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ROMANOS

Original em inglês:

ROMANS -

The Epistle of Paul the Apostle to the Romans

Commentary by David Brown

Tradução: Carlos Biagini

Introdução

Romanos 1 Romanos 5 Romanos 9 Romanos 13

Romanos 2 Romanos 6 Romanos 10 Romanos 14

Romanos 3 Romanos 7 Romanos 11 Romanos 15

Romanos 4 Romanos 8 Romanos 12 Romanos 16


Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 2
INTRODUÇÃO

A autenticidade da Epístola aos Romanos nunca foi posta em


dúvida. Tem o testemunho não interrompido de toda a antiguidade, até
Clemente, um dos colaboradores do apóstolo "cujos nomes estão no livro
da vida" (Fp_4:3), o qual a citação em sua indubitável Epístola aos
Coríntios, escrita para os fins do primeiro século. As pesquisas mais
esquadrinhadoras da crítica moderna a deixaram intacta.

Quando e onde foi redigida a Epístola temos os meios de


determinar com grande precisão, da própria Epístola ao ser cotejada com
os Atos dos Apóstolos. Até a data de sua redação o Apóstolo nunca tinha
estado em Roma (Rm_1:11, 13, 15). Ele estava então em vésperas de sua
visita a Jerusalém, aonde levaria subsídios aos cristãos pobres, da parte
das igrejas da Macedônia e Acaia, depois do que pensava fazer uma
visita a Roma de passagem para a Espanha (Rm_15:23-28). Bem, este
socorro sabemos que o levou consigo desde Corinto, no fim de sua
terceira visita a tal cidade, que tinha durado três meses (At_20:2-3;
At_24:17). Nesta ocasião o acompanhavam desde Corinto certas
pessoas, cujos nomes nos deu o historiador dos Atos (At_20:4), e quatro
destes estão mencionados em nossa Epístola como acompanhantes do
apóstolo quando a escreveu: Timóteo, Sosípatro, Gaio e Erasto
(Rm_16:21, 23). Destes quatro, o terceiro, Gaio, era habitante de Corinto
(1Co_1:14), e o quarto, Erasto, era "tesoureiro da cidade" (Rm_16:23), o
que dificilmente se pode ter por outra que Corinto. Finalmente, Febe,
quem aparentemente foi a portadora desta Epístola, era diaconisa da
igreja de Cencréia, o porto oriental de Corinto (Rm_16:1). Juntando
estes dados, é impossível resistir ao convencimento, em que concordam
todos os críticos, de que Corinto era o lugar de onde foi escrita a
Epístola, e de que foi despachada pelo fim da visita acima mencionada,
provavelmente a princípios da primavera do ano 58.
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O Fundador desta célebre igreja é desconhecido. O fato de dever
sua origem ao apóstolo Pedro, e que ele fosse o seu primeiro bispo,
embora o pretenda uma antiga tradição e o ensina a igreja de Roma como
um fato indubitável, está refutado pela mais clara evidência e é ideia
abandonada também por romanistas sinceros. Em tal hipótese, como
temos que explicar que tão importante circunstância sendo passado
silêncio pelo historiador dos Atos, não só na narração dos trabalhos de
Pedro, mas também na da chegada de Paulo à Metrópole, e na da
deputação de "irmãos" romanos que foram até a Praça de Ápio e As Três
Vendas ao encontro dele, e na de seus dois anos de trabalhos em Roma?
(At_28:15, 30) E como, consequentemente com seu princípio declarado
de não edificar sobre fundamento alheio (Rm_15:20), ele podia
expressar seu ardente desejo de ir até eles, para ter algum fruto entre eles
também, assim como entre outros gentios (Rm_1:13), se o tempo todo
sabia que eles tinham por pai espiritual o apóstolo da circuncisão? E
como, naquele suposto, é que não há saudações para Pedro entre as
muitas que há nesta Epístola? Ou se se pode pensar que se sabia que
Pedro estava em outra parte naquele tempo, como é que em todas as
epístolas que nosso apóstolo escreveu depois de Roma não aparece nem
uma só alusão a tal origem da Igreja Romana? As mesmas considerações
pareceriam provar que esta igreja não devia sua origem a nenhum
obreiro cristão proeminente; e isto nos traz para a muito debatida
questão:

Para que classe de cristãos foi destinada principalmente: judeus ou


gentios? Que residia em Roma a esta estação grande número de judeus e
de prosélitos judeus, é bem sabido por todos os conhecedores dos
escritores clássicos e judeus daquele tempo e de períodos subsequentes
imediatos; e que os que deles estiveram em Jerusalém no dia do
Pentecostes (At_2:10), e provavelmente formaram parte dos três mil
naquele dia convertidos, levariam consigo em sua volta à Roma as boas
novas, não pode haver dúvida. Nem faltam indicações de que alguns dos
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incluídos nas saudações desta Epístola já eram cristãos de longa atuação,
embora não fossem dos primeiros convertidos à fé cristã. Ainda outros
que haviam conhecido o apóstolo em outra parte e que, se não lhe
deviam seu primeiro conhecimento de Cristo, provavelmente tinham sido
objeto de suas ministrações, parecem ter-se encarregado do dever de
alentar e consolidar a obra do Senhor na capital. Assim que não é
improvável que até a data da chegada do apóstolo a comunidade cristã de
Roma dependesse de agentes subordinados para o aumento de seus
membros, ajudada pelas visitas ocasionais de pregadores determinados
das províncias; e talvez se pode conjeturar, pelas saudações do último
capítulo, que até naquele tempo estava a igreja numa condição menos
organizada, mas não numa condição menos florescente que algumas das
demais igrejas às quais o apóstolo já tinha dirigido suas epístolas. É
verdade que o apóstolo lhes escreve expressamente como a igreja
gentílica (Rm_1:13, Rm_1:15; Rm_15:15-16); e embora esteja claro que
havia cristãos judeus entre eles, e todo o argumento pressupõe um íntimo
conhecimento da parte dos leitores dos princípios destacados do Antigo
Testamento, isto facilmente se explicará supondo que a maior parte
deles, antes de conhecer o Senhor, tinham sido gentios prosélitos da fé
judaica e tinham entrado em círculo da igreja cristã pela porta da antiga
dispensação.

Resta somente falar brevemente do Plano e do Caráter desta


epístola. De todas as Epístolas que, sem dúvida alguma, foram escritas
por nosso apóstolo, esta é a mais completa, e ao mesmo tempo a mais
brilhante. Tem tanto em comum com um tratado teológico, como possui
o calor e a familiaridade de uma verdadeira carta. Com relação aos
cabeçalhos que pusemos às seções sucessivas, para exibir melhor o
progresso do argumento e a inter-relação de seus vários pontos, aqui
somente notamos que seu primeiro grande tema é o que se pode
denominar a relação legal do homem para com Deus, como violador de
Sua santa lei, ela esteja meramente escrita no coração, como no caso do
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pagão, ou seja conhecida além disso, como no caso do Povo Escolhido,
pela revelação externa; logo trata da relação legal como completamente
revogada por meio de uma conexão de fé no Senhor Jesus Cristo; e seu
terceiro e último tema grande é a nova vida, que acompanha esta
mudança de relações que envolve ao mesmo tempo uma bem-
aventurança e uma consagração a Deus que, rudimentarmente completas
já, se abrirão no mundo futuro para desfrutar de uma comunhão imediata
e imarcescível com Deus. A influência destas maravilhosas verdades na
condição e no destino do Povo Escolhido, ponto que trata o apóstolo a
seguir, embora não pareça a aplicação prática delas a seus parentes
segundo a carne, é em certos respeitos a parte mais profunda e mais
difícil de toda a Epístola, a qual nos leva diretamente às eternas fontes da
Graça para o culpado, no soberano amor e inescrutáveis propósitos de
Deus; depois do qual, contudo, retorna-se à plataforma histórica da igreja
visível, na chamada dos gentios, a preservação do fiel remanescente
israelita no meio da incredulidade geral e a queda das nações, e o
restabelecimento final de Israel para constituir, junto com os gentios no
último dia, uma igreja universal de Deus sobre a terra. O resto da
Epístola dedica-se a vários temas práticos, concluindo com saudações e
expressões sugestivas de um bom coração.
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Romanos 1

Vv. 1-17. Introdução.


1. Paulo — (Veja-se nota, At_13:9.)
servo de Jesus Cristo — A palavra aqui traduzida “servo” significa
“escravo”, alguém que está sujeito à vontade de outro e completamente à
disposição do mesmo. Neste sentido aplica-se aos discípulos de Cristo
em geral (1Co_7:21-23), assim como no Antigo Testamento aplica-se a
todo o povo de Deus (Is_66:14). Mas além disto, como os profetas e os
reis de Israel eram oficialmente “os servos do Senhor” (Js_1:1; Salmo
18, título), os apóstolos se chamavam a si mesmos, neste sentido oficial,
“os servos de Cristo” (como aqui, e em Fp_1:1; Tg_1:1; 2Pe_1:1;
Jd_1:1), para expressar uma absoluta sujeição e consagração ao Senhor
Jesus as quais nunca teriam mostrado a criatura alguma. (Veja-se Nota,
v. 7, Jo_5:22-23).
chamado para ser apóstolo — quando primeiro “viu o Senhor”; a
condição indispensável para o apostolado. Vejam-se notas, At_9:5;
At_22:14; 1Co_9:1.
separado para — a pregação de
o evangelho — nem tão tarde como quando “disse o Espírito Santo:
Apartai-me a Barnabé e a Saulo” (At_13:2), nem tão cedo como quando
“desde o ventre de minha mãe me separou” (Gl_1:15). Foi chamado no
mesmo momento à fé e ao apostolado de Cristo (At_26:16-18).
de Deus — Quer dizer, o evangelho do qual Deus é o glorioso
Autor. Assim Rm_15:16; 1Ts_2:2, 1Ts_2:8-9; 1Pe_4:17.
2. o qual foi por Deus, outrora, prometido … nas Sagradas
Escrituras — Embora a igreja romana fosse gentílica de nacionalidade
(veja-se nota, v. 13), entretanto, consistia principalmente em prosélitos
da fé judaica (veja-se Introdução). Aqui lhes lembra que ao abraçar a
Cristo, não tinham arrojado de si a Moisés e aos profetas, mas sim que se
tinham entregue mais completamente a eles (At_13:32-33).
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3-4. com respeito a seu Filho … Jesus Cristo, nosso Senhor — a
grande carrega de este “Evangelho de Deus.”
veio da descendência de Davi — como “de conformidade com as
Sagradas Escrituras” foi mister que fosse. (Veja-se nota, Mt_1:1.)
segundo a carne — Quer dizer em sua natureza humana (comp.
Rm_9:5, e Jo_1:14, ficando entendido, por certo, que tinha outra
natureza, da que o apóstolo em seguida fala.
4. declarado (RC, AV) — lit., “assinalado,” “definido,”
“determinado,” isto é, “demonstrado” ou “provado.”
Filho de Deus — Note-se quão estudiosamente a linguagem muda
aqui. “Foi feito (diz o apóstolo) da semente de Davi, segundo a carne;”
mas não foi feito, mas sim somente “declarado (ou comprovado) ser
Filho de Deus.” Como vemos em Jo_1:1, Jo_1:14 - “No princípio era o
Verbo … e o Verbo se fez carne;” e em Is_9:6 - Um menino nos nasceu,
um filho se nos deu.” Assim que a filiação de Cristo com relação a Deus
não é no sentido correto uma relação que se originou ao nascer Cristo,
como alguns, que em outros respeitos são ortodoxos, concebem-na. Por
seu nascimento na carne, aquela filiação que era essencial e incriada,
meramente floresceu em manifestação evidente. (Vejam-se notas,
Lc_1:35; At_13:32-33.)
com poder — Esta frase pode ser que vá unida à anterior,”
“declarado,” sendo o sentido: “declarado poderosamente” [Lutero, Beza,
Bengel, Fritzsche, Alford, etc.]; ou (como cremos mais corretamente)
unida a “Filho de Deus,” e então o sentido é: “Foi declarado Filho de
Deus em possessão daquele poder que Lhe pertencia como o unigênito
do Pai, já não embelezado como nos dias de Sua carne, mas sim
manifestando gloriosamente seu poder em Sua ressurreição dentre os
mortos, a qual dali em diante se manifestaria em nossa própria natureza.”
[A Vulgata, Calvino, Hodge, Philippi, Mehring, etc.]
segundo o espírito de santidade — Se “segundo a carne” significa
aqui “em sua natureza humana,” esta expressão não comum deve
significar “em sua outra natureza,” a que já vimos que é a de Filho de
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Deus:” uma natureza eterna, incriada. Aqui esta natureza é denominada o
“espírito,” como uma natureza impalpável e imaterial (Jo_4:24), e
chama-se também “o espírito de santidade,” provavelmente em contraste
absoluto com aquela “semelhança da carne de pecado” que Ele assumiu.
Querer-se-á perguntar-se por que, se este é o sentido, não está expresso
em forma mais simples. Mas se o apóstolo houvesse dito: “Foi declarado
ser Filho de Deus segundo o Espírito Santo,” o leitor teria pensado que
ele queria dizer a terceira Pessoa da Trindade. E parece que a fim de
evitar precisamente esta compreensão errônea, usou a expressão rara de
“espírito de santidade.”
5. por intermédio de quem — como meio ordenado.
viemos a receber graça — toda a “graça que traz salvação”.
e apostolado — Para a propagação de tal graça, e para a
constituição, de quantos a recebessem, em igrejas de discipulado visível.
(Preferimos distinguir entre as duas coisas, e não tê-las, como alguns
bons intérpretes, por uma só expressão: “a graça do apostolado.”)
para a obediência por fé — Quer dizer, para que os homens se
submetam à crença da mensagem salvadora de Deus, o que é o mais
perfeito tipo de obediência.
por amor do seu nome — melhor, “por seu nome:” para que Ele
seja glorificado.
6. e cujo número sois também vós — Isto é, junto com outros;
porque o apóstolo não atribui nada especial à igreja de Roma (veja-se
1Co_14:36). [Bengel.]
chamados — (veja-se nota, Rm_8:30.)
de Jesus Cristo — Quer dizer, chamados “por ele” (Jo_5:25), ou os
chamados “pertencentes a ele:” “os chamados de Cristo.” Talvez este
último sentido é o melhor apoiado, mas quase não se sabe qual preferir.
7. amados de Deus — (Veja-se Dt_33:12; Cl_3:12.)
graça — (veja-se Nota, Jo_1:14.)
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e paz — A paz que Cristo fez pelo sangue de sua cruz (Cl_1:20), e
que reflete no seio do crente “a paz de Deus, que sobrepuja todo
entendimento” (Fp_4:7).
de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo — “Nada fala mais
decisivamente a favor da divindade de Cristo que esta justaposição de
Cristo com o eterno Deus, que se encontra em toda a linguagem da
Escritura, assim como a derivação de influências puramente divinas da
parte dEle. Não se pode colocar o nome de nenhum homem ao lado do
Todo-poderoso. Unicamente Ele, no qual o Verbo do Pai, quem é o
mesmo Deus, foi feito carne, pode ser nomeado ao lado dEle; pois se
ordena aos homens que O honrem a Ele, assim como honram ao Pai
(Jo_5:23). [Olshausen.]
8. em todo o mundo, é proclamada a vossa fé — Isto era bem
possível por meio das frequentes visitas feitas à capital desde todas as
províncias; e o apóstolo, conhecedor da influência que estes exerceriam
em outros, assim como a bem-aventurança que eles mesmos possuíam,
dá graças por semelhante fé “a seu Deus por Jesus Cristo,” a Fonte,
segundo sua teologia da fé, de toda graça nos homens.
9-10. Deus, a quem sirvo ... é minha testemunha — em
ministração religiosa.
em meu espírito — no mais íntimo de minha alma.
no evangelho de seu Filho — ao que estavam consagradas toda a
vida e atividade religiosas de Paulo].
de como incessantemente faço menção de vós em todas as
minhas orações — O mesmo pelos efésios (Ef_1:15-16), e pelos
Filipenses (Fp_1:3-4); e pelos Colossenses (Cl_1:3-4); e pelos
Tessalonicenses (1Ts_1:2-3). Que amor mais universal, que
espiritualidade mais compreensiva, que devoção mais apaixonada à
glória de Cristo entre os homens!
10. suplicando que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me
ofereça boa ocasião de visitar-vos — Paulo tinha desejado desde muito
tempo visitar a capital, mas se tinha encontrado com um número de
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impedimentos providenciais (v. 13; Rm_15:22; e veja-se nota At_19:21;
At_23:11; At_28:15); de modo que quase um quarto de século passou,
depois de sua conversão, antes que se realizasse seu desejo, e isso
somente como “preso de Jesus Cristo.” Sabendo porque todo o seu
futuro estava nas mãos de Deus, continua orando sempre para que sejam
tirados os obstáculos que impediam uma feliz e próspera reunião.
11, 12. Porque muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco
algum dom espiritual — Não algum dom sobrenatural, como o
comprova a frase que segue (veja-se nota, 1Co_1:7).
12. para que, em vossa companhia, reciprocamente nos
confortemos por intermédio da fé mútua, vossa e minha — Não
desejando “senhorear-se da fé deles,” mas antes ser “ajudante da alegria
deles,” o apóstolo corrige suas expressões anteriores: meu desejo é de
vos instruir e vos fazer bem; isto é, que nos instruamos e nos façamos
bem mutuamente; pois, ao dar, eu também receberei [Jowett]. “Nem é
insincero ao falar assim, porque não há ninguém na igreja de Cristo tão
pobre que não nos possa repartir algo de valor; é só nossa malignidade e
nosso orgulho o que nos impede de tirar algum fruto de qualquer fonte.”
[Calvino]. Quão “marcadamente diferente é o estilo apostólico do estilo
da corte da Roma Papal”! [Bengel.]
13. muitas vezes, me propus ir ter convosco (no que tenho sido,
até agora, impedido) — Principalmente por seu desejo de ir primeiro
aos lugares onde Cristo era desconhecido (Rm_15:20-24).
para conseguir igualmente entre vós algum fruto — de meu
ministério.
como também entre os outros gentios — A origem gentílica da
igreja Romana está aqui asseverado tão explicitamente, que os que
concluem, meramente pelo tom judaico do argumento, que nela
preponderava o elemento israelita, fazem-no em oposição ao próprio
apóstolo. (Mas veja-se a Introdução a esta Epístola.)
14. a gregos — os instruídos.
como a bárbaros — os iletrados.
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15. por isso, quanto está em mim, estou pronto a anunciar o
evangelho também a vós outros, em Roma — Sente-se sob a
obrigação iniludível de levar o evangelho a todas as classes da
humanidade, adaptado como era a todos e ordenado para todos
(1Co_9:16).
16. Pois não me envergonho do evangelho — Esta linguagem
indica que era mister ter bastante coragem para levar a Roma, “a Senhora
do mundo”, o que era “aos judeus um tropeço e aos gregos insensatez.”
Mas sua glória inerente por ser a mensagem vivificadora de Deus para o
mundo moribundo, tanto lhe enchia a alma que, como seu bendito
Mestre, ele também “menosprezou a vergonha.”
porque é poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê
— Neste versículo e no seguinte o apóstolo anuncia o grande tema do
argumento que segue: A SALVAÇÃO, a imprescindível necessidade da
perdida humanidade revelada na mensagem evangélica; mensagem que é
reconhecida e honrada de tal maneira por Deus que leva em si, ao ser
proclamada, o mesmo poder de Deus para salvar a toda alma que a
recebe, tanto grego como bárbaro, tanto sábio como ignorante.
17. Porque nele (RC) — o evangelho.
a justiça de Deus se revela — Quer dizer (como o demonstra todo
o argumento da epístola), a justiça justificadora de Deus.
de fé em fé — uma frase difícil. A maioria dos intérpretes
(julgando do sentido de outras frases similares que se acham em outras
partes) entendem-na como “de um grau de fé a outro.” Mas isto concorda
mal com o desígnio do apóstolo, que nada tem a ver com graus
progressivos da fé, mas sim somente com a própria fé como a maneira
ordenada para receber a “justiça” que é de Deus. Portanto, preferimos
entendê-la assim: “A justiça de Deus é revelada, na mensagem
evangélica de (ou por) fé, a (ou para) fé,” isto é, “a fim de que seja pela
fé recebida,” [Assim creem substancialmente, Melville, Meyer, Stuart,
Bloomfield, etc.]
como está escrito — (Hc_2:4).
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O justo viverá por fé — Esta máxima do Antigo Testamento se
cita três vezes no Novo Testamento: aqui, em Gl_3:11 e em Hb_10:38, o
que demonstra que o caminho evangélico de “vida pela fé,” longe de
anular o método antigo só era uma continuação do mesmo.
Quanto aos versículos anteriores, note-se:
(1) Que maneira de pessoas devem ser os ministros de Cristo,
segundo a norma aqui estabelecida: absolutamente sujeitos e
oficialmente dedicados ao Senhor Jesus; separados para o evangelho de
Deus que contempla a subjugação de todas as nações à fé de Cristo:
devedores a todas as classes, aos eruditos e aos rudes, para levar o
evangelho deste modo a todos, fazendo desaparecer toda vergonha na
presença daqueles, assim como todo orgulho diante destes, pela glória
que eles sentem em sua mensagem; suspirando por todas as igrejas fiéis,
sem assenhorear-se delas, mas sim alegrando-se da prosperidade delas, e
achando refrigério e fortaleza na comunhão com elas!
(2) Os rasgos peculiares do evangelho aqui destacados deveriam ser
estudados fielmente por todos os que o pregam, e deveriam guiar os
pontos de vista e o discernimento de todos os que têm o privilégio de
escutá-lo regularmente; assim entenderão que “o Evangelho de Deus” é
uma mensagem do céu, mas não absolutamente novo, antes pelo
contrário, só o cumprimento da promessa do Antigo Testamento; que
não só é Cristo o grande tema dele, mas também o é na mesma natureza
de Deus como Filho Seu próprio, e na natureza dos homens como
participante deles: o Filho de Deus que agora ressuscitou com poder e foi
investido da autoridade para dispensar toda graça aos homens e todos os
dons para o estabelecimento e a edificação da igreja: Cristo a justiça
provida por Deus para a justificação de todos os que creem em Seu
nome; e que neste glorioso evangelho, quando se prega como tal, reside
o mesmo poder de Deus para salvar ao judeu assim como ao gentio que o
aceitar.
(3) Que, enquanto que Cristo deve ser considerado como o conduto
ordenado de toda graça de Deus aos homens (v. 8), ninguém se imagine
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que a própria divindade dEle seja em nenhum respeito comprometida por
este acerto, visto que está Ele expressamente associado com “Deus o
Pai,” na oração (v. 7) porque a “graça e paz” (inclusive todas as bênçãos
espirituais) repousem sobre esta igreja de Roma.
(4) Enquanto que esta epístola ensina, de conformidade com o
ensino de nosso próprio Senhor, que toda a salvação depende da fé, isto é
só uma verdade pela metade, e sem dúvida dará alento à
autojustificação, se se desassociar com outro rasgo da mesma verdade
aqui explicitamente ensinado, ou seja, que esta fé é o próprio dom de
Deus, pelo qual conforme, no caso dos crentes romanos, ele “dá graças a
seu Deus por Jesus Cristo” (v. 8).
(5) A comunhão cristã, assim como toda comunhão verdadeira, é
um benefício mútuo, e como não é possível que nem os mais eminentes
santos e servos do Senhor repartam refrigério ou proveito algum ao mais
indigno de seus irmãos sem experimentar uma rica recompensa dentro
deles mesmos, assim exatamente em proporção à sua humildade e seu
amor sentirão eles sua necessidade da comunhão cristã e se alegrarão
nela.

Vv. 18-32. Esta ira de Deus, revelada contra toda iniquidade,


abate-se sobre tudo o mundo pagão.
Porque esta graça provida divinamente faz falta a todos os homens.
18. A ira de Deus — Seu santo desagrado e Sua justa vingança
contra o pecado.
se revela do céu — “estão revelados” na consciência dos homens, e
testemunhados por inumeráveis evidências externas de um governo
moral.
contra toda impiedade — Quer dizer contra toda sua
irreligiosidade, que significa o viver sem estar conscientes da existência
de Deus, e sem ter os devidos sentimentos para com Ele.
e injustiça dos homens (RC) — todas seus separações da retidão
moral no coração, na fala e na conduta. (Assim devem ser distinguidos
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 14
estes termos quando se usam juntos, embora, estando sozinhos, qualquer
deles pode incluir o outro.)
que detêm a verdade pela injustiça — O apóstolo, embora tenha
começado este versículo com o propósito de incluir a todos os homens
em geral, limita-se na última parte do mesmo a uma só das duas grandes
divisões da humanidade, a quem queria aplicá-la, entrando assim
brandamente ao seu argumento. Mas antes de enumerar as iniquidades
deles, volta para a origem das mesmas: o tratar de sufocar a luz que
ainda restava. Como as trevas lhes escurecem a mente, assim a
impotência toma posse do coração, quando a “voz aprazível” da
consciência primeiro é ignorada, logo contrariada, e por fim
sistematicamente fica adormecida. De modo que, “a verdade” que Deus
deixou com o homem e no homem, em vez de ter livre espaço para
desenvolver-se, neste caso é obstruída (comp. Mt_6:22-23; Ef_4:17-18).
19. porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre
eles, porque Deus lhes manifestou — No versículo seguinte o apóstolo
explica o significado desta asseveração.
20. os atributos invisíveis de Deus … se reconhecem — quer
dizer a mente contempla com clareza o que o olho não pode discernir.
o seu eterno poder, como também a sua própria divindade —
Vê que há um Eterno Poder, e que este não é a mera força cega, nem o
panteísta “espírito de Natura,” mas sim o poder da Divindade vivente.
sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas —
Assim que a criação externa não é a progenitora, mas sim a intérprete de
nossa fé em Deus. Tal fé tem sua origem primordial dentro de nós
mesmos (v. 19); mas deve ser uma convicção inteligível e articulada só
por meio do que observamos ao nosso redor (“por meio das coisas que
foram criadas,” v. 20). Assim, a revelação interna e a externa de Deus se
complementam uma com a outra, e ambas produzem a convicção
universal e imutável de que Deus existe. (Com esta notável declaração
apostólica estão de acordo as mais recentes conclusões feitas pelos mais
profundos estudantes especulativos do Teísmo.)
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 15
por isso, indesculpáveis — Sendo toda sua depravação um
afastamento voluntário da verdade assim tão brilhantemente revelada ao
espírito não sofisticado.
21. porquanto, tendo conhecimento de Deus — isto é, enquanto
ainda retinham algum conhecimento real dEle, e antes de que se
afundassem até a condição que se descreve em seguida.
não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças — Nem
Lhe renderam a adoração que Lhe era devida, nem Lhe mostraram a
gratidão que Sua beneficência demandava.
antes, se tornaram nulos — comp. Jr_2:5.
em seus próprios raciocínios — em seus pensamentos,
especulações, a respeito de Deus: veja-se Mt_15:19; Lc_2:35; 1Co_3:20,
grego.
coração (RC) — isto é, todo o homem interior.
insensato (RC) — “insensato,” “estúpido”.
se obscureceu (RC) — Com quanta erudição se traça aqui a
degeneração progressiva da alma humana!
22, 23. Dizendo-se (ACF) — gabando-se, pretendendo.
sábios, tornaram-se loucos — “É a natureza invariável da ideia
errônea na moral e na religião, que os homens se gabam de havê-la
inventado e que a elogiam como sabedoria. Assim como os pagãos”
(1Co_1:21). [Tholuck].
23. e mudaram a glória do Deus incorruptível em — ou “por”.
semelhança da imagem de homem corruptível — A alusão aqui
é, sem dúvida, ao culto grego, e pode ser que o apóstolo tivesse presente
aqueles deliciosos entalhes em forma humana que jaziam tão
profusamente em seu redor quando ele estava no Areópago e olhava suas
devoções (veja-se nota, At_17:29.) Mas como se aquela não fosse
degradação bastante profunda do Deus vivo, encontrou-se com uma
ainda mais baixa.
bem como de aves, quadrúpedes e répteis — “quadrúpedes e
répteis” referindo-se agora ao culto egípcio e oriental. Diante destas
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 16
declarações da descida da crença religiosa do homem, desde conceitos
superiores do Ser Supremo até os mais baixos e degradantes, há
expositores desta mesma Epístola (como Reiche e Jowett) que, não
crendo nem na queda da inocência original, nem nos nobres rastros
daquela inocência que permaneceram mesmo depois da queda e que
foram só gradualmente apagadas pela violência temerária contra os
ditados da consciência, sustentam que a história religiosa do homem foi
sempre uma luta por ascender, das formas mais baixas do culto à
natureza, próprias da infância da raça, até a que é mais racional e
espiritual.
24. Por isso, Deus — em justa retribuição.
entregou tais homens — Este abandono divino do homem está
notavelmente esboçado em três graus sucessivos, assinalado cada passo
com a mesma palavra, que se traduz por “entregou” (v. 24; v. 26; e v.
28). “Como eles desertaram de Deus, Deus por sua vez os abandonou:
não lhes dando leis divinas (isto é, sobrenaturais), e deixando-os que
corrompessem até as que eram humanas; não lhes enviando profetas, e
permitindo aos filósofos que seguissem os maiores absurdos. Deixou-os
agir segundo seus próprias desejos, até chegarem ao grau mais vil, de
modo que os que não tinham honrado a Deus se desonraram a si
mesmos.” [Grocio.]
25. pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira — quer
dizer, a verdade referente a Deus mudaram-na em mentira idolátrica.
adorando e servindo a criatura em lugar do Criador —
Pretendendo meramente adorar o Criador por meio da criatura, logo
chegaram a perder de vista o Criador na criatura. Quão agravante é a
culpa da igreja de Roma, que, sob este fútil pretexto, faz
vergonhosamente aquilo pelo qual aqui se condena os pagãos, e o faz
tendo a luz que os pagãos nunca tiveram!
o qual é bendito eternamente. Amém! — Com esta doxologia o
apóstolo instintivamente alivia o sentido de horror que ao escrever tais
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 17
coisas se acendeu em seu peito; exemplo que deveria ser seguido pelos
que são chamados para condenar tal desonra feita ao bendito Deus.
26, 27. Por causa disso, os entregou Deus — Veja-se nota, v. 24.
porque até as mulheres — Aquele sexo cuja joia preciosa e
adorno mais belo é a modéstia, e que, perdida esta, não só se torna mais
desavergonhado que o outro sexo, mas também já vive somente para
arrastar o outro sexo até seu nível.
mudaram o modo natural de suas relações íntimas — As
práticas aqui aludidas, abundantemente testemunhadas pelos escritores
clássicos, não podem ser ilustradas mais que com a declaração, sem tocar
aquelas coisas que “nem devem nomear-se entre nós, como convém aos
santos.” Mas note-se como o próprio vício está aqui consumindo-se e
gastando-se. Quando as paixões, açoitadas pela violenta e continuada
indulgência nos vícios naturais, tornam-se impotentes para dar o gozo
desejado, aproveitaram-se dos estímulos artificiais para a prática de
vícios antinaturais e monstruosos. Quão cedo estas coisas se
desenvolveram plenamente na história do mundo, o caso de Sodoma o
revela pateticamente; e por causa de tais abominações, séculos depois, na
terra de Canaã “vomitei” a seus antigos habitantes. Muitíssimo tempo
antes que fosse escrito este capítulo, as lésbicas e outros da refinada a
Grécia estiveram luxuriando em semelhantes corrupções; quanto aos
romanos, Tácito, falando do imperador Tibério, diz-nos que se deviam
inventar palavras novas para expressar as novas formas inventadas para
estimular as paixões debilitadas. Não é de estranhar-se que, doente e
moribunda assim como estava esta nossa pobre humanidade, sob a mais
adiantada cultura terrestre, seu universal clamor pelo bálsamo de
Gileade, e o chamado macedônico, “Passa para cá e ajuda-nos,”
comovesse o coração dos missionários da cruz, e fizesse que não se
envergonhassem do Evangelho de Cristo!
27. recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro —
Aludindo às muitas maneiras físicas e morais em que, sob o justo
governo de Deus, o vício se vingava de si mesmo.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 18
28-31. os entregou — veja-se nota, v. 24.
para praticarem coisas inconvenientes — quer dizer, “o
indecoroso”, “o vergonhoso”.
30. aborrecedores de Deus (RC) — O vocábulo usualmente
significa “aborrecidos de Deus” [RA], sentido que alguns preferem visto
que expressa quão detestável é o caráter deles diante de Deus (comp.
Pv_22:14; Sl_73:20). Mas o sentido ativo da palavra, adotado em nossa
versão e pela maioria dos expositores, embora raro, talvez concorda
melhor com o contexto.
32. conhecendo eles — pela voz da consciência, Rm_2:14, 15.
a sentença de Deus — a severa lei do proceder divino.
de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam —
Expressão usada aqui em seu mais amplo sentido conhecido, como o
clímax da vingança divina contra o pecado: veja-se At_28:4.
não somente as fazem — aquelas ações que poderiam ter feito sob
a pressão da tentação e no calor da paixão.
mas também aprovam — “sentem prazer”.
os que assim procedem — Pondo deliberadamente seu selo de
aprovação em tais ações animando e aplaudindo o fato de que outros as
façam. Este é o ponto culminante das acusações do apóstolo contra os
pagãos; e se as coisas chegam ao clímax de seu negrume, esta
determinada e vergonhosa satisfação, além de todos os efeitos ofuscantes
da paixão presente, deve ser considerada como o rasgo mais negro da
depravação humana.
Quanto a esta seção, note-se:
(1) “A ira de Deus” contra o pecado tem toda a terrível realidade de
uma “revelação do céu”, a qual ressoa na consciência dos homens ao
contemplar as misérias em que se afundam os ímpios, e a vingança que o
governo moral de Deus, mais cedo ou mais tarde, enviará sobre todos os
que o violam; assim que esta “ira de Deus” não se limita aos crimes
flagrantes, nem às mais crassas manifestações da depravação humana,
mas sim que “se revela” contra todas as violações da lei divina de
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 19
qualquer natureza: “contra toda impiedade”, assim como contra toda
“injustiça dos homens,” contra qualquer caso omisso que se faça de Deus
no transcurso da vida, assim como contra toda separação da retidão
moral; e portanto, visto que nenhum filho de Adão pode pretender que
não tenha praticado a “impiedade” nem a “injustiça,” segue-se que,
embora em diferentes graus, todo ser humano está comprometido no
terrível alcance da “ira de Deus” (v. 18). O apóstolo coloca esta
tremenda verdade à cabeça de seu argumento sobre a justificação pela fé,
a fim de que sobre a base da condenação universal possa levantar o
edifício de uma livre salvação universal; nem pode o evangelho ser
pregado nem aceito, salvo em seu caráter de boas novas de salvação aos
que estão igualmente “perdidos”.
(2) Não devemos engrandecer a revelação sobrenatural que prouve
a Deus fazer de Si mesmo, por meio da família de Abraão, à raça
humana, em menoscabo daquela revelação anterior e, em si, lustrosa que
Deus fez a toda família humana por meio da mesma natureza deles e a
criação que os rodeava. Sem esta, aquela revelação teria sido impossível
e os que foram favorecidos com a primeira revelação se acharão sem
desculpa se forem surdos à voz, e cegos à glória da segunda (vv. 19, 20).
(3) A terceira oposição à luz tem uma tendência retributiva de
entorpecer as percepções morais e de debilitar a capacidade para
entender e aprovar a verdade e a bondade; e deste modo se prepara a
alma para entregar-se, até um grau indeterminável, ao erro e ao pecado
(v. 21, etc.).
(4) O orgulho da sabedoria — aquele que é uma evidência
convincente da falta dela — por si mesmo torna impossível a recepção
da mesma (v. 22; e veja-se Mat_11:25; 1Co_3:18-20).
(5) Assim como a idolatria, até em suas formas mais plausíveis, é o
fruto de conceitos indignos da divindade, assim seus efeitos naturais são
o viciar e rebaixar ainda mais os conceitos religiosos; e não há
profundidades de degradação muito baixas e repugnantes para que as
ideias humanas da divindade não se degenerem até elas, se seu
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 20
temperamento natural e as circunstâncias que lhes rodeiam são
favoráveis a seu desenvolvimento sem freio (vv. 23, 25). O apóstolo
estava pensando na Grécia e no Egito enquanto redigia esta descrição.
Mas todos os paganismos do Oriente neste dia testemunham a exatidão
dela, da idolatria mais refinada da Índia e a praticada na China, que é
mais simples e torpe, até os infantis rudimentos do culto à natureza
predominante entre os selvagens. Ai! O próprio cristianismo oferece uma
ilustração melancólica desta verdade; o constante uso de imagens
materiais na igreja de Roma e o caráter materialista e sensual de seu
culto inteiro (para não dizer nada do serviço ainda mais ofensivo e
estúpido da igreja grega), que adulteram as ideias religiosas de milhões
de cristãos nominais, rebaixando todo o caráter e o tom moral do
cristianismo assim representado entre seu imenso grêmio.
(6) A corrupção invariavelmente segue à degeneração religiosa. A
grosseria da idolatria pagã está igualada somente pelo caráter repugnante
e a extensão assombrosa das imoralidades que ela propagava e
consagrava (vv. 24, 26, 27). E tão marcadamente se vê tudo isto no
Oriente hoje em dia em todos seus rasgos essenciais, que (como diz
Hodge) os missionários muitas vezes foram acusados pelos nativos de ter
falsificado toda a última parte deste capítulo, pois não podiam crer que
fosse possível que se escrevesse dezoito séculos antes uma descrição tão
exata deles mesmos. Os reinos de Israel e de Judá dão uma ilustração
notável da conexão inseparável entre a religião e a moral. Israel
corrompeu e rebaixou o culto rendido a Jeová, e os pecados de que
foram acusados foram principalmente da classe mais grosseira incluindo
a intemperança e a sensualidade. Judá, que permaneceu fiel ao culto puro
por longo tempo, foi-lhe reprovado principalmente o formalismo e a
hipocrisia; e só quando caíram na idolatria, que praticavam seus vizinhos
idólatras, afundaram-se nos vícios deles. E não se pode fazer uma
distinção similar entre as duas grandes divisões do cristianismo, a papista
e a protestante? Para fazer a prova disto, não devemos olhar ao papismo,
rodeado como está da presença e o poder do protestantismo e
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 21
influenciado do mesmo; nem ao protestantismo sob toda sorte de
desvantagem interna e externa. Mas examine o romanismo do ponto de
vista da liberdade sem freio de que desfruta para desenvolver seu
verdadeiro caráter, a fim de ver se a impureza não contamina à sociedade
até o coração, penetrando assim às classes mais altas como às mais
baixas; e logo que se olhe ao protestantismo sob este mesmo ponto de
vista lá onde goza das mesmas vantagens para ver se não se distingue por
sua norma comparativamente alta de virtude social.
(7) O tomar prazer no que é pecaminoso e vicioso, por amor ao
mesmo, e sabendo que o é, é o plano último e mais baixo da temeridade
humana (v. 32). Mas
(8) Este conhecimento nunca ficou totalmente apagado no peito do
homem. Enquanto lhe resta o poder do raciocínio, ainda há uma voz
aprazível no pior dos homens, que protesta, em nome daquele Poder que
a implantou, dizendo: “Que são passíveis de morte os que tais coisas
praticam” (v. 32).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 22
Romanos 2

Vv. 1-29. O judeu sob a mesma condenação que o gentio.


O apóstolo, depois de dirigir-se aos de fora, agora se volta para os
que estão dentro do âmbito da religião revelada, quer dizer, aos judeus,
que se gabavam de sua justiça, os quais menosprezavam os pagãos
considerando-os alheios à aliança e excluídas do âmbito das
misericórdias de Deus, dentro do qual se criam seguros, embora suas
vidas fossem inconsequentes. Ai! Quantos abrigam semelhante crença
fatal, e têm uma atitude similar na igreja cristã!
4. a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento —
quer dizer, tem-se desenhado e adotado para este fim.
5. acumulas contra ti mesmo ira para o dia da ira — Quer dizer,
a ira que te sobrevirá no dia da ira. Que ideia mais terrível está aqui
expressa: que o próprio pecador está acumulando como se fosse um
tesouro, uma abundância sempre crescente de ira divina, que lhe
irromperá no dia da revelação do justo juízo de Deus”! E isto está dito
não dos temerários, mas sim dos que se gabam de sua pureza de fé e de
vida.
7-10. Aos que, etc. — A substância destes versículos é que o juízo
final se efetuará baseando-se apenas no caráter.
perseverando em fazer o bem — veja-se Lc_8:15 - “E a que caiu
em boa terra, esses são os que, ouvindo a palavra, a conservam num
coração honesto e bom, e dão fruto com perseverança;” denotando o
caráter duradouro e progressivo da vida nova.
8. mas ... aos facciosos, que desobedecem à verdade — Indicando
a resistência aguda e determinada contra o evangelho, que ele observou
com pena que foi praticada da parte de seus compatriotas. Veja-se
At_13:44-46; At_17:5, 13; At_18:6, 12; e comp. 1Ts_2:15-16.
ira e indignação — no peito do Deus que venha o pecado.
9. Tribulação e angústia — ou seja, o efeito daquelas no próprio
pecador.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 23
ao judeu primeiro — Ele será o primeiro na perdição, em caso de
ser infiel; mas se obedecer à verdade, será o primeiro na salvação (v. 10).
11, 12. Assim, pois, todos os que pecaram sem lei — isto é, sem a
vantagem de uma revelação positiva.
pecaram — nem “todos os que alguma vez tenham pecado,” mas
sim “quantos se achem em pecado” no juízo do grande dia (como todo o
contexto demonstra).
também sem lei perecerão — isentos da acusação de havê-la
rejeitado ou descuidado.
os que com lei pecaram — dentro do âmbito de uma positiva
revelação escrita.
13-15. Porque os simples ouvidores da lei não são … mas os que
praticam, etc. — Referente aos judeus, em cujos ouvidos a lei escrita
continuamente ressoava, a condenação de quantos deles forem pecadores
no último dia, não envolve dificuldade alguma; mas ainda com relação
aos pagãos, que são estrangeiros à lei em sua forma positiva e escrita —
visto que eles demonstram quão profundamente a lei está gravada em sua
natureza moral, e testifica dentro deles a favor da justiça e contra a
iniquidade, acusando-os ou condenando-os conforme tenham violado ou
obedecido seus severos ditados — sua condenação também por todo o
pecado em que eles vivem e morrem, levará seu terrível eco no próprio
coração deles.
15. os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou
defendendo-se — Talvez fazendo ambas as coisas por turnos.
16. no dia — Aqui se resume e se conclui a declaração incompleta
do v. 12.
em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos
homens — Refere-se especialmente às insondáveis profundidades de
hipocrisia dos fariseus com que teve que tratar o apóstolo. (Veja-se
Ec_12:14; 1Co_4:5.)
de conformidade com o meu evangelho — o meu ensino como
pregador do Evangelho.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 24
17-24. Eis que (RC) — “Mas se”, é sem dúvida a lição correta aqui.
(Difere numa só letra da leitura do texto recebido, e o sentido é o
mesmo.)
18. aprovas as coisas excelentes — Variante: “provas as coisas
que diferem.” Os dois sentidos são corretos, e com efeito aquele não é
mais que o resultado deste. Veja-se nota, Fp_1:10.
20. tendo na lei a forma da sabedoria e da verdade — não sendo
deixados, como os pagãos, à vaga conjetura referente às coisas divinas,
mas sim sendo favorecidos com uma informação definida e precisa do
céu.
22. Abominas os ídolos — como fizeram os judeus sempre desde
seu cativeiro, embora os honraram antes.
e lhes roubas os templos? — não, como alguns intérpretes
excelentes entendem, “saqueia templos?” mas sim mais em geral, como
nós o entendemos, “profanas as coisas santas?” (como em Mt_21:12-13,
e de outras maneiras).
24. como está escrito — (Veja-se Is_52:5.)
25-29. Porque a circuncisão tem valor — quer dizer, o fato de
alguém estar dentro da aliança da qual a circuncisão era o signo e o selo
externos.
se és, porém, transgressor — quer dizer: “De outro modo, não é
melhor que o pagão incircunciso.”
26. Se, pois, a incircuncisão observa os preceitos da lei — Tem-
se dado, pensamos, duas interpretações errôneas a estas palavras: a
primeira é, que o caso aqui suposto é um caso impossível, e dá-se
somente como ilustração [Haldane, Chalmers, Hodge]; a segunda, que se
trata dos pagãos que podem agradar e agradam a Deus quando agem,
como o têm feito e o fazem, à medida da luz da natureza [Grocio,
Olshausen, etc.]. A primeira interpretação, a nosso juízo, é forçada; a
segunda contrária aos ensinos próprias do apóstolo. Mas o caso aqui
apresentado, opinamos, é como aquele de Cornélio (Atos 10) quem,
tendo estado fora do âmbito externo da aliança de Deus, tinha chegado
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 25
ao conhecimento das verdades havidas na aliança, e agora manifesta a
graça da aliança sem o selo do mesmo, e dá exemplo do caráter e
conduta dos filhos de Abraão, mesmo quando não são chamados pelo
nome de Abraão. De modo que, isto não é mais que outra maneira de
anunciar que Deus estava por demonstrar a insuficiência do mero
distintivo da aliança abraâmica, chamando dentre os gentios uma
semente de Abraão que nunca tinha recebido o selo da circuncisão (veja-
se nota, Gl_5:6); e esta interpretação está confirmada por tudo o que
segue.
28. não é judeu quem o é apenas exteriormente — Em outras
palavras, o nome de “judeu” e o rito da “circuncisão” foram designados
como símbolos externos de uma separação do mundo irreligioso e ímpio
a uma santa devoção de coração e vida ao Deus da salvação. Onde se
realiza este propósito, os signos são de significação; mas quando não,
são piores que inúteis.
Note-se:
(1) É um triste sinal de depravação quando tudo o que foi
desenhado para abrandar o coração, somente o endurece (v. 4, e comp.
2Pe_3:9; Ec_8:11).
(2) Não obstante as oportunidades religiosas desiguais que foram
dadas aos homens e da influência misteriosa que exercem as mesmas no
caráter e o eterno destino deles, os grandes princípios do juízo, de acordo
com o que corresponde a cada um, serão aplicados a todos, e a perfeita
justiça se verá reinar através de todos os aspectos da divina
administração (vv. 11-16).
(3) “A lei escrita nos corações” (vv. 14, 15) — ou seja, “a ética da
teologia natural” — pode-se dizer que é o único fundamento profundo
em que descansa toda a religião revelada; e veja-se a nota de Ro_1:19,
20, onde temos o que podemos chamar seus demais alicerces: a física e a
metafísica da teologia natural. O testemunho destas duas passagens é de
valor inestimável ao teólogo, enquanto que no peito de todo cristão dócil
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 26
despertam ecos tão profundos que são inexpressavelmente solenes e
preciosos.
(4) As profissões religiosas feitas com arrogância, agravam mais as
inconsequências dos que as fazem (vv. 17-24). Compare-se 2Sm_12:14.
(5) Porquanto nenhuns privilégios externos, nem o selo distintivo
do discipulado, protegerá o ímpio da ira de Deus, tampouco a falta de
tais coisas excluem do reino de Deus aqueles que, sem tais privilégios e
selos, tenham experimentado a mudança em seu coração, simbolizado a
propósito pelos selos da aliança de Deus. Aos olhos do grande
Esquadrinhador de corações, o Juiz dos vivos e dos mortos, a renovação
do caráter no coração e na vida compreende todos os aspectos. Em vista
disto, não têm necessidade aqueles discípulos batizados e que tomam a
ceia do Senhor Jesus, que “professam conhecer a Deus, mas o negam
com suas obras”, de tremer, os quais sob sua capa de amigos, são
“inimigos da cruz de Cristo”?
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 27
Romanos 3

Vv. 1-8. As objeções judaicas respondidas.


1, 2. Qual é, pois, a vantagem do judeu? — Quer dizer: “Se o
juízo final girar somente sobre o estado do coração, e este pode ser tão
bom no gentio, quem se acha fora do santo recinto da aliança de Deus,
como no judeu quem se acha dentro do mesmo, que melhores vantagens
temos nós os judeus?”
Resposta:
2. Muita, sob todos os aspectos. Principalmente — a vantagem
principal.
porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus — Esta
notável expressão, que significa “comunicações divinas” em geral, usa-
se com relação às Escrituras para expressar seu caráter autoritativo,
divino e dogmático.
3, 4. E daí? Se alguns não creram — É a incredulidade de toda a
nação como tal, o que o apóstolo assinala; mas como era suficiente para
o argumento expressar a hipótese de uma maneira suave, emprega a
palavra “alguns” para abrandar o preconceito.
a incredulidade deles virá desfazer a fidelidade de Deus? —
nulificar, invalidar.
4. De maneira nenhuma! — lit., “Não seja assim” (o oposto de
“amém”), expressão favorita de nosso apóstolo, quando queria não só
repudiar um resultado suposto de sua doutrina, mas também expressar
seu aborrecimento por tal ideia.
Sempre seja Deus (RC) — tido por
verdadeiro, e todo homem mentiroso (RC) — Seja Deus tido por
veraz, embora por isso se entenda que todo homem é falacioso.
Para seres justificado — “Tido por puro em seu juízo” (Sl_51:4);
segundo a LXX: “quando é [ou seja] julgado;” mas no hebraico é:
“quando tu julgas.” O sentimento geral, entretanto, é o mesmo em todo
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 28
caso; temos que vindicar a justiça de Deus, custe o que custar a nós
mesmos.
5, 6. Mas, se a nossa injustiça traz a lume a justiça de Deus —
Temos aqui outra objeção, ou seja: Pareceria, então que quanto mais
infiéis somos, tanto mais ilustre se ostentará a fidelidade de Deus; e em
tal caso, o fato de Se vingar de nós por nossa infidelidade seria (falando
profanamente como falam os homens) como se Ele operasse injustiça.”
Resposta:
6. Certo que não — “longe seja de nós tal pensamento”.
Do contrário, como julgará Deus o mundo? — Pois tal coisa
destruiria todo juízo futuro.
7, 8. se por causa da minha mentira, fica em relevo a verdade de
Deus — Aqui se acha outra ilustração do mesmo sentimento, ou seja:
“Tal raciocínio chega a isto (do qual nos acusa caluniosamente de
ensinar a nós os que pregamos a salvação pela graça) que quanto mais
praticamos o pecado, tanto mais glória redundará a Deus; sendo este um
princípio imperdoável.” (Assim que o apóstolo, em vez de refutar este
princípio, crê que é suficiente exibi-lo para sua abominação, visto que
está contra a moral.)
Sobre esta breve seção, note-se:
(1) A importância que se dá às Escrituras. Em resposta à pergunta,
“Que vantagem tem o judeu?” ou, “Que proveito tem a circuncisão?”, os
que abraçam as interpretações romanistas, sem dúvida, puseram muita
insistência no sacerdócio, como a glória da dispensação judaica. Mas na
estimativa do apóstolo, “os oráculos de Deus” eram o mais valioso da
antiga igreja (vv. 1, 2).
(2) Os eternos propósitos de Deus e o livre-arbítrio do homem,
assim como também a doutrina da salvação pela graça e as inalteráveis
obrigações da lei, são temas que foram acusados de inconsequência pelos
que não se dobram a nenhuma verdade que sua própria razão não possa
aprofundar. Mas em meio das nuvens e a escuridão de que estão
rodeadas, com este presente estado, a divina administração e outras
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 29
muitas verdades da Bíblia, se achará que os princípios tão amplos e tão
profundos como os aqui assentados, que brilham com seu próprio brilho,
são o âncora de nossa fé. “Seja Deus verdadeiro, e todo homem
mentiroso;” e de quantos crentes na salvação pela graça digam:
“Façamos males para que venham bens,” “sua condenação é justa.”

Vv. 9-20. Que o judeu está encerrado na mesma condenação que o


gentio está provado por suas próprias escrituras.
9. Temos nós qualquer vantagem? — “sobressaímos-lhes ?”
Em nenhuma maneira — Certamente os judeus estavam em
melhores circunstâncias, porquanto tinham a palavra de Deus com que
instruí-los melhor; mas como não eram melhores, aquilo somente
agravava sua culpabilidade.
10-12. como está escrito — (Sl_14:1-3; Sl_53:1-3). O fato de o
apóstolo citar estas declarações do salmista terá sido por causa das
manifestações particulares da depravação humana que ocorriam diante
de seus olhos; mas como isso não fazia senão demonstrar o que é o
homem desenfreado, em sua condição atual, resultaram bem pertinentes
para o propósito do apóstolo.
13-18. A garganta deles é — (Sl_5:9), quer dizer: “Quanto sai do
coração e acha expressão por meio da fala ou a ação da garganta, é como
a exalação infecta de uma tumba aberta.”
sepulcro aberto — O apóstolo vai do geral ao particular,
escolhendo de diferentes partes das Escrituras passagens que falam da
depravação quanto a seus efeitos nos diferentes membros do corpo, para
demonstrar lastimosamente como “desde as plantas dos pés até mesmo a
moleira não há saúde” em nós.
com a língua, urdem engano — (Sl_5:9): Isto é, “Aquela língua
que é a glória do homem (Sl_16:9; Sl_57:8) fica prostituída para fins de
engano.”
veneno de víbora está nos seus lábios — (Sl_140:3), quer dizer,
“Aqueles lábios que deveriam ‘destilar como um favo de mel’, e
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 30
‘alimentar a muitos’, e ‘dar graças a Seu nome’ (Ct_4:11; Pv_10:21;
Hb_13:15), empregam-se para secretar e injetar veneno.”
14. a boca, eles a têm cheia de maldição — (Sl_10:7): “Aquela
boca que deveria ser ‘muitíssimo suave’ (Ct_5:16), sendo ‘inflamada
pelo inferno’ (Tg_3:6), enche-se de ardente ira contra aqueles a quem
deveria somente abençoar.”
15. são os seus pés velozes para derramar sangue — (Pv_1:16;
Is_59:7): Quer dizer, “Os pés, que deveriam ‘correr pelo caminho dos
mandamentos de Deus’ (Sl_119:32), empregam-se para guiar os homens
a cometer o mais negro crime.”
16-17. nos seus caminhos, há destruição e miséria;
desconheceram o caminho da paz — Esta é uma afirmação
suplementar a respeito dos caminhos dos homens, sugerido pelo que se
falou dos “pés”, e expressa a maldade e a miséria que os homens
semeiam em seu caminho, em lugar daquela paz que não podem difundir
por não conhecê-la.
18. Não há temor de Deus diante de seus olhos — (Sl_36:1).
Quer dizer, “Se os olhos só vissem o que é invisível — (Hb_11:27), um
temor reverencial para com Aquele diante de quem irão comparecer,
purificaria toda alegria e elevaria a alma de susa maiores depressões;
mas a tudo isto o homem natural é alheio.” Quão gráfico é este quadro da
depravação humana, que penetra a vida através de cada um dos vários
órgãos do corpo; mas quão pequena parte do “perverso” e “enganoso”
que está dentro do coração (Jr_17:9) “sai fora do homem”! (Mc_7:21-
23; Sl_19:12).
19. Ora, sabemos ... o que a lei diz — isto é, as Escrituras,
consideradas como a lei do dever.
aos que vivem na lei o diz — É óbvio, referindo-se aos judeus.
para que ... toda boca — aberta na justificação própria.
se cale ... e todo o mundo seja culpável perante Deus — Que
chegue a ser, ou se reconheça sujeito a juízo e exposto à condenação.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 31
20 visto que ninguém será justificado ... por obras da lei —
obediência à lei. Isto é “não será justificada,” ou considerada e tratada
como justa, como está patente por todo o alcance e teor do argumento.
diante dele — Quer dizer, em Seu tribunal (Sl_143:2).
pela lei vem o pleno conhecimento do pecado — Veja-se nota
Rm_4:15 e Rm_7:7; 1Jo_3:4).
Note-se: Quão ampla e profundamente assenta aqui o apóstolo os
fundamentos de sua grande doutrina da justificação pela graça — na
desordem de toda a natureza do homem, a conseguinte universalidade da
culpa humana, a condenação de todo o mundo por causa da violação da
lei divina e a impossibilidade da justificação diante de Deus pela
obediência àquela lei violada! Só quando se aceitam e se sentem estas
humilhantes conclusões, estamos em condição de apreciar e de abraçar a
graça do Evangelho, a qual é revelada nos versículos seguintes:

Vv. 21-26. A justiça justificadora de Deus, pela fé em Jesus Cristo,


adaptada a nossas necessidades e, ao mesmo tempo, digna dele mesmo.
21-23. Mas agora, sem lei … a justiça de Deus — (Veja-se nota,
Rm_1:17), isto é, uma justiça a qual nossa obediência à lei não contribui
absolutamente nada (v. 28; Gl_2:16).
se manifestou … testemunhada pela lei e pelos profetas — ou
seja, as Escrituras do Antigo Testamento. Assim que esta justiça que
justifica, embora nova, por não estar antes plenamente manifestada, é na
verdade uma justiça antiga, predita e prefigurada no Antigo Testamento.
22. mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os
que crêem — Isto é, talvez, dado a conhecer o Evangelho “a todos”,
mas com efeito “sobre todos” os crentes, como sua coisa possuída
[Lutero, etc.]; mas a maioria dos intérpretes entendem que ambas as
frases tratam dos crentes, como uma maneira enfática de dizer que todos
os crentes, sem exceção nem distinção, chegam a possuir esta
justificação gratuita, puramente pela fé em Cristo Jesus.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 32
23. pois todos pecaram — Embora os homens diferem
grandemente na natureza e na extensão de sua pecaminosidade,
absolutamente não há diferença entre os melhores e os piores, no fato de
que “todos pecaram,” e assim estão sob a ira de Deus.
e carecem da glória — “louvor”
de Deus — isto é “não mereceram sua aprovação” (comp.
Jo_12:43). Esta é a opinião da maioria dos intérpretes.
24. sendo justificados gratuitamente — sem fazer nada do nosso
lado para merecê-lo.
por sua graça — por Seu puro amor.
mediante a redenção que há em Cristo Jesus — Uma frase muito
importante, que nos ensina que embora a justificação seja bem gratuita,
não é um mero fiat da vontade divina, mas sim que se baseia numa
“redenção,” quer dizer, “no pagamento de um resgate,” na morte de
Cristo. Que este é o sentido da palavra “redenção,” quando se aplica por
ocasião da morte de Cristo, aparecerá claro a todo estudante imparcial
dos textos onde se emprega.
25, 26. ao qual Deus propôs para propiciação (RC) — ou
sacrifício propiciatório.
pela fé no seu sangue (RC) — Alguns dos melhores intérpretes,
notando que a frase comum é “fé sobre”, no grego, e não “fé em,”
queriam colocar uma vírgula depois de “fé”, e entender as palavras como
se estivessem escritas assim: “em propiciação em seu sangue pela fé.”
Mas “fé em Cristo” usa-se em Gl_3:26 e em Ef_1:15; e “fé em seu
sangue” é o sentido natural e próprio aqui.
para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância,
deixado impunes — “passando por alto”
os pecados anteriormente cometidos — Não os pecados
cometidos pelo crente antes de abraçar o cristianismo, mas sim os
pecados cometidos sob a antiga dispensação, antes que Cristo viesse para
“tirar o pecado pelo sacrifício de si mesmo.”
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 33
na sua tolerância — “na paciência (ou longanimidade) de Deus.”
Deus não os remetia, mas sim somente se abstinha de castigá-los,
passando-os por alto, até que fosse feita adequada expiação por eles. Ao
não imputá-los assim, Deus era justo, mas não aparecia como justo; não
tinha havido “manifestação de sua justiça” ao fazê-lo sob a antiga
dispensação. Mas agora que Deus pode “proporcionar” a Cristo “em
expiação pelo pecado pela fé em seu sangue,” a justiça de Seu proceder
em ter passado por alto os pecados dos crentes antes, e em remetê-los
agora, fica “manifestada,” declarada, feita plenamente notória a todo
mundo.
26. tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo
presente — pela primeira vez, sob o evangelho.
para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em
Jesus — Glorioso paradoxo! “O fato de ser justo ao castigar,” e
“misericordioso ao perdoar,” o homem pode entender; mas que Deus
seja “justo ao justificar os culpados,” isto os surpreende. Mas a
propiciação pela fé no sangue de Cristo resolve o paradoxo e harmoniza
os elementos discordantes. Porque porquanto “Deus tem feito pecado por
nós Aquele que não conheceu pecado,” a justiça goza de plena
satisfação; e porquanto nós “somos feitos justiça de Deus nEle,” a
misericórdia alcança o mais alto deleite de seu coração!
Note-se:
(1) Um só meio de justificação para o pecador se ensina deste modo
no Antigo Testamento como no Novo: só que mais veladamente durante
o crepúsculo da revelação; para depois revelar-se à luz sem sombras em
seu dia perfeito (v. 21).
(2) Como não há diferença na necessidade da salvação, tampouco a
há na liberdade de apropriar-se da que está provida. Os melhores
precisam ser salvos pela fé em Jesus Cristo; e os piores não necessitam
mais que isso. Sobre esta base comum se acham todos os pecadores
salvos, e nela ficaremos firmes para sempre (vv. 22-24).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 34
(3) Do sangue expiatório de Cristo, o único sacrifício propiciatório
que Deus propôs aos olhos dos culpados, a fé do pecador convencido se
agarra para a libertação da ira. Se bem que ele sabe que é “justificado
gratuitamente, pela graça de Deus,” só “mediante a redenção que há em
Cristo Jesus” ele pode achar paz e descanso (v. 25).
(4) A interpretação exata do estado dos crentes sob o Antigo
Testamento, não é o de uma companhia de homens perdoados, mas sim
de homens cujos pecados, tolerados e passados por alto nesse ínterim,
esperavam uma futura expiação no cumprimento do tempo (vv. 25, 26;
vejam-se notas, Lc_9:31; Hb_9:15; Rm_11:39-40).

Vv. 27-31. As inferências das doutrinas precedentes, e uma objeção


refutada.
Primeira inferência: A jactância está excluída por este meio e não
por outro meio de justificação.
27. Onde, pois, a jactância? Foi de todo excluída. Por que lei?
— baseando-se em que princípio ou plano?
28. Concluímos, pois, etc. — É a tendência inevitável, quando
dependemos de nossas próprias obras, em menor ou em maior grau, para
nossa aceitação perante Deus, o engendrar um espírito “de jactância”.
Que Deus alentasse em alguma manhã tal espírito nos pecadores, é
inacreditável. Isto, pois, declara como mentira toda forma de
“justificação pelas obras,” enquanto que a doutrina de que
“Nossa fé recebe a justiça
Que faz justo o pecador,”
manifesta e inteiramente exclui “a jactância;”
e isto é a melhor evidência de sua verissimilitude.
29. Segunda inferência: Este plano de salvação, e só este, adapta-se
igualmente ao judeu e ao gentio.
É, porventura, Deus somente dos judeus? — O plano de salvação
deve ser um que se adapte igualmente a toda a família do homem caído;
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 35
a doutrina da justificação pela fé é a única coisa que põe as bases de uma
religião universal; esta, pois, é outra prova de sua verissimilitude.
30. visto que Deus é um só, o qual justificará — quer dizer, que
“inalteravelmente determinou que ele justificará.”
por fé, o circunciso e, mediante a fé, o incircunciso — Talvez
esta variação de dicção (“por fé,” e “mediante a fé”) tem por fim o
expressar a mesma verdade com maior ênfase (veja-se nota, v. 22);
embora Bengel pensa que se diz ser “por fé” a justificação dos judeus,
por ser eles herdeiros nascidos da promessa, e pode-se expressar que é
“mediante a fé” a justificação dos gentios, por ter estado eles
previamente “alheios às alianças da promessa,” e ter sido admitidos a
uma nova família.
31. Objeção:
Anulamos, pois, a lei pela fé? — Quer dizer, “Esta doutrina da
justificação pela fé dissolve a obrigação da lei? Sendo assim, não pode
ser de Deus. Mas não abriguemos semelhante pensamento! Pois resulta
ser precisamente o contrário.
Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei — Se
observará aqui que, importante como era esta objeção, pois abria um
amplo campo para ilustrar a glória peculiar do evangelho, o apóstolo
aqui não faz mais que rejeitá-la com indignação, embora tenha o
propósito de reassumi-la e discuti-la por extenso, posteriormente no
argumento (Romanos 6).
Note-se:
(1) É um requisito fundamental de toda religião verdadeira o fato de
tender a humilhar o pecador e exaltar a Deus; e todo sistema que gera o
farisaísmo e alenta a jactância revela falsidade (vv. 27, 28).
(2) A adaptabilidade do evangelho para ser uma religião universal,
sob a qual se convida os culpados de todo nome e grau e lhes garante
amparo e repouso, é evidência gloriosa de sua veracidade (vv. 29, 30).
(3) A glória da lei de Deus, em suas obrigações imutáveis e eternas,
é plenamente compreendida pelo pecador e entronizada na profundidade
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 36
de sua alma somente quando, crendo que “aquele que não conheceu
pecado foi feito pecado” para o salvar, e vendo-se a si mesmo “feito a
justiça de Deus em” Cristo. Assim que não invalidamos a lei pela fé;
pelo contrário, confirmamos a lei.
(4) Este capítulo, e em particular a segunda metade dele, é “a
própria sede da doutrina paulina da justificação, assim como é onde se
acha o grande texto que comprova a doutrina protestante da justificação
não por causa da fé, mas sim só por meio da fé.” [Philippi]. Assegurar
esta doutrina e restabelecê-la na fé e no afeto da igreja, valeu todas as
lutas sangrentas que custou a nossos pais, e será a sabedoria e a
segurança, a vida e o vigor das igrejas, o “estar firmes na liberdade pela
qual Cristo as libertou, e não voltar a estar sujeitas, nem no mais
mínimo, a nenhum jugo de servidão.”
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 37
Romanos 4

Vv. 1-25. A precedente doutrina da justificação pela fé ilustrada


pelo Antigo Testamento.
Em primeiro lugar: Abraão foi justificado pela fé.
1-3. Que, pois, diremos ter alcançado Abraão, nosso pai
segundo a carne? — Isto é, (como ensina a ordem no original) “achou,
quanto a (depende, ou por meio de) a carne,” quer dizer, “por todos os
seus esforços naturais ou por sua obediência à lei. *
2. se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar,
porém não diante de Deus — “Se as obras fossem a base da
justificação de Abraão, teria do que se glorificar; mas porquanto é
absolutamente certo que nenhuma delas tem valor aos olhos de Deus,
segue-se que Abraão não poderia ter sido justificado por obras.” E com
isto concordam as palavras da Escritura.
3. Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi
imputado — quer dizer, sua fé.
para justiça — (Gn_15:6.) Os expositores romanistas e
protestantes arminianos fazem com que isto signifique que Deus aceitou
o ato de crer da parte de Abraão, como substituto da completa
obediência. Mas tal coisa está em contradição com todo o espírito e a
letra do ensino do apóstolo. Através de todo seu argumento, a fé está
contraposta diretamente às obras, no assunto da justificação — e deste
modo nos vv. 4, 5. O sentido, pois, não pode ser que o mero ato de crer
— o qual em si é tanto uma obra como qualquer outro caso de
obediência exigida (Jo_6:29; 1Jo_3:23) — fosse imputado a Abraão
como equivalente a toda obediência. O sentido claramente é, que Abraão
creu nas promessas que compreendiam a Cristo (Gn_12:3; Gn_15:5,
etc.), assim como nós cremos no próprio Cristo; e em ambos os casos, a

*
É a opinião do tradutor que nossa versão é mais correta: “segundo a carne” rege o “pai,” e não o
verbo “achou.” – Nota do tradutor.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 38
fé é tão somente o instrumento que nos põe na posse da bênção
gratuitamente repartida.
4, 5. Ora, ao que trabalha — qual jornaleiro.
o salário não é considerado como favor — como assunto de
favor.
e sim como dívida — como assunto de direito.
5. Mas, ao que não trabalha — aquele que deixa de confiar em
que Deus o aceitará de acordo com “as obras”.
porém crê naquele que justifica o ímpio — Se lança nos braços
da misericórdia dAquele que justifica os que merecem só a condenação.
a sua fé lhe é atribuída como justiça — Veja-se nota, v. 3.
Em segundo termo: Davi canta a mesma justificação.
6-8. Davi declara ser bem-aventurado o homem — Lit., “fala da
bem-aventurança do homem”.
a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras — A
quem, embora careça de boas obras, entretanto o tem por justo e o trata
como justo.
7. Bem-aventurados, etc. — (Sl_32:1-2). Davi aqui canta em
termos que expressam somente “as transgressões perdoadas, o pecado
encoberto, a iniquidade não imputada;” mas como a bênção negativa
necessariamente inclui a positiva, a declaração é pertinente.
9-12. Vem, pois, esta bem-aventurança exclusivamente sobre os
circuncisos? — “Não se deve dizer que tudo isto se refere aos
circuncidados, e que portanto não há evidência alguma de uma maneira
geral da parte de Deus de justificar os homens; porque a justificação de
Abraão se efetuou muitíssimo tempo antes de ser circuncidado, e não
pôde ter tido dependência alguma daquele rito; antes, “o sinal da
circuncisão” foi dada como “selo” da justiça (justificadora) que tinha
antes de ser circuncidado, a fim de que se destacasse em todas as idades
como o pai dos crentes — o homem modelo da justificação pela fé —
conforme a cujo tipo, como o primeiro exemplo público disso, deviam
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 39
ser amoldados, tanto judeus como gentios, todos os que desde então
cressem para vida eterna.”
13-15. A promessa (TB) — Isto não é mais que uma ampliação do
raciocínio anterior, aplicando-se à lei o que se acabava de dizer da
circuncisão.
de que seria herdeiro do mundo (TB) — ou, que “todas as
famílias da terra serão benditas nele.”
não foi pela Lei (TB) — em virtude da obediência da lei.
mas pela justiça da fé (TB) — Em virtude de sua singela fé nas
promessas divinas.
14. Pois, se os da lei é que são os herdeiros — Se a bênção tiver
que ser ganha, ou merecida, pela obediência à lei.
anula-se a fé — Todo o método divino seria desvirtuado.
15. porque a lei suscita a ira — Não tem nada que dar aos que a
quebrantam senão a condenação e a vingança.
onde não há lei, também não há transgressão — É precisamente
a lei que opera transgressão, no caso dos que a infringem; nem pode
existir uma sem a outra.
16, 17. Essa é a razão por que, etc. — Temos aqui um resumo
geral que significa que: “A justificação é pela fé, a fim de que seu caráter
puramente de graça seja revelado, e que todos os que seguem nas
pegadas da fé de Abraão — sejam ou não de sua semente natural —
estejam seguros da mesma justificação que desfrutou o pai dos crentes.”
17. como está escrito — (Gn_17:5). Cita-se este texto para
justificar o fato de Ele chamar Abraão o “pai de todos nós,” e deve ser
tomado como um parêntese.
perante aquele — isto é, “na estimativa”.
no qual creu, o Deus — Deste modo Abraão, na estimativa
dAquele em quem creu, é o pai de todos nós, a fim de que a todos lhes
desse a segurança de que se agirem como ele agiu, serão tratados
também como ele.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 40
que vivifica os mortos — A natureza e a grandeza daquela fé de
Abraão que temos que emular estão aqui notavelmente descritas. Sendo
superior à natureza o que ele deveu crer, sua fé teve que agarrar-se do
poder que Deus tem para superar a incapacidade física a fim de criar o
que então não existia. Mas porquanto Deus fez a promessa, Abraão creu
apesar destes obstáculos. Isto está ilustrado ainda mais no que segue.
18-22. Abraão, esperando — Isto é, alentava a confiante
expectação.
contra a esperança — quando não havia nada no que basear sua
esperança.
creu, para vir a ser pai de muitas nações, segundo lhe fora dito:
Assim será — “como as estrelas do céu” (Gn_15:5).
será a tua descendência — Não fez caso daqueles obstáculos
físicos, em si mesmo ou em Sara, que tivessem feito fraquejar a fé no
cumprimento da promessa.
19. sem enfraquecer na fé — não vacilou.
20. mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus —
Reconhecendo Seu poder para cumprir Sua palavra apesar de todos os
obstáculos.
21. estando plenamente convicto, etc. — Quer dizer, a glória da fé
de Abraão consistia em que, estando firme na persuasão do poder de
Deus para cumprir Sua promessa, não vacilava diante de todas as
dificuldades.
22. Pelo que isso lhe foi também imputado para justiça — Quer
dizer: “Notem, pois, todos de que isto não foi por causa de nada
meritório que Abraão tivesse feito, mas sim somente porque creu na
promessa de Deus.”
23-25. E não somente por causa dele, etc. — Eis aqui a aplicação
de todo o argumento a respeito de Abraão: “Estas coisas não estão
escritas como meros dados históricos, mas sim como exemplos para
todos os tempos, do método de Deus para a justificação pela fé.”
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 41
24. mas também por nossa causa, posto que a nós igualmente
nos será imputado, a saber, a nós que cremos — Os que confiamos
nAquele que tem feito isto, assim como Abraão creu que Deus
despertaria semente na qual todas as nações seriam benditas.
25. foi entregue por causa das nossas transgressões — a fim das
expiar por seu sangue.
e ressuscitou por causa da nossa justificação — Visto que sua
ressurreição foi a divina garantia de que Ele tinha “tirado o pecado pelo
sacrifício de si mesmo,” e a coroação de toda Sua obra, nossa
justificação se relaciona propriamente com ato tão glorioso.
Note-se:
(1) A doutrina da justificação pelas obras, porquanto gera o elogio
egoísta, é contrária aos princípios mais sobressalentes de toda religião
verdadeira (v. 2, e veja-se nota, Rm_3:26).
(2) O método usado para a justificação do pecador foi o mesmo em
todo tempo, e o testemunho do Antigo Testamento sobre o particular é o
mesmo que o do Novo (v. 3, e veja-se nota, Rm_3:31).
(3) A fé e as obras, no assunto da justificação, são opostas e
irreconciliáveis, assim como a graça e a dívida são contrárias. (vv. 4, 5; e
veja-se nota, Rm_11:6). Se Deus “justificar o ímpio,” não podem as
obras, em nenhum sentido nem em nenhum grau, ser a base da
justificação. Pela mesma razão, o primeiro requisito para a justificação,
deve ser (sob a convicção de que somos “ímpios”) o perder toda
esperança de obtê-la por meio das obras; e o segundo, “crer naquele que
justifica o ímpio,” quer dizer, nAquele que tem uma justiça justificadora
para repartir, e está prestes a reparti-la àqueles que, sem a merecer, estão
dispostos a aceitá-la assim.
(4) Os ritos da igreja nunca se destinaram nem foram estabelecidos
com o fim de conferir graça, nem as bênçãos próprias da salvação, aos
homens. Sua devida função é pôr um selo divino num estado já
existente, pressupondo assim que eles (os ritos) não criaram este estado
(vv. 8-12). Assim como a circuncisão meramente “selou” a aceitação de
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 42
Abraão, já existente da parte de Deus, assim também os ritos do Novo
Testamento desempenham esta missão.
(5) Assim como Abraão é “o herdeiro do mundo,” ao ter sido
benditas nele todas as nações, por meio de seu descendente Cristo Jesus,
e justificados somente segundo o modelo da fé que ele teve, assim a
transmissão da religião verdadeira, e toda a salvação que o mundo jamais
experimentará, serão traçadas com admiração, gratidão, e alegria lá até
aquela manhã quando “o Deus da glória apareceu a nosso Pai Abraão,
estando em Mesopotâmia, antes que habitasse em Harã,” At_7:2
(Rm_4:13).
(6) Nada glorifica a Deus mais que a fé singela em Sua palavra,
especialmente quando todas as coisas parecem tornar impossível seu
cumprimento (vv. 18-21).
(7) Todos os exemplos da fé nas Escrituras, estão escritos com o
fim de gerar e alentar fé semelhante em toda idade sucessiva (vv. 23, 24,
comp. com Rm_15:4).
(8) A justificação, neste argumento, não pode ser entendida —
como os romanistas e outros terroristas insistem — no sentido de uma
mudança operada no caráter dos homens; porque além do mais, significa
confundi-la com a santificação, doutrina que tem seu devido lugar nesta
epístola; e todo o argumento do presente capítulo — em quase todas as
suas cláusulas mais importantes, expressões e até em suas palavras —
seria em tal caso incompatível e apto só para enganar. Fora de qualquer
dúvida, a justificação significa exclusivamente uma mudança do estado
ou condição do homem para com Deus; ou em linguagem científica, é
uma mudança objetiva e não subjetiva: mudança de culpa e condenação
à absolvição e aceitação. E a melhor evidência de que isto é a chave de
todo o argumento, é que explica muitos dos assuntos complexos
enriquecendo assim esta epístola.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 43
Romanos 5

Vv. 1-11. Os efeitos benditos da justificação pela fé.


Tendo concluído a comprovação desta doutrina, o apóstolo
continua tratando a respeito dos frutos da mesma, mas reserva a plena
consideração do tema para outra fase do argumento (Romanos 8).
1. Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, etc. —
Se tivermos que ser guiados pela autoridade dos manuscritos, a leitura
correta aqui, fora de dúvida, é: “Tenhamos paz” leitura que a maioria
rejeita, entretanto, porque pensa que é ilógico exortar aos homens a que
tenham o que cabe a Deus lhes dar, e porque o apóstolo não está dando
exortação aqui, mas sim expressando uma verdade. Mas como parece
arriscado deixar de lado o testemunho decisivo dos manuscritos,
referente ao que o apóstolo, com efeito, escreveu em preferência ao que
opinamos que deve ter escrito, façamos uma pausa e nos perguntemos:
Se for o privilégio dos justificados “ter paz com Deus,” por que não pôde
o apóstolo começar a enumeração dos frutos da justificação convidando
os crentes a realizar esta paz que lhes pertence, ou a aproveitar o
prazeroso conhecimento dela ao fazê-la sua própria? E se isto fosse o
que ele fez, com efeito, não seria necessário que continuasse no mesmo
estilo, e outros frutos da justificação os poderia enumerar como simples
fatos. Esta “paz” é primeiro uma mudança nas relações de Deus para
conosco; e logo, a consequência da mesma, é uma mudança da nossa
parte para com Ele. Deus, por um lado, “reconciliou a si por Jesus
Cristo” (2Co_5:18); e nós, por outro lado, pondo nosso selo a isto,
“somos reconciliados com Deus” (2Co_5:20). A “propiciação” é o lugar
de reunião; e assim termina a controvérsia de ambas as partes numa
honorável e eterna “paz.”
2. por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé,
a esta graça — ou favor para com Deus.
na qual estamos firmes — (lit., “postos em pé”). Quer dizer, “Pela
mesma fé que primeiro nos dá “paz para com Deus,” devemos nossa
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 44
entrada a este estado permanente que no favor de Deus os justificados
desfrutam.” Como é difícil distinguir esta graça da paz antes
mencionada, concluímos que é somente outra fase da mesma [Meyer,
Philippi, Mehring], em vez de coisa nova. [Beza, Tholuck, Hodge.]
e gloriamo-nos na esperança da glória — Veja-se nota,
“esperança,” v. 4.
3, 4. mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a
tribulação produz a paciência (RC) — A paciência suporta com calma
aquilo que gostaríamos que fosse tirado, quer seja isto a privação do bem
prometido (Rm_8:25), ou a continuada experiência de males positivos
(como aqui). Existe na realidade uma paciência que provém da natureza
não regenerada, e que tem em si algo de nobreza, mas que é, em muitos
casos, nascido do orgulho, se não de algo ainda mais baixo. Tem-se
conhecido homens que padeceram toda forma de privação, de tortura, e
de morte, sem murmurar e até sem demonstrar emoção visível,
simplesmente porque seria indigno deles afundar-se perante o mal
inevitável. Mas este orgulhoso valor estoico nada tem em comum com a
graça da paciência, a que é, ou a mansa aceitação do mal porque é de
Deus (Jó_1:21-22; Jó_2:10), ou a tranquila espera do bem prometido até
o tempo conveniente que Deus dispuser (Hb_10:36); no pleno
convencimento de que todas essas provas são ordenadas de Deus, que
fazem falta para a disciplina dos filhos de Deus, que não são senão por
um tempo determinado, e que não são enviadas sem abundantes
promessas de “canções na noite.”
4. e a paciência, aprovação (ASV) — Não “experiência”, como na
Almeida Atualizada. É o mesmo vocábulo traduzido “prova” em
2Co_2:9; 2Co_13:3; Fp_2:22; isto é, uma evidência experimental de que
cremos pela graça.
e a aprovação, esperança (ASV) — Quer dizer, a esperança “da
glória de Deus” preparada para nós. Assim temos esperança em dois
sentidos distintos e em duas fases sucessivas da vida cristã: primeiro:
imediatamente depois de crer, junto com a realização da paz e do acesso
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 45
permanente a Deus (v. 1); em seguida, depois de a realidade desta fé ter
sido “provada,” particularmente ao suportar as provas enviadas para
prová-la. A esperança, nós a conseguimos primeiro dirigindo o olhar lá
ao Cordeiro de Deus; e logo nos olhando a nós mesmos transformados
por aquele “olhar a Jesus.” No primeiro caso, a mente age (como se diz)
objetivamente; no outro, subjetivamente. Um é (conforme dizem os
teólogos) a segurança da fé; o outro o convencimento dos sentidos.
5. Ora, a esperança não confunde — como uma esperança vã.
porque o amor de Deus — Não “nosso amor a Deus,” como o
interpretam os expositores romanistas e alguns protestantes (seguindo a
alguns dos Pais); mas sim é “o amor de Deus a nós,” como a maioria dos
expositores concordam.
é derramado — copiosamente (comp. Jo_7:38; Tt_3:6).
pelo Espírito Santo, que nos foi — melhor dizendo, “foi”.
outorgado — Isto é, na grande difusão pentecostal que se
contempla como a doação formal do Espírito à igreja de Deus, para todo
tempo e para cada crente. (Pela primeira vez se introduz o Espírito Santo
nesta Epístola.) É como se o apóstolo tivesse dito: “Como nos poderá
envergonhar esta esperança da glória, que como crentes apreciamos,
quando sentimos o próprio Deus pelo Espírito que nos é dado, enchendo-
nos o coração de doces e irresistíveis sensações do maravilhoso amor de
Deus em Cristo Jesus?” Isto leva a apóstolo a estender-se sobre o
assombroso caráter daquele amor.
6-8. Cristo, quando nós ainda éramos fracos — Quer dizer,
impotentes para nos salvar, e ao ponto de perecer.
a seu tempo — à maturação ordenada.
morreu ... pelos ímpios — São dados três característicos
assinalados do amor de Deus: Primeiro, Cristo “morreu pelos ímpios”, o
caráter dos quais longe de merecer uma interposição a favor deles, era
totalmente repulsivo aos olhos de Deus; segundo, Ele fez isto, “quando
nós ainda éramos fracos”, sem que nada houvesse entre nós e a perdição
senão aquela divina compaixão própria de Deus; em terceiro lugar, Ele o
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 46
fez “a seu tempo”, quando mais propriamente devia acontecer. (comp.
Gl_4:4). Sobre os dois primeiros pontos o apóstolo segue discorrendo.
7. Dificilmente, alguém morreria por um justo — Por alguém
cujo caráter é excepcional.
poderá ser que pelo bom — quem, além de ser excepcional,
distingue-se por sua bondade, quer dizer, um benfeitor à sociedade.
alguém se anime a morrer — quer dizer: “Quase não ocorre o
caso de que haja alguém que se sacrifique a si mesmo a favor de um
meramente justo; entretanto, por alguém que é uma bênção para a
sociedade, pode ser que se ache um exemplo de tão nobre entrega da
vida.” [Assim Bengel, Olshausen, Tholuck, Alford, Philippi.] (Fazer com
que “o justo” e “o bom” aqui se refira à mesma pessoa, e que todo o
sentido seja que “embora raro o caso pode ocorrer que alguém que faça o
sacrifício de sua vida por um de caráter digno” [como Calvino, Fritzsche,
Jowett], é excessivamente insosso.)
8. Mas Deus prova — “manifesta”, “patenteia” — em glorioso
contraste com tudo o que os homens fazem, ou não fazem uns por outros.
o seu próprio amor para conosco ... sendo nós ainda pecadores
— Isto é, numa condição não de “bondade” positiva nem mesmo de
“justiça” negativa, mas sim ao contrário, numa condição de “pecado”, a
qual Sua alma aborrece.
pelo fato de ter Cristo morrido por nós — Eis aqui a imponente
inferência, enfaticamente reduplicada.
9-10. Logo, muito mais agora, sendo — tendo sido —
justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.
10. Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com
Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já
reconciliados, seremos salvos pela sua vida — Quer dizer, “Se já está
consumada aquela parte da obra de nosso Salvador que Lhe custou o Seu
sangue, e que foi realizada em favor de pessoas que são incapazes da
mais mínima simpatia para com o amor de Cristo e de Seus trabalhos em
favor delas mesmas, ou seja, sua “justificação” e sua “reconciliação”,
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com quanto mais razão terminará o que resta fazer, visto que há de fazê-
lo não já com as agonias mortais, mas na “vida” imperturbável, seja não
a favor de inimigos, mas sim a favor de amigos — dos quais recebe a
cada passo o reconhecimento agradecido de almas redimidas que O
adoram?” A expressão “seremos por ele salvos da ira,” denota aqui toda
a obra de Cristo em favor dos crentes, desde o momento da justificação,
quando a ira de Deus se afasta deles, até que o Juiz do grande trono
branco descarregue aquela ira sobre os que “não obedecem ao Evangelho
de nosso Senhor Jesus Cristo,” e aquela obra pode ser recapitulada em
“poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis,
com alegria, perante a sua glória” (Jd_1:24): assim são eles “por ele
salvos da ira.”
11. e não apenas isto, mas também nos gloriamos em Deus por
nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos,
agora, a reconciliação — Os efeitos declarados acima da justificação
eram a nosso favor e evocavam a gratidão; este último pode ser
denominado um efeito puramente desinteressado. Nosso primeiro sentir
para com Deus ao experimentar a paz nEle, é o de uma gratidão íntima
por uma salvação tão custosa; mas assim que tivemos aprendido a clamar
“Aba, Pai,” ao sentir a doce emoção da reconciliação, quando o fato de
“glorificar-nos” nEle toma o lugar do terror que sentíamos para com Ele,
e agora nos parece ser “inteiramente desejável.”
Sobre esta seção, note-se:
(1) Com quanta glória o evangelho proclama sua origem divina,
baseando toda obediência aceita a Deus na “paz com Deus,” assentando
os alicerces desta paz numa justa “justificação” do pecador “por meio de
nosso Senhor Jesus Cristo”, e fazendo com que isto seja a entrada a um
estado permanente no favor divino, e uma triunfante expectação de
glória futura! (vv. 1, 2). Outra paz, digna do nome de paz, não existe; e
como os que são alheios a esta paz não sobem a tão alta comunhão com
Deus, não têm nem o gosto nem o desejo por ela.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 48
(2) Como só os crentes possuem o verdadeiro segredo da paciência
sob as provas, e embora estas são em si “não de alegria, mas sim de
tristeza” (Hb_12:17), quando são enviadas por Deus e oferecem a
oportunidade ao crente para manifestar sua fé pela graça da paciência ao
suportá-las, devem “tê-lo por suma alegria” (vv. 3, 4; veja-se Tg_1:2-3).
(3) A “esperança,” no sentido neotestamentário da palavra, não é
um grau menor da fé nem da segurança (como muitos dizem: Tenho
esperança do céu, mas não a segurança dele); mas sim invariavelmente
significa “a confiante expectação do bem futuro.” Pressupõe a fé; e
aquilo que a fé nos assegura que será nosso, a esperança confiantemente
o aguarda. Ao alentar esta esperança, o olhar da alma dirigida
objetivamente a Cristo como a base da mesma, e o olhar dirigido
subjetivamente a nós mesmos como a evidência de sua realidade, devem
acionar e reagir uma na outra (vv. 2 e 4 cotejados).
(4) É o ofício próprio do Espírito Santo o gerar na alma a plena
convicção e o prazeroso conhecimento de que Deus ama, em Cristo
Jesus, a todos os pecadores, e a nós em particular; e onde existe esta
convicção, leva consigo tal segurança da salvação final que não pode ser
defraudada (v. 5).
(5) A justificação dos ímpios não é operada em virtude de sua
reforma moral, mas em virtude do “sangue do Filho de Deus;” e
enquanto que isto se afirma no v. 9, nossa reconciliação com Deus pela
“morte de seu Filho,” afirmada no v. 10, não é mais que uma variação da
afirmação. Em ambos os versículos a bênção a que se faz referência é a
restauração do pecador a um estado de justiça diante de Deus; e a base
meritória que se menciona é o sacrifício expiatório do Filho de Deus.
(6) A gratidão a Deus pelo amor redentor que não teria alegria no
próprio Deus, seria um sentimento egoísta e sem valor; mas quando a
gratidão se confunde neste prazer — quando o enlevado sentir da eterna
“reconciliação” se torna no “glorificar-se no próprio em Deus” — então
o sentir inferior é santificado e sustentado pelo superior, e cada um é
perfectivo do outro (v. 11).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 49
Vv. 12-21. Comparação e contraste entre Adão e Cristo em sua
relação com a família humana.
(Esta profundíssima e muito importante seção motivou muita
discussão crítica e teológica, em que cada ponto, e quase cada frase, foi
disputada. Aqui podemos expor somente o que nos parece a única
interpretação sustentável dela como um todo, com algumas indicações
das bases de nosso critério.)
12. Portanto — Sendo assim as coisas; com referência a todo o
argumento precedente.
como por um só homem entrou — Adão.
o pecado — Considerado aqui em sua culpabilidade, em sua
criminalidade, e em sua penalidade.
e pelo pecado, a morte — como pena do pecado.
assim também a morte passou a todos os homens, porque todos
pecaram — Quer dizer, ao cometer o primeiro pecado o primeiro
homem. Assim a morte alcança a todo indivíduo da família humana,
como a pena que a ele mesmo corresponde. [Assim, em substância o
interpretam Bengel, Hodge, Philippi.] Aqui teríamos esperado que o
apóstolo conclui a oração gramatical (que principia com “como …”)
com palavras semelhantes a estas: “Assim também por um homem
entrou a justiça no mundo, e pela justiça, a vida.” Mas, em lugar disso,
temos uma digressão, que se estende através de cinco versículos para
ilustrar a importante declaração do v. 12; e é só no v. 18 onde se
reassume a comparação e se conclui.
13, 14. até à lei estava o pecado no mundo (RC) — Isto é, durante
o lapso desde Adão “até que a lei” de Moisés fosse dada, Deus
continuava tratando os homens como pecadores.
mas o pecado não é imputado não havendo lei (RC) — Isto
significa que: “Como o pecado era imputado deve ter havido uma lei
durante aquele período”, o qual está demonstrado.
14. Entretanto, reinou a morte desde Adão até Moisés, mesmo
sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 50
Adão — Mas quem são? Esta é uma pergunta muito disputada. As
crianças (dizem alguns), sendo inocentes de pecado com efeito, pode-se
dizer que não pecaram como Adão. [Agostinho, Beza, Hodge]. Mas por
que deveriam as crianças estar conectadas em especial com o período
“desde Adão até Moisés,” visto que morrem deste modo em toda idade?
E se o apóstolo quis expressar aqui a morte de crianças, por que o fez em
forma tão enigmática? Além disso, a morte dos crianças se compreende
na mortalidade universal por causa do primeiro pecado, como se
expressa tão enfaticamente no v. 12; que necessidade tem que especificá-
la aqui? E por que, se não foi necessário especificá-la, temos que
pressupor que aqui queria expressar, a menos que a linguagem
inequivocamente o indicasse (o que por certo não é o caso)? O sentido
pois deve ser: que “a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre
aqueles que não tinham transgredido, como Adão, um mandamento
positivo que ameaçasse com a morte os desobedientes.” (Esta é a opinião
da maioria dos intérpretes). Neste caso, a frase “até nos que …”, em vez
de especificar uma classe particular dos que viveram desde Adão até
Moisés (como supõe a outra interpretação), meramente explica aquilo
que foi o que fez digno de especial nota o caso dos que morreram entre
Adão e Moisés: ou seja, que embora fossem diferentes de Adão e todos
os que existiram até Moisés, os que viveram entre os dois não tiveram
ameaças positivas da morte pela transgressão, “entretanto, a morte reinou
até sobre eles.”
o qual é a figura (RC) — ou “tipo”.
daquele que havia de vir (RC) — o Cristo. “Esta frase foi
acrescentada à primeira menção do nome de Adão, o homem de quem o
apóstolo fala, para lembrar o motivo pelo qual dele está tratando, quer
dizer, para apresentá-lo como a figura de Cristo.” [Alford]. O ponto de
analogia aqui proposto entre Cristo e Adão, é claramente o caráter
público que os dois sustentavam, nenhum dos dois sendo considerado no
proceder divino para com os homens como meros indivíduos, mas sim
ambos como representativos. (Alguns entendem que o apóstolo fala de
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 51
seu próprio ponto de vista, de que “aquele que havia de vir” refere-se à
segunda vinda de Cristo. [Fritzsche, De Wette, Alford]. Mas isto está
forçado, visto que a analogia do segundo Adão com o primeiro esteve
em pleno desenvolvimento desde quando “Deus o exaltou a Príncipe e
Salvador,” e só será consumada em Sua segunda vinda. O sentido
simplesmente é, e nisto concordam quase todos os intérpretes, que Adão
é um tipo dAquele que devia vir depois dele no mesmo caráter público, e
assim seria “o segundo Adão.”)
15. Todavia, não é assim o dom gratuito como a ofensa —
gratuito. Os dois casos apresentam pontos de contraste assim como de
semelhança.
porque, se, pela ofensa de um só, morreram muitos, etc. — Mas
o dom não foi como a transgressão (quer dizer, no primeiro pecado de
Adão), muito mais abundou a graça de Deus e o dom da graça de um
homem, Jesus Cristo, aos muitos. O termo “os muitos” significa a massa
da humanidade representada respectivamente por Adão e por Cristo, em
contraste, não com poucos, mas com “um” que os representou. “O dom
gratuito” significa (como no v. 17) o glorioso dom da justiça
justificadora; este se distingue da “graça de Deus,” como o efeito
distingue-se da causa; e as duas coisas diz-se que “abundaram” para
conosco em Cristo (no sentido que aparece nos dois versículos
seguintes). E o termo “muito mais”, no segundo caso, não significa que
recebamos muito mais de bem da parte de Cristo que o mal recebido da
parte de Adão (porque não é um caso de quantidade absolutamente);
antes, é que temos muita mais razão para esperar, ou que está mais em
consonância com nossas ideias a respeito de Deus, o fato de os muitos
receberem benefício pelos méritos de Um, que o fato de muitos sofrerem
pelo pecado de um; e se isto aconteceu, quanto mais podemos estar
seguros daquilo. [Philippi, Hodge.]
16. O dom, entretanto, não é como no caso em que somente um
pecou — Quer dizer, pode-se mencionar outro ponto de contraste.
porque o julgamento — a sentença.
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veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom
gratuito (RC) — o dom da graça.
veio de muitas ofensas para justificação (RC) — este é um ponto
glorioso de contraste que significa que: “A condenação de Adão foi por
causa de um pecado; mas a justificação por Cristo é a absolvição não só
da culpa daquela primeira ofensa, que se aderia misteriosamente a cada
indivíduo da raça humana, mas também das inúmeras ofensas nas quais
aquela, qual micróbio encravado no peito de cada indivíduo, desenvolve-
se na vida.” Este é o significado daquela “graça que abundou para
conosco na abundância do dom da justiça.” É uma graça rica não só em
seu caráter, mas também nos detalhes; é uma “justiça” rica não só numa
completa justificação dos culpados e condenados pecadores; é rica na
amplitude do terreno que abrange, que não deixa por cancelar nem um
só pecado de nenhum dos justificados, mas sim faz com que ele,
porquanto mais carregado esteja da culpa de milhares de ofensas, seja “a
justiça de Deus em Cristo.”
17. Se, pela ofensa de um e por meio de um só — “pela falta de
um”.
reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da
graça e o dom da justiça — justificadora. Temos aqui as duas ideias
dos vv. 15 e 16 sublimemente combinadas numa, como se o tema se
tivesse tomado conta do apóstolo enquanto avançava em sua comparação
dos dois casos. Aqui, pela primeira vez nesta seção, fala daquela VIDA
que surge da justificação, em contraste com a morte que surge do pecado
e segue à condenação. A ideia correta dela é, pois: “o direito de viver”
— “a vida justa” — vida que se possui e se desfruta com benevolência,
de acordo com a eterna lei de “aquele que está assentado no trono;” vida
pois, no sentido mais amplo — vida em todo o ser do homem e através
de toda a duração da existência humana: vida de uma relação abençoada
e amorosa com Deus em alma e corpo, para sempre jamais. É digno de
notar, também, que enquanto que Paulo diz que a morte “reinou sobre”
nós por Adão, não diz que a vida “reinasse sobre nós” por Cristo, não
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 53
seja que o apóstolo pareça inverter esta nova vida do mesmo atributo da
morte — o de cruel tirania maligna, da qual fomos vítimas infelizes.
Nem diz que a vida reinasse em nós, o que teria uma ideia bastante
escritural; mas sim o que é muito mais fecundo: “Nós reinaremos em
vida.” Enquanto que a liberdade e o poder estão incluídos na figura de
“reinar,” “a vida” está representada como o glorioso território ou
atmosfera daquele reino. E voltando para a ideia do v. 16, quanto às
“muitas ofensas” cujo completo perdão demonstra “a abundância da
graça e do dom da justiça,” todo a declaração a este efeito: “Se a ofensa
de um homem lançou contra nós o poder tirânico da morte, para nos
fazer suas vítimas em impotente escravidão, “muito mais,” quando nos
apresentarmos enriquecidos com a “abundante graça” de Deus e na
beleza de uma completa absolvição de inúmeras ofensas, glorificar-nos-
emos numa vida divinamente possuída e legalmente assegurada,
“reinando” na exultante liberdade e invencível poder, por meio daquela
“pessoa” sem par, Jesus Cristo”. (Quanto à importância do tempo futuro
nesta última frase, veja-se nota, v. 19 e Rm_6:5.)
18. Pois assim como — Agora por fim, reassumindo a comparação
do v. 12, que se deixou sem terminar, e a fim de concluí-la formalmente,
o que se tem feito vez após vez substancialmente nos versículos
intermediários.
por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para
condenação — ou “o juízo”; interpolação das versões.
assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre
todos os homens para a justificação que dá vida — (Assim o
entendem Calvino, Bengel, Olshausen, Tholuck, Hodge, Philippi). Mas
melhor, como julgamos: “Como por uma ofensa (veio) sobre todos os
homens para condenação, assim também por uma justiça (veio) sobre
todos para justificação de vida” (Assim Beza, Grocio, Ferme, Meyer, De
Wette, Alford). Neste caso o apóstolo, reassumindo a declaração do v.
12, a expressa numa forma mais concentrada e vívida — sugerida talvez
pela expressão do v. 16, de por “um pecado”, a qual representa toda a
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obra de Cristo, considerada como a base de nossa justificação, como
“uma justiça.” (Alguns quiseram traduzir a palavra aqui empregada, por
“um ato justo” [Alford, Versão Revisada, etc.], entendendo por isso a
morte de Cristo como o ato redentor que anulou aquele ato ruim de
Adão. Mas isto é limitar muito a ideia do apóstolo; porque assim como a
mesma palavra se traduz “justiça” em Rm_8:4, onde significa que “a
justiça da lei é cumprida em nós, que não andamos segundo a carne, mas
segundo o espírito”, da mesma maneira aqui denota toda a obediência de
Cristo “até a morte”, considerada como a única base meritória que anula
a condenação que veio por Adão. Mas sobre isto, e a expressão “todos os
homens”, veja-se a nota sobre o v. 19. A expressão “justificação que dá
vida” é a vívida combinação de duas ideias já comentadas, e significa
“justificação que reparte o devido direito assim como a possessão efetiva
da vida e o desfrutar da mesma”).
19. Assim como pela desobediência de um só homem foram
todos constituídos pecadores, assim também pela obediência de um
só todos serão constituídos justos (TB).
Sobre este grande versículo observemos:
1. Que pela “obediência” de Cristo aqui, é claro que não se entende
outra coisa senão o que os teólogos chamam Sua obediência ativa, em
distinção de seu padecimento e morte; refere-se à obra inteira de Cristo
em seu caráter de obediência. Nosso Senhor mesmo representa ainda Sua
morte como seu grande ato de obediência ao Pai: “Este mandamento (de
que pusesse sua vida e tomasse de novo) recebi de meu Pai” (Jo_10:18).
2. A significativa palavra “constituídos”, proferida duas vezes
emprega-se para expressar aquele ato judicial que considera os homens
como pecadores em virtude de sua relação com Adão, e por justos em
virtude de sua conexão com Cristo.
3. A mudança do tempo pretérito ao futuro: “assim como por Adão
fomos feitos pecadores, assim por Cristo seremos feitos justos”, expressa
deleitosamente o caráter permanente deste ato, e a dispensação a que
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pertence cada acontecimento, em contraste com a ruína causada por
Adão que foi anulada para sempre nos crentes. (Veja-se nota, Rm_6:5.)
4. A frase “todos os homens” do v. 18, e “os muitos” do v. 19,
referem-se ao mesmo grupo de homens, mas sob um aspecto um pouco
diferente. No último caso, o contraste faz-se o entre um representante
(Adão — Cristo) e os muitos por ele representados; no anterior, faz-se o
contraste entre uma cabeça (Adão — Cristo) e a raça humana, afetada
para a morte e para a vida respectivamente pelas ações de cada um.
Neste último caso vemos somente a família redimida dos homens: a
humanidade como de fato perdida, mas também como de fato salva;
antes tinha sido arruinada, agora é restabelecida. Os que se negam a
acatar o alto propósito de Deus de constituir a seu Filho no “segundo
Adão”, a cabeça de uma raça nova e aqueles que no fim como
impenitentes e incrédulos perecem, não têm lugar nesta seção da
epístola, cujo único objeto é o de ensinar como Deus repara no segundo
Adão o mal que foi feito pelo primeiro. (Portanto, a doutrina da
restauração universal não é tratada neste capítulo. Do mesmo modo,
evita-se completamente a interpretação forçada que faz entender que a
“justificação de todos” significa uma justificação meramente na
possibilidade de que todos a obtenham, ou na oferta que se faz dela a
todos, e que a “justificação dos muitos” signifique a justificação real só
de quantos creem (Alford, etc.). Deste modo a aspereza ao comparar
toda a família caída com a parte que é redimida, evita-se também. Não
obstante o verídico que é o fato de que uma parte da humanidade não
será salva, este não é o aspecto em que se apresenta o tema aqui. São as
somas totais as que se comparam e ficam em contraste; e é um mesmo
total em duas condições sucessivas: ou seja, a raça humana, arruinada
em Adão, e restabelecida em Cristo).
20, 21. A Lei (NVI) — O judeu poderia dizer: Se todos os
propósitos de Deus relativos aos homens se reconcentram em Adão e em
Cristo, para que serve a lei? Que proveito há nela?
Resposta:
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 56
foi introduzida (NVI) — Mas a palavra expressa uma ideia
importante além da ação de “entrar”. Quer dizer: “entrou incidental,” ou
“entre parêntese”. (Em Gl_2:4 a mesma palavra se traduz: “entrar
secretamente”). O sentido é, que a promulgação da lei em Sinai não foi
característica primordial nem essencial do plano divino, mas sim foi
“acrescentada” (Gl_3:19) por um propósito subordinado: para revelar
quanto mais plenamente o mal ocasionado por Adão e a glória do
remédio operado por Cristo.
para que avultasse a ofensa — Mas que ofensa? Através desta
seção “a ofensa” (reiterada cinco vezes) tem um sentido definitivo, ou
seja: “a ofensa de Adão;” e este é, a nosso juízo, o sentido aqui; o que
significa: “Todas nossas múltiplas infrações da lei não são senão a
primeira ofensa, alojada misteriosamente no peito de todo filho de Adão
como um princípio ofensivo, que se multiplica em miríades de ofensas
particulares na vida de cada um.” O que foi um ato de desobediência na
cabeça da família humana, converteu-se em princípio vital e virulento de
desobediência em todos os membros de tal família, aqueles que por cada
ato de obstinada rebelião se denunciam ser filhos da transgressão
original.
mas onde abundou o pecado, superabundou a graça — Aqui se
compara a multiplicação da uma ofensa em transgressões inumeráveis, e
o transbordamento de graça que é mais que suficiente para remediar o
caso.
21. a fim de que, como o pecado — Observe-se que a palavra
“ofensa” (ou “falta”) já não se emprega mais, porque já foi muito bem
ilustrada, mas sim o termo pecado, que melhor quadra com este resumo
compreensivo de todo o assunto.
reinou pela morte — antes, “na morte,” triunfando e
(aparentemente) alegrando-se naquela completa destruição de suas
vítimas.
assim também reinasse a graça — nos vv. 14 e 17 apresenta-se o
reino da morte sobre os culpados e condenados em Adão; nestes
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 57
versículos (20, 21) apresenta-se o reino de duas poderosas causas, ou
seja: do PECADO, que investe à morte soberana de um poder venenoso
(1Co_15:56) e de uma terrível autoridade (Rm_6:23); e da GRAÇA que
originou o plano de salvação, que “enviou o Filho para que fosse
Salvador do mundo,” que “fez pecado Àquele que não conheceu
pecado,” que “nos faz justiça de Deus nEle,” de modo que “os que
recebemos a abundância da graça e do dom da justiça, reinemos em
vida por um, Jesus Cristo”
pela justiça — Não a nossa, por certo (“não a obediência dos
cristãos”, segundo a desprezível linguagem que usa Grocio), nem
precisamente “a justificação” [Stuart, Hodge]; mas antes, “a justiça
(justificadora) de Cristo” [Beza, Alford, e em substância, Olshausen,
Meyer]; o mesmo termo que no v. 19 se traduz como a “obediência”
dEle, denotando toda Sua obra mediadora consumada na carne. Aqui se
fala dela como um meio justo pelo qual a graça chega a seus
destinatários e realiza seus fins, como o estável trono de onde a Graça,
como Soberana, dispensa seus benefícios salvadores a quantos se
sujeitam a seu benigno domínio.
para a vida eterna — Esta é a salvação em seu desenvolvimento
mais pleno para sempre.
mediante Jesus Cristo, nosso Senhor — Assim, com a menção
deste “Nome que é sobre todo nome,” calam-se os ecos deste hino à
glória da “Graça,” “e resta só Jesus.”
Recapitulando esta seção de ouro de nossa Epístola, sugerem-se as
seguintes observações:
(1) Se esta seção não ensinar que toda a raça de Adão, estando ele
como sua cabeça federal, “pecou nele e caiu com ele em sua primeira
transgressão,” bem podemos desesperar para toda exposição inteligível
deste feito. O apóstolo, depois de dizer que o pecado de Adão introduziu
a morte no mundo, não diz: “E assim passou a morte a todos, porque”
Adão pecou, mas sim: “Porque todos pecaram.” Assim que, segundo o
ensino do apóstolo: “a morte de todos deve-se ao pecado de todos;” e
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como isto não pode significar que se refira aos pecados pessoais de cada
indivíduo, mas antes a algum pecado do que as crianças inconscientes
são culpados igualmente como os adultos, não pode significar outra coisa
senão a “primeira transgressão” de sua cabeça comum, Adão,
considerada como o pecado de cada um que pertence à sua raça, e
castigada como tal, com a morte. É em vão que retrocedamos para
discutir a objeção de que a imputação feita a todos da culpa do primeiro
pecado de Adão tem a aparência de injustiça. Porque não só se prestam
todas as demais teorias à mesma objeção, em alguma outra forma —
além de estar em oposição com o texto — mas também as mesmas
verdades da natureza humana, que ninguém disputa e que não podem
ser esclarecidas, entranham essencialmente as mesmas dificuldades que
o grande princípio sobre o qual o apóstolo aqui as explica. Se
admitirmos este princípio baseando-nos na autoridade de nosso apóstolo,
em seguida se lançam torrentes de luz sobre certas fases do proceder
divino e sobre certas porções da Palavra de Deus, as quais de outra
maneira estariam rodeadas de muita escuridão; e se o próprio princípio
parece difícil de assimilar, não é mais difícil que o problema da
existência do mal, o qual, como um fato, não admite disputa, mas como é
uma fase da administração divina, não admite explicação no atual estado
de coisas.
(2) O que se chamou o pecado original, ou seja aquela tendência
depravada rumo ao mal com que todo filho de Adão vem a este mundo,
não se trata formalmente nesta seção (e até em Romanos 7 trata, antes,
de sua natureza e sua operação que de sua relação com o primeiro
pecado). Mas indiretamente, esta seção testifica desta ofensa original,
dessemelhante de toda outra, como se tivesse uma vitalidade duradoura
no peito de todo filho de Adão, como se fosse um princípio de
desobediência cuja virulência lhe mereceu o nome de “pecado original.”
(3) Em que sentido emprega-se a palavra “morte” nesta seção? Não
se emprega, certamente, para denotar a morte temporal, como afirmam
os comentadores arminianos. Porque como Cristo veio para desfazer o
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 59
que Adão fez, todo o qual está compreendido na palavra “morte,” seguir-
se-ia portanto que Cristo não fez mais que dissolver a sentença pela que
se separam a alma e o corpo na morte; em outras palavras, meramente
procurou a ressurreição do corpo. Mas o Novo Testamento ensina em
todas as partes que Cristo oferece a Salvação de uma “morte”
amplamente mais compreensiva que essa. Mas tampouco se usa a
palavra morte aqui no sentido do mal penal, isto é, “qualquer mal
infligido em castigo do pecado e em apoio da lei.” [Hodge]. Isto é muito
indefinido, pois faz com que a morte não seja senão uma mera figura de
dicção que denota o “mal penal” em geral — ideia alheia à simplicidade
da Escritura — ou ao menos faz com que a morte, estritamente assim
chamada, denote somente uma parte do que ela significa, recurso este
que não se deve aproveitar se se pode achar outra explicação mais
simples e mais natural. Por “a morte”, pois, nesta seção, entendemos a
destruição do pecador, no único sentido em que ele é capaz de entendê-
la. Também se chama “destruição” à morte temporal (em Dt_7:23;
1Sm_5:11, etc.), por ser a extinção de tudo o que os homens creem vida.
Mas uma destruição que compreende a alma tanto como o corpo, e que
abrange também o mundo futuro, está claramente expressa em Mt_7:13;
2Ts_1:9; 2Pe_3:16, etc. Esta é a “morte” penal de que trata nossa seção,
e compreendendo-a assim retemos seu devido sentido. A vida — como
um estado de desfrutar do favor de Deus, de completa comunhão com
Ele, e de voluntária sujeição a Ele — se mancha desde o momento em
que o pecado tem contato com a criatura; naquele sentido, a ameaça de
que: “No dia que dela comeres, certamente morrerás,” pôs-se com efeito
imediato no caso de Adão quando caiu, e desde então esteve “morto
enquanto vivia.” E nesta condição viveu toda sua posteridade desde seu
nascimento. A separação da alma e o corpo na morte temporal leva “a
destruição” do pecador a outro grau mais, pondo fim à sua conexão com
aquele mundo do qual extraía uma existência prazenteira mas não
bendita, e introduzindo-o na presença do Juiz — primeiro como uma
alma desincorporada, mas afinal no corpo também, numa condição
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 60
perdurável — “para ser castigado (e este é o estado final) com eterna
destruição da presença do Senhor, e da glória de seu poder.” Esta
extinção final em alma e corpo de tudo o que constitui a vida, mas com
um eterno conhecimento de uma existência manchada é, num sentido
mais amplo e mais terrível, “A MORTE!” Isto não pressupõe que Adão o
entendesse tudo. Basta que compreendesse que “o dia” de sua
desobediência era o prazo final de sua “vida” prazenteira. Naquela ideia
singela estava comprometido tudo o mais; mas que Adão compreendesse
os detalhes não era necessário. Nem é necessário supor que devamos
entender que tudo isso esteja compreendido na palavra “morte” cada vez
que esta seja empregada. Basta ter a certeza de que tudo que temos
descrito está no âmago da coisa e que se realizará em quantos não sejam
os felizes súditos do Reino de Graça. Sem dúvida, toda declaração está
compreendida em tais textos sublime e compreensivos como este: “Deus
… deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não
pereça, mas tenha a VIDA eterna” (Jo_3:16). E os horrores daquela
“MORTE” — que já “reina sobre” todos os que não estão em Cristo e
que se estão precipitando para sua consumação — não devem apressar
nossos passos rumo ao “Segundo Adão”, para que, tendo “recebido a
abundância da graça e do dom da justiça, reinemos em vida por Aquele
Um, Jesus Cristo”?
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 61
Romanos 6

Vv. 1-11. O valor da justificação pela graça para uma vida santa.
1. Que diremos, pois? ... — O tema desta terceira divisão de nossa
Epístola se anuncia com esta mesma pergunta inicial: “Continuaremos
(ou como é a leitura correta “poderemos continuar”) no pecado, para que
a graça cresça?” Se a doutrina que o apóstolo ensinava tivesse sido que a
salvação dependia em algum grau de nossas obras boas, não teria sido
possível fazer semelhante objeção contra ela. Contra a doutrina de uma
justificação exclusivamente gratuita, esta objeção é plausível; e não
houve época em que não se tenha insistido nela. Que tal acusação fosse
alegada contra os apóstolos, sabemo-lo por Rm_3:8; e por Gl_5:13;
1Pe_2:16; Jd_1:4, inteiramo-nos que havia aqueles que davam ocasião
para esta acusação; mas que era uma perversão total da doutrina da graça
o apóstolo aqui se propõe a comprovar.
2. De modo nenhum! — “Longe esteja de nós”. Tal pensamento
está em conflito com os instintos da nova criatura.
Como viveremos ainda no pecado, etc. — Lit., e com mais força,
“Os que já morremos ao pecado (como logo se explicará), como
viveremos ainda nele?
3. Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados
em Cristo — Comp. 1Co_10:2.
fomos batizados na sua morte? — Quer dizer, fomos selados com
o selo do céu, e como se tivesse sido formalmente combinado e
contratado, selados para todos os benefícios e todas as obrigações do
discipulado cristão em geral, e para sua morte em particular. E visto que
Cristo “foi feito pecado” e “uma maldição” a nosso favor (2Co_5:21;
Gl_5:13), “levando nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro,” e
“ressuscitado de novo por causa de nossa justificação” (Rm_4:25;
1Pe_2:24), toda nossa condição pecaminosa, tendo sido assumida em
Sua Pessoa, deu-se por terminada em sua morte. Aquele, pois, que foi
batizado na morte de Cristo abandonou simbolicamente toda sua vida e
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 62
condição de pecado, considerando estas coisas como mortas em Cristo.
foi selado para ser não só “a justiça de Deus nEle,” como também “uma
nova criatura;” e como não pode ser em Cristo uma coisa e não a outra.
pois ambas as coisas são uma, abandonou por seu batismo na morte de
Cristo, toda a sua conexão com o pecado. “Como, pois, pode viver ainda
no pecado?” As duas coisas são contraditórias tanto no fato como na
terminologia.
4. Fomos, pois — “fomos” no tempo aoristo, ato consumado.
sepultados com ele na morte pelo batismo — Leia-se: “…
sepultados junto com Ele, em Sua morte pelo batismo.” Em outras
palavras, “Pelo mesmo batismo que publicamente nos introduz em Sua
morte, fomos feitos partícipes também de Sua sepultura”. O fato de
deixar um cadáver sem enterrar é considerado pelos autores pagãos
assim como nas Escrituras, como a maior indignidade (Ap_11:8-9).
Convinha, pois, que o Cristo, depois de “morrer por nossos pecados
segundo as Escrituras,” “descesse até as partes mais baixas da terra”
(Ef_4:9). Assim como este foi o último e o mais baixo passo de Sua
humilhação, assim também foi dissolvido honradamente o último
vínculo de Sua conexão com aquela vida que Ele entregou pelos
pecadores; e nós, “ao ser sepultados com Ele por meio do batismo em
Sua morte,” cortamos com este ato público o último vínculo que nos unia
com toda aquela vida e condição pecaminosa a que Cristo deu fim em
Sua morte.
para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela
glória do Pai — Isto é, pelo exercício do poder do Pai que foi o
resplendor de toda Sua glória.
assim também andemos nós — como ressuscitados a uma vida
nova com Ele.
andemos nós em novidade de vida — Mas no que consiste esta
“novidade”? Certamente, se nossa velha vida, a morta e sepultada com
Cristo, foi totalmente pecaminosa, a nova, a que ressuscitamos com o
Salvador ressuscitado, deve ser totalmente uma vida santa; de modo que
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 63
cada vez que nos voltamos àquelas “coisas das quais agora nos
envergonhamos” (v. 21), desmentimos nossa ressurreição com Cristo a
novidade de vida, e “esquecemo-nos de que fomos purificados de nossos
pecados antigos” (2Pe_1:9). Se houvesse virtude salvadora no rito, talvez
seria o mesmo com pouca água, com muita água, ou simplesmente com
“a boa intenção.” O doente foi curado graças à sua fé no Senhor; outros
muitos foram curados sem tocar a veste de Jesus. Mas se o batismo é
uma cerimônia dada por Deus, uma justiça que se deve cumprir, um ato
público de confissão de pecado (“batismo de arrependimento”), um ato
de obediência da parte dos que reconhecem o Senhor, um simbolismo
sem virtude de salvação sacramental, e não um “meio de graça,” nem um
“selo” da salvação, mas sim um símbolo de uma digna sepultura, então é
de consequência a quantidade de água. É a mesma diferença de pouca ou
de muita terra quando se trata do enterro de um cadáver. O contato de
um torrão com o corpo não constitui uma sepultura. Se o batismo for
uma imersão — e tal é o significado da palavra — e é só um rito
simbólico, então o apóstolo pôde aplicar o simbolismo do batismo à
experiência da regeneração espiritual em Cristo, a qual descreve com
outro simbolismo: o de morte, sepultura e ressurreição. Emprega-se este
vocábulo muitas vezes em sentido metafórico, mas em cada caso é
aplicável à figura da imersão, na verdade expressa, quer seja no “batismo
do Espírito Santo,” que no Pentecostes encheu a casa onde estavam
todos reunidos [veja-se At_2:41]; quer seja “na nuvem,” em que o povo
foi batizado em Moisés; ou quer se trate da paixão do Senhor, que Ele
mesmo chamou um “batismo” (figura aplicável a uma imersão), em que
deve ter sido “batizado”, (quer dizer, alagado, e não levemente
“aspergido”).
5. Porque, se fomos unidos com ele — lit., “se fomos formados
junto em um.” (O vocábulo emprega-se somente aqui.)
na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na
semelhança da sua ressurreição — Quer dizer: “Visto que a morte e a
ressurreição de Cristo são inseparáveis em sua eficácia, a união com Ele
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 64
num caso, leva em si a participação no outro, para privilégio assim como
para obrigação.” O tempo futuro emprega-se com relação à ressurreição,
porque esta não se realiza senão parcialmente no presente estado. (veja-
se nota, Rm_5:19.)
6, 7. sabendo isto — O apóstolo agora usa uma linguagem mais
específica e vívida para expressar a eficácia de nossa união com o
Salvador crucificado para a destruição do pecado.
que o nosso velho homem (RC) — Quer dizer, “nosso eu anterior;”
tudo o que fomos em nossa antiga condição não regenerada, antes de
nossa união com Cristo (veja-se Cl_3:9-10; Ef_4:22-24; Gl_2:20;
Gl_5:24; Gl_6:14).
foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado (RC) —
Esta não é uma figura que expressa o “conjunto do pecado,” nem o
“corpo material”, tido pela sede do pecado, mas sim (assim julgamos) a
figura do pecado conforme habita em nós em nossa atual condição
corporal, sob a lei da queda.”
seja destruído — na morte de Cristo.
e não sirvamos o pecado — “estejamos na escravidão do pecado”.
7. porquanto quem morreu — “que já morreu”.
está justificado — “está libertado”.
do pecado — lit., “justificado,” “absolvido,” do pecado. Como a
morte dissolve toda reclamação, assim tudo o que o pecado reclama: não
só o “reinar para morte,” mas também o guardar a suas vítimas na
servidão pecaminosa, foi anulado de uma vez pela morte penal do crente
na morte de Cristo; de modo que já não é “devedor à carne para viver
segundo a carne” (Rm_8:12).
8. Ora, se já morremos com Cristo, etc. — (tempo aoristo.) Veja-
se nota, v. 5.
9-11. havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não
morre; a morte já não tem domínio sobre ele — Embora a morte de
Cristo tenha sido no sentido mais absoluto um ato voluntário (Jo_10:17,
Jo_10:19; At_2:24), tal entrega voluntária deu à morte tal “domínio
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 65
(legítimo) sobre Ele” que dissolve seu domínio sobre nós. Mas uma vez
passado isto, “já não tem a morte — nem aquele sentido — domínio
sobre Ele.”
10. morreu para o pecado — isto é, em obediência à reclamação
do pecado.
de uma vez para sempre — de uma vez por todas.
mas, quanto a viver — em obediência a Deus
vive para Deus — Nunca houve época alguma, com efeito, quando
Cristo não “vivesse para Deus.” Mas nos dias de Sua carne viveu sob a
carga contínua do pecado “posto nele” (Is_53:6; 2Co_5:21); enquanto
que, como já tem “tirado o pecado pelo sacrifício de si mesmo,” “vive
para Deus,” o Fiador absolvido e aceito, que não pode ser desafiado nem
posto em dúvida pelos reclamos do pecado.
11. Assim também vós — como fê-lo seu Senhor mesmo.
considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em
Cristo Jesus — (As palavras finais “nosso Senhor,” faltam-nos
manuscritos melhores).
Note-se:
(1) “A doutrina antinomianista não é tão somente um erro mas sim
uma falsidade e uma calúnia.” [Hodge.] Que “perseverássemos no
pecado, para que a graça crescesse,” não só nunca foi o sentimento
deliberado do verdadeiro crente na doutrina da graça, mas também é
aborrecível a toda mente cristã, como abuso monstruoso da mais gloriosa
de todas as verdades (v. 1).
(2) Assim como a morte de Cristo não somente expia a culpa, mas
também ocasiona a morte do próprio pecado em todos os que estão
vitalmente unidos a ele, assim a ressurreição de Cristo efetua a
ressurreição dos crentes, não só para a aceitação da parte de Deus, mas
também a uma novidade de vida (vv. 2-11).
(3) À luz destas duas verdades, examinem-se todos os que
proclamam o nome de Cristo, “se são da fé.”
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 66
Vv. 12-23. Ensinos práticos para os crentes que morreram ao
pecado e deram sua vida a Deus por sua união ao Salvador crucificado.
Não contente demonstrando que sua doutrina não tem tendência
alguma a afrouxar as obrigações de uma vida santa, o apóstolo aqui
passa a reforçá-la.
12. Não reine, portanto — como Mestre
o pecado — (O leitor observará que sempre que se empregam para
representar, figurativamente, a um amo, ou senhor, os vocábulos
“Pecado,” “Obediência,” “Justiça,” “Imundície,” “Iniquidade,”
imprimem-se nesta seção em maiúscula, para fazê-los ressaltar à vista e
assim evitar a explicação.)
em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas
paixões — Quer dizer, “os desejos do corpo,” como o é patente no
grego. (A outra leitura, que pode ser a correta, “as concupiscências dele”
[pecado], tem o mesmo significado). O “corpo” aqui se considera como
o instrumento pelo qual todos os pecados do coração se materializam na
vida externa, e deve ser o próprio corpo a sede dos apetites baixos; e ele
o chama “nosso corpo mortal,” provavelmente para nos lembrar quão
impróprio é este reino do pecado naqueles que são “vivos dentre os
mortos.” Mas o reino que aqui se menciona é o domínio não freado do
pecado dentro de nós. Seus atos externos se comentam em seguida.
13. nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado,
como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus — esta é a
grande entrega.
como ressurretos dentre os mortos — como frutos disto.
e os vossos membros — até agora entregues ao pecado.
a Deus, como instrumentos de justiça — Nos perguntamos: E se o
pecado imanente resultasse muito forte para nós? A resposta é: Mas não
resultará.
14. o pecado não terá domínio sobre vós — como se eles fossem
escravos de um senhor tirânico.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 67
pois não estais debaixo da lei, e sim da graça — A força desta
gloriosa segurança pode ser sentida só observando as bases em que
descansa. Estar “debaixo da lei” significa, primeiro, estar debaixo da sua
demanda de inteira obediência; e assim, logo, estar debaixo da sua
maldição pela infração dela. E porquanto todo o poder para obedecer
pode chegar ao pecador somente pela Graça, da qual a lei nada sabe,
segue-se que o estar “debaixo da lei” equivale em todo caso, a estar
limitados pela incapacidade de guardá-la, e conseguintemente, a ser
impotentes escravos do pecado. Por outro lado, estar “debaixo da graça,”
significa estar sob o glorioso pavilhão e os efeitos salvadores daquela
graça que “reina pela justiça para vida eterna por Jesus Cristo, nosso
Senhor” (veja-se nota Rm_5:20, 21). A maldição da lei lhes foi levantada
completamente; já estão “feitos a justiça de Deus nEle” e estão “vivos
para Deus, por Jesus Cristo”. Assim que, como quando estavam
“debaixo da lei” era impossível que o Pecado não tivesse domínio sobre
eles, assim agora que estão “debaixo da graça”, é impossível que o
Pecado não seja vencido por eles. Se antes o Pecado irresistivelmente
triunfava, agora a Graça será mais que vencedora.
15-16. E daí? ... Não sabeis — ou entendeis segundo o ditado do
senso comum.
16. daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência
— a quem vos entregais tendo em vista obedecer-lhe.
desse mesmo a quem obedeceis sois servos — ao que cedem tal
obediência.
seja do pecado para a morte — Isto é, que resulta na morte, no
terrível sentido de Rm_8:6, como a condição final do pecador.
ou da obediência para a justiça? — Isto é, a obediência que
resulta num caráter justo, como a condição perdurável de um servo da
nova Obediência. (1Jo_2:17; Jo_8:34; 2Pe_2:19; Mt_6:24).
17. Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado —
anteriormente, como algo já acontecido e passado para sempre.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 68
viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes
entregues — ou “lançados”, como se tivessem sido postos num molde.
A ideia é que o ensino a que se tinham entregue de coração, tinha
deixado neles seu selo peculiar.
18. e, uma vez libertados — quer dizer, em continuação: Graças a
Deus que libertados.
do pecado, fostes feitos servos da justiça — O quadro que aqui se
apresenta é a emancipação da escravidão de um Amo para estar sob a
completa servidão de outro, de cuja propriedade somos (veja-se nota,
Rm_1:1). Não há meio termo de independência pessoal, para a qual
nunca fomos feitos, e a qual não temos direito. Quando não queríamos
que Deus reinasse sobre nós, estávamos em justo juízo “vendidos sob o
Pecado”; o fato de estar agora “libertados do Pecado”, é só para ser
feitos “servos da justiça”, o que constitui nossa verdadeira liberdade.
19. Falo como homem — descendo, para ilustrar melhor seu
ensino, ao nível das coisas comuns.
por causa da fraqueza da vossa carne — a fraqueza de sua
compreensão espiritual.
Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão
da impureza e da maldade para a maldade, assim oferecei, agora, os
vossos membros para servirem à justiça para a santificação — antes,
“para alcançar a santificação”, como se traduz a mesma palavra em
2Ts_2:13; 1Co_1:30; 1Pe_1:2; quer dizer, “Para que vós, lembrando o
entusiasmo com que serviam ao Pecado e os esforços consagrados a isso,
sejam estimulados a mostrar igual zelo e igual exuberância no serviço de
um Senhor melhor”.
20. quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação
à justiça — rodearam este texto com dificuldades que não existem. O
significado do mesmo parece ser claramente o que segue: Visto que
“ninguém pode servir a dois senhores”, principalmente quando os
interesses respectivos de ambos estão em luta mortal e cada um exige o
todo do homem, assim, sendo escravos do Pecado, não foram em sentido
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 69
próprio escravos da Justiça, e nunca lhe fizeram nem um ato de serviço
verdadeiro; fosse qual fosse a sua crença dos direitos da justiça, seus
serviços, com efeito, eram todos e sempre em favor do Pecado: assim
tiveram a prova plena da natureza e as vantagens do serviço devotado ao
Pecado.” A pergunta escrutinadora que lhe segue demonstra que tal é o
sentido:
21. Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas
de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas é morte — Que
vantagem permanente, e que satisfação duradoura produziram aquelas
coisas? O apóstolo responde a sua própria pergunta: “Satisfação
duradoura, disse? Eles deixaram somente a vergonha,” “Vantagem
permanente? O fim delas é a morte.” Dizendo que eles agora “se
envergonhavam,” torna claro que não se refere àquele desgosto deles
mesmos, nem ao remorso da consciência que tantas vezes aguilhoa os
que impotentes “estão vendidos sob o pecado;” mas sim àquele sincero
sentido de auto-repreensão, que fere e oprime os filhos de Deus, quando
pensam na desonra que sua vida passada causou no nome do Senhor, na
ingratidão que desdobravam, na violência que fizeram à própria
consciência, em seus efeitos mortais e degradantes, e na morte — “a
segunda morte” a que os arrastava, quando a Graça os salvou. (Sobre o
sentido da palavra “morte” aqui, comp. Rm_5:21, 3a nota,; e Rm_6:16;
também Ap_21:8. — A mudança na pontuação que foi proposta por
alguns comentaristas: “Que fruto tinham então? coisas das quais agora se
envergonham” [Lutero, Tholuck, Do Wette, Philippi, Alford, etc.],
parece forçada e muito. A pontuação comum, ao menos tem um apoio
poderoso [Crisóstomo, Calvino, Beza, Grocio, Bengel, Stuart, Fritzsche].
22. Mas, agora (RC) — Como se fosse um alívio inexprimível o
afastar-se de semelhante tema.
libertados do pecado e feitos servos de Deus (RC) — no sentido
absoluto que se deu a entender em toda esta passagem.
tendes o vosso fruto para a santificação — Como no v. 19,
significando aquele estado e caráter permanente santo que resulta de
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 70
todos “os frutos de justiça,” que os crentes sucessivamente produzem.
Eles “têm seu fruto” para isto: quer dizer, que tudo tende a este feliz
resultado.
E, por fim, a vida eterna — que é o estado final do crente
justificado; a beatífica experiência não só da completa isenção da queda
com todos os seus efeitos, mas também da vida perfeita de aceitação
diante de Deus, e de conformidade à Sua imagem, de acesso descoberto
a Ele, e de inefável comunhão com Ele por toda a eternidade.
23. porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de
Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor — Este versículo
final — carregado e breve — contém a medula, o ouro muito fino, do
evangelho. Assim como o operário é digno de seu salário e sente que lhe
pertence por direito, assim é a morte o pagamento do pecado, o salário
próprio do pecador, pelo qual tanto trabalhou. Mas “a vida eterna” em
nenhum sentido, nem em grau algum, é o pagamento de nossa justiça;
nada fazemos absolutamente para ganhá-la ou para ter direito a ela, e
nunca poderemos fazer tal coisa; é portanto, e no sentido mais absoluto,
“A DÁDIVA DE DEUS”. A graça reina na distribuição da vida eterna
em todo caso, e isso “em Cristo Jesus, nosso Senhor,” como o justo meio
de sua entrega. Em vista disto, quem é aquele que, tendo provado que o
Senhor é bom, pode deixar de dizer: “Aquele que nos amou, e em seu
sangue nos lavou dos nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para
Deus e seu Pai; a ele glória e poder para todo o sempre. Amém.”
(Ap_1:5-6.)
Notas:
(1) Como a refutação mais eficiente da reiterada calúnia de que a
doutrina da salvação pela graça alenta a continuação no pecado, é a vida
santa daqueles que a professam, saibam os mesmos que o serviço mais
sublime que eles podem oferecer àquela Graça, que é sua única
esperança, é “sua própria entrega a Deus, como vivos dentre os mortos, e
seus membros como instrumentos de justiça a Deus” (vv. 12, 13).
Fazendo-o assim farão “calar a ignorância dos insensatos,” assegurarão
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 71
sua própria paz, realizarão o fim de sua vocação, e darão
substancialmente glória Àquele que os amou.
(2) O princípio fundamental da obediência evangélica é tão original
como é divinamente racional: que “somos libertados da lei a fim de
podê-la guardar, e somos postos pela graça sob a servidão da lei a fim de
estar livres (vv. 14, 15, 18). Enquanto não conheçamos nenhum princípio
de obediência senão os terrores da lei, a qual condena a todos os que a
infringem e não sabe nada absolutamente quanto a perdoar os culpados e
purificar os contaminados, estamos limitados sob a impossibilidade
moral de praticar uma obediência genuína e aceitável; por outro lado,
quando a graça nos eleva fora desta condição e, mediante a união com o
justo Fiador, introduz-nos num estado de consciente reconciliação e de
amorosa entrega de coração a Deus como nosso Salvador, imediatamente
sentimos a gloriosa liberdade para ser santos, e a segurança de que a
declaração, ‘O Pecado não mais terá domínio sobre nós,’ está em
harmonia com nossos novos gostos e aspirações, pois cremos firme a
base dela, ou seja: “que não estamos debaixo da Lei mas sim debaixo da
Graça.”
(3) Como esta transição, que é a mais importante na história de um
homem, tem origem inteiramente na livre graça de Deus, nunca se
deveria pensar, nem falar, nem escrever desta mudança interior sem
oferecer vivas ações de graça Àquele que tanto nos amou (v. 17).
(4) Os cristãos, ao servir a Deus, deveriam imitar a que foi sua
conduta anterior no zelo e perseverança com que serviram ao pecado e
os sacrifícios que a ele consagraram (v. 19).
(5) E para estimular esta santa rivalidade consideremos com
frequência “aquela rocha da qual fomos esculpidos, aquela fossa de onde
fomos tirados,” para estimar se houve vantagens duradouras e satisfações
permanentes no serviço rendido ao Pecado; e quando em nossas
meditações achemos que somente oferece absinto e fel, contemplemos o
próprio fim de uma vida ímpia, até que, achando-nos nas “regiões da
morte,” sintamos ânsias por voltar a contemplar o serviço da Justiça, o
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 72
novo Senhor de todos os crentes, quem está nos guiando docemente à
“santidade” perdurável e nos conduzindo, por fim, à vida eterna” (vv.
20-22).
(6) A morte e a vida estão diante de todos os que ouvem o
Evangelho: aquela, o resultado natural e a recompensa própria do
pecado; esta, absolutamente o livre “DOM DE DEUS” repartido aos
pecadores, “em Cristo Jesus, nosso Senhor.” Como a primeira é o
consciente sentir da perda fatal de toda existência feliz, assim a segunda
é a posse e gozo conscientes de tudo o que constitui a “vida” mais
sublime de uma criatura racional, para sempre jamais. (v. 23). Tu, que
lês ou escutas estas palavras: “Os céus e a terra tomo hoje por
testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a
bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua
descendência” (Dt_30:19).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 73
Romanos 7

Vv. 1-25. O mesmo tema continuado.

Vv. 1-6. A relação dos crentes à lei e a Cristo.


Voltando para a declaração em Rm_6:14, de que os crentes não
estão “debaixo da lei, mas debaixo da graça,” o apóstolo aqui ensina
como esta mudança se opera, e que consequências santas resultam dela.
1. falo aos que conhecem a lei — de Moisés, os quais, não sendo
judeus (Veja-se nota, Rm_1:13), contudo conheciam bem o Antigo
Testamento.
2, 3. marido ... se o mesmo morrer — “Se morrer o marido” como
no v. 3.
4. De modo que ... também vós fostes mortos à Lei pelo corpo de
Cristo (TB) — Quer dizer, por meio do corpo morto dEle. Aqui o
apóstolo deixa seu uso habitual de “morrestes,” para usar a frase mais
expressiva de “fostes mortos,” para patentear o que queria dizer
“crucificados com Cristo” (como em Rm_6:3-6, e Gl_2:20).
para pertencerdes a outro — estejais casados com outro.
a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que
frutifiquemos para Deus — Pensou-se que o apóstolo deve haver dito
aqui que “a lei morreu para nós,” não “nós para a lei,” mas que a
propósito mudou a ordem da figura, para evitar a aspereza aos ouvidos
dos judeus da morte da lei. [Crisóstomo, Calvino, Hodge Philippi, etc.].
Mas tal coisa é errar o propósito do apóstolo ao empregar a figura, que
foi para ilustrar o princípio geral de que “a morte dissolve a obrigação
legal.” Foi essencial para seu argumento que nós, não a lei, fôssemos
aqueles que morrêssemos, visto que somos nós os que somos
“crucificados” com Cristo, e não a lei. Esta morte dissolve nossa
obrigação conjugal à lei, e nos deixa livres para contrair uma relação
nova, a de ser unidos ao Ressuscitado, com o propósito de frutificar
espiritualmente para a glória de Deus. [Beza, Olshausen, Meyer, Alford,
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 74
etc.]. A confusão, pois, está nos expositores, não no texto; e tal confusão
se deveu a não se ter percebido que os crentes, como o próprio Cristo,
aqui são considerados como possuidores de uma vida dupla: a antiga,
que está condenada pelo pecado, a qual depõem com Cristo, e a nova
vida de aceitação e de santidade, à qual ressuscitam com seu Fiador e
Cabeça; e todos os resultados desta nova vida se consideram como o
“fruto” desta preciosa união com o Ressuscitado. A seguir se declara
como esta santa produção de frutos era impossível que se tivesse antes
de nossa união com Cristo.
5. Porque, quando vivíamos segundo a carne — Em nossa
condição não regenerada, assim como entramos no mundo. Veja-se nota,
Jo_3:6, e Rm_8:5-9.
as paixões — (como em Gl_5:24).
pecaminosas — Quer dizer, “a incitação a cometer o pecado.”
postas em realce pela lei — Pela ocasião da lei, a qual incomodava
e irritava nossa corrupção interna com suas proibições. Veja-se nota, vv.
7-9.
operavam em nossos membros — quer dizer, os membros de
nosso corpo, ou sejam os instrumentos por meio dos quais os desejos
ardentes internos acham expressão na ação, e chegam a ser realidades na
vida. Veja-se nota, Rm_6:6.
a fim de frutificarem para a morte — Morte no sentido de
Rm_6:21. Não há esperança, pois, de fruto santo, antes da união com
Cristo.
6. Mas, agora (RC) — Veja-se a nota sobre a mesma expressão
(em Rm_6:22, e veja-se Tg_1:15).
estamos livres da Lei (RC) — O vocábulo é o mesmo que, em
Rm_6:6 e em outras partes se traduz “desfeito,” e não é mais que outra
maneira de dizer (como no v. 4) que “fomos mortos à lei pelo corpo de
Cristo;” linguagem, embora áspera ao ouvido, foi escolhida por ser
adequada para impressionar o leitor com a violência daquela morte da
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 75
cruz, pela qual, como se fosse uma grua mortal, somos “arrancados da
lei.”
estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos — Há
agora um consenso universal de que a leitura verdadeira aqui é, “estando
mortos para aquela em que estávamos sujeitos.” A leitura recebida não
tem nenhuma autoridade qualquer, e é inconsistente com o estilo do
argumento; para a morte da qual se fala, como nós vemos, não é a da lei,
mas sim a nossa, pela união com o Salvador crucificado.
de modo que servimos em novidade de espírito — “na novidade
do espírito”.
e não em velhice de letra (RC) — Não para servir como antes,
obedecendo à lei divina de uma maneira literal, como se fosse um
sistema de regras externas de conduta, e sem referência alguma à
condição do coração; mas naquela nova maneira de obediência espiritual
que, mediante a união com o Salvador ressuscitado, aprendemos a render
(comp. Rm_2:29; 2Co_3:6).

Vv. 7-25. Inferências falsas referentes à lei, são rejeitadas. E


primeiro (vv. 7-13, ) no caso dos não regenerados.
7, 8. Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! —
Isto é: “Disse que quando estávamos na carne, a lei incitava nossa
corrupção interna, e havia assim ocasião de fruto mortal. Deve-se culpar
à lei, pois, por isso? Longe esteja de nós tal pensamento.”
Mas — “Ao contrário” (como em Rm_8:37; 1Co_12:22, grego).
eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei —
É importante que se compreenda o sentido da palavra “pecado” aqui.
Certamente, não se trata da natureza geral do pecado” [Alford, etc.],
embora seja verdade que esta é revelada na lei; porque tal sentido não
está de acordo com o que se diz nos versículos seguintes. O único
sentido que quadra com todo o expresso aqui é “o princípio do pecado no
coração do homem caído.” O sentido, pois, é este: “Por meio da lei
cheguei a saber quanta virulência e quanto poder tinha a propensão
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 76
pecaminosa que havia dentro de mim.” Não fazia falta a lei para revelar
a existência desta propensão, pois até os pagãos a reconheciam e
escreviam dela; mas a terrível natureza e o poder fatal dela, só a lei os
deu a conhecer na maneira que logo se descreve.
pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei, etc. — O mesmo
vocábulo raiz do grego se traduz por “desejo,” “cobiça,” e
“concupiscência,” o que obscurece o sentido. Usando somente a palavra
“concupiscência” no sentido amplo de todo “desejo irregular,” ou de
todo desejo do coração pelo proibido, se expressa melhor o pensamento;
de modo que diríamos: “Porque eu não teria conhecido a concupiscência,
se a lei não dissesse: Não terás concupiscência; mas o pecado,
aproveitando (tendo aproveitado) a ocasião por meio do mandamento
(que a proíbe), operou em mim toda forma de concupiscência.” Isto pois
nos mostra o significado mais profundo do mandamento que aquele que
as meras palavras sugerem. O apóstolo viu nele a proibição não só do
desejo de certas coisas nela especificadas, mas também do desejo de
todas as coisas por Deus proibidas; em outras palavras, toda
“concupiscência,” ou “desejo irregular.” Isto foi o que não conheceu
senão pela lei. A lei, que prescrevia todo desejo semelhante, incitava de
tal maneira sua corrupção que operava nele “toda sorte de
concupiscências”: todo tipo de desejos pelo proibido.
8. sem a lei — Isto é, antes de operar em nossa corrupta natureza
suas extensas demandas e proibições.
está morto o pecado — Quer dizer, o princípio pecaminoso de
nossa natureza jaz inativo, tão torpe, que sua virulência e seu poder não
se conhecem, e em nossos sentimentos está tanto como “morto.”
9. Outrora, sem a lei, eu vivia — Quer dizer, “Nos dias de minha
ignorância, quando era, neste sentido, alheio à lei, cria-me um homem
justo, e como tal, com direito à vida que Deus me tinha dado.”
mas, vindo o mandamento (RC) — que proibia todo desejo ilícito;
porque o apóstolo vê neste mandamento o espírito de toda a lei.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 77
reviveu o pecado — Quer dizer, em sua malignidade e força, o
pecado repentinamente se revelou como se ressuscitasse da morte.
e eu morri — “vi a mim mesmo homem morto, aos olhos da lei
que não guardei e que não se pode guardar.”
10. E — assim.
o mandamento que me fora para — dar
vida — mediante a observância dele.
se me tornou para morte — “para morte,” por tê-lo quebrantado.
11. Porque o pecado — minha natureza pecaminosa.
achando ocasião, me enganou pelo mandamento (TB) — me
desviou para fazer a mesma coisa que o mandamento proibia.
e por ele me matou (TB) — Me revelou que eu mesmo era um
homem condenado e perdido (comp. v. 9, “eu morri”).
12-13. a lei é santa; e o mandamento — tantas vezes aludido,
aquele que proíbe a concupiscência.
13. Acaso o bom se me tornou — “veio a ser”.
se me tornou em morte? De modo nenhum! — “longe disso!” —
“A culpa de minha morte tem-na a lei? Fora com semelhante
pensamento!”
Pelo contrário, o pecado — veio a ser-me morte a fim de
para revelar-se como pecado — para revelar-se em sua verdadeira
luz.
por meio de uma coisa boa, causou-me a morte — “para que se
fizesse …”
a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira
maligno — “Para que seu enorme entorpecimento ficasse à vista, por ter
convertido a santa, justa e boa lei de Deus numa provocação a cometer a
mesma coisa que ela proibia.” Até aqui a lei em sua relação com os não
regenerados, dos quais o apóstolo coloca-se como exemplo: primeiro,
em sua condição ignorante, satisfeito de si mesmo; logo, sob a
humilhante compreensão de sua incapacidade para guardar a lei, por
causa da oposição interna contra ela; finalmente, como homem que se
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 78
condena a si mesmo e que já, perante a lei, é homem morto. Tem-se
perguntado a que período de sua história se relacionam estas
circunstâncias. Mas não há por que pensar que esta descoberta tão
consciente e explícita se efetuasse em período algum antes que
“encontrasse o Senhor no caminho;” apesar de que “no meio da multidão
de seus pensamentos íntimos” durante os três dias memoráveis de
cegueira, tais pensamentos da lei e dele mesmo se revolveriam em sua
mente, até que tomassem uma forma mais ou menos como a que se
descreve aqui (veja-se nota, At_9:9), consideramos toda esta descrição
de suas lutas internas e progresso, antes, o resultado completo de todas
as suas lembranças passadas e reflexões subsequentes em sua condição
não regenerada, o que expressa em forma histórica somente para maior
viveza. Mas agora o apóstolo passa a refutar as inferências falsas
referentes à lei, em segundo termo, vv. 14-25, no caso dos regenerados,
tomando-se a si mesmo aqui também como um exemplo.
14. Porque bem sabemos que a lei é espiritual — em suas
demandas.
eu, todavia, sou carnal — (veja-se o v. 5), e como tal, incapaz de
render obediência espiritual.
vendido à escravidão do pecado — escravizado ao pecado. O “eu”
aqui, embora é óbvio não é o regenerado, nem tampouco o não
regenerado, mas sim o princípio pecaminoso do homem renovado, como
se diz expressamente no v. 18.
15, 16. o que faço, etc. (RC) — antes, “Porque não conheço o que
pratico”; isto é, “ao obedecer os impulsos de minha natureza carnal, ajo
como escravo de outra vontade que não é a de um regenerado.”
16. Ora, se faço o que não quero — antes, porque não pratico
aquilo que quero, mas sim aquilo que aborreço. Mas se fizer o que não
quero
consinto com a lei, que é boa — “o critério do homem interior
concorda com a lei.”
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 79
17. Neste caso, quem faz isto já não sou eu — não é o “eu”
regenerado que obra
mas o pecado — aquele principio de pecado, que ainda tem sua
morada em mim.
que habita em mim — Explicar esta declaração e as que seguem,
como fazem muitos (até Bengel e Tholuck), como se se tratasse dos
pecados cometidos pelos inconversos contra seu melhor juízo, é fazer
violência penosa à linguagem do apóstolo e afirmar a respeito do
inconverso o que é inverossímil. Aquela coexistência e mútua
hostilidade da “carne” e “o espírito” no próprio homem convertido, que
se ensina tão patentemente em Rm_8:4, etc., e em Gl_5:16, etc., é a
chave verdadeira e única da linguagem deste e dos versículos seguintes.
(É dificilmente necessário dizer que o apóstolo não pretende negar sua
responsabilidade de ceder à sua natureza corrupta, ao dizer: “Neste caso,
quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim.” Logo os
hereges começaram a abusar desta linguagem; mas todo o teor da
passagem demonstra que seu único propósito ao expressar-se assim, foi
para apresentar mais claramente a seus leitores o conflito dos dois
princípios antagônicos, e quão completamente ele como novo homem
em Cristo — que honrava no mais íntimo de sua alma a lei de Deus —
condenava e renunciava a sua natureza corrupta, com suas paixões e
concupiscências, suas excitações e maquinações, seus princípios e
consequências.
18. eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem
nenhum, pois o querer — “desejar”.
o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo — Aqui, de novo,
achamos o duplo eu do homem renovado: “Em mim não habita bem
nenhum; mas este eu corrompido não é o meu verdadeiro eu; não é mais
que o pecado que habita no meu verdadeiro eu, como homem renovado.”
19-21. Porque não faço o bem que prefiro — O conflito aqui
descrito graficamente entre o eu “que deseja” fazer o bem e o eu que
apesar disso faz o mal, não se refere às lutas entre a consciência e a
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 80
paixão do não regenerado, porque a descrição dada do “desejo de fazer o
bem” no v. 22 é tal que não se pode aplicar com verdade alguma senão à
pessoa regenerada.
22. Pois eu me deleito na Lei de Deus no homem interior (TB)
— “do profundo de meu coração.” O vocábulo que se traduz “deleitar,” é
por certo mais forte que o de “aprovar”; ou “consentir” do v. 16; mas os
dois expressam um estado de mente e coração que o homem não
regenerado não conhece.
23. Mas vejo ... outra lei — Poderia ser uma “diferente” [TB].
em meus membros — (veja-se nota, v. 5).
que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz
prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros — Neste
importante versículo, observe-se, primeiro, que o vocábulo “lei”
significa um princípio interno de ação, bom ou mau, que opera com o
rigor e regularidade de uma lei. O apóstolo achou estas duas leis dentro
de si: uma “a lei do pecado em meus membros,” chamada (em Gl_5:17,
Gl_5:24) “a carne que cobiça contra o espírito,” “a carne com suas
paixões e concupiscências,” isto é, o princípio pecaminoso que está no
não regenerado; a outra, “a lei da mente”, ou o princípio santo da
natureza renovada. Segundo, quando o apóstolo diz que “vê” um destes
princípios que “guerreia” contra o outro, e que o “leva cativo” a si
mesmo (“a lei do pecado”), não se refere a alguma rebelião que se
desenvolva com efeito nele enquanto escreve, nem a alguma cativeiro
por causa de seus concupiscências então existentes. Simplesmente
descreve os dois princípios antagônicos, e assinala o resultado respectivo
de cada um. Terceiro, enquanto que o apóstolo se descreve como “levado
cativo” pelo triunfo do princípio pecaminoso, fala claramente na pessoa
de um que é regenerado. O indivíduo não se sente cativo nos territórios
de seu próprio soberano, e associado com seus próprios amigos,
respirando uma atmosfera cordial e agindo espontaneamente. Mas aqui o
apóstolo se descreve, quando se sente sob o poder de sua natureza
pecaminosa, como aceso pela força e arrastado involuntariamente ao
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 81
campo de seu inimigo, de onde queria escapar. Isto deve decidir se fala
aqui como homem regenerado ou o contrário.
24. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo
desta morte? — O apóstolo fala do “corpo” aqui com referência à “lei
do pecado” que havia dito estava “em seus membros”, mas somente
como o instrumento por meio do qual o pecado do coração acha saída
para a ação, e como a sede dos apetites baixos (veja-se nota, Rm_6:6 e
Rm_7:5); e o chama o “corpo desta morte,” como se sentisse, no
momento de escrever, os horrores dessa morte (Rm_6:21, e Rm_7:5) à
qual fosse arrastado. Mas a linguagem não é de um pecador recém
despertado à realização de sua perdição; é o clamor de um crente vivo
mas triste que sofre sob o peso de uma carga que não é seu próprio eu,
mas sim uma que anela sacudir de seu regenerado ser. Nem se dá a
entender a pergunta que fosse ignorante, no momento da exclamação, do
modo como seria libertado. Não fez senão preparar o caminho para a
exclamação de gratidão, pelo remédio divino dispensado, que
pronunciaria em seguida:
25. Graças a Deus — a Fonte.
por Jesus Cristo, nosso Senhor — o Meio da libertação.
De maneira que — resumindo todo o assunto.
eu, de mim mesmo, com a mente — a mente à verdade.
sirvo à lei de Deus, mas, com a carne, à lei do pecado (RC) —
Quer dizer: “Tal. Pois. é o caráter inalterável destes dois princípios
dentro de mim. A santa lei de Deus é cara à mente renovada, e tem o
serviço de meu ser novo, embora a natureza corrupta, que ainda
permanece dentro de mim, segue escutando os ditames do pecado.”
Notas:
(1) Todo este capítulo foi de essencial utilidade aos reformadores
em suas contenções com a igreja de Roma. Quando os prelados daquela
corrupta igreja, num espírito pelagiano, negavam que o princípio
pecaminoso de nossa natureza caída, que eles chamavam
“concupiscência,” e que se chama usualmente “o pecado original,”
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 82
tivesse a natureza do pecado, lhes respondia vitoriosamente por meio
deste capítulo onde — tanto na primeira seção, que fala do pecado no
não regenerado, como na segunda, que trata de sua presença e sua
atuação nos crentes — explícita, enfática, e reiteradamente, lhe chama
pecado. Como tal, sustentaram eles, que era imperdoável. (Vejam-se as
Confissões tanto da igreja Luterana como das Reformas.) No século
subsequente, os ortodoxos da Holanda sustentaram a mesma controvérsia
com os “remonstrantes” (seguidores do Armínio), e a levaram a cabo
baseados sobre este capítulo.
(2) Aqui vemos que a incapacidade está em harmonia com a
responsabilidade. Veja-se o v. 18; Gl_5:17. “Como as Escrituras
reconhecem a existência destas duas características, assim se acham
constantemente unidas na experiência cristã. Cada um sente que não
pode fazer as coisas que quer fazer, mas crê-se culpado ao não fazê-las.
Que cada um se prove a si mesmo perante a demanda de amar a Deus
perfeitamente em todo tempo. Ai! Quão absoluta é nossa incapacidade!
Mas quanto nos acusamos e nos condenamos!” [Hodge.]
(3) Se o primeiro olhar à cruz pelo olho da fé, acende emoções
inesquecíveis que num sentido nunca se repetem — como a primeira
olhada a um panorama encantador — a descoberta experimental, em
períodos posteriores da vida cristã, de que a fé em Cristo tem poder para
esmagar e mortificar a inveterada corrupção, para limpar e curar as
apostasias prolongadas e as contradições assombrosas, e para triunfar
assim sobre tudo o que ameaça destruindo àqueles pelos quais Cristo
morreu, de modo que os leva a salvo pelos mares tempestuosos desta
vida até o porto de eternal repouso — se acompanha com maravilhas que
ainda mais nos embargam, evoca ações de graças mais expressivas, e
produz uma adoração mais exaltada dAquele cuja obra é desde o começo
até o fim nossa salvação (vv. 24, 25).
(4) Sentimos tristeza quando tais temas como estes são tratados
meramente como temas de interpretação bíblica ou de teologia
sistemática. Nosso grande apóstolo não os podia tratar sem relacioná-los
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 83
com a experiência pessoal, da qual os atos de sua própria vida e os
sentimentos de sua própria alma lhe proporcionaram as ilustrações tão
vivas quanto aplicáveis. Quando a gente não puder ocupar-se muito na
investigação do pecado imanente sem prorromper num “Miserável
homem que sou!” nem puder ir longe no caminho da libertação sem
exclamar: “Graças dou a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor!”, achará
que sua meditação é rica em fruto para sua própria alma, e poderá ter a
esperança, por Aquele que preside em tais assuntos, de que acenderá em
seus leitores ou em seus ouvintes as mesmas emoções benditas (v. 24,
25). Assim seja ainda agora, ó Senhor!
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 84
Romanos 8

Vv. 1-39. Conclusão de todo o argumento — A gloriosa perfeição


dos que estão em Cristo Jesus.
Neste insuperável capítulo as várias correntes do argumento
anterior encontram-se e fluem qual “rio de água da vida, claro como
cristal, que saía do trono de Deus e do Cordeiro,” até que parece
confundir-se no oceano de uma eternidade ditosa.

PRIMEIRO: A Santificação dos Crentes (vv. 1-13).


1. Agora, pois, já nenhuma condenação há, etc. — A conjunção
“pois” une esta passagem ao contexto anterior imediato. [Olshausen,
Philippi, Meyer, Alford, etc.]. O tema com que termina o capítulo 7 está
ainda sob consideração. O objetivo dos primeiros quatro versículos é o
ensinar como “a lei do pecado e da morte” está privada de seu poder de
sujeitar de novo os crentes na servidão, e como a santa lei de Deus
recebe deles a homenagem de uma obediência viva. [Calvino, Fraser,
Philippi, Meyer, Alford, etc.]
para os que estão em Cristo Jesus — Como Cristo, que “não
conheceu pecado,” foi, a todos os efeitos legais, “feito pecado por nós”,
assim somos nós, os que nEle cremos, para todos os efeitos legais,
“feitos justiça de Deus nEle” (2Co_5:21); e para os tais, feitos um com
Cristo na conta divina. “NENHUMA CONDENAÇÃO HÁ.” (comp.
Jo_3:18; Jo_5:24; Rom_5:18-19). Mas este não é um mero contrato
legal; é uma união em vida, tendo os crentes, pela imanência do Espírito
de Cristo neles, uma vida com Ele tão real, como a cabeça e os membros
do mesmo corpo têm uma só vida.
que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito (RC,
AV) — A evidência dos manuscritos parece indicar que esta frase não
formava parte do texto original deste versículo, mas sim a primeira parte
(“que não andam segundo a carne”) foi interpolada cedo, e a segunda
parte (“mas segundo o espírito”) foi tomada mais tarde do v. 4,
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 85
provavelmente como um comentário explicativo, e para tornar mais
suave a transição ao v. 2.
2. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou
(RC, AV) — referindo-se ao tempo de sua conversão, quando primeiro
creu.
da lei do pecado e da morte — É o Espírito Santo aquele que aqui
se chama o “Espírito da vida” [RA], como quem abre na alma dos
crentes uma fonte de vida espiritual (veja-se nota, Jo_7:38-39); assim
como também se chama “o Espírito da verdade,” aquele que “guia a toda
a verdade” (Jo_16:13), e “o Espírito de conselho e de fortaleza … de
conhecimento e de temor do Senhor” (Isa_11:2), como quem inspira
estas qualidades. É chamado “o Espírito da vida em Cristo Jesus,”
porque ele faz Sua morada nos crentes como membros de Cristo, e em
consequência disto, eles têm vida junto com sua Cabeça. E como a
palavra “lei” aqui tem o mesmo sentido como em Rm_7:23, ou seja, “um
princípio interno de ação, que opera com o arranjo e regularidade de uma
lei,” assim parece que “a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus” aqui
significa “aquele novo princípio de ação que o Espírito de Cristo pôs
dentro de nós: a lei de nosso novo ser.” Esta nos liberta ao tomar posse
de nosso homem interior, “da lei do pecado e da morte,” isto é, do poder
escravizador daquele principio corrupto que conduz à morte. O “forte
armado” é derrotado pelo “mais forte que ele;” o princípio mais fraco
fica destronado e expulso pelo mais potente; o princípio da vida
espiritual prevalece e põe em cativeiro o princípio da morte espiritual:
“levando cativo o cativeiro” Se tal for o que o apóstolo quer dizer, o
versículo completo significa que o triunfo dos crentes sobre sua
corrupção interna, pelo poder do Espírito de Cristo neles, prova que eles
estão em Cristo Jesus, e como tais estão absolvidos da condenação. Mas
isto se explica em seguida mais plenamente.
3, 4. o que fora impossível à lei — Versículo difícil e muito
controvertido. Mas nos parece claro que o que o apóstolo tem em sua
mente é a incapacidade da lei para nos livrar do domínio do pecado,
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 86
como já apareceu em parte (veja-se nota, v. 2), e aparecerá logo com
mais clareza. A lei podia irritar nossa natureza pecaminosa, para operar
de uma maneira mais virulenta, como vimos em Rm_7:5, mas não pôde
obter seu próprio cumprimento. Como se realiza isto, agora se
demonstrará.
no que estava enferma pela carne — Quer dizer, porquanto devia
dirigir-se a nós por meio de uma natureza corrompida, tão potente que
não se deixava influir por meros mandamentos e ameaças.
Deus — A oração é incompleta em sua estrutura, o que origina
certa confusão. O sentido é, que enquanto que a lei era impotente para
obter seu próprio cumprimento pelas razões dadas, Deus adotou o
método agora a ser demonstrado para obter tal propósito.
enviando o seu próprio Filho — Esta e expressões similares dão a
entender que Cristo era Filho de Deus antes que O enviasse: isto é, em
Sua própria Pessoa, e independentemente de Sua missão e aparição na
carne (veja-se nota, Rm_8:32, Gl_4:4); e se assim é, não só tem a mesma
natureza de Deus, assim como um filho tem a natureza do pai, mas sim é
essencialmente do Pai, embora seja num sentido muito misterioso para
que linguagem alguma nossa o defina devidamente (veja-se nota,
Rm_1:4). E esta relação peculiar menciona-se aqui para encarecer a
grandeza e definir a natureza da libertação provida, como que vinha
desde além dos limites da humanidade pecaminosa, e sem dúvida, da
própria Divindade.
em semelhança de carne pecaminosa — Uma expressão notável e
significativa. Foi feito na realidade de nossa carne, mas só à semelhança
de nossa condição pecaminosa. Ele tomou nossa natureza tal como está
em nós, rodeada de doenças, sem nada que O distinguisse como homem
dentre os homens pecadores, salvo o fato de que era sem pecado. Nem
significa que tomasse nossa natureza com todas as suas propriedades
menos uma; porque o pecado não é propriedade da humanidade, mas
sim somente o estado desordenado de nossas almas por pertencer à
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 87
família caída de Adão; desordem que afeta e penetra toda nossa natureza
mas desordem somente de nós mesmos.
e no tocante ao pecado — lit., “a respeito do pecado,” isto é,
“quanto ao pecado.” A expressão é intencionalmente uma expressão
geral, porque o fim desta passagem não é falar da missão de Cristo para
expiar o pecado, mas em virtude daquela propiciação, destruir o domínio
do pecado e extirpá-lo totalmente dos crentes. Cremos errônea, pois, a
leitura marginal: “e pelo sacrifício pelo pecado” (sugerida pela
linguagem da versão, e aprovada por Calvino e outros), porque tal
sentido é muito determinativo, e torna mais proeminente a ideia da
expiação do que realmente é.
condenou ao pecado (RC) — “Condenou-o a perder seu domínio
sobre os homens.” [Beza, Bengel, Fraser, Meyer, Tholuck, Philippi,
Alford]. Neste glorioso sentido nosso Senhor diz de Sua morte que se
aproximava (Jo_12:31, RC): “Agora, é o juízo deste mundo; agora, será
expulso o príncipe deste mundo;” e outra vez (veja-se nota, Jo_16:8, 11):
“Quando ele (o Espírito) vier, convencerá o mundo do … juízo ... porque
o príncipe deste mundo já está julgado;” isto é, condenado a deixar seu
domínio dos homens, aqueles que pela cruz serão emancipados para
desfrutar de liberdade, para chegar a ser santos.
na carne — quer dizer, na natureza humana, livre daí em diante do
poder do pecado.
4. a fim de que o preceito da lei — “a exigência justa” [Tradução
Brasileira], “os requisitos” [Alford], ou “o preceito” da lei, porque não é
esta precisamente a palavra usualmente empregada nesta Epístola para
expressar “a justiça que justifica” (Rm_1:17; Rm_3:21; Rm_4:5, 6;
Rm_5:17, 18, 21), mas sim outra forma da mesma raiz, que significaria a
promulgação da lei, e que aqui significa cremos, a obediência prática que
a lei demanda.
se cumprisse em nós — ou como dizemos, “se realizasse em nós.”
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 88
que não andamos — expressão antiquíssima da tendência da vida
de alguém, seja rumo ao bem ou rumo ao mal (Gn_48:15; Sl_1:1; Is_2:5;
Mq_4:5; Ef_4:17; 1Jo_1:6-7).
segundo a — quer dizer, segundo os ditames de
a carne, mas segundo o Espírito — Segundo o v. 9 pareceria que
o que se quis expressar aqui mais imediatamente por “o espírito,” é
nossa própria mente renovada e motivada pelo Espírito Santo.
5. Porque os que se inclinam para a carne — os que estão sob a
influência do princípio carnal.
cogitam das coisas da carne — “sentem o terreno” (Fp_3:19). Os
homens devem estar sob a influência ou de um ou de outro destes dois
princípios, e segundo preponderar um ou o outro, assim será a inclinação
de sua vida, o caráter de suas ações.
6. Porque — Esta é uma mera partícula de transição aqui
[Tholuck], como “pois bem,” “com efeito.”
o pendor da carne — “a predileção (v. 5, da mesma raiz) pelo
carnal.”
é morte (RC) — Não só resulta na morte [Alford], mas sim já é
morte; que leva a morte em seu peito, de modo que os tais estão “mortos
enquanto vivem” (1Tm_5:6. Ef_2:1, Ef_2:5). [Philippi.]
mas a inclinação do Espírito (RC) — “a mente do espírito”, isto é,
a predileção pelos fins espirituais.
vida e paz — Não “a vida” somente, em contraste com a morte,
que é o fim da outra predileção, mas também “a paz;” é o próprio
elemento do repouso mais profundo e a tal mais verdadeira da alma.
7. Porquanto a intenção da carne é inimizade contra Deus — O
desejo e o lucro dos fine carnais são um estado de inimizade contra
Deus, totalmente incompatível com a verdadeira vida e paz na alma.
pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar —
Quer dizer, em tal estado de mente não há nem pode haver a mais
mínima submissão à lei de Deus. Podem-se fazer muitas coisas que a lei
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 89
exige, mas nada se faz nem se pode fazer porque a lei de Deus o
requeira, nem simplesmente para agradar a Deus.
8. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus —
Vivem sob o governo da carne, sem princípios de obediência, nem
desejos de agradar a Deus.
9. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato,
o Espírito de Deus habita em vós — Isto não significa: “se a disposição
ou a mente de Deus habita em vós,” mas sim “se o Espírito Santo habita
em vós” (veja-se 1Co_6:11, 1Co_6:19; Rm_3:16, etc.). Daqui, pois,
concluímos que o estar “no espírito” significa estar sob o domínio de
nossa própria mente renovada; porque a imanência do Espírito de Deus
dá-se como evidência de que nós estamos “no espírito.”
E, se alguém não tem o Espírito de Cristo — Outra vez, isto não
significa “a disposição ou a mente de Cristo,” mas sim o Espírito Santo,
aqui chamado “o Espírito de Cristo,” assim como é chamado “o Espírito
da vida em Cristo Jesus” (veja-se nota, v. 2). É como o “Espírito de
Cristo” que o Espírito Santo toma posse dos crentes, gerando neles o
espírito ou a disposição mansa e humilde que também habitava nEle
(Mat_3:16; Jo_3:34). De modo que, se o coração de alguém carece, não
de tais disposições, mas sim do bendito Autor das mesmas, “o Espírito
de Cristo”.
esse tal não é dele — embora esteja intelectualmente convencido
da verdade do cristianismo, e num sentido geral influenciado pelo
espírito dele. Que declaração tão aguda e tão solene é esta!
10, 11. Se, porém, Cristo está em vós — em Seu Espírito
imanente, em virtude do qual temos uma vida com Ele.
o corpo, na verdade, está morto por causa — ou “em razão”
do pecado, mas o espírito é vida, por causa — ou “em razão”
da justiça — A frase “na verdade” tem a ideia de conceder razão:
“É verdade que o corpo está morto, e em consequência sua redenção está
incompleta, mas …;” quer dizer, “Se Cristo estiver em vós por Seu
Espírito imanente, embora vossos corpos devam passar pela experiência
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 90
da morte como consequência do pecado do primeiro Adão, vosso espírito
está cheio de “vida” nova e imortal, implantada pela “justiça” do
segundo Adão.” [Tholuck, Meyer e Alford, em parte, mas só Hodge
totalmente.]
11. Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus
dentre os mortos — Isto é, “Se mora em vós como o Espírito daquele
que ressuscitou a Cristo,” ou “em todo o poder da ressurreição que
exerceu ao levantar Jesus.”
esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos —
Note a mudança com o nome de Jesus, como o indivíduo histórico que
Deus levantou dos mortos, a Cristo, o mesmo indivíduo, considerado
como o Senhor e Cabeça de todos os Seus membros, ou seja, da
humanidade redimida. [Alford].
vivificará também — “até”
o vosso corpo mortal — pela leitura correta parece ser “em razão
de”
seu Espírito, que em vós habita — Quer dizer, “Vosso corpo, na
verdade não está livre da morte que o pecado introduziu; mas vosso
espírito mesmo agora tem em si uma vida imortal. E se o Espírito
dAquele que levantou dos mortos a Jesus habita em vós, até este vosso
corpo, embora ceda ao último inimigo e seu pó volta para o pó de onde
veio, ainda tem que experimentar a mesma ressurreição como a de Sua
Cabeça viva, em virtude da imanência em vós do mesmo Espírito que
vivificou a Ele.”
12, 13. Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como
se constrangidos a viver segundo a carne — Quer dizer, “Num tempo
estávamos vendidos à sujeição sob o Pecado (Rm_7:14); mas visto que
fomos libertados daquele duro amo, e chegamos a ser servos (escravos)
da Justiça (Rm_6:22), nada devemos à carne, desconhecemos suas
injustas pretensões e fazemos caso omisso de suas imperiosas
demandas.” Glorioso sentimento!
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 91
13. porque, se viverdes segundo a carne, morrereis (RC) — no
sentido de Rm_6:21
mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo — grego:
“do corpo”. (Veja-se nota, Rm_7:23).
vivereis — no sentido de Rm_6:22. O apóstolo não se contenta só
lhes assegurando que não estão sob obrigações algumas para com a
carne para escutar suas sugestões, mas também lhes lembra o resultado
disso se o fizerem; e emprega a palavra “mortificar” (matar) para fazer
uma espécie de jogo de palavras com o termo “morrereis” que antecede:
“Se vós não matardes o pecado, o pecado vos matará.” Mas isto o
tempera com uma alternativa lisonjeadora: “Se, pelo Espírito,
mortificardes as obras do corpo, tal curso infalivelmente resultará em
‘vida’ eterna”. E isto guia o apóstolo a uma linha nova de pensamento,
que introduz seu tema final: a “glória” que espera o crente justificado.
Notas:
(1) “Não pode haver segurança, santidade ou felicidade alguma,
para os que não estão em Cristo: nenhuma segurança, porque os tais
estão sob a condenação da lei (v. 1); nenhuma santidade, porque só
aqueles que estão unidos a Cristo têm o Espírito de Cristo (v. 9);
nenhuma felicidade, porque a “mentalidade carnal é morte” (v. 6).
[Hodge.]
(2) A santificação dos crentes, porquanto tem toda sua base na
morte expiatória, assim também tem sua fonte viva na imanência do
Espírito de Cristo (vv. 2-4).
(3) “A inclinação dos pensamentos, afetos, e ocupações é a única
prova decisiva do caráter (v. 5)” [Hodge.]
(4) Nenhum refinamento da mente carnal a tornará espiritual, nem
compensa pela falta da espiritualidade. “A carne” e “o espírito” são
essencial e imutavelmente contrários; de modo que a mente carnal, como
tal, não pode sujeitar-se à lei de Deus (vv. 5-7). Portanto,
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 92
(5) o afastamento de Deus e do pecador é mútuo, porque a condição
da mente do pecador é “inimizade contra Deus” (v. 7), e assim esta
condição “não pode agradar a Deus” (v. 8).
(6) Visto que o Espírito Santo chama-se indistintamente, ao mesmo
tempo, “o Espírito de Deus,” “o Espírito de Cristo,” e “Cristo” mesmo
(como uma vida imanente nos crentes), a unidade essencial e, contudo, a
distinção pessoal do Pai, do Filho e do Espírito Santo, numa só adorável
Divindade, deve ser crida como a única explicação consequente de tal
linguagem (vv. 9-11).
(7) A consciência da vida espiritual em nossa alma renovada é uma
gloriosa garantia da vida ressurreta do corpo também, em virtude do
mesmo Espírito vivificador que já habita em nós (v. 11).
(8) Seja qual for a profissão de vida religiosa que os homens façam,
consta eternamente que “se vivermos segundo a carne, morreremos,” e
somente “se, pelo Espírito, mortificamos as obras do corpo, viveremos”
(v. 13, e comp. Gl_6:7-8; Ef_5:6; Fp_3:18-19; 1Jo_3:7-8).

SEGUNDO: A filiação dos Crentes — Sua herança futura — A


Intercessão do Espírito a seu favor (vv. 14-27).
14. Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, etc. —
Até aqui o apóstolo falou do Espírito simplesmente como um poder por
meio do qual os crentes mortificam o pecado; agora fala dEle como
benéfico e amoroso Guia, cuja “direção”— desfrutada por todos aqueles
nos quais está o Espírito do amado Filho de Deus — ensina que eles são
também “filhos de Deus.”
15. Porque não recebestes — ao tempo de sua conversão
o espírito de escravidão — Isto é, “o espírito que recebestes não
era espírito de servidão.”
para viverdes, outra vez, atemorizados — como o estavam sob a
lei, a qual “opera ira;” quer dizer, “Tal era sua condição antes de crerem,
vivendo em servidão legal, acossados de constantes pressentimentos sob
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 93
o sentido de pecado não perdoado. Mas não é para perpetuar tal condição
desventurada que receberam ao Espírito.”
mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual
clamamos: Aba, Pai — A palavra “clamamos” é enfática, e expressa a
espontaneidade, a força, e a exuberância das emoções filiais. Em Gl_4:6
diz-se que o clamor procede do Espírito em nós, e dá origem à
exclamação filial em nossos corações: Aqui se diz que procede de nossos
corações sob a energia vitalizadora do Espírito, como o mesmo elemento
da vida nova nos crentes (comp. Mt_10:19-20; e nota, v. 4). “Aba” é o
vocábulo sírio-caldeu para “Pai;” e se adiciona a correspondente palavra
grega, não por certo para dizer ao leitor que ambas significam a mesma
coisa, mas pela mesma razão que motivou as duas palavras nos lábios de
Cristo mesmo durante Sua agonia no jardim (Mc_14:36). Ele gostava,
sem dúvida, de pronunciar o nome de Seu Pai nas duas formas usuais,
dando primeiro a de sua amada língua materna, e logo a que tinha
aprendido. Neste sentido, o uso de ambos os vocábulos aqui tem
simplicidade e ardor encantadores.
16. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos
filhos de Deus — Nosso próprio espírito dá testemunho de sua filiação
consciente ao clamar “Aba, Pai;” mas não estamos sozinhos nisso, visto
que o Espírito Santo dentro de nós, até naquele clamor que a Ele cabe
evocar, põe Seu selo preciso acrescentando-o ao nosso; e deste modo,
“na boca de duas testemunhas se estabelece toda palavra”. O apóstolo já
nos tinha chamado “filhos de Deus,” referindo-se à nossa adoção; aqui o
vocábulo muda e poderia traduzir-se por “meninos,” ou “filhinhos,” com
referência a nosso novo nascimento. O termo antes usado expressa a
dignidade de filhos a que fomos admitidos; este último expressa a nova
vida que recebemos. Este se adapta melhor aqui, porque um filho pela
adoção pode ser que não seja herdeiro da propriedade, enquanto que um
filho nascido certamente o é, e a esta ideia chega agora o apóstolo.
17. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de
Deus — do reino de nosso Pai
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 94
e co-herdeiros com Cristo — “o primogênito dentre muitos
irmãos” (v. 29), e “o herdeiro de todas as coisas”.
se com ele sofremos — “sempre que padeçamos”
também com ele seremos glorificados — Esta necessidade de nos
conformar a suportar o padecimento que Cristo sofreu a fim de participar
de Sua glória, ensina-a Cristo mesmo assim como Seus apóstolos
(Jo_12:24-26; Mt_16:24-25; 2Tm_2:12).
18. tenho por certo — “julgo”, ou “considero”
que os sofrimentos do tempo presente não podem ser
comparados com a glória a ser revelada em nós — Quer dizer:
“Verdade é que devemos padecer com Cristo, se queremos participar de
Sua glória; mas o que importa? Pois se se comparam tais padecimentos
com a glória vindoura, chegam a ser insignificantes.”
19-22. Porque (RC) — “O apóstolo, acalorado pelo pensamento da
futura glória dos santos, pronuncia esta esplêndida passagem em que
representa a toda a criação como gemendo sob a presente degradação,
esperando e desejando a revelação desta glória que é o fim e a
consumação de sua existência”. [Hodge].
a ardente expectação — (comp. Fp_1:20).
da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus — Isto é, “a
redenção de seus corpos” da tumba (v. 23), a qual revelará sua filiação,
agora encoberta (veja-se Lc_20:36; Ap_21:7).
20. a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente —
Quer dizer, não por nenhum princípio natural de decadência. O apóstolo,
personificando a criação, representa-a como somente submetendo-se à
vaidade com a qual foi ferida, por conta do homem, em obediência
àquele poder superior que misteriosamente tinha ligado o destino dela,
quer dizer, da vaidade, com o do homem. E por isso acrescenta:
mas por causa daquele que a sujeitou — “na esperança de”
21. que a própria criação será redimida do cativeiro da
corrupção — sua servidão ao princípio da corrupção.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 95
para a liberdade da glória dos filhos de Deus — Quer dizer, a
própria criação será, num sentido glorioso, libertada para desfrutar
daquela liberdade sobre a fraqueza e a corrupção na qual os filhos de
Deus, ressuscitados em glória, se espaçarão. [Assim opinam Calvino,
Beza, Bengel, Tholuck, Olshausen, De Wette, Meyer, Philippi, Hodge,
Alford, etc.]. Se só por causa do homem a terra foi amaldiçoada, não
pode nos surpreender o fato de que deveria ela participar da redenção
dele. Se assim for, o representá-la como compadecendo-se das misérias
do homem, e desejando a completa redenção dele para obter sua própria
emancipação de sua atual condição manchada pelo pecado, é um
pensamento belo que está em harmonia com o ensino geral das
Escrituras a respeito. (Veja-se nota, 2Pe_3:13).
23. E não somente ela, mas também nós — isto é, além da criação
inanimada.
que temos as primícias do Espírito — ou “o Espírito por
primícias” de nossa plena redenção (comp. 2Co_1:22), o qual amolda o
coração à norma celestial, moderando-o para seu futuro meio ambiente.
igualmente gememos — até nós mesmos, embora já temos uma
parte do céu em nós.
gememos em nosso íntimo — sob o peso deste “corpo de pecado e
de morte”, e sob a múltipla “vaidade e vexame de espírito” que estão
escritas em todo objeto e em toda ocupação e em tudo alegre debaixo do
sol.
aguardando — a manifestação de
a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo — do sepulcro:
“não (observe-se) a libertação de nós do corpo, mas sim a redenção do
próprio corpo do sepulcro”. [Bengel.]
24. Porque, na esperança, fomos salvos — quer dizer, é de fato
uma salvação em esperança de uma salvação da qual já se tomou posse.
Ora, esperança que se vê não é esperança — porque o sentido da
mesma palavra é: a expectativa de que algo ainda futuro se converterá
em presente.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 96
pois o que alguém vê, como o espera? — Quando chega o
esperado, já não se espera mais.
25. Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o
aguardamos — De modo que, nossa atitude deve ser o aguardá-lo com
paciência.
26, 27. Também o Espírito, semelhantemente — ou: “Mas da
mesma maneira o Espírito”
nos assiste em nossa fraqueza — Não só a que se especifica (a de
não saber orar), mas sim a fraqueza geral da vida espiritual em seu
presente estado, da qual se dá um exemplo:
porque não sabemos orar como convém — Não é que os crentes
se confundam com relação ao que devem pedir, visto que lhes deram
indicações extensas sobre este particular; mas sim o difícil é pedir o que
convém “como se deve”. Esta dificuldade surge em parte por causa da
obsuridade de nossa visão espiritual em nossa condição velada atual,
enquanto tenhamos que “andar por fé, não por vista” (vejam-se notas,
1Co_13:9; 2Co_5:7), e em parte, pela grande mescla de ideias e
sentimentos que se origina ao reconhecer que o que se aprecia com os
sentidos é algo passageiro, a qual ainda existe em nossa natureza
renovada e em nossos melhores conceitos e afetos; parcialmente também
pela inevitável imperfeição que há na linguagem humana para expressar
os mais sutis sentimentos do coração. Em tais circunstâncias, como é
possível que não haja muita incerteza em nossos exercícios espirituais, e
que, em nossa melhor compreensão de nosso Pai celestial e nas ferventes
orações de nossos corações a Ele, não nasçam dúvidas em nós quanto a
se nossa atitude mental em tais exercícios seja totalmente proveitosa para
nós e agradável a Deus? Tampouco minguam estas preocupações, antes
aumentam, com a profundidade e a maturidade de nossa experiência
espiritual.
mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com
gemidos inexprimíveis — quer dizer, que não se podem expressar em
linguagem articulada. Que ideias tão sublimes e comovedoras achamos
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 97
nesta passagem! A ideia é que “enquanto lutamos por expressar em
palavras os desejos de nosso coração e achamos que nossas emoções
mais profundas são o mais inexprimíveis, ‘gememos’ sob esta sentida
incapacidade. Mas não em vão são estes gemidos, pois ‘o mesmo
Espírito’ está neles, dando às emoções que Ele mesmo acendeu a única
linguagem de que são capazes. Assim que, embora os gemidos emitidos
do nosso lado são o fruto da impotência para expressar o que sentimos,
são ao mesmo tempo a intercessão do mesmo Espírito a nosso favor.”
27. E — melhor, “Mas,” por inarticulados que sejam estes gemidos.
aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito,
porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos
— Deus, o Esquadrinhador de corações, Ele olha as emoções que surgem
dentro deles ao dirigir-se a Ele em oração, e sabe perfeitamente o que o
Espírito quer dizer com os gemidos que Ele evoca em nosso interior,
porque o bendito Intercessor pede para eles só o que Deus Se propõe nos
repartir.
Notas:
(1) São os crentes “guiados pelo Espírito de Deus” (v. 14)? Quão
cuidadosos deveriam ser para não “entristecer o Espírito Santo de Deus”
(Ef_4:30)! Veja-se Sl_32:8-9 - “Guiar-te-ei com os meus olhos. Não
sejais como o cavalo, nem como a mula …”
(2) “O espírito de servidão,” ao qual muitos protestantes estão “por
toda a vida sujeitos,” e a fé incerta que a igreja papista sistematicamente
inculca, são aqui reprovados, pois estão em direto e penoso contraste
com aquele “espírito de adoção,” e aquele testemunho do Espírito, junto
com o nosso, da verdade de nossa adoção, da qual, segundo se diz aqui,
os filhos de Deus, como tais, desfrutam (vv. 15, 16).
(3) Como o padecimento com Cristo é a preparação que teremos
para poder participar desta glória, a insignificância de tal padecimento
comparado com a felicidade eterna, não pode senão aliviar o sentido do
mesmo por mais penoso e prolongado que for (17, 18).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 98
(4) O coração de todo cristão inteligente não pode senão alargar-se
ao pensar em que, se a natureza externa tiver sido misteriosamente
afetada para mal pela queda do homem, só espera seu completo
restabelecimento com a ressurreição, para experimentar uma
correspondente emancipação da nefasta condição dela a fim de desfrutar
de uma vida imarcescível e possuir uma beleza que não murcha (vv. 19-
23).
(5) Não é quando os crentes, por “apagar o Espírito” com seus
pecados, têm menos e mais obscuros olhares do céu, quando gemem
mais fervorosamente por estar lá; antes, pelo contrário, quando pela livre
operação do Espírito no coração deles, as “primícias” reveladas são
apreciadas mais ampla e frequentemente, então, e precisamente por essa
razão, “gemem dentro de si” por alcançar a plena redenção (v. 23).
Porque raciocinam desta maneira: Se assim forem as gotas, como será o
oceano? Se for tão doce “olhar por um espelho obscuramente”, que será
o olhar “face a face”? Se quando “meu Amado” ... estiver “detrás da
nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando pelas grades” (Ct_2:9)
— aquele fino véu que separa o visível do invisível — se mesmo assim
me parecer “mais belo que os filhos dos homens,” qual não será, quando
aparecer perante minha visão não ofuscada como o unigênito do Pai, em
minha própria natureza, e quando eu seja como Ele é, pois O verei assim
como é?
(6) A “paciência da esperança” (1Ts_1:3) é a devida atitude dos que
têm o conhecimento de que já estão “salvos” (2Tm_1:9; Tt_3:5), mas
que, contudo, têm também o penoso conhecimento de que não o são
senão em parte; ou “que sendo justificados pela graça dele são feitos (no
presente estado) herdeiros conforme à esperança (somente) da vida
eterna”. Tt_3:7 (Rm_8:24, 25);
(7) Como a oração é a respiração da vida espiritual, e o único alívio
eficiente do crente, quem ainda tem aderida a si a “fraqueza” em toda
sua condição terrestre, quão animador é que se nos assegure que o
bendito Espírito, conhecedor de toda ela, vai em nosso socorro; e em
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 99
particular, quando os crentes, impotentes para articular seu caso diante
de Deus, não podem às vezes fazer outra coisa senão ficar “gemendo”
perante o Senhor, que consolador é saber que estes gemidos inarticulados
são o próprio veículo do Espírito para pôr “nos ouvidos do Senhor de
Sabaoth nossa causa completa, e sobem perante Aquele que ouve as
orações como a própria intercessão do Espírito a nosso favor, e que são
reconhecidos por Aquele que está sentado no trono precisamente como a
própria expressão que sua própria “vontade” predeterminou lhes repartir
(vv. 26, 27)!
(8) Que revelação nos dão estes dois versículos (26, 27) das
relações existentes entre as Pessoas Divinas na dispensação da graça, e
da harmonia que há entre Suas respectivas operações no caso de cada um
dos redimidos!

TERCEIRO: Triunfante resumo de todo o argumento (vv. 28-39).


28. E (RC) — ou “além disso;” partícula ilativa.
sabemos, etc … — A ordem aqui, como no original é muito
chamativa: “Sabemos que aos que a Deus amam (comp. 1Co_2:9;
Ef_6:24; Tg_1:12; Tg_2:5) todas as coisas cooperam para o bem, (é ou
seja) aos que são chamados conforme ao propósito (eterno dele).”
Gloriosa segurança! E esta parece que era “uma expressão familiar”
coisa “conhecida” entre os crentes. Para eles é assunto muito natural que
todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus,” porque tais
almas, estando certas de que Aquele que deu a Seu próprio Filho por eles
não pode mais que procurar o bem deles em tudo o que Ele fizer,
aprendem assim a receber dEle tudo o que Ele lhes envie, por mais
penoso que for: e aos que são chamados, conforme ao “Seu propósito,”
todas as coisas em alguma forma inteligível “operam juntas para bem;”
porque, mesmo quando “ele tenha passado pelo redemoinho,” “o interior
de sua carruagem está revestido com amor” (Son_3:10). E sabendo que é
no cumprimento de um “propósito” eterno de amor pelo qual foram
“chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo” (1Co_1:9),
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 100
naturalmente dizem em seu íntimo: “Não pode ser que Aquele de quem,
e por quem, e para quem são todas as coisas, permita que tal propósito
seja frustrado por coisa alguma que nos seja contrária, e que não faça
com que todas as coisas, as obscuras como as claras, as torcidas como as
direitas, cooperem para o adiantamento e para a final consumação de seu
alto desígnio”.
29. Porquanto — com relação a esta chamada “segundo o seu
propósito”.
aos que de antemão conheceu, também os predestinou —
preordenou. Em que sentido temos que entender aqui a expressão “aos
que antes conheceu”? “Aos que Ele sabia anteriormente que se
arrependeriam,” respondem os pelagianos, de toda idade e de toda raça.
Mas isto é incluir no texto o que é contrário a todo o espírito, e até à letra
do ensino do apóstolo (veja-se Rm_9:11; 2Tm_1:9). Em Rm_11:2 e no
Sl_1:6, o “conhecimento” de Deus de Seu povo não pode ser restringido
à mera previsão de eventos futuros, nem ao conhecimento do que está
passando aqui embaixo. Significam a mesma coisa “os que antes
conheceu,” e “os que predestinou”? Dificilmente o podemos crer, porque
mencionam-se as duas coisas, “presciência,” e “predestinação,” e uma é
a causa da outra. É difícil, por certo, a nossas limitadas mentes classificá-
las como estados da mente divina com relação aos homens;
especialmente porquanto em At_2:23 “o conselho” de Deus coloca-se
antes de sua “providência” (em grego: “prognose,” quer dizer,
presciência), enquanto que em 1Pe_1:2 diz-se que a “eleição” é
“segundo a presciência de Deus.” Mas provavelmente a presciência de
Deus com referência a Seu povo significa Sua peculiar complacência
neles, cheia de graça, enquanto que a “preordenação,” ou
“predestinação” deles significa o propósito firme de Deus como
consequência daquela complacência, de “salvá-los e chamá-los com
vocação santa” (2Tm_1:9).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 101
para serem conformes à imagem de seu Filho — Quer dizer, para
que fossem feitos Seus filhos conforme o molde, modelo, ou imagem, de
Seu Filho ao tomar nossa natureza.
a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos — “O
Primogênito, o Filho de Deus segundo as leis naturais; seus “muitos
irmãos,” filhos por adoção. Ele, ao tomar a humanidade do Unigênito do
Pai, levou nossos pecados sobre a maldito madeiro; eles, ao possuir a
humanidade de meros homens, estavam prestes a perecer por causa do
pecado, mas foram redimidos da condenação e da ira, e transformados à
semelhança dEle. Ele é “o Primogênito dentre os mortos;” eles, os que
dormem em Jesus, serão em seu devido tempo “trazidos a Ele.” “O
Primogênito,” agora é “coroado de glória e honra;” Seus “muitos
irmãos,” quando Ele aparecer, “serão como Ele é, porque O verão tal
qual é.”
30. E — ou “Agora,” como uma explicação do versículo anterior:
quer dizer, ao nos predestinar para ser “feitos conforme à semelhança de
seu Filho” na glória final, Ele dispôs todos os passos sucessivos para sua
realização. Assim que
aos que predestinou, a esses também chamou — O vocábulo
“chamou” (como Hodge e outros com acerto observam) nunca se aplica
nas epístolas do Novo Testamento somente ao convite externo do
Evangelho (como em Mt_20:16; Mt_22:14). Sempre tem o sentido de
“chamar interna, eficiente, e salvadoramente.” Denota o primeiro grande
passo da salvação pessoal, e corresponde à “conversão.” Somente que a
palavra conversão expressa o caráter da mudança que tem lugar,
enquanto que esta “vocação” expressa a origem divina da mudança,
assim como o soberano poder pelo qual somos chamados — como
Mateus e como Zaqueu — fora de nossa antiga condição nefasta de
perdidos a uma nova vida segura de bem-aventurança.
e aos que chamou — assim
a esses também justificou — introduziu ao estado definido de
reconciliação já tão detalhadamente descrito.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 102
e aos que justificou, a esses também glorificou — Quer dizer,
levou à glória final (vv. 17. 18). Que nobre culminação, e quão
poeticamente é expressa! E tudo isto se contempla como algo que já
passou; porque, começando do decreto pretérito da “predestinação de ser
feitos segundo a imagem do Filho de Deus,” da qual os demais passos
não são senão desenvolvimentos sucessivos – tudo se contempla como
uma só salvação completa, eternamente aperfeiçoada.
31. Que diremos, pois, à vista destas coisas? — Quer dizer: “Não
podemos seguir, nem pensar, nem desejar mais.” [Bengel]. Toda esta
passagem, até o v. 34, e até o próprio fim do capítulo, impressiona a
todos os intérpretes e leitores reflexivos como transcendendo quase a
tudo o que há na linguagem humana, enquanto que Olshausen observa o
caráter “profundo e colossal” do pensamento.
Se Deus é por nós, quem será contra nós? — Se Deus estiver
decidido e ocupado em nos levar até alcançar a meta, todos os nossos
inimigos devem ser Seus inimigos, e “quem porá espinheiros e abrolhos
em batalha contra ele?” (Is_27:4). Que consolo mais eficaz achamos
aqui! E não só isto: também a grande promessa já está dada; pois,
32. Aquele que — antes: “certamente que aquele que …” (É uma
lástima perder de vista a partícula enfática do original.)
não poupou o seu próprio Filho — “não se reservou,” ou “não
reteve.” Esta expressiva frase, assim como todo o pensamento, é
sugerida por Gn_22:12, onde o comovedor elogio que Jeová faz à
conduta de Abraão com relação a seu filho Isaque, parece que se usa
aqui para dar uma olhada ao caráter de Seu próprio ato ao entregar o Seu
próprio Filho. “Toma agora (disse o Senhor a Abraão) o teu filho, o teu
único filho ... a quem amas” (Gn_22:2); e só quando Abraão fez tudo,
menos consumar aquele grande ato de abnegação, o Senhor se interpôs,
dizendo: “Já conheço que temes a Deus, porque não me recusaste o teu
único filho.” À luz deste incidente e desta linguagem, nosso apóstolo não
se propõe a expressar coisa menor que isto: que Deus, ao “não reservar-
se o Seu próprio Filho, mas sim entregá-lo,” consumou, em Seu caráter
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 103
paternal, um misterioso ato de abnegação que, embora não envolvesse
nada da dor nem nada da perda que são inseparáveis da mesma ideia de
abnegação de nossa parte, não foi menos real, mas sim, ao contrário,
tanto transcendeu a todos os nossos atos como transcende Sua natureza à
da criatura. Mas isto é inconcebível se Cristo for “o próprio Filho” de
Deus, partícipe da própria natureza de Deus, tão verdadeiramente como
Isaque o era da de Abraão seu pai. Neste sentido, por certo, os judeus
acusaram a nosso Senhor de fazer-se “igual a Deus” (veja-se nota,
Jo_5:18), o qual Ele respondendo logo se pôs, não a desmentir, mas sim
a ilustrar e a confirmar. Compreenda-se assim, pois, a filiação de Cristo
para com Deus, e a linguagem da Escritura referente a ela será inteligível
e harmoniosa; mas interprete-se esta filiação no sentido de uma relação
artificial, a qual lhe é atribuído quer seja em virtude de Seu nascimento
milagroso, ou de sua ressurreição dos mortos, ou da grandeza de Suas
obras, ou de tudo isto em conjunto, e as passagens que dela falam nem se
explicam nem harmonizam umas com as outras.
antes, o entregou (RC) — não à morte meramente (como muitos
entendem), pois isso seria uma ideia muito limitada, mas sim “o
entregou” no sentido mais completo; comp. Jo_3:16 – “Deus amou o
mundo de tal maneira que DEU o seu Filho unigênito.”
por todos nós (RC) — Isto é, por todos os crentes igualmente;
assim o entendem quase todos os bons intérpretes.
como (RC) — é possível pensar que
não dará também com ele todas as coisas? (RC) — Porque todos
outros dons são de valor incomensuravelmente inferior a este Dom dos
dons, e nele estão virtualmente incluídos.
33, 34. Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? etc.
— Esta é a primeira vez nesta Epístola que os crentes são chamados “os
eleitos”. O sentido em que se entende aqui este termo aparecerá no
capítulo seguinte.
34. É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou —
para confirmar os propósitos de sua morte. Aqui, como em outros casos,
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 104
o apóstolo com gosto se corrige (veja-se Gl_4:9, e nota Rm_1:12), não
querendo dizer que a ressurreição de Cristo fosse de mais valor salvador
que Sua morte, mas sim “tendo ele tirado o pecado com o sacrifício de si
mesmo” — o que nos é precioso, mas foi de inexprimível amargura para
Ele — era incomparavelmente mais prazenteiro pensar que já vivia de
novo, e que vivia para ver a eficácia de Sua morte em nosso proveito.
o qual está à direita de Deus — A mão direita do rei era
antigamente o posto de honra (comp. 1Sm_20:25; 1Rs_2:19; Sl_45:9), e
significava participação no poder e glória reais (Mt_20:21). A literatura
clássica tem alusões similares. Assim, o fato de Cristo estar sentado à
mão direita de Deus (que foi predito no Sl_110:1 e foi aludido
historicamente em Mc_16:19; At_2:33; At_7:56; Ef_1:20; Cl_3:1;
1Pe_3:22; Ap_3:21), significa a glória do exaltado Filho do homem, e o
poder no governo do mundo, em que Ele participa. Por isso é que se diz
“sentado à mão direita do poder” (Mt_26:64), e “sentado à mão direita
da majestade nas alturas” (Hb_1:3). [Philippi.]
e também intercede por nós — usando de sua ilimitável influência
perante Deus a nosso favor. Isto é o zênite do clímax. “O estar sentado à
mão direita de Deus denota Seu poder para nos salvar; sua intercessão
indica Sua vontade para fazê-lo”. [Bengel]. Mas como devemos entender
esta intercessão? Por certo não como quem suplica “posto de joelhos,
com os braços estendidos,” para usar a expressão de Calvino. Nem
tampouco é uma mera intimação figurativa de que o poder da redenção
esteja em ação continuamente [Tholuck], nem simplesmente para
demonstrar o ardor e a veemência de seu amor por nós. [Crisóstomo].
Não se pode crer que signifique menos que isto: que o glorificado
Redentor, consciente de Seus direitos, expressamente manifesta Sua
vontade de que a eficácia de Sua morte cumpra seu absoluto propósito, e
a pronuncia em algum estilo real tal como aquele que lhe vemos
empregar naquela maravilhosa oração de intercessão quando falava
como se fosse de dentro do véu (veja-se nota, Jo_17:11-12): “Pai,
aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 105
comigo” (veja-se nota, Jo_17:24). Mas em que forma esta vontade se
expressa é indiscernível assim como de pouca importância.
35. Quem nos separará do amor de Cristo? — Isto não significa
“de nosso amor por Cristo,” como se dissesse o apóstolo, “quem nos
impedirá de amar a Cristo?, mas sim “do amor de Cristo por nós,” como
está claro nas palavras concludentes do capítulo, as quais se referem ao
mesmo tema. Nem harmonizaria o outro sentido com o teor de todo o
capítulo, o qual é para exibir a ampla base da confiança do crente em
Cristo. “Não é nenhuma base de confiança o afirmar, nem mesmo o
sentir, que nunca jamais abandonaremos a Cristo; antes, a rocha mais
firme de nossa segurança é o convencimento de que Seu amor nunca
mudará.” [Hodge]
tribulação? etc. — Vale dizer que “nenhuma destas coisas, nem
todas elas em conjunto, por mais terríveis que sejam à carne, são sinais
da ira de Deus, nem são motivo algum para duvidar de Seu amor.” De
quem melhor viria tal pergunta que de si mesmo que tinha suportado
tanto por amor a Cristo? (Veja-se 2Co_11:11-33; 1Co_4:10-13). O
apóstolo não diz (observa Calvino) “o que?” mas sim “quem nos
separará?”, como se todas as criaturas e todas as aflições fossem
gladiadores armados contra os cristãos. [Tholuck].
36. Como está escrito: Por amor de ti, etc. — Aqui se cita o
Sl_44:22 como descritivo do que os cristãos podem esperar da parte de
seus inimigos em qualquer período, quando despertar o ódio à justiça e
não haja nada que o impeça (veja-se Gl_4:29).
37. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores,
por meio daquele que nos amou — Isto não significa que “estejamos
tão longe de ser vencidos por elas, que em vez de nos fazer dano, nos
façam bem” [Hodge]; porque embora seja verdade isto, a palavra
significa simplesmente: “Vencemos, ou somos vencedores
preeminentemente.” Veja-se nota, Rm_5:20. E tão longe estão elas de
“nos separar do amor de Cristo”, que justamente “por meio dAquele que
nos amou” somos vitoriosos sobre elas.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 106
38, 39. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem
os anjos, nem os principados, nem as potestades (RC) — sejam bons
ou ímpios. Mas como não se chama ímpios aos “anjos,” nem aos
“principados, nem as potestades,” salvo com algum qualificativo que
especifique tal sentido (Mt_25:41; Cl_2:15; Ef_6:12; 2Pe_2:4 — com
exceção talvez de 1Co_6:3), provavelmente se entende aqui “os bons,”
mas somente no sentido, como o apóstolo supõe, de que um anjo do céu
pregasse um evangelho falso. (Assim opinam os melhores intérpretes.)
nem o presente, nem o porvir (RC) — Quer dizer, nenhuma
condição da vida presente, nem coisa alguma das possibilidades
incógnitas da vida vindoura.
39. nem qualquer outra criatura — quer dizer coisa alguma de
todo o universo criado de Deus.
poderá separar-nos — “Todos os termos aqui têm que ser
entendidos em seu sentido mais geral, e não necessitam de definição
mais completa. As expressões indefinidas têm por fim denotar tudo o
que se pode pensar da totalidade, e não são senão paráfrase de tal
conceito.” [Olshausen.]
do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor —
Desta maneira, pois, este maravilhoso capítulo com que conclui em
forma devida o argumento da Epístola, deixa os que somos “justificados
pela fé”, nos braços do eterno Amor, de onde nenhum poder hostil nem
evento concebível algum jamais nos poderá arrancar. “Eis aqui que sorte
de amor é este?” E, “como deveríamos ser” os que assim somos
“abençoados com toda bênção espiritual em Cristo”?
Note-se:
(1) Há uma gloriosa compatibilidade entre os eternos propósitos de
Deus e o livre-arbítrio dos homens, embora o elo de enlace esteja além
da compreensão humana (v. 28).
(2) Quão enobrecedor o pensamento de que os complicados
movimentos do governo divino estão todos coordenados expressamente
para procurar o “bem” dos escolhidos de Deus (v. 28)!
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 107
(3) Quanto ao grau a que serão elevados enfim os crentes para ser
feitos segundo o Filho de Deus em dignidade e em glória será a alegria
de cada um deles que, como é o mais próprio, “em todas as coisas ele
tenha o primado” (Cl_1:18) (v. 29).
(4) “Assim como há bela harmonia e necessária relação entre as
várias doutrinas da graça, assim deve haver harmonia similar no caráter
do cristão. Ele não pode experimentar a alegria e a confiança que
emanam de sua eleição, se não tiver a humildade que a consideração do
caráter gratuito dela deve produzir; nem pode ter a paz de alguém que foi
justificado se não possuir a santidade de alguém que foi salvo” (vv. 29,
30). [Hodge.]
(5) Por mais difícil que seja às mentes finitas compreender as
emoções da mente divina, não duvidemos nunca por um momento de
que Deus, “ao não poupar o seu próprio Filho” “antes, entregando-o por
todos nós,” fez um sacrifício verdadeiro de tudo o que era mais caro a
Seu coração, e que ao fazê-lo, quis assegurar a Seu povo para sempre
que tudo o mais que eles necessitassem — porquanto não é nada em
comparação com este dom, mas sim é a necessária consequência do
mesmo — em seu devido tempo será proporcionado (v. 32).
(6) Em recompensa por semelhante sacrifício da parte de Deus, o
que poderia considerar-se como um sacrifício grande demais de nossa
parte?
(7) Se pudesse haver dúvida alguma quanto ao significado da
importante palavra “JUSTIFICAÇÃO” usada nesta epístola: quer seja,
como a igreja de Roma ensina, e outras muitas afirmam, que signifique
“a infusão da justiça nos não santos, de modo que sejam feitos justos,”
ou segundo o ensino protestante, “a absolvição, ou remissão, ou o
declarar justos os culpados, o v. 33 deveria aquietar toda dúvida
semelhante. Porque a pergunta do apóstolo aqui é: “quem apresentará
alguma acusação contra os escolhidos de Deus?” — em outras palavras,
“quem os declarará.” ou “os terá por culpados”? visto que “Deus os
justifica”: o que demonstra que se entendia que “justificar” expressava
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 108
precisamente o contrário de “ter por culpado;” e por conseguinte (como
argui triunfantemente Calvino) significa “absolver de toda acusação de
culpabilidade.”
(8) Se pudesse haver alguma dúvida razoável referente à luz em que
se devesse contemplar a morte de Cristo nesta Epístola, o v. 34 deveria
tranquilizar totalmente tal dúvida. Pois temos a pergunta do apóstolo:
quem condenará os escolhidos de Deus, visto que “Cristo morreu” por
eles? O que comprova fora de toda dúvida (como argui com razão
Philippi) que foi o caráter expiatório daquela morte que o apóstolo tinha
em sua mente.
(9) Que ideia tão afável do amor de Cristo nos revela aqui ao saber
que sua grande intimidade com Deus e o muito poderoso interesse mútuo
de ambos — ao estar “sentado à mão direita” de Deus — se empregam
em favor de Seu povo sobre a terra (v. 34)!
(10) “Todo o universo, com tudo o que há nele, enquanto isso seja
bom, é amigo e aliado do cristão; mas assim que seja mau, é um inimigo
mais que vencido” (vv. 35-39). [Hodge.]
(11) Estamos nós, os que provamos “que o Senhor é bom,” sendo
“guardados pelo poder de Deus pela fé para a salvação” (1Pe_1:5), e
também rodeados pelos braços do invencível Amor? Por certo, então,
“edificando-nos em nossa santíssima fé,” e “orando no Espírito Santo,”
com quanto mais razão deveríamos nos sentir constrangidos a
“permanecer no amor de Deus, pela misericórdia de nosso Senhor Jesus
Cristo, para vida eterna” (Jd_1:20, Jd_1:21).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 109
Romanos 9

Vv. 1-33. A aplicação das verdades precedentes à condição e o


destino do povo eleito — A eleição — A vocação dos gentios.
Bem consciente do fato de que fosse tido por traidor dos interesses
mais caros de seu povo (At_21:33; At_22:22; At_25:24), o apóstolo dá
começo a esta divisão de seu tema, protestando seus sentimentos
verdadeiros com extraordinária veemência.
1, 2. Digo a verdade em Cristo — como embebido do espírito
dAquele que chorou sobre a impenitente Jerusalém condenada (comp.
Rm_1:9; 2Co_12:19; Fp_1:8)
testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria
consciência — quer dizer, “minha consciência, agora vivificada,
iluminada e sob o direto influxo do Espírito Santo.”
2. tenho grande tristeza — ou “que tenho muita tristeza e
incessante angústia de coração”, porquanto a amarga hostilidade de sua
nação para com o glorioso Evangelho, e a terrível consequência de sua
incredulidade, está pesando continuamente sobre seu espírito.
3. porque eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo,
por amor de — em favor de
meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne — Ao sentir-
se tão separado de sua nação, parece notar ainda mais clara a relação
natural entre ele e eles. Para explicar o aparente desejo aqui expresso
como muito forte para que o diga ou pense um cristão, alguns traduzem
o verbo por “desejava,” fazendo-o referir a seu anterior estado não
iluminado: sentido da frase muito suave; outros sem razão suavizam o
sentido da palavra “separado,” que no original grego, significa “ser
amaldiçoado.” Esta tradução dá o verdadeiro sentido do original, e a
dificuldade se desvanece quando se entende que a linguagem deve
expressar “emoções fortes e indistintas antes que ideias definidas”
[Hodge], para revelar como as emoções embargavam o apóstolo em seu
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 110
anelo pela salvação de seu povo, o que nos faz lembrar a ideia similar tão
nobremente expressa por Moisés, em Êx_32:32.
4. São israelitas — Veja-se Rm_11:1; 2Co_11:22; Fp_3:5.
Pertence-lhes a adoção — É verdade que, em comparação com a
nova dispensação, na antiga incluía-se uma minoria em processo de
aprendizagem, que ainda estava sob servidão (Gl_4:1-3); entretanto,
comparada com o estado dos pagãos circunvizinhos, a eleição de Abraão
e sua semente foi uma verdadeira separação deles para formar uma
família de Deus (Êx_4:22; Dt_32:6; Is_1:2; Jr_31:9; Os_11:1; Ml_1:6).
e também a glória — significando aquela “glória de Jeová,” “o
sinal visível da presença divina no meio deles,” que repousava sobre a
arca e enchia o tabernáculo durante todas as suas peregrinações pelo
deserto; a qual em Jerusalém seguiu deixando-se ver no tabernáculo e no
templo, e só deixou de aparecer quando, com o cativeiro, o templo foi
derrubado e começou a pôr-se o sol da antiga dispensação. Esta era o que
os judeus chamavam a “shekiná”.
as alianças — “as alianças da promessa” (Ef_2:12), para as quais
os gentios antes de Cristo eram estrangeiros; o que significa a aliança
feita com Abraão e suas sucessivas renovações (veja-se Gl_3:16-17).
a legislação — ou “dádiva da lei” no monte Sinai, e sua possessão
dela desde então, o que os judeus consideravam com razão sua peculiar
honra (Dt_26:18, 19; Sl_147:19-20; Rm_2:17).
o culto — de Deus; ou do santuário, denotando todo o serviço
religioso divinamente constituído na celebração do qual se sentiam tão
aproximados a Deus.
e as promessas — as grandes promessas abraâmicas,
sucessivamente desenvolvidas, e que tiveram seu cumprimento só em
Cristo; veja-se Hb_7:6; Gl_3:16, Gl_3:21; At_26:6-7.
5. deles são os patriarcas — aqui se faz referência, provavelmente
aos três grandes pais da aliança, Abraão, Isaque e Jacó, cujos nomes
Deus condescendeu a usar unidos ao Seu para identificar-se. (Êx_3:6,
Êx_3:13; Lc_20:37).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 111
e também deles — o privilégio mais eminente de todos, e como tal,
nomeado por último
descende o Cristo, segundo a carne — veja-se nota, Rm_1:3.
o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém!
— Para desfazer-se do brilhante testemunho aqui dado em favor da
suprema divindade de Cristo, adotaram-se vários inquéritos: (1) Ou
colocando um ponto ortográfico depois de “carne,” fazendo com que a
frase que o segue seja uma doxologia tributada ao Pai, ou, pondo-o
depois de “coisas,” com o mesmo fim. [Erasmo, Locke, Fritzsche,
Meyer, Jowett, etc.]. Mas é fatal para esta opinião, como o próprio
Socino admite, o fato de que em outras doxologias das Escrituras a
palavra “bendito” precede o nome de Deus em quem se invoca a bênção
(como “Bendito o Deus de Israel,” Sl_68:35; “Bendito o Senhor Deus, o
Deus de Israel,” Sl_72:18). Além disso, qualquer doxologia semelhante
nesta passagem seria “sem sentido e fria em extremo;” porquanto o tema
triste que está por tratar-se sugeriria tudo menos uma doxologia, embora
fosse com relação à encarnação de Cristo. [Alford]. (2) ou fazendo com
que o pronome relativo “dos quais” se refira aos pais,” e não aos
israelitas, quer dizer: “dos quais pais é Cristo segundo a carne.”
[Crellius, Whiston, Taylor, Whitby]. Mas este é um expediente sem
fundamento, diante de toda a autoridade dos manuscritos. Também é
conjetura de Grocio e de outros que a palavra “Deus” deveria ser omitida
do texto. Resulta porque não temos nada de doxologia, senão uma mera
declaração de uma verdade: que enquanto que Cristo é “da nação
israelita “segundo a carne,” Ele é em outro respeito “Deus sobre todos,
bendito pelos séculos.” (Em 2Co_11:31 a mesma frase grega que aqui se
traduz “o qual é,” usa-se no mesmo sentido; e veja-se Rm_1:25, no
grego.). Nesta interpretação da passagem, como um testemunho da
suprema divindade de Cristo, além dos pais ortodoxos, estão de acordo
alguns dos mais eruditos críticos modernos. [Bengel, Tholuck, Stuart,
Olshausen, Philippi, Alford, etc.].
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 112
6. Não que a palavra de Deus haja faltado (RC) — “caído por
terra” “fracassado;” veja-se Luc_16:17, grego.
nem todos os de Israel são, de fato, israelitas — Aqui o apóstolo
empreende o profundo tema da ELEIÇÃO, cujo desenvolvimento segue
até o fim do capítulo onze. Vale dizer: “Não pensem que eu chore a
perda total de Israel; porque isso significaria que Deus faltou à promessa
que fez a Abraão; mas nem todos os que pertencem à semente natural de
‘Israel’, e levam tal nome, são o Israel da irrevogável eleição de Deus.”
As dificuldades que rodeiam este tema não se acham no ensino do
apóstolo, o qual é bem claro, mas nas próprias verdades, a evidência das
quais, tomadas por si só, é esmagadora, mas cuja harmonia perfeita está
além da compreensão humana em sua atual condição. A grande origem
de erro aqui repousa na inferência apressada (como de Tholuck e outros)
de que, porquanto o apóstolo toma em consideração, no fim deste
capítulo, a chamada dos gentios em conexão com o rechaço de Israel,
continuando este tema através dos dois seguintes, a eleição de que se
trata neste capítulo é a nacional, e não a pessoal, e por conseguinte, é
uma eleição somente para desfrutar de vantagens religiosas e não de
eterna salvação. Em tal caso, o argumento do v. 6, onde começa o tema
da eleição, seria este: “A eleição de Abraão e sua semente não fracassou,
porque mesmo quando Israel foi rejeitado, os gentios ocuparam o lugar
dele; e Deus tem o direito de escolher a nação que Ele quiser para que
desfrute dos privilégios de Seu reino visível.” Mas em lugar de ser
assim, os gentios nem são mencionados senão no fim do capítulo;
portanto, o argumento é, que “nem todo Israel é rejeitado, mas sim só
uma porção dele, sendo o remanescente o Israel que Deus escolheu no
exercício de Seu direito soberano.” E que a eleição não é para desfrutar
de privilégios externos, senão para eterna salvação, aparecerá pelo que
segue.
7-9. nem por serem descendentes de Abraão são todos seus
filhos — Quer dizer, “não corre a eleição pela linha da descendência
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 113
física; de outro modo, Ismael, o filho de Agar, e até os filhos de Quetura,
seriam incluídos, o que não é o caso.”
mas — a verdadeira eleição são aqueles da semente de Abraão que
Deus incondicionalmente escolhe, assim como está exemplificado na
promessa]:
Em Isaque será chamada a tua descendência — (Gn_21:12).
10-13. E não ela somente, mas também Rebeca, etc. — poder-se-
ia pensar que havia razão natural por que preferir o filho de Sara, por ser
ela a verdadeira e a primeira esposa de Abraão, excluindo assim o filho
da escrava, e os filhos de Quetura, sua segunda esposa. Mas não podia
haver tal razão no caso de Rebeca, esposa única de Isaque, porque se
escolheu a Jacó em lugar de Esaú, sendo os dois filhos da mesma mãe, e
se escolheu o mais novo em preferência ao mais velho, e antes do
nascimento dos dois, e em consequência antes que tivessem feito bem ou
mal nem um nem o outro, para que houvesse tal base preferivelmente: e
tudo foi para demonstrar que a única base da distinção estava na
incondicional eleição de Deus: “Não por obras, mas por aquele que
chama.”
14. Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo
nenhum! — Esta é primeira de duas objeções feitas à doutrina que se
acaba de expor, de que Deus escolhe um e rechaça o outro não por causa
das obras deles mas no exercício de Seu próprio beneplácito: que “esta
doutrina é incompatível com a justiça de Deus.” A resposta a esta
objeção segue até o v. 19, onde achamos uma segunda objeção.
15. Pois ele diz a Moisés — (Êx_33:19).
Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e
compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão — Quer
dizer: “Não há injustiça no fato de Deus escolher a quem quer, porque a
Moisés lhe diz expressamente que Ele tem direito a fazê-lo.” Mas é
digno de notar que isto se expressa em forma positiva em vez de na
negativa: não se diz: “não terei misericórdia senão dos que quero”; mas
sim “terei misericórdia de quem quero.”
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 114
16. Assim, pois, não depende de quem quer — de quem tem o
desejo interno.
ou de quem corre — de quem faz o esforço ativo (comp.
1Co_9:24, 1Co_9:26; Fp_2:16; Fp_3:14). Estas duas coisas são
indispensáveis para a salvação; mas a salvação não se deve nem a uma
nem à outra, mas sim depende “de Deus, quem tem misericórdia.”
Comp. nota, Fp_2:12-13 : “Desenvolvei a vossa salvação com temor e
tremor, porque é Deus Aquele que em vós opera tanto o querer como o
efetuar, segundo a sua boa vontade.”
17. Porque a Escritura diz a Faraó — note-se aqui em que luz
contempla o apóstolo a Escritura.
Para isto mesmo te levantei — O apóstolo tinha demonstrado que
Deus reclama para Si o direito a escolher a quem quer; aqui usa um
exemplo para ensinar que Deus também castiga a quem quer. Mas “Deus
não fez mal a Faraó; somente se absteve de fazer o bem fazendo uso de
sua graça especial. [Hodge.]
para mostrar em ti o meu poder — Não foi porque Faraó fosse
pior que outros pelo que o tratou desta maneira, senão para que ele
chegasse a ser um monumento da justiça penal de Deus, e com este
propósito Deus dispôs que o mal que estava nele fosse manifestado nesta
forma determinada.” [Olshausen.]
e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra — “este
é o princípio sobre o qual se aplica todo castigo, para que seja conhecido
o verdadeiro caráter de Deus como Legislador. Esta é de todas as
finalidades, no que a Deus se refere, a suprema, a mais importante; em si
mesmo a mais digna, e em seus resultados a mais benéfica.” [Hodge.]
18. Logo — o resultado é então que
tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem
lhe apraz — abandonando-o judicialmente à influência endurecedora do
próprio pecado (Sl_81:11-12; Rm_1:24, Rm_1:26, Rm_1:28; Hb_3:8,
13), e dos incentivos que o rodeavam para operar o pecado (Mt_24:12;
1Co_15:38; 2Ts_2:17).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 115
A segunda objeção à doutrina da soberania divina:
19. Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem
jamais resistiu — “resiste;” é o tempo perfeito com força do presente.
à sua vontade? — Quer dizer: “Esta doutrina é incompatível com a
responsabilidade humana.” Se Deus escolhe e rechaça, perdoa e castiga,
aos que Lhe agrada, por que se culpa àqueles que, rejeitados por Ele, não
podem menos que pecar e perecer? Esta objeção demonstra tão
conclusivamente como a anterior, a verdadeira natureza da doutrina
objetada, ou seja, que a eleição e a não eleição à eterna salvação vem
antes que toda diferença de caráter pessoal. Esta é a única doutrina que
poderia sugerir a objeção aqui ditada, e a esta doutrina a objeção é
plausível. Qual é, pois, a resposta do apóstolo? É dupla. Primeiro: “É
uma irreverência e presunção da parte da criatura acusar o Criador.”
20, 21. Quem és tu, ó homem, para discutires — que “brigas”
com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez:
Por que me fizeste assim? — (Isa_45:9)
21. Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo
barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra? — “A
objeção se baseia na ignorância ou má compreensão da relação existente
entre Deus e Suas pecaminosas criaturas, que supõem que Ele está sob
obrigações de estender Sua graça a todos, já que não está sob obrigações
para com ninguém. Mas porquanto todos são pecadores e perderam todo
direito à misericórdia de Deus, compete perfeitamente, pois, a Deus
perdoar a uns e a outros não, fazer um copo para honra e outro para
desonra. Mas é preciso ter em conta que Paulo não fala aqui do direito de
Deus sobre Suas criaturas como criaturas, mas sim como criaturas
pecaminosas: como ele mesmo intima claramente nos seguintes
versículos. Ele responde à reflexão de uma criatura pecaminosa contra
Deus, e o faz demonstrando que Deus não está obrigado a dar Sua graça
a ninguém, mas sim é tão soberano como quem forma o barro.” [Hodge.]
Mas segundo: “Não há nada injusto em tal soberania.”
22, 23. Que diremos, pois, se Deus, querendo — pensando
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 116
mostrar a sua ira — Seu santo desagrado contra o pecado.
e dar a conhecer o seu poder — de castigá-lo.
suportou com muita longanimidade os vasos de ira — quer
dizer, “destinados à ira;” assim como a expressão “vasos de
misericórdia,” que se usa em seguida, significa “vasos destinados à
misericórdia;” veja-se Ef_2:3, “filhos da ira.”
preparados para a perdição — Foi bem observado por Stuart que
“as dificuldades que tais palavras envolvem não devem desaparecer
apenas por suavizar a linguagem de um texto, visto que nos encontramos
com outros muitos que são do mesmo teor; e mesmo quando nos
desfizéssemos da própria Bíblia, enquanto reconheçamos a um Deus
onipotente e onisciente, não poderíamos diminuir absolutamente as
dificuldades que tais textos expõem.” Note-se, entretanto, que se Deus,
como o apóstolo ensina, expressamente “se propôs manifestar sua ira e
dar a conhecer o seu poder” (fazendo uso da ira), não poderia fazê-lo
senão castigando a alguns e perdoando a outros; e se a eleição entre as
duas classes não devia basear-se, como nosso apóstolo ensina, nas obras
próprias deles mas no beneplácito de Deus, a decisão deveu corresponder
finalmente a Deus. Contudo, até no necessário castigo dos ímpios, como
Hodge observa, longe de proceder com indevida severidade, o apóstolo
quis que se notasse que Deus “suportou com muita mansidão” àquelas
que foram objeto de Seu justo desagrado.
23. a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua
glória em vasos de misericórdia — Aqui se descreve aquela “gloriosa
exuberância da misericórdia divina” que se manifestou em escolher e em
fazer os preparativos eternos para a salvação dos pecadores.
24. os quais somos nós, a quem também chamou — Não só nos
preparou de antemão, mas também oportunamente na realidade “nos
chamou”.
não só dentre os judeus, etc. — Melhor: “Não dentre os judeus
somente, mas também dentre os gentios.” Aqui pela primeira vez neste
capítulo se introduz a vocação dos gentios; todo o anterior tinha que ver,
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 117
não com a substituição dos gentios chamados em lugar dos judeus
rejeitados, mas com a eleição de uma porção e com o rechaço de outra
porção do mesmo Israel. Se o rechaço de Israel tivesse sido total, a
promessa de Deus a Abraão não teria sido cumprida por terem sido
substituídos os gentios em lugar deles; mas sendo só parcial o rechaço de
Israel, a conservação de um “remanescente”, em que a promessa se
confirmou, não foi senão “de acordo com a eleição de graça.” E agora,
pela primeira vez, o apóstolo nos diz que junto com este eleito
remanescente de Israel, é o propósito de Deus “tirar dentre os gentios um
povo para seu nome” (At_28:14); e tal tema, agora proposto, continua até
o fim do capítulo onze.
25. Assim como também diz em Oséias: Chamarei povo meu ao
que não era meu povo; e amada, à que não era amada — Esta
passagem é citada, mas não literalmente, de Os_2:23, e se relaciona
imediatamente, não aos gentios, mas sim ao reino das dez tribos; mas
como estes se sumiram ao nível dos pagãos que não eram “povo de
Deus,” e em tal sentido “não amados,” o apóstolo licitamente o aplica
aos gentios, como “afastados da comunidade de Israel e estrangeiros às
alianças da promessa” (assim 1Pe_2:10).
26. E sucederá (RC) — outra citação de Os_1:10.
que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo, aí
serão chamados filhos do Deus vivo (RC) — A expressão, “no lugar …
aí,” parece indicada para dar maior ênfase à benéfica mudança aqui
anunciada, da exclusão divina à admissão divina para desfrutar dos
privilégios do povo de Deus.
27-29. Mas, relativamente a Israel, dele clama Isaías — A
expressão “proclama” denota um testemunho solene dado com clareza
(Jo_1:15; Jo_7:28, Jo_7:37; Jo_12:44; At_23:6; At_24:41).
Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do
mar, o remanescente é que será salvo — isto é, somente o resto.
28. Porque o Senhor cumprirá a sua palavra sobre a terra — O
ajuste de contas está por terminar-se e cumprir-se em justiça.”
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 118
cabalmente e em breve — Is_10:22-23 segundo a LXX. O sentido
dado a estas palavras pelo apóstolo, poderá parecer diferente do que quis
lhe dar o profeta. Mas a identidade de seu sentimento de ambos os
lugares aparecerá em seguida, se entendermos aquelas palavras do
profeta, “a destruição lembrada (‘decretada’) transbordará justiça,” no
sentido de que enquanto que um remanescente de Israel seria conservado
para voltar do cativeiro, “a consumação decretada” da impenitente
maioria seria “repleta de justiça”, ou manifestaria ilustremente a justa
vingança de Deus contra o pecado. A “conta abreviada” parece significar
o rápido cumprimento de sua palavra, tanto em desprezar uma porção
como em salvar a outra.
29. E como antes disse Isaías (RC) — Isto é, provavelmente, numa
parte anterior de sua profecia, ou seja Is_1:9.
Se o Senhor dos exércitos — ou “de Sabaoth.” O vocábulo é
hebraico, mas aparece assim na epístola de Tiago (Tg_5:4), e dali se
naturalizou em nossa fraseologia cristã.
não nos tivesse deixado descendência — que significa um “resto”;
pequeno a princípio, mas que em seu devido tempo seria semente
abundante (comp. Sl_22:30-31, Is_6:12-13);
ter-nos-íamos tornado como Sodoma — Se não fosse pela
preciosa semente, o povo escolhido teria sido como as cidades da
planície, tanto na degeneração de caráter como no destino merecido.
30, 31. Que diremos, pois? — “Qual é, pois, o resultado de tudo
isto?” O resultado é muito diferente do que alguém teria pensado.
Que os gentios, que não buscavam a justificação, vieram a
alcançá-la, todavia, a que decorre da fé — Como vimos que a justiça
que é pela fé é a justiça que justifica (veja-se nota, Rm_3:22), este
versículo deve significar que “os gentios, sendo estranhos a Cristo, eram
indiferentes quanto à sua relação com Deus, e tendo abraçado o
evangelho assim que foi pregado, experimentaram a bem-aventurança da
condição de justificados.”
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 119
21. e Israel, que buscava a lei de justiça, não chegou a atingir
essa lei — A palavra “lei” usa-se aqui, pensamos, no mesmo sentido
como em Rm_7:23, para denotar “um princípio de ação:” quer dizer, que
“Israel, embora sincera e constantemente buscou alcançar a aceitação de
Deus, entretanto, falhou.”
32, 33. Por que? Porque não a buscavam pela fé, mas como que
pelas obras (TB) — Creram que assim se obteria, mas estavam errados;
e visto que se alcança somente pela fé, fracassaram em seu empenho.
de modo que (AV) — é duvidoso que a partícula assim traduzida
estivesse no texto original.
Tropeçaram na pedra de tropeço — Melhor dizendo: “contra a
pedra de tropeço,” a qual é Cristo. Mas nisto fizeram só
33. como está escrito — (Is_8:14; Is_28:16).
Eis que, etc. — Neste versículo achamos duas predições
messiânicas combinadas, coisa não pouco comum nas citações do Antigo
Testamento. A predição assim combinada, reúne numa as duas classes de
pessoas das quais trata o apóstolo: aqueles para os quais o Messias não é
mais que uma pedra de tropeço, e aqueles que O têm como a principal
Pedra de Esquina de todas as suas esperanças. Assim interpretado, este
capítulo não apresenta dificuldades sérias, a não ser que surjam do
próprio tema, cujas profundidades são insondáveis; enquanto que com
relação a qualquer outra interpretação do mesmo, a dificuldade de lhe
dar alguma explicação compatível e digna é a nosso juízo insuperável.
Note-se:
(1) Falar e operar “em Cristo”, com a consciência não só iluminada
mas também sob a operação eficaz do Espírito Santo, não é coisa
estranha aos sobrenaturalmente inspirados, e deveria ser uma experiência
apreciada por todo crente (v. 1).
(2) A graça não destrói os sentimentos naturais, mas sim que os
eleva e intensifica, e isto os cristãos deveriam tratar de demonstrá-lo (vv.
2, 3).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 120
(3) O pertencer à igreja invisível de Deus e desfrutar de suas santas
prerrogativas, é um dom da soberana misericórdia de Deus, e deveria ser
considerado com gratidão reverente (vv. 4, 5).
(4) Entretanto, as mais sagradas distinções e privilégios externos
nada valerão para a salvação se o coração não se submeter à justiça de
Deus (vv. 31-33).
(5) Que classe de pessoas deveriam ser os “escolhidos de Deus”:
em humildade, ao lembrar que Ele os salvou e chamou, não segundo
suas obras, mas sim segundo o Seu propósito e graça para com eles em
Cristo Jesus, antes de que o mundo existisse (2Tm_1:9); em gratidão,
porque “Quem te distingue? ou o que tens que não tenhas recebido?”
(1Co_4:7); em santo zelo por nós mesmos, lembrando que “de Deus não
se zomba; e que tudo o que o homem semear, isso também ceifará”
(Gl_6:7); em diligência, para “fazer segura nossa vocação e eleição”
(2Pe_1:10); mas na confiança de que “aos que Deus predestina, e chama,
e justifica, oportunamente também os glorifica” (cap. 8:30).
(6) Quanto a todos os temas que por sua natureza estejam além da
compreensão humana, seria sábio de nossa parte o assentar como
indisputável o que Deus diz em Sua palavra e Seu proceder para com os
homens, mesmo quando isso contradiga as conclusões do melhor
exercício de nosso limitado juízo (vv. 14-23).
(7) A sinceridade na religião, ou o desejo de ser salvo,
acompanhado de esforços assíduos para fazer o bem, resultará fatal como
base de nossa confiança diante de Deus, a menos que se acompanhe com
uma submissão implícita a Seu plano revelado de salvação (vv. 31-33).
(8) Ao rejeitar uma grande massa do povo eleito e ao introduzir a
multidões de gentios estrangeiros, era a vontade de Deus que os homens
conhecessem o proceder divino, o qual o juízo do grande dia revelará
mais claramente: quando “os últimos serão os primeiros e os primeiros
serão os últimos” (Mt_20:16).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 121
Romanos 10

Vv. 1-21. Continuação do mesmo tema: Israel errou o caminho da


salvação e os gentios o acharam.
1. Irmãos, a boa vontade do meu coração — O vocábulo aqui
expressa a “inteira complacência”, aquilo em que o coração experimenta
com plena satisfação.
e a minha oração — “súplica”.
a Deus a favor deles — “sobre (ou por) eles” é a leitura correta,
continuando-se assim o tema do fim do capítulo anterior.
para que sejam salvos — “é para (a) salvação” deles. Tendo
expresso a angústia de sua alma pela incredulidade geral de sua nação e
pelas fatais consequências de tal incredulidade (Rm_9:1-3), aqui se
expõe nos termos mais enfáticos seu desejo e sua súplica pela salvação
deles.
2. Porque lhes dou testemunho — o que bem podia fazer por sua
própria triste experiência.
de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento —
(comp. At_22:3; At_26:9-11; Gl_1:13-14). Alude a este bem-querer de
seu povo, não obstante sua cegueira espiritual, certamente não para
desculpar o rechaço de Cristo por eles nem a ira deles para com os
santos, mas sim como uma base para abrigar a esperança de sua
salvação. (veja-se 1Tm_1:13.
3. Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus — Isto é, a
justificação dos ímpios (veja-se nota, Rm_1:17).
e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que
vem de Deus — O apóstolo contempla o rechaço geral de Cristo pela
nação, como um só ato.
4. Porque o fim — objeto ou finalidade.
da lei é Cristo, para justiça — justificadora
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 122
de todo aquele que crê — Quer dizer, que Cristo já cumpriu tudo o
que a lei demanda para a justificação dos que O recebem, quer judeus ou
gregos (Gl_3:24).
5-10. Ora, Moisés escreveu que o homem que praticar a justiça
decorrente da lei — o que a lei manda.
viverá por ela — (Lev_18:5). Não há outra maneira de alcançar
justificação e vida, senão “pela justiça que é por (nossa própria
obediência) à lei.”
6. Mas a justiça — justificadora
decorrente da fé assim diz — sua linguagem e seu sentido é a este
efeito (citando em substância Dt_30:13-14):
Não perguntes em teu coração: Quem subirá ao céu?, isto é,
para trazer do alto a Cristo — Isto significa: “Não têm que suspirar
pela impossibilidade de alcançar a justificação, e dizer: Ai! Se houvesse
quem subisse ao céu e me fizesse trazer a Cristo, haveria esperança; mas
porquanto isto é impossível, não há esperança para mim.”
7. ou: Quem descerá ao abismo? — Outro caso de
impossibilidade sugerido por Pv_30:4, e talvez por Am_9:2 –
provavelmente estas eram expressões proverbiais que ilustravam a
impossibilidade (comp. Sl_139:7-10; Pv_24:7).
8. Porém que se diz? — continuando a citação de Dt_30:14
A palavra está perto de ti — facilmente acessível.
na tua boca — quando tu a confesses.
e no seu coração — quando creias nEle. Embora seja referente à lei
da qual Moisés fala mais imediatamente nesta passagem que se citou,
entretanto, a fala referente à lei tal qual Israel a tem que contemplar
quando o Senhor seu Deus lhe tenha que circuncidar o coração, “para
que amem o Senhor, seu Deus, de todo o coração …” (v. 6); e deste
modo o apóstolo o aplica, e (como Olshausen corretamente observa) não
somente se apropria a linguagem de Moisés, mas também a preserva em
seu mais profundo significado.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 123
isto é, a palavra da fé que pregamos — Quer dizer, a palavra que
os homens devem crer para ser salvos (comp. 1Tm_4:6).
9. Se, com a tua boca, confessares, etc. — Assim entendidas as
palavras, o apóstolo usa aqui uma linguagem que descreve o verdadeiro
método da justificação; e este sentido preferimos [com Calvino, Beza,
Ferme, Locke. Jowett). Mas há intérpretes eruditos que vertem as
palavras assim: “Porque se confessares …” [Vulgata, Lutero, De Wette,
Stuart, Philippi, Alford). Neste caso, estas são só observações próprias
do apóstolo, que confirmam as declarações anteriores quanto à
simplicidade do método evangélico da salvação.
confessares Jesus como Senhor — Significando provavelmente:
“Se confessares que Jesus é o Senhor,” quer dizer, “reconhece-O como
teu Senhor”, o qual é a devida manifestação ou evidência da fé
(Mt_10:32; 1Jo_4:15). O confessar ao Senhor é posto primeiro somente
para corresponder com a citação precedente, “em tua boca e em teu
coração.” Assim como em 2Pe_1:10 “a vocação dos crentes” é posto
antes de sua “eleição,” como se a coisa assegurada fosse primeiro,
embora cronologicamente vem depois.
e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou, etc. — Veja-se
nota, Rm_4:25. No versículo seguinte as duas coisas se colocam em sua
ordem natural.
10. Porque com o coração crê-se para justiça — justificadora.
e com a boca se confessa a respeito da salvação — Esta confissão
do nome de Cristo, especialmente em tempos de perseguição, e todas as
vezes que sofram a infâmia os que professam o cristianismo, é uma
prova indispensável do discipulado.
11-13. Porquanto a Escritura diz — em Is_28:16, uma gloriosa
passagem messiânica.
Todo aquele que nele crê não será confundido — Aqui, como em
Rm_9:33, a citação corresponde a LXX, a que verte tais palavras do
original assim: “não se lhe fará apressar” (não terá que fugir para salvar-
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 124
se, como de um perigo conhecido); “não será envergonhado”, o que é a
mesma coisa.
12. Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o
mesmo é o Senhor de todos — Quer dizer, não Deus [Calvino, Grocio,
Olshausen Hodge], mas sim Cristo, como se verá, opinamos, ao cotejar
os vv. 9, 12, 13, e ao observar o estilo usual do apóstolo sobre tais tema.
[Assim opinam Crisóstomo, Melville, Meyer, De Wette, Fritzsche,
Tholuck, Stuart, Alford, Philippi].
rico — este é o termo paulino favorito que ele usa para expressar a
exuberância daquela graça salvadora que está em Cristo Jesus.
para com todos os que o invocam — Isto confirma o que se
aplicaram as palavras anteriores a Cristo, visto que a invocação do nome
do Senhor Jesus é uma expressão habitual. (Veja-se At_7:59-60;
At_9:14, At_9:21; At_22:16; 1Co_1:2; 2Tm_2:22.)
13. Porque — a Escritura diz.
Todo aquele — “quem quer que ”, expressão enfática
que invocar o nome do Senhor será salvo — Jl_2:32, chamado
também por Pedro em seu grande sermão pentecostal (At_2:21), onde se
aplica evidentemente a Cristo.
14-15. Como, porém, invocarão … E como crerão … E como
ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem
enviados? — Vale dizer: “É verdade, o mesmo Senhor que está sobre
todos é rico igualmente para com todos os que O invocam; mas esta
invocação envolve a fé, e crer envolve o ouvir, e o ouvir envolve a
pregação e a pregação envolve uma missão de pregação. Por que, pois,
tomais tanto a mal, ó filhos de Abraão, o fato de que em obediência a
nossa visão celestial (At_26:16-18), preguemos entre os gentios as
inescrutáveis riquezas de Cristo?”
15. Como está escrito — (Isa_52:7).
Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! —
Todo o capítulo de Isaías, aqui chamado, e os três que lhe seguem, são
tão ricamente messiânicos que não pode haver dúvida de que “as boas
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 125
novas” ali mencionadas, anunciam uma libertação mais gloriosa que
aquela que obteve Judá do cativeiro babilônico, e os mesmos pés de seus
anunciadores se chamam “formosos” por amor à sua proclamação.
16, 17. Mas nem todos obedeceram ao evangelho — quer dizer, a
Escritura nos preparou para esperar tão triste resultado.
pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? —
Onde acharemos a um só que creia? O profeta fala como se muito
poucos tivessem que crer. O apóstolo abranda o conceito dizendo: “nem
todos obedeceram”.
17. De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus
(RC, AV) — “Esta é outra confirmação da verdade de que a fé pressupõe
o ter ouvido a palavra, e isto pressupõe a ordem de que seja pregada”.
18. Mas pergunto: Porventura, não ouviram? — “Não ouviram”?
Pode Israel em parte alguma de sua dispersão desculpar-se pela
ignorância destas boas novas?
Sim, por certo: Por toda a terra se fez ouvir a sua voz, e as suas
palavras, até aos confins do mundo — Estas belas palavras são do
Sl_19:4. Se o apóstolo as citar como no sentido primário delas, aplicável
a seu tema [Olshausen, Alford, etc.], ou somente “fez uso da linguagem
da Escritura para expressar suas próprias ideias, como o faz
involuntariamente quase todo pregador em seus sermões [Hodge], disso
não estão de acordo os expositores. Mas embora a segunda proposição
parece a mais natural, e visto que as expressões, “nascerá o sol da
justiça” (Ml_4:2), ou aquele que “Com que o oriente (o sol) do alto nos
visitou; para iluminar aos que estão assentados em trevas … A fim de
dirigir os nossos pés pelo caminho da paz” (Lc_1:78-79), deviam ser
bem conhecidas ao ouvido do apóstolo, não podemos duvidar de que a
irradiação pelo mundo dos raios de um Sol melhor, quer dizer, a difusão
universal do Evangelho de Cristo, terá sido uma maneira de falar muito
natural, e para Paulo, dificilmente figurativa.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 126
19. Pergunto mais: Porventura, não terá chegado isso ao
conhecimento de Israel? — Não sabia Israel, por suas próprias
Escrituras, da intenção de Deus de incorporar os gentios?
Primeiramente (RC) — primeiro na linha profética (De Wette).
diz Moisés ... (RC) — “Eu vos provocarei a ciúme contra [aqueles
que são] não uma nação e contra uma nação insensata vos provocarei a
ira” (Dt_32:21). Neste versículo Deus admoesta a seu antigo povo, que
porquanto eles O haviam (ou haveriam, em tempos posteriores)
provocado a ciúme com os que não eram deuses, e tinham provocado
Sua ira com suas vaidades, Ele, em retribuição, incitaria ao ciúme
favorecendo a uma nação “que não é nação”, provocando-os à ira ao
adotar uma nação falta de entendimento.
20. E Isaías a mais se atreve e diz — lit., “atreve-se”; é ainda mais
franco, e vai até o extremo de dizer
Fui achado pelos que não me procuravam — ainda que me
buscassem.
revelei-me — cheguei a ser manifesto.
aos que não perguntavam por mim — até que de Minha parte
lhes chegou o convite. Que estas palavras do profeta significam a
chamada dos gentios (Is_65:1), está manifesto pelo que segue
imediatamente: “A uma nação que não se chamava do meu nome eu
disse: Eis-me aqui. Eis-me aqui” (Is_65:1b).
21. Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as mãos —
em atitude de amorosa súplica.
a um povo rebelde e contradizente — Estas palavras de Is_65:2,
citadas aqui como um convite aos gentios, eram mais que suficientes
para dar a conhecer aos judeus tanto o propósito de Deus de rejeitá-los a
eles dos privilégios que tinham desfrutado, para outorgá-los agora em
favor dos gentios, assim como a causa desta rejeição que se originou da
parte deles mesmos.

Note-se:
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 127
(1) Nem a mera sinceridade, nem mesmo o ardor na religião,
embora pudessem ser uma base de esperança para alcançar uma
libertação misericordiosa do erro, não servirão de desculpa nem
compensarão pelo rechaço rápido da verdade salvadora, quando na
providência de Deus apresenta-se para ser aceita (vv. 1-3; veja-se,
Romanos 9, nota 7a.).
(2) A verdadeira causa de semelhante rechaço da verdade salvadora,
pelos que em outros particulares são sinceros, é a preocupação mental
em favor de noções falsas próprias delas. Enquanto que os judeus
“procuravam estabelecer sua própria justiça,” era naturalmente
impossível que “se sujeitassem à justiça de Deus;” visto que cada um
destes dois métodos está contra o outro (v. 3).
(3) As condições essenciais para obter a salvação foram em todas as
idades as mesmas: convida-se “e quem quiser, tome de graça da água da
vida,” Ap_22:17 (Rm_10: 13).
(4) Como se aturdirão aqueles que perecerão longe da voz do
evangelho, ao lembrar o singelo, o razoável e o gratuito que era o plano
da salvação! (vv. 4-13).
(5) Quão penetrante deveria soar nos ouvidos das igrejas a pergunta
que se esteve fazendo perpetuamente: “Como ouvirão sem haver quem
pregue?” como se fosse unicamente o eco apostólico da grande comissão
que deixou o Senhor: “Pregai o evangelho a toda criatura” (Mar_16:15);
e quanto carecem as igrejas do devido amor, zelo e consagração, visto
que havendo tão abundante ceifa, os ceifeiros são tão poucos (Mat_9:37-
38), e o clamor dos lábios de homens perdoados, dotados e consagrados:
“Eis-me aqui, envie-me a mim” (Isa_6:8), não se ouve em todas partes
(vv. 14, 15)!
(6) A bênção da relação de aliança entre o homem e Deus, não é o
privilégio irrevogável de nenhum povo nem de nenhuma igreja; pode ser
assegurada somente pela fidelidade da nossa parte, à própria aliança (v.
19).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 128
(7) Muitas vezes Deus é achado pelos que aparentemente estão mais
longe dEle, enquanto que fica sem ser descoberto pelos que se creem
estar mais próximos (vv. 20, 21).
(8) O trato de Deus até para com os pecadores réprobos, é cheio de
ternura e compaixão; todo o dia estende os Seus braços de misericórdia
aos desobedientes e contradizentes. Disto se darão conta e o
reconhecerão no fim todos os que vierem a perecer, para a glória da
longanimidade de Deus, e para a própria confusão deles (v. 21).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 129
Romanos 11

Vv. 1-36. Continuação e conclusão do mesmo tema — Israel será


incluído no final e, com os gentios, deverá ser um só reino de Deus
sobre a terra.
1. Pergunto, pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo?
— O Senhor na verdade anunciou que o reino de Deus seria tirado de
Israel (Mt_21:41); e quando lhe perguntaram os onze, depois de Sua
ressurreição, se naquele tempo “restauraria o reino a Israel” Sua resposta
foi uma admissão virtual de que Israel já estava, em algum sentido, fora
da aliança (At_1:9). Contudo, o apóstolo aqui ensina que, em dois
aspectos, Israel não estava “descartado;” Primeiro, não totalmente;
Segundo, não finalmente. EM PRIMEIRO LUGAR, vejamos que Israel
não estava totalmente descartado.
Porque eu também sou israelita — veja-se Fp_3:5. Sendo assim
uma testemunha do contrário.
da descendência de Abraão — descendente direto do pai dos fiéis.
da tribo de Benjamim — (Fp_3:5), a qual, quando se rebelavam as
dez tribos, constituiu com Judá o reino fiel de Deus (1Rs_12:21), e
depois do cativeiro foi, junto com Judá, o coração da nação judaica
(Ed_4:1; Ed_10:9).
2-4. Deus não rejeitou o seu povo, a quem de antemão conheceu
— Sobre a expressão “a quem de antemão conheceu,” veja-se nota,
Rm_8:29.
Ou não sabeis o que a Escritura refere a respeito de Elias —
(lit., “em Elias,” quer dizer, na seção que fala dele)
o que a Escritura refere — leia-se: “como intercedendo”
como insta perante Deus contra Israel, dizendo … só eu fiquei
— “Só eu resto.” Mas Deus responde.
4. sete mil homens … não dobraram os joelhos diante de Baal
— Não “à imagem de Baal,” segundo um suplemento da versão inglesa.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 130
5. Assim, pois, também agora, no tempo de hoje — “nesta época
presente;” neste período quando Israel está rejeitado (veja-se At_1:7.
grego.)
sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça — Quer
dizer: “Assim como no tempo de Elias a apostasia de Israel não era tão
universal como parecia, nem como o profeta em seu desalento concluiu
que era, assim agora, o rechaço de Cristo por Israel não é tão aterrador
em extensão como facilmente se pensaria. E assim como então, agora há
um remanescente fiel; mas não de pessoas melhores que as incrédulas
multidões, mas sim de pessoas escolhidas pela graça para a salvação.”
(Veja-se 1Co_4:7; 2Ts_2:13). Isto estabelece nossa interpretação do
argumento sobre a eleição do capítulo nove, no sentido de que não é uma
eleição de gentios em lugar de judeus, nem somente para desfrutar de
vantagens religiosas, mas sim é a eleição soberana de alguns do próprio
Israel, para que creiam e sejam salvos. (Veja-se nota, Rm_9:6.)
6. E, se é pela graça, já não é pelas obras, etc. — melhor dizendo:
“Agora, se (a eleição) é pela graça, já não é pelas obras, porque (em tal
caso) a graça já não é graça; e se for pelas obras …” (A autoridade de
manuscritos antigos contra esta cláusula, como supérflua e não do texto
original, é forte, mas opinamos que não é o suficientemente forte para
justificar a exclusão. Tais redundâncias aparentes não são raras no
apóstolo). A posição geral aqui assentada é de importância vital: Que
não há senão duas possíveis fontes da salvação: as obras dos homens, e a
graça de Deus; e que estas duas são tão essencialmente distintas e
opostas que a salvação não pode ser uma combinação ou mistura de
ambas, mas sim tem que ser ou de uma ou de outra. (Veja-se Romanos 4,
nota 3)
7-10. Que diremos, pois? — “Que conclusão tiramos?
O que Israel busca, isso não conseguiu — melhor: “O que Israel
está buscando (isto é, a justificação, ou aceitação com Deus — veja-se
nota, Rm_9:31), não o achou, mas a eleição (o remanescente eleito de
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 131
Israel) encontrou-o, e outros foram endurecidos, ou seja, foram
judicialmente entregues à “dureza de seus próprios corações.”
8-9. como está escrito — (Isa_29:10; Dt_29:4).
9. E diz Davi — (Sl_69:23), que em tal salmo messiânico deve
referir-se aos que rejeitam a Cristo.
Torne-se-lhes a mesa, etc. — Quer dizer, que suas próprias
bênçãos resultem em maldição para eles, e que suas diversões se
transformem em aguilhão e em vingança sobre eles.
10. escureçam-se-lhes os olhos … fiquem para sempre
encurvadas — expressivos da decrepitude, ou da condição servil que
sobreviria à nação por justo juízo de Deus. O objeto do apóstolo ao pôr
estas citações é para demonstrar que o que se tinha visto obrigado a dizer
da condição existente da nação e do prognóstico de seu futuro estava
mais que confirmado pelas Escrituras. Mas, EM SEGUNDO LUGAR,
vejamos que Deus não desprezou o Seu povo finalmente. A ilustração
deste ponto se estende do v. 11 ao v. 31.
11. Pergunto, pois: porventura, tropeçaram para que caíssem?
De modo nenhum! Mas, pela sua transgressão — lit., “transgressão,”
mas se traduz melhor aqui por “passo falso” [De Wette]; não por
“queda,” como na versão inglesa.
veio a salvação aos gentios, para pô-los em ciúmes — Aqui,
como também em Rm_10:19 (citação de Dt_32:21), vemos que a
emulação é um estímulo legítimo para o bem.
12. Ora, se a transgressão deles — veja-se v. 10.
redundou em riqueza para o mundo — (gentio), por ser a ocasião
de seu acesso a Cristo.
e o seu abatimento — isto é, a redução do Israel verdadeiro a um
resto tão pequeno.
em riqueza para os gentios, quanto mais a sua plenitude! —
“sua plenitude,” sua plena restauração (veja-se nota, v. 26). Isto quer
dizer que, “Se um acontecimento tão nefasto como esta falta cometida
por Israel foi a ocasião de tão inexprimível bem ao mundo gentio, “de
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 132
quanto maior bem podemos esperar que será produtivo um evento tão
bem-aventurado como o será a plena restauração deles?”
13. Dirijo-me a vós outros, que sois gentios! — outra prova de
que esta Epístola foi dirigida a crentes gentios. (Veja-se nota, Rm_1:13.)
Visto, pois, que … glorifico o meu ministério — Deve ler-se esta
cláusula parenteticamente.
14. para ver se, de algum modo, posso incitar — ver nota, v. 11.
à emulação os do meu povo — Comp. Is_58:7.
15. Porque, se o fato de terem sido eles rejeitados — O apóstolo
tinha negado que estivessem rejeitados (v. 1); aqui o afirma. As duas
coisas são verdade: eles foram desprezados, mas nem total nem
finalmente, e é deste rechaço parcial e temporal que o apóstolo fala aqui.
trouxe reconciliação ao mundo — gentio.
que será o seu restabelecimento, senão vida dentre os mortos?
— A recepção de toda a família de Israel, espalhados como estão entre
todas as nações debaixo do céu, e sendo os inimigos mais inveterados do
Senhor Jesus, será uma manifestação tão estupenda do poder de Deus
sobre o espírito dos homens, e de Sua gloriosa presença com os arautos
da cruz, que não somente acenderá o assombro reverente por toda parte,
mas também mudará o modo dominante de pensar e de sentir a respeito
das coisas espirituais de tal forma que parecerá com uma ressurreição
dentre os mortos.
16. E, se forem santas as primícias da massa, igualmente o será
a sua totalidade — Os israelitas estavam obrigados a oferecer a Deus as
primícias da terra: tanto na condição crua, no molho de grão recém
segado (Lv_23:10-11), como na forma elaborada, a torta amassada
(Nm_15:19-21), mediante o que toda a colheita da estação seria tida
como santificada. É provável que aqui signifique a segunda forma de
oferta, porquanto a esta corresponde melhor a palavra “massa,” que se
traduz como “totalidade” em nossa versão; e o argumento do apóstolo é,
que a separação para Deus de Abraão, Isaque e Jacó, do resto da
humanidade, como a raiz que originou a raça, foi uma oferta tão
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 133
verdadeira de primícias como as que santificavam o produto da terra,
assim, na estimativa de Deus, foi igualmente real a separação da massa,
ou “totalmente” de tal nação, em todo tempo, para Deus. A figura da
“raiz” e as “ramas” é de aplicação similar: a consagração daquela se
estende também a esta.
17, 18. Se, porém — antes: “Mas se”, quer dizer: “Se, não obstante,
esta consagração a Deus da raça de Abraão.
alguns dos ramos foram quebrados — A massa dos incrédulos
israelitas que rejeitam ao Senhor se chamam “alguns,” não para atenuar
o preconceito judaico (veja-se nota, Rm_3:3, e sobre “nem todos”,
Rm_10:16), como antes, mas com o propósito oposto de prender o
orgulho gentílico.
e tu, sendo oliveira brava, foste enxertado em meio deles —
Embora se costume, antes, unir o enxerto superior ao tronco inferior, o
método oposto, aqui empregado intencionalmente, não é sem exemplo na
realidade.
e te tornaste participante — junto com os ramos restantes, o
remanescente crente
da raiz e da seiva da oliveira — a rica graça assegurada pela
aliança à verdadeira semente de Abraão.
18. não te glories contra os ramos — desprezados
se te gloriares, sabe que não és tu que sustentas a raiz, mas a
raiz, a ti — como se se dissesse: “Se os ramos não devem gloriar-se da
raiz que as sustenta, muito menos os gentios devem gloriar-se da
semente de Abraão; porque qual é a tua posição, ó gentio, com relação a
Israel, senão o da ramo com relação à raiz? De Israel veio tudo o que és,
e tudo o que tens na família de Deus, porque “a salvação vem dos
judeus” (Jo_4:22).
19-21. Dirás, pois: Alguns ramos foram quebrados, para que eu
fosse enxertado — tu, como razão para sua jactância.
20. Bem — concedido; mas lembra-te que
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 134
Pela sua incredulidade, foram quebrados; tu, porém — não por
ser gentio, mas sim somente.
mediante a fé, estás firme — Mas como a fé não pode viver
naqueles cuja “alma não é reta nele” (Hc_2:4).
Não te ensoberbeças, mas teme — Pv_28:14; Fp_2:12
21. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais — que
brotaram do tronco paterno
também não te poupará — mero enxerto de oliveira brava. O
anterior teria, antecipadamente, sido improvável; mas, depois do
acontecido, ninguém poderá maravilhar-se disto.
22, 23. Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para
com os que caíram, severidade — rejeitando à semente escolhida;
mas, para contigo, a bondade de Deus — Isto é, Sua bondade
soberana ao te admitir ao privilégio da aliança, a ti que foste estranho “às
alianças da promessa” (Ef_2:12-20).
se nela permaneceres — confiando tão somente naquela bondade
que fez de ti o que és.
23. Eles também, se não permanecerem na incredulidade, serão
enxertados; pois Deus é poderoso para os enxertar de novo — Esta
invocação do poder de Deus para efetuar o restabelecimento de Seu
antigo povo, sugere a vasta dificuldade que há para obtê-lo – o que
comprovaram tristemente todos os que alguma vez trabalharam pela
conversão dos judeus. Que expositores inteligentes pensem que isto se
disse com relação a judeus individuais, reintroduzidos de tempo em
tempo na família de Deus ao crer no Senhor Jesus, é surpreendente; e
contudo, os que negam o restabelecimento nacional de Israel devem
interpretar assim ao apóstolo. Mas isto significa confundir as duas coisas
que o apóstolo cuidadosamente distingue. Em todo tempo são
admissíveis os judeus individuais, e assim foram admitidos na igreja pela
porta da fé no Senhor Jesus. Eles são o “remanescente”, ainda neste
tempo presente, “segundo a eleição da graça,” dos quais o apóstolo na
primeira parte do capítulo citou como um. Mas é evidente que aqui fala
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 135
de algo não existente então, mas que se devia esperar como um grande
acontecimento futuro na dispensação de Deus, ou seja, o reenxerto da
nação como tal, quando já não permanecerem “na incredulidade.” E
mesmo quando isto se diz aqui meramente como uma hipótese (de que
cessasse a incredulidade deles) — a fim de pô-la em comparação com a
outra hipótese, pelo que sobrevirá aos gentios se eles não permanecerem
na fé — a hipótese converte-se numa predição explícita nos versículos
que seguem.
24. se foste cortado da que, por natureza, era oliveira brava e,
contra a natureza, enxertado em boa oliveira, quanto mais não serão
enxertados na sua própria oliveira aqueles, etc. — Isto é precisamente
o oposto do v. 21: “Assim como a cisão dos gentios meramente
enxertados por causa da incredulidade, é coisa que com mais razão se
devia esperar, que a cisão do Israel natural, antes que esta acontecesse;
assim a restauração de Israel, uma vez que chegarem a crer em Jesus, é
coisa muito mais compatível com o que deveríamos esperar, que a
admissão dos gentios a uma posição que nunca antes tinham desfrutado.”
25. Porque não quero … que ignoreis este mistério — A palavra
“mistério”, usada tantas vezes pelo apóstolo, não significa (como para
nós) algo incomparável, mas sim “algo guardado antes em segredo, quer
seja totalmente ou na maior parte, e somente agora revelado plenamente”
(comp. Rm_16:25; 1Co_2:7-10; Ef_1:9-10; Ef_3:3-6, Ef_3:9, 10, etc.).
para que não sejais presumidos em vós mesmos — como se só
vós tivésseis que ser por todo o tempo futuro a família de Deus.
veio endurecimento em parte a Israel — Isto é, aconteceu
parcialmente, a uma porção de Israel.
até que haja entrado a plenitude dos gentios — Não a conversão
geral do mundo a Cristo, como muitos o entendem, porque tal coisa
parece que contradiria a última parte deste capitulo, e colocaria o
restabelecimento nacional de Israel num futuro muito longínquo; além
disso, no v. 15, o apóstolo parece falar do recebimento de Israel, não
como subsequente à conversão do mundo, mas sim como que contribuíra
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 136
grandemente para ela; mas sim: “até que os gentios tenham tido seu
tempo pleno da igreja visível para si somente, enquanto os judeus
tenham estado fora, privilégio do qual os judeus desfrutavam até que os
gentios foram introduzidos.” Veja-se nota, Lc_21:24.
26, 27. E, assim, todo o Israel será salvo — Entender esta grande
declaração, como muitos a entendem ainda, meramente no sentido da
recepção gradual de judeus individuais até que enfim não ficasse
nenhum na incredulidade, seria fazer violência a tal declaração assim
como a todo o contexto. Não pode significar senão o ingresso final de
Israel como nação, em contraste com o atual “remanescente”. (Assim
opinam Tholuck, Meyer, De Wette, Philippi, Alford, Hodge). Disto
seguem três confirmações, dois dos profetas, e a terceira da própria
aliança abraâmica. Primeiro, como está escrito: Virá de Sião o
Libertador, e
ele apartará de Jacó as impiedades — O apóstolo, tendo tirado
suas ilustrações da pecaminosidade do homem principalmente do Salmo
14 e de Isaías 59, agora parece combinar a linguagem de ambos os textos
para referir-se à salvação de Israel da mesma pecaminosidade. [Bengel].
Na primeira passagem, o salmista deseja ver “que a salvação de Israel
tivesse já vindo de Sião” (Sl_14:7, TB); no outro, o profeta anuncia que
“o Redentor (ou “Libertador”) virá a (ou para) Sião” (Isa_59:20). Mas
como todas as gloriosas manifestações do Deus de Israel cria-se que
saíam de Sião, a sede de Sua glória manifesta (Sl_20:2; Sl_110:2;
Is_31:9), a volta que o apóstolo dá às palavras só acrescenta a elas a
ideia já conhecida. E já que o Profeta anuncia que “virá a (ou para) os
que em Jacó se voltem da transgressão,” e o apóstolo cita esta passagem
dizendo que Ele virá para “tirar de Jacó a impiedade,” concluímos que
esta última passagem se tirou da LXX e parece indicar uma leitura
diferente do texto original. O sentido, entretanto, é em ambas as lições
essencialmente o mesmo. Segundo,
27. E (RC) — aqui introduz outra citação
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 137
Esta é a minha aliança com eles — lit., “esta é a aliança da minha
parte para eles”.
quando eu tirar os seus pecados — Isto cremos que é só um
resumo breve de Jr_31:31-34, e não palavras expressas de uma predição.
Os que creem que não há no Antigo Testamento predições referente ao
Israel literal que se estendam para além do fim da dispensação judaica,
veem-se obrigados a considerar estas citações do apóstolo como meras
adaptações da linguagem do Antigo Testamento para expressar suas
próprias predições [Alexander, sobre Isaías, etc.]
28, 29. Quanto ao evangelho, são eles inimigos por vossa causa
— Isto é, são considerados e tratados como inimigos (num estado de
exclusão da família de Deus por causa da incredulidade) em benefício de
vós, os gentios; no sentido dos vv. 11, 15.
quanto, porém, à eleição — de Abraão e sua semente.
amados — até em sua condição de excluídos.
29. porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis — “A
vocação de Deus,” significa aquele soberano ato pelo qual Deus, no
exercício de Sua livre eleição, “chamou” Abraão, para que fosse o pai de
um povo especial; enquanto que “os dons de Deus”, aqui denotam os
artigos da aliança que Deus fez com Abraão, os quais constituem a
distinção real entre a suas e as demais famílias da terra. As duas coisas,
diz o apóstolo, são irrevogáveis; e visto que o único motivo pelo qual se
faz referência a isto é o destino final da nação israelita, é claro que o que
aqui se afirma é a perpetuidade por todos os tempos do convênio
abraâmico. E para que ninguém diga que embora Israel, como nação,
não tem destino algum sob o evangelho, antes como povo desapareceu
do cenário com o desmoronamento da parede de separação que estava no
meio, e que não obstante, a aliança abraâmica ainda perdura na semente
espiritual de Abraão, composta de judeus e gentios numa massa
indistinta de homens redimidos sob o evangelho — o apóstolo, para
excluir esta própria hipótese, assevera expressamente que o mesmo
Israel que, referente ao evangelho, é considerado como “inimigo por
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 138
causa dos gentios,” “é amado por causa dos patriarcas;” e como prova
disto acrescenta: “Porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis.”
Mas em que sentido são agora os incrédulos e excluídos filhos de Israel
“amados por causa dos patriarcas”? Não meramente pelas lembranças
ancestrais, assim como um olhar com carinhoso interesse ao filho de um
amigo querido por amor a tal amigo [Dr. Arnold] — embora seja um
pensamento belo, e não alheio à Escritura com relação a este mesmo
assunto (veja-se 2Cr_20:7; Is_41:8) — mas sim por causa das conexões e
obrigações ancestrais, ou, sua descendência linear e sua unidade, com os
pais, na aliança que Deus estabeleceu com eles no princípio. Em outras
palavras, o Israel natural — não o remanescente deles segundo a eleição
de graça,” mas sim A NAÇÃO, que nasceu de Abraão segundo a carne
— são ainda um povo escolhido, e como tais, “amados.” O mesmo amor
que escolheu os pais, e repousou sobre eles como o tronco paternal da
nação, ainda repousa sobre seus descendentes em geral, e ainda os tem
que redimir da incredulidade, e os restabelecerá como a família de Deus.
30, 31. Porque assim como vós também, outrora, fostes
desobedientes a Deus — Isto é, não rendestes Deus “a obediência da
fé,” sendo estranhos a Cristo.
mas, agora, alcançastes misericórdia, à vista da — na ocasião da
desobediência deles — (veja-se nota, vv. 11, 15, 28).
31. assim também estes — os judeus
agora, foram desobedientes, para que, igualmente, eles
alcancem misericórdia, à vista da que vos foi concedida — Aqui há
uma ideia totalmente nova. O apóstolo até agora sublinhou a
incredulidade dos judeus como o meio ou ocasião para a fé dos gentios
— o rechaço daqueles dando ocasião para a recepção destes: uma
verdade que dava aos generosos crentes gentios só uma satisfação mista.
Agora, apresentando um aspecto mais animador, fala da misericórdia
dispensada aos gentios como um meio para o estabelecimento de Israel;
o que parece significar que, pela instrumentalidade dos gentios crentes,
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 139
Israel como nação por fim há de “olhar àquele a quem perfuraram e
chorar sobre ele.” (veja-se 2Co_3:15-16.)
32. Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de
usar de misericórdia para com todos — Quer dizer, de “todos” aqueles
dos que estavam falando: os gentios primeiro, e logo os judeus.
[Fritzsche, Tholuck, Olshausen, De Wette, Philippi, Stuart, Hodge.]
Certamente, não se trata de “toda a humanidade individualmente”
[Meyer, Alford]; porque o apóstolo não está tratando aqui de indivíduos,
mas sim daquelas grandes divisões da humanidade, os judeus e os
gentios. E o que aqui diz é, que foi o propósito de Deus encerrar a cada
uma destas divisões dos homens para que experimentassem primeiro, um
estado humilhado, condenado, sem Cristo, e logo, um estado de
misericórdia em Cristo.
33. Ó a profundidade — O apóstolo agora se entrega à enlevada
contemplação da grandeza daquele plano divino que ele acabava de
traçar.
da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!
— Muitos expositores o vertem “das riquezas e sabedoria e
conhecimento …” [Erasmo, Grocio, Bengel, Meyer, De Wette, Tholuck,
Olshausen, Fritzsche, Philippi, Alford]. As palavras, por certo, conterão
este sentido, “a profundidade das riquezas de Deus.” Mas “as riquezas de
Deus” é uma expressão muito menos usada por nosso apóstolo, que as
riquezas desta ou daquela outra perfeição de Deus; e as palavras que
imediatamente seguem limitam nossa atenção à inescrutabilidade dos
“juízos” de Deus, o que provavelmente significa Seus decretos ou Seus
planos (Sl_119:75), e a de Seus “caminhos,” ou seja o método pelo qual
os leva a efeito. (Assim opinam Lutero, Calvino, Beza, Hodge, etc.)
Além disso, tudo o que segue até o fim do capítulo parece indicar que
enquanto que a graça de Deus para com os culpados em Cristo Jesus se
pressupõe em todo o tema deste capítulo, o que evoca a admiração
especial do apóstolo, depois de traçar algo em detalhe os propósitos e
planos divinos na repartição desta graça, é “a profundidade das riquezas
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 140
da sabedoria e conhecimento de Deus” nestes propósitos e métodos. O
“conhecimento”, então, assinala provavelmente a vasta extensão da
compreensão divina nisto manifestada: a “sabedoria,” aquela aptidão
para obter os fins propostos que caracteriza todo este proceder.
34, 35. Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? — veja-se
Jó_15:8; Jr_23:18.
Ou quem foi o seu conselheiro? — Veja-se Isa_40:13-14.
35. Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser
restituído? — em compensação? Veja-se Jó_35:7, Jó_41:11. Estas
perguntas, como se verá, não são senão citações do Antigo Testamento,
como se fossem demonstrar quão conhecido ao antigo povo de Deus era
a grande verdade que o apóstolo mesmo acabava de pronunciar, de que
os planos e os métodos de Deus têm um alcance de compreensão e de
sabedoria estampado neles que os finitos mortais não podem aprofundar,
nem muito menos imaginá-los, antes que fossem revelados.
36. Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas.
A ele, pois, a glória eternamente. Amém! — Desta maneira,
dignamente, com uma brevidade só igualada por sua sublimidade,
recapitula aqui o apóstolo todo este assunto. “DEle são todas as coisas,”
como a eterna Fonte delas; “por meio dEle são todas as coisas,”
porquanto Ele leva a efeito Seus eternos conselhos determinados; e “para
(que é a tradução correta) Ele são todas as coisas,” por ser Suas próprias
até o fim; sendo a manifestação da glória de Suas próprias perfeições,
desde o começo até o fim, o último propósito, por ser o mais sublime.
Sobre este capítulo rico em ensinos, note-se:
(1) É um consolo inexprimível saber que, em tempos da maior
decadência religiosa e da mais extensiva apostasia da verdade, a lâmpada
de Deus nunca se deixa apagar, e que um fiel remanescente sempre
existiu: remanescente maior do que nossos lânguidos espíritos podem
facilmente crer (vv. 1-5).
(2) A conservação deste remanescente, assim como sua separação
no princípio, é tudo como resultado da graça (vv. 5, 6).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 141
(3) Quando os indivíduos e as comunidades, depois de muitas e
infrutíferas admoestações, são abandonados por Deus, seguem de mal a
pior (vv. 7-10).
(4) Deus resolveu Seus procedimentos com as grandes divisões da
humanidade de maneira que “nenhuma carne se glorifique diante dele.”
Os gentios e os judeus, cada qual em sua oportunidade, foram
“encerrados na incredulidade,” para que aqueles e estes por turno.
experimentassem a “misericórdia” que salva os piores dos pecadores (vv.
11-32).
(5) Assim como somos “justificados pela fé,” assim somos
“guardados pelo poder de Deus pela fé” — pela fé somente — para a
salvação (vv. 20-32).
(6) A aliança de Deus com Abraão e com sua semente natural, é
uma aliança perpétua que tem tanta força sob o evangelho como antes
dele. É por isso que os judeus como nação sobrevivem ainda, apesar das
leis que, em circunstâncias análogas, têm extinguido ou destruído a
identidade de outras nações. E é por isso que os judeus como nação
ainda devem ser restaurados à família de Deus pela submissão de seus
orgulhosos corações Àquele que perfuraram. E como os gentios crentes
terão a honra de ser os instrumentos desta admirável mudança, assim o
vasto mundo gentio colherá tal benefício disso que será como a
comunicação da vida a eles dentre os mortos.
(7) De modo que, a igreja cristã tem a razão suprema para o
estabelecimento e o vigoroso prosseguimento de missões entre os judeus;
tendo prometido Deus não só que haverá um remanescente deles que
ingressará em toda idade, mas também que se empenhou no ingresso
final de toda a nação, tendo atribuído a honra de tal ingresso na igreja
gentílica, e lhes assegurando que o evento, quando chegar, terá um efeito
vivificador sobre tudo o mundo (vv. 12-16, 26-31).
(8) Os que pensam que em todas as profecias do Antigo Testamento
os termos “Jacó,” “Israel,” etc., têm que entender-se somente com
referência à igreja cristã, parece que leem o Antigo Testamento de uma
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 142
maneira diferente da do Apóstolo, quem, ao usar estes termos da profecia
do Antigo Testamento, apresenta argumentos para provar que Deus tem
torrentes de misericórdia para o Israel natural (vv. 26, 27).
(9) As investigações meramente intelectuais referentes à verdade
divina em geral, e a percepção dos oráculos vivos em particular, têm um
efeito endurecedor, e são um contraste grande com o espírito de nosso
apóstolo, cujo longo esboço do majestoso proceder de Deus para com os
homens em Cristo Jesus, termina com uma exclamação de admiração,
que se confunde numa atitude ainda mais sublime de adoração (vv. 33-
36).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 143
Romanos 12

Vv. 1-21. Os deveres gerais e particulares dos crentes.


Depois de ter sido apresentado o ensino doutrinário desta epístola
agora segue uma série de exortações referente aos deveres práticos. Em
primeiro lugar, temos o dever todo compreensivo:
1. Rogo-vos, pois — Em vista de tudo o que foi exposto na parte
precedente desta epístola.
pelas misericórdias de Deus — Aquelas misericórdias, cuja
natureza livre e imerecida, cuja gloriosa mediação, e cujos frutos
salvadores, foram demonstrados tão extensivamente.
que apresenteis — Veja-se nota, Rm_6:13, onde temos a mesma
exortação, e a mesma palavra traduzida “apresentar,” como também em
Rm_6:19.
o vosso corpo — Quer dizer, “a vós mesmos no corpo,”
considerado como o órgão da vida interior. Como através do corpo sai
todo o mal que há no coração não regenerado, em ação manifesta e
evidente, assim também por meio do corpo todos os princípios e afetos
dos crentes se revelam na vida externa. A santificação se estende por
todo o ser de cada pessoa (1Ts_5:23-24).
por sacrifício vivo — Quer dizer, em glorioso contraste com os
sacrifícios legais, que eram sacrifícios mortos. A morte do “Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo,” varreu do altar de Deus todas as
vítimas mortas, para dar lugar aos próprios redimidos como “sacrifícios
vivos” para Aquele que “Se fez pecado por nós;” enquanto que toda
expressão de louvor de seus corações agradecidos e todo ato
impulsionado pelo amor a Cristo, é em si um sacrifício a Deus de doce
perfume (Hb_13:15-16).
santo — Assim como as vítimas levíticas oferecidas sem mancha a
Deus se chamavam santas, assim os crentes, “entregando-se a Deus
como vivos dentre os mortos, e seus membros como instrumentos de
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 144
justiça a Deus”, são, na estimativa de Deus, não ritual mas sim realmente
“santos,” e assim
agradável a Deus — Não como as ofertas levíticas que eram
meramente símbolos de ideias espirituais, mas sim objetos
intrinsecamente de divina complacência, em seu caráter renovado, e em
sua amorosa relação com Ele por Seu Filho Jesus Cristo.
que é o vosso culto racional — Em contraste, não com a
insensatez do culto idolátrico, mas com as vítimas irracionais que se
ofereciam sob a lei. Neste sentido a apresentação de nossos corpos como
monumentos vivos da misericórdia redentora, chama-se aqui “nosso
culto racional;” e certamente é a ocupação mais exaltada das criaturas
racionais de Deus. Assim o lemos em 1Pe_2:5 – “para oferecer
sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo.”
2. não vos conformeis com este mundo (RC) — Comp. Ef_2:2;
Gl_1:4, grego.
mas transformai-vos — ou vos transfigurai (como em Mt_17:2; e
2Co_3:18, grego).
pela renovação da vossa mente — Não por uma mera
inconformidade exterior para com o mundo ímpio, muitas de cujas ações
poderão ser em si virtuosas e dignas de louvor; antes por uma
transformação interior espiritual tal que faça nova toda a vida: nova em
seus motivos e fins, mesmo quando as ações em nada difiram das do
mundo; nova, considerada como um todo, e em tal sentido, inalcançável
salvo pelo poder subjugador do amor de Cristo.
para que experimenteis — (Veja-se a nota quanto ao termo
“experiência,” Rm_5:4, comp. 1Ts_5:10, onde o sentimento é o mesmo.)
qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus —
Preferimos esta tradução [com Calvino, Versão Revisão, etc.] a que
muitos eruditos [Tholuck, Meyer, Do Wette, Fritzsche, Philippi, Alford,
Hodge] adotam — “que proveis,” ou “discirnam a vontade de Deus, (ou
seja) o que é bom e agradável e perfeito.” Mas está comprovado que a
vontade de Deus é “boa,” porquanto demanda somente o que é essencial
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 145
e imutavelmente bom (Rm_7:10); é “agradável,” em contraste com tudo
o que é arbitrário, porquanto demanda somente o que desfruta da eterna
complacência de Deus (veja-se Mq_6:8, com Jr_9:24); e é “perfeita,”
porquanto reflete a mesma perfeição de Deus. Tal é, pois, o grande dever
geral dos redimidos: A CONSAGRAÇÃO COMPLETA, de todo nosso
espírito, alma e corpo, àquele que nos chamou à comunhão de seu Filho
Jesus Cristo. Logo seguem os deveres específicos, principalmente os
sociais, começando com a humildade, a primeira de todas as graças.
3. Digo — autoritativamente
pela graça que me foi dada — como apóstolo de Jesus Cristo,
exemplificando assim seu próprio preceito, e apoiando-se humildemente
naquele oficio que o autorizava e o obrigava a usar tal franqueza para
com todas as classes.
a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que
convém, etc. — É impossível traduzir em linguagem correta o enfático
jogo de palavras, por assim dizer, que achamos nesta passagem:
“Ninguém tenha uma mentalidade superior (altiva) a que deve ter, mas
sim tenha a mentalidade que conduza a uma mentalidade sóbria.”
[Calvino, Alford]. Isto não é mais que uma maneira forte de caracterizar
todo indevido elogio egoísta.
segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um — A fé
aqui se contempla como a via de acesso a toda outra graça, e portanto,
como a faculdade receptiva da alma regenerada. Em outras palavras:
“Assim como Deus deu a cada um a capacidade particular de receber os
dons e as graças que Ele dispõe para o bem geral”.
4, 5. num corpo temos muitos membros — A mesma diversidade
e a mesma unidade que há no corpo de Cristo, do que todos os crentes
são as partes gerais, assim as há no corpo natural.
6-8. tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi
dada — Notemos aqui que todos os dons dos crentes se consideram
deste modo como comunicações de pura graça.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 146
se profecia — Seja que tenhamos o dom da profecia, isto é, o dom
do ensino inspirado, como em At_15:32. Qualquer que falava com
autoridade divina — fosse com referência ao passado, ao presente, ou ao
futuro — chamava-se profeta (Êx_7:1. etc.).
seja segundo a proporção da fé — antes: “de nossa fé.” Muitos
expositores romanistas e alguns protestantes (como Calvino e Bengel, e
embora com muita segurança, Beza e Hodge) traduzem isto da seguinte
maneira: “em afinidade com a fé”, quer dizer, “segundo o sentido geral,”
ou “a regra de fé”, divinamente entregue aos homens para que se dirijam.
Mas isto é contrário ao contexto, cujo objetivo é ensinar que, como todos
os dons são de acordo com as capacidades respectivas de cada um para
recebê-los, não devem sentir-se orgulhosos por causa deles, mas sim
deverão usá-los fielmente segundo o motivo dos mesmos.
7. se ministério — nos é dado, nos ocupemos ou
dediquemo-nos ao ministério — A palavra empregada aqui
(“diaconia”) significa qualquer classe de serviço, da dispensação da
palavra de vida (At_6:4) até a administração dos assuntos temporais da
igreja (At_6:1-3). Este último parece ser o sentido aqui, em distinção da
“profecia,” “o ensino,” e a “exortação.”
o que ensina — Os instrutores, ou doutores, distinguem-se
expressamente dos profetas, e mencionam-se depois destes para
demonstrar que exerciam uma função inferior (At_13:1; 1Co_12:28-29).
Provavelmente sua ocupação consistia na exposição evangélica das
Escrituras do Antigo Testamento; e neste aspecto, aparentemente, Apolo
demonstrava seu poder e eloquência (At_18:24).
8. o que exorta — Visto que toda pregação, quer fosse da parte dos
apóstolos, os profetas, ou os instrutores, era seguida pela exortação
(At_11:23; At_14:22; At_15:32, etc.), muitos opinam que aqui não se
refere a nenhuma classe específica. Mas se se concedia liberdade a
outros para exortar ocasionalmente os irmãos em geral, ou a grupos
pequenos dos menos instruídos, pode ser que esta referência se faça aos
tais.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 147
o que contribui — no exercício da benevolência particular
provavelmente, antes, que no desempenho de serviços de diácono.
com liberalidade — em simplicidade. Tal é o provável sentido da
palavra. Mas como parece que se recomenda a simplicidade na frase que
segue, talvez o sentido aqui seja “com liberalidade,” como também em
2Co_8:2; 2Co_9:11.
o que preside — quer seja na igreja, ou em sua própria casa. Veja-
se 1Tm_3:4-5, onde a mesma palavra aplica-se a ambos os casos.
com diligência — com um propósito sincero e com ardor.
quem exerce misericórdia, com alegria — Não sentindo o
incomodar-se ou privar-se, mas sim reconhecendo que “mais bem-
aventurada coisa é dar que receber,” ajudar que ser ajudado.
9. O amor seja sem hipocrisia — Quer dizer, “Seja seu amor não
fingido,” como também em 2Co_6:6; 1Pe_2:22; e veja-se 1Jo_3:18.
Detestai o mal, apegando-vos ao bem — Que expressão tão
elevada de princípios e sentimentos morais! Não se diz: abstende-vos de
um e fazei o outro; nem: Separai-vos de um e dedicai-vos ao outro; mas
sim: Aborrecei a um, e agarrai-vos, da maneira mais harmoniosa, ao
outro.
10. Amai-vos … com amor fraternal — Melhor dizendo: “No
amor fraternal sede carinhosos uns com os outros; e quanto a dar honra,
procurando superar-se uns aos outros.” A expressão “preferindo-vos”
significa “indo à cabeça,” isto é, “dando bom exemplo.” Quão contrário
é isto à moral predominante no mundo pagão! E mesmo quando o
cristianismo mudou o espírito da sociedade, de tal maneira que se nota
certo desinteresse e certa abnegação da parte de alguns que estão
parcialmente, se talvez o estiverem, sob o poder transformador do
evangelho, são só aqueles aos quais “o amor de Cristo os constrange a
não viver para si mesmos,” os quais são capazes de agir totalmente de
acordo com o espírito deste preceito.
11. No zelo, não sejais remissos — A palavra traduzida “cuidado”
significa “zelo,” “diligência,” “propósito;” e denota a energia de ação.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 148
servindo ao Senhor — Jesus (Ef_6:5-8). Ou, segundo outra leitura
— “servindo ao tempo,” ou “à ocasião” — que difere em sua forma,
embora muito pouco, da leitura recebida, a qual foi adotada por bons
críticos [Lutero, Olshausen, Fritzsche, Meyer]. Mas como a autoridade
dos manuscritos está decididamente contra ela, também o está a
evidência interna; e são comparativamente poucos os que a favorecem.
Tampouco cremos que é muito cristão o sentido da mesma.
12. regozijai-vos, etc. — Aqui a passagem seria mais significativa
se se retivesse a ordem em que estão os verbos no original: “Na
esperança, alegrando-vos; na tribulação, suportando-vos; na oração,
perseverando.” Cada um destes exercícios ajuda ao outro. Se nossa
“esperança” da glória está tão assegurada que é uma esperança que causa
alegria, então, com naturalidade possuiremos o espírito da “constância na
tribulação”; mas porquanto é a “oração” a que fortalece a fé que gera
esperança e a eleva até uma expectativa segura e prazerosa, e porquanto
com isto se alimenta nossa paciência na tribulação, se verá que tudo
depende de nossa “perseverança na oração.”
13. praticai a hospitalidade — Isto é, dando hospedagem aos
estrangeiros. Em tempos de perseguição, e quando ainda não se tinham
generalizado as casas de hospedagem, a importância deste preceito se
entenderia logo. No Oriente, onde são raras tais casas, este dever
considerava-se como de um caráter sagrado. [Hodge.]
14. abençoai — ou invoquem uma bênção sobre
os que vos perseguem — Palavras tiradas do Sermão da Montanha,
que, pelas alusões que se fazem ao mesmo, parece ter sido a fonte da
moral cristã entre as igrejas.
15. Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que
choram — Que belo espírito de simpatia perante as alegrias e as
tristezas alheias apresenta-se aqui! Mas é somente uma das encantadoras
fases do caráter abnegado que possui todo aquele que pratica o
cristianismo vivo. Que mundo tão feliz será o nosso quando este vier a
ser o espírito dominante nele! Das duas coisas, entretanto, é mais fácil
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 149
simpatizar com as tristezas de outro que com suas alegrias, porque
naquele caso ele necessita de nós; neste não. Mas por esta razão o
segundo caso é mais desinteressado, e portanto, mais nobre.
16. Sede unânimes entre vós (RC) — O sentir o vínculo comum
que une a todos os cristãos uns aos outros, seja qual for a diversidade de
posição social, de erudição, de temperamento, ou de dons que existir
entre eles, é a coisa de mais valor. Este pensamento se considera em
detalhe em seguida:
Não sejam orgulhosos (NVI) — Não alentem propósitos e desejos
ambiciosos. Como tal sentimento nasce da separação egoísta de nossos
próprios interesses e motivos dos de nossos irmãos, assim é bastante
incompatível com o espírito recomendado na frase anterior.
mas estejam dispostos a associar-se a pessoas de posição
inferior (NVI) — “condescendendo,” ou (como outros vertem as
palavras) “inclinando-vos às coisas humildes.”
não sejais sábios aos vossos próprios olhos — Isto não é mais que
uma recomendação para aplicar o que se disse contra a altivez, ao fazer
uma estimativa de nosso próprio caráter.
17. Não torneis — “Não retribuindo”, etc. Veja-se nota, v. 14.
esforçai-vos por fazer — “procurando”
o bem — “o honroso”
perante todos os homens — A ideia (que se saca de Pv_3:4)
compreende o cuidado que os cristãos devem ter para comportar-se de tal
modo que recebam o respeito de todos.
18. se possível — se vos permitem fazê-lo
quanto depender de vós, tende paz — ou “estejam em paz”.
com todos os homens — Se insinua a impossibilidade de praticá-lo
em alguns casos, para animar o coração daqueles que, fazendo o melhor
possível para viver em paz, sem ter êxito, cedessem à tentação de crer
que o fracasso fosse necessariamente devido a eles. Mas com quanta
ênfase se expressa o mandamento de não permitir que nada do nosso
lado o evite! Tomara que fossem os cristãos sem culpa neste respeito!
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 150
19-21. não vos vingueis — veja-se nota, v. 14.
mas dai lugar à ira — Isto se entende usualmente neste sentido:
“antes dai lugar, ou tempo, para que a ira se extinga.” Mas como o
contexto ensina que o mandamento consiste em deixar a vingança nas
mãos de Deus, “a ira” aqui parece significar, não a ofensa, a que somos
tentados a vingar, mas sim a ira vingadora de Deus (2Cr_24:18), a qual
devemos esperar que termine, ou à qual devemos dar lugar. (Assim
opinam os melhores intérpretes.)
20. se seu inimigo tiver fome — Estas declarações se tiram de
Pv_25:21-22, as quais, sem dúvida, proporcionaram a base daqueles
sublimes preceitos sobre o mesmo tema e que formam o ponto
culminante do Sermão da Montanha.
porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua
cabeça — Como o amontoar “brasas de fogo” é no Antigo Testamento a
expressão figurativa da vingança divina (Sl_140:10; Sl_11:6, etc.), o
verdadeiro sentido destas palavras parece ser: “Essa será a vingança mais
eficaz: vingança sob a qual estará obrigado a dobrar-se.” [Assim Alford,
Hodge, etc.]. Isto o confirma o versículo que segue.
21. Não te deixes vencer do mal — pois em tal caso tu serás o
vencido.
mas vence o mal com o bem — Então a vitória será tua, terás
vencido o teu inimigo no sentido mais nobre.
Note-se:
(1) A misericórdia redentora de Deus em Cristo é, na alma dos
crentes, a fonte viva de toda obediência santa (v. 1).
(2) Assim como a redenção sob o evangelho não é por meio de
vítimas irracionais, como o era sob a lei, mas “pelo precioso sangue de
Cristo” (1Pe_1:18-19) e, por conseguinte, não é ritualista mas sim real,
assim os sacrifícios que os cristãos agora têm que oferecer são todos
“sacrifícios vivos;” e estes — resumidos na consagração da pessoa ao
serviço de Deus — são “santos e aceitos a Deus,” e juntos compõem
“nosso serviço racional” (v. 1).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 151
(3) Nesta luz, o que temos que pensar do assim chamado “sacrifício
incruento da missa, devotado continuamente a Deus como uma
propiciação pelos pecados, assim dos vivos como dos mortos,” o qual se
ensina aos aderentes da corrupta fé de Roma, que é o ato supremo e mais
santo do culto cristão — em oposição diametral ao ensino sublimemente
singelo que os primeiros cristãos de Roma receberam (v. 1)?
(4) Os cristãos não devem sentir-se livre para conformar-se com o
mundo com apenas evitar o que for manifestamente pecaminoso; antes,
entregando-se ao poder transformador da verdade como é em Jesus,
devessem esforçar-se por exibir perante o mundo uma inteira renovação
de suas vidas (v. 2).
(5) O que Deus gostaria que os homens fossem em toda sua beleza
e grandeza, aprende-se na verdade pela primeira vez quando está “escrito
não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra,
mas nas tábuas de carne do coração,” 2Co_3:3 (Rm_12:2).
(6) A suficiência egoísta e a sede de poder, são especialmente
desagradáveis nos vasos de misericórdia, cujos respectivos dons e graças
são todos um legado divino para o bem do corpo comum e da
humanidade em geral (vv. 3, 4).
(7) Assim como o esquecimento disto foi a causa de inumeráveis e
inexprimíveis males na igreja de Cristo, o exercício fiel, da parte de todo
cristão, de seu próprio ofício e de seus dons peculiares, e o amoroso
reconhecimento deles por seus irmãos, os quais se consideram de igual
importância em seus respectivos lugares, daria à igreja visível uma nova
aparência, para o vasto benefício e consolo dos próprios cristãos e para o
mundo que os rodeia (vv. 6-8).
(8) O que seria o mundo se estivesse cheio de cristãos que não
tivessem senão um objetivo na vida, e que este fosse supremo sobre tudo
o mais: o de “servir ao Senhor,” e que pusessem neste serviço alegria no
desempenho de seus deveres, retendo “o calor do espírito” (v. 11)!
(9) Ai, quão longe está ainda a igreja viva de exibir todo o caráter e
o espírito tão belamente descrito nos últimos versículos deste capítulo
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 152
(vv. 12-21)! Quanta falta faz um novo batismo do Espírito para que isto
aconteça! E tão “formosa como a lua, pura como o sol, formidável como
um exército com bandeiras?” deve ser a igreja, quando for animada e
movimento pelo Espírito! O Senhor apresse tal dia!
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 153
Romanos 13

Vv. 1-14. Continuação do mesmo tema — As relações políticas e


sociais — Os motivos.
1. Todo homem — cada um de vós
esteja sujeito às autoridades superiores — “às autoridades
superiores” a ele.
2. aquele que se opõe à autoridade — “aquele que se põe a si
mesmo contra a autoridade.”
resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si
mesmos condenação — Isto é, não a condenação dos magistrados, mas
de Deus, a cuja autoridade resiste ao opor-se à autoridade do magistrado.
3-4. Os magistrados não estão para infundir temor ao que faz o
bem — Quer dizer, “terror ao bom agir,” como parece ser a lição
correta.
4. não é sem motivo que ela traz a espada — isto é, o símbolo da
autoridade que o governante tem para castigar.
5. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa
do temor da punição — por temor ao castigo do magistrado.
mas também por dever de consciência — por respeito à
autoridade de Deus. Isto se disse referente à magistratura em geral,
considerada como ordenança divina; e o dito aplica-se igualmente a
todas as formas de governo, do despotismo desenfreado — tal como
aquele que florescia quando se ditavam estas palavras, sob o imperador
Nero — até a democracia pura. Aqui se deixa sem tocar o direito
inalienável de alterar ou melhorar a forma de governo sob o qual eles
viviam. Mas, porquanto se acusava constantemente os cristãos de
transtornar o mundo, e porquanto havia no cristianismo suficientes
elementos para produzir uma revolução moral e espiritual — e assim dar
plausibilidade à acusação — e para tentar os nobres espíritos, oprimidos
sob o governo mau, a tomar a correção em suas próprias mãos, era de
especial significado que o pacífico, submisso, leal espírito daqueles
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 154
cristãos que viviam na grande sede do poder político, desse provas
visíveis que refutassem tal acusação.
6-7. Por esse motivo, também pagais tributos — “Esta é a razão
pela qual pagais as contribuições necessárias para manter o governo
civil.”
porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a
este serviço — dedicados de fato a este serviço.
7. Pagai a todos o que lhes é devido — Depois de referir-se aos
magistrados o apóstolo escreve agora referente a outros oficiais, e depois
a respeito dos homens que tiverem alguma relação conosco.
tributo — impostos por causa de imóveis.
imposto — direitos alfandegários pela mercadoria.
respeito — a reverência aos superiores.
honra — o respeito devido às pessoas de distinção.
8. A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com
que vos ameis uns aos outros — Quer dizer: “Desembaraçai-vos de
todas as obrigações menos o amor, o qual é uma dívida que nunca se
termina de pagar.” [Hodge.]
pois quem ama o próximo tem cumprido a lei — Porque a
própria lei não é mais que o amor em ação multiforme, considerado
como um assunto de dever.
9. Pois isto, etc. — Melhor dizendo, “Porque (os mandamentos):
Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não cobiçarás, e qualquer
outro mandamento (que houver), está resumido …” (A frase, “Não dirás
falso testemunho”, falta nos manuscritos mais antigos.). O apóstolo faz
referência aqui somente à segunda tábua da lei, pois está tratando do
amor ao próximo.
10. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que,
etc. — Visto que o amor, por sua própria natureza, deleita-se em agradar
o próximo, sua própria existência é uma segurança eficaz contra toda
injúria voluntária ao mesmo. Em seguida se dão motivos gerais para o
fiel desempenho destas obrigações.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 155
11. E digo isto — antes, “E isto fazei”
conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono — da
estúpida e fatal indiferença pelas coisas eternas.
porque a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando
no princípio cremos — Isto está em consonância com todo o ensino de
nosso Senhor, que representa como próximo o dia decisivo da segunda
aparição de Cristo, para que os crentes estejam sempre na atitude de
expectação alerta, mas sem referência alguma à proximidade nem
distância cronológicas de tal evento.
12. Vai alta a noite — da maldade
e vem chegando o dia — do triunfo consumado sobre aquela:
Deixemos, pois, as obras das trevas — Quer dizer, “afastemo-nos
de todas as obras que correspondem ao reino e ao período das trevas,
com as quais, por ser seguidores do Salvador ressuscitado, nossa
conexão foi dissolvida.”
e revistamo-nos das armas da luz — veja-se a descrição da
armadura em geral, em Ef_6:11-15.
13. Andemos honestamente como de dia (TB) —
“decorosamente”. Os homens escolhem a noite para suas orgias, mas
nossa noite passou, porque somos filhos da luz e do dia (1Ts_5:5):
façamos, pois, somente aquilo que pode exibir-se à luz de tal dia.
não em orgias e bebedices — Quer dizer, formas variadas de
intemperança, que representa a farra em geral, a qual usualmente termina
em bebedeira.
não em impudicícias e dissoluções — Várias formas de impureza:
uma assinala os atos, a outra mais geral.
não em contendas e ciúmes — Várias formas daquele sentimento
venenoso entre os homens que anulam a lei do amor.
14. mas — resumindo-o tudo numa palavra
revesti-vos do Senhor Jesus Cristo — de modo tal que só se veja
Cristo em vós (veja-se 2Co_3:3; Gl_3:27; Ef_4:24).
e nada disponhais para — “não vos preocupeis com”
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 156
a carne no tocante às suas concupiscências — Vale dizer: “não
emprestem atenção alguma à concupiscência de sua natureza corrupta,
para obter a satisfação da mesma.”
Note-se:
(1) Quão gloriosamente se adapta o cristianismo à sociedade em
todas as condições! Como não está em conflito direto com nenhumas
formas específicas de governo, tampouco recomenda nenhuma.
Enquanto que seus santos e benignos princípios asseguram a abolição
final de todo governo iníquo, o respeito que ensina para com a
magistratura, sob a forma que for, como instituição divina, assegura a
lealdade e a tranquilidade de seus discípulos em meio de toda a
turbulência e as distrações da sociedade civil, e faz com que seus
preceitos sejam proveitosos aos melhores interesses de todos os estados
os quais lhe dão acolhida dentro de seus termos; e neste sentido, assim
como em qualquer outro, os cristãos devem ser “o sal da terra, a luz do
mundo” (vv. 1-5).
(2) O cristianismo é o grande remédio para a purificação e a
elevação de todas as relações sociais, que inspira a prontidão no
desempenho de todas as obrigações, e que, mais que tudo, implanta em
seus discípulos aquele amor que assegura a todos os homens contra todo
perigo, porquanto é o cumprimento da lei (vv. 6-10).
(3) A rápida marcha do reino de Deus, a etapa a que chegamos no
avanço do mesmo, e a sempre crescente aproximação do dia perfeito —
tanto mais próximo a cada crente quanto mais tempo vive — deveria
inspirar a todos os filhos de luz a “remir o tempo;” e visto que desejam
tais coisas, devem ser diligentes, para que sejam achados por Ele em paz,
sem mancha e sem culpa (2Pe_3:14).
(4) Por causa do “poder expulsivo que produz uma nova e mais
poderosa afeição,” o grande segredo de uma santidade perseverante em
toda sorte de conversação, será achado em que “Cristo está em nós, a
esperança da glória” (Cl_1:27), e em estar “vestidos de Cristo,” sendo
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 157
esta a única forma em que podemos brilhar diante dos homens (2Co_3:3)
(v. 14).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 158
Romanos 14

Vv. 1-23. Continuação do mesmo tema — A paciência cristã.


O tema aqui, e que segue no capítulo 15, é a consideração que
devem ter os cristãos mais fortes para com seus irmãos mais fracos, o
que não é mais que a grande lei do amor (tratada no capítulo anterior) de
uma forma particular.
1. Acolhei — em cordial companheirismo cristão.
ao que é débil na fé — antes, “ao fraco de fé;” não “aquele que é
fraco na verdade crida” [Calvino, Beza, Alford, etc.]; mas sim (como
concordam a maioria dos intérpretes) “aquele cuja fé necessita uma
firmeza e amplitude que o elevem acima dos pequenos escrúpulos.”
(Vejam-se notas, vv. 22, 23).
não, porém, para discutir opiniões — Melhor talvez: “não para
decidir referente a dúvidas,” ou “escrúpulos;” isto é, não com o propósito
de o convencer sobre algum ponto — o que na realidade produz
geralmente o efeito oposto — visto que o recebê-lo em plena confiança
fraternal e em cordial intercâmbio de afeto cristão é a maneira mais
eficaz para o libertar de suas dúvidas. Dois exemplos de tais escrúpulos
aqui se especificam, referente às comidas e dias judaicos: “Os fortes,” se
notará, eram os que sabiam que estas coisas estavam abolidas sob o
evangelho; “os fracos” eram os que tinham escrúpulos a respeito.
2. Um crê que de tudo pode comer — Veja-se At_10:10.
mas o débil come legumes — Limitando-se talvez a uma dieta de
vegetais, por temor de comer o que tivesse sido devotado a ídolos e,
portanto, fosse poluído. (Veja-se 1 Coríntios 8.)
3. quem come não despreze — arrogantemente tenha em pouco
o que não come; e o que não come não julgue — criticamente
o que come, porque Deus o acolhe — o recebeu (o mesmo
vocábulo do v. 1), como um de seus filhos queridos, o qual neste assunto
age, não por descuido, mas por princípio religioso.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 159
4. Quem és tu que julgas o servo alheio? — Isto é, ao servo de
Cristo, como ensina o contexto, e em especial os vv. 8, 9.
Para o seu próprio senhor está em pé — “Mas será afirmado (o
fará estar em pé), porque o Senhor pode afirmá-lo;” isto é, justificará a
posição dele, não no dia do juízo, mas na verdadeira comunhão da igreja
aqui, apesar de suas censuras.
5. Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os
dias — O suplemento “iguais” deveria omitir-se, como prejudicial ao
sentido.
Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente —
Quer dizer, seja guiado em tais assuntos por convicções retas.
6. Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz — o
Senhor Jesus, como no v. 4.
e quem não come, etc. — Faz o que crê ser a vontade do Senhor.
quem come … dá graças a Deus, etc. — Um dava graças a Deus
pela carne que o outro por escrúpulo não comia; e este fazia o mesmo
pelos legumes que, por causa da consciência, limitava-se a comer. Sobre
esta passagem referente à observância de dias festivos, infelizmente
Alford infere que tal linguagem não poderia ter-se usado se a lei sabática
tivesse estado em vigência em alguma forma sob o evangelho.
Certamente, não podia ter-se usado se o sábado fosse meramente um dos
dias festivos judaicos; mas isto não pode dar-se por sentado meramente
porque se observasse sob o sistema mosaico. Usou-se pois, porque o
sábado era mais antigo que o judaísmo; e até sob o judaísmo, estava
encravado entre as eternas santidades do Decálogo; e foi pronunciado,
como nenhuma outra parte do judaísmo, perante o temor reverente do
povo no Sinai; e se o próprio Legislador disse dele quando na terra
estava: “O Filho do homem é Senhor também do sábado” (veja-se
Mc_2:28) — será difícil provar que o apóstolo tivesse querido dizer que
seus leitores devessem catalogá-lo entre os fenecidos dias festivos
judaicos, referente aos quais só os mais fracos podiam imaginar-se que
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 160
estavam ainda em vigor — fraqueza que os que mais luz tinham deviam
tolerar por amor.
7, 8. Porque nenhum de nós — os cristãos
vive para si mesmo — (veja-se 2Co_5:14-15) para dispor de si
nem para formar sua conduta segundo seus próprias ideias e inclinações.
e nenhum (RC) — de nós os cristãos
8. se vivemos, para o Senhor — Cristo; veja-se o versículo
seguinte
vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois,
vivamos ou morramos, somos do Senhor — Nem a mais vívida
explicação destas notáveis palavras poderia fazê-las suportáveis ao
ouvido de qualquer cristão, se Cristo fosse uma mera criatura; visto que
Cristo Se apresenta aqui — nos mais enfáticos termos, e embora num
tom desapaixonado — como o Objeto supremo da vida do cristão, e de
sua morte também. E assim é apresentado por aquele homem cujo horror
ao culto à criatura era tal, que quando os pobres licaônios quiseram
render culto a ele, precipitou-se no meio para impedir semelhante feito,
ordenando-lhes adorar ao único “Deus vivo,” o único legítimo Objeto de
adoração (At_14:15). Não é o propósito de Paulo ensinar esta verdade
aqui mas antes, invocá-la como um fato conhecido e reconhecido, do que
só lembraria a seus leitores. E embora o apóstolo, quando escreveu estas
palavras, nunca tivesse estado em Roma, sabia que os cristãos romanos
assentiriam a este conceito de Cristo visto que era o ensino comum de
todos os pregadores creditados do cristianismo, e a fé comum de todos
os cristãos.
9. Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu, etc. — A
leitura correta aqui é: “Para este fim Cristo morreu e voltou a viver”.
para ser Senhor tanto de mortos como de vivos — O grande
propósito de Sua morte foi para adquirir o senhorio daqueles a quem Ele
tinha redimido, tanto no viver como no morrer, porque Lhe pertenciam
por direito próprio.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 161
10. Tu, porém, por que, etc. — A linguagem usada no original é
mais vívida: “Mas tu (o crente fraco), por que julgas a teu irmão? E logo
você (o mais forte), por que menosprezas a teu irmão?”
Pois todos — fracos e fortes juntos
compareceremos perante o tribunal de Deus — Todos os
manuscritos mais antigos e melhores leem aqui estas palavras: “o
tribunal de Deus.” A leitura da Almeida Corrigida (“havemos de
comparecer ante o tribunal de Cristo”) se interpolou, sem dúvida, de
2Co_5:10, onde se menciona “o tribunal de Cristo.” Mas aqui parece
mais provável que se trata do “tribunal de Deus,” com referência a
citação e pelo que se assenta nos dois vv. seguintes.
11, 12. Como está escrito — Isa_45:23.
Por minha vida, diz o Senhor — “Jeová”, no hebraico
diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará
louvores a Deus — Por conseguinte, se dobrará perante a recompensa
que Deus dará ao caráter e ações deles.
12. Assim, pois — infere o apóstolo.
cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus — Agora, se se
lembrar que tudo isto se aduz incidentalmente, para demonstrar que
Cristo é o Dono absoluto de todos os cristãos, que rege os juízos e
sentimentos de uns com os outros enquanto “vivem,” e que dispõe deles
quando “morrem,” o testemunho que se dá aqui da absoluta divindade de
Cristo, se vislumbrará em maneira notável. Segundo a outra leitura, a
citação para demonstrar que todos temos que comparecer perante o
tribunal de Deus não comprovaria que os cristãos estejam sujeitos a
Cristo.
13. Não nos julguemos mais — “não nos adotemos o ofício de
juiz”
uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito, etc. — Temos
aqui um belo jogo de palavras: “Seja seu juízo o de não pôr tropeço …”
14, 15. Eu sei e estou persuadido, no Senhor Jesus — como
quem “tem a mente de Cristo” (1Co_2:16).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 162
de que nenhuma coisa é de si mesma impura — Por isso o
apóstolo chama “os fortes” os que criam na abolição de todas as
distinções ritualistas sob o evangelho. (Veja-se At_10:15).
salvo para aquele que assim a considera; para esse é impura —
Vale dizer: “E portanto, embora tu possas comer dela sem pecar, ele não
pode.”
15. Se, por causa de comida — A palavra “comida” menciona-se
aqui como coisa sem valor em contraste com o tremendo risco que por
ele se tomava. Assim, na cláusula seguinte, a ideia se destaca com maior
força.
o teu irmão se entristece — ferido em sua fraca consciência.
Por causa da tua comida, não faças perecer aquele a favor de
quem Cristo morreu — “O valor até do mais pobre, do irmão mais
fraco, nem pode expressar-se mais enfaticamente que por meio destas
palavras: Pelo qual Cristo morreu.” [Olshausen]. O mesmo sentimento
está expresso com igual acuidade em 1Co_8:11. Tudo o que tende a
fazer com que um viole sua consciência, também tende à destruição de
sua alma; e aquele que facilita aquilo, sabendo ou não, é culpado
também de ajudar a que este último se realize.
16, 17. Não seja, pois, vituperado — pelo mal que se faça a
outros.
o vosso bem — Quer dizer, esta liberdade vossa quanto às comidas
e dias judaicos, por bem fundada que seja.
17. Porque o reino de Deus — Ou como nós diríamos: a religião;
isto é, a ocupação própria e a bem-aventurança pelas quais os cristãos
estão formados numa comunidade de homens renovados, em completa
sujeição a Deus (veja-se 1Co_4:20).
não é comida nem bebida — “comer e beber”
mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo — Uma divisão
bela e compreensiva do cristianismo vivo. O primeiro — “a justiça” —
tem referência a Deus, e denota aqui “a retidão,” em seu sentido mais
amplo (como em Mt_6:33); o segundo — “a paz” — tem referência a
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 163
nossos próximos, e denota “a concórdia” entre os irmãos (como é claro
pelo v. 19; veja-se Ef_4:3; Cl_3:14-15); o terceiro — “alegria no
Espírito Santo” — tem referência a nós mesmos. A frase “alegria no
Espírito Santo,” representa os cristãos como aqueles que pensam e
sentem sob os impulsos do Espírito Santo de modo que sua alegria não
se considera que é deles senão do bendito Agente. (veja-se 1Ts_1:6).
18. Aquele que deste modo — “nisto”, ou seja, nesta vida tríplice.
serve a Cristo — Notemos aqui de novo que, mesmo quando
fazemos estas três coisas como súditos do “reino de Deus,” contudo é a
“Cristo” a quem servimos ao fazê-lo. Assim o apóstolo passa de Deus a
Cristo tão naturalmente como antes passou de Cristo a Deus, de uma
maneira que seria inconcebível para nós, se considerasse a Cristo como
uma mera criatura (veja-se 2Co_8:21).
é agradável a Deus e aprovado pelos homens — Coisas estas nas
quais Deus Se deleita, e que os homens se veem constrangidos a passar
(veja-se Pv_3:4; Lc_2:52; At_2:47; At_19:20).
19. Assim, pois, seguimos as coisas da paz, etc. — Mais
simplesmente: “as coisas de paz e as coisas para a edificação mútua.”
20. Não destruas a obra de Deus — Veja-se nota, v. 15. O
apóstolo vê em tudo aquilo que tende a violentar a consciência de um
irmão, a destruição incipiente da obra de Deus (o que é tudo convertido)
— sob o mesmo princípio, como aquele que Cristo declarou: “Aquele
que odeia o seu irmão é homicida” (1Jo_3:15).
Todas as coisas … são limpas — Depois de haver-se abolido as
distinções ritualistas.
mas é mau para o homem o comer — há criminalidade no homem
com escândalo — Isto é, de maneira que faça tropeçar ao irmão
fraco.
21. É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer
qualquer outra coisa com que teu irmão venha a tropeçar — Estes
três termos, alguém notou, são cada um intencionalmente mais fraco que
o outro; como se se dissesse: “Bom é não fazer nada que faça tropeçar o
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 164
irmão, ou que talvez obstrua seu adiantamento espiritual, ou, mesmo
quando nem aquilo nem isto passar, que o faça continuar sendo fraco.
Mas este mandamento de abster-se da carne, da bebida, e de tudo o que
danifique a consciência de um irmão, deve ser entendido devidamente.
Manifestamente, o apóstolo está tratando aqui referente à regulação da
conduta do cristão, com referência aos preconceitos que têm os fracos na
fé; e suas indicações não têm que ter-se como prescrições para o tempo
todo que durar nossa vida, nem sequer para promover o bem dos
homens em escala maior, mas simplesmente como advertências contra o
uso excessivo da liberdade cristã naqueles assuntos em que outros
cristãos, por sua fraqueza, não estão persuadidos de que tal liberdade seja
permitida por Deus. Até que ponto este princípio pode ser estendido, não
inquirimos aqui; mas antes de considerar tal pergunta, é muito
importante que nos demos conta de sua extensão, e qual é a natureza
precisa das ilustrações que aqui se dão dele.
22. A fé que tens — quanto a tais assuntos.
tem-na para ti mesmo — para teu interior]
perante Deus — Esta é uma frase muito importante. O apóstolo
não se refere à sinceridade, nem à opinião particular, mas sim à
convicção referente ao que é a verdade e a vontade de Deus. Se te
formaste esta convicção diante de Deus, permaneces com este critério
aos olhos de Deus. É óbvio, não se tem que insistir nisto em demasia,
como se fosse totalmente mau discutir tais pontos com nossos irmãos
fracos. Tudo o que aqui se condena é que o zelo por causa de assuntos
pequenos, faça perigar o amor cristão.
Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que
aprova — que não acede a fazer algo do qual não está seguro que seja
reto; e que só opera aquilo que nem sabe nem teme que seja pecaminoso.
23. Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer — (Veja-
se nota sobre a palavra “condenação,” Rm_13:2).
porque o que faz não provém de fé — Veja-se o v. 22 sobre o
sentido que se dá aqui ao termo “fé.”
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 165
e tudo o que não provém de fé é pecado — Esta é uma máxima de
inexprimível importância na vida cristã.
Note-se:
(1) Há alguns pontos do cristianismo que não são essenciais à
comunhão cristã; de modo que embora se esteja em erro referente aos
mesmos, nem por isso deve ser excluído nem da comunhão da igreja,
nem da plena confiança dos que têm maior luz. Esta distinção entre as
verdades essenciais e as não essenciais é rejeitada por alguns que
aparentam ter um zelo extraordinário pela honra e a verdade de Deus.
(2) Nossa aceitação diante de Deus é a única regra que nos permite
participar da comunhão cristã. Àqueles que Deus recebe, os homens não
podem licitamente rejeitar (vv. 3, 4).
(3) Como há muita tendência à complacência própria ao determinar
os estreitos ideais da comunhão cristã, um dos melhores preservativos
contra esta tendência, é o lembrar continuamente que Cristo é o único
Objeto pelo qual os cristãos vivem e pelo qual todos os cristãos morrem.
Este será um vínculo de união tão vivo e tão nobre que superará todas as
suas diferenças menores e pouco a pouco as absorverá (vv. 7-9).
(4) O pensar no tribunal comum diante do qual terão que
comparecer juntos os fortes e os fracos, será outro preservativo contra a
disposição imprópria de fazer-se juiz um do outro (vv. 10-12).
(5) Com quanta clareza apresenta-se neste capítulo a divindade de
Cristo! A própria exposição torna inútil toda ilustração adicional.
(6) Embora a tolerância seja um grande dever cristão, não se
fomenta aqui a indiferença quanto ao que é verdade e o que é erro. Esta
última é praticada pelos cristãos fracos. Mas nosso apóstolo, ao ensinar
que os fortes” devem suportar aos fracos,” repetidamente insinua neste
capítulo no que radica a verdade referente a esta questão, e chama “os
fracos” àqueles que adotavam o lado errôneo dela (vv. 1, 2, 14).
(7) Com que zelo santo deve guardar-se a pureza da consciência,
porquanto toda violação deliberada dela é perdição incipiente (vv. 15,
20)! Alguns, que parecem ser mais zelosos pela honra de certas doutrinas
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 166
que pela alma dos homens, enervam esta terrível verdade perguntando
como pode estar de acordo com a “perseverança dos santos;” pensando
alguns dos que defendem esta doutrina que é necessário deixar de lado o
que se quer dizer pelas expressões: “destruir a obra de Deus” (v. 20), e
“destruir àquele pelo qual Cristo morreu” (v. 15), por temor às
consequências resultantes de entendê-lo tal como está escrito. Os
opositores de tal doutrina estão prontos a perguntar: Como poderia o
apóstolo ter usado semelhante linguagem se ele tivesse crido impossível
tal catástrofe? A resposta correta a ambas as perguntas está em desprezar
as mesmas como impertinentes. O apóstolo está enunciando um grande
princípio eterno na ética cristã: que a violação voluntária da consciência
tem em si a semente da destruição; ou para expressá-lo de outro modo,
que para que se realize a destruição total da obra de Deus na alma
renovada, e conseguintemente, a perdição daquela alma pela eternidade,
não se requer mais que se leve a pleno efeito tal violação da consciência.
Se tais efeitos na realidade ocorrerem, o apóstolo não dá aqui nem a mais
remota intimação; e, portanto, essa questão deve ser resolvida em outra
passagem. Mas, fora de toda dúvida, como a posição que assentamos
está expressa enfaticamente pelo apóstolo, assim os interesses de todos
os que se chamam cristãos devem ser proclamados e recalcados em toda
ocasião oportuna.
(8) O zelo pelos pontos comparativamente pequenos da verdade,
não pode substituir as realidades substanciais, inclusivas e perduráveis
da vida cristã (vv. 17, 18).
(9) “A paz” que desfrutam os discípulos de Cristo é uma bênção
muito preciosa para eles, e muito importante como testemunho para os
que não desfrutam dela; portanto, não deve ser quebrantada por
bagatelas, mesmo quando nelas se encerrem verdades de menos
importância (vv. 19, 20). Fazendo isto, as verdades menosprezadas não
perigam, mas sim são ratificadas.
(10) Muitas coisas que são lícitas, não são convenientes. No
emprego da liberdade, pois, nossa pergunta deveria ser, não
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 167
simplesmente se for lícito, mas sim, sendo lícito, se se pode praticar sem
perigo para a consciência de algum irmão. “Como afetará à alma de meu
irmão (v. 21)?” deveria ser a pergunta de todo cristão, e não dizer como
Caim: “Sou eu o guardador do meu irmão?” (Gen_4:9.)
(11) Sempre que estejamos em dúvida referente a um ponto de
dever — onde a abstinência é manifestamente lícita, e o aceder a isso
não é claramente permissível — deve-se optar sempre pelo caminho
seguro, porque o fazer o contrário é em si pecaminoso.
(12) Quão exaltada e excelente é a ética do cristianismo, a qual nos
ensina, em poucos mas importantes princípios, como dirigir nosso curso
em meio das dificuldades, tendo consideração igualmente à liberdade, ao
amor, e à confiança cristã!
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 168
Romanos 15

Vv. 1-13. Continuação e conclusão do mesmo tema.


1. Ora, nós que somos fortes — com relação aos pontos que se
acabavam de discutir: a abolição da distinção judaica referente às
comidas e os dias festivos, sob o evangelho. Ver notas, Rm_14:14, 20.
devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a
nós mesmos — Devemos pensar menos no que podemos licitamente
fazer, que na forma como nossa conduta afetará os outros.
2, 3. Cada um de nós agrade — faça tudo que possa para agradar
ao próximo no que é bom para edificação — Não, em verdade,
para vossa mera gratificação, senão para a edificação dele.
3. Porque também Cristo não se agradou a si mesmo — não
viveu para isso
antes, como está escrito — (Sl_69:9).
As injúrias, etc. — Veja-se Mc_10:42-45.
4. Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi
escrito, a fim de que, pela paciência, etc. — “pelo consolo e a
paciência das Escrituras”
tenhamos esperança — Quer dizer: “Não pensem que, porquanto
estas palavras da Escritura têm íntima relação com Cristo, sejam
inaplicáveis a vós; porque embora os padecimentos de Cristo, como
Salvador, foram exclusivamente Seus próprios, os motivos que os
impulsionaram, o espírito com que os suportou, e o princípio geral em
toda Sua obra quer dizer, o sacrifício de Si mesmo em favor de outros,
proporcionam nosso modelo mais perfeito e mais belo; e assim, toda
Escritura que se relaciona com os padecimentos de Cristo, é para nossa
instrução; e porquanto o dever da tolerância, da parte dos fortes para
com os fracos, requer “a paciência,” e esta por sua vez necessita “a
consolação,” todas aquelas Escrituras que falam da paciência e da
consolação, particularmente da paciência de Cristo e da consolação que
O sustentou em Seus sofrimentos, subministram-nos a “esperança” do
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 169
dia bendito quando estas não mais façam falta.” Veja-se nota 7Rm_4:5.
(Sobre a mesma conexão entre “paciência e esperança,” veja-se nota,
Rm_ 12:12; e 1Ts_1:3.)
5, 6. Ora, o Deus da paciência e da consolação — Estes belos
nomes dados a Deus são inspirados por seus próprios atributos: como “o
Deus da esperança” (v. 13), “o Deus da paz” (v. 33), etc.
vos conceda o mesmo sentir ... segundo Cristo Jesus — Não é
unanimidade em tudo o que o apóstolo deseja que eles tenham, porque a
unanimidade no mal deve ser desaprovada. Antes é “segundo Cristo
Jesus” — segundo o modelo excelso dAquele cujo desejo veemente era
“não fazer sua própria vontade, mas sim a vontade daquele que o
enviou” (Jo_6:38).
6. para que concordemente e a uma voz — A mente e a boca de
todos dando glória de comum acordo a Seu nome. Chegar-se-á a realizar
isto na terra?
7. Portanto — voltando para ponto, v. 1
acolhei-vos … para a glória de Deus — Se Cristo nos tem
recebido e suportado toda nossa fraqueza, nós podemos nos receber
mutuamente e nos compadecer uns dos outros, para que assim Deus seja
glorificado.
8-12. Digo, pois — O apóstolo somente atribui mais motivo para a
tolerância cristã.
8. Cristo foi constituído ministro da circuncisão — Notável
expressão, que significa: “Cristo foi feito servo do Pai para a salvação da
circuncisão (ou seja, de Israel).”
em prol da verdade de Deus — Para reiterar a veracidade de Deus
com relação a Seu antigo povo.
para confirmar as promessas — messiânicas
feitas aos nossos pais — Para alentar os crentes judeus, aos quais
poderia parecer estar descuidando, e para desanimar o orgulho dos
gentios, o apóstolo põe em alto a salvação de Israel como o objeto
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 170
primordial da missão de Cristo. Assim que, em segundo termo, Cristo foi
enviado
9. para que os gentios glorifiquem a Deus por causa da sua
misericórdia — Segue aqui um número de citações do Antigo
Testamento para demonstrar que o plano de misericórdia de Deus
abrangia, desde o começo, os gentios junto com os judeus.
como está escrito — (Sl_18:49).
10. E também — Dt_32:43, embora haja certa dificuldade no
hebraico
Alegrai-vos, ó gentios, com o seu povo — Israel.
11. E outra vez — Sl_117:1.
Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, e todos os povos o
louvem — As várias nações fora do judaísmo.
12. Também Isaías diz — Isa_11:10.
Haverá a raiz de Jessé — que significa, não a raiz de onde nasceu
Jessé, mas sim aquele que nasceu dele, ou seja, Davi (Ap_22:16).
aquele que se levanta, etc. — A LXX está de acordo substancial,
embora não verbalmente, com o original.
13. E o Deus — Esta parece ser a oração conclusiva do assunto que
se discutiu anteriormente nesta Epístola.
da esperança — nota, v. 5.
vos encha de todo o gozo e paz na vossa fé (TB) — A verdade
nativa daquela “fé” que é o grande tema desta Epístola (comp. Gl_5:22).
para que sejais ricos de esperança — “da glória de Deus.” Veja-
se nota, Rm_5:1.
no poder do Espírito Santo — a quem, na dispensação da graça,
corresponde inspirar aos crentes todos os afetos dignos de um cristão.
Sobre a porção precedente, note-se:
(1) Nenhum cristão tem o direito a considerar-se como um discípulo
isolado do Senhor Jesus, para decidir os assuntos do dever e da liberdade
somente com referência a si mesmo. Assim como os cristãos são um
corpo em Cristo, a grande lei do amor nos obriga a agir em todas as
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 171
coisas com ternura e consideração para com os irmãos “da salvação
comum” (vv. 1, 2).
(2) Deste desinteresse Cristo é o perfeito modelo para todos os
cristãos (v. 3).
(3) A Sagrada Escritura é a fonte de tudo o que inclui a vida cristã,
até em suas fases mais duras e delicadas (v. 4).
(4) A glorificação harmoniosa do Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo da parte de todos os redimidos, é o fruto mais excelso do plano de
redenção, e o objetivo final de Deus em tal plano (vv. 5-7).

Vv. 14-33. Conclusão: o apóstolo se desculpa por ter escrito aos


cristãos romanos como o fez, explica a razão por não os haver visitado,
anuncia seus planos para o futuro, e pede as orações deles pelo
cumprimento dos mesmos.
14, 15. E certo estou, etc. — Melhor dizendo: “Agora estou
persuadido, meus irmãos, com relação a vós”.
de que estais possuídos de bondade — da inclinação para com
tudo o que venho lhes intimando.
cheios de todo o conhecimento — da verdade espraiada.
aptos para — sem minha intervenção
15. Entretanto, vos escrevi em parte mais ousadamente, como
para vos trazer isto de novo à memória, por causa da graça que me
foi outorgada por Deus — como apóstolo de Jesus Cristo.
16. para que eu seja ministro, etc. — A palavra usada aqui se
emprega usualmente para expressar o ofício do sacerdócio, o que sugere
a linguagem figurativa do resto do versículo.
de Cristo Jesus — “Cristo Jesus,” segundo a leitura correta
entre os gentios — Prova adicional de que a epístola foi dirigida
aos cristãos gentios. Veja-se nota, Rm_1:13.
ministrando o evangelho de Deus (RC) — Como a palavra aqui
usada emprega-se para expressar a ocupação sacerdotal, deve-se traduzir:
“ministrando, à maneira de sacerdote, o evangelho de Deus.”
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 172
de modo que a oferta deles seja aceitável — como oblação a
Deus, em seu caráter de convertidos
aceitável, uma vez santificada pelo Espírito Santo — Sendo esta
a finalidade assinalada figurativamente pelas antigas ofertas.
17. Tenho, pois, motivo de gloriar-me — lit., “Tenho minha
glória,” quer dizer, o direito a glorificar-se.
nas coisas concernentes a Deus — nas coisas do ministério que foi
encomendado por Deus.
18-22. Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão
sobre aquelas que Cristo fez por meu intermédio — Esta expressão
modesta, embora algo obscura, quer dizer: “Não me atreverei a falar
senão do que Cristo operou por mim”, e neste espírito termina o
parágrafo. Notemos como Paulo atribui todo o êxito de seus trabalhos à
intervenção do Redentor vivo, que operava em e por ele.
por palavra e por obras — pela pregação e pelas obras, e estas ele
as explica a seguir:
19. por força — lit., “com o poder”
de sinais e prodígios — Isto é, gloriosos milagres.
pelo poder do Espírito Santo — “o Espírito Santo,” parece ser a
leitura correta. Parece que isto o diz o apóstolo para explicar a eficácia
da palavra pregada, assim como os prodígios que a confirmavam.
desde Jerusalém … até ao Ilírico — Até o mais longínquo limite a
noroeste da Grécia. Corresponde à moderna Croácia e Dalmácia
(2Tm_4:10). Veja-se At_20:1-2.
20. esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, etc. —
Quer dizer, “tomei empenho (comp. 2Co_5:9; 1Ts_4:11, grego), por
pregar o evangelho, não onde Cristo já fosse nomeado, para não edificar
sobre fundamento alheio (que outro tivesse posto); mas sim como está
escrito …” etc.
22. Essa foi a razão — Estando assim ocupado nesta obra
missionária fui impedido muitas vezes (ou “a maior parte das vezes”).
Veja-se nota, Rm_1:9-11.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 173
23, 24. Mas, agora, não tendo já campo — Quer dizer, nem um
lugar onde Cristo não tenha sido pregado.
e desejando — “desejando”
e desejando há muito visitar-vos — (de novo, vejam-se notas,
Rm_1:9-11);
24. quando em viagem para a Espanha — Se este propósito se
levou a cabo foi muito disputado, visto que em nenhuma parte tem-se
escrito nem feito alusão alguma a isso. Os que arguem que nosso
apóstolo nunca esteve livre depois de seu primeiro encarceramento em
Roma, é óbvio, negarão essa possibilidade; enquanto que os que estão
persuadidos, como nós o estamos, de que sofreu um segundo
encarceramento, antes do qual esteve livre por um tempo considerável,
inclinam-se naturalmente à outra opinião.
irei ter convosco (RC) — Se estas palavras não estavam no texto
original, e há evidência de peso contra isso, foram inseridas ao menos
como suplemento necessário.
de passagem, estarei convosco, etc. — “Ao passar por ali, serei
enviado adiante, mas espero antes desfrutar em parte (‘me encher’) de
vossa companhia”. Vale dizer: “Teria querido por certo ficar mais tempo
convosco do que penso, mas estou de acordo com desfrutar em parte
pelo menos, de vosso companheirismo.”
25-27. Mas, agora, estou de partida para Jerusalém, a serviço
— no sentido que em seguida se explica.
dos santos — no sentido a ser imediatamente explicado.
26. Porque aprouve à Macedônia e à Acaia, etc — “a Macedônia
e a Acaia tiveram por bem fazer certa contribuição para os pobres dentre
os santos que estavam em Jerusalém. (At_24:17.) Pareceu-lhes bem, pois
na realidade eram devedores deles.” Como se se dissesse: “E fazem bem,
se pensarem no que os crentes gentios devem a seus irmãos judeus.”
27. porque, se os gentios têm sido participantes dos valores
espirituais dos judeus, devem também servi-los com bens materiais
— Comp. 1Co_9:11; Gl_6:6; veja-se Lc_7:4; At_10:2.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 174
28, 29. Tendo, pois, concluído isto e havendo-lhes consignado
este fruto — da fé e amor dos convertidos gentios.
passando — “voltarei”
por vós, irei à Espanha — Veja-se nota, v. 24.
29. E bem sei — com certeza
que … irei na plenitude da bênção de Cristo — A leitura correta
no original é: “a bênção de Cristo.” As palavras “do evangelho” [RC]
não estão em manuscrito algum da antiguidade ou de autoridade.
Tampouco estava errado o apóstolo nesta confiança, embora sua visita a
Roma fez-se em circunstâncias muito diferentes das que ele esperava.
Veja-se At_28:16, etc.
30. Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e
também pelo amor do Espírito — Não se trata do amor que o Espírito
sente para conosco, mas sim do amor que Ele acende no coração dos
crentes de uns com os outros. Como se dissesse: “Por aquele Salvador,
cujo nome nos é querido a todos e cujas riquezas inescrutáveis vivo
somente para proclamar, e por aquele amor mútuo que o bendito Espírito
difunde por toda a irmandade e faz com que os trabalhos dos servos de
Cristo sejam assunto de interesse comum para todos — vos rogo:”
que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor
— Indicando com isto que ele tinha suas razões para temer ao fazer esta
viagem.
31. para que eu me veja livre dos rebeldes — “dos que não
obedecem” à verdade, descrendo-a, como em Rm_2:8
que vivem na Judeia — O apóstolo via a tormenta que se formaria
por causa dele na Judeia, a qual deveria estalar sobre sua cabeça ao ele
chegar à capital; e os fatos demonstraram claramente o acertadas que
eram estas apreensões.
e que este meu serviço — veja-se notas vv. 25-28.
em Jerusalém seja bem aceito pelos santos — Paulo tinha dúvida
e temores de que as antipatias que ele tinha causado por estar contra o
zelo dos judeus convertidos, que não queriam aceder a receber
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 175
cordialmente a seus irmãos gentios, fizessem que esta doação dos
mesmos aos santos necessitados de Jerusalém fosse menos aceita do que
deveria ser. Por esta razão queria que os romanos se unissem a ele em
oração a Deus para que a oferta fosse recebida com gratidão, e resultasse
num vínculo de união entre os dois partidos. Mas além disso:
32-33. a fim de que, ao visitar-vos, pela vontade de Deus, chegue
à vossa presença com alegria — (At_18:21; 1Co_4:19; 1Co_16:7;
Hb_6:3; Tg_4:15).
e possa recrear-me convosco — antes: “recreie-me,” depois de
seus trabalhos e ansiedades, e esteja restabelecido para realizar seus
trabalhos futuros.
33. E o Deus da paz seja com todos vós. Amém! — A paz aqui
mencionada deve ser entendida em seu sentido mais amplo: a paz da
reconciliação com Deus, primeiro, “pelo sangue da aliança eterna”
(Hb_13:20; 1Ts_5:23; 2Ts_3:16; Fp_4:9); logo a paz que tal
reconciliação difunde entre todos os que dela participam (1Co_14:33;
2Co_13:11; e veja-se nota, Rm_16:20); mais amplamente ainda, aquela
paz que os filhos de Deus, à semelhança de seu Pai celestial, foram
chamados para difundir e têm o privilégio de espalhar por toda parte
deste mundo tão desventurado e esmagado pelo pecado (Ro12:18;
Mt_5:9; Hb_12:14; Tg_3:18).
Note-se:
(1) Desculpou-se “o principal dos apóstolos” por ter escrito a uma
igreja cristã que nunca tinha visto, igreja que ele estava persuadido não
necessitava sua carta, salvo “para despertar com exortação seu limpo
entendimento” (2Pe_1:13; 2Pe_3:1); e isto o fez baseando-se só em sua
responsabilidade apostólica (vv. 14-16)? Que contraste se acha aqui
entre a atitude do apóstolo e a arrogância hierárquica, e em particular, a
humildade afetada do bispo desta mesma Roma! Quão estreito o vínculo
que o Espírito assinala entre ministros e povo! E quão larga a separação
entre a igreja de Roma e seus paroquianos!
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 176
(2) Não há na igreja cristã sacerdócio verdadeiro, nem sacrifícios
senão aqueles que são figurativos. De outro modo, é inconcebível que o
versículo 16 deste capítulo se tivesse escrito de tal forma. O único
sacerdócio de Paulo e suas únicas ofertas sacrificais consistiam:
primeiro, em lhes oferecer, como “o apóstolo aos gentios,” não o
sacramento da “presença real” de Cristo nele, nem o sacrifício da missa,
mas sim “o evangelho de Deus;” e logo, em apresentá-los a Deus, uma
vez congregados sob a asa de Cristo, como oferta grata, “santificados
(não por dádivas sacrificais, mas sim) pelo Espírito Santo.” (Veja-se
Hb_13:9-16.)
(3) Embora a dívida que temos para com aqueles que conduziram a
Cristo nunca pode ser liquidada, devemos considerar como um privilégio
o outorgar-lhes qualquer benefício, por pequeno que fosse, como uma
expressão de gratidão (vv. 26, 27).
(4) As grandes conspirações contra a verdade e contra os servos de
Cristo deveriam ser rebatidas, antes que por qualquer outro método, por
meio da oração unida e dirigida Àquele que rege todos os corações e
intervém em todos os eventos; e quanto mais negra a nuvem, com tanto
mais resolução deveriam “ajudar com orações a Deus” todos os que
amam a causa de Cristo (vv. 30, 31).
(5). A irmandade cristã é tão preciosa que os mais eminentes servos
de Cristo, em meio das fadigas e as provas de sua obra, recreiam-se e se
fortalecem nela; e não dá bom testemunho o eclesiástico que creia que se
rebaixa por buscá-la e desfrutá-la entre os santos mais humildes da igreja
de Cristo (vv. 24, 32).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 177
Romanos 16

Vv. 1-27. Conclusão, abrangendo várias saudações e


recomendações, e a oração de clausura.
1. Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja
de Cencréia — na parte oriental de Corinto (At_18:18). Não há razão
para duvidar que houvesse nas igrejas primitivas diaconisas que
atendessem as necessidades das membros. Pelo menos, lá pelo reinado
do Trajano, conforme nos informamos pela célebre carta de Plínio
dirigida àquele imperador — ano 110, ou 111 d.C. — eram encontradas
nas igrejas orientais. Com efeito, por causa da relação existente então
entre os sexos opostos, algo dessa sorte teria parecido ser uma
necessidade. As tentativas modernas, entretanto, por restabelecer este
ofício, poucas vezes resultaram favoráveis; quer fosse devido ao estado
alterado da sociedade ou pelo abuso do ofício, ou por ambas as razões.
2. para que a recebais no Senhor — Isto é, como fiel discípula do
Senhor Jesus.
como convém aos santos — como os santos devem receber aos
santos.
e a ajudeis em tudo que de vós vier a precisar — em qualquer
negócio particular dela.
tem sido protetora de muitos e de mim inclusive — Veja-se
Sl_41:1-3; 2Tm_1:16-18.
3-5. Saudai Priscila — A leitura correta é “Prisca,” como em
2Tm_4:19, e é uma forma contraída de Priscila, como “Silas” de
“Silvano.”
e a Áquila, meus cooperadores — Aqui se nomeia a esposa antes
do marido (como em At_18:18, e Rm_16:26, segundo a leitura correta;
também em 2Tm_4:19), provavelmente porque ela era mais proeminente
e útil na obra.
4. pela minha vida arriscaram a sua própria cabeça — Isto é,
arriscaram a vida por Paulo em Corinto (At_18:6, At_18:9-10), ou mais
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 178
provavelmente no Éfeso (At_19:30-31; comp. 1Co_15:32). Deveram ter
retornado do Éfeso, onde os vimos pela última vez na história dos Atos,
a Roma, de onde tinham sido desterrados pelo decreto de Cláudio
(At_18:2); e eram, sem dúvida, se não os principais membros daquela
comunidade cristã, ao menos os mais queridos de nosso apóstolo.
e isto lhes agradeço, não somente eu, mas também todas as
igrejas dos gentios — a cujo apóstolo especial este querido casamento
tinha salvo de perigo iminente.
5. igualmente a igreja que se reúne na casa deles — A
assembleia cristã que se reunia regularmente ali para o culto. “Por sua
ocupação como fabricantes de tendas, provavelmente tinham melhores
confortos para as reuniões da igreja que os demais cristãos.” [Hodge]. É
provável que este consagrado casamento tinha escrito ao apóstolo
referente às reuniões regulares em sua casa de tal maneira que se sentia
como um deles, e por isso os incluía em seus saudações, as quais, sem
dúvida, seriam lidas nas reuniões com especial interesse.
Saudai meu querido Epêneto, primícias — meu primeiro
convertido
da Ásia para Cristo — A leitura correta aqui, como aparece nos
manuscritos, é: “as primícias da Ásia para Cristo” — isto é, a Ásia
Proconsular (veja-se At_16:6). Em 1Co_16:15 diz-se que “a casa de
Estéfanas era as primícias de Acaia;” e embora Estéfanas fosse um de tal
família, podem reconciliar-se ambas as declarações segundo o texto
recebido, e não há necessidade de invocar esta hipótese, visto que aquele
texto neste caso está sem autoridade. Epêneto, como o primeiro crente da
região chamada a Ásia Proconsular, era querido ao apóstolo. Veja-se
Os_9:10; e Mq_7:1. Nenhum dos nomes mencionados nos vv. 5 a 15 são
conhecidos de outra maneira. É de admirar-se do número deles, visto que
o escritor nunca tinha estado em Roma. Mas como Roma era então o
centro do mundo civilizado, aonde e de onde se viajava até as partes
mais remotas, não há grande dificuldade em supor que um missionário
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 179
tão ativo como Paulo, com o tempo, seria conhecedor de um número
considerável de cristãos residentes em Roma.
6. Saudai Maria, que muito trabalhou por vós — ocupava-se,
sem dúvida, em atividades próprias de seu sexo.
7. Saudai Andrônico e Júnias — ou possivelmente, “Júnias,”
forma contraída do Junianus:” neste caso, é nome de varão. Mas se,
como é mais provável, a palavra é, como em nossa versão, “Júnias,” a
pessoa referida seria a esposa ou a irmã de Andrônico.
meus parentes e companheiros de prisão — Em que ocasião, é
impossível dizer, porque o apóstolo em outra parte diz que esteve em
cárceres muitas vezes (2Co_11:23).
os quais são notáveis entre os apóstolos — Os que opinam que
aqui se usa a palavra “apóstolos” num sentido indeterminável, como nos
Atos e nas Epístolas, entendem que estes eram dois “apóstolos
renomados” [Crisóstomo, Lutero, Calvino, Bengel, Olshausen, Tholuck,
Alford, Jowett]; os que duvidam que a palavra se aplique a outros fora
do círculo dos doze, salvo onde se emprega qualificativo que indique o
ser “enviado,” entendem que a expressão aqui usada significa “pessoas
estimadas pelos apóstolos.” [Beza, Grocio, De Wette, Meyer, Fritzsche,
Stuart, Philippi. Hodge.] É óbvio, se se entender que “Júnias” é mulher,
este deve ser o sentido da frase.
estavam em Cristo antes de mim — O apóstolo escreve como se
lhes invejasse esta prioridade na fé. E, por certo, se o estar “em Cristo” é
a condição humana mais invejável, com quanto mais anterioridade seja a
data desta bendita transação, tanto maior a graça dela. Esta declaração a
respeito de Andrônico e Júnias parece arrojar luz sobre o anterior. Muito
possivelmente eles tinham sido das primícias dos trabalhos de Pedro,
convertidos a Cristo ou no dia de Pentecostes ou em algum dos dias
subsequentes. Nesse caso, pode ser que se tivessem granjeado a estima
especial daqueles apóstolos que residiam então em Jerusalém ou em suas
cercanias; e nosso apóstolo, embora chegasse a ter contato com os
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 180
demais apóstolos mais tarde, conhecedor deste fato, teria tido prazer em
fazer referência a isso.
8. Saudai Amplíato — Forma contraída de “Ampliatus”.
meu dileto amigo no Senhor — Uma expressão carinhosa de afeto
cristão.
9-10. Saudai Urbano, que é nosso cooperador em Cristo …
Apeles, aprovado em Cristo — ou como diríamos: “o cristão provado”.
Que recomendação tão nobre!
10. Saudai os da casa de Aristóbulo — Pareceria, pelo que se diz
logo referente aos cristãos que viviam em casa de Narciso, que este
Aristóbulo mesmo não era cristão, mas sim que se faz referência
somente aos de sua casa, talvez a seus escravos.
11. Saudai meu parente Herodião — (nota, v. 7).
Saudai meu parente Herodião — o que infere que outros de sua
casa, ele mesmo inclusive provavelmente, não eram cristãos.
12. Saudai Trifena e Trifosa, as quais trabalhavam no Senhor
— duas mulheres ativas.
a estimada Pérside, que também muito trabalhou no Senhor —
Aqui se refere, provavelmente, não a serviços oficiais, como os que
cabiam às diaconisas, mas sim a serviços cristãos superiores — dentro da
competência da mulher — tais como os que Priscila prestou a Apolo e a
outros (At_18:18).
13. Saudai Rufo, eleito no Senhor — O que significa, não “aquele
que é eleito,” como o é todo crente, mas sim “o eleito,” ou “o precioso”
no Senhor. (1Pe_2:4; 2Jo_1:13.) Lemos em Mc_15:21 que Simão de
Cirene, a quem obrigaram a levar a cruz de nosso Senhor, era “o pai de
Alexandre e de Rufo.” Disto concluímos naturalmente que, quando
Marcos escreveu seu Evangelho, Alexandre e Rufo eram cristãos bem
conhecidos entre aqueles que deveriam ser os primeiros em ler o seu
evangelho. Com toda probabilidade, este era o mesmo Rufo, e em tal
caso aumenta o nosso interesse pelo que se diz a seguir a respeito de sua
mãe.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 181
e igualmente a sua mãe, que também tem sido mãe para mim —
O apóstolo a chama minha “mãe”, nem tanto no sentido em que o Senhor
chama sua mãe a toda crente anciã (Mt_12:49-50), mas em grato
reconhecimento pelos cuidados maternais recebidas da parte dela,
motivados, sem dúvida, pelo amor que sentia para com seu Mestre e para
com os nobres servos de seu Senhor. Parece-nos a nós totalmente
provável que a conversão de Simão de Cirene datava daquele dia
memorável quando ao passar (casualmente), “vindo do campo
(Mc_15:21), obrigaram-no a levar” a cruz do Salvador. Doce compulsão,
se o que ele contemplou então, contribuiu em sua decisão para tomar
voluntariamente sua própria cruz! É natural supor que por sua
instrumentalidade, sua esposa seria convertida, e que este casal crente,
agora “herdeiros junto da graça da vida” (1Pe_3:7), ao narrar a seus dois
filhos, Alexandre e Rufo, a honra que tinha sido conferido a seu pai, sem
o saber, naquela hora de tanta significação para todos os cristãos, seriam
benditos em levá-los ambos a Cristo. Em tal caso, supondo-se que o
irmão mais velho já tinha partido para estar com Cristo, ou, que residia
em alguma parte remota, e que Rufo ficava sozinho com a mãe, que
instrutivo e belo é o testemunho que aqui se dá sobre ela!
14, 15. Saudai Asíncrito, etc. — Tem-se crido que estes são nomes
de cristãos menos notáveis que os já nomeados. Mas quase não se
aceitará esta hipótese, sem que se observe que estão divididos em dois
grupos de cinco cada um, e que depois do primeiro grupo adiciona-se:
“aos irmãos que estão com eles,” enquanto que depois do segundo grupo
temos estas palavras: “e a todos os santos que estão com eles.” Isto quase
não significa que cada um dos cinco irmãos de cada grupo tivesse “uma
igreja em sua casa;” de outro modo, se teria dito mais expressamente.
Mas ao menos parece indicar que a casa de cada um deles era um centro
no qual se reuniam uns poucos cristãos — talvez para instrução, ou para
oração, ou com propósitos missionários, ou para outros fins espirituais.
Estas pequenas olhadas nas formas rudimentares de confraternidade
cristã praticadas pelos cristãos nas cidades grandes, embora não se
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 182
baseiam senão em conjeturas, são singularmente interessantes. Nosso
apóstolo, segundo parece, era informado minuciosamente quanto ao
estado da igreja romana, tanto a respeito de seus membros como de suas
várias atividades, provavelmente por meio de Priscila e Áquila.
16. Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo — Veja-se
1Co_16:20; 1Ts_5:26; 1Pe_5:14. O costume prevalecia entre os judeus,
e sem dúvida proveio do Oriente, onde ainda existe. Sua adoção nas
igrejas cristãs, como símbolo de uma comunhão superior a que jamais se
expressasse antes, foi provavelmente tão imediata como foi natural.
Neste caso o desejo do apóstolo parece ser que eles, ao receber sua
epístola, com as saudações nela encomendadas, testificassem
expressamente desta maneira seu afeto cristão. Depois chegou a ter um
posto fixo no culto da igreja, imediatamente depois da ceia do Senhor, e
seguiu em uso por muito tempo. Não obstante, antes de adotar tais
práticas, devem-se estudar as condições sociais, assim como as
peculiaridades das diferentes regiões.
Todas as igrejas de Cristo vos saúdam — Esta é a leitura correta;
mas a palavra “todas” se veio omitindo, porque provavelmente parecia
expressar mais do que o apóstolo ousasse afirmar. Mas parece significar
somente que o apóstolo queria assegurar aos romanos em quanta
estimativa afetuosa os tinham as igrejas em geral; todas as que souberam
que ele estava escrevendo aos romanos pediram expressamente que suas
próprias saudações fossem enviadas (veja-se v. 19).
17. Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam
divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que
aprendestes; afastai-vos deles — Os fomentadores de “dissensões” a
que aqui se faz referência, provavelmente eram aqueles que estavam
contra as verdades ensinadas na epístola; e os que causavam
“escândalos,” ou “desgostos,” eram provavelmente os indicados em
Rm_14:15, os quais arrogantemente desdenhavam os preconceitos dos
fracos. A instrução quanto a aqueles e estes era que fossem vigiados, em
primeiro termo, para prevenir o mal, e logo, que se apartassem dos tais
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 183
(comp. 2Ts_3:6, 2Ts_3:14) para não tomar responsabilidade alguma pela
conduta deles nem tampouco para parecer dar-lhes a menor aprovação.
18. porque esses tais não servem … e sim a seu próprio ventre
— Não no sentido mais grosseiro, mas sim como “vivendo para as
indignas finalidades próprias” (comp. Fp_3:19).
e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos
incautos — Quer dizer, dos imprudentes, os não suspicazes. Veja-se
Pv_14:15.
19. a vossa obediência é conhecida por todos; por isso, me
alegro a vosso respeito; e quero que sejais sábios para o bem e
símplices para o mal — Veja-se Mt_10:16, de onde veio esta
admoestação. É como se se dissesse: “O vosso bom nome entre as igrejas
porque fostes obedientes ao ensino que recebestes, é-me suficiente base
para ter confiança em vós; mas necessitais a sabedoria da serpente para
distinguir entre a verdade diáfana e o erro plausível, com uma
simplicidade que instintivamente se adere àquela e rechaça a este.”
20. E o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés
a Satanás — O apóstolo anima os romanos a perseverar em sua
resistência contra os artifícios do diabo lhes assegurando que eles, como
bons soldados de Jesus Cristo, “logo” estarão livres de tal
responsabilidade e terão a satisfação de “pôr os pés no pescoço” daquele
inimigo formidável — símbolo conhecido, provavelmente, em todas as
línguas, para expressar não só a perfeição da derrota mas também a
abjeta humilhação do inimigo vencido. Veja-se Js_10:24; 2Sm_22:41;
Ez_21:29; Sl_91:13. E o Deus de paz esmagará muito em breve a
Satanás sob seus pés. Embora o apóstolo aqui chama “o Deus da paz”
Àquele que há de quebrantar a Satanás, com especial referência às
dissensões” (v. 17) que ameaçavam perturbando a igreja de Roma, esta
sublime denominação de Deus tem aqui um sentido mais amplo, e indica
que “o propósito pelo qual o Filho de Deus Se manifestou, foi para
destruir as obras do diabo” (1Jo_3:8); e na verdade, esta segurança não é
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 184
mais que a reprodução da primeira grande promessa, de que a semente
da mulher quebrantaria a cabeça da serpente (Gn_3:15).
A graça de nosso Senhor Jesus seja convosco — A adição do
“amém” [RC] aqui não tem a autoridade dos manuscritos. O que segue
depois deste ponto, onde se pensaria que a epístola deveria concluir-se,
tem seu paralelo em Fp_4:20, etc., e sendo um fato comum dos escritos
epistolares, é simplesmente uma marca da genuinidade.
21. Saúda-vos Timóteo, meu cooperador — Veja-se At_16:1-5. O
apóstolo o menciona aqui em lugar de na introdução, porque Timóteo
não tinha estado em Roma. [Bengel.]
Lúcio — Não Lucas, porque a forma completa de “Lucas” não é
“Lúcio,” mas sim “Lucano.” A pessoa indicada parece ser “Lúcio de
Cirene,” quem esteve entre os “profetas e doutores” em Antioquia com
nosso apóstolo antes que fosse chamado aos campos missionários.
(At_13:1.)
Jasom — Veja-se At_17:5. Provavelmente ele acompanhou ao
apóstolo, ou o seguiu, de Tessalônica a Corinto.
e Sosípatro — Veja-se At_20:4.
22. Eu, Tércio, que escrevi esta epístola — como amanuense, ou
escrivão.
vos saúdo no Senhor — O apóstolo costumava ditar suas epístolas,
e por isso em Gálatas chama a atenção de seus leitores ao fato de que
lhes tinha escrito com sua própria mão. (Gl_6:11). Mas Tércio queria
que os romanos soubessem que ele, longe de ser um mero escrivão,
sentia sincero afeto cristão para com os romanos, e que o apóstolo,
fazendo inserir esta saudação aqui, queria fazer notório que classe de
ajudante ele empregava.
23. Gaio, meu hospedeiro e de toda a igreja — Veja-se At_20:4.
Parece que Gaio foi uma das únicas duas pessoas que Paulo batizou com
sua própria mão (comp. 3Jo_1:1). Sua hospitalidade cristã parece ter sido
uma coisa não comum.
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 185
Erasto, tesoureiro da cidade — Sem dúvida de Corinto. Veja-se
At_19:22; 2Tm_4:20.
e o irmão Quarto — antes, “Quarto, nosso irmão;” como se chama
a Sóstenes e a Timóteo (1Co_1:1, e 2Co_1:1 em grego.) Nada mais se
sabe deste Quarto.
24. A graça, etc. — Aqui se repete a mesma bênção precisamente
como está no v. 20, salvo que aqui se invoca sobre “todos” eles.
25. Ora, àquele que é poderoso — mais simplesmente como em
Jd_1:24: “Àquele que é poderoso”.
para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação —
Isto é, de conformidade com as verdades do evangelho que eu prego, e
não só eu, mas também todos aqueles aos quais foi encomendada “a
pregação de Jesus Cristo”.
conforme a revelação do mistério — (veja-se nota, Rm_11:25).
guardado em silêncio nos tempos eternos — ou “durante séculos
eternos”.
26. e que, agora, se tornou manifesto — Aqui se faz referência
àquele característico peculiar da dispensação evangélica que se levou a
efeito prático por meio de Paulo e foi revelado em seu ensino; quer dizer,
a introdução dos crentes gentios a uma igualdade com seus irmãos
judeus, e a nova forma que tomou a ideia do reino de Deus e que foi para
os judeus bem surpreendente. Veja-se Ef_3:1-10, etc. Isto o apóstolo
chama aqui um mistério, ou segredo, que até então tinha sido encoberto
ou guardado, mas que agora foi plenamente revelado, e cujo sentido será
manifestado no versículo seguinte; e sua oração pelos cristãos romanos,
na forma de uma doxologia dirigida àquele que pode fazer o que Paulo
pediu, é que eles sejam estabelecidos na verdade do evangelho, não só
no caráter essencial dela, mas também especialmente naquele
característico da mesma que lhes autorizou como crentes gentílicos, para
ocupar um posto digno entre o povo de Deus.
e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas,
segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência — A fim
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 186
de que os judeus não pensassem, por causa do que acabava de dizer, que
Deus teria operado em Seu povo uma mudança tão vasta em sua
condição sem lhes dar notícia prévia alguma, o apóstolo aqui acrescenta
que, ao contrário, “os escritos dos profetas” contêm tudo o que ele e
outros pregadores do evangelho proclamam sobre estes temas, e que,
com efeito, o mesmo Deus que “nas idades eternas” tinha guardado estas
coisas encobertas, tinha dado “mandamento” que agora, segundo o teor
de tais escritura proféticas, fossem repartidas a todas as nações para a
aceitação delas pela fé.
27. ao Deus único e sábio, etc. — “Ao único Deus sábio por Jesus
Cristo (lit.) a quem é …” Vale dizer: “a ele digo que seja glória …” Ao
começar a epístola, esta é uma tributação de glória ao poder que podia
fazer tudo isto; e ao concluí-la, atribui glória à sabedoria que fez os
planos e preside o agrupamento do povo redimido dentre todas as
nações. O apóstolo acrescenta um fervente “Amém,” que o leitor — se o
seguiu com o mesmo assombro e deleite de quem estas palavras escreve
— repetirá também com ardor.
Sobre esta seção concludente da epístola, notemos:
(1) Nas manifestações minuciosas e delicadas do sentimento
cristão, assim como no vivo interesse pelas ações mais pequenas da vida
que são o fruto do amor e o zelo cristãos, e que se apresentaram nesta
epístola de maneira tão inteligente e inspirada, como na verdade o são
todos os escritos de nosso apóstolo, temos o segredo daquela grandeza
de caráter que fez com que o nome de Paulo ocupe um lugar privilegiado
na estimativa do cristianismo inteligente de toda idade; e o segredo
daquela influência que como servo de Deus, e mais que todos os outros
apóstolos, ele já exerceu, e ainda deverá exercer sobre o pensamento e o
sentimento religioso dos homens. Nem pode alguém o imitar nestas
peculiaridades sem exercer também uma correspondente influência sobre
todos os que tenham contato com ele (vv. 1-16).
(2) “A astúcia da serpente e a mansidão da pomba” — ao intimar as
quais nosso apóstolo não faz senão repetir o ensino de seu Senhor
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 187
(Mt_10:16) — são uma combinação de qualidades que assim como são
raras entre os cristãos são de vasta importância. Em toda idade, houve na
igreja verdadeiros cristãos cujo estudo excessivo da sabedoria da
serpente penetrou tanto em sua simplicidade e sinceridade que é de
temer-se que sejam pouco melhores que lobos vestidos de ovelhas. Nem
se pode negar por outro lado que, quer seja por sua inépcia ou pela
indisposição para julgar com a devida discriminação entre o bem e o
mal, muitos cristãos eminentemente singelos, espirituais, e consagrados,
exerceram em sua vida pouca ou nenhuma influencia sobre seção alguma
da sociedade em que vivem. Que o conselho do apóstolo sobre este tema
seja recebido para estudo, especialmente pelos cristãos jovens cujo
caráter está ainda em formação, e cuja esfera permanente na vida não
está senão parcialmente determinada; e que se preparam em oração para
o exercício misto destas duas qualidades. Deste modo seu caráter cristão
será consistente e elevado, e sua influência para o bem será em
proporção ao seu crescimento.
(3) Os cristãos deveriam animar-se mutuamente em meio das
fadigas e provas de suas prolongadas lutas com a segurança de que estas
logo terminarão de uma maneira gloriosa. Do mesmo modo, deveriam
acostumar-se a considerar toda oposição feita ao progresso e à
prosperidade da causa de Cristo — quer seja em suas próprias almas, nas
igrejas com as quais estão relacionados, ou no mundo em geral — como
obra de Satanás, que esteve sempre em conflito com o Senhor deles; e
nunca deveriam duvidar que o Deus da paz quebrantará logo a Satanás,”
cujo pescoço ele porá debaixo de seus pés e cuja cabeça eles esmagarão
(v. 20).
(4) Como o poder divino que opera por meio do glorioso evangelho
é a única coisa que sustenta os cristãos e os faz perseverar, assim
também deveriam atribuir toda a glória de sua presente estabilidade,
como o farão àquele poder e àquela sabedoria que os fez partícipes do
evangelho certamente de sua vitória final (vv. 25-27).
Romanos (Jamieson-Fausset-Brown) 188
(5) “Mandou o eterno Deus” que o “mistério” evangélico, tanto
tempo encoberto, mas agora plenamente revelado, seja dado a conhecer a
todas as nações para que obedeçam à fé” (v. 26)? Então, que
responsabilidade foi imposta a todas as igrejas e a cada cristão de enviar
o evangelho “a toda criatura”! E podemos estar bem seguros de que a
prosperidade ou o decaimento das igrejas e dos cristãos individuais, não
terá pouco que ver com a fidelidade ou com a indiferença
respectivamente perante este imperativo dever.

A antiga adição no final desta epístola, embora não tenha nenhuma


autoridade, parece ser neste caso bastante correta.

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