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FelizFelizAniversário,
Aniversário, Barreto!
Barreto!
Tudo começou com uma leve dor nas costas, que Barreto imaginou ser mais
uma das muitas provocadas pelo banco do carro. O infeliz que projetou
aqueles bancos devia ser condenado a passar o resto da eternidade sentado
neles, para ver o que era bom.
O problema foi que o dia ia passando e nada da dor cessar. Já tomara dois
anti-inflamatórios e nada. Não conseguiu produzir muita coisa no trabalho,
sem falar no mau humor. Às cinco horas, deu graças a Deus quando o sinal
de saída tocou. Foi para o carro quase correndo.
Quando chegou em casa, não encontrou ninguém. Nem um bilhete. Mas com
a dor piorando cada vez mais, não conseguiu nem raciocinar sobre onde
poderiam estar a mulher e os meninos. Melhor assim: eles iam encher o saco
pra que ele fosse ao médico, que era a coisa que ele mais detestava na vida.
Tudo que o Barreto mais queria naquela hora era tomar um banho, engolir
mais um anti-inflamatório e cair na cama. Era uma quarta-feira, ia ter jogo do
Brasileirão, mas ele não ia agüentar.
Jogou a roupa de qualquer jeito sobre a cama. Se a mulher visse ia falar pra
caramba, mas ia ser um banho rápido. Depois ele dava um jeito. Estava louco
pra dar uma mijada, o resto podia esperar.
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Tudo isso regado à bagunça dos dois moleques, que insistiam em não ficar
quietos de jeito nenhum.
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Barreto trocou as contorções por causa da dor pelo tiritar de frio. Por que
enfermaria tem que ser um lugar tão frio desse jeito? É pra gente morrer e o
cadáver já ficar preservado?
Incapaz de dormir por causa do frio e da raiva, ficou observando pela janela
da enfermaria o movimento no corredor. Mas, como já era de madrugada, só
muito de vez em quando alguém de branco passava para lá ou para cá.
Não soube dizer exatamente o que era, mas alguma coisa naquele médico
alto e magrelo o tinha desagradado. De cara, o jaleco branco cobria as suas
mãos até a metade e seu pescoço flutuava dentro da gola. A mulher do
Barreto definiria com certeza como um clássico caso de “o defunto devia ser
maior”. O sujeito ficou um tempão parado em frente ao vidro, só olhando para
dentro da enfermaria. Barreto ficou se perguntando o que tanto ele olhava,
pois as luzes estavam apagadas e não dava para ver quase nada lá dentro
com a pouca luz que vinha do corredor.
Quando o magrelo entrou no quarto e acendeu a luz na sua cara, Barreto teve
que juntar toda a educação que recebera dos pais para não mandar o médico
pros quintos dos infernos. Será que era por isso que médico não se refere a
gente como cliente, mas como paciente? Porque tudo naquele momento
parecia ser feito para testar a paciência dele. E ela estava no limite.
- Pode ser uma pedrinha, mas está doendo pra caramba. Algum motivo
especial para me acordar, doutor? – Já estava matando a charada. Devia ser
o tal médico do plano de saúde. Olha só que safadeza: vindo de madrugada,
para ser mais difícil de alguém mentir para ele!
- Nada, avaliação de rotina. Estou vendo aqui no seu prontuário que hoje é
seu aniversário.
A última coisa que ouviu antes de morrer foi o irônico comentário do vampiro:
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