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Teoria Ingênua dos Conjuntos Leandro Vieira dos Santos

Esse texto é resultado de uma pesquisa que o escritor fez para um trabalho da disciplina História da
Matemática da UPE-FACETEG que foi apresentado em 2010, sendo que o mesmo foi encerrado
paralelamente ao trabalho em janeiro de 2011.

Autor: Leandro Vieira email: vieira.leandro@ymail.com

Considerações Inicias
Em outubro de 2010 o escritor junto com alguns colegas de classe concluíram um trabalho
sobre História da Matemática que deveria ser apresentado em forma de minicurso na semana da
matemática da nossa faculdade. Infelizmente devido a alguns problemas entre o coordenador e
organizadores da semana da matemática não houve semana da matemática. Parte do trabalho foi
apresentado em sala de aula como requisito para obtenção de nota numa disciplina de história da
matemática, e a outra parte, por estar fora do contexto da cadeira, acabou sendo excluída.

O seguinte texto são os resultados parciais da parte excluída da pesquisa citada


anteriormente, que foi revida e ampliada pelo escritor nos meses finais de 2010 e em janeiro de
2011. A ideia do texto não é ser técnico ou científico, é uma apresentação informal de alguns
conceitos inicias da Teoria dos Conjuntos. Por ser um texto que versa sobre alguns resultados
duma pesquisa em andamento pode ser que apareçam alguns deslizes incômodos, o autor agradece
muito se lhe forem indicados. Mas por fim, é um texto de divulgação, não formal. Espero que o
leitor goste.

Teoria Ingênua dos Conjuntos


“Um conjunto é uma coleção considerada como um todo de objetos distintos
e definidos da nossa intuição ou pensamento. Os objetos são chamados
elemento do conjunto.”
George Cantor

O que torna a Teoria dos Conjuntos de Cantor (TC) importante para a matemática como um
todo é o fato de que todas as entidades estudadas na matemática (com algumas exceções) podem ser
encaradas como conjuntos. Dessa forma a linguagem da Teoria dos Conjuntos, encontrando
aplicabilidade em praticamente toda a matemática, é quase uma “linguagem universal”. Assim,

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definições, conceitos, axiomas, os teoremas e suas demonstrações, etc., podem ser exprimidos em
termos da Teoria dos Conjuntos. A TC desde sua criação no século XIX se encontra num lugar
privilegiado, como base em que se assenta o conhecimento matemático, e consequentemente o
conhecimento científico em geral.

A TC nasce quando Cantor tentava solucionar o problema da caracterização de conjuntos


unicidade de séries trigonométricas (o leitor pode encontrar algumas noções de séries no final do
texto). Um subconjunto X de [0, 2π] é dito conjunto de unicidade quando, se a série trigonométrica
convergir para zero nos pontos fora de X, então os coeficientes se anulam. O primeiro resultado de
cantor nesse assunto foi que o conjunto vazio é um conjunto de unicidade. Assim a única série
trigonométrica que converge para zero em toda a parte de [0, 2π] é aquela cujos coeficientes são
todos nulos. Cantor é levado a introduzir uma notação que explique e exemplifique os seus
resultados: a Teoria dos Conjuntos.

Para Cantor toda coleção é um conjunto. Não existem restrições à construção, e a que tipos
de objetos possam de fato vir a ser elementos de um conjunto. Essa concepção encontrou muitos
oposicionistas no sentido de que a partir dela surgem vários paradoxos, isso põe em cheque sua
posição como fundamento da matemática. O próprio Cantor notou a existências desses paradoxos.
O primeiro paradoxo descoberto por Cantor envolve um conceito interessante: cardinalidade. Pode-
se, em termos informais, afirmar que a cardinalidade de um conjunto é dado por seu “tamanho”,
dessa forma o conjunto universal (como concebia Cantor: o conjunto de todos os conjuntos) deve
ter a cardinalidade maior possível. Um conjunto X pode ter todos os seus elementos também
elementos de outro conjunto Y, assim se diz que X é subconjunto de Y (em símbolos: X C Y, X está
contido em Y); existe um conjunto Z que contém todos os subconjuntos de um conjunto qualquer Y,

Z é chamado conjuntos das partes de Y ou conjunto potência de Y, Z é denotado por P(Y). Cantor

provou que para qualquer conjunto X, a cardinalidade de P(X) é maior que a cardinalidade de X.
Sendo assim o que dizer da cardinalidade do conjunto das partes do conjunto universal? O conjunto
universal não é o maior conjunto?

Outra situação desagradável a que se coloca a concepção cantoriana dos conjuntos é a de


impossibilidade da existência do conjunto universal. Ela se baseia no seguinte argumento: seja dado
um conjunto, podemos caracterizá-lo a partir de uma propriedade única e universal de seus
elementos (detalhe, quando x é elemento de um conjunto X, denota-se x ∈ X ). Dados dois

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conjuntos A e B, vamos supor que A seja o conjunto universal, denotemo-lo por U; e que seja B o
conjunto onde todos os seus elementos não são elementos de si mesmo (espera-se que os elementos
de B sejam conjuntos, isso não é problema, pois para Cantor não há restrições a construção de
Conjuntos; portanto teríamos conjuntos que são elementos de outros conjuntos, e provavelmente
conjuntos que são elementos de si mesmo). Podemos escrever B da seguinte forma:

B = { x; x∈ x }

que se lê: B é conjunto dos elementos x tais que x não é elemento de (ou não pertence
a) x. Detalhe: inclusão de um novo símbolo pra a não pertinência - ∈ , também
representado por ∈' .

A chave do paradoxo se encontra na pergunta B ∈ U? A intuição afirma que sim, porém a


resposta é não. Apesar de U ser o conjunto universal de Cantor não conteria todos os conjuntos:
contradição. Pela definição de U teríamos todo x de B, pertencente a U e, portanto B C U, o
conjunto que na verdade não é subconjunto de U é {B}. Sendo assim é impossível se construir o
conjunto de todos os conjuntos, ou em termos informais: “Nada contém tudo, não existe universo!”.
Justifica-se o fato de B não ser elemento de U da seguinte forma: se B ∈ U, então ou B ∈ B ou
B ∈ B (note o “ou” exclusivo, uma e somente uma das hipóteses pode ser verdadeira). Se B ∈
B, então B não é elemento de B ou B ∈ B; contradição, a afirmação de que B ∈ B é falsa.
Então só nos resta afirmar que B ∈ B; mas se B ∈ B, então B é elemento de si mesmo ou B
∈ B, o que acaba nos conduzindo a outra contradição. Como a suposição de que B seja elemento
de U sempre conduz a uma contradição, somos levados a acreditar que essa suposição é falsa□. Foi
o próprio Cantor quem notou a impossibilidade de se construir o conjunto universal.

Os paradoxos surgem quando tomando como base um sistema lógico e os postulados aceitos
de uma teoria, se chega às conclusões φ e ~φ, ou φ ↔ ~φ, onde φ é uma afirmação qualquer e ~φ é
sua negação (é comum também se representar ~φ por ¬φ). A proposição φ e ~φ afirma que φ é tanto
falsa quanto verdadeira, o que contradiz o princípio do terceiro excluído da lógica clássica que diz
que uma proposição ou é verdadeira ou é falsa (proposição é uma frase que pode ser caracterizado
como verdadeira ou falsa). Enquanto que a proposição φ ↔ ~φ afirma que a veracidade de φ faz
com que ela seja falsa, e sua falsidade tem como consequência a comprovação de sua veracidade.
Para a lógica de primeira ordem clássica como φ é uma proposição, pois φ é uma afirmação e como
tal ou pode ser falsa, ou pode ser verdadeira. Utiliza-se em lógica conectivos para formar novas
proposições a partir de posições menores, aqui se nota a utilização de dois desses conectivos o “e” e

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o “↔”, portanto “φ e ~φ” e “φ ↔~φ” são proposições e que independentemente do valor lógico de
φ são sempre falsas.

Tem-se também um famoso paradoxo de Bertrand Russel, que pode ser dito nos seguintes
termos: formado o conjunto A = {x; x ∈ x}, pergunta-se A ∈ A? A resposta é sim e não, se A
∈ A, então A não é elemento de si mesmo; e se A ∈ A, então A é elemento de si mesmo; dessa
forma A ∈ A ↔ A ∈ A, ou seja, uma contradição. O primeiro paradoxo de Cantor, não
necessariamente atingia os alicerces da Teoria dos Conjuntos, pois envolve conceitos de um
segundo estágio da TC (a Teoria dos Números Transfinitos). Essa mesma situação não encontra o
paradoxo de Russel, devido ao fato do mesmo envolver ideias iniciais da TC (note que os termos do
paradoxo envolvem apenas a definição de conjunto), ou seja, a sua origem não é consistente, e,
portanto toda ela anda segue por trilhas ilógicas.

Uma teoria se constrói em matemática seguindo mais ou menos os seguintes passos:


primeiro tem-se os objetos que a teoria estuda, cada uma apresenta uma definição, que são em
muitos casos, pouco ou nada satisfatória, é o caso da Teoria dos Conjuntos, onde os objetos são os
conjuntos e seus elementos, e pela definição de Cantor conjunto é uma coleção (e coleção o que é?
Um conjunto. Por fim...), além da definição de elemento (objeto que faz parte do conjunto); num
segundo passo se faz algumas afirmações alto evidentes, mas que não podem ser provadas: os
axiomas. Os axiomas não podem ser provados, porém sua veracidade é verificada comparando-os
entre si, e vendo se deles não resulta alguma coisa que não faz sentido, são leis válidas (uma vez ou
outra um matemático simplesmente nega um ou mais axiomas, e constrói a partir daí outra teoria
totalmente diferente da original, e eventualmente: útil); num terceiro passo temos os teoremas, que
são afirmações que podem ser provadas tomando como base as definições e axiomas; num quarto e
último passo se tem as aplicações dessa teoria, seja em matemática, ou mesmo em áreas da ciência.
Quando os axiomas não levam a paradoxos diz-se que a teoria é consistente, ou os axiomas são
consistentes, etc., pelo que foi dito a Teoria dos Conjuntos de Cantor não é consistente.

Ao se analisar a teoria que Cantor construiu nota-se que apesar dessa sua “fraqueza” em
termos de formalidade, ela é uma verdadeira obra prima da matemática. Mesmo ela já é suficiente
pra um estudo bem amplo de matemática, termos da álgebra e da topologia, por exemplo, se
constroem a partir da teoria ingênua dos conjuntos, sem falar que praticamente todas as aplicações
de Teoria dos Conjuntos na ciência em geral se dar a partir de sua forma ingênua. Inclusive a parte
de conjuntos vistas comumente no ensino secundário é ingênua. Mas na verdade essa grande

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aplicabilidade não implica que não se possa encontrar situações em que ela não se aplique, os
paradoxos já nos mostraram isso. Por essa e outras a Teoria dos conjuntos de Cantor foi
reformulada, e muitos matemáticos estiveram envolvidos nesse processo.

Cantor foi um desbravador, era de se esperar que o que ele construiu não estivesse em plena
perfeição. Mesmo hoje Teoria dos Conjuntos ainda é uma área bastante dinâmica da matemática, e
todas as suas mudanças, como maneira de encontrar uma estrutura ótima a qual possa se assentar,
foram consequências dos avanços que houve tanto nela mesma como em sua ferramenta principal: a
lógica. Um desses avanços foi a teoria dos conjuntos construída a partir da teoria dos tipos de
Russel, e da axiomática de Ernest Zermelo acrescida de alguns coisas extras (coisas que
estudaremos mais tarde). Antes de darmos continuidade nos estudos falemos de alguns resultados a
que chegou Cantor a partir de seus estudos.

Como já foi mencionado, a cardinalidade é uma forma de “medir o tamanho” de um


conjunto. Quando apenas estão envolvidos conjuntos com uma quantidade finita de elementos (não
estamos dando um limite ao número de elementos do conjunto em questão, apenas se indica que ele
deva ter um número finito de elementos), a cardinalidade do conjunto se confunde com o número de
elementos que o mesmo tenha, nesse caso a cardinalidade é representada por um número natural,
um exemplo, pouco claro, porém útil desse fato é conjunto dos divisores naturais de um número.
Porém no caso de conjuntos infinitos essa situação toma direções bem estranhas. O conceito de
infinito estava enraizado na matemática como a ideia de vazio: um conceito único, ou seja, duas
coleções diferentes, mas ambas infinitas teriam, por fim, um mesmo infinito de elementos.
Intuitivamente parece-nos bastante plausível aceitar essa afirmação. Uma das descobertas mais
notáveis de Cantor foi que nem sempre a situação mencionada acima acerca de conjuntos infinitos
acontece, em verdade, existem diferentes tipos de infinito, inclusive uns maiores que outros, e para
ser mais exato, uma coleção infinita de diferentes infinitos. O curioso é o fato de que o mesmo não
acontece o conjunto vazio, ele é único (pelo menos isso), vale salientar que tecnicamente o conjunto
vazio é subconjunto de todo e qualquer conjunto.

Dados A e B conjuntos quaisquer, dizemos que ambos são equipotentes se pode-se associar a
cada elemento de A um único elemento de B, por exemplo em dois conjuntos finitos de mesma
cardinalidade ( a saber, mesmo número de elementos), é possível fazer essa associação apenas
“ligando” um elemento de A a um elemento B, notando sempre que elementos distintos em A
tenham “ligações” distintas em B. Quando acontece de dois conjuntos serem equipotentes, se diz

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que eles podem ser colocados em correspondência biunívoca. Note que conjuntos finitos
equipotentes têm a mesma cardinalidade, esse fato pode ser estendido para conjuntos infinitos;
temos assim nosso primeiro axioma:

A.1 Conjuntos infinitos equipotentes tem a mesma cardinalidade.

Cantor notou que os números naturais e dos números pares eram equipotentes, portanto de mesma
cardinalidade. E não apenas os números pares, mas também outros subconjuntos infinitos
(especificamente todos) dos naturais eram equipolentes entre si e equipolentes a ℕ . Daí surge a
definição: conjunto infinito é aquele que é equipotente a alguma de suas partes próprias (parte
própria de conjunto X, é um subconjunto qualquer de X e que não é igual a X). Essa definição deve
completar A.1, mas não a deixa menos obscura.

Quando um conjunto podia ser colocado em correspondência biunívoca com ℕ Cantor


dizia que esse conjunto era enumerável. O infinito enumerável é na verdade a primeira classe de
infinito, foi associado a ele o símbolo

que representa o cardinal de todos os conjuntos enumeráveis ( alef, letra do alfabeto hebreu). Além
disso, se prova que o conjunto dos números racionais é enumerável. Ou seja, os números da forma
p/q com p e q inteiros e q diferente de zero pode ser colocado em correspondência biunívoca com os
naturais. Quando se pensa nisso a partir da reta real notamos o quanto é sofisticada essa afirmação,
os números naturais estão dispersos na reta, enquanto que os números racionais são densos sobre a
reta (isso quer dizer que independentes de quão próximos estejam dois números racionais um do
outro sempre existe um número racional entre eles), e que se diz é que o conjunto dos números
naturais tem o mesmo tamanho do conjunto dos números racionais.

Para provar que um conjunto é enumerável basta que possamos organizar seus elementos de
maneira tal que exista um primeiro elemento, um segundo elemento, um terceiro elemento, etc.,
pois dessa forma se tem uma correspondência entre tal conjunto e o conjunto dos números naturais,
onde cada elemento do conjunto se associa com um e só um elemento de ℕ . Esse raciocínio é
utilizado para provar que o conjunto dos números inteiros é enumerável, ponhamos ℤ = {...,
-n, ..., -2, -1, 0, 1, 2, ..., n, ...} da seguinte forma, ℤ = {0, 1, -1, 2, -2, ..., n, -n, ...}, assim ℤ
claramente fica com seus elementos seguindo em uma certa ordem, com primeiro elemento,
segundo elemento, ..., n-enésimo elemento. Um raciocínio semelhante se usa para provar que
conjunto dos números racionais é enumerável, ele segue o seguinte caminho: considere a formação

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1 2 3 4 … n …

1/2 2/2 3/2 4/2 … n/2 …

1/3 2/3 3/3 4/3 … n/3 …

1/4 2/4 3/4 4/4 … n/4 ...

é claro que todo e qualquer racional positivo aparece pelo menos uma vez nesse sistema. Omitindo
algumas repetições, e seguindo as indicações das setas podemos ordenar os números da formação
da seguinte forma:

1, 2, 1/2, 1/3, 3, 4, 3/2, 2/3,1/4, ...

que são justamente todos os racionais positivos postos em uma ordem enumerável. Por caminho
semelhante ao tomado para provar que ℤ é enumerável, podemos provar que ℚ também o é

ℚ = {0, 1, -1, 2, -2, 1/2, -1/2, 3, -3, 4, -4, ...},

e a matemática nunca mais foi a mesma.

Foi visto que ℕ , ℤ e ℚ são enumeráveis, só resta afirma que todo conjunto numérico
é enumerável, e assim I e R seriam ambos enumeráveis. Antes de iniciarmos essa parte do trabalho
foi mencionado que existem infinitas formas de infinito, mas até agora só apareceu uma; o infinito
enumerável. Justificando o que foi dito saibamos que Cantor provou que nem I nem ℝ são
enumeráveis.

Antes de falarmos do fato de I e ℝ não serem enumeráveis vamos seguir a trilha de Cantor
para chegar a esse ponto. Vejamos, seria o conjunto ]0,1[ enumerável? Note que a pergunta faz
menção a um pequeno intervalo da reta real, a resposta dada por Cantor foi não, isso seria
contraditório, estamos supondo que o “pequeno conjunto” ]0, 1[ é maior que ℚ . Mas graças a
Pitágoras sabemos que além dos racionais existem o irracionais. Admitindo a resposta de Cantor
para a enumerabilidade de ]0, 1[, só podemos chegar a uma conclusão: I e ℝ não são
enumeráveis. Façamos uma pausa para provar o resultado de Cantor.

Supondo que ]0, 1[ seja enumerável, então poderia organizar os elementos desse conjunto
seguindo uma ordem bem definida, e todos números pertencentes ao intervalo apareceriam nessa
organização. Sabe-se que todo e qualquer número real pode ser escrito como uma dízima infinita,
em alguns casos pode ocorrer de um número admitir duas dessas formas de dízima infinita, por

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exemplo, a estranha (porém provável) situação de 3 pode ser escrito como 1,00000... ou 0,99999...,
nesse casos apenas escolhemos um delas e esqueçamos da outra. Seguindo esse passo criemos a
lista ordenada dos elemento de ]0, 1[:

1° elemento: p1 = 0,a11a12a13a14a15a16 ...

2° elemento: p2 = 0,a21a22a23a24a25a26 ...

3° elemento: p3 = 0,a31a32a33a34a35a36 ...

etc.

continuando poderíamos escrever todo e qualquer número real de ]0, 1[, vale ressaltar que cada a ij

representa um número entre 0 e 9. Tomemos o seguinte número b = 0,b 1b2b3b4b5 ..., onde se akk é

diferente de um número definido p, então b k será igual p, digamos se a kk ≠ 5 então bk = 5; e se a kk

for igual a p, então bk será igual a q, com q diferente de p, exemplo se akk = 5, então b = 7. Note que

b nunca será igual a um dos números da nossa lista pois sempre diferenciar-se de algum deles por
pelo menos um dígito:

b = 0,b1b2b3b4b5 ... b n
... será sempre diferente de p n = 0,an1an2an3an4an5an6 ... ann ..., pois pela

regra para a construção de b temos bn ≠ ann. É claro que b é elemento de ]0, 1[, mas não faz parte da

lista de todos esses elementos, assim não podemos colocar esses elementos em uma lista, pois a
afirmação de que o podemos fazer nos leva a uma contradição.

Antes de continuarmos falemos um pouco sobre o tipo de prova dado anteriormente. Desde
o inicio desse texto que se vem sendo feita demonstrações ditas por absurdo, ou em termos gerais
redução ao absurdo. Eles consistem no seguinte: quando se quer provar que uma afirmação é
verdadeira se usa do seguinte caminho, primeiro se admite que sua negação é verdadeira, se a partir
dessa negação se chega a uma conclusão impossível em termos matemáticos (absurda por assim
dizer), então a negação só pode ser falsa e portanto a afirmação que queria-se provar é verdadeira.
Esse tipo de demonstração é muito utilizado em Teoria dos Conjuntos, e também na matemática
como um todo. Muitos matemáticos são levados não aceitar tais demonstrações por seu caráter não
construtivo, existe inclusive uma escola de filosofia da matemática que defende a ideia da abolição
das provas por redução ao absurdo (os intuicionismo). Caso isso fosse possível uma parte
substancial da matemática seria descartada, pois para muitos teoremas importantes da matemática

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só há prova por redução a absurdo.

Do resultado de Cantor para enumerabilidade de ]0, 1[ , podemos tirar uma conclusão: ℝ


não é enumerável, e portanto tem um cardinal diferente de ℕ ,ℤ e ℚ , como esses conjuntos
são subconjuntos de ℝ somos levados a acreditar que o cardinal de ℝ é maior que o cardinal de
ℕ . Temos assim uma definição bem sútil: o cardinal de um conjunto A é maior que o cardinal
de um conjunto B, quando B é equipotente a uma parte própria de A, mas A não é equipotente a
nenhuma parte própria de B. Não é difícil estender esse resultado e afirmar que o conjunto dos
números complexos também não é enumerável. Note que nada se foi dito sobre a se o cardinal de ]
0, 1[ é igual ao cardinal de R, na verdade já se provou que ]0, 1[ é equipotente a ℝ e portanto
ambos o tem o mesmo cardinal. Uma pergunta feita pelo próprio Cantor acerca do fato de existir um
cardinal maior do que o cardinal de ℕ e menor que o cardinal de ℝ , causou no século passado
uma verdadeira revolução no conhecimento matemático. Cantor tentou provar que tal cardinal não
existia, mas isso estava fora do alcance da matemática da época, e a pergunta ficou em aberto sendo
dada a ela uma resposta assustadora por outro matemático: Kurt Gӧdel, logo adiante falaremos
sobre essa pergunta que ficou conhecida como Hipótese do Contínuo.

Cantor é de fato um matemático de descobertas notáveis citarei brevemente uma delas, a


qual posteriormente analisaremos mais pausadamente. Esse resultado envolvia números irracionais.
O estudante do ensino secundário conhece raros exemplos de números irracionais, π é um exemplo
deles. Intuitivamente somos levados a acreditar que eles são poucos. Para a matemática em muitos
casos a intuição é uma ferramenta bastante útil, pois é a partir dela que se cogita sobre algum
resultado, e se for o caso se prova um teorema. Mas há situações em que a intuição é na verdade
uma vilã nesse processo, para relembrar, a natureza do infinito. O caso dos números irracionais é
um fato onde a intuição não ajuda muito. Sem mais estender-se a verdade é que existem muito mais
números irracionais do que racionais. Mas uma vez os estudos de Cantor assombram nossos
conhecimentos prévios de matemática. Na verdade isso é um resultado trivial acerca da
enumerabilidade de ]0, 1[, sabemos que a resposta é que ]0, 1[ não é enumerável, e ℝ tem
cardinal maior que ℚ . Como ℚ é subconjunto de ℝ , excluídos tais desse conjunto, nos
sobra I, vemos que o fato da não enumerabilidade de ℝ , resulta da existência dos números
irracionais, ou seja I também não é enumerável, tem um cardinal maior que o de ℚ . As linhas
anteriores pecam um pouco, aliás como peca todo o texto em si, em sentido de formalidade, mas a
ideia principal fica um pouco mais clara, creio que isso seja o bastante.

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Falemos de um último resultado (assombroso, para variar) dos trabalhos de Cantor.


Comecemos com uma definição:

definição A Um número complexo é dito algébrico se é raiz de algum polinômio

f(x) = a0xn + a1xn-1 + ... + an-1x + an ,

onde a0 ≠ 0, e todo ai é um número inteiro.

É fato que todo número racional é algébrico, pois a equação ax - b = 0(sendo a e b números
inteiros, com a ≠ 0), sempre admite solução em ℚ . outro fato é que existem números irracionais
que são algébricos, a saber  2 que é raiz do polinômio f(x) = x² - 2. Cantor provou que o conjunto
dos números algébricos é enumerável, mas apesar de conter elementos de ℚ e I, não é ele próprio
igual a ℝ . Assim existem números (obviamente todos irracionais) que não são algébricos. Tais
números são chamados de transcendentes. Note que o resultado da existência de números
transcendentais, é consequência de uma cadeia de descobertas, a começar com a criação da Teoria
dos Conjuntos.

Vejamos a prova da enumerabilidade do conjunto dos números algébricos, antes de falarmos


um pouco de suas consequências:

Tomemos um polinômio na forma dos polinômios da definição A, vamos supor que a 0 seja maior

que 0, considerando a altura do polinômio definida da seguinte forma

h = n + a0 +| a1 | +| a2 | + ... +| an-1 |+| an | .

É óbvio que h é inteiro maior ou igual a 1. Pode-se notar que o número de polinômios de uma
determinada altura é finito, e, portanto cada polinômio de uma dada altura produziria finitos
números algébricos. Dessa forma poderíamos listar os números algébricos segundo uma regra
prática: primeiro todos os que são raízes de polinômios de altura 1, segundo as raízes de
polinômios altura 2, depois de 3, etc., assim riscando da lista alguma repetição temos um conjunto
bem organizado e consequentemente enumerável.

Há matemáticos que não aceitam a demonstração anterior, pois ela segue cadeia de provas indiretas,
e, além disso, não dá nenhuma pista a construção de um número transcendente. Felizmente já se
tem uma demonstração de que um número bem conhecido e que faz parte da matemática é

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transcendente, esse número é π. Existem, números transcendentes, isso é uma realidade matemática,
só nos cabe aceitar. Um pouco mais a frente tocarei novamente no assunto da transcendência de
alguns números.

Correndo o risco de ser mais pedante do que o recomendável eu reafirmo: a Teoria dos
Conjuntos se encontra na base da matemática. Listemos alguns exemplos disso:

1 – uma área bastante proeminente da matemática é Álgebra Linear, com aplicações em muitos
campos da matemática pura, mas com aplicações também em física, economia, informática, etc.; o
crucial é que o objeto central de estudo a da Álgebra Linear são uns conjuntos (isso mesmo:
CONJUNTOS!) especiais chamados Espaços Vetoriais.

2 – Teoria dos Grupos, um campo bem vasto da Álgebra Abstrata, é extremamente útil a física de
partículas, e uma ferramenta indispensável para a matemática como um todo, tem como seus
objetos de estudo os Grupos, que são na verdade Conjuntos.

3 – Espaço é o Conjunto de todos os pontos. E nada mais se diga.

4 – de certa forma a matemática é os estudo dos números e das formas, certo que essa definição de
matemática, peca, pois só engloba nem uma pequena parte do que realmente ela estuda. Na opinião
do escritor, que nos números o objeto central do conhecimento matemático. E que são números,
sabe-se que formam conjuntos, e eles próprios são encarados como conjuntos, etc.

No Princípio eram conjuntos, e Deus disse que seus elementos se relacionem entre si, e deles saia
toda linguagem que será utilizada para a construção da matemática. E da matemática farei eu o
universo.

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Anexo: Séries Trigonométricas


Para se ter uma noção exata do que seja uma série trigonométrica se faz necessário se entender o
que é uma sequência.

1.1 Sequências – Dada uma função f tal que

f : N → R, onde n → an , com an = f(n)

o conjunto { a1, a2, a3, ..., an, ...} é denominado sequência, e tem denotação { a n }. Note que a

sequência não é exatamente uma função, ela precisa para sua definição formal da existência de
uma função f. Dessa forma tendo f definida com domínio nos números naturais (isso implica a
exclusão do zero), e contradomínio no conjunto dos números reais (inclusive zero, apesar do zero
não pertencer ao domínio nada impede que o mesmo não pertença a imagem de f, pode se ter até
uma sequência onde todo an = 0, para qualquer n natural - a saber {0, 0, 0,..., 0, ...}). Ou seja, a n é

real, enquanto que n é natural.

1.2 Convergência e Divergência de Sequências – Dada { an } uma sequência. Quando

diz-se que { an } é convergente ou converge para L, caso contrário diz-se que { a n } é divergente. É

necessário um entendimento sútil de limites para que essa definição fique clara, note que o que se
diz é que mesmo aumentando indefinidamente n, a tal ponto que seja praticamente infinito, f(n)
aproximar-se de um valor bem definido L, então se diz que a sequência é convergente. Se isso não
acontece, ou seja quanto maior é n maior é f(n), então a sequência é dita divergente.

2.1 Séries – Série é uma expressão da forma

sendo { an } uma sequência com Σ an= a1 + a2 + a 3 + ... + an + ...

note que a definição acima envolve a notação somatório Σ (sigma). Quando vemos uma expressão
da forma

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estamos deparados com três informações básicas: a primeira é que Σ indica uma soma de vários
termos; a segunda é que os termos são da forma a i, a terceira se divide em duas partes, i=x indica

que o soma começa quando i=x, portanto a x, e a outra indica que a soma termina em i = n,

portanto em an. Pela definição inicial de série nota-se que se inicia a soma em i = 1, e continua

indefinidamente, o que é mostrado pelo símbolo de infinito.

2.2 Convergência e Divergência de Séries – Dada uma série

denota-se por a sn sua n-ésima soma parcial onde

se a sequência { sn } convergir diz-se que a série

é convergente, caso contrário a série é dita divergente.

2.3 Série Trigonométrica – Uma série trigonométrica é uma série da forma

Onde os coeficientes a1, a2, ..., b 0, b1, b2 , ... são números reais independentes da variável x.

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Bibliografia

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Edgard Blücher, São Paulo, 2009.
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Introdução, GTLA, Departamento de Filosofia, UNICAMP.

Courant, Raul & Robins, Rebert, O que é Matemática?, 3ª Edição, Editora


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Eves, Howard, Introdução à História da matemática, 2ª Edição, Editora


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Ferreira, Fernando, No Paraíso, sem convicção... (uma explicação ao


Programa de Hilbert), Universidade de Lisboa, 1995.

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