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GEOGRAFIA E POLÍTICA

Paul Claval

Por que alguém se torna geógrafo ? Sem dú­ cos e com todos os componentes da população.
vida, em virtude da atração pelo desconhecido; Quando um dia chegam à direção de um partido,
pelo fascínio de novos mundos e pela paixáo por têm de rever regiões e departamentos para saber
viagens. Mas também, porque se pertence a um país se a opinião lhes é favorável ou hostil de designar
onde se tem prazer em conhecer os contornos, a os candidatos mais aptos a conquistar a vitória e
riqueza e os trunfos sobre o cenário internacional; de negociar alianças com outras formações, a fim
porque nele se indaga sobre as possibilidades que de assegurar segundos turnos mais fáceis, se o es­
têm de prosperar e porque inquieta-se com as ame­ crutínio ocorrer duas vezes. Os governos seguem
aças que vizinhos e concorrentes fazem pesar so­ a vida interior; preocupam-se com as tensões; ten­
bre si. As preocupações políticas perm anecem tam acalmá-los e elaboram leis que têm em conta
subjacentes nos propósitos dos geógrafos, mesmo interesses, frequentemente contraditórios, dos di­
quando eles adotam o tom desapaixonado dos pro­ ferentes componentes do país. O cenário mundial
fessores. Perante muitos, Vidal de la Blache encarna preocupa-lhes do mesmo modo: com quem aliar-
o p a rti-p ris acadêm ico de neutralidade mas não se ? Em caso de guerra ou de tensão internacional,
foi ele mesmo que começou sua carreira com um como assegurar a segurança dos aprovisionamien­
artigo sobre o impacto da abertura do canal de Suez tos necessários à alimentação e à atividade do país
sobre o Mediterráneo, a Europa e o cenário políti­ ? Onde encontrar novas opções às atividades indus­
co mundial ? Mais do que ninguém, ele contribui triais ? Onde instalar os excedentes de população,
para a fixação da imagem do território francês com se o crescimento demográfico am eaçar o nível de
seu Tableau de la G éographie en France. Estourou vida ? Deve-se buscar uma expansão territorial para
um litígio internacional a propósito das fronteiras recuperar as antigas possessões, consolidar um
da Guiana ? É ele o expert. Alguns anos mais tar­ fronteira frágil, anexar províncias ricas em solo e
de, ele enaltece uma reforma regional destinada a subsolo ?
favorecer o desenvolvimento econômico do país. Os governos dos países democráticos avan­
Por ocasião da Prim eira Guerra mundial, ele se çados não têm a mesma cobiça por terras virgens
am arra ao destino das províncias anexadas pelo que aqueles que ocupavam esse lugares há um sé­
tratado de Frankfurt, a Alsácia e a Lorena, e à fron­ culo. A evolução dos armamentos e os riscos ine­
teira do Sarre. Não seria demais para alguém que rentes aos conflitos nucleares aumentaram de tal
às vezes se tentou apresentar como a-político ? forma o preço a ser pago por eventuais conquistas,
Os políticos vivem na geografia e a aplicam. que aprendeu-se a consolidar outras estratégias
Se são parlamentares, é preciso que conheçam as constituição de conjuntos supranacionais, políticas
atividades de sua circunscrição, que encontrem os de abertura econômica etc. Os meios da diploma­
notáveis, negociem com os grupos de pressão que cia mudaram, mas sua dimensão espacial não de­
aí representam os diferentes interesses econômi­ sapareceu. Em todos os países, os grandes corpos

Universidade de Paris-Sorbonne
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que participam da elaboração de estratégias inter­ turas de carga, outrora tão dispendiosas, e tornou
nacionais desenvolvem suas próprias concepções. inúteis os intermediários que se interpunham entre
Os militares tornaram-se mais sensíveis ao equilí­ os produtores e distribuidores finais; a revolução
brio das forças e hoje, ao invés da geometria das logística que daí resulta, permite às firmas garanti­
bases, usam-se vetores1 e mísseis. Os diplomatas rem, elas mesmas, a distribuição dos produtos so­
preocupam-se mais em sondar as reações de par­ bre o conjunto do planeta. Graças aos computado­
ceiros ou de eventuais adversários. res e às redes de telecomunicação que se acoplam,
As confusões técnicas impuseram, desde o tornou-se fácil transmitir qualquer volume de infor­
fim da Segunda Guerra Mundial, uma reavaliação mações, a preços baixos, para qualquer parte do
permanente do cenário político internacional. Por mundo. As fases de transformação industrial das fi­
quatro décadas, a guerra fria fixou a atenção sobre leiras produtivas permaneciam circunscritas em cír­
os efeitos geoestratégicos da aviação, dos foguetes culos de trezentos ou quatrocentos quilômetros de
e da arma atômica. A calota polar deixou de ser uma diâmetro. Hoje elas andam efervescentes, já que
fronteira segura para seus países lindeiros: é pelas uma usina de montagem pode ficar em contacto
altas latitudes que passam os itinerários mais dire­ permanente com seus fornecedores, sejam quais
tos entre os países temperados; é ao longo do cír­ forem suas localizações. Entretanto, permanece uma
culo Ártico que devem ser localizadas as linhas de dificuldade: no momento das decisões importantes,
vigilância, destinadas a alertar os dispositivos es­ é preciso encontrar-se com os parceiros. As viagens
tratégicos, e onde devem ser instalados os meios se fazem de avião. Para não se estender, os Estados-
de réplica, suficientes para interceptar pelo menos maiores, sedes sociais, serviços comerciais e servi­
uma parte dos aviões e foguetes inimigos. A fabri­ ços financeiros de firmas se instalam em cidades
cação de submarinos nucleares armados de fogue­ grandes, equipadas de um aeroporto conectado com
tes e ogivas atômicas deu um novo valor aos Oce­ to d as as a g lo m e ra ç õ e s em n ív e l m u n d ia l. A
anos e ao conhecimento dos limites que os sepa­ mundializaçáo da economia vai de par em par com
ram, porque fica muito mais fácil detectar os navi­ o movimento de metropolização.
os cuja assinatura sonora se viu reduzida a um sim­ A globalização da vida econôm ica fez desa­
ples sopro. parecer os mercados locais. Os mesmos produtos
A Queda dos Muros inverteu a ordem das se impõem por toda parte. As técnicas e o saber
prioridades: os armamento nucleares não desapa­ desenvolvido para se tirar partido dos recursos lo­
receram, mas o risco de um confronto entre os Es­ cais e responder a demandas específicas são des­
tados Unidos e a ex-União Soviética já pertence ao valorizados. Como as populações serviam-se, es­
passado. A vigilância continua necessária, em vis­ pontaneamente, de tudo o que diferenciava seu
ta do número de países que dispõem de armas atô­ m o d u s vivendi de seus vizinhos na construção de
micas e dos que chegarão a possuí-las, num futuro identidades, elas têm o sentimento de estarem sen­
mais ou menos longínquo. A curto prazo, as armas do despojadas de uma parte essencial de seu ser,
químicas e biológicas parecem mais temíveis, por­ pelo progresso técnico. Buscando evitar perdas,
que podem ser produzidas por países pouco indus­ elas valorizam tudo o que, em seu patrimônio, não
trializados e com pouco domínio sobre tecnologias fica diretamente ameaçado. É com muito respei­
sofisticadas. to que ora se contemplam os testemunhos do pas­
Apesar dessas inquietações geoestratégicas sado: quanto mais frágeis e am eaçadas forem as
que permanecem, são os problemas econômicos e culturas, mais as pessoas a ele se ligam. Movimen­
culturais que tendem a ocupar o centro das aten­ tos regionalistas ou nacionalistas tiram partido de
ções. Os custos de transporte de massa não cessa­ suas lembranças de uma história dividida, para ci­
ram de baixar desde a Segunda Guerra Mundial. A mentar a unidade dos grupos de hoje. Em outros
revolução do c o n ta in e r fez desaparecerem as rup­ iugares, é na fé religiosa não contam inada pela
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modernidade que se busca a salvação: é daí que tes concorrências, criam zonas de livre troca, de
vem o sucesso dos fundamentalistas. u niões alfan d eg árias e de m e rcad o s com u ns.
O cenário mundial evolui rapidamente sob Aprendem a renunciar a frações cada vez mais im ­
impacto da evolução das técnicas de armamentos, portantes de soberania para permitir, a cada con­
de transporte e de comunicação. Será que os po­ ju n to territorial, encontrar um lugar no cenário
líticos esperam que os geógrafos lhes ajudem a mundial. O fim é proporcionar, às populações que
com preender o que está acontecendo e a lhes pro­ aí vivem, os meios de contribuir, suficientem en­
porem novas estruturas adaptadas às condições te, à atividade econôm ica mundial, para se alim en­
atuais? Aparentemente, náo. De Hiroshima ao fim tar, dar trabalho a todos e ver melhorar os níveis
da Guerra Fria, os homens de Estado só precisa­ de vida.
ram, para analisar o equilibrio das forças presen­ É dos serviços de coleta de dados e de re­
tes no mundo, da opinião de especialistas em ar­ flexão que bem frequentemente dependem os Es­
mas nucleares, de foguetes e de equipamentos ele­ tados ou os organismos supranacionais -tais como
trônicos de detecção. Desenvolveram-se, assim, a ONU, a UNESCO, a OCDE e a União Européia
uma geoestratégia e uma geopolítica de militares que os geógrafos colhem dados e explicações,
que construíram todas outras abordagens por mais com os quais alim entam seus trabalhos. Q uer
de uma geração. dizer então que, no mundo atual, os geógrafos
De há tempos, os serviços diplom áticos nada têm a dizer de pertinente sobre o cenário
têm o hábito de analisar as relações de um país político, nada a ensinar aos governantes ou aos
com seus vizinhos e de levar em conta tudo o que administradores ?
ele pode tirar das relações internacionais que man­ Os militares, diplom atas ou responsáveis
têm. Sabem em qual direção convém desenvolver pela econom ia náo costumam ter tempo de recuo
um a p o lític a de e x p a n s ã o ou de a n e x a ç ã o face à realidade. Eles procuram soluções de hoje
territorial. Inquietam-se com a reação dos Estados para problem as prem entes e logo renunciam a
estrangeiros, de sua suscetibilidade e do estado analisar situações, mudando de escala temporal
da opinião pública. ou espacial. É o que a pesquisa universitária faz
O mundo político não esperou o impulso à vontade.
da geografia moderna para analisar as forças exis­ Os homens pertencem a grupos enraiza­
tentes nas relações entre os Estados e definir dou­ dos; seus comportamentos não dependem som en­
trinas de ação: graças à sua experiência, os ho­ te de sua situação objetiva e de seus interesses eco­
mens de Estado elaboram idéias sobre as grandes nômicos. Frequentemente, possuem um forte com ­
leis da geografia política e aprenderam a praticar ponente local. Este é um dos primeiro resultados
a geopolítica, enquanto reflexão sobre estratégi­ obtidos pela geografia política: André Siegfried2
as desejáveis, antes de agir. A preocupação de demostrava, desde 1913, a surpreendente perm a­
fazer face a novas situações estimula a reflexão nência de im plantação de partidos políticos de
nesses campos. As grandes administrações têm, direita na França do Oeste. Três quartos de sécu­
em seu seio, células de análise. Os diplom atas los mais tarde, suas o b servaçõ es nunca foram
procuram com preender por que seus papéis ten­ desmentidas, mesmo se a especificidade dessas
dem a diminuir, e a modificarem seus modos de regiões tenha progressivamente se atenuado. É do
intervenção, para dar mais força à sua ação. Os lado da história, do choque de época revolucioná­
s e rv iç o s e c o n ô m ic o s se perguntam sob re as rio e da guerra de Vendée3 que geralmente se volta
conseqüências da mundialização. Em um mundo para compreender a singularidade de atitudes que,
onde as desordens territoriais tornaram-se difíceis, aliás, nada justifica. Mas esta história seria logo es­
os Estados aprenderam a adotar outras estratégi­ quecida se náo tivesse permanecido memória viva,
as. Unem suas forças para enfrentar as crescen­ se não tivesse suscitado uma desconfiança profun-
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da perante todas instituições republicanas, da es­ segunda potência econômica do planeta. Seus al­
cola em particular, e não tivesse pactuado com um tos fornos queimam o coque fabricado à partir do
cato licism o de com bate. Num registro vizinho, carvão importado da Austrália, da África do Sul ou
Em m anuel Todd sublinha um bocado de influên­ do Canadá e empregam minerais de ferro proveni­
cia persistente das estruturas familiares sobre os entes da Austrália, da Venezuela, do Brasil, da
comportamentos políticos, em quase toda Europa. Libéria ou da Mauritânia.
As pesquisas dos quinze últimos anos re­ Quer dizer então que os problemas ecoló­
tom am , in cessan tem en te, os com ponentes lo­ gicos desapareceram ? Não, mas eles mudaram de
cais da vida social e política. Mesmo países de tipo. Graças aos transportes, a produtividade dos
s o c ie d a d e p ro fu n d a m e n te bem u n ific a d a e ecossistemas locais ou a ausência de energia fós­
estandartizada, com o os Estados Unidos, não es­ sil no subsolo de um país cessam de ser fatores
capam desses efeitos. limitantes. Hoje é possível acumular homens, for­
Quase todos geógrafos do começo do sé­ mas de energia concentrada e equipamentos pro­
culo achavam que seus papéis consistissem em su­ dutivos em qualquer ponto do planeta. O único li­
blinhar o peso dos revéses naturais na vida social. mite advém da capacidade dos ecossistemas em
Ligavam-se à fertilidade do solo e à sua aptidão em receber resíduos sólidos a serem reciclados nas
garantir a vida de populações numerosas. Inquie- águas usadas e o gás emitidos pelas casas, máqui­
tavam-se com os recursos minerais, com a abun­ nas e veículos. Nas zonas rurais, frequentemente, as
dância de reservas de hulha, com a riqueza das ja ­ atividades fora do solo geram graves poluições. Em
zidas de ferro. Sabiam que, com certeza, o comér­ quarenta anos, a Bretanha tornou-se uma das par­
cio e as trocas liberam os grupos de uma submis­ tes mais produtivas da França, do ponto de vista
são exagerada das possibilidades do meio onde agrícola: com suas criações industriais, contribui co­
estão instalados, mas isto não bastava para acal­ piosamente à produção européia de aves, ovos, car­
mar suas inquietudes. A guerra pairava sempre ne de porco e de bezerro. A abundância de restos,
ameaçadora. Como um país muito dependente de adubo de porco4 em particular, traduz-se, infelizmen­
suas im portações poderia sobreviver um longo te, por uma concentração de nitrato tão forte nos
conflito ? Não seria justam ente sabedoria dispor, lençóis dos cursos de água, que todo o sistema de
no próprio lugar, de recursos suficientes para per­ produção é questionado, fazendo com que ocorra
mitir à m áquina econ ôm ica continuar girando, um processo de desconcentração de atividades. Há
mesmo que num ritmo um pouco reduzido? níveis de concentração que não devem ser ultrapas­
Alguns recursos não viajam. Assim aconte­ sados: os políticos começam a tomar consciência.
ce com a água quando muito podia-se levar, via Os geógrafos podem ajudar a melhor compreender
canais de irrigação, os caudais alimentados pelas a atual dinâmica e a analisar, ao mesmo tempo, as
neves das montanhas ou pelas abundantes chuvas dimensões sociais, regionais e globais dos atenta­
dos trópicos úmidos a cinqüenta, cem, duzentos ou dos aos equilibrios naturais.
trezentos quilômetros do lugar de coleta. Nos paí­ Ainda subsistem certos revéses naturais, de
ses áridos, o imperativo da água parecia sumamen­ estilo tradicional: em particular, os ligados à rarida­
te essencial. de da água. Os Estados afetados pela aridez ou ame­
Três quartos de século mais tarde, os pro­ aças são bem conscientes disso. Os geógrafos po­
gressos técnicos em transporte permitiram reduzir dem, inclusive neste campo, adiantar a reflexão em
a poucas coisas, o peso dos recursos naturais no vista da manutenção da paz a longo prazo.
sucesso econômico. Desfeito pela guerra, o Japão, A globalização produz tantos distúrbios en­
com uma base agrícola de extensão limitada, pou­ cadeados, que nem sempre os políticos conseguem
co carvão ainda por cima de qualidade medíocre reconhecer à boa medida. A concorrência dos paí­
- e sem petróleo, em vinte e cinco anos tornou-se a ses recentemente industrializados não provêm só da
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baixa de preço dos fretes, da aceleração das viagens políticas é indissociável de sua contribuição com os
e da eficácia das telecomunicações. Ela não teria circuitos de produção e de troca internacionais. Du­
sido possível sem a evolução que tornou as técni­ rante muitos séculos, os Estados instalados no cen­
cas mais científicas. A maior parte das de ontem só tro do mercado mundial, na Europa e depois na Amé­
podia adquiri-las por aprendizagem, nos contactos rica do Norte e no Japão, puderam se organizar em
com os núcleos onde já existiam fabricações: os espaços nacionais, dispor de finanças abundantes,
países avançados beneficiavam-se de um monopó­ criar exércitos e marinhas eficazes, e assim assegu­
lio do trabalho industrial. Este foi perdido, na medi­ rar seu domínio coletivo global. Na periferia, as con­
da em que a pesquisa avançava entre si e a instru­ dições eram radicalmente diferentes: a mediocrida­
ção se difundia pelo Terceiro Mundo. A nostalgia não de dos ganhos impedia a realização de retiradas de
é admissível: os produtores europeus, americanos capital importantes. O Estado não podia reunir os
e japoneses não mais conhecerão situações delica­ meios necessários para assegurar seu controle no
damente protegidas que antes lhes pareciam eviden­ interior (falta de uma administração regular) e sua
tes. Os políticos deviam com preender que ne­ segurança exterior (falta de poder equipar e pagar
nhum país pode esquivar-se das novas condições regularmente um exército, uma marinha e mais tar­
de concorrência. de, uma aviação).
Graças à revolução dos transportes rápidos As condições nas quais vivemos são diferen­
e das telecomunicações, as firmas tornaram-se livres tes. A metropolização tende a melhor repartir as fun­
para distribuir, à vontade, os estabelecimentos pro­ ções de direção e controle, já que são divididas en­
dutores. Elas respondem às pressões que os Esta­ tre todas as metrópoles do conjunto mundial. Mas
dos lhes submetem, deslocalizando-se. As nações a acumulação de homens nas grandes cidades do
perderam o domínio de suas economias: as medi­ Terceiro Mundo não as transforma, automaticamen­
das que tomam tornam-se contra-produtivas, desde te, em organismos urbanos eficazes. Sem um mí­
que ameacem o equilíbrio das empresas. nimo de serviços públicos e segurança, não é pos­
A soberania dos Estados se vê então erodida sível desenvolver-se, no entorno, outras produções
pelo alto -já que convém criar conjuntos pluri-naci- além de energia e matérias primas.
onais mais adaptados às novas condições da con­ A mutação em curso vai mais longe: é o
corrência e por baixo, porque cidades e regiões, funcionamento dos Estados avançados que está
que as políticas nacionais não protegem mais, lutam ameaçado: as deslocalizações reduzem os impos­
pelo direito de praticar políticas de sedução junto tos que entram; as máquinas administrativas cria­
aos investidores. das pelos Estados de bem-estar são tão pesadas,
No interior dos Estados, exaurem-se as es­ que esses são obrigados a suspender suas retira­
truturas regionais hierarquizadas, apoiadas em re­ das de capital a todo momento, acelerando assim
des urbanas regulares: desde então, contam ape­ o êxodo de empregos. Se renunciam aos excessos
nas as metrópoles suficientemente poderosas para de proteção social, tal como a Grã-Bretanha da Sra.
serem conectadas, por voos diretos, com todos os Thatcher ou na Nova Zelândia, são todos os me­
centros de controle e de impulso da economia glo­ canismos de regulação social que entram em pane.
bal e as cidades que lhe são bem religadas, para A mundialização tem outras conse-quências
em torno delas gravitar. As políticas de planejamen­ que os geógrafos costumam sublinhar: ela multipli­
to, tais como se aprendeu a conceber há uma ge­ ca os contactos diretos entre os povos. As pessoas
ração, não mais se adaptam ao mundo atual. viajam mais, aprendem a se conhecer mas tam ­
A geografia oferece ainda mais aos políticos: bém, que lástima, a reforçar os clichês de idéias re­
situando-se em outra escala de tempo -a das longas cebidas. Para uma empresa ou associação fica fá­
evoluções e buscando a economia-mundo em seu cil manter serviços ou antenas no estrangeiro. As
conjunto, ela lembra que o destino das formações relações internacionais pertencem cada vez mais
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à esfera do privado. Isto fica bem claro no campo lhes dão, ao mesmo tempo, um outro papel: num
filantrópico ou cultural: os órgãos não governa­ m undo m ais a b e rto , on d e g ran d e p arte das
mentais tornaram-se parceiros essenciais de todas interações é negócio de empresas ou associações,
as relações entre os países ricos e os que ainda so­ os cidadãos participam mais diretamente da vida
frem de pobreza. internacional do que outrora. No passado, eles vo­
O mundo no qual nós entramos se estrutu­ tavam, depois viam seus eleitos agir. Hoje, eles in­
ra em torno de redes internacionais. Sempre hou­ tervém diretamente no estrangeiro, tanto no campo
ve diásporas. As que se multiplicam hoje não são econômico como no cultural; as organizações e as
mais feitas de células que mal se comunicam entre empresas que criaram ou nas quais trabalham, po­
si. Visando manter contactos, as comunidades dis­ dem se desinteressar pelo contexto político dos lu­
persas tiram partido dos voos charters e das tele­ gares onde se implantaram. Com frequência e à
comunicações. Em um mundo que precisa de in­ con travo ntade, elas se tornam importantes elemen­
termediários am bivalentes5 em muitas áreas cul­ tos da vida política local.
turais ou lingüísticas, elas são chamadas a bancar, Os geógrafos já não têm unicamente o de­
cada vez mais, o papel de suporte de grandes re­ ver de esclarecer os responsáveis políticos. Eles
des. As minorias estrangeiras sabem, desde então, devem, cada vez mais, elucidar a população sobre
que podem reivindicar sta tu s mais vantajosos que quais são as chances de ação e também suas res­
os que lhe eram outorgados, quando não partici­ ponsabilidades num mundo ora ampliado. Sem dú­
pavam tão diretamente da vida internacional. vida, é por conta disso tudo que a geografia nunca
Deste modo, os geógrafos podem mostrar teve tanta necessidade de ser política.
aos políticos todas as implicações das mutações em
curso. As transformações do cenário internacional T radu ção de Ed uardo Yázigi

Notas

1 V e tores são veículos capazes de transportar carga Fontenay, C h o le t e S au m u r, os c a m p o n e s e s da


nuclear. N.T. Vendée foram encurralados na margem esquerda
2 André Siegfried (1875-1959), geógrafo e sociólogo do Loire. Em 1795 o G eneral H oche outorgou liber­
francês, é autor de num erosos trabalhos de socio­ dade de culto, pacificando com p letam ente a região.
logia política e de geografia econôm ica; foi m em ­ N.T.
bro da A cad em ia Francesa. N.T. 4 "Lisier" no original: palavra d erivad a de um dialeto
3 Trata-se de um a insurreição contra-revolucionária suisso, significando um a m istura de excrem entos
o c o r r id a em 1 7 9 5 , e n tr e os c a m p o n e s e s da de porcos, com os quais se obtém a purina. N.T.
Bretanha do Poitou e do Anjou, por uma Constitui­ 5 'Travailler à ch eval" no original. Isto é, ter um pé
ç ã o c iv il d o c le r o . A p ó s a lg u n s s u c e s s o s em em cada lado. N.T.

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