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Resumo
A Antropofagia nasce sob o signo da metamorfose: “marioswald”, autonomeação híbrido-
composta utilizada pelos dois “pontas-de-lança” de nosso modernismo e recorrentemente
invocada nas reapropriações posteriores do canibalismo político-cultural. Por isso, ela nasce
também sob o signo da impropriedade, da impossibilidade de fixar uma identidade estável:
dentre as peculiaridades da Antropofagia do final da década de 1920, está o fato – pouco
percebido pela crítica – de que não há, a rigor, nenhuma obra antropofágica (se Macunaíma era
reivindicado pelo “movimento” como sua obra-prima, seu autor, Mário de Andrade, negava
veementemente o rótulo e foi, além disso, constantemente atacado pelos antropófagos; Cobra
Norato, de Raul Bopp, e o par de romances Miramar/Serafim, de Oswald de Andrade, foram
gestados muito antes da Antropofagia; e os quadros de Tarsila do Amaral, muito mais que
inspirarem-se no ideário do grupo, foram a sua inspiração). Ao contrário da Poesia Pau-Brasil,
fundada na idéia de invenção, i.e., de uma apropriação visando à propriedade, à criação de um
legado que possa ser transmitido e inventariado, a Antropofagia define-se como prática sem
obra, como um meio sem fim, como um objetivo sem objeto, que aparece/acontece em uma
temporalidade não-redutível à linearidade cronológica que funda o tempo da transmissão da
propriedade (ou seja, da tradição).
Coordenador
Flávia Cera (doutoranda CPGL/UFSC – Bolsista REUNI/CAPES)
Data: 28 de maio
O modernismo nasceu na zona: em torno d'O perfeito cozinheiro das almas deste mundo'
Victor da Rosa (mestre pelo CPGL/UFSC)
O modernismo nasceu na zona: em torno d'O perfeito cozinheiro das almas deste mundo'
Victor da Rosa
A idéia é analisar, segundo a idéia bastante escorregadia de zona, o modo como algumas noções
e procedimentos que aparecem no modernismo brasileiro, sobretudo na obra de Oswald de
Andrade, já estão vislumbradas n'O perfeito cozinheiro das almas... deste mundo - espécie de
diário escrito a várias mãos, segundo nomes e heterônimos, ainda no final da década de dez.
Gênero cindido entre arte e vida, o diário é construído praticamente inteiro a partir de uma
personagem feminina, Miss Cyclone, e sua narrativa certamente já antecipa os romances
maduros de Oswald, digamos, muitas vezes pautados pelo fragmento, a auto-biografia, a frase
feita e o humor, mas também pelo sentido da transgressão e do trágico. Nota-se, por fim, que o
espaço que sustenta a trama do diário, um estúdio alugado por Oswald na Rua Libero Badaró (é
onde grande parte do diário foi escrito, afinal) funciona como uma garçonnière - em outras
palavras, um motel informal - espaço destinado a encontros amorosos, provavelmente proibidos,
o que marca afinal um contexto forte e significativo.