Sunteți pe pagina 1din 2

O

 papel  dos  gêneros  discursivos  na  constituição  da  subjetividade  


Luiz  H.  Queriquelli  

Bakhtin, em sua seminal obra Estética da criação verbal, diferencia os gêneros discursivos primários, ou
simples, dos gêneros discursivos secundários, ou complexos. Tal distinção, julgo ser importante para compreender o
papel dos gêneros discursivos na constituição da subjetividade. Os gêneros complexos (romances, dramas, pesquisas
científicas de toda espécie, os grandes gêneros publicísticos etc.) “[...] surgem nas condições de um convívio cultural
mais complexo e relativamente muito desenvolvido e organizado (predominantemente o escrito)” (BAKHTIN, 2003,
p. 263). Entretanto esses gêneros complexos nascem de gêneros mais simples (primários), incorporando-os e
reelaborando-os. Os gêneros simples formam-se na comunicação discursiva imediata; quando integram os gêneros
complexos, transformam-se, perdendo o vínculo imediato com a realidade concreta. Por exemplo, se eu fosse explicar
face a face este assunto a alguém, usaria outra elocução, mais simples e direta, porém não tão bem acabada e polida.
Porém o gênero em que materializo este texto (qualquer coisa como “texto acadêmico” ou “pesquisa científica”)
nasceu da comunicação discursiva imediata e sofreu re-elaborações. O mesmo ocorre com todos os gêneros
complexos.
Todo gênero discursivo é uma forma típica de enunciado. Por sua vez, todo enunciado é individual e, por isso,
pode refletir a individualidade do sujeito. Quando falamos de individualidade do sujeito, ou subjetividade, estamos
falando de estilo individual. Em gêneros literários, tal reflexão da individualidade mostra-se mais evidente, pois é, em
parte, o seu próprio objetivo. Entretanto, naqueles gêneros que requerem uma forma mais padronizada, a reflexão da
individualidade na enunciação torna-se menos propícia. Como exemplos extremos, podemos citar os documentos
oficiais e as ordens militares, mas Bakhtin (2003 [1952/53], p. 265-266) afirma que “[...] na imensa maioria dos
gêneros discursivos (exceto nos artístico-literários), o estilo individual não faz parte do plano do enunciado, não serve
como um objetivo seu, mas é, por assim dizer, um epifenômeno do enunciado, seu produto complementar.”
Indo mais além, Bahktin (2003 [1952/53]) põe em discussão, juntos, a gramática, o estilo e a enunciação. Para
ele, se examinamos um fenômeno concreto de linguagem apenas no sistema da língua, “[...] estamos diante de um
fenômeno gramatical, mas se o examinamos no conjunto de um enunciado individual ou do gênero discursivo já se
trata de fenômeno estilístico. Porque a própria escolha de uma determinada forma gramatical pelo falante é um ato
estilístico.” (BAHKTIN, 2003, 269). A partir disto, podemos sugerir que, ao entrar em contato com certas formas
típicas de enunciado (gêneros) e ao eleger algumas dessas formas para compor o nosso estilo individual, estamos
próximos de compreender qual é o papel dos gêneros na constituição da subjetividade.
Contudo parece-me que, para que a discussão fique mais bem acabada, é preciso discutir de modo mais
específico o papel da alteridade nesse processo constituinte da subjetividade. Em outro momento da sua obra, Bakhtin
(2003 [1979], p. 379) propõe a seguinte reflexão sobre a alteridade:

Eu vivo em um mundo de palavras do outro. E toda a minha vida é uma orientação nesse mundo; é a reação às
palavras do outro (uma reação infinitamente diversificada); a começar pela assimilação das riquezas da cultura
humana (expressas em palavras ou em outros materiais semióticos).

Ora, tais riquezas da cultura humana expressas em palavras ou em outros materiais semióticos, que compõem
o mundo no qual eu me oriento, não são outra coisa senão os gêneros – e, nesse caso, especificamente os gêneros
complexos. Entretanto, como adverte Faraco (2007, p. 46), “[...] a consciência de cada um não é um mero repositório
dessas vozes, [...] é um universo em movimento contínuo na medida em que funciona sob a batuta da dialogia.” Os
nossos enunciados remetem sempre a diferentes modos refratados de dizer o mundo: eles constroem seu significado
em relação às vozes sociais.
Remetendo à discussão sobre o estilo individual, Faraco (2007) entende que ser autor é, continuamente,
orientar-se no caldo dessas múltiplas vozes, no caldo dos enunciados, desde os mais simples e imediatos aos mais
complexos; ser autor – ou seja, assumir-se como sujeito – é tomar uma posição axiológica (valores fundamentais)
diante do que já está multiplamente valorado (o caldo dos gêneros). Nas palavras de Faraco (2007, p. 48), “[...] é
assumir um lugar nos embates da heteroglossia dialogizada, é ser dialogicamente ativo, respondendo ao que já está
dito.”
Para amarrar toda essa discussão e conectá-la, inclusive, à questão da autoria no jornalismo e na publicidade,
gostaria de invocar alguns pensamentos de Ponzio (2010), que propõe uma Linguística da escuta, uma Linguística que
vai em busca da palavra outra. Filiado ao pensamento bakhtiniano, esse autor entende que o sujeito não é a origem da
fala. A palavra que expressamos não é nossa, não possuímos domínio sobre a nossa palavra; vivemos num
condomínio da linguagem. “A singularidade do eu é a singularidade da sua palavra em reportar-se à palavra alheia.”
(PONZIO, 2010, p. 37). Portanto constituímos a nossa subjetividade ao nos posicionarmos em relação às outras
palavras que encontramos, palavras estas que podem ser tipificadas (gêneros).
Por estas razões, é preciso que estejamos abertos à compreensão do outro e ao mal entendido, que
proporcionam o encontro de palavras. Nos termos de Ponzio (2010, p. 18):

Compreensão e mal-entendido, em uma relação que não é de recíproca exclusão, constituem a condição para o
encontro de palavras, a condição para a escuta no seu significado impregnado de dar tempo ao outro, de
disposição incondicional ao acolhimento da sua palavra, de convite a conter-se ainda um pouco, a dizer de novo,
exatamente na consciência ou no pressentimento de que essa possa não acontecer outra vez, possa ausentar-se,
não existir mais, não ser. A escuta é baseada em um claro pressentimento de ausência do outro, em uma forte
sensação da sua falta, mesmo em sua presença, e em um desejo incondicional do seu dizer, da sua voz.

Disso decorre que para comunicar, é preciso que escutemos honestamente a palavra daqueles que estamos
reportando, é preciso que haja um encontro da palavra dele com a nossa, é preciso que percebamos, a partir da escuta,
que certos indivíduos estão ausentes; a partir dessa percepção, podemos convidar e acolher a sua palavra. Só assim, a
palavra do jornalista ou publicitário – que representa a mídia e os gêneros complexos – poderá encontrar com a
palavra daquele indivíduo.

Referências  

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003 [1979].

FARACO, Carlos Alberto. O estatuto da análise e interpretação dos textos no quadro do círculo de Bakhtin. In:
GUIMARÃES, Ana Maria de Mattos; MACHADO, Anna Raquel; COUTINHO, Antónia. (Org.) O interacionismo
sociodiscursivo: questões epistemológicas e metodológicas. Campinas/SP: Mercados da Letras, 2007.

PONZIO, Augusto. Procurando uma palavra outra. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.

S-ar putea să vă placă și