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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.658.085 - SP (2016/0134158-8)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI


RECORRENTE : ZINA CIOCLER
ADVOGADOS : SUELY MULKY - SP097512
RENATO OLIVEIRA PAIM JUNIOR E OUTRO(S) - SP216424
RECORRIDO : ITAUSEG SAUDE S/A
ADVOGADOS : DARCIO JOSE DA MOTA E OUTRO(S) - SP067669
INALDO BEZERRA SILVA JUNIOR - SP132994
VICTORIA FONTOLAN VILLA - SP351748
EMENTA

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


OBRIGAÇÃO DE FAZER. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO,
CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. NÃO INDICAÇÃO. SÚMULA
284/STF. REDUÇÃO DO VALOR DAS ASTREINTES PELO
DESCUMPRIMENTO DE ORDEM JUDICIAL.
1. Cumprimento provisório de sentença do qual se extrai o recurso especial
atribuído ao gabinete em 25/08/2016. Julgamento: CPC/73.
2. O propósito recursal é definir se, na hipótese, a redução do valor final das
astreintes – de R$ 120 mil para R$ 30 mil – pelo Tribunal de origem configura
manifesta desproporcionalidade, a impor sua revisão.
3. A ausência de expressa indicação de obscuridade, omissão ou contradição nas
razões recursais enseja o não conhecimento do recurso especial.
4. Consoante entendimento da Segunda Seção desta Casa, é admitida a redução
do valor da astreinte quando a sua fixação ocorrer em valor muito superior ao
discutido na ação judicial em que foi imposta, a fim de evitar possível
enriquecimento sem causa.
5. No entanto, se utilizado apenas o critério de comparação do valor das astreintes
com o valor da obrigação principal, corre-se o risco de estimular recursos com
esse fim a esta Corte para a diminuição do valor devido, em total desprestígio da
atividade jurisdicional das instâncias ordinárias, que devem ser as responsáveis
pela definição da questão e da própria efetividade da prestação jurisdicional.
6. Para se evitar essa situação, outro parâmetro que pode ser utilizado consiste em
aferir a proporcionalidade e a razoabilidade do valor diário da multa, no momento
de sua fixação, em relação ao da obrigação principal. Assim, verificado que a
multa diária foi estipulada em valor razoável se comparada ao valor em discussão
na ação em que foi imposta, a eventual obtenção de valor total expressivo,
decorrente do decurso do tempo associado à inércia da parte em cumprir a
determinação, não ensejaria a sua redução.
7. Na hipótese sob julgamento, ponderando o valor da multa diária com o período
máximo de sua incidência e as peculiaridades da negativa de cobertura da
operadora de plano de saúde, resta afastado qualquer equívoco na redução do
valor das astreintes .
8. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.

ACÓRDÃO
Documento: 1684089 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/03/2018 Página 1 de 12
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Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira


Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas constantes dos autos, por maioria, conhecer em parte do recurso especial e,
nesta parte, negar-lhe provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Vencido
o Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze. Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino,
Ricardo Villas Bôas Cueva e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 06 de março de 2018(Data do Julgamento)

MINISTRA NANCY ANDRIGHI


Relatora

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.658.085 - SP (2016/0134158-8)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : ZINA CIOCLER
ADVOGADOS : SUELY MULKY - SP097512
RENATO OLIVEIRA PAIM JUNIOR E OUTRO(S) - SP216424
RECORRIDO : ITAUSEG SAUDE S/A
ADVOGADOS : DARCIO JOSÉ DA MOTA E OUTRO(S) - SP067669
INALDO BEZERRA SILVA JUNIOR - SP132994
VICTORIA FONTOLAN VILLA - SP351748

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relatora):

Cuida-se de recurso especial interposto por ZINA CIOCLER, com


fundamento nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional.
Recurso especial interposto em: 04/05/2015.
Atribuído ao Gabinete em: 25/08/2016.
Ação: de obrigação de fazer, em fase de cumprimento provisório de
sentença, ajuizada pela recorrente, em face de ITAUSEG SAUDE S/A, devido ao
descumprimento de determinação judicial liminar com cominação de multa diária
no valor de R$ 200,00 (duzentos reais), na qual requer o pagamento das astreinte s
no total de R$ 122.334,60 (cento e vinte e dois mil, trezentos e trinta e quatro
reais e sessenta centavos).
Decisão interlocutória: rejeitou a impugnação ao cumprimento
provisório de sentença, determinando o pagamento total da quantia requerida
(e-STJ fl.27).
Acórdão: deu provimento ao agravo de instrumento interposto pela
recorrida, para reduzir o valor das astreinte s para R$ 30.000,00. Registrou que o
valor final de arbitramento da multa destoa de qualquer parâmetro razoável
admissível (e-STJ fls. 132-134).
Embargos de declaração: opostos pela recorrente, foram rejeitados
(e-STJ fls. 139-144).
Documento: 1684089 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/03/2018 Página 3 de 12
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Recurso especial: alega violação dos arts. 535, do CPC/73, bem
como dissídio jurisprudencial. Além de negativa de prestação jurisdicional,
insurge-se contra a redução do valor das astreinte s, mediante demonstração de
divergência jurisprudencial sobre a matéria. Afirma que o montante alcançou
quantia expressiva por descaso do devedor (e-STJ fls. 147-164).
Admissibilidade: o recurso foi inadmitido pelo TJ/SP (e-STJ fls.
186-187), tendo sido interposto agravo da decisão denegatória, o qual foi
convertido em recurso especial (e-STJ fl. 224).
É o relatório.

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RECORRENTE : ZINA CIOCLER
ADVOGADOS : SUELY MULKY - SP097512
RENATO OLIVEIRA PAIM JUNIOR E OUTRO(S) - SP216424
RECORRIDO : ITAUSEG SAUDE S/A
ADVOGADOS : DARCIO JOSÉ DA MOTA E OUTRO(S) - SP067669
INALDO BEZERRA SILVA JUNIOR - SP132994
VICTORIA FONTOLAN VILLA - SP351748

VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relatora):

- Julgamento: CPC/73.

O propósito recursal é definir se, na hipótese, a redução do valor final


das astreintes – de R$ 120 mil para R$ 30 mil – pelo Tribunal de origem
configura manifesta desproporcionalidade, a impor sua revisão.
Ressalte-se apenas que o presente julgamento limita-se a averiguar o
valor final das astreintes impostas e cobradas em cumprimento provisório de
sentença, em recurso interposto pela própria exequente. Não há discussão no
recurso especial relativa ao cabimento da execução provisória do valor, nos
termos do quanto decidido em recurso representativo da controvérsia, REsp
1200856/RS, da Corte Especial, DJe 17/09/2014 (Tema 743). Por essa razão,
frise-se, a análise circunscreve-se a possível revisão das astreintes .

I – Da negativa de prestação jurisdicional


A ausência de expressa indicação de obscuridade, omissão ou
contradição nas razões recursais enseja o não conhecimento do recurso especial.
Aplica-se, na hipótese, a Súmula 284/STF.

II - Da proporcionalidade do valor das astreinte s


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A multa cominatória é instrumento processual adequado à busca de
maior efetividade da tutela jurisdicional, funcionando como mecanismo de
indução do devedor ao cumprimento da obrigação e da própria ordem judicial.
Não se trata, portanto, de um fim em si mesmo, de modo que seu valor não pode
tornar-se mais interessante que o próprio cumprimento da obrigação principal.
Todavia, deve atingir um “montante tal que concretamente influa no
comportamento do demandado – o que, diante das circunstâncias do caso (a
situação econômica do réu, sua capacidade de resistência, vantagens por ele
carreadas com o descumprimento, outros valores não patrimoniais eventualmente
envolvidos etc.), pode resultar em quantum que supere aquele que se atribui ao
bem jurídico visado ” (TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer
e de não fazer e sua extensão aos deveres de entrega de coisa. São Paulo: RT,
2003, p. 248/254).
Tem-se assim que o valor das astreintes deve ser elevado o bastante
para inibir o devedor que intenciona descumprir a obrigação e para sensibilizá-lo
de que é financeiramente mais vantajoso seu integral cumprimento. De outro lado,
é consenso que seu valor não pode implicar enriquecimento injusto (REsp
793.491/RN, 4ª Turma, DJe de 06/11/2006; REsp 1.060.293, 3ª Turma, DJe
18/03/2010).
Com efeito, consoante entendimento da Segunda Seção desta Casa, é
admitida a redução do valor da astreinte quando a sua fixação ocorrer em valor
muito superior ao discutido na ação judicial em que foi imposta, a fim de evitar
possível enriquecimento sem causa (AgRg no AREsp 516.265/RJ, 4ª Turma, DJe
de 26/8/2014; AgRg no AREsp 363.280/RS, 3ª Turma, DJe de 27/11/2013; e
REsp 947.466/PR, 4ª Turma, DJe de 13/10/2009).
No entanto, esse não é o único e nem o mais eficaz critério a ser
adotado no exame dos pedidos de redução do valor fixado a título de astreintes.
Isso porque se a apuração da razoabilidade e da proporcionalidade se faz com o
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simples cotejo entre o valor da obrigação principal e o valor total fixado a título
de astreintes , inquestionável que a redução do último, pelo simples fato de ser
muito superior ao primeiro, poderá estimular a conduta de recalcitrância do
devedor em cumprir as decisões judiciais.
No julgamento do REsp 1.475.157/SC (3ª Turma, DJe de
18/09/2014), o relator teceu expressamente considerações acerca desta eventual
conduta, bem como de suas consequentes implicações:

Ocorre, todavia, que esse não é o único e nem o mais eficaz critério a ser
adotado no exame dos pedidos de redução do valor fixado a título de
astreinte s, notadamente em situações semelhantes a dos presentes autos, em
que pessoas físicas, jurídicas e grupos econômicos dotadas de boa situação
econômico/financeira e, portanto, capazes de pagar a multa fixada, adotam a
perversa estratégia de não cumprir a decisão judicial, deixando crescer o
valor devido em proporções gigantescas, em relação ao valor que originou
a execução, para ao final bater às portas do judiciário postulando a
revisão daquela quantia, transferindo ao órgão jurisdicional, até mesmo a
este Tribunal Superior, responsabilidade que era sua, sob o fundamento
de que o pagamento do montante inviabiliza sua saúde financeira e
enriquecimento ilícito do credor, fundamentos principais de tais pedidos
de redução (grifos acrescentados).

De fato, se utilizado apenas o critério de comparação do valor das


astreintes com o valor da obrigação principal, corre-se o risco de estimular
recursos com esse fim a esta Corte para a diminuição do valor devido, em total
desprestígio da atividade jurisdicional das instâncias ordinárias, que devem ser as
responsáveis pela definição da questão e da própria efetividade da prestação
jurisdicional.
Para se evitar essa situação, outro parâmetro que pode ser utilizado
consiste em aferir a proporcionalidade e a razoabilidade do valor diário da multa,
no momento de sua fixação, em relação ao da obrigação principal.
Assim, verificado que a multa diária foi estipulada em valor razoável
se comparada ao valor em discussão na ação em que foi imposta, a eventual

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obtenção de valor total expressivo, decorrente do decurso do tempo associado à
inércia da parte em cumprir a determinação, não ensejaria a sua redução.
Nessa linha de raciocínio, o valor total fixado a título de astreinte
somente poderá ser objeto de redução se a multa diária for arbitrada em valor
desproporcional e não razoável à própria prestação que ela objetiva compelir o
devedor a cumprir, mas não em razão do simples valor total da dívida (REsp
1.475.157/SC, 3ª Turma, DJe de 18/09/2014).

III – Da hipótese dos autos


Em 02/02/2011, o Juízo de primeiro grau de jurisdição deferiu
parcialmente o pedido de antecipação de tutela formulado na petição inicial, para
determinar que a operadora de plano de saúde-recorrida realizasse o pagamento
das despesas necessárias ao tratamento médico-hospitalar da recorrente, sobretudo
porque a doença (leucemia linfoide crônica) – cuja cobertura estava prevista em
contrato – era grave e exigia cuidados imediatos, conforme prescrição médica.
Em 28/04/2011, a pedido da recorrente, foi ordenada a intimação por
oficial de justiça, oportunidade em que fixada a multa diária por descumprimento,
no valor de R$ 200,00 (duzentos reais).
Nos dias 10/05/2011 e 09/06/2011 a recorrente noticiou a
manutenção do descumprimento pela operadora e pediu reforço da tutela
inibitória. Em 14/10/2011 ainda não havia cumprimento da liminar e o Juízo
determinou o processamento da execução da multa diária que, na altura, alcançava
a quantia de R$ 32.800,00 (trinta e dois mil e oitocentos reais). Quando interposto
agravo da decisão que determinou o pagamento da quantia, em sede de
cumprimento provisório de sentença, o valor da multa já alcançava quantia
superior a cento e vinte mil reais.
Nesse contexto, o TJ/SP deu provimento ao agravo de instrumento
interposto pela recorrida, para reduzir o valor final das astreinte s para R$
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30.000,00 (trinta mil reais), sob o fundamento de que “o valor da multa principal
fixada se revela absolutamente desproporcional à expressão econômica da
obrigação e ao próprio risco de dano envolvido. O arbitramento de multa de R$
122.334,60 destoa de qualquer parâmetro razoável admissível” (e-STJ fls.
133-134).
Diante dessas circunstâncias, verifica-se que as conclusões obtidas
pelo TJ/SP ao reduzir o valor final das astreinte s não implicaram desprestígio à
atividade jurisdicional exercida em primeiro grau, sobretudo ao registrar que os
procedimentos médico-hospitalares sequer chegariam à significativa expressão
final das astreintes . Essa informação demonstra que, de fato, o valor que alcançou
a astreinte estava em manifesta desproporcionalidade em relação à própria
prestação que ela objetiva compelir o devedor a cumprir – exames de sangue e
tratamento da doença da paciente.
Desse modo, ponderando o valor da multa diária com o período
máximo de sua incidência, somado ao fato de que efetivamente “o arbitramento de
multa de R$ 122.334,60 destoa de qualquer parâmetro razoável admissível”
(e-STJ fl. 134), resta afastado, na hipótese dos autos, qualquer equívoco do valor
final das astreintes , reduzido de modo adequado para R$ 30.000,00 (trinta mil
reais).

Forte nessas razões, CONHEÇO PARCIALMENTE do recurso


especial e, nessa parte, NEGO-LHE PROVIMENTO.

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VOTO-VENCIDO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE:

No caso, a Itauseg Saúde S/A interpôs agravo de instrumento, na origem,


alegando que o valor executado a título de multa (R$ 122.334,60) era muito superior
ao valor principal objeto da ação (R$ 72.068,43) (e-STJ, fl. 7), o que acarretaria o
enriquecimento sem causa da autora.

O Tribunal de origem deu provimento ao recurso determinando a redução


do valor devido a título de multa diária para R$ 30.000,00 (trinta mil reais), ao
fundamento de que o valor da multa principal fixada se revela absolutamente
desproporcional à expressão econômica da obrigação e, no que interessa ao tema
específico por inadimplemento, ao próprio risco do dano envolvido” (e-STJ, fl. 133), o
que poderia ensejar o enriquecimento sem causa da parte agravada.

De fato, consoante a jurisprudência da Segunda Seção, é admitida a


redução do valor da astreinte quando a sua fixação ocorrer em valor muito superior ao
discutido na ação judicial em que foi imposta, a fim de evitar possível enriquecimento
sem causa. Todavia, se a apuração da razoabilidade e da proporcionalidade se faz
entre o simples cotejo do valor da obrigação principal com o valor total fixado a título
de astreinte, inquestionável que a redução do valor da última, pelo simples fato de ser
muito superior à primeira, prestigiará a conduta de recalcitrância do devedor em
cumprir as decisões judiciais, além do que estimulará os recursos com esse fim a esta
Corte Superior, para a diminuição do valor devido, em total desprestígio da atividade
jurisdicional das instâncias ordinárias, que devem ser as responsáveis pela definição
da questão, e da própria efetividade da prestação jurisdicional.

Sob esse enfoque, no julgamento do REsp n. 1.475.157/SC – ora


mencionado pela Ministra Nancy Andrighi –, de que fui relator, a Terceira Turma
assentou o entendimento de que, se o deslocamento do exame da proporcionalidade e
razoabilidade da multa diária, em cotejo com a prestação que deve ser adimplida pela
parte, for transferido para o momento de sua fixação, servirá de estímulo ao
cumprimento da obrigação, na medida em que ficará evidente a responsabilidade do
devedor pelo valor total da multa, que somente aumentará em razão de sua resistência

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em cumprir a decisão judicial.

Nesse diapasão, o valor total fixado a título de astreinte somente poderá


ser objeto de redução se fixada a multa diária em valor desproporcional e não razoável
à própria prestação que ela objetiva compelir o devedor a cumprir, nunca em razão do
simples valor total da dívida, mera decorrência da demora e inércia do próprio devedor.

Esse critério, por um lado, desestimula o comportamento temerário da


parte que, muitas vezes e de forma deliberada, deixa a dívida crescer a ponto de se
tornar insuportável para só então bater às portas do Judiciário pedindo a sua redução,
e, por outro, evita a possibilidade do enriquecimento sem causa do credor,
consequência não respaldada no ordenamento jurídico.

Atento a essa orientação, e considerando as particularidades do presente


caso, em que o valor da obrigação principal é de R$ 72.068,43 (setenta e dois mil,
sessenta e oito reais e quarenta e três centavos), entendo que a fixação da multa por
descumprimento da ordem judicial em R$ 200,00 (duzentos reais), por dia, não se
distanciou dos critérios da razoabilidade e proporcionalidade, revelando-se adequado
para punir a insistência da Itauseg Saúde em descumprir a ordem emanada do Poder
Judiciário, sem gerar, por sua vez, o enriquecimento sem causa da ora recorrente.

Desse modo, se o valor final da astreinte atingiu patamar elevado foi por
culpa exclusiva da demandada que, ao optar pelo descumprimento da ordem judicial,
assumiu os riscos de sua decisão.

Forte em tais fundamentos, pedindo vênia à relatora, Ministra Nancy


Andrighi, dou provimento ao recurso especial a fim de manter o valor da multa diária.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2016/0134158-8 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.658.085 / SP

Número Origem: 20280594220158260000


PAUTA: 06/03/2018 JULGADO: 06/03/2018

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ROGÉRIO DE PAIVA NAVARRO
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ZINA CIOCLER
ADVOGADOS : SUELY MULKY - SP097512
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RECORRIDO : ITAUSEG SAUDE S/A
ADVOGADOS : DARCIO JOSE DA MOTA E OUTRO(S) - SP067669
INALDO BEZERRA SILVA JUNIOR - SP132994
VICTORIA FONTOLAN VILLA - SP351748
ASSUNTO: DIREITO DO CONSUMIDOR - Contratos de Consumo - Planos de Saúde

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Terceira Turma, por maioria, conheceu em parte do recurso especial e, nesta parte,
negou-lhe provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Vencido o Sr. Ministro Marco
Aurélio Bellizze. Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva e
Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.

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