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PEDAGOGIA: DALL’EMPIRIA VERSO Intelectual bastante ativo, é presidente do Cen-


tro Italiano para a Pesquisa Histórico-Educati-
LA SCIENZA
va – Cirse –, que é, digamos, a Sociedade Ita-
Giovanni Genovesi.
liana de História da Educação. Dirige a revista
Bologna: Pitagora Editrice, 1999, 168p.
trimestral Ricerche Pedagogiche. Bastante pro-
dutivo, publicou grande número de trabalhos
Quando, em 1972, fui encarregado de individualmente e em colaboração com outros
ministrar na pós-graduação em educação uma autores. Dentre suas obras individuais desta-
disciplina denominada Problemas de Educação, cam-se: Storia dell’educazione. Ferrara, Corso,
organizei o programa centrado em seis proble- 1994; Repetita iuvant: l’educazione scolastica
mas que se encadeavam entre si de tal modo nelle massime e nei proverbi. Ferrara, Corso,
que a tentativa de solução de um trazia consi- 1994; Scienze dell’educazione e ricerca educa-
go o problema seguinte. Pois bem. O primeiro tiva. Ferrara, Corso, 1995; Scienza
problema foi assim enunciado: O que é a pe- dell’educazione: linguaggio, rete di ricerca e
dagogia? O que é o pedagogo? Mal-estar exis- problemi sociali. Pisa, Edizioni del Cerro, 1995;
tencial que caracteriza essa questão? Storia della scuola in Italia dal settecento a oggi.
Passados 30 anos, parece que o referido Roma-Bari, Laterza, 1998; Lessico per la
mal-estar ainda persiste, o que tem levado a se scuola: dizionario delle idee e delle attività
procurar evitar o uso do termo pedagogia. Eis scolastiche. Torino, Utet Libreria, 2001; La
que nos vários países da América Latina os cur- scuola che fa ricerca. Milano, Franco Angeli,
sos das universidades destinados à formação de 2002; Pedagogia e Didattica alla ricerca
educadores não se chamam de Pedagogia, mas dell’identità, Milano, Franco Angeli, 2003;
de Ciências da Educação. No prefácio do livro Prolegomeni alla pedagogia come scienza.
Pedagogia: dall’empiria verso la scienza, Roma, Aracne, 2004.
Giovanni Genovesi afirma que os estudos peda- Como o autor assinala no prefácio, o li-
gógicos passaram (na Itália) da pedagogia, enten- vro Pedagogia: da empiria em direção à ciência
dida como uma disciplina onicompreensiva dos foi escrito no contexto do notável alargamen-
estudos sobre educação “às ciências da educa- to do setor educativo nas universidades ocor-
ção que povoam ou pelo menos deveriam po- rido nos últimos anos. Essa situação tornou ain-
voar os cursos de graduação e as escolas de es- da mais urgente a necessidade de se esclarecer
pecialização para os professores de toda ordem o que se deve entender por pedagogia. Visan-
e grau” (p. V). E o primeiro capítulo desse livro do a contribuir para esse esclarecimento o livro
tem o sugestivo título de Pedagogia: pouca cla- foi organizado em quatro capítulos. O primei-
reza e péssima divulgação, sendo composto dos ro, “Pedagogia: pouca clareza e péssima divul-
seguintes tópicos: um termo ambíguo; o des- gação”, tem caráter introdutório e apresenta
prezo da intellighentia; o péssimo serviço dos di- um mapeamento das várias acepções atribuídas
cionários; e as culpas dos pedagogistas. ao termo pedagogia, tendo em vista entender
Giovanni Genovesi é professor de Peda- tanto as razões da má fama que persegue esse
gogia Geral na Universidade de Ferrara, Itália. termo, como os esforços da pedagogia para

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acreditar-se como ciência. Os dois capítulos ser entendida como algo inerente à educação,
intermediários irão cuidar da trajetória históri- tornando-se uma espécie de meta-educação
ca percorrida pela pedagogia desde a Antigüi- voltada para a “construção de teorias da edu-
dade até nossos dias. Nesse percurso o autor cação, sobre a educação e para a educação. E
distingue três etapas. As duas primeiras são em tal construção a filosofia é soberana”
examinadas no segundo capítulo denominado (ibidem).
“As primeiras duas etapas da pedagogia, ou a Conforme Genovesi (p.63), os positivis-
pedagogia filha da educação”, completando a tas realizam, no final do século XIX e primei-
análise o terceiro capítulo que tem por título “A ras décadas do século XX, uma tentativa de
terceira etapa da pedagogia, ou a pedagogia superar tanto a subordinação da pedagogia à
mãe da educação”. No quarto capítulo, “Edu- filosofia e à teologia como a concepção da edu-
cação, escola e política escolar”, o autor parti- cação como arte, substituindo-a pelo conceito
culariza a resposta dada pela pedagogia ao seu de atividades conduzidas com rigorosos proce-
objeto, a educação, voltando o foco para a es- dimentos científicos, controlados e falsificáveis.
cola, onde a educação “encontra as melhores Entretanto, conclui Genovesi, “infelizmente a
e mais sistemáticas possibilidades de realização” submissão à filosofia foi substituída apenas por
(p.117). uma outra submissão, não menos perniciosa
Segundo Genovesi, nas suas duas primei- para o constituir-se da pedagogia como ciência
ras etapas históricas a pedagogia é filha da edu- autônoma: a submissão às ciências naturais ou
cação “no sentido em que depende indubitavel- a outras ciências que pareciam poder exibir
mente dos modos reais em que se realiza a for- uma sólida base experimental como garantia
mação em determinados contextos históricos” segura de cientificidade” (p.64).
(p.33). Já na terceira etapa é a educação que se Com isso se tentou responder à pergunta
torna filha da pedagogia que, “encaminhando-se sobre se existe uma pedagogia negando a ela
pelas sendas da autonomia científica, constrói o uma substancial independência e autonomia de
seu objeto de estudo” (p.34). objeto, de linguagem e de método, reduzindo-
Na primeira etapa a pedagogia se identi- a à mera aplicação dos resultados de outras
fica com a própria prática educativa definida, ciências. Assim, o caminho da pedagogia como
por sua vez, por procedimentos imitativos e reflexão sobre a educação até buscar a cientifi-
intuitivos determinados pelas necessidades pos- cidade no apoio a ciências que a legitimem e lhe
tas pela sociedade no interior da qual esse tipo universalizem as aplicações práticas, foi percor-
de educação se constitui. “Substancialmente, rido por inteiro tendo, definitivamente, desem-
desde a civilização suméria e egípcia (3238-525 bocado num beco sem saída: “a contradição de
a.C.) e da chinesa 2500 a.C. – 476 d.C) a prá- querer reivindicar a cientificidade e, portanto,
tica do ensino se baseia sobre repetições, so- a autonomia de uma ciência tornando-a depen-
bre transcrições de textos e sobre uma rigorosa dente dos resultados de uma outra ciência, seja
memorização” (p.38) acompanhados sistema- a psicologia ou a medicina ou a antropologia
ticamente de castigos físicos. cultural” (p.64-65).
Na segunda etapa, que se estende de A esse desvio do positivismo correspon-
Sócrates e Platão (Séc. V a.C) até a primeira deu a reação do idealismo, na Itália represen-
metade do século XX, a pedagogia se torna “o tado principalmente por Croce e Gentile, de-
momento da reflexão crítica da própria prática nunciando a volta à “empirização” da pedago-
educativa” (p.43). Aí a racionalidade deixa de gia e reclamando a sua vinculação à filosofia a

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quem compete enunciar os princípios e as fina- educação. E enuncia o seguinte critério: ter por
lidades da educação, cabendo à pedagogia objeto a educação, apressando-se a alertar que
organizá-la e cuidar de a ela aplicar os princí- não se trata de mera tautologia: “Não basta que
pios emanados da filosofia. Em suma, a peda- uma disciplina entre no assim chamado arco
gogia não é outra coisa senão filosofia aplicada. psicopedagógico como, por exemplo, a antro-
Completava-se assim o ciclo correspondente à pologia, a biologia, a sociologia, a psicologia
segunda etapa da pedagogia que lhe assinalou geral, a psicologia da idade evolutiva, etc. para
o caráter de teoria da educação. ser considerada uma das ciências da educação.
Finalmente, a terceira etapa se inicia no É necessário que cada uma delas, com toda a
último quartel do século XX e ainda não está sua bagagem teorético-prática que a caracteri-
concluída. Nessa etapa, segundo Genovesi, a za como ciência, se ocupe de um aspecto do
pedagogia: “É a ciência que cria o seu objeto, a objeto ‘educação’” (p.87-88).
educação: um constructo teórico do qual é No conjunto das chamadas ciências da
possível estudar os mecanismos, os modos de educação a pedagogia ocupa um lugar particu-
aplicação, as finalidades, que não se identificam lar. Seu papel não é outro senão oferecer mo-
mais com o que se alcança, mas com o que se delos formais sobre o problema da formação
persegue. A educação se torna um ideal, uno do indivíduo racionalmente justificáveis e logi-
e indivisível, uma meta que o homem persegue camente defensáveis, particularizando as variá-
tendo a clara consciência de que não poderá veis que os compõem como instrumentos in-
nunca atingi-la” (p.72-73). terpretativos e propositivos de uma classe de
Em seguida o autor passa a tratar das di- eventos educativos (p.98).
mensões estruturais da pedagogia para concluir Para Genevesi “a pedagogia é somente
que “a pedagogia é ciência autônoma porque uma das ciências da educação, ainda que aquela
tem a sua própria linguagem tendo consciência decisiva à qual cabe criar e pôr em foco formal-
de usá-la segundo um método e fins próprios mente o objeto educativo em estreita relação
constituindo, por meio dessa linguagem, um com o seu fazer histórico” (p.99).
corpo de conhecimentos, uma série de expe- No entanto, as ciências da educação só
rimentações e de técnicas sem as quais lhe se- se podem constituir como tais, graças à peda-
ria impossível qualquer construção de modelos gogia: “lá onde não há pedagogia não pode
educativos” (p.79-80). E, como toda ciência, haver ciências da educação” (p.107).
obviamente também a pedagogia se afirma Não deixa de ser intrigante esse enten-
como uma construção teorética em razão da dimento de que a pedagogia é apenas uma den-
prática sendo, porém, enganador, definir uma tre as muitas ciências da educação, sendo, ao
ciência e, portanto, definir a pedagogia e as mesmo tempo, aquela que permite a existên-
ciências da educação apenas pela vertente prá- cia das demais ciências da educação.
tica, isto é, como ciência de intervenção. Contrapondo-me a essa visão, trago à
Genovesi admite a possibilidade de várias baila uma reflexão que desenvolvi em 1976 e
ciências da educação. E considera que não é que se incorporou no texto “O problema da
possível determinar, de uma vez por todas, pesquisa na pós-graduação em educação”, pu-
quais são as disciplinas que compõem o univer- blicado em Cadernos de Pesquisa, n.16, mar-
so das ciências da educação, devendo-se, isto ço de 1976, e depois também incluído no livro
sim, definir o critério a partir do qual uma ciên- Educação: do senso comum à consciência filo-
cia pode ser considerada uma das ciências da sófica.

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No texto em referência faço uma distin- com base em critérios sociológicos, psicológicos,
ção que, creio, poderá nos permitir colocar de econômicos etc., são as contribuições das dife-
forma mais satisfatória a questão relativa à di- rentes áreas que serão avaliadas a partir da pro-
ferença entre as várias ciências da educação e blemática educacional. O processo educativo
uma ciência da educação propriamente dita que erige-se, assim, em critério, o que significa dizer
poderíamos chamar, concordando com que a incorporação desse ou daquele aspecto do
Genovesi, de Pedagogia. acervo teórico que compõe o conhecimento
As chamadas ciências da educação, em científico em geral dependerá da natureza das
verdade são ciências já constituídas com um questões postas pelo próprio processo educati-
objeto próprio, externo à educação e que cons- vo. Parece ser esse o caminho pelo qual pode-
tituem, em seu interior, um ramo específico que remos chegar a uma ciência da educação pro-
considera a educação sob o aspecto de seu priamente dita, isto é, autônoma e unificada.
próprio objeto recortando, no conjunto do fe- Essa ciência irá adquirir um lugar próprio
nômeno educativo aquela faceta que lhe cor- e específico no “sistema das ciências” como
responde. Diferentemente, a ciência da educa- sugeri no livro Pedagogia histórico-crítica quan-
ção, propriamente dita, se constituiria na me- do afirmei, à p.13:
dida em que constituísse a educação, conside- Se a educação, pertencendo ao âmbito
rada em concreto, isto é, em sua totalidade, do trabalho não material, tem a ver com idéias,
como seu objeto. conceitos, valores, símbolos, hábitos, habilida-
Teríamos, então, dois circuitos distintos. des, tais elementos, entretanto, não lhe interes-
No primeiro caso, o das ciências da educação, sam em si mesmos, como algo exterior ao ho-
o ponto de partida e o ponto de chegada estão mem. Nessa forma, isto é, considerados em si
fora da educação. Ela é ponto de passagem. As- mesmos, como algo exterior ao homem, esses
sim, as pesquisas no âmbito das ciências da edu- elementos constituem o objeto de preocupa-
cação (sociologia da educação, psicologia da ção das chamadas ciências humanas, ou seja,
educação, economia da educação, antropologia daquilo que Dilthey denominou de “ciências do
educacional, biologia educacional etc.) circuns- espírito”, por oposição às “ciências da nature-
crevem a educação como seu objeto, encaran- za”. Diferentemente, do ponto de vista da edu-
do-a como fato sociológico ou psicológico ou cação, ou seja, da perspectiva da pedagogia
econômico etc., que é visto, conseqüentemen- entendida como ciência da educação, esses ele-
te, à luz das teorizações sociológicas, psicológi- mentos interessam enquanto é necessário que
cas etc., a partir de cuja estrutura conceptual são os homens os assimilem, tendo em vista a cons-
mobilizadas as hipóteses explicativas do aludido tituição de algo como uma segunda natureza.
fato. O processo educativo é encarado, pois, De qualquer modo, não deixa de ser
como campo de teste das hipóteses que, uma auspicioso constatar um claro reconhecimento,
vez verificadas, redundarão no enriquecimento pelo menos em algumas esferas, como flui do
do acervo teórico da disciplina sociológica (psi- livro de Genovesi, de que o caráter da peda-
cológica, econômica etc.) referida. gogia como ciência da educação tende a se
Já no segundo circuito, a educação, en- definir de forma mais precisa obtendo, em con-
quanto ponto de partida e ponto de chegada, seqüência, aceitação no universo acadêmico.
torna-se o centro das preocupações. Note-se Com efeito, mesmo nos casos em que se
que ocorre agora uma profunda mudança de procura subordinar a educação e a pedagogia aos
projeto. Em vez de se considerar a educação novos paradigmas que vieram a obter grande cir-

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culação a partir da década de 90 do século XX, o sidade de Nantes, França. Os autores iniciam o
estatuto científico da pedagogia é admitido sem livro com o Manifesto a favor dos pedagogos,
restrições. Isto pode ser constatado na obra assim resumido:
Manuale di pedagogia generale, de Franco
Frabboni e Franca Pinto Minerva. Frabboni chega Consideramos que:
mesmo a considerar, em outro livro denomina-
do Manuale di Didattica Generale, que o século • a pedagogia é legítima;
XX foi o século da pedagogia em que esta se • a pedagogia é um saber legítimo;
constituiu como ciência. E, na esteira dessa cons- • a pedagogia produz saberes legítimos
tatação animadora, acaba por prognosticar que o e historicamente legitimados;
século XXI será o século da didática que atingirá, • a pedagogia produz saberes específicos;
também, o próprio estatuto de cientificidade. • a formação pedagógica é legítima;
No atual momento brasileiro em que o • a formação pedagógica é específica;
Curso de Pedagogia passa a ser regido por no- • a formação pedagógica deve ser cons-
vas diretrizes curriculares nacionais, a leitura truída em torno desses saberes legíti-
desse livro de Genovesi é, sem dúvida, de gran- mos e específicos;
de interesse. • a formação pedagógica deve ser cons-
truída por pedagogos;
Dermeval Saviani • os saberes pedagógicos se produzem
Professor Emérito da Faculdade de na articulação de ações realizadas, de
Educação da Universidade Estadual de concepções científicas e didáticas, de
Campinas convicções normativas e de intenções
dermevalsaviani@yahoo.com.br filosóficas;
• os saberes pedagógicos são produzi-
dos pelos pedagogos;
MANIFESTO A FAVOR • os saberes pedagógicos se inscrevem
numa tradição de pedagogos (...);
DOS PEDAGOGOS
• os saberes pedagógicos de tal tradição
Jean Houssaye, Michel Söetard,
são tão legítimos quanto os saberes
Daniel Hameline, Michel Fabre
produzidos pelos filósofos e pelos ci-
Porto Alegre: Artmed, 2004, 120p.
entistas da educação;
[Trad. Vanise Dresch]
• os saberes pedagógicos não podem
ser confundidos com os saberes disci-
O livro é escrito por quatro pensadores plinares;
que buscam superar o desafio de manifestar a • os saberes pedagógicos não podem
natureza, o sentido e a urgência da Pedagogia ser confundidos com os saberes sobre
e, acima de tudo realçam que ela não precisa educação, o ensino e a pedagogia;
ser salva, mas respeitada. São eles: Jean • os saberes pedagógicos não poderiam
Houssaye é professor da Universidade de ser reduzidos aos saberes didáticos,
Rouen, França; Michel Söetard, professor da devendo, ao contrário, articular-se
Universidade Católica de l’Ouest, em Angers, sobre eles;
França; Daniel Hameline, da Universidade de • a pedagogia não exclui os outros sabe-
Genebra, na Suíça, e Michel Fabre, da Univer- res, ela os articula na formação;

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• ninguém se pode dizer pedagogo se ropa, com as contraposições teóricas entre


não aceitar teorizar suas práticas e Pestalozzi (1746-1827) e Herbart (1776-
submetê-las à discussão; 1841). Para Hameline a oposição se dá entre
• os saberes pedagógicos, por sua vez, duas concepções diferentes de organizar o en-
também são capazes de gerar saberes sino: Pestalozzi tenta encontrar um método
sobre a pedagogia, a educação e a hu- para o ensino popular, graças à aliança entre
manidade. A pedagogia é portadora de mão, coração e razão. Já Herbart valoriza a sis-
uma abordagem específica do homem tematização racional e pretende tornar cientí-
e de seu devir; ficas as hipóteses de Pestalozzi.
• na formação pedagógica, somente os Uma das tensões geradas nesses primór-
pedagogos estão aptos a articular os dios caminha sem solução; ou seja: ensino ver-
saberes pedagógicos com os saberes balista, sem experimentação ou ensino por
disciplinares e com os saberes sobre a compreensão, pela ação ativa dos alunos? Nos
educação, sobre o ensino e sobre a pólos dessa tensão surgem os conceitos e prá-
pedagogia; ticas com os quais os franceses se enfrentam:
• na formação pedagógica, somente os não-pedagogia versus pedagogismo.
pedagogos podem assumir a articula- Onde encontrar o papel da Pedagogia?
ção desses saberes, pois é o que com- Segundo Hameline é na “entrada da pedago-
provam em sua prática profissional; gia”, mediando o saber artesanal docente e as
• a formação pedagógica deve ser assu- conquistas pretendidas com essa ação; em suas
mida pelos pedagogos, assim como sua palavras: a percepção própria daquilo que o
legitimidade de formadores é mantida docente fabrica e o resultado do que acontece
por sua legitimidade de pedagogos; no processo de ensino. Quando o professor
• a formação pedagógica supõe a instau- “entra em pedagogia” ele produz para si uma
ração, o respeito e o reconhecimen- “teoria-prática”. Hameline chama de pedagogia
to de um espaço institucional autôno- o empenho pessoal do docente em construir
mo e específico que não seja subme- essa teoria-prática e chama de pedagogismo a
tido aos saberes disciplinares ou didá- aplicação impessoal de métodos e técnicas de
ticos, nem aos saberes sobre a educa- ensino, sem a preocupação com o aluno. O
ção, o ensino e a pedagogia. movimento contra a pedagogia, deveria ser
contra o pedagogismo, mas se generalizou no
Por que e para que fazem esse manifes- discurso de alguns intelectuais franceses, que
to? A que razões históricas respondem? O livro consideram que qualquer intermediação peda-
só poderá ser bem aproveitado a partir da con- gógica é um pedagogismo. O livro, ao juntar
textualização da intencionalidade desse trabalho. quatro pedagogos em um manifesto, vem rea-
Algumas respostas se encontram analisa- firmar a legitimidade da ação pedagógica me-
das no 4º capítulo do livro, em que Hameline diando as tarefas de ensino.
dá uma entrevista a Pierre Henri Zoller, tam- Esse manifesto não se refere à questão
bém da Universidade de Genebra. Em síntese, mais brasileira de considerar ou não a Pedago-
Hameline diz que esse debate que opõe mo- gia como ciência da educação; nem mesmo à
vimentos pró e contra a Pedagogia, apesar de questão da Pedagogia ser ou não o fundamen-
bastante inflamado no início da década de 90, to da prática docente em oposição aos movi-
tem suas origens no fim do século XVIII na Eu- mentos que preconizam ser a docência a base

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identitária do Curso de Pedagogia. No entan- deve se respaldar nos conhecimentos da ciên-


to, a discussão que fazem, pode subsidiar as cia pedagógica. Para aqueles que acreditam que
nossas questões, uma vez que, o que está por a base da docência deve ser os estudos da ciên-
trás de tudo é a concepção de ensino e de for- cia pedagógica, o livro traz conhecimentos bas-
mação de professores. tante pertinentes e úteis, conforme se pode
Para aprofundar essa questão é importan- verificar no decorrer dos capítulos:
te considerar o que escreve Charlot (2005, No capítulo 2, pós-manifesto, se encon-
p.140) 1 ao comentar que o debate entre o tra o artigo: “Pedagogia: justiça para uma causa
antipedagogo versus o pedagogo é mais uma perdida?” Nele, Houssaye analisa as razões his-
questão “de arrogância menosprezadora e de tórico-epistemológicas que decretaram a morte
uma recusa obstinada e paradoxal de tomar da pedagogia e fizeram surgir, sobre seu cadá-
conhecimento dos saberes produzidos sobre a ver, a ciência e as ciências da educação. Passa
educação (atitude de uma meia dúzia de no- então a reivindicar que as ciências da educação
mes)”. Segundo Charlot essa situação foi cria- passem a acolher a pedagogia em sua especifi-
da por aqueles que não compreendem que a cidade. Para tanto o autor examina o sentido
criança possa entrar na escola e não aprender; epistemológico da pedagogia, considerando-a
para eles, toda criança ao entrar em contato um espaço mútuo e dialético da teoria e da
com o saber deve necessariamente aprender e prática educativa, que se consubstancia em uma
que a mediação dos pedagogos, na tentativa de mesma pessoa, no caso o pedagogo. Para ele
encontrar meios para que o aluno crie signifi- o pedagogo é aquele profissional que procura
cados para a aprendizagem, produz o apeque- conjugar a teoria e a prática a partir da própria
namento do saber como dom universal. Para ação. Considera que a pedagogia deve elabo-
Charlot (2005, p.41), a antipedagogia louva o rar propostas práticas, mas de modo concomi-
bom senso e a nostalgia da escola de ontem: “se tante a uma teoria da situação educativa, refe-
segurarmos as crianças e se fizermos a escola rida a essa prática; ou seja, deve propiciar a
como se fazia no passado, todo mundo apren- constituição de uma teoria da situação pedagó-
derá!” Um dos efeitos maléficos dessa posição, gica. Para caracterizar essa teoria, Houssaye
segundo Charlot, é referendar equívocos sobre realça a importância da ação; do enraizamento;
o papel do professor. Para os antipedagogos o da ruptura e da mediocridade.
professor deve ensinar, no sentido de transmi- Analisa a seguir os movimentos históricos
tir o que sabe; para os pedagogos a função do de recusa e assunção da pedagogia criando mo-
professor é de levar o aluno a aprender e para vimentos contraditórios em que a pedagogia só
isso não basta professar seu saber, ou seja, não encontrou, historicamente, espaços para sua
basta declará-lo publicamente. Parece realmen- assunção quando abriu mão de sua natureza.
te que os franceses estão intrigados com ques- Nesse processo analisa as relações entre ciên-
tões que já se discutiu muito no Brasil. Parece cias da educação e pedagogia; didáticas e peda-
haver consenso entre educadores brasileiros gogia, para, em seguida, examinar as novas ten-
que a prática docente não ocorre no vazio, ela dências que referendam a negação da pedago-
gia: o saber prático; os saberes de ação; a pe-
dagogia como discurso e a especificidade das
1. Charlot, B. Vade-retro, Satanás: por que o debate
com os antipedagogos é impossível. In: Perrenoud,
ciências da educação.
P. A Escola de A a Z: 26 maneiras de pensar a edu- Ao discutir a especificidade das ciências
cação. Porto Alegre: Artmed, 2005. 2ª parte. da educação o autor pergunta intrigantemente:

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será que esse espaço reivindicado pelas ciências mento do sentido; e, enfim, uma inteligência dos
da educação, não foi sempre o espaço da Pe- meios. Critica a forma histórica em que outras
dagogia? Parece que o que se passou, foi a con- ciências tomaram a educação por objeto de es-
sideração de que a racionalidade dos pedagogos tudo, mas com base nos próprios referenciais
é insuficiente; então, as ciências da educação, epistemológicos, e assim diz: em nossas socie-
atenuariam essa insuficiência e roubariam da dades ditas avançadas, a idéia de educação fez
Pedagogia sua especificidade. Dessa situação sua parte; seu discurso esvaziou-se de sentido.
surge o dilema: de um lado, a tentação perma- Trata-se agora de fazer pedagogia.
nente da recusa da pedagogia e, de outro lado, O artigo analisa também as dificuldades
a impossibilidade de recusa daquilo que ela re- metodológicas que fizeram a pedagogia se tor-
presenta. nar cativa de outras lógicas investigativas: “é
A seguir, o autor analisará o fracasso da importante ultrapassar o ponto de vista positi-
formação pedagógica e abordará as ilusões do vo-científico do psicólogo ou do sociólogo, mas
fundamento do saber pedagógico. Trata-se de também o ponto de vista positivo-idealista do
artigo bastante atual para a ressignificação do filósofo, e resistir à dupla tentação aplicacionista
papel da pedagogia e dos cursos de formação para construir um método de pesquisa que vá
de pedagogos. além da tensão entre as duas abordagens e que,
O próximo artigo, capítulo 3, escrito por ao mesmo tempo, a assuma” (p.64).
Söetard, denomina-se: “Ciência(s) da educação O capítulo quatro constitui a entrevista
ou sentido da educação? A saída pedagógica”. concedida a Zoller por Hameline, e se chama
O autor se reporta aos movimentos que ante- “Pedagogia e pedagogismo”. Acompanhando a
cedem 1968, precisamente ao artigo de Gilles interessante conversa dos dois professores, ob-
Ferry, que em 1967 anunciava o fim da peda- tém-se uma dimensão mais clara do significado
gogia. No entanto, o fim anunciado era o fim de do manifesto em favor dos pedagogos. Eviden-
uma prática calcada em lugares comuns, que ciam-se na conversa, as razões históricas que
referendava práticas pedagógicas sem sentido, fundamentam a prática escolar e a prática docen-
“que dissolvia o pensamento no sentido da mi- te em uma epistemologia tecnicista, pragmática,
litância” Söetard afirma a pedagogia como a e uma outra possibilidade de prática que parte
ciência da educação e, analisando os movimen- de uma perspectiva mais formativa, abrangente.
tos que constituíram as chamadas “ciências da A conversa explicita o pedagogismo como o
educação”, considera que elas não cumpriram exercício de práticas pedagógicas arcaicas, instru-
com as propostas iniciais e que, portanto, con- mentais, que tiram o sentido da ação docente e
tinuam sendo construções teóricas que não que, lamentavelmente, fundamentou e ainda
conseguem encontrar a passagem para o real e fundamenta o exercício profissional de muitos
instrumentar de fato a prática. Considera ain- pedagogos franceses.
da que tais ciências operam na generalidade. O artigo de Fabre analisa as possibilida-
Sua preocupação é pensar nas pontes que des que tem a pedagogia de produzir saberes.
devem ser construídas para que os saberes pe- Para o autor (2004, p.111) a Pedagogia pode
dagógicos encontrem e fecundem as ações pe- produzir muitos saberes, mas há três tipos de
dagógicas. Ao lançar mão da filosofia para pen- saberes que só ela pode produzir: são os pos-
sar o impasse epistemológico da pedagogia, afir- síveis “saberes pragmáticos, os saberes alterna-
ma o autor: a pedagogia requer: um saber que tivos políticos e os saberes hermenêuticos ou
articule uma ciência do fato humano; um pensa- críticos”. Na perspectiva de Fabre, somente os

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saberes hermenêuticos podem ser apropriados centes, mas como conhecimentos pedagógicos
pelos sujeitos por meio da perspectiva dialéti- produzidos cientificamente ao longo da histó-
ca de compreensão, interpelação, e descrição. ria da Pedagogia.
O autor considera que os saberes pragmáticos
são transferíveis e objetiváveis, pois se referem Maria Amélia Santoro Franco
a métodos, a procedimentos. Já os saberes Área de Educação da
políticos, são de ordem diferente dos saberes Universidade Católica de Santos
pragmáticos, pois permitem ao sujeito com- ameliasantoro@uol.com.br
preender as alternativas de um projeto inova-
dor criada por um sujeito (pedagogo) que se Selma Garrido Pimenta
insurgiu contra o que existe e propõe uma nova Faculdade de Educação da
intencionalidade. Fabre não considera tais sabe- Universidade de São Paulo
res na perspectiva da formação de futuros do- sgpiment@usp.br

Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 130, jan./abr. 2007 255

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