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A família oculta de Jesus

Textos rejeitados pela Igreja dizem que o avô de Cristo


era um rico comerciante de gado, a avó era estéril e que
Maria teve outros filhos

ANTONIO GONÇALVES FILHO

Reprodução de Madona do
Divino Amor, atribuído a A maioria dos fiéis não ousa imaginar a
Giovanni Flancesco Penni, infância de Cristo como a de um menino
Galeria Nacional de mágico, capaz de fazer pássaros de barro
Capodimonte, Itália voar, andar sobre raios de sol ou puxar
amiguinhos para brincar através de frestas de
janelas. Natural. A Igreja sempre rejeitou
textos como o Livro da Infância do Salvador,
do qual foram extraídas essas histórias, e os
evangelhos apócrifos, que contam em
detalhes a vida do Messias. Por conta disso,
tudo o que se sabe sobre Jesus é o que está
nos evangelhos canônicos. Eles simplesmente
ignoram seus avós, Ana - livre da esterilidade
por intervenção divina - e Joaquim, um
milionário que sempre pagava em dobro suas
oferendas a Deus. Tampouco contam como
Maria foi concebida ou se Jesus teve irmãos.
MÃE E AVÓ O menino São essas as histórias que as editoras
Jesus brinca com o primo começam a revelar, numa profusão nunca
João ao lado de Maria e Ana, vista de livros sobre Jesus e sua família.
mãe da Virgem
A mais recente obra sobre a vida familiar de
Cristo é tão cheia de novidades que parece uma provocação. Tiago, Irmão
de Jesus, lançado com certo atraso no Brasil pela editora Record, contesta o
dogma da virgindade perpétua de Maria e assegura que essa não é afirmada
em nenhuma passagem do Novo Testamento.
O autor, Pierre-Antoine Bernheim, apresenta Reprodução de O
Tiago, chamado o Justo, como irmão uterino de Casamento de Rafael,
Cristo, morto 30 anos após sua crucificação. E vai Museu de Brena, Milão
além: sustenta que Tiago, martirizado, foi até mais
influente que Pedro na Igreja primitiva, justamente
pelo parentesco com o Messias. Pedro e outros
apóstolos defendiam a difusão da mensagem cristã
para uma comunidade unificada de judeus e
gentios. Tiago, não. Temia, segundo o estudioso
Bernheim, que isso pudesse provocar um
movimento de renovação dentro do judaísmo ou
criar uma religião afastada de suas raízes.

Num texto apócrifo, Evangelho dos Hebreus, que a


Igreja ignora, mas muitos estudiosos aceitam pelo
valor histórico, o Cristo ressuscitado aparece pela
primeira vez ao suposto irmão Tiago, o que
estabelece sua preeminência sobre Pedro como ANUNCIAÇÃO Tiago,
autoridade suprema da Igreja. São Jerônimo jamais o Justo, conta que José
aceitou que Tiago fosse irmão de Jesus. Era seu tentou abdicar da tutela
primo, segundo o tradutor da Bíblia. Tiago seria da Virgem antes do
filho de uma irmã de Maria que tinha o mesmo casamento
nome, Maria de Cléofas. A tradição católica
admitiu sua teoria e acabou adotando-o como Tiago Menor, por oposição a
Tiago Maior, filho de Zebedeu, ambos santos.

Intrigado com a implicância que os evangelistas tinham com os parentes de


Jesus, o jornalista A.N. Wilson, autor de Jesus, um Retrato do Homem
(Ediouro), faz outra afirmação chocante. Diz que o primeiro casamento do
carpinteiro José, antes de conhecer a mãe de Cristo, 'foi provavelmente
inventado para satisfazer àqueles que, como os atuais católicos romanos,
eram instigados a acreditar na virgindade perpétua de Maria'. O jornalista
recorre ao Evangelho de São Marcos para afirmar que Jesus fazia parte de
uma grande família e teve quatro irmãos - Tiago, José, Simão e Judas - e
duas irmãs. E mais: lembra que praticamente todas as referências à família,
tanto nos evangelhos canônicos como nos apócrifos, são de conflito. Os
parentes de Jesus seriam briguentos. Nesses textos, observa Wilson, Jesus
surge como homem rude, que repreende a mãe, abandona o lar, renuncia à
família e parte para pregar.
Reprodução de Madona do Parto de
Piero Della Francesca, Capela do O ex-jesuíta americano Jack Miles,
Cemitério de Monterchi, Arezzo autor do livro Cristo, uma Crise na
Vida de Deus (Companhia das
Letras), sustenta que esse
comportamento por vezes áspero
estava de acordo com o de um ser
com poder divino, que não queria
parecer excepcional com base nessa
força. O Filho do Homem, argumenta
o escritor, simplesmente poderia ter
decidido tornar-se humano sem
começar sua existência no útero de
uma mulher, dispensando a família.
Mas, se Deus estava
'irrecuperavelmente envolvido' no
Apenas no sexto mês de gravidez Reprodução de Madona do
José se deu conta de que a Virgem Parto de Piero Della
esperava o Messias, conforme Francesca, Capela do
anunciou o anjo Gabriel (na tela de Cemitério de Monterchi,
Baldovinetti, acima) Arezzo
processo humano com esse nascimento, por
que não teria casado, experimentado sexo e
constituído família?, questiona Miles.

Segundo o livro Mãe - A História de Maria,


a ser lançado em maio pela Editora
Mercuryo, uma parteira compartilhou a
mesma dúvida sobre a castidade da mãe do
bebê Jesus e ultrapassou os limites da
decência em sua pesquisa. Curiosa, a parteira
Salomé queimou a mão ao tocar Maria com
os dedos para atestar sua virgindade.
Responsável pela compilação do volume, a
editora Júlia Bárány diz que adotou como
fonte principal para contar essa e outras GRAVIDEZ Segundo Tiago,
histórias o Proto-Evangelho de Tiago, um suposto irmão de Jesus, José
apócrifo do século II teoricamente escrito teria desconfiado da gravidez
pelo discutido irmão de Jesus citado nas de Maria (retratada por Piero
epístolas paulinas. della Francesca em Arezzo,
acima à dir.). Equivocado, o
O livro conta, entre outros episódios, como carpinteiro conclui que ela
foi a concepção milagrosa de Maria pelas traiu sua confiança. Levado a
preces de sua mãe, Ana, a avó de Jesus. um tribunal por ter 'violado'
Inconformada por não poder ter filhos, Ana a virgem que recebeu do
pediu a Deus que abençoasse seu ventre. Ele Templo, ele protesta
inocência ao sacerdote
não só atendeu à súplica, como fez voltar seu velho marido, que, humilhado
por ser justo e não gerar descendentes, foi para o deserto jejuar. Como na
história de sua filha Maria, um anjo desceu até ele e garantiu que ela seria
bendita entre as mulheres. O Novo Testamento fala pouco da mãe de Jesus,
mas o Proto-Evangelho de Tiago, esquecido pelo catolicismo, é rico em
detalhes. Curiosamente, foi adotado por artistas que pintaram cenas da vida
da Virgem por encomenda da própria Igreja.

É por intermédio de Tiago que conhecemos os pais de Maria, avós de Jesus,


a estéril Ana e o milionário criador de rebanhos Joaquim, que receberam a
graça prometida pelo anjo. A Igreja não conseguiu eclipsar seus nomes.
Apesar de ausentes no Novo Testamento, a tradição católica absorveu bem a
história do Proto-Evangelho de Tiago. Diz o texto que Joaquim não teve
filhos durante 20 anos de casamento até o nascimento de Maria, menina
prodígio que sabia dançar aos 3 anos e ficou grávida aos 16. Criada por
donzelas, foi recebida pelos sacerdotes do Templo por promessa dos pais.
Segundo o apócrifo Evangelho de Maria, em que a mãe de Jesus narra suas
memórias a João Evangelista, seus pais sabiam que ela iria gerar o Messias.
Do Templo, ela só sairia para casar com José, ao atingir a adolescência.

Antes mesmo da primeira menstruação - os religiosos daquele período


acreditavam que o sangue maculava o Templo -, a menina casou com o
velho carpinteiro, de cujo cajado brotou uma flor - sinal de ter sido eleito
pelo Senhor para tutelar a Virgem. Apesar disso, José, que teria mais de 80
anos, relutou em aceitar uma jovem como esposa com medo de ser objeto
de zombaria. No livro O Evangelho Secreto da Virgem Maria (Mercuryo),
do padre católico espanhol Santiago Martín, a Virgem teria concebido o
filho numa gruta (e não num estábulo), antes mesmo de seu casamento com
José. O Proto-Evangelho de Tiago faz Jesus nascer nessa gruta, mas cria
informações contraditórias, ao assumir o parto num lugar miserável,
incompatível com alguém que era neto de um homem rico como Joaquim.
Outros historiadores defendem ter sido José um grande construtor,
pertencente à alta classe da Palestina. As contradições não param por aí. No
evangelho apócrifo de Maria, a Virgem garante que Jesus era um menino
'lindíssimo', em nada parecido com aquele feioso e primitivo hominídeo
paleolítico que os jornais andaram estampando como a 'descoberta
científica' do século.
Reprodução de Apresentação ao
Templo de Giovanni Bellini, Galeria No Evangelho Pseudo-Mateus, outro
Querini, Stampalia, Itália apócrifo, o menino Deus é retratado
como um aluno impaciente, que
desafia seu primeiro professor,
Zaqueu, a explicar o que representam
as letras alfa e ômega. De acordo
com outro apócrifo, o paciente José
teve de aturar o gênio difícil do filho
até os 111 anos. Morreu sem um
dente estragado e enxergando muito
bem. Jesus teria, então, 18 anos.
TRADIÇÃO Passada a quarentena Prometeu ao pai que seu corpo não
que a lei mosaica prescrevia para a entraria em decomposição,
purificação, o bebê Jesus foi permanecendo intacto até o dia da
apresentado por sua mãe Maria aos primeira ressurreição. Jesus ficou
sacerdotes do Templo (conforme mais 12 anos sem sair de Nazaré,
mostra a tela de Giovanni Bellini). herdando dele a carpintaria - ou a
Uma parteira teria queimado uma das firma de construção, que teria,
mãos ao tocar o corpo de Maria para inclusive, trabalhado para o tirano
testar sua virgindade Herodes Antipas, segundo alguns
pesquisadores. Ficaram para trás as
brincadeiras e sua turma, a única da cidade que não se divertia brincando de
matar romanos. A Igreja Católica consagrou a história de José carpinteiro,
mas, em aramaico, a palavra naggar tanto pode significar artesão como
erudito, lembra o jornalista A.N. Wilson.
Retrato de Tiago, Igreja
Adulto, Jesus abandonou o anonimato e começou a Ortodoxa Russa,
pregar, seguindo a carreira do primo João Batista. Alasca
As relações com a família nunca foram cordiais,
revelam os apócrifos. A mãe ficou aflita por Jesus
ter se perdido na cidade aos 12 anos. Ele não a
consolou, mas repreendeu-a. Mesmo Marcos, o
evangelista do Novo Testamento, narra um
episódio em que a mãe e os irmãos de Jesus tentam
interromper uma pregação sua e este, irritado com
quem o alertou da presença familiar, pergunta:
'Quem é minha mãe? E meus irmãos?' (Marcos 3,
31-35). Bernheim, autor de Tiago, Irmão de Jesus,
julga que a pergunta seca seria uma resposta à
oposição familiar a seu comportamento
subversivo, que colocava em risco os parentes.
'Designando os que estão sentados em volta dele como sua verdadeira
família, ele indica claramente que sua família biológica não faz parte
daqueles que cumprem a vontade de Deus', observa Bernheim. A rispidez é
recíproca. A família chamou-o de louco.
No evangelho apócrifo de Maria, ela chega a desconfiar das visões do
filho. Nele, a mãe de Jesus conta que o primeiro contato de Cristo com a
morte foi aos 6 anos, ao ver o avô Joaquim no sheol, o lugar dos mortos dos
judeus. Ao ser inquirido sobre como obteve essa informação sobre o mundo
sobrenatural, Jesus teria respondido: 'De meu Pai'. Maria olhou fixamente o
filho e perguntou mais uma vez: 'José lhe disse que seu avô está vivo? Falou
da ressurreição dos mortos?' Conclusivo, Jesus teria respondido: 'Não, não
foi José'. Tal informação só poderia, então, ter partido do próprio Deus.

Reprodução de O Encontro do Senhor Deus, 1854-60, de William


Holman Hunt, Birmingham Museums And Art Gallery, Inglaterra
(à direita) e reprodução de Jesus Confiando Sua Mãe a São João,
c.1450, assistente de Fra Angelico, Museu de San Marco, Florença
(à esquerda)

PRODÍGIO Tiago, o Justo, tido como irmão de Jesus por alguns


estudiosos, conta em seu proto-evangelho a infância do menino,
visto na tela de Holman Hunt (abaixo) ao lado da mãe, após
discutir a Lei com eruditos no Templo, incidente narrado no
Evangelho de Lucas

Assim como existem dois pais, também existem dois Jesus para os
historiadores. Um seria Cristo. Outro seria o judeu Yeshua, condenado à
morte por desafiar os romanos e o Templo de Jerusalém em plena Páscoa. O
historiador Flávio Josefo escreveu sobre sua morte. Ele também conta que o
sumo sacerdote Anás convocou uma sessão do Sinédrio e obrigou Tiago, 'o
irmão de Jesus, chamado o Cristo', a apresentar-se diante dele. 'Qualquer
leitor sem preconceitos concluiria que Maria e José tiveram outros filhos',
diz o autor do polêmico livro O Outro Jesus, Antonio Piñero, da
Universidade Complutense de Madri. Para o estudioso, Maria teve relações
normais com José depois do nascimento prodigioso de Cristo. Ou seja, não
criou os filhos do viúvo, mas teve os próprios depois de Jesus. Só mesmo
uma mãe cheia de filhos poderia ter perdido um deles numa peregrinação e
só se dar conta quase um dia depois.

Piñero refere-se ao episódio descrito no evangelho canônico de Lucas,


quando Maria encontra finalmente o filho perdido de 12 anos, discutindo no
Templo com eruditos e doutores da Lei. E por que não pregando aos
irmãos? 'Porque eles não acreditavam em Jesus e, em algum momento,
tentaram mesmo boicotar sua carreira', responde o catedrático. Não
conseguiram. Numa sexta-feira, um cadáver foi sepultado por Nicodemos e
José de Arimatéia. Na manhã do domingo, ressurgiu dentre os mortos. Era
Jesus. Não o histórico, mas o Deus encarnado. É essa ressurreição que
milhões de cristãos comemoram na Páscoa.

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