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NOTAS DE LEITURA SOBRE O ARTIGO “ Primitivismo e ciência do homem no século XVIII”


de Hélène Clastres

• O desenvolvimento da etnologia no século XVIII é permeado por uma conjuntura que


inviabiliza sua construção enquanto modelo contínuo de produção de conhecimento. Gennep
argumenta que, dentre as causas externas, o recrudescimento da religião a partir do século
XIX gerou uma descontinuidade nas ciências “de observação do Homem”

• Duas questões norteiam a autora: “o porquê do caráter isolado das obras dos que foram
chamados, e não sem razão, de ‘precursores, e o porquê dessa súbita interrupção”, questões
que conteriam uma terceira: como é possível que a etnologia não tenha nascido no século
XVIII, já que, aparentemente, as condições necessárias para sua formulação já existiam?
(p.189)
• Período de análise: “o período que nos interessa vai do início do século, com sua publicação
das primeiras Lettres Edifiantes et Curieuses...dos Jesuítas (em 1702) e dos Dialogues de La
Hontan ( em 1703), até o fim da Sociedade dos Observadores do Homem” em 1804. (p.189)

• Segundo Gennep, e a autora concorda com a proposição, o objeto da etnologia é “estudar


o homem semicivilizado e as populações rurais da Europa”, mas que atualmente essa
distinção permanece, porém, sobre outros termos. No século XVIII fala-se dos povos
selvagens, ou primitivos.

• O termo primitivo seria uma inovação do século XVIII, a medida que “primitivos, isto é,
primeiros: no começo de uma história que é a do gênero humano”. Portanto a “espécie
humana” seria dotada de uma unidade natural e tendente por natureza à evolução.

• “é no seio das teorias dos naturalistas que são formulados os postulados, hipóteses e
conceitos sobre os quais vai se fundar todo o discurso antropológico do século XVIII. E que
o naturalismo vai tentar explicar não somente a diversidade física, mas também a dos
‘naturais’ [ ideia de essência natural em cada grupo étnico, distinções morais e intelectuais?],
e mais ainda, dos costumes” (p.190)

◦ Buffon confere aos diferentes tipos de clima três distinções básicas: de cor, de forma e
tamanho, e de moralidade e intelectualidade.
◦ A autora salienta que Buffon era adepto da ideia de que os negros eram mais passionais
do que racionais. Possuíam “o germe de todas as virtudes”, e mesmo com essa visão
condescendente, ele foi adepto do fim da escravidão

• Uma gênese Lockiana (empirista - liberal): “as ideias provem dos sentidos, donde segue
que, colocados em condições idênticas, os homens recebem as mesmas sensações e,
portanto, concebem as mesmas ideias [lembrando que Locke não define claramente o que
ele compreende como ideia]; princípio ligado a este outro: que existe uma ordem natural
segundo a qual as sensações e as ideias se encadeiam, de maneira que se pode descobrir
sua origem e reconstituir sua formação [concepção presente em David Hume, mas sob
termos mais detalhados]. A partir daí, poder-se-á dar conta de todas as diferenças: se há
diversidade, é precisamente porque as condições (não somente climáticas) não são idênticas,
é porque variam as circunstâncias exteriores à natureza do homem.” (p.191) Variam de
modo que podem degenerá-lo… o autor coloca que uma alimentação miserável torna o
homem feio, tal como se apresenta os povos do campo em relação aos da cidade
[ Helene Clastres não coloca a fonte de sua citação...]
• Buffon define como Natureza “o sistema de Leis estabelecidas pelo Criador, para a
existência das coisas e para a sucessão dos seres”, sendo sistema, então seria possível
retraçar através da história natural, o processo de desenvolvimento do homem, independente
de sua multiplicidade atual.
◦ Buffon ira utilizar dois eixos para criar este modelo explicativo: um eixo geográfico
(condições exteriores acidentais), subordinado a um eixo Histórico (leis naturais
necessárias).
◦ NOTA: a “perfectibildiade” em ROUSSEAU defende a possibilidade de uma evolução
degenerada do Homem, e isto explicaria a multiplicidade e distâncias entre os tipos
humanos. O termo “degenerar” implica num desvio, portanto no afastamento da
trajetória tida como natural, um bom desenvolvimento. Buffon compartilha dessa
problemática, e compreende que as espécies degeneradas devem retomar a linha do
progresso.
◦ NOTA: observa-se que essa possibilidade de retomar o “bom caminho” não se vincula a
nenhum argumento determinista, as leis naturais levam ao progresso, a perfectibilidade
torna possível a degeneração, mas qualquer tipo humano pode “evoluir” segundo o que a
natureza impele. Até aqui, parece que o argumento racista não está presente como
foi construído pelos antropólogos do século XIX… Pensando no conceito de “língua-
verdade” em Anderson, a sustentação da possibilidade de assimilação cultural de um
povo sobre outro é antiga, contudo não se compreendia a assimilação como apagamento
cultural, mas como um processo de reeducação do sujeito, de inserção de novas ideias e
hábitos. Pensar o racismo como fenômeno antropológico equivale a propor um racismo
específico à cada espaço: um racismo norte-americano, um racismo francês, um racismo
argelino, um racismo brasileiro.

• No pensamento da maior parte dos homens do século XVIII, “todos os caracteres pelos
quais os homens, e as sociedades, se diferenciam, estão estritamente ligados; e mais:
decorrem logicamente uns dos outros. Assim a feiura física se conjuga a negritude
moral, a estupidez às crenças absurdas”(p.192) e etc. A autora coloca essa proposição
como central para a antropologia atual, pois ela encerra uma necessidade entre discurso
científico e discurso moral, dificultando sua disjunção, isto é, aquilo que é considerado
como descrição de um fenômeno observável seria intrínseco a elementos construídos através
do discurso, como “bom e mau”.

• Retomando outro ponto de Locke: as leis que determinam as relações entre sensações e
ideais são frutos de um sistema que vai de um nível simples para relações mais complexas
[ não lembro disso, ela fala do Condillac…], logo, para explicar a multiplicidade dos tipos
humanos, basta recorrer aos elementos físicos – considerados como mais simples, pois são
observáveis [Hume também compreende que os fenômenos do mundo exterior seriam mais
simples e mais propícios para o estudo; as conclusões tiradas nesse campo serviriam de base
para os estudos sobre o ser humano].

◦ Nota: Perfectibilidade: uma origem única para a espécie humana, em que no Estado de
Natureza, todos os indivíduos teriam uma condição existencial idêntica na possibilidade,
mas que variariam nas condições reais externas ( geografia, alimentação, clima, etc.)

• Deste modo, as condições geográficas poderiam ser utilizadas como parâmetros de definição
de maior ou menor grau de afastamento entre os tipos humanos, sustentando uma narrativa
histórica que partiria de um ponto comum. Daí, o selvagem deixa de ser pensado como
um “estrangeiro” e passa a ser concebido como o Primitivo, o primeiro.
• No século XVI, cronistas que chegam ao Novo Mundo percebem nas diferenças culturais
dos nativos uma grande divergência do que era concebido como natural na Europa, uma
diferença tão grande que se tornava incompreensível, logo poderia apenas ser descrita nos
mínimos detalhes. Todavia, ao mesmo tempo, também se admitia a proximidade de seu
fenômeno social, uma vez que suas comunidades possuíam uma noção de justiça, eram
influenciadas por vícios, movidas por questões políticas, portanto seus corpos não eram um
sinal de distinção.

• “É esta dupla relação, ao mesmo tempo próxima e longínqua, do Ocidente com os


selvagens, que o século XVIII vai derrubar. A nova ciência vai reaproximar, em princípio,
os selvagens: não menos humanos que nós, e arrastados pela mesma história.” (p. 195)
Porém, a concepção que hierarquiza os nativos americanos como “primeiros”, ao mesmo
tempo que os coloca como “humanos”, aproximando-os dos “tipos europeus”
(acrescentando controvérsias as questões da existência da alma nos indígenas) também os
distanciam desses tipos mediante uma escala de desenvolvimento, remodelando a
estrutura de poder.

• Um ponto MUITO importante é a distinção, no pensamento do século XVIII, entre


“Selvagem” ,“Primitivo” e “Degenerado”. Quem são selvagens nessa época?

◦ “a época, faz do selvagem um modelo ( no sentido lógico e moral do termo)”(p.195),


isto é, o conceito de “selvageria” engloba “estado de insubordinação política, ausência
de coerção religiosa, ignorância da propriedade privada”(p.196)
◦ Portanto, seriam os índios da América, enquanto que os Povos do Mundo Antigo “não
são considerados selvagens. Os do Ártico (lapões, samoiedos) degeneraram; os
habitantes de Berbérie, bárbaros, ao mesmo tempo refinados e cruéis; os povos da
África Negra (então muito parcialmente e mal conhecida) escravos e submissos a
tiranos ; os chineses, policiados sem dúvida alguma e há muito tempo, mas caídos num
estado de estagnação”(p.195) [ esta citação está numa nota de rodapé, mas não sei a
fonte]
◦ a epistemologia etnográfica não possuía um fim em si mesma, era um método
comparativo que se propunha encontrar, através dos estudos de diversas sociedades, o
modelo social que se aproximava da Razão, uma cultura capaz de viabilizar a
felicidade, uma vez que a natureza e a moralidade eram intrínsecas.

• O modelo etnográfico do século XVIII sustenta que não basta mais apenas descrever a
pluralidade dos costumes, deve-se compreendê-las, portanto compará-las. “Mas não
qualquer coisa, e nem de qualquer maneira. Não, por exemplo, os selvagens, ou os antigos,
conosco; apenas o que é comparável, como por exemplo, os antigos com os selvagens.”
(p.196). [O modelo erigido acerca dos estudos indianistas torna-se o parâmetro comparativo
para a formulação da alteridade degenerada no Mundo Antigo?]

• “O fato é que o comparatismo, como método aplicado ao estudo dos costumes, se baseia
num duplo postulado: há uma unidade do espirito humano que manifesta a tradição comum
original, e seu desenvolvimento histórico é sujeito as leis. É a projeção, ao plano das
ciências dos costumes, das hipóteses do naturalismo” de Locke, pois sua teoria da
linguagem “funda a passagem do fisiológico ao mental” [não só Locke, talvez o
empirismo como um todo] (p.197). Essa passagem estabelece uma relação de unidade entre
sensações e identidade, entre conteúdo essencial e forma variável. Também sustenta que
exista uma unidade temporal que permeia o fenômeno humano; desses pressupostos decorre
que a diversidade dos costumes humanos carregam unidades básicas primárias (primitivas),
portanto, comparáveis, uma vez que, por exemplo no caso da religião, “essa unanimidade de
sentimento em todas as Nações, mostrando que efetivamente, não há nenhuma tão bárbara
que não tenha uma religião”, mas que possuem uma proximidade com as religiões
primordiais, semelhantes nos princípios e no modo de ser/fazer.

◦ “A ideia de religião originária é banal no século XVIII”(p.197) [ então a merda começou


a ser cagada antes….], a questão é que essa ideia ocupa um lugar singular nessa nova
forma de pensar civilizações e a história. Nessa nova estruturação do pensamento acerca
do poder nas relações entre povos.

• O problema lógico central: a autora propõe que os huronianos (povo do Norte da América)
foram considerados como o povo que mais se enquadrou ao conceito de Selvagem. Seus
costumes poderiam ser interpretados como “puros” e primitivos ( enquanto primeiros) na
história natural e racional que foi erigida por esses etnólogos do século XVIII. Porém, essa
conclusão deriva do método comparativo, isto é, da análise das características distinguíveis
entre o “Selvagem” e os Povos Antigos, uma vez que a análise de princípios concebidos
como universais não são passíveis de comparação ( é uma questão lógica). Decorre que, os
Antigos, não sendo primitivos, tem descrições de seus costumes passados, carregam uma
História. Segundo a autora, os pensadores dessa época argumentavam que os costumes
( política, guerra, alimentação,etc) se desenvolveram progressivamente, enquanto que a
religião foi uma dimensão que regrediu [ esse argumento é essencial para sustentar que
a religião racionalizada europeia era a melhor, mais avançada]; valem-se das
observações, por exemplo, que consideravam os Africanos como uma sociedade Antiga que
permaneceu na “infância”, pois sua religião estava presa a artefatos e totens, seu temor era
regulado por rituais e misticismo, enquanto que a sociedades Antigas evoluídas como, por
exemplo, os descendentes da Grécia, concebiam uma entidade metafísica perfeita [fruto
de uma série de distorções e misturas desde Platão, passando por Plotino, até Marcelino
Ficino], portanto Racional e não mistica. Todas essas “conclusões” eram produto da
antropologia da época, permeada de uma concepção racional e naturalista de História. Mas
como fica a história do Selvagem?

• Se eram povos primitivos eles não teriam História. No século XVIII irá se argumentar que
seriam povos sem história, portanto seus costumes teriam sua gênese nas leis naturais. Mas
isso não explica as características distinguidoras em sua cultura, uma vez que as Leis
Naturais apenas criam uma capacidade de apreensão dos fenômenos sensíveis, e sua
diversificação estaria alicerçada nos aspectos geográficos. “Este belo ordenamento lógico e
o pulular das singularidades reais, o abismo é intransponível: as singularidades só podem ser
acidentais (senão, elas não seriam exatamente singulares). Elas permanecem assim, como no
século anterior, inexplicáveis: mais vale ignorá-las e teorizar sobre aquilo que é possível
compreender, por exemplo, o estado de natureza”(p.202).

◦ Uma ilusão teórica: a ordem “natural e lógica” proposta no método permite descrever os
fatos sem levá-los em conta.
◦ A história dos povos primitivos só vem posteriormente, com o advento do darwinismo –
que permite um naturalismo transformista, e da ciência Pré-Histórica (o Homem
antediluviano).

• Respondendo a primeira questão: segundo Gennep, os tais precursores da etnografia, no


século XVIII, realizavam “etnografia teórica”, um campo que ofereceu alicerces para a
futura etnologia, mas ambas são desconexas enquanto campos do conhecimento, portanto,
esse “abismo intransponível” representa a descontinuidade interna entre esses campos:
etnografia (descrição) e teoria (compreensão – método comparativo).
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