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Biografia de Alceu Valença

Nascido em São Bento do Una, no estado de Pernambuco, no dia primeiro de


julho de 1946, Alceu Paiva Valença cresceu em convívio direto com os
elementos vivos que ajudaram a consolidar a cultura do Nordeste profundo.
Pelo canto dos aboiadores, emboladores, violeiros e cantadores de feira. Pelas
toadas, baiões, xotes e rojões, cantigas de cego, tocadores de sanfona de oito
baixos e os poetas de cordel, versejadores populares, artistas de circo, entre
outras manifestações que conhecera desde o berço, Alceu assimilou a cultura e
a música do agreste e do sertão a partir das raízes que a constituíram. Na
Fazenda Riachão, onde passou a primeira infância, acostumou-se a observar
as tertúlias e encontros musicais e poéticos que o avô costumava promover.
Aos sete anos, mudou-se com a família para a fria e serrana Garanhuns, e em
seguida para Recife.

Na Rua dos Palmares, no centro da capital pernambucana, viu descortinar-se à


sua frente a cultura da zona da mata, dos canaviais e do litoral. Conheceu os
blocos de frevo, os grupos de maracatu e ciranda. Conviveu com
personalidades como o maestro Nelson Ferreira e os poetas Carlos Penna
Filho e Ascenso Ferreira, amigos de seu pai, o ex-deputado Décio de Souza
Valença. Na adolescência, Alceu assimilou a poesia urbana e contemporânea,
o cinema de autor, adquiriu o gosto pela política e as questões sociais. Uma de
suas primeiras influências, enquanto a revolução de costumes dos anos 60 se
processava, era assistir aos filmes da Nouvelle Vague francesa e do Neo
Realismo italiano, nas matinês do |cinema São Luís, em Recife. Adquiriu o
gosto pela música e ganhou um violão de presente de sua mãe, dona Adelma,
escondido do pai, que não queria ver o filho metido em rodas de cantoria.
Em 1965, passou para a Faculdade de Direito do Recife. Sem maiores
pretensões, inscreveu-se num concurso promovido por uma associação
americana que oferecia um curso de três meses na Universidade de Harvard,
ponta-de-lança da prestigiada Ivy League, a liga dos principais centros acadêm
icos dos EUA. Sem saber uma palavra de inglês, o jovem estudante elaborou
uma redação que comparava o Marxismo com a Igreja e apontava
poeticamente as contradições das ideologias políticas em voga. Acabou
aprovado e aportou em Fall River, Massachusetts, onde teve aulas e assistiu
palestras com figurões proeminentes da conservadora política de estado
americana.

Com um faro incorrigível para a rebeldia, aproximou-se dos estudantes de


esquerda e chegou a parar numa reunião do grupo ativista Panteras Negras,
em Boston. Enquanto o mundo assistia Neil Armstrong pisar à Lua e o
movimento flower power saltar de Woodstock para o seio da classe média
internacional, Valença ia para as praças cantar seu repertório de xotes,
emboladas, baiões , martelos agalopados e acabou adotado pelos hippies
locais. O burburinho cresceu até que um jornal local entrevistou o artista. No
dia seguinte, a matéria estampava, em inglês: “Alceu Valença, o Bob Dylan
brasileiro”, considerando seu repertório absolutamente regional como uma
derivação folk dos protest songs que proliferavam na face mais contestadora
da América.

De volta ao Recife, forma-se em Direito e começa a inscrever suas primeiras


músicas nos Festivais da Canção. Em 1970, muda-se para o Rio, em busca de
um lugar ao sol no então incipiente show business brasileiro. Dois anos depois,
exibiu-se ao lado de Jackson do Pandeiro e Geraldo Azevedo no Festival
Internacional da Canção, onde sua embolada “Papagaio do Futuro” foi
desclassificada, mas despertou a curiosidade de uma juventude radicalmente
antenada.

Gravou seu disco de estreia, em parceria com Geraldo Azevedo, o que lhe
valeu os primeiros problemas com a censura. Uma das canções dizia: “Joana,
me dê um talismã / Você já pensou em mais eu viajar?”. O censor convocou o
poeta e passou-lhe um sabão: “Joana quer dizer marijuana e a marijuana é
proibida no Brasil. Além disso, sua letra fala em viajar e isto é uma alusão a
erva maldita”. Totalmente refratário ao uso de drogas leves ou pesadas, Alceu
contestou o irascível guardião da soberania nacional e tirou da manga uma
alternativa menos esfumaçada: “e se eu mudar para Diana, a caçadora,
pode?”. Conseguiu a autorização e o tempo se encarregaria de fazer da
canção um clássico.
O LP chamou a atenção do compositor Sergio Ricardo, que convidou Alceu
para sua primeira empreitada cinematográfica: seria o protagonista do
contracultural “A Noite do Espantalho”, o que lhe renderia também um LP com
a trilha sonora do filme, lançado pela Som Livre. Logo lançaria, pela mesma
gravadora, seu primeiro disco solo, “Molhado de Suor” (1974). Mas foi o
Festival Abertura, promovido pela TV Globo, em 1975, que o catapultaria
diretamente para os lares brasileiros, recém-abastecidos pela tevê em
technicolor, com a perturbadora “Vou Danado Pra Catende”, que unia os ritmos
do sertão brasileiro ao peso das guitarras do rock, com alguns versos
emprestados pelo poeta pernambucano Ascenso Ferreira. Ao lado de um grupo
formado por headliners da contracultura pernambucana, como Zé Ramalho,
Lula Côrtes, Zé da Flauta, Ivinho e Paulo Rafael, um Valença quase messiânico
demolia os falsos profetas e entornava seu veneno sertanejo no bom mocismo
da MPB.

O resultado da química é o lendário álbum Vivo! (1976), gravado no Teatro


Teresa Raquel, no Rio. Um Alceu messiânico enfileirava verdadeiros
experimentos psicodélico-agrestinos, como “Descida da Ladeira”, “Pontos
Cardeais”, “O Casamento da Raposa com o Rouxinol”. Em 77, o LP “Espelho
Cristalino” acrescenta pitadas de lirismo ao composto valenciano. temas como
“Agalopado” e “Veneno” reforçam a mistura furiosa que combatia os tempos da
ditadura militar repletos de vigor e metáforas.

O sucesso para as massas chega na década de 80. Depois de uma temporada


em Paris, regada a músicas de Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, e a um
mergulho nos textos antropológicos de Gilberto Freyre, Alceu se recria
enquanto artista e formata o estilo que o consagraria como um dos maiores
poetas, cantores e compositores do país, com mais de cinco milhões de discos
vendidos. “Saudades de Pernambuco”, gravado em Paris, em 79, representa a
interface entre a fase anterior, mais contestadora e experimental, e a guinada
que a carreira de Alceu assumiria, focada num cancioneiro popular e
sofisticado, com elementos da música pop ambientados na vasta seara da
canção nordestina. O disco, com músicas como “O ovo e a Galinha” e
“Saudades de Pernambuco” é lançado em vinil somente 37 anos depois de
gravado, em 2016.

Numa noite de abandono na capital francesa, Alceu compõe “Coração Bobo”,


inspirado em Jackson do Pandeiro. Pouco depois, de volta ao Brasil, convida
novamente Jackson a defender uma composição de sua autoria num festival. O
impacto daquele baião leva o produtor Mazola, da gravadora alemã Ariola,
recém chegada ao Brasil a convidá-lo a gravar um novo disco. “Coração Bobo”,
o álbum seria o primeiro grande estouro nacional de Valença, trazendo ainda
temas como “Na Primeira Manhã”, “Gato Na Noite’, “Como Se Eu Fosse Um
Faquir”, “Solibar” (sobre poema de Carlos Penna Filho). Ainda em 1980, o
cantor seria convidado para participar do especial Arca de Noé (TV Globo), que
lhe renderia a adesão de um público infanto-juvenil e o incluiria entre os
intérpretes de Vinicius de Moraes, de quem interpretou “A Foca”.

Na sequencia, “Cinco Sentidos” (1981) traz “Cabelo no Pente”, “Seixo Miúdo” e


“Arreio de Prata” (de Tito Livio e Rodolfo Aureliano), consolidando a nova fase e
o imenso sucesso do compositor. “Cavalo de Pau” (1982) representa o ápice
deste período, com músicas como “Tropicana”, “Pelas Ruas Que Andei”, “Como
Dois Animais” pipocando em ginásios e estádios por todo o país, a primeira
aparição no Festival de Montreux, diversas participações no Cassino do
Chacrinha e milhões de cópias vendidas. Nos anos posteriores, os LPs “Anjo
Avesso” (1983, com “Anunciação”) e “Mágico” (1984, gravado na Holanda, com
“Dia Branco”, “Que Grilo Dá” e “Na Primeira Manhã”) completam a fase das
gravadoras Ariola e Polygram. Antenado com a política, roda o Brasil em
campanha pelas Diretas Já.

Em janeiro de 1985, com a redemocratização assegurada pela eleição de


Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, participa do Rock in Rio I com um show
antológico em duas noites do festival. Troca de gravadora e lança “Estação da
Luz”, já pela RCA. O disco tem canções como “Sino de Ouro”, “Balanço de
Rede”, “Chuva de Cajus”, o frevo “Chego Já” (de J. Michilles) e capa
extraordinária do pintor paraibano Wellington Virgulino. Entretanto, o tratamento
na nova casa é bem diferente. Alceu se recusa a ceder às pressões de
determinados executivos que queriam que ele se aventurasse pelo universo
neo-brega oitentista, em oposição ao BRock que imperava nas rádios. Desta
fase são ainda os discos “Rubi” (1986), “Leque Moleque” (1987) e “Oropa,
França e Bahia (1988), gravado ao vivo no Rio.

O início dos anos 90 anuncia um país em dificuldades políticas e econômicas.


É esta a tônica de “Andar, Andar” (1990), um álbum mais pesado e urbano que
marca o ingresso do cantor na gravadora EMI-ODEON. A linguagem metafórica
para tratar a política dos anos 70 é substituída pelo discurso contundente e
pessimista da faixa-título, um blues andarilho, e pelo ativismo comunitário de
“FM Rebeldia”. No ano seguinte, Alceu lança um de seus discos mais
inspirados. “Sete Desejos” (1991) traz clássicos instantâneos como “Tesoura do
Desejo”, “Junho” e “Belle de Jour”. Esta por sinal, tem uma história insólita. De
volta a Paris, já consagrado no Brasil, Alceu entregou um poema em branco à
atriz Jacqueline Bisset, num encontro ao acaso em um café da Rive Gauche.
Impressionado com a beleza da estrela, ambientou a musa existencialista da
Nouvelle Vague na Praia de Boa Viagem, em Recife. Entretanto, confundiu as
musas. Batizou a canção com o título do filme de Luis Buñuel estrelado por…
Catherine Deneuve!

No verão de 1991, seu show é considerado o melhor do Rock In Rio 2. Muda-


se para Olinda. A atmosfera da cidade histórica envolve todo o álbum
“Maracatus, Batuques e Ladeiras” (1994, pela BMG), um mergulho na vida
olindense através de temas como “Maracajá”, “Pétalas”, “o Carnaval da Minha
Janela” e a regravação de “Valores do Passado”, do velho Edgar Moraes. A
capa ilustra a mística das ladeiras sob a ótica da artista plástica Marisa
Lacerda.

Nova guinada estava reservada para 1996. Alceu junta-se aos colegas de
geração Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho para a celebração do
“O Grande Encontro” (com disco ao vivo lançado pela BMG). Um dos
campeões de bilheteria da década, o show impulsiona, amplia e rejuvenesce
seu público. Dois discos solo do período afirmam esta disposição. Em “Sol e
Chuva” (Som Livre, 1997), Alceu recria seus grandes sucessos para o público
jovem, acrescido da inédita “Girassol”. Em “Forró de Todos os Tempos” (Sony,
1998), fala direto para a geração do Forró Universitário num álbum que reúne
temas de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, mas também novas canções
autorais, entre elas “Forró de Olinda” e “Vou Pra Campinas” – ambas com
Aracílio Araújo. “Todos os Cantos” (Sony, 1999) flagra o cantor em ação nos
palcos de Montreux, Recife e Olinda.

O século XXI traz de cara uma inesperada novidade poética que viria a se
tornar o embrião do filme “A Luneta do Tempo”. De volta à Fazenda Riachão,
depois dos funerais de seu pai, Décio Valença, Alceu novamente mergulha nas
origens e começa a escrever um poema de cordel sobre os temas mais caros
de sua infância: o circo, a poesia, o cangaço. Este poema se tornaria o roteiro
que o futuro cineasta desenvolveria por dez anos, até começar a rodar o filme,
em 2009.

A carreira fonográfica segue com “Forró Lunar” (Sony Music, 2001), “De
Janeiro a Janeiro” (2002) e o pós-moderno “Na Embolada do Tempo” (Indie
Records, 1995). Também pela Indie, saem os DVDs “A Vivo em Todos os
Sentidos” (2003), gravado na Fundição Progresso, no Rio”; e o carnavalesco
“Marco Zero” (2007), rodado ao ar livre em Recife para mais de cem mil foliões
em pleno agosto! Em 2009, “Ciranda Mourisca” (Biscoito Fino), traz versões
acústicas e sabor oriental para músicas menos conhecidas – como
“Mensageira dos Anjos” e “Dente de Ocidente”, além do sucesso “Ciranda da
Rosa Vermelha”. “Amigo da Arte” (Deck, 2014) revisita os frevos, maracatus e
cirandas dos carnavais de Pernambuco, com participação da cantora
portuguesa Carminho, em “Frevo N°1”, de Antonio Maria.

Alceu Valença acaba de lançar o filme “A Luneta do Tempo” (com dois kikitos
no Festival de Gramado), um livro (“O Poeta da Madrugada”, editora Chiado) e
um CD/DVD com a recriação de sua obra para a música de concerto
(“Valencianas”, ao lado da Orquestra Ouro Preto), pelo qual recebeu o troféu de
Melhor Álbum de MPB de 2015 no Prêmio da Música Brasileira. Em seu
caldeirão conceitual, música, Direito, política, poesia, e agora cinema,
configuram um panorama sólido e sem concessões aos jogos fáceis do
mercado para um dos personagens mais icônicos da cultura brasileira
contemporânea.

Julio Moura

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