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anos
Assessoria:
Elder Andrade de Paula
Edição e revisão:
Antônio Canuto
Elvis Marques
Jeane Bellini
Foto Capa:
Joka Madruga
Diagramação:
Vivaldo da Silva Souza
Impressão:
Gráfica e Editora América
Fone: (62) 3253-1307
Apoio:
Misereor
SUMÁRIO
RELATÓRIO-DENÚNCIA DA AMAZÔNIA
Amapá
Boa Vista da Pedreira, justiça manipulada.........................................................................................................12
Acre
A luta dos seringueiros do Riozinho e os Planos de
Manejo Florestal....................................................................................................................................................23
Amazonas
A comunidade de Lusitânia, o fim de um império...........................................................................................30
Maranhão
Conflito no quilombo Charco, uma novela em
muitos capítulos.....................................................................................................................................................39
Mato Grosso
Assentamento na mira de quadrilha especializada
em grilagem de terras...........................................................................................................................................46
Pará
Conflito gerado por desmandos de funcionários do INCRA..........................................................................51
Rondônia
A difícil retomada das terras públicas na Amazônia:
O conflito dos assentamentos do Flor do Amazonas em Candeias do Jamari..............................................59
Roraima
Madeireira no caminho de comunidade camponesa.......................................................................................67
Tocantins
Comunidade Vitória: Terra Legal alimenta conflito.........................................................................................73
Relatório-Denúncia mostra
“fogo de monturo”
“O fogo vai se alastrando devagarinho por baixo e nem se
percebe a fumaça, por isso ninguém vê, quando aparece já quei-
mou tudo”. (Dercy Teles de Carvalho)
1
Destacamos entre essas representações especialmente o Sindicalismo Rural e o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS).
2
Alentejano, Paulo; Alves da Silva, Tiago Lucas – Ocupações, acampamentos e assentamentos: o descompasso entre a luta pela terra e a política agrária do
governo Lula – in Conflitos no Campo Brasil 2008, pg 128-134,2009 - CPT.
As terras do Amapá são a bola da vez do ex- antigos “proprietários” estão querendo fazer uma
pansionismo ilegal, devastador e violento do cha- “negociação” vendendo as terras para os atores do
mado agronegócio. Aconteceu e está acontecendo agronegócio.
no resto do país, e o Amapá não podia ficar fora. Esta é uma das causas que torna mais difí-
A fome e a ganância do capital agrário e minerário cil, por exemplo, o reconhecimento e a criação de
são insaciáveis. Territórios Quilombolas: muitos filhos de quilom-
A Comissão Pastoral da Terra no Amapá bolas que já têm uma vida feita na cidade e não
(CPT-AP) vem denunciando o aumento de confli- pretendem voltar para o interior, não querem que
tos por terra no estado desde 1995 (expansão da os pais aceitem o Território, pois neste caso as ter-
monocultura do eucalipto), com um forte recru- ras não poderão mais ser vendidas, como gosta-
descimento a partir de 2004 (expansão do agrone- riam de fazer seus herdeiros.
gócio de grãos) e em 2006 (expansão da mineração De lá para cá os conflitos por terra e a de-
e do desmatamento). vastação ambiental aumentaram em proporção ge-
O aumento da violência atual é causado, ométrica e não há sinal de que possam diminuir.
também, pela supervalorização econômica das Pelo contrário, a cegueira, a incompetência e/ou a
terras agricultáveis do Amapá. Só como exemplo: conivência dos órgãos públicos, em nome de um
em 1995 a empresa Chamflora adquiriu 273.000 pretenso desenvolvimento do estado, continuam
hectares de terras pagando um valor médio de 100 favorecendo esta situação de grave ilegalidade.
reais por hectare. Não era bom negócio vender. O Amapá tem uma realidade fundiária
Hoje as terras estão sendo vendidas por 3.000 ou muito diferente dos demais estados da Amazônia
4.000 reais o hectare e até mais. Os herdeiros dos Legal: no Amapá não existem terras “devolutas”.
Comunidade Boa Vista da Pedreira tendo que recosntruir casas após conflitos
Após luta judicial, trabalhadores da comunidade Boa Vista da Pedreira são despejados
o juiz titular, Dr. Kopes, estava retomando seu pos- Comarca de Ferreira Gomes, em inspeção judicial,
to na comarca, após o recesso, apresentou docu- constatou a seguinte situação: “(...) 1. ÁREA OCU-
mentação mostrando que a área em litígio estava PADA POR MARIA SARACA:........”
no município de Macapá e solicitou a transferência A juíza, porém, não prestou a devida atenção
do processo para a capital. Pedido imediatamente ao relatório enviado pelo fórum de Ferreira Gomes
acolhido. O processo então passou para a quarta e anexado ao mesmo processo em data 4/2/2015,
vara cível de Macapá. Pelo menos a área ocupada pois nele consta que “em 9.12.2014 o autor Celso
por dona Maria Saraca está município de Itaubal. Carlos foi reintegrado na Fazenda São Gabriel e os
Chegado o processo à quarta vara cível, assentados Miriam Castro da Conceição, Otávio Ro-
foi julgado pela juíza substituta, Fabiana da Silva sário Lima Pereira, Raimunda Lima Morais e Maria
Oliveira. Baseando-se nas informações oferecidas Saraca dos Santos Souza retornaram para as áreas
pelo laudo do juiz Heraldo nos autos do processo por eles reivindicadas de onde teriam sido retirados
0000079-95.2014.8.03.0001 e mostrando total des- indevidamente quando do cumprimento da liminar
conhecimento da realidade dos fatos, em 27/5/2015 da Fazenda denominada São Gabriel”. Isso a teria
deferiu liminar de reintegração de posse em favor ajudado a tomar uma decisão mais correta.
de Celso Carlos. “(Celso Carlos) onde desenvolve No ofício enviado pela CPT, Padre Sisto
um projeto de agronegócio, com plantio mecanizado assim conclui: “teremos mais casas derrubadas,
de soja e milho, supostamente invadidas pelos réus roças destruídas, vigilantes violentos e armados
no dia 2/12/2014.......Pois bem. Quanto à prova da andando nas suas motos, matas derrubadas, iga-
posse dos imóveis, bem como do esbulho possessó- rapés aterrados. É o que mais me inquieta graças a
rio, tenho que está devidamente comprovada nos decisões judiciais equivocadas ou a atitudes no mí-
autos, sobretudo porque no dia 26/1/2015, o Juiz da nimo suspeitas de um juiz. Inquieta-me também o
CIMI: “O Acre que os mercadores da natureza escondem”, p.05 . http://www.cimi.org.br/pub/Rio20/Dossie-ACRE.pdf: acessado em 03/06/2015.
II
PAULA, Elder Andrade de. (Des)Envolvimento insustentável na Amazônia Ocidental: dos missionários do progresso aos mercadores da natureza. Rio
III
ta: a castanha e a seringa. Alguns têm umas vaqui- dezembro até março na colheita da castanha. A
nhas leiteiras e uns bezerros. Também se fabrica área de Riozinho é toda de castanhal. De lá saí pelo
bastante farinha d’água e farinha branca. As roças, menos 70% da produção de castanha do município
de aproximadamente um hectare, são feitas com de Rio Branco. A falta de título da área impediu fa-
pequenas derrubadas, onde deixa roça por dois zer um plano de manejo de óleo de copaíba e hoje
ou três anos, depois abandona e a mata cresce de é uma das árvores que está sendo toda derrubada
novo. Deixa formar ‘capoeira’ - o mato crescer - pelos madeireiros.
por quatro ou cinco anos e depois pode voltar a
fazer o roçado de novo. Nas roças, as famílias plan- A rotina no seringal
tam mandiocal, banana, feijão de arranque, feijão O seringueiro costuma sair cedo de casa,
de praia, milho, arroz. Cria-se muito frango caipi- por volta de 4 horas da madrugada, com a poronga
ra, pato, porco, ovelha e outros. - espécie de lanterna usada na cabeça do seringuei-
Do Seringal São Bernardo saíram umas 15 ro. Saindo cedo, com tempo frio, a seringa produz
famílias. Muitas destas famílias agora se encontram um pouco mais, pois com o frio escorre mais serin-
sem teto, sem casa, sem trabalho, e em casas de pa- ga. Com vento e tempo quente, seca o traço da se-
rentes em Rio Branco. Umas sete ou oito famílias ringueira rapidamente. Levantando cedo dá tempo
compraram colocações dentro de uma reserva ex- para ir ao roçado pela tarde. Recolhe o cernambi,
trativista que foi demarcada, a Resex Chico Men- látex, conhecido por CBP. Para recolher, hoje se usa
des, no Xapuri. muito garrafas descartáveis cortadas ao meio ou ta-
O seringueiro de abril até final de agosto boca, para economizar a compra de utensílios de
tira a seringa. Em julho e agosto trabalha na roça plástico. E vende-se o produto em sacos de 50 Kg.
de mato. Setembro e outubro plantando a roça. De O CBP custa cerca de R$ 5,20 kg - com sub-
Entre os problemas causados pelos planos de manejo estão o aterraramento dos igarapés. Na imagem, o Riozinho do Rola
IV
http://www.altinomachado.com.br/2011/10/laminados-triunfo.html Acessado em 20/04/2015.
V
http://memberportal.fsc.org/ acessado em 20/04/2015.
VI
http://www.imaflora.org/empreendimentos-certificados.php
A comunidade de Lusitânia,
o fim de um império
Lábrea está situada no meio da floresta foi fruto de mais de dez anos de luta das comunida-
amazônica, na calha do Rio Purus, um dos gran- des ribeirinhas e ajudou os moradores do Purus a
des afluentes da margem direita do Rio Amazonas. conseguir mais autonomia e segurança territorial,
A quatro dias de barco (ou dez horas de voadeira) conseguindo ver seus direitos tradicionais de posse
subindo o Purus vive a comunidade ribeirinha de reconhecidos. Mesmo assim, alguns conflitos con-
Lusitânia, na foz do Rio Tumiã, dentro da Reserva tinuam acontecendo. Sendo agente da Comissão
Extrativista do Médio Purus. Está é uma das uni- Pastoral da Terra do regional Amazonas, Queops
dades de conservação do estado do Amazonas, que Silva de Melo descreveu, em setembro de 2014, as-
tem como objetivo garantir o território e a vida dos sim o cenário das Resex de Lábrea:
moradores tradicionais, mantendo de forma sus- “Dentro dos limites e no entorno destas áre-
tentável as florestas e a biodiversidade amazônica. as, os processos conflituosos são intensos e os
A criação da Reserva Extrativista (Resex) seus moradores não conseguem proteger-se
I
SILVA DE MELO, QUEOPS, “Amazônia. O Triste abandono das Unidades de Conservação no Amazonas”, Pastoral da Terra, julho a setembro de 2014.
II
Entrevista em 15 de junho de 2015.
III
SILVA DE MELO, QUEOPS, “Amazônia. O Triste abandono das Unidades de Conservação no Amazonas”, Pastoral da Terra, julho a setembro de 2014.
IV
CPT e CIMI de Lábrea. “Fortalecendo a organização das comunidades ribeirinhas e indígenas no Médio Purus”, 30/9/2013.
V
http://www.portalamazonia.com.br/secao/amazoniadeaz/interna.php?id=470
VI
http://www.bv.am.gov.br/portal/conteudo/municipios/labrea.php
VII
http://www.iieb.org.br/index.php/publicacoes/livros/memorial-da-luta-pela-reserva-extrativista-do-medio-purus-em/
VIII
http://casa-civil.jusbrasil.com.br/noticias/2236/criada-a-reserva-extrativista-do-medio-purus
IX
http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/imgs-unidades-coservacao/portarias/RESEX%20%20Medio%20Purus%20VIAM%20Port%20112%20
de%2004%2011%2010.pdf E http://www.jusbrasil.com.br/diarios/21770249/pg-97-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-05-11-2010, acessado em
24/04/2015.
X
Conversa com José Maria Carneiro de Oliveira, presidente da ATAMP, dia 15/06/15.
XI
Relatos recolhidos o dia 17/06/15.
XII
http://reporterbrasil.org.br/trabalhoinfantil/ex-prefeito-de-labrea-e-responsabilizado-por-trabalho-escravo-infantil/
XIII
http://reporterbrasil.org.br/trabalhoinfantil/ex-prefeito-de-labrea-e-responsabilizado-por-trabalho-escravo-infantil/
XIX
Relatos recolhidos pelo CIMI de Lábrea.
XV
Relato ouvido o dia 18/6/15.
XVI
Dia 17/06/15.
XVIII
Relatado por José Maria Ferreiro de Oliveira, chefe da Resex do Meio Purus do ICMBIO.
XIX
http://casa-civil.jusbrasil.com.br/noticias/2236/criada-a-reserva-extrativista-do-medio-purus
XX
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Dnn/Dnn11577.htm
XXI
Entrevista com José Maria Carneiro de Oliveira em Lábrea, 15 de junho de 2015.
XXII
Ata da 693ª reunião da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, em Manaus, na sede do Incra, no dia 21 de agosto de 2014, às 15 horas.
XXIII
Ao preço de mercado de $R 25,00 a lata, 1.850 sacas de castanha de 04 latas cada uma, podem oferecer um valor bruto de venda de $R 185.000,00, com
despesas trabalhistas aproximadas de $R 57.000,00,representa um bom lucro.
XXIV
IInformação de Hoadson Leonardo Silva e Ione Azevedo de Lima, do CIMI da Prelazia de Lábrea.
XXV
Cartas da CPT Lábrea ao ICMBIO e a ATAMP, de 09 e de 07 de abril de 2015.
1
http://professoralbertochaves.blogspot.com.br/2014/10/historia-do-maranhao-1.html
2
http://www.incra.gov.br/tree/info/file/6849 . Acesso em 26 de setembro de 2015.
3
http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/crqs/quadro-geral-por-estado-ate-23-02-2015.pdf. Acesso 26 de setembro de 2015
4
PEC 161/2007 do deputado Celso Maldaner (PMDB/SC). Estabelece que a criação de espaços territoriais a serem especialmente protegidos, a demarcação
de Terras Indígenas e o reconhecimento das áreas remanescentes das comunidades dos quilombos deverão ser feitos por lei.
5
A PEC 215 inclui dentre as competências exclusivas do Congresso Nacional a demarcação de terras indígenas e a ratificação das demarcações já homologa-
das, que atualmente são atribuições da União e também titulação de terras de quilombo.
6
Destaca-se do depoimento deles o seguinte: “existe uma área de 1.342 hectares ocupada por 96 famílias que ali residem há muitas gerações; há uma liminar
expedida em fevereiro de 2009 por Denise Pedrosa Torres, Juíza de Direito da Comarca de São Vicente Férrer/MA, para que os lavradores se retirassem da
referida área; a liminar foi suspensa por quatro vezes; na última suspensão, a Juíza de Direito deu um prazo de 10 dias, a contar de 26 de agosto de 2009,
para que a área de 1.342 hectares, objeto de litígio entre os remanescentes de quilombos e Hugo Flávio Barros Gomes, seja comprovada como pertencente
à comunidade quilombola; os declarantes procuraram o INCRA várias vezes, e o INCRA não tomou medidas para solucionar o problema; uma das justifi-
cativas para a não realização dos estudos pelo INCRA é a falta de antropólogo nos quadros do instituto.”
1
http://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?id=35122, acessado em 15/02/2016.
I
Projeto CPT BR163 aprovado por Misereor em 2015.
II
Denúncia dirigida ao “Presidente do INCRA/Estado do Pará” 14/12/2004 por Vanderlei de Oliveira e outros.
III
Processo de nº 0000871-69-2011-814-0024.
IV
Comissão em Defesa da Vida ao Procurador da República Claudio Henrique Machado Dias, em 12/3/12.
V
“Relatorio de vistorias em parcelas do PA Ipiranga (Município de Itaituba-PA) de Edson Valério Nunes, Edioni Gomes da Costa, Luiz Fernando de Araújo
e Thiago Braga Duarte.
VI
Ofício GSI/n. 020/2012 de 05 de Novembro de 2012, assinado por Evangelista R.C. da Silva da Associação dos Moradores Arco Iris CNPJ 12.428.358/0001-
07, dirigido ao Eng. Marcos Alexandre Kowarik, superintendente do Incra de Santarém.
VII
Relatório de 29/1/2012, protocolado no INCRA
VIII
Relatório dos Moradores dp PA Ypiranga de 29 de maio de 2012. Comissão Em Defesa da Vida.
IX
Dr. José Boeing, svd OAB/PA 10.427. 01/02/2012.
X
Oficio n 009/2014 ao INCRA, de 28 de Março de 2014 e Ofício N. 11/2014 da CPT ao INCRA e MPF .
XI
Hugo Alan Moda Lima, superintendente regional interino, memória de reunião no Gabinete do Incra da SR-30 03 abril de 2012, CPT Santarém.
I
Documento interno cedido pelo Regional da CPT Rondônia.
II
Relatório Final da CPI sobre a Grilagem de Terras na Amazônia, pp. 472-478. https://arisp.files.wordpress.com/2009/10/33421741-relatorio-final-cpi-
-terras-amazonas-grilagem.pdf
III
http://www.resistenciacamponesa.com/jornal-resistencia-camponesa/edicao-n-16/53-luta-pela-terra
IV
http://www.rondoniadinamica.com/arquivo/familias-do-flor-do-amazonas-conquistam-documento-da-terra,1381.shtml
V
http://cptrondonia.blogspot.com.br/2012/04/agua-envenenada-por-agrotoxico-desagua.html
VI
http://cptrondonia.blogspot.com.br/2014/12/assentados-devem-participar-do-programa.html
pantes ilegais da área. Por isso os assentados reali- tanto, esses casos se repetem, apesar das reiteradas
zaram, em 08/12/2010, uma manifestação, apoia- denúncias públicas.
da pela CPT, no Tribunal de Justiça de Rondônia, Em maio de 2015 a Comissão de Combate à
contra tais reintegrações de posse. Ainda hoje vá- Violência no Campo debateu a suspensão de várias
rios processos continuam ameaçando famílias do reintegrações de posse contra assentados do Flor
Flor do Amazonas. Oito deles são acompanhados do AmazonasVII.
pela assessora jurídica da CPT. Após denúncias na ouvidoria de envolvi-
No Judiciário em Rondônia, como em pra- mento de servidores do INCRA em irregularidades,
ticamente todo o Brasil, ações de reintegração de um casal de lideranças sofreu ameaças e teve que se
posse impetradas por fazendeiros são rapidamente refugiar fora do assentamento. Sua casa foi queima-
julgadas, e, estranhamente, os juízes locais não têm da duas vezes e o lote invadido por terceiros.
se importado em conceder despejo contra pessoas
legalmente assentadas pelo INCRA, que possuem Famílias da cidade que voltaram para a roça
um Contrato de Concessão de Uso. Também não é
raro ações contra áreas de assentamento serem jul- No Flor do Amazonas muitas famílias são pro-
gadas por juízes estaduais, que, por continuarem venientes do êxodo rural e sem perspectivas na
sendo área pública federal, constitucionalmente cidade, tentaram voltar para roça. É o caso, por
deveriam ser julgadas pela Justiça Federal. No en- exemplo, de Amado Pedro da Silva, que chegou ao
VII
http://www.incra.gov.br/noticias/comissao-de-combate-violencia-no-campo-realiza-rodada-de-negociacoes-em-porto-velhoro
VIII
http://www.rondoniaovivo.com/noticias/prisao-de-agricultor-em-area-de-litigio-e-contestada-por-acampados-e-comite-popular/23989
IX
Http://www.newsrondonia.com.br/noticias/candeias+do+jamari+ganha+casa+familiar+rural+em+vez+das+efas/55684
Madeireira no caminho
de comunidade camponesa
“Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta, mata
verde, céu azul, a mais imensa floresta... No lugar que havia
mata, hoje há perseguição. Grileiro mata posseiro só pra lhe
roubar seu chão”. Vital Farias
Foto: Imazon
Situado no extremo Norte do país, o estado
de Roraima faz fronteira com a Venezuela, Guia-
na, Pará e Amazonas. Cortado ao sul pela linha
do Equador, a maior parte do território fica no
hemisfério Norte. Mais de 60% da área do esta-
do é coberta pela floresta Amazônica. A extensão
territorial é de 224.303,187 km², divididos em 15
municípios. 46% dos habitantes são indígenas. É
o estado brasileiro menos populoso, com apenas
450.479 habitantes. Sua densidade demográfica é
aproximadamente de 2 hab/km². A capital é Boa
Vista, onde residem 65,3% da população do esta-
do. Outras cidades populosas são os municípios
de Rorainópolis, Alto Alegre, Caracaraí, Mucajaí e
Bonfim.
O estado, durante muito tempo, fazia parte por 87,4% de seu Produto Interno Bruto (PIB), a
da província do Amazonas, com população peque- agropecuária é responsável por 4,3% e a indústria
na e economia estagnada, baseada em fazendas de por 8,3%. Os principais produtos agrícolas são
gado. No início da República, em 1904, a porção mandioca, arroz, milho, laranja e banana. A ma-
mais oriental de Roraima foi alvo de uma disputa deira responde por 74% das exportações do estado.
fronteiriça com a Guiana. Essa parte do território A agricultura familiar não foi a prioridade
foi dividida entre os dois países, ficando a maior dos governos anteriores e muito menos do governo
parte para a Guiana. Somente em 1943, a área foi atual. Implantar em Roraima um eixo de produção
desmembrada do estado do Amazonas e trans- agrícola visando incluir o estado no cenário na-
formada em território federal do Rio Branco. Em cional do agronegócio faz parte da plataforma de
1962, o território passou a se chamar Roraima. trabalho da governadora de Roraima Maria Suely
A economia do estado, em 2014, estimada Campos (PP). Articulação neste sentido está sen-
em R$ 6,9 bilhões, representa apenas 0,17% do to- do feita com produtores de soja do Mato Grosso e
tal nacional e é a menor entre os estados brasilei- Paraná.
ros. Ela se apoia no setor de serviços, responsável Nas áreas degradadas pela agricultura co-
mercial, dia a dia estão aumentando as ocorrências tros quadrados, equivalente a 22 campos de fute-
de mortandade de aves e de pequenos animais de- bol, foram desflorestados no estado.
vido à aplicação indevida de agrotóxicos. A des- Na Amazônia Legal, conforme Boletim do
truição da fauna pela caça e pesca é uma constante, Desmatamento do Imazon de março de 2015, o
pois ainda se pratica bastante a caça, por tradição desmatamento acumulado no período de agosto
ou lazer. Pouco a pouco a fauna da região vai se re- de 2014 a março de 2015 atingiu 1.761 quilômetros
duzindo. Da mesma forma a pesca predatória, com quadrados. Houve aumento de 214% do desmata-
uso de apetrechos inadequados, ou em época de mento em relação ao período anterior (agosto de
defeso está reduzindo drasticamente o conjunto de 2013 a março de 2014) quando atingiu 560 quilô-
espécies de peixes regionais, já bastante rarefeita. metros quadrados. Considerando o período entre
agosto de 2014 a março de 2015, o Mato Grosso
Desmatamento liderou o ranking com 36% do total desmatado no
período. Em seguida aparece Pará (25%) e Rondô-
Segundo dados do Instituto do Homem e nia (20%). Em termos relativos, houve aumento ex-
Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o desma- pressivo de 640% no Mato Grosso e 227% no Pará.
tamento ocorre com maior frequência nas áreas de Já em termos absolutos, de acordo com o Imazon,
serras e junto às matas ciliares dos rios e lagos da o Mato Grosso liderou o ranking do desmatamen-
área de savana. No período de agosto de 2012 a ju- to acumulado com 639 quilômetros quadrados,
lho de 2013 o desmatamento em Roraima cresceu seguido pelo Pará (434 quilômetros quadrados) e
49%, segundo dados do Projeto de Monitoramen- Rondônia, com 347 quilômetros quadrados.
to da Floresta Amazônica por Satélites (PRODES) No fim do ano de 2014, a Polícia Federal
e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais cumpriu dezenas de mandados de busca e apreen-
(INPE). Os números mostram que 185 quilôme- são e de condução coercitiva em Boa Vista, Rorai-
Segundo as famílias de Cujubim Beira Rio, a derrubada das Castanheiras pelos madereiros é uma
forma de expulsa-las, pois a castanha é o meio de vida delas
Comunidade Vitória:
Terra Legal alimenta conflito
Em 08 de outubro de 2013, reportagem vei- tinuado foi objeto de operação da Polícia Federal
culada pela imprensa tocantinense afirmava que deflagrada em 17 de fevereiro de 2005, denomina-
1,5 milhões de hectares de terras da União foram da “Terra Nostra”, resultando na prisão de 16 pes-
titulados irregularmente no estado do Tocantins1. soas que integravam uma quadrilha de grilagem
Essa titulação está na base dos constantes conflitos de terras, ameaças a posseiros e outros crimes. Os
por terra no estado. chefes desse grupo, segundo a PF, eram o seguran-
A compra e venda de terras griladas tor- ça Luiz Carlos Fagundes e o advogado Ronaldo
nou-se prática corriqueira no estado, envolvendo Sousa Assis, dono de um hotel e principal agiota
agentes públicos, funcionários do INCRA e donos de Colinas do Tocantins.
de cartórios. Essa situação de prática de crime con- O crime era finalizado no cartório. Na refe-
http://conexaoto.com.br/2013/10/08/1-5-milhao-de-hectares-foram-titulados-irregularmente-no-to-regularizacao-vai-comecar-por-areas-de-conflito
1
http://laurocampos.org.br/portal/images/stories/documentos/Grandes_projetos_do_capitalismo.pdf
2
da ocupação de uma área da União, mas que havia brinho de Lázaro que requereu a regularização da
sido grilada. À época da ocupação, o imóvel per- área pelo Programa Terra Legal, a partir de então,
tencia a Lázaro Eduardo de Barros, dono de uma denominada Fazenda Santo Reis.
empresa de pesquisas eleitorais, e sua esposa El- Essa transferência para cumprir um dos re-
ziran Assunção Alves Barros, funcionária pública quisitos da lei 11.952/2009 – ocupação anterior a
na Câmara Municipal de Palmas. A área havia sido 1º de janeiro de 2004 – foi registrada em Cartório
http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=486
3
http://www.ecodebate.com.br/2008/07/28/a-grilagem-de-terras-publicas-na-amazonia-artigo-de-ariovaldo-umbelino-de-oliveira/
4
CARTA FRATERNA
Segunda Carta das Comunidades Extrativistas
Machadinho d' Oeste, Rondônia – Amazônia do Brasil
19 de novembro de 2014
Apoio: