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Maputo , 4 de Fevereiro 2016 Boletim Nº 82

IDeIAS
Informação sobre Desenvolvimento, Instituições e Análise Social

Saldos Rolantes no Orçamento do Estado Moçambicano: Nyusi Encontrou Cofres Vazios?

António Francisco e Ivan Semedo

“Filipe Nyusi encontrou cofres vazios”. Esta cais, correspondente a 2,3 mil milhões de Dóla- nista no valor de 850 milhões de USD (6% do
declaração foi difundida pela imprensa ao longo res Americanos (USD), à taxa de câmbio média Produto Interno Bruto PIB) (IMF 2014, p. 4, 2016,
do ano 2015, tornando-se referência emblemáti- do mesmo ano (30,69 MT/USD). Apesar de não p. 8).
ca nas apreciações críticas do primeiro ano da ser visível no mapa, dos cerca de 72 mil milhões Como mostra ainda a Figura 1, o Governo de
governação do Presidente da República (PR), de Meticais, 39 mil milhões de Meticais (54%) Armando Guebuza não só recebeu do exercício
Filipe Nyusi. Mesmo comentadores insuspeitos, referem-se às Instituições cobertas pelo Orça- de 2013 um saldo idêntico ao que acabaria por
no seu compromisso com o regime político mento do Estado (OE), enquanto os restantes 33 reconduzir para o ano 2015. Adicionalmente, o
vigente, referem-se aos alegados cofres vazios, mil milhões de Meticais (46%) pertencem às anterior Ministro do Ministério das Finanças
como se de um facto inquestionável se tratasse. Instituições do Estado não cobertas pelo OE, tais (MF), Manuel Chang, recorreu a créditos adicio-
Contudo, como mostra esta reflexão, tal alega- como: Autarquias, Empresas Públicas, Institutos, nais, tanto externos como internos. Estes últimos
ção não encontra suporte nos dados oficiais de entre outros. envolveram empréstimos na forma de Obriga-
execução orçamental da Conta Geral do Estado Para que o leitor perceba a dimensão do valor ções do Tesouro, no valor de 3,2 e 5,7 mil
(CGE) auditada pelo Tribunal Administrativo e em saldos de caixa, ilustrado na Figura 1, com- milhões de Meticais, em 2013 e 2014, respecti-
aprovada pela Assembleia da República (AR). parámo-lo com dois exemplos mais comuns. vamente.
(MEF 2015a, 2015b). Primeiro, os 72 mil milhões de Meticais represen- À semelhança do que fez o Governo de Arman-
Esta nota não se destina a defender, muito tam quase 80% do valor das Reservas Interna- do Guebuza, no exercício de 2015, Adriano
menos visa desculpabilizar qualquer tipo de cionais Líquidas (RIL), em 2014, avaliadas em Maleiane, Ministro do MEF, também fez vista
irregularidade detectada na gestão orçamental 90 mil milhões de Meticais, equivalente a 2,9 mil grossa ao saldo de caixa, reconduzido do exercí-
dos Governos, seja ele o anterior ou o actual. milhões USD; um valor capaz de assegurar a cio de 2014, e paralelamente obteve aprovação
Mais importante do que denunciar a já mencio- cobertura de 4,1 meses de importação de bens e da AR para a emissão de um crédito interno de
nada alegação é alertar para uma prática orça- serviços, excluindo as importações de bens e 9,2 mil milhões de Meticais; ou seja, um valor
mental que se tornou comum, no Estado Moçam- serviços dos grandes projectos (GdM 2014, p. 60% superior ao crédito interno utilizado no últi-
bicano, cuja justificação é preocupante. Uma 22). Por outro lado, os 39 mil milhões de Meti- mo ano da governação de Guebuza.
prática que, se nada for feito para ser controlada cais, das entidades cobertas pelo OE, represen- Perante este panorama, duas questões
e corrigida, poderá converter-se num tornam-se inevitáveis. Primeiro, como
Figura 1: Mapa Global de Receitas, Despesas e Financiamento do Estado, 2014
importante factor endógeno de fragilida- (Em Mil Meticais) entender a acumulação de saldos rolantes,
de e instabilidade financeira na econo- DÉBITO CRÉDITO
de um exercício orçamental para outro,
mia moçambicana. Referimo-nos, em SALDOS DE CAIXA DO ANO ANTERIOR SALDOS DE CAIXA DO ANO SEGUINTE
aparentemente mantidos ociosos, enquan-
Conta Ùnica do Estado 13,618,200 Conta Ùnica do Estado 10,634,970
particular, aos significativos saldos de Recebedorias 4,063,311 Recebedorias 6,867,213
to em paralelo se recorre a novos emprésti-
caixa transitados, de ano para ano, cujo Outras Contas do Estado
Outras Contas do Tesouro 7,289,343 Outras Contas do Tesouro
45,074,833 70,045,687 Outras Contas do Estado
7,698,634
46,321,071 71,521,888 mos externos e internos? Segundo, o que
valor seria suficiente para cobrir e evitar
118,469,864 dizem as autoridades de supervisão e
a totalidade do empréstimo obrigacionis- RECEITAS DO ESTADO
Receitas Fiscais 135,084,802
DESPESAS DE FUNCIONAMENTO
DESPESAS DE INVESTIMENTO entidades de monitoria da Sociedade Civil
ta da controversa Empresa Moçambica- Receitas Nºao Fiscais 4,443,056 Financiamento Interno 45,374,484
sobre esta prática orçamental? Como ilus-
41,661,712 87,036,196
na de Atum (EMATUM). Tais saldos de Receitas Próprias
Receitas Consignadas
5,222,757
8,698,448
Financiamento Externo
tra a Figura 2, uma prática longe de ser
caixa acabaram sendo reconduzidos Receitas de Capital 2,887,044 156,336,108
circunstancial ou conjuntural, pois remonta,
para o exercício orçamental de 2015; RECURSOS EXERNOS OPERAÇÕES FINANCEIRAS pelo menos, ao fim do século XX. De forma
mais surpreendente ainda, apesar do Donativos 24,106,479 Operações Activas 16,513,912
Empréstimos 50,396,280 74,502,759 Operações Passivas 5,029,224 21,543,136 breve, vejamos a resposta que foi possível
Governo do Presidente Nyusi pratica- encontrar nos documentos disponíveis,
mente não ter usado o valor de caixa EMPRÉTIMOS INTERNOS
Obrigações de Tesouro 5,715,091 OUTRAS INSTITUIÇÕES DO ESTADO para as duas questões anteriores.
reconduzido do exercício orçamental Outros Bancos e Instituições Financeiras 0 5,715,091 Receitas(-)/Despesas(+) 8,028,560
TOTAL 306,599,645 TOTAL 306,599,645
anterior, solicitou e obteve aprovação da Fonte: Conta Geral do Estado 2014, Mapa I
AR para recorrer a um financiamento Explicação Ambígua do Governo
interno até ao limite de nove mil milhões de tam 43% das RIL; o equivalente a 1,7 meses de As reduzidas referências aos saldos transitados,
Meticais. importação cobertas pelas RIL, ainda que tanto encontradas no documento principal da CGE-
quando se sabe, tais saldos de caixa não são 2014 e outros a ela relacionados, nada contri-
Um saldo de 72 Mil Milhões de MTs é Pouco? propriamente “reservas nacionais líquidas”. buem para perceber o motivo da acumulação de
Ainda sobre os 39 mil milhões de Meticais, equi- saldos orçamentais rolantes, muito menos a sua
A alegação de que o Governo do ex-PR Arman-
valentea a 1,3 mil milhões de USD, à taxa de aplicação específica nos anos seguintes. A
do Guebuza terá deixado os cofres vazios é
câmbio acima referida, este valor seria suficiente, única excepção encontra-se na CGE-2014: “...as
claramente contrariada, pelos dados da CGE
e sobraria uma parte substancial, para cobrir a contas do Estado registaram uma variação de
2014, ilustrados na Figura 1 (MEF 2015a, Mapa
totalidade dos encargos da EMATUM; uma saldos no valor de 12.003,6 milhões de Meticais,
1). Na coluna do débito, a Figura 1 mostra os
empresa criada em Agosto de 2013, por três resultante do desembolso tardio de uma parte
saldos de caixa reconduzidos de 2013 para
entidades públicas, para a compra de barcos de considerável de fundos externos, o que não
2014, no valor total de 70 mil milhões de Meti-
pesca de atum e equipamento de segurança permitiu a sua utilização durante o exercício
cais. Na coluna do crédito, o mesmo mapa apre-
marítima. O Governo do Presidente Guebuza económico” (MEF 2015a, p. 34).
senta os saldos de caixa reconduzidos de 2014
para 2015, no valor de 71,5 mil milhões de Meti- agiu como avalista dos referidos encargos, con- Assumindo que este tenha sido o principal moti-
traindo para o efeito um empréstimo obrigacio-
IESE - Instituto de Estudos Sociais e Económicos; Av. Tomas Nduda Nº1375, Maputo, Moçambique
Tel: +258 21 486043; Email: iese@iese.ac.mz; http://www.iese.ac.mz
Isento de Registo nos termos do artigo 24 da Lei nº 18/91 de 10 de Agosto
vo, no exercício de 2014, é improvável que Figura 2: Défice Orçamental Antes e Após Donativos, Crédito Externo,
Crédito Interno e Saldo Inicial, 1999-2016
de execução da política orçamental.
seja o único. Aliás, tal improbabilidade é con- 75 Se tomarmos em consideração a literatura
firmada pelos relatórios de execução do OE- 50
Saldo Inicial
sobre finanças públicas, e em particular,
2014; por exemplo, quando reportam: “...um 25 poderemos perceber que as causas da insta-
apuramento de saldos transitados de exercí- bilidade económica e financeira, particular-

Mil Milhões de Meticais


0
cios anteriores, provenientes de receitas pró- mente em economias subdesenvolvidas são,
-25
prias e consignadas, que careciam de inscri- em muitos casos, mais endógenas do que
ção no OE” (MEF 2015b, p. 7). -50
exógenas; algo que as autoridades governati-
Como e onde foram usados os saldos de caixa -75
vas e de supervisão nacional evitam admitir.
transitados para o exercício de 2015? Por -100
Oportunamente, esperamos partilhar resulta-
enquanto, a consulta dos mapas de execução -125
dos adicionais que relacionam a questão,
orçamental em 2015 ainda não fornece um -150 aqui levantada, com o recurso ao financia-
mapa similar ao da Figura 1, dificultando a Défice Antes dos Donativos
Saldo Inicial
Défice Após Donativos
Crédito Interno mento externo e interno, suposta e alegada-
comparação com os resultados do MF de Crédito Externo Fonte: CGE, 1999-2014; REO, 2015; OE, 2016
mente para cobrir os défices orçamentais. Em
Manuel Chang. O mapa de equilíbrio orçamen- particular, parece-nos cada vez mais perti-
tal apresentado pelo MEF de Maleiane não reve- operacional, de longe, muito mais regular, com- nente indagar se o Estado Moçambicano não
la os saldos de caixa, em débito e em crédito, petente, relevante e efectiva, tanto em termos estará a praticar um esquema de jogos de Ponzi,
como na Figura 1, tornando a percepção e leitura técnicos como políticos. Graças ao FMI, recente- em que sucessivos défices orçamentais são
dos movimentos orçamentais menos transparen- mente, o Governo começou a declarar-se empe- pagos com a emissão de nova dívida pública
te e difícil de avaliar. nhado em limitar a despesa, por forma a minimi- (Minsky 2008, p. 7; Pereira et al. 2009, p. 530).
Porém, por vias indirectas, é possível confirmar zar o impacto das derrapagens orçamentais Se for este o caso, então, a acumulação de sal-
que até Setembro de 2015, a maior parte do causadas pelas eleições de 2014 e pelos encar- dos rolantes tem mais sentido do que parece; ou
saldo de caixa do ano anterior permanecia por gos da EMATUM, empresa de duvidosa viabilida- seja, tem uma racionalidade económica especu-
utilizar. A Tabela 2 do relatório de execução de e sustentabilidade. lativa ou fraudulenta, como diria Minsky (2008, p.
orçamental (REO), entre Janeiro e Setembro No entanto, tal como o TA, o FMI nada tem dito 14), “mesmo quando a intenção não seja neces-
2015, menciona um saldo transitado inscrito e especificamente sobre os saldos de caixa rolan- sariamente a de trapacear”.
usado no OE de 2014, no valor de 2.498,8 tes. Será que considera o montante do crédito De momento, não nos é ainda possível afirmar
milhões de Meticais (MEF, 2015a, p. 32, 2015b, interno uma “quantia irrisória”, pelo facto de categoricamente que estamos perante práticas
p. 10). O mesmo relatório refere que para OE apenas representar um por cento dos recursos financeiras de tipo Ponzi. O que podemos afirmar
2015 não foi inscrita nem utilizada nenhuma parte totais mobilizados? Se for esse o caso é lamentá- com confiança, voltando aos alegados cofres
dos saldos rolantes. Fornece ainda uma breve vel e imprudente. Ainda que em termos relativos vazios do Estado, é que a situação encontrada
explicação que justifica a dúvida acima levanta- 1% seja um valor baixo, a verdade é que, em pelo Presidente Nyusi é bem diferente do que se
da, sobre a improbabilidade da acumulação de 2014 e 2015, representou valores anuais entre tem alegado. Na verdade, sejam quais forem os
saldos resultar unicamente dos desembolsos 180 e 220 milhões de dólares americanos. Sem motivos para a acumulação de saldos transita-
tardios dos fundos externos: “Face ao nível de dúvida, um bom “pocket money” para um Gover- dos, lamentavelmente o novo Governo perdeu
mobilização de recursos, associado ao nível de no que precisa de ser mais austero. uma oportunidade ímpar para mostrar vontade e
realização das despesas, as contas do Estado capacidade de fazer a diferença, pela positiva,
registaram uma variação de saldos no valor de O Silêncio da Sociedade Civil relativamente à controversa gestão e execução
12.609,2 milhões de Meticais” (MEF, 2015b, p. Quanto aos actores da Sociedade Civil (SC), orçamental da governação de Armando Guebu-
11). Com base nesta informação pode-se inferir individuais ou colectivos, envolvidos na monitora za.
que o saldo inicial de 39 mil milhões de Meticais, e avaliação do endividamento público e dinâmica Do ponto de vista estritamente eleitoralista,
no primeiro trimestre de 2015, subiu para 51 mil da fiscalidade. Também nenhuma atenção têm compreende-se a grande motivação dos políticos
milhões de Meticais no quarto trimestre do mes- sido prestada pela SC ao ponto aqui levantado, e governantes de deixarem para segundo plano a
mo ano. sobre os crescentes saldos finais rolantes, ape- racionalidade económico-financeira, e em troca,
sar dos mesmos estarem a crescer continua- tenderem a usar e abusar do endividamento
Indiferença das Autoridades Supervisoras mente desde o início do corrente século (Figura público. Contudo, é preocupante que a sociedade
Por determinação da Constituição da República 2). Por enquanto, as análises do Fórum de Moni- moçambicana esteja cada vez mais refém da
de Moçambique, o Tribunal Administrativo (TA) é toria do Orçamento (FMO), do Centro de Integri- racionalidade eleitoralista e dos caprichos políti-
a entidade oficial encarregue de “emitir o Relató- dade Pública (CIP) e do Instituto de Estudos cos. Por isso, mais do que nunca, precisa de
rio e o Parecer sobre a Conta Geral do Estado”. Sociais e Económicos (IESE), particularmente tomar consciência do que se passa por de trás
Contudo, os pareceres do TA sobre os saldos de nossas pesquisas sobre o espaço fiscal para a das aparências e exigir maior rigor e transparên-
caixa transitados, de ano para ano, não avaliam o protecção social, têm ignorado a questão aqui cia na gestão orçamental.
grau de eficiência e eficácia dos mesmos no levantada, no leque das suas preocupações com
equilíbrio orçamental. Porquê? Só podemos o endividamento público, interno e externo. Con- Referências Principais
conjecturar. Ou o TA não tem qualquer ideia do tudo, quanto mais aprofundamos o assunto, IMF. (2016). República de Moçambique, Relatório do
que se está a passar, muito menos das suas mais convencidos ficamos que a análise sobre a FMI n.o 16/9: http://www.imf.org.
implicações; ou acha normal e legítimo que fiscalidade e o endividamento público em MEF. (2015a). Conta Geral do Estado, Ano 2014,
avultados saldos em caixa rolem, de ano para Moçambique, dificilmente poderá ser entendida, Volume I. Maputo: Ministério da Economia e Finanças
ano, enquanto paralelamente o Governo obtém a como uma questão endógena às finanças e à (MEF). www.dno.org.mz.
aprovação da AR para incorrer em mais endivida- economia nacional, se não prestarmos a devida MEF. (2015b). Relatório de Execução do Orçamento do
atenção à complexa interdependência entre o Estado, Ano 2014, Janeiro a Dezembro. Maputo:
mento público; principalmente empréstimos obri- www.dno.gov.mz.
gacionistas que envolvem elevadas taxas de juro, défice orçamental, os saldos rolantes e o cres-
cente recurso ao financiamento externo e interno. Minsky, H. P. (2008). Estabilizando uma Economia
dependentes do mercado, e outros encargos de Instável. Capítulo 9: McGraw-Hill Professional. http://
dívida pública. fabianodalto.weebly.com/uploads/3/6/8/2/3682836/
E o que diz o Fundo Monetário Internacional Considerações Gerais e Conclusão minsky_9_e_10.pdf.
(FMI), entidade internacional que há mais de três Quando a existência de défices orçamentais se Pereira, P. T., A. Afonso, Arcanjo, M., & J.Santos.
décadas tutela e apoia técnica e financeiramente torna estrutural, continuada e persistente, a acu- (2009). Economia e Finanças Públicas (3a ed.). Lis-
mulação de elevados saldos de caixa agrava os boa: Escolar Editora.
os esforços de estabilização da economia
moçambicana? Apesar do FMI ser uma entidade referidos défices, principalmente se em paralelo o
externa e distante da gestão quotidiana do OE, Estado recorre à emissão de nova dívida pública.
diferentemente do TA, exerce uma monitoria Se este for o caso, teremos que admitir estar
perante um problema tanto de concepção como

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Isento de Registo nos termos do artigo 24 da Lei nº 18/91 de 10 de Agosto

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