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A FILOSOFIA KANTIANA: IMPOSSIBILIDADE

OU POSSIBILIDADE DE UMA PSICOLOGIA


CIENTÍFICA?

Monalisa M. Lauro
Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da UFJF
Docente do Departamento de Psicologia da UFJF.
monalisalauro@gmail.com

Como um investigador e defensor das capacidades intelectivas humanas, Immanuel


Kant representa um marco na história do pensamento ocidental. Suas contribuições são
importantes não só por terem caracterizado uma época do pensamento ocidental,
sintetizando e determinando as idéias presentes na mesma, mas também porque muitas de
suas afirmações se tornaram um desafio aos pensadores futuros, propiciando um contexto
para novos desenvolvimentos. Desta forma, a sua leitura continua sendo fundamental
àqueles que se interessam pelo estudo do homem, seja de suas capacidades cognoscitivas,
seus valores morais, éticos ou políticos. Esse é o caso, por exemplo, da Psicologia.
No presente trabalho, discutimos as “paradoxais” idéias de Kant em relação ao
desenvolvimento de uma ciência da vida mental. Apesar de ser não muita estudada, a
tradição filosófica alemã (entre os anos de 1780 e 1850) tem um singular e significativo
papel no estabelecimento e na definição da psicologia. Primeiramente mencionamos as
severas críticas e advertências que Kant apresentou à possibilidade de uma psicologia
científica e, em um segundo momento, observamos que mesmo recusando a cientificidade
da psicologia, em Antropologia Pragmática, Kant aponta uma possibilidade para se pensar
em um estudo psicológico do homem, permitindo efetivamente situar a ciência da vida
mental no campo empírico e afastá-la da tradição metafísica.
A filosofia Kantiana e a impossibilidade de uma psicologia científica
Em sua discussão sobre os limites e possibilidades do conhecimento humano e
diante do impasse existente entre a filosofia racionalista (com ênfase nos juízos analíticos)
e a filosofia empirista (com ênfase nos juízos sintéticos) sobre a origem do conhecimento,
Kant propõe uma mediação entre as duas propostas afirmando que o conhecimento
encontra na experiência o seu conteúdo, mas não a sua forma, uma vez que esta é anterior à
experiência e procede das capacidades intelectivas do sujeito (Eu Transcendental).
Assim em sua Filosofia Transcendental, cuja tarefa principal é estabelecer as
possibilidades, fundamentos e limites da faculdade humana de conhecer, Kant explica, por
um lado, como eram possíveis a universalidade e necessidade dos conhecimentos
científicos, característica que acreditava só poder encontrar em conhecimentos a priori, ou
seja, conhecimentos dados antes experiência e, por outro lado, o enriquecimento e a
produção de novos saberes, os quais só podem ser fornecidos a partir da experiência.
Articulando as ações das faculdades humanas da Sensibilidade e Entendimento
(através do Eu Transcendental) Kant delimita tudo que o homem pode conhecer. Somente
reunindo as impressões recebidas dos objetos (as sensações) com a ordenação espaço-
temporal, fornecida pelas formas puras e a priori da Sensibilidade (espaço e do tempo) são
formadas as representações ou as intuições. Estas, por sua vez, também serão ordenadas
formando um todo de representações comparadas e ligadas através das formas puras e a
priori do Entendimento (categorias ou conceitos puros e a priori). Ao todo foram
estabelecidas doze categorias do entendimento (quantidade, causalidade...), que designam
as diferentes formas de se pensar as representações.
Tendo em mente que o conhecimento só é possível se houver total conformidade
com as duas faculdades do sujeito do conhecimento, ou seja, com a articulação entre
intuições e categorias, podemos vislumbrar que, na concepção kantiana, conhecimento
científico é aquele fundamentado nos princípios a priori da sensibilidade (intuições puras
do espaço e do tempo) e do entendimento (conceitos puros a priori).

Como ressalta nos “Princípios Metafísicos da Ciência da Natureza” (1786), uma


ciência empírica (ciência particular) é possível se estiver, primeiramente, em conformidade
com os princípios matemáticos, ciência genuína que elabora todo seu conceito através da
apresentação do objeto na intuição pura e a priori do espaço e tempo. Toda ciência
particular tem seu objeto de estudo fornecido pela experiência, fato que requer inicialmente
uma representação deste objeto em concordância com os princípios a priori da
representação, que são os princípios matemáticos. Portanto, só as doutrinas que determinam
a priori seus objetos como grandezas poderão ser científicas. Assim, Kant (1786, p. 11)
afirma que haverá tanta “ciência genuína quanto à matemática que nesta teoria poder ser
aplicada”.
Além da possibilidade de aplicação da matemática, cabe a ciência empírica ser
composta por princípios sintéticos a priori (parte pura) e leis empíricas; ter seu objeto de
estudo em total conformidade com os princípios que possibilitam a síntese a priori e ser
capaz de realizar observação e experimentação objetivas (Gouaux, 1972).
Kant (1786) reconheceu, em conformidade com todas estas condições, apenas a
ciência natural dos corpos (sentido externo) ou a física newtoniana, mas não as
especulações metafísicas presentes na cosmologia, psicologia e teologia racionais.

A principal crítica de Kant (1787) à metafísica diz respeito ao uso dos conceitos
puros do entendimento independente da experiência sensível (sensibilidade), a qual fornece
àqueles conceitos as representações que deverão ser pensadas. Nas disciplinas metafísicas,
a faculdade da razão volta-se apenas para os conceitos puros do entendimento, procurando
unificá-los em unidades absolutas ou incondicionadas. Como estas unidades
incondicionadas não são encontradas nem fornecidas pela experiência sensível, elas não
têm nenhuma intuição correspondente. Portanto, os conceitos usados pela razão pura são
vazios e apenas significam formas de pensar qualquer coisa.

Das objeções que Kant apresentou em relação à legitimidade dessas disciplinas


metafísicas, iremos discutir, particularmente, a sua objeção à psicologia. Na psicologia
racional, Kant afirma (op. cit., A 340, B 397) que está presente a idéia transcendental da
“Unidade Absoluta do Eu Pensante”. Desde Descartes, a psicologia racional acreditava
poder desenvolver conhecimentos válidos e gerais sobre o seu objeto de estudo (eu
pensante ou alma) sem fazer qualquer referência à experiência, ou seja, apenas pelo uso
intelectivo dos conceitos puros do entendimento. Dessa forma, todo o seu conhecimento era
extraído da própria consciência “Eu penso”, uma representação intelectiva do Eu. Assim,
elevando-se para além da experiência, a psicologia admitia esta consciência como se fosse
uma intuição do próprio sujeito e predicava-lhe as categorias do entendimento, afirmando
conhecer este Eu como uma substância uma, idêntica e simples.
Entretanto estes conhecimentos do Eu, que a psicologia racional postula como
objetivo e verdadeiro são apontados por Kant (op.cit.) como sendo, na realidade,
paralogismos. Ou seja, conclusões falsas resultadas do uso equivocado e exagerado dos
conceitos puros do entendimento. Assim, ele afirma que a representação “Eu Penso”,
considerada pela psicologia racional como um objeto real e existente por si, é apenas uma
função lógica que possibilita pensar os objetos. Através desta representação, é expressa a
necessidade lógica de uma unidade da consciência, que precisa acompanhar todas as
representações que nos pertencem. Ou seja, este Eu é um “Eu Transcendental”, uma
condição de conhecimento. Deduzir dele que conhecemos um outro Eu – que é em sua
natureza real, imortal, singular - é um erro de raciocínio. Deste Eu – “coisa em si” dada
independente da sensibilidade - não podemos nos certificar da sua existência e muito menos
saber em que consiste sua natureza. Com estas críticas Kant, dentro do seu modelo de
ciência, nega a cientificidade da psicologia racional, pois as afirmações desta e seu objeto
de estudo não estão dentro das condições de conhecimento.

Se enquanto disciplina pura da alma, a psicologia apenas nos conduz a conclusões


falsas, como doutrina do sentido interno, ou seja, das representações que temos de nós
próprios, a psicologia também não pode estabelecer-se como ciência empírica1. Nos
“Princípios Metafísicos da Ciência da Natureza” (1786), Kant ressalta que da natureza,
definida como a totalidade de todos os fenômenos, podemos estabelecer duas partes
principais: uma que contem os objetos do sentido externo e a outra que contem os do
sentido interno. Desta divisão são possíveis duas doutrinas: a doutrina dos corpos (natureza
extensiva) e a doutrina da alma, respectivamente. Mas somente a primeira doutrina pode ser
denominada de ciência empírica da natureza, pois suas leis sobre os corpos são conhecidas
a priori.
A impossibilidade científica da psicologia empírica do sentido interno se deve ao
fato do seu objeto de estudo não estar totalmente de acordo com os princípios puros e a

1
É importante ressaltar que a referência que Kant faz em relação à psicologia, enquanto dividida em dois
campos de estudo distintos: a psicologia racional ou metafísica e a psicologia empírica já estavam presentes
no contexto alemão desde 1730. Como afirma Leary (1982, pg.19), o filósofo Christian Wolff estabeleceu, em
1730, este dualismo da psicologia na Alemanha.
priori que possibilitam o conhecimento, ou seja, a ausência de uma extensão espacial dos
fenômenos internos e, conseqüentemente, a não conformidade com a aplicabilidade da
matemática, da experimentação e da observação objetivas (Hatfield, 1992; Wolman, 1968;
Tolman, 2001).
Definida como disciplina empírica da alma ou do sentido interno, a psicologia
empírica encontra-se sob a forma da intuição pura e a priori do tempo e somente nesta
intuição procura determinar seu objeto (Kant, 1786). Entretanto pelo tempo apenas
conhecemos a priori que as representações estão em constante fluxo, uma vez que o tempo
(intuição pura e a priori em que são representadas) é sucessivo. Portanto, não temos
nenhum outro conhecimento a priori sobre estas representações, uma vez que, este decorre
da representação espacial e temporal conjuntamente (Kant, 1787).
Para que os objetos sejam conhecidos a priori como grandezas, eles têm que estar
em conformidade com as intuições puras e priori do espaço e do tempo (Kant, 1787).
Assim, por exemplo, os fenômenos para serem conhecidos como grandezas extensivas,
primeiramente, têm que ser representados como partes externas entre si, o que ocorre por
meio da intuição dos objetos no espaço. Posteriormente, estas partes devem ser sintetizadas
sucessivamente no tempo pelo entendimento (através da ação do esquema de quantidade).
Portanto, é necessário para aplicação da matemática aos fenômenos, que estes sejam
representados no espaço, antes de serem sintetizados no tempo. Como o objeto da
psicologia (fenômenos internos ou alma) somente está submetido à representação temporal,
não podemos conhecê-lo de forma a priori como grandeza extensiva.
Além disto, Kant (1787) ressalta que o espaço o espaço também é a intuição que
possibilita a permanência do objeto no tempo e, conseqüentemente, a aplicação dos
esquemas de substância, de causalidade. Como o tempo está em constante fluxo, a
representação nele também está em constante mudança, conseqüentemente, pelo tempo
nada pode ser conhecido como permanente. A duração no tempo tem que ser buscada nas
coisas exteriores ao sentido interno (intuições empíricas) e como a única intuição que
possibilita a representação de coisas como exteriores a nós é o espaço, somente os corpos
situados no espaço podem ser conhecidos como substância. O princípio de causalidade, por
sua vez, requer também uma intuição empírica, pois só assim sabemos que as mudanças
ocorrem dentro de uma ordem estável e irreversível de causa e efeito. Contudo, a percepção
da mudança ou da sucessão dos fenômenos decorre da representação de algo permanente
(fornecido espaço) (Kant, op. cit; B 292).
A possibilidade de se fazer observações e experimentações objetivas sobre o sentido
interno também foi excluída por Kant. Kant negou a realização de uma análise objetiva dos
fenômenos internos, pois o sentido interno só pode ser conhecido por introspecção, a qual
altera este estado. Além disso, os fenômenos no tempo não se encontram distintos entre si,
pois a síntese sucessiva apreende todos de uma mesma forma. A separação das múltiplas
representações internas só pode ser feita pelo ato do pensamento, mas suas partes não
podem ser postas e mantidas separadas, ou seja, não temos controle sobre estes fenômenos
(Kant, conforme citado por Leary, 1978, 1982).
Em resumo estas críticas fizeram com que a obra kantiana fosse vista como um
obstáculo ao desenvolvimento da psicologia e, em grande parte, foi se opondo ao quadro
pessimista apresentado por Kant que surgiram, no final do século XIX, as primeiras
tentativas de estabelecimento da psicologia como ciência, tal como podemos constatar nos
trabalhos desenvolvidos por Herbart, Fechner, Wundt, entre outros (Leary 1978; 1982).
Contudo nos resta questionar se a influência da filosofia kantiana na psicologia se
resume a sua recusa pela cientificidade da mesma na Critica da Razão Pura e nos Princípios
Metafísicos da Ciência da Natureza. Terá Kant um outro papel na historia da psicologia?

Filosofia kantiana e a possibilidade de uma psicologia científica


Como afirma Gomes (1995) foi o próprio Kant que preparou o solo para o
surgimento de uma psicologia experimental ou empírica, ainda que condenada ao
subjetivismo.
Face à dicotomia corpo-alma herdada de Descartes, um problema clássico da
filosofia da mente, na filosofia kantiana o problema da união entre corpo e alma perde seu
sentido, pois o mundo interno (subjetividade) representado no tempo e mundo externo
(objetos físicos) representado no espaço se situam no plano da experiência (plano
fenomenal). Assim não faz sentido questionar a natureza última ou essência dos fenômenos
mentais e físicos, algo que ultrapassa a capacidade de conhecimento.
Além disto, a representação depende da necessária união dos sentidos externas e
interno, ou seja, no conhecimento do mundo externo há uma subjetividade (representação
temporal), assim como deverá haver elemento externo (espacial) no conhecimento mental.
Isto parece ter direcionado os estudos psicológicos da mente através do comportamento e
da interação com o meio. Fato observado nos trabalhos de Herbart, nos estudos da
psicofísica de Fechner, onde se discute a relação entre mundo físico (estímulo físico) e
mundo mental (sensação, percepção) (Schultz & Schultz, 2005).
Mesmo tendo vetado à psicologia a possibilidade de elaborar leis universais e
necessárias sobre seu objeto de estudo, pois estrutura-se na experiência e,
conseqüentemente, suas leis seriam todas contingentes, a obra Antropologia Pragmática
pode também ser interpretada como fundamento para a realização de estudos empíricos da
vida mental (Gomes, 2005).
Assim em Antropologia em Sentido Pragmático (1798) podemos observar que Kant
abre espaço para se pensar em um estudo psicológico do homem, afastando este estudo da
vida mental, definitivamente, da tradição metafísica, ao abordar a natureza humana a partir
de um ponto de vista empírico e ao discutir a funcionalidade do mesmo. Esta psicologia
descritiva, definida por Kant como um estudo histórico ou antropológico da natureza
interna do homem, seria o único tipo de psicologia possível.
Somente com uma reformulação metodológica, a psicologia poderia ser útil para a
humanidade, uma vez que poderia conhecer melhor como os homens tendem a se
comportar e favorecer mudanças em suas ações. Assim a psicologia deveria, sem pretender
conhecer objetivamente e de maneira geral como deve ser o sujeito, substituir a
metodologia da introspecção pelo método “antropológico”, que consiste em observações
externas dos comportamentos determinados pelos eventos mentais (Leary, 1978; 1982).

Considerações finais
Com este estudo podemos observar que no que diz respeito ao caráter histórico a
extensa obra de Kant parece guardar uma ambivalência em relação ao desenvolvimento da
psicologia cientifica no século XIX. O mesmo Kant que no século XVIII vetou a
possibilidade de uma ciência natural da vida mental rigorosa como é a ciência física,
impulsionou o trabalho daqueles que reivindicam um estatuto científico à psicologia e,
ainda, vislumbrou uma nova alternativa para a psicologia: estudo empírico da conduta
humana. Uma disciplina importante, conforme afirma Gomes (2005), por pensar homem
enquanto cidadão, cujo comportamento é fruto de fatores naturais e históricos.

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