. Tipos de falácias
1. Apelo à Força
Definição: Consiste em ameaçar com conseqüências desagradáveis se não for aceita ou acatada a proposição apresentada.
Exemplo: - Você deve se enquadrar nas novas normas do setor. Ou quer perder o emprego?
- É melhor exterminar os bandidos: você poderá ser a próxima vítima.
Contra-argumentação:
Argumente que apelar para força não é racional, não é argumento, que a emoção não tem relação com a verdade ou a falsidade da
proposição.
2. Apelo à Misericórdia, à Piedade (ignorância de questão, fuga do assunto)
Definição: Consiste em apelar à piedade, à misericórdia, ao estado ou virtudes do autor.
Exemplo: - Ele não pode ser condenado: é bom pai de família, contribuiu com a escola, com a igreja, etc.
Contra-argumentação:
Argumente que se trata de questões diferentes, que o que é invocado nada tem a ver com a proposição. Quem argumenta assim ignora a
questão, foge do assunto.
3. Apelo ao Povo
Definição: Consiste em sustentar uma proposição por ser defendida pela população ou parte dela. Sugere que quanto mais pessoas
defendem uma idéia mais verdadeira ou correta ela é. Incluem-se aqui os boatos, o "ouvi falar", o "dizem", o "sabe-se que".
Exemplo:
Contra-argumentação:
- Os educadores, os professores, as mães têm o argumento: se todos querem se atirar em alto mar, você também quer? O fato de a maioria
acreditar em algo não o torna verdadeiro.
4. Apelo à Autoridade
Definição: Consiste em citar uma autoridade (muitas vezes não - qualificada) para sustentar uma opinião.
Exemplo: - Segundo Schopearhauer, filósofo alemão do séc. XIX, "toda verdade passa por três estágios: primeiro, ela é ridicularizada; segundo, sofre
violenta oposição; terceiro, ela é aceita como auto-evidente ". (De fato, riram-se de Copérnico, Galileu e outros. Mas nem todas as verdades
passam por esses três estágios: muitas são aceitas sem o ridículo e a oposição. Por exemplo: Einstein).
Contra-argumentação:
- Mostre que a pessoa citada não é autoridade qualificada. Ou que muitas vezes é perigoso aceitar uma opinião porque simplesmente é
defendida por uma autoridade. Isso pode nos levar a erro.
5. Falso Axioma
Definição: Um axioma é uma verdade auto-evidente sobre a qual outros conhecimentos devem se apoiar. Por exemplo: duas quantidades
iguais a uma terceira são iguais entre si. Muitas vezes atribuímos, no entanto, "status" de axioma a muitas sentenças ou máximas que são,
na realidade, verdades relativas, verdades aparentes.
Exemplo: - Quem cedo madruga Deus ajuda.
Contra-argumentação:
- Mostre que muitas frases de efeito, impactantes, bombásticas, retóricas, muito respeitadas podem ser meras estratégias mediantes as quais
alguém tenta convencer, persuadir o ouvinte/leitor em direção a um argumento. No caso dos provérbios, mostre que se contradizem:
- Ruim com ele, pior sem ele X Antes só do que mal acompanhado.
- Longe dos olhos, perto do coração X O que os olhos não vêem o coração não sente.
6. Falso Dilema
Definição: Consiste em apresentar apenas duas opções, quando, na verdade, existem mais.
Exemplos: - Brasil: ame-o ou deixe-o.
- Você não suporta seu marido? Separe-se!
- Quem não está a favor de mim está contra mim.
Contra-argumentação: Simples. Mostre que há outras opções.
7.
8. Generalização Apressada
Definição: Trata-se de tirar uma conclusão com base em dados ou em evidências insuficientes. Dito de outro modo, trata-se de julgar todo
um universo com base numa amostragem reduzida.
Exemplos: - Todo político é corrupto.
- Os mulçumanos são todos uns fanáticos.
Contra-argumentação:
Argumente que não se pode usar alguns membros de um grupo para julgar todo o grupo. Faça ver que se trata, na maioria das vezes, de
estereótipo: imagem preconcebida de alguém ou de um grupo.
4. Retórica, Coerência e Sentido na Argumentação Jurídica
 Argumentação Jurídica - Víctor Gabriel Rodríguez
Há diversas maneiras de se compreender e praticar a coerência na argumentação jurídica:
Quando se constrói um texto jurídico - por exemplo, alegações finais em um processo-crime - não trabalhamos com um processo
demonstrativo formal. Ou seja, o jurista não argumenta com o mesmo método com que o matemático resolve a equação: binário, como um
computador.
A argumentação implica uma série de opções:
1. Retórica,
2. Coerência e
3. Sentido
4.1. Retórica - É a partir da preocupação com forma de expressar –se algo de forma convincente que c omeça-se a estudar a
linguagem não enquanto língua , mas enquanto discurso 1. Ou seja, cabe à retórica mostrar o modo de constituir as palavras
visando a convencer o receptor acerca de dada verdade.
 A retórica clássica
A própria natureza do estado grego, tornara imperativo para certas camadas sociais dominar as regras e normas da boa argumentação. O
exercício do poder, via palavra, era ao mesmo tempo uma ciência e uma arte, louvado como instância de extrema sabedoria.
Arte retórica de Platão.
Essa obra pode ser considerada uma espécie de síntese das visões que se acumulavam em torno dos estudos retóricos, ou melhor ainda,
estamos diante de um corpo de normas e regras que visa a saber o que é, como se faz e qual o significado dos procedimentos persuasivos.
De acordo com Citelli (2002), A retórica tem, para Aristóteles, algo de ciência, ou seja, é um corpus com determinado objeto e um método
verificativo dos passos seguidos para se produzir a persuasão.
Assim sendo, caberia à retórica não assumir uma atitude ética, dado que seu objetivo não é o de saber se algo é ou não verdadeiro, mas sim
analítica cabe a ela verificar quais os mecanismos utilizados para se fazer algo ganhar a dimensão de verdade.
Como afirma Aristóteles: “assentemos que a Retórica é a faculdade de ver teoricamente o que, em cada caso, pode ser capaz de
gerar a persuasão. Nenhuma outra arte possui esta função, porque as demais artes têm, sobre objeto que lhes é próprio, a possibilidade de
instruir e de persuadir. Essa citação nos autoriza a deduzir o seguinte:
1. a retórica não é a persuasão;
2. a retórica pode revelar como se faz persuasão;
3. os discursos institucionais da medicina, da matemática, ou, da história, do judiciário, da família etc.
4. a retórica é analítica (descobrir o que é próprio para persuadir);
5. a retórica é uma espécie de código dos códigos, está acima do compromisso estritamente persuasivo (ela não aplica suas regras a
um gênero próprio e determinado), pois abarca todas as formas discursivas.
Entende-se por que a retórica não poderia ser ética, pois ela não entra no mérito daquilo que está sendo dito, mas, sim, no como aquilo que
está sendo dito o é de modo eficiente. Eficácia implica, nesse caso, domínio de processo, de formas, instâncias, modos de argumentar.
Ao longo da Arte retórica, vai-nos sendo revelado quais são essas regras gerais a serem aplicadas nos discursos persuasivos. Para tanto, um
dos mecanismos mais óbvios indicados por Aristóteles é aquele que fixa a estrutura do texto em quatro instâncias seqüenciais e integradas:
o exórdio, a narração, as provas e a peroração.
 1. Exórdio. É o começo do discurso. Pode ser uma indicação do assunto, um conselho,um elogio, uma censura, conforme o gênero
do discurso em causa. Para o nosso efeito consideremos o exórdio como a introdução. Essa fase é importante porque visa a
assegurar a fidelidade dos ouvintes.
 2. Narração. É propriamente o assunto, onde os fatos são arrolados, os eventos indicados. Segundo Aristóteles: O que fica bem
aqui não é nem a rapidez, nem a concisão, mas a justa medida. Ora, a justa medida consiste em dizer tudo quanto ilustra o
assunto, ou prove que o fato se deu, que constituiu um dano ou uma injustiça, numa palavra, que ele teve a importância que lhe
atribuímos . É propriamente a argumentação.
 3. Provas. Se o discurso haverá que ser persuasivo, é mister comprovar aquilo que se está dizendo. Serão os elementos
sustentadores da argumentação. Esta fase é particularmente significativa no discurso judiciário.
 4. Peroração. É o epílogo, a conclusão. Pelo caráter finalístico, e em se tratando de um texto persuasivo, está aqui a última
oportunidade para se assegurar a fidelidade do receptor, portanto, mais um importante momento no interior do texto. A ela se referia
Aristóteles:
A peroração compõe-se de quatro partes:
 a primeira consiste em dispô-lo [o receptor] mal para com o adversário;
 a segunda tem fim amplificar ou atenuar o que se disse;
 a terceira, excitar as paixões no ouvinte;
 a quarta, proceder a uma recapitulação.
Verdade e verossimilhança
Ficou claro quando colocamos as relações entre retórica e persuasão que não estava em causa saber até onde o ato de convencer se
revestia de verdade. Persuadir, antes de mais nada, é sinônimo de submeter, daí sua vertente “autoritária”.
Quem persuade leva o outro à aceitação de uma dada idéia. É aquele irônico conselho que está embutido na própria etimologia da
palavra: per + suadere = aconselhar. Essa exortação possui um conteúdo que deseja ser verdadeiro: alguém aconselha outra pessoa
acerca da procedência daquilo que esta sendo enunciado.
5. A narração a serviço da argumentação: a formulação dos argumentos na fundamentação simples .
As características da argumentação simples:
A fundamentação simples é aquela que propicia a subsunção do fato à norma, por meio de um raciocínio silogístico (premissa maior,
premissa menor e conclusão). Em outros termos, basta, no primeiro argumento, apresentar o ponto de vista que se pretende defender e os
três fatos de maior relevância para conseguir defender essa tese; no segundo argumento, deve-se aplicar a norma ao caso concreto por meio
de um procedimento demonstrativo silogístico (“Ocorreu x. Ora, a lei é clara quando diz que y. Então, z.”); o terceiro argumento é reservado à
tentativa de enfraquecer a argumentação da parte adversa.
6. TIPOS DE ARGUMENTOS
1.ARGUMENTOS DE AUTORIDADE :
Consiste em um recurso linguístico que utiliza a citação de autores renomados e de autores de um certo domínio do saber para
fundamentar uma idéia, uma tese, um ponto de vista.
Exemplo: Segundo Freire, ”Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção ou sua construção” (2001,
p. 24-25).
Esse tipo de argumento é constituído com base nas fontes do direito e/ou em pesquisas científicas comprovadas.
“A Constituição é muito clara quando diz que a vida é um bem inviolável. Uma sociedade democrática defende esse direito e recorre a
todos os meios disponíveis para que a vida seja sempre preservada e para que qualquer atentado a esse direito seja severamente
punido. No caso em questão, Teresa foi atacada de maneira covarde e violenta, porque não dispunha de meios para ao menos tentar
preservar sua vida. Portanto, o réu desrespeitou a Constituição Brasileira e incorreu no crime de homicídio doloso previsto no artigo 121
do Código Penal Brasileiro”.
2. ARGUMENTO BASEADO NO CONSENSO :
Consiste no uso de proposições evidentes por si mesmas ou universalmente aceitas como válidas, para efeito de argumentação.
No entanto, não se deve confundi-los com declarações sem base científicas e de validade discutível.
Exemplo: A educação é o alicerce do futuro. (refere-se a uma idéia aceita como válida )
É importante observar que o argumento de senso comum consiste no aproveitamento de uma afirmação que goza de
consenso; está amplamente difundida na sociedade.
“A sociedade brasileira sofre com a violência cotidiana em diversos níveis e não tolera mais essa prática. Certamente, a
violência é o pior recurso para a solução de qualquer tipo de conflito. Uma pessoa sensata pondera, dialoga ou se afasta de
situações que podem desencadear embates violentos. Não foi essa a opção de Anísio. Preferiu pegar uma faca e, como um
bárbaro, assassinar a mulher, evitando todas as outras soluções pacíficas existentes, como a imediata separação que o
afastaria definitivamente de quem o traiu. Aceitar sua conduta desmedida seria instituir a pena de morte para a traição
amorosa”.
3. ARGUMENTO PRÓ-TESE
Caracteriza-se por ser extraído dos fatos reais contidos no relatório. Deve ser o primeiro argumento a compor a fundamentação. A estrutura
adequada para desenvolvê-lo seria: tese + porque + e também + além disso. cada um desses elos coesivos introduz fatos distintos
favoráveis à tese escolhida.
Exemplo: “Anísio cometeu um crime doloso inaceitável, repudiado com veemência pela sociedade, porque desferiu três facadas certeiras no peito
de sua companheira, e também porque agiu covardemente contra uma pessoa desarmada e fisicamente mais fraca. Além disso, ele já
estava desconfiado do caso extraconjugal da mulher, o que afastaria a hipótese de privação de sentidos”.
4. ARGUMENTO DE OPOSIÇÃO
Apoiada no uso dos operadores argumentativos concessivos e adversativos, essa estratégia permite antecipar as possíveis manobras
discursivas que formarão a argumentação da outra parte durante a busca de solução jurisdicional para o conflito, enfraquecendo, assim, os
fundamentos mais fortes da parte oposta. Compõe-se da introdução de uma perspectiva oposta ao ponto de vista defendido pelo
argumentador, admitindo-a como uma possibilidade de conclusão para, depois, apresentar, como argumento decisório, a perspectiva
contrária.
Exemplo: “Embora se possa alegar que Teresa tenha desrespeitado Anísio, traindo-o com outro homem em sua própria casa, uma pessoa de bem,
diante de situações adversas, reflete, pondera, o que a impede de agir contra os valores sociais. Eis o que nos separa dos criminosos. É
certo que o flagrante de uma traição provoca uma intensa dor, porém o ato extremo de assassinar a companheira, por sua desproporção,
não pode ser aceito como uma resposta cabível ao conflito amoroso”.
5. ARGUMENTO BASEADO EM PROVAS CONCRETAS:
Apoia-se em evidências dos fatos que corroboram a validade do que se diz. Deve enfatizar-se, que não se podem fazer
afirmações sem apoio de dados consistentes, fidedignos, suficientes, adequados e pertinentes.
Exemplo: Pesquisas do Banco Mundial mostram que a jornada escolar é curta e uma baixa proporção do tempo é gasta em tarefas
propriamente escolares (CASTRO, Cláudio Moura. a hora na sala de aula. veja, 8 mai. 2002, p. 20)
1.1. Argumentos Baseados em fatos: é quando nos baseamos em fatos.
Fato: um acontecimento que foi registrado e documentado.
Para analisar como no direito utilizamos os argumentos baseados em fatos, devemos observar dois contextos diferentes: 1) Na praxes
jurídica, 2) Fora da praxes jurídica.
1) Na praxes jurídica: em uma ação ou processo judicial, em uma audiência (pragmática do direito) nesse caso, todo fato precisa ser
comprovado. Precisamos apresentar provas que tenham relação direta com os fatos alegados.
FATO PROVAS (um registro do fato – relação direta): documentais, periciais, testemunhais etc.
2) Fora da praxes jurídica: é quando o profissional não está inserido na pragmática do direito, mas simplesmente está defendendo uma opinião acerca de
um assunto ou uma questão de interesse social e jurídico. O profissional do direito está sempre envolvido em temas polêmicos,
que fomentam divergências e controvérsias. Questões como: pena de morte, legalização dos jogos de azar, desarmamento,
são exemplos disso. E o profissional do direito não pode ficar alheio a essas questões, cabe a ele discuti-las e sobre elas
apresentar suas opiniões. Nesse sentido, o profissional
Tese: sou a favor da maioridade aos 16 anos.
Argumento: Nos últimos anos, o índice de criminalidade juvenil aumentou 60%2. É um aumento bastante significativo. Adolescentes andam
armados, à espera de uma vítima.
6. ARGUMENTOS DA COMPETÊNCIA LINGUÍSTICA :
Consiste no uso da linguagem adequada à situação de interlocução. A busca dos efeitos argumentativos envolve uma conduta
quanto à escolha das palavras, locuções e formas verbais. A escolha de um termo em detrimento de outro implica no cruzamento
dos planos estilísticos e ideológicos na direção do discurso PERSUASIVO (CITELLI, 1999, p. 69).
7. ARGUMENTO DE ANALOGIA
É aquele que tem como fundamento estabelecer uma relação de semelhança entre elementos presentes tanto no caso concreto analisado
quanto em outros casos já avaliados, ou seja, após apresentar as provas do caso concreto, desenvolve-se um raciocínio que consiste em
aplicar o tratamento dado em outro caso ou hipótese ao caso ora avaliado.
O objetivo dessa estratégia é aproximar conceitos ou interpretações a partir de casos concretos distintos, mas semelhantes. A analogia é
também procedimento previsto no Direito como gerador de norma nos casos de omissão do legislador.
Exemplo: “Qualquer pessoa tem dificuldade de negar que utilizaria qualquer meio para defender alguém que ama. Em casos de um assalto, por exemplo,
uma mãe está perfeitamente disposta a matar o assaltante para defender a vida de seu filho. Para fugir de uma perseguição, o motorista de um
carro é plenamente capaz de causar um acidente para evitar que algo de mal aconteça aos caronas que conduz. O que há de comum nestes e em
tantos outros casos de que se tem notícia é que existe um sentimento de amor ou bem querer que impede que uma pessoa dimensione
racionalmente as conseqüências do ato que pratica em favor da proteção de alguém.”
8. CAUSA E EFEITO
Relaciona conceitos de causalidade e efeito com o objetivo de evidenciar as conseqüências imediatas de determinado ato (retirado das
provas) praticado pelas partes.
Exemplo: caso concreto
Roberto Pires contratou os serviços da clínica de estética Beleza Eterna para uma depilação a laser, na região da barba e do pescoço, por r$
2.576,00. Ele foi submetido a uma entrevista preliminar com um técnico de estética - não por um médico - e chegou a informar que tinha foliculite. Logo após a
primeira aplicação do laser, ele apresentou uma gravíssima reação alérgica.
O consumidor afirma que a aplicação também lhe causou dores de cabeça e nos olhos, além de acnes que lhe deixaram com uma aparência
horrível. Por ser recepcionista de uma grande empresa na área de comércio exterior, ele foi afastado do trabalho e, posteriormente, perdeu o emprego.
Roberto Pires propôs ação indenizatória, em que pediu reparação pelos danos morais, estéticos e materiais. Argumenta que todas as providências
adotadas pela empresa não foram suficientes para anular os efeitos dos danos causados.
Na petição inicial, a vítima contou que não realizou exames prévios necessários ao tratamento e, em razão dos problemas apresentados, ficou
deprimido, teve seu trabalho prejudicado e manteve distanciamento do meio social.
Sustenta o autor que “a indenização deve ser compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento
experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, e as condições sociais do ofendido”.
A Ré afirma que não foi responsável pelos danos causados ao recepcionista. Ao contrário, enfatiza que tomou todas as providências posteriores
necessárias à reparação do dano, mesmo não sendo por ele responsável.
9. PROCESSO DE INVERSÃO DO LUGAR :
No discurso jurídico, utilizamos com freqüência o “processo de inversão do lugar”. O que seria isso? De uma forma simples, podemos
dizer que é o processo por meio do qual levamos o interlocutor a se colocar no lugar de uma outra pessoa. Esse recurso é utilizado,
sobretudo, em situações que envolvem uma conduta reprovável (um erro, infração ou delito). Nesse caso, encontramos dois contextos:
1) Ou levamos o outro a se colocar no lugar da pessoa que cometeu a conduta reprovável;
2) Ou no lugar da vítima, a pessoa que sofreu as conseqüências negativas da conduta.
Portanto:
 ” A argumentação cobre todo o campo do discurso visando convencer e persuadir, qualquer que seja o auditório ao qual ele se dirige e
qualquer que seja a matéria sobre a qual ele recai”. ( O Império Retórico)
 A argumentação, ao querer provocar ou aumentar a adesão de um auditório às teses que se apresentam ao seu assentimento, nunca se
pode desenvolver no vazio, isto é, depende sempre de um auditório ( pressupõe o contacto entre o orador e o seu auditório).
Outras formas de tipos de argumentos, que constituem raciocínios comuns no Direito, fazendo parte do discurso
judiciário. São eles: os raciocínios a contrario sensu, a fortiori e ad absurdum são corriqueiros no discurso judiciário.
a) Contrário sensu (= de interpretação inversa): fundamentado sempre no princípio da legalidade. É a invocação ao interlocutor de que, se a
norma jurídica prescreve uma conduta e a sua transgressão uma sanção (direta ou indireta) devem-se excluir de sua incidência todos os
sujeitos que não sejam alvo literal daquele preceito.
Exemplo: É lícita a prisão cautelar quando houver indícios de autoria, assim, na interpretação inversa, a ausência desses indícios torna a
prisão cautelar ilegal.
Os menores de 18 anos são inimputáveis (art. 27 do CP).
Ora, Paulo é maior de 18 anos
Logo, Paulo é imputável.
Errado! Pois os doentes mentais também são inimputáveis. Este entendimento chama-se reducionismo e
conduz à falácia, devendo ser evitado.
b) Ad absurdum : tende a mostrar a falsidade. É procurar no discurso argumentativo um dado não verdadeiro que tenha permitido o desvio
no raciocínio.
Demonstrar o absurdo de um texto restabelecendo a verdade que nele deva estar contida. Para isso, apresenta-se o sentido correto. Trata-se
de uma argumentação indireta e tem por fundamento lógico o fato de que duas idéias contraditórias não podem ser verdadeiras e falsas ao
mesmo tempo. É também um argumento de fuga, muito comum no discurso político atual.
Elevar ao ridículo é parte do argumento ad absurdum.
Exemplo fábula dos dois leões (funcionário público).
Com humor, a argumentação ultrapassa o que seria o teor meramente expositivo para alcançar o resultado suasório. No discurso judiciário, o
papel do humor é bastante discutível. Se mal colocado, o ridicularizador torna-se ridículo.
c) Argumento a coherentia . Aparentemente duas normas jurídicas regulam o mesmo fato. No caso de brechas na lei, quando se trata de
coerência, devem-se procurar falhas na enunciação do conjunto normativo.
A lei não é um dogma inatingível, a decisão judicial também é a aplicação do Direito (o Direito posto), a lei é uma diretriz dogmática, sujeita à
construção argumentativa.
Exemplo: Creonte e Antígona. A lei não foi feita para ser desobedecida, mas deve ser analisada a coherencia, por isso o dever de fundamentação e a
possibilidade de argumentação.
d) Argumento a fortiori = com maior razão. Impõe a distinção entre norma proibitiva e permissiva.
Exemplo. Contrato rubricado por duas testemunhas não tem força executiva, então, com maior razão, um contrato sem assinatura de duas testemunhas
também não é exeqüível.
Outro ex: “Quem pode mais pode menos”: se a lei concede um benefício a uma infração mais grave, como a lesão corporal; com maior razão, deve
conceder o mesmo benefício a uma infração menos grave, como as vias de fato.
e) Argumento de Córax. Procura demonstrar que, a ausência de lacuna, paradoxalmente causa a imperfeição da argumentação.
A perfeição é alvo de crítica, pois o córax fundamenta-se na vaidade e na ganância humana, tão complexa e impenetrável que sempre
representa material argumentativo amplo.
Então, quando existe simulação ou mentira, há a perfeição simulada.
Conta-se que, na Sicília, no início da codificação da retórica, havia um professor chamado Córax, que começou a cobrar por suas lições. Ele teve um discípulo de
nome Tísias, a quem aceitou ensinar suas técnicas de persuasão e ser pago de acordo com os resultados obtidos pelo aluno, quando passasse a atuar diante
dos tribunais.
O que combinaram foi que, quando Tísias defendesse o primeiro cliente, pagaria ao mestre se ganhasse o processo, e não lhe pagaria nada se o perdesse.
Logo depois de terminar seus estudos, Tísias entrou com um processo contra o seu professor, dizendo que não lhe devia nada. Ele poderia perder ou ganhar
esse que era o seu primeiro processo. Dizia que se perdesse, isto é, se o tribunal determinasse que ele pagasse as lições de Córax, não precisaria pagar nada,
porque, em virtude do acordo entre eles, se perdesse o primeiro processo, não necessitaria remunerar o trabalho do professor. Se ganhasse, não deveria pagar
nada ao mestre, em razão da sentença.
Córax, em sua defesa, disse que se Tísias perdesse ou ganhasse o processo deveria pagar. Pois, se o tribunal determinasse o não pagamento, ele ganharia a
causa então deveria pagar em razão do acordo entre eles. E se o tribunal decretasse o pagamento, teria perdido a demanda, mas deveria pagar em obediência
ao veredicto judicial.
Conta-se que os juízes puseram os dois para fora do tribunal a bastonadas.
A história acima ilustra a tese da antifonia: toda verdade constituída de um discurso pode ser desconstruída por um contradiscurso; tudo que é
feito por palavras pode ser desfeito por palavras.
No exemplo acima, trata-se de um conflito entre obrigações. A antifonia é a colocação de dois discursos em oposição, cada um produzido por
um ponto de vista distinto, cada um projetando uma realidade específica.
Ainda é a base da justiça, do contraditório.
Exemplo. nos dias atuais: o caseiro Francenildo Costa desmentiu o então Ministro da Fazenda, Antônio Palloci, que afirmara que não freqüentara uma casa
de prazeres. Imediatamente, foram vazadas informações sobre as contas bancárias do caseiro. É provável que o Governo tenha quebrado
clandestinamente o sigilo bancário, para colocar em dúvida a honestidade de suas afirmações.
No entanto, em virtude da probabilidade, as suspeitas recaíram sobre o Governo, que deverá suportar o ônus de provar, que não o fez. Porém, a
alegação foi de que um simpatizante o fez involuntariamente, o que retratou uma probabilidade de segundo nível.
f) Argumento ad hominem = dirigido aos homens. Critica mais a pessoa, do que argumenta. São ataques pessoais à parte contrária, como
um insulto, que visa afastar a verdadeira discussão.

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