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Monalisa M. Lauro
Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da UFJF
Docente do Departamento de Psicologia da UFJF.
monalisalauro@gmail.com
A principal crítica de Kant (1787) à metafísica diz respeito ao uso dos conceitos
puros do entendimento independente da experiência sensível (sensibilidade), a qual fornece
àqueles conceitos as representações que deverão ser pensadas. Nas disciplinas metafísicas,
a faculdade da razão volta-se apenas para os conceitos puros do entendimento, procurando
unificá-los em unidades absolutas ou incondicionadas. Como estas unidades
incondicionadas não são encontradas nem fornecidas pela experiência sensível, elas não
têm nenhuma intuição correspondente. Portanto, os conceitos usados pela razão pura são
vazios e apenas significam formas de pensar qualquer coisa.
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É importante ressaltar que a referência que Kant faz em relação à psicologia, enquanto dividida em dois
campos de estudo distintos: a psicologia racional ou metafísica e a psicologia empírica já estavam presentes
no contexto alemão desde 1730. Como afirma Leary (1982, pg.19), o filósofo Christian Wolff estabeleceu, em
1730, este dualismo da psicologia na Alemanha.
priori que possibilitam o conhecimento, ou seja, a ausência de uma extensão espacial dos
fenômenos internos e, conseqüentemente, a não conformidade com a aplicabilidade da
matemática, da experimentação e da observação objetivas (Hatfield, 1992; Wolman, 1968;
Tolman, 2001).
Definida como disciplina empírica da alma ou do sentido interno, a psicologia
empírica encontra-se sob a forma da intuição pura e a priori do tempo e somente nesta
intuição procura determinar seu objeto (Kant, 1786). Entretanto pelo tempo apenas
conhecemos a priori que as representações estão em constante fluxo, uma vez que o tempo
(intuição pura e a priori em que são representadas) é sucessivo. Portanto, não temos
nenhum outro conhecimento a priori sobre estas representações, uma vez que, este decorre
da representação espacial e temporal conjuntamente (Kant, 1787).
Para que os objetos sejam conhecidos a priori como grandezas, eles têm que estar
em conformidade com as intuições puras e priori do espaço e do tempo (Kant, 1787).
Assim, por exemplo, os fenômenos para serem conhecidos como grandezas extensivas,
primeiramente, têm que ser representados como partes externas entre si, o que ocorre por
meio da intuição dos objetos no espaço. Posteriormente, estas partes devem ser sintetizadas
sucessivamente no tempo pelo entendimento (através da ação do esquema de quantidade).
Portanto, é necessário para aplicação da matemática aos fenômenos, que estes sejam
representados no espaço, antes de serem sintetizados no tempo. Como o objeto da
psicologia (fenômenos internos ou alma) somente está submetido à representação temporal,
não podemos conhecê-lo de forma a priori como grandeza extensiva.
Além disto, Kant (1787) ressalta que o espaço o espaço também é a intuição que
possibilita a permanência do objeto no tempo e, conseqüentemente, a aplicação dos
esquemas de substância, de causalidade. Como o tempo está em constante fluxo, a
representação nele também está em constante mudança, conseqüentemente, pelo tempo
nada pode ser conhecido como permanente. A duração no tempo tem que ser buscada nas
coisas exteriores ao sentido interno (intuições empíricas) e como a única intuição que
possibilita a representação de coisas como exteriores a nós é o espaço, somente os corpos
situados no espaço podem ser conhecidos como substância. O princípio de causalidade, por
sua vez, requer também uma intuição empírica, pois só assim sabemos que as mudanças
ocorrem dentro de uma ordem estável e irreversível de causa e efeito. Contudo, a percepção
da mudança ou da sucessão dos fenômenos decorre da representação de algo permanente
(fornecido espaço) (Kant, op. cit; B 292).
A possibilidade de se fazer observações e experimentações objetivas sobre o sentido
interno também foi excluída por Kant. Kant negou a realização de uma análise objetiva dos
fenômenos internos, pois o sentido interno só pode ser conhecido por introspecção, a qual
altera este estado. Além disso, os fenômenos no tempo não se encontram distintos entre si,
pois a síntese sucessiva apreende todos de uma mesma forma. A separação das múltiplas
representações internas só pode ser feita pelo ato do pensamento, mas suas partes não
podem ser postas e mantidas separadas, ou seja, não temos controle sobre estes fenômenos
(Kant, conforme citado por Leary, 1978, 1982).
Em resumo estas críticas fizeram com que a obra kantiana fosse vista como um
obstáculo ao desenvolvimento da psicologia e, em grande parte, foi se opondo ao quadro
pessimista apresentado por Kant que surgiram, no final do século XIX, as primeiras
tentativas de estabelecimento da psicologia como ciência, tal como podemos constatar nos
trabalhos desenvolvidos por Herbart, Fechner, Wundt, entre outros (Leary 1978; 1982).
Contudo nos resta questionar se a influência da filosofia kantiana na psicologia se
resume a sua recusa pela cientificidade da mesma na Critica da Razão Pura e nos Princípios
Metafísicos da Ciência da Natureza. Terá Kant um outro papel na historia da psicologia?
Considerações finais
Com este estudo podemos observar que no que diz respeito ao caráter histórico a
extensa obra de Kant parece guardar uma ambivalência em relação ao desenvolvimento da
psicologia cientifica no século XIX. O mesmo Kant que no século XVIII vetou a
possibilidade de uma ciência natural da vida mental rigorosa como é a ciência física,
impulsionou o trabalho daqueles que reivindicam um estatuto científico à psicologia e,
ainda, vislumbrou uma nova alternativa para a psicologia: estudo empírico da conduta
humana. Uma disciplina importante, conforme afirma Gomes (2005), por pensar homem
enquanto cidadão, cujo comportamento é fruto de fatores naturais e históricos.
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