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***
JESUS CRISTO
NUNCA EXISTIU
***
P UBLICADOORIGINALMENTE C O M O
PSEUDÔ NIMO “M ILESBO”
***
2
* EMÍLIO BOSSI *
* *CRIST
JESUS * O
NUNCA EXISTIU
P UBLICADO ***
ORIGINALMENTE C O M O
PS EUD Ô NIMO “M I LES BO ”
***
( T RADUÇÃO D E A UGUSTO D E C ASTRO – 1900)
1900)
E DITORA J O Ã O C ARNEIRO - L ISBOA
3
E MÍLIO B OSSI
(1870 - 1920)
4
TEMA
“De Jesus Cristo, pessoa real, ser humano, a
história não nos conservou documento algum,
prova alguma, demonstração alguma”.
Assim começa um dos ensaios mais polêmicos
e surpreendentes dos anos 1900. O advogado Emí-
lio Bossi desmonta minuciosamente, ponto a pon-
to, com extrema habilidade e rigor, qualquer vaga
ideia que a nossa cultura possa ter a respeito de
um personagem chamado Jesus Cristo.
Seria ele filho de Deus? Este não é um argu-
mento de pesquisa histórica e, consequentemente,
nem deste ensaio.
Viveufísica?
pessoa ele realmente, ainda que somente como
Bossi declara um categórico NÃO demostrando
taxativamente, com provas e mais provas, que não
há nenhum traço de evidência ou sequer sombra
de suspeita da possível existência deste homem
chamado Jesus.
Este ensaio mordaz de 1900 (Raramente reim-
presso) é uma viagem através dos mecanismos
meméticos da evolução cultural; mostra como as
religiões mais primitivas e os rituais mais antigos
evoluíram para o que hoje se chama "verdade re-
velada".
5
SUMÁRIO
TEMA....................................................................................................................................... .... 5
PERFIL DO AUTOR..................................................................................................................7
INTRODUÇÃO........................................................................................................................ .... 9
PRIMEIRA PARTE – CRISTO NA HISTÓRIA...................................................................14
CAPÍTULO I.............................................................................................................................. ....
O SILÊNCIO DA HISTÓRIA ACERCA DA EXISTÊNCIA DE CRISTO.......................15
CAPÍTULO II................................................................................................................................
AS SUPOSTAS PROVAS HISTÓRICAS DA EXISTÊNCIA DE CRISTO.......................21
CAPÍTULO III................................................................................................................................
PROVAS
CAPÍTULOHISTÓRICAS CONTRA A EXISTÊNCIA DE CRISTO....................................27
IV................................................................................................................................
JESUS CRISTO NÃO É PESSOA HISTÓRICA..................................................................33
SEGUNDA PARTE – CRISTO NA NÉVOA................. ............ ............. ............ ............. ... .. .42
CAPÍTULO I............................................................................................................................ .... .
A BÍBLIA NÃO TEM VALOR DE PROVA..........................................................................43
CAPÍTULO II.............................................................................................................................. ...
JESUS CRISTO É PESSOA ABSOLUTAMENTE SOBRENATURAL...............................49
CAPÍTULO III...............................................................................................................................
A PRÓPRIA BÍBLIA FALA DE CRISTO APENAS SIMBOLICAMENTE......................57
CAPÍTULO IV...............................................................................................................................
CRISTO É UM MITO ADAPTADO DAS ALEGORIAS DO ANTIGO
TESTAMENTO..........................................................................................................................64
CAPÍTULO V................................................................................................................................
CONTRADIÇÕES ESSENCIAIS DA BÍBLIA A CERCA DE CRISTO............................77
CAPÍTULO VI................................................................................................................................
ABSURDOS ESSENCIAIS DA BIBLIA ACERCA DE CRISTO.......................................84
CAPÍTULO VII............................................................................................................................ .
A MORAL SECTÁRIA DOS EVANGELHOS NÃO É OBRA DE UM
HOMEM, MAS SIM , DA TEOLOGIA..................................................................................92
TERCEIRA PARTE – CRISTO NA MITOLOGIA............................................................105
CAPÍTULO I............................................................................................................................ .... .
CRISTO ANTES DE CRISTO..............................................................................................106
CAPÍTULO II................................................................................................................................
A MITOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO NÃO É ORIGINAL..............................115
CAPÍTULO III...............................................................................................................................
ORIGEM E SIGNIFICADO DOS DEUSES REDENTORES............................................124
CAPÍTULO IV...............................................................................................................................
CRISTO É UM MITO SOLAR............................................................................................130
QUARTA PARTE – FORMAÇÃO IMPESSOAL DO CRISTIANISMO ........................139
CAPÍTULO I............................................................................................................................ .... .
A MORAL CRISTÃ SEM CRISTO.....................................................................................140
CAPÍTULO II................................................................................................................................
A DOUTRINAIII...............................................................................................................................
CAPÍTULO CRISTÃ SEM CRISTO...............................................................................152
O CULTO CRISTÃO SEM CRISTO...................................................................................160
CAPÍTULO IV...............................................................................................................................
FORMAÇÃO PSICOLÓGICA DO CRISTIANISMO.........................................................167
CAPÍTULO V................................................................................................................................
COMO ACONTECEU O TRIUNFO DO CRISTIANISMO..............................................178
CONCLUSÃO....................................................................................................................... ..191
6
PERFIL DO AUTOR
8
INTRODUÇÃO
13
Primeira Parte
Cristo na
História
14
CAPÍTULO I
O SILÊNCIO DA HISTÓRIA ACERCA DA EXISTÊNCIA DE CRISTO
10
Emilio Ferriére, no seu excelente livro
Os apóstolos demonstra a impossibili-
dade de S. Pedroesta
impossibilidade ter estado em Roma,
confirmada pelo si-
lêncio dos mais antigos escritores da
Igreja, até á segunda metade do século
IV. Porém, o autor comete o equívoco
de tomar como fonte histórica os Atos
dos Apósto los, escolhendo as poucas
notas que estes nos deixaram, como se
fossem notícias verdadeiras. A simples
consideração de que nada do que nar-
ram os Atos está conforme com qual-
quer dos autores profanos deveria bastar
para nos pôr em guarda a respeito desta
fonte, que não pertence de modo algum
à Bíblia porque, até na compilação dos
livros canônicos da Bíblia, a Igreja teve
o astucioso cuidado de se descartar de
todos os documentos que falavam de
Cristo, Maria ou dos Apóstolos que pu-
dessem ser facilmente impugnados pela
crítica histórica, evitando, assim, o peri-
go de se pô-lo a descoberto desde o seu
princípio.
20
CAPÍTULO II
AS SUPOSTAS PROVAS HISTÓRICAS DA EXISTÊNCIA DE CRISTO
A história não só ignora Cris- não ser correta mas somente pro-
to, não só prova que os autores vável, muito provável, mesmo
profanos que dele falaram foram porque, Serápis é certamente o
neste ponto falsificados, mas até, deus que tem mais analogias
existem outras provas históricas com Cristo.
que demonstram a sua não exis- No nosso entender, Ganeval
tência. não desenvolveu adequadamente
Chamamos de históricas a es- a sua tese. Foi infeliz ao lhe in-
tas provas porque são fatos verí- troduzir elementos análogos aos
dicos, certos e positivos, porque da mitologia dos outros povos
são testemunhos concretos e vá- orientais. Deveria ter percebido
lidos de escritores e de determi- que, apesar de certas expressões
nadas escolas, ao passo que as simbólicas referentes à cópula,
provas que apresentaremos a se- como Serápis, Cristo não é tanto
guir, ainda que valiosas, não têm a encarnação alegórica do Phal-
o mesmo valor histórico por se- lus como o é do Sol.
rem deduções exegéticas da bí- Entretanto, façamos-lhe a de-
blia e da mitologia comparada, vida justiça, reconhecendo que
extraídas de documentos própri- descobriu a verdade da lenda de
os da fé cristã e da história das Cristo e dos relatos da história,
crenças humanas. quando é certo que, antes dele,
Ganeval reuniu grande núme- só Dupuis e Volney abordaram a
ro dessas provas na sua obra Je- tese da mitologia comparada.
sus, Perante a História, Nunca Existiu, Entretanto, as provas se acumu-
excelente pela sua convicção e lam, e os recentes trabalhos con-
séria pelo seu propósito, obra vergem todos para a demonstra-
que merecia melhor sorte apesar ção definitiva desta verdade.
dasfalta
da suas de
repetições provenientes
sistematização e da As provas
existência de históricas contrados
Cristo provém a
unilateralidade da tese que vê em hebreus, dos pagãos e até de al-
Cristo uma transformação pura e guns cristãos primitivos e padres
simples de Serápis, tese que po- da Igreja. Parecerá estranho, mas
derá ser justa mas, por falta de é assim, como veremos.
documentação suficiente, pode
27
O hebreu alexandrino Fílon, duas vezes no tempo de Augusto
no seu livro sobre os terapeutas, e uma terceira no tempo de Tibé-
relata que estes viviam como rio, no ano 19 da nossa era.
verdadeiros cristãos, que abando- Estas expulsões desmentem
naram bens e família para se de- implicitamente a existência de
dicarem ao ascetismo, que ti- Jesus, pois tiveram lugar antes de
nham livros religiosos e seguiam se falar do nome cristão, referin-
as máximas de seus pais. do-se evidentemente à supersti-
Eusébio, na sua História, (liv. ção judaico egípcia - que se con-
II, cap. X e XVII) confirma isso funde com o cristianismo - nas-
afirmando que os livros de que cido da fusão do judaísmo com o
fala Fílon eram os Evangelhos e orientalismo egípcio, com vestí-
os escritos dos Apóstolos, e de- gios muito próximos do neopla-
clara que os terapeutas citados tonismo alexandrino 23.
por Fílon são os cristãos solitári- Outro padre da Igreja, S.
os.22 Epifânio, confirma as palavras
O que se conclui destes docu- de Fílon e de Eusébio. Segundo
mentos é que o cristianismo é ele, os terapeutas do Egito cita-
muito anterior a Fílon. Portanto, dos por Fílon, que habitavam
se os Evangelhos e os escritos junto do24 lago Mareótides, são os
dos Apóstolos já existiam antes cristãos que tinham o seu Evan-
de Fílon, e se Fílon nasceu 25 ou gelho e os seus Apóstolos.
30 anos antes de Cristo, vê-se Fílon falou dos cristãos, como
logo que a existência dos cristãos sendo muito anteriores a si pró-
é anterior a Cristo. prio, atribuindo-lhes um Evange-
E isto se confirma pelo fato lho e vários Apóstolos.
dos judeus e egípcios, que for- Isto exclui absolutamente a
mavam uma única superstição – existência de Cristo, pois este te-
os cristãos, no dizer de Tácito – ria nascido quando Fílon já con-
terem sido expulsos de Roma
23
Não é exagero dizer que não existia
22
Alfred Maury, no estudo da história do ainda a palavra cristão quando já existia
começo do cristianismo contido em seu a superstição judaico cristã. De fato, o
livro Crenças e Lendas da Antiguidade, cristianismo existiu algum tempo antes
chama isso de uma má interpretação de do seu nome. Este só foi elaborado e cri-
Eusébio. Mas não explica as razões. ado muito depois, pelo processo de dife-
Enquanto que ele próprio, algumas renciação.
24
linhas antes, cita Filon entre aqueles que S. Epifânio, Cont. er., p.120. In Gane-
têm servido de guia para Eusebio. val.
28
tava 25 a 30 anos, e Fílon não Evangelhos que logo se atribuí-
poderia esquecê-lo já que se ocu- ram a Cristo.
pava dos cristãos. Não faltou também um falsifi-
Além disso, sabe-se que os cador cristão que ousou dizer a
Evangelhos atuais não aparece- Orígenes que, no seu Evangelho
ram senão muito tempo depois sobre o Deus Bom, Fílon falara
de Cristo, de modo que não pode de Jesus sem escrever o seu
ser a eles que Fílon alude falando nome 26.
dos livros (os Evangelhos, se- E se este Evangelho de Fílon
gundo Eusébio) e dos terapeutas acerca do Deus Serápis, Evange-
(os cristãos, segundo Epifânio). lho um século anterior ao dos
O testemunho de Fílon contra a cristãos, era essencialmente se-
existência de Cristo é tanto mais melhante aos que depois vieram
formidável quanto o mesmo Fí- a ser os Evangelhos cristãos, fi-
lon contribuiu intensamente para camos na dúvida sobre se ele
a formação do cristianismo25. quis fazer crer, falando de Será-
Fócio opina que é dele que pis, o Deus morto e ressuscitado
procede a linguagem histórica da do Egito, que se referira a Cristo
Escritura. Ainda mais: Fílon es- (ainda que o falsificador diga:
crevera um tratado, um verdadei- sem o nomeá-lo).
ro Evangelho acerca do Deus Logo, temos de reconhecer
Bom (Serápis) – livro que foi que Fílon foi um dos fundadores
destruído – e cujas alegorias de- dessa crença que depois se con-
viam ser tão semelhantes às dos verteu em cristianismo, que es-
25
Nota da segunda edição. Parece haver creveu um Evangelho mais tarde
aqui uma contradição, visto termos afir- atribuído a Jesus, que Fílon não
mado que o Cristianismo é anterior a Fí-
26
lon, e dizermos mais adiante que foi ele Eis a passagem de Orígenes interpola-
o seu principal fundador. Se entender- da: "No livr o III de sua obra Sobre o
mos que a multiplicidade de crenças que Deus Bom, Filon escreve um episódio
formam uma doutrina, uma fé, um siste- alegórico sobre Jesus, ainda que não
ma complexo de dogmas, máximas e ri- citando seu nome” ( Contra Celso ). Ga-
tos é produto da colaboração de varias neval demonstra que o nome de Jesus
gerações, de vários séculos e de muitos foi interpolado na obra de Orígenes. Se
sábios, até que encontre o seu precípuo Fílon tivesse escrito sobre Jesus, citaria
expositor, este tem direito a ser conside- a ele e não a Ágatos, que era o deus Se-
rado o seu fundador. Assim, pode dizer- rápis. A falsificação é tanto mais eviden-
se que Marx é o fundador do socialismo, te quanto é certo que Fílon e Orígenes
embora. este já existisse séculos antes, nem conheceram nem nunca falaram de
em vias de formação. Jesus.
29
conheceu e nem citou em seus seus Evangelhos e os seus Após-
trabalhos. tolos; que estes Terapeutas eram
Posto isto, o silêncio de Fílon os cristãos primitivos, e segundo
acerca de Jesus não só prova que Eusébio e Epifânio, existiram
este nunca existiu, como autoriza muito antes de Cristo e, enfim,
e legitima a hipótese – que no que o mesmo Cristo nunca exis-
desenvolver deste trabalho será tiu.
corroborada por outras provas 27 – Pondo de lado as inúmeras
de que Fílon foi o principal fun- provas que Fílon nos fornece29,
dador do cristianismo. vejamos as que nos dão cristãos
Os seus copiadores não fize- autênticos e de valor perante a
ram mais do que introduzir o Igreja – S. Clemente Alexandri-
nome de Jesus em lugar do de no e Orígenes – cujos testemu-
Serápis, substituindo o Deus nhos são tanto mais concluden-
Bom dos egípcios por outro Deus tes, quanto é certo terem contri-
morto e ressuscitado, que é Je- buído poderosamente para a di-
sus28. fusão do cristianismo.
Em qualquer dos casos, fica S. Clemente Alexandrino e
evidente que Fílon escreveu um Orígenes, este último falecido no
Evangelho sobre Serápis, o qual ano 254, negam a encarnação, e,
logo pôde adaptar-se a Jesus, por conseguinte, a existência de
donde, segundo Fócio, se deriva- Cristo.
ram os Evangelhos posteriores. É Assim se depreende da análise
igualmente certo que Fílon des- feita pelo patriarca Fócio que, fa-
creveu os Terapeutas como mui- lando do livro das Disputas de S.
to anteriores a Cristo, tendo já os 29
Dide, na obra já citada, põe em desta-
27
Veja-se, Parte IV, Cap. II. que um diálogo com Trifon, de Justino
28
Um eloquente testemunho citado por mártir, no qual o hebreu Trifon nega a
Ganeval para denunciar a srcem egíp- existência e a aparição de Cristo sobre a
cia dos Evangelhos está nas alegorias do terra, dizendo: se Jesus nasceu, em al-
jumento e dos porcos. Especialmente gum ponto da terra, esse ponto é com-
deve se notar a parábola do filho pródi- pletamente desconhecido. Faz notar que
go, que se faz guardador de porcos, e o Celso, cuja obra foi destruída, não nega
milagre dos demônios arrojados dos a existência de Cristo. Celso, porém, que
possessos para os porcos. Tanto um viveu no século II não cuidou de tal as-
como o outro destes episódios estão to- sunto, visto que a sua tese era outra, e
talmente deslocados na Judeia, mas não que esta se limitou a refutar o cristianis-
no Egito, onde o porco era a imagem da mo, valendo-se para isso dos próprios li-
dissolução e símbolo do demônio. vros da nova religião.
30
Clemente, afirma que nele o au- zida como as projeções dos raios
tor declarara que Logos, o Verbo, do Sol.
nunca encarnara (p. 286, in Ga- Como se vê, as três opiniões
neval, c. II e III) e, analisando os concordam em negar a existência
quatro livros dos Princípios, de de Cristo. E trata-se de santos e
Orígenes, mostra-nos que este teólogos célebres, insuspeitos de
falava de Cristo segundo a lenda aversão contra o cristianismo, do
edoque, a respeito
Salvador, da encarnação
opinava que o mes- qual foram os principais e mais
autorizados propagadores.
mo Espírito se encontrava em Cita ainda Ganeval, apoiando-
Moisés, nos profetas e nos após- se em Fócio, as opiniões de
tolos, o que leva Fócio a declararEunomius, Agápio, Carmim, Eu-
escandalizado que neste livro lógio e outros cristãos primiti-
Orígenes escreveu muitas blasfê- vos, que todos eles formaram do
mias30. Cresto um conceito que exclui a
A nós só importa constatar que sua existência material e corpó-
a forma pela qual se exprimem rea.
S. Clemente e Orígenes, falando E finalmente lembra o juízo
do Verbo, do Cresto e do Salva- do S. Epifânio acerca das mais
dor,
tênciaexclui absolutamente
de Cristo, a exis- antigas seitas heréticas dos Mar-
pois nenhum cinitas, Valentinianos, Gnósticos,
deles assim falaria se Cristo ti- Simonianos, Saturnilianos, Basi-
vesse sido um homem real e ver- lidianos, Nicolasianos e outros,
dadeiro. E nem nós poderíamos dos quais deduz que o Deus Re-
pormenorizar mais, visto que es- dentor dos cristãos é Horus, filho
ses livros foram todos destruí- da Trindade egípcia, convertido
dos. mais tarde em Serápis.
Ganeval cita ainda os testemu- A estas seitas mencionadas por
nhos de S. Irineu, Papias e S. Ganeval, que negavam a existên-
Justino, o primeiro dos quais cia do Verbo, deve juntar-se es-
afirma que o Deus cristão não é
homem nem mulher; o segundo impugnadores
pecialmente a dadosrealidade
Docetistas,
de
cita fragmentos do antigo Evan- Cristo, que Salvador 31 refuta no
gelho egípcio, e o último, falan- livro Jesus Cristo E A Sua
do do Logos (Cristo), afirma que Doutrina, citando o quarto Evan-
é uma emanação de Deus produ-
31
Salvador, Jesus Cristo E A Sua
30
Fócio, in Ganeval Doutrina, livro II, cap. II.
31
gelho que destaca o golpe de lan- acordo com todos os documentos
ça que fez manar sangue e água conhecidos daquela época.
do corpo de Cristo, e que isto Época em que não existiam
provaria a sua realidade. ainda os atuais Evangelhos, em
A existência desta seita é par- que Tácito nos revela que os he-
ticularmente importante, porque breus e os egípcios formavam
no dizer de S. Jerônimo 32, foi uma única superstição, em que
contemporânea dos Apóstolos. Fílon tinha já escrito sobre o
E, caso não fosse bastante o Deus Serápis, de tal fôrma que
que já foi dito, tínhamos Cerinto, facilitava a qualquer falsificador
Cerdon, Taciano, e os Ebionitas, cristão o ensejo de fazer crer que
todos eles impugnadores da exis- se referia a Cristo, e em que ha-
tência de Cristo, e, sobretudo, via já falado acerca dos cristãos
Saturnino, que segundo o abade primitivos – os Terapeutas – se-
Pluquet, viveu nos tempos e nas gundo a confissão de Eusébio e
paragens onde Cristo realizou os Epifânio, apresentando-os como
seus milagres, apesar de ter-lhe muito anteriores a ele, que por
negado, ele também, um corpo sua vez, era anterior a Cristo.
natural. Época em que, segundo S.
A negação da existência de Epifânio e Fócio, muitas seitas
Cristo por parte dos primeiros cristãs continuavam adorando a
heréticos, alguns dos quais vive- Horus como Deus Redentor, Fi-
ram no tempo e no lugar onde te- lho da Trindade egípcia. Época
riam residido Cristo e os Apósto- em que S. Clemente de Alexan-
los, é prova histórica evidente de dria e Orígenes escreveram ne-
que eles nunca existiram. Um gando Jesus e falando de Cristo –
testemunho valiosíssimo, apre- nesse tempo Cresto, segundo a
sentado também por Ganeval, é o lenda – tudo isto por confissão
do imperador Adriano que tendo do próprio Fócio33.
feito uma viagem a Alexandria
33
no ano 131 declarou que o Deus Ganeval cita, entre as provas Históri-
dos cristãos era Serápis e que os cas contra a existência de Cristo, a lin-
guagem de S. Paulo e daquele apóstolo
devotos de Serápis eram aqueles Apolo chamado também Cresto, que nos
a quem chamavam bispos dos Atos dos Apóstolos prega o cristianismo
cristãos. Sua opinião está de sem ser cristão. Provas graves, sem dú-
vida, por emanarem dos próprios docu-
32
Contra os luciferianos , cap. 8, in Es- mentos da fé, e de que falaremos, quan-
tefânio, Dicionário Filosófico. do tratarmos da Bíblia.
32
CAPÍTULO IV
JESUS CRISTO NÃO É PESSOA HISTÓRICA
46
tamento está no fato das irrepa- matéria tão excepcional que, as-
ráveis contradições e das dis- sim como na crítica normal po-
cordâncias numerosíssimas que deria optar-se pelo partido mais
ainda hoje contém, para não fa- sensato, isto é, pela dúvida, na
lar nos seus erros, na sua imora- questão que debatemos é preciso
lidade e absurda puerilidade, ir até ao fundo, até a negação de
apesar de a Igreja ter declarado tudo quanto afirmam e impõem
que foram pelo
por palavra, inspirados,
Espírito palavra
Santo! como
como osdivino, livros são
Evangelhos, que,desti-
tais
Isto posto, pode, acaso, uma tuídos do todo o fundamento.
pessoa séria, não obcecada pela Além disso, os Evangelhos
fé, admitir, não já a autenticida- são um milagre contínuo, tanto
de, mas ao menos a veracidade e na ordem física, como na ordem
seriedade do Novo Testamento moral, e, tratando-se de coisa so-
como argumento de prova acerca brenatural, parece lógico que
do que ele narra? concorram provas pelo menos
Stefanoni, contudo opina que tão certas autênticas como as
a crítica os deve ter em conta, ao que acompanham os fatos co-
menos porque representam tradi- muns. Porém, nada disso aconte-
ções dos tempos em que foram ce
ge e, em parte
a menor alguma deles sur-
prova.
produzidos, porém admite que,
sobre a base de tais livros não se E, ao passo que estes livros do
pode reconstituir a vida nem a Novo Testamento nada demons-
doutrina de Jesus sem se escreva tram do que afirmam, na história
um romance, enquanto declara profana não ha um único sinal,
que os escritos revelados não po- um único documento que apoie
dem fazer fé na história, nem ou venha em auxílio dessas nar-
esta pode, em nossos dias, expli- rações evangélicas.
car com verdadeiro critério os Em tais circunstâncias, quem
primeiros rudimentos da srcem não verá que tudo quanto ali se
da nossa idade. Observamos, conta é filho da imaginação, para
pelo que a nós se refere, que em não dizer da impostura sacerdo-
primeiro lugar, este não é mais tal, e que nada, absolutamente
que um dos muitos argumentos nada, pode salvar-se do que por
que concorrem em favor da nos- tantos séculos nos impuseram
sa tese e, em segundo lugar, que por modo extraordinário e sem
nos achamos em face de uma autoridade alguma?
47
Não censuremos os críticos com a autoridade de Santo Agos-
positivos e os autores que nos tinho, que, discutindo com Os
precederam e nos desbravaram o Maniqueus, faz esta confissão
terreno, por não terem chegado à capital: Não acreditaria nos
conclusão a que nós chegamos: Evangelhos se a isso não me vis-
o preconceito duas vezes mile- se obrigado pela autoridade da
nar que tem maltratado nossas Igreja52.
mentes,
erro comarrastando-as para que
tal força inercial esse
nem os mais destemidos pude-
ram se libertar dele de um só
golpe. Aqui, mais do que em ne-
nhum outro campo, comprova-se
que natura non facit saltus (a
natureza não dá saltos).
Não devemos, porém, negar à
critica o direito de chegar a con-
clusões que não são mais do que
consequências necessárias das
próprias premissas.
Portanto, se o fato de serem
clandestinos os livros do Novo
Testamento não pode bastar, por
si só, para legitimar a conclusão
da não existência de Cristo, a
crítica deve, dada a natureza teo-
lógica e sobrenatural dos referi-
dos livros, ter muita cautela no
aceitar qualquer parte, por míni-
ma que seja, do que neles se
conta.
Em todo o caso, o certo e in-
discutível é que a Bíblia, em lu-
gar de servir de prova do que re-
lata, tem necessidade de com- 52
provar-se a si própria. Esta afir- Citação da Peyrat, História E Crítica
Elementar De Jesus, pag. 70, 3 a edição,
mação está, de resto, reforçada Paris, Levy Frères, 1864.
48
CAPÍTULO II
JESUS CRISTO É PESSOA ABSOLUTAMENTE SOBRENATURAL
56
CAPÍTULO III
A PRÓPRIA BÍBLIA FALA DE CRISTO APENAS SIMBOLICAMENTE
proíbe oque
pre-se queo predisse
divulguem, cum-
o profeta da,Seé manda comprar
para que uma tam-
se cumpra espa-
Isaías (Mat. XII, 17). bém a profecia, segundo a qual
Se tem de permanecer sepul- seria confundido com os malfei-
tado três dias, é porque Jonas tores (Luc. XXII, 36, 37).
esteve três dias no ventre da ba- Cingindo-nos aos seus Após-
leia (Mat. XII, 40). tolos, Jesus demonstra que tudo
Se fala em forma de parábolas o que lhe sucede é por que con-
para não ser compreendido, vém que todas as coisas escritas
cumpre-se a profecia de Isaías acerca dele na lei de Moisés, nos
(Mat. XIII, 14). Profetas e nos Salmos sejam
cumpridas. E acrescenta: Como
Se manda buscar um jumento
e um jumentinho, fá-lo para também erae mister
padecesse que o Cristo
ressuscitasse dentre
cumprir o que lhe, diz o profeta os mortos ao terceiro dia . (Luc.
(Mat. XXI, 4). XXIV, 44, 46) .
Quando Jesus está a ponto de Até na Cruz, se Jesus pede de
ser preso no horto de Getsemani, beber, é para que se cumpra a
recusa-se a que o defendam, di-
58
Escritura (João. XIX, 27) . cunstância essencialíssima ?
E, bebido que foi o vinagre, Não significará isto, clara-
disse: Tudo se cumpriu. E só en- mente, que Cristo nunca existiu,
tão, quando viu que nele se ti- tendo-o inventado os Evange-
nha realizado a Escritura, incli- lhos para cumprimento das Es-
nou a cabeça e entregou o espí- crituras?
rito (João. XIX, 30). Pode-se volver e revolver a
Enfim, se não lhe quebram as questão, mas a única conclusão
pernas na mesma cruz, e se lhe plausível a que se chega é a que
abrem o peito com a lança, é, nós acabamos de indicar.
disse João, em cumprimento da Despojai Cristo da sua reali-
Escritura (João. XIX, 32 – 37). dade histórica, e tereis explicada
E basta de exemplos, que não a questão das profecias: deixai-a
são os únicos em que os Evange- subsistente, e a questão das pro-
lhos obrigam a fazer e dizer a fecias será humanamente insolú-
Cristo apenas o que estava escri- vel.
to no Antigo Testamento. Pois bem: como hoje é sim-
Mais adiante, demonstraremos plesmente absurdo pensar que
que tudo
ainda é símbolo
mesmo que osem Cristo,
Evangelhos possam
cias existir
e que profetas
possam e profe-
realizar-se
o não digam explicitamente, e ponto por ponto, minuciosamen-
ainda que não citem as respecti- te e a distância como devia ter
vas passagens do Antigo Testa- ocorrido com Cristo, havemos
mento, e que não veio ao mundo de concluir que: ou as profecias
e não procedeu senão para exe- foram inventadas, ou Cristo foi
cutar o plano teológico precon- inventado para o relacionarem
cebido no Antigo Testamento. com as profecias.
Neste ponto da nossa obra, Estando a primeira hipótese
apenas quisemos deduzir da lin- desmentida pela história e pela
guagem dos Evangelistas a con- circunstância indeclinável de
fissão de uma
pitalíssima: circunstância
Cristo não disse ca-
nem que, em tal caso,
sua realização nãoastivessem
profeciasdei-
ea
foi ele próprio mais do que aqui- xado nada a desejar, resta-nos
lo mesmo que Escritura ordenou somente a segunda, a de que
que fosse e que fizesse. Cristo foi inventado para a reali-
Não nos dirá nada esta cir- zação em si das profecias, hipó-
59
tese que resolve toda a dificulda- fato dos evangelistas, preocupa-
de inerente a tal assunto, porque dos em escrever acerca de um
nos fornece a chave para expli- Cristo imaginário, estudarem so-
car o fato de tantas profecias se- mente a forma de o pôr em har-
rem sofísticas a fim de poderem monia com as exigências dog-
aplicar-se a Jesus, pois não esta- máticas do assunto, descuidando
vam devidamente relacionadas de adaptá-lo à circunstância da
para
pessoa.se conciliarem numa só narração e do meio ambiente.
Os positivistas e os racionalis-
A mesma hipótese explica o tas, não podendo aceitar a pre-
fato, que tantos trabalhos custou tensão teológica de que Cristo
aos críticos, das faltas e inexati- fosse Deus, e que, portanto, a
dões de não poucas profecias, sua vida tivesse sido profetizada
cuja realização os Evangelhos por homens inspirados pela von-
anunciaram pois pode acontecer tade divina, mas, não chegando a
que existissem ao princípio e negar a existência humana de
logo fossem extraviadas nas nu- Cristo, esbarravam ainda com o
merosas vicissitudes da Bíblia, insuperável obstáculo de expli-
ou antes fossem alteradas de- car esse Jesus-Homem, sem o
pois. Forasido
houvesse disso,
essa abastaria que
crença dos concurso das causas
rais que negavam. sobrenatu-
Ante este pro-
evangelistas, quer dizer, que ti- blema tão heterogêneo, tiveram
vessem acreditado que as referi- de submeter os seus neurônios a
das profecias, imaginárias ou verdadeiras torturas, como acon-
exatas, existiram e foram tal teceu com Míron, ou de realizar
qual eles pensavam, para justifi- um tours de force, como aconte-
car o seu trabalho de adaptação a ceu com Larroque, ou ainda de
Cristo de tão decantadas profeci- serem ilógicos, como aconteceu
as. com Salvador, Strauss e Havet,
Esta solução elimina também explicando complicadamente
radicalmente uma série de outros uma parte do problema sob o
absurdos encontrados na Bíblia, ponto de e vista
simbólica da concepção
dogmática, e aban-
devido a este plano armado para
aplicar Cristo às profecias, por- donando a outra ao caos em que
que demonstra que a causa de se envolveu a pessoa humana de
tantas discordâncias e de tantos Cristo.
contrassensos se fundamenta no Não se atrevendo a saltar o
60
fosso, caíram nos contrassensos se esquecer.
da própria Bíblia ao passar da te- Salvador combate a opinião
ologia para o naturalismo,. dos filósofos, que fazem de Cris-
Por exemplo: Renan vê nas to um reformador religioso e so-
profecias de Isaías um raio do cial, dizendo que, para que esta
olhar de Jesus58 e pensa que este opinião fosse fundada, seria pre-
se julgava o espelho no qual ciso que a sua morte fosse unia
todo o espírito profético59 de Isra- consequência involuntário e qua-
el tinha lido o futuro . Só em se acidental dos seus esforços,
um ponto adverte que nas últi- enquanto que esta formava, pelo
mas palavras de Jesus se nota a contrário, o seu princípio e o seu
intenção de manifestar clara- fim confessados, os quais ele
mente o cumprimento das profe- procurava com ardor, em um in-
cias60. teresse dogmático e místico.
Nem vale a pena discutir a hi- Salvador esteve aqui verda-
pótese de que Cristo acomodasse deiramente inspirado e poderia
a sua própria vida às prédicas e ter conhecido toda a verdade se
se exaltasse a ponto de realizar o não perdesse o caminho que se-
profetismo hebraico. Não só guia, terminando no lugar co-
concorre contra semelhante hi- mum de que a vontade de mor-
pótese o fato, já por outros nota- rer, firme em Cristo, provinha de
do, de que, para proceder assim, uma ordem de convicções e de
Cristo deveria ter vivido com o um entusiasmo conforme com as
Antigo Testamento na mão, mas ideias da sua época e com a in-
também a circunstância da sua terpretação oriental dos livros
adaptação às profecias começar sagrados dos hebreus.
com o seu nascimento e não aca- Já vimos contra que obstácu-
bar senão com a sua morte. los vão bater este lugar comum.
Fica excluído completamente Mas permanece de pé a preciosa
neste caso, qualquer fenômeno confissão de Salvador, que segue
de autossugestão, tanto mais que imediatamente, depois da passa-
se trata de uma vida em absoluto gem citada, e onde diz que, a
milagrosa, o que nunca deverá não ser pela morte que deseja-
va, nada ficaria de Cristo, por-
58
Vita di Gesù , vol. I, c. IV, trad. it. di que nem os seus dogmas nem a
De Boni, Milano, Daelli, 1863. sua moral são frutos da sua ins-
59
Id., vol. I, c. XVI.
60
Id., vol. IV, c. XXV. piração.
61
Não há termo médio: ou acei- Este testemunho da missão de
tamos a revelação, em conjunto, Cristo com relação às profecias é
ou repelimos a natureza humana a própria razão de ser de Cristo
do Cristo, entregando-o inteira- pois, caso contrário, este já não
mente à teologia. Esta está no seria o Messias que os crentes
seu papel, quando diz que as pretendem, por não corresponder
profecias provam a existência de exatamente aos vaticínios.
Cristo,
virtude odesta
qualafirmativa,
se converte,
emem
uma Realmente, esta maneira de
ser de Jesus - assim o diz Dide,
personificação mais ou menos com exata ponderação dos tex-
completa daquelas. tos, ainda que não chegue a con-
Assim o compreendeu Scherer sequências lógicas - torna o mes-
sem que por isso chegasse à con- mo Jesus e os seus apóstolos in-
sequência lógica que o fato diferentes á Humanidade.
supõe, quando escreve que Jesus Quando lemos com imparcial
nem é um filósofo, nem o funda- atenção o Novo Testamento, não
dor de uma nova religião, mas podemos deixar de reconhecer
sim o Messias; que a chave da que o sistema narrativo dos es-
vida de Jesus é o cumprimento critores apostólicos exclui todo o
das profecias
esta messiânicas;
ideia messiânica e que
é o centro interesse e toda a emoção. A
vida de Jesus e as aventuras dos
dos fatos evangélicos, a razão Apóstolos desenrolam-se como
de ser histórica de Jesus61. se fossem uma cena teatral, em
Cristo, portanto, não veio ao que tudo está apontado, previsto
mundo senão para cumprir as e indicado, antecipadamente.
profecias, e, como isto não é Não é a Humanidade vivendo,
uma ação humana, equivale a di- pensando, sofrendo, agitando-se.
zer que Cristo veio ao mundo Se Cristo e os seus realizam
apenas como um símbolo, isto é, isto ou aquilo, executam este ou
que Cristo nunca existiu. aquele ato, é porque era preciso
Hoje não precisamos mais que se cumprisse esta ou aquela
negar que o Antigo Testamento profecia62.
revela o Cristo. O sobrenatural Por isso, temos de escolher,
já nos não preocupa. definitivamente: Ou Cristo exis-
61
tiu, e então é Deus, ou não é
Mélanges d'histoire religieuse. La vie
62
de Jésus , pp. 99 e seg. (in Vacherot, La A. Dide, La fin des religions, p. 370,
Religion ). Paris, Flammarion, 1902
62
Deus, e então nunca existiu, por- lhos, em breve veremos que, do
que o Cristo da Bíblia é o único naufrágio de Cristo nada de hu-
Cristo conhecido, e porque na mano pôde se salvar. Veremos
própria Bíblia ele não é mais do que não é possível escrever a bi-
que um personagem sobrenatural ografia de Cristo, que ele não
e simbólico. Impõe-nos a lógica pode ter biografia, já que não
que o aceitemos tal qual ele é na teve existência humana. É claro
Bíblia,
ser que isto é, como
se ponha de Deus,
parte, asem
não que
so a não seguiremos
narração bíblicapasso
e nema apas-
li-
mais considerações, a sua pre- nha dos doutos especialistas na
tendida realidade histórica, da matéria.
qual não se escapa. Reuniremos alguns dos ele-
Quando se reconhece que Je- mentos essenciais que concor-
sus era o Messias e que não tem rem para que qualquer existência
nenhum outro caráter, não se humana seja real e vital, elemen-
pode humanizá-lo conservando a tos esses que faltam a Cristo de
humanidade e deixando que a di- modo tão contraditório e absur-
vindade se volatilize: um Messi- do que excluem toda a possibili-
as profetizado e um Deus Re- dade de ter existido um homem
dentor
homem.não é e não pode ser um em tais que
contradição condições p ela
não o permite.
Não é licito dividir-lhe a sua No entanto, completaremos a
natureza em divina e humana e demonstração de que Cristo está
reduzir à expressão mais simples na Bíblia, apesar desta o não di-
a sua figura humana para o sal- zer explicitamente, apenas como
var do exílio a que os Deuses, sendo um personagem puramen-
hoje mais do que nunca, estão te e completamente simbólico,
confinados, segundo afirmou o elaborado com os dados submi-
grande profetizador de Epicuro. nistrados pelo Antigo Testamen-
Do contrário, violentaríamos o to: verdadeiro ídolo, combinação
bom senso, atentando contra ele, de materiais preexistentes nas
e atormentaríamos nossa mente tradições e nos textos religiosos
sem resultado algum, por maior do hebraísmo, modificado e ali-
que fosse o valor de quem tal fi- mentado com a concepção mito-
zesse, como sucedeu com lógica do Oriente como se fora
Strauss. E nós, atacando cada um mosaico.
vez de mais perto os Evange-
63
CAPÍTULO IV
CRISTO É UM MITO ADAPTADO DAS ALEGORIAS DO ANTIGO
TESTAMENTO
76
CAPÍTULO V
CONTRADIÇÕES ESSENCIAIS DA BÍBLIA A CERCA DE CRISTO
150
Lucas V, 14.
151
Mateus, V, 17, 18, 19.
152
Lucas, XVI, 16.
83
CAPÍTULO VI
ABSURDOS ESSENCIAIS DA BIBLIA ACERCA DE CRISTO
91
CAPÍTULO VII
A MORAL SECTÁRIA DOS EVANGELHOS NÃO É OBRA DE UM
HOMEM, MAS SIM , DA TEOLOGIA
104
Terceira Parte
Cristo na
Mitologia
105
CAPÍTULO I
CRISTO ANTES DE CRISTO
114
CAPÍTULO II
A MITOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO NÃO É ORIGINAL
Cristo é umadocópia
Redentores dos eDeuses
Oriente, por ou- A mitologia
mento baseia-sedonestes
Antigo Testa-
conceitos
tro, o mesmo Antigo Testamen- fundamentais: Deus, a Criação, a
to, do qual Cristo depende, é queda dos anjos, o Éden, Eva, a
pura cópia das mitologias orien- Serpente e o Pecado Original, o
tais, teremos que, enquanto Cris- Dilúvio, a Torre de Babel, os
to deriva dos Deuses Redento- Anjos e os Demônios, o Paraíso
res, o mesmo Antigo Testamen- e o Inferno, os Patriarcas, um le-
to, a que Cristo se adapta deriva gislador inspirado e os Profetas.
das mitologias orientais criado- Pois bem: esta mitologia não é
ras dos mitos dos Deuses Reden- srcinal, porque outros povos a
tores. tiveram, muito antes dos he-
Emsrcinal,
cado outras palavras:
que serve sem o pe-
de base breus.
As origens filosóficas do
ao Antigo Testamento não teria Deus hebreu são comuns com as
acontecido a Redenção, que ser- dos outros deuses semíticos: Ja-
ve de base ao Novo. Logo, se o hveh, Jahouh. Jeová nasce de
Eloa, Ilou, Jahouh, Jahoh, que
228
Segunda Parte, cap. III, IV.
115
são os nomes de Deus tirados de 12.000 revoluções (em torno do
vários povos semíticos. Sobre o Sol) divididas em duas revolu-
Deus hebraico tiveram incontes- ções parciais, das quais uma se-
tável influência os outros deuses ria a idade do bem, que termina-
alheios ao grupo semita, como ria após seis mil anos, e a outra,
Ahoura Mazda, persa, e Jeová, a idade do mal, que terminaria
hebraico, que é - Aquele que é. depois de outros seis mil anos.
A criação tem lugar no Gêne- Como se vê, fazem uma alu-
ses, como em todos os livros sa- são à revolução anual do planeta,
grados de todos os povos mais composta de 12 meses, cada um
antigos. No Zend-Avesta, dos dividido em 1.000 partes e os
persas, o Ser Eterno cria o Céu e dois períodos de inverno e verão,
a Terra, o Sol, a Lua e as Estre- cada um dividido em 6 meses,
las, em seis Períodos, e o ho- ou 6000 partes.
mem, como no Gêneses, aparece Esta divisão, inicialmente ape-
no último 229. Contando o dia de nas astrológica, foi posterior-
repouso temos sete dias ou perí- mente tomada em sentido con-
odos, número tido por sagrado creto e interpretada como se o
nas nações antigas porque provi- mundo fosse durar 12.000 anos,
nha da Lua
Sol, da primitiva adoração
e dos cinco do
planetas divididos em 6.000 anos de feli-
cidade e outros 6.000 de infelici-
e das fases lunares, que tinham dade.
lugar de sete em sete dias Supondo que aqueles até en-
Assim como a lenda da cria- tão passados fossem os anos de
ção, a do fim do mundo também infelicidade, conforme cálculos
foi adaptada a partir das mitolo- atribuídos aos 70 eruditos ju-
gias orientais. Volney explica deus, os cristãos acreditavam
que isso aconteceu pela interpre- que o fim do mundo, ou dos
tação equivocada das tradições 6000 anos estava próximo, tanto
astronômicas persas e caldeias. que nos Evangelhos Cristo anun-
De acordo com estas, o mun- cia o iminente fim daquela gera-
do seria composto de um total de ção.
Sabe-se como essa crença
229
A ordem da criação persa é idêntica à abalou a autoridade da Igreja
do Gênesis (Hyde, Valney etc.) Notável cristã nos primeiros séculos, tan-
e a circunstância de que nos livros sa-
grados dos etruscos também se encontra to que, depois do ano mil, foi re-
a mesma tradição. legado o cumprimento da profe-
116
cia do Apocalipse, o que não Criou logo uma série de divin-
conseguiu salvar o prestígio dos dades subalternas, chamadas an-
livros sagrados cristãos quando jos, presididas por Mohassura.
se percebeu que a Profecia dos Este, movido por um desenfrea-
Evangelhos colocada na boca de do desejo de reinar induz os an-
Cristo não se concretizara. jos à rebelião contra o Criador,
A lenda do fim do mundo, de quem se afastara. Siva foi en-
como se encontra na Revelação carregado
superior, ede os expulsarnos
precipitá-los do céu
glo-
é uma cópia idêntica da lenda
dos livros sagrados da Índia, que bos inferiores (inferno).
têm as mesmas imagens e os Brahma criou o homem e a
mesmos fenômenos que no do mulher, dando-lhes a consciên-
Apocalipse. cia e a palavra, tornando-os su-
Não é a toa que se imagina periores a tudo que tinha criado,
que o pretenso autor do Apoca- só inferiores aos Devas e a Deus.
lipse esteve na Ásia e o tenha es- Ao homem chamou Adima
crito após o seu retorno. A des- (Adão, o primeiro homem) e à
crição do fim dos tempos, tanto mulher Heva (Eva, a que com-
no cristianismo, como na religi- pleta a vida). Colocou-os em um
ão zêndica é que o mundo será paraíso terrestre em meio de
consumido pelo fogo, aceso por uma esplêndida vegetação;
um cometa. Em seguida, o zên- ordenou-lhes que se unissem,
dico Messias, precedido por dois procriassem e o adorassem por
profetas (Elias e Enoque, na mi- toda a vida, e proibiu-lhes de
tologia judaica), virá ao mundo deixar o paraíso terrestre
para destruir o império das tre- (Ceilão). Eles desobedeceram e
vas e julgar os vivos e os mor- logo o encanto da Natureza de-
tos. Apenas no mazdeísmo é que sapareceu. Brahma os perdoou,
mesmo os ímpios serão limpos e mas expulsa-os daquele lugar de
perdoados. delícias, e condena-lhes os filhos
Na criação hindu, segundo as a trabalhar, prevendo que se tor-
leis de Manu, o universo estava narão maus influenciados pelo
submerso nas trevas, como no espírito do mal que invadira a
Gêneses, quando o invisível Terra.
Brahma as dispersou e criou as Consola-os, porém dizendo
águas, imprimindo-lhes o movi- que lhes enviará Vischnú, que se
mento. encarnará no seio de uma mu-
117
lher, para redimir o gênero hu- durante o qual o Homem passa
mano do pecado. alternativamente por períodos de
Na mitologia persa, Ormuz bem e de mal, de luz e de trevas,
promete ao primeiro homem e à de calor e de frio. O Gêneses não
primeira mulher a felicidade faz menção deste número, mas
eterna, desde que se mantives- fala do Apocalipse.
sem bons. Mas um demônio com Para finalizar. No nome do
a forma de serpente é enviado anjo posto de guarda no jardim,
por Ariman. Nesse demônio vê-se a semelhança da cópia
acreditam, pois os persuade de com o srcinal: No Zend-Avesta
que Ariman é o distribuidor de ele se chama Chelub enquanto
todos os bens, e começam a ado- que no Geneses é Cherub (Que-
rá-lo. rubim)
O demônio levou-lhes alguns Os hebreus tomaram igual-
frutos, que logo comeram, desa- mente, dos persas, durante o seu
parecendo imediatamente a feli- cativeiro nas margens do Tigre e
cidade de que gozavam. Expul- do Eufrates, a ideia da imortali-
sos desse lugar, começaram ma- dade da alma e da vida futura, e,
tando animais para se alimenta- consequentemente, a mitologia
rem, cobrindo-se com as peles dos anjos e demônios.
dos mesmos. E no coração des- Os próprios nomes dos anjos
tas infelizes criaturas humanas, (dividido em 7 ordens como as 7
nasceu o ódio e a inveja e foram órbitas dos planetas), - Gabriel,
malditos, eles e suas gerações. Miguel, Rafael, Querubins, Sera-
Uma particularidade digna de fins, Tronos (Ofanins) e Domi-
nota é a semelhança entre o pa- nações - foram copiados das reli-
raíso terrestre persa com o Éden giões persa e caldaica.
do Gêneses. O paraíso persa O vocábulo Satã significava
chama-se Eren, em vez de Éden, entre os hebreus, diz Bianchi-Gi-
tendo havido corrupção de uma ovini, um homem inimigo. Foi
letra na passagem da lenda persa
para a hebraica. Em outros para- só depois
nia do usado
é que foi desterro
comdo oBabilô-
signi-
ísos terrestres há os mesmos ficado de anjo do mal.
rios. Mesmo Asmodeu, que no An-
A árvore tem doze frutos, que tigo Testamento foi causa de per-
correspondem aos 12 signos do turbações histéricas em mulheres
zodíaco e aos 12 meses do ano
118
(Tobias, III,8; VI,14) foi copiado senhor mandou-o avisar do que
do Aeshmodaeva persa, o deus sucederia, que construísse um
da concupiscência. barco onde se encerraria com
O Paraíso e o Inferno provêm sua família, um casal de todas as
dos mitológicos orientais. Paraí- espécies animais e exemplares
so, em persa, significa jardim. O de todas as plantas. Quando o
Paraíso e o Inferno, já figuravam Dilúvio findou, Vaiwasvata de-
na mitologia dos hindus, persas, sembarcou no cimo do Himalaia.
egípcios, gregos (Elísio), roma- A narrativa caldaica é ainda
nos (Tártaro), gauleses e escan- mais importante porque explica
dinavos. Mas esses povos não melhor a origem do Gêneses.
conheceram a eternidade das pe- Essa lenda foi recentemente de-
nas. Isso estava reservado para cifrada nas tábuas encontradas
ser proclamado pelo manso cor- na ruína de Ninive, onde se en-
deiro de Nazaré. controu toda a mitologia , de que
Quanto ao Purgatório, a Bí- a hebraica não é senão cópia.
blia não o conhece, nem no Anti- O Deus Ilu adverte Xisultrus
go nem no Novo Testamento. A de que em breve um dilúvio des-
Gregório devem os cristãos as truirá todo o gênero humano, e
primeira menção do Purgatório, manda-lhe que escreva uma his-
cuja ideia foi talvez tirada de tória de todas as coisas, que en-
Platão, que dividiu as almas em terrará na cidade do Sol. Tam-
três classes: as puras, as curáveis bém lhe ordena que construa
e as incuráveis. uma embarcação na qual se re-
Os Vedas contam também a colherá com sua família e os
lenda do Dilúvio230. Os filhos de seus amigos, um casal de cada
Adima e Heva tornaram-se tão espécie animal com alimentos
numerosos e tão maus, que che- para todos.
garam a negar à Deus e suas pro- Para saber se as águas tinham
messas. Então, Deus resolveu já descido, fez sair do barco, por
castigá-los, mandando-lhes o Di- três vezes, algumas aves que à
lúvio. Só se salvou Vaiwasvata, terceira vez não voltaram, sinal
por causa das suas virtudes. O evidente de que encontraram ter-
ra seca, onde pousar. A nave dá
230
Regnaud no livro, Como Nascem os sobre a montanha e ele sai com
Mitos, demonstra a precedência da os seus.
lenda védica sobre a semítica (pp. 59 e
segs.). As memórias caldaicas das
119
Tábuas de Nínive, falam tam- ceber de um modo milagroso.
bém da lenda da construção da Um dia, Brahma ordena-lhe
torre de Babel. Os primeiros ha- que sacrifique o filho, e se bem
bitantes da terra, orgulhosos de que tal ordem lhe apunhale o co-
sua força e poder começaram a ração, dispõe-se a obedecer,
depreciar os deuses, levantando quando Brahma, tomando a for-
no lugar onde ficava Babilônia ma de pomba lhe aparece orde-
uma
céu. torre que altura,
A certa chegasse até aoos
porém, nando-lhe que guarde o filho e
acrescentando que este viveria
deuses, auxiliados pelos Ventos, longo tempo, porque dele devia
derrubaram o edifício e confun- nascer a Virgem que conceberia
diram a linguagem dos homens, de gérmen divino.
que até então falavam uma só As modernas investigações no
língua. Egito vieram pôr a descoberto a
A Bíblia fala de dez patriarcas historieta de José e da mulher de
que viveram antes do dilúvio, e Putifar, que foi tirada do roman-
morreram com idade muito ce egípcio os Dois irmãos.
avançada; A tradição caldaica O legislador da Bíblia é, en-
fala também de dez monarcas fim, um copista fiel das antigas
que reinaram
contos árabes,432.000
chineses,anos; Nose
hindus mitologias. Aqui, cedemos a pa-
lavra a Jacolliot231:
germânicos fala-se de dez perso-
nagens igualmente míticos que Um homem chamado Manu
viveram antes do período histó- dá à Índia leis políticas e religi-
rico. Também foram dez os pri- osas. O legislador egípcio rece-
mitivos reis da tradição sagrada be o nome de Manes. Um cre-
persa e dez heróis da Armênia. tense vai ao Egito para estudar
as instituições que pretende im-
Dos dez patriarcas hebreus, plantar em seu país, e a história
ressalta-se especialmente Abraão confirma nos anais o seu nome:
pelo seu famoso sacrifício. Pois Minos.
bem: não é mais do que uma có-
pia da lenda do patriarca Adgi- E finalmente,
casta o libertador
dos escravos dos judeusda
gatha que se lê em Rhamatsariar,
livro das profecias hindus. que fundou uma nova
comunidade se chama Moisés.
Adgigatha é um homem justo,
predileto de Brahma, sem filhos 231
La Bible dans l'Inde, Vie de Iezeus
até que este faz sua mulher con- Christna (1869)
120
"Manu, Manes, Minos, Moi- através dos tempos fizeram dar
sés, aqui estão quatro nomes ao legislador judeu que queria
que dominaram o mundo antigo. regenerar o mundo, um nome si-
Os quatro aparecem nos primór- milar ao de Jezeus Cristna que
dios de quatro povos diferentes tinha, de acordo com tradições
para representar o mesmo pa- indianas, regenerado o mundo
pel, cercados pela mesma aura antigo.
misteriosa de grandes
tes e legisladores, sacerdo-de
fundadores O Egito,seria
ográfica, pelanecessariamente
sua posição ge-
sociedades sacerdotais e teocrá- um dos primeiros países coloni-
ticas. zados pela emigração indiana a
Sabemos que um precedeu receber a influência desta anti-
aos demais. Manu foi o precur- ga civilização que chegou até
sor, disto não resta a menor dú- nós. Verdade evidente quando se
vida, vendo a semelhança de no- estudam as instituições do Egi-
mes e de identidade das institui- to, totalmente baseadas nas da
ções que eles criaram. Manu, Alta Ásia, e das quais não se
em sânscrito, significa o Homem tem como negar a procedência.
por excelência, o legislador. Jacolliot faz em seguida o pa-
Manes, Minos e Moisés, evi- ralelo entre as instituições do
dentemente vêm da mesma raiz Egito, do Antigo Testamento e
sânscrita. As variedades leves da Índia para demonstrar que as
de pronúncia são consequência primeiras são uma simples cópia
da diversidade de línguas que se da última e que Moisés e Manes
falava no Egito, na Grécia e na são plágios de Manu.
Judeia. Ao que acrescentaremos que
Será muito fácil provar que os também já está demonstrado e
três últimos são a continuação provado incontestavelmente pela
de Manu, e quando se averígua, exegese e a crítica literária da
como já se fez, que a Índia é a Bíblia que os livros atribuídos a
srcem de todas as lendas da Moisés não podem ser de sua
antiguidade, não se estranhará autoria.
dizer que a Bíblia nasceu na Malvert afirma que Moisés é
Alta Ásia. o nome do Deus solar Masu.
Será mostrado que as influên- Esta etimologia concorda com a
cias e as memórias dos berços de Jacolliot. A srcem do nome
da civilização, continuando pouco importa, de resto. O im-
121
portante é saber-se que Moisés Bown.
também é um mito. Nem mesmo o profetismo é
Pigault-Lebrun faz o seguinte invenção judaica. Aqui também
paralelo entre Baco e Moisés: o judaísmo copiou a Pérsia, que,
Os antigos poetas fazem nascer em tempos remotos supos que a
Baco no Egito; Moisés também; história do mundo era uma série
Baco é exposto ao Nilo, como de períodos cada qual presidido
Moisés; Baco Moisés
monte Nisa, é transportado ao
ao Sinai por um profeta.
Cada profeta tinha sua Kazar,
uma deusa ordena a Baco que que era um reinado de mil anos
destrua um povo bárbaro. Moi- (quialismo ou milênio). E no su-
sés recebe a mesma ordem. ceder destas períodos é compos-
Baco passa o Mar Vermelho a ta a trama dos acontecimentos
pé enxuto, Moisés também. O que prepararão o reino de Or-
rio Horusnte suspende o curso muzd. Ao final dos tempos, ter-
em homenagem a Baco, e o Jor- minada a época dos quialismos,
dão em favor de Josué; Baco or- virá o paraíso.
dena ao Sol que pare, Josué Na Bíblia judaico cristã, os
igualmente. Dois raios lumino- personagens correspondem tam-
ososquesurgem da sucede
também cabeçaade Baco,
Moisés, bém a outros entes mitológicos,
por exemplo Elias que, com sua
raios que as crianças confun- carruagem de fogo e seus cava-
dem com cornos. Baco faz nas- los flamejantes, reproduz o Apo-
cer da terra uma fonte de vinho lo grego.
Moisés, tocando em uma rocha,
faz brotar água. Sansão e Jonas são cópia do
mito pagão de Hércules, que
Além disso, a assiriologia de- também, como Jonas, permanece
monstrou que a história de Moi- encerrado três dias no ventre de
sés foi copiada, em parte, da do um monstro marinho e que,
rei arcadiano Sargon, que nas- como Sansão, também significa
ceu em um lugar deserto, foi co-
locado por sua própria mãe pequeno
Assimsol.
provamos que a mito-
num cesto de vimes, lançado ao
rio e recolhido e educado por logia do Antigo Testamento não
um estranho, depois do qual foi é srcinal, mas uma cópia de mi-
rei mil e tantos anos antes de tologias anteriores. Tanto basta
Moisés, como diz o reverendo conhecer esta para conhecer
122
aquela. do rei Hamurabi, oito séculos
Poderíamos reforçar isso com anterior a Moisés. Na tábua re-
uma maior abundância de docu- centemente descoberta em Susa,
mentos de fontes mitológicas de pelo sábio assiriólogo Morgan, o
outros povos, mas seria uma ex- rei Hamurabi esta representado
cessiva preocupação erudita que no ato de receber das mãos de
nada acrescentaria à nossa de- Deus (o deus Sol) um livro das
monstração leis,
Moiséscena
noque
Sinaiprova
é umaque a de
cópia.
Em conclusão: se o Antigo
Testamento não é srcinal, quem As leis de Hamurabi contem,
não vê em Cristo, que está indis- além do decálogo que depois foi
soluvelmente ligado à mitologia copiado pelo legislador hebreu e
do Antigo Testamento, uma có- atribuído a Moisés, as ferozes
pia das antigas alegorias? prescrições penais do Deus Pai
Para mais completa persuasão dos cristãos, entre elas a pena de
do leitor, recordaremos que a Talião.
descoberta das inscrições cunei- Sobre as revelações devido a
formes feitas nas escavações de estas descobertas surgiu na Ale-
Babilônia, resolveram para sem- manha um debate significativo.
pre este ponto de história mitoló- O prof. Friedrich Delitzsch di-
gica, pondo acima e fora de toda vulgou que, numa sua conferên-
a discussão, o nosso ponto de cia pública a que assistiram o
vista. imperador Guilherme II e sua
Quer dizer que a criação, a consorte imperial, este o tinha
queda de Adão, o próprio decá- cumprimentado. O mundo orto-
logo, o dilúvio, a semana de sete doxo na Alemanha reprovou o
dias o descanso dominical, o imperador como um adesista a
próprio descanso de sábado e um um sistema que destrói a revela-
grande número de prescrições ri- ção, a divindade de Cristo, a reli-
tuais, morais e penais foram para gião e, consequentemente... os
privilégios que a religião, a base
o Antigo Testamento
civilização caldaica. depois da do direito divino e força conser-
vadora por excelência, desfruta-
O decálogo de Moisés foi co- va...
piado de uma recopilação de leis
123
CAPÍTULO III
ORIGEM E SIGNIFICADO DOS DEUSES REDENTORES
129
CAPÍTULO IV
CRISTO É UM MITO SOLAR
138
Quarta Parte
Formação
Impessoal do
Cristianismo
139
CAPÍTULO I
A MORAL CRISTÃ SEM CRISTO
sentimentos
mesmo virisA edignidade
tempo. delicados,hu-
ao emMas a sua
muitos moralà era
pontos superior
do cristianis-
mana, sobretudo, domina o seu mo, porque ele quer que o fim da
coração. nossa vida seja a felicidade de
A moral de Valério Máximo é todos, ao passo que o altruísmo
já de todo cristã: tem um livro cristão se limita aos eleitos sen-
sobre a continência, um sobre a do por isso discriminatório e tem
pobreza, um sobre a paciência e por fim o prêmio do céu, masca-
outro sobre a castidade. rando um egoísmo. Sêneca quer
A exaltação da pobreza prece- suprimir a pena de morte, en-
deu o cristianismo na própria quanto que o cristianismo a con-
Roma, sendo a sua grandeza ob- serva. Finalmente, prega a to-
jeto da saeva paupertas, de Ho- lerância
dos, que até
diz para comlugar
ele, em os culpa-
de se-
rácio. Opes irritamenta malo-
rum, pensava Ovídio. rem perseguidos, devem ser con-
E Lucano cantava: 247
Entendamo-nos. Foi só o cristianis-
mo de Paulo que tirou a pátria ao cris-
246
Deve-se à crença a máxima reverên- tão. Cristo, esse era um acérrimo judeu
cia. nacionalista.
148
vertidos248. visto já existir antes dele e sem
Não falamos já na admirável ele. Pelo contrário, o advento do
filosofia de Epiteto e de Marco cristianismo é até um princípio
Aurélio, tão cheias de caridade e de decadência, sobretudo moral,
fraternidade. Observa-se, geral- decadência que explicaremos
mente, como diz Havet, que os melhor, quando tratarmos da for-
filósofos do mundo greco- roma- mação psicológica do cristianis-
no foram mestres de moral, e mo.
consoladores, como deviam ser Apresentaremos agora, para
depois os sacerdotes cristãos, mostrar a completa inferioridade
com a diferença que aqueles não do cristianismo em face ao poli-
estavam constituídos em casta teísmo e ao judaísmo, o seu espí-
privilegiada, nem impunham o rito anticientífico e dogmático
seu dogma pela força. que, agregando o imobilismo aos
É tempo de concluir. Vimos erros de então, sufocou a liber-
que a moral cristã se formou in- dade de pensamento, fonte de
dependentemente do pretendido todo o progresso intelectual e
Cristo e que já existia, no que moral.
tem de bom, antes do cristianis- Na verdade, colocando a Bí-
mo. Isto é consolador para a Hu- blia, com a sua cosmologia erra-
manidade, pois demonstra que a da e pueril, e seus muitos erros
moral humana não é monopólio científicos como uma emanação
de uma seita, mas obra da mes- da verdade divina, não é de es-
ma Humanidade. E daqui pode tranhar que se repute infalível
concluir-se que ela é tão antiga tudo o quanto nela é dito, mes-
quanto a Humanidade racional. mo no domínio científico, por-
Por conseguinte, não só não é que Deus não pode errar e por-
precisa a presença de um Cristo tanto, a ciência não poderia
para explicar esta moral, mas até avançar para além das Colunas
a preexistência desta moral con- de Hércules da Bíblia.
tribui para excluir o Cristo. A liberdade de pensamento foi
Porque, em todo o caso, o que banida para plagas longinquas
fica claro é que a pretendida mo- porque é inadmissível o debate
ral cristã não foi inventada nem de ideias numa igreja que se ar-
revelada pelo suposto Cristo, vora depositária da verdade divi-
na absoluta, preocupada apenas
248
De ira, livr. I, cap. XIV. com o zelo religioso.
149
Sabe-se quão funestos foram ainda que o Talmude reconheça
os efeitos que daí derivaram. a liberdade de opinião e de inter-
Citamos como exemplo, a pretações heterodoxas.
perseguição a Galileu, quando a Com tais princípios, o cristia-
mesma descoberta já havia sido nismo foi fatal para o progresso
anunciada na Grécia por Hiceta da , ao qual a liberdade de pen-
e Aristarco de Samos, (conforme samento é tão necessária quanto
Theophrastus) sem que eles ti- o oxigênio para os pulmões.
vessem sofrido qualquer tipo de Mas ainda mais fatal para o
constrangimento progresso e a ciência, foi o cris-
A grandeza principal da Gré- tianismo por seu ascetismo e seu
cia é devida à liberdade de pen- distanciamento deste mundo,
samento e de palavra que ali se que o fez negligenciar todas as
desfrutava, liberdade que foi a artes e estudos para melhorar a
causa do rico florescimento do vida presente, considerada como
gênio, teorias e sistemas, e por uma mera peregrinação para
isso foi tão produtiva. uma outra vida, verdadeira, eter-
Quando o cristianismo surgiu, na, a única importante para os
o mundo greco-romano já tinha alucinados crentes no além.
proclamado, especialmente pela Gaetano Negri sintetizou ad-
boca de Lucrécio, a inflexibili- miravelmente o imobilismo da
dade das leis naturais, e mesmo Igreja Católica com estas pala-
Hipócrates, quatro séculos e vras:
meio antes do tempo assinalado O cristianismo tomou, de um
para Cristo, já mostrava as cau- lado, o antropomorfismo da di-
sas naturais de fenômenos atri- vindade hebraica e o conceito
buídos à obsessão; de criação e de governo do uni-
Assim, o cristianismo repre- verso que encontrara nos textos
sentou um inegável retrocesso sagrados de Israel, e de outro, o
sobre os princípio científicos espiritualismo helênico, srciná-
que jápensadores
pelos tinham sidogregos.
reconhecidos rio da tudo,
Fundiu escola
pordeobra
Alexandria.
do Concí-
No campo do conhecimento, o lio, num vasto sistema teológico
cristianismo infelizmente seguiu baseado inteiramente em entida-
o judaísmo do Eclesiastes, que des metafísicas, para em segui-
condena abertamente a ciência, da dizer: esta é a verdade, quem
duvidar será amaldiçoado e per-
150
seguido. Impôs à raça humana, invasões e posteriormente sufo-
como verdade absoluta, o que cada por completo, disseminou
não era nada senão um produto por toda extensão do mundo a
mutável e passageiro de um mo- mais intensa barbárie. O cristia-
mento da evolução intelectual. nismo quis e soube como imobi-
Pôs a ferros o pensamento e lizar a humanidade por muitos
condenou-o a viver por séculos séculos. (Negri G., A Crise Reli-
ecivilização,
séculos nadecadente
falsidade. desde
A antiga
as giosa,
1878). p. 64, Milão, Dumolard,
151
CAPÍTULO II
A DOUTRINA CRISTÃ SEM CRISTO
159
CAPÍTULO III
O CULTO CRISTÃO SEM CRISTO
260
Stephanoni, História Crítica das
Superstições, vol. 1, cap. XVI.
166
CAPÍTULO IV
FORMAÇÃO PSICOLÓGICA DO CRISTIANISMO
177
CAPÍTULO V
COMO ACONTECEU O TRIUNFO DO CRISTIANISMO
190
Conclusão
191
CONCLUSÃO