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Este documento discute o planejamento de ensino como um ato político-pedagógico. Ele argumenta que o planejamento revela a postura política do educador e deve levar em conta o contexto social, o perfil sociocultural dos alunos, e objetivos e conteúdos significativos e concretos.
Descriere originală:
Planejamento Educacional
Titlu original
TEXTO 6 Planejamento de Ensino Oswaldo Alonso RAYS
Este documento discute o planejamento de ensino como um ato político-pedagógico. Ele argumenta que o planejamento revela a postura política do educador e deve levar em conta o contexto social, o perfil sociocultural dos alunos, e objetivos e conteúdos significativos e concretos.
Este documento discute o planejamento de ensino como um ato político-pedagógico. Ele argumenta que o planejamento revela a postura política do educador e deve levar em conta o contexto social, o perfil sociocultural dos alunos, e objetivos e conteúdos significativos e concretos.
PLANEJAMENTO DE ENSINO: Por essas razões, na etapa de planejamento, só para
um ato político-pedagógico1 citar um exemplo, já é possível perceber a dimensão política
do ato educativo a partir do momento em que se faz a Nas sociedades complexas, o ato de planejar as previsão de objetivos, de conteúdos programáticos, de atividades humanas assume as características de uma atitude metodologias de ensino, de processos de avaliação de necessária e constante nos mais variados momentos da vida aprendizagem, etc., a serem desenvolvidos num conjunto de cotidiana, e tem como finalidade precípua prever e decidir atividades didáticas. Em outras palavras, os objetivos sobre alternativas de ação frente a intenções desejadas. propostos para a aula, os conteúdos, as atividades de Planejar, portanto, é antecipar e projetar de modo aprendizagem e de construção do saber, em suma, a prática consciente, organizado e coerente todas as etapas de uma pedagógica em todos os seus momentos, revelam sempre a determinada atividade que visa alcançar certos objetivos que postura pedagógica do educador que contém, em todas as levam a transformações concretas do que se pretende situações didáticas por ele planejadas e desenvolvidas, uma realizar. atitude política. Cabe, pois, àqueles que participam do Transpondo esse entendimento do ato de planejar para planejamento das atividades de ensino analisar e definir o processo de ensino e de aprendizagem, pode-se afirmar concretamente a dimensão pedagógica contida na dimensão que o planejamento de ensino é um momento do trabalho política do ato educativo. pedagógico necessário para o processo de escolarização, pois Logo, se se quer superar o planejamento tido como um é a instância de decisão e de previsão da organização de ato mecânico e atingir um planejamento que expresse um situações didáticas para um grupo de alunos situados num processo educativo de qualidade, é preciso observar, em sua determinado momento histórico, visando evidentemente a elaboração, os seguintes momentos - planejados em sua colaborar na formação de um determinado tipo de simultaneidade - para uma abordagem consistente e concreta. profissional. É a partir dessa pressuposição que se pode dizer que o planejamento das atividades de ensino e de aprendizagem configuram-se não apenas como um ato pedagógico, mas também como um ato político. Em síntese, Primeiro momento: o ato de planejar o ensino revela sempre, por parte do escola e realidade social educador, uma atitude axiológica, ética, política e pedagógica, que pode ou não contribuir para uma formação de qualidade A variável inicial a ser considerada no planejamento do dos educandos. ensino diz respeito à escola e às suas relações com a A ação pedagógica escolarizada, quando consciente, realidade social para a qual a ação pedagógica será não poderá, pois, distanciar-se da intenção política do tipo de planejada. Esta variável constitui-se numa etapa indispensável ser humano que a educação pretende promover, para que não da atividade educativa e política, que fornecerá elementos incorra na arbitrariedade pedagógica e política do ato concretos para o desenvolvimento do processo de ensino e educativo. No entanto, o tipo de cidadão que a escola de aprendizagem. A análise proveniente desta variável pretende promover por meio da ação pedagógica estará (relações da escola com a realidade social) deve, no entanto, sempre ligado à concepção que se tenha de sociedade, de superar a visão parcializada que a escola tem hoje (pelo educação e da pessoa em desenvolvimento. menos a maioria assim procede) sobre o fenômeno educacional e ser realizada de forma integral, examinando seus componentes pedagógicos, sempre em relação ao todo será possível coletar dados para a análise do nível social, ao conjunto de fatos que representam esse fenômeno. socioeconômico do educando e, ao mesmo tempo, concluir Assim, a realidade sociocultural construída pelos seres sobre o seu universo cultural. humanos será o ponto de referência inicial, o ponto de Cabe, também, nesta etapa, delinear outro fator partida, para o planejamento do trabalho docente e do relevante: as características de aprendizagem dos educandos trabalho discente. que estão diretamente ligadas ao retrato sociocultural dos Essa primeira variável não esgota todos os elementos mesmos. 3 Tal procedimento torna-se de máxima importância, que subsidiam o projeto político-pedagógico das disciplinas uma vez que sabemos que o processo de aprendizagem é um curriculares. Destarte, à variável escola-comunidade seguem- fenômeno altamente internalizado e, sem o auxílio do próprio se outras, igualmente relevantes e diretamente aluno, torna-se mais trabalhoso ao educador determinar a correlacionadas à variável inicial. atividade didática mais adequada para a área conhecimento em estudo e para aqueles que intentam assimilá-las. Faz-se necessário, pois, que o educador, consciente das metas reais da educação, estruture-reestruture, juntamente Segundo momento: com os educandos, o projeto de aprendizagem de sua retrato sociocultural do educando disciplina, tomando como parâmetro, além do retrato sociocultural do educando, as características de A próxima variável a ser analisada no processo de aprendizagem do grupo, não se esquecendo, porém, da planejamento do ensino estará relacionada ao retrato especificidade do conteúdo em estudo e das suas relações sociocultural do educando, que reflete seu mundo social e com as realidades natural e social. cultural, sua história e suas inquietações. Nesta etapa, é A análise dessas duas primeiras variáveis é essencial preciso superar os procedimentos de simples identificação para a determinação das demais etapas do planejamento da do nível econômico e cultural dos educandos que freqüentam ação pedagógica. Esses momentos iniciais exigem tempo e a escola e atingir concretamente a análise das contradições paciência por parte do educador, mas o tempo dedicado a sociais que permeiam suas práticas sociais. É com base nos eles não será em vão, uma vez que fornecerão elementos resultados dessa análise, juntamente com a realizada na significativos para uma prática pedagógica coerente e correta, variável anterior, que se inicia a estruturação de propostas comprometida com a realidade educativa e social. pedagógicas para a ação educativa. A percepção crítica das realidades socioeducativa e Em termos metodológicos, a estruturação de propostas cultural torna-se, assim, o ponto de partida do ato de de ação pedagógica pode ser desenvolvida através do diálogo planejar a ação didática. O pensamento crítico e autocrítico, critico", envolvendo a realidade sociocultural criada pelos mediado pelo diálogo-problematizador, constituir-se-à em homens, o educador ( e os demais educadores da escola - elemento permanente no desenvolvimento e replanejamento educadores que trabalham na mesma área de conhecimento e de atividades pedagógicas simultâneas, com características em áreas de conhecimento afins), os educandos, pais e sempre intencionais, que caracterizam o ato educativo tido pessoas da comunidade em que a escola está inserida. O como concreto. envolvimento desses elementos é indispensável se se quer Com isso, as duas primeiras etapas do ato de planejar a chegar a uma proposta de ação pedagógica comprometida ação didática não podem ser trabalhadas de forma com o homem e seu tempo. Assim, através do diálogo crítico2, dicotomizada, uma vez que se constituem em pontos referenciais para o desenvolvimento das ações conteúdo de forma significativo-concreta. Um objetivo- pedagógicas.Porém, cabe lembrar, aqui, que a concreticidade conteúdo é significativo-concreto quando está diretamente dessas ações vai depender de sua articulação dialética com relacionado a um contexto social determinado, ocorrendo a os momentos subseqüentes do planejamento. relação dialética texto-contexto. Esse contexto deve ser uma realidade concreta e não uma pseudo-realidade, A realidade concreta nada mais é do que a realidade socioeducacional em transformação em que escola e educandos estão inseridos. Terceiro momento: Daí a conexão fins pedagógicos/ fins sociais ser um ato objetivos de ensino-aprendizagem e relevante na definição/ redefinição dos objetivos e dos conteúdos de ensino conteúdos das atividades escolares. Os objetivos de ensino-aprendizagem irão preocupar-se Os objetivos de ensino-aprendizagem (assimilação, com operações mentais sempre ligadas a um conteúdo elaboração e recriação do saber) e os conteúdos concreto, que revelem por parte do educando conhecimentos, programáticos das disciplinas curriculares são definidos num habilidades, atividades axiológicas, emoções, etc., frente a um só momento e devem ser repensados durante todo o corpo de conhecimentos que seja representante significativo desenvolvimento do curso.4 Também, nesta etapa, as do mundo da cultura e do mundo da natureza. necessidades suscitadas pelo momento histórico-cultural que Quando o planejamento de ensino é realizado de forma escola e sociedade estejam vivendo, não podem ser não-participativa (fato comum na ação de planejar), a única ignoradas pelo educador-planejador. Não se trata, porém, recomendação universalmente válida sobre a polêmica como se verá a seguir, de simplesmente listar uma série de questão da formulação de objetivos é a de que os mesmos tópicos para estudos, com seus respectivos objetivos de sejam comunicados (e aqui não importa a forma) àqueles que aprendizagem. É muito mais que isso. Além da ordenação participam da aula ou atividade didática correspondente, de vertical, da logicidade e da inter-relação da estrutura da forma clara e objetiva, não se esquecendo de seu elemento matéria de ensino a ser desenvolvida, faz-se necessário que o substancial, ou seja, seu conteúdo, que estará ligado a uma objetivo- conteúdo procure evidenciar as contradições do operação mental que leve o educando ao desvelamento do sistema social vigente, considerando-as no tratamento conhecimento de forma crítica e criativa.5 pedagógico do desenvolvimento da matéria de ensino, seja de Todo objetivo de ensino-aprendizagem deve forma direta ou indireta. necessariamente se preocupar com o objetivo maior de todo Quer-se, com isso, evidenciar que não deve existir sistema educacional, isto é, proporcionar meios para a dicotomia entre aquilo que se propõe alcançar em termos de formação do homem crítico e criativo, independente e operações mentais e diferentes atividades e o conhecimento competente, que domine um corpo de conhecimentos que a ser assimilado, buscado, problematizado e questionado. propicie a assimilação crítica e consciente da ciência em Um objetivo de ensino aprendizagem concreto só tem valor estudo (matéria de ensino) e toda a problematicidade do se ligado a um conteúdo programático também concreto. A contexto social e seus múltiplos conflitos e contradições. unidade objetivo-conteúdo, que se constitui em unidade O domínio do conhecimento6, de forma profunda e correlacional, deve superar todo e qualquer enfoque que se precisa, crítica e consciente, é ponto de partida para o caracterize: como meramente academicista. Para que essa crescimento pessoal e condição essencial para a intervenção superação ocorra, a escola necessita trabalhar o objetivo- (positiva) no educacional e no social. A inserção crítica do educador e do educando na realidade, em contra posição à Este momento está, pois, ligado ao estabelecimento de inserção alienante, proporciona meios para a assimilação de propostas de situações didáticas (propostas de ação-reflexão- conhecimentos que contribuirão para a ocorrência de ação...), visando o alcance, como também a superação, do transformações socioculturais de modo mais constante e conteúdo e do tipo de operação mental expressos nos justo.7 objetivos da aula. Superar e temporalizar o conhecimento acadêmico Planejar os caminhos a serem percorridos durante o veiculado pela escola e ir além da reprodução desse desenvolvimento das aulas ou atividades didáticas conhecimento é o que se pretende com a metodologia semelhantes, implica a responsabilidade da organização de sugerida nesta variável.8 procedimentos didáticos concretos e eficazes do ponto de vista do ensino e da aprendizagem. O procedimento de ensino eficaz, ou seja, a intervenção pedagógica qualitativa é um procedimento flexível que atende, ao mesmo tempo, à Quarto momento: estrutura da matéria de ensino e às características procedimentos de ensino-aprendizagem assimilatórias do grupo de alunos.9 Não existe, portanto, (ação-reflexão-ação ... ) procedimento ou técnica de ensino pró-fabricados que possam atender, na totalidade, a essas duas variáveis Estabelecidos os objetivos de ensino-aprendizagem e os (matéria de ensino e aluno) dos procedimentos didáticos. A conteúdos programáticos e considerando-se suas criação de caminhos de ensino c de elaboração / reelaboração reciprocidades, faz-se necessário colocá-los em ação. de conhecimentos adquire, na concepção de planejamento Estamos, pois, diante de outra variável fundamental do aqui proposta, um valor formativo dos mais relevantes para planejamento do processo de ensino: a busca e a organização alimentar a competência crítico-criativa do educando. de caminhos, de metodologias de trabalho que visam Dessa forma, as atividades de aprendizagem, assim promover concretamente a aprendizagem dos conteúdos e como as intenções da aula, não são resumidas à reprodução habilidades que propiciam ao aluno a assimilação crítica da de conhecimentos de forma puramente acadêmica (memorizar matéria de ensino. para depois repetir) e, sim, no sentido de atingir a elaboração O como desenvolver o objetivo-conteúdo da matéria de do conhecimento (situação ideal) ou no sentido da sua ensino não é tarefa que cabe exclusivamente ao educador. A redescoberta ou redefinição. Para tanto, faz-se necessária não participação dos educandos, de forma direta e/ ou indireta só a assimilação do saber historicamente acumulado como conforme a situação didática, pode auxiliar o educador no também a apropriação crítica da realidade social em planejamento das atividades de ensino-aprendizagem. Assim, desenvolvimento (inacabada, historicamente determinada). sempre que possível, a participação dos educandos no No ensino de qualidade formativa toda atividade de planejamento desta variável torna-se quase imprescindível, aprendizagem se constitui num desafio permanente, num uma vez que são eles os principais interessados na desequilíbrio transformativo, construtivo. Estar em estado de aprendizagem e redescoberta dos objetivos-conteúdos da desequilíbrio, no sentido pedagógico que se lhe está sendo matéria escolar, como na própria busca de novos objetivos- dado, representa trabalhar a verdade (sentir, compreender, conteúdos que venham a contribuir com o processo de desejar a verdade) como inacabada em razão do mundo aprendizagem. social e do mundo educacional estarem em constante movimento e serem dialéticos.10 Portanto, toda atividade de aprendizagem, além de desafiar e desequilibrar o educando, Ao contrário do que pensam os leigos em pedagogia, a tem também de desafiar e desequilibrar o educador e a principal função da avaliação da aprendizagem não está em própria verdade (corpo de conhecimentos da disciplina em classificar o aluno - notas e conceitos - mas em ser um estudo e suas relações com a realidade sociocultural em elemento pedagógico preciso que visa contribuir com o desenvolvimento), no sentido de recriá-las; ou, até, de trabalho docente, com o desenvolvimento e aprendizagem elaborá-las. do educando, subsidiando seu aprimoramento, sua melhoria. É através desse tipo de ação didática que se pretende Assim, pois, o ato de avaliar a aprendizagem escolar superar o caminho acrítico e, muitas vezes, coercitivo das com finalidades apenas seletivas, onde o resultado da atividades educativas, a fim de nos aproximarmos do pólo aprendizagem é obtido por meio de instrumentos ineficazes - substancial da prática pedagógica. Positivamente, a ação testes objetivos; provas com questões e critérios avaliativos educativa desenvolvida nesses moldes estará sempre ligada a estranhamente formulados e que revelam a incompetência uma visão integral da sociedade, da educação, da do educador em relação ao conteúdo em processo de aprendizagem, enfim, do ser humano. avaliação; exames que se desviam do objetivo do ato O objetivo maior desse processo pode, assim, ser avaliativo - faz com que o processo educativo entre por resumido na premissa: pensar para repensar...repensar caminhos estritamente contrários a um trabalho pedagógico para agir...agir para transformar..., na qual o pensar para formativo de qualidade. repensar é o início de toda a ação que se preocupa com o Sendo seletiva, classificatória e deslocada do processo agir depois do pensar para repensar, cuja finalidade objetiva e pedagógico integral, a avaliação da aprendizagem não material será transformar algo situado a partir do agir- responde a princípios eminentemente pedagógicos, onde o reflexivo. principal deles reside em trabalhar pedagogicamente o erro O pensar para repensar, o repensar para o agir e o agir cometido pelo aluno, objetivando auxiliar o desenvolvimento para transformar, mediatizados e temporalizados pela crítica pessoal do educando. e autocrítica, podem ser, a meu ver, o princípio maior e se A avaliação da aprendizagem surge, portanto, na constituem no principal instrumento para as verdadeiras história da escola com o objetivo formativo de julgar os inovações das atividades de aprendizagem. progressos, as dificuldades e as inquietações que marcam o processo de aprendizagem e, não, com o objetivo de medir o conhecimento. O ato de avaliar não pode ser confundido, portanto, com o ato de medir. Medir o conhecimento humano, Quinto momento: medir o conhecimento do aluno, é um ato praticamente a avaliação da aprendiz agem11 impossível. É preciso, pois, substituir, de uma vez por todas, nos currículos escolares, a "cultura da medida do A avaliação da aprendizagem escolar está entre os conhecimento" que resulta sempre na "cultura do componentes do trabalho pedagógico mais discutidos na conhecimento quantificável", na "cultura da nota", atualidade, face à sua relevância para o desenvolvimento e pela cultura da aprendizagem concreta.12 diagnóstico permanente do processo de ensino- Este momento do ato de planejar e do processo de aprendizagem, com vistas ao seu replanejamento e, ensino está, pois, intimamente correlacionado aos quatro conseqüentemente, à sua melhoria. momentos anteriores do planejamento de ensino descritos linhas acima, uma vez que a avaliação da aprendizagem ao contrário do que se verifica na prática pedagógica cotidiana, intenções são neutras. A neutralidade em educação, como já é parte integrante do processo de ensino e do processo de foi amplamente demonstrado por teóricos educacionais e aprendizagem e somente tem valor pedagógico se estiver a cientistas sociais, não existe. serviço da aprendizagem do aluno. Ao lado do planejamento concreto, não alienado e consciente, convive o pseudoplanejamento cuja preocupação primeira, e até certo ponto astuta, é com elementos periféricos e não substanciais dessa tarefa educacional. Com Concluindo ... isso, estou querendo me referir às atividades didáticas que se preocupam "apaixonadamente" com o preenchimento de Os cinco momentos acima sugeridos, apesar de terem formulários rigorosamente estruturados e unificados, sido tratados separadamente em sua especificidade, fazem reduzindo o ato de planejar aulas a uma função meramente parte de um todo maior constituído pelo ato de planejar cartorial, o que obscurece todo e qualquer trabalho consciente e concretamente a ação educativa. Esses pedagógico. momentos para o planejamento de ensino não pretendem O planejamento da ação pedagógica é, pelo contrário, converter-se em mais um modelo para o estabelecimento do um ato processual e dialético - em que o mundo educacional processo de ensino e aprendizagem. O objetivo da proposição e o mundo social não se separam jamais - no qual se espera foi o de levantar algumas pistas para aqueles que iniciam na do educador coerência entre o seu pensar e o seu agir. Não é, prática docente e que não possuem formação pedagógica portanto, uma ação feita ao acaso, arbitrária, mas um guia geral e nem a habilidade indispensável de planejar, prever e flexível de intenções - políticas e formativas - para o antecipar, nos variados momentos do ensino, situações desenvolvimento de situações didáticas específicas. É nesse didáticas específicas para as disciplinas curriculares pelas sentido que os atuais modelos de planejamento de ensino quais são responsáveis. precisam ser superados criticamente e temporalizados pelo As características do planejamento de ensino educador-planejador, visando, com isso, ir além de sua expressadas em cada um de seus diferentes e natureza tecnocratizada. complementares momentos, nos autorizam a afirmar que o planejamento de ensino é, ao lado do próprio processo educativo, um ato político-pedagógico. Só para não deixar margens de dúvidas sobre o caráter político-pedagógico dessa atividade didática e para oferecer apenas um exemplo, basta ao educador descuidar-se das conseqüências sociais do ato educativo proposto, para que o planejamento da ação pedagógica se configure como um ato político. Mesmo que o educador não se aperceba dessa omissão, o ato político estará constatado. A situação inversa, ou seja, o planejamento consciente, com definição concreta de suas conseqüências pedagógicas e sociais, também resultará, ao mesmo tempo, num ato pedagógico e político. O planejamento da ação educativa não se configura, pois, como uma ação cujas Notas. satisfazer novas necessidades. Repete, portanto, enquanto não se vê obrigado a criar. Contudo, criar é para ele a primeira 1 Retomo aqui, com algumas alterações na forma e conteúdo, e mais vital necessidade humana, porque só criando, artigo de minha autoria intitulado Planejamento da Ação transformando o mundo, o homem - como salientaram Hegel e Pedagógica, publicado na Revista Espaço Pedagógico. Passo Marx através de diferentes prismas filosóficos - faz um mundo Fundo: v.3, n.1, 1996. humano e se faz a si mesmo" ( Vásquez, A . S. Filosofia da 2 Diálogo crítico é aqui entendido como uma relação horizontal práxis. 2. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977,247-248). 6 entre educador e educando, mediatizado pela realidade Na perspectiva do trabalho pedagógico proposto neste histórico- cultural, na qual estão inseridos. ensaio, a importância do conhecimento é incontestável para o 3 As características de aprendizagem do educando interessam crescimento do ser humano e é amplamente enfatizada por tanto ao educador como ao grupo de alunos do qual faz parte. todos aqueles que se preocupam com a formação do homem O conhecimento dessas características auxilia o educador na emancipado. Vejamos, nesse sentido, fragmentos do proposição dosada de conteúdos e atividades didáticas, assim pensamento de Saviani (1984), a esse respeito: a) "sem o como facilita as relações sociopedagógicas entre os alunos. domínio do conhecido, não é possível incursionar no 4 Dada a relevância destes dois componentes curriculares desconhecido."(p.51); b) "( ... ) ninguém chega a ser para o planejamento e desenvolvimento do ensino, dedicarei pesquisador, a ser cientista, se ele não domina os as duas próximas partes desde ensaio à especificidade dos "conhecimentos já existentes na área em que se propõe a ser mesmos. O tratamento em separado desses dois investigador, a ser cientista."(p.54); c) "( ... )"a pedagogia componentes justifica-se apenas como exposição didática. Em revolucionária, longe de secundarizar os conhecimentos verdade, no ato educativo eles encontram-se intimamente descuidando de sua transmissão considera a difusão de correlacionados. conteúdos, vivos e atualizados, uma das tarefas primordiais do 5 "Do ponto de vista da práxis humana, total, que se traduz na processo educativo em geral e da escola em particular.” produção ou autocriação do próprio homem, a práxis criadora (p.68); d) "( ... ) o dominado não se liberta se ele não vier a é determinante, já que é exatamente ela que permite enfrentar dominar aquilo que os dominantes dominam. Então, dominar o novas necessidades, novas situações. O homem é o ser que que os dominantes dominam é condição de libertação"(p.59) tem de estar inventando ou criando constantemente novas Saviani, D. Escola e democracia. 2. Ed. São Paulo: Cortez situações. Uma vez encontrada uma solução, não lhe basta Autores Associados, 1984. 7 repetir ou imitar o que ficou resolvido; em primeiro lugar, O pensamento dialético, no momento atual, continua, a meu porque ele mesmo cria novas necessidades que invalidam as ver, sendo um subsídio consistente para que a inserção crítica soluções encontradas e, em segundo· lugar, porque a própria - no cotidiano social e no cotidiano escolar - seja uma vida, com suas novas exigências, se encarrega de invalidá- constante no processo didático. 8 las. Mas as soluções alcançadas têm sempre, no tempo, certa O saber escolar assume sua potencial idade máxima (de esfera de validade, daí a possibilidade e a necessidade de valor teórico-prático) quando interfere positivamente no generalizá-las e estendê-las, isto é, de repeti-Ias enquanto desenvolvimento da capacidade cognoscitiva da comunidade essa validade se mantenha. A repetição se justifica enquanto escolar e problematiza o próprio conhecimento dessa a própria vida não reclama uma nova criação. O homem não comunidade, propiciando independência de pensamento- vive num constante estado criador. Ele só cria por conhecimento ( teoria) e ação ( prática ). necessidade; cria para adaptar-se a novas situações ou para 9 Sanches, ao argumentar a favor da necessidade de apoios e agrícolas. De todas essas transformações, as que tocam mais complementos educativos em situações de ensino, observa diretamente o sistema de ensino são, sem dúvida, o que "a intervenção tem de ser construída a partir do desenvolvimento dos meios de comunicação modernos ( ... ), conhecimento dos interesses e dos saberes, das dificuldades capazes de concorrer com a ação escolar ou de se do aluno e das causas que as originam e, ainda, das suas contraporem a ela, e também as modificações profundas do expectativas. O conhecimento das dificuldades e das causas papel que cabia, sobretudo na ordem ética, a instâncias que as originam é um passo importante para se poder pedagógicas como a família, o trabalho, as associações construir a resposta adequada a cada um. Este é um comunitárias ou de bairro e as igrejas” (Collège de France, momento importante que pode ser o sinal da diferença entre Proposições para o ensino do futuro. RBEP, 1989: 152). 11 uma intervenção de qualidade, adequada, oportuna e No item 6 deste ensaio, analiso a questão da avaliação da pertinente, e uma intervenção feita ao acaso, em que alguns aprendizagem com mais detalhes, principalmente no que se aproveitam e muitos ficam pelo caminho." A autora exemplifica refere à sua prática antipedagógica. 12 essa questão no seguinte exemplo: " Da mesma maneira que Para Libâneo ( 1991 ),a avaliação da aprendizagem tem de um médico não pode dar o mesmo medicamento a todos os se constituir em um processo contínuo e não se restringir às doentes, também o professor não pode dar a mesma resposta verificações no final de bimestres, como se tornou hábito da a todos e a cada um dos seus alunos" (Sanches, l.R., escola brasileira. Para esse pesquisador do trabalho docente, 1996: 20) ( Grifos no original ). " a avaliação é um ato pedagógico. Nela o professor mostra as 10 Em 1985, o Presidente da França François Mitterrand. suas qualidades de educador na medida em que trabalha solicitou aos professores do Collège de France, a elaboração sempre com propósitos definidos em relação ao de um documento que refletisse suas posições sobre o desenvolvimento das capacidades físicas e intelectuais dos sistema de ensino. Desse trabalho, resultou o texto alunos face às exigências da vida social. ( ... ) A avaliação "Proposições para o ensino do futuro", onde na exposição de escolar, portanto, envolve a objetividade e a subjetividade, motivos encontra-se a seguinte passagem que vem reforçar tanto em relação ao professor como aos alunos. Se somente as posições defendidas neste ensaio sobre a problemática dos levar em conta aspectos objetivos, acaba tornando-se conteúdos de ensino: "A questão dos conteúdos e fins do mecânica e imparcial; atendo-se somente às necessidades e ensino não pode contentar-se com respostas gerais ( ... ) e condições internas dos alunos, pode comprometer o adequadas apenas à obtenção da unanimidade: ninguém cumprimento das exigências sociais requeridas da escola" poderia, com efeito, negar que todo ensino deve formar (Libâneo, 1991: 202-203 ). espíritos abertos, dotados de disposição e saberes necessários à aquisição ininterrupta de novos saberes e à adaptação a situações sempre renovadas. Essa intenção universal exige, a cada momento, determinações particulares, em função, hoje, das mudanças da ciência, que não pára de redefinir a representação do mundo natural e do mundo social; em função também das transformações do meio econômico e social, principalmente as mudanças que afetaram o mercado de trabalho, através das inovações tecnológicas e das reestruturações das empresas industriais, comerciais ou
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