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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ

RECURSO ELEITORAL 177-70.2016.6.06.0097 - CLASSE 31


PROCEDÊNCIA: TRAIRI-CE (973 ZONA ELEITORAL - TRAIRI)
PROTOCOLO: 142.368/2012
EMBARGANTES: SÍLVIA VIRGÍNIA VIANA AGUIAR
MARIA GORETE SOUTO PINTO
FRANCISCO MAGNO MAGALHÃES
ELIS REGINA VITAL
EMBARGADO: PROMOTOR ELEITORAL
RELATOR: JUIZ JOSÉ VIDALSILVANETO
RELATOR DESIGNADO: JUIZ CÁSSIO FELIPE GOES PACHECO

EMENTA: RECURSOS ELEITORAIS. EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO. OMISSÃO. OBSCURIDADE. NÃO
CONFIGURAÇÃO. REDISCUSSÃO DA MATÉRIA.
IMPOSSIBILIDADE. ART. 275 DO CÓDIGO ELEITORAL.
PREQUESTIONAMENTO. INVIABILIDADE. EMBARGOS
DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.
1. Inicialmente, destaco que as pretensões deduzidas dos quatro
embargos, como bem asseverado pelo douto Procurador Regional
Eleitoral desta Egrégia Corte, "limitam-se a buscar rediscutir o mérito
do acórdão, trazendo ora teses já discutidas no recurso, ora novas
teses não apresentadas oportunamente pela defesa, com o firme
propósito de obter um novo julgamento da demanda". Neste azo, a
inovação de tese de recursal, em sede de embargos é incabível,
conforme precedentes do Tribunal Superior Eleitoral. Nesse sentido:
TSE - ED-AgR-AI: 14852 RJ, Relator: Min. JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, Data de Julgamento: 07/11/2013, Data de Publicação:
DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 24, Data 04/02/2014, Página
67; TSE - ED-ED-ED-AgR-RO: 178285 MG, Relator: Min. LUIZ
FUX, Data de Julgamento: 05/03/2015, Data de Publicação: DJE -
Diário de justiça eletrônico, Tomo 84, Data 06/05/2015, Página 145.
2. Embargos de Declaração de SÍLVIA VIRGÍNIA VIANA AGUIAR.
2.1 Quanto à suposta omissão referente à aferição do elemento
subjetivo do tipo penal do art. 299 do Código Eleitoral, tal assertiva
não merece prosperar. O dolo específico do crime de corrupção
eleitoral configura-se com a entrega, o oferecimento, a promessa, a
solicitação ou o recebimento, para si ou para outrem, de dinheiro,
dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para
conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita.

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Desse modo, "a verificação do dolo específico em cada caso é feita de


forma indireta, por meio da análise das circunstâncias de fato, tais
como a conduta do agente, a forma de execução do delito e o meio
empregado". Portanto, da análise das provas acostadas aos autos,
restou comprovado o dolo específico da embargante ao conceder
vantagem ao Sr. CLAUDIANO GADELHA, no valor de R$ 1.000,00
(mil reais), para que a esposa deste pudesse realizar uma cirurgia,
com o fim de obter o voto do beneficiário. Ainda, a alegação de que
tal valor foi dado a título de empréstimo não desfigura o crime de
corrupção eleitoral, posto que o oferecimento ou a promessa de
qualquer vantagem, com o intuito de obter votos ou abstenção,
configura a prática do referido delito. 2.2 Ademais, no que diz
respeito à suposta omissão no tocante à comprovação da identidade
do suposto eleitor beneficiado, entendo que tal alegativa tampouco
merece prosperar. O Tribunal Superior Eleitoral entende que "para a
configuração do crime de corrupção eleitoral, além de ser necessária a
ocorrência de dolo específico, qual seja, obter ou dar voto, conseguir
ou prometer abstenção, é necessário que a conduta seja direcionada a
eleitores identificados ou identificáveis, e que o corruptor eleitoral
passivo seja pessoa apta a votar" (TSE - AgR-AI: 749719 RJ, Relator:
Min. MARIA THEREZA ROCHA DE ASSIS MOURA, Data de
Julgamento: 11/1212014, Data de Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Tomo 35, Data 23/02/2015, Página 54). Da leitura do
acórdão embargado, verifica-se que houve expressa manifestação
acerca da comprovação da identidade dos eleitores. 2.3 Quanto à
alegada obscuridade, dúvida e omissão no que diz respeito a suposta
redução da pena do crime de corrupção eleitoral (art. 299, CE),
entendo que tampouco assiste razão à embargante. De acordo com o
voto proferido pelo eminente relator Dr. José Vidal Silva Neto,
percebe-se que há manifestação expressa no sentido de exasperar a
pena-base acima do mínimo legal devido à reprovabilidade ou
culpabilidade da conduta da recorrente, posto que utilizou-se de bens
públicos (medicamentos) com o intuito de obter votos do eleitorado
local. Portanto, entendo que a pena-base foi devidamente fixada
acima do mínimo legal, posto que a recorrente distribuiu bens
públicos (medicamentos) com fins de obter votos dos eleitores do
município de Trairi, não havendo que se falar em omissão ou
obscuridade no acórdão proferido por esta egrégia Corte. 2.4 Ainda,
no tocante à do simetria da pena, a embargante alega que há omissão

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e/ou obscuridade no acórdão atacado, posto que não há que falar-se


em 07 (sete) crimes de corrupção eleitoral, mas tão somente 04
(quatro) fatos, devendo a pena ser reduzida. Todavia, tal assertiva não
merece prosperar. Analisando-se o acórdão, verifica-se que há
manifestação expressa quanto à prática dos crimes imputados à
embargante. 2.5 A embargante alega, também, que há omissão no
acórdão por não fazer referência ao trecho do parecer ministerial
quanto à apreensão de gêneros alimentícios na residência da
Recorrente, no qual o Parquet admite que os gêneros alimentícios não
seriam para captação ilícita de sufrágio. Entretanto, tal alegativa se
mostra frágil. Da análise do acórdão, percebe-se que há manifestação
expressa quanto à apreensão dos gêneros alimentícios. Destaco, por
oportuno, que o parecer ministerial não vincula as decisões do
magistrado, podendo o juiz divergir do Parquet em sua sentença,
desde que o faça de forma fundamentada e com base nas provas
colhidas nos autos, o que ocorreu in casu. 2.6 Quanto à alegada
omissão no acórdão sobre o crime de formação de quadrilha, entendo
igualmente que tal alegativa não merece prosperar. O crime de
associação criminosa, previsto no artigo 288 do Código Penal, exige,
para a sua configuração, o conluio de 03 (três) ou mais pessoas, de
forma estável e permanente, com o intuito de praticar crimes. As
provas acostadas aos autos confirmam a prática do referido delito pela
embargante, posto que a mesma teria, em associação com os outros
réus, praticado, ou tido a intenção de praticar, por diversas vezes, o
crime de corrupção eleitoral, a fim de obter os votos do eleitorado
local. Nesse sentido, percebe-se que há manifestação expressa no
acórdão quanto à condenação pelo crime de associação criminosa,
não havendo que se falar em omissão ou obscuridade nesse ponto.
Portanto, entendo que restou comprovado a prática do crime de
associação criminosa pela embargante, não restando omissão ou
contradição a ser sanada no acórdão. 2.7 Por fim, alega a embargante
que houve omissão no acórdão sobre matéria constitucional, pois
houve obtenção ilícita das provas apreendidas na residência do então
Prefeito Municipal de Trairi, por suposta ofensa à competência
originária desta egrégia Corte. Entretanto, tal alegativa não merece
tampouco prosperar. A suposta inconstitucionalidade quanto à
obtenção ilícita das provas obtidas na residência do então Prefeito
Municipal de Trairi não foi suscitada pela embargante em seu
respectivo recurso criminal. Não poderia, portanto, este Tribunal

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analisar outras questões não levantadas pela recorrente em seu


recurso, sob pena de afronta ao princípio processual da demanda,
previsto no art. 141 do Código de Processo Civil. Ademais, ainda que
hipoteticamente considerássemos ultrapassada tal premissa, o fato de
ser a investigante casada com uma pessoa detentora de prerrogativa
de foro, contra a qual não há investigação em curso, não é suficiente
para atrair a competência do Tribunal Regional Eleitoral ao caso.
Nesse sentido: STF - Rcl: 2101 DF, Relator: Min. ELLEN GRACIE,
Data de Julgamento: 01107/2002, Tribunal Pleno, Data de Publicação:
DJ 20-09-2002 PP-00088 EMENT VOL-02083-02 PP-00309. 2.8
Assim, da análise dos argumentos levantados pela embargante,
percebe-se que esta tenta, por diversas vezes, rediscutir o mérito do
acórdão atacado. Todavia, como se sabe, os embargos de declaração,
por serem dotados de fundamentação vinculada, somente são cabíveis
quando houver obscuridade, contradição ou omissão no acórdão,
conforme dispõe o art. 275 do Código Eleitoral e o art. 1.022 do
Código de Processo Civil, não sendo possível, portanto, a utilização
desta via recursal pata a rediscussão do mérito. 2.9 Por último, quanto
à propositura dos presentes embargos de declaração para fins de
prequestionamento, é necessário que as partes tenham se pronunciado
sobre a questão objeto de prequestionamento, a qual este Tribunal não
tenha apreciado ao proferir o acórdão, e que tenha havido alguma
contradição, obscuridade ou omissão no mesmo, a fim de que se
possa utilizar os presentes embargos de declaração para fins de
prequestionamento. Precedentes TRE-CE. 2.10 Neste sentido,
concluo que o acórdão atacado se encontra suficientemente
fundamentado, não padecendo de qualquer vício de omissão,
obscuridade ou contradição, o que inviabiliza a utilização dos
embargos de declaração para fins de prequestionamento.
3. Embargos de Declaração de ELIS REGINA VITAL. 3.1 Quanto à
suposta omissão referente à aferição do elemento subjetivo do tipo
penal do art. 299 do Código Eleitoral, tendo em vista que não houve a
comprovação, de forma clara e inconteste, do dolo específico do
crime de corrupção eleitoral, tal assertiva não merece prosperar.
Conforme já mencionado, o dolo específico do crime de corrupção
eleitoral configura-se com a entrega, o oferecimento, a promessa, a
solicitação ou o recebimento, para si ou para outrem, de dinheiro,
dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para

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conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita.


Portanto, da análise das provas acostadas nos autos, restou
comprovado o dolo específico da embargante ao entregar vantagem
ao Sr. CLAUDIANO GADELHA, no valor de R$ 1.000,00 (mil
reais), para que a esposa deste pudesse realizar uma cirurgia, tudo
com o fim de obter o voto do beneficiário. Ademais, a alegação de
que tal valor foi dado a título de empréstimo não desfigura o crime de
corrupção eleitoral, posto que o oferecimento ou a promessa de
qualquer vantagem, com o intuito de obter votos ou abstenção,
configura a prática do referido delito. 3.2 Quanto à suposta omissão
no tocante à comprovação da identidade do suposto eleitor
beneficiado, entendo que tal alegativa tampouco merece prosperar. O
Tribunal Superior Eleitoral entende que "para a configuração do
crime de corrupção eleitoral, além de ser necessária a ocorrência de
dolo específico, qual seja, obter ou dar voto, conseguir ou prometer
abstenção, é necessário que a conduta seja direcionada a eleitores
identificados ou identificáveis, e que o corruptor eleitoral passivo seja
pessoa apta a votar" (TSE - AgR-AI: 749719 RJ, Relator: Min.
MARIA THEREZA ROCHA DE ASSIS MOURA, Data de
Julgamento: 11/12/2014, Data de Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Tomo 35, Data 23/02/2015, Página 54). Desse modo, da
análise das provas presentes nos autos, percebe-se que há nos autos
um eleitor identificável, qual seja, Sr. CLAUDIANO GADELHA,
beneficiário da quantia de R$ 1.000,00 (mil reais), obtido para
realização da cirurgia de sua esposa. 3.3 Ademais, destaco que a
embargante assevera em suas razões recursais que esta Egrégia Corte
não teria apresentado argumentos ou provas plausíveis quanto à
identificação dos eleitores constantes nas receitas, nos medicamentos
ou gêneros alimentícios apreendidos. Contudo, destaco que a
embargante sequer foi condenada pela distribuição de medicamentos
ou de gêneros alimentícios aos eleitores do município de Trairi, o que
toma desconexa a alegação levantada nesse ponto, não havendo que
se falar, portanto, em omissão ou obscuridade no acórdão embargado.
3.4 Ainda, alega a embargante que há omissão no acórdão sobre o
crime de formação de quadrilha. Tal alegativa, se mostra igualmente
frágil. Há manifestação expressa no acórdão quanto à condenação
pelo crime de associação criminosa, não havendo que se falar em
omissão ou obscuridade nesse ponto. Portanto, entendo que restou
comprovado a prática do crime de associação criminosa pela

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embargante, não restando omissão ou contradição a ser sanada no


acórdão. 3.5 Alega, ainda, a embargante que houve omissão no
acórdão sobre a redução da pena do crime de corrupção eleitoral (art.
299, CE), aduzindo que deveriam sr afastadas ao caso as causas de
aumento de pena. Todavia, tal alegativa tampouco merece prosperar.
Da leitura do referido acórdão, percebe-se que há manifestação
expressa no sentido de exasperar a pena-base do crime de corrupção
eleitoral imputada à embargante pela proximidade que esta detinha
com a primeira dama do município de Trairi, a fim de exercer alguma
influência sob o eleitorado local. Portanto, entendo que a pena-base
foi devidamente fixada acima do mínimo legal, posto que a conduta
da embargante foi reprovável, não havendo, pois, que se falar em
omissão ou obscuridade no referido acórdão. 3.6 Ademais, alega a
embargante que existe evidente contradição e obscuridade na decisão
quanto à fixação do aumento da pena do art. 299 do Código Eleitoral
em razão da continuidade delitiva. No entanto, tal afirmativa se
mostra incoerente. Da leitura da sentença proferida pelo juízo a quo e
do acórdão proferido por esta egrégia Corte, percebe-se que não fora
imputada continuidade delitiva à pessoa da embargante, o que toma
desconexa a alegação levantada nesse ponto, não havendo que se
falar, portanto, em omissão ou obscuridade no acórdão embargado.
3.7 Assim, da análise dos argumentos levantados pela embargante,
percebe-se que esta tenta, por diversas vezes, rediscutir o mérito do
acórdão atacado. Todavia, como se sabe, os embargos de declaração,
por serem dotados de fundamentação vinculada, somente são cabíveis
quando houver obscuridade, contradição ou omissão no acórdão,
conforme dispõe o art. 275 do Código Eleitoral e o art. 1.022 do
Código de Processo Civil, não sendo possível, portanto, a utilização
desta via recursal para a rediscussão do mérito. 3.8 Por fim, quanto à
propositura dos presentes embargos de declaração para fins de
prequestionamento, é necessário que as partes tenham se pronunciado
sobre a questão objeto de prequestionamento, a qual este Tribunal não
tenha apreciado ao proferir o acórdão, e que tenha havido alguma
contradição, obscuridade ou omissão no mesmo, a fim de que se
possa utilizar os presentes embargos de declaração para fins de
prequestionamento. Precedentes TRE-CE. 3.9 Desta feita, concluo
que o acórdão atacado se encontra suficientemente fundamentado,
não padecendo de qualquer vício de omissão, obscuridade ou

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contradição, o que inviabiliza a utilização dos embargos de


declaração para fins de prequestionamento.
4. Embargos de Declaração de MARIA GORETE SOUTO PINTO.
4.1 Quanto à alegada omissão no acórdão sobre o crime de formação
de quadrilha, entendo que tal alegativa não merece prosperar. O crime
de associação criminosa, previsto no artigo 288 do Código Penal,
exige, para a sua configuração, o conluio de 03 (três) ou mais
pessoas, de forma estável e permanente, com o intuito de praticar
crimes. Dessa forma, percebe-se que há manifestação expressa no
acórdão quanto à condenação da embargante pelo crime de associação
criminosa, não havendo que se falar em omissão ou obscuridade
nesse ponto. 4.2 Por fim, quanto à propositura dos presentes
embargos de declaração para fins de prequestionamento, é necessário
que as partes tenham se pronunciado sobre a questão objeto de
prequestionamento, a qual este Tribunal não tenha apreciado ao
proferir o acórdão, e que tenha havido alguma contradição,
obscuridade ou omissão no mesmo, a fim de que se possa utilizar os
presentes embargos de declaração para fins de prequestionamento.
Precedentes TRE-CE. 4.3 Desse modo, concluo que o acórdão
atacado se encontra suficientemente fundamentado, não padecendo de
qualquer vício de omissão, obscuridade ou contradição, o que
inviabiliza a utilização dos embargos de declaração para fins de
prequestionamento.
5. Embargos de Declaração de FRANCISCO MAGNO
MAGALHÃES. 5.1 Quanto à alegada omissão no acórdão sobre o
crime de formação de quadrilha, entendo que tal alegativa não merece
prosperar. O crime de associação criminosa, previsto no artigo 288 do
Código Penal, exige, para a sua configuração, o conluio de 03 (três)
ou mais pessoas, de forma estável e permanente, com o intuito de
praticar crimes. Dessa forma, percebe-se que há manifestação
expressa no acórdão quanto à condenação do embargante pelo crime
de associação criminosa, não havendo que se falar em omissão ou
obscuridade nesse ponto. 5.2 Ademais, alega o embargante que houve
omissão quanto à fixação da pena-base do crime de corrupção
eleitoral, pois "o fato do embargante ser o beneficiário da suposta
corrupção eleitoral praticada, não autoriza a fixação da pena-base
acima do mínimo legal por tal fundamento, sob pena de se incorrer
em bis in idem, posto que tal circunstância já restou prevista para a

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fixação da pena mínima em abstrato". Todavia, tal alegação não


merece prosperar. Da leitura do voto do ilustre Relator, Dr. José Vidal
Silva Neto, houve expressa manifestação sobre o assunto, posto que
"a maior reprovação por ser o maior beneficiário da quadrilha
constitui fator completamente distinto da finalidade eleitoral dos
crimes. Fossem eles crimes sem finalidade eleitoral, manter-se-ia a
reprovação acentuada por ser o recorrente o destinatário e
beneficiário final dos atos praticados pela quadrilha". 5.3 Por fim,
quanto à propositura dos presentes embargos de declaração para fins
de prequestionamento, é necessário que as partes tenham se
pronunciado sobre a questão objeto de prequestionamento, a qual este
Tribunal não tenha apreciado ao proferir o acórdão, e que tenha
havido alguma contradição, obscuridade ou omissão no mesmo, a fim
de que se possa utilizar os presentes embargos de declaração para fins
de prequestionamento. Precedentes TRE-CE. 5.4 Desta feita, concluo
que o acórdão atacado se encontra suficientemente fundamentado,
não padecendo de qualquer vício de omissão, obscuridade ou
contradição, o que inviabiliza a utilização dos embargos de
declaração para fins de pn~~questionamento.
6. Embargos rejeitados.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos acima identificados, ACORDAM, os


Juízes do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará, fe'\ JJ)\C\v41V\id-~ Q , em conhecer
dos recursos de Embargos de Declaração, mas para NEGAR-LHES provimento, nos termos
do voto do Relator, que fica fazendo parte integrante desta decisão.

O
Sala das Sessões do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Ceará, em
Fortaleza, aos 09 dias do mês de março de 2018.

~ ~
CÁSSIO FELIPE GOES PACHECO
Juiz Relator

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RECURSO ELEITORAL 177-70.2016.6.06.0097 - CLASSE 31


PROCEDÊNCIA: TRAIRI-CE (97a ZONA ELEITORAL - TRAIRI)
PROTOCOLO: 142.368/2012
EMBARGANTES: SÍLVIA VIRGÍNIA VIANA AGUIAR
MARIA GORETE SOUTO PINTO
FRANCISCO MAGNO MAGALHÃES
ELIS REGINA VITAL
EMBARGADO: PROMOTOR ELEITORAL
RELATOR: JUIZ JOSÉ VIDAL SILVA NETO
RELATOR DESIGNADO: JUIZ CÁSSIO FELIPE GOES PACHECO

RELATÓRIO

Tratam os autos de recursos de Embargos de Declaração opostos por


SÍLVIA VIRGÍNIA VIANA AGUIAR (fls. 3628/3646), ELIS REGINA VITAL (fls.
3650/3667), MARIA GORETE SOUTO PINTO (fls. 3668/3682) e FRANCISCO MAGNO
MAGALHÃES (fls. 3683/3700), em face de acórdão de fls. 3566/3624, o qual concedeu
provimento parcial aos recurso eleitorais interpostos pelos ora embargantes.

Em sede de Embargos de Declaração (fls. 3628/3646), a embargante


SÍLVIA VIRGÍNIA VIANA AGUIAR alegou que a decisão proferida por este Tribunal
Regional apresentou os seguintes vícios:

(i) omissão quanto à aferição do elemento subjetivo do tipo penal do art. 299 do
Código Eleitoral, posto que não houve a comprovação, de forma clara e
inconteste, do dolo específico do crime de corrupção eleitoral, nem a comprovação
da identidade does) suposto(s) eleitor(es) beneficiado(s);

(ii) obscuridade, dúvida e omissão quanto à redução da pena do crime de corrupção


eleitoral (art. 299, CE), tendo em vista que:

a) não foi utilizado recurso público na compra dos medicamentos ou desviado tais
produtos do Município de Trairi;

b) não há que falar-se em 07 (sete) crimes de corrupção eleitoral, mas tão somente 04
(quatro) fatos, devendo a pena ser reduzida;

c) não há, no Acórdão, referência ao trecho do parecer ministerial quanto à acusação


oriunda da apreensão de gêneros alimentícios na residência da Recorrente, no qual
o Parquet admite que os gêneros alimentícios não seriam para captação ilícita de
sufrágio;

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(iii) omissão sobre o crime de formação de quadrilha, posto que não há provas de que
os recorrentes se associaram de forma estável, com fins de praticar crimes de
corrupção eleitoral; e

(iv) omissão sobre matéria constitucional, posto que houve obtenção ilícita das provas
apreendidas na residência do então Prefeito Municipal de Trairi, por suposta
ofensa à competência originária desta egrégia Corte.

Em sede de Embargos de Declaração (fls. 3650/3667), a embargante ELIS


REGINA VITAL alegou que a decisão proferida por este Tribunal Regional apresentou os
seguintes vícios:

(i) omissão quanto à aferição do elemento subjetivo do tipo penal do art. 299 do
Código Eleitoral, posto que não houve a comprovação, de forma clara e
inconteste, do dolo específico do crime de corrupção eleitoral, nem a comprovação
da identidade does) suposto(s) eleitor(es) beneficiado(s);

(ii) omissão sobre o crime de formação de quadrilha, posto que não há provas de que
os recorrentes se associaram de forma estável, com fins de praticar crimes de
corrupção eleitoral; e

(iii) obscuridade, dúvida e omissão quanto à redução da pena do crime de corrupção


eleitoral (art. 299, CE), a qual deve ser reduzida ao mínimo legal, já que afastadas
as causas de aumento de pena.

Em sede de Embargos de Declaração (fls. 3668/3682), a embargante


MARIA GORETE SOUTO PINTO alegou que a decisão proferida por este Tribunal
Regional apresentou o seguinte vício:

(i) omissão/contradição quanto à condenação pelo crime de formação de quadrilha,


posto que a embargante foi condenada por apenas um único fato delituoso, que é
incapaz de configurar a prática do referido crime.

Em sede de Embargos de Declaração (fls. 3683/3700), o embargante


FRANCISCO MAGNO MAGALHÃES alegou que a decisão proferida por este Tribunal
Regional apresentou os seguintes vícios:

(i) omissão/contradição quanto à condenação pelo crime de formação de quadrilha,


posto que o embargante foi condenado por apenas um único fato delituoso, que é
incapaz de configurar a prática do referido crime; e

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(ii) omissão quanto à fixação da pena-base do crime de corrupção eleitoral, pois "o
fato do embargante ser o beneficiário da suposta corrupção eleitoral praticada, não
autoriza a fixação da pena-base acima do mínimo legal por tal fundamento, sob
pena de se incorrer em bis in idem, posto que tal circunstância já restou prevista
para a fixação da pena mínima em abstrato".

À fl. 3701, proferi despacho determinando a intimação da parte embargada


para apresentar contrarrazões no prazo legal.

Em sede de Contrarrazões, às fls. 3703/3726, a douta Procuradoria


Regional Eleitoral desta Egrégia Corte entendeu que "as pretensões deduzidas nos quatro
recursos apresentados limitam-se a buscar rediscutir o mérito do acórdão, trazendo ora teses
já discutidas no julgamento do recurso, ora novas teses defensivas não apresentadas
oportunamente pela defesa, com o firme propósito de obter um novo julgamento da
demanda". Opina, então, pelo conhecimento e não provimento dos embargos.

É o relatório.

VOTO
Os presentes recursos merecem ser conhecidos, eis que presentes OS

pressupostos de admissibilidade, sobretudo a adequação e a tempestividade.

Conforme relatado, tratam os autos de recurso de Embargos de Declaração


opostos por SÍLVIA VIRGÍNIA VIANA AGUIAR (fls. 3628/3646), ELIS REGINA VITAL
(fls. 3650/3667), MARIA GORETE SOUTO PINTO (fls. 3668/3682) e FRANCISCO
MAGNO MAGALHÃES (fls. 3683/3700), em face de acórdão de fls. 3566/3624, o qual
concedeu provimento parcial aos recurso eleitorais interpostos pelos ora embargantes.

Inicialmente, destaco que as pretensões deduzidas dos quatro embargos,


como bem asseverado pelo douto Procurador Regional Eleitoral desta Egrégia Corte,
"limitam-se a buscar rediscutir o mérito do acórdão, trazendo ora teses já discutidas no
recurso, ora novas teses não apresentadas oportunamente pela defesa, com o firme propósito
de obter um novo julgamento da demanda".

Neste azo, a inovação de tese de recursal, em sede de embargos é incabível,


conforme precedentes do Tribunal Superior Eleitoral. Nesse sentido: TSE - ED-AgR-AI:
14852 RJ, Relator: Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Data de Julgamento: 07/11/2013,
Data de Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 24, Data 04/02/2014, Página
67; TSE - ED-ED-ED-AgR-RO: 178285 MG, Relator: Min. LUIZ FUX, Data de

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Julgamento: 05/03/2015, Data de Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 84,
Data 06/05/2015, Página 145.

Passo agora a análise das razões recursais apresentadas por cada um dos
embargantes.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DE SÍLVIA VIRGÍNIA VIANA


AGUIAR

Inicialmente, alega a embargante, às fls. 3628/3646, que a decisão proferida


por este Tribunal Regional apresentou os seguintes vícios:

(i) omissão quanto à aferição do elemento subjetivo do tipo penal do art. 299 do
Código Eleitoral, posto que não houve a comprovação, de forma clara e
inconteste, do dolo específico do crime de corrupção eleitoral, nem a comprovação
da identidade does) suposto(s) eleitor(es) beneficiado(s);

(ii) obscuridade, dúvida e omissão quanto à redução da pena do crime de corrupção


eleitoral (art. 299, CE), tendo em vista que:

a) não foi utilizado recurso público na compra dos medicamentos ou desviado


tais produtos do Município de Trairi;

b) não há que falar-se em 07 (sete) crimes de corrupção eleitoral, mas tão


somente 04 (quatro) fatos, devendo a pena ser reduzida;

c) não há, no Acórdão, referência ao trecho do parecer ministerial quanto à


acusação oriunda da apreensão de gêneros alimentícios na residência da
Recorrente, no qual o Parquet admite que os gêneros alimentícios não
seriam para captação ilícita de sufrágio;

(iii) omissão sobre o crime de formação de quadrilha, posto que não há provas de que
os recorrentes se associaram de forma estável, com fins de praticar crimes de
corrupção eleitoral; e

(iv) omissão sobre matéria constitucional, posto que houve obtenção ilícita das provas
apreendidas na residência do então Prefeito Municipal de Trairi, por suposta
ofensa à competência originária desta egrégia Corte.

Não merecem prosperar os argumentos da embargante. Explico.

12
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Quanto à suposta omissão referente à aferição do elemento subjetivo do


tipo penal do art. 299 do Código Eleitoral, tal assertiva não merece prosperar, senão
vejamos.

o dolo específico do cnme de corrupção eleitoral configura-se com a


entrega, o oferecimento, a promessa, a solicitação ou o recebimento, para si ou para outrem,
de dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou
prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita. Desse modo, "a verificação do dolo
específico em cada caso é feita de forma indireta, por meio da análise das circunstâncias de
fato, tais como a conduta do agente, a forma de execução do delito e o meio empregado"l.

Portanto, da análise das provas acostadas aos autos, restou comprovado o


dolo específico da embargante ao conceder vantagem ao Sr. CLAUDIANO GADELHA, no
valor de R$ 1.000,00 (mil reais), para que a esposa deste pudesse realizar uma cirurgia, com
o fim de obter o voto do beneficiário.

Ainda, a alegação de que tal valor foi dado a título de empréstimo não
desfigura o crime de corrupção eleitoral, posto que o oferecimento ou a promessa de qualquer
vantagem, com o intuito de obter votos ou abstenção, configura a prática do referido delito.

Nesse sentido, destaco trechos do voto do eminente Relator, Dr. José Vidal
Silva Neto, o qual repousa às fls. 3539/3540:

"Em ligação da recorrente Sílvia Virgínia, com Elis Regina, interceptada neste
dia de 21/08/2012, às 08:10 hrs, ficou patenteada a finalidade eleitoral da
vantagem concedida a Claudiano Gadelha pelos acusados.

Ao ser indagada por Sílvia Virgínia se tinha ido deixar o dinheiro para a
operação da mulher do Gadelha, Elis Regina confirmou que entregou o
dinheiro nas mãos de Claudiano Gadelha. Além do mais, Elis Regina prossegue
dizendo que esclareceu a Gadelha que o valor tinha sido dado por Virgínia e
por Magno, meio a meio, ao que Gadelha respondeu "Ali é gente" e Elis
Regina completou "ali é gente que merece um voto".

Inequívoca a subsunção da conduta de Sílvia Virgínia, juntamente com os


demais acusados, no tipo de corrupção eleitoral.

A alegação da defesa de que a quantia não teria sido doada, mas emprestada, e
que o empréstimo foi devolvido, não desconstitui o delito, para o qual basta
------------------
1 Nesse sentido: TSE - AgR-AI: 7758 SE, Relator: Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento:
29/02/2012

.~
l3
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que haja o oferecimento ou promessa de alguma vantagem, como na espécie.


Qualquer vantagem dada em troca de voto, ainda que a título de um
empréstimo em dinheiro, caracteriza a corrupção eleitoral. Não é necessário
que o dinheiro seja dado em definitivo, sem a condição de ulterior devolução.

Suficiente para incidir o tipo de corrupção que seja prometido o empréstimo


para a obtenção de voto de eleitor que precisava da quantia, dada ou
emprestada que fosse, o quanto antes, para a cirurgia de sua mulher".

Assim, entendo que não há omissão quanto à análise do dolo da recorrente,


posto que este Tribunal fundamentou a sua decisão com base nas provas acostadas aos autos.
Como bem destacou a douta Procuradoria Regional desta egrégia Corte, às fls. 3703/3726,
"( ...) não se trata de omissão, visto que houve pronunciamento do órgão julgador sobre o
assunto, considerando que o arcabouço probatório juntado aos autos embasava a decisão pela
tipificação do delito do art. 299 do Código Eleitoral".

Ademais, no que diz respeito à suposta omlssao no tocante à


comprovação da identidade do suposto eleitor beneficiado, entendo que tal alegativa
tampouco merece prosperar. Explico.

o Tribunal Superior Eleitoral entende que "para a configuração do crime de


corrupção eleitoral, além de ser necessária a ocorrência de dolo específico, qual seja, obter ou
dar voto, conseguir ou prometer abstenção, é necessário que a conduta seja direcionada a
eleitores identificados ou identificáveis, e que o corruptor eleitoral passivo seja pessoa apta a
votar" (TSE - AgR-AI: 749719 RJ, Relator: Min. MARIA THEREZA ROCHA DE ASSIS
MOURA, Data de Julgamento: 11/12/2014, Data de Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Tomo 35, Data 23/0212015, Página 54).

Logo, da leitura do acórdão embargado, verifica-se que houve expressa


manifestação acerca da comprovação da identidade dos eleitores, conforme leitura do trecho
do voto do eminente Relator, Dr. José Vidal Silva Neto, abaixo transcrito (fl. 3541):

"Além disso, foram apreendidas na residência da recorrente 24 (vinte e quatro)


caixas de medicamentos com receitas de pacientes diversos, outros 53
(cinquenta e três) remédios, além de 13 (treze) receitas médicas e 18 (dezoito)
formulários de receitas, preenchidos em nome de beneficiários
individualizados. (grifo nosso)

Esta grande quantidade de medicamentos, armazenados na residência da


recorrente, para entrega e distribuição a uma série de beneficiários e eleitores,
exatamente no período eleitoral, evidencia que ela, juntamente com o marido,

14
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ofereceram medicamentos a estas pessoas, cujos nomes estavam claramente


individualizados nos formulários e receitas apreendidos, para obter-lhes o
voto. (grifo nosso)"

Assim, corroboro o entendimento da douta Procuradoria Regional Eleitoral


desta Egrégia Corte no sentido de que "a grande quantidade de medicamentos encontrados na
casa da recorrente, muitos dos quais atrelados a receitas médicas, no período de campanha
eleitoral, evidencia que ela prometeu medicamentos a eleitores em troca do voto, em favor da
candidatura do acusado Francisco Magno".

Quanto à alegada obscuridade, dúvida e omissão no que diz respeito a


suposta redução da pena do crime de corrupção eleitoral (art. 299, CE), entendo que
tampouco assiste razão à embargante.

De acordo com o voto proferido pelo eminente relator Dr. José Vidal Silva
Neto, percebe-se que há manifestação expressa no sentido de exasperar a pena-base acima do
mínimo legal devido à reprovabilidade ou culpabilidade da conduta da recorrente, posto que
utilizou-se de bens públicos (medicamentos) com o intuito de obter votos do eleitorado local,
consoante a leitura do trecho colacionado abaixo (fl. 3544):

"De fato, a reprovabilidade da conduta da recorrente foi intensa, em vista de ela


se valer de posição de influência na Prefeitura para desviar bens e serviços,
medicamentos, para ser mais específico, utilizando-os para os fins espúrios de
aliciamento indevido de votos de miseráveis, que teriam direito de recebê-los
gratuitamente no SUS".

Destaco, ainda, que tal exasperação foi embasada no próprio testemunho da


recorrente, que admitiu a autoria e a materialidade da conduta praticada, conforme a leitura
dos seguintes trechos do voto proferido pelo ilustre relator (fls. 3541/3542):
"Patente que a recorrente, valendo-se de sua posição privilegiada junto à
Prefeitura, embora não exercesse qualquer cargo oficial, retinha sob sua posse e
controle medicamentos adquiridos pelo Poder Público, para poder distribuí-los
seletivamente aos eleitores no período eleitoral e conquistar-lhes o favor e o
voto. Ela o confessa sem rebuços em seu interrogatório emjuízo:

'Que as caixas de medicamentos apreendidos na casa da interroganda eram da


Secretaria Municipal de Ação Social. Que a interroganda não se recorda da
quantidade de caixas que estavam em sua casa. Que a interroganda não
exercia o cargo de Secretaria da Ação Social e afirma que esses medicamentos
estavam em sua casa, no período eleitoral, em razão de atividades
filantrópicas que eram realizadas pela interroganda... que a interroganda

15
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corifirma que dava remédios para as pessoas fora e durante o período


eleitoral'.

Interessante que a recorrente não se acanha em admitir que sua suposta


'filantropia' era feita com medicamentos adquiridos pelo Município de Trairi e
que deveriam ter sido distribuídos no âmbito institucional da rede pública de
saúde, e não desviados para simular generosidade proveitosa do marido e dela,
exatamente durante a campanha eleitoral".

Portanto, entendo que a pena-base foi devidamente fixada acima do mínimo


legal, posto que a recorrente distribuiu bens públicos (medicamentos) com fins de obter votos
dos eleitores do município de Trairi, não havendo que se falar em omissão ou obscuridade no
acórdão proferido por esta egrégia Corte.

Ainda, no tocante à dosimetria da pena, a embargante alega que há omissão


e/ou obscuridade no acórdão atacado, posto que não há que falar-se em 07 (sete) crimes de
corrupção eleitoral, mas tão somente 04 (quatro) fatos, devendo a pena ser reduzida. Todavia,
tal assertiva não merece prosperar. Explico.

Analisando-se o acórdão, verifica-se que há manifestação expressa quanto à


prática dos crimes imputados à embargante, conforme a leitura dos seguintes trechos do voto-
vista, no qual entendi pela existência de continuidade delitiva, na forma do art. 71, do Código
2
Penal (fls. 3584/3585):

"Ademais, verifica-se no presente caso que o juiz a quo corretamente


reconheceu a existência de continuidade delitiva quanto aos vários crimes
praticados pela ré SÍLVIA VIRGÍNIA VIANA AGUIAR, aplicando o disposto
no art. 71, do Código Penal.

Conforme anteriormente mencionado, é pacífica a jurisprudência do Superior


Tribunal de Justiça, no sentido de que em se tratando de aumento de pena
referente à continuidade delitiva, deve-se aplicar a fração de aumento de 1/6
pela prática de 2 infrações; 1/5, para 3 infrações; 1/4, para 4 infrações; 1/3, para

2Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma
espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes
ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais
grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. (Redação dada pela Lei nO7.209, de
11.7.1984)

Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave
ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art.
75 deste Código.(Redação dada pela Lei n° 7.209, de 11.7.1984)

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5 infrações; 1/2, para 6 infrações; e 2/3, para 7 ou mais infrações. (STJ - HC:
265385 SP 2013/0052034-2, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, Data de Julgamento: 08/04/2014, T6 - SEXTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 24/04/2014)

Da análise dos autos, monnente da sentença prolatada, verifica-se a evidente


participação da recorrente em, pelo menos, 7 (sete) crimes de corrupção
eleitoral, senão vejamos os trechos da sentença abaixo transcrita:

'Conforme sustentado na denúncia, a denunciada Sílvia Virgínia atuava como


verdadeira "prefeita de fato" do Município de Trairi, detendo poder de influência e de
decisão sobre bens e pessoal da prefeitura municipal. Afrrma ainda que a mesma,
juntamente com o denunciado Francisco Magno Magalhães, deram R$ 1.000,00 para
operação da pessoa de Claudiano Gadelha e Sena, tudo agenciado e intermediado por
Elis Regina e Maria Gorete. Sustentou também que na residência da mesma foram
apreendidas 57 caixas de medicamentos, muitos dos quais com beneficiários já
identificados além de centenas de gêneros alimentícios e sacos de preparação de cestas
básicas, numa clara demonstração que seriam utilizados para obtenção de votos.

Em depoimento prestado às fls. 827/828, Claudiano Gadelho de Souza confirma parte


das imputações feitas pelo Ministério Público Eleitoral, ao afirmar que no dia 21 de
agosto de 2012 a acusada Elis Regina Vital entregou para a mãe do depoente o valor de
quinhentos reais, o qual foi utilizado para pagamento de uma cirgurgia na esposa do
depoente, Daniela Maria. Confirmou ainda ter conhecimento de que citada quantia
vinha da própria acusada Sílvia Virginia, posto que pediu dinheiro para a própria
denunciada. Afrrmou também que Francisco Magno, através da denunciada Maria
Gorete, colaborou com mais quinhentos reais para viabilizar a cirurgia da esposa do
dpoente. Mais adiante, informou ter recebido uma ligação de Elis Regina no dia 21 de
agosto de 2012, onde esta disse que o valor teria sido dado por Virgínia e por Magno,
meio a meio. Disse ainda que Virgínia, Elis Regina e Gorete estavam todas engajadas
na campanha de Francisco Magno, exercendo importante papel na citada campanha
política. Ao fim, disse que Francisco Magno erro (sic) candidato a prefeito. ( ... )

Demonstrando nítido intuito de cooptação de voto através da doação acima apontada,


denota-se a existência de uma ligação telefônica entre Sílvia Virgínia e Elis Regina no
dia 21.08.12, às 08:lOhrs, onde Virgínia indaga a Regina se ela foi deixar o dinheiro
para operação da mulher do Gadelha, no que Regina confirma que entregou o dinheiro
nas mãos da mão (sic) do Gadelha. ( ... )

Demais disso, consoante se depreende às fls. 164/169 foram apreendidos na residência


de Sílvia Virgínia treze receitas médicas de diversos pacientes, encontrados dentro de
uma caixa de medicamentos na sala da residência; vinte e quatro pacotes de
medicamentos diversos com receita diversa; cinquenta e três caixas de medicamentos
variados e dois vidros de remédios, além de dezoito formulários de receitas médicas
preenchidos em nome de diversos pacientes. (...)

Some-se a isso o depoimento de Narcélio Santos de Castro, ouvido às fls. 825/826, o


qual afrrmou residir na casa de Sílvia Virgínia há seis anos, tendo dito ainda que

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referidos medicamentos eram para ajudar o povo, pois a Prefeitura não dava mais
remédios (... ) A própria denunciada Silvia Virgínia, embora tenha negado a prática do
crime de corrupção eleitoral, conflrmou em seu interrogatório prestado às fls.
1.057/1.059 que citados medicamentos estavam em sua casa no período eleitoral em
razão de atividades fllantrópicas que eram realizadas pela mesma, evidenciando ainda
mais a distribuição desses medicamentosjustamento no período eleitoral (... )'.

Neste diapasão, observando O universo de 7 infrações ou mais cometidas pela


ré, deve-se considerar o aumento de 2/3 (dois terços), resultando na pena para o
crime corrupção eleitoral em 2 (dois) anos 4 (quatro) mês e 10 (dez) dias de
reclusão" .

Logo, perfilho do entendimento da douta Procuradoria Regional Eleitoral


desta Egrégia Corte no sentido de que "( ...) considerando que foram encontradas 24 caixas de
medicamentos com receitas além de 13 receitas médicas e 18 formulários de receitas médicas
na residência da embargante, resta evidenciada prática de diversas promessas de benesse em
troca de votos, em número muito superior a 7.. Mesmo desconsiderando as outras condutas
imputadas à embargante nos autos, somente este ponto já justifica a incidência do maior
aumento permitido pelo art. 71 do Código Penal".

A embargante alega, também, que há omissão no acórdão por não fazer


referência ao trecho do parecer ministerial quanto à apreensão de gêneros alimentícios na
residência da Recorrente, no qual o Parquet admite que os gêneros alimentícios não seriam
para captação ilícita de sufrágio. Entretanto, tal alegativa se mostra frágil, senão vejamos.

Da análise do acórdão, percebe-se que há manifestação expressa quanto à


apreensão dos gêneros alimentícios, consoante a leitura do seguinte trecho, à fI. 3542:

"Quanto ao grande sortimento de mantimentos encontrados na residência da


acusada, entendo que há sérios indícios de prática de crime eleitoral em relação
a tais mercadorias, em virtude de terem sido encontrados fardos e envoltórios
para embalar os gêneros em cestas básicas, que seriam distribuídas a eleitores
indeterminados. Ou seja, não haveria o consumo destes alimentos na casa da
denunciada" .

Destaco, por oportuno, que o parecer ministerial não vincula as decisões do


magistrado, podendo o juiz divergir do Parquet em sua sentença, desde que o faça de forma
fundamentada e com base nas provas colhidas nos autos, o que ocorreu in casu.

Assim, corroboro o entendimento da douta Procuradoria Regional Eleitoral


desta Egrégia Corte, posto que "( ...) embora não se tenha refutado especificamente a posição
adotada pelo Parquet Eleitoral, o julgado justificou de maneira adequada as provas que

18
r

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embasaram a convicção pela configuração do delito, não havendo que se falar em omissão no
presente caso".

Quanto à alegada omissão no acórdão sobre o crime de formação de


quadrilha, entendo igualmente que tal alegativa não merece prosperar. Explico.

o crime de associação criminosa, previsto no artigo 288 do Código Penal3,


exige, para a sua configuração, o conluio de 03 (três) ou mais pessoas, de forma estável e
permanente, com o intuito de praticar crimes. As provas acostadas aos autos confirmam a
prática do referido delito pela embargante, posto que a mesma teria, em associação com os
outros réus, praticado, ou tido a intenção de praticar, por diversas vezes, o crime de corrupção
eleitoral, a fim de obter os votos do eleitorado local.

Como bem destacou a douta Procuradoria Regional Eleitoral desta Egrégia


Corte, "a circunstância de os fatos terem ocorrido durante o período eleitoral, não inibe a
caracterização da estabilidade e da permanência exigidas pelo tipo penal em apreço. O art.
288, do Código Penal, não estabelece um prazo mínimo de duração da associação para que se
caracterize uma quadrilha. No caso, verifica-se que os réus se associaram para a prática de
corrupção eleitoral e de utilização da máquina pública, em beneficio da candidatura de
Francisco Magno a Prefeito Municipal, evidenciando-se a estabilidade e a permanência da
associação no engajamento de todos, ao longo do tempo, na prática de inúmeras condutas
criminosas, com conhecimento e apoio mútuos, para a consecução desse projeto".

Nesse sentido, percebe-se que há manifestação expressa no acórdão quanto


à condenação pelo crime de associação criminosa, não havendo que se falar em omissão ou
obscuridade nesse ponto, consoante a leitura dos trechos colacionados abaixo:

"Passando ao crime de quadrilha, os elementos de prova dos autos refletem a


adesão da recorrente, com Francisco Magno, Euclides, Elis Regina e Gorete,
para a prática reiterada, e em conjunção concatenada de esforços, de crimes
eleitorais, como a distribuição ampla de medicamentos a um sem número de
eleitores, visando aliciá-los.

o fato de a junçãode esforços criminosos ter se dado apenas durante o período


das eleições não afasta a continuidade e constância da ação orquestrada da

3 Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fIm específIco de cometer crimes: (Redação dada
pela Lei nO 12.850, de 2013) (Vigência)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei n° 12.850, de 2013) (Vigência)
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação
de criança ou adolescente. (Redação dada pela Lei n° 12.850, de 2013) (Vigência)

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quadrilha. O crime de quadrilha não ostenta um prazo mínimo para seu


aperfeiçoamento.

Sílvia Virgínia formou quadrilha estável e permanente com os acusados


Euclides Andrade de Castro, Elis Regina Vital, Maria Gorete Souto Pinto e
Francisco Magno Magalhães, que tinha por objetivo usar a máquina pública,
praticando, entre outras inúmeras condutas, o armazenamento e retenção em
sua residência de medicamentos da rede pública para distribuição exclusiva
entre os eleitores de Francisco Magno Magalhães".

Portanto, entendo que restou comprovado a prática do crime de associação


criminosa pela embargante, não restando omissão ou contradição a ser sanada no acórdão.

Por ftm, alega a embargante que houve omissão no acórdão sobre matéria
constitucional, pois houve obtenção ilícita das provas apreendidas na residência do então
Prefeito Municipal de Trairi, por suposta ofensa à competência originária desta egrégia Corte.
Entretanto, tal alegativa não merece tampouco prosperar, senão vejamos.

A suposta inconstitucionalidade quanto à obtenção ilícita das provas obtidas


na residência do então Prefeito Municipal de Trairi não foi suscitada pela embargante em seu
respectivo recurso criminal. Não poderia, portanto, este Tribunal analisar outras questões não
levantadas pela recorrente em seu recurso, sob pena de afronta ao princípio processual da
demanda, previsto no art. 141 do Código de Processo Civil, abaixo transcrito:

Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe
vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige
iniciativa da parte.

Nesse sentido, se posiciona o Superior Tribunal de Justiça, conforme leitura


da ementa abaixo colacionada:

PROCESSUAL PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO


REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. REDISCUSSÃO DA
MATÉRIA. IMPOSSIBILIDADE. INOVAÇÃO RECURSAL. EMBARGOS
DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. 1. Os embargos de declaração não
são recurso de revisão e devem atender aos seus requisitos, quais sejam,
suprir omissão, contradição ou obscuridade. Inexistindo qualquer um
desses elementos essenciais, deve ser rejeitado o incidente declaratório. 2.
É vedado, em sede de embargos de declaração, ampliar a quaestio
veiculada no recurso, inovando questões não suscitadas anteriormente
PODER JUDICIÁRIO FEDERAL
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(precedentes). Embargos de declaração rejeitados. (STJ - EDcl no AgRg


nos EAREsp: 499036 SC 2014/0083470-1, Relator: Ministro FELIX
FISCHER, Data de Julgamento: 22/04/2015, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data
de Publicação: DJe 04/05/2015) (grifo nosso).

Logo, perfilho do entendimento da douta Procuradoria Regional Eleitoral


desta Egrégia Corte, pois "não obstante a possibilidade de opor embargos declaratórios para
prequestionar a matéria, nota-se que a embargante inovou em sede de embargos, ou seja, a
matéria que pretende questionar não foi objeto das razões de recurso eleitoral, o que impede o
acolhimento do recurso para fins de prequestionamento".

Ademais, ainda que hipoteticamente considerássemos ultrapassada tal


premissa, o fato de ser a investigante casada com uma pessoa detentora de prerrogativa de
foro, contra a qual não há investigação em curso, não é suficiente para atrair a competência
do Tribunal Regional Eleitoral ao caso.

É assente na jurisprudência pátria, mormente do Supremo Tribunal Federal,


que "a simples menção de nomes de parlamentares, por pessoas que estão sendo investigadas
em inquérito policial, não tem o condão de ensejar a competência do Supremo Tribunal
Federal para o processamento do inquérito, à revelia dos pressupostos necessários para tanto
dispostos no art. 102, I, b da Constituição". (STF - Rcl: 2101 DF, Relator: Min. ELLEN
GRACIE, Data de Julgamento: 01107/2002, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 20-09-
2002 PP-00088 EMENT VOL-02083-02 PP-00309).

Assim, da análise dos argumentos levantados pela embargante, percebe-se


que esta tenta, por diversas vezes, rediscutir o mérito do acórdão atacado. Todavia, como se
sabe, os embargos de declaração, por serem dotados de fundamentação vinculada, somente
são cabíveis quando houver obscuridade, contradição ou omissão no acórdão, conforme
dispõe o art. 275 do Código Eleitoral4 e o art. 1.022 do Código de Processo CiviP, não sendo
possível, portanto, a utilização desta via recursal para a rediscussão do mérito.

Por último, quanto à propositura dos presentes embargos de declaração para


fins de prequestionamento, é necessário que as partes tenham se pronunciado sobre a questão
objeto de prequestionamento, a qual este Tribunal não tenha apreciado ao proferir o acórdão,
e que tenha havido alguma contradição, obscuridade ou omissão no mesmo, a fim de que se
possa utilizar os presentes embargos de declaração para fins de prequestionamento.

4Art. 275. São admissíveis embargos de declaração nas hipóteses previstas no Código de Processo Civil. (...)
5Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: I - esclarecer obscuridade ou

eliminar contradição; II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício
ou a requerimento; III - corrigir erro material. (...)

~ 21
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Desse modo, foi esse o entendimento deste Egrégio Tribunal nos julgados
transcritos a seguir:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. REPRESENTAÇÃO. PROPAGANDA


IRREGULAR. OMISSÃO E CONTRADIÇÃO. NÃO CONFIGURADAS.
REDISCUSSÃO DO mLGADO. IMPOSSIBILIDADE.
PREQUESTIONAMENTO. INVIABILIDADE. 01. Ausentes os vícios de
omissão e contradição apontados pelo embargante, a rejeição dos embargos
de declaração é medida que se impõe. Recurso que não se presta para a
rediscussão do julgado. 02. Os embargos de declaração, ainda que para
fins de prequestionamento, deve demonstrar a presença dos requisitos de
admissibilidade, consoante previsão do art. 275 do Código Eleitoral, o
que não se verificou na espécie. 03. Recurso conhecido e desprovido. (TRE-
CE - 42: 404794 CE, Relator: FRANCISCO LUCIANO LIMA
RODRIGUES, Data de Julgamento: 25/10/2010, Data de Publicação: DJE -
Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 198, Data 29/10/2010, Página 8/9).

* * *
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO ELEITORAL. OMISSÃO.
CONTRADIÇÃO. OBSCURIDADE. INEXISTÊNCIA. ACÓRDÃO
MANTIDO. EMBARGOS REJEITADOS. 1. Não verificada a ocorrência de
obscuridade, contradição ou omissão no Acórdão embargado, devem ser
rejeitados os Embargos de Declaração. 2. A decisão colegiada, que analisa
com integridade e precisão as alegações apresentadas por ocasião do recurso
interposto, não comporta o oferecimento dos mesmos questionamentos. 3.
Não existindo as hipóteses do art. 275, do Código Eleitoral, descabe a
pretensão de prequestionamento. Precedente do TSE - Embargos de
Declaração em Recurso Especial Eleitoral nO35589. 4. Embargos rejeitados.
(TRE-CE - RE: 5752 CE, Relator: REGINALDO CASTELO BRANCO
ANDRADE, Data de Julgamento: 18/04/2016, Data de Publicação: DJE -
Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 72, Data 20/04/2016, Página 6).

* * *
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO ELEITORAL. ART. 1°,
INCISO I, ALÍNEA "G" DA LC 64/1990. OMISSÃO. OBSCURIDADE.
CONTRADIÇÃO. NÃO CONFIGURAÇÃO. REDISCUSSÃO DO
mLGADO. IMPOSSIBILIDADE. PREQUESTIONAMENTO.
IMPRESTABILIDADE. NÃO PROVIMENTO. 1. Ausentes os vícios de erro
material, obscuridade, contradição ou omissão apontados pelo embargante,
impõe-se a rejeição dos embargos de declaração, pois não se prestam à
rediscussão do julgado. 2. Não se admitem embargos de declaração com a
finalidade de prequestionamento, quando não existem vícios na decisão

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embargada. 3. O julgador não está obrigado a responder a todas as questões


suscitadas pelas partes, quando já tenha encontrado motivo suficiente para
proferir a decisão. A prescrição trazida pelo art. 489 do CPC/20l5 veio
confmnar a jurisprudência já sedimentada pelo Colendo Superior Tribunal de
Justiça, sendo dever do julgador apenas enfrentar as questões capazes de
infirmar a conclusão adotada na decisão recorrida. (EDcl no MS n°
21.3l5/DF, Primeira Seção, Rela• Ministra DIVA MALERBI
Desembargadora Convocada TRF 3a Região, publicado DJe de 15/06/2016).
4. Embargos de declaração conhecidos e não providos. (TRE-CE - RE: 8632
FORTALEZA - CE, Relator: ALCIDES SALDANHA LIMA, Data de
Julgamento: 24110/2016, Data de Publicação: PSESS - Publicado em Sessão,
Data 24/10/2016).

Neste sentido, concluo que o acórdão atacado se encontra suficientemente


fundamentado, não padecendo de qualquer vício de omissão, obscuridade ou contradição, o
que inviabiliza a utilização dos embargos de declaração para fins de prequestionamento.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DE ELIS REGINA VITAL

Inicialmente, alega a embargante, às fls. 3650/3667, que a decisão proferida


por este Tribunal Regional apresentou os seguintes vícios:

(i) omissão quanto à aferição do elemento subjetivo do tipo penal do art. 299
do Código Eleitoral, posto que não houve a comprovação, de forma clara e
inconteste, do dolo específico do crime de corrupção eleitoral, nem a
comprovação da identidade does) suposto( s) eleitor( es) beneficiado( s);

(ii) omissão sobre o crime de formação de quadrilha, posto que não há provas
de que a ré teria se associado aos recorrentes de forma estável, com fins de
praticar crimes de corrupção eleitoral; e

(iii) obscuridade, dúvida e omissão quanto à redução da pena do c~ime de


corrupção eleitoral (art. 299, CE), a qual deve ser reduzida ao mínimo ~egal, já
que afastadas as causas de aumento de pena.

Não merecem prosperar os argumentos da embargante. Explico.

Quanto à suposta omissão referente à aferição do elemento subjetivo do


tipo penal do art. 299 do Código Eleitoral, tendo em vista que não houve a comprovação,
de forma clara e inconteste, do dolo específico do crime de corrupção eleitoral, tal assertiva
não merece prosperar, senão vejamos.

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Conforme já mencionado, o dolo específico do crime de corrupção eleitoral


configura-se com a entrega, o oferecimento, a promessa, a solicitação ou o recebimento, para
si ou para outrem, de dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e
para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita.

Portanto, da análise das provas acostadas nos autos, restou comprovado o dolo
específico da embargante ao entregar vantagem ao Sr. CLAUDIANO GADELHA, no valor
de R$ 1.000,00 (mil reais), para que a esposa deste pudesse realizar uma cirurgia, tudo com o
fim de obter o voto do beneficiário.

Ademais, a alegação de que tal valor foi dado a título de empréstimo não
desfigura o crime de corrupção eleitoral, posto que o oferecimento ou a promessa de qualquer
vantagem, com o intuito de obter votos ou abstenção, configura a prática do referido delito.

Nesse sentido, destaco trechos do voto do ilustre Relator, Dr. José Vidal Silva
Neto, o qual repousa à fi. 3526:

"Com efeito, referida acusada era o braço direito na campanha eleitoral e foi
co-autora de Sílvia Vírgina e Francisco Magno, em conduta de corrupção
eleitoral consistente na entrega de R$ 1.000,00 (mil) reais, metade enviada por
Sílvia Virgínia, a outra por Francisco Magno, destinada a Claudiano Gadelha,
para a realização de uma cirurgia na esposa deste, Daniela Maria, com claro
fins eleitorais.

Claudiano Gadelha confirma, tanto na fase do inquérito, como em juízo (fls.


818-819 e 822-823) que recebeu o dinheiro de Sílvia Virgínia e Francisco
Magno.

Esta prova cabal harmoniza-se com a das interceptações telefônicas, consoante


as quais Elis Regina, no dia 21/08/12 entregou para a mãe do beneficiário R$
500,00 (quinhentos) reais e no mesmo dia ligou para ele, e lhe informou que o
valor total estava sendo dado por Sílvia Virgínia e Francisco Magno, meio a
meio. Disse ainda que Virgínia, Elis Regina e Gorete estavam todas engajadas
na campanha de Francisco Magno, exercendo importante papel na campanha
política. Ao fim, disse que Francisco Magno era o candidato do Prefeito.

Em ligação da recorrente com Sílvia Virgínia, interceptada neste dia de


21/08/2012, às 08:lOhrs, ficou patenteada a finalidade eleitoral da vantagem
concedida a Claudiano Gadelha pelos acusados.

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Ao ser indagada por Sílvia Virgínia se tinha ido deixar o dinheiro para a
operação da mulher do Gadelha, Elis Regina confirmou que entregou o
dinheiro nas mãos de Claudiano Gadelha. Além do mais, Elis Regina prossegue
dizendo que esclareceu a Gadelha que o valor tinha sido dado por Virgínia e
por Magno, meio a meio, ao que Gadelha respondeu 'Ali é gente' e Elis Regina
completou 'ali é gente que merece um voto'.

Inequívoca a subsunção de Elis Regina, juntamente com os demais acusados,


no tipo de corrupção eleitoral".

Assim, entendo que não há omissão quanto à análise do dolo da recorrente,


posto que este Tribunal fundamentou a sua decisão com base nas provas acostadas aos autos.
Como bem destacou a douta Procuradoria Regional desta egrégia Corte, às fls. 3703/3726,
"( ...) não se trata de omissão, visto que houve pronunciamento do órgão julgador sobre o
assunto, considerando que o arcabouço probatório juntado aos autos embasava a decisão pela
tipificação do delito do art. 299 do Código Eleitoral".

Quanto à suposta omissão no tocante à comprovação da identidade do


suposto eleitor beneficiado, entendo que tal alegativa tampouco merece prosperar. Explico.

o Tribunal Superior Eleitoral entende que "para a configuração do crime de


corrupção eleitoral, além de ser necessária a ocorrência de dolo específico, qual seja, obter ou
dar voto, conseguir ou prometer abstenção, é necessário que a conduta seja direcionada a
eleitores identificados ou identificáveis, e que o corruptor eleitoral passivo seja pessoa apta a
votar" (TSE - AgR-AI: 749719 RJ, Relator: Min. MARIA THEREZA ROCHA DE ASSIS
MOURA, Data de Julgamento: 11/12/2014, Data de Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Tomo 35, Data 23/02/2015, Página 54).

Desse modo, da análise das provas presentes nos autos, percebe-se que há
nos autos um eleitor identificável, qual seja, Sr. CLAUDIANO GADELHA, beneficiário da
quantia de R$ 1.000,00 (mil reais), obtido para realização da cirurgia de sua esposa.

Ademais, destaco que a embargante assevera em suas razões recursais que


esta Egrégia Corte não teria apresentado argumentos ou provas plausíveis quanto à
identificação dos eleitores constantes nas receitas, nos medicamentos ou gêneros alimentícios
apreendidos.

Contudo, destaco que a embargante sequer foi condenada pela distribuição


de medicamentos ou de gêneros alimentícios aos eleitores do município de Trairi, o que toma

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desconexa a alegação levantada nesse ponto, não havendo que se falar, portanto, em omissão
ou obscuridade no acórdão embargado.

Ainda, alega a embargante que há omissão no acórdão sobre o crime de


formação de quadrilha. Tal alegativa, se mostra igualmente frágil, senão vejamos.

Há manifestação expressa no acórdão quanto à condenação pelo crime de


associação criminosa, não havendo que se falar em omissão ou obscuridade nesse ponto,
consoante a leitura dos trechos colacionados abaixo:

"Elis Regina não foi uma personagem episódica que teria colaborado com um
único crime eleitoral.

Sua adesão à quadrilha era clara, à medida que, conjuntamente com Magno,
Virgínia e Gorete, trabalhou intensamente na campanha, pedindo votos e
prestando favores a eleitores de forma lícita ou ilícita, sendo que existe prova
inequívoca de que foi a principal executora de dois crimes de corrupção
eleitoral, o financiamento de cirurgia da esposa de Claudiano, e a compra de
óculos de Zé Raimundo, com modus operandi similar, do que se infere que em
conluio com os demais integrantes da quadrilha, agia sistematicamente em
benefício dos candidatos do bando, oferecendo e entregando dinheiro a
potenciais eleitores em troca de seus votos.

A recorrente não foi autora de um único crime isolado de corrupção eleitoral,


mas no mínimo de dois crimes de corrupção eleitoral fartamente demonstrados
nos autos, que estavam associados à condição extremamente ativa de cabo
eleitoral, e colaborada íntima e constante nas ações de quadrilha para a compra
continuada de votos na campanha de Magno e Virgínio, o que era facilitado por
uma intimidade com o centro do poder municipal, na pessoa da primeira dama
do Município.

Não há, em consequência, como deixar de reputar justa a imposição de pena


base acima do mínimo dos crimes a ela imputados, além da condenação por
crime de quadrilha".

Portanto, entendo que restou comprovado a prática do crime de associação


criminosa pela embargante, não restando omissão ou contradição a ser sanada no acórdão.

Alega, ainda, a embargante que houve omissão no acórdão sobre a


redução da pena do crime de corrupção eleitoral (art. 299, CE), aduzindo que deveriam

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sr afastadas ao caso as causas de aumento de pena. Todavia, tal alegativa tampouco merece
prosperar.

Da leitura do referido acórdão, percebe-se que há manifestação expressa no


sentido de exasperar a pena-base do crime de corrupção eleitoral imputada à embargante pela
proximidade que esta detinha com a primeira dama do município de Trairi, a fim de exercer
alguma influência sob o eleitorado local, consoante o seguinte trecho do voto-vista:

''No que diz respeito a reprovabilidade da conduta, perfilho do entendimento do


nobre Relator, no sentido de que 'a reprovação da conduta da acusada se mostra
realmente maior, pois de fato se aproveitava da proximidade e prestígio que
detinha junto à primeira dama do Município para incutir nos eleitores a
impressão, verdadeira ou falsa, mas eficaz, de que teria influência potencial
sobre os bens e serviços da Prefeitura"'.

Portanto, entendo que a pena-base foi devidamente fixada acima do mínimo


legal, posto que a conduta da embargante foi reprovável, não havendo, pois, que se falar em
omissão ou obscuridade no referido acórdão.

Ademais, alega a embargante que existe evidente contradição e


obscuridade na decisão quanto à ilXação do aumento da pena do art. 299 do Código
Eleitoral em razão da continuidade delitiva. No entanto, tal afirmativa se mostra
incoerente. Explico.

Da leitura da sentença proferida pelo juízo a quo e do acórdão proferido por


esta egrégia Corte, percebe-se que não fora imputada continuidade delitiva à pessoa da
embargante, o que toma desconexa a alegação levantada nesse ponto, não havendo que se
falar, portanto, em omissão ou obscuridade no acórdão embargado.

Assim, da análise dos argumentos levantados pela embargante, percebe-se


que esta tenta, por diversas vezes, rediscutir o mérito do acórdão atacado. Todavia, como se
sabe, os embargos de declaração, por serem dotados de fundamentação vinculada, somente
são cabíveis quando houver obscuridade, contradição ou omissão no acórdão, conforme
dispõe o art. 275 do Código Eleitoral e o art. 1.022 do Código de Processo Civil, não sendo
possível, portanto, a utilização desta via recursal para a rediscussão do mérito.

Por fim, quanto à propositura dos presentes embargos de declaração para


fins de prequestionamento, é necessário que as partes tenham se pronunciado sobre a questão
objeto de prequestionamento, a qual este Tribunal não tenha apreciado ao proferir o acórdão,

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e que tenha havido alguma contradição, obscuridade ou omissão no mesmo, a fim de que se
possa utilizar os presentes embargos de declaração para fins de prequestionamento.

Nesse sentido: TRE-CE - 42: 404794 CE, Relator: FRANCISCO


LUCIANO LIMA RODRIGUES, Data de Julgamento: 25/10/2010, Data de Publicação: DJE
- Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 198, Data 29/10/2010, Página 8/9; TRE-CE - RE: 5752
CE, Relator: REGINALDO CASTELO BRANCO ANDRADE, Data de Julgamento:
18/04/2016, Data de Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 72, Data
20/04/2016, Página 6; TRE-CE - RE: 8632 FORTALEZA - CE, Relator: ALCIDES
SALDANHA LIMA, Data de Julgamento: 24/10/2016, Data de Publicação: PSESS -
Publicado em Sessão, Data 24/1 0/20 16.

Desta feita, concluo que o acórdão atacado se encontra suficientemente


fundamentado, não padecendo de qualquer vício de omissão, obscuridade ou contradição, o
que inviabiliza a utilização dos embargos de declaração para fins de prequestionamento.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DE MARIA GORETE SOUTO PINTO

Inicialmente, alega a embargante, às fls. 3668/3682, que a decisão proferida


por este Tribunal Regional apresentou o seguinte vício:

(i) omissão/contradição quanto à condenação pelo cnme de formação de


quadrilha, posto que a embargante foi condenada por apenas um único fato
delituoso, que é incapaz de configurar a prática do referido crime.

Quanto à alegada omissão no acórdão sobre o crime de formação de


quadrilha, entendo que tal alegativa não merece prosperar. Explico.

O crime de associação criminosa, previsto no artigo 288 do Código Penal,


exige, para a sua configuração, o conluio de 03 (três) ou mais pessoas, de forma estável e
permanente, com o intuito de praticar crimes.

Dessa forma, percebe-se que há manifestação expressa no acórdão quanto à


condenação da embargante pelo crime de associação criminosa, não havendo que se falar em
omissão ou obscuridade nesse ponto, consoante a leitura dos trechos colacionados abaixo:

"Embora a recorrente tenha sido condenada apenas por esta conduta de


corrupção eleitoral, as provas dos autos indicam ação conjunta dela com Sílvia
Virgínia, na promessa e doação de medicamentos em troca de votos. Claudiano,
em seu depoimento de fls. 827-828, aponta a recorrente, ao lado de Sílvia

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Virgínia e Elis Regina, como engajadas na campanha de Francisco Magno,


exercendo importante papel.

Várias conversações foram interceptadas, a exemplo das mencionadas no


parecer ministerial, fls. 3481v até 3482v, em que a recorrente atua na promessa
e doação de medicamentos, e outras vantagens, visando a cooptação ilícita de
sufrágios.

Tais provas, ainda que não repercutam na solitária condenação por corrupção
eleitoral, não recorrida pela acusação, fundamentam suficientemente a
apenação pelo crime de quadrilha, em que a recorrente se associou
permanentemente com os demais acusados, sobretudo Francisco Magno, Sílvia
Virgínia e Elis Regina, para o cometimento de um número indeterminado de
crimes eleitorais, valendo-se, para tanto, do desvio de medicamentos adquiridos
pela Prefeitura, para distribuição seletiva entre os potenciais eleitores".

Assim, perfilho do entendimento da douta Procuradoria Regional Eleitoral


desta Egrégia Corte, nos seguintes termos:

"Ademais, a despeito de a embargante ter sido condenada por um único crime


de corrupção eleitoral, análise dos autos também evidencia sua atuação em
conjunto com Sílvia Virgínia na promessa e doação de medicamentos em troca
de votos, conforme as ligações telefônicas interceptadas nos dias 3107/2012 e
10/08/2012, além de outros delitos mencionados nas demais interceptações
telefônicas.

Ainda que não tenha ocorrido a condenação da recorrente por todos os crimes
de corrupção eleitoral cujos indícios se encontram presentes nos autos, tais
delitos são relevantes para a comprovação do envolvimento da recorrente no
crime de quadrilha. Sua condenação pela prática de um único delito não exclui
a comprovação de sua participação ativa nas atividades criminosas
desenvolvidas pela quadrilha formada pelos réus".

Por fim, quanto à propositura dos presentes embargos de declaração para


fins de prequestionamento, é necessário que as partes tenham se pronunciado sobre a questão
objeto de prequestionamento, a qual este Tribunal não tenha apreciado ao proferir o acórdão,
e que tenha havido alguma contradição, obscuridade ou omissão no mesmo, a fim de que se
possa utilizar os presentes embargos de declaração para fins de prequestionamento.

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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL
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Nesse sentido: TRE-CE - 42: 404794 CE, Relator: FRANCISCO


LUCIANO LIMA RODRIGUES, Data de Julgamento: 25/10/2010, Data de Publicação: DJE
- Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 198, Data 29110/2010, Página 8/9; TRE-CE - RE: 5752
CE, Relator: REGINALDO CASTELO BRANCO ANDRADE, Data de Julgamento:
18/04/2016, Data de Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 72, Data
20/04/2016, Página 6; TRE-CE - RE: 8632 FORTALEZA - CE, Relator: ALCIDES
SALDANHA LIMA, Data de Julgamento: 24110/2016, Data de Publicação: PSESS -
Publicado em Sessão, Data 24/10/2016.

Desse modo, concluo que o acórdão atacado se encontra suficientemente


fundamentado, não padecendo de qualquer vício de omissão, obscuridade ou contradição, o
que inviabiliza a utilização dos embargos de declaração para fins de prequestionamento.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DE FRANCISCO MAGNO


MAGALHÃES

Inicialmente, alega o embargante, às fls. 3683/3700, que a decisão proferida


por este Tribunal Regional apresentou os seguintes vícios:

(i) omissão/contradição quanto à condenação pelo cnme de formação de


quadrilha, posto que o embargante foi condenado por apenas um único fato
delituoso, que é incapaz de configurar a prática do referido crime; e

(ii) omissão quanto à fixação da pena-base do crime de corrupção eleitoral,


pois "o fato do embargante ser o beneficiário da suposta corrupção eleitoral
praticada, não autoriza a fixação da pena-base acima do mínimo legal por tal
fundamento, sob pena de se incorrer em bis in idem, posto que tal circunstância
já restou prevista para a fixação da pena mínima em abstrato".

Quanto à alegada omissão no acórdão sobre o crime de formação de


quadrilha, entendo que tal alegativa não merece prosperar. Explico.

O crime de associação criminosa, previsto no artigo 288 do Código Penal,


exige, para a sua configuração, o conluio de 03 (três) ou mais pessoas, de forma estável e
permanente, com o intuito de praticar crimes.

Dessa forma, percebe-se que há manifestação expressa no acórdão quanto à


condenação do embargante pelo crime de associação criminosa, não havendo que se falar em
omissão ou obscuridade nesse ponto, consoante a leitura dos trechos colacionados abaixo:

~ 30
PODER JUDICIÁRIO FEDERAL
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ

"O fato de o recorrente ter sido condenado por um único crime de corrupção
eleitoral não impede que tenha subjetivamente fomentado, na condição de
principal beneficiário, a organização de uma verdadeira empresa de atos
sucessivos de corrupção eleitoral, e que sua pena haja de ser devidamente
exasperada pelo engajamento numa linha de produção de votos aliciados pela
quadrilha.

O réu pode ter cometido uma só conduta comprovada de corrupção eleitoral,


contra um só eleitor, mas persiste uma maior culpabilidade sua se este voto
captado o foi dentro do contexto de um método sistemático para captação
coletiva ilícita do sufrágio não só de um, mas de inúmeros incautos".

Portanto, entendo que restou comprovado a prática do crime de associação


criminosa pelo embargante, não restando omissão ou contradição a ser sanada no acórdão.

Ademais, alega o embargante que houve omissão quanto à fixação da pena-


base do crime de corrupção eleitoral, pois "o fato do embargante ser o beneficiário da suposta
corrupção eleitoral praticada, não autoriza a fixação da pena-base acima do mínimo legal por
tal fundamento, sob pena de se incorrer em bis in idem, posto que tal circunstância já restou
prevista para a fixação da pena mínima em abstrato".

Todavia, tal alegação não merece prosperar. Explico.

Da leitura do voto do ilustre Relator, Dr. José Vidal Silva Neto, houve
expressa manifestação sobre o assunto, senão vejamos (fi. 3551):

"Não importa que um só crime tenha eclodido, a reprovação é maior para quem
mais usufrui com a empreitada delituosa. Esta única circunstância judicial já
permitiria a elevação inferior a um ano, de meses, por tanto, na primeira fase da
dosimetria.

(...)

A maior reprovação por ser o maior beneficiário da quadrilha constitui fator


completamente distinto da fmalidade eleitoral dos crimes. Fossem eles crimes
sem finalidade eleitoral, manter-se-ia a reprovação acentuada por ser o
recorrente o destinatário e beneficiário final dos atos praticados pela
quadrilha" .

Por fim, quanto à propositura dos presentes embargos de declaração para fins
de prequestionamento, é necessário que as partes tenham se pronunciado sobre a questão

31
tF'_.

PODER JUDICIÁRIO FEDERAL


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ

objeto de prequestionamento, a qual este Tribunal não tenha apreciado ao proferir o acórdão,
e que tenha havido alguma contradição, obscuridade ou omissão no mesmo, a fim de que se
possa utilizar os presentes embargos de declaração para fins de prequestionamento.

Nesse sentido: TRE-CE - 42: 404794 CE, Relator: FRANCISCO


LUCIANO LIMA RODRIGUES, Data de Julgamento: 25/10/2010, Data de Publicação: DJE
- Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 198, Data 29110/2010, Página 8/9; TRE-CE - RE: 5752
CE, Relator: REGINALDO CASTELO BRANCO ANDRADE, Data de Julgamento:
18/04/2016, Data de Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 72, Data
20/04/2016, Página 6; TRE-CE - RE: 8632 FORTALEZA - CE, Relator: ALCIDES
SALDANHA LIMA, Data de Julgamento: 24110/2016, Data de Publicação: PSESS -
Publicado em Sessão, Data 24/10/2016.

Desta feita, concluo que o acórdão atacado se encontra suficientemente


fundamentado, não padecendo de qualquer vício de omissão, obscuridade ou contradição, o
que inviabiliza a utilização dos embargos de declaração para fins de prequestionamento.

DISPOSITIVO
Ante o exposto, em consonância com o parecer da douta Procuradoria
Regional Eleitoral desta egrégia Corte, conheço dos presentes recursos de Embargos de
Declaração, opostos por SÍLVIA VIRGÍNIA VIANA AGUIAR, ELIS REGINA VITAL,
MARIA GORETE SOUTO PINTO e FRANCISCO MAGNO MAGALHÃES, mas para
negar-lhes provimento.

É como voto.

Fortaleza-CE, 09 de~. C)
CÁSSIO FELIPE GOES PACHECO
Juiz Relator

32
Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ

EXTRATO DA ATA
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO CRIMINAL N° 177-70.2012.6.06.0097
RELATOR(A): CÁSSIO FELIPE GOES PACHECO
PROTOCOLO 39.043/2017
ORIGEM: TRAIRI-CE
EMBARGANTE(S): SILVIA VIRGINIA VIANA AGUIAR
ADVOGADO(S): TIAGO AGUIAR ABREU PORTELA BARROSO - OAB: 21.009/CE
EMBARGADO: PROMOTOR ELEITORAL
PROTOCOLO 39.044/2017
ORIGEM: TRAIRI-CE
EMBARGANTE(S): ELlS REGINA VITAL
ADVOGADA(S): DENIZE VITAL - OAB: 26.908/CE
EMBARGADO: PROMOTOR ELEITORAL
PROTOCOLO 39.096/2017
ORIGEM: TRAIRI-CE
EMBARGANTE(S): MARIA GORETE SOUTO PINTO
ADVOGADOS(S): PAULO NAPOLEÃO GONÇALVES QUEZADO - OAB: CE 3.183/CE
ADVOGADA(S): JANINE ADEODATO ACCIOLY - OAB: CE 12.376/CE
EMBARGADO: PROMOTOR ELEITORAL
PROTOCOLO 39.097/2017
ORIGEM: TRAIRI-CE
EMBARGANTE(S): FRANCISCO MAGNO MAGALHÃES
ADVOGADOS(S): PAULO NAPOLEÃO GONÇALVES QUEZADO - OAB: CE 3.183/CE
ADVOGADA(S): JANINE ADEODATO ACCIOLY - OAB: CE 12.376/CE
EMBARGADO(S): PROMOTOR ELEITORAL

Presidência da Excelentíssima Desembargadora Maria Nailde Pinheiro Nogueira. Presentes os


Excelentíssimos Juízes Haroldo Correia de Oliveira Máximo, Cassio Felipe Goes Pacheco, Alcides Saldanha
Lima, Roberto Viana Diniz de Freitas, Tiago Asfor Rocha Lima e Francisco Eduardo Torquato Scorsafava.
Presente, também, o Dr. Anastácio Nóbrega Tahim Júnior, Procurador Regional Eleitoral.

DECISÃO: ACORDAM os Membros do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará, por unanimidade, em


conhecer e negar provimento aos embargos, nos termos do voto do(a) Relator(a).

Votação definitiva (com mérito):


Desembargador HAROLDO CORREIA DE OLIVEIRA MÁXIMO. Acompanha Relator.
Juiz CASSIO FELIPE GOES PACHECO. Relator.
Juiz ALCIDES SALDANHA LIMA. Acompanha Relator.
Juiz ROBERTO VIANA DINIZ DE FREITAS. Acompanha Relator.
Juiz TIAGO ASFOR ROCHA LIMA. Acompanha Relator.
Juiz FRANCISCO EDUARDO TORQUATO SCORSAFAVA. Acompanha Relator.

SESSÃO ORDINÁRIA de 09 de março de 2018

CERTIDÃO DE PUBLICAÇÃO
Certifico que o acórdão de fIes). foi
publicado no Diário da Justiça Eletrônico do
TRE/CE n° 50 , pág(s). 0]- /10 em
t5 /03 /~.
TRE/CE. J'Ô> I ~o~

Chefe da SETAO.
Mat.11651

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