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A MARINHA IMPERIAL ENQUANTO INSTRUMENTO DA POLÍTICA


EXTERNA DO IMPÉRIO DO BRASIL NO PARAGUAI (1868-1876)
Renato Jorge Paranhos Restier Junior
(Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha / Programa de Pós-
Graduação em História da Universidade Estadual do Rio de Janeiro)

Palavras-chave: Brasil; Império; Poder Naval

Introdução: considerações teórico-metodológicas

A compreensão dos fenômenos internacionais a partir do diálogo com a complexa


dinâmica interna das nações vem chamando a atenção de muitos historiadores
recentemente. A consideração dos elementos internos (grupos políticos, sociais, a cultura
política, instituições, etc), enquanto fatores que atuam nas relações entre os Estados,
permitem a ampliação do campo de investigação.
Acompanhando as renovações historiográficas do século XX, o estudo das Relações
Internacionais ganhou espaço e superou a História Diplomática na medida em que adotou
novos objetos e nova metodologia. As perspectivas apresentadas por Pierre Renouvin em
Introdução à História das Relações Internacionais, obra escrita em parceria com Jean-
Baptiste Duroselle, possibilitaram outras preocupações analíticas. Nesta obra, os autores
destacam a necessidade de incorporar na análise das relações internacionais elementos
internos como os jogos políticos, as orientações político-filosóficas dos homens de Estado,
a cultura, a economia, enfim, o contexto social de uma maneira geral.1

1
RENOUVIN, Pierre; DUROSELLE, Jen-Baptiste. Introdução a História das Relações Internacionais. São
Paulo: Difusão Européia do Livro, 1967.
2

“Nele, os autores examinaram as diversas possibilidades analítica que compõem


as 'forças profundas' que, em maior ou menor medida, orientam a ação
diplomática e influenciam os projetos e as decisões do homem de Estado”. 2

Trabalhando com novos objetos de estudo, os abordando sob novas perspectivas,


a História das Relações Internacionais se reavaliou e se revigorou. Concluímos que
negligenciar a relação entre a política externa e as características internas das
sociedades resultam em análises pouco esclarecedoras. Entendemos esta dinâmica tal
qual afirmou José Honório Rodrigues:

“(...) não se pode fazer uma distinção entre política interna e política externa. O
que um Estado faz em seu território ou o que faz no exterior será
invariavelmente ditado pelo interesse supremo de seus objetivos internos.” 3

Em nosso trabalho, ainda em desenvolvimento, pretendemos analisar a Marinha


Imperial inserida nas questões geopolíticas que envolveram Argentina, Brasil e Paraguai,
procurando compreender como a alta oficialidade percebia, pensava e influenciava as ações
do Império do Brasil no Paraguai após a Guerra da Tríplice Aliança. Em outras palavras,
pensar o papel desta instituição nas questões de política externa do Brasil Império neste
momento.

I - As questões da navegação fluvial


A navegação era o meio de comunicação mais rápido da época. O Império do Brasil,
com toda sua extensão territorial, utilizava a navegação para chegar em regiões como, por
exemplo, a província do Mato Grosso, inviável por terra. Assim, o Rio Paraguai que corta o
país homônimo se tornou peça de manobra nas relações desta república com o Império do
Brasil. Como salienta Orlando de Barros, ao Brasil interessava o controle “da navegação

2
GONÇALVES, Wiliams da Silva, História das Relações Internacionais in LESSA, Mônica Leite,
GONÇALVES, Wiliams da Silva (Org.), História das Relações Internacionais: teorias e processos. Rio de
Janeiro: EdUERJ, 2007, p.27.
3
RODRIGUES, José Honório; SEITENFUS, Ricardo A S., Uma História Diplomática do Brasil (1531-
1945). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995, p. 27.
3

dos rios platinos e o acesso a Mato Grosso”, para tanto o emprego da Marinha era
necessário.4

“Tinha, pois, o Império um imenso flanco aberto, que se estendia desde o Rio
Javari até o Rio Paraná –, flanco que abrangia dilatada faixa de fronteira até então
inexistente, que cumpria fosse estabelecida com a Bolívia, Paraguai e Argentina.
Ademais, a Província do Mato Grosso encontrava-se, por assim dizer, ilhada, isto é,
seus contatos se faziam por via fluvial de preferência à via terrestre”.5

A livre navegação no Rio Paraguai suscitou freqüentes debates, mesmo com o apoio
brasileiro à independência do Paraguai. Em sua obra Uma História da Diplomacia do
Brasil, José Honório Rodrigues afirmou:

“As manifestações de consideração partidas do Brasil, que fora o primeiro a


reconhecer-lhe a Independência, faziam supor que se pudesse chegar a um acordo
sobre as várias questões pendentes e conseqüentes do Tratado de 1850,
especialmente quanto à navegação dos rios, comércio e limites”.6

Em 10 de dezembro de 1854, o Chefe-de-Esquadra Pedro Ferreira de Oliveira foi


enviado ao Paraguai com a missão de fazer cumprir o art. 3º da Convenção de 1850 que
determinava a livre navegação do Rio Paraná até o Rio da Prata. Essa missão se tornou
necessária porque, enquanto Buenos Aires e a Confederação Argentina cumpriam o acordo
permitindo a livre navegação do Rio Paraná, o Paraguai proibia a navegação das
embarcações brasileiras em seus rios – o que o impossibilitava o acesso ao Mato Grosso. 7
Em 1855 foram assinadas duas convenções, a primeira tratando do “trânsito livre e à
navegação e comércio dos dois países”.8 A segunda estabelecia o prazo de um ano para que
as partes negociassem as questões de limites. A primeira Convenção só seria cumprida caso
4
BARROS, Orlando de. Sinopse da História das Relações Externas Brasileiras in LESSA, Mônica Leite;
GONÇALVES, Wiliams da Silva (Org.), História das Relações Internacionais: teorias e processos. Rio de
Janeiro: EdUERJ, 2007, p.54.
5
SOARES, Teixeira, A Marinha e a Política Externa no Segundo Reinado. Navigator: subsídios para a
história marítima do Brasil, Jul/79 a Dez/80, .p. 19.
6
RODRIGUES, José Honório; SEITENFUS, Ricardo A S., Uma História Diplomática do Brasil (1531-
1945). op. cit., p.187.
7
Ibidem, p. 188.
8
Ibidem, 189.
4

“as Partes contratantes assinassem um instrumento internacional de limites”. 9 As


negociações de 1855 não foram aprovadas pelo Rio de janeiro. Com isso, as convenções
não foram cumpridas.
Em março de 1856 foram retomadas as discussões entre o Império do Brasil e a
República do Paraguai representados, respectivamente, pelos plenipotenciários José Maria
da Silva Paranhos e José Berges. As negociações resultaram na assinatura do Tratado de 06
de abril de 1856, dessa vez retirando a livre navegação do Rio Paraguai das questões de
limites.10 Contudo, outras dificuldades surgiram e novamente a diplomacia brasileira foi
acionada na figura de Paranhos. Em 1858 foi assinado outro tratado que restabelecia “a
inteligência do Tratado de 1856”.11 Em 1862, quando assumiu o governo paraguaio
Francisco Solano Lopes, novamente se tornaram tensas as relações entre ambos os países.
Orlando de Barros observa que os problemas internacionais do Império do Brasil, na
maioria das vezes, chegaram a termos satisfatórios.12 Entre vários fatores que explicam esta
característica nas relações internacionais do Brasil Império, Barros aponta a “cooperação
entre os partidos liberal e conservador”.13
Com a morte de Carlos Lopes em 1862 e a assunção de seu filho, o General
Francisco Solano Lopez, o Paraguai adotou uma postura diferente nas relações
internacionais, chegando a ser hostil ao Império quando da intervenção brasileira contra o
governo Blanco no Uruguai em 1864.

“Francisco Solano Lopes pensou em realizar o sonho de transformar Assunção no


eixo político de toda Bacia do Prata, mercê da realização de uma metaestratégia
(conceito do General Beaufre) de transcendentes projeções.”14

9
SOARES, Teixeira, Historia da Formação das Fronteiras do Brasil. Rio de Janeiro: Conquista, 1975, p.
164.
10
Ibidem, p. 165.
11
Ibidem.
12
BARROS, Orlando de. Sinopse da História das Relações Externas Brasileiras, op. cit., p.52.
13
Ibidem.
14
SOARES, Teixeira, A Marinha e a Política Externa no Segundo Reinado. Navigator: subsídios para a
história marítima do Brasil, Jul/79 a Dez/80, p. 26.
5

A investida guarani sobre território brasileiro em 1864 resultou na declaração de


guerra por parte do Império. Solitariamente, o Paraguai sustentou o conflito contra o Brasil,
Argentina e Uruguai até 1870, quando Solano Lopez foi morto.
Com a assinatura do Tratado de Paz, Limites, Amizade e de Comércio entre
Argentina e Paraguai em 03 de fevereiro de 1876, as forças de ocupação, tanto argentinas
quanto brasileiras, iniciaram o processo de retirada do Paraguai. 15 Com este tratado, e o
posterior arbitramento do presidente dos Estados Unidos, Rutherford Hayes, favorável ao
Paraguai em relação às questões territoriais com a Argentina, as demandas da política
externa brasileira foram atingidas.
O Paraguai deixou, então, de ser prioridade para o Brasil. Além dos resultados
considerados positivos pela diplomacia à época, o Regime Monárquico estava em crise. Um
conjunto de transformações políticas e sócio-econômicas que se aceleraram após a Guerra
da Tríplice Aliança desestabilizou as bases do regime que, não conseguindo acompanhar
tais mudanças, findou-se em 1889.

“... os dilemas estruturais da sociedade imperial foram convertidos em dilemas


políticos, quando, em princípios dos anos 1870, tentou-se reformar a ordem
desde dentro, de cima para baixo. Este processo afetou as conexões usuais entre
Estado e sociedade fertilizou o terreno para a crise do Império, gerando a
estrutura de oportunidades políticas para a emergência de um movimento de
contestação”. 16

Outro fator é importante para a compreensão das relações entre o Brasil e os Estados
platinos. Segundo o Almirante Vidigal, após a guerra houve um equilíbrio de poder no cone
sul. Este equilíbrio fez com que a atuação do Império no Prata, à partir daquele momento,
tivesse a oposição de países mais “(...) conscientes de suas respectivas nacionalidades,

15
DORATIOTO, Francisco Fernando Monteoliva, De aliados a rivais: o fracasso da primeira cooperação entre
Brasil e Argentina (1865-1876). Revista Múltipla, Brasília, 4(6), julho de 1999, p. 33.
16
ALONSO, Ângela. Idéias em Movimento: a geração 1870 na crise do Brasil-Império. São Paulo: Paz e
Terra, 2002, p. 51.
6

melhor organizados e mais ricos”,17 já que antes da guerra os únicos países que gozavam de
estabilidade política eram o Brasil e o Paraguai.

“O Brasil compreendeu que as questões no Prata dependiam, agora, mais do que


do seu poder militar, e especialmente do seu inigualável poder naval, de sua
capacidade política. Com isso, é óbvio, diminuiria a importância da Marinha como
principal instrumento político imperial em relação ao Prata”.18

II – As relações entre Brasil e Argentina após a Guerra da Tríplice Aliança


No início da década de 1860, Brasil e Argentina tinham afinidades políticas, pois
ambos os governos eram de orientação liberal. 19 Com a invasão paraguaia a Corrientes,
Solano Lopes acabou por selar a aliança. Brasil, Argentina e Uruguai se uniram e
enfrentaram a República do Paraguai. O resultado foi bastante desfavorável para o Paraguai
que foi ocupado por tropas brasileiras e argentinas até 1876.20
Em julho de 1868, com a volta dos conservadores na formação do gabinete
imperial21 e com Sarmiento na presidência da Argentina, a relação amistosa entre estes
paises foi progressivamente terminando. A diplomacia brasileira orientou-se no sentido de
garantir a independência do Estado Paraguaio e evitar qualquer influência da Argentina. Os
governantes do Império procuraram romper a aliança com a Argentina, “(...) mas de forma
natural, com o desaparecimento dos motivos que levaram à sua continuação”.22 No fim do
conflito a Argentina fez “exigências territoriais inaceitáveis para o Brasil – e isto se
tornou fator de discórdia”.23

17
VIDIGAL, Armando A F. Evolução do pensamento estratégico naval brasileiro. 3º ed. Rio de Janeiro:
Biblioteca do Exército Editora, 1985, P 46.
18
Ibidem.
19
Zacarias de Goes e Vasconcellos (1862), Pedro de Araujo Lima, Marques de Olinda (1862 – 1864), Zacarias
de Goes e Vasconcellos (1864), Francisco José Furtado (1864-1865), Marquês de Olinda (1865-1866) e
Zacarias de Goes e Vasconcellos (1866-1868)
20
DORATIOTO, Francisco Fernando Monteoliva, A ocupação político-militar do Paraguai (1869-1876 in
Nova História Militar Brasileira. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004, p. 209-235.
21
Gabinete liderado Joaquim José Rodrigues Torres, Visconde de Itaboraí, em 16 de julho de 1868.
22
Idem, De aliados a rivais: o fracasso da primeira cooperação entre Brasil e Argentina (1865-1876). Revista
Múltipla, Brasília, 4(6), julho de 1999, p. 27.
23
BARROS, Orlando de. Sinopse da História das Relações Externas Brasileiras, op. cit., p.57.
7

O Chaco representou uma das grandes discussões travadas pelas diplomacias


brasileira e argentina, mesmo antes da guerra terminar. Os argentinos reivindicavam o
cumprimento do Tratado da Tríplice Aliança que previa a aquisição do Chaco Boreal pelos
argentinos. Os paraguaios pautavam-se no Tratado Preliminar de Paz de 1870, que dava
direito ao Paraguai de apresentar títulos de posse sobre territórios e reivindicar alterações
no Tratado da Tríplice Aliança no que se refere ao estabelecimento de limites com os
aliados.
Para os conservadores no Brasil, a conquista argentina deste território até a Baía
Negra implicaria na continuidade da independência do Estado paraguaio e a ampliação das
fronteiras argentinas até os limites com o Brasil.24A independência do Paraguai, como
também a do Uruguai, representava a garantia da livre navegação dos Rios Paraná e
Paraguai.25

“Os anos entre 1872 e 1876 se caracterizaram pela disputa diplomática e, em


alguns momentos, pela possibilidade de guerra entre o Império do Brasil e a
Argentina, em virtude da disputa pela hegemonia sobre o Paraguai. O Governo
argentino procurou, num primeiro momento, fazer com que o Rio de Janeiro o
apoiasse na definição dos limites com o país guarani, conforme eram determinados
pelo Tratado da Tríplice Aliança. Fracassada essa tentativa, Buenos Aires buscou,
num segundo momento, a partir de 1874, negociar diretamente com Assunção. O
Império, por seu lado, estimulou e respaldou o Governo paraguaio para que
resistisse em ceder o Chaco Boreal à Argentina.”26

Este estado de animosidade entre Brasil e Argentina se refletiu em diversos


momentos. Em 1873, por ocasião dos conflitos internos na Argentina envolvendo a
província de Entre-Rios, foram apresadas duas embarcações brasileiras. No mesmo ano, em
11 de setembro, no Rio Paraná, o vapor paquete Cecília foi agredido por uma lancha a
vapor argentina.27

24
BANDEIRA, Moniz, O Expansionismo Brasileiro e a formação dos Estados na Bacia do Prata, op. cit., p.
272-273.
25
DORATITO, Francisco. De aliados a rivais: o fracasso da primeira cooperação entre Brasil e Argentina
(1865-1876), op. cit., p.22
26
Idem, As relações entre o Império do Brasil e a República do Paraguai (1822-1889), op. cit., 1989, p. 389.
27
Relatório da Repartição dos Negócios Estrangeiros de 1873, p. 22-30.
8

Em junho de 1874, os Monitores Alagoas e Rio Grande atiraram sobre a povoação


argentina de Aldear. O Comandante da Flotilha do Alto Uruguai, o Capitão-Tenente da
Armada Przewodowsk, justificou a ação pela agressão sofrida pelo cirurgião da Armada,
Manoel Freire de Carvalho, por dois italianos quando caminhava no povoamento. As
autoridades locais não atenderam às solicitações do comandante da flotilha brasileira de
entregar os agressores. Então, o Comandante Przewodowski ordenou o disparo de quatro
tiros por cima de Aldear.28
As tensões entre ambos os países prosseguiram, em diferentes níveis, até a
assinatura dos tratados de paz entre Argentina e Paraguai em 1876. Durante este período,
como enfatiza Doratioto, as forças militares brasileiras deram “sustentação à ação
diplomática do Império no Paraguai”.29

“A crise entre os dois países, engravescendo-se, quase desdobrou da diplomacia


para o das armas. O Barão de Cotegipe, como Plenipotenciário, julgara inútil
continuar as negociações sem o apoio de uma esquadra e de um exército (...)”.30

3 - O Emprego político do Poder Naval:


Quando nos referimos ao emprego político do poder naval, estamos nos baseando na
definição de Emprego Político do Poder Militar de Armando Vidigal em seu trabalho O
Emprego Político do Poder Naval. Para o autor:

“Definimos o Emprego Político do Poder Militar como o emprego do Poder


Militar, numa condição não caracterizada como de guerra, com propósitos
eminentemente políticos e, em geral, sem o emprego efetivo da força”.31

O Poder Militar pode ser empregado de diferentes formas, de acordo com os


propósitos de quem está o utilizando. Citemos alguns como a dissuasão ou deterrência;
coerção ou coação; sustentação ou apoio; e Prestígio ou de Presença. O que não significa a

28
Idem, 1874, p. 6-10.
29
Idem, A ocupação político-militar do Paraguai (1869-1876), op. cit., p, p. 233.
30
BANDEIRA, Moniz. O Expansionismo brasileiro e a formação dos Estados na Bacia do Prata, op. cit., p.
273.
31
VIDIGAL, Armando Amorim F. O Emprego do Político do Poder Naval. Rio de Janeiro: Escola de Guerra
Naval, s/d., p. 7.
9

existência apenas destas formas de emprego, menos ainda implica dizer que uma elimina a
outra. Essas formas podem estar presentes em diferentes níveis numa mesma situação. Para
esta discussão nos ateremos à dissuasão e à sustentação.
O primeiro caso ocorre quando há o propósito de dissuadir um “partido de
empreender certas ações contra outro ou seus aliados (...)” 32. Quando o objetivo é apoiar
um aliado, contra “ameaças internas ou externas, trata-se de uma ação de Sustentação ou
Apoio”.33 Contudo, observamos que a apropriação destes conceitos justifica-se enquanto
uma estratégia explicativa em nossa análise. Não é nosso objetivo importar tais conceitos
para o objeto em questão.
Entendemos que o Poder Naval do Império do Brasil foi empregado no Paraguai nos
dois sentidos acima analisados. Trabalhando com o primeiro conceito podemos afirmar que
a Marinha Imperial foi um instrumento de dissuasão contra as pretensões argentinas quanto
à anexação de “todo território do Chaco, à margem direita do Rio Paraguai”.34 Em 1873, a
Força Naval do Paraguai e Mato Grosso representava a maior concentração naval do
Império.35

“Não podia, então, a Argentina utilizar a força para atingir tal objetivo, porque,
conforme informou o representante brasileiro em Buenos Aires, não tinha recursos
para enfrentar o Império. Isso era verdade em particular no aspecto naval, pois
praticamente inexistia uma Marinha de Guerra argentina”.36

Quando a missão Mitrè no Rio de Janeiro não logrou sucessos, a Argentina tornou-
se abertamente hostil ao Paraguai. Os argentinos declararam ao Paraguai que não
empregariam suas forças militares caso ocorresse uma sedição interna na república guarani.
Ao mesmo tempo, Rivarola e Caballero tramavam uma revolta contra o governo paraguaio
constituído partindo do território argentino. Araújo Gondim, plenipotenciário brasileiro no
Paraguai na ocasião, recebeu instruções para empregar as forças militares caso estivessem

32
Ibidem, p. 13.
33
Ibidem.
34
DORATIOTO, Francisco Fernando Monteoliva, As relações entre o Império do Brasil e a República do
Paraguai (1822-1889). Dissertação de Mestrado pela UnB, 1989, p. 264.
35
Relatório da Secretaria dos Negócios da Marinha, 1873, p. 20-21. Acervo da Diretoria do Patrimônio
Histórico e Documentação da Marinha.
36
Ibidem, p. 390.
10

envolvidas na revolta forças militares argentinas. A revolta ocorreu em 1874. Uma


canhoneira imperial foi enviada para a região de Tebicuary e conseguiu que os rebeldes
retirassem os canhões instalados.
O fato supracitado pode servir também enquanto instrumento analítico do segundo
conceito. Para atingir seus objetivos geopolíticos, ou seja, manter a independência do
Paraguai e impedir a posse do Chaco Boreal pela Argentina, o Império necessitava dar
sustentação ao Estado paraguaio. Isto significava impedir a ação de grupos que atentassem
contra a estabilidade do governo guarani, mesmo que para isso tivesse que apoiar políticos
paraguaios que não eram exatamente favoráveis ao Brasil, mas que podiam manter uma
estabilidade interna no Paraguai como foi o caso do presidente Jovellanos que enfrentou
uma tentativa de golpe na segunda metade de 1872. A maioria dos movimentos contra o
governo constituído e protegido pelo Brasil, estava ligada a interesses argentinos.

Conclusão
A Marinha Imperial atuou enquanto instrumento de dissuasão na dinâmica
relacional entre o Brasil e Argentina e, ainda, dando sustentação ao frágil governo
paraguaio contra as disputas internas de poder. Entretanto, não significa dizer que as ações
militares e diplomáticas estiveram em todo momento convergentes. Os chefes navais e os
diplomatas brasileiros divergiram em diferentes momentos da ocupação político-militar,
resultando na retirada do Paraguai tanto de militares quanto de plenipotenciários.
Estes atritos poderiam estar ligados à sobreposição de papéis na dinâmica política
no Paraguai, ou mesmo à própria indefinição desses papéis. Como aponta Doratioto em sua
análise da ocupação político-militar no Paraguai, não havia “representante diplomático
imperial em Assunção” até 1872.37 Tais problemas estariam relacionados com a atmosfera
político-partidária no Brasil, ou apenas uma questão de relação de poder entre as
autoridades brasileiras no Paraguai? Havia homogeneidade de pensamento político-
estratégico? É possível pensar em uma cultura da guerra que possa ter criado uma série de
desentendimentos entre diferentes agentes políticos e militares no teatro de operações?

37
Seu artigo publicado na obra Nova História Militar Brasileira um dos poucos, senão o único, a dedicar uma
análise sobre a ocupação político-militar no Paraguai após a guerra.
11

Enfim, são questão que pretendemos responder com o presente projeto de pesquisa ainda
em andamento.

Referências Bibliográficas:

ALONSO, Angela. Idéias em Movimento: a geração 1870 na crise do Brasil-Império. São


Paulo: Paz e Terra, 2002.
BANDEIRA, Moniz. O Expansionismo brasileiro e a formação dos Estados na Bacia do
Prata. São Paulo/Brasília: Ensaio/Unb, 1995.
BARROS, Orlando de. Sinopse da História das Relações Externas Brasileiras in LESSA,
Mônica Leite; GONÇALVES, Wiliams da Silva (Org.), História das Relações
Internacionais: teorias e processos. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2007.
DORATIOTO, Francisco Monteoliva. As relações entre o Império do Brasil e a República
do Paraguai (1822-1889). Dissertação de Mestrado pela UnB, 1989.
____________________, A ocupação político-militar do Paraguai (1869-1876) in
CASTRO, Celso; IZECKSOHN, Vitor e KRAAY, Hendrik (Org.). Nova História Militar
Brasileira. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.
_____________, De aliados a rivais: o fracasso da primeira cooperação entre Brasil e
Argentina (1865-1876). Revista Múltipla, Brasília, 4(6), julho de 1999.
GONÇALVES, Williams da Silva (Org). História das Relações Internacionais: teoria e
processos. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2007.
RENOUVIN, Pierre; DUROSELLE, Jen-Baptiste. Introdução a História das Relações
Internacionais. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1967.
VIDIGAL, Armando Amorim. Evolução do pensamento estratégico naval brasileiro. 3º ed.
Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1985
_____________________, O Emprego Político do Poder Naval. Rio de Janeiro: Escola de
Guerra Naval, s/d.

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