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Resumo:
Palavras chave: O presente artigo apresenta como tema a garantia dos direitos
culturais por meio da instituição de Sistemas Municipais de
Plenos exercícios dos Cultura (SMCs), no âmbito da proposta do Sistema Nacional de
direitos culturais Cultura (SNC). A pesquisa analítico-descritiva teve como base a
inauguração, pela Constituição Federal de 1988, de paradigmas,
Sistema Nacional de como o da inclusão do Município na organização governamental
Cultura
brasileira e o do reconhecimento da fundamentalidade dos direitos
Sistemas Municipais de culturais. Por meio da apresentação da proposta de estruturação,
Cultura institucionalização e implantação de SNC, partiu-se para a análise
da natureza das políticas públicas de cultura que darão base para
Autonomia federativa os sistemas municipais e do conceito de autonomia federativa.
Concluiu-se que, na autonomia municipal, podem ser encontradas
justificativas para diferentes níveis de desenvolvimento dos SMCs.
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Resumen:
Abstract:
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institui regras sobre atribuições dos po- locais que governarão o Município em
deres Legislativo e Executivo municipal, questão. No art. 29, CF, também estão
competências e procedimentos adminis- dispostas as regras para a escolha dos
trativos, entre outros temas relevantes. representantes do Poder Executivo (pre-
É na LOM que geralmente é prevista a feito e vice-prefeito) e do Poder Legisla-
competência, por exemplo, para criar tivo (vereadores) municipais. Decorrem
e extinguir os órgãos da Administração dessas escolhas funções específicas:
Pública Direta, como órgãos gestores as funções administrativa e de governo
de cultura. As atribuições, além disso, cabem àquele, já as funções legislativa,
desses órgãos, não poderão ir de en- deliberativa, fiscalizadora e julgadora, a
contro às determinações da LOM. Se, este último Poder.
por um lado, a Constituição Federal con-
feriu autonomia para os Municípios se De acordo com o art. 29, IV, a, b
organizarem, e agora poderão instituir e c, CF, a quantidade de vereadores a
os respectivos SMCs, por outro, a gran- serem eleitos é determinada de acordo
de quantidade de Municípios pequenos com um sistema de representação pro-
tornou-se dependente de recursos do porcional e partidária, com relação à
Fundo de Participação dos Municípios quantidade de habitantes: entre nove e
e seus administradores geralmente afir- vinte e um vereadores, nos Municípios
mam não disporem de condições para com até um milhão de habitantes; entre
compor secretaria exclusiva de ou orça- trinta e três e quarenta e um, nos Muni-
mento para a cultura. cípios com até cinco milhões de habitan-
tes; e entre quarenta e dois e o cinqüen-
Constitui a Meta 37 do Plano Na- ta e cinco, nos Municípios com mais de
cional de Cultura (PNC) “100% das Uni- cinco milhões de habitantes. Como é
dades da Federação (UFs) e 20% dos nesta dimensão que se espelha a capa-
municípios, sendo 100% das capitais e cidade de os representantes municipais
100% dos municípios com mais de 500 realizarem escolhas políticas, as deci-
mil habitantes, com secretarias exclu- sões resultantes dela terão impacto dire-
sivas de cultura instaladas” (BRASIL, to nos serviços e nas políticas públicas.
2012). Caso a transformação do respec- Conhecer as propostas dos parlamenta-
tivo órgão gestor numa secretaria ex- res para o setor cultural e acompanhar
clusiva de cultura (caso esta ainda não as atividades legislativas poderá auxiliar
exista) seja do interesse dos gestores a compreender as razões para que as
municipais, será necessário ter a LOM políticas culturais locais sejam perenes
como base e coordenar ações com a ou circunstanciais naquele espaço.
Câmara Municipal. Torna-se fundamen-
tal para o gestor municipal, portanto, ter c. Autolegislação
ciência de que as decisões políticas tra-
duzidas nesses e em outros dispositivos A terceira faceta da autonomia
terão implicação direta na forma como o municipal, a da autolegislação, repre-
SMC será estruturado. senta o poder normativo do Município,
em sentido estrito. Se o princípio da le-
b. Autogoverno galidade (art. 37, caput; e art. 5º, II, CF)
é um dos corolários do direito adminis-
A segunda dimensão da autono- trativo e tem impacto direto em todos os
mia municipal, a de autogoverno, refere- agentes públicos, essa dimensão torna-
-se à existência de mecanismos especí- -se estratégica, porque os limites da le-
ficos para a escolha dos representantes galidade naquele Município serão defi-
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troalimente. Nesse contexto, parece que BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad.
questões sobre qual é o papel do Estado Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro,
no setor cultural; qual é o papel do MinC, Campus: 1992.
no desenvolvimento do SNC e no apoio BOTELHO, Isaura. Para uma discussão so-
aos SMCs; e que cuidados devem ser bre política e gestão cultural. In: CALABRE,
tomados para que o núcleo estático não Lia (Org.). Oficinas do Sistema Nacional
prescinda do entorno dinâmico dos SMCs de Cultura. Brasília: Ministério da Cultura,
estarão sempre em debate. 2006. p. 45-60.
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à execução das ações de campo – imóveis
fechados, abandonados ou com acesso não PINTO, Eduardo Régis Girão de Castro.
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______. Ordenação constitucional da cultura. 3 Apesar de ter entrado em vigor, no plano internacio-
São Paulo: Malheiros, 2001. nal, em 1976; O PIDESC foi incorporado ao ordena-
mento jurídico brasileiro por meio do Decreto nº 591,
de 6 de julho de 1992.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS –
ONU. COMMITTEE ON ECONOMIC, SO- 4 Na origem (Câmara dos Deputados), a numeração da
CIAL AND CULTURAL RIGHTS – CESCR. proposta – PEC nº 416, de 16 de junho de 2005 – apre-
General Comment No. 3: The Nature of Sta- senta a referência pela qual ela é reconhecida no setor
tes Parties’ Obligations (Art. 2, Para. 1, of the cultural. Após validada como norma jurídica, recebeu a
Covenant). Adotado na 5a Sessão do Comi- numeração de Emenda Constitucional (EC) nº 71, de 29
tê de Direitos Econômicos, Sociais e Cultu- de novembro de 2012.
rais, em 14 de dezembro 1990 (Documen-
to E/1991/23). Disponível em: <http://www. 5 No dia seguinte à aprovação da referida PEC, a se-
unhcr.org/refworld/docid/4538838e10.html>. nadora seria nomeada Ministra de Estado da Cultura.
Acesso em 24 nov. 2012.
6 O PIDESC foi incorporado ao ordenamento jurídico
por meio do Decreto nº 591 - de 6 de julho de 1992.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
– ONU. ECONOMIC AND SOCIAL COUN- 7 De acordo com José Afonso da Silva, os direitos
CIL – ECOSOC. Implementation of the In- culturais no Brasil, em decorrência dos art. 215 e 216,
ternational Covenant on Economic, So- CF, seriam: a liberdade de expressão da atividade inte-
cial and Cultural Rights: initial reports lectual, artística, científica; o direito de criação cultural;
submitted by States parties under articles o direito de acesso às fontes da cultural nacional; o di-
16 and 17 of the Covenant. Adendo. Brasil. reito de difusão das manifestações culturais; o direito
E/1990/5/Add.53. 20 nov. 2001. Disponí- de proteção às manifestações das culturais populares,
vel em: <http://daccess-dds-ny.un.org/doc/ indígenas e afro-brasileiras e de outros grupos partici-
pantes do processo civilizatório nacional; o direito-de-
UNDOC/GEN/G01/461/56/PDF/G0146156.
ver estatal de formação do patrimônio cultural brasileiro
pdf?OpenElement>. Aceso em 24 nov. 2012. e de proteção dos bens de cultura.
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direito à livre participação na vida cultural; se entendida to do Ministério da Cultura (MinC) a esse processo; c)
como a reunião dos povos, haveria o direito à identidade oferecimento, por parte do MinC, de suporte técnico e
cultural e o direito-dever de cooperação cultural interna- financeiro aos Estados e Municípios; d) o repasse de
cional. Finalmente, nas palavras dele: “A partir das lutas recursos do Fundo Nacional de Cultura para os fundos
políticas e sociais que têm como marco o ano de 1968, estaduais, distrital e municipais, mediante o cumpri-
os direitos culturais evoluíram de tal forma que é possí- mento das exigências previstas no Projeto de Lei Com-
vel falar na emergência de um novo direito, ao qual de- plementar do Sistema Nacional de Cultura; e) criar,
nominamos direito à subjetividade ou à personalidade” garantir e implantar o sistema setorial das culturas Indí-
(MACHADO, 2007, p. 10). genas” (BRASIL, 2014).
10 Em dissertação de mestrado de 2009, Eduardo Pinto 15 Na maioria dos países ibero-americanos, os siste-
sugere elenco de direitos fundamentais culturais, com mas de cultura assemelham-se ao que se chama no
base no texto da Constituição Federal: direitos de identi- Brasil de Sistema MinC ou simplesmente a reunião
dade, direitos de acesso, direitos de participação ativa e dos órgãos da Administração Pública Federal Direta,
direitos de diversidade. Indireta e Fundacional. Para citar dois exemplos, (1)
na Colômbia, o Sistema Nacional de Cultura é “Con-
11 No primeiro pronunciamento à Comissão de Edu- junto de instancias y procesos de desarrollo institu-
cação e Cultura do Congresso Nacional, o então Mi- cional, planificación y información articulados entre
nistro Gil fez referência à falência desses sistemas no sí, que posibilitan el desarrollo cultural y el acceso de
Brasil, não sem reconhecer que a situação da cultura la comunidad a los bienes y servicios culturales se-
era ainda mais calamitosa (GIL, 2003a). Como lembra. gún los principios de descentralización, participación
ZIMBRÃO DA SILVA (2009), a despeito das críticas a y autonomía” (BRAVO, 2008, p. 133). (2) No México,
esses sitemas, nenhuma delas sugere a desmontagem em 1994 o Sistema de Información Cultural reúne “la
do SUS ou do SUAS. infraestructura cultural de México (teatros, museos,
casas de cultura, centros culturales, escuelas de arte
12 Outras propostas encontram-se em tramitação no y auditorios) los programas de estímulos a la creaci-
Poder Legislativo Federal, como o Projeto de Lei (PL) nº ón, las revistas culturales, los festivales, medios de
1.139/2007 (cujo objeto é a reforma da Lei Rouanet e a comunicación y grupos artísticos subsidiados” (JIMÉ-
instituição do Programa Nacional de Fomento e Incenti- NEZ, 2008, p. 219). A despeito de haver iniciativas de
vo à Cultura – Procultura), que tramita conjuntamente ao institucionalização da política, não parece haver siste-
PL nº 6.722/2010; a PEC 49/2007, apensada à PEC nº matização dos componentes: nos países ibero-ameri-
236/2008, (cujo objeto é a inclusão do direito à cultura no canos, a elaboração de planos para a cultura, no nível
rol dos direitos sociais do art. 6º, CF); o PL 1.786/2011, federal, aparece como tendência para orientação dos
apensado ao PL 1.176/2011 (cujo objeto é a instituição respectivos sistemas federais de cultura. No México,
da Política Nacional Griô ou de Programa de Proteção acordos de cooperação federativa também foram ado-
e Promoção dos Mestres e Mestras dos Saberes e Fa- tados, assim como sistema de indicadores culturais.
zeres das Culturas Populares); e mais recentemente, Já Portugal apresenta redes setoriais, a exemplo dos
a PEC nº 421/2014, que substituiu a PEC nº 150/2003 sistemas de biblioteca, de patrimônio e de museus
(cujos objeto se referem à vinculação da receita orça- no Brasil. Na Argentina, o Plan Federal de Cultura,
mentária da União, dos Estados, do Distrito Federal e do em 1990, já propugnava por organização federativa
Municípios ao desenvolvimento cultural); entre outras. que enfatizasse o papel das províncias, análogas aos
Estados no Brasil. O atual Plan Estratégico Nacional
13 (1) Cultura como política de Estado, (2) Economia de Cultura sublinha a construção de um Sistema Na-
da cultura, (3) Gestão democrática, (4) Direito à me- cional de Información Cultural. (ALBINO; BAYARDO,
mória, (5) Cultura e comunicação e (6) Transversalida- 2008, pp. 31, 133, 219).
des da política cultural.
16 É curioso notar que, entre as propostas aprovadas
14 Mais precisamente, foi a 3ª proposta mais vota- pela III CNC, encontra-se sugestão de “criar e imple-
da no Eixo I (Implementação do Sistema Nacional de mentar planos setoriais de cultura, nos estados, distri-
Cultura): “aprovar com urgência no Congresso Nacio- tos e municípios instituídos no âmbito dos Conselhos
nal Projeto de Lei Complementar (PLC) 383/2013 de Estaduais de seus respectivos conselhos de Políticas
regulamentação do SNC, na forma de um substitutivo, Culturais, a fim de fortalecer as especificidades locais”
com o texto do projeto encaminhado pelo MINC à Casa (BRASIL, 2014). Ainda que os sistemas setoriais não
Civil em 19/12/2012, resultado de um intenso e profun- sejam obrigatórios para os Municípios, passaram a re-
do trabalho técnico e político com a participação dos presentar demanda social.
três entes federados e da sociedade civil, e apoiar a
implantação e o pleno funcionamento dos seus compo-
nentes, em todos os níveis da Federação, consideran-
do as seguintes questões: a) comissões ou grupos de
trabalho formados por sociedade civil e poder público
para monitorar e auxiliar nessa implantação e difundir
suas informações; b) qualificação do acompanhamen-
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