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JURÍDICA DO CONCEITO*
RESUMO
RESUME
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Trabalho publicado nos Anais do XVIII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em São Paulo –
SP nos dias 04, 05, 06 e 07 de novembro de 2009.
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MOT-CLES: CITOYENNETÉ. PARTICIPATION SOCIALE. INCLUSION.
LIBERTÉ.
INTRODUÇÃO
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Se é certo que o descumprimento sistemático do texto constitucional não se deve
unicamente à abertura de significado dos dispositivos nele elencados, é preciso
reconhecer que a falta de um consenso mínimo sobre determinados conceitos básicos
têm causado grandes problemas de aplicação. No que se refere à cidadania, observa-se
um silêncio geral nos dicionários de política e filosofia, que simplesmente omitem
qualquer tentativa de descrição do verbete. Em Bobbio et ali[6], além de Lalande[7],
não há sequer menção sobre o que se compreende pelo termo e, apesar disso, como
ressalta Cortina[8], nunca houve tanta necessidade de um esclarecimento, de uma teoria
da cidadania.
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CONSTRUÇÃO DO CONCEITO NA HISTÓRIA: A DIFICULDADE
METODOLÓGICA INICIAL
[...] as variações semânticas dos termos de que se serve o cientista social de país para
país, com as mesmas palavras valendo para investigadores do mesmo tema coisas
inteiramente distintas, como, por exemplo, a palavra democracia, a que se emprestas
variadíssimas acepções, ameaçando imergir num caos sem saída os mais competentes e
idôneos esforços de fixação conceitual.[9]
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configurações conceituais inteiramente distintas ao longo da história política, malgrado
a utilização de expressões linguisticamente equivalentes. Para definir o termo hoje faz-
se necessário considerar, ao mesmo tempo, sua história de sentido e a transformação
que o texto constitucional foi capaz de operar.
Apesar de sua rivalidade, as metodologias da escola alemã e da inglesa podem ser úteis
como forma de descobrir, no contexto histórico do Brasil, quais os sentidos possíveis
para a cidadania no texto constitucional. Ao utilizar uma associação das duas
metodologias, em seus pontos principais, tem-se uma análise que é, ao mesmo tempo,
contextual e textual, posto que envolve uma pluralidade de perspectivas que se
complementam para auxiliar o intérprete na definição do sentido.
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Pode-se identificar a estrutura social ateniense no período clássico como
eminentemente orgânica, na medida em que:
[...] eles já consideravam as coisas do mundo numa perspectiva tal que nenhuma delas
lhe parecia como parte isolada do resto, mas sempre como um todo ordenado em
conexão viva, na e pela qual tudo ganhava posição e sentido. Chamamos orgânica a esta
concepção, porque nela todas as partes são consideradas membros de um tempo. A
tendência do espírito grego para a clara apreensão das leis do real, tendência do presente
em todas as esferas da vida – pensamento, linguagem, ação e todas as formas de arte – ,
radica-se nesta concepção do ser como estrutura natural, amadurecida, originária e
orgânica. [15]
O cidadão é agora, segundo a definição do jurista Gaio, o que atua sob a lei e espera a
proteção da lei em qualquer parte do império: é o membro de uma comunidade que
compartilha a lei, e que pode se identificar ou não com uma comunidade territorial. (...)
A cidadania é, então, um estatuto jurídico, mais que uma exigência de implicação
política, uma base para reclamar direitos, e não um vínculo que pede responsabilidades.
[17]
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império romano. A utilização do termo só volta a ser percebida no contexto de formação
dos estados nacionais, já na Modernidade, quando se mostra necessário criar a noção de
povo, como unidade constituída sob a soberania do poder central. O cidadão é, nesse
sentido, o habitante da cidade, aquele que se submete ao poder soberano do estado[18].
Neste momento, o conceito de cidadania se associa à idéia de nacionalidade:
No Estado, são os cidadãos que ostentam a nacionalidade desse país, em que por
“nacionalidade” se entende o estatuto legal pelo qual uma pessoa pertence a um Estado,
reconhecido pelo direito internacional, e se adscreve a ele. Os traços adscritícios
habituais são a residência (jus soli) e o nascimento (jus sanguinis), mas em um Estado
de direito como o moderno, a vontade do sujeito é indispensável para conservar a
nacionalidade ou mudá-la, bem como a vontade dos já cidadãos desse Estado. [19]
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qualidade de princípio fundamental, sua força normativa se estende a todo o texto
constitucional, indicando que sua interpretação deve favorecer à realização da cidadania
como diretriz básica. Inegável, portanto, a importância de um esclarecimento maior
sobre o sentido exato do termo.
É preciso, portanto, precisar quando foi utilizado o termo, o seu locus, e, quando
possível, a finalidade (teleologia) própria que o conceito, com sua carga ideológica,
fosse capaz de conferir à constituição. A partir dessa perspectiva, identificou-se a
utilização explícita do termo nos seguintes dispositivos constitucionais: art. 1º, inc. II;
art. 68, § 1º; art. 205, caput.
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descompasso entre a previsão constitucional da cidadania como qualidade do sujeito
público e a realidade social demandou a criação de uma série de medidas de inclusão
denominadas ações afirmativas, que buscam proporcionar o resgate da cidadania de
grupos em situação de vulnerabilidade.
CONCLUSÃO
Este trabalho teve por objetivo esclarecer (e estabelecer), dentro dos sentidos
possíveis que o termo cidadania pode alcançar no contexto brasileiro, uma noção
especificamente jurídica, tomando-se a leitura do texto constitucional a partir da
perspectiva metodológica da historiografia conceitual. Nesse sentido, o ser cidadão,
antes de representar uma concepção eminentemente política, tem uma expressão
jurídica palpável, isto é, constitui uma qualidade do indivíduo na ordem republicana da
qual é parte.
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na constituição reflete, indiretamente, a teoria da cidadania do estado do bem-estar
desenvolvida ao longo do século XX no mundo ocidental.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FERES JÚNIOR, João (org.). Léxico da História dos Conceitos Políticos no Brasil.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.
JASMIN, Marcelo Gantus; FERES JÚNIOR, João. História dos Conceitos: Dois
Momentos de um Encontro Intelectual. In: JASMIN, Marcelo Gantus; FERES JÚNIOR,
João (orgs.). História dos Conceitos: Debates e Perspectivas. Rio de Janeiro: Editora
PUC-RIO; Loyola, 2006.
[3] A idéia de contexto revela tanto a relação de significado que o termo tem com os
demais vocábulos do texto constitucional, como a percepção de que o uso feito pela
constituinte é determinante para apreensão de seu significado.
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[4] CORTINA, Adela. Cidadãos do Mundo: Para uma Teoria da Cidadania,
tradução de Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Loyola, 2005, pg. 19.
[9] BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. São Paulo: Malheiros, 2003, pg. 36.
[12] JASMIN, Marcelo Gantus; FERES JÚNIOR, João. História dos Conceitos: Dois
Momentos de um Encontro Intelectual. In: JASMIN, Marcelo Gantus; FERES JÚNIOR,
João (orgs.). História dos Conceitos: Debates e Perspectivas. Rio de Janeiro: Editora
PUC-RIO; Loyola, 2006, pg. 15.
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[20] CORTINA, Adela. Op. cit., pg. 53.
[22] Cf. DINIZ CAMPOS, Juliana Cristine; DINIZ, Márcio Augusto de Vasconcelos. O
Acesso à Educação na Ordem Constitucional Brasileira: A Consolidação da Cidadania
no Estado Democrático de Direito. In: Anais do XVII Congresso Nacional do Conpedi.
Florianópolis: Fundação Boiteux, 2008, pg. 762-775.
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