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Uma leitura clássica poderia dizer que essa capacidade do Estado de se impor
sobre os indivíduos, proporcionada pelas suas instituições e agentes, consiste no
poder. Poder de impor uma vontade sobre as outras pela ameaça, direta ou
indireta, de violência ou sanção.
Contudo, como Foucault nos mostra (Foucault,1982), o poder pode ser visto por
outra ótica. O poder é relacional, ou seja, é exercido numa relação entre duas ou
mais partes. Ao dizer que o poder é relacional, concebe-se que este é produto das
desigualdades e desequilíbrios que podem estar presentes em quaisquer relações.
Essas relações de poder são encontradas em toda a estrutura da sociedade, desde
as relações cotidianas entre pessoas até as relações entre os grupos da sociedade
e os aparelhos estatais.
Essa concepção de poder nos mostra que o Estado capturou numerosas relações
de poder, mas não é sua fonte, uma vez que o poder – ao invés de assumir a forma
de lei – mostra-se como relação, não sendo a violência ou a lei, mas uma relação
estratégica de forças que se estabelece e que pode deixar de existir.
Dessa forma, o poder não é possuído, mas algo que é exercido de acordo com um
determinado contexto: ele é um instrumento de diálogo entre os indivíduos.
Partindo da perspectiva foucaultiana, que expande a compreensão deste conceito
para além do contexto do Estado de Direito, podemos pensar esta questão no
contexto organizacional.
Referências bibliográficas:
A microfísica da corrupção
O historiador e filósofo Michel Foucault criou uma teoria a que chamou de “microfísica do
poder”, título de um de seus livros. Com isso, ele demonstra que o poder se exerce de
múltiplas formas e não somente a partir de grandes estruturas, como a máquina do Estado
e outras estruturas sociais historicamente poderosas, como a Igreja, a escola, as forças
armadas, o estamento policial.
Segundo Foucault, há um micropoder que se exerce fortemente também nas relações
sociais distantes do macropoder, em que indivíduos ou microestruturas, como um time de
futebol, uma associação de bairro, etc. exercem poder e praticam a coação.
Esse micropoder pode, por exemplo, afetar uma relação homem/mulher, pai/filho,
patrão/empregado, amigo/amigo. Enfim, as nossas relações diárias são, na constatação
do filósofo, uma teia de pressões e contrapressões entre indivíduos.
Digo isso porque, nos últimos dias, televisões e jornais estão repletos de notícias sobre a
prática da propina, especialmente aquela que é exigida por policiais. O caso de maior
visibilidade deu-se por ocasião do atropelamento do jovem Rafael, filho de Cissa
Guimarães, repercussão causada pelo fato de ser a mãe do rapaz uma artista da Globo.
Numa esquina escura ou clara; lá longe, numa fazenda; dentro de uma repartição e nas
numerosas oportunidades em que nos encontramos com agentes públicos – fiscais,
policiais, guardas de trânsito, funcionários de todos os calibres – quantos de nós,
“cidadãos de bem”, já não oferecemos uma “gratificação” a um desses agentes públicos
para fazerem andar um papel dentro da burocracia, rasgar a nota de multa,
descaracterizar o trabalho escravo lá na fazenda, etc, etc, e mais etc.? Quantos de nós já
não aceitamos participar dessa prática, concordando em oferecer a propina em vez de
denunciá-la?
Essa microfísica da corrupção existe e dela participam muitos que, em público, até
condenam esse histórico desvio de conduta. Participamos todos quando não denunciamos
essas formas de corrupção.
Essas “pequenas” formas de prostituir o Estado e a vida social quase sempre perdem
visibilidade diante das manchetes sobre os grandes assaltos aos cofres públicos, da
macrocorrupção que envolve ministros, parlamentares, lobistas, etc. No entanto, se não
declararmos guerra às formas de corrupção praticada no varejo, não controlaremos jamais
nem estas nem aquelas praticadas no atacado.
Introdução:
Numa definição ampla, corrupção política significa o uso ilegal - por parte de
governantes, funcionários públicos e agentes privados - do poder político e
financeiro de organismos ou agências governamentais com o objetivo de
transferir renda pública ou privada de maneira criminosa para determinados
indivíduos ou grupos de indivíduos ligados por quaisquer laços de interesse
comum – como, por exemplo, negócios, localidade de moradia, etnia ou de fé
religiosa.
Neste prisma não entendemos haver corrupção nos estados absolutistas, uma
vez que, não interesse público coletivo e social para que o funcionário público
possa dele destoar. Caso algum funcionário designado pelo soberano cometa
ato diverso da ordem real, cometerá crime de “lesa majestade”, isto é,
contra o Rei, Soberano e, por conseguinte contra o Estado, não tendo que se
falar em corrupção e sim, ato ilícito contra a ordem (regime vigente).
Assim sendo, antes da idéia de Estado como agente do interesse coletivo, não
há que se falar em corrupção, se um regime é absoluto e incondicionado.
Todo poder estava com o soberano e todas suas ações estavam legitimadas.
Caso outros agentes, por Ele designados, agisse de forma contrária, não
entendemos ser o caso de corrupção e sim de traição à ordem real soberana.
Conclusão:
Bibliografia:
1/1
Introdução
Ao afirmar que “em qualquer sociedade, o corpo está preso no interior de poderes muito
apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações” (FOUCAULT, 2004, p. 126),
Foucault já explicita que micropoderes perpassam todo o corpo social, acarretando em
transformações e modificações de condutas nos indivíduos. O corpo social, ao longo dos
séculos, se consolida como algo fabricado, influenciado por uma coação calculada,
esquadrinhado em cada função corpórea, com fins de automatização.
O homem é o principal alvo e objeto do poder, que tem como meta, a tarefa de incorporar
nos corpos características de docilidade. É dócil “um corpo que pode ser submetido, que pode
ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado” (Ibid, p. 126). Suas formas de
modelagens são dadas através do adestramento, sendo utilizado como uma poderosa
ferramenta de controle, que age de forma disciplinadora, considerado como uma das “fórmulas
gerais de dominação” (Ibid, p. 126).
Assim “a disciplina, segundo a genealogia foucaultiana, diz respeito tanto a uma modalidade
de poder que se caracteriza por medir, corrigir, hierarquizar, quanto torna possível um saber
sobre o indivíduo” (PINHO, 1998, p. 189). Sob o olhar da disciplina existem técnicas que
norteiam todos os processos de modelagem.
A modelagem dos corpos atribui caracteres de docilidade, tornando o corpo útil e produtivo
ao aumentar sua submissão e obediência. Seria, portanto, uma política de coerções, uma
ideologia calculada no detalhe que tem como finalidade o controle e modelagem de atitudes,
gestos e comportamentos.
A disciplina produz, para a modelagem e controle dos corpos, ferramentas que vão nortear
todo o processo de construção do poder e normatização das condutas, adotando caracteres
para sua aquisição: “constrói quadros; prescreve manobras; impõe exercícios; enfim, para
realizar a combinação das forças, organiza ‘táticas’” (Ibid, p. 150). Diante destes processos
progressivos é retirado cada momento do tempo dos indivíduos, perpassando uma escala
gradual e evolutiva em busca do aumento de suas potencialidades, criando assim “uma nova
maneira de gerir o tempo e torná-lo útil, por recorte segmentar, por seriação, por síntese e
totalização” (Ibid, p. 145).
A disciplina “visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar
sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais
obediente quanto é mais útil, e inversamente” (Ibid, p. 127). Portanto, ela fornece subsídios
para o aprimoramento das técnicas, aumentando em grandeza diretamente proporcional suas
utilidades, enraizadas em preceitos de docilidade. Seriam, portanto, para Foucault, “métodos
que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante
de suas forças e lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade” (Ibid, p. 126).
O poder disciplinar cria um espaço analítico para “vigiar o comportamento de cada um,
apreciá-lo, sancioná-lo, medir as qualidades ou os méritos” (Ibid, p. 131). Meio para se
conhecer, controlar, vigiar e também, de “articular essa distribuição sobre um aparelho de
produção que tem suas exigências próprias” (Ibid, p. 132), visando a manipulação dos
processos para se atingir o resultado eficaz.
Frente a isso o poder disciplinar “individualiza os corpos por uma localização que não os
implanta, mas os distribui e os faz circular numa rede de relações” (Ibid, p. 133). Intenção de
criar um conjunto, com funções que se diferem, mas que se regem do mesmo modo
(homogêneo), e para um objetivo comum.
A grande ferramenta utilizada pelo poder disciplinar para dissipar sua dominação é o
exercício, que dentre algumas de suas características está a de servir “para economizar o
tempo da vida, para acumulá-lo de uma maneira útil, e para exercer o poder sobre os homens
por meio do tempo assim arrumado” (Ibid, p. 146).
A composição das forças surge com uma proposta de constituir um meio produtivo que vai
de certo modo “compor forças para obter um aparelho eficiente” (Ibid, p. 147). Surgindo a idéia
do homem como uma máquina multissegmentar, cuja finalidade é a ação conjunta para a busca
de um melhor rendimento.
Este, portanto, se tornou o “ponto chave” da manipulação das condutas (controle do tempo,
do espaço e das funções corpóreas), cuja função é a de moldar corpos para fins e objetivos de
transformação do homem em “máquina”, tendo como seu combustível o estímulo, para o ápice
e a plenitude de funções, buscando a todo custo a melhoria do desempenho. Tornando o
homem produtivo, o poder disciplinar o tem explorado para fins de dominação.
Conclusão
Esta sociedade faz uso de “técnicas que são simplesmente denominadas ‘disciplina’. A
disciplina é uma anatomia política do ‘detalhe’, é dispositivo tático de poder, sustentado por
uma racionalidade econômica ou técnica. A disciplina torna-se arte e técnica de compor forças
para obter um aparelho eficiente” (WELLAUSEN, 2007, p. 9-10).
“Essas técnicas que permitem o controle detalhado das operações do corpo, que realizam a
sujeição permanente de suas forças e lhes impõe uma relação de docilidade-utilidade, são o
que Foucault chama de ‘disciplinas’. Estas visam à formação de uma relação que torna o corpo
humano tanto obediente quanto útil, constituindo uma política de coerções que trabalham
sobre o corpo, ‘uma manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de seus
comportamentos’. Essa política passa a ter domínio sobre o corpo dos outros, para que operem
como se quer, através das técnicas. A disciplina, arte das técnicas para a transformação, tem
por alvo os indivíduos em sua singularidade. E o poder de individualização tem como
instrumento a vigilância permanente, classificatória, permitindo distribuir os indivíduos, julgá-
los, medi-los, localizá-los e, por conseguinte, utilizá-los ao máximo. Desta forma, ‘a disciplina
fabrica corpos submissos e exercitados, corpos ‘dóceis’” (NIEMEYER; KRUSE, 2008, p. 464).
A disciplina ao agir no detalhe, vai agir sobre os corpos nas mais importantes e também
atenuadas incumbências do dia a dia: do simples andar com uma vestimenta característica, ao
controle, especifico, em dietas alimentares. Atualmente, investem nos corpos como “uma
tecnologia política que desestabiliza fronteiras entre o familiar e o estranho nas práticas
corporais contemporâneas” (FRAGA, 2006, p. 63).
Foucault considera o poder capitalista como uma das formas aparentes da disciplina,
exercendo uma vigilância disciplinar sobre o proletário, com o pressuposto de mantê-los sempre
sobre seu domínio, tornando-os passivos e não rebeldes. Este “poder capitalista, possui uma
positividade no sentido de pretender gerir a vida dos indivíduos e das populações para utilizá-
los ao máximo, com um objetivo ao mesmo tempo econômico e político: torná-los úteis e
dóceis, trabalhadores e obedientes.” (MACHADO, 2004, p. 30).
Na proposta de gerir grupos o poder faz uso do controle para otimizar ganhos (resultados):
“máximo de rapidez e eficácia” (Ibid, p. 31), maior ganho em menor tempo.
No que tange a modelagem dos corpos, as técnicas da disciplina visa a criação de “não
apenas corpos padronizados, mas também subjetividades controladas” (MISKOLCI, 2006, p.
682). O controle dos corpos se tornou tão importante na atualidade que se constata através da
aparência física tudo “aquilo que cada um quer mostrar de sua subjetividade” (SANT'ANNA,
2004, p. 20).
A noção de beleza exterior se tornou tão importante que marca a atualidade como a
sociedade da aparência, dos rostos e corpos belos e esbeltos, tudo, graças aos mecanismos
exigidos e tidos como verdadeiros pelo poder disciplinar que fazem do uso de atributos, como
veículos de informação, para controlarem a sociedade.
Referências bibliográficas
Isso não aconteceria se, junto com a inversão geral dos critérios, não
viesse também um sistemático embotamento moral da população,
manipulada por uma geração inteira de jornalistas que aprenderam na
faculdade a “transformar o mundo” em vez de ater-se ao seu modesto
dever de noticiar os fatos. Quando um país se confia às mãos de uma
elite revolucionária, sem saber que é revolucionária e imaginando que
ela vai simplesmente governá-lo em vez de subvertê-lo de alto a baixo,
a subversão torna-se o novo nome da ordem, e a linguagem dupla
torna-se institucionalizada. Já não se pode combater a corrupção,
porque ela se tornou a alma do sistema, consagrando a inversão de
tudo como norma fundamental do edifício jurídico, ocultando e
protegendo os maiores crimes enquanto se empenha, para camuflá-los,
na busca obsessiva de bodes expiatórios. Sempre que o governo se
sente ameaçado por denúncias escabrosas ou por uma queda nas
pesquisas de opinião, logo aparece algum empresário que não pagou
imposto, algum fazendeiro que reagiu a invasores, algum padre que
expulsou um traveco do altar – e estes são apontados à população
como exemplos máximos do crime e da maldade. Enquanto isso, o
Estado protege terroristas e narcotraficantes, acoberta as atividades
sinistras do Foro de São Paulo e lentamente, obstinadamente, sem
descanso, vai impondo à população o respeito devoto a tudo o que não
presta.
I – INTRODUÇÃO
Existem várias formas de manter o poder, mas o mecanismo mais comum é a apropriação dos
modos de produção de ideias, pensamentos, vivências, identidades. É a obstrução dos
mecanismos pelos quais interpretamos o mundo e construímos a nossa história.
Limitar os campos de interpretação, transformando a vida num universo sem crítica, sem
diferença e, principalmente, sem história, é uma estratégia de domínio imposta por aqueles que
não pretendem ver transformações de status.
Vários são os autores da sociologia que tentam desafiar esses processos, desde Marx e
Weber, passando por Gramsci, Foucault, Bourdieu e Habermas. O certo é que o conflito entre
estruturas e a vida efetivamente vivenciada estão no centro da obra destes autores, razão pela
qual sempre buscamos refúgio no conhecimento por eles produzido para interpretar fatos e
condições que envolvem o poder concentrado.
Para Marx, a principal forma poder está na dominação dos modos de produção e reprodução,
motivo pelo qual dá especial atenção à atividade primária da sobrevivência que é a produção
dos meios de vida, num processo que é contínuo, essencialmente histórico, e que não pode ser
analisado no estreito espaço do tempo presente.
Weber, por sua vez, busca aprofundar a análise das formas de dominação, e vai buscá-las no
carisma, na ação tradicional, e na ação racional-legal. Mas o próprio mestre alemão destaca
que estes são tipos ideais. Logo, é possível a existência de outras formas simples ou
combinadas de dominação.
A dominação pelo carisma é comum nas relações políticas, a tradicional, nas relações
religiosas, de assenhoramento e familiares. Já a dominação racional-legal, é aquela derivada
dos mecanismos racionais de poder, incluindo-se, aí, a ciência e o direito.
Para Foucault, na sua microfísica, o poder não existe. O que existe são relações de poder. Ele
observa o exercício das relações poder além da verticalidade das estruturas, mas assentadas
no tempo, na vida e no próprio corpo, através da disciplina, criando corpos submissos,
exercitados e dóceis para quem exerce o poder.
Pierre Bourdieu demonstra a existência de estruturas nas nossas próprias formas de sentir,
pensar e agir. O habitus é uma espécie de roupagem incorporada pelos indivíduos, e que é
utilizada nos momentos em que estes se relacionam com o mundo. É uma disposição prática,
automática, costumeira. É uma espécie de lei social incorporada.
Jurgen Habermas, por fim, é herdeiro da Escola de Frankfurt, e retoma importantes elementos
da discussão weberiana sobre racionalidade. Demonstra a existência de uma estrutura
intermediária que faz a mediação entre o estado e o espaço privado do mundo da vida, a
chamada “esfera pública”. A esfera pública surge com a invenção da tipografia e da imprensa,
criando um espaço de diálogo e de construção de consensos.
É por este motivo que Habermas propõe a ação comunicativa em oposição à ação racional
instrumental, na medida em que é possível a construção de diversas formas de tradução do
mundo da vida, através de uma espécie de razão comunicativa, que vai além da concepção
padronizada e única defendida pelo pensamento positivista. O próprio direito sai do “mundo do
dever ser, positivista” e passa a ser concretizado apenas no mundo vivido (mundo do ser).
Este breve extrato de teorias sociológicas demonstra o quão complexas são as relações de
poder e a forma como estas se manifestam. O poder não necessariamente ocupa os espaços
formais e, muitas vezes, está assentado em locais distantes do controle social, onde predomina
a ausência de transparência.
A leitura estática dos fatos, sem elementos de consubstanciação, é prejudicial para qualquer
interpretação séria da realidade e prejudica a nossa visão crítica. E aqui eu me afasto dos
excessos de relativização da realidade, comuns a algumas teorias pós-modernistas, na medida
em que levam a perspectivas excessivamente individualistas do mundo, abdicando da essência
coletiva da organização da sociedade.
Por que um canal de televisão tenta colocar a culpa da falta d’água em São Paulo na
derrubada de árvores na Amazônia, quando toda a bacia hídrica do Estado Bandeirante nasce
no próprio sudeste? Ou por que determinados grupos de comunicação colocam a corrupção
financeira como pauta de agenda, restringindo o número de réus entregues ao julgamento
dirigido da chamada “opinião pública”, ou eliminando dados factuais e históricos que
comprometeriam a vida dos próprios grupos?
Neste ensaio apresentamos pelo menos cinco pontos que devem ser analisados por quem
realmente pretende enfrentar a corrupção e que, curiosamente, não são vistos nas colunas e
boletins das principais empresas de comunicação brasileiras.
Evidentemente, o estudo deve ser focado exclusivamente nos elementos materiais, evitando-se
o generalismo e a rotulagem de pessoas, o que sempre promove distorções e injustiças, posto
que não pretendemos, com o nosso trabalho, apresentar os mesmos resultados da mídia
oligopolista. Ao contrário, o que se pretende demonstrar aqui é que os fatos devem sempre ser
analisados de forma contextualizada, e com fundamentação histórica e crítica.
II – O ESTAMENTO BUROCRÁTICO
Pois é exatamente nesta última obra que Faoro apresenta o conceito de “estamento
burocrático”. Trata-se de uma ideia com forte inspiração weberiana, que serve para traduzir as
relações patrimonialistas de mando e compadrio que ainda se manifestam em diversos setores
da sociedade brasileira.
Conforme Faoro,
O “estamento burocrático” utiliza-se do poder do estado para impor sua vontade à conduta
alheia, ora por meio da violência (ditadura militar), ora através das relações de mando senhorial
(república velha), ora das relações de compadrio (nepotismo), ou, ainda, simplesmente por
meio da corrupção.
Todavia, até mesmo a ação moralizadora da nova Carta Constitucional de 1988 encontrou uma
barreira numa medida típica do modelo patrimonialista adotada por alguns constituintes, que foi
a incorporação, com estabilidade, de milhares de empregados públicos que ingressaram na
administração, em todos os níveis, sem concurso público.
Foi a última dilapidação que o movimento chamado “Centrão” provocou na Carta de 1988, e
até hoje, de certa forma, o custo é pago por todos. A base desse era composta por vários
constituintes herdeiros da ditadura militar e alguns outros representantes da tradição
conservadora.
Na prática, apenas quem ingressou na máquina pública depois de 1988 e, especialmente,
depois do Regime Jurídico Único dos servidores (Lei 8.112/1990), teve como exigência o
concurso público. Ainda hoje milhares dos trabalhadores que ingressaram na administração
sem concurso, e sem nenhuma estratégia de profissionalização, e que receberam estabilidade
na carreira por meio de uma manobra tipicamente golpista de alguns constituintes, ocupam
cargos no serviço público em todas as esferas, inclusive com poder de mando.
Assim, não causa estranheza que um dos assuntos de pauta das eleições presidenciais de
2014 tenha sido a construção de um aeroporto nos terrenos que pertenciam ao tio do ex-
candidato e atual Senador pelo PSDB/MG Aécio Neves. Trata-se de uma típica relação de
poder patrimonialista, assentada em laços tradicionais de compadrio.
Também não é estranho que o pivô do escândalo de corrupção na Petrobrás, Paulo Roberto
Costa, seja um funcionário que entrou na estatal em 1978, ou seja, sem concurso público, e
que desde 1995 (início do Governo de Fernando Henrique Cardoso) ocupe cargos de direção
na referida empresa, chegando a dirigir a GASPETRO de 1997 a 2000.
Outro pivô do escândalo, Nestor Cerveró, é funcionário da Petrobrás desde 1975, e figura
frente nos cargos de direção da empresa na época do governo de FHC. Já Pedro Barusco,
afirma ter acumulado mais de US$ 100 milhões de reais em propina desde 1996, ou seja,
durante o governo do PSDB.
Já Alberto Yousseff, doleiro ligado a Paulo Roberto Costa, também apareceu em escândalos
da década de noventa no estado do Paraná, notadamente no caso do BANESTADO.
A criação do concurso público para acesso aos cargos públicos, imposta pela nova Ordem
Constitucional, permitiu uma democratização do ingresso nestes postos, que passaram a ser
ocupados por pessoas de todos os extratos sociais.
Até então, os cargos na administração pública, pelo menos os de maior envergadura, eram
considerados como postos destinados aos filhos da elite social e econômica, especialmente os
cargos de altos dirigentes do governo, da diplomacia, da advocacia e dos comandos militares.
Assim, este tipo de organização estatal está muito longe da lógica racional-legal weberiana,
mas dentro daquilo que o mestre alemão chama de dominação tradicional.
Em qualquer análise política mais séria, e sem nenhuma ingenuidade, é impossível não
considerar o poder e a influência destes servidores do alto escalão governamental. Todos
possuem grande espaço de decisão ocupado ao longo da sua atuação na máquina
administrativa, espaços estes que permitem um contato permanente com várias empresas.
Estes espaços historicamente foram dotados de pouca transparência, de mecanismos de
controle social, participação ou governança, liberdade permitiu aos agentes responsáveis pelas
negociações e gestão de contratos com valores muito elevados a possibilidade de comprar
apoios, negociar favores, vender vantagens, dentre outras premissas que, curiosamente, são
simplesmente omitidos pelos grandes meios de comunicação.
Desta forma, não há como se falar em corrupção, no Brasil, sem considerar o papel deste
influente extrato de servidores e empregados públicos, e que exercem o papel de um
verdadeiro “estamento burocrático” dentro da administração.
Embora a grande maioria dos estudantes que ministravam os cursos também tenha origem em
grupos menos privilegiados economicamente, as aulas eram atividades de militância e não
remuneradas, e os resultados obtidos permitiram o ingresso de milhares de estudantes das
camadas mais pobres nas universidades públicas.
Ocorre que esta não foi uma iniciativa seguida por todas as categorias sociais, e muitos setores
da sociedade ainda se utilizam dos espaços privilegiados ocupados para manter determinados
postos no serviço público como núcleos destinados aos filhos da elite econômica e social.
Esta última postura comunga com a tipologia do “estamento burocrático” e com a perpetuação
do patrimonialismo. Distante da realidade da maioria dos brasileiros, está a grande maioria das
Escolas da Magistratura, instrumento que poderia contribuir para garantir o acesso aos cargos
de juízes e que, na prática, funcionam como mecanismo destinado à manutenção de
privilégios.
Se no início, a primeira destas escolas contava com o serviço não remunerado de quadros da
judicatura, hoje todos os juízes-professores são remunerados pelas diversas escolas do gênero
implantadas em todo o país.
Uma das consequências é o elevado valor dos cursos ofertados por estas instituições de
“excelência”, cujo custo ultrapassa a faixa de 12 salários mínimos em média, o que torna os
mesmos proibitivos para a maior parte da população. Pior do que isto: apesar de mantidos por
associações de juízes, os cursos contam pontos nas provas de títulos para os concursos da
magistratura, conforme Resolução nº 75, de 12 de maio de 2009 do Conselho Nacional de
Justiça.
Embora não seja possível afirmar que há intencionalidade na fixação destas vantagens como
mecanismo para diminuir o acesso de determinados grupos sociais ao Poder Judiciário, é
inegável a existência de privilégios em favor das associações de magistrados e daqueles que
ingressam nos cursos mantidos por essas instituições.
Mesmo entendendo que boa parte dos juízes e professores das Escolas atua com sincera
intenção de aperfeiçoar o conhecimento jurídico e de forma honesta, a manutenção dos
privilégios das associações de magistrados não pode ser aceita de forma acrítica, sob o risco
de convalidar a perpetuação de uma situação tipicamente patrimonialista e com duvidosa
constitucionalidade.
O processo já conta com o voto de seis Ministros favoráveis ao pedido que consideram
inconstitucional o financiamento de campanhas eleitorais por empresas, mas o processo está
suspenso em virtude de pedido de vista feito pelo ministro Gilmar Ferreira Mendes, o que
prejudica a efetiva transformação do financiamento dos processos eleitorais.
O mandato de um parlamentar, por exemplo, acaba sendo visto como um patrimônio pessoal
do candidato eleito, e não como o resultado de uma luta política de uma coletividade, o que
resulta da colocação de temas de interesse social ou coletivo, como a proteção do meio
ambiente e a defesa dos direitos humanos, dentre outros, em segundo plano.
A PEC 352, conhecida como “PEC da Contra-Reforma Política” ou “PEC do Capital”, sustenta
o patrimonialismo do financiamento privado de campanhas e a criação do voto distrital que
enfraquece os partidos e favorece a visão personalista dos mandatos parlamentares. Ou seja,
é uma forma de mudar não mudando, mantendo a influência do poder econômico nas eleições.
De acordo com a Revista Carta Maior, estudos indicam que 1996 à 2002, no auge das
privatizações do Governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), cerca de US$ 126 bilhões
foram desviados para o exterior pelo esquema do Banco do Estado do Paraná – BANESTADO.
Destes, apenas US$ 2,2 milhões foram repatriados pela Advocacia Geral da União.
Os números do BANESTADO são uma parcela ínfima de todas as denúncias de corrupção que
circularam no Brasil na década de noventa durante a orgia privatista de FHC e Cia.. Com
certeza, nessa época tivemos o ápice da corrupção do país, com a omissão, velada dos órgãos
de controle, e explícita dos meios de comunicação. Muitos dos problemas ainda hoje
enfrentados são frutos de esquemas criados naquela época, inclusive com os mesmos
protagonistas.
O caso dos ataques à Petrobrás é o exemplo mais gritante de todos, na medida em que
falamos de uma organização criminosa que admite atuar no submundo da administração
pública, pelo menos, desde 1997, com fortes indícios de atuação anterior, e com maiores
ramificações.
Alberto Yousseff, transformado em herói pela mídia oligopolista, também era figura presente no
escandaloso caso do BANESTADO. Mas as investigações sobre os esquemas no Banco
Paranaense foram abafadas pelos mesmos grupos de comunicação que hoje cobram
investigações, o que, por si só, é prova flagrante de suspeição das referidas empresas. Aliás, é
a mesma mídia que hoje fecha os olhos para o escândalo do HSBC, banco beneficiado pelo
financiamento do PROER, durante o Governo de FHC, quando adquiriu a parte do capital do
extinto Bamerindus.
Segundo estudos realizados por pesquisadores da CEPAL, cerca de 12,3% do PIB na época,
ou R$ 111,3 bilhões, foram utilizados para cobrir gastos com o PROER, o que incluiu, em
menor monta, a recapitalização do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, e de alguns
bancos estaduais em virtudes das cíclicas crises cambiais do Plano Real.
Deve ser destacado que o PROER não foi a primeira operação de salvamento financeiro de
Bancos realizadas no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Antes disso, tivemos o
escândalo envolvendo os Bancos Marka e Fonte-Cindam, que receberam cerca de R$ 1,6
bilhão do Banco Central durante a desvalorização do real. O caso resultou até na prisão do ex-
presidente do Banco Central, Chico Lopes, e do famoso banqueiro de cidadania italiana,
Salvatore Cacciola.
Mas o caso mais gritante de todos, e inquestionavelmente o mais representativo da orgia das
privatizações envolve a maior empresa mineradora da América Latina, e uma das maiores do
mundo (a segunda mais lucrativa em escala global), a Companhia Vale do Rio Doce.
Em leilão realizado em 1997, 33% das ações de uma empresa avaliada em R$ 90 bilhões de
reais foram arrematados pelo Consórcio Brasil por apenas R$ 3,3 bilhões de reais, o que
permitiu ao mesmo assumir o controle acionário da empresa estatal. O consórcio vencedor era
formado pela privatizada Companhia Siderúrgica Nacional, pela Bradespar/Bradesco, e pelo
fundo de investimentos do funcionários do Banco do Brasil, o Previ.
Resta destacar que, além das negociações de bastidores e da utilização contínua de dinheiro
público nas privatizações, as duas principais justificativas adotadas pelo tucanato para realizar
tais ações não se justificaram.
Primeiro, a dívida pública, que deveria sofrer abatimento com a utilização dos créditos das
vendas, não reduzir, ao contrário, mais do que triplicou nos oito anos de governo tucano, fruto
de uma política fiscal e financeira truculenta e confusa.
Segundo, conforme destaca Aloísio Biondi na ótima obra “O Brasil Privatizado”, o país
arrecadou cerca de R$ 85,2 bilhões de reais com as privatizações, mas perdeu mais de R$
87,6 bilhões de reais com a receita das empresas vendidas que não ingressaram nos cofres
públicos, especialmente da Vale. Assim, o resultado da orgia privatista foi um saldo líquido
negativa de R$ 2,4 bilhões de reais, que foram transferidos do patrimônio público para o capital
financeiro.
A Constituição Federal garante imunidade tributária para livros, jornais, revistas e para o papel
onde estes materiais são impressos. Em tese, o objetivo desta medida é permitir uma
democratização do acesso à informação, à produção científica e à cultura.
Ocorre que o sonho da democratização da informação pela produção de informações por uma
“imprensa livre”, não se consolidou. Nem jornais, nem revistas e, muito menos livros, com raras
exceções, possuem preços acessíveis à maioria da população. Uma das poucas exceções são
as publicações de baixa qualidade destinadas às massas, em tabloides como “Notícias
Populares” e “Diário Gaúcho”, ambas publicações com desenho editorial baseado em notícias
sobre fofocas de televisão, esporte e violência, baseados no marketing de comércio do vazio
informativo e da ideologia dos grupos proprietários dos jornais.
E aqui começa um grande problema. Se rádio e televisão são concessões, ou seja, serviços
públicos, por que não existe nenhum mecanismo de controle público ou social sobre o
financiamento destas empresas? Mais do que isto, qual é o motivo de tamanha resistência das
principais redes de comunicação contra a presença de qualquer tipo de controle sobre as suas
fontes de financiamento?
Talvez a resposta possa ser observada na guerra instaurada pelas Organizações Globo em
relação ao direito de transmissão dos jogos do campeonato de brasileiro, da Copa do Mundo e
das Olimpíadas. Apenas em 2012, a Globo pagou para os 12 maiores clubes do futebol
brasileiro mais de R$ 939 milhões de reais como direitos de transmissão. Este dado foi obtido
com base na publicação dos balanços financeiros dos clubes, pois os contratos firmados pela
Rede Globo com os clubes de futebol gozam de questionável cláusula de confidencialidade.
Ao todo, estima-se que a empresa de comunicação tenha efetuado o pagamento aos clubes da
primeira divisão do campeonato brasileiro em 2012 mais de R$ 1,326 bilhão de reais apenas
em direitos de transmissão do campeonato brasileiro. Não constam neste inventário as
despesas com o custeio da programação e, muito menos, o lucro obtido pela Rede Globo com
um dos principais atrativos da sua grande de comunicação.
Estes dados demonstram que as empresas de comunicação são grandes negócios, e para
exercer as suas atividades se utilizam de concessões públicas sem nenhuma, ou praticamente
nenhuma, retribuição à população.
Diferentemente do que ocorre nas concessões de transporte, energia elétrica, água, telefonia,
dentre outras, não existe transparência nas planilhas de serviços, muito menos espaço para
que cada cidadão ou cidadã, verdadeiros detentores dos direitos das concessões, possa saber
o resultado obtido pelas empresas. Não se verifica o pagamento de outorga, ou ainda o
cumprimento de cláusulas de oferta mínima de conteúdo de produção nacional.
Por fim, não podemos esquecer que a mídia representa muito mais do que dinheiro sem
transparência no uso e nas fontes de financiamento, mas grande poder de influência. Vários
dos ocupantes de assentos no Parlamento ou são donos, filhos, ou parentes de donos de
redes de televisão, como Aécio Neves (PSDB), por exemplo, ou funcionários das empresas de
comunicação.
No Rio Grande do Sul, dois dos três Senadores, Ana Amélia Lemos (PP) e Lasier Martins
(PDT), são funcionários da Rede Brasil Sul – RBS, uma das afiliadas da Rede Globo, e o maior
grupo de comunicação do sul do país.
Portanto, é necessário criar mecanismos para diminuir o poder que os meios de comunicação
exercem sobre a população, e o primeiro passo poderia ser dado com a regulação e
transparência do financiamento da mídia.
A verdadeira origem da corrupção no Brasil, como vemos, está muito longe do conteúdo dos
noticiários de televisão. Ela se encontra entranhada em processos que são apresentados como
normais, na garantia de privilégios estamentais, na influência do poder econômico nos
processos eleitorais, no monopólio das informações, e na ausência de transparência e de
mecanismos de controle social em determinados setores.
Se nenhum destes problemas for realmente enfrentado pela sociedade, não haverá verdadeiro
combate à corrupção, mas simples demagogia ou golpismo, especialmente a atual prática da
mídia oligopolista brasileira.
O Macro e os Micro poderes: Uma análise da obra de
Maquiavel e Foucault
OBJETIVO GERAL
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
1- Analisar a obra “ O príncipe “de Nicolau Maquiavel tendo em foco sua compreensão de poder
centralizado;
2- Analisar a obra “ A microfísica do Poder” de Michel Foucault tendo em vista sua compreensão
de poder descentralizado;
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Quem nunca ouviu a expressão " Fulano é Maquiavélico "? Pois é, até mesmo aqueles
que nunca leram uma obra do autor florentino Nicolau Maquiavel já se depararam falando
essa expressão, que implica em algo maligno, diabólico e totalmente anticristão. Mas o que
nos levou a esse senso comum sobre o pensamento daquele que é considerado o pai da
política moderna? Alguns se põe ao lado do escritor italiano, defendendo-o e argumentando
que ele fora muito mal compreendido por seus comentaristas. Por exemplo Rousseau, que
disse em " o contrato social" que o Florentino mesmo se dirigindo aos governantes ,ensinava
ao povo grandes lições de liberdade. Outros pelo contrário, sustentam que suas idéias
acabaram se tornando a inspiração para as maiores ditaduras do mundo moderno, feitas por
homens tiranos e sem escrúpulos, que viram em sua principal obra " O príncipe" ,o alicerce
intelectual para o exercício do poder sobre as massas, com a desculpa de que a ordem no
Estado só se efetivaria com a força de um "Homem proeminente". Portanto, vemos a
capacidade desta obra de gerar nos indivíduos que a lêem os mais contraditórios sentimentos,
do amor ao ódio, da estranheza à admiração .É por causa de toda a repercussão desta obra,
que há mais de quinhentos anos tem suscitado opiniões diversas sobre o assunto, que nos
propomos a debater o pensamento filosófico de Maquiavel. Seu livro mais se parece com um
manual de instruções para um príncipe que deverá seguir a risca seus conselhos para ser bem
sucedido durante o período em que estiver no poder. Devemos entender príncipe como um
termo que se refere a qualquer função que exija
liderança ( governadores, senhores feudais,
reis, condes, duques e presidentes)
[...] O que se poderia dizer de um livro que deixou a muitos perplexos pelos conceitos expostos, que
deixou a muitos revoltados com os ataques deferidos pelo autor contra princípios morais e cristãos
considerados intocáveis, mas que deixou a muitos sumamente satisfeitos pela visão história e política
desse intelecto privilegiado e brilhante? ( Mioranza, 2008. p.9)
Pretendemos também uma análise da obra a partir da visão que o autor tinha acerca
do poder. Veremos que para Maquiavel o poder ou a força nas mãos de um homem era de
extrema importância para o bem comum da sociedade .O autor via a monarquia soberana ou
absolutista como fundamental para um contexto como o seu , visto que as mazelas e a
corrupção do gênero humano precisariam ser extirpadas e então a população deveria ser
reeducada para assim viver a República.
Na visão do autor florentino a política era o meio pelo qual o inferno seria evitado,
ainda que não levasse ninguém ao céu. Sem o auxilio dela o príncipe estaria fadado ao
fracasso. Ele teria de compreender bem a natureza humana e seus vícios, que para Maquiavel
era imutável, para administrar eficazmente seu reino. A história, sempre repetitiva, deveria ser
sua amiga mestra, pois ela lhe ensinaria grandes lições sobre o passado, e poderia prevenir-lhe
de erros no presente para que seu futuro fosse seguro e garantido. Ao apropriar-se dos
grandes acontecimentos passados o príncipe poderia guiar-se de forma mais prudente. Ele
perceberia que o homem é naturalmente anárquico e não quer ser dominado. Entretanto, ele,
o príncipe, deseja governar, logo isto resultaria em caos. O que fazer? Ora, o governante deve
se por diante do povo não como um ditador ou tirano, mas como um fundador do Estado,
ou melhor ainda, uma espécie de salvador transitório de sua sociedade. O que legitima o
poder soberano para Maquiavel é exatamente este caos resultante das vontades opostas, de
dominar e não ser dominado, que se faz necessário como ferramenta educadora.
Para Maquiavel o poder estava relacionado a força e ela era necessária para o Príncipe
conquistar aquilo que ele queria, porém apenas a força ou este tipo de poder não era
suficiente para que ele se mantivesse no governo. O príncipe deveria possuir virtude, não
aquela cristã relacionada a moral, mas aquela virtude contemplada pelos clássicos, capaz de
atrair a atenção e o favor da deusa Fortuna e suas muitas riquezas. A virtude mantém o poder,
por isso o governante deve buscá-la a todo preço. Ele deve criar as instituições necessárias
capazes de facilitar seu domínio. Do mesmo modo deve abrir mão de tudo aquilo que lhe
impeça de manter a ordem. Se for preciso utilizar dos vícios mais vis para este fim, então ele
deverá fazê-lo.
[...] o que é poder? Afinal de contas, foi preciso esperar o séc. XIX para saber o que era exploração, mas
talvez ainda não se saiba o que é poder. E Marx e Freud talvez não sejam suficientes para nos ajudar a
conhecer esta coisa tão enigmática, ao mesmo tempo visível e invisível, presente e oculta, investida em
toda parte, que se chama poder [...](FOUCALT, 2006 p 75)
[...] Eu não estou querendo dizer que o aparelho do Estado não seja importante, mas que me parece
que, entre todas as condições que se deve reunir para não recomeçar a experiência soviética, para que o
processo revolucionário não seja interrompido, uma das primeiras coisas a compreender é que o poder
não está localizado no aparelho de Estado e que nada mudará na sociedade se os mecanismos de poder
que funcionam fora, abaixo, ao lado do aparelho de Estado a um nível muito mais elementar,
quotidiano, não forem modificados.(FOUCAULT, 2006, p 149-150)
No capítulo " Soberania e Disciplina " o autor tentou discernir os mecanismos de
poder. Procurou perceber a ação deste e seus efeitos em suas extremidades, isto é, nas
instituições regionais e locais. Como também procurou estudar o poder pela sua face externa.
Neste aspecto Foucault se opõe a Hobbes, outro pensador absolutista, visto que não enxerga o
Soberano no topo, mas os súditos na base. Os teóricos absolutistas viam o Monarca como a
alma do estado, Foucault vê o povo como tal, não negando assim o poder estatal, mas
atribuindo ao povo uma participação antes não vista. Na verdade o autor não enxerga o poder
como um fenômeno de dominação homogêneo de um indivíduo sobre os outros, mas como
algo que circula e que funciona em cadeia, ou seja, o poder não se aplica aos homens, ele
passa por eles.
A administração do salário é, sem dúvida, uma difícil conquista das mulheres, resultado de uma luta
cheia de ciladas, onde o patronato, cioso em favorecer o “bom” uso do salário, por vezes estendeu às
mulheres uma mão generosamente compassiva [...](PERROT, 1992 p. 191-192)
E por fim não deveríamos deixar de citar o caso que nos parece ser o “maior”
arquétipo do exercício do poder dessa sociedade contemporânea: a revolução francesa de
1789. No século XVIII vemos a culminação de um processo histórico insustentável de abusos e
exploração dos pobres por parte da nobreza francesa. Por muitos anos o terceiro estado
carregou em suas costas todo o esplendor e ostentação dos membros nobres da corte
francesa. Era seu suor e trabalho que mantinham a vida regalada dos senhores de terras.
Porém, com a crise financeira que a França enfrentava e diversos fatores que propiciaram
revoltas e motins populares, a coroa do rei Luís XVI só poderia rolar pelo chão. É por isso que a
revolução francesa é tão instigante. O povo luta contra o rei, seu algoz maior. Aquele que era
símbolo de poder e favor divino, torna-se aos olhos do povo um grande inimigo.
Quem teria razão nesta grande discussão, Maquiavel ou Foucault? Talvez aos olhos de
Maquiavel, Luís XVI não foi um homem de virtú, fora incapaz de governar seu povo e por não
ganhar sua empatia, fora decapitado. Mas , segundo Foucault, a revolução seria a prova de
que o poder não pertence ao Estado ou a um homem, mas é exercido por todos. O povo é
soberano!
Bibliografia:
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Tradução Ciro Mioranza.São Paulo: Editora Escala.3 ed.
2008
SADEK, Maria Teresa. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual de Virtú;
WEFORT, Francisco C. Os clássicos da Política vol. 1.São Paulo. Editora Atica.2001
NETO, Alfredo Veiga. Foucault e a educação. São Paulo: editora Autêntica. 2 ed. 2005.
Frankcimarks C. de Oliveira
Foucault e o
nascimento da justiça
na Grécia Antiga
Desigualdades sociais são manifestação de relações de poder cristalizadas
Andrei Koerner
08 de Julho de 2016 - 17h35
JUDICIÁRIO E SOCIEDADEMICHEL FOUCAULT
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O volume Aulas sobre a vontade de saber (AVS)[1] traz as aulas do primeiro curso
de Michel Foucault no Collège de France no ano acadêmico de 1970-1971 e faz parte
do projeto de publicação integral de seus cursos, iniciado em 1997 e concluído em
2015. Sua publicação em português mantém nosso público atualizado e assegura a
atenção que sua obra sempre despertou entre nós. O texto tem como base os
manuscritos de preparação das aulas completados por notas de uma ouvinte, pois, ao
contrário dos cursos de outros anos, não há registro gravado das aulas. O volume é
completado por duas monografias: uma sobre Nietzsche e outra sobre o saber de Édipo.
O volume traz relevante material para os pesquisadores interessados nos temas do
direito e da justiça no pensamento de Foucault[2]. O direito não foi objeto das reflexões
de Foucault, mas um foco de análise, dado que “não há discurso judicial em que a
verdade não ronde” (AVS, p. 76). A justiça seria um teatro da verdade e, como tal,
espaço privilegiado para analisar as articulações entre discurso e poder.
Foucault trabalhou as teorias e práticas judiciais modernas e contemporâneas,
sobretudo. Sobre a Antiguidade, havia até a publicação do curso apenas as suas
conferências sobre a Ilíada e a tragédia Édipo-Rei, publicadas no volume La vérité et
les formes juridiques (VFJ)[3], e algumas passagens de seus cursos dos anos oitenta.
Nas conferências, ele contrasta uma passagem da Ilíada, sobre o desafio entre Menelau
e Antíloco, e a tragédia Édipo-Rei para evidenciar as descontinuidades entre a forma
jurídica baseada no juramento-desafio (ao outro e aos deuses) e a baseada no
julgamento assertórico da verdade, que ocorre no quadro do processo judicial da cidade.
O Édipo-rei é analisado como um episódio da história do saber, como ponto de
emergência do inquérito, no qual se dá a formação do sujeito, certos domínios de
objetos, certos tipos de saber.
A análise das práticas judiciárias permite-lhe localizar a emergência de novas formas de
subjetividade e de saber, pois nelas se define a maneira pela qual os homens são
julgados em função dos erros cometidos, se impõe aos indivíduos a reparação das suas
ações e a punição de outras. As formas jurídicas e a sua evolução no campo do direito
penal seriam lugar de origem de um número determinado de formas de verdade (VFJ, p.
541). Ele mostra que as diferenças nas formas jurídicas para o regramento de um
conflito revelam distintas formas de organizar o poder político e as relações com a
verdade e com o perigo. Mas o seu interesse é mais geral, pois, se a instância judicial é
um teatro de produção de verdade, a sua forma condensa as relações entre vontade de
saber, verdade e práticas de poder.
As Aulas sobre a vontade de saber trazem os passos intermediários desse contraste:
a forma de resolução dos conflitos de classe levou à institucionalização de uma medida
comum para as relações econômicas, políticas e sociais na cidade. Foucault apresenta
um conjunto de transformações com as quais ocorre o recentramento das relações entre
os grupos sociais e as formas de produção da verdade. A instituição do jurídico se dá
como um efeito dessas transformações, e, se as suas características são correlativas à
nova ordem, não há comparação possível com a forma de instituição anterior. Ele
apresenta as transformações como uma espécie de análise histórico-estrutural, dado que
ainda não havia elaborado o conjunto de conceitos que definiu como a genealogia do
poder.
A análise serve como contraponto a teses ainda presentes na teoria e história do direito e
no senso comum teórico dos juristas. São os discursos universalistas segundo as quais a
justiça seria uma espécie de virtude natural ou em potência em todo homem, ou seria
expressão da sociabilidade natural do homem, pois “onde há sociedade, há direito”. Ou
discursos evolutivos, que afirmam as formas civilizadas do direito como um
desdobramento imanente e contínuo as mudanças das formas jurídicas desde a
Antiguidade até a formação do direito propriamente dito em Roma. Ou, ainda, as
anacrônicas, que projetam as características do direito atual como critérios para
reconhecer as modalidades de organização social e gestão dos conflitos, cujos requisitos
só seriam alcançados, porém, pelo direito romano, funcionalmente diferenciado da
política.
As formas jurídicas da cidade grega são efeito das lutas na cidade, para as quais
proporcionam uma instituição transitória e contestada. Nelas estão presentes as
condições e as formas de relações do poder através do discurso da verdade, em especial
o sujeito do discurso apofântico: o juiz e a testemunha, que se colocam como terceiros
diante do litígio, tendo por único interesse fazer emergir a verdade. O filósofo grego
define a boa forma de governo como a que realiza a justiça, ou uma medida comum de
igualdade entre os cidadãos. Elabora uma ética segundo a qual a justiça é a disposição
do cidadão-proprietário em agir deliberadamente para realizar a medida comum nas
relações com seus iguais. Disposição de caráter natural em termos de origem e
finalidade, alcançada pelo conhecimento prático e pela educação na cidade.
Esses elementos indicam um possível programa de história externa do direito como
discurso da verdade, e da justiça como forma social que institucionaliza a produção de
saber, as relações de poder e o governo de si e dos outros[4]. Talvez se possa sugerir
como hipótese que, se as desigualdades sociais indecentes são manifestação de relações
de poder cristalizadas em nossa sociedade, essas também sustentam as particularidades
das nossas formas jurídicas, que permitem a manipulação da produção da verdade, o
facciosismo e arbitrariedade no tratamento judicial das demanda dos adversários e dos
“de baixo”, a indiferença com as bases éticas do direito contemporâneo e a
irresponsabilidade política de boa parte de nossos “operadores do direito”.
*Este artigo desenvolve um ponto de resenha a ser publicada com o título
“Notas de leitura” sobre Foucault na Revista Brasileira de Ciências Sociais
_______________________________________________________
[1] Foucault, Michel. (2014). Aulas sobre a vontade de saber: curso no Collège
de France (1970-71). Trad. Rosemary Costhek Abílio. São Paulo, WMF Martins
Fontes. 303 pp.
[2] Ver Fonseca, M. A. d. (2013). Michel Foucault et le Droit. Paris,
L´Harmattan.
[3] Foucault, Michel. ([1973] 1994), La vérité et les formes juridiques”, in
_______, Dits et escrits, Paris, Gallimard, vol. 2, n. 139, pp. 538-646.
[4] Apresentamos um esboço para esse programa em Koerner, A. (2015).
“Direito e Tecnologias de Poder.” Estudos de Sociologia 20(38): 57-73
Andrei Koerner - Professor de ciência política na Unicamp, coordenador do GPD/Ceipoc e
pesquisador do Cedec e do INCT/Ineu. No ano acadêmico de 2015-16 é pesquisador convidado junto ao
Institut des Hautes Etudes de l´Amerique Latine (IHEAL), da Université Sorbonne-Nouvelle, Paris III,
com bolsa da Capes
Aa
As relações de poder em Michel Foucault: reflexões
teóricas
I
Mestranda do Programa Acadêmico de Mestrado em Educação pela Universidade do
Vale do Itajaí (Univali). Administradora pública da rede municipal de ensino.
Endereço: Rua 1451, 187, ap. 804 - Centro - CEP 88330-801, Balneário Camboriú,
SC, Brasil. E-mail: isabellaferreirinha@ibest.com.br
II
Doutora em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
mestre em sociologia política. Professora do Programa Acadêmico de Mestrado em
Educação da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Professora universitária de
graduação e pós-graduação, socióloga da Secretaria de Assistência Social,
Habitação e Trabalho. Endereço: Rua Acelon Pacheco da Costa, 231, bloco B, ap.
407 - CEP 88034-040, Florianópolis, SC, Brasil. E-mail: floraitz@yahoo.com.br
RESUMO
Este artigo baseia-se em reflexões acerca das relações de poder em obras de Michel
Foucault. Procurou-se percorrer o contexto de sua vida de forma introdutória e os
diferentes modos de poder, perpassando pelas formas de força e disciplina. O
procedimento metodológico foi a pesquisa bibliográfica dos acontecimentos
considerados pelo autor em seu tempo, história e espaço. Diante do triângulo de
Foucault (poder - direito - verdade) e das passagens em que ele se refere ao
aparelho de Estado, este artigo compara o tripé da sociedade (Estado - mercado -
sociedade civil) com o triângulo de Foucault. Constata-se que o poder está por toda
parte e provoca ações ora no campo do direito, ora no da verdade. Deve ser
entendido como uma relação flutuante, não estando em uma instituição nem em
ninguém, enquanto o saber está numa relação de formas e conteúdos.
ABSTRACT
This article presents a theoretical essay based on reflections about the relations of
power in some of Michel Foucault's works. The authors examined the context of
Foucault's life and the different forms of power, bypassing the forms of force and
discipline. The methodological procedure consisted of a bibliographic research of
the events considered by the author in their time, history and space. Given
Foucault's triangle (power - right - truth) and the passages in which he refers to the
state apparatus, this article compares the society triad (state - market - civil
society) to Foucault's triangle. The article shows that power can be found
everywhere, causing actions that sometimes are in the field of law or in the field of
truth. Power must be understood as a floating relationship, not the privilege of one
institution or person, while knowledge is found in a relationship of form and
content.
1. introdução
Este artigo analisa o poder visto por Paul-Michel Foucault. Michel Foucault ou
simplesmente Foucault, comumente conhecido, é de nacionalidade francesa, nasceu
na cidade de Poitiers, em 15 de outubro de 1926, e faleceu em 26 de junho de
1984, aos 57 anos, de Aids.1 Foucault veio de família tradicional de médicos, e
romper com essa tradição lhe custou muito, e acabou se graduando em história,
filosofia e psicologia.
Foucault trata principalmente do tema poder, que para ele não está localizado em
uma instituição, e nem tampouco como algo que se cede, por contratos jurídicos ou
políticos. O poder em Foucault reprime, mas também produz efeitos de saber e
verdade.
De acordo com o dicionário de filosofia, a palavra poder, na esfera social, seja pelo
indivíduo ou instituição, se define como "a capacidade de este conseguir algo, quer
seja por direito, por controle ou por influência. O poder é a capacidade de se
mobilizar forças econômicas, sociais ou políticas para obter certo resultado (...)"
(Blackburn, 1997:301). Muito embora, de acordo com o autor, esse poder possa
ser exercido de forma consciente ou não, e/ou, frequentemente, exercido de forma
deliberada.
Ele estudou o poder não para criar uma teoria de poder, mas para identificar os
sujeitos atuando sobre os outros sujeitos.
Nessa perspectiva, pode-se entender a partir do autor por poder uma ação sobre
ações. Foucault discorre que as relações de poder postas, seja pelas instituições,
escolas, prisões, quartéis, foram marcadas pela disciplina: "mas a disciplina traz
consigo uma maneira específica de punir, que é apenas um modelo reduzido do
tribunal" (Foucault, 2008:149). É pela disciplina que as relações de poder se
tornam mais facilmente observáveis, pois é por meio da disciplina que estabelecem
as relações: opressor-oprimido, mandante-mandatário, persuasivo-persuadido, e
tantas quantas forem as relações que exprimam comando e comandados. Diante do
triângulo demonstrado por Foucault, poder - direito - verdade, e das passagens em
que ele remete ao aparelho de Estado, a figura, por meio de recurso analógico,
compara-o ao triângulo do tripé da sociedade, Estado - mercado - sociedade civil.
Parece que não, a analogia proposta aqui quer identificar que as relações de poder,
direito e verdade, entre os setores mencionados, são tão complexas, tácitas,
intrínsecas e interdependentes que, por vezes, encontram-se discursos de verdades
e direitos desenhados pelo interesse individual, o que pode ser chamado de relação
de força, "(...) tais forças estão distribuídas difusamente por todo tecido social"
(Veiga-Neto, 2003:73).
Entretanto, para melhor entender a figura dos triângulos apresentados, a analogia
exposta entende que dentro do triângulo apresentado por
Foucault existem diversas ações que perfazem o poder, o direito e a verdade, ações
essas que são transportadas para aquelas que permeiam a tríplice
Diante dos papéis possíveis que a sociedade pode apresentar, Foucault (1999) nos
apresenta duas tecnologias de poder, divididas em duas séries:
Bobbio (2000) enfatiza que tanto governabilidade quanto não governabilidade não
são "fenômenos completos", mas são instituídos de relações complexas de um
sistema político. À frente, o dicionário perfaz três hipóteses de não governabilidade:
Como bem colocado por Foucault, O príncipe deve ser analisado não pela função de
censura, mas pela positividade dos conceitos e estratégias. No primeiro momento,
Foucault (1979:279) coloca a relação de singularidade, exterioridade e
transcendência do príncipe em relação ao principado, ou seja, o príncipe "recebe
seu principado por herança, por aquisição, por conquista, mas não faz parte dele,
lhe é exterior; os laços que o unem ao principado são de violência, de tradição,
estabelecidos por tratado com a cumplicidade ou aliança de outros príncipes".
No livro Microfísica do poder (1979), Foucault parte sua análise e reflexão sobre
governamentabilidade a partir de duas obras de G. de La Perrière (Le miroir
politique, contenant diverses manières de gouverner et policer lês republiques, de
1555)4 e de François de la Mothe Le Vayer (Loeconomie du prince, 1653).5 Algumas
abordagens reflexivas sobre essas obras já foram aqui ressaltadas anteriormente,
nesse momento interessam as três formas de governo postas por Le Vayer: o
governo de si (a moral); o governo da família e da casa (economia); e o governo
do Estado (a política).
Ou mesmo como colocado por Foucault (1979:15) "a genealogia é cinza; ela é
meticulosa e pacientemente documentária. Ela trabalha com pergaminhos
embaralhados, riscados, várias vezes reescritos". Nesse sentido, é procurar as
particularidades que formam o conhecimento, as percepções e o saber.
É importante destacar que para Foucault (2008:119) corpos dóceis são corpos
maleáveis e moldáveis, o que significa que, por um lado, a disciplina se submete ao
corpo num ganho de força pela sua utilidade; e, por outro lado, perde força pela
sua sujeição à obediência política, como explicita o autor "(...) se a exploração
econômica separa a força e o produto do trabalho, digamos que a coerção
disciplinar estabelece no corpo o elo coercitivo entre uma aptidão aumentada e
uma dominação acentuada".
Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua "política geral" de verdade, isto é,
os tipos de discurso que aceita e faz funcionar como verdadeiros..., os meios pelo
qual cada um deles é sancionado, as técnicas e procedimentos valorizados na
aquisição da verdade; o status daqueles que estão encarregados de dizer o que
conta como verdadeiro.
Michel Foucault, quando fez a análise das instituições sobre a ideia do panoptismo,
trouxe as escolas, quartéis e hospitais como modelos do aparelhamento disciplinar,
como já visto.
As análises de Foucault das instituições não são uma crítica pura, mas trazem
reflexões aos sistemas instituídos no interior delas, à medida que ocorre sua
progressão histórica. A ordem disciplinar, como vista, perfaz uma forma de instituir
ordem e alçar eficiência e utilidade econômica.
No livro Vigiar e punir (2008), Foucault vem retratar, além da ordem disciplinar, os
dispositivos que a fazem ganhar força, pela ordenação espacial, sanção
normalizadora e o exame.
6. Considerações finais
O poder deve ser entendido como uma relação flutuante, não está numa instituição
e nem em ninguém, já o saber se encontra numa relação de formas e conteúdos.
Assim, para estabelecer o poder é preciso força, ao passo que para estabelecer o
saber bastaria apreender ou ensinar. Assim, do entrecruzamento de um e de outro,
poder e saber, é que se dá a constituição do sujeito.
Assim como nos alertou Veiga-Neto, estudar Foucault não é submergir ao seu
pensamento eloquente e encontrar verdades absolutas em seus discursos. Estudar
Foucault é abrir um novo canal de pensamento, é colocar do avesso os conceitos,
os pré-conceitos, a normalidade, a anormalidade, os pesos, os contrapesos, as
certezas e seus contrários. Estudar Foucault é encontrar-se e encontrar um novo e
diferente modo de colocar em discurso e prática os juízos de valores, que tão
facilmente aplicamos ao dia a dia.
Referências
BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1997. [ Links ]
SOUZA, José Pedro G.; GARCIA, Clovis L.; CARVALHO, José F. T. Dicionário de
Política. São Paulo: T. A. Queiroz, 1998. [ Links ]
I – INTRODUÇÃO
Existem várias formas de manter o poder, mas o mecanismo mais comum é a apropriação
dos modos de produção de ideias, pensamentos, vivências, identidades. É a obstrução
dos mecanismos pelos quais interpretamos o mundo e construímos a nossa história.
Limitar os campos de interpretação, transformando a vida num universo sem crítica, sem
diferença e, principalmente, sem história, é uma estratégia de domínio imposta por aqueles
que não pretendem ver transformações de status.
Vários são os autores da sociologia que tentam desafiar esses processos, desde Marx e
Weber, passando por Gramsci, Foucault, Bourdieu e Habermas. O certo é que o conflito
entre estruturas e a vida efetivamente vivenciada estão no centro da obra destes autores,
razão pela qual sempre buscamos refúgio no conhecimento por eles produzido para
interpretar fatos e condições que envolvem o poder concentrado.
Para Marx, a principal forma poder está na dominação dos modos de produção e
reprodução, motivo pelo qual dá especial atenção à atividade primária da sobrevivência
que é a produção dos meios de vida, num processo que é contínuo, essencialmente
histórico, e que não pode ser analisado no estreito espaço do tempo presente.
Weber, por sua vez, busca aprofundar a análise das formas de dominação, e vai buscá-las
no carisma, na ação tradicional, e na ação racional-legal. Mas o próprio mestre alemão
destaca que estes são tipos ideais. Logo, é possível a existência de outras formas simples
ou combinadas de dominação.
A dominação pelo carisma é comum nas relações políticas, a tradicional, nas relações
religiosas, de assenhoramento e familiares. Já a dominação racional-legal, é aquela
derivada dos mecanismos racionais de poder, incluindo-se, aí, a ciência e o direito.
Já Gramsci segue a tradição marxista, mas se aprofunda na teoria de estado e nos
mecanismos de construção da ideologia. Demonstra que na sociedade moderna o poder
de Estado é limitado pelas organizações da sociedade. Vê na sociedade civil uma força
poderosa, capaz de construir formas de interpretação do mundo através da ideologia.
Estado = política + sociedade civil, uma síntese combinada de consentimento e repressão.
Para Foucault, na sua microfísica, o poder não existe. O que existe são relações de poder.
Ele observa o exercício das relações poder além da verticalidade das estruturas, mas
assentadas no tempo, na vida e no próprio corpo, através da disciplina, criando corpos
submissos, exercitados e dóceis para quem exerce o poder.
Pierre Bourdieu demonstra a existência de estruturas nas nossas próprias formas de
sentir, pensar e agir. O habitus é uma espécie de roupagem incorporada pelos indivíduos, e
que é utilizada nos momentos em que estes se relacionam com o mundo. É uma
disposição prática, automática, costumeira. É uma espécie de lei social incorporada.
Jurgen Habermas, por fim, é herdeiro da Escola de Frankfurt, e retoma importantes
elementos da discussão weberiana sobre racionalidade. Demonstra a existência de uma
estrutura intermediária que faz a mediação entre o estado e o espaço privado do mundo
da vida, a chamada “esfera pública”. A esfera pública surge com a invenção da tipografia e
da imprensa, criando um espaço de diálogo e de construção de consensos.
O aumento na forma de produção de informações transforma a sociedade e cria a
necessidade de maior transparência. Isso não quer dizer que os diálogos estabelecidos na
esfera pública sejam totalmente isentos, razão pela qual existem divergências entre as
informações apresentadas na esfera pública e o mundo efetivamente vivenciado, o mundo
da vida.
É por este motivo que Habermas propõe a ação comunicativa em oposição à ação racional
instrumental, na medida em que é possível a construção de diversas formas de tradução
do mundo da vida, através de uma espécie de razão comunicativa, que vai além da
concepção padronizada e única defendida pelo pensamento positivista. O próprio direito
sai do “mundo do dever ser, positivista” e passa a ser concretizado apenas no mundo vivido
(mundo do ser).
Este breve extrato de teorias sociológicas demonstra o quão complexas são as relações
de poder e a forma como estas se manifestam. O poder não necessariamente ocupa os
espaços formais e, muitas vezes, está assentado em locais distantes do controle social,
onde predomina a ausência de transparência.
A leitura estática dos fatos, sem elementos de consubstanciação, é prejudicial para
qualquer interpretação séria da realidade e prejudica a nossa visão crítica. E aqui eu me
afasto dos excessos de relativização da realidade, comuns a algumas teorias pós-
modernistas, na medida em que levam a perspectivas excessivamente individualistas do
mundo, abdicando da essência coletiva da organização da sociedade.
Portanto, quando buscamos analisar a preocupação dos meios de comunicação com
determinados assuntos, é necessário observar até que ponto tais órgãos tem uma real
preocupação com a verdade, com a verdadeira informação, ou buscam, simplesmente,
manipular informações com objetivos próprios.
Por que um canal de televisão tenta colocar a culpa da falta d’água em São Paulo na
derrubada de árvores na Amazônia, quando toda a bacia hídrica do Estado Bandeirante
nasce no próprio sudeste? Ou por que determinados grupos de comunicação colocam a
corrupção financeira como pauta de agenda, restringindo o número de réus entregues ao
julgamento dirigido da chamada “opinião pública”, ou eliminando dados factuais e históricos
que comprometeriam a vida dos próprios grupos?
As ciências sociais já nos proporcionam ferramentas suficientes para confrontar as
técnicas adotadas pelos meios de comunicação para formar ideias e concepções de
mundo, que vão desde o materialismo histórico até a análise de símbolos e imagens pelo
estruturalismo e pela semiótica.
Neste ensaio apresentamos pelo menos cinco pontos que devem ser analisados por quem
realmente pretende enfrentar a corrupção e que, curiosamente, não são vistos nas colunas
e boletins das principais empresas de comunicação brasileiras.
Evidentemente, o estudo deve ser focado exclusivamente nos elementos materiais,
evitando-se o generalismo e a rotulagem de pessoas, o que sempre promove distorções e
injustiças, posto que não pretendemos, com o nosso trabalho, apresentar os mesmos
resultados da mídia oligopolista. Ao contrário, o que se pretende demonstrar aqui é que os
fatos devem sempre ser analisados de forma contextualizada, e com fundamentação
histórica e crítica.
II – O ESTAMENTO BUROCRÁTICO
A tradição patrimonialista na formação do estado brasileiro é representada nas obras de
vários autores, como Victor Nunes Leal no seu “Coronelismo, Enxada e Voto”, Sérgio
Buarque de Holanda com “Raízes do Brasil”, Caio do Prado Júnior, em diversos livros, e
Raymundo Faoro, no seu notável “Os Donos do Poder”.
Pois é exatamente nesta última obra que Faoro apresenta o conceito de “estamento
burocrático”. Trata-se de uma ideia com forte inspiração weberiana, que serve para traduzir
as relações patrimonialistas de mando e compadrio que ainda se manifestam em diversos
setores da sociedade brasileira.
Conforme Faoro,
“o estamento burocrático desenvolve padrões típicos de conduta ante a mudança interna e no
ajustamento à ordem internacional. Gravitando em órbita própria não atrai, para fundir-se, o
elemento de baixo, vindo de todas as classes. Em lugar de integrar, comanda; não conduz, mas
governa. Incorpora as gerações necessárias ao seu serviço, valorizando pedagógica e
autoritariamente as reservas para seus quadros, cooptando-os, com a marca de seu cunho
tradicional. O brasileiro que se distingue há de ter prestado sua colaboração ao aparelhamento
estatal, não na empresa particular, no êxito dos negócios, nas contribuições à cultura, mas numa
ética confuciana do bom servidor, com carreira administrativa e curriculum vitae aprovado de cima
para baixo”.
O “estamento burocrático” utiliza-se do poder do estado para impor sua vontade à conduta
alheia, ora por meio da violência (ditadura militar), ora através das relações de mando
senhorial (república velha), ora das relações de compadrio (nepotismo), ou, ainda,
simplesmente por meio da corrupção.
A origem do poder estamental de determinados setores da burocracia do estado está
assentada no processo de colonização imposto ao nosso território, que deixou uma
pesada herança na organização estatal, incluindo a concessão de privilégios e vantagens
a determinados grupos. A propriedade, por exemplo, foi uma concessão do Governo
Português aos Donatários da Coroa, garantindo, assim, uma predominância das relações
de interesse entre os representantes do poder concedente e seus beneficiários, dentro da
lógica daquilo que Weber chamou de dominação tradicional.
Os traços do patrimonialismo foram mantidos durante todo o período colonial e transpostos
para a organização da República Velha. Da venda de títulos de nobreza, à grilagem de
terras realizada com a anuência da ditadura militar, a organização administrativa do estado
foi fragilizada por um regime de troca de favores, que somente foi encontrar limites em
1988 com a determinação de acesso exclusivo as carreiras públicas por meio de concurso,
conforme disciplina imposta pela Constituição de 05 de outubro do referido ano.
Todavia, até mesmo a ação moralizadora da nova Carta Constitucional de 1988 encontrou
uma barreira numa medida típica do modelo patrimonialista adotada por alguns
constituintes, que foi a incorporação, com estabilidade, de milhares de empregados
públicos que ingressaram na administração, em todos os níveis, sem concurso público.
Foi a última dilapidação que o movimento chamado “Centrão” provocou na Carta de 1988,
e até hoje, de certa forma, o custo é pago por todos. A base desse era composta por
vários constituintes herdeiros da ditadura militar e alguns outros representantes da tradição
conservadora.
Na prática, apenas quem ingressou na máquina pública depois de 1988 e, especialmente,
depois do Regime Jurídico Único dos servidores (Lei 8.112/1990), teve como exigência o
concurso público. Ainda hoje milhares dos trabalhadores que ingressaram na
administração sem concurso, e sem nenhuma estratégia de profissionalização, e que
receberam estabilidade na carreira por meio de uma manobra tipicamente golpista de
alguns constituintes, ocupam cargos no serviço público em todas as esferas, inclusive com
poder de mando.
Assim, não causa estranheza que um dos assuntos de pauta das eleições presidenciais de
2014 tenha sido a construção de um aeroporto nos terrenos que pertenciam ao tio do ex-
candidato e atual Senador pelo PSDB/MG Aécio Neves. Trata-se de uma típica relação de
poder patrimonialista, assentada em laços tradicionais de compadrio.
Também não é estranho que o pivô do escândalo de corrupção na Petrobrás, Paulo
Roberto Costa, seja um funcionário que entrou na estatal em 1978, ou seja, sem concurso
público, e que desde 1995 (início do Governo de Fernando Henrique Cardoso) ocupe
cargos de direção na referida empresa, chegando a dirigir a GASPETRO de 1997 a 2000.
A rigor, o esquema de corrupção do qual Paulo Roberto Costa (vinculado ao Partido
Progressista – PP), existe desde 1997, bem na época dos escândalos de privatização do
Governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Mas dado o nome dos envolvidos, é
bem provável que este seja um problema mais antigo.
Outro pivô do escândalo, Nestor Cerveró, é funcionário da Petrobrás desde 1975, e figura
frente nos cargos de direção da empresa na época do governo de FHC. Já Pedro Barusco,
afirma ter acumulado mais de US$ 100 milhões de reais em propina desde 1996, ou seja,
durante o governo do PSDB.
Já Alberto Yousseff, doleiro ligado a Paulo Roberto Costa, também apareceu em
escândalos da década de noventa no estado do Paraná, notadamente no caso do
BANESTADO.
Ou seja, há inequívoco predomínio de um grupo de pessoas que exerce poder e defende
os seus interesses na máquina do estado há muito tempo, ocupando espaços estratégicos
na administração pública, vários dos quais incorporados aos quadros administrativos do
estado pelo movimento do “Centrão” e outros grupos conservadores na Constituinte, e que
permitiu a estabilidade para servidores que ingressaram na administração sem concurso
público no período pré-Constituição/88. Tais vantagens também beneficiaram empregados
públicos de empresas estatais e que hoje são citados em esquemas de corrupção, como
Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa. Trata-se, de fato, do chamado “estamento
burocrático”.
A criação do concurso público para acesso aos cargos públicos, imposta pela nova Ordem
Constitucional, permitiu uma democratização do ingresso nestes postos, que passaram a
ser ocupados por pessoas de todos os extratos sociais.
Até então, os cargos na administração pública, pelo menos os de maior envergadura, eram
considerados como postos destinados aos filhos da elite social e econômica,
especialmente os cargos de altos dirigentes do governo, da diplomacia, da advocacia e
dos comandos militares. Assim, este tipo de organização estatal está muito longe da lógica
racional-legal weberiana, mas dentro daquilo que o mestre alemão chama de dominação
tradicional.
Em qualquer análise política mais séria, e sem nenhuma ingenuidade, é impossível não
considerar o poder e a influência destes servidores do alto escalão governamental. Todos
possuem grande espaço de decisão ocupado ao longo da sua atuação na máquina
administrativa, espaços estes que permitem um contato permanente com várias empresas.
Estes espaços historicamente foram dotados de pouca transparência, de mecanismos de
controle social, participação ou governança, liberdade permitiu aos agentes responsáveis
pelas negociações e gestão de contratos com valores muito elevados a possibilidade de
comprar apoios, negociar favores, vender vantagens, dentre outras premissas que,
curiosamente, são simplesmente omitidos pelos grandes meios de comunicação.
Desta forma, não há como se falar em corrupção, no Brasil, sem considerar o papel deste
influente extrato de servidores e empregados públicos, e que exercem o papel de um
verdadeiro “estamento burocrático” dentro da administração.
III – A ESCOLA DA MAGISTRATURA
Durante as décadas de 80 e 90 do século passado o movimento estudantil universitário
criou uma série de projetos de cursos populares preparatórios para o vestibular, gratuitos,
e destinados a garantir o acesso de estudantes sem condições financeiras ao ensino
superior.
Embora a grande maioria dos estudantes que ministravam os cursos também tenha
origem em grupos menos privilegiados economicamente, as aulas eram atividades de
militância e não remuneradas, e os resultados obtidos permitiram o ingresso de milhares
de estudantes das camadas mais pobres nas universidades públicas.
Trata-se de uma iniciativa importante de um movimento social visando promover a
inclusão social e o combate aos privilégios de grupos dominantes. A universalização do
acesso ao ensino público e laico, bem como aos cargos públicos, é uma condição
essencial para a existência da Democracia, e deveria ser sempre um objetivo do Estado.
Ocorre que esta não foi uma iniciativa seguida por todas as categorias sociais, e muitos
setores da sociedade ainda se utilizam dos espaços privilegiados ocupados para manter
determinados postos no serviço público como núcleos destinados aos filhos da elite
econômica e social.
Esta última postura comunga com a tipologia do “estamento burocrático” e com a
perpetuação do patrimonialismo. Distante da realidade da maioria dos brasileiros, está a
grande maioria das Escolas da Magistratura, instrumento que poderia contribuir para
garantir o acesso aos cargos de juízes e que, na prática, funcionam como mecanismo
destinado à manutenção de privilégios.
Se no início, a primeira destas escolas contava com o serviço não remunerado de quadros
da judicatura, hoje todos os juízes-professores são remunerados pelas diversas escolas do
gênero implantadas em todo o país.
Uma das consequências é o elevado valor dos cursos ofertados por estas instituições de
“excelência”, cujo custo ultrapassa a faixa de 12 salários mínimos em média, o que torna os
mesmos proibitivos para a maior parte da população. Pior do que isto: apesar de mantidos
por associações de juízes, os cursos contam pontos nas provas de títulos para os
concursos da magistratura, conforme Resolução nº 75, de 12 de maio de 2009 do
Conselho Nacional de Justiça.
Trata-se de privilégio incomum, e exclusivo das associações representativas de servidores
que compõem a estrutura de um dos Poderes da República. As associações dos
magistrados são, na verdade, o equivalente aos sindicatos de outras categorias, pois
representam os interesses dos referidos profissionais frente ao estado.
Nenhuma outra entidade representativa de categoria profissional ou de servidores públicos
possui um poder tão grande para influenciar nos resultados dos concursos públicos como
a dos magistrados. Senão vejamos: a) as associações de magistrados participam da
definição dos critérios de seleção dos concursos; b) os cursos de formação mantidos pelas
associações de magistrados contam pontos para os títulos dos referidos concursos; c) os
magistrados, notadamente os desembargadores, são responsáveis por firmar as
interpretações jurisprudenciais, numa rara capacidade de estabelecer e ministrar o
conteúdo do objeto dos concursos; e d) muitas das escolas de magistratura funcionam e
se utilizam das estruturas físicas dos próprios Tribunais.
Embora não seja possível afirmar que há intencionalidade na fixação destas vantagens
como mecanismo para diminuir o acesso de determinados grupos sociais ao Poder
Judiciário, é inegável a existência de privilégios em favor das associações de magistrados
e daqueles que ingressam nos cursos mantidos por essas instituições.
Mesmo entendendo que boa parte dos juízes e professores das Escolas atua com sincera
intenção de aperfeiçoar o conhecimento jurídico e de forma honesta, a manutenção dos
privilégios das associações de magistrados não pode ser aceita de forma acrítica, sob o
risco de convalidar a perpetuação de uma situação tipicamente patrimonialista e com
duvidosa constitucionalidade.
IV – O PODER ECONÔMICO E OS PROCESSOS ELEITORAIS
Outra herança inequívoca do patrimonialismo no Brasil é o financiamento privado das
campanhas eleitoras. Uma leitura simples e rápida dos principais escândalos de corrupção
do país, identificaremos sempre a presença de dois fatores: a) o financiamento realizado
por empresas; e b) a participação de servidores e empregados públicos que ocupam
cargos de alto escalão, o chamado “estamento burocrático”, na articulação dos
financiamentos.
O tema do financiamento de campanhas eleitorais por empresas é objeto da Ação Direta
de Inconstitucionalidade nº 4650 que tramita no Supremo Tribunal Federal movimentada
pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), onde são questionados
dispositivos da atual legislação que disciplina o financiamento de partidos políticos e
campanhas eleitorais por essas empresas (Leis 9.096/1995 e 9.504/1997).
O processo já conta com o voto de seis Ministros favoráveis ao pedido que consideram
inconstitucional o financiamento de campanhas eleitorais por empresas, mas o processo
está suspenso em virtude de pedido de vista feito pelo ministro Gilmar Ferreira Mendes, o
que prejudica a efetiva transformação do financiamento dos processos eleitorais.
Na prática, o financiamento privado de eleições por empresas acaba resultando no
domínio do poder econômico sobre a definição da agenda política. Tal situação, somada
às eleições com listas abertas, resulta em campanhas eleitorais caras e com o predomínio
de uma visão personalista e patrimonialista da coisa pública.
O mandato de um parlamentar, por exemplo, acaba sendo visto como um patrimônio
pessoal do candidato eleito, e não como o resultado de uma luta política de uma
coletividade, o que resulta da colocação de temas de interesse social ou coletivo, como a
proteção do meio ambiente e a defesa dos direitos humanos, dentre outros, em segundo
plano.
O financiamento privado de campanhas eleitorais desequilibra a defesa de ideias, coloca o
interesse do capital em primeiro plano em relação à cidadania, e acaba facilitando o
exercício da corrupção.
Uma votação favorável ao pedido da ADI nº 4650 no STF, declarando a
inconstitucionalidade do financiamento empresarial em campanhas eleitorais seria um duro
golpe ao abuso do poder econômico em eleições. É exatamente por isso que é necessário
um acompanhamento mais cuidadoso da população na relação entre a demora no voto do
Ministro Gilmar Mendes, e a tramitação da PEC da “Contra-Reforma Política”. Tal Proposta
de Emenda Constitucional é conduzida pelo atual Presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), e conta com o apoio de partidos de direita, como o DEM e o PSDB, e está
sendo acelerada no Congresso Nacional. Apenas o PT e o PSOL se posicionaram
claramente contra o golpismo e caráter patrimonialista da proposta.
A PEC 352, conhecida como “PEC da Contra-Reforma Política” ou “PEC do Capital”, sustenta
o patrimonialismo do financiamento privado de campanhas e a criação do voto distrital que
enfraquece os partidos e favorece a visão personalista dos mandatos parlamentares. Ou
seja, é uma forma de mudar não mudando, mantendo a influência do poder econômico nas
eleições.
V – A ORGIA DAS PRIVATIZAÇÕES
De acordo com a Revista Carta Maior, estudos indicam que 1996 à 2002, no auge das
privatizações do Governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), cerca de US$ 126
bilhões foram desviados para o exterior pelo esquema do Banco do Estado do Paraná –
BANESTADO. Destes, apenas US$ 2,2 milhões foram repatriados pela Advocacia Geral
da União.
Os números do BANESTADO são uma parcela ínfima de todas as denúncias de corrupção
que circularam no Brasil na década de noventa durante a orgia privatista de FHC e Cia..
Com certeza, nessa época tivemos o ápice da corrupção do país, com a omissão, velada
dos órgãos de controle, e explícita dos meios de comunicação. Muitos dos problemas
ainda hoje enfrentados são frutos de esquemas criados naquela época, inclusive com os
mesmos protagonistas.
O caso dos ataques à Petrobrás é o exemplo mais gritante de todos, na medida em que
falamos de uma organização criminosa que admite atuar no submundo da administração
pública, pelo menos, desde 1997, com fortes indícios de atuação anterior, e com maiores
ramificações.
Já o caso da Ação Penal nº 470, conhecido popularmente como “mensalão”, é mera
continuidade de esquema criado em Minas Gerais, também no governo tucano. Para evitar
a cassação do mandato, e a continuidade do processo no rito sumaríssimo do Supremo
Tribunal Federal, o ex-Governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo (PSDB) renunciou
ao cargo que ocupava no Senado.
Alberto Yousseff, transformado em herói pela mídia oligopolista, também era figura
presente no escandaloso caso do BANESTADO. Mas as investigações sobre os
esquemas no Banco Paranaense foram abafadas pelos mesmos grupos de comunicação
que hoje cobram investigações, o que, por si só, é prova flagrante de suspeição das
referidas empresas. Aliás, é a mesma mídia que hoje fecha os olhos para o escândalo do
HSBC, banco beneficiado pelo financiamento do PROER, durante o Governo de FHC,
quando adquiriu a parte do capital do extinto Bamerindus.
Segundo estudos realizados por pesquisadores da CEPAL, cerca de 12,3% do PIB na
época, ou R$ 111,3 bilhões, foram utilizados para cobrir gastos com o PROER, o que
incluiu, em menor monta, a recapitalização do Banco do Brasil, da Caixa Econômica
Federal, e de alguns bancos estaduais em virtudes das cíclicas crises cambiais do Plano
Real.
Deve ser destacado que o PROER não foi a primeira operação de salvamento financeiro
de Bancos realizadas no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Antes disso,
tivemos o escândalo envolvendo os Bancos Marka e Fonte-Cindam, que receberam cerca
de R$ 1,6 bilhão do Banco Central durante a desvalorização do real. O caso resultou até
na prisão do ex-presidente do Banco Central, Chico Lopes, e do famoso banqueiro de
cidadania italiana, Salvatore Cacciola.
Outro exemplo problemático é o da privatização do sistema de telecomunicações. Além
dos questionamentos sobre os valores e sobre os procedimentos, temos o caso da
divulgação de gravações de conversas telefônicas entre o ex-ministro das Comunicações,
Luis Carlos Mendonça de Barros (PSDB), e presidente do BNDES no governo de FHC,
André Lara Resende, onde ambos articulam o apoio a Previ, fundo previdenciário dos
funcionários do Banco do Brasil, para beneficiar o consórcio do banco Opportunity,
vinculado ao tucano Pérsio Arida. A negociata envolvia o módico valor de R$ 24 bilhões de
reais.
Mas o caso mais gritante de todos, e inquestionavelmente o mais representativo da orgia
das privatizações envolve a maior empresa mineradora da América Latina, e uma das
maiores do mundo (a segunda mais lucrativa em escala global), a Companhia Vale do Rio
Doce.
Em leilão realizado em 1997, 33% das ações de uma empresa avaliada em R$ 90 bilhões
de reais foram arrematados pelo Consórcio Brasil por apenas R$ 3,3 bilhões de reais, o
que permitiu ao mesmo assumir o controle acionário da empresa estatal. O consórcio
vencedor era formado pela privatizada Companhia Siderúrgica Nacional, pela
Bradespar/Bradesco, e pelo fundo de investimentos do funcionários do Banco do Brasil, o
Previ.
Além da onipresença do Previ, envolvida em diversos processos de corrupção, parte dos
recursos utilizados na compra da Vale do Rio Doce foram obtidos por meio de empréstimo
junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), resultando
em indícios de direcionamento do certame.
Resta destacar que, além das negociações de bastidores e da utilização contínua de
dinheiro público nas privatizações, as duas principais justificativas adotadas pelo tucanato
para realizar tais ações não se justificaram.
Primeiro, a dívida pública, que deveria sofrer abatimento com a utilização dos créditos das
vendas, não reduzir, ao contrário, mais do que triplicou nos oito anos de governo tucano,
fruto de uma política fiscal e financeira truculenta e confusa.
Segundo, conforme destaca Aloísio Biondi na ótima obra “O Brasil Privatizado”, o país
arrecadou cerca de R$ 85,2 bilhões de reais com as privatizações, mas perdeu mais de R$
87,6 bilhões de reais com a receita das empresas vendidas que não ingressaram nos
cofres públicos, especialmente da Vale. Assim, o resultado da orgia privatista foi um saldo
líquido negativa de R$ 2,4 bilhões de reais, que foram transferidos do patrimônio público
para o capital financeiro.
VI – O PODER DA MÍDIA OLIGOPOLISTA
A Constituição Federal garante imunidade tributária para livros, jornais, revistas e para o
papel onde estes materiais são impressos. Em tese, o objetivo desta medida é permitir
uma democratização do acesso à informação, à produção científica e à cultura.
Ocorre que o sonho da democratização da informação pela produção de informações por
uma “imprensa livre”, não se consolidou. Nem jornais, nem revistas e, muito menos livros,
com raras exceções, possuem preços acessíveis à maioria da população. Uma das
poucas exceções são as publicações de baixa qualidade destinadas às massas, em
tabloides como “Notícias Populares” e “Diário Gaúcho”, ambas publicações com desenho
editorial baseado em notícias sobre fofocas de televisão, esporte e violência, baseados no
marketing de comércio do vazio informativo e da ideologia dos grupos proprietários dos
jornais.
A simples publicação de um Edital ou de aviso de interesse público num jornal de grande
circulação em São Paulo ou Rio de Janeiro chega a custar a bagatela de R$ 10 mil reais,
tornando esses espaços inacessíveis para as organizações da sociedade civil. Por outro
lado, todos os jornais e revistas reservam grande parte do seu espaço para a publicidade.
Em algumas “revistas” temos a impressão de que existe mais espaço publicitário do que
material de comunicação.
Se a situação é grave na mídia impressa, muito pior é o resultado observado no rádio e,
especialmente, na televisão. Curiosamente, ambas as formas de comunicação são
derivadas de concessões públicas.
Os grandes grupos de comunicação também são detentores de excelentes espaços para a
publicidade e, como consequência, são um grande negócio. Em regra, articulam mídia
impressa, radiofônica, televisiva e, mais recentemente, eletrônica, o que permite um
domínio das informações e das rendas publicitárias, inclusive de fontes públicas de
patrocínio.
E aqui começa um grande problema. Se rádio e televisão são concessões, ou seja,
serviços públicos, por que não existe nenhum mecanismo de controle público ou social
sobre o financiamento destas empresas? Mais do que isto, qual é o motivo de tamanha
resistência das principais redes de comunicação contra a presença de qualquer tipo de
controle sobre as suas fontes de financiamento?
Talvez a resposta possa ser observada na guerra instaurada pelas Organizações Globo
em relação ao direito de transmissão dos jogos do campeonato de brasileiro, da Copa do
Mundo e das Olimpíadas. Apenas em 2012, a Globo pagou para os 12 maiores clubes do
futebol brasileiro mais de R$ 939 milhões de reais como direitos de transmissão. Este
dado foi obtido com base na publicação dos balanços financeiros dos clubes, pois os
contratos firmados pela Rede Globo com os clubes de futebol gozam de questionável
cláusula de confidencialidade.
Ao todo, estima-se que a empresa de comunicação tenha efetuado o pagamento aos
clubes da primeira divisão do campeonato brasileiro em 2012 mais de R$ 1,326 bilhão de
reais apenas em direitos de transmissão do campeonato brasileiro. Não constam neste
inventário as despesas com o custeio da programação e, muito menos, o lucro obtido pela
Rede Globo com um dos principais atrativos da sua grande de comunicação.
Estes dados demonstram que as empresas de comunicação são grandes negócios, e para
exercer as suas atividades se utilizam de concessões públicas sem nenhuma, ou
praticamente nenhuma, retribuição à população.
Diferentemente do que ocorre nas concessões de transporte, energia elétrica, água,
telefonia, dentre outras, não existe transparência nas planilhas de serviços, muito menos
espaço para que cada cidadão ou cidadã, verdadeiros detentores dos direitos das
concessões, possa saber o resultado obtido pelas empresas. Não se verifica o pagamento
de outorga, ou ainda o cumprimento de cláusulas de oferta mínima de conteúdo de
produção nacional.
A falta de transparência domina o mercado da comunicação, uma verdadeira “Caixa de
Pandora”, permite vários tipos de vantagens, inclusive a possibilidade de compra de
matérias e de notícias. Nunca poderemos esquecer dos mecanismos utilizados por Assis
Chateaubriand, o “Chatô”, para condicionar os fabricantes de fósforos a patrocinar os seus
jornais, através de uma verdadeira chantagem jornalística por meio de matérias que
afirmavam o perigo que representava a utilização do produto fabricado por estas
empresas, matérias que, por sinal, sumiram dos jornais quando do fechamento dos
acordos de publicidade.
Por fim, não podemos esquecer que a mídia representa muito mais do que dinheiro sem
transparência no uso e nas fontes de financiamento, mas grande poder de influência.
Vários dos ocupantes de assentos no Parlamento ou são donos, filhos, ou parentes de
donos de redes de televisão, como Aécio Neves (PSDB), por exemplo, ou funcionários das
empresas de comunicação.
No Rio Grande do Sul, dois dos três Senadores, Ana Amélia Lemos (PP) e Lasier Martins
(PDT), são funcionários da Rede Brasil Sul – RBS, uma das afiliadas da Rede Globo, e o
maior grupo de comunicação do sul do país.
Portanto, é necessário criar mecanismos para diminuir o poder que os meios de
comunicação exercem sobre a população, e o primeiro passo poderia ser dado com a
regulação e transparência do financiamento da mídia.
O segundo, já pensando adiante, poderia se basear na restrição da publicidade pública às
grandes redes, criando-se mecanismos como a divulgação de matérias de utilidade pública
nos referidos meios.
Garantir a transparência do financiamento das redes de comunicação é, sim, um
instrumento fundamental para enfrentar a corrupção econômica e política.
VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS
A verdadeira origem da corrupção no Brasil, como vemos, está muito longe do conteúdo
dos noticiários de televisão. Ela se encontra entranhada em processos que são
apresentados como normais, na garantia de privilégios estamentais, na influência do poder
econômico nos processos eleitorais, no monopólio das informações, e na ausência de
transparência e de mecanismos de controle social em determinados setores.
Se nenhum destes problemas for realmente enfrentado pela sociedade, não haverá
verdadeiro combate à corrupção, mas simples demagogia ou golpismo, especialmente a
atual prática da mídia oligopolista brasileira.
.oOo.
O Sul21 reserva este espaço para seus leitores. Envie sua
colaboração para o e-mail op@sul21.com.br, com nome e profissão.
Sandro Ari Andrade de Miranda é advogado, mestre em ciências sociais.
Micropoderes
1. Segundo Michel Foucault, há uma rede de micropoderes, de poderes centrífugos,
locais, familiares e regionais, com uma variedade de conflitos, dotados de
articulações horizontais, mas onde também surge uma articulação vertical,
uma integração institucional dos poderes múltiplos tendente para um centro
político, para um poder centrípeto.
3. Neste sentido, o Estado é perspectivado, não como uma coisa, mas como um
processo relacional, entre a sociedade civil, ou comunidade, e o aparelho de poder,
como o mero quadro estrutural de um jogo entre forças centrífugas e centrípetas,
que constituiriam uma rede de micropoderes, locais, regionais, familiares,
económicos e culturais, toda uma miríade de poderes periféricos, não
necessariamente hierarquizáveis como corpos intermediários, que se justaporiam, de
forma complexa, pelo que a soberania, na prática, seria divisível e, sobre o mesmo
espaço e as mesmas pessoas, não teria que haver o centralismo e o
concentracionarismo de uma única governação. O político é uma invenção marcada
por uma estratégia que globaliza várias micro-estratégias, onde há uma especial
forma de poder, o poder político, a síntese emergente, integrante de vários
micropoderes, onde uma multiplicidade de actores actua numa determinada
unidade, em quadros estruturais, em circuitos institucionalizados.
1
O presente artigo busca demonstrar a evolução histórica do crime de corrupção
desde suas primeiras aparições na antiguidade até os dias atuais.
SUMÁRIO: 1.Introdução; 2. Evolução histórica do crime de corrupção; e 3.
Bibliografia.
1. INTRODUÇÃO
Aqui, no Brasil, terra de povo humilde, simples, alegre, a corrupção gerou até,
pode-se dizer, uma subcultura, uma etnia, muito se ouve falar na “lei de Gerson”, ou
no velho e bom “jeitinho brasileiro”, “cafezinho”, “cerveja”, “groja” etc. Com efeito, esse
delito passou a fazer parte do cotidiano do brasileiro.
2.1 Prólogo
Está enganado quem pensa, que esse mal que ataca e corrói a
administração pública, seja pertinente somente aos dias atuais. Desde remotas eras,
os povos o repudiam e combatem, na Grécia já era punido, em Roma um fragmento
da Lei das XII Tábuas cominava a pena de morte ao juiz corrompido. Mais tarde a Lex
Iulia repetundarum abrandou a punição, cominando multa, quatro vezes da soma
havida, e pena corporal.
2.3 O Iluminismo
Assim, foi solicitado que fossem todas reunidas na Consolidação das Leis
Penais, pelo Decreto no. 22.213, de 14-12-1932, com vigência até 31-12-1941.
A nova Lei Penal, também foi alvo de muitas críticas, pois muitos a viam como
autoritária, principalmente com relação ao sistema de penas e medidas de segurança,
porque com a adoção do sistema duplo binário, as medidas de segurança acabaram
por se tornar sem definição de tempo.
Por sua vez, nas últimas décadas houve muitas mudanças sociais e
transformações tecnológicas com destaque na esfera da informatização, lado a lado, a
globalização obteve um crescimento avultoso, fatores conclusivos de uma
criminalidade com novo caráter.
[4] MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal: Parte Geral. v.I.
24.ed. São Paulo: Atlas, 2007
[5] HABIB, Sergio. Brasil: Quinhentos anos de corrupção. Porto Alegre: Sergio
Antonio Fabris Editor (SAFE), 1994
Autor
Amanda Malicia
A corrupção ativa e passiva não é um “privilégio” da geração atual. É antiga e sem data
certa de nascimento ou de naturalidade. O antigo império romano, por exemplo, está
recheado de exemplos que nos mostram o quanto tal crime era praticado, de modo que
não somente o governo como a própria população se adaptaram a essa realidade - que,
por sinal, acompanhou o nascimento, apogeu e declínio do grande império.
Rogamos a atenção dos leitores para os casos que iremos dispor logo abaixo, os quais só
reforçam a ideia de que o amor pelo dinheiro e pela vida fácil acompanha a humanidade
há milênios.
Eram os mesmos militares que exigiam, ainda, uma espécie de dízimo de tudo o que era
produzido no campo. Assim, os trabalhadores eram obrigados a levar para celeiros
públicos parte do trigo colhido para o sustento familiar.
O corporativismo entre os próprios militares era algo notório: para desfrutar de uma
“folga”, de um repouso, bastava o subordinado comprar tal direito, ofertando ao seu
chefe o que este julgasse suficiente para o caso em questão.
Tornou-se, assim, um ciclo vicioso, tão vicioso que ao perceber que um soldado estava
enriquecendo, seus superiores ordenavam-lhe várias tarefas, pois sabiam que, para se
livrar de tais obrigações, o soldado lhes pagaria maior quantia pelo repouso, pelo não
cumprimento das exigências então impostas.
A corrupção era uma prática comum, tão comum que (sem exageros) acabou se tornando
um modismo, algo natural, algo esperado por quem adentrasse ou precisasse do serviço
público. O funcionário romano – pasmem – estava tão habituado ao referido crime que,
para praticar um simples ato institucional, exigia algo de quem estivesse precisando do
serviço público. Houve, inclusive, tabelamento de preços dos atos sujeitos à corrupção.
Ao ingressar no serviço público, o recém-servidor deveria (por costume) dar uma gorjeta
ao seu chefe imediato. Era uma espécie de aviso de como a coisa funcionava.
Os governadores das províncias eram os mais agraciados com o corrompido sistema. Não
hesitavam ao oferecerem vultosas propinas aos inspetores imperais, que, por sua vez,
também não pensavam duas vezes e acabavam recebendo o fruto da corrupção.
Um desses govarnadores (após ser processado por crime de corrupção - uma raridade),
em uma carta endereçada à amante, exclama: “Alegria1 Alegria! Venho a ti livre de
minhas dívidas, depois de colocar à venda a metade de meus administrados”.
Sêneca, abordando o tema, diz que pilhar as províncias como governador era “o caminho
senatorial para o enriquecimento”. Do ponto de vista financeiro, era preferível ser
governador ao cargo de senador. O poder central, na maioria das vezes, fazia vistas
grossas, desde, é claro, que recebesse a parte que lhe tocava.
Cícero, famoso romano por sua erudição, depois de um ano como governador de
província, voltou para casa milionário. E não escondeu sua façanha. Ele, que se tornou
senador não pelo fato de ascender de família tradicional, mas pela enorme capacidade
oratória (o que engradecia o Senado), representa, na atualidade, aqueles que, tendo um
histórico de pobreza em sua vida juvenil, não pensam mais do que uma vez e sacam os
cofres públicos, movidos por razões alheias à ética social e constitucional.
Rogamos a atenção dos leitores para os casos que iremos dispor logo abaixo, os quais só
reforçam a ideia de que o amor pelo dinheiro e pela vida fácil acompanha a humanidade há
milênios.
Em outra ocasião falamos que a divisão setorial e hierárquica na administração pública, mais
ou menos como o concebemos hoje tem origem na antiga Grécia, mais precisamente na
Atenas clássica. Roma “modernizou” tal prática e pretendeu manter um serviço público
eficiente, suficientemente capaz de atender à demanda social-administrativa do governo.
Embora alguns imperadores não tenham medido esforços no sentido de combater a corrupção
(foi lá, por exemplo, que surgiram os livros contábeis e a obrigação do governo prestar contas
de suas receitas e gastos, bem como foi na velha Roma que surgiram os diários oficiais, cuja
finalidade - dentre outras - era controlar os gastos e as atitudes tirânicas dos governadores), o
que se viu no vasto Império foi o crescente número de casos de corrupção, cujos protagonistas
iam do mais baixo ao mais alto escalão.
Eram os mesmos militares que exigiam, ainda, uma espécie de dízimo de tudo o que era
produzido no campo. Assim, os trabalhadores eram obrigados a levar para celeiros públicos
parte do trigo colhido para o sustento familiar.
O corporativismo entre os próprios militares era algo notório: para desfrutar de uma “folga”, de
um repouso, bastava o subordinado comprar tal direito, ofertando ao seu chefe o que este
julgasse suficiente para o caso em questão.
A corrupção era uma prática comum, tão comum que (sem exageros) acabou se tornando um
modismo, algo natural, algo esperado por quem adentrasse ou precisasse do serviço público.
O funcionário romano – pasmem – estava tão habituado ao referido crime que, para praticar
um simples ato institucional, exigia algo de quem estivesse precisando do serviço público.
Houve, inclusive, tabelamento de preços dos atos sujeitos à corrupção.
Ao ingressar no serviço público, o recém-servidor deveria (por costume) dar uma gorjeta ao seu
chefe imediato. Era uma espécie de aviso de como a coisa funcionava.
Os governadores das províncias eram os mais agraciados com o corrompido sistema. Não
hesitavam ao oferecerem vultosas propinas aos inspetores imperais, que, por sua vez, também
não pensavam duas vezes e acabavam recebendo o fruto da corrupção.
Um desses govarnadores (após ser processado por crime de corrupção - uma raridade), em
uma carta endereçada à amante, exclama: “Alegria1 Alegria! Venho a ti livre de minhas dívidas,
depois de colocar à venda a metade de meus administrados”.
Sêneca, abordando o tema, diz que pilhar as províncias como governador era “o caminho
senatorial para o enriquecimento”. Do ponto de vista financeiro, era preferível ser governador
ao cargo de senador. O poder central, na maioria das vezes, fazia vistas grossas, desde, é
claro, que recebesse a parte que lhe tocava.
Cícero, famoso romano por sua erudição, depois de um ano como governador de província,
voltou para casa milionário. E não escondeu sua façanha. Ele, que se tornou senador não pelo
fato de ascender de família tradicional, mas pela enorme capacidade oratória (o que
engradecia o Senado), representa, na atualidade, aqueles que, tendo um histórico de pobreza
em sua vida juvenil, não pensam mais do que uma vez e sacam os cofres públicos, movidos
por razões alheias à ética social e constitucional.
Um texto de Robério Fernandes, bases do livro "A história da vida privada", volume 1.
CORRUPÇÃO
“[Do lat. corruptione.] Substantivo feminino. 1. Ato ou efeito de corromper;
decomposição, putrefação. 2.Fig. Devassidão, depravação, perversão. 3. Fig. Suborno,
peita. [Var.: corrução; sin. ger.: corrompimento.] (Dicionário Aurélio)”.
“Pela justiça o rei estabelece a terra, mas o amigo de subornos a transtorna”.
Provérbios 29:4
“Melhor é o pouco, com justiça, do que grandes rendas, com injustiça”. Provérbios
16:8
“Não torcerás a justiça, nem farás acepção de pessoas. Não tomarás subornos, pois o
soborno cega os olhos dos sábios, e perverte as palavras dos justos. Segue a justiça, e
só a justiça, para que vivas e possuas a terra que o Senhor teu Deus te dá”.
Deuteronômio 16:19-20
Fonte das Idéias Principais: Jornal Estado de Minas, Caderno Pensar Brasil, 10 de
outubro de 2009.
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1. O conceito de corrupção
Existem no Brasil muitas palavras para caracterizar a corrupção: cervejinha, molhar a mão,
lubrificar, lambileda, mata-bicho, jabaculê, jabá, capilê, conto-do-paco, conto-do-vigário,
jeitinho, mamata, negociata, por fora, taxa de urgência, propina, rolo, esquema, peita,
falcatrua, maracutaia, etc. A quantidade de palavras disponíveis parece ser maior no Brasil e
em países onde a corrupção é visualizada cotidianamente. Originalmente, a palavra corrupção
provém do latim Corruptione e significa corrompimento, decomposição, devassidão,
depravação, suborno, perversão, peita. A corrupção, entretanto, dependendo do contexto,
nem sempre assume uma conotação negativa. Ela constitui, por exemplo, a base para o
desenvolvimento da linguagem: a língua portuguesa resultou de um “corrompimento”, da
modificação do latim, cuja variante brasileira é ainda mais dinâmica e viva (mais corrompida,
portanto) do que o português de Portugal. Na linguagem política contemporânea, no entanto,
a corrupção sempre assume uma conotação negativa, o que, visto numa perspectiva histórica,
não foi sempre assim. Historicamente, a corrupção esteve associada ao conceito de legalidade,
ou seja, corrupto era caracterizados aquele que não seguia as leis existentes. Mesmo
determinados termos extremamente negativos que atualmente são usados para designar
formas de corrupção, como a peita, o nepotismo e o peculato, não tinham essa conotação até
há poucas décadas atrás: a peita estava instituída como um pacto entre os fidalgos e a plebe
nos regimes monárquicos para garantir o pagamento de tributos do povo aos nobres; o
nepotismo era reconhecido como um princípio de autoridade da Igreja na Idade Média,
segundo o qual os parentes mais próximos do Papa tinham privilégios sociais aceitos pela
sociedade da época; o termo peculato, originalmente, indica que o gado constituía a base
da riqueza de determinados grupos sociais privilegiados e, posteriormente, a expressão
“receber o boi” passou a ser usada para designar “troca de favores”, pois o gado servia como
uma forma de moeda em certas regiões rurais. O termo peculato, atualmente utilizado para
caracterizar favorecimento ilícito com o uso de dinheiro público, continua com essa referência
histórica de que para ter acesso a determinados privilégios é necessário um favor em forma de
contrapartida.
No Brasil se associa a esse contexto histórico a assim chamada Lei de Gérson, ou seja, o
comportamento de querer “tirar vantagem em tudo”, pressupondo que os sujeitos aguardam
o máximo possível de benefícios, visando exclusivamente o beneficio próprio. Esse tipo de
comportamento, contudo, se adapta perfeitamente ao “espírito capitalista”, como pré-
condição esperada dos seres humanos numa sociedade centrada nos valores da economia de
mercado. Adam Smith, por exemplo, caracterizava esse comportamento como a melhor forma
de contribuir com o progresso social (Smith, 1990).
É claro que a corrupção é mais antiga que o capitalismo, mas ela encontra neste modo de
produção condições ideais para sua continuidade. Através da instituição da dominação forçada
do capital sobre o trabalho[2], a qual permite aos capitalistas a apropriação privada da mais
valia gerada pelo trabalho de outros seres humanos, uma das formas mais básicas de
corrupção passou a ser reconhecida legalmente na sociedade capitalista. Nesse sentido, a
forma moderna da corrupção precisa ser compreendida no contexto da injustiça fundamental
presente em todas as sociedades de classes: a injustiça no acesso aos meios de produção, que
constitui a origem da desigualdade social e está em frontal contradição com os ideais de
democratização, justiça social e solidariedade entre os seres humanos. É por isso que,
historicamente, a corrupção é proporcionalmente maior em sociedades com maior injustiça
social: onde o contraste entre ricos e pobres é maior. A ausência e a dificuldade no acesso a
bens e serviços facilita a privatização de setores públicos e sua transformação em mercadoria,
tendo como resultado o seu uso/abuso em benefício privado. Nesse contexto, por exemplo,
bens e serviços públicos passam a ser usados como mercadorias em troca de votos em
períodos eleitorais e parlamentares votam a favor de determinadas leis se houver a
possibilidade de, com isso, aumentar recursos no orçamento para as regiões onde se
concentra o maior número de seus eleitores (através das famosas “Emendas Parlamentares”).
No debate teórico sobre a corrupção no Brasil podem ser visualizadas, no mínimo, duas
grandes correntes de pensamento: a) alguns cientistas políticos partem do pressuposto de que
a corrupção brasileira é uma herança do patrimonialismo ibérico; b) outros autores
apresentam a ausência de uma história feudal no país como um elemento importante para
descrever a falta de separação entre as esferas públicas e privadas, o que seria similar ao
patrimonialismo oriental. Em nosso entendimento, entretanto, o desenvolvimento do Brasil
está marcado por um processo de modernização e de manutenção do patrimonialismo, ambos
ocorrendo ao mesmo tempo. Isso significa que continua existindo uma estrutura de
dependência[5] do país em consonância com a manutenção do status quo das elites no país.
Por isso, pode-se falar de uma modernização conservadora no Brasil, pois não se trata de uma
nova ordem e sim de mudanças pontuais que, em última instância, contribuem para a
consolidação da estrutura social injusta e desigual. O conceito de “modernização”, portanto, é
constantemente influenciado por elementos econômicos, sociais, políticos e culturais que
constituem a base de um debate acerca de diferentes processos de modernização possíveis ao
país, diante dos quais os diferentes atores políticos estão confrontados. O desigual acesso aos
meios de produção, desde os tempos da colonização, constitui a base do patrimonialismo
brasileiro, uma corrupção original que se expressa no âmbito político e que pode ser
encontrada de forma semelhante também em outros países latino-americanos. Uma
importante particularidade de todo o continente sul-americano é a coexistência entre modos
de produção pré-capitalistas e semi-capitalistas, embora o capitalismo tenha se desenvolvido
como predominante e sobre ele se concentre prioritariamente a maioria dos estudos e
análises críticas. Por isso, particularmente no Brasil, é possível constatar um desenvolvimento
capitalista de forma desigual e dependente, com um acesso à modernidade sem que tenha
havido uma ruptura com o seu passado patrimonialista.
Nesse sentido, não há um Estado de Direito consolidado no Brasil, e muito menos se poderia
falar da existência de um Estado de bem-estar social. O Estado neopatrimonial surgido em
decorrência do desenvolvimento desigual e dependente do país serve prioritariamente aos
interesses de grandes proprietários de terras, empresários e outros representantes do capital.
Trata-se, portanto, de um Estado autoritário e centralizado. Nós defendemos a tese de que
quanto mais autoritário e centralizado estiver organizado o poder, maior será a probabilidade
de se confundir o interesse público (res publica) com interesses privados. Muitos crimes no
Brasil surgem no interior da própria estrutura do Estado e estão com ela conectados, de forma
que a criminalidade muitas vezes é incentivada por estruturas estatais (especialmente no
interior de setores da polícia e do Poder Judiciário). A maioria dos políticos é eleita como
representante de poderosos interesses na sociedade e concorre visualizando a possibilidade
de ter acesso a benefícios da estrutura do Estado. Inclusive criminosos se candidatam em
eleições com a finalidade de serem protegidos pela imunidade parlamentar, constituindo a
assim chamada “bancada do crime” que, de acordo com Francisco Weffort, já chegou a atingir
10% do Congresso Nacional.
3. A cultura política
Essa é a mudança fundamental do PT com o governo Lula, o qual não se dispõe a avançar na
democracia participativa (seguindo a exitosa experiência do partido com o Orçamento
Participativo), correndo o risco constante de degenerar politicamente e eticamente ao se
adaptar à lógica corrupta da democracia representativa brasileira. Para o Brasil esse processo
de degeneração representa um enorme retrocesso na história de democratização do país, pois
o PT incorporava, até então, como único partido programático existente, a grande esperança
de transformações sociais, as quais poderiam ser conduzidas de forma democrática (de baixo
para cima) através de uma crescente mobilização social. A degeneração política do PT, através
da sua adaptação cada vez maior à tradição historicamente autoritária, populista e fisiologista
da política brasileira, é profundamente lamentável porque desta forma o partido abandona
seu papel de protagonista e de portador de esperanças em transformações sociais construído
duramente nas últimas décadas. E a degeneração ética do PT, que também está em curso,
contribui decisivamente para uma maior naturalização da corrupção, o que dificulta ainda mais
a construção de medidas efetivas de combatê-la.
Referências bibliográficas:
Marx, Karl. Der Bürgerkrieg in Frankreich. MEW, Band 17. Berlin: Dietz Verlag, 1971.
Pont, Raul. Hoffnung für Brasilien. Beteiligungshaushalt und Weltsozialforum in Porto Alegre.
Entwicklung der PT und Lulas Wahlsieg. Köln: Neuer ISP Verlag, 2003.
Smith, Adam. Untersuchung über Wesen und Ursachen des Reichtums der Völker. Band I.
Düsseldorf: Verlag Wirtschaft und Finanzen, 1990.
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há 3 meses
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O grande responsável por esta separação entre a visão, entre o mundo, da ética e
da moral individual para a visão e para o mundo político foi Nicolau Maquiavel.
É importante a pesquisa sobre o nosso passado, nossa formação ética, para que
possamos, da melhor maneira possível, vislumbrar nosso futuro.
Não se discute que no Brasil colonial a corrupção esteve bem presente por meio
de familismo, clientelismo, patronagem e amizade, todos estes acima dos
interesses públicos do novo país. Foi assim que passamos nossos primeiros anos,
nossas primeiras décadas. Nossos colonizadores tinham caráter aventureiro, com
hábitos individualistas, avessos ao trabalho, com gosto pela luxúria e grande
desejo pelo desfrute de bens.
Penso, todavia, que se deve agir com redobrada prudência quando se trata de
justificar mazelas atuais, pelo passado histórico colonial. Quando nada pela
singela razão de que, daqui a pouco mais de uma década, estaremos celebrando o
bicentenário da Independência do Brasil. Convenhamos: um espaço de duzentos
anos é tempo mais que suficiente para que um Estado Nacional se livre das
deformações surgidas na distante fase colonial.
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Cerimônia de beija-mão na corte de D.João VI, em que os súditos faziam pedidos ao monarca
O motorista que oferece uma cerveja para o guarda não multá-lo. O fiscal
que cobra uma "ajuda" do comerciante. O ministro que compra apoio
político. A corrupção está enraizada em vários setores da sociedade
brasileira. E nada disso é recente, segunda a historiadora Denise Moura,
que diz que a prática chegou junto com as caravelas portuguesas.
"Quando Portugal começou a colonização, a coroa não queria abrir mão do Brasil, mas
também não estava disposta a viver aqui. Então, delegou a outras pessoas a função de
ocupar a terra e de organizar as instituições aqui", afirma a historiadora.
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Brasil
"Só que como convencer um fidalgo português a vir para cá sem lhe oferecer vantagens?
A coroa então era permissiva, deixava que trabalhassem aqui sem vigilância. Se não,
ninguém viria."
Assim, a um oceano de distância da metrópole, criou-se um clima propício à corrupção,
em que o poder e a pessoa se confundiam e eram vistos como uma coisa só, de acordo
com Denise, que é professora de História do Brasil na Unesp.
No entanto, a historiadora deixa claro que a corrupção não é uma exclusividade do Brasil,
é só uma peculiaridade da formação dessa característica no país.
"Temos enraizado uma tradição muito forte de poder relacionado ao indivíduo que o
detém", avalia Denise. "E isso até hoje interfere na maneira como vemos os direitos e
deveres desse tipo de funcionário."
Propina
"A coroa então era permissiva, deixava que trabalhassem aqui sem
vigilância. Se não, ninguém viria"
Denise Moura, historiadora
No Brasil colônia, assim como hoje, a corrupção permeava diversos níveis do
funcionalismo público, segundo a pesquisadora. Na época, atingia desde o governador,
passando por ouvidores, tabeliães e oficiais de justiça, chegando até o funcionário mais
baixo da Câmara, que era uma espécie de fiscal de assuntos cotidiano.
A historiadora conta que documentos mostram esse funcionário protegendo ou
favorecendo um vendedor mediante propina.
Se a corrupção encontrou um terreno fértil nas instituições políticas do litoral, a situação
era ainda mais grave na colonização de regiões como Minas Gerais, Goiás e o sul do país.
Ainda mais longe dos olhos da coroa, esses locais só eram acessíveis após meses de
caminhada - o que exigia ainda mais incentivos para os "fidalgos-desbravadores".
"A coroa portuguesa estimulava pessoas e dizia: 'vão para o interior e podem mandar à
vontade por lá', na tentativa de garantir a soberania do império com alguém morando no
local", diz Denise.
A escravidão, segundo a historiadora, também contribuiu para o desenvolvimento da
corrupção no país. Isso porque era a única relação de trabalho existente, deixando o
trabalho livre sem qualquer tipo de norma para regê-lo.
Essa realidade criava um ambiente vulnerável, em que não era claro, por exemplo, os
deveres de um guarda municipal - abrindo, de novo, possibilidade de suborno e outros
tipos de corrupção.
Roma antiga
O modelo português, com, entre outras coisas, cartórios notariais que criam
muita burocracia para quem deseja oferecer dificuldades para depois vender
facilidades acabou ficando no Brasil até os dias de hoje, dando forma ao
famoso “jeitinho brasileiro”.
A União Soviética
E por fim, nós podemos citar um caso mais recente historicamente falando, que
é o da União Soviética, que acabou dando origens à imensa corrupção
presente na sociedade russa nos dias de hoje.
Tudo o que faz a glória e a vergonha do esporte no século XXI já existia na Grécia antiga:
treinamento intensivo, dietas, transferências de clubes, profissionalismo,
semiprofissionalismo, amadorismo e doping.
O dinheiro, claro, também estava presente. Desde que os Jogos Olímpicos passaram a ser
organizados oficialmente, os atletas foram remunerados. Quando se tornaram disputas entre
as cidades, nas quais o prestígio nacional ou local estava em jogo, as autoridades passaram
a patrocinar seus representantes. Mantinham colégios de atletas e, quando não conseguiam
formar nenhum campeão, compravam um no estrangeiro.
Em Atenas, em 580 a.C., Sólon promulgou uma lei que estipulava um prêmio de 500
dracmas para cada cidadão que vencesse as Olimpíadas. Como um carneiro valia
aproximadamente uma dracma, essa quantia era considerável. Sem contar que os campeões
adquiriam status e privilégios, como a dispensa de pagar impostos.
Origens Existem várias lendas sobre o nascimento dos Jogos Olímpicos, mas nenhuma
explica suas verdadeiras origens. Sabe-se apenas que as competições tinham um caráter
sagrado. A cidade de Olímpia, onde eram realizados os Jogos, era considerada um local
mítico, que conferia imortalidade aos vencedores, por isso acredita-se que as Olimpíadas
nasceram como competições que acompanhavam os funerais dos heróis. Os jogos fúnebres
com os quais Aquiles honrou Pátroclo na Ilíada reuniram arqueiros, lançadores de dardos,
corredores e lutadores. Os Jogos Olímpicos, portanto, teriam sido originalmente jogos
funerários celebrados em honra de Pélope, rei mítico da região do Peloponeso, antes de
serem consagrados a Zeus.
Se, de acordo com uma das lendas, o rei Ifitos de Élida fundou os jogos em 884 a.C., as
Olimpíadas passaram a ser contadas oficialmente só a partir de 776 a.C., quando havia
apenas uma prova: a corrida do estádio (cerca de 200 metros), que era disputada ao pé do
monte Kronion.
Naquela época, participavam dos Jogos apenas os habitantes de Pisa e de Élis, cidades da
região de Élida, onde ficava Olímpia. Mais tarde, as cidades da região do Peloponeso, entre
as quais Esparta, começaram a enviar seus atletas para Élida. O primeiro espartano sagrou-
se vencedor em 720 a.C. Logo, 5 ou 6 milhões de gregos assistiam aos jogos. No final do
século V a.C., o sofista Hípias de Élis publicou uma lista de campeões. Atualmente, graças à
lista do papiro de Oxirrinco, são conhecidos 921 dos 4.237 vencedores.
Durante os Jogos era proclamada uma trégua geral, e todos os combates entre gregos
deviam cessar. Nenhum exército podia pisar o solo de Olímpia. Também era proibido impedir
os atletas de participar das provas. Os Jogos se transformavam então no símbolo da luta
entre as cidades pela via pacífica.
Assim como hoje, os Jogos Olímpicos eram inaugurados por uma grande cerimônia de
abertura, quando os atletas chegavam a Olímpia, vindos de Élis, ao fim de dois dias de
caminhada. Sob as árvores do bosque sagrado de Altis eram expostas as estátuas dos
vencedores anteriores, de bronze, mármore e ouro.
Inicialmente, o festival durava apenas um dia. A festa foi crescendo, e, em 520 a.C., o
programa dos Jogos Olímpicos já tinha adquirido sua forma definitiva. O primeiro dia era
dedicado às cerimônias; o segundo, às provas eliminatórias de corrida a pé: a prova do
estádio (cerca de 200 metros), o diaulos (prova de dois estádios, cerca de 400 metros) e
o daulichos (a corrida de longa distância, de cerca de 4.700 metros). Quarenta mil
espectadores acomodavam-se nas arquibancadas para assistir às competições.
No quarto dia era a vez das competições de luta grega, pugilato (ancestral do boxe) e
pancrácio, a prova mais mortífera, em que tudo era permitido, com exceção de golpes nos
olhos. No quinto dia eram realizadas as finais das corridas a pé, e o sexto dia era dominado
pelas corridas de cavalos, que incluíam tanto as provas em que um jóquei montava o animal
quanto as competições de carros – bigas, quando eram puxados por dois cavalos, e
quadrigas, movidos por quatro animais.
O último vencedor conhecido foi um príncipe armênio de origem persa, Varazdates (373 ou
369). Logo depois, em 393, o imperador Teodósio aboliu os jogos, em um esforço para
acabar com todas as celebrações pagãs e fazer do cristianismo a religião oficial do Império
Romano. Em 395, Alarico e os godos devastaram Olímpia. Em 426, o imperador bizantino
Teodósio II mandou incendiar os templos, e, por volta de 550, um terremoto destruiu a
cidade. Era o fim dos Jogos Olímpicos da Antiguidade.
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Foto: Depositphotos
5. BAE System
Acusada de pagar comissão para agentes públicos em troca de contratos, a
empresa BAE System era tida como uma das maiores agências de segurança do
continente europeu. O caso foi um escândalo gigantesco, envolvendo corrupção
entre os Estados Unidos da América e a Arábia Saudita. Cerca de 448 milhões de
dólares foram desviados, valor que chega perto dos 1,4 bilhões de reais.
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4. KBR/Halliburton
A empresa KBR/Halliburton era considerada uma das grandes empresas de
energia na América do Norte. Ela foi acusada de subornar agentes públicos da
Nigéria em troca de contratos que valiam mais de cinco bilhões de dólares. É
estimado que o valor do desvio nesse escândalo de corrupção chegue a US$ 579
milhões, que em reais é aproximadamente R$1,8 bilhões.
3. Siemens
Tido como um dos casos de corrupção mais notáveis da atualidade, o caso da
Siemens repercutiu por todo o mundo, inclusive nas terras tupiniquins, que
infelizmente não continuou o processo. A empresa europeia foi acusada de pagar
propina a agentes públicos, desviando recursos que deveriam ter outros fins.
Apenas nos Estados Unidos a Siemens chegou a pagar mais de um bilhão de
dólares em propina.
2. Petrobras
Um dos casos de corrupção de maior repercussão no Brasil, o escândalo da
Petrobras teve seu início com a Operação Lava Jato, iniciada em 2014. É possível
que R$ 21 bilhões tenham sido desviados dos cofres públicos brasileiros.
1. Banestado
Descoberto em 2003, o caso de Banestado é até hoje o maior escândalo
de corrupção no Brasil e no mundo. O banco foi acusado de enviar remessas
ilegais de dinheiro para contas de laranja no exterior. Aproximadamente R$ 30
bilhões foram desviados à época.
QUANTO A CORRUPÇÃO
Por Douglas Barraqui
Andam repetindo por ai, feito papagaio de piratas, a fala de uma mídia tendenciosa,
capciosa, controladora e totalmente parcial, que “nunca se roubou tanto”. Não sejamos
justiceiros e afoitos ao ponto de agirmos pela precipitação da emoção e da indignação.
Nessa novela, tão antiga quanto às da Rede Globo, existem atores, os coadjuvantes,
vilões, mocinhos e mocinhas e, aquilo que considero como mais importante, os
bastidores. Precisamos entender os bastidores, caso contrário vai continuar “o sujo
falando do mal lavado”.
Lula, Dilma, Dirceu e outros tantos, toda corja corrupta desse país, se assim for
provado por meio de processo legal - tenho dito - devem ir para a cadeia. Portanto,
não estou aqui para falar por este ou por aquele partido. Estou aqui para dizer que
corrupção é tão antiga no Brasil quando o conto-da-carochinha. Que esta, está tão
impregnada em nossa sociedade que as pessoas, em um pisca de olhos, conseguem
confundir o público com o privado.
Primeira coisa a fazer é olhar para o passado, para a história do nosso país. A
corrupção vem sido escrita errada e por linhas tortas desde a carta de Pero Vaz de
Caminha, quando este encerra a carta pedindo ao rei D. Manuel de Portugal um
emprego para um sobrinho, um “rapaz competente e cumpridor dos deveres” segundo
o próprio Caminha.
No pleito eleitoral de 1950 um caso pitoresco tornou-se muito famoso e entrou para o
anedotário da política do país, foi a caixinha do Adhemar. Político de São Paulo,
Adhemar de Barros era conhecido pelo lema “rouba, mas faz!”. A tal caixinha era um
meio de arrecadar dinheiro em troca de favores. A caixinha envolvia políticos,
empresários, bicheiros, entre outros que desejavam algum benefício político. Adhemar
chegou a agadanhar com sua caixinha o montante de 2,4 milhões de dólares que ele
guardava para gastos pessoais em sua própria casa em um cofre. O tal cofre de
Adhemar de Barros foi roubado, em 18 de julho de 1969, pelos guerrilheiros da
Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR- Palmares) que na época tinha
como cabeças o ex ministro do meio ambiente Carlos Minc e atual presidenta Dilma
Rousseff.
Quando furamos uma fila; achamos uma carteira no banheiro pegamos o dinheiro e
jogamos a carteira no lixo; quando cortamos um sinal vermelho; quando escapamos
da blitz graças ao aviso do grupo de whatsapp, quando recebemos o troco a mais e
ficamos quietos; sempre quando fazemos valer o velho jargão “jeitinho brasileiro”
estamos sendo tão corruptos quanto Dirceu, Delúbio, Genoino e toda corja de
mensaleiros.
Repito: a corrupção não é algo exclusivo deste ou daquele partido. A corrupção faz
morada em sua casa, no dia a dia, nas pequenas e grandes atitudes. Quando você,
pai, promete um brinquedo, um celular, ou aquele jogo de vídeo game se a seu filho se
ele passar de ano; parabéns, você está comprando o seu filho. Ele vai crescer
acreditando em um mundo onde se pode conquistar as coisas em troca de
favorecimentos, proventos e privilégios; e a política será a parte mais trágica desse
enredo.
A “negociata é um bom negocio para o qual não me convidaram”, disse uma vez o
Barão de Itararé. Ele estava fazendo referência à diluição da ética no sentido
aristotélico do termo corrupção. Todos querem mudança, todos aparentam ter raiva da
corrupção, apontam para este e aquele partido e se fazem de justiceiros afoitos.
CORRUPÇÃO
Corrupção – do latim: corruptio, onis. Segundo o dicionário Larousse: ação ou
efeito de corromper-se; degradação de costumes; ação de seduzir por dinheiro,
presentes, etc., levando alguém a afastar-se da retidão; SUBORNO.
A história da humanidade fervilha em torno deste assunto. Desde os primórdios da
existência humana o homem tem-se corrompido. O primeiro caso de corrupção
relatado na história encontra-se no relato bíblico. O casal edênico foi criado para
viver em harmonia com o seu criador. Deus criou um código de ética para que o
casal seguisse e assim, mostrar que eram verdadeiramente fiéis a Deus. O código
era a árvore que ficava no meio do jardim, dela, o casal não poderia aproximar-se,
muito menos comer do seu fruto. Mas, a serpente muito sagaz, estando em cima
da árvore proibida disse à mulher (que se aproximou da árvore mesmo sabendo
que a norma do jardim não lhe dava direito a tal atitude): É assim que Deus disse:
não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: apenas desta
não podemos comer, pois se dela comermos, morreremos. Então a serpente disse
à mulher: é certo que não morrereis (Gênesis, 3: 1-4). O restante da história todos
conhecemos.
O casal foi corrompido. Depois deste episódio, a humanidade nunca mais
conseguiu viver sem corromper-se. Todos nós sabemos das abominações
cometidas por grandes imperadores e reis da antigüidade em nome da ganância,
homens corruptos, como Ciro, Ulisses, Alexandre, o grande, Nero, Júlio César,
Teodósio - último imperador romano, Carlos Magno, Luiís-o-piedoso, Carlos VII da
França, Frederico II da Alemanha, Luís XIII, D. João de Portugal, seu filho D.
Pedro, no Brasil, entre outros da atualidade. Também conhecemos através dos
registros históricos, tamanha corrupção cometida já na nossa era pelos políticos,
que a cada década, estão mais escancarados, audaciosos, sínicos.
O mais recente escândalo de corrupção é do nosso presidente do senado Renan
Calheiros. Com certeza o nosso senado é mais corrupto que o senado de Roma
na época dos Césares. O nosso país está submerso em um mar de corrupção,
seja esta oriunda do poder legislativo, judiciário ou executivo, não importa, esses
poderes parecem conspirar contra as leis e os bons costumes, contra a moral,
contra a ética, contra a população brasileira. Vivemos num país desacreditado
moralmente, onde os nossos representantes, eleitos pela população, parecem ter
esquecido o voto de confiança que fazem ao chegar ao poder. Nossa situação está
cada vez mais vergonhosa. São raras as exceções de se encontrar um político
realmente honesto. A que ponto chegamos!
O DILEMA ÉTICO
Por que será que a ética é uma prática tão complicada de se adotar? Adotamos a
justificativa que John Maxwell julga ser o problema. Para ele, há três razões para
não se seguir as normas éticas:
1. Agimos de acordo com nossa conveniência Um dilema ético pode ser definido
como uma escolha indesejável ou desagradável relacionada com um princípio ou
uma prática moral.
2. Nunca jogamos para perder Muita gente acredita que adotar uma postura ética
pode limitar suas alternativas, suas oportunidades e a própria capacidade de ser
bem-sucedida. Poucas pessoas se sentem confortáveis com a idéia de serem
desonestas, mas ninguém gosta de sair perdendo.
3. Relativizamos nossas escolhas Diante de situações em que não é possível
identificar um ganho imediato, muita gente escolhe fazer aquilo que parece certo
naquele momento, de acordo com as circunstâncias. Essa idéia da relatividade
ganhou legitimidade em 1966 com a publicação de um livro intitulado: ética
circunstancial do Dr. Joseph Fletcher (sacerdote anglicano). Fletcher formulou um
sistema ético que legitimaria a maior parte das mentiras convencionais, ou seja, o
certo é determinado pela situação, e o amor pode justificar tudo – mentiras,
trapaças, roubos, e até assassinatos. Desde então, a ética circunstancial tornou-se
a norma de comportamento social. Esse jeito de pensar tem influenciado milhões
de pessoas; muita gente a considera até essencial. Isso gera o caos completo.
Cada um segue seu próprio padrão ético, que muda de acordo com a conveniência
da situação.
O pior é que esta postura é incentivada. Por tanto, vale tudo. Qualquer padrão que
se queira usar, está tudo bem. Como as coisas mudaram. Enquanto no passado,
nossas decisões eram baseadas na ética, hoje, é nossa ética que se baseia nas
decisões que tomamos. “Se é bom para mim, então é válido.” Será que algum dia
esta tendência se reverterá? Um de nossos problemas é que a ética nunca é
tratada como uma questão de negócio, social ou política. É sempre uma questão
pessoal.
48
Quanto à corrupção no Brasil, ainda se banaliza a perversidade das suas
consequências, ignora-se as a origem do problema e abstrai-se da busca pela
solução. Importa revisar a formação da identidade do brasileiro, a fim de
demonstrar o limbo entre o lícito e o ilícito que se revela na figura do "jeitinho".
INTRODUÇÃO.
A Corrupção é um fenômeno recorrente no dia-a-dia do brasileiro, seja
discutindo, denunciando ou perpetuando. Vivencia-se nos dias atuais uma presença
tão latente de subterfúgios criminosos no cerne da estrutura burocrática do Estado
que, em verdade, banaliza-se a perversidade das suas consequências, ignora-se as a
origem do problema e abstrai-se da busca pela solução.
Existe uma ética do trabalho, como existe uma ética da aventura. Assim, o
indivíduo do tipo trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações que sente
ânimo de praticar e, inversamente, terá por imorais e detestáveis as qualidades
próprias do aventureiro – audácia, imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade,
vagabundagem (...). Por outro lado, as energias e esforços que se dirigem a uma
recompensa imediata são enaltecidos pelos aventureiros; as energias que visam à
estabilidade, à paz, à segurança pessoal e os esforços sem perspectiva de rápido
proveito material passam, ao contrário, por viciosos e desprezíveis para eles. Nada
lhes parece mais estúpido e mesquinho do que o ideal do trabalhador. (HOLANDA,
1995, pág. 44)
Por fim, (...) o jeitinho possibilita a quebra das relações hierárquicas que
caracterizam a sociedade brasileira. Como todos conhecem e podem recorrer a seus
códigos e procedimentos, ele permite que pessoas dos mais diferentes grupos sociais
alcancem seus objetivos. Em situações hierárquicas, apenas determinados indivíduos
podem quebrar as regras gerais. O jeitinho democratiza de forma radical essa
possibildiade. (ALMEIDA, 2007, pág. 70)
Tais consequências da prática do "jeitinho", tanto podem ser observadas de
um ponto de vista positivo, quanto podem levar à constatação de que ela nada mais é
do que a porta de acesso à corrupção, senão ela própria eufemizada e, sob esta
óptica, mais perigosa, tendo em vista a ampla absorção e a tolerância do "jeitinho"
pelos hábitos nacionais.
A BUROCRATIZAÇÃO DA COLÔNIA.
Com o declínio do sistema de capitanias hereditárias no Brasil, iniciou-se, em
1549, o processo de centralização da colônia com a instalação do Governo-Geral,
sendo Tomé de Souza o primeiro Governador-Geral, que trouxe consigo o
desembargador Pedro Borges para exercer a função de Ouvidor-Geral, dando início à
estruturação do Judiciário no país. A partir desse processo de centralização da
Colônia, as Ordenações do Reino tomaram força e, consequentemente, iniciou-se a
profissionalização e burocratização do Direito e dos seus agentes. Ao lançar mão
dessa sofisticação do aparato administrativo na colônia, Portugal tinha como objetivo
impedir que se formasse aqui uma organização política que buscasse privilegiar os
interesses locais. Porém, o que efetivamente ocorreu "foi a interpenetração das duas
formas supostamente hostis de organização humana: a burocracia e as relações
sociais de parentesco”.(CRISTIANI, 2006, pág. 296)
A elite local não tardou a confabular uma aproximação de seus interesses aos
dos magistrados vindos da metrópole, que, tão logo chegaram à colônia, despertaram
para a conveniência dos possíveis acordos a serem realizados com aqueles. De fato,
o que se sucedeu foi um ciclo de trocas de favores pessoais entre a elite dominante na
Colônia e os agentes jurídicos. Se estes não atenderam à aspiração da metrópole em
manter um Judiciário afastado da população, tampouco se preocuparam em assistir às
necessidades de toda a Colônia. Depositaram seus esforços, em geral, na promoção
dos próprios interesses e, necessariamente, dos interesses daqueles que lhes
ajudariam a promover suas ambições pessoais.
Desde já, pode-se notar o nosso simulacro de Estado, que, como princípio
regulatório da Modernidade, ao ser estranho àqueles a que se impõe, revela-se como
défice desta, sendo incapaz de imprimir plenamente suas promessas de civilidade ao
homem cordial. Essa incompatibilidade apenas veio a se acentuar com o decorrer da
nossa história.
O DESTERRO DA CORDIALIDADE (OU DA CIVILIDADE?)
No século XVIII, era comum as famílias da elite colonial enviarem seus filhos
para estudar na Europa, tendo em vista que a primeira escola de ensino superior no
Brasil só foi instalada com a chegada da família real em 1808. Nas universidades
europeias, inseridas num contexto pós Revolução Francesa, eles entraram em contato
direto com ideais liberais e democráticos, bem como racionalistas e individualistas
provenientes do Iluminismo. Ao retornarem para o Brasil, providenciaram a inserção
desses valores na esfera política da colônia. Ocorre que, como acentua Sérgio
Buarque, ao citar Bentham, a maior premissa do pensamento liberal-democrático se
realiza na felicidade para o maior número de pessoas, ideia que, evidentemente, não
se coaduna com uma sociedade onde a base emocional dita a lógica da convivência
entre os homens. Esse contraste entre a disposição do homem cordial e a proposição
de civilidade do Estado, gerou um conflito, onde aquela prevalecerá sobre esta, e que
o professor Dr. Leopoldo Waizbort, explana da seguinte forma:
A virtude deve ser nossa invenção; deve surgir de nossa necessidade pessoal e
em nossa defesa. Em qualquer outro caso é fonte de perigo. Tudo que não pertence à
vida representa uma ameaça a ela; uma virtude nascida simplesmente do respeito ao
conceito de “virtude”, como Kant a desejava, é perniciosa. A “virtude”, o “dever”, o
“bem em si”, a bondade fundamentada na impessoalidade ou na noção de validez
universal – são todas quimeras, e nelas apenas encontra-se a expressão da
decadência, o último colapso vital, o espírito chinês de Konigsberg. Exatamente o
contrário é exigido pelas mais profundas leis da autopreservação e do crescimento:
que cada homem crie sua própria virtude, seu próprio imperativo categórico. Uma
nação se reduz a ruínas quando confunde seu dever com o conceito universal de
dever. Nada conduz a um desastre mais cabal e pungente que todo dever “impessoal”,
todo sacrifício ao Moloch da abstração. (NIETSZCHE, 2008, pág 11)
Assim, "o imperativo categórico do nosso povo é o nosso personalismo. (...)
Ao invés de negá-lo, contestá-lo ou ignorá-lo, devemos afirmá-lo, nele mergulhar e
nele encontrar o princípio que oriente a nossa cristalização social, cultural e política"
(WAIZBORT, 2010). Do contrário, estamos fadados ao gradual e sofrível desgaste do
nosso tecido social.
Para ser mais enfático com relação à debilidade dos pilares do Estado
implementado sobre um terreno ao qual não se encaixam, podemos fazer alusão a
uma sutil metáfora de Boaventura Sousa Santos:
porque são eles próprios processos sociais, têm vida própria e as contingências
dessa vida podem alterar profundamente a sua funcionalidade enquanto espelhos. (...)
Quanto maior é o uso de um dado espelho e quanto mais importante é esse uso,
maior é a probabilidade de que ele adquira vida própria. Quando isto acontece, em vez
de a sociedade se ver reflectida no espelho, é o espelho a pretender que a sociedade
o reflicta. De objecto do olhar, passa a ser, ele próprio, olhar. Um olhar imperial e
imperscrutável, porque se, por um lado, a sociedade deixa de se reconhecer nele, por
outro não entende sequer o que o espelho pretende reconhecer nela. (...)
Quando isto acontece, a sociedade entra numa crise que podemos designar
como crise da consciência especular: de um lado, o olhar da sociedade à beira do
terror de não ver reflectida nenhuma imagem que reconheça como sua; do outro lado,
o olhar monumental, tão fixo quanto opaco, do espelho (...) que parece atrair o olhar
da sociedade, não para que este veja, mas para que seja vigiado (SANTOS, pág.
47;48).
CONCLUSÃO
Se a civilidade moderna pretende vencer a guerra contra a cordialidade,
deverá se desdobrar para reverter o fluxo de uma história antiga, deverá reconhecer a
fragilidade de suas armas e, principalmente, da insuficiência do Direito para combater
a corrupção. Por fim, deverá reconhecer que não é capaz de cumprir todas as suas
promessas utilizando-se sempre dos mesmos recursos.
O fenômeno da Corrupção pode ser encontrado em qualquer lugar, em
qualquer sociedade, mas, como visto, é um elemento fruto de processos sociais
complexos que se deram no decorrer da história do país e, portanto, apresenta
peculiaridades a serem obervadas. Trata-se de fenômeno que resulta da equação de
características bem consolidadas do perfil nacional.
Neste último caso, o país clama por soluções imediatas, que os tradicionais
métodos repressivos jurídicos de combate à corrupção não são capazes de oferecer, o
que evidencia a necessidade premente de se buscar estratégias preventivas que
exigem do Poder Público uma ação no sentido de identificar atividades potencialmente
corruptas e considerá-las antecipadamente para que seja possível reduzir ou mesmo
eliminar as causas do dano.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Alberto Carlos – A Cabeça do Brasileiro, 1 edição, Rio de Janeiro,
Ed. Record, 2007.
BIDINO, Cláudio; MELO, Thaís de; SANTOS, Cláudia Cruz dos - A corrupção,
Coimbra, Ed. Coimbra, 2009.
Autor
O professor foi apresentado por Aldo Malavasi, secretário geral da SBPC e seu
companheiro de docência na USP. Malavasi iniciou os trabalhos elogiando a
capacidade argumentativa de Janine Ribeiro: “você não hesita em suas falas”.
O palestrante esmiuçou a etimologia de “corrupção”. O ponto de partida da
palavra seria a filosofia natural do mundo antigo que, grosso modo, definia o
termo como morte do corpo, degeneração das células. Por extensão, os
antigos consideravam o espaço da política também como um corpo que
poderia apodrecer e perder a vitalidade social; ou seja, perder as virtudes
exigidas aos homens no espaço público.
A Humanidade Inicial
Temos que pensar que a Pré-História da Igreja Católica começa com a criação do
Universo e do Homem. Precisamos relembrar um pouco para reconstruir esta História:
Segundo a Bíblia, Adão e Eva que tinham uma ligação direta com Deus, mas que
transgredindo o pedido de Deus deram origem ao Pecado Original.
Por causa do pecado, o Homem perdeu o Paraíso, mas continuou uma História que
dececionava Deus. Como por exemplo o assassinato de Abel por seu irmão Caim. Aqui
temos a corrupção Humana que estendeu por toda a terra a ponto de Deus desejar
destruir a Humanidade com o Dilúvio. Mas, segundo a Bíblia, a Misericórdia de Deus vê
toda a Humanidade e reconhece dentro dela um homem Justo e Fiel chamado Noé.
Vendo-o, Deus decidiu refazer um plano criador. Começando uma nova Humanidade.
Deus começa uma nova Humanidade com Noé e os seus filhos, uma Humanidade Noética
que substituiu a Adâmica.
Mas a maior de todas as contribuições dos sumérios foi a criação do sistema da escrita
cuneiforme, por volta de 4000 a.C, onde os sinais representavam ideias e objetos. Para
registar tal escrita usavam placas de argila. Muito do que sabemos desta cultura devemos
a estes registos feitos nessas tábuas de argila.
Como o território dos sumérios era muito fértil, eles sofreram inúmeras invasões e por volta
de 1950 a.C. eles foram dominados e derrotados pelos amoritas e elamitas.
Mas podemos agora voltar à História Bíblia onde falávamos da Humanidade Noética. Esta
Humanidade que formou os sumérios e que viveu em politeísmo, mas que desejou chegar
aos céus. Veja este facto que foi narrado na Bíblia:
Gn. 11,3-4
“E disseram uns aos outros: «Vamos fazer tijolos e cozê-los no fogo!» Utilizaram tijolos em
vez de pedras, e betume em vez de argamassa. Disseram: «Vamos construir uma cidade
e uma torre que chegue até ao céu, para ficarmos famosos e não nos dispersarmos pela
superfície da Terra».
Esta construção é o que nós chamamos de zigurate e esta cidade é citada na Bíblia como
Babel. Nesta realidade, uma Humanidade Babélica veio substituir a anterior, onde todos os
Homens tinham apenas uma língua e empregavam as mesmas palavras.
Humanidade Adâmica que gerou uma Noética e depois uma Babélica. Mas depois desta
Humanidade começa a História da Salvação que constitui o plano de Deus a favor de cada
um de nós.
As "Leis de Eshnunna" são duas tábuas encontradas no Iraque. Foram escritas durante
oreinado de Dadusha. Consistem em 60 artigos, escritos em língua acádica (a mesma
do"Código de Hamurabi"). A maior parte das penas é pecuniária, isto é, evita-se a pena
demorte na maioria dos casos. Apenas em 5 artigos a pena capital aparece, sendo
aplicadapara crimes de natureza sexual, para assaltos e também roubos.
Algumas leis:
22. Se um cidadão que não tem o menor crédito sobre outro conserva, noentanto,
como penhor, o escravo desse cidadão, o proprietário do escravoprestará juramento
diante de deus: "Tu não tens o menor crédito sobre mim";então o dinheiro
correspondente ao valor do escravo deverá ser pago por aqueleque com ele está.
•
56. Se um cão for considerado perigoso, e se as autoridades da Porta preveniramo
proprietário do animal, mas o cachorro morder um cidadão causando a mortedeste, o
proprietário do cão deve pagar dois terços de uma mina de prata.Era um corpo legal
da cidade mesopotâmia de Eshnunna, e trazia aproximadamente 60artigos, sendo uma
mistura entre direito penal e civil, que futuramente seria a basedo Código de
Hamurabi.
Código de Hamurabi
Awilum: Homens livres, proprietários de terras, que não dependiam do palácio edo
templo;
falso testemunho
roubo e receptação
estupro
família
•
escravos
Art. 25 § 227 - "Se um construtor edificou uma casa para um Awilum, mas não
reforçouseu trabalho, e a casa que construiu caiu e causou a morte do dono da casa,
esseconstrutor será morto".
o não possui uma seção introdutória ou ela está malformatada (desde janeiro de 2016).
de-nos a melhorar este artigo com uma seção introdutória de qualidade e de acordo com o livro de estilo.
Em 2015, o Ministério Público Federal dos Estados Unidos divulgou casos de corrupção
por parte de funcionários e associados ligados à Federação Internacional de Futebol, o
órgão executivo do futebol, futsal e futebol de praia.
Em maio de 2015, 14 pessoas foram acusadas em uma investigação pelo Federal Bureau
of Investigation (FBI) e pelo Internal Revenue Service por fraude
eletrônica, extorsão e lavagem de dinheiro. O Procurador-Geral dos Estados
Unidos anunciou, simultaneamente, a retirada do selo dos indiciamentos e as confissões
de culpa por quatro executivos de futebol e duas corporações.
A investigação focava-se principalmente em torno de funcionários das instâncias
continentais do futebol, como a Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) e
a Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (CONCACAF), e
executivos ligados ao marketing esportivo. Os executivos de marketing esportivo eram
titulares de mídia e direitos de marketing para as competições internacionais de alto nível,
incluindo as eliminatórias da Copa do Mundo FIFA e torneios continentais como a Copa
Ouro da CONCACAF e a Copa América. O presidente da CONCACAF Jeffrey Webb, que
presidia também a Associação de Futebol das Ilhas Cayman, foi preso durante a
investigação, assim como dois membros do comitê da FIFA: Eduardo Li, presidente
da Federação Costarriquenha de Futebol, Eugenio Figueredo, antigo membro
da Associação Uruguaia de Futebol e o ex-presidente da CONMEBOL Nicolás Leoz. A
investigação durou vários anos, quando o ex-presidente da CONCACAF, Jack Warner, foi
preso em julho de 2013.[1][2]
No total, sete funcionários da FIFA foram presos no Hotel Baur au Lac, em Zurique em 27
de maio de 2015. Eles estavam se preparando para participar do 65º Congresso da FIFA,
onde ocorreu a eleição para presidente da FIFA.[3] Eles serão extraditados para os Estados
Unidos sob suspeita de receber 150 milhões de dólares em subornos.[3] Houve também
prisões simultâneas na sede da CONCACAF em Miami[4] e, mais tarde, mais dois homens
se entregaram à polícia para detenção.[5][6] Duas outras detenções de oficiais da FIFA no
hotel ocorreram em dezembro de 2015.[7] O caso desencadeou prisões
na Austrália,[8]Colômbia,[9] Costa Rica,[10] Alemanha[11] e Suíça.[12]
Índice
[esconder]
1Alegações
2Indiciamentos
o 2.1Pessoas
o 2.2Corporações
3Ver também
4Referências