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Este suplemento comercial faz parte integrante do Jornal de Notícias e do Diário de Notícias de 31 de janeiro de 2017

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Janeiro 2017 | Edição Nº101

Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas


Rotas de Sefarad: Valorização da Identidade
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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa


Rotas de Sefarad no Diálogo Interculturas

Rotas de Sefarad: organizar o


passado para o oferecer ao futuro
O projeto Valorização de Portugal liderou internacionalmente o reabilitação, organização e disponibiliza-
Identidade Judaica processo de globalização e foi o país que ção. A acção da missão prevista na Rede
em primeiro lugar contribuiu para o diá- de Judiarias é precisamente a reabilita-
Portuguesa no Diálogo
logo entre culturas em todos os continen- ção de peças que neste âmbito irão refa-
Interculturas tem por tes. Nestes processos de intercâmbio mas zer o “puzzle” dessa realidade.
missão promover, de também de criação, de desenvolvimento Organizar o passado para o oferecer ao
forma definitiva, a económico, científico e cultural estive- futuro é o que este trabalho de investiga-
redescoberta de uma ram sempre presentes personalidades ção e reabilitação irá assim permitir ao
componente da realidade correspondentes à realidade judaica se- povo português, ao povo judeu interna-
fardita portuguesa ou, posteriormente, a cional e à sociedade internacional no ge-
cultural, histórica e social
uma dissimulada origem cristã-nova de ral. Um trabalho sobre o passado que irá
do país. raiz lusitana. então abrir novas portas de diálogo e de
A presença em território nacional de pa- cooperação entre povos para o futuro.
trimónio tangível e intangível de enorme O projeto Rotas de Sefarad, Valorização
valor identitário e relacionado com a de Identidade Judaica Portuguesa no
componente judaica portuguesa tem Diálogo Interculturas procura contribuir
agora uma estratégia de levantamento, para o diálogo multicultural e de encon-
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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa


no Diálogo Interculturas Rotas de Sefarad
zonas litorais. O contributo para o desen-
volvimento regional e local é expresso na Um acervo de notáveis contributos
promoção do turismo cultural, na aber- para a identidade cultural portuguesa
tura de novas portas de colaboração in- Os judeus viveram no território que configura Portugal pelo menos desde o Baixo
ternacional com centros de liderança ju- Império Romano (sinagoga na villa de São Cucufate, Vidigueira, séculos IV-V; epí-
daica na ciência, na história ou na econo- grafe judaica datada de 482, identificada em Mértola) e os vestígios dessa presença
mia. A revitalização e animação poten- densificam-se desde o reino visigótico, prolongando-se sob domínio islâmico. Embo-
cial dos centros históricos de muitas ra dispersos e carecidos de recenseamento específico, o património documental por-
cidades e vilas portuguesas é igualmente tuguês conserva, nomeadamente através dos fundos do Arquivo Nacional da Torre
uma consequência objectiva. Com isto, do Tombo, inúmeros testemunhos dessa presença, desde o século XII, o século da
Portugal ficará em pé de igualdade com construção política do reino.
tro de tradições, rituais, crenças e valores outros países que há muito apostam nes- Durante a Idade Média, os judeus em Portugal gozaram do estatuto jurídico de po-
que colocam o Homem no centro da re- ta temática (ex.: República Checa, Espa- pulação livre, autónoma no quadro de uma sociedade maioritariamente cristã e por
flexão. Procura provar que é, justamente, nha, Estados Unidos, França, etc.). Ac- isso directamente dependente do monarca, com estruturas de governação das suas
a diferença e a diversidade de opinião, tuar de forma conjunta e concertada en- comunidades e representante na corte, o rabino-mor. No século XIII, já com D. Dinis,
crença, história e percurso, individual e tre todos os municípios do país interes- são outorgadas cartas às comunas de judeus, confirmando-lhes usos, costumes e pri-
colectivo, que une a humanidade e lhe sados e com referências às vivências vilégios, que se traduziam na liberdade religiosa e de tradições, na liberdade de ensi-
confere a universalidade da existência. É sociais judaicas garante e potencia a coe- no e de uso de língua própria, na constituição de cemitério, na livre circulação, no
uma ponte entre saberes, conhecimentos, rência e a uniformidade no seio da diver- reconhecimento de estatuto jurídico próprio, embora sujeito às ordenações gerais do
experimentações, geografias, afectos, ter- sidade. Assim, todos os membros, de reino. No século XIV, a partir do reinado de D. Afonso IV, altera-se progressivamente
ritórios e gentes com olhar para o futuro acordo com o compromisso de participa- o enquadramento social, com a obrigação da constituição de judiarias apartadas do
reconstruindo, na modernidade e em ção na Rede de Judiarias de Portugal se resto da sociedade e com a imposição do uso de sinais identificadores aos seus mem-
respeito com a tradição e a história, no- comprometem a actuar de forma conjun- bros. O agudizar de tensões sociais e económicas na segunda metade do século XV e
vos territórios amigáveis, relacionais, di- ta em defesa do património urbanístico, a gestão da política peninsular levada a cabo pelo rei D. Manuel I resultaria no decre-
nâmicos e inovadores. arquitectónico, histórico e cultural do le- to de expulsão firmado em 5 de dezembro de 1496.
A iniciativa aqui apresentada pretende gado judeu. A resposta ao decreto materializaria duas atitudes completamente distintas, uma ca-
assim preservar os elementos da fortíssi- De igual modo se enquadra, promove e racterizada pela Clandestinidade a que se remeteram muitos dos judeus que perma-
ma componente que representou a iden- divulga um conjunto de projectos cultu- neceram em Portugal, sob a capa legal de Cristãos-Novos, outra traduzida na Diás-
tidade judaica no desenvolvimento do rais, turísticos e académicos, para além pora, que levaria os judeus portugueses a procurar refúgio na Europa e no Novo
país, primeiro, e no contributo que esta de se promoverem políticas sustentáveis Mundo. Neste quadro, o legado cultural dos judeus portugueses acha-se enriquecido
deu para a história do povo judeu no de desenvolvimento em turismo cultural sobremaneira por um conjunto muito amplo de testemunhos, materiais e imateriais,
mundo, depois. Pretende-se que consti- e especializado. que traduzem vivências muito diversificadas no tempo e no espaço, antes de mais
tua um exemplo internacional de recons- Por fim, todos os membros, actuando em humano, e resultam num acervo de notáveis contributos para a construção da iden-
trução, de reencontro e de dignificação rede, promovem conjuntamente o desen- tidade cultural portuguesa, no território nacional e no mundo, que importa reconhe-
mas também um contributo para a defe- volvimento de estratégias e acções pro- cer, estudar, preservar e tornar acessível aos cidadãos.
sa dos direitos humanos e da cultura. mocionais dirigidas a operadores turísti-
Sendo o património judaico parte inte- cos e outros profissionais com o objecti-
grante da História de Portugal, desen- vo de difusão da imagem que correspon-
volve-se pela primeira vez no país um da aos interesses das cidades e vilas da
projecto integrado que pretende assentar Rede. O enfoque de mercado a atingir
em três pilares de acção e cujos objecti- corresponde estrategicamente a três ti-
vos passam pelo levantamento, investi- pologias de interessados: o mercado ibé-
gação e sinalização dos vestígios de me- rico global, com 50 milhões de popula-
mória sefardita portuguesa, pelo desen- ção, o mundo judeu decorrente da diás-
volvimento dos conteúdos inerentes a pora, com 14 milhões, sendo 15 a 20%
peças de um património material e ima- destes de origem sefardita, e outros inte-
terial alusivo à memória judaica nacional ressados internacionais.
e o aproveitamento para a potencializa- Finalmente, este projecto pretende alcan-
ção económica decorrente dos mesmos. çar, aglutinando as acções dos judeus
A área de incidência no país do projecto portugueses no mundo, a concepção de
é Beira Interior / Serra da Estrela, Trás- um roteiro do mundo sefardita lusitano.
-os-Montes, Alentejo e, com menos inci- Este roteiro além-fronteiras valorizará o
dência, o Douro, o Algarve e o Oeste e as papel de Portugal ou de portugueses no
mundo da economia, ciências, religião,
medicina, filosofia, literatura, passando
por locais míticos como Amesterdão,
Antuérpia, Veneza, Istambul, Nova Ior-
que, Recife, Antilhas, Bordéus, Londres,
Salónica, Hamburgo, etc.
Este roteiro será como que um instru-
mento de credibilização internacional de
um projecto que, organizando primeiro a
temática no território nacional, a projec-
tará depois para a realidade internacio-
nal efectiva.
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Rotas de Sefarad no Diálogo Interculturas – Direção-Geral do Património Cultural

Na rota da
valorização económica da cultura
A Direção-Geral do Românico, que tem vindo a alargar as manente e este processo de continuidade exi-
Património Cultural suas fronteiras e a demonstrar a impor- ge um enorme investimento e que os edifí-
(DGPC) é responsável tância que um determinado património cios sejam usados. Um edifício sem uso
pode representar para uma região e para rapidamente se degrada e entra em ruína,
pela gestão do património
o seu desenvolvimento económico ou a portanto, este reuso também se afigura extre-
cultural em Portugal Rota dos Castros do Noroeste Peninsular, mamente importante. De uma forma lacta,
continental. Uma equipa com 12 entidades envolvidas em torno de podemos falar em dois tipos de patrimónios
alargada, cobrindo um património identitário europeu que edificados: os monumentos e os núcleos anti-
praticamente todos os atrai outro tipo de turismo… Estamos gos das cidades, de uma forma mais geral,
domínios técnicos e também a trabalhar no lançamento da que têm construções que se afiguram impor-
Rota das Catedrais, com um cariz nacio- tantes pelo conjunto. E neste último caso
científicos e estruturada
nal, que envolve as 25 catedrais existen- pode dizer-se que temos vindo a testemu-
funcionalmente em tes de norte a sul. Em suma, este tipo de nhar interessantíssimos exemplos que ates-
serviços centrais, trabalho em que se enquadra a Rota das tam uma evolução extremamente positiva de
sediados em Lisboa, e em Judiarias é extremamente importante no recuperação de casas com princípios pouco
Museus, Monumentos e que concerne à atracção turística e até intrusivos. Relativamente aos edifícios de
Palácios, localizados em para que o turismo não se concentre ex- maior dimensão, tem havido um grande es-
clusivamente em determinados territó- forço de recuperação e reutilização. A ques-
diferentes pontos do país,
rios, potenciando deste modo o desen- tão dos castelos já se afigura diferente, sendo
assegura um vasto leque volvimento económico de outros. que a sua função original foi perdida e o seu
de funções e de serviços. reuso não é fácil. Neste caso, estamos perante
Paula Araújo da Silva, Diretora Geral Falamos em património associado ao uma função cultural, de visita… Temos mui-
do Património turismo… em suma, estamos perante tos e estamos perante um processo natural-
uma economia da cultura… mente lento e que carece de um grande in-
Quando falamos em economia da cultura, vestimento.
temos as chamadas receitas directas mas
As suas atribuições passam,  entre muitos Relativamente à Rota das Judiarias, creio igualmente as indirectas, que se revelam Presumo que, dada a sua formação em
outros campos de atividade, pelo estu- que devemos enfatizar a existência de ainda mais importantes. Ou seja, não é o arquitectura, esta área das políticas
do, investigação e divulgação do patrimó- um património extremamente importan- bilhete de entrada no museu mas as contri- patrimoniais lhe seja particularmente
nio imóvel, móvel e imaterial, pela gestão te, que se relaciona inclusivamente com buições para as economias locais, que têm cara… Em que medida poderá esta es-
do património edificado arquitetónico e ar- uma História europeia pesada que em a ver com a restauração, com a hotelaria, colha para o exercício de directora ge-
queológico no território e nas cidades, pela Portugal se encontrava praticamente ve- com o comércio e com a atracção das pes- ral do património cultural poderá sig-
realização de obras  de conservação nos tada ao desconhecimento geral. Entendo soas a esses locais e a inerente criação de nificar um reforço do investimento do
grandes monumentos, pela gestão dos mu- que esta rota colocará isso em evidência, emprego. É extremamente importante e, Estado neste domínio?
seus nacionais e dos monumentos classifi- desvendando essa parte da História ---. seguramente, uma forma de desenvolvi- Naturalmente, é o que espero… Este pro-
cados como Património Mundial, pela Acima de tudo, a Rota das Judiarias per- mento de territórios interiores que estão cesso de concessão de monumentos histó-
coordenação da Rede Portuguesa de Mu- mitir-nos-á visitar memórias concretas fragilizados devido à falta de pessoas e de ricos, no âmbito do projecto Revive, em
seus, pela documentação e inventário do em diversos pontos do país, relevando actividade económica. Também por isso que temos vindo a colaborar com o Minis-
património imaterial, indo até às interven- aqui de forma especial o museu que será friso a importância desta Rota das Judia- tério da Economia, do Turismo e com a Di-
ções de conservação e restauro de peças de edificado em Lisboa e que poderá ser rias. Não é apenas importante do ponto de reção-Geral do Tesouro e Finanças, visa
património móvel e integrado. muito atrativo do ponto de vista turísti- vista cultural ou da tal memória esquecida identificar edifícios que poderão ser trans-
Paula Araújo da Silva assumiu, no início do co, potenciando a visitação de turistas a mas igualmente pela questão económica. formados em unidades hoteleiras e conces-
ano, a função de Diretora Geral do Patrimó- outros territórios do país, onde nunca sionados, projectando o tal reuso. Temos o
nio e, em entrevista ao País Positivo, destaca iriam de outra forma. E isso é extrema- Tendo assumido muito recentemente exemplo das Pousadas de Portugal, que re-
a importância que a criação de rotas temáti- mente importante para as políticas patri- esta missão, considera que Portugal sultaram em exemplos extremamente ino-
cas subordinadas ao património nacional e a moniais, para o turismo e para o desen- estará finalmente a encarar de forma vadores à época, aproveitando edifícios en-
valorização das já existentes deverá assumir, volvimento económico do país. E gostava séria e pragmática o seu próprio patri- tão desocupados ou em ruína. Estamos
não só pela dimensão cultural mas igual- de realçar que, para nós, enquanto Dire- mónio? agora, dentro de princípios semelhantes
mente pelo potencial económico que as mes- ção-Geral que define a política patrimo- Creio que se tem feito um trabalho muito aos de então a procurar dar um uso a edifí-
mas representam para os diferentes territó- nial nacional, a criação de rotas a nível considerável relativamente à questão patri- cios abandonados e com valor patrimonial.
rios do país. nacional é um domínio ao qual pretende- monial… Ao longo dos últimos 30 anos ou No fundo, identificar os edifícios espalha-
mos conferir especial importância. Na até mais, temos vindo a trabalhar em todo o dos pelo país capazes de atrair turistas e
Que importância encerra esta Rota prática, isso passa nomeadamente pelos país mas é preciso não esquecer que a ques- visitantes, envolvendo aqui uma vertente
das Judiarias para a Direção-Geral do castelos e pelas fortalezas e pelo fortale- tão do património – edificado, neste caso – de investimento privado naturalmente res-
Património Cultural? cimento do que já existe, como a Rota do exige uma manutenção e conservação per- peitoso do património.
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no Diálogo Interculturas – Rede de Judiarias de Portugal Rotas de Sefarad

Rotas de Sefarad - Valorização da Identidade


Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas
Fundada a 17 de março de de 500 anos deu ao país um avanço
2011, a Rede de Judiarias decisivo para o início da globaliza-
ção, à evolução da economia mundial
de Portugal, é uma e da medicina. Muitos foram os seto-
associação com caráter res em que o papel dos sefarditas na-
público, de direito cionais se tornou preponderante. Foi
privado, que tem por fim essencialmente por tudo isto que
uma atuação conjunta, na Portugal deu novos mundos ao mun-
defesa do património do.

urbanístico, arquitetónico, A Rede de Judiarias de Portugal


ambiental, histórico e foi criada em 2011. De que forma
cultural, relacionado com descreve o percurso durante es-
a herança judaica. tes seis anos?
Em entrevista ao País Tem sido um percurso muito positivo
Positivo, António Rocha, alicerçado num crescimento susten-
tado. Foram sócios fundadores, 9
Presidente da Rede de Municípios, 6 Entidades Regionais
Judiarias de Portugal, de Turismo e a Comunidade Judaica
apresenta a associação de Belmonte, sendo que hoje fazem
que tem lutado pela parte da Rede 37 Municípios e a Co-
preservação da memória, munidade Israelita de Lisboa. Por
cultura e património isto pode ver-se o interesse e o esfor-
ço feito por todos os associados no
judaico em Portugal: “O sentido de termos uma rede forte e
Projecto (...) apoiado pelo António Rocha, Presidente da Rede de Judiarias de Portugal que cuida do seu património com
European Economic Area elevados benefícios ao nível cultural
Grants (EEA GRANTS) e turístico.
resultou da credibilidade Quais foram as motivações que tende conjugar a valorização históri-
e trabalho da rede que levaram à união dos municípios, ca e patrimonial com a promoção tu- A parceria da Rede com a entida-
com tradição judaica, para criar a rística, ação que ajudará igualmente de EEA GRANTS foi o kick-off
permitiu uma ajuda Rede de Judiarias de Portugal? a descobrir uma forte componente da para alguns municípios avança-
fundamental aos As motivações que os municípios identidade portuguesa e peninsular. rem com os seus projetos?
municípios na execução sentiram foram as de conservar, re- O contributo dos judeus portugueses O Projeto “Rotas de Sefarad – Valori-
dos seus projetos, não qualificar e revitalizar todo um patri- para a história do mundo foi enorme: zação da Identidade Judaica no Diá-
podendo esquecer mónio que estava esquecido e que desde a ciência náutica, que há mais logo Interculturas” apoiado pelo Eu-
também o Estado importa preservar de modo a mos-
trar ao mundo toda uma história ju-
Português, que através da daica de valor cultural importantíssi-
Direção Regional da ma e que se pretende que seja um
Cultura do Centro marco na promoção turística de Por-
cofinancia este projeto” tugal.

A preservação da identidade na-


cional, da cultura e memória ju-
daica são os principais objetivos
desta associação?
A Associação Rede de Judiarias de
Portugal – Rotas de Sefarad foi cria-
da com o objetivo de haver uma atua-
ção conjunta dos municípios portu-
gueses, na defesa do património ur-
banístico, arquitetónico, ambiental,
histórico e cultural relacionado com
a herança judaica. Assim a Rede pre-
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Rotas de Sefarad no Diálogo Interculturas – Rede de Judiarias de Portugal

existe uma série de ações imateriais Após a conclusão desta fase de pleno direito, sendo nosso objetivo
que lhe dão conteúdo e validam mui- projeto, de que forma a rede po- candidatar a nossa Rota ao Conselho
to do trablho que se está a realizar. derá ser expandida? Haverá a in- da Europa, o que trará mais mais-va-
clusão de mais municípios ou in- lias evidentes e é mais uma prova
A expectativa de aumento do nú- vestimento em novas matérias/ que validará todo o esforço que tem
mero de turistas a visitar os mu- projetos? vindo a ser feito.
nicípios da rede é elevada? As nossas equipas técnicas estão já a
Claramente esse é um dos objetivos e preparar uma nova candidatura que O EEA GRANTS continuará a ser
para tal a Rede vem fazendo um es- terá vários parceiros internacionais, um parceiro da Rede de Judiarias
forço grande com a participação to- ligados a esta temática e com os quais de Portugal nessas projeções de
Sede rede de judiarias dos os anos na IMTM – Feira Interna- temos ligação forte. Terá uma forte futuro?
cional de Turismo do Mediterrâneo componente imaterial ligada à temá- Vamos dentro em breve apresentar ao Sr.
em Telavive, Israel, onde vamos es- tica da Inquisição e que contemplará Embaixador da Noruega em Portugal
tar, mais uma vez, nos próximos dias certamente alguns projetos materiais em primeira mão, o Projeto detalhado
ropean Economic Area Grants (EEA 7 e 8 de fevereiro e que tem ajudado a a serem apresentados pelos municí- anteriormente enunciado, projeto este
GRANTS), resultou da credibilidade captar muitos turistas desses países. pios que agora não foram contempla- que é ambicioso e de caráter internacio-
e trabalho da rede que permitiu uma Vamos igualmente participar na BTL dos. Estamos também a desenvolver nal e estamos certos que terá o melhor
ajuda fundamental aos municípios – Bolsa de Turismo de Lisboa, no pró- uma parceria com a Rede de Judia- acolhimento do mecanismo financeiro.
na execução dos seus projetos, não ximo mês de março com Stand Pró- rias de Espanha no sentido de estrei- Até abril estamos empenhados em
podendo esquecer também o Estado prio e na FITUR – Feira Internacional tar laços e desenvolver esforços con- concluir o projeto atual que estou
Português, que através da Direção de Turismo no próximo ano. O gran- juntos no âmbito da AEPJ – European certo terá nota muito positiva de to-
Regional da Cultura do Centro cofi- de objetivo é atingirmos 100.000 visi- Association for the Preservation and das as entidades envolvidas e será re-
nancia este projeto. Mas este Projeto tantes, ainda durante este ano. Promotion of Jewish Culture and He- conhecido pela qualidade por todos
vai mais além da obra material, pois ritage, da qual somos membros de os que nos visitarem.

Embaixada da Noruega em Portugal


de gestão marinha, energias renováveis, Os EEA Grants estão empenhados em con-
adaptação a alterações climáticas, socie- tribuir para a redução das disparidades so-
dade civil, saúde pública, igualdade de ciais e económicas e para a erradicação de
género, herança cultural e diversidade de todas as espécies de práticas de racismo e
cultura e artes. de discriminação. Assim, consideramos
Para cada uma dessas áreas há um opera- pertinente abordar a questão da identidade
dor de programa que gerencia o desenvol- e presença judaica na Europa através de
Entrevista Anders Erdal, vimento e a implementação de todas as ati- um programa de património. Aborda os
vidades necessárias para realizar o progra- problemas e condicionamentos de um
Embaixador da Noruega
ma. Dentro de cada programa, pode haver povo que foi muito discriminado e perse-
em Portugal pedidos para financiamento de projetos guido, por isso, ensina uma lição sobre o
que servirão os propósitos do programa ou que não deve ser repetido na Europa.
Anders Erdal, Embaixador da Noruega em Portugal podem ser estabelecidos, desde o início,
Noruega é, em conjunto com a Islân- projetos pré-definidos. Portugal e Noruega são países com re-
dia e o Liechtenstein, membro funda- lações bilaterais desde 1906. O progra-
dor dos EEA Grants. Quais são os ses da União Europeia que enfrentam sé- A adesão e feedback dos intervenien- ma EEA Grants veio ajudar a reforçá-
principais objetivos e em que consiste rios desafios económicos. Os seus objetivos tes no programa do EEA Grants tem -las?
este programa? principais são a promoção das relações bi- sido a esperada? Sim. Os programas do EEA Grants ajudam
Há um envolvimento de longa data entre a laterais entre doadores e países beneficiá- Sim. Neste momento estamos a teminar a juntar as pessoas de ambos os países e
Noruega e a União Europeia, apesar de não rios e a redução das disparidades económi- um período de apoio e a preparar um dos mais diversos quadrantes – profissio-
sermos um estado membro. A Noruega cas e sociais. novo. Em relação ao passado, os progra- nais, artistas, investigadores, etc. – para
contribui para uma vasta gama de ativida- mas que estão a fechar revelam resultados trabalhar em conjunto nestes programas.
des que visam promover o crescimento so- De que forma se processa o apoio a muito positivos, na maioria das vezes, ex- Este facto relembra-nos das semelhanças e
cial e económico na União Europeia e par- Portugal? cedendo as expectativas. Em termos de fu- complementaridades que os dois países
ticipa nelas. Uma delas é a concessão de Portugal é um dos 15 países beneficiários turo, salientamos que as pessoas – que ope- partilham por mais improváveis e inespe-
subvenções a domínios como a inovação, o do EEA Grants e atualmente está a receber ram nos domínios de intervenção destes radas que elas possam parecer.
desenvolvimento económico, o ambiente, a 58 milhões de euros alocados a 8 progra- subsídios - têm aguardado com grande ex- Isto também acontece ao nível governa-
igualdade entre homens e mulheres e a cul- mas estratégicos. Para o próximo período, pectativa o lançamento dos novos progra- mental, das instituições públicas e atores
tura, através dos EEA Grants. até 2021, Portugal irá receber 102,7 milhões mas. das mais diversificadas áreas de interven-
Os EEA Grants são um mecanismo finan- de euros do EEA Grants. ção do EEA Grants. Há uma elevada troca
ceiro concebido para prestar apoio a áreas Atualmente, Portugal está a receber fi- A temática do Judaísmo vem de en- de conhecimento, mais oportunidades de
críticas de desenvolvimento a alguns paí- nanciamento para programas nas áreas contro aos objetivos do EEA Grants? aprendizagem e a cooperação reforçada.
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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa


no Diálogo Interculturas – Direção Regional de Cultura do Centro Rotas de Sefarad

“A Rota das Judiarias será importante


para todos e distinguirá a História”
Cabe à Direção Regional pleno séc. XX, durante a II Guerra Mun- adesão dos responsáveis autárquicos?
de Cultura do Centro, dial, relacionada com o diplomata Aristi- Este projeto iniciou em 2013… Estamos
des Sousa Mendes que, com os cerca de 30 no início de 2017 e ainda temos metade
como Operadora do mil vistos que passou em Bordéus, no con- do orçamento total do projeto para gas-
programa PT 08 - sulado português, permitiu salvar muitos tarmos até final de maio… Acho que isto
Conservação e judeus, da perseguição nazi. Digamos que diz tudo… O projeto avançou muito de-
Revitalização do são duas áreas que se cruzam, uma das vagar numa primeira fase e só se inicia-
Património Natural e quais ainda muito próxima de nós por se ram as obras da responsabilidade dos
Cultural, financiado pelo situar no século passado. E até por isso este municípios a partir de meados de 2016,
projeto é interessante, na medida em que tendo-nos sido permitido mais um ano
EEA Grants fiscalizar o contaremos uma história de vida e não de para terminar o projeto. De qualquer for-
projeto em termos morte que testemunha a história da vida ma, no seio dos EEA Grants este é uma
financeiros e também do de Aristides Sousa Mendes, que terá um espécie de projeto piloto. Enquanto os
cumprimento dos centro interpretativo, financiado pelo EEA demais têm um ou dois parceiros, neste
objetivos previstos, cujo Grants, em Vilar Formoso. É muito impor- caso surge a Rede das Judiarias que tem,
promotor é a Rede de tante que as faixas mais novas da popula- por sua vez, 16 parceiros, que são os mu-
ção conheçam o que fez e estou certa de nicípios. Portanto, estamos perante um
Judiarias de Portugal, que que, mesmo os mais velhos, se admirarão projeto de grande complexidade mas
visa a salvaguarda do com os feitos deste nosso herói… que, julgo, não encontrará mais dificul-
património natural e dades uma vez que a maior parte das
cultural para as gerações Em que medida visa este projeto tam- obras e outras ações imateriais estão em
futuras, a sua Celeste Amaro, Diretora Regional bém reabilitar o património inserido fase de conclusão.
conservação e promoção da Cultura do Centro na rota e qualifica-lo com novos usos?
Todos os espaços que têm a ver com vestí- Sendo este projeto financiado pelo
do acesso público. Neste gios judaicos, desde as antigas sinagogas a fundo EEA Grants, que obetivos fo-
âmbito, o projecto outros, que entram neste projeto a que ade- ram predefinidos aquando da sua con-
predefinido é denominado norte a sul do país mantêm vestígios judai- riram 16 municípios, vão ser reabilitados e cepção?
“Rotas de Sefarad – cos, não só aqueles que entram neste proje- abertos ao público, mesmo que não sejam Neste momento, estou a trabalhar na pros-
Valorização da Identidade to mas muitos mais… A título de exemplo, classificados. Todos eles assumirão o for- secução desses objetivos que, se não forem
Judaica Portuguesa no Coimbra não está neste projeto mas tem mato de centros interpretativos ou museu, cumpridos, obrigará o Estado português a
muitos vestígios judaicos e pode entrar na como é o caso do Museu Judaico de Lisboa. devolver ao EEA Grants o montante de 4
Diálogo Interculturas”. Rota, quando fizer parte da Rede de Judia- milhões de euros destinado a este projeto,
País Positivo entrevistou rias. Portanto, o país vai ter acesso a uma Em que medida poderá a região centro uma vez que o outro milhão é financiado
Celeste Amaro, Diretora rota que irá divulgar tudo o que diz respei- em particular sair beneficiada face à pelo Estado português e pela Rede de Ju-
Regional da Cultura do to a uma temática que é conhecida por adesão de alguns espaços a esta rota? diarias de Portugal. No que concerne ao
Centro e uma das figuras pouca gente. A região centro ficará tão beneficiada quan- número de visitantes, teremos que atingir
que acompanhou, com to o resto do país. Estamos perante um pro- 100 mil até 31 de dezembro de 2017, em to-
Sendo inquestionável o potencial da jeto nacional e, como tal, todas as regiões, dos estes espaços recuperados. Neste mo-
afinco, o projeto desde o rota em termos turísticos, que relevân- acabam por estar incluídas. A região cen- mento, já temos perto de 20 mil, para o que
início. cia assume a mesma no domínio cul- tro, por especificidades próprias, nomea- contribuíram as obras de Monsaraz, do
tural? damente o facto de estar muito perto da Porto e Castelo Branco e, a partir de agora,
A componente turística da rota é muito sig- fronteira com Espanha, contribuiu para todos os outros espaços que vão abrindo,
nificativa, sobretudo se pensarmos nos ju- que, a determinada altura da nossa histó- incluindo o Museu Judaico de Lisboa, cujo
deus que deverão visitar o nosso país mas ria, muitos judeus se concentrassem na cumprimento de abertura aponta para no-
O que poderá representar para o país igualmente naqueles que aqui vivem e visi- zona raiana. No projeto financiado pelo vembro deste ano, certamente que torna-
este projeto da Rota das Judiarias? tarão os locais que integram a rota. Depois, EEA Grants, a região centro tem metade rão possível atingirmos essa meta. Outro
Trata-se de uma temática presentemente é importante em termos nacionais e locais dos municípios aderentes e, logo aí, somos objetivo prende-se com a realização de
pouco explorada no país… Pouco se sabe para as pessoas que vivem nesses territó- beneficiados por termos mais projetos mas nove ações de formação, algumas das
sobre a vida dos judeus e isso é extensivo rios, que terão acesso ao conhecimento his- não deixa de ser um projeto nacional, que quais já foram ministradas e outras estão
às camadas mais jovens e mais idosas e tão tórico relativo a uma cultura que viveu e vai de Bragança a Monsaraz. programadas entre fevereiro e março, com
pouco sobre a forma como e porque razão vive no seio dos seus concelhos. No fundo, públicos que derivam entre operadores tu-
foram expulsos e dos que resolveram ficar vai ser marcante para todos e, mais, vai dis- Não existindo em Portugal uma tradi- rísticos e guias locais. No que respeita a
como viveram e vivem hoje. E a verdade é tinguir a história… falamos mais sobre a ção para a realização de projetos com obras físicas, temos 18 previstas, o que su-
que grande parte deles vive muito próxima expulsão dos judeus de Portugal mas exis- esta envergadura que envolvam uma pera o objetivo inicialmente definido, que
de nós, sendo que muitos concelhos de te uma componente da história recente, em concertação municipal, como sentiu a apontava para apenas 14.
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Rotas de Sefarad no Diálogo Interculturas – Museu Judaico de Lisboa

Um espaço pedagógico
com mil anos de História
Lisboa contará com um ter transversal do projeto e a sua ambição, terísticas específicas da cultura judaica, da presença dos Judeus no nosso país,
novo espaço memorial a CML e a CIL encontraram diversos par- numa perspetiva de introdução à história e sendo de destacar o papel que tiveram
dedicado à História dos ceiros que pudessem representar mais-va- religião hebraicas. Os restantes núcleos ao longo de todo o século XX. O Museu
lias para este programa. A Associação de privilegiam um discurso museológico Judaico de Lisboa pretende contar estas
judeus em Portugal. Um Turismo de Lisboa colocou a sua experiên- cronológico, que aborda as várias etapas e muitas outras histórias, percorrendo
novo museu irá nascer no cia ao serviço deste desafio e vai gerir todo da presença judaica em Portugal, desde quase 2000 anos de presença judaica em
Largo de São Miguel, em o processo de construção do museu e assu- a época medieval até à atualidade, pas- Portugal. Desde a convivência / intole-
Alfama, projeto que mir a sua gestão. A Fundação Drahi asso- sando pela expulsão / conversão de rância do passado até aos dias de hoje,
envolve um investimento ciou-se para permitir a viabilidade econó- 1496, o fenómeno dos cristãos-novos, a o Museu tem como objetivo transmitir
de cerca de cinco milhões mica do projeto. Para além destas parcerias diáspora (que levou os judeus de ori- aos visitantes de todas as faixas etárias
mais institucionais, o Museu Judaico de gem portuguesa a praticamente todas as um discurso que combata ativamente a
de euros Lisboa conta já com uma lista considerável partes do mundo), as condições para o intolerância étnica e religiosa, assim
de doadores e emprestadores, que garan- pleno regresso do Judaísmo ao país, o pa- como valorize as diferenças culturais
tem a qualidade e relevância dos materiais pel das comunidades judaicas em Portu- como definidoras do património da
O Museu Judaico de Lisboa partiu da Co- a expor e a coerência do discurso museoló- gal durante a 2.ª Guerra Mundial e o con- Humanidade.
munidade Israelita de Lisboa (CIL), que gico, que será complementado com equi- tributo dessas mesmas comunidades na
desafiou a Câmara Municipal de Lisboa pamentos multimédia. atualidade. Potencialidade económica do
para criar um equipamento cultural desti- projeto
nado a preservar e divulgar a herança ju- Caracterização do espaço Um espaço transmissor de Embora se trate de um projeto de serviço
daica da cidade e do país. Lisboa é das museológico conhecimento e do passado público, este novo equipamento cultural
poucas capitais europeias que não possui O projeto de arquitetura foi oferecido pela judaico de Lisboa tem um potencial turístico relevante, que
ainda um espaço museológico dedicado ao Arquiteta Graça Bachmann. Pensado de Lisboa possuiu quatro judiarias na Ida- contribuirá para a afirmação do “destino”
contributo judaico para a sua história, ra- raiz, este edifício vai albergar um conjunto de Média e foi grande a relevância que Lisboa no contexto nacional e internacio-
zão pela qual a Autarquia sentiu necessida- alargado de valências, como espaço para a comunidade judaica alcançou nesse nal. Do ponto de vista da gestão da cidade,
de de trabalhar para proporcionar as con- exposições temporárias, cafetaria, serviços período, tanto na especialização em vá- a sua localização em Alfama permitirá do-
dições necessárias à criação de um museu administrativos, loja e centro de documen- rias profissões/ofícios como no finan- tar esta zona de um equipamento museoló-
com esta missão. O local escolhido é o Lar- tação. A exposição permanente foi concebi- ciamento de projetos reais. Depois de gico de referência, que não só ajudará a re-
go de S. Miguel, em Alfama, lugar emble- da por Esther Mucznik e contará a história um período de interdição, ditado pela qualificar aquele bairro identitário de Lis-
mático para a comunidade judaica, pois foi da presença judaica em Lisboa (e, em senti- expulsão de D. Manuel e pelo estabele- boa, como também reforçará os corredores
nas suas imediações que se estabeleceu do alargado, em Portugal), a partir de 5 nú- cimento da Inquisição, o ressurgimento de acesso ao Castelo de S. Jorge a partir da
uma das mais importantes judiarias me- cleos. O primeiro deles diz respeito à cultu- das comunidades judaicas no século zona ribeirinha, criando mais pontos de in-
dievais da cidade. Tendo em conta o carác- ra religiosa e pretende evidenciar as carac- XIX criou novos capítulos da história teresse para todos os que visitam Lisboa.

Integração Vista Largo S Miguel - Rua S Miguel


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no Diálogo Interculturas – Embaixadora do Estado de Israel em Portugal Rotas de Sefarad

As Memórias Judaicas
em Portugal
A história, preservação e
te da história de Portugal. vação da memória do Holocausto atra-
memória da presença Gostaria de saudar as autoridades e or- vés de associações como a ME-
judaica em Portugal. ganizações que desenvolvem, em vá- MOSHOA, entre outras. Neste momen-
rios pontos do país, aqueles centros, to, a comunidade judaica está muito
fornecendo ao público em geral, e às envolvida na implementação do Decre-
novas gerações em particular, um me- to-Lei de Fevereiro de 2015, que regula-
Há raízes da presença judaica em Por- lhor conhecimento deste capítulo his- menta a aquisição da nacionalidade
tugal desde tempos imemoriais, que tórico”. portuguesa, por naturalização, de pes-
deixaram uma marca e uma herança soas que consigam provar a sua des-
significativas. cendência de judeus perseguidos na
No presente, presenciamos uma inves- A presença da Península Ibérica”.
tigação académica crescente de docu- comunidade judaica em Ao mesmo tempo, a direcção e os mem-
mentos e vestígios dos períodos mais Portugal no presente e a bros da Comunidade judaica em Portu-
turbulentos, bem como do legado dei- sua participação na gal, à semelhança de outras comunida-
xado pelas comunidades judaicas. É vida ativa do país des judaicas espalhadas pelo mundo,
possível encontrar muitas publicações A comunidade judaica em Portugal, acompanham com muita atenção tudo
sobre o tema da presença judaica e nos dias de hoje, é parte integrante re- o que acontece no Estado de Israel.
abrem-se diversos centros e institutos levante da sociedade portuguesa acti-
Tzipora Rimon, Embaixadora do Estado de Israel em cuja missão é a preservação da memó- va, por exemplo no âmbito do diálogo Tzipora Rimon,
Portugal ria de uma época passada, que faz par- interreligioso e da educação e preser- Embaixadora de Israel em Portugal

Rabino de Belmonte
500 anos de tradição judaica
Representante de todos judaica. As ações desencadeadas pela Portugal está a trabalhar nesse sentido.
os judeus de Belmonte, o Rede de Judiarias de Portugal ajudam o
Rabino Elisha Salas seu trabalho? Recebe a visitas de muitos turistas ju-
A comunidade judaica de Belmonte é um pe- deus?
concede uma entrevista
queno organismo que sozinho não consegue Todos os turistas que visitam Belmonte ficam
ao País Positivo disseminar 500 anos de história da presença encantados com a região e querem conhecer
desmitificando o facto de judaica em Portugal, precisamos de um orga- mais do país, a sua curiosidade fica aguçada e
a comunidade judaica ser nismo mais amplo e forte para o fazer e a a Rede de Judiarias desempenha um papel
considerada fechada e Rede de Judiarias de Portugal vem desempe- fundamental ao criar rotas devidamente assi-
pouco recetiva a visitas nhar, na perfeição, esse papel. É necessário naladas e estruturadas para que estas pessoas
desenterrar a história judaica, levá-la às pes- satisfaçam a sua curiosidade e regressem.
de pessoas exteriores à
soas e expor a riqueza que se encontra escon-
comunidade. dida no território português. Criadas as Rotas é necessário criar con-
dições para receber os turistas que têm
Há, na sua opinião, muito trabalho por regras diferentes da cultura portuguesa.
efetuar? Nota que Já existe essa sensibilidade?
Com um poder de oratória notável recebe os Acredito que sim. Todos os organismos traba- Já existem alguns restaurantes que servem
convidados dentro da Sinagoga. Começa por lharam para melhorar, preservar e conservar comida kosher. Desloquei-me ao local para
Rabino de Belmonte, Elisha Salas explicar a disposição das pessoas: “homens o património local, agora devem-se unir e ensinar e me certificar de que a comida é con-
em baixo com a kipá sobre a cabeça e as mu- criar uma rota única de forma a que o turista fecionada mediante as nossas regras e certifi-
lheres no piso superior de cabelos cobertos” não perca tempo com as viagens e fique per- quei esses restaurantes. Atualmente já exis-
dido quando necessita de alguma informação tem queijos, compotas, carnes e bebidas que
É um membro ativo em Belmonte que adicional. O trabalho em rede, em comunida- podem ser cadquiridas e que têm a certifica-
prima por promover e divulgar a cultura de é fundamental e a Rede de Judiarias de ção kosher.
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Rotas de Sefarad no Diálogo Interculturas – Comunidade Israelita de Lisboa

A primeira comunidade judaica


do pós inquisição
A actual comunidade
cos, práticas religiosas, etc. Hoje, a Co- não havendo na realidade nenhum por-
judaica de Lisboa munidade Israelita de Lisboa divide-se tuguês que, independentemente da reli-
encontra as suas raízes mais ou menos equitativamente em dois gião que tratique, que possa ter a certeza
nos grupos de judeus grupos: os sefarditas, oriundos da Penín- absoluta de que não possui uma costela
sefarditas que se sula Ibérica, e os asquenazes, oriundos da ancestral judaica…”
instalaram em Portugal Europa Central. No total, são mais de 300 Como não poderia deixar de ser, a Comu-
as famílias associadas à Comunidade. nidade Israelita é uma das entidades as-
no início do século XIX.
Gabriel Steinhardt relembra que “Em sociadas da Rota das Judiarias. De acordo
Na sua maioria, eram 1912, a comunidade judaica de Lisboa foi com Gabriel Stenhardt, a instituição da
negociantes provenientes a primeira a ser oficialmente reconhecida rota, além de preservar um legado, de-
de Gibraltar e Marrocos pelo Governo Republicano, precisamente volve alguma justiça à difícil história por
(Tânger, Tetuão e 416 anos depois do Édito de Expulsão e que passaram os judeus: “Isto é a história
Mogador) e alguns dos quase um século depois da extinção da de Portugal e, obviamente, o reconheci-
Inquisição.. Diz-se que D. Manuel I, con- mento por parte das autoridades de que
nomes ainda exprimiam
cedendo-lhes um período de adaptação e os judeus foram uma parte muito impor-
uma ligação às suas a possibilidade de se tornarem cristãos tante da história portuguesa está feito. E
terras de origem ibérica, novos, pretendia na realidade, que os ju- pode ser explicado às pessoas precisa-
antes do período da Gabriel Steinhardt deus permanecessem em Portugal. Ora, mente deste modo: através de museus,
expulsão. Paralelamente não foi propriamente isso que sucedeu e da introdução do tema nos manuais esco-
à sua integração rápida e de D. Afonso Henriques, na altura das acabaram por sair muitos judeus do país lares ou de um exemplo traduzido numa
conquistas, testemunham esse legado e por não poderem praticar livremente a iniciativa que data de 2015, a introdução
bem sucedida na vida
presença, como salienta o nosso interlo- sua religião, enquanto que muitos outros de um regime especial da lei da naciona-
portuguesa, os primeiros cutor, Gabriel Steinhardt, presidente da foram torturados e mortos pelos inquisi- lidade portuguesa que permite a aquisi-
grupos de judeus Comunidade Israelita de Lisboa: “Há que dores ou fingindo ser cristãos, se adapta- ção da mesma por naturalização a des-
procuraram logo salientar que existem judeus em Portugal ram à prática secreta do judaísmo, dando cendentes de judeus sefarditas que foram
organizar-se como tal, mesmo numa época anterior à existência origem ao fenómeno designado hoje por expulsos há 500 anos. Trata-se de um re-
criando salas de oração e do próprio país… Os judeus ajudaram D. cripto-judaísmo. Somando essa popula- conhecimento, uma restituição e um acto
Afonso Henriques nas conquistas… Tive- ção judaica da altura aos judeus fugidos de justiça”, reitera.
adquirindo terrenos para
mos um período negro da nossa história, de Espanha, onde a inquisição foi ainda Um dos principais ícones a edificar na se-
enterrar os mortos traduzido em quase 300 anos de inquisi- mais marcante, e refugiados entre nós, quência da criação da Rede das Judiarias
segundo o ritual judaico. ção mas também outro período, mais ilu- podemos referir que cerca de 10 por cen- Portuguesas e da Rota das Judiarias é o
minado, em que Portugal acolheu refu- to da população portuguesa, cifrada em Museu Judaico de Lisboa, obra que deve-
giados antes e depois da II Guerra Mun- um milhão de habitantes, eram cripto-ju- rá estar concluída até perto do final do
Não podendo obter a legalização da co- dial, em fuga das perseguições e do infa- deus. E este é um fenómeno que influen- ano. Uma espécie de dever de memória
munidade, os judeus de Lisboa foram me nazismo, e por isso devemos estar cia a sociedade civil portugues até hoje, para com o nosso passado judaico, que
criando, sobretudo na segunda metade reconhecidos”. contou também com a colaboração da
do século XIX, instituições de beneficên- Gabriel Steinhardt recebeu-nos num íco- Comunidade Israelita de Lisboa, que ce-
cia sob a forma de associações autóno- ne judaico de Lisboa, a Sinagoga local, lebrou um protocolo e contribuiu para o
mas, cujos estatutos eram submetidos à edificada em 1904. Escondida atrás de projecto, nomeadamente através do pro-
aprovação do Governo Civil ou sob a for- um alto muro, porque na altura apenas jeto arquitectónico. “Congratulamo-nos
ma de fundações privadas, geralmente os templos religiosos católicos podiam pelo facto de o museu estar preste a tor-
dirigidas por senhoras. Estas instituições ser visíveis a partir da via pública, esta nar-se uma realidade, mais ainda quando
desempenharam um papel decisivo na magnífica obra,  a “Shaaré Tikvá” (Pórti- Lisboa tem uma riquíssima história ju-
união e organização do judaísmo portu- cos da Esperança), serve de palco para daica, com várias judiarias, mas pouco
guês. A abertura política da pós-revolu- uma visita à própria história de Portugal. tem hoje para mostrar, para além da pe-
ção de Abril e das fronteiras, com a entra- Aqui entram diariamente crianças e jo- quena judiaria de Alfama, do monumen-
da de Portugal na União Europeia, fez vens em visitas escolares, turistas e visi- to ao massacre de 1506 na Praça de São
chegar ao nosso país cidadãos judeus ori- tantes portugueses que procuram satisfa- Domingos e da nossa Sinagoga, uma vez
ginários de diversos países, da Europa e zer a sede do conhecimento. que tudo foi destruído. Trata-se de uma
do Brasil. O Judaísmo é a religião e cultura do povo excelente oportunidade de divulgarmos
Diz-nos a História que a presença de ju- judeu, que o tem encarado tradicional- o judaísmo em si e, a par, a importante
deus em território português é mesmo mente como uma cultura com a sua pró- contribuição dos judeus para a história
anterior à própria existência do país. Re- pria história, língua (hebraica), pátria an- de Lisboa e de Portugal”, conclui Gabriel
gisto histórico como o contributo, ao lado cestral, liturgia, filosofia, princípios éti- Steinhardt.
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no Diálogo Interculturas – Município de Alenquer Rotas de Sefarad

Novas formas de ver o


património em Alenquer
O município de Alenquer
uma edificação original. Note-se que com o mos um projeto de recuperação e reabilita-
faz parte da Rede de terramoto de 1755 a Igreja da Várzea viria a ção da Igreja de Santa Maria da Várzea em
Judiarias de Portugal ter ainda outras alterações. Alenquer so- que a preocupação principal foi mantê-la
– Rotas de Sefarad, ao freu muitíssimo com o terramoto que prati- com a traça de antes. Num trabalho muito
qual aderiu ciente da sua camente destruiu a vila alta, existindo hoje próximo com a Direção-Geral do Patrimó-
inserção no legado poucas construções anteriores ao abalo. É o nio Cultural picamos todas as paredes até
caso do Convento de S. Francisco, de 1216, chegarmos à parede original. No chão es-
histórico judaico e com o
que conserva o portal manuelino mas teve cavamos muito pouco, sabendo que se tra-
propósito de reabilitar o alterações significativas. A Igreja de Santa tava de uma igreja cemiterial. Mesmo as-
seu património Maria da Várzea funcionou com cultos ainda sim encontramos ossadas que foram devi-
relacionado com essa durante vários séculos, sendo encerrada em damente estudadas. Pretendemos fazer
herança judaica, meados do século XIX, permanecendo em uma publicação de cariz arqueológico so-
pretendendo impulsionar degradação durante cerca de cem anos. No bre este processo das obras levadas a cabo
meio de polémica, os restos mortais de Da- nos últimos três anos. Sendo que já existia
o turismo e a cultura.
Rui Costa, Vice-presidente da mião de Góis foram dali transladados em trabalho feito por um grande arqueólogo
Sobre esse processo, que Câmara Municipal de Alenquer 1941, para a Igreja de São Pedro, assim como de Alenquer, Hipólito Cabaço, comple-
já deu forma à um conjunto de bens patrimoniais que per- mentaremos os seus estudos com o que se
reabilitação de marcos mitiram albergar um novo túmulo de Da- encontrou agora na igreja. Descobrimos
históricos de Alenquer Pode-nos detalhar esse projeto? mião de Góis. O túmulo é construído com pedras tumulares, algumas do século XVI,
falamos com o Rui Costa, Além da Judiaria, há o facto de o historia- uma abóbada e com pavimento retirado da que decidimos deixar à vista. Por outro
dor e humanista Damião de Góis, uma víti- Igreja de Santa Maria da Várzea. Lá estão o lado, num cantinho, construímos um jar-
Vice-presidente da
ma da Inquisição, ser um filho de Alen- epitáfio, as armas da família de Damião de dim de inverno. Também reconstruímos o
Câmara Municipal de quer. No âmbito deste projeto, decidimos Góis, a pedra tumular original e os seus res- coro e reformamos a torre sineira. No exte-
Alenquer, que nos combinar dois dados: por um lado a efetiva tos mortais. Ali está também um Ecce Homo, rior vai surgir um anfiteatro com um pe-
esclareceu sobre os existência de uma judiaria em Alenquer e, obra que o humanista trouxe da Flandres e queno palco em betão. Será uma obra ino-
pontos mais importantes por outro a figura de Damião de Góis, que ofereceu à Igreja de Santa Maria da Várzea. vadora que permitirá fazer animação cul-
do traço de união que ali tendo sido uma das personalidades portu- Condenado pela inquisição, Damião de Góis tural, principalmente no verão. Estamos
guesas mais ilustres de todas as épocas, tinha sido um mecenas que ofereceu muito também a trabalhar na musealização do
se estabelece entre a
que nasceu em Alenquer, onde está igual- acervo para igrejas. A igreja de Santa Maria espaço, que se desenha de uma forma ino-
História e os nossos dias. mente sepultado. A sua sepultura é monu- da Várzea foi adquirida pelo município de vadora: no centro da nave vamos colocar
mento nacional. Queremos com esta inter- Alenquer há uma vintena de anos num esta- um túnel que levará as pessoas da entrada
venção cruzar a vida e obra de Damião de do de degradação enorme. O município até ao local do altar, passando pelo que foi
Como se enquadra Alenquer na Rede Góis, com todo o processo inquisitorial que construiu um telhado novo, ficando entre- o carneiro de Damião de Góis, para o qual
de Judiarias de Portugal? existiu em Alenquer. Existirão na Torre do tanto a procurar uma alternativa de finan- estamos a fazer uma réplica. Nesse percur-
No século XV, existiu em Alenquer uma ju- Tombo setenta e oito processos da Inquisi- ciamento para a reconstrução. so vamos contar a história desde a Alen-
diaria de dimensão razoável. Esta judiaria ção de gente relacionada com Alenquer, quer medieval, a vida dos judeus na vila e
que ocupava uma área bastante significati- sendo o processo de Damião de Góis o O que foi feito agora em termos de de Damião de Góis. Vamos contar a histó-
va no espaço da vila intramuros, chegou a mais conhecido. Homem notável, porém reabilitação? ria da Igreja de Santa Maria da Várzea com
ter cerca de uma centena de pessoas a viver mordaz e autossuficiente, teve inevitavel- Contextualizamos toda esta intervenção achados arqueológicos e através de méto-
e onde estavam mesteirais, os artífices da mente dissabores com a Inquisição. O fale- com o objetivo de criar o museu de Damião dos de ponta, com recursos digitais. Tudo
época, que tiveram importância no desen- cido professor Mariano Gago, quando de de Góis e das Vítimas da Inquisição. Fize- isto poderá ser visto já em março próximo.
volvimento económico local. Isso na encos- um estudo sobre Damião de Góis e a sua
Museu de Damião de Góis e das Vítimas da Inquisição antes e depois
ta, na zona alta da cidade. Chegaram aos obra, dizia-nos uma vez, sentado na Igreja
nossos dias algumas marcas da existência de Santa Maria da Várzea: “Nem daqui a
da judiaria que era constituída por três duzentos anos a humanidade estará prepa-
ruas grandes que confluem até ao topo da rada para entender Damião de Góis.”
encosta: a rua, a travessa e o beco da Judia-
ria com o seu conjunto de habitações. Essas Quais as ligações de Damião de Góis
casas, no âmbito da intenção de defesa do com o património de Alenquer?
património por parte da Rede de Judiarias, Damião de Góis nasceu em 1502 e morreu
vão ser identificadas para que as pessoas em 1574. Em 1560 adquiriu para sua sepul-
possam saber o que efetivamente ali exis- tura a Igreja de Santa Maria da Várzea,
tia. É um projeto a que nos decidimos ten- onde tinha sido batizado. Foi ali sepultado,
do em conta as realidades de Alenquer. tal como sua esposa. A igreja já não era
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Rotas de Sefarad no Diálogo Interculturas – Município de Almeida

Dois projetos, duas épocas

Almeida revela ser o


de construção bastante interessantes
município fronteiriço que como um relógio de sol colocado no re-
historicamente se mate de uma das esquinas da casa (séc.
destacou, em toda a XVII)e uma janela de estilo Manuelino
Península Ibérica, na (tardio) do século XVI que foram recupe-
receção de refugiados rados. Neste momento estamos na fase
de desenvolvimento de conteúdos e da
internacionais no século
informação que estará disponível no seu
XV e, mais tarde, durante interior. No rés-do-chão terá um tear jun-
a II Grande Guerra tamente com informação e imagens so-
Mundial no século XX. bre o linho desde a sua origem até ao
Foi, durante o século XV, produto final. No primeiro andar iremos
o principal local de ter conteúdos sobre o Judaísmo, estes es-
tão a ser reunidos e trabalhados por uma
passagem dos judeus
equipa coordenada pelo Professor Adria-
expulsos de Espanha. no Vasco Rodrigues.
Muitos acabaram por se
instalar no concelho O projeto de Vilar Formoso remonta
principalmente junto à ao século XX, mas a história é seme-
fronteira nas localidades António Baptista, Presidente do Município de Almeida lhante...
Há também vestígios bem patentes em
próximas de Almeida.
Vilar Formoso que remontam ao séc. XV
Para António Baptista, Em que consiste o projeto de Malha- e XVI, localizados no “Povo”, Rua da
Presidente do Município da Sorda? pontos centrais e estratégicos para o de- Moreirinha, casas de rés-do-chão e 1º an-
de Almeida, estes “dois As obras que temos no concelho de Al- senvolvimento dos seus negócios. Os dar com Mezuzá, que comprovam a sua
marcos históricos não meida dizem respeito à mesma temática vestígios deixados em Malhada Sorda utilização por judeus.
cairão no esquecimento mas referem-se a dois momentos históri- correspondem a uma casa que foi recu- Mas Vilar Formoso merece um destaque
cos diferentes. A Esnoga (ou Sinagoga) perada através deste projeto. A Esnoga é especial no período em que decorreu a II
devido ao empenho e
de Malhada Sorda corresponde à época um edifício com uma dimensão muito Guerra Mundial por também ter recebi-
dedicação do município da passagem e vivência dos judeus sefar- reduzida e que acreditamos que possa do milhares de refugiados à perseguição
em querer recuperar a ditas em 1492, no período a seguir aos ter sido uma Sinagoga de prática oculta. Nazi, entrando por aquela que era a
Esnoga de Malhada Sorda Éditos de Alhambra, com a expulsão dos Não sabemos exatamente quais as moti- principal fronteira terrestre do país a ní-
e em concluir o pólo Judeus pelos Reis Católicos de Espanha. vações que levaram à fixação de algumas vel rodoviário e ferroviário. Com esta in-
museológico Vilar Foram acolhidos em Portugal e segundo famílias em Malhada Sorda, mas acredi- tervenção pretendemos que o visitante,
o Professor Adriano Vasco Rodrigues - tamos que tenha relação com a atividade ao entrar neste polo museológico, tenha
Formoso – Fronteira da
arqueólogo, historiador e etnólogo de industrial dessa época e essencialmente uma perceção e uma vivência aproxima-
Paz, Memorial aos descendência judaica - que tem trabalha- da cerâmica. da das dificuldades e horrores por que
Refugiados e ao Cônsul do com o município de Almeida, passa- passaram muitos dos refugiados.
Aristides de Sousa ram por esta região mais de 30 mil ju- Pode descrever alguns dos conteú- A historiadora Margarida Magalhães Ra-
Mendes.”  deus.Vinham das mais diversas partes dos que estarão disponíveis na casa? malho, autora do livro “A Fronteira da
de Espanha e fixaram-se junto à frontei- É, como referi, um projeto de pequena Paz”, descreve situações dramáticas
ra. As pessoas eram, na sua maioria, co- dimensão. É uma casa de dois andares como a de um comboio lotado de refu-
merciantes com posses e fixavam-se em que estava em ruína. Tem caraterísticas giados que foi obrigado a voltar para

Pólo museológico Vilar Formoso – Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes
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no Diálogo Interculturas – Município de Almeida Rotas de Sefarad

Antes e depois, Museu Antes e depois, Esnoga

França porque os vistos eram falsos. Des- de Sousa Mendes para que a história não Nova Iorque, da Sousa Mendes Founda- Pretendemos honrar a memória desses
se incidente resultou a morte de um casal esqueça quem salvou e foi salvo nesta tion, do Portugal NewYork Consulate- refugiados mas também do Cônsul Aris-
que permanece sepultado no cemitério época. Para isso adquirimos e recuperá- -General, do Turismo do Centro de Por- tides de Sousa Mendes que salvou mi-
de Vilar Formoso. mos dois armazéns e o largo da estação tugal, da Luso-American Development lhares de pessoas durante o Holocausto.
de Vilar Formoso (estação que está entre Foundation, da American Jewish Histo- Creio que vai ser alvo de visita de turis-
O Memorial aos Refugiados e ao as cinco mais bonitas de Portugal).O me- rical Society, do Leo Baeck Institute e The tas com interesse meramente cultural e
Cônsul Aristides de Sousa Mendes morial vai ter seis núcleos distintos: Gen- International Raoul Wallenberg Founda- religioso como de famílias de origem ju-
terá dimensões e conteúdos distin- te como Nós, O Início do Pesadelo, A tion, onde tive a oportunidade de conhe- daica que querem saber mais sobre os
tos de Malhada Sorda? Viagem, Vilar Formoso - Fronteira da cer alguns dos sobreviventes do Holo- seus antepassados.
Embora as motivações tenham sido se- Paz, Por Terras de Portugal e A Partida. causto, nomeadamente a família Winter.
melhantes, a fuga dos judeus e o acolhi- A ideia é fazer com que o visitante vista a Esta família juntamente com outras, seus Há algum fator que diferencia os
mento do lado português, estes são pon- pele de um refugiado no percurso até à descendentes e alguns sobreviventes or- projetos de Almeida em relação aos
tos que se voltam a tocar passados quase liberdade. ganizaram duas viagens às quais deram outros da Rede de Judiarias de Por-
cinco séculos. A intervenção de Aristides o nome “On the road to freedom” de for- tugal?
de Sousa Mendes, que era Cônsul de O município já realizou algum ma a recriarem a viagem que os seus an- Somos o único município que concorreu
Portugal em Bordéus foi um fator deter- evento para divulgar a presença ju- tepassados fizeram a caminho da liber- com dois projetos, que focalizam dois
minante na vida de milhares de pessoas daica em Almeida? dade de Bordéus até Vilar Formoso. períodos distintos da nossa História, a
e não queremos deixar de eternizar a Realizámos uma exposição nos Estados Numa dessas viagens fui recebê-los jun- fuga de Judeus de Espanha para Portu-
gratidão por tão nobre e humana atitude. Unidos, no JewishCenter, promovido to à fronteira e acompanhei-os na visita gal no séc. XV e o acolhimento aos refu-
O município decidiu construir o Memo- pela American Sephardi Federation, com às obras do Memorial aos Refugiados e giados na II Guerra Mundial. 
rial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides o apoio da Embaixada de Portugal em ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes.
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Rotas de Sefarad no Diálogo Interculturas – Município de Belmonte

O município mais judaico de Portugal


Pouco se sabe sobre a dem observar-se pequenas casas de gra-
primitiva presença da nito, térreas, com pequenas aberturas
para colocar a mezuzá e com cruzes nas
comunidade judaica em ombreiras.
Belmonte, mas é
indiscutível o seu peso na A presença de personalidades judai-
sociedade belmontense. cas na história de Portugal, como os
A comunidade judaica descobrimentos, nas áreas da medi-
continua perfeitamente cina, literatura, entre outras, é co-
mum. Existe alguma personalidade
integrada, ajuda a manter belmontense que se tenha destaca-
a tradição da sua cultura do?
e convive pacificamente Pedro Álvares Cabral nasceu em Belmon-
com os representantes da te entre entre 1467-1468 e era filho de Fer-
religião católica - não Cabral e de Isabel de Gouveia e de-
dominante no nosso país. sempenhou um papel importante a épo-
ca dos descobrimentos. Foi criado como
membro da nobreza portuguesa e com
cerca de trinta anos de idade teve como
missão comandar a mais poderosa arma-
António Rocha, Presidente da C. M. Belmonte da portuguesa do século XV. Descobre o
Brasil em abril de 1500. É a personalidade
A criação do Museu Judaico de Belmonte ra especial para a diáspora judaica. Isso Aquando da demolição da Igreja de S. de origem judaica, natural de Belmonte,
foi um passo importante na preservação explica a crescente procura turística desta Francisco, em 1910, foi encontrada uma que mais se destacou no panorama nacio-
da cultura judaica, retrata a história da terra e o crescente número de visitantes pedra da primeira sinagoga de Belmonte nal.
presença sefardita em Portugal, usos, ao museu judaico.” datada de 1297. Por este facto é possível
costumes e integra um memorial sobre as afirmar que a comunidade judaica deve- O que diferencia Belmonte dos mu-
últimas vítimas da inquisição. Foi o pri- A história da vila de Belmonte sem- ria ser grande, uma vez que as sinagogas nicípios que integram a Rede de Ju-
meiro museu português sobre esta temá- pre contou com a presença de Ju- só existiam em comunidades numerosas. diarias de Portugal?
tica. deus? A antiga judiaria de Belmonte, situar-se- As pessoas. Mais que a referência históri-
António Rocha, Presidente da Câmara Ainda hoje não é possível saber exata- -ia em torno da atual Rua Direita e Rua ca ou o testemunho físico deste ou da-
Municipal de Belmonte começa por rela- mente em que altura começou a haver ju- Fonte da Rosa (esta primitiva Rua da Ju- quele elemento religioso ou arquitetóni-
tar a forma como a comunidade judaica deus na vila, mas sabemos que não foram diaria). Ao cimo da Rua Direita, a norte, co. Em Belmonte temos uma comunida-
de Belmonte está enraizada no municí- os judeus expulsos de Espanha que fun- existe ainda uma praça, esta das mais an- de viva, que durante séculos manteve a
pio, “ (...) por ter essa comunidade viva daram a comunidade judaica de Belmon- tigas de Belmonte, que conserva muito sua crença, os seus ritos e que, ainda hoje,
ao longo de séculos, Belmonte é uma ter- te, embora a tivessem vindo reforçar. da sua arquitetura primitiva. Nela po- se mantém organizada em torno da sua
sinagoga e do rabino. Temos o nosso Mu-
seu Judaico, os registos da antiga judia-
Cruz na ombreira de uma casa Fachada Museu Judaico de Belmonte ria, mas é este registo humano que nos
orgulha e nos diferencia. Falamos de pes-
soas que continuam a manter as suas tra-
dições numa terra marcada pela tolerân-
cia e sã convivência. Aqui o judaísmo não
é só uma referência histórica, é presente!

É indiscutível o peso da comunidade


judaica em Belmonte. De que forma
esta influencia o segmento turístico
que visita o município?
Exatamente, por ter essa comunidade
viva ao longo de séculos, Belmonte é uma
terra especial para a diáspora judaica.
Isso explica a crescente procura turística
desta terra e o crescente número de visi-
tantes ao museu judaico. Mas Belmonte
não é só um polo de atração para israeli-
tas, ou para confessos judeus de outras
partes do mundo. É também visitado por
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no Diálogo Interculturas – Município de Belmonte Rotas de Sefarad

O EEA GRANTS em parceria com a mais dinâmico. É um museu que tem Mezuzá
Rede de Judiarias de Portugal uma forte vertente educativa, e os mais É a palavra hebraica para designar um-
apoiam o projeto do município de jovens vivem num tempo em não se pode bral. Consiste em um pequeno rolo de
Belmonte. Pode descrevê-lo? colocar uma placa a dizer “Não Mexer”, pergaminho (klaf) que contém duas
O nosso Museu Judaico é um ex-libris pelo contrário, é preciso que mexam, que passagens bíblicas, manuscritas, «She-
para as visitas a Belmonte. Contudo, o interajam, que questionem, que investi- má» e «Vehaiá». A mezuzá que deve ser
tempo passa e os novos tempos exigem guem… Assim, estamos a atualizar al- afixada no umbral direito da porta de
outro tipo de conceito de musealização. guns conteúdos e a torná-los mais atrati- cada dependência de um lar ou estabe-
Nesse sentido, iremos proceder a uma vos para os visitantes! lecimento judaico, obedece ao seguinte
atualização do museu, acrescentando mandamento da Torá: «Escreve-las-ás
novos conteúdos e sobretudo, traba- Este espaço será o ponto central dos nos umbrais de tua casa, e em teus por-
lhando a área da informação e da inte- turistas que visitam Belmonte? tões» (Deuteronômio VI:9, XI:20)
ratividade, que permita captar e envol- Creio que Belmonte, como região, já é um
ver um público mais jovem. É esse tra- ponto de visita obrigatório. Temos criado
Museu Judaico de Belmonte balho de modernização que está a ser uma dinâmica para atrair as pessoas, não
empreendido com o apoio do EEA só pela questão museológica, mas tam-
portugueses de diferentes credos e reli- GRANTS e que deverá estar pronto até bém organizando e apoiando iniciativas
giões. Agora que os conflitos religiosos final do mês de abril. que ajudam a promover e a respeitar a
alastram pelo mundo, as pessoas estão cultura judaica. Celebrámos um protoco-
cada vez mais empenhadas em conhecer As mais-valias da modernização do lo com a Universidade da Beira Interior
melhor as diferentes religiões, entender Museu Judaico de Belmonte pren- (UBI) para avançar com o Centro de Estu-
as diferenças e redescobrir os valores que dem-se com... dos Judaicos e que espero ganhe mais
são comuns. As verdadeiras religiões, O Museu Judaico de Belmonte tem mais consistência, para além disso temos um
possuem valores humanos que são idên- de 10 anos. Entretanto, com as mudanças festival de cinema judaico. E devo agra-
ticos, que lhes permitem convergências e sociais e tecnológicas, os conceitos de decer a abertura que a comunidade de
pontos de união. Belmonte foi sempre musealização também se alteraram. Tí- Belmonte nos tem dado, antes era mais
um exemplo de tolerância religiosa. So- nhamos um espaço demasiado expositi- fechada em si mesma, mas hoje tem par-
mos um exemplo de que a convivência vo, era premente uma modernização que tilhado mais a sua cultura e participado
entre religiões é possível. tornasse o seu conteúdo mais interativo, em atividades públicas…

Comunidade Judaica de Belmonte

As pessoas que resistiram a


tudo e ficaram em Portugal
Belmonte é, de todo o território nacio- os laços entre os judeus de Belmon-
nal, onde a presença dos judeus é mais te?
forte, destacando-se por ter a única co- Mesmo após o fim da inquisição a comuni-
munidade peninsular de permanência dade continuou fechada em si até 1989
da cultura e da tradição hebraicas desde quando foi oficialmente reconhecida como
o início do século XVI até aos dias de Comunidade Judaica de Belmonte. Em
hoje. É a única herdeira legítima da an- 1996 inauguramos a sinagoga “Beit
tiga presença histórica dos judeus se- Eliahu” (Filho de Elias) precisamente
farditas. Durante a inquisição conse- numa das ruas da antiga judiaria, num ter-
guiu preservar muitos dos ritos, orações reno doado por uma família judia. Quan-
e relações sociais, “mas sempre com do a Comunidade Judaica de Belmonte foi
muita descrição e dentro de portas. As fundada tínhamos cerca de 180 membros, têm de estar presentes 10 homens, minian, prios se apercebessem das diferenças com
tradições eram passadas oralmente pela as pessoas rezam em casa, em português, senão não conseguimos fazer a leitura da as comunidades que originalmente chega-
matriarca da família. O papel da figura em família; com a construção da Sinagoga Torá, ou recitar kadish, a oração de luto. ram a Portugal. Convidámos Rabinos de
feminina era essencial para passar os foi possível começar a rezar em conjunto Israel para nos virem ensinar usos, costu-
ensinamentos de geração em geração.” com outros judeus. As tradições culturais e religiosas mes, tradições e reavivar a memória e tra-
Afirma Pedro Diogo, Presidente da Co- mantiveram-se intactas durante qua- dições judaicas. Houve um retorno à cul-
munidade Judaica de Belmonte. Há rituais e orações que só podem ser se 500 anos de permanência em terri- tura e tradições religiosas tal qual como
realizadas na sinagoga? tório nacional? era vivida pelos nossos antepassados. En-
O reconhecimento da Comunidade Todas podem ser feitas em casa, desde que Como as cerimónias e cultos eram realiza- sinaram-nos rituais e orações que desco-
Judaica de Belmonte e a construção existam o número suficiente de pessoas. Por dos em casa e em português muitos dos nhecíamos e que hoje realizamos com na-
da sinagoga veio ajudar a cimentar exemplo para fazer uma oração completa rituais sofreram alterações sem que os pró- turalidade.
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Rotas de Sefarad no Diálogo Interculturas – Município de Bragança

Cultura, arte e património


Cidade do nordeste mento de Bragança, enquanto que o Cen-
transmontano transborda tro de Interpretação da Cultura Sefardita
história, riqueza natural e no Nordeste Transmontano se foca na
património. Na época da interpretação desta cultura.
expulsão dos judeus de
Essa memória já estava, de alguma
Espanha, no final do forma, preservada?
século XV, Bragança terá Antes de surgir o projeto de candidatura
recebido cerca de três mil ao EEA Grants, estávamos a finalizar o
pessoas que vieram Centro de Interpretação da Cultura Se-
dinamizar o crescimento fardita no Nordeste Transmontano, fi-
nanciado pela União Europeia, e dese-
económico e social da
nhado pelo Arquiteto Eduardo Souto
cidade. de Moura. Este equipamento pretende
Hernâni Dias, Presidente dar a conhecer a significativa presença
da Câmara Municipal de judaica e sefardita na região, numa re-
Bragança, afirma que “a visitação àquilo que a historiografia
rede de Judiarias de afirma terem sido as vivências dos ju-
deus sefarditas que habitaram o nor-
Portugal está Hernâni Dias, Presidente da Câmara Municipal de Bragança
deste Transmontano. Com o surgir da
implementada e deve hipótese da criação de outro equipa-
reforçar a sua relação mento ligado à mesma temática, optá-
para as regiões marranismo português. No século XX foi rimos o imóvel e a sua reconversão este- mos por complementar estes dois equi-
transfronteiriças” recriada a comunidade judaica em Bra- ve a cargo da dupla de arquitetos Susana pamentos aumentando a oferta cultural
gança tendo como base os criptojudeus Milão e Eurico Salgado. Pretendemos fa- e memorial de Bragança.
da cidade. Muitas personalidades de ori- zer uma abordagem mista entre o mate-
As marcas da passagem dos judeus gem brigantina ficaram na história na- rial e o imaterial, através da representa- Estando estes dois equipamentos
sefarditas abrangem várias áreas de cional e internacional, como Isaac Orobio ção de uma sinagoga e de conteúdos in- em pleno funcionamento, quais são
atividade. Quais foram as princi- de Castro (1620-1687), Jacob de Castro terativos. No Memorial vamos colocar as expectativas do município?
pais? Sarmento (1691-1762) e o pai do célebre conteúdos informativos, bem como in- Sabemos que vai aumentar o número de
Abrangiam quase todas as áreas ligadas pintor impressionista Camille Pissarro, formações sobre as personalidades bri- pessoas que quererão vir visitar o nosso
ao comércio e indústria da altura. As fá- Abraham  Gabriel Pissarro. gantinas da época. No fundo, haverá um território, não só por causa destes dois
bricas de seda, o trabalho de curtumes, complemento entre este equipamento e o equipamentos, mas também pela proxi-
as diversas atividades artesanais e lojas Em que consiste o projeto do muni- Centro de Interpretação da Cultura Se- midade com Espanha, mais concreta-
comerciais foram criados por esta comu- cípio de Bragança? fardita no Nordeste Transmontano. O mente com Zamora onde a temática da
nidade. Com a passagem ao tempo dos O projeto financiado pelo EEA Grants, Memorial e Centro de Documentação - cultura sefardita é muito trabalhada e
cristãos-novos, Bragança tornou-se, du- em parceria com a Rede de Judiarias de Bragança Sefardita tem o objetivo de per- está muito desenvolvida e com a qual
rante séculos, um dos esteios nacionais Portugal, é o Memorial e Centro de Do- petuar a memória daqueles que habita- queremos estabelecer uma relação de
de uma realidade de criptojudaísmo: o cumentação - Bragança Sefardita. Adqui- ram e contribuíram para o desenvolvi- parceria além-fronteiras.

Memorial e Centro de Documentação - Bragança Sefardita atual e projeto


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no Diálogo Interculturas – Município de Castelo Branco Rotas de Sefarad

Um concelho com memória


primeira se tornou pequena para al-
Capital da Beira Baixa, bergar a comunidade instalada na ci-
Castelo Branco exibe um dade).Expulsos de Espanha em 1492
vasto legado deixado pelo pelos Reis Católicos, os judeus refugia-
povo judeu durante o ram-se em Portugal eno caso de Caste-
lo Branco a população aumentou em
período Quinhentista. quase 60%.Os judeus habitariam em
Num levantamento casas construídas em banda, frequen-
concluído recentemente temente ligadas entre si, pelo interior,
registam-se 291 portados criando verdadeiros labirintos que fa-
e mais de 100 janelas cilitavam a fuga à Inquisição e a práti-
biseladas somado a um ca do culto judaico em segredo.

conjunto muito Dentro da Casa da Memória exis-


significativo de lintéis de tem várias temáticas apresentadas.
portas e janelas Pode dar-nos uma breve descri-
trabalhadas. Para além ção?
destes foram Este edifício alberga e conta a história
de uma comunidade que contribuiu
encontrados, numa rua da
para o desenvolvimento da cidade du-
cidade, dois símbolos Luís Correia, Presidente do Município de Castelo Branco rante o período Quinhentista. Foi
religiosos claramente inaugurada no final do ano de 2016
judaicos: uma Menorah Luís Correia, Presidente do Município pelo Ministro da Cultura e é composta
danificada com de Castelo Branco, refere que para por três pisos. A visita começa com a
sobreposição de além do património edificado e dos exposição de elementos ligados ao ci-
vários elementos de culto “existiram clo vital, às festividades e aos seus ri-
cruciforme e um
figuras judias albicastrenses que se tuais iniciando-se, naturalmente, com
Mesusah. destacaram no panorama nacional um exemplar da Torá, o elemento de
como Amato Lusitano, Maria Gomes; culto mais importante para esta comu-
Afonso de Paiva; Elias e Moisés Mon- nidade. Neste piso contamos a história
Casa da Memória da Presença Judaica talto e Manoel Joaquim Henriques de da comunidade judaica albicastrense,
em Castelo Branco Paiva. São figuras incontornáveis da Casa da Memória da Presença Judaica as suas Judiarias e características. Na
história de Castelo Branco e de Portu- em Castelo Branco transição entre os dois pisos, surge o
gal que queremos manter vivos na Memorial das Vítimas Albicastrenses
nossa memória. Para isso musealizá- existiu uma comunidade muito grande da Inquisição, num total de 329 pro-
mos uma casa dando-lhe o nome Casa e fortenas áreas ligadas à medicina e cessos identificados e estudados, onde
da Memória da Presença Judaica em literatura. Promovemos a construção estão identificadas as 21 vítimas mor-
Castelo Branco.” da Casa da Memória Judaica de forma tais da Inquisição em Castelo Branco.
perpetuar a memória da ligação judai- No segundo piso optamos por dispo-
A adesão do município à Rede de ca a Castelo Branco. nibilizar uma zona de estudo e investi-
Judiarias alicerçou a construção gação para todos os interessados nesta
da Casa da Memória da Presença A comunidade judaica de Castelo temática. Toda a informação e investi-
Judaica em Castelo Branco? Branco era muito vasta? gação sobre a temática judaica é da
Pertencemos à Rede de Judiarias de Pelos estudos já efetuados crê-se que a responsabilidade do Arquiteto José
Portugal desde a sua origem não só comunidade judaica albicastrense era Afonso, que coordenou a recolha de
porque temos diversas marcas da pre- muito vasta ao ponto de haver registos conteúdos, do Professor Jorge Martins
sença judaica, mas também porque de uma segunda judiaria (dado que a e da Professora Antonieta Garcia.

Amato Lusitano (1511-1568)


Natural de Castelo Branco, Amato Lusitano, também conhecido como João Rodrigues de Castelo Branco, nome que adotou quando os pais
foram forçados a batizá-lo de cristão-novo. Empenhado estudioso, debruça-se nas áreas da razão, da experiência e da moral hebraica. O seu
contributo foi crucial para o avanço da Medicina no Ocidente estabelecendo pontes entre as autoridades antigas, Galeno, Avicena e a tradição
escolástica por um lado, e a “nuova scienza” do mundo moderno, com métodos de investigação que hoje não podem deixar de ser conside-
rados científicos. A sua obra mais conhecida “Centúrias das Curas Medicinais” resulta da compilação dos trabalhos desenvolvidos entre 1541
e 1561.Morreu em 1568, aos 57 anos, durante uma epidemia de peste, enquanto prestava cuidados aos doentes.
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Rotas de Sefarad no Diálogo Interculturas – Município de Castelo de Vide

Turismo e História

Município marcado pela


cesso contínuo e gradual construído
presença da comunidade através do tempo. Depois de a Câmara
judaica, hoje é um dos Municipal ter adquirido o edifício da Si-
principais pontos de nagoga nos anos 70, na presente década
interesse dos seus procedemos à musealização do espaço.
descendentes e dos Espaço este que já é insuficiente face às
oportunidades que este segmento ofere-
turistas mais curiosos.
ce. A Sinagoga recebe cerca de 30 mil vi-
A pretensão de tornar as sitantes/ano, sendo que cerca de metade
Rotas de Sefarad num são estrangeiros. O turista espanhol pela
destino internacional é proximidade territorial é o que mais nos
um dos objetivos visita, seguido do turista francês e logo a
transversais a todos os seguir do israelita. Visitantes oriundos
da Holanda, dos E.U.A. e do Brasil apa-
membros da Rede de
recem nos lugares seguintes e, ano após
Judiarias de Portugal. ano, de forma crescente. A estatística re-
Castelo de Vide já está a vela-nos assim que o trabalho de promo-
trabalhar esse mercado. ção que tem vindo a ser efetuado está
Em entrevista ao País correto; porém importa consolidar a
Positivo, António Pita, António Pita, Presidente C. M. de Castelo de Vide
oferta com novos projetos que possam
qualificar ainda mais a oferta.
Presidente da Câmara
Nesse sentido a Câmara Municipal está a
Municipal de Castelo de desenvolver novos projetos que irão ter
Vide e Vice-Presidente da A entrada no projeto do EEA Grants presença da comunidade judaica deixa- um papel decisivo não só ao nível da
Rede de Judiarias de e da Rede de Judiarias de Portugal ram uma marca indelével no território oferta do concelho e da região, como
Portugal refere: “a ajudou a divulgar a herança judaica nacional porém até ao momento não pas- também na oferta nacional.
herança judaica é um de Castelo de Vide? sou de um primeiro recurso. Estou con-
Desde o início que o município viu com victo que este projeto será decisivo trans- O município já é uma referência
património que nos
muita expectativa o funcionamento des- formá-lo num produto turístico. A Rede quanto ao legado judaico. De que
distingue. O seu te projeto do EEA Grants promovido de Judiarias de Portugal perspetiva as- forma este projeto veio ajudar a con-
significado, valor e pela Rede de Judiarias de Portugal. Pre- sim poder criar uma rota turística nacio- cretizar as pretensões do municí-
singularidade permitem tende-se criar e consolidar, em Portugal, nal, obrigando que a montante se proce- pio?
que nos possamos uma rota que tem muito potencial turís- da à valorização do património judaico e O legado judaico de Castelo de Vide é
internacionalizar como tico e que, com certeza, irá atrair mais tu- a jusante dinâmicas económicas nos con- autêntico e diversificado, impondo ao vi-
ristas nacionais e estrangeiros. A religião, celhos envolvidos. No caso de Castelo de sitante exercícios de imaginação para co-
destino turístico em novos
a cultura e o património resultado da Vide sublinha-se como elemento identi- nhecer e vivenciar o ambiente que o nos-
e longínquos mercados.” tário uma herança judaica muito vasta, so Bairro Judeu oferece. A comunidade
seja do ponto de vista material seja do judaica que se instalou no concelho teve
ponto de vista imaterial. Entendemos, um papel preponderante no curso da
Casas Município
pois, que é estratégico para o desenvolvi- história da vila. Aquilo que agora impor-
mento do concelho, e em particular para ta efetuar é resgatar do esquecimento
o setor turístico, a valorização e promo- esse passado único e contara História
ção deste património. Castelo de Vide foi fascinante que está por detrás deste fac-
um dos primeiros municípios a trilhar to. Os judeus que aqui se instalaram tive-
este caminho mas este projeto vem aju- ram um papel preponderante no desen-
dar a consolidar e ampliar a oferta cultu- volvimento da região, tal como outros
ral e turística. tiveram no desenvolvimento do país
contribuindo decisivamente para as
A partir de que altura decidiu tornar ciências, a economia, a cultura e a socie-
a judiaria e as outras infraestruturas dade da Idade Moderna. Em 1492, quan-
num ponto de atração turística? do os Reis Católicos espanhóis expulsa-
A construção de um modelo de valoriza- ram os judeus do seu território, muitos
ção dos recursos e a subsequente trans- passaram a fronteira em Marvão (há re-
formação em produto turístico é um pro- latos de terem passado cerca de 4 mil ci-
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no Diálogo Interculturas – Município de Castelo de Vide Rotas de Sefarad

dadãos só nesta fronteira). Nesta vaga de contemplará a vertente do boticário onde


refugiados vieram os pais de Garcia de se descreve a vida de uma botica do sé-
Orta, que se fixaram na Judiaria de Cas- culo XVI. Decidimos que a história do
telo de Vide. Por este facto aqui nasceu edifício também deve fazer parte desta
esse notável botânico/médico renascen- obra e reservámos um espaço para a con-
tista Garcia de Orta que escreveu “Coló- tar. A segunda fase, que será inaugurada
quios dos Simples e Drogas e Cousas no último trimestre de 2018, será um
Medicinais da Índia, em 1563. O projeto Centro de Interpretação com todas as
que deu corpo à nossa candidatura as- suas valências, contando a história da
senta na criação do Centro de Interpreta- vida e obra de Garcia de Orta.
ção Garcia de Orta. Nele pretendemos
dar uma perspetiva biográfica através da Como referiu o legado é vasto e rico.
narração da vida dessa personalidade Pode dar-nos uma perspetiva do
marcante da sociedade do seu tempo, que o visitante pode encontrar?
bem como, igualmente e como comple- Para além da memória do ilustre Gar-
mento turístico iremos abrir a Casa da cia de Orta que passará a estar glorifi-
Inquisição. cada pelo Centro de Interpretação ho-
mónimo, temos um bairro judeu com
O tema da Inquisição é delicado. De caraterísticas genuínas mantendo a to-
que forma o vão representar? ponímia e a matriz urbanística. A Sina-
A Casa da Inquisição vai ser instalada Fonte da Vila goga medieval situada nessa judiaria
num espaço fabuloso, num solar sete- mantém, igualmente, a sua traça e di-
centista, que pertenceu a uma família mensão original. No seu interior existe
de cristãos-novos, localizado no cora- tava a forma como a Inquisição deveria Em que consiste e onde vai nascer o um memorial onde constam cerca 200
ção do centro histórico. É um edifício proceder desde o cárcere ao Auto de Centro de Interpretação Garcia de nomes de judeus que habitaram em
singular, classificado, que estamos já a Fé. Assim, queremos recriar o mais fiel- Orta? Castelo de Vide e que constam dos re-
reabilitar. Queremos, com este espaço, mente possível todos estes passos a As antigas termas da vila vão dar lugar gistos do Santo Ofício. A Fonte da Vila
contar a história da Inquisição desde a partir das fontes históricas fidedignas e ao Centro de Interpretação Garcia de também é ponto de visita obrigatória,
génese até à sua extinção. A Inquisição sob orientação do investigador Jorge Orta que terá duas fases: a primeira abri- constituindo um verdadeiro ex-líbris
tinha o seu regimento que regulamen- Martins. rá ao público em setembro deste ano e da nossa Terra.
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Rotas de Sefarad no Diálogo Interculturas – Município de Elvas

Elvas realça-se ainda mais


através do seu legado histórico
Elvas, cidade raiana no
O edifício da sinagoga que está a ser Sabia que...
distrito de Portalegre, com recuperado. O que este irá represen- A família Botafogo foi uma família judai-
a sua inclusão na Rede de tar para quem tenha a curiosidade ca de Elvas. Um deles, Luís Gonçalves de
Judiarias de Portugal, de conhecer a Elvas judaica? Botafogo, também nascido em Elvas
reveste-se de novos Trata-se de um edifício que depois de ter (mais precisamente, na Rua do Botafogo)
atrativos. A valorização estado abandonado durante muito tempo foi perseguido pela Inquisição e fugiu
foi transformado em matadouro público, para o Brasil, passando a morar no Rio de
que ali está a acontecer
abandonado nos finais do século XVIII e Janeiro. Estabeleceu-se, enriqueceu e a
do património edificado usado como armazém da Câmara até há sua habitação foi a primeira do bairro
relacionado com o uns dez anos atrás, quando foi requalifica- que hoje chamamos Botafogo, o principal
judaísmo e o sobressair do para receber as reservas do Museu de bairro do Rio de Janeiro.
do legado histórico e Arte Contemporânea de Elvas. Verifica-
cultural da que foi a muito mos que muito provavelmente a grande
sinagoga de Elvas estava ali localizada. Sa- colunas identificáveis com as doze tribos
importante comunidade
Rui Jesuino, Téc. Sup. História e Património bíamos da existência de uma outra na Ju- de Israel. Elvas tem, neste momento, a
judaica de Elvas, Cultural da C. M. Elvas diaria Nova mas que foi demolida. Avan- maior sinagoga medieval do país!
convidam a que se visite çámos com a candidatura com o objetivo
a cidade. Para saber mais judiaria nova localizou-se junto ao Cas- de recuperar a sinagoga medieval e, ao Como resumiria um percurso pela
sobre esse projeto, telo. Hoje em dia, dessa nova judiaria só mesmo tempo, explicar a história das co- Elvas judaica?
tivemos uma existe uma rua, devido à remodelação munidades judaica e cristã-nova de Elvas Pode-se percorrer a Judiaria Velha, cujo
urbanística de Elvas no século XVII para através da Casa da História Judaica. Que- traçado é quase o original e situa-se no cen-
esclarecedora conversa
a construção das muralhas abaluartadas. rendo que seja ponto de partida para que tro histórico de Elvas, junto à Praça da Re-
com o Rui Jesuíno, Mas é na judiaria velha que se situa uma os turistas, circulando pela cidade, possam pública. Há uma rua que desce e leva à si-
Técnico Superior de sinagoga que estamos a recuperar e que ver vestígios judaicos, como os crucifor- nagoga, quem nos visita pode apreciar a
História e Património vai dar lugar à Casa da História Judaica mes com que os cristãos-novos se queriam Rua dos Sapateiros e outras vias ainda com
Cultural do Município de em Elvas. Este tema da presença judaica mostrar bons cristãos. Temos identificado nomes medievais. Na Praça da República
Elvas. não tinha sido debatido pelos historiado- o edifício (na Praça da República) onde vi- pode-se ver a já referida casa de Jorge de
res locais dos finais do século XIX, início veu Jorge de Orta, irmão de Garcia de Orta. Mesmo fora das judiarias são visíveis
do século XX. Pelo que, eu e a minha co- Orta. Garcia de Orta viveu durante muito sinais relacionados com elas, uma vez que
lega Tânia Rico, propusemos à Câmara tempo em Elvas na casa do irmão, casa que as judiarias abriram-se, a partir de 1496, e
Como se insere Elvas na Rede de Ju- Municipal de Elvas que integrasse a tem também um cruciforme. Queremos, os cristãos-novos foram viver noutros es-
diarias de Portugal? Rede de Judiarias de Portugal. Tivemos mais tarde adquirir essa casa para engran- paços. Existem vinte e nove cruciformes
Elvas teve uma comunidade judaica na altura uma ajuda na investigação por decer este projeto. por toda a cidade de Elvas.
muito grande e importante, o que acon- parte da entretanto já falecida Professora
tecia já na época islâmica. É anteriormen- Carmen Ballesteros, da Universidade de Como vai ser recriada a sinagoga? Em termos turísticos que impacto
te a 1230 que se forma a judiaria velha da Évora. Alguns dos judeus da comunida- Vamos recriar o ambiente da sinagoga na esperam ter?
cidade que depois haveria de funcionar de de Elvas trabalharam na corte com o altura em que ela funcionou, embora Desde que Elvas foi considerada Patri-
até ao final do século XV. A comunidade Rei. O cirurgião do início do século XV sem o serviço religioso. Nas laterais va- mónio da Humanidade aumentamos o
judaica chegou a ser um quarto da popu- Rabi Sad, que deixou alguns tratados mos ter alguns painéis explicativos da número de turistas, tendo nós atualmen-
lação da então vila de Elvas. Em 1360 é manuscritos, também contactava direta- história da comunidade judaica de Elvas te trezentos mil visitantes anuais. Com
necessária uma nova judiaria pois a co- mente com o Rei. Vidal foi um poeta de e algumas peças que se encontraram na este projeto em torno das judiarias e ou-
munidade já não cabia na velha, embora Elvas, autor de cantigas de amigo do sé- pesquisa arqueológica do edifício. Pos- tras obras em curso no âmbito do patri-
esta se estendesse por dois hectares. Essa culo XIV. suímos a primeira edição do livro de mónio pretendemos aumentar os moti-
Garcia de Orta, “Colóquio dos simples, e vos de interesse na cidade para que o vi-
Requalificação da Sinagoga drogas e coisas medicinais da Índia”, sitante esteja aqui vários dias. Quem vier
que também poderá ser ali mostrada a Elvas vai encontrar nos postos de turis-
como peça expositiva. Antes das obras mo municipais informações para fazer o
de recuperação (que estão agora a decor- percurso judaico. O principal posto de
rer) o espaço pareceu-nos ser comum ao turismo é na Praça da República, temos
de uma capela. Posteriormente vimos outro na zona do viaduto e teremos ain-
um edifício de três naves, com seis colu- da outro junto ao Castelo. Quem quiser
nas ao centro e um grande arco ogival no saber mais sobre a presença judaica em
fundo e entretanto descobrimos que o Elvas, pode pesquisar na Biblioteca ou
edifício afinal não tinha seis, mas doze no Arquivo Histórico Municipal.
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no Diálogo Interculturas – Município de Leiria Rotas de Sefarad

“A judiaria de Leiria terá sido


das maiores de Portugal”
Moinho do Papel
Gonçalo Lopes, Vereador
res judiarias de Portugal, para elaborar
da Câmara Municipal de essa representação.
Leiria refere, em
entrevista ao País O Centro de Diálogo Intercultural
Positivo, as motivações será o ponto central da rota turística e
que levaram o município cultural?
Paralelamente ao trabalho que está a ser rea-
de Leiria a candidatar-se
lizado na Igreja da Misericórdia vamos reabi-
ao projeto de âmbito litar e adaptar a Casa Medieval (que atual-
cultural e turístico mente se chama Casa dos Pintores), neste lo-
denominado “Rotas de cal, no rés-do-chão irá ter a recriação da tipo-
Sefarad”. grafia Judaica e informação sobre a sua
presença nesta região. A presença judaica
dispersou pelos mais diversos ofícios como
Gonçalo Lopes, Vereador da era comum noutras regiões do país. Em Lei-
Câmara Municipal de Leiria ria estava instalada a família Orta que teve
O município de Leiria candidatou-se um papel muito importante na componente
a este projeto propondo a recuperação gráfica, nomeadamente uma tipografia onde
de um edifício no centro da cidade... senta em que objetivos? foi impresso o “Almanach Perpetuum”, uma
A Igreja da Misericórdia é um edifício O principal objetivo foi o de oferecer um obra que terá sido usada pelos navegadores
que faz parte do património da Santa espaço de explicação e exposição sobre a portugueses na altura dos descobrimentos. em maio, na altura que o Papa Francisco visi-
Casa da Misericórdia de Leiria e que a presença das três culturas e religiões em O Moinho do papel, um edifício do século ta Fátima, este Centro estivesse em pleno
Câmara Municipal, no âmbito da candi- Portugal: a Cristã, a Judaica e a Islâmica. XIII, foi uma alavanca para o desenvolvi- funcionamento. O Pontífice representa, no
datura ao EEA GRANTS e elaborado Qualquer uma delas tiveram, no contexto mento desta tipografia judaica. Hoje é um es- contexto atual, as preocupações do diálogo
através da Rede de Judiarias, propôs rea- nacional, uma forte presença em Portugal paço museológico ligado à aprendizagem de entre as mais diversas culturas e religiões e
lizar as obras de reabilitação e restauro atravessando assuntos comuns como o fac- artes e ofícios tradicionais relacionados com era muito interessante ter este Centro em ple-
necessárias para que este edifício passas- to de todas terem um livro sagrado e os o papel e o cereal. no funcionamento nessa altura. Pretendemos
se a acolher um Centro de Diálogo Inter- seus rituais, desta forma é possível preser- receber turistas nacionais e estrangeiros, bem
cultural. Este foi considerado um projeto var, recordar e acompanhar a evolução A inauguração está prevista para que como pessoas das diversas culturas e reli-
âncora, na candidatura ao EEA GRANTS, destas culturas religiosas. A influência eco- altura? giões que procurem as suas raízes familiares.
e atualmente integra a Rede de Judiarias nómica destas comunidades será relem- A inauguração do Centro de Diálogo Inter- A reorganização desta rede ajudará as pes-
de Portugal. brada nesta infraestrutura, como é o caso cultural está previsto para abril e da Casa soas a visitarem o nosso país e a torná-lo
da importância do regadio para os Árabes Medieval durante o primeiro semestre deste numa referência no que respeita à Rota de
A transformação deste edifício num e do desempenho dos Judeus no desenvol- ano (o Moinho do Papel está em pleno fun- Sefarad e um ponto turístico obrigatório para
Centro de Diálogo Intercultural as- vimento da banca. Por outro lado é um cionamento). Tínhamos muito interesse que quem visita o Santuário de Fátima.
tema de extrema importância, do ponto de
Casa Medieval vista pedagógico, que deverá e certamente Centro de Diálogo Intercultural
irá ser utilizado em visitas de estudo, como
complemento ao currículo ensinado nas es-
colas.

A história do edifício será relembra-


da?
O Centro de Diálogo Intercultural irá ter
uma vertente local que passará por ex-
planar a história do edifício abrangendo
a evolução do território e do espaço ao
longo dos anos. Apesar de já não haver
vestígios evidentes ainda há quem afirme
que naquele local, no tempo em que os
Judeus habitavam esta zona, existia uma
Sinagoga. Vamos inspirar-nos nos relatos
e na informação histórica recolhida que
indica que Leiria terá sido uma das maio-
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Rotas de Sefarad no Diálogo Interculturas – Município de Penamacor

A Casa de Ribeiro Sanches


Penamacor, concelho da Será uma mais-valia para Penamacor, António Nunes Ribeiro Sanches
Beira Baixa, pertencente para a nossa história, património e valo- Nasce em Penamacor a 7 de março de
ao Distrito de Castelo rização da cultura local.” 1699, filho de Simão Nunes, sapateiro e co-
As marcas judaicas deixadas no urbanis-
Branco é limitado a Norte merciante, e de Ana Nunes Ribeiro. Era o
mo e arquitetura da vila são muitas, mas filho mais velho de uma família de cris-
pelo concelho do Sabugal, “...esse levantamento já está feito em li- tãos-novos, isto é, descendentes de judeus
a Sul pelo concelho de vro. Os vestígios são, basicamente, os que tinham sido obrigados a converterem-
Idanha-a-Nova, a Oeste cruciformes e a arquitetura da porta es- -se e batizarem-se nos finais do século XV.
pelo do Fundão e a Leste treita e da porta larga presentes por toda Em 1716 inscreve-se na Universidade de
pela Estremadura a vila” afirma Laurinda Gil Mendes, in- Coimbra, em Direito. Três anos mais tarde
vestigadora e escritora do livro “Marcas
espanhola. Esta transfere-se para Salamanca, onde cursa
judaicas no urbanismo e arquitetura de Medicina e, em 1724, obtém o grau de
localização próxima com Penamacor” Doutor. Em 1726 foge do país, por de-
a vizinha Espanha levou É unânime que “chegou a hora de fazer núncias da prática de judaísmo, e fixa-se
ao incremento do número uma homenagem ao filho da terra que le- na Holanda, em 1730, onde estuda com o
de habitantes Judeus após vou o nome de Penamacor e de Portugal Boerhaave. Sob recomendação deste,
a sua expulsão pelos reis além-fronteiras” conclui o édil de Pena- parte para a Russia, em1731,  onde exer-
macor. ce funções de médico militar com assina-
espanhóis. Por ter uma
lável êxito. Nomeado clínico do Corpo
vasta comunidade judaica Casa da Memória de Medicina Imperial dos Cadetes de São Petersbur-
foi uma das localidades António Luís Beites, Presidente da Câmara Judaica António Ribeiro go, a sua fama torna-o médico da czarina
mais martirizadas pela Municipal de Penamacor Sanches Ana Ivanovna. Em 1739 é nomeado
perseguição do Tribunal Equipamento cultural, proveniente da Membro da Academia de Ciências de S.
da Inquisição português recuperação de um edifício, vocacionado Petersburgo; no mesmo ano recebe igual
para a investigação, com particular enfo- distinção na de Paris, a “Cidade das Lu-
na primeira metade do
que para o estudo da vida e obra do ju- zes”, grande centro da actividade intelec-
século XVIII. tónio Ribeiro Sanches, judeu natural de deu cristão-novo António Nunes Ribeiro tual europeia, aonde regressa em 1747. Aí
Penamacor levou o nome de Portugal às Sanches, e nas diversas abordagens (filo- colabora com os maiores vultos do Ilumi-
cortes europeias e disseminou os seus sófica, cientifica, histórica) profundidade nismo e escreve as suas obras fundamen-
avanços na medicina. Notável médico e da sua ação e importância no dever his- tais: “Dissertation sur la Maladie Véné-
“As famílias mais perseguidas foram os cientista hoje dá o nome à casa criada em tórico. Será um centro, de homenagem à rienne”; “Tratado da Conservação da Saú-
Ribeiro Sanches, os Nunes de Paiva, os sua memória: a Casa da Memória da Me- Medicina e seus atores da história judai- de dos Povos”; “Cartas sobre a Educação
Ribeiro de Paiva, os Henriques, os Rodri- dicina Judaica Ribeiro Sanches. António ca portuguesa Amato Lusitano, Garcia da Mocidade”;  “ Método para Aprender e
gues e os Nunes que era, na altura, um Luís Beites acrescenta: “(...) dada a rique- de Orta, Jacob Rodrigues Pereira, Jacob Estudar a Medicina”; “Mémoire sur les Ba-
grupo entrelaçado por casamentos entre za do seu património e da pessoa que foi Castro Sarmento, Luís Nunes (Antuér- ins de Vapeur en Russie”. Até à sua morte,
si.” Refere  António Luís Beites, Presi- sentimos a obrigação de avançar com pia), Isaac Cardoso, Benedict (Baruch), ocorrida em 14 de outubro de 1783, é con-
dente da Câmara Municipal de Penama- este projeto. Este equipamento está in- Nehamias de Castro, Daniel (Andreas) sultado com regularidade pelas personali-
cor. corporado na Rede das Judiarias de Por- do Castro e Ezekiel de Castro, entre ou- dades mais notáveis da Europa culta de
Médico de imperatrizes e cientistas, An- tugal, do qual o município é associado. tros então.

Casa da Memória da Medicina Sefardita Ribeiro Sanches


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no Diálogo Interculturas – Rede de Judiarias Rotas de Sefarad

A Sinagoga secreta do Porto


A cidade do Porto, que
©EAPN Portugal/Zaclis Veiga
tras, o Frei Geraldo, que numa visita ao es-
desde o início da paço me disse que era clara a existência de
nacionalidade possuía correspondência escrita entre os judeus do
várias judiarias, viu D. Porto e os de Amesterdão. Isto confirmou a
João I, em 1386, mandar minha tese e começou a estudar-se e a en-
concentrar os judeus no contrar correspondência em alguma litera-
tura nesta matéria. Alguns judeus partilha-
bairro do Olival, dentro ram isto na internet e começaram a estudar
das muralhas medievais. o assunto, um deles veio da Universidade
A nova judiaria confinava de Jerusalém, trazendo um livro em espa-
com duas das portas nhol que relatava factos sobre aquela sina-
dessa muralha, locais goga clandestina e, deste modo, foi-se dan-
ainda hoje referenciáveis: do a conhecer este espaço. Actualmente, é
ali que funciona o refeitório do lar da ter-
a do Olival e a das ceira idade, estando o achado disponível
Escadas da Esnoga. aos guias turísticos, que nos solicitam visi-
A Sinagoga situava-se no tas ao Hejal nas horas em que o refeitório
local do actual convento se encontra disponível.
de S. Bento da Vitória.
Durante a época Basicamente, falamos numa antiga si-
Padre Jardim Moreira nagoga do Porto…
medieval, o Porto era Sim, de uma sinagoga clandestina. Na mi-
sede de uma das sete nha opinião, a sinagoga da Judiaria do Por-
ouvidorias (administração local de uma antiga judiaria, suspeitei que to deveria estar no local onde existe actual-
autónoma de justiça) (1544-1620), o médico e parnassim da co- aquele muro falso pudesse estar a encobrir mente a igreja paroquial, até porque, ainda
judaicas do país; a de munidade de Hamburgo Samuel da Silva ( algo com relevo histórico. Quando decidi- hoje, quando ali chega um grupo vindo de
Entre Douro e Minho. 1571-1631 ), autor do Tratado da Imortali- mos remover o muro, encontrei o Hejal, Israel, colocam uma bússola em frente ao
dade da Alma, o rabino, médico e poeta  que se encontrava bastante delapidado na Hejal, verificando se a mesma se encontra
Abraham Pharar ( ?- 1663) e Bento Teixeira, componente de ornamentação à sua volta, dirigida para Jerusalém. Ora, a única hipó-
poeta luso-brasileiro (1561-1618), um dos bem como nos azulejos verdes que, segun- tese viável de ali existir uma sinagoga é
Já no tempo dos cristãos-novos, estes, prin- maiores eruditos portugueses da época, do me disse um especialista judeu, eram precisamente no local onde se encontra a
cipalmente ligados à burguesia mercantil e autor de Prosopopeia e falecido nas mas- azulejos de Sevilha. Depois, chamei alguns igreja paroquial, que está virada para
ao negócio marítimo, são obrigados a fixar- morras da inquisição com 40 anos. arqueólogos, bem como o meu colega be- Oriente. Alguns presumem que seria na
-se na R.de S. Miguel, principal eixo do O antigo edifício, virado para a Rua de São neditino, professor na Universidade de Le- igreja dos Beneditinos, hipótese que se afi-
bairro. Há poucos anos, foi aqui descoberta Miguel, a mais importante do tempo da Ju- gura perfeitamente ilógica, uma vez que
a Sinagoga secreta (nº 9-11) cujo Hejal está diaria do Porto, foi cedido pela autarquia essa está virada a Poente.
agora preservado e visitável. O intelectual do Porto à paróquia de Nossa Senhora da Hejal
e escritor portuense Immanuel Aboab Vitória, onde funciona actualmente o refei- Como avalia a atracção turística deste
(1555-1628) referiu-se, depois de emigrado, tório de um lar da terceira idade e se pode achado desde que o mesmo foi torna-
à lembrança de, em criança, ir com os pais visitar o Hejal. O Padre Jardim Moreira, do público?
orar a esta Sinagoga. Era bisneto do “ últi- pároco da Vitória, relata-nos algumas A afluência é muita! Já realizei algumas re-
mo gaon (autoridade rabínica) de Castela”, curiosidades sobre a descoberta, apontan- uniões com guias especializados em turis-
Isaac Aboab que, quando da expulsão dos do ainda o seu potencial turístico. mo nesta vertente das judiarias e é comum
judeus de Espanha, em 1492, negociou com contactarem-me quando têm grupos no
D. João II a vinda para Portugal e para este sentido de agilizarmos visitas ao local. Te-
quarteirão do Porto de 30 notáveis famílias O Padre Jardim testemunhou, desde o mos recebido grupos específicos de judeus
castelhanas acolhidas em condições muito início, este verdadeiro achado, o Hejal americanos, canadianos, israelitas e euro-
favoráveis pela Câmara Municipal da cida- do Porto. Como descreveria este pro- peus em geral. Falamos de cerca de 200 vi-
de. Estas casas patenteavam um P e a co- cesso? sitas por ano.
munidade ficou responsável pelo calceta- Tínhamos adquirido o edifício, sito na rua
mento da R. de S. Miguel onde se haviam de São Miguel, nº 9-11, na freguesia por- Do ponto de vista pessoal, o que lhe
instalado. tuense de Nossa Senhora da Vitória, com a parece a criação desta Rota das Judia-
Também ilustres portuenses saídos para a intenção de edificar um lar para idosos e, rias Portuguesas?
diáspora foram personalidades como o fi- durante as obras de reconstrução do inte- Acho muito bem… Além de fazer parte da
lósofo Uriel da Costa (1590- 1647), o funda- rior, numa das salas do rés-do-chão, nota- História portuguesa, também faz parte da
dor e primeiro presidente da Comunidade va-se uma acentuada curvatura numa das História cristã porque não há cristianismo
Sefardita de Amsterdam, Jacob Tirado paredes. Ora, sabendo que estávamos no sem judaísmo.
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Rotas de Sefarad no Diálogo Interculturas – Município de Reguengo de Monsaraz

História e Memória
Abrão Alfarime (1382)
No reinado de D. Fernando, a 19 de ou-
tubro de 1382, deparamos com um judeu
importante, que as fontes documentais
dão como morador em Monsaraz. Esse
judeu chamava-se Abrão Alfarime, “mo-
Vila muralhada com A (denominada pelo povo) “casa da in- rador em Monsaraz” e, numa carta de ar-
quatro portas, Monsaraz é quisição” foi um tribunal? rendamento dos direitos pertencentes
hoje um dos mais A tradição oral indicava que havia uma casa aos almoxarifados de Monsaraz e Mou-
preservados e turísticos que poderia ter estado ligada à Inquisição. A rão, expedida de Lisboa pelo Rei D. Fer-
Câmara Municipal adquiriu-a e começou a nando e dirigida ao almoxarifado e escri-
centros urbanos de investigar a sua história através da docu- vão de Monsaraz e Mourão, figura ele
Portugal. Velha, Évora, mentação existente (uma vez que já não era como arrendatário desses privilégios
El-Rei D. Dinis e Traição possível remexer o solo para procurar vestí- reais. Pelo contrato de arrendamento o
das quatro portas, sendo gios). O documento mais antigo a que tive- judeu Alfarime, certamente um judeu
que a última permite o mos acesso indicava que a casa estaria na muito rico, obrigava-se a pagar 5000 li-
acesso direto à antiga posse de um padre ligado à Inquisição, de bras no prazo de 5 anos, à razão de 1000
facto, existia em todas as povoações um “fa- libras por ano, e a obrigação constituía-se
judiaria de Monsaraz. miliar” que prestava serviço de inquisidor a partir do dia de Todos os Santos de
A preservação da observando os usos e costumes da popula- 1382. Os direitos do rendeiro incidiam
memória do judeu Abrão ção. Pelos factos recolhidos continuamos a sobre o trigo e o vinho, as aduanas e por-
Alfarime, o judeu mais Joaquina Margalha, Vereadora da Cultura e do considerar que não houve nenhum tribunal tagens, o relego e as teças, as dízimas da
rico de Monsaraz e da Turismo do Município de Reguengos de Monsaraz da Inquisição em Monsaraz, eventualmente igreja de Mourão, as coimas das armas, a
terá sido a casa de habitação de alguém liga- alcaidaria, a açougagem e o çalaio, o
larga comunidade judaica
Os registos da presença do povo judeu do aos inquisidores. Sabemos e está docu- mordomado e, finalmente, as dízimas da
que outrora habitou esta em Monsaraz existem desde que altura? mentado que existiu em tribunal em Évora e defesa de Mourão. A este rol imenso de
vila levaram o município Existem provas documentais da existência não fazia sentido haver outro numa localida- direitos acrescia ainda o da exploração
e adquirir e restaurar a da judiaria de Monsaraz no Foral do rei D. de tão próxima. Surgiu a possibilidade de, da barca que efetuava no Guadiana o trá-
Casa da Inquisição. Afonso III datado de 1276 até à Inquisição no através da Rede de Judiarias de Portugal da fego fluvial entre Mourão e Monsaraz,
Joaquina Margalha, final do século XIX. Embora não haja evidên- quais nós somos associados desde 2014, de obrigando-se o judeu arrendatário a tra-
cias documentais existem vestígios que le- explorar esta vertente. zer sempre a barca em condições da na-
Vereadora da Cultura e do
vam os investigadores a acreditar que existia vegação no rio se poder fazer em segu-
Turismo do Município de uma comunidade judaica em Monsaraz an- A Casa da Inquisição – Centro Interpre- rança. O apelido deste judeu arrendatá-
Reguengos de Monsaraz terior ao foral Afonsino. Hoje já não é muito tativo da História Judaica em Monsaraz rio dos direitos reais pertencentes aos al-
revela a importância da evidente a presença desta comunidade devi- atravessa várias temáticas... moxarifados de Monsaraz e Mourão,
aquisição, restauro e do aos processos evolutivos da malha urba- Queríamos preservar e exibir a memória da Alfarime, é de origem muçulmana (árabe
posterior musealização da na, mas encontramos uma pedra tumular passagem do povo judeu até à Inquisição. ou berbere) e prende-se, muito provavel-
com uma estrela de David, embora não sai- Para isso o município adquiriu a “casa da In- mente, a qualquer família judaica que já
Casa da Inquisição –
bamos qual é o seu local original. O municí- quisição”, que sofreu uma intervenção na dé- vivesse em Monsaraz durante o domínio
Centro Interpretativo da pio encarou a Vila de Monsaraz ao longo de cada de oitenta, com o intuito de ser transfor- muçulmano e vinculada a qualquer
História Judaica em toda a sua história, foram estudados todos os mada num imóvel museológico sobre esta mouro notável do mesmo nome.
Monsaraz. povos e as evidências que estes deixaram ao temática. A Coordenação científica foi efetua- Duarte Galhós, Arquivista e Historiador da
longo da sua história e o povo judeu foi um da pelo Professor Saúl António Gomes, que é C. M. Reguengos de Monsaraz
dos que considerou ter maior importância. professor associado da Faculdade de Letras
da Universidade de Coimbra em articulação
com o Dr. Duarte Galhós Arquivista e Histo-
Casa da Inquisição – Centro Interpretativo da História Judaica em Monsaraz riador da C. M. Reguengos de Monsaraz. A
Casa da Inquisição – Centro Interpretativo
da História Judaica em Monsaraz foi o pri-
meiro projeto a ser inaugurado dentro da
Rede de Judiarias de Portugal e pretende
enaltecer e tornar permanente a memória
dos povos que habitaram esta região. Tam-
bém queremos evidenciar o multiculturalis-
mo dos povos e das três religiões do livro:
cristianismo, judaísmo e islamismo numa
sala que fala sobre as religiões e os povos que
habitaram em Monsaraz. Reservámos um es-
paço para revelar os usos e costumes do
povo judaico e a terceira sala remete-nos para
o passado, através de um mural que procura
transmitir uma mensagem de esperança e de
paz entre as religiões e fala dos processos da
Inquisição.
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no Diálogo Interculturas – Município do Sabugal Rotas de Sefarad

Uma fronteira com história

Sabugal, cidade
Essa infraestrutura vai ser utilizada de
fronteiriça banhada pelo que forma?
rio Côa tem confirmada a Este imóvel irá dar origem à Casa da Me-
presença judaica mória Judaica da Raia Sabugalense. Usu-
sefardita desde o século frui de uma localização privilegiada, mes-
XIII. As marcas que mo ao lado do nosso Castelo e estará bem
visível para quem a quiser visitar. Terá dois
representam a religião
pisos que irão criar um processo de visita-
judaica persistem no ção recorrendo a elementos físicos e multi-
centro histórico e nas média através de sons e imagens. Esta será
imediações do castelo uma forma de divulgar a cultura judaica
homónimo. caraterística de uma região de fronteira
António Robalo, como o Sabugal e aproveitamos para con-
vidar os visitantes a conhecer o nosso con-
Presidente da Câmara
celho, servindo também de complementa-
Municipal do Sabugal ridade ao encaminhamento turístico no
complementa: “... Concelho e Região. Será com certeza um
principalmente nas espaço onde se divulga, promove e estuda
antigas sedes de a temática, em ligação permanente com a
município, Vilar Maio, Vila António Robalo, Presidente da Câmara Municipal do Sabugal Rede de Judiarias de Portugal.
do Touro, Sortelha e
Sendo o Sabugal um território de gabinete de arqueologia, a tentativa de
Alfaiates e no Sabugal fronteira é comum encontrar vestígios inventariação do espólio judaico sefardi- A Casa da Memória Judaica vai atrair
encontram-se os vestígios da passagem dos judeus sefarditas? ta nesta região. Aliás, o território nacio- turistas que virão procurar as suas raí-
deixados pelo povo A temática Sefardita na Península Ibérica nal tem a sua história ligada a muitos po- zes familiares. O município disponi-
judaico.” é, por ser uma região de fronteira, um lo- vos e nações, e naturalmente, o povo ju- biliza algum tipo de informação adi-
cal com inúmeras marcas da cultura e re- daico não é exceção. O projeto financiado cional?
ligião judaica. Sabugal, na linha da mais pelo EEA Grants, em parceria com a Rede Temos uma equipa técnica composta por
antiga fronteira da Europa foi um local de Judiarias de Portugal proporcionou- antropólogos, arqueólogos e historiadores
privilegiado de passagem e acabou por -nos a oportunidade de apresentarmos que ajudar as pessoas que procuram mais
se tornar a casa de muitos judeus que ti- este trabalho de investigação que temos informações sobre os seus antepassados e o
nham sido expulsos de Espanha. Encetá- vindo a desenvolver ao longo destes anos espólio exposto na Casa da Memória tam-
mos, há alguns anos, através do nosso e em consequência, colocarmo-nos no bém remetem a factos históricos e nomes
centro da temática com o compromisso de algumas famílias que viveram nesta re-
Casa da Memória Judaica de aumentar o conhecimento dessa rela- gião. Pretendemos continuar a construir e
ção do Sabugal com o judaísmo. atualizar o arquivo e aumentar o espólio
disponível neste imóvel.
O município adquiriu um imóvel que
veio ajudar a expor as marcas deixa- Quais são as expectativas do municí-
das por este povo... pio após a inauguração da Casa da
A descoberta de uma casa, junto ao caste- Memória?
lo, que terá sido habitada por uma famí- Dois planos, dois níveis de expetativas: o
lia judaica, veio dar ainda mais força a de conciliar a oferta e os objetivos da Rede
este projeto. Esta estava a ser recuperada, de Judiarias participando ativamente neste
pelos seus proprietários, para ser um lo- processo de construção que o EEAgrants
cal de comércio quando foram encontra- proporcionou; o de assumir o compromis-
dos alguns elementos que posteriormen- so de alimentar dinâmicas futuras de de-
te foram identificados como sendo de ori- senvolvimento, estudo e inventariação do
gem judaica. A Câmara Municipal adqui- património, contribuindo para um melhor
riu o imóvel, conciliámos o espólio conhecimento do nosso lugar na história.
residente com as necessidades expositi- Claro que esperamos que o novo espaço
vas do projeto concelhio e pretendemos seja um centro de atratividade turística,
abri-la ao público na segunda quinzena que ajude alavancar a economia do Conce-
de fevereiro. lho.
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Rotas de Sefarad no Diálogo Interculturas – Município de Tomar

“Tão importante como captar turistas é importante


que os tomarenses conheçam a sua história”
A autarca Anabela Freitas sido um dos monumentos mais visitados obra e dos conteúdos é o Município. É
não tem reservas em em Tomar, depois do Convento de Cristo. óbvio que temos financiamento para isso
demonstrar o orgulho que Temos ido à Feira de Tel Aviv para divulgar através do Portugal 2020 e do Programa
a nossa Sinagoga que também foi alvo de EEA Grants. Nesta fase é apenas investi-
sente no projeto de
uma série de documentários que passaram mento público, mas nós temos projetos
recuperação daquela que no Canal 2 da RTP, o que nos deu alguma para o futuro. Existe ao lado da Sinagoga
é a Sinagoga mais antiga projeção. Assim sendo, já temos para Abril um terreno que a Câmara adquiriu e nós
do país, localizada em cerca de quatro mil reservas de estrangei- pretendemos transformá-lo num jardim
pleno centro histórico de ros através de operadores turísticos que urbano mas com infraestruturas que per-
Tomar. A iniciativa querem vir visitar a Sinagoga. Nessa altura mitam, por exemplo, pequenos concertos
vamos estar em obra, mas até é bom que as de música sefardita, workshops de culi-
pretende não só dar a
pessoas vejam o antes e depois e possam cá nária israelita e, aliás, pretendemos cap-
conhecer a história da voltar. tar os restaurantes de Tomar para que
cidade aos habitantes, Estamos também a trabalhar a nossa pre- pelo menos possam integrar uma entrada
mas também servir de sença nas redes sociais, pois para quem vi- ou uma sobremesa israelita nos seus
“alavanca para o sita um país a viagem inicia e termina em menus. É uma forma, de também pela
desenvolvimento Anabela Freitas, presidente da Câmara Municipal casa, bem como na sinalética da cidade gastronomia, dar mais qualidade à forma
para que quem entre em Tomar fique a sa- como recebemos.
económico do concelho”. de Tomar
ber que existe aqui uma Sinagoga.
As nossas perspetivas são de crescimento. Enquanto presidente da Câmara,
como é que é estar à frente de um pro-
O Município de Tomar está integrado superior que era uma casa de habitação e Há investimento privado? jeto destes?
no projeto da Rede das Judiarias, no que vamos transformar num espaço amplo AF: Não. A Sinagoga é propriedade da AF: Aquilo que me dá mais satisfação é o
âmbito do programa “EEA Grants”, a poder ser musealizado. Paralelamente, Direção Geral do Tesouro e Finanças. facto de durante décadas não ter havido
que tem como base o percurso geográ- estamos a tratar também da produção de Quem vai assumir todos os encargos da intervenção na Sinagoga nem nunca se
fico e cultural dos vestígios sefarditas conteúdos em que queremos não só contar ter pensado nela como um recurso que
no território português. Como é que a história dos Judeus em Portugal, mas nós temos aqui e agora estarmos a dar a
encara este projecto? também dar enfoque à importância da co- vida a este projeto que, por um lado, dá a
AF: Encaro com otimismo. Tomar tem a Si- munidade judaica em Tomar. conhecer a quem habita em Tomar a sua
nagoga mais antiga do país, datada do sé- A nossa Sinagoga encontra-se no centro história (uma dimensão pedagógica e
culo XV, que vai ser objeto de intervenção e histórico, pelo que as intervenções têm de educativa) e tão importante como captar
manutenção. Ainda assim, é um local que ser sempre aprovadas pela Direção Geral turistas é importante que os tomarenses
está perfeitamente acessível e que, por ve- do Património Cultural e temos aqui al- conheçam a sua história e, por outro
zes, ainda é utilizado por alguma comuni- gum problema de acessibilidades para ci- lado, a própria Sinagoga poder servir
dade judaica não tomarense - porque em dadãos com mobilidade reduzida. Não va- como alavanca para o desenvolvimento
Tomar não existe uma comunidade judaica mos conseguir resolver na totalidade as económico do concelho.
organizada e com um número relevante de acessibilidades ao edificado, mas nos con- Interior da Sinagoga
elementos – como por exemplo, a comuni- teúdos que estamos a trabalhar pretende-
dade judaica de Belmonte que faz ali o seu mos que os mesmos sejam adaptáveis, por
local de culto. exemplo, a invisuais. Há uma parte que va-
Sendo este um recurso que nós temos no mos recuperar na zona dos banhos que vai
concelho, faz todo o sentido que seja trans- ter um passadiço cujo corrimão poderá es-
formado num produto turístico e, portan- tar em braille. Tomar acaba de receber o
to, a integração numa Rede de Judiarias selo de Cidade Turística Acessível e nós
vem ajudar a dar dimensão à divulgação não queremos que a cidade seja acessível
deste património que nós temos. apenas do ponto de vista turístico, mas seja
acessível no seu todo.
Considera que ainda há muito traba-
lho a ser desenvolvido?
AF: Sim, a Sinagoga vai ser restaurada e já “A Sinagoga tem sido um dos
está a ser lançado o procedimento para a monumentos mais visitados em
empreitada. Vai incidir sobretudo sobre a Tomar”
conservação não só de uma parte da Sina-
goga onde é feito o culto, mas também Quais são as perspetivas turísticas
num anexo onde foram feitas descobertas deste projeto?
como sendo os banhos Mitzvah e num piso AF: A Sinagoga, nos dois últimos anos, tem
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no Diálogo Interculturas – Município de Torres Vedras Rotas de Sefarad

Cultura e vivência judaica


lo da cidade, próximo da antiga Rua da conhecer o trajecto da comunidade ju-
Apesar da presença Judiaria. Era nossa intenção dotar esse daica ao longo dos tempos. As práticas
judaica em Torres Vedras espaço de uma vocação cultural e con- religiosas e a produção cultural serão
aparecer documentada a siderámos que este seria o local indica- igualmente merecedoras de destaque.
partir da segunda metade do para ancorarmos este equipamento. Neste particular, tornar-se-á evidente a
Queremos que os visitantes, ao percor- relação entre Torres Vedras e o movi-
do século XIII coloca-se a rerem o centro histórico, façam o circui- mento de tipografia hebraica que flo-
hipótese de a comunidade to pela Rua da Antiga Judiaria e pas- resceu em Portugal, no final do séc. XV,
ser anterior a essa data. sem, nessa mesma rua, no local onde com a impressão de obras significativas
Certo é o poder económico agora existe um Paço e se conjetura, em centros como Faro, Lisboa ou Leiria,
e a influência política que com base na documentação, que ante- e a produção manuscrita de livros litúr-
alcançaram alguns dos riormente tenha existido uma sinagoga. gicos. O terceiro eixo incidirá sobre os
Seguindo esse trajeto o visitante rapi- tempos da Inquisição e, concluímos o
seus membros como damente encontra o Centro de Interpre- percurso, com um epílogo dedicado à
refere Ana Umbelino, tação da Presença Judaica, desfrutando memória, resistência, permanência,
Vereadora do de um ambiente singular, com pátine, diáspora e à urgência de um diálogo in-
Desenvolvimento Social, Ana Umbelino, Vereadora C. M. Torres Vedras que o Centro Histórico da cidade pro- tercultural.
Cultura, Património porciona!
Definido o plano alinham-se os objeti-
Cultural e Turismo da
mos criar, o que permitirá uma experiên- A estrutura do equipamento já está vos...
Câmara Municipal de cia de imersão no passado. Face às evi- definida? O nosso objetivo é abrir este espaço à
Torres Vedras: “Salienta- dências da presença judaica em Torres Sim. Organizámos a exposição em três comunidade local, tornando-o dinâmi-
se a família Guedelha Vedras considerámos que seria pertinen- núcleos temáticos. O primeiro é dedica- co e contentor de um programa cultural
ligada, nos séculos XIV e te criar um espaço museológico que con- do aos judeus em Torres Vedras desde o e projeto educativo regulares. Em para-
XV, à influente família tasse uma história que é desconhecida da seu aparecimento até à conversão geral lelo, na vertente turística, teremos
maioria das pessoas, inclusivamente da onde iremos dar a conhecer as origens como foco o turista nacional e estran-
lisboeta Negro ou
comunidade local, sendo parte inextrin- da sua presença através da reprodução geiro que acalenta motivações culturais
IbnYahya, em particular cável do nosso devir histórico. de documentos, como a carta da comu- e procuraremos criar complementari-
D. Judas Guedelha e D. na de Torres Vedras. A segunda área dades entre experiências aproveitando
Guedelha Bem Judah, Os torrienses conhecem bem a heran- será dedicada às especificidades, car- o nosso potencial endógeno. Haverá se-
rabi-mores do rei D. Dinis ça deixada pelos judeus que habita- gos e famílias, procurando traçar um guramente um segmento que nos visi-
(1248-1279). ram a cidade? retrato concreto, nada abstrato, da po- tará por motivações intrinsecamente
Não. Têm um conhecimento difuso e par- pulação judaica de Torres vedras. Serão pessoais e identitárias. Sabemos que em
celar. A nível toponímico temos devida- dados a conhecer aspetos diversos das todo o mundo existe um número muito
mente assinalada a Rua da Antiga Judia- suas vivências, tais como as actividades significativo de turistas que procuram
ria, quem visita o Museu Municipal Leo- sócio-profissionais, bem como particu- as suas raízes e, para eles, a preserva-
Existem registos da presença judaica nel Trindade contempla diversas estelas laridades do seu quotidiano, para além ção desta memória e legado eleva-se a
desde o século XII, mas especula-se funerárias medievais nas quais se inscre- da elaboração de um mapa de famílias/ outros patamares. A nossa proximidade
que poderá ter sido anterior a essa veu a pentalfa, as quais constituem vestí- indivíduos, com os seus apelidos e as com Lisboa exponencia a possibilidade
data. Foi esta uma das motivações que gios materiais da presença de judeus em suas ligações com a realidade judaica de após visitarem a Sinagoga de Lisboa
levou o município a criar um Centro Torres Vedras, mas faltava-nos cerzir to- nacional, criando, assim, uma ponte e o futuro Museu Judaico, quererem vir
de Interpretação da presença judaica? das estas peças numa narrativa viva, coe- com outras comunas portuguesas. Em a Torres Vedras apreciar o nosso patri-
Torres Vedras é um dos membros funda- rente e bem fundamentada e é esse o concomitância, far-se-á a reconstituição mónio, e viajar no tempo até à idade
dores da Rede de Judiarias de Portugal e grande desidrato deste Centro de Inter- espacial da judiaria de Torres Vedrase o média imergindo no quotidiano de uma
o que nos impulsionou a integrar essa as- pretação da Presença Judaica em Torres mapeamento da presença de judeus até judiaria, de uma comunidade que se in-
sociação foi a intenção de aprofundar o Vedras. à conversão geral não só no espaço ur- tenta humanizar, e seguir a Rota de Se-
estudo, a divulgação e a valorização da bano, como em zonas rurais, dando a farad até outros lugares e geografias.
herança judaica de que somos detento- Onde vai ficar instalado o Centro de
res, resgatando da invisibilidade a prós- Interpretação da Presença Judaica em Centro de Interpretação da presença judaica antes e durante recuperação
pera e fervilhante judiaria que existiu em Torres Vedras?
Torres Vedras, no reinado de D. Afonso Vai ficar numa casa antiga, atualmente
IV. A documentação existente vai permi- devoluta, degradada e desfuncionaliza-
tir fazer uma reconstituição dessa judia- da, que há muito tempo queríamos re-
ria focando-nos em aspetos relacionados cuperar seguindo um projeto modelar
com as vivências, as práticas religiosas, o em matéria de reabilitação que servisse
quotidiano, as atividades sociais, cultu- de referência e inspiração a outras in-
rais e profissionais de quem a habitou. tervenções no edificado e, contribuin-
Este será um dos núcleos centrais do do, assim, para a regeneração do nosso
Centro de Interpretação que pretende- centro histórico. Situa-se junto ao caste-
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Rotas de Sefarad no Diálogo Interculturas – Município de Trancoso

Trancoso na Rota do
património judaico em Portugal
Um novo projeto, Casa do va e arranjo musical e quatro trovas aplica- Isaac Cardoso e a recente Casa Museu
Bandarra, nasce para das numa parede em português e inglês Bandarra. A rota inicial percorre todo o
que sintetizam a visão de Bandarra. Centro Histórico e futuramente quere-
enriquecer o turismo mos executar outras, para as aldeias do
português de origem Quem foi Bandarra e o seu legado? concelho.
judaica. Amílcar Salvador, Gonçalo Anes, conhecido pela alcunha
presidente da Câmara “Bandarra”nasceu no início do século XVI Que expectativas tem para quando a
Municipal de Trancoso e terá falecido em meados do mesmo sécu- Rota estiver a funcionar em pleno?
explica como. lo, em Trancoso. Assistiu à criação da In- O Município de Trancoso foi cofundador
quisição da qual foi vítima em 1541, à pro- da Rede de Judiarias de Portugal, tendo,
blemática dos conversos, ao abandono da naturalmente, as melhores expectativas
produção interna, à expansão ultramarina, relativamente à Rota e ao trabalho de-
As marcas das judiarias e da sua cul- à guerra contra os mouros no Oriente, aos senvolvido pela Associação, promoven-
tura espalham-se por Trancoso. abusos da administração pública e à deca- do e preservando o património judaico
Pode falar-nos delas e das respeti- dência da nobreza. Este período foi inspi- de Portugal. Neste projeto cabe a cada
vas personalidades trancosanas? rador e perturbador para Gonçalo Anes, Município desenvolver uma pequena
Em Trancoso existiu uma judiaria que, como transparece nos Sonhos=Trovas. Ti- rota. No nosso caso em particular, o pa-
no século XVI, era maior que a da Guar- nha uma posição social reconhecida e era trimónio judaico (material e imaterial)
da. Os judeus de Trancoso eram muitos e Amílcar Salvador, Presidente CM Trancoso sapateiro de correia. Devido à sua profis- fará com que os turistas percorram o
muito ricos. Foi nos séculos XV e XVI são relacionava-se facilmente com cristãos- Centro Histórico.
que população judaica cresceu substan- -velhos e cristãos-novos e muitos conside- Os Turistas que chegam a Trancoso para
cialmente em Trancoso e os judeus senti- tes conteúdos. A data de abertura é no ravam-no um exegeta, um líder religioso. visitar este património são principal-
ram necessidade de ampliarem a sinago- dia 12 de março. A divulgação das obras, Trovas e Sonhos, mente descendentes de cristãos novos,
ga, o pedido foi efetuado e aceite por D. tornaram-no profeta de Portugal. naturais e/ou moradores em Trancoso,
João II a 12 de dezembro de 1481. Pensa- Onde está localizado e qual será a pelo que não é um turismo só religioso
mos que já desde a criação da feira de S. sua disposição? Pode referir alguns pontos de inte- (porque muitos não praticam a religião
Bartolomeu em 1273, os judeus já viviam Está localizado na Rua Poço do Mestre resse de Trancoso? judaica, apesar de nós termos a primeira
em Trancoso. Foram eles que nos deram de frente para o Centro Judaico Isaac A rua da judiaria em Trancoso pensa-se réplica de Sinagoga Sefardita de Portu-
uma dinâmica substancial, uma vez que Cardoso. E é constituído por 2 pisos. No que não era uma rua fechada, porque gal, no Centro Isaac Cardoso), mas es-
eram proprietários de várias casas noutras piso zero, estão inscritas várias frases de eles tinham casas noutras e com alguns sencialmente é um turismo “emocional”
ruas, no entanto pensamos que a Rua da autores sobre Bandarra, como por exem- elementos arquitetónicos com interesse e cultural, à procura de reminiscências
Corredoura terá sido a da Judiaria. Os ju- plo: Padre António Vieira, Fernando Pes- (marcas cruciformes, candelabros, estre- das suas raízes. Veem fundamentalmen-
deus de Trancoso eram sapateiros, tece- soa e Elias Lipiner. Dois vídeos, um é las, entre outros que apesar de polémicos te do Centro da Europa, Israel, norte de
lões, alfaiates, emprestavam dinheiro, uma recolha (antropológica) de lendas fazem parte do património de Trancoso), África, Estados Unidos e Brasil. Esta
eram proprietários, viviam também do ar- nunca antes publicadas, relativas a Ban- inscritos nos imóveis do Centro Históri- Rota ajuda-nos a marcar uma posição na
rendamento de habitações e eram essen- darra e proferidas por pessoas com mais co de Trancoso são cerca de 200. Este le- História de Trancoso em Portugal e no
cialmente mercadores e homens de negó- de 75 anos do concelho de Trancoso, e gado justificou a construção do Centro Mundo, no que diz respeito à importân-
cios. Alguns, após a inquisição, partiram e outro com atores profissionais que reflete de Interpretação da Cultura Judaica cia do legado judaico.
ajudaram a fundar a sinagoga portuguesa a vida e obra do profeta à época.
de Amesterdão (séc. XVII), outros expan- No primeiro piso existe um painel des-
diram negócios e mercados na Europa, critivo sobre a vida e obra de Bandarra,
no Brasil, norte de África e posterior- uma Fonoteca e um livro áudio com as
mente nos EUA. Atualmente são descen- Trovas (Bandarra foi preso pela Inquisi-
dentes destes cristãos-novos que cada ção em 1541, porque alvoroçava os cris-
vez visitam mais Trancoso. tãos-novos com as suas Trovas e não por
ter sido confirmado que fosse judeu).
Em que consiste o projeto do municí- Existe uma aplicação de conteúdos cien-
pio de Trancoso, a Casa do Bandarra? tíficos da temática em iPad e uma Mesa
O projeto da Casa Bandarra é o primeiro, multimédia didática do sapateiro (oficia)
no município de Trancoso, com cariz de com identificação de trovas aos materiais
interpretação cultural. Será apetrechado sovela, molde de sapato da altura, agu-
de conteúdos e materiais modernos, que lha, martelo, etc., e a relação entre estes e
apelam a uma visita de miúdos e graú- as Trovas.
dos, recorrendo às novas tecnologias, No espaço destinado ao Logradouro há
sem nunca descurar a base científica des- uma surpresa áudio, o poço com uma tro- Fachada Casa do Bandarra
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no Diálogo Interculturas – Município de Vila Nova de Paiva Rotas de Sefarad

“O Centro de Memória Judaica de Vila Cova à Coelheira será um


marco do circuito turístico do concelho de Vila Nova de Paiva.”

José Morgado, Presidente ra Municipal?


da Câmara Municipal de Não. O Município adquiriu-o a particu-
Vila Nova de Paiva lares para instalar o Centro. O imóvel,
descreve o Centro de que hoje alberga o Centro de Memória
Memória Judaica de Vila Judaica de Vila Cova à Coelheira é co-
Cova à Coelheira como nhecido pela população local como “Si-
nagoga”. Depois de vários estudos cien-
um espaço “ (...) tíficos ficou comprovado que, na realida-
vocacionado e concebido de, não se trata de uma sinagoga mas de
para o público em geral, um local onde os judeus de reuniam para
baseando a sua rezar e celebrar as suas cerimónias du-
linguagem na interação rante a época da inquisição.
entre o Território, o
Qual a disposição e recursos de me-
Homem e a História.” dia/audiovisuais implementados nes-
te espaço?
No âmbito da criação deste núcleo mu-
seológico foi necessário a elaboração de
uma estratégia museográfica que in-
José Morgado, Presidente C. M. Vila Nova de Paiva cluem a exibição, o design/museografia
e especialidades, conteúdos científicos
de qualidade e sistemas audiovisuais.
As marcas das judiarias e da sua cul- história de Portugal? ditas no território português e insere-se Neste âmbito foi produzido um docu-
tura espalham-se pelo município Segundo a tradição de Vila Cova à Coe- numa estratégia municipal de desenvol- mentário sobre a história da presença ju-
desde que altura? lheira partiu para a diáspora a Família vimento sustentado, criando polos e es- daica em terras de Vila Nova de Paiva,
A presença de uma comunidade judaica Castro, ou Crasto, também conhecida truturas de apoio ao turismo cultural. O que pode ser observado neste Centro de
assinalável é mais visível na localidade de como Castro Chacon. Daqui espalha- espaço foi vocacionado e concebido para Interpretação. A nível de acessibilidades,
Vila Cova à Coelheira. É conhecida por ram-se por todo o mundo, sendo possí- o público em geral, baseando a sua lin- a conceção e montagem da exposição
ainda hoje haver símbolos visíveis como a vel detetar a sua presença em locais tão guagem na interação entre o Território, o teve particular atenção às normas nacio-
cerca da judiaria e as inúmeras casas com díspares como: Bordéus, Brasil, Hambur- Homem e a História. Criámos uma expo- nais e internacionais de mobilidade e
simbologia judaica. O mais antigo docu- go, Estados Unidos, Argentina, Reino sição de elevada qualidade, envolvente, acessibilidade.
mento que atesta a sua presença em Vila Unido, Nova Zelândia e Amesterdão. muito atrativa e inovadora fazendo dos
Cova à Coelheira é de 1663 e refere-se a um conteúdos e recursos tecnológicos o meio O Centro de Memória Judaica de
processo da Inquisição levantado a um ca- O EEA GRANTS em parceria com a para fazer chegar uma mensagem credí- Vila Cova à Coelheira vai passar a
sal, Beatriz Rodrigues e Jerónimo Henri- Rede de Judiarias de Portugal vel, cientificamente correta e facilmente ser uma peça-chave do circuito tu-
ques, naturais de Trancoso, mas morado- apoiam o projeto do município de V. entendível pelos visitantes. rístico Sefardita de Vila Nova de
res em Vila Cova à Coelheira. N. De Paiva. Quais as motivações da Paiva?
candidatura e descrição do projeto? O local onde está instalado o Centro Vila Nova de Paiva é um concelho único
Há personalidades Judias naturais Este projeto tem como base o percurso de Memória Judaica de Vila Cova à repleto de história e memória, que apos-
de V. N. De Paiva que marcaram a geográfico e cultural dos vestígios sefar- Coelheira era propriedade da Câma- ta na valorização do seu património, pro-
curando criar riqueza, emprego e futuro.
O Centro de Memória Judaica de Vila
Centro de Memória Judaica de Vila Cova à Coelheira Cova à Coelheira, cuja inauguração está
prevista para março, será um marco do
circuito turístico do concelho, não só
pela inovação do equipamento, como
pelo contributo para a preservação e me-
mória de um povo que faz parte da his-
tória e cultura nacional. Neste projeto
museológico, como no Museu Arqueoló-
gico do Alto Paiva os conteúdos preten-
dem estimular as emoções e criar opi-
niões. Ambos permitem a identificação e
interação dos seus visitantes com a His-
tória e a Memória de um Território e le-
vam o visitante a uma imensa experiên-
cia sensorial repleta de conhecimento e
de emoções.
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Rotas de Sefarad no Diálogo Interculturas – Municípios sem obra material

Cascais Covilhã
Ciente da importância da herança judaica e do ocorrido du- A comunidade judaica da cidade da Covilhã foi, desde o
rante a II Guerra Mundial, a Câmara Municipal de Cascais século XII e até à sua diluição, a maior e mais importante da
inaugurou em 1999, o Espaço Memória dos Exílios que pre- Região da Serra da Estrela e uma das maiores e mais fortes
serva parte da memória dos judeus exilados trazidos à re- de Portugal. Existiam, no final do século XV, pelo menos
gião pelo conflito. Em 2015, Cascais recebeu a Tora, sinal da três núcleos hebraicos: um intramuralhas junto às Portas
importância da comunidade judaica. Celebra-se desde há 3 do Sol; o segundo na parte exterior das mesmas confinando
anos o Hanukah Menorah e, empenhado que está cada vez com elas e o terceiro corresponderia a bairros de localiza-
mais na defesa dos princípios da boa convivência entre diferentes credos, o Município re- ção perto da cidade (Refúgio – Meia Légua).
cebeu em 2016 pela primeira vez o Judaica – Mostra de Cinema e Cultura.

Évora Figueira de Castelo Rodrigo


A herança judaica de Évora está hoje patente num vasto A antiga Sinagoga, localizada na esquina das ruas com o
conjunto de portais ogivais góticos que se situam bem per- mesmo nome e da do Páteo do Castelo terá sido transfor-
to da Praça do Giraldo local de uma feira anual desde 1275. mada na cisterna que hoje se vê mas mantém as portas e a
Durante o séc. XV a judiaria chegou a ter duas sinagogas e construção de base. Na igreja da Vermiosa e visível um Pa-
todos os serviços inerentes a uma vasta comunidade; esco- rokhet (cortina que cobria o Hejal) oriundo de uma antiga
la, hospital, estalagem, mikve (local de banhos rituais) e sinagoga. Um dos representantes da comunidade dos ju-
mesmo aí teria existido uma gafaria (leprosaria). deus Sefarditas portugueses na Amesterdão setecentista,
Efraim Bueno alias Martin Alvarez, nasce em 1599 na vila
de Castelo Rodrigo, no seio de uma família marrana, tenso
sido retratado em pintura e gravura por Rembrandt e Jan
Lievens.

Fornos de Algodres Freixo de Espada à Cinta


É comprovadamente um município que integrou muitos A Vila repleta de história com inúmeras portadas e janelas
cristãos-novos, principalmente artesãos e que se encontra- de estilo manuelino. Na cidade velha há cerca de 150 por-
vam dispersos em freguesias rurais. Esta realidade é confir- tais ogivais e janelas de estilo manuelino. Nas moradias
mada tanto nos processos da inquisição inerentes ao espa- quinhentistas existentes, todas com portadas de granito
ço do atual concelho, como nos indícios patenteados por (material nobre e caro), uma porta larga, em arco, comercial
dezenas de marcas cruciformes cujo levantamento foi re- para o piso térreo e outra mais estreita de serventia para o
centemente efetuado por parte da Câmara Municipal. A vi- piso habitacional, existe uma quantidade imensa de simbo-
sita pode ser iniciada na atual vila de Fornos como na anti- logia judaica.
ga sede de concelho de Algodres.

Fundão Gouveia
Após a expulsão dos judeus espanhóis, em 1492, um gran- A judiaria de Gouveia ter-se-á iniciado com uma pequena
de número de refugiados veio estabelecer-se na Cova da comuna tendo cerca de cinquenta judeus em meados do
Beira, onde já haviam algumas comunidades judaicas. Fo- século XV. A chegada desta comunidade à Covilhã provo-
ram estes imigrantes  fundando bairros - entre os quais o cou o desenvolvimento da indústria de lanifícios, praticado
mais importante se situava em volta da Rua da Cale -  que então de forma muito rudimentar, tendo-se modernizado e
permitiram que o local do Fundão assumisse as dimensões intensificado o trabalho dos lanifícios, nomeadamente uti-
de uma verdadeira cidade. O influxo de mercadores e arte- lizando engenhos movidos a energia hidráulica que provi-
sãos judeus transformaria a cidade num centro importante nha das ribeiras de caudal generoso da vila.
para o comércio e a indústria.

Guarda Idanha-a-Nova
A presença de uma comunidade judaica na Guarda, está Município da Beira Baixa raiana herdou o território de vá-
documentada desde a primeira metade do século XIII. A rios antigos concelhos que foram extintos já no séc. XIX.
Judiaria situava-se no interior das muralhas e próxima dos Apesar de referências a anteriores judiarias então existen-
principais eixos viários da cidade o que permitia e favore- tes em antigas vilas como Monsanto, Medelim ou Proença-
cia o desenvolvimento da atividade comercial desta comu- -a-Velha é no tempo dos cristãos-novos que Idanha-a-Nova
nidade. Embora inicialmente a comunidade judaica da vê impactar a presença de importantes núcleos cripto-ju-
Guarda, se tenha instalado na Rua da Judiaria entre a Porta deus. No entanto, é de referir a existência da rua da Judia-
d’el Rei e as proximidades do Largo de São Vicente, ao longo da Idade Média o aumento ria em Medelim bem como a característica existência das casas balconadas desta povoação.
populacional da comunidade levou à ocupação dos espaços mais a norte, o que é testemu- Samuel Nunes (Diogo Nunes Ribeiro) (1668–1744) médico, natural desta vila foi um dos
nhado, a partir do século XIV, pela Rua Nova da Judiaria. primeiros judeus a viver na América do Norte.
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no Diálogo Interculturas – Municípios sem obra material Rotas de Sefarad

Lamego Manteigas
Desde o séc. XIV que os judeus da então importante cidade A presença judaica integra-se nessa valiosa herança patri-
de Lamego ocupavam a área entre o castelo e a igreja de Stª. monial que agora quer dar a conhecer e que até então havia
Maria de Almacave. No século seguinte os bairros judeus passado despercebida e, ao mesmo tempo, despertar olha-
eram já dois; o mais antigo (judiaria da velha), localizava-se res e consciências para a necessidade da sua salvaguarda.
junto à Porta do Sol, o que correspondia à judiaria nova ou Das marcas convencionalmente associadas às comunida-
do fundo junto do adro da igreja citada. Neste bairro locali- des judaicas, criptojudaicas e de cristãos-novos, detetaram-
zava-se a sinagoga na antiga Rua da Esnoga. José de Lame- -se na área em estudo, cruciformes, marcas nas mezuzot e
go, sapateiro judeu, foi quem recebeu de Pêro da Covilhã na cidade do Cairo as informa- gravações longitudinais. Considerou-se ainda um outro detalhe da arquitetura, os portais
ções que de seguida permitiram a D. João II conhecer todos os dados referentes às costas com chanfros, também associados a estas comunidades. Contabilizou-se um total de qua-
leste africana, arábica e índia que lançou a viagem de Vasco da Gama. renta e quatro imóveis onde se identificou pelo menos uma das tipologias de marcas.

Mêda Moimenta da Beira


Foram identificadas 230 marcas de simbologia mágico-reli- Forjadas entre as mais duras penedias, as terras de Moi-
giosa, nomeadamente motivos cruciformes distribuídos menta da Beira são ancestrais moradas de gente sefardita.
maioritariamente entre Ranhados, Marialva, Casteição e A presença de judeus nestas partes da Beira, documentada
Mêda, onde 75% dos processos inquisitoriais dizem respei- desde o crepúsculo da Idade Média, foi muito significativa.
to a Cristãos-Novos, acusados de práticas judaizantes. Tão forte foi que ficou o epíteto de “Judeus” aos habitantes
Apesar das dúvidas sobre a localização e percursos dos ju- de Leomil, sua maior freguesia. Pelas suas aldeias secula-
deus e cripto-judeus neste território ao longo da História, res, como Cabaços, encontram-se segredos de outros tem-
parece evidente a sua presença continuada. A comunidade judaica de Mêda desapareceu, pos, em casas antigas onde as pedras dos portais estão marcadas pela devoção e pelo
restando os vestígios materiais e culturais que resistiram à passagem do tempo e hoje fa- medo. Embora os pós já preencham os vazios, os cunhos perpetuados no granito imortali-
zem parte do património histórico e cultural deste concelho. zam a história das famílias judias e cristãs-novas que as habitaram.

Penedono Pinhel
A origem do povo judeu, mas em terra tão antiga é natural A comuna judaica desta antiga cidade fronteiriça deve ter-
que a sua presença seja remota. Documentados desde o séc. -se desenvolvido no início do século XV devido à emigra-
XV, os primeiros judeus dispersaram-se um pouco por to- ção dos judeus vindos de Espanha. De facto, as famílias
das as aldeias, especialmente em Penela da Beira, onde er- mais comuns correspondiam aos Barzelai, Amiel, Abe-
gueram uma importante comunidade entre as ruas do Eno- nazum, Ergas, Cid, Adida, Cohen e Castro. Em 1932 consti-
que e do Ló. tui-se a comunidade Israelita de Pinhel, cuja sinagoga ficou
Envolvidos numa ambiência medieval descubra os antigos com o nome de “Shaaré Orah” (Portas da Luz).
espaços habitacionais dos judeus e cristãos-novos, de misteriosos símbolos mágico-religio-
sos, de lendas míticas e quotidianos onde ainda perduram traços da antiga cultura judaica
portuguesa, que a sombra protetora de um castelo com mais de mil anos continua a abri-
gar.

São João da Pesqueira Seia


A presença de judeus Neste concelho datam do século XV. Destaca-se historicamente pelo trabalho da indústria da lã
Os vestígios materiais da sua comunidade ficaram grava- que, muito provavelmente foi incentivado pela presença de
dos no urbanismo da vila, na configuração labiríntica e na cristãos-novos presentes no concelho. A existência de mui-
assimetria das habitações da antiga judiaria. Nas aldeias tos cruciformes gravados em portais por todo o atual mu-
mais meridionais, como Riodades e Paredes da Beira, ga- nicípio, não indiciando presença anterior ao decreto de ex-
nha relevo uma paisagem menos vinhateira, mas onde pulsão de D. Manuel, parece confirmar a sediação de cris-
existem interessantes cruciformes e até singulares inscri- tãos-novos. Salienta-se o processo mais antigo conhecido: o
ções hebraicas, esculpidas no granito das habitações, mui- de Mestre Rodrigo em 1541, físico (médico) em Seia, filho
tas de traçado tardo-medieval. Em Trevões, antiga sede de de Abraão Benaz e  Lediça (ainda com nomes judeus). A sua filha, nascida em 1522 também
um concelho medieval, surpreende outra Rua dos Gatos que, à semelhança da primeira, em Seia, veio a ser acusada em 1572.
também está associada à herança judaica e cristã-nova.

Torre de Moncorvo Vila Nova de Foz Côa


Do vasto legado destaca-se a sinagoga dos judeus, a Casa A presença de alguns elementos judaicos no concelho con-
da Inquisição que ostenta o emblema dos Jesuítas e a Casa firma a tese que a comunidade judaica foz-coense se terá
dos Navarros, local onde no século XX a comunidade ju- constituído ao longo do Séc. XVI. A Capela de Santa Quité-
daica se reunia com a finalidade de promover o regresso ria é considerada uma antiga sinagoga, dada a planta qua-
dos marranos ao judaísmo, assim como a Rua dos Sapatei- drangular e o teto em estilo “mudéjar”.
ros. O Lagar da Cera de Felgueiras é também um bom Na frontaria da igreja foram identificados os Profetas Maio-
exemplo da passagem dos judeus pelo concelho, assim res, o Leão de Judá e carateres hebraicos, os quais revelam
como algumas marcas de cristianização, nomeadamente cruzes, estrelas de David ou do que os judeus participaram nos trabalhos da nova fachada
Signo Saimão, do Leão de Judá ou da mitológica Fénix, nas ombreiras das portas encontra- da Igreja como sinal de reconversão sincera ao catolicismo, tendo acrescentado outros,
das em algumas casas das aldeias do concelho. como os carateres hebraicos a coroar o edifício “Escuta, Israel: Jeová, nosso Deus, é o teu único
Senhor”.
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Rotas de Sefarad no Diálogo Interculturas

Exposição Internacional da Torre do Tombo


“Heranças e vivências judaicas em portugal”
ditas “Alberto Benveniste” da Faculdade de inglês, assim como um significativo leque de ima- ta desde da antiguidade até à atualidade.” Ten-
Letras da Universidade de Lisboa e a coorde- gens.” ta-se perceber quando os primeiros judeus
nação está a cargo do Mestre Paulo Mendes A exposição estará aberta ao público durante chegaram ao território que é hoje Portugal,
Pinto. um mês para que este possa “conhecer mais mas em especial, “a própria origem mítica do
Com conceitos que visam centralizar e divul- acerca da história de Portugal, dos seus protago- significado da palavra Sefarad, que é uma pala-
gar ao público em geral a vivência dos sefar- nistas, heranças que ainda se mantêm, e que mui- vra que corresponde a longo caminho (…) esta
ditas portugueses e a sua influência para a tas vezes, desconhecemos a sua origem. A herança palavra aparece na bíblia, num dos livros profé-
história e desenvolvimento local e nacional: judaica deixou nas nossas vivências quotidianas ticos e desde muito cedo ela é identificada com a
Mestre Paulo Mendes Pinto, coordenador da exposi- heranças e identidades; perseguição e con- marcas na cultura, no património, na história, nos península ibérica. (…) A Península Ibérica era
ção “Heranças e Vivências Judaicas em Portugal” versão; redes, diáspora e adaptação; quoti- nossos modos de vida. Muitos, são os hoje, os es- miticamente tão importante que eles vão identi-
dianos e cultura. Segundo Paulo Mendes trangeiros que regressam a Portugal à procura ficar essa Sefarad bíblica com a Península Ibéri-
Pinto “Não se pretende uma glorificação nem a das suas origens. Este será o maior legado dos se- ca no Século I. A exposição tem esta dupla carga
A exposição “Heranças e Vivências Judaicas criação de uma narrativa laudatória, mas apresen- farditas portugueses, a diáspora surge como um com o registo historiográfico mais clássico,
em Portugal” será inaugurada em meados tar, de forma isenta e rigorosa, a História destas testemunho de Portugal pelo mundo.” Descreve apresentar a história, mas também, trabalhar a
de Março e estará patente na Torre do Tom- comunidades e seus indivíduos que tão importan- o coordenador. questão da identidade (…).” Explica o coorde-
bo, em Lisboa. O promotor do evento é a tes foram, e são, para a identidade nacional. A ex- A exposição, em termos de organização, é nador da exposição “Heranças e Vivências
Rede de Judiarias de Portugal, tendo como posição será organizada em módulos, tendo todos um misto; “diacrónica, cronológica e temática. Judaicas em Portugal”, Mestre Paulo Men-
direção científica a Cátedra de Estudos Sefar- eles um grupo de informação em português e em Percorre a história e identidade judaica sefardi- des Pinto.

PLANO DE FORMAÇÃO DE BTL – Bolsa de Turismo


Agente Dinamizador e Responsável do Projeto FEVEREIRO A ABRIL 2017 de Lisboa
“Rotas de Sefarad – Valorização da Identidade Judaica Decorrerão várias ações de formação so-
bre a “História e Cultura Sefardita” com
Participação na BTL – Bolsa de Turismo
de Lisboa de 15 a 19 de março, com stand
no Diálogo Interculturas” uma componente essencialmente exposi-
tiva, visando despertar o interesse pela
próprio, onde vai ser apresentada a nova
brochura promocional das Rotas de Sefa-
O Projeto “Rotas de Sefarad – valorização da identidade Judaica Por- temática judaica aliada à História e à Cul- rad e o Guia Turístico das Rotas de Sefa-
tuguesa no Diálogo Interculturas, é um projeto com uma forte com- tura Portuguesa, fornecendo aos forman- rad com informação atualizada.
dos os elementos base sobre essa realida- Em março decorrerá também uma forma-
ponente material que pretende revitalizar o Património Judaico em de, assim como os instrumentos para po- ção, em Lisboa, sobre “O Património Ju-
Portugal, associando uma componente histórica de inegável interesse der aprofundar e desenvolver esses co- daico em Portugal”. Esta visa apresentar
para o Mundo. nhecimentos. O público-alvo serão uma abordagem geral, na História Sefar-
Os judeus tiveram um importante papel na história do Mundo, com agentes na difusão, promoção, acolhi- dita portuguesa, como forma de enqua-
mento e empreendedorismo em torno da dramento cultural aos visitantes. O públi-
contributos para a Ciência, cultura, matemática, medicina entre outras temática judaica. co-alvo serão agentes turísticos.
áreas do conhecimento, tendo um papel de enorme relevância na Glo- Fevereiro de 2017 – “As comunidades ju- Ainda durante este março decorrerá uma
balização. daicas em Portugal no final da Idade Mé- formação, em Castelo de Vide, denomi-
Portugal é um País que privilegia o Diálogo Interculturas. dia”; Local: Bragança nada “Judaísmo: definições e práticas re-
Março de 2017– “O conhecimento e o pa- ligiosas e identitárias” que visa promover
Este Projeto projeta Portugal para o Mundo, pois ajuda à preservação pel dos judeus portugueses nos Descobri- entre os guias turísticos uma cultura de
de um Património esquecido, que foi um ícone da Globalização. mentos”; Local: Belmonte respeito em relação aos aspetos religiosos
Todos os Municípios da Rede estão imbuídos de um espirito critico e Março de 2017 – “Grandes vultos nas fi- e culturais do turista judaico, ajudando a
construtivo por forma de tornar acessível uma História até pouco re- nanças”; Local: Guarda criar as condições para o bom acolhimen-
Março de 2017 – “Grandes vultos na cul- to através do conhecimento dos interdi-
velada. tura”; Local: Alenquer tos, calendários, códigos e ritos judaicos.
Assim, o Projeto dá-nos uma ideia muito Real da Nossa Cultura Judai- Março de 2017 – “Os sefarditas na génese
Marco Baptista ca, que permite beber saberes e experiências ancestrais de valor ini- dos EUA”; Local: Sabugal Semana de Relações
gualável. Abril de 2017 – “O acolhimento na II Bilaterais em Oslo de 5 a 11 de
Guerra Mundial” Local: Torres Vedras
Este Projeto não se esgota nas obras materiais, de interesse e valor, pois possui uma componente imaterial que Abril entre a Rede de Judiarias
Abril de 2017 – “A memória do Holo-
ajuda à compreensão e validação da Nossa História. causto”; Local: Lisboa de Espanha e o HL-
Para tal, foram concebidos Planos de Formação adequados à realidade da Nossa História, bem como um Projeto SENTERET de Oslo (Centro do
prático de qualificação e internacionalização da Nossa Produção Koscher. Feira de Telaviv – IMTM Holocausto de Oslo)
Participação na IMTM – International Esta semana marcará o final do progra-
Isto permite de uma forma muito prática, que as Nossas empresas possam desenvolver novos nichos de merca- ma, pelo vai ser inaugurada uma exposi-
Mediterranean Tourism Market (Feira de
do, com uma correta orientação, mas ao mesmo tempo desenvolvam o seu Plano de de Internacionalização. Turismo de Telaviv) de 5 a 10 de feverei- ção com os mesmos conteúdos da Torre
Este Projeto além da componente formativa, tem uma componente cultural assente na divulgação da Rota, com ro, com Stand próprio, com uma delega- do Tombo que vai estar patente, durante
cerca de seis meses, na sala de exposições
a elaboração de um Guia Turístico que inclui todos os Municípios, Entidades de Turismo, Comunidade Judaica ção de Portugal de cerca de 30 pessoas -
composta por Presidentes de Municípios, do HL-SENTERET de Oslo. Irá ser exibi-
de Belmonte e Comunidade Israelita de Lisboa. do o filme do realizador Francisco Manso
Vereadores, Técnicos de Turismo, Empre-
Um dos marcos mais importantes deste Projeto será sem dúvida, a Exposição Internacional sobre: “Heranças, sários das áreas de Turismo e Serviços e o “O Cônsul de Bordeús” que conta a histó-
Vivências e Património Judaico em Portugal”, a realizar no próximo mês de Março no Arquivo Nacional da Tor- Rabino de Belmonte - com o objetivo de ria de Aristides de Sousa Mendes. O fa-
moso cantor de fado Nuno da Câmara
re do Tombo. mostrar o trabalho desenvolvido em Por-
tugal no âmbito do Projeto “Rotas de Se- Pereira irá fechar o programa com um es-
Mas, uma das mais relevantes acções do Projeto, é a Parceria com o HL-SENTERET de Oslo, que permitiu trazer petáculo musical tradicionalmente portu-
farad” de captar a atenção dos turistas is-
experiências de grande valor técnico no sentido de aproximar a Escola da Cultura. raelitas. guês.
Este Projeto é sem dúvida um dos marcos importantes que permitem revelar a Nossa História.

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