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O Espírito-parákletos
no quarto evangelho
Amin A. Rodor, Th.D.
Professor de Teologia Sistemática e diretor do Salt, Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP
R esumo : Este artigo trata do título é aplicado uma vez a Jesus (1Jo 2:1), que
grego parákletos no quarto evangelho, atri- atua como um intercessor/advocatus junto
buído, como é bíblica e historicamente evi- ao Pai, na corte celestial. Em cinco outras
dente, ao Espírito Santo, a terceira pessoa passagens, no quarto evangelho, contudo,
da Trindade. O autor enfatiza que, embora parákletos como um título é aplicado a
o parákletos seja o dom da nova era, Ele alguém que: (a) não é Jesus; (b) não é
possui profundas raízes bíblicas. Atenção primariamente um intercessor; e (c) não
especial é dada ao paralelismo entre Jesus exerce sua função no céu, junto ao Pai. A
e o “outro parákletos”, sugerindo que Este tradição cristã, desde tempos primitivos,1
representa o “retorno” de Jesus para os Seus e com boas razões, identificou o parákletos
discípulos, a fim de permanecer com eles, no Evangelho de João, como sendo o Espí-
conforme havia prometido. O parákletos rito Santo, a terceira pessoa da Trindade.2
é o verdadeiro elo entre a Igreja e Jesus Considerando-se as objeções recentes
desde o Pentecostes até a “consumação do ao ensino bíblico quanto à personalidade
século”. Por meio do parákletos, Jesus é do Espírito Santo e à Trindade,3 o estudo
reinterpretado e feito contemporâneo para deste tema no quarto evangelho é crucial,
as sucessivas gerações de cristãos. levando-se em conta que o Evangelho de
Abstract: This article deals with the João, provavelmente o último livro do
Greek title parákletos in the fourth gos- Novo Testamento a ser escrito, representa
pel, attributed, as biblical and historically o mais alto desenvolvimento teológico
evident, to the Holy Spirit, the third Person das Escrituras,4 e, nas palavras de Vincent
of the Trinity. The author emphasizes that, Taylor, “o clímax e coroa da revelação
even though the parákletos is the gift of bíblica a respeito do Espírito Santo”.5 Não
the new age, He has deep biblical roots. seria difícil, portanto, estabelecer que o
Special attention is given to the parallelism estudo do tema no evangelho joanino é de
between Jesus and the “other parákletos,” fundamental importância para se verificar
suggesting that He represents the “return” como os cristãos, no final do primeiro sé-
of Jesus to His disciples, in order to abide culo, entenderam e consideraram o Espírito
with them, as He had promised. The parák- Santo.
letos is the true link between the Church Como observado por Raymond E.
and Jesus from the Pentecost till “the end of Brown, reconhecida autoridade no quarto
the world.” Through the parákletos Jesus is evangelho, as cinco passagens em que o
reinterpreted and made contemporary to the parákletos é mencionado no evangelho de
successive generations of Christians. João (Jo 14:15-17, 26; 15:26-27; 16: 7-11,
12-14), podem ser organizadas em quatro
Introdução grupos:
A palavra grega parákletos*, na literatu- (1) A vinda do parákletos e Seu rela-
ra bíblica, é exclusiva do Novo Testamento, cionamento com o Pai: O parákletos virá,
e ocorre de forma restrita, apenas nos es- mas apenas quando Jesus partir (Jo 15:26;
critos joaninos. Como um epíteto, o termo 16:7,8, 13). Ele procede do Pai (Jo 15:26).
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disso, ao parákletos são atribuídos prono- base para a tradução de parákletos, fosse
mes pessoais. João torna a personalidade encontrada, provavelmente saberíamos o
do Espírito mais evidente, atribuindo a Ele significado primário do termo. Contudo,
o título masculino parákletos e referindo- até o momento, os mais minuciosos estudos
se ao Espírito-parákletos com pronomes não conseguiram produzir um candidato
pessoais (ékeinos e autós).15 semítico verdadeiramente aceitável.18 De
fato, como Brown observa, “Esta busca
(3) Com relação às funções do parákle-
para um equivalente hebraico pode ser em
tos, fica também evidente que Ele vem para
vão,”19 provavelmente porque tanto no
os discípulos e habita com eles, guiando-os,
hebraico quanto no aramaico, a palavra
ensinando a respeito de Jesus: Devemos
foi transliterada do grego.20 Além disto,
observar, contudo, que João O retrata como
como indicado por Johannes Behn, no seu
o Espírito Santo, como já sugerido, numa
clássico estudo do termo, no Theological
função específica: como a presença pessoal
Dictionary of the New Testament, o uso
de Jesus com os cristãos, durante o período
joanino do termo parákletos não se ajusta
de Sua ausência.
facilmente à história da palavra em fontes
(4) A respeito do relacionamento do seculares.
parákletos com o mundo, é óbvio que Ele
Concluímos, então, que, embora os
é hostil ao mundo, colocando este em jul-
antecedentes históricos, religiosos e lin-
gamento por seu pecado de descrença. O
güísticos do termo parákletos possam ser
mundo não O pode receber, porque não O
considerados importantes para se determi-
vê nem O conhece (Jo 14:17).
nar o seu significado no Novo Testamento,
as decisões quanto a tal significado serão
O parákletos joanino consideravelmente subjetivas e de valor
Do estudo quanto à identidade do limitado, ao mesmo tempo que limitador.
parákletos no quarto evangelho, algumas O significado de parákletos tem sido tra-
questões emergem naturalmente: Se Ele duzido por uma variedade de palavras21
realmente é o Espírito Santo, como mantido tais como “Consolador,” “Advogado,”
pelos cristãos e claramente indicado pelo “Ajudador,” 22 “Espírito de Verdade,”
próprio João: “Mas aquele Consolador, o “Amigo,” etc. No entanto, deve-se observar
Espírito Santo, que o Pai enviará em meu que nenhuma destas traduções consegue
nome”16 (Jo 14:26), por que é este título capturar de forma plena a complexidade
atribuído ao Espírito? Quais aspectos par- das funções atribuídas ao parákletos no
ticulares das funções do Espírito Santo são quarto evangelho.
atribuídas ao parákletos? Além disto, por Se, a palavra parákletos usada por
que o título é encontrado exclusivamente João em seu evangelho não parece ser
no evangelho joanino? Para estas questões uma tradução direta de um título hebraico
cruciais voltaremos nossa atenção, mais específico, nem tem ela sua origem em um
tarde, neste estudo. Nesta seção concentra- título no grego secular, talvez isto sugira
remos a atenção nos aspectos lingüísticos que foi o uso cristão que deu ao termo
do termo. uma conotação exclusiva a ele e, portanto,
O background histórico e o significado o seu significado é melhor decidido pelo
lingüístico do termo parákletos no Evan- contexto do que por deduções léxicas. O
gelho de João têm sido buscados em uma que é, portanto, o parákletos? Gerard Man-
variedade de fontes e alternativas,17 e seria ley Hopkins está provavelmente correto
desnecessário repeti-los aqui. Esforços têm em sua resposta, lembrando que o termo
sido feitos, por exemplo, na tentativa de se é freqüentemente traduzido por Consola-
encontrar um equivalente semítico para o dor, mas o parákletos faz muito mais do
título grego. Tais tentativas parecem en- que consolar. A palavra é grega, não possui
fatizar a convicção de que se uma palavra um equivalente exato em nossa língua. É
hebraica ou aramaica, que tenha servido de esclarecedor ter em mente que Jerônimo,
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Mas esta é uma união dramática desempe- não podem ser desconsiderados em nossa
nhada em um drama de dois níveis, de tal forma discussão, e de fato, respondem à questão
que ela cria uma crise epistemológica. O mundo,
suscitada anteriormente neste artigo, quan-
certamente, vê apenas um nível deste drama.33
to à razão pela qual João atribui o título
parákletos ao Espírito. O primeiro pro-
O mundo, devemos acrescentar, pode
blema tem a ver com a dificuldade criada
“ver” a tradição histórica de Jesus de Naza-
pela iminente morte da última testemunha
ré, uma figura do passado, cuja identidade
ocular, que constituía o último elo visível
pode ser debatida num formato midráshico,
entre a Igreja no final do primeiro século e
sem, contudo, perceber a atuação do Para-
Jesus de Nazaré.36 Como deveria a igreja
cleto, a qual torna Jesus contemporâneo e
reagir em face desta nova situação, quando
presente nos atos e palavras dos discípulos
o último vínculo com Jesus parecia estar
(Jo 14:17).
sendo cortado? Como enfrentar o perigo
Como observado acima, daquilo que dela mesma tornar-se uma instituição
João diz do parákletos em seu evangelho, auto-suficiente, desconectada de Cristo? O
é esta íntima relação entre Ele e Jesus que conceito do Espírito-parákletos responde a
emerge como o aspecto dominante. Não é esta questão. Se as testemunhas oculares,
de surpreender que alguns intérpretes che- como o próprio discípulo amado, haviam
guem a identificar o Espírito-parákletos, dado seu testemunho e guiado a Igreja,
como o “alter ego de Jesus”34 ou “o outro isto não fôra primariamente por causa da
Jesus.”35 Devemos observar, por um lado, conexão direta com Jesus. Uma vez que
que aquilo que o parákletos ensina ou reve- eles próprios não O haviam entendido (Jo
la não constitui algo novo. Ele relembra aos 14:9).
discípulos aquilo que Jesus havia ensinado.
Portanto, o testemunho apostólico não
Ele testemunha em favor de Jesus e O glori-
é válido porque estes apóstolos houvessem
fica, tendo com Jesus a mesma relação que
estado com Jesus, ou mesmo dependido da
Este tivera com o Pai. Assim como Jesus
compreensão que eles haviam tido dEle.
não falou de Si, mas apenas aquilo que o
A validade do testemunho deles depen-
Pai o ensinara (Jo 5:28). Da mesma forma
deu primariamente do parákletos, o qual
que Jesus glorificara o Pai (Jo 12:28, 14:13,
tomou, depois da ressurreição, o lugar de
17:14), o parákletos dá testemunho dEle,
Jesus, para que os discípulos pudessem
e O glorifica. Por outro lado, contudo, o
ser ensinados e relembrados de tudo o
gênio da obra do parákletos, como já su-
que Jesus ensinara. Os apóstolos foram
gerido, é que Ele não meramente repete ou
habilitados a testemunhar e interpretar
reencena Jesus. O parákletos reinterpreta
Jesus, precisamente porque eles haviam
Jesus, torna-O presente e permanentemente
recebido o parákletos. Este permanece
atual na Igreja. Jesus e a glória manifesta
com todos aqueles que amam a Jesus (Jo
em Seu ministério, morte e ressurreição,
14:17), mesmo depois do desaparecimento
não representam um período ideal no pas-
das testemunhas oculares. Assim, a morte
sado, quando o reino de Deus irrompeu
do último apóstolo não quebra a corrente
entre os homens, um período para o qual
entre Cristo e a Igreja, porque o parákletos,
seus discípulos olham com uma aura de
que havia ensinado aos primeiros apósto-
saudosismo. O parákletos não é apenas
los, continua com a Igreja, para guiá-la
um intérprete de Jesus, mas Aquele que O
em toda a verdade, e permanece com as
reatualiza e reinterpreta para cada geração,
contínuas gerações de discípulos. O parák-
tornando-O sempre atual, relevante e con-
letos é o verdadeiro vínculo entre a Igreja
temporâneo, não importando as mudanças
e Jesus Cristo. João enfatiza que a função
e variáveis do contexto.
de ensino do parákletos não envolve nada
Como R. Brown sugere, o quadro novo, como observado acima; entretanto,
joanino do Espírito-parákletos responde isto não significa mera repetição. O papel
a dois problemas importantes na própria do Espírito-parákletos é reinterpretativo,
composição do quarto evangelho, que tornando Jesus contemporâneo para as
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quando tomadas em conjunto, tais passa- uma pessoa. Uma pessoa distinta, mais ex-
gens são também consistentes com outras plicitamente afirmada no evangelho de João
referências ao Espírito nos evangelhos do que em qualquer outro lugar do Novo
sinóticos e livro de Atos. Particularmente Testamento. Uma pessoa distinta do Pai,
Mateus 10:20 (“visto que não sois vós quem pois, como vimos, Ele é enviado pelo Pai
falais, mas o Espírito do vosso Pai é quem (Jo 14:26), e como a lógica básica exige,
fala em vós”), e Marcos 13:11 (“Quando, ninguém envia-se a si mesmo; dado pelo
pois, vos levarem e vos entregarem, não vos Pai (14:16) e procedendo do Pai (Jo 15:26).
preocupeis com o que haveis de dizer, mas Distinto do Filho, pois Ele é enviado “em
o que vos for concedido naquela hora, isso nome do Filho”(Jo 14:26), enviado pelo Fi-
falai; porque não sois vós os que falais, mas lho (Jo 15:26), recebendo o que é do Filho
o Espírito Santo”), identificam a ajuda que (Jo 16:14), e é um “outro parákletos” (Jo
seria dada aos discípulos quando eles teste- 14:16). Não há também qualquer dificulda-
munhassem de Jesus em contexto forense, de real quanto à Sua personalidade. Ele não
e fizerem sua defesa em corte, em termos é meramente um dom impessoal ou poder
idênticos à ação do parákletos descrita no abstrato, um fôlego, nem é Ele uma metá-
quarto evangelho. fora a respeito de Jesus. Ele é uma pessoa
Sobretudo, este artigo, de certa forma, real, tão real quanto o próprio Cristo, cuja
concentrou-se no relacionamento entre presença na vida da Igreja, era e continua
Jesus e o parákletos, pois é precisamente sendo, tão crucial e crítica, a ponto de o
aqui que descobrimos a chave para o caráter próprio Jesus afirmar, com Sua fórmula de
crucial da missão dEle no evangelho joani- introduzir questões solenes: “Mas eu vos
no, respondendo questões cruciais enfren- digo a verdade: convém que Eu vá, porque,
tadas no final do primeiro século, mas com se Eu não for, o Consolador [parákletos]
projeções para toda a era cristã, até o final não virá para vós outros” (Jo 16:7).
dos tempos. Não é, portanto, acidental que O que poderia ser mais importante para
a primeira passagem contendo a promessa os discípulos do que a presença de Cristo
de Jesus quanto ao parákletos (Jo 14:16), com eles? Difícil como isto possa parecer,
seja seguida imediatamente pelo verso no aqui Jesus ensina claramente que a vinda
qual Cristo afirma: “Não vos deixarei ór- do parákletos era mais vantajosa para Seus
fãos, voltarei para vós outros” (v. 17-18). seguidores no período pós-cruz e ressurrei-
Jesus “retorna” para os discípulos por meio ção, do que a presença dEle mesmo. Assim,
do Espírito-parákletos, que é enviado para contrariamente às teorias antitrinitarianas,
permanecer com eles, depois que Jesus antigas e modernas, em relação ao Espírito
parte. Isto constitui a contribuição joanina Santo, não estamos diante de uma questão
quanto ao Espírito Santo: o parákletos superficial, uma luxúria interessante, mas
continua, no período pós-ressurreição, dispensável e de importância secundária,
reatualizando a presença de Jesus com e sujeita às especulações infundadas de
na Igreja, por meio da era cristã, até o fim teologias precárias. A crucial importância
dos tempos. É precisamente a presença do do Espírito Santo para a Igreja pode ser
Espírito-parákletos que impede que a Igreja percebida quando deixamos os evangelhos
se torne órfã, desconectada do seu divino e entramos no livro de Atos, e testemu-
fundador. É precisamente Ele que impede nhamos aí a realização daquilo que Jesus
que os cristãos se tornem poços de água profetizara do parákletos. Aqui entramos
estagnada. num novo mundo e sentimos o sopro de
O que é então o parákletos nas passa- uma brisa nova. Nas palavras de J. Ritchie
gens do quarto evangelho? Ele é o Espírito Smith, “em uma única hora, o Espírito
Santo, investido da função específica de operou nos discípulos a transformação que
continuar a presença de Cristo com os três anos de comunhão com Jesus não tinha
Seus discípulos. Ele não é meramente a efetuado”41. Seria, então, incompreensível
operação do poder divino no homem. Ele é que Jesus tivesse dito: “É para a vossa van-
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tagem que Eu vá...”? Seria incompreensível lógica fraca e razão finita, não dizemos,
por que o Espírito Santo seja vital para a irracionalmente, que cremos em três deu-
Igreja hoje, como foi no passado? Ou, seria ses e um deus, ou, em três pessoas e uma
difícil entender por que Satanás está tão pessoa, mas, logicamente, afirmamos que a
ativo, confundindo cristãos e obscurecendo Bíblia ensina um único verdadeiro Deus em
a compreensão deles sobre a pessoa e obra três Pessoas divinas: Pai, Filho e o Espírito
do Espírito Santo? Santo. Somos exortados a crer no que Deus
Finalmente, os cristãos não crêem na nos revela em Sua Palavra, mesmo que não
Trindade em função de qualquer dogma possamos entender isto plenamente, aqui e
inventado pela tradição ou concílios da agora. Assim, se por um lado não ousamos
Igreja. Da mesma maneira que eles não crer mais do que aquilo que nos foi reve-
descrêem dela porque vozes confusas e lado, por outro lado, não nos atrevemos
mal-informadas surgem com “fogo estra- a aceitar menos do que aquilo que nos é
nho” no altar do Senhor. Além de nossa ensinado nas Escrituras. Nossa consciência
está cativa e sujeita à Palavra.
lina seja obviamente mais abrangente, prevalece a [Edinburgh, 1906], 90). Por outro lado, A.T. Robert-
compreensão de que “João é o Everest do estudo son, indiscutível autoridade no grego do NT, argu-
do Novo Testamento, tanto exegeticamente como menta com base na leitura de alguns manuscritos (por
teologicamente.” W. Boyd Hunt, “John’s Doctrine exemplo, Aleph B Vulg), que tou theou refere-se a
of the Spirit,” Soutthwestern Journal of Theology, Jesus, chamado aqui, como em outras partes do Novo
7/8, 1966, 45. A. M. Hunter defende a mesma idéia Testamento, de “Deus,” que derramou o Seu sangue
ao afirmar que nas mãos de João o evangelho é pelo Seu rebanho (Robertson, Introduction to Textual
reexpresso para satisfazer as necessidades de uma Cristicism of the N. T. A.[Nashville, Broadman Press,
comunidade espiritual mais ampla. “[João] buscou 1930], 189); veja, ainda, Robertson, Word Pictures in
uma [nova] categoria para expressar o significado do the New Testament, Vol. III, The Act of the Apostles
evangelho para todos os homens, judeus e gregos”. (Nashvile: Broadman Press, 1931), 353. Nas páginas
Introducing New Testament Theology (Naperville: 20 e 21 do seu “Eu e o Pai Somos Um”, Nicotra, com
SCM Book Clook, 1957), 150. Veja também C.K. o seu curioso método de perguntas circulares, capaz
Barrett, The Gospel According to St. John (Phi- de “provar” absolutamente qualquer coisa, indaga
ladelphia: The Westminster Press, 1978), 32, 49. quem é o Consolador. Citando então 2 Coríntios
Por outro lado, embora cristologia seja a ênfase 1:3 e 4, onde o apóstolo Paulo fala do “Deus de
primária do quarto evangelho, sua peneumatologia toda consolação, que nos conforta em toda a nossa
é reconhecidamente um dos seus maiores temas e tribulação,” ele conclui que Deus, o Pai é o Conso-
“uma das mais distintivas características do [quarto] lador. O argumento de Nicotra seria cômico, se não
evangelho” (ver Hunter, 25). De fato, o cristinaismo fosse trágico. Para dizer o mínimo, parece que para
“de acordo com João é interpretado em termos do Nicotra a Bíblia foi escrita em português. Embora
Espírito” (Hunt, 46). Paulo afirme que Deus, aparentemente em referência
5
Vincent Taylor, et. al., The Doctrine of the Holy ao Pai, nos consola, ele não está dizendo que o Pai
Spirit (London: The Epworth Press, 1938), 66. seja o parákletos, um título técnico, utilizado apenas
6
Raymond E. Brown, The Gospel According to no quarto evangelho para alguém que não é o Filho
John XIII-XXI (New York: Doubleday & Company, e também não é o Pai (veja acima, p. 53 e 54), e
1979), 1135. é claramente indentificado como sendo o Espírito
7
Na compreensão truncada de Nicotra, o Espíri- Santo (Jo 14:26). Além disto, devemos observar,
to Santo/Paracleto é ora confundido com Deus o Pai, ainda, que a tradução “Consolador” não esgota o rico
ora com Deus o Filho. O que realmente surpreende, significado do parákletos joanino e da complexidade
contudo, é a natureza precária dos argumentos. Ver, de Suas funções (veja abaixo). Finalmente, em Atos
por exemplo, sua interpretação de Atos 20:28 (“Eu e 9:31, é o Espírito Santo quem conforta.
o Pai Somos Um”, p. 19): “Atendei por vós e por todo 8
Como geralmente indicado, allos significa
o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu outro do mesmo tipo. C. K. Barret observa que,
bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual tomada adjetivamente, allov ou parákleton, pode
ele comprou com o seu próprio sangue.” Dando sua ser traduzido: Ele dará: (a) outro Paracleto, ou (b)
interpretação, Nicotra arremata: “No texto acima, outra pessoa para ser um Paracleto (ver Barret, The
Deus, através de Sua Palavra, está afirmando que o Gospel According to St. John, 461)
Espírito Santo comprou a igreja com o seu proprio 9
A palavra traduzida em português por “advo-
sangue. Sabemos que quem comprou a igreja com gado”, é derivada do latim advocatus, considerada
o Seu próprio sangue foi Jesus. Assim, não é difícil um dos equivalentes do termo grego parákletos (veja
perceber que Deus está chamando Jesus de Espírito Johannes Behen, Parakleto, Theologiacal Dictionary
Santo.” Fantástico, não fosse o caráter grosseiro do of the New Testament [Grand Rapids, MI, Eerdmans
argumento. No primeiro nível, o erro da conclusão 1979], 801). O texto de 1 João 2:1, no qual Jesus é
de Nicotra se explica por confusão gramatical, pura apresentado como exercendo um mistério interces-
e simples, ou, pior ainda, por má interpretação básica sor, como advogado, junto ao Pai, no céu, reflete, evi-
de leitura de textos. O pronome pessoal ele (que dentemente, um contexto legal. Para ampla discussão
“comprou com o seu próprio sangue”), não se refere sobre o significado de parákletos em 1 João 2:1, ver
ao Espírito Santo (na primeira parte da frase), mas a I. Howard Marshal, The International Comentary
Deus (aquele a quem pertence a Igreja), na cláusula on the New Testament: The Epistles of John (Grand
imediatamente anterior. Não fosse a apologia que Rapids, MI: Eerdmans), 118. F. F. Bruce observa que
Nicotra faz da ignorância para a leitura da Bíblia em 1 João 2:1, a “advocacia de Jesus é exercida na
(ver “Eu e o Pai Somos Um”, p. 9-13), ele poderia corte celestial.... [em João 14:16-17] está implícito
ter facilmente evitado este absurdo (ver F. F. Bruce que Ele [Jesus] tinha sido o advogado ou o parákletos
The Book of Acts [Grand Rapids, MI: Eerdmans, dos discípulos na Terra. Isto Ele inha sido realmente,
1980], 416, nota 59). Bruce discute o grego deste enquanto estivera com eles: Ele tinha sido o ajudador
texto, concluindo que a melhor leitura seria “por e o defensor deles, Aquele em cuja guia e apoio eles
meio do sangue do Seu próprio [idiou] filho.” Veja poderiam descansar; mas agora Jesus estava para
em suporte, J. H. Moulton, Grammar of NT Greek, I deixá-los. Ele havia estado com eles por um curto
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período de tempo, mas o ‘outro parákletos’... estaria mental, alvo, aspiração, busca” (Willian F. Arndt e
com eles permanentemente e não apenas com eles, F. Wilbur Gingrich, A Greek-English Lexicon of the
mas neles” F. F. Bruce, The Gospel of John (Grand New Testament and Other Early Christian Literatu-
Rapids, MI: Eerdmans, 1983), 302. re [Chicago: The University Press, 1957], 874). E
10
F. F. Bruce. 302. Ellen White, em vários textos, evidentemente, uma mera força não tem um “modo
concorre com esta noção de pensar, disposição mental, alvo,” ou “aspiração.”
11
Uma indicação da unidade de ação entre as No livro de Atos, em inúmeras referências, o Espírito
pessoas da divindade, Pai e Filho, é vista em João Santo é descrito em termos que indicam ser Ele uma
15:26, onde é o próprio Jesus quem envia o parák- pessoa: que fala (1:16, 8:29), proíbe (16:6), pensa
letos. O texto não deve ser visto como contrário (15:28); indica (20:28); envia (13:4); testemunha
a 14:26. Aqueles familiarizados, contudo, com a (5:32); arrebata (8:39); impede (16:7); contra Ele se
teologia medieval se lembrarão como a controvérsia mente (5:3); tenta (5:9); Ele pode ser resistido (7:5).
filioque proveu o ambiente para a divisão entre o A estas citações do livro de Atos podem ser acres-
cristianismo ocidental e oriental, em 1054. centadas incontáveis outras do Novo Testamento em
12
Tertuliano. Against Praxeas xxv, vii-ix, em geral. E, francamente, se a linguagem tem qualquer
Ante-Nicene Fathers, 3:621, 603-604. significado, é impossível compreender como tais
13
Ibid. Aqueles que defendem a insustentável evidências podem ser desconsideradas.
teoria de que Trindade é um dogma de Constantino, 15
Ékeinos em João 14:26, 15:26; 16:8 e 14;
posterior a Nicéia, deveriam melhor se familiarizar autós em 16:7.
com a história do Cristianismo. Referências à Trin- 16
Como indicado pela autoridade de Barret, esta
dade são abundantes em fontes insuspeitas, mais de é a leitura da “maioria dos manuscritos” embora
dois séculos antes do Concílio de Nicéia. Sugerimos alguns manuscritos omitam tó agion (ver Barret,
a leitura de alguns volumes: o reconhecido, J. N. 467).
Kelly, Early Cristian Doctrines (New York: Harper 17
Um exaustivo estudo sobre o termo parákle-
& Row, 1978), e Stanley M. Burgess, The Spirit & tos, do ponto de vista lingüístico e histórico, aparece
the Church: Antiquity (Peabody, Massachusetts: em Gerhard Kittel, ed., Theological Dictionary of
1984); Edmund J. Fortman, The Triune God, A His- the New Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans,
torical Study of the doctrine of the Trinity (Grand 1979), vol. V, 800-814. Ver também, M. Miguéns, El
Rapids: Baker, 1982); e ainda o recente, Roger E. Paráclito (Jerusalém, 1963); Para bibliografia exaus-
Olson e Christopher A. Hall, The Trinity, (Grand tiva no tópico, veja Barret, The Gospel According to
Rapids, MI: Eerdmans, 2002). Estas obras focalizam John, 462. Veja, ainda, sobre a palavra parákletos de
o testemunho do cristianismo primitivo quanto à vários autores, Journal of the theologial Society, new
pessoa e obra do Espírito Santo, a partir do final do series I (1950): 7-15; J. G. Davies, idem, 4 (1953):
primeiro século. 35-38; G. Bornkam, idem, 68-89, 90-103.
14
Como geralmente reconhecido, os três atribu- 18
O. Betz, por exemplo, examina uma série de
tos primários da personalidade são: mente/intelecto, palavras usadas em Qumran para descrever pessoas
emoções e vontade. Mera “força” ou “influência” ou com funções semelhantes àquelas do parákletos no
ruach/pneuma em sentido de fôlego, não possui estes quarto evangelho, sem, contudo, estabelecer que
atributos. Claramente em João, bem como em uma qualquer destas palavras representem um equivalente
outra enorme variedade de textos das Escrituras, o real. Der Paraklet (Leidenm, 1963), 137, citado por
Espírito Santo exibe tais atributos. A “mente” do Es- J. Louis Martyn, History & Theology in the Fourth
pírito Santo, por exemplo, é claramente mencionada Gospel (Nashville: Abingdon, 1979), 144. Para al-
em 1 Cor. 2:10 “...porque o Espírito a todas as coisas guns intérpretes, o termo grego foi transliterado para
perscruta, até mesmo as profundezas de Deus.” A o hebraico e aramaico (Veja Barret, 462)
palavra grega traduzida aqui por “perscruta” significa 19
R. Brown, The Gospel According to John,
“cuidadosa investigação, exame minucioso.” O Es- 1136.
pírito, com Sua mente investiga as coisas de Deus, e 20
Para bibliografia neste ponto veja Barret,
as torna conhecidas por revelação (o mesmo verbo é ibid., 462
usado em João 5:39, “examinai as Escrituras...” como 21
Para C.K. Barret, o significado de parákletos
uma atividade possível apenas a pessoas). Devemos no Evangelho de João é melhor configurado consi-
observar que em Romanos 8:27 direta referência é derando-se o uso de parakalein e outras palavras
feita à mente do Espírito: “E aquele que sonda os cognatas no Novo Testamento (The Gospel of John,
corações sabe qual é a mente do Espírito...” Aqui é 462). Encontramos, assim, uma considerável varie-
Deus o Pai quem perscruta a mente do Espírito. No- dade de significados atribuídos ao parákletos. (1)
vamente o mesmo verbo é utilizado. Como observa o Como forma passiva de parakalein, em seu sentido
altamente respeitado Arndt e Gingrich, em Lexicon of elementar (“chamar para o lado de”), significando
the New Testament, a palavra traduzida por “mente” “alguém que é chamado ao lado para ajudar;” assim,
neste verso significa, “modo de pensar, disposição um advogado, como no famoso texto de Tetuliano,
O Espírito-parákletos no quarto evangelho / 65
responder com a mais absoluta confiança: a passagem o Espírito não tem realidade concreta porque ruach/
é encontrada em cada Manuscrito Grego existente, pneuma no homem significa apenas o seu folêgo/
quer uncial ou cursivo e cada versão existente que vento, Nicotra será forçado a admitir que Deus o
contenha esta porção de Mateus.” (Alfred Plummer, Pai não tem realidade concreta, uma vez que as
Exegetical Commentary on the Gospel According to Escrituras afirmam que “Deus é espírito [pneuma]”
St. Matthew [Grand Rapids, MI: Baker, ed. 1982], (Jo 4:24). O mesmo é verdade em ralação aos anjos
431). Plummer avança para desacreditar toda a teoria claramente identificados como “espíritos [pneumata]
criada em torno da forma como Eusébio de Cesareia ministradores” (Hb 1:14). O que dizer dos espíritos
utilizou o famoso texto de Mateus (ibid., 432). [pveumatwv] malignos/imundos, na enorme quan-
27
Ver 1 Coríntios 12:4-6 (“O Espirito é o mes- tidade de textos bíblicos? (ex.: 1Sm 16:14-15; 1Rs
mo... O Senhor é o mesmo... Deus é o mesmo;” Estas 22:23; Mt 10:1; Mc 1:23-27; 5:2-20; Lc 7:21, etc.).
são reproduções fiéis do grego. Como em Mateus há Ou será que eles também não têm realidade concreta,
um paralelismo triúno de três substantivos, tal parale- porque são descritos como ruach e pneuma? Nicotra e
lismo seria destruído e perderia o seu sentido, se dois seus seguidores deveriam considerar que as palavras,
dos nomes são pessoas e o outro, um mero fôlego/ em qualquer língua, particularmente no hebraico e no
força/influência. Em 2 Coríntios 13:13 encontramos grego, podem ter significados diferentes, dependendo
o que tem sido chamado de bênção trinitariana: a do seu contexto. A estatística torna evidente que a pa-
imerecida graça do Senhor Jesus, e o amor de Deus lavra “espírito” (ruach) aparece 389 vezes no Antigo
e a comunhão do Espírito Santo. Como em Mateus Testamento. Em 113 destes casos, o termo significa
e 1 Coríntios, mencionados acima, o artigo está vento, 136 vezes ele designa o Espírito de Deus, e
presente antes de cada nome. Paulo tem em vista três em 116 casos ele significa o espírito/fôlego do ho-
entidades distintas. Além disto, cada artigo está na mem; 10 vezes ruach se refere a animais, 3 vezes a
forma genitiva singular – tou, embora o substantivo ídolos (Ver Herman Brandt, O Espírito Santo [São
“espírito” seja neutro (masculino e neutro são idên- Leopoldo, RS: Sinodal, 1985], 124). Esta diversidade
ticos, no genitivo singular). Veja Robert H. Coutess, de usos, sugere, de início, cautela na interpretação de
72-73. O mesmo modelo trinitariano encontramos na “ruach”; do contrário, o termo pode ser reduzido a
introdução da carta aos Efésios (Ef 1:3, 5, 13). Para uma mera dimensão antropológica, obscurecendo o
uma introdução à Trindade em Paulo, veja Edmund fato de que, por sua natureza complexa, ruach deve
J. Fortman, The Triune God, 16 em diante; ver, ainda, ser visto, como indicado por H.W. Wolff, como uma
Alasdair I. C. Heron, The Holy Spirit, (Philadxelphia: “noção teo-antropológica” (H.W. Wolff, Antropolo-
The Westminstr Press, 1983), 44-ss. gia do Antigo Testamento [São Paulo, SP: Loyola,
28
Os primeiros discípulos eram tanto arautos das 1975], 52). Para uma significativa discussão sobre
boas novas como testemunhas delas, e isto não por a variedade de significados das palavras ruach e
iniciativa própria. Mas testemuhas sob a direção da pneuma, veja Alasdair I. C. Heron, The Holy Spirit,
Testemunha Divina, o Espírito Santo. Comunicado (Philadelphia: The Westminster Press, 1983), 3-38.
por Deus a todos os que obedecem o evangelho. 31
Embora Jesus tenha se tornado um parákletos
“Nestas palavras temos a marca da consciência no céu, indo para o Pai, depois da Sua ascensão,
apostólica de serem possuídos e habitados pelo como indicado em 1 João 2:1, as funções do Espírito-
Espírito, de tal forma que eles foram o Seu órgão parákletos são paralelas em cada detalhe em relação
de expressão,” afirma F. F. Bruce, The Book of Acts, ao ministério terreno dEle [Jesus]. Este segundo
32. Bruce, então, faz neste contexto, a conexão com paracleto faz precisamente o que Jesus fez (ensi-
João 15:26 e 27: “Quando, porém, vier o Paracleto, nando, testemunhando contra o mundo, guiando, e
que eu vos enviarei da parte do Pai, O Espírito da ajudando os discípulos). A conclusão de que Jesus
verdade que dele procede, esse dará testemunho de foi o “primeiro Paracleto” em seu ministério terreno
mim, e vós também testemunhareis, porque estais parece inevitável.
comigo desde o princípio.” 32
Brown, 128.
29
R Brown, 1.140. 33
Martyn, History & Theology in the Fourth
30
Nicotra tenta justificar seu antitrinitarianismo Gospel, 150.
afirmando que o Espírito (ruach/pneuma), é apenas o 34
Ver F. F. Bruce, The Gospel of John, 302.
fôlego de Deus, como no caso do homem e, portanto, 35
Ver Herschel H. Hobbs, “Word Studies in the
impessoal (ver “Eu e o Pai Somos Um”). Além do Gospel of John”, em Soutwestern Journal of Theo-
caráter precário deste tipo de teologia, que busca logy, 37 (1985), 78.
explicar Deus a partir do homem, revertendo ao ab- 36
Alguns eruditos bíblicos mantêm que um dos
surdo de tentar “criar Deus à imagem e semelhança propósitos do quarto evangelho foi demonstrar a
do homem”, (como no famoso dito de L. Feuerbach, verdadeira conexão entre a vida da Igreja no final do
“O homem criou Deus segundo a sua imagem”, ainda primeiro século com o já distante Cristo. Eles consi-
hoje muito estimado pela propaganda ateísta), tal deram o evangelho como uma tentativa de neutralizar
teologia não passa num teste simples de lógica. Se o perigo de a igreja tornar-se, em si mesma, um tipo
O Espírito-parákletos no quarto evangelho / 67
de salvador, suficiente em si própria. Assim, o quarto Em outras palavras o parákletos não foi privilégio
evangelho busca enfatizar a necessidade de fé em apenas dos doze ou da igreja apostólica. Aqueles são
Jesus, e demonstrar através de atos simbólicos, que apenas modelos, tipos, daquilo que cada discípulo de
a Igreja está diretamente relacionada com o Senhor. Cristo, através da era cristã, deve ser. O parákletos
Daí, concluímos, a ênfase no parákletos, como o não é, ainda, privilégio exclusivo de qualquer grupo
verdadeiro vínculo entre a vida da Igreja e Jesus. dentro da Igreja. Em 1 João 2:20, 27, o apóstolo
37
O ato do parákletos de “relembrar” (upo- amplia a função de ensino do Espírito Santo: “E vós
mimvnskeiv), aos discípulos, participa no caráter possuís unção que vem do Santo e todos tendes co-
da avamvnsis bíblica, isto é, a reinterpretação de nhecimento... a unção que dEle recebestes permanece
maneira viva. O próprio Evangelho de João pode em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos
ser considerado um perfeito exemplo de como ensine, mas com a sua unção vos ensina a respeito
Ele exerceu Seu ministério de guiar os homens de todas as coisas...”
na verdade das palavras e atos de Jesus. O quarto 38
O elemento de ligação entre João 21:18-23 e os
evangelho representa a melhor demonstração da propósitos da composição do quarto evangelho foi
ação do parákletos, uma vez que aí, João é guiado a trazido à minha atenção por Wilson Paroschi.
reintepretar os desdobramentos e profundas impli- 39
Brown, 1.131.
cações das palavras e atos de Jesus, em um período 40
White, 20 Marnuscript Release, 324.
já consideravelmente distante do ministério histórico 41
J.Ritchie Smith, The Holy Spirit in the Gospels
de Jesus. Desta forma, o evangelho joanino é o me- (New York: The Macmillan Company, 1926), 298.
lhor exemplo, ou mesmo o exemplo ideal, do papel Smith foi um professor em Princeton, particularmen-
do parákletos. Ao mesmo tempo, devemos ter em te interessado na teologia joanina. Seu livro pode
mente que a obra do parákletos não está confinada parecer antigo, mas sua compreensão é equilibrada
ou restrita ao testemunho do discípulo amado, ou a e judiciosa.
qualquer outra das testemunhas primitivas de Cristo.