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CASO CLÍNICO
Introdução: a camuflagem ortodônti- do relato de um caso clínico, um pa- como recurso de ancoragem durante
ca da má oclusão de Classe III pode ciente adulto jovem com má oclusão a retração da dentição inferior mos-
ser instituída quando a discrepância de Classe III esquelética e mordida trou-se eficaz na camuflagem da má
de bases ósseas e o perfil facial são aberta anterior, tratado com uma oclusão de Classe III, sendo uma al-
aceitáveis. Um movimento dentário abordagem não-cirúrgica utilizando ternativa interessante ao uso de mini-
significativo pode ser esperado em mini-implante para retração de toda a placas. Palavras-chave: Má oclusão
pacientes adultos jovens Classe III dentição inferior. Conclusão: pode-se Classe III de Angle. Movimentação
tratados com ancoragem esqueléti- concluir que o uso de mini-implantes dentária. Procedimentos de ancora-
ca. Objetivo: o presente artigo tem adaptados na região posterior man- gem ortodôntica. Parafusos ósseos.
74 o objetivo de demonstrar, por meio dibular (buccal shelf) extra-alveolar
Como citar este artigo: Almeida MR, Almeida RR, Chang C. Biomecânica do tratamento compensatório da má oclusão de O(s) autor(es) declara(m) não ter interesses associativos, co-
Classe III utilizando ancoragem esquelética extra-alveolar. Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Abr-Maio;15(2):74-86. merciais, de propriedade ou financeiros que representem con-
flito de interesse nos produtos e companhias descritos nesse
Enviado em: 20/09/2015 - Revisado e aceito: 21/01/2016.
artigo. O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo
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SNA 780
SNB 780
ANB 00
Sn.GoMe 250
1-NA 5,5mm
1-SN 1120
1-GoMe 870
1-NB 4mm
Ls-E -2mm
Li-E -4mm
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Figura 1-9: Fotografias iniciais, paciente do sexo masculino com 15 anos e 10 meses de idade.
Figura 10, 11: Radiografia panorâmica e telerrradiografia em norma lateral, ao início do tratamento.
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OBJETIVOS DO TRATAMENTO » Retrair os incisivos e molares inferiores na
Com o tratamento ortodôntico, objetivou-se cor- base óssea.
rigir a má oclusão de Classe III, a mordida aber- » Fechar a mordida aberta anterior.
ta anterior, o desvio de linha média e eliminar o » Corrigir a linha média inferior.
apinhamento superior e inferior. A relação molar » Estabelecer uma oclusão de Classe I.
no sentido sagital sugeria que os molares inferiores » Manter o perfil facial.
deveriam ser distalizados, sendo que a discrepân-
cia no lado esquerdo era maior do que no direito, ALTERNATIVAS DE TRATAMENTO E
assim requerendo maior distalização. A linha média PLANO DE TRATAMENTO
inferior, por sua vez, necessita de correção com Como terapia alternativa de tratamento no
giro de 2mm para a esquerda, em função da as- presente caso, algumas modalidades poderiam
simetria presente. Assim, uma retração dos incisivos ser empregadas, como: o uso de elásticos com
inferiores era esperada no sentido de compensar a vetor de Classe III associados a elásticos verti-
Classe III esquelética e obter uma Classe I de molar cais, para correção da mordida aberta anterior;
e de caninos, com overjet e overbite ideais. Os ob- uso de máscara facial, para protração da maxila
jetivos específicos encontram-se abaixo elencados: ou, ainda, a opção de Ortodontia associada com
» Manter a posição sagital da maxila. Cirurgia Ortognática. Optou-se por um protocolo
» Manter a posição dos incisivos e dos mola- não cirúrgico e que não dependesse da colabo-
res superiores. ração por parte do paciente no uso de elásticos
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Biomecânica do tratamento compensatório da má oclusão de Classe III utilizando ancoragem esquelética extra-alveolar
Figura 12-14: Início da fase de alinhamento e nivelamento, com arco de cobre-níquel-titânio (CuNiTi) 0,014” x 0,025” superior.
Figura 15-19: Mecânica de retração dos dentes inferiores, com instalação bilateral de dois mini-implantes de 10mm x 1,5mm (Morelli,
Sorocaba/SP) na região de buccal shelf, para ancoragem. O sistema retracional inferior foi composto de arco retangular de beta-titânio
0,017” x 0,025” (TMA, Orthometric, Marília/SP), no qual adaptaram-se ganchos longos modificados de retração, com maior extensão
cervical, para que a direção das forças se aproximasse o máximo do centro de resistência (Cr) de todos os dentes inferiores, e um movimento
de translação fosse obtido (Fig. 16 e 17). Usaram-se elásticos em cadeia (corrente, Orthometric, Marília/SP) tamanho médio, com força de
200g de cada lado, conectados dos mini-implantes aos ganchos previamente adaptados na região distal dos caninos inferiores.
Figura 20: Mini-implante utilizado (Morelli, Sorocaba/SP): comprimento de 10mm e transmucoso de 2mm, com 1,5mm de diâmetro.
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intermaxilares ou aparelhos extrabucais. Assim, a CuNiTi superior, mantidos por dois meses cada um
proposta de camuflagem ortodôntica foi instaura- (Fig. 12 a 14). Na arcada inferior, aguardou-se
da para cumprir os requisitos do paciente, obede- quatro meses para adaptar todo o aparelho, até
cendo aos seguintes parâmetros: que houvesse overjet suficiente para que os incisi-
» Extração dos terceiros molares inferiores. vos não entrassem em mordida cruzada anterior.
» Colocação de mini-implantes, bilateralmente, As Figuras 15 a 20 (sete meses de tratamento) ilus-
na região entre primeiros e segundos mola- tram a mecânica de instalação bilateral de dois mi-
res inferiores (buccal shelves), assegurando ni-implantes de 10mm x 1,5mm da marca Morelli
máxima retração de toda a dentição inferior. (Sorocaba/SP) na região de buccal shelf, para
» Adaptação de contenções superiores e infe- ancoragem durante a retração de toda a dentição
riores. mandibular. O sistema retracional inferior foi com-
posto de arco retangular de beta-titânio (TMA, Or-
PROGRESSO DO TRATAMENTO thometric, Marília/SP) 0,017” x 0,025”, no qual
O tratamento foi realizado utilizando-se um foram adaptados ganchos modificados de retra-
aparelho Straight-Wire com canaleta 0,022” ção, com maior extensão cervical, para que a dire-
prescrição Roth autoligável, modelo QuicKlear ção das forças se aproximasse o máximo possível
da Forestadent (Alemanha). Iniciou-se a fase de do centro de resistência (Cr) de todos os dentes
alinhamento e nivelamento com arcos de CuNiTi inferiores e um movimento de translação pudesse
0,014” seguidos do arco 0,014” x 0,025” de ser obtido (Fig. 16 e 17).
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incisivos inferiores já era esperada, em função da re- As Figuras 36 a 43 demonstram o resultado final de
tração total dos dentes inferiores com ancoragem es- tratamento, com tempo total de 17 meses. A análise
quelética. A sobreposição na base do crânio (SN) facial frontal e lateral revelou, praticamente, poucas
apresentada na Figura 35 denota os efeitos oriundos alterações ocorridas do início para o final de trata-
da mecânica. Nota-se que toda a arcada inferior foi mento, com pequena retrusão dos lábios, decorren-
distalizada, especialmente os molares inferiores. Por te da lingualização dos incisivos. Indubitavelmente,
meio da radiografia panorâmica pré-remoção do a análise do sorriso mostra uma melhora no arco do
aparelho (Fig. 34), é possível notar um bom para- sorriso, agora paralelo. As maiores alterações visua-
lelismo radicular dos dentes anteriores, assim como lizadas ocorreram no ajuste da relação sagital de
a posição mais verticalizada dos molares inferiores. molares e caninos, bem como no overjet e overbite.
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exatamente a modificação nos incisivos inferiores A maior limitação dessa mecânica de distaliza-
e na correção da mordida aberta anterior. Além ção de toda a dentição inferior substancia-se na
da explicação da lingualização dos incisivos su- presença de osso alveolar na região retromolar
periores, ocorrida pelo não uso de elásticos de (distal dos segundos molares inferiores), ou seja,
Classe III, pode-se afirmar ainda que a expansão deve-se observar a distância entre a superfície dis-
transversal da arcada superior ocorreu naturalmen- tal dos segundos molares até o ramo ascendente
te com o uso de arcos de NiTi, mais largos do mandibular. Esse procedimento deve ser realizado
que os convencionais com diagrama ALX (Ortho- por meio da avaliação da radiografia panorâmi-
metric, Marília/SP) — o que, por sua vez, pode ca — como pode-se observar nas Figuras 10 (início
causar esse efeito. Como efeito da movimentação de tratamento) e 33 (pós-distalização). No presen-
dentária, os lábios superior e inferior apresentaram te caso, observou-se a presença de pelo menos
retração significativa de 0,5mm e 2mm, respectiva- 10mm na região retromolar, que corresponde ao
mente; sem, contudo, gerar uma alteração facial diâmetro mesiodistal dos terceiros molares que fo-
negativa, uma vez que o paciente ficou com esté- ram extraídos antes do início da mecânica.
tica agradável. O tratamento ortodôntico compen- Portanto, o movimento ortodôntico de camu-
satório das más oclusões de Classe III esqueléticas flagem em pacientes adolescentes com Classe III
objetiva melhorar as relações oclusais e manter esquelética pode ser empregado no intento de se
as características faciais em indivíduos com face corrigir a relação dentária, bem como melhorar
aceitável. O tratamento ortodôntico compensató- o perfil facial. O uso de ancoragem esquelética
rio nem sempre é possível ou conveniente, e o or- extra-alveolar pode ser uma alternativa ao uso de
todontista precisa executar um correto diagnóstico elásticos de Classe III e outras modalidades de
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para definir se o caso não requer cirurgia ortogná- compensação, como o uso de miniplacas.
tica. A compensação depende de alguns fatores
como: inclinação no longo eixo e/ou posiciona- CONCLUSÃO
mento anteroposterior dos incisivos; severidade da Pode-se concluir que o uso de mini-implantes
relação sagital maxilomandibular; e julgamento longos (10mm) adaptados na região inferior man-
estético da face do indivíduo, definindo ou não dibular extra-alveolarmente (buccal shelf), como
a viabilidade de sua manutenção. Portanto, o tra- recurso de ancoragem durante a retração da den-
tamento ortodôntico conservador de má oclusão tição inferior, mostrou-se eficaz na camuflagem da
esquelética de Classe III é desafiador. má oclusão de Classe III. A retração da dentição
Deve-se ressaltar, ainda, que a mecânica de com a força sendo direcionada sobre o centro
distalização dos dentes inferiores com ancora- de resistência (Cr) de todos os dentes inferiores
gem extra-alveolar propicia um giro do plano permite o controle da lingualização excessiva dos
oclusal no sentido anti-horário, conforme esque- incisivos, além de beneficiar o controle da inclina-
ma da Figura 21 e a sobreposição da Figura ção dos incisivos superiores para vestibular. Desse
35. Esse efeito é absolutamente favorável, uma modo, essa técnica requer pouca colaboração e
vez que pacientes portadores de Classe III com é particularmente útil para correção de pacientes
mordida aberta anterior se beneficiam dessa Classe III com prognatismo mandibular moderado
abordagem. As Figuras 44 e 45 ilustram as ra- e pouco apinhamento, sendo uma excelente alter-
diografias finais do presente caso clínico. nativa ao uso de mini-placas.
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caso clínico
Resumo Abstract
Este artigo relata a correção de ancoragem e devido à manei- This article describes the correc- the intruded tooth and on the an-
uma mordida aberta anterior ra como as forças agem sobre o tion of a severe anterior open choring supporters, which in most
severa, com indicação cirúrgica, dente que está sendo intruído bite, with surgical indication, cases are the adjacent teeth —,
em uma jovem com 18 anos de e sobre os suportes de ancora- in an eighteen-years-old young two mini-implants were used as
idade. Como a paciente apresen- gem, que na maioria dos casos subject. As the patient showed absolute anchorage system. This
tava resistência a intervenções são dentes adjacentes —, foram resistance to more invasive in- decision was made in order to
mais invasivas, optou-se por um utilizados dois mini-implantes terventions, a conservative treat- obtain a better control of the me-
tratamento conservador. A abor- como sistema de ancoragem ment was chosen. The approach chanics. At the end of the treat-
dagem utilizada para conseguir absoluta. Tal decisão ocorreu used to achieve a satisfactory ment the closure of the open bite
um fechamento satisfatório da para obtenção de um melhor closure of the open bite was the was satisfactorily achieved, fully
mordida aberta foi o tratamen- controle da mecânica. Ao final conventional orthodontic treat- meeting the expectations of the
to ortodôntico convencional, do tratamento, o fechamento ment, associated to the intrusion patient, providing a great esthetic
associado à intrusão dos molares da mordida aberta foi alcança- of the maxillary molars. Consid- and functional improvement.
superiores. Considerando-se que do satisfatoriamente, atendendo ering that the intrusion mechanics
a mecânica de intrusão provoca plenamente às expectativas da causes side effects — depending
efeitos colaterais — dependen- paciente e obtendo uma grande on how anchorage is carried out
do da forma como se realiza a melhora estética e funcional. and due to the forces acting on
Palavras-chave: Keywords:
Mordida aberta. Movimentação dentária. Ortodontia corretiva. Open bite. Tooth movement. Corrective orthodontics.
Como citar este artigo: Valarelli FP, Justi JS, Silva CC, Freitas KMS, Cançado RH. Tratamento de * Professor do Curso de Mestrado em Odontologia, área de concentração Ortodon-
mordida aberta anterior com intrusão de molares utilizando mini-implantes como ancora- tia, da Faculdade Ingá, Maringá-PR.
gem. Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 fev-mar;12(1):96-108. ** Especialista em Ortodontia pelo ICOS-CIODONTO, Joinville-SC.
*** Professora do Curso de Especialização em Ortodontia da UNIES, Bauru/SP.
**** Coordenadora do Curso de Mestrado em Odontologia, área de concentração Or-
todontia, da Faculdade Ingá, Maringá-PR.
» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financei- ***** Professor do Curso de Mestrado em Odontologia, área de concentração Ortodon-
ros que representem conflito de interesse nos produtos e companhias descritos nesse artigo. tia, da Faculdade Ingá, Maringá-PR.
Entretanto, a paciente rejeitou a opção cirúrgica por moti- associada a instalação de um mini-implante entre as raízes
vos financeiros e por considerar o procedimento extremamen- de molares e pré-molares em cada lado da região posterior
te invasivo. Segundo a paciente, não havia queixa estética da da maxila. Esse procedimento objetivava, principalmente, a
face que justificasse a realização do procedimento cirúrgico. correção da mordida aberta anterior, melhorando a função
Desse modo, a paciente fez a opção pelo tratamento mastigatória. Consciente dos benefícios e limitações do tra-
ortodôntico compensatório, visando a intrusão dos molares tamento, a paciente aceitou a opção de tratamento pela ca-
superiores. Para aumentar a eficiência dos resultados, foi muflagem ortodôntica.
Tabela 1 Alterações das variáveis cefalométricas durante o tratamento ortodôntico e fase de controle.
Figura 6 Aparelho fixo com grade palatina e intrusão dos molares superiores por meio de mini-implantes.
Figura 7 Barra transpalatina associada à grade Figura 8 Radiografias periapicais para avaliação do sítio de inserção dos mini-implantes.
palatina fixa.
Figura 9 Elástico corrente passando pelos tubos dos molares e ancorando-se no mini-implante.
Figura 10 Fotografias oclusais durante o tratamento: barra transpalatina comprimindo o palato, remoção do acessório e a lesão provocada por
essa compressão.
Um ano após o término do tratamento, a paciente retor- Houve uma pequena recidiva, de 0,9mm, da intrusão
nou ao consultório para o controle dos resultados obtidos dos molares superiores obtida durante a fase de tratamen-
com o tratamento ortodôntico e verificação dos aparatos de to, verificada pela variável MS_(centroide)-PP, a qual não re-
contenção. Foram realizados novos exames radiográficos e sultou em alterações significativas no trespasse vertical na
observou-se a grande estabilidade dos resultados conse- fase de controle. As demais variáveis estudadas permane-
guidos durante a fase de tratamento (Fig. 21, 22). ceram sem alterações evidentes (Fig. 23).
de molares ancorada em mini-placas. Também Sherwood et Os incisivos inferiores apresentaram grande verticalização
al.24 e Erverdi et al.25 verificaram a rotação do plano oclusal (II.NB e IMPA), extrusão (II-GoMe) e suave retração (II-NB).
no sentido horário, a rotação da mandíbula no sentido anti- Os molares inferiores sofreram extrusão (MI_(centroide)-
-horário e a consequente diminuição da AFAI, em estudos -GoMe). Todas essas alterações já eram esperadas median-
semelhantes, com intrusão de molares superiores por meio te a giroversão da mandíbula, e consequentemente dos
de miniplacas. A variável SN.PlOcl sofreu aumento de 4,4°, dentes inferiores, no sentido anti-horário, além dos desgas-
que ocorreu por causa da giroversão do plano oclusal no tes interproximais realizados para diminuição da pequena
sentido horário mediante a intrusão dos molares superio- discrepância de modelo existente ao início do tratamento.
res14. Em relação ao movimento de intrusão dos molares su- Ademais, a utilização de elásticos intermaxilares verticais
periores, é importante salientar que esses dentes sofreram na região anterior promoveu a extrusão e lingualização dos
mínima angulação para a distal, verificada pela alteração na incisivos superiores e inferiores, o que foi favorável para a
variável MS_(centroide).SN, o que denota que a alteração correção da mordida aberta anterior, em conjunto com a
na variável MS_(centroide)-PP foi realmente proporcionada intrusão dos dentes posterossuperiores14.
pela intrusão real dos molares, e não apenas por uma rota- A sobremordida foi a variável que sofreu maior alteração
ção para a distal da coroa desses dentes. durante o tratamento (início: -2,9mm / final: 3,1mm). Essa al-
Um fator pouco evidenciado na literatura e de grande im- teração de 6mm foi causada, principalmente, pela intrusão
portância durante o movimento de intrusão dos molares é a dos molares superiores, que possibilitou a giroversão da
tendência de inclinação vestibular desses dentes. Alguns au- mandíbula no sentido anti-horário, juntamente com a extru-
tores desenvolveram acessórios específicos para auxiliar na são dos dentes anteriores causada pela utilização dos elásti-
mecânica de intrusão, como Erverdi et al.20, que preconiza- cos intermaxilares nessa região14,15,21,25.
ram uma placa de acrílico recobrindo os dentes posteriores e Dessa forma, o principal objetivo do tratamento para
ancorando-a em mini-placas de titânio, ou Hernandez et al.26, a paciente em questão foi atingido. Ademais, para a ob-
que desenvolveram um parafuso de titânio que atravessa a tenção plena do sucesso do tratamento dessa paciente,
cortical óssea de vestibular a palatino na região posterior da espera-se, além da correção do trespasse vertical negativo
maxila. Ambos visam minimizar o efeito colateral de vestibu- na região anterior ao término do tratamento, também uma
larização do molar, resultante da mecânica de intrusão. Para boa estabilidade dos resultados. Segundo Baek et al.28, a
o caso clínico relatado no presente artigo, optou-se pela uti- grande maioria dos casos de mordida aberta anterior tra-
lização de uma barra transpalatina nos primeiros momentos tados com intrusão de molares por meio de ancoragem
do tratamento, seguida da aplicação de torque palatino no esquelética apresenta recidivas durante o primeiro ano
fio ortodôntico 0,019” x 0,025” de aço, realizado na região após sua finalização. No presente caso clínico, o trespasse
dos molares superiores. Segundo Park et al.21, a barra trans- vertical apresentou recidiva irrelevante de 0,4mm após 1
palatina pode ser substituída por mini-implantes inseridos na ano de controle, demonstrando a grande estabilidade da
região palatina ou, em pacientes que passaram por uma pré- correção conseguida durante a fase ativa do tratamento.
via expansão rápida da maxila (ERM), o aparelho expansor Além disso, especula-se que a utilização de contenções
pode ser mantido com a mesma finalidade. funcionais, como a placa de acrílico utilizada pela paciente
Em relação à recidiva do movimento de intrusão ocorri- em questão, após o tratamento, possa aumentar a estabi-
da com os molares superiores, a quantidade é pequena27. lidade dos resultados28.
Contudo, os molares superiores, no caso clínico em questão,
apresentaram recidiva de 0,9mm 1 ano após o final do tra-
tamento, ou seja, aproximadamente 30% da intrusão obtida Conclusão
durante o tratamento. Sugawara et al.23 também relataram re-
cidiva de aproximadamente 30% do movimento de intrusão O tratamento sem extração da mordida aberta anterior
dos molares. Por esse motivo, Park et al.21 sugerem a sobre- de origem esquelética em paciente adulto, por meio de
correção do movimento intrusivo dos molares como um dos mini-implantes, mostrou a ocorrência de uma intrusão real
principais fatores na estabilidade da correção da mordida dos molares superiores. Dessa forma, a correção da mordida
aberta anterior por meio de mini-implantes. aberta foi facilitada, obtendo-se resultados estéticos e fun-
Observa-se, no presente caso clínico, que diferentemente cionais. Um ano após o tratamento, mesmo com uma peque-
do comportamento observado pelos incisivos superiores, o na recidiva da intrusão dos molares superiores, a oclusão se
componente dentoalveolar inferior sofreu alterações nítidas. manteve estável e a mordida permaneceu fechada.
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Resumo Abstract
A região do palato é um dos ao comprometimento da téc- The palatal area is one of the descriptions of the palatal area
locais mais favoráveis para a nica e do tratamento. Descri- most favorable sites for the instal- are scarce in the literature, even
instalação de mini-implantes. ções pormenorizadas da região lation of mini-implants. Factors in anatomy books. Seeking to fill
Fatores como fácil acessibilida- palatina são escassas na litera- such as easy accessibility, total this gap, this paper describes in
de, cobertura total de gengiva tura, até mesmo em livros de coverage with keratinized gingiva details the palatal region, high-
queratinizada e boa qualidade anatomia. Buscando preencher and bone quality at specific sites lighting areas of greater or small-
óssea em sítios específicos con- essa lacuna, o presente trabalho help to reduce inflammation risk er bone thickness, mucosal thick-
tribuem para a redução do risco descreve detalhadamente a re- and increase primary stability. ness, position and path of nerves,
de inflamação e aumento da gião palatina, destacando áreas However, the presence of ves- vessels and foramen, highlighting
estabilidade primária. No en- de maior ou menor espessura sels, nerves and foramen on this the most suitable sites for mini-
tanto, a presença de vasos, ner- óssea, espessura de mucosa, po- area, demands special attention implants placement.
vos e forames demanda grande sição e trajeto de nervos, vasos on mini-implants placement.
atenção no momento da insta- e forames, destacando os locais Injuries on these structures can
lação desses dispositivos. Lesões mais indicados para a instala- lead to the impairment of tech-
nestas estruturas podem levar ção desses dispositivos. nique and treatment. Detailed
Palavras-chave: Keywords:
Palato. Procedimentos de ancoragem ortodôntica. Anatomia. Palate. Orthodontic anchorage procedures. Anatomy.
Como citar este artigo: Alves Jr. M, Baratieri C, Marquezan M, Nojima LI, Pacheco MCT, * Doutorando em Ortodontia na Faculdade de Odontologia da Universidade Fede-
Araújo MTS. Palato: o que saber previamente à instalação de mini-implantes? Rev Clín Ortod ral do Rio de Janeiro.
Dental Press. 2012 fev-mar;11(1):108-14. ** Professor Associado do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odontolo-
gia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financei- *** Professora Associada do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odonto-
ros que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. logia da Universidade Federal do Espírito Santo.
**** Professor Associado do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odontolo-
gia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A espessura óssea da maxila varia de acordo com cada No sentido vertical, de 2 a 8mm acima das cristas margi-
indivíduo e com a região dos dentes avaliados. Esse conheci- nais, a maior quantidade de tecido ósseo se encontra entre o
mento é importante para que haja espessura óssea suficiente segundo pré-molar e o primeiro molar19. Não se recomenda a
para alojar a porção ativa do mini-implante, que possui de 6 a instalação de mini-implantes a partir de 8mm distante da crista
10mm de comprimento e de 1,4 a 2,0mm de diâmetro. marginal, devido à presença dos seios maxilares19 (Fig. 3).
A preocupação com a escolha do correto tamanho do Na área da crista marginal, outra preocupação se refe-
mini-implante, juntamente com a avaliação do local escolhi- re à qualidade do tecido ósseo disponível. As regiões mais
do, se justifica caso o mini-implante seja curto, pois poderá posteriores apresentam osso trabeculado mais poroso e
não conferir a estabilidade desejada para aquela determina- cortical óssea fina (Fig. 4), acarretando a perda de estabili-
da quantidade de força. Na situação inversa, a escolha de dade dos mini-implantes11.
um mini-implante com tamanho maior do que a altura óssea Na sutura palatina mediana e áreas paramedianas, à cerca
disponível poderá ocasionar perfuração do assoalho nasal e, de 6 mm posterior ao forame incisivo, a altura óssea média é su-
consequentemente, comunicação entre as cavidades bucal e perior a 6mm, tanto para homens quanto para mulheres, sendo
nasal1,18. Ambas as situações podem provocar complicações, uma área favorável para a colocação de mini-implantes1. Porém,
incômodo ao paciente e atraso do tratamento. à medida que se caminha para distal, existe a tendência de dimi-
Visando evitar o contato com o canal incisivo, nervo na- nuição dessa altura óssea1. De pré-molares para posterior (cerca
sopalatino e artéria palatina maior, é recomendável evitar a de 12mm distante do forame incisivo) não é indicada a inserção
instalação de mini-implantes na área do forame incisivo e até de mini-implantes, devido à diminuição da altura óssea total nas
3mm posterior a esse. áreas centrais do palato de anterior para posterior1,2,3,20,21,22 (Fig. 5).
A B
Figura 1 Forame palatino maior (círculo bran- Figura 2 Nervo e artéria palatina maiores emergindo do forame palatino maior (tracejado verme-
co) localizado medialmente ao terceiro molar e lho), com trajeto para anterior em direção ao forame incisivo, localizados à cerca de 5 a 15mm
forame incisivo (círculo vermelho). distante do colo cervical dos dentes.
A B
Figura 3 Cortes tomográficos axiais de 2mm (A) e 10mm (B) a partir do colo cervical dos dentes
superiores. A) Boa disponibilidade óssea na região entre segundo pré-molar e primeiro molar
(setas); B) presença do seio maxilar na região correspondente (setas), não sendo adequada para
inserção de mini-implantes.
A B
Figura 5 Corte sagital na linha média esque- Figura 6 Corte coronal passando entre o se-
lética, demonstrando a diminuição da altura gundo pré-molar e o primeiro molar, ilustrando
óssea total nas áreas centrais do palato, de an- a diminuição da altura óssea total a partir da
terior para posterior. sutura palatina mediana para lateral.
Sempre que possível, o mini-implante deve ser inserido na Partindo-se da crista marginal, observa-se, também, um au-
gengiva inserida, devido ao maior risco de insucesso da inserção mento na espessura de mucoperiósteo.
em mucosa não queratinizada, quando comparada à mucosa Quanto mais distante do tecido ósseo for o ponto de apli-
queratinizada28. Felizmente, toda a área do palato é recoberta cação da força, maior será a chance de produzir momentos
por tecido queratinizado, o que favorece a instalação de mini- de força e consequentes falhas do mini-implante29. Assim,
-implantes, reduzindo as chances de inflamação peri-implantar1. para evitar grandes momentos de força, as regiões de mu-
O comprimento do mini-implante deve levar em conta cosa espessa, como as localizadas a 6mm lateralmente à su-
também a espessura da mucosa. Quanto mais espessa for tura, devem ser evitadas. Regiões de espessura de gengiva
a mucosa, maior deve ser o perfil transmucoso do mini-im- inserida adequada estão localizadas na sutura23,27, até 3mm
plante selecionado29. lateralmente a essa27 e próximas à crista marginal23 (Fig. 8).
Partindo-se da sutura palatina mediana para lateral (até Na região do terço posterior do palato duro, entre a
6mm, lateralmente), a espessura de tecido mole aumenta27. mucosa e o osso tem início uma camada de glândulas
plano sagital
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Av. Professor Rodolpho Paulo Rocco, 325 – 21.941-617 – Rio de Janeiro / RJ
of the greater palatine foramen in adult Chinese skulls. Acta Anat (Basel).
E-mail: matheusalvesjr@gmail.com
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