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RESENHAS 317

validação destes pré-conceitos. No de- tor –, há aqui uma contribuição impor-


correr da pesquisa, os juízos do investi- tante sendo posta ao alcance do grande
gador têm necessariamente de ceder à público brasileiro. Levando-se em con-
interpretação das evidências empíricas, sideração as mais recentes recupera-
as quais, certamente, foram confeccio- ções de questões e autores clássicos no
nadas a partir de racionalidades outras. campo intelectual, Ringer se destaca
Ao fim do processo, há um ganho pas- por sua lucidez. Estudo de competência
sível de ser traduzido como expansão histórica inquestionável, não se almeja
dos horizontes intelectuais do investiga- com ele transformar Weber em um pa-
dor. Ringer frisa ainda como Weber, na radigma ou fonte de dogmas indispen-
condição de professor, incentivava os a- sáveis para o devir das ciências huma-
lunos a não comprometerem suas análi- nas. Antes, porém, busca-se aqui "alar-
ses em decorrência de engajamentos gar os nossos horizontes intelectuais"
políticos. Nenhum assunto pode, sob es- com a solução particular de um sociólo-
te ponto de vista, ser dado por encerra- go alemão face aos inquietantes (e ain-
do, sendo a tarefa da ciência patrocinar da atuais) problemas da ciência.
o debate contínuo e garantir sua liber- Por fim, é importante mencionar ao
dade. Mais uma vez, retomando os mes- leitor que um trabalho mais recente de
mos autores citados ao fim do terceiro Ringer se propõe a preencher as lacu-
capítulo, Ringer enfatiza a importância nas aqui assinaladas. Irmão siamês do
estratégica dessas questões, em suas livro ora resenhado, trata-se do ainda
formulações mais recentes. não traduzido Max Weber. An intellec-
No sexto e último capítulo, "Da Teo- tual biography. (The University of Chi-
ria à Prática", o autor se propõe a fazer cago Press, 2004).
um apanhado de tudo o que foi visto, ao
analisar as relações entre a metodolo-
gia de Weber e sua prática científica. SAHLINS, Marshall. 2003. Cultura e razão
São aqui abordados escritos econômi- prática. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Edi-
cos, relativos ao funcionamento e de- tor. 231pp.
senvolvimento do capitalismo – e, como
conseqüência disso, o ponto culminan-
te da discussão torna-se a retomada dos Maria Laura Viveiros de Castro Ca-
procedimentos metodológicos utiliza- valcanti
dos em A Ética Protestante e o Espírito Programa de Pós-Graduação em Sociologia e
do Capitalismo. Ao fim deste capítulo, Antropologia / IFCS / UFRJ
porém, Ringer tece uma autocrítica. Ele
reconhece a insuficiência de sua abor- À primeira vista, nada mais real do que "o
dagem no tocante ao problema coloca- mundo". Em sua dimensão material, o
do, qual seja: restringir a análise da mundo é fatual e, através da História, im-
proposta metodológica weberiana ao põe-se, como diria Marx, com peso opres-
estudo de sua prática científica. Isto sor sobre nossos cérebros. Esta é a voz da
significa, pois, não dar atenção à impor- razão prática, primeiro interlocutor do de-
tância do engajamento político do so- bate trazido pelo clássico de Marshall
ciólogo, fundamental para compreen- Sahlins agora re-editado. Ocorre que a
der seu comprometimento intelectual. existência dos seres humanos que habitam
Ainda que o livro tenha uma falta esse mundo depende de complicadas
como esta – reconhecida, aliás, pelo au- sociedades e, com elas, de um novo reino
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que tudo modifica: a cultura, o outro in- Transformado e renovado pela experiên-
terlocutor do debate proposto. Sua voz va- cia de busca de compreensão de outras
riada parece mais frágil, sugerindo uma formas sociais, esse olhar é agora capaz
dimensão interior à relação estabelecida de desvendar dimensões inusitadas de
entre o homem e o mundo. Essa fragilida- seu próprio mundo. Em seu desenvolvi-
de é, entretanto, apenas aparente. Escrito mento, a antropologia descobriu algo
no contexto da controvérsia entre o mar- efetivamente novo e autêntico e a dife-
xismo e o estruturalismo que atravessou rença existente entre a sociedade oci-
as décadas de 1960 e 1970, o livro é uma dental e as demais formas sociais des-
veemente defesa de um conceito antropo- venda um ponto conceitual chave.
lógico de cultura. A sociedade capitalista moderna
Com rigor acadêmico e fino senso de pensa a si mesma como organizada em
humor, os argumentos desdobram-se em diferentes esferas de atividades e de re-
dois planos. De um lado, "razão prática" lações que correspondem a ordens dis-
e "cultura" são noções polares, agregado- tintas do mundo humano: economia,
ras de posições diversas dentro da antro- política, direito, etc. Dentre elas, a esfe-
pologia e das ciências humanas em ge- ra econômica impera e impõe-se a to-
ral, num leque temporal que, inau- das as outras. Ora, nos diz Sahlins, essa
gurado no século XIX, atravessa todo o elaborada auto-consciência de nossa
século XX. De outro, busca-se a supera- sociedade, assumida acriticamente por
ção do dualismo proposto como ponto de tantas teorias, produz a cara idéia de
partida. Conforme o debate percorre as que seríamos seres racionais governan-
arenas intelectuais definidoras de seus do nossas ações e instituindo cultura
próprios termos, delineia-se com força sempre em busca da maximização de
crescente a posição do autor, de base es- interesses materiais. Para o autor, essa
truturalista: a razão simbólica é a quali- visão é uma insidiosa manifestação da
dade específica da experiência humana, "razão prática", gerando não só um véu
aquela experiência cuja condição de ideológico que a sociedade moderna
existência é a significação. lança sobre si como um equívoco con-
O fio condutor da argumentação é a ceitual estendido etnocentricamente a
tensão entre essa sociedade, que simpli- toda a humanidade.
ficadamente chamamos de "nós", e as O efeito de estranhamento produzi-
formas sociais "primitivas", "tribais" ou do pelo esforço de compreensão das so-
"camponesas" que operam como "outros". ciedades ditas primitivas tem papel
Em que pesem as limitações dessa pola- heurístico crítico nesse debate. Nelas,
ridade que marcou o surgimento da dis- como Marcel Mauss revelou, o mundo
ciplina, o livro retira dela proveito ana- se apresenta em uma unidade indis-
lítico máximo. O caminho empreendido solúvel de aspectos; as dimensões per-
é valioso, revelando com nitidez a perti- cebidas, vividas e concebidas do mun-
nência da contribuição antropológica pa- do o são de forma radicalmente diver-
ra as ciências humanas e sociais como sas da nossa. Não é outro o motivo da
um todo e também, especialmente, para conhecida resistência das sociedades
a compreensão mais plena da sociedade tribais à imposição do modelo analítico
capitalista e contemporânea. marxista de determinação da super-es-
Incorporando um século de estudo trutura pela infra-estrutura. Nesse pon-
dos "outros", Sahlins retorna o olhar oci- to, o debate poderia enfraquecer-se
dental sobre a sua própria sociedade. diante da solução aparentemente fácil
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de que tipos de sociedades de natureza instrumental das necessidades biológi-


tão diversas requereriam teorias tam- cas. Sahlins é um crítico severo. No fun-
bém diversas para explicá-las - o mate- cionalismo utilitário, ele observa, qual-
rialismo histórico para o ocidente, e o quer fato é despojado de seu conteúdo,
estruturalismo para as sociedades pri- e sua interpretação como utilidade ex-
mitivas. terior é uma mistificação: nessa opera-
A argumentação de Sahlins, entre- ção, quem atribui sentido ao fato é, afi-
tanto, prossegue com grande vigor inte- nal, o antropólogo elevado "à divindade
lectual enfatizando o âmago do certa- de um sujeito constituinte de quem
me: qual a relação entre ação produtiva emana o objeto" (p.79). Mesmo na visão
("práxis" na terminologia marxista) e or- da linguagem como trabalho e do signi-
dem simbólica, no entendimento das ficado como resposta produzida no ou-
sociedades humanas? vinte encontra-se, em Malinowski, "a
A tensão entre razão prática e enfo- mesma redução do sujeito humano ao
que cultural desdobra-se dentro da an- objeto manipulado que informa sua téc-
tropologia em um conflito que atraves- nica etnográfica" (p.87). Porém Sahlins
sou o século XX. Pares de autores para- é, sobretudo, a um só tempo, rigoroso e
digmáticos têm suas idéias retomadas generoso, dialogando abertamente com
com clareza e argúcia. Em um primeiro seus pares e antecessores e realçando
contexto disciplinar, enfrentam-se Le- sempre a grandeza das contribuições
wis Henry Morgan e Franz Boas. Mor- centrais de um autor, enxergando mati-
gan fala pela razão prática, com sua zes, ambivalências, problemas e limites
teoria do parentesco que tanto encan- no que examina. As páginas dedicadas
tou Engels e da qual se depreende uma a Radcliffe-Brown e a representantes do
concepção da atividade mental como que o autor chama de "estruturalismo
reconhecimento de uma realidade exte- inglês" - como Mary Douglas - são den-
rior mecanicamente transportada para sas e lúcidas. O problema aqui é o so-
a consciência. Nada se acrescenta, co- ciocentrismo, a força da oposição socie-
mo pontua Sahlins, ao fato assim dade versus cultura, que acarreta uma
apreendido. Boas, com a famosa e sin- apreciação incompleta do símbolo como
tética formulação de que "o olho que vê simples representação de realidades so-
é o olho da tradição", propicia um novo ciais mais básicas. Será então nas for-
patamar no qual a construção humana mulações de Émile Durkheim - em es-
da experiência é gradativamente trans- pecial aquelas contidas no ensaio sobre
posta para o plano propriamente cultu- as "Formas primitivas de classificação",
ral. Em suma, o debate ilustra o fato de escrito conjuntamente com Marcel
que, dentro da antropologia, há discor- Mauss, e nas "Formas elementares da
dâncias fundamentais sobre onde e co- vida religiosa" - que o autor re-encontra
mo se busca o significado e, com isso, a a matriz da razão simbólica: uma elabo-
própria noção de significado varia ela ração do signo a partir da mediação do
mesma de sentido. pensamento humano para a existência
Outro conhecido campeão da razão do universo. Claude Lévi-Strauss, in-
prática é Malinowski que, com um me- cluindo as relações sociais dentro do
canicismo teórico sempre surpreenden- sistema geral de representações, coroa
te naquele que é também um dos heróis esse movimento, iniciado com Franz
da pesquisa etnográfica, via sem mais Boas. Chegamos, então, à cidadania
delongas a cultura como a realização plena da razão simbólica, aquela forma
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do entendimento que só reconhece ob- dos bens materiais: a produção e o con-


jetos dentro da significação em qual- sumo na comestibilidade e no vestuário
quer nível em que este se situe: toda or- na sociedade norte-americana. Marcel
dem cultural significa integralmente. Mauss, que observou que a troca das
Essa polaridade interna à disciplina coisas era um processo de vinculação
ressoa dentro do próprio marxismo. Sem entre pessoas, e Karl Marx, que obser-
querer participar do debate do jovem vou como o vínculo entre pessoas é uma
Marx "idealista" versus Marx "materia- troca de coisas, aproximam-se de modo
lista" maduro, Sahlins observa continui- inusitado: "Se, como é freqüentemente
dades e descontinuidades ao longo de observado a respeito da troca 'primitiva',
toda sua obra, que também oscila entre toda transação tem um coeficiente so-
momentos mais culturais e momentos cial, um relacionamento entre os partici-
mais naturais. Por vezes, Marx reconhe- pantes de um ou outro tipo que regula
ceu que "a natureza… tomada abstrata- os termos materiais de sua interação, no
mente, por si mesma - a natureza com- nosso caso parece verdade que toda
preendida isoladamente do homem - na- transação tem um termo material que
da significa para o homem" (p. 129). Po- alimenta importantes dimensões do re-
rém, embora os homens sejam por vezes lacionamento social. Mesmo fora das
concebidos como "produtores de con- transações comerciais, no que é às ve-
cepções e idéias", a visão marxista do zes chamado de "vida" em vez de "traba-
processo simbólico permanece truncada lho" (:214). A materialidade do capitalis-
em momentos teóricos decisivos. Diante mo é, afinal, uma forma de simbolizar.
do problema antropológico da variabili- Sahlins conclui um amplo e nobre
dade histórica da ordem cultural, a his- percurso. Seus confrontos são firmes e
tória, tornada História pelo marxismo, respeitosos. Suas recusas dirigem-se a
termina abstraída da esfera humana; o formas do mecanicismo e do reducionis-
processo experiencial através do qual o mo. As melhores formulações teóricas
pensamento conceitual se produz não se são afinal aquelas que proporcionam
enraiza em nenhuma situação objetiva mais espaço para mediações, aberturas
concreta. Cultura vira super-estrutura, a e, sobretudo, para a continuação livre do
noção de dialética deixa de supor a reci- movimento do pensamento. A nós, o pro-
procidade de influências. O simbólico veito de renovada leitura.
termina subordinado à lógica linear
mais poderosa da satisfação das neces-
sidades objetivas. Para Marx, o primeiro SOUZA LIMA, Antônio Carlos de (org.).
ato histórico é uma experiência mate- 2002. Gestar e Gerir: estudos para uma
rial: a produção da existência como pro- antropologia da administração pública no
dução dos próprios meios de subsistên- Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará. 316
cia. Para Sahlins, não está em jogo uma pp. (Coleção Antropologia da Política)
questão de prioridade mas sim "a quali-
dade única da experiência humana, vis-
ta como experiência rica em significa- Luiz Felipe Rocha Benites
do". O começo do homem é a expe- UFSM/UNIFRA
riência do mundo como conceito.
Em um ensaio final cheio de brilho,
Sahlins demonstra como o capitalismo
como ordem cultural se realiza no plano

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