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AMALIA DOMINGO SoLER

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FRAGMENTOS
DAS

MEMÓRIAS DO

ADRE
GERMANO
Comunicações obtidas pelo médium sonâmbulo
do C.E. “A Boa Nova”, da ex-vila de Grácia

COPIADAS E ANOTADAS
POR
AMALIA DOMINGO SOLER
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S UMÁRIO
13 | P REFÁCIO
17 | O REMORSO

25 | A S TRÊS CONFISSÕES
37 | O EMBUÇADO
55 | JULGAR PELAS APARÊNCIAS
73 | A FONTE DA SAÚDE
89 | O MELHOR VOTO
103 | O PATRIMÔNIO DO HOMEM

127 | A S PEGADAS DO CRIMINOSO


149 | A GARGALHADA
161 | A ORAÇÃO DAS CRIANÇAS

177 | O PRIMEIRO PASSO

189 | O AMOR NA TERRA


205 | O BEM É A SEMENTE DE DEUS
223 | A MULHER SEMPRE É MÃE
235 | PARA DEUS NUNCA É TARDE
249 | O MELHOR TEMPLO

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257 | UMA VÍTIMA DE MENOS!
273 | O VERDADEIRO SACERDÓCIO
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291 | CLOTILDE!
315 | RECORDAÇÕES
335 | A ÁGUA DO CORPO E A ÁGUA DA ALMA
349 | N A CULPA ESTÁ O CASTIGO
367 | O ÚLTIMO CANTO
385 | U M DIA DE PRIMAVERA
407 | U MA PROCISSÃO
433 | OS ENCARCERADOS
461 | OS VOTOS RELIGIOSOS
483 | O INVEROSSÍMIL

497 | À BEIRA-MAR

509 | U MA NOITE DE SOL


515 | QUARENTA E CINCO ANOS
527 | OS MANTOS DE ESPUMA
533 | VINDE A MIM OS QUE CHORAM
549 | UM ADEUS

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557 | R ECORDAÇÕES
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P REFÁCIO

Aos 29 de abril de 1880 comecei a publi-


car, no jornal espírita A Luz do Porvir, as Memórias do Padre
Germano — uma série de comunicações que, sob a forma
de novela, nem por isso deixam de instruir deleitando. O
Espírito Padre Germano foi relatando alguns episódios de
sua última encarnação terrena, consagrada à consolação
dos humildes e oprimidos, ao mesmo tempo que desmas-
carava os hipócritas e falsos religiosos da Igreja Romana.
Tal proceder, como era natural, lhe acarretou inúme-
ros dissabores, perseguições sem tréguas, cruéis insultos e
ameaças de morte, ameaças que, por mais de uma vez, e
por pouco se não converteram em amaríssima realidade.
Vítima dos superiores hierárquicos, assim viveu desterrado
em obscura aldeia, ele que, pelo talento, bondade e pre-
dicados especiais, poderia ter conduzido a seguro porto,
sem perigo de soçobro, a arca de São Pedro.
Mas, nem por viver em recanto ermo da Terra, obscura
foi sua existência. Assim como as ocultas violetas exalam
Memórias do Padre Germano

delicado perfume entre as heras que as sobrepujam, assim a


religiosidade dessa alma exalou o sutil aroma do sentimento,
e com tanta fragrância, que a essência embriagadora pôde
ser aspirada em muitos lugares da Terra.
Muitos foram os potentados que, aterrados pela idéia
de crimes enormes, correram pressurosos à sua presença,
prostrando-se humildes ante o humilde sacerdote, para que
fosse intermediário entre eles e Deus.
O Padre Germano arrebanhou muitas ovelhas desgar-
radas, guiando-as pela senda estreita da verdadeira religião,
que outra não é senão a do bem pelo bem, e amando — não
só o bom, que por excepcionais virtudes merece ser amado
ternamente, como também o delinqüente — enfermo d’alma
que, em gravíssimo estado, só com amor se pode curar.
A missão desse Padre em sua última encarnação foi,
de fato, a mais bela que porventura possa ter o homem na
Terra; e visto como, ao deixar o invólucro carnal, o Espírito
prossegue no espaço com os mesmos sentimentos humanos,
pôde ele sentir, liberto dos seus inimigos, a mesma necessi-
dade de amar e instruir o próximo, buscando todos os meios
de completar tão nobilíssimos desejos.
À espera de propícia ocasião, encontrou, finalmente,
um médium falante puramente inconsciente, ao qual dedi-
cava, contudo, esse achado: — importava que tal médium
tivesse um escrevente capaz de sentir, compreender e apreciar
o que o médium por si dissesse.
A isso me prestei eu, de boa vontade, e no veementíssi-
mo intuito de propagar o Espiritismo, trabalhamos os três
na redação destas “Memórias”, até 10 de janeiro de 1884.
Não guardam elas perfeita ordem com relação à exis-
tência do Padre, sendo que, tão depressa relatam episódios

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P REFÁCIO

verdadeiramente dramáticos da sua juventude, como de-


ploram o isolamento da sua velhice; em tudo, porém, que
diz o Padre Germano, há tantos sentimentos, religiosidade
e amor a Deus; admiração tão profunda das leis eternas
e tão grande adoração à Natureza, que, lendo estes frag-
mentos, a criatura mais atribulada se consola, o mais
céptico espírito conjetura, comove-se o maior criminoso,
cada qual procurando Deus a seu modo, convencido de
que Ele existe na imensidade dos céus.
Um dos fundadores de A Luz do Porvir, o editor João
Torrents, teve a feliz idéia de reunir em volumes as Memó-
rias do Padre Germano, às quais adicionei algumas comuni-
cações do mesmo Espírito, por ter encontrado nelas imensos
tesouros de Amor e de Esperança — esperança e amor que
são frutos sazonados da verdadeira religiosidade por ele
possuída de muitos séculos. Sim, porque para sentir e amar
como ele, conhecendo ao mesmo tempo tão profundamente
as misérias da Humanidade, é preciso haver lutado com
a fonte nunca estanque das paixões, com a tendência dos
vícios, com o estímulo indômito das vaidades mundanas.
As grandes e inveteradas virtudes, tanto quanto os
múltiplos conhecimentos científicos, não se improvisam
porque são a obra paciente dos séculos.
E sejam estas linhas — humilde prólogo às Memórias do
Padre Germano — as heras que ocultam o ramo de violetas,
cujo delicadíssimo perfume há de ser aspirado com prazer
pelos sedentos de justiça e famintos de amor e verdade.

Grácia, 25 de fevereiro de 1900

AMALIA DOMINGO SOLER


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O REMORSO

Qual não foi meu prazer e com que


beatífico enlevo celebrei, pela primeira vez, o sa-
crifício da missa!
Nasci para a vida religiosa, contemplativa e calma.
Quão grato me era ensinar a doutrina às crian-
cinhas!
E como me deleitava ouvir-lhes as vozes infan-
tis, desafinadas umas, arrastadas outras, débeis ou
vibrantes, todas, porém, agradáveis porque eram
puras como suas almas inocentes.
Oh! as tardes, as tardes da minha aldeia, recor-
do-as sempre! Quanta ternura, quanta poesia naque-
les momentos em que deixava o querido breviário e,
acompanhado do fiel Sultão, me encaminhava ao
cemitério, a fim de, aos pés da cruz de pedra, rogar
pelas almas dos fiéis que ali dormiam!
Os pequenos seguiam-me a distância, esperan-
do-me à entrada da casa dos mortos; e quando,
Memórias do Padre Germano

terminada a oração, dali saía, da mansão da verdade,


recordando as palavras de Jesus, dizia: “Vinde a mim
as criancinhas!” Um bando de rapazitos rodeava-me
então, carinhosamente, a pedir que lhes contasse his-
tórias. Sentava-me à sombra de velha oliveira, Sultão
estendido a meus pés. Os meninos começavam por
entreter-se, puxando-lhe as orelhas, e o velho com-
panheiro sofria, resignado, aquelas demonstrações
de infantil agrado e alegre travessura. Quanto a
mim, deixava-os brincar, comprazendo-me com a
convivência daquelas inocentes criaturas, que me
encaravam com ingênua admiração, dizendo-se uns
aos outros:
— Brinquemos à ufa com o Sultão, que o Padre
não ralha... E o pobre do meu cão deixava-se arrastar
por sobre a relva, merecendo finalmente, em troca
da condescendência, que todos os pequenos lhe
dessem um pouco da merenda. Depois, restabelecida
a calma, sentavam-se todos em torno, a escutarem
atentos o caso milagroso que eu lhes contava.
Sultão era sempre o primeiro a dar sinal de
partida. De pé, inquietava a pequenada com saltos
e correrias, e assim voltávamos aos lares pacatos.
Dias, meses de paz assim decorreram; de paz e de
amor, sem que me lembrasse que havia crimes no
mundo.
Morto, porém, o Padre João, tive de substituí-lo
no curado e novos encargos vieram perturbar o sono
das minhas noites e o sossego dos meus dias.

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O REMORSO

Jamais indaguei de mim mesmo o motivo por


que sempre me recusava a ouvir em confissão os
pecados de outrem.
Parecia-me, contudo, carga demasiado pesada
o guardar segredos alheios. Minha alma, ingênua e
franca, acabrunhava-se ao peso das próprias culpas,
e temia de aumentá-las com aquela sobrecarga. A
morte do Padre João veio obrigar-me a tomar assen-
to no tribunal da penitência, ou antes, por melhor
dizer, da consciência humana.
Então... a vida horrorizou-me!
Quantas histórias tristes!... Quantos erros!...
Quantos crimes!... Quantas iniqüidades!...
Uma noite... — jamais a olvidarei — prepara-
va-me para repousar, quando Sultão se levantou
inquieto, olhou-me atento e, firmando as patas dian-
teiras na borda do leito, parecia dizer-me no seu olhar
inteligente: “Não te deites que aí vem gente.” Passados
cinco minutos, ouvi o tropel de um cavalo e, dentro
em pouco, já o velho Miguel vinha dizer que um
senhor desejava falar-me.
Fui-lhe ao encontro: Sultão farejou-o sem de-
notar o mínimo contentamento, conchegando-se a
mim em atitude defensiva.
Isto posto, examinei o visitante. Era um homem
de meia-idade, olhar sombrio e triste semblante,
que me disse:
— Padre, estamos sós?
— Sim. Que quereis?

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Memórias do Padre Germano

— Quero confessar-me.
— E por que me procurais e não a Deus?
— Deus está bem longe de nós e eu necessito de
uma voz mais próxima.
— E vossa consciência não vos fala?
— Precisamente por lhe ouvir a voz é que vos
venho procurar. Vejo, agora, que me não enganaram
quando me disseram que éreis inimigo da confissão.
— É verdade: o horror da vida me acabrunha
e não me apraz ouvir outras confissões, salvo das
crianças, cujos pecados fazem sorrir os anjos.
— Padre, ouvi-me, pois é obra de caridade dar
conselhos a quem o pede.
— Falai então, e que Deus nos inspire.
— Prestai-me toda a atenção. Faz alguns meses,
junto aos muros do cemitério da cidade de D...,
foi encontrado o cadáver de um homem com o
crânio espedaçado. Pesquisas fizeram-se, em vão,
para encontrar o assassino; ultimamente, porém,
apresentou-se ao Tribunal de Justiça um homem
que se confessou autor do crime. O juiz da causa
sou eu e a lei o condena à pena última, atento à
sua confissão. Não posso, contudo, condená-lo...
— Por quê?
— Porque sei que é inocente.
— Como, pois, se ele se confessa culpado?
— Posso jurar e juro, não foi ele o assassino.
— Como o sabeis?

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O REMORSO

— Simplesmente porque o assassino... fui eu.


— Vós?
— Sim, Padre; é uma história longa e triste.
Direi, apenas, que me vinguei por minhas mãos,
dependendo do meu segredo a honra dos meus
filhos; mas a consciência não pode, agora, transigir
com a sentença capital de um homem por ela
reconhecido inocente.
— Acaso sofrerá o desgraçado de alienação
mental?
— Não; tem um cérebro perfeito. Apelei mesmo
para o recurso escapatório da loucura, mas a ciência
médica desmentiu-me.
— Não tenhais, portanto, remorso em condená-
-lo, pois os remorsos de outro crime o inspiram
nessa resolução. Ninguém oferece a cabeça à justiça,
sem que tenha sido um assassino. Ide tranqüilo
desafrontar a justiça humana, porque os remorsos
desse infeliz se encarregarão de executar a justiça
divina. Conversarei com esse homem inditoso,
dir-lhe-ei, para tranqüilidade vossa, o que ora me
confiastes. E quanto a vós, não torneis a esquecer
o quinto mandamento da lei de Deus, que diz: —
Não matarás.

Fui ouvir o infeliz; meus pressentimentos não me


enganavam; e quando, na suprema hora, lhe disse: “Fala,
que Deus te ouve”, ele, banhado em lágrimas, exclamou:

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Memórias do Padre Germano

— Padre, como é triste a existência do


criminoso! Dez anos há que matei uma pobre
moça e há tantos sua sombra me persegue! Ainda
agora, aqui está ela entre nós dois! Casei-me, na
persuasão de que, vivendo acompanhado, perderia
o pavor que me definhava lentamente, mas, quando
acarinhava minha esposa, eis que a outra se
interpunha entre nós, a ocultar com o semblante
lívido o semblante da minha companheira! Ao ter
esta o primeiro filho, afigurava-se-me ser a outra
a parturiente, pois era aquela, ainda, que mo
apresentava. Viajei, lancei-me a todos os vícios,
ou me arrependia e passava o tempo nas igrejas;
mas, na tasca ou na igreja, era sempre ela que
eu via, ora a meu lado, ora velando o rosto das
imagens. Ela e sempre ela! Não sei por que não
tive a coragem do suicídio, e assim tenho vivido, até
que, não se encontrando o assassino desse pobre
homem, dei graças a Deus, visto como poderia
morrer, inculcando-me autor do crime.
— Mas, por que não confessastes o crime
anterior?
— Po r q u e s o b r e e l e n ã o h á p r o v a s
convincentes. Tão habilmente pude ocultá-lo,
que não ficou o mínimo vestígio. O que os
homens não viram, entretanto, vi-o eu... Ela
aqui está, parecendo olhar--me com menos rigor.
Vede-a vós, Padre? Não? Ah! que desejo tenho de
morrer para não mais vê-la...

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O REMORSO

Ao subir ao patíbulo, acrescentou:


— Lá está ela no lugar do carrasco... Padre,
rogai a Deus para que não mais a veja após a morte,
se é que os mortos se vêem na eternidade...
Para sossego do juiz homicida, repeti-lhe
quanto dissera o outro Caim, e, ao terminar a
exposição, ouvi-lhe estas palavras:
— Padre, que vale a justiça humana comparada
à divina?! Para a sociedade, o assassino desse
homem está vingado, o réu descansa, talvez, na
eternidade... Mas eu, meu Padre, quando e como
descansarei?...

Um ano depois, o juiz entrava para um ma-


nicômio, do qual não mais sairia, e eu... — de-
positário de tantos segredos, testemunha moral de
tantos crimes, confidente acabrunhado de tamanhas
iniqüidades — vivo opresso ao peso dos pecados
humanos.
Ó tranqüilas tardes da minha aldeia! onde es-
tais? Minhas orações já não ressoam junto à cruz
de pedra... E, onde aqueles meninos que brincavam
com Sultão? Este morreu, também ele; os meninos
cresceram... fizeram-se homens e, quem sabe, al-
guns deles criminosos...
Dizem-me bom; muitos pecadores vêm contar-
-me suas faltas e eu vejo que o remorso é o único
inferno do homem.

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Memórias do Padre Germano

Senhor! inspira-me, guia-me no caminho do


bem e, já que me entristeço das culpas alheias, dá
que não desvaire, recordando as minhas...
Que homem haverá neste mundo que não tenha
remorso?

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