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Campanha da Birmânia

A campanha da Birmânia foi uma dessas operações realizadas em teatros de guerra distantes de esquecidos,
cujos participantes, em longínquas regiões, recebiam pouca atenção do público e de seus governos. Mas foi
uma campanha dura, difícil e travada com toda a garra e bravura pelos combatentes, de ambos os lados. -
Michael Calvert

O Bulldog britânico
Nos deprimentes dias de abril de 1942, um jovem oficial britânico, o Major Michael Calvert, apresentou
aquele mestre da arte militar heterodoxa, Orde Wingate, ao expansivo comandante do recém-criado 15 o
Corpo indiano, o Tenente-General Slim. Após o encontro, Wingate disse: “Este é o único soldado digno do
nome, a leste de Suez. É um pequeno “terrier” mal-humorado, de nome Slim”. O que parece ter
impressionado Wingate, à parte a evidente confiança e calma de Slim, era a sua total impossibilidade de
irritar-se ou impressionar-se, como acontecia com muitos oficiais, pela rudeza deliberada de Wingate.

Poder-se-ia considerar apropriado o apelido “terrier”, aplicado por Wingate - embora a maioria dos que
conheceram Bill Slim considerasse o apelido “bulldog” mais adequado; por certo, ele não era irritadiço.
Aliás, era o seu senso de humor ríspido, genuíno, e sua intolerância pelas bobagens o que tanto atraía os
soldados. Mesmo quando as coisas estavam realmente ruins, seu senso de humor nunca o abandonava.
Encontrando seus oficiais no QG de Burcorps (corpo da Birmânia) durante a retirada da Birmânia, em 1942,
ele disse: “Ânimo. As coisas poderiam ser piores!”. “Como poderiam ser piores?” indagou alguém. “Poderia
estar chovendo”, disse Slim. Naquele momento começou a chover.

O sendo de humor de Slim era apenas uma das muitas qualidades pessoais que lhe granjearam a amizade dos
subordinados. Acrescente-se a isso a naturalidade, a simplicidade e a franqueza com que tratava os homens e
os problemas. Ele estava sempre pronto para falar pessoalmente com quem quer que estivesse sob seu
comando, do general ao soldado raso, e quando falava - em inglês, gurkhali, urdu ou pushtu - era sempre de
homem para homem, jamais de comandante para comandado. Como Segundo-Tenente no 9 o Batalhão do
Real Regimento de Warwickshire, ele levava a sério o princípio militar segundo o qual o primeiro dever de
um oficial é cuidar do bem-estar dos seus subordinados. Contudo, naqueles tempos, sua aplicação da regra
era muitas vezes literal demais e pouco ortodoxa para a tranqüilidade de seus superiores; e naquela época,
quase todos eram seus superiores. Houve, por exemplo, uma ocasião em que, na Mesopotâmia, ele correu o
risco de ser submetido a conselho de guerra por roubar ovelhas. A melhor de todas, como ilustração, foi uma
aventura ocorrida em Gallipoli, no verão de 1915.

O Real Regimento de Warwickshire estava descansando, quer dizer, em vez de estar guarnecendo suas
trincheiras, sob o fogo, seus membros se encontravam reunidos sob os rochedos à beira-mar, ainda sob o
fogo da artilharia turca e em condições de desconforto pouco melhores do que as que haviam sido obrigados
a suportar nas trincheiras. Por um golpe de sorte - o tipo de “sorte” que ele habitualmente fazia ocorrer - o
Tenente Slim conseguira para o seu pelotão o único trecho de sombra em toda a extensão da praia, onde uma
grande pedra se erguia afastada do rochedo principal. Ali, seus homens deitaram-se para uma hora de
merecido sono, enquanto um pelotão de outro regimento era obrigado a suar copiosamente ao sol escaldante
de Gallipoli. Não havia razão para supor que Slim estivesse menos cansado do que seus homens e a maioria
dos oficiais, na sua posição, teria “deitado para dormir” também.

E por que Slim não fez isso? Talvez um sexto sentido, que a maioria dos grandes líderes possui e aprende a
atender, o advertiu. Assim, embora cansado, ele estava de pé, ao sol, observando os disparos espasmódicos
feitos contra as praias por um distante e invisível canhão turco. Observando que as granadas explodiam cada
vez mais perto deles, Slim concluiu que a quarta granada, a partir daquela, cairia bem na sombra do rochedo,
onde a maioria dos seus homens descansava. A maioria das pessoas, tendo assim decidido, teria adotado a
linha de menor resistência e dito, na verdade, “talvez não aconteça isso”. Mas a palavra “talvez” não existia
no vocabulário de Slim. Uma vez seguro dos seus cálculos, ele não hesitou em adotar a solução difícil e
impopular. Despertou o sargento do pelotão e explicou-lhe a situação, e os dois puseram-se a mandar seus
homens de volta para o sol escaldante.
Por pouco não houve motim. Exaustos e sonolentos, todos se ressentiram por serem expulsos da única
sombra que viam há dias. Mas, por meio de persuasão e pragas, finalmente se conseguiu retirá-los dali. Os
homens acomodaram-se, mal-humorados, ao sol, praguejando e amaldiçoando os oficiais intrometidos e
“com um parafuso frouxo” enquanto que, alegre e surdo a todos os avisos, um pelotão de outro regimento
tomou aquele lugar e logo adormeceu. Não demorou e a quarta granada caiu. Vários homens daquele infeliz
pelotão nunca mais acordaram.

Quase trinta anos mais tarde, a mesma preocupação pelo bem-estar dos seus soldados permitiu a Slim
restaurar o amor-próprio e a confiança de um exército de cuja derrota e angústia ele partilhara. Como
conduziu ele esse mesmo exército de volta à vitória é o tem principal deste livro. Considerando-se as
personalidades com quem teve de lidar, o fato de se haver saído tão bem pode ser atribuído à sua recusa em
fechar os olhos às verdades desagradáveis, reforçada por uma destreza incomum em manter-se no difícil
limite entre a diplomacia e a estratégia. É de duvidar que qualquer outro teria conseguido controlar Wingate,
manter o respeito daquele osso duro de roer, o general americano “Zé Vinagre” Stilwell, ou permanecer tão
inabalavelmente leal ao seu arrojado e elegante superior, o Lorde Louis Mountbatten. Era inevitável que
houvesse discordâncias, mas Slim era leal e valente demais para levá-las a público.

O sucesso jamais lhe subiu à cabeça e ele permaneceu modesto e acessível até o fim dos seus dias. Há alguns
anos, quando escrevia uma análise crítica das operações realizadas em torno de Imphal, perguntei a seu
adversário, o General Mutaguchi, como explicava ele a derrota japonesa. A sua resposta, na verdade, foi que
Slim o superou em habilidade militar. Quando disse isso a Slim, recebi dele a seguinte e seca resposta: “Os
generais japoneses - possivelmente tal como outros generais - sempre justificam da melhor maneira seu êxito
ou seu fracasso.

Em 1948, Slim foi nomeado Chefe do Estado-Maior-Geral Imperial. Na época, provavelmente não havia
nenhum outro soldado como caráter e a experiência que pudessem levá-lo a solucionar os problemas com
que se defrontaria o chefe provisional do exército britânico. Quando seu período terminou, dois anos depois,
ele me disse: “Não é um emprego ruim; eu lhe recomendo”. Como oficial subalterno, e lembrando-me do
aforismo que Napoleão gostava de repetir: todo soldado traz na mochila o bastão de marechal, começava a
duvidar do que trazia na minha mochila. Mas naquele momento minha confiança aumentou. Para mim, e
incontáveis outros, nenhum general despertou a mesma atenção que Bill Slim. Milhares dos que tiveram o
privilégio de servir sob seu comando - britânicos, indianos e seus próprios e amados gurkhas - lembrar-se-ão
dele como o mais admirável general que a Segunda Guerra Mundial produziu.

Espírito independente
William Joseph Slim nasceu em Bristol a 6 de agosto de 1891 e foi educado na King Edward’s School, em
Birmingham. Desde a infância mostrou grande interesse pelo exército, mas seu pai não tinha meios para
mandá-lo a Sandhurst nem para apoiá-lo financeiramente quando ele entrou num regimento, como era
necessário no exército britânico, na época. Assim, Slim, empregou-se na companhia siderúrgica de Stewart
and Lloyds, em Birmingham

Devido ao seu entusiasmo, permitiram-lhe ingressar no Corpo de Treinamento de Oficiais da Universidade


de Birmingham, embora não fosse membro da universidade. Ingressando, necessariamente, como soldado
raso, Slim não demorou a ser promovido a anspeçada. Portanto, não há verdade na afirmação dos elementos
das relações públicas do tempo de guerra, que o davam provindo das fileiras do exército regular.

Três semanas após o início da Primeira Guerra Mundial, a 4 de agosto de 1914, Slim foi promovido a
segundo-tenente. Após cumprir o treinamento inicial, foi destacado para o 9 o Batalhão do Real Regimento de
Warwickshire, que se tornou parte da 13a Divisão britânica.

Em junho de 1915, esta divisão foi enviada para os Dardanelos e participou do fracassado ataque às defesas
turcas em Sari Bair, a 9 de agosto. Neste ataque, a companhia em Slim estava servindo como tenente entrou
em contato com alguns gurkhas do 1 o/6o Gurkha Rifles. Seu batalhão sofre seriamente no ataque e o próprio
Slim foi ferido no ombro.

Slim retornou, para tratamento, à Inglaterra e, após convalescer, foi transferido para o batalhão-depósito do
Real Warwicks, do qual se enviavam sorteados para reforçar os batalhões além-mar.
Entrementes, a 13a Divisão evacuara Gallipoli e participara da campanha da Mesopotâmia, ao longo dos rios
Tigre e Eufrates. Slim foi devolvido aos eu antigo regimento, deixando a Inglaterra em fevereiro de 1916,
recebendo também o comando de uma companhia. Durante longa e monótona campanha no deserto, Slim
ficou impressionado com a coragem, a capacidade de resistência e o humor do soldado britânico, sobretudo
quando em terreno desfavorável e com a mais baixa prioridade para receber armas e equipamento. Esta visão
do soldado britânico lhe seria de grande valia, mas tarde. A maioria dos oficiais do exército indiano carecia
desta vantagem e encontrava dificuldade para lidar com os soldados britânicos em ação, estando
acostumados apenas com os cipaios indianos oriundos das aldeias mais simples.

Durante a campanha da Mesopotâmia, Slim foi novamente ferido, desta feita no braço, e recebeu a “Cruz
Militar”, por “bravura diante do inimigo”. Entretanto, ele continuou a servir no Real Regimento de
Warwickshire pelo resto da guerra.

Terminado o conflito, Slim foi transferido para o 1 o Batalhão do 6o de Gurkha Rifles. No depósito dos
gurkhas, primeiro teve de aprender a falar gurkhali e familiarizar-se com os antecedentes e as características
dos temíveis soldados mongóis montanheses. Em 1922, foi nomeado Ajudante do 1 o Batalhão.

No batalhão, nessa época, estavam G.A.P. Scoones, D.T. Cowan, D.D. Gracey e J.B. Scott, todos jovens
capitães ou subalternos. Scoones viria a ser como tenente-general, Comandante do 4 o Corpo em Kohima, em
1942-44 e, mais tarde, general na Índia, em 1945-46. Cowan assumiu o comando da 17 a Divisão indiana na
retirada da Birmânia em 1942, e permaneceu como seu comandante até o fim da guerra. Scott comandou a
outra divisão de Slim na retirada da Birmânia, a 1 a Divisão birmanesa, tornando-se, em 1943, Inspetor da
Infantaria na Índia. Estes oficiais, todos do 1 o/6o de Gurkhas, manteriam uma cabala fechada durante toda a
campanha da Birmânia que tornaria Slim famoso. Eles lembravam-se do firme e elegante Ajudante que
procedera de forma rigorosa no assessoramento do seu coronel durante o processo de preparo do batalhão
para deveres de tempo de paz. A medida implicava a conversão de uma soberba máquina de combate numa
reluzente unidade de exibição, capaz de suportar os rigores dos tempos de paz, com todas as suas tentações e
indolência. Contudo, os freqüentes ensaios na luta verificada na fronteira noroeste da Índia mantiveram os
pés marciais do batalhão firmes em terra, de modo que seus oficiais não se tornaram teóricos demais em seus
pontos de vista sobre a guerra.

Em 1925, Slim ingressou na Escola de Estado-Maior da Índia, em Quetta. Esperava-se que os oficiais-alunos
da escola de Estado-Maior fossem bons cavaleiros de caça à raposa. Slim não era. Este fato deve ter
contribuído para fazer dele um homem pouco submisso ao estabelecido, fazendo com que o vissem como
uma personalidade muito independente e individualista. Assim, ele se concentrou na aprendizagem da arte da
guerra metodicamente, o que lhe serviria muito durante toda a vida.

Após haver servido na tropa e no Estado-Maior, ele teve a boa sorte de ser escolhido como um dos
representantes do exército indiano no corpo docente da Escola de Estado-Maior britânica, de Camberley, na
Inglaterra, conseguindo o posto graças a um trabalho sistematicamente bom e à sua boa aparência, que
também pesava muito, em tempo de paz. Mas, ainda assim, ele mantinha uma independência de pensamento
que o elevou acima dos seus companheiros. O General Sir Archibald Nye, seu colega no corpo docente, diz
que ele dava a impressão de estabilidade, solidez e confiança, características que por si sós a ninguém
capacitam para o exercício do alto comando, excetuando-se o “tipo Blucher”, reminiscente do velho
marechal “Avante”, incansável adversário de Napoleão. Mas Nye, que era bom conhecedor de caráter,
prossegue dizendo que ele tinha duas qualidade em grau muito elevado - integridade e intelecto.

Esta última qualidade deve ser julgada em comparação com seus colegas oficiais. O exército britânico em
geral não atraia homens de inteligência muito aguda. Seus oficiais mais lúcidos eram normalmente homens
que haviam entrado no exército regular pela porta dos fundos, como Slim, ou universitários e filhos de
famílias ricas, que ingressavam nos Guardas ou na cavalaria. Com rendas particulares a sustentá-los, esses
homens podiam dar-se ao luxo de manter opiniões independentes e pouco ortodoxas, o que não acontecia
com o oficial de infantaria, de regra enredado nos problemas da sobrevivência.

O principal atributo de Slim era a abordagem simples e prática que dava aos problemas, pondo de lado a
verbosidade e os enfeites dos “ses” e “mas” para chegar à base da questão.
Após três anos como instrutor na escola de Estado-Maior de Camberley, Slim foi escolhido, em 1937, para o
curso de um ano na escola Imperial de Estado-Maior, onde teve a oportunidade de conhecer e trabalhar com
oficiais da marinha, da força aéreas e com altos funcionários públicos, além dos seus pares do exército
britânico - experiência de valor inestimável para a sua carreira, pois liberou seu espírito de limites
inevitavelmente estreitos do Exército Indiano. A Escola Imperial de Estado-Maior foi fundada para estudar a
ciência da guerra - seus aspectos civis, econômicos e diplomáticos, além dos puramente militares. Na prática,
ela estava aquém desses maduros objetivos geopolíticos, mas por certo esforçava-se por realizá-los.

Slim contava 46 anos ao terminar este curso. Considerava-se essencial, nos exércitos britânico e indiano, que
um oficial, para atingir o posto, comandasse um batalhão em algum momento da sua carreira, de modo que,
ao mesmo tempo que já passava a preocupar-se seriamente com as camadas superiores do comando, jamais
se deveria esquecer que planos e ordens do alto são interpretados e cumpridos por homens simples, com seus
defeitos e virtudes.

Portanto, após cinco anos na Inglaterra, Slim foi designado para o comando do 2 o Batalhão do 7o Regimento
Gurkha Rifles. Após apenas 18 meses de exercício do cargo foi promovido a Comandante da escola de
Oficiais Superiores da Índia.

No começo da Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1939, entregaram-lhe o comando da 10 a Brigada de


Infantaria indiana, formada em Jhansi, na Índia Central. A princípio esta brigada não tinha transporte
motorizado e muito poucos motoristas treinados, carecia de aparelhos de rádio, não tinha veículos de
combate blindados, canhão antiaéreo ou antitanques, e armas automáticas tinha algumas, mas obsoletas. Na
verdade, ela estava totalmente inapta para a guerra moderna. O pensamento militar do exército indiano, com
raras e honrosas exceções, ainda se baseava na tática da Guerra dos Boers, de 40 anos antes.

Slim, com seu treinamento no exército britânico, usou de todos os artifícios e improvisações para superar as
deficiências da sua brigada. Ele treinou um bom Estado-Maior e seus batalhões, mesmo que não lhes pudesse
dar, de imediato, o material moderno e ensinar-lhes as habilidades técnicas. Após um ano de treinamento, e já
parcialmente sanadas suas deficiências em armas e equipamento, a 10 a Brigada de Slim, partiu, como parte
da 5a Divisão Indiana, para o Oriente Médio. Ali, ela enfrentaria seu primeiro inimigo, os regimentos
italianos e coloniais, que formavam a tropa de ocupação da Eritréia, Somália e Etiópia, recém-conquistada
pela Itália. Slim estava com 49 anos de idade.

Gallabat e Deir-ez-Zor
Em 1940, logo atrás da Blitzkrieg alemã que venceu a Holanda, Bélgica e França em poucas semanas, a
Itália declarou guerra a Grã-Bretanha e o Comando do Oriente Médio, do General Wavell, foi posto face a
face com forças italianas aparentemente esmagadoras, na Líbia e na África oriental. O comandante-chefe da
África Oriental Italiana dispunha de 250.000 soldados, 60 tanques e 250 aviões. Mas 70% destes eram
soldados coloniais e o moral das suas tropas brancas, isoladas da pátria e numa guerra que não queriam, era
baixo.

A 2.400 km do QG de Wavell no Cairo, as forças que os britânicos tinham no Sudão não iam além de 4.500
homens, inclusive os três batalhões britânicos, sem artilharia. Havia ali também três esquadrões de obsoletos
bombardeiros Wellesleys, um esquadrão de Blenheims e seis caças Gladiators já ultrapassados.

O General Platt, no comando do Sudão, manobrou ofensivamente sua pequena força de modo a fazer crer aos
italianos que era bem mais volumosa. Porém, como Wavell acreditava na subversão e na guerra de guerrilha
como meio de enfraquecer o inimigo, missões militares foram infiltradas por toda a Etiópia, a fim de apoiar
os movimentos de resistência locais.

Platt ficou encantado ao saber que a 5 a Divisão Indiana fora desviada da sua destinação original, o Iraque, e
desembarcaria no porto Sudão, no Mar vermelho, em setembro de 1940. Esta divisão consistia de apenas
duas brigadas, cada uma compreendendo três batalhões indianos, mas a artilharia era guarnecida por
britânicos. Platt colocou seus três batalhões britânicos sob o comando divisionário para formar uma terceira
brigada e espalhou seus experimentados batalhões britânicos de modo que houvesse um anexado a cada
brigada.
A 10a Brigada de Infantaria indiana, do Brigadeiro Slim, foi despachada para Gedaref, a uns 160 km ao norte
da cidade fronteiriça de Gallabat, que deveria ser seu primeiro objetivo. Ela era apoiada pelo 28 o Regimento
de Artilharia de Campanha britânico e por um esquadrão do Real Corpo de Tanques, formado de seis
tanques-cruzadores e seis leves. Também tinha 18 caças Gladiators em apoio, acompanhados de todos os
bombardeiros Wellesleys disponíveis.

Os italianos haviam capturado e ocupado Gallabat em julho de 1940. Suas defesas ali consistia, do Forte
Gallabat e da aldeia defendida de Metemma, ambas fortalecidas com peças de campanha, alambrado e minas
antitanques. Estas duas áreas defendidas erguiam-se sobre as elevações do terreno de ambos os lados do leito
seco de um rio que formava a fronteira entre o Sudão e a Etiópia, e estavam dispostas de forma a se apoiarem
mutuamente. As guarnições italianas compreendiam quatro batalhões coloniais reforçados por duas
companhias de metralhadores Camisas Pretas (milícia fascista). Havia também uma coleção heterogênea de
morteiros, artilharia e fuzis antitanques leves.

Os efetivos das forças em confronto eram mais ou menos os mesmos, mas os britânicos tinham a vantagem
dos tanques e de ser a artilharia guarnecida por britânicos e uma proporção maior de soldados de infantaria
europeus. No ar, os italianos estavam em vantagem, porque seus caças Fiat CR42 eram mais modernos que
os Gladiators.

No começo de novembro, os britânicos tinham 28.000 soldados no Sudão e o Gabinete britânico ordenou um
avanço geral no Sudão e no Quênia. Slim recebeu ordens para capturar Gallabat. Embora relativamente
pequena, essa operação era a única que os britânicos, no momento, realizavam em qualquer parte do mundo.

O ataque principiou ao amanhecer de 6 de novembro. Após intenso bombardeio, a resistência no Forte


Gallabat logo foi vencido pelos batalhões britânicos e de garhwalis que atacaram ao lado dos tanques. Às
07h30, hasteou-se o sinal de vitória. O fogo da artilharia foi levantado, para bombardear as defesas de
Metemma. Porém, quatro dos seis tanques cruzadores e cinco dos leves foram incapacitados por minas
antitanques. Slim esquecera-se de colocar sapadores à frente, para abrir caminho para os tanques.

Slim deixara seu batalhão indiano de reserva muito à retaguarda. O comandante dos tanques informou que,
após a captura de Gallabat, alguns tripulantes dos tanques desceram deles para examinar os danos sofridos
por seus veículos. Soldados indianos, vendo suas boinas pretas, confundiram-nos com inimigos e abriram
fogo, matando muitos desses soldados insubstituíveis.

Slim deslocou-se para Gallabat, para reconhecimento o que foi prejudicial, pois, assim fazendo, seu ataque
perdeu o impulso e os italianos tiveram tempo de se recuperar. O comandante da guarnição de Metemma já
havia pedido socorro, pelo rádio, e à tarde cerca de 30 bombardeiros e caças italianos bombardearam e
metralharam o recém-tomado Forte Gallabat. Os Gladiators decolaram para intercepta-los, mais cinco dos
seis que levantaram vôo foram derrubados, deixando os italianos no comando do ar. Entre outras coisas, os
aviões italianos destruíram o caminhão que chegava com sobressalentes para os tanques.

A evacuação dos feridos deprimira o moral do batalhão indiano de reserva (constituído de baluchis). É
sempre bom que os feridos sejam mantidos afastados dos soldados novos, porque tendem a fazer um relato
exageradamente doloroso da batalha, sobretudo se é o seu primeiro combate. Slim esquecera-se de tomar esta
precaução.

Na manhã seguinte, Gallabat foi novamente bombardeada. Enquanto seus comandantes de batalhão de
infantaria e o seu comandante de artilharia tentavam persuadi-lo a continuar no ataque, Slim, influenciado
por um major-de-brigada treinado na Escola de Estado-Maior de Quetta, que favorecia a cautela, ordenou a
retirada. Slim perdera 41 homens da sua força de 4.000 e tinha 125 feridos. A maior parte das baixas foi
sofrida pelo batalhão britânico que, com os tanques, havia enfrentado o pior da luta.

Por que Slim ordenou a retirada tão cedo, após tão poucas baixas? Para compreender isto, precisamos
examinar os métodos de luta empregados pelo Exército Indiano na fronteira noroeste da Índia. Ali,
considerava-se crime um comandante de batalhão ou de brigada arriscar-se a sofrer baixas e, por pequeno
que fosse o número de baixas, ele podia ser destituído do comando. Uma razão para isto era que, devido à
contínua inquietação política, considerava-se que o Exército Indiano era de estrutura muito mais quebradiça
do que o era na realidade. Além disso, surgira um relacionamento muito grande entre oficiais e soldados, de
modo que um comandante sabia não só os nomes e a formação dos homens sob seu comando, como também
conhecia até seus pais e suas famílias. As baixas eram a medida do sucesso ou do fracasso e, na fronteira
noroeste, caso houvesse retiradas sempre havia tempo para lutar novamente no ano seguinte, se necessário.

Este fator impregnava profundamente a formação dos oficiais do Exército Indiano e explica as primeiras
retiradas, a falta de decisão no ataque e as incontáveis rendições nos primeiros anos da guerra.

Slim, a despeito do seu treinamento no exército britânico, absorvera muito dessa atitude de tempo de paz e
demorou alguns anos para livrar-se dela. Em seu despacho sobre a “Operação Gallabat”, ele apresentou sua
derrota como uma vitória, mas admitiu a verdade para si mesmo e aprendeu com seus erros, de modo que
este fracasso inicial faria dele um general melhor. Daí por diante, ele sempre tentaria escolher o curso mais
arrojado na batalha.

Os italianos resistiram em Gallabat até 1 o de janeiro de 1941, quando se retiraram, perseguidos por um
destacamento móvel da 9a Brigada de Infantaria indiana, que substituíra a 10 a Brigada, de Slim. A 3 de
janeiro, o General Wavell mandou o General Platt tomar Keren e Asmara.

O General Platt, reforçado pela 4a Divisão de Infantaria Indiana, já com experiência em combate, vinda do
deserto Ocidental, iniciou o avanço de suas tropas, do Sudão para a Eritréia, a 19 de janeiro, com a 4 a
Divisão indiana na vanguarda. A tarefa da 5 a Divisão indiana era tomar uma base em Aicota, pequena cidade
situada na estrada que levava a Keren e Messawa. Dali, o Major-General Heath enviou a 10 a brigada de
Infantaria, de Slim, para cortar a retirada do inimigo em Keru, ocupada pela 41 a Brigada Colonial indiana. A
22 de janeiro a brigada nativa italiana recuou, mas não antes de Slim, avançando arrojadamente, isolar seu
QG. O comandante italiano, seu Estado-Maior e mais 800 homens foram capturados.

A batalha pela posse de Keren, travada em fevereiro e março de 1941, selou o destino dos italianos na
Eritréia.

Keren caiu a 27 de março, mas Slim não estava presente para assistir à queda, pois retornara à Índia após ser
ferido nas nádegas quando se abrigava de um ataque aéreo italiano. Não retornou à sua brigada, mas, após
breve período como oficial de Estado-maior do QG-Geral na Índia, Slim foi promovido a major-general,
indo comandar a 10a Divisão indiana.

Nessa época. A Síria estava cada vez mais sob a influência dos alemães, que a usavam como base para
provocar distúrbios entre os árabes, na Palestina e por todo o oriente Médio. O governo britânico decidiu
acabar com esse estado de coisa, determinando a invasão da Síria, onde havia 45.000 soldados franceses do
governo de Vichy, incluindo 20.000 soldados coloniais, com cerca de 90 tanques.

Nessa época, Wavell lutava no Deserto Ocidental, na Abissínia, na Grécia e Creta, de modo que suas forças
estavam bastante espalhadas.

Após alguma discussão, Wavell organizou uma força integrada pela 7 a Divisão Australiana (apenas duas
brigadas), a 5a Brigada de Infantaria Indiana, seis batalhões de Franceses Livres, um comando britânico e
alguns regimentos de cavalaria montada e mecanizada. Ela enfrentaria grandes dificuldades, com os
franceses de Vichy lutando valentemente de posições muito bem escolhidas. A 18 de junho de 1941 Damasco
fora tomada pelos Aliados, mas a principal posição francesa estava baseada no rio Litani, na costa. Dois
batalhões indianos de sazonada 5a Brigada Indiana haviam lutado muito bem e, entre si, sofrido 738 baixas.

Mas, a 21 de junho, os franceses de Vichy foram colocados diante de uma nova frente terrestre: a 10 a Divisão
Indiana, sob o comando do Major-General Slim, tomara o norte do Iraque, passando a ameaçar as
comunicações dos franceses de Vichy entre Damasco e Homs. A posição francesa, em toda a Síria, estava em
perigo e Palmira caiu a 6 de julho.

Slim, tendo recebido transportes suficientes, recebeu ordem para avançar sua divisão, inexperiente ainda, a
fim de capturar a ponte e o centro comercial de Deir-ez-Zor que, dizia-se, estavam defendidos por 400
soldados coloniais franceses, com apoio de artilharia. Slim era apoiado pelo 127 o Esquadrão de Caças. Ele
avançou em duas colunas, uma acompanhando a linha do Eufrates e a segunda fazendo a conversão pelo sul,
com sua terceira brigada na reserva. A distância de sua base, em Haditha, ao objetivo era de uns 240 km.
Tempestades de areia e alguns bombardeio atrasaram o avanço das suas brigadas. Slim não pretendia correr o
risco de ser derrotado, de modo que deslocou duas brigadas inteiras numa operação especialmente destinada
a capturar essa aldeia mal defendida.

Ele despachou um destacamento, formado do 13 o Lanceiros indianos, uma tropa de artilharia e o 4/130 de
Rifles da Força de Fronteira, para cercar e isolar as comunicações de Alepo, a noroeste. Depois disso, ele
planejava atacar, em duas colunas de brigadas, do leste e do sul.

A 1o de julho, sua coluna do Eufrates, vinda do leste, foi alvejada por fogo de artilharia de longo alcance e
parou. No flanco esquerdo, as colunas que faziam a conversão pararam também, devido à tempestade de
areia, falta de gasolina e má navegação. Assim, o brigadeiro Weld, comandante da coluna sul (21 a brigada),
ordenou que elas se concentrassem com sua força principal. Slim, mantivera-se afastado, para não atrapalhar
seu subordinado. Mas informado de que Weld enguiçara e de que seu movimento, decerto, falhara, Slim
embarcou num jipe e viajou durante toda a noite para ir ter com ele, descobrindo que Weld subestimara suas
necessidades de gasolina. Slim, não concordando com as modificações no plano de ataque propostas por
Weld, ordenou que seu oficial administrativo sênior, Tenente-Coronel Snelling, despachasse toda a gasolina
de que dispunha. Snelling conseguiu reunir 5.000 galões, que chegaram na mesma noite. Snelling era um
autêntico mestre da improvisação e do engenho e – ao contrário de muitos oficiais de Estado-Maior –
mantinha firme a crença de que seu trabalho era servir aos combatentes. No seu entender, a equipe
administrativa tinha de trabalhar duas ou três vezes mais do que as tropas combatentes, pois não corria os
mesmos perigos de morte em combate. Ele, mais tarde, seria o principal oficial da equipe administrativa de
Slim durante toda a campanha da Birmânia e lhe daria apoio contínuo, eficiente e enérgico.

Quando a gasolina chegou, Slim fez Weld manter-se dentro do plano original. Naquela noite, as colunas do
deserto partiram para cumprir as respectivas tarefas, enquanto que as tropas gurkhas da coluna do rio
moviam-se em direção de sua linha de partida para o ataque e os artilheiros avançavam e entrincheiravam
seus canhões.

A guarnição inimiga fora enfraquecida quando sua 2 a Companhia Ligeira do Deserto fizera uma incursão,
dias antes, encontrando a Legião Árabe, comandada por Glubb Pasha. A Legião imediatamente fez uma
carga pouco ortodoxa mas assustadora, matando onze inimigos e capturando cinco oficiais e 72 soldados,
sofrendo apenas duas baixas, um morto e um ferido.

O ataque a Deir-ez-Zor ocorreu ao amanhecer de 3 de julho e logo terminou. Surpreendido pelo ataque do
noroeste simultaneamente feito com o esperado ataque pelo leste, o inimigo, na maioria tropas coloniais,
abandonou sua posição e fugiu. Slim capturou nove canhões e fez 100 prisioneiros. A grande vantagem é que
o inimigo não tivera tempo de destruir a ponte ferroviária sobre o Eufrates, que era a única existente sobre o
rio num trecho de 160 km em ambas as direções.

Nesta pequena ação, Slim preparara suas tropas inexperientes para a batalha, manobrando-as de modo a
aplicar o número máximo das suas forças em auxílio mútuo. Ele não podia dar-se ao luxo de outro revés em
sua carreira; assim, procurou cuidadosamente derrotar o inimigo, cujos efetivos ele superestimara
enormemente.

Na frente principal, as forças australianas, britânicas, os “franceses livres” e a Legião Árabe conseguiram
prosseguir em seu avanço, a despeito da luta intensa nas linhas dos rios Litani e Damour. Ao anoitecer de 11
de julho, o General Dentz, francês, pôs fim às hostilidades e uma convenção foi assinada em S. João d’Acre,
com o General Catroux, dos “franceses livres”, assumindo o controle da administração civil. A campanha
Síria durara cinco amargas semanas.

As forças britânicas perderam 3.300 homens, incluindo os prisioneiros, que depois recuperaram. Os
“franceses livres” perderam cerca de 1.300. As perdas de Vichy foram de uns 6.000, dos quais 1.000 foram
mortos. A RAF perdeu 27 aviões.

Slim não esteve mais em luta em julho de 1941 até março de 1942, quando assumiu o comando do Corpo
birmanês, depois que Rangum caiu em mãos japonesas.

Durante o período intermediário, ele manteve a paz no Iraque e sua divisão foi transferida para a Pérsia, onde
se reuniu com os russos. Era essencial que a Pérsia, com todo o seu petróleo, não caísse em mãos alemães.
Os russos estavam recuando para o Caucásio, onde havia pouco para deter o avanço alemão, exceto espaço,
logística e os guerrilheiros ativos na sua retaguarda. Assim, a Rússia e a Grã-Bretanha dividiram a Pérsia
entre si e a ocuparam sem maiores transtornos. A Pérsia passou a ser o caminho por onde a Grã-Bretanha
podia enviar armas e suprimentos para os russos. Duas rodovias de concreto da “classe 70” (suportando
carga de até 70 toneladas) foram construídas no sentido sul-norte para receber o tráfego dos suprimentos
destinados à Rússia, e continuaram sendo usadas durante os três anos seguintes. Slim viu a construção dessas
estradas e ficou impressionado com que o moderno equipamento pesado de construção de estradas podia
fazer. A maior parte delas foi construída pelos americanos. Mais tarde, em Assam, Slim, baseado no que os
americanos fizeram, instaria junto aos engenheiros britânicos a abrir estradas de que necessitava para apoiar
suas tropas na frente de combate.

A retirada da Birmânia em 1942

Os japoneses atacaram Pearl Harbor, Cingapura e Hong-Kong a 7 de dezembro de 1941. Seguiram-se os


desembarques nas Filipinas e na Malásia. A 8 de dezembro, o 15 o Exército japonês entrou em Bangkok, Ele
atravessou a extremidade inferior da Birmânia, na Ponta de Vitória, alguns dias depois, e, a 20 de janeiro de
1942, teve início a invasão japonesa da Birmânia.

Assim, a guerra deslocou-se para a região onde Slim lutaria durante os três anos seguintes. A Birmânia é
geograficamente isolada por uma grande ferradura de montanhas, cobertas e infestadas de malária, cuja
altura varia de 2.100 m a 6.000 m, no norte, que a cercam pelo oeste, norte e leste. Sem serem cortadas por
qualquer estrada até a construção da estrada Birmânia-China, essas montanhas são habitadas por povos de
bom potencial combativo – cachins, chins, chans e carens – que eram muito leais aos britânicos. No meio da
ferradura, as planícies do Irrawaddy e de seu tributário, o Chindwin, estendem-se por 1.500 km até o mar, em
Rangum, ao sul. A parte sul desta planície, o delta do Irrawaddy, é dividida em arrozais, com algumas colinas
cobertas de selva; o centro, em torno de Mandalay, é uma região arenosa, árida e seca, boa para o tráfego de
tanques; mais ao norte, a região torna-se mais acidentada, e se funde em numerosas cordilheiras, com uma
precipitação pluviométrica de 2 a 5 m.

Para os japoneses a invasão da Birmânia tinha certos atrativos. Em primeiro lugar, eles estavam muito
preocupados com a China e esperavam, com a destruição do seu último elo com o ocidente, a estrada da
Birmânia, com seus 3.200 km, obrigar Chiang Kai-shek a entrar em acordos; inversamente, um dos objetivos
principais dos Aliados, especialmente dos Estados Unidos, era manter a China na guerra, para ali, reter 26
divisões japonesas que, do contrário, poderiam ser usadas em outros locais. Segundo, a ocupação da
Birmânia pelo Japão protegeria as conquistas por ele feitas a leste e ao sul; seria fácil defendê-la, porque
cercada de cordilheiras quase intransponíveis, mas com boas comunicações internas que permitiriam uma
defesa móvel, capaz de rechaçar qualquer ataque. Terceiro, embora menos importante, a Birmânia tinha
alguns campos petrolíferos e produzia vasto excedente de arroz, em condições propícias.

O 15o Exército japonês, que realizara a invasão, consistia da 33 a Divisão, de três regimentos de infantaria
(equivalente às brigadas britânicas), e da 55 a Divisão, de dois regimentos de infantaria e um de cavalaria,
compreendendo, ao todo, 35.440 homens, equipados com 701 cavalos, 53 veículos de transporte de tropas e
570 caminhões, mas nenhum tanque.

Além disso, a 5a Divisão Aérea japonesa detinha o domínio dos céus da Birmânia desde o início da retirada;
durante esse período, a RAF estava empenhada sobretudo em ajudar a marinha no Oceano Índico.

No começo da guerra com o Japão, o exército da Birmânia consistia de dois batalhões britânicos e quatro
indianos, cerca de oito batalhões de fuzileiros birmaneses e três baterias indianas de artilharia de montanha,
com tropas de apoio. Em dezembro de 1941, ele foi reforçado pela 16 a Brigada Indiana e, no começo de
janeiro, pela 17a Divisão Indiana, que substituiu a 16a Brigada.

As condições desses soldados eram pavorosas. Os batalhões birmaneses haviam sido formados recentemente
e estavam mal equipados; com uma ou duas exceções, o despreparo que revelavam para a guerra moderna
era flagrante, não se podendo, portanto, confiar neles para defender posições. O exército indiano não havia
sido compactamente mobilizado desde 1939, devido à situação política interna. Os batalhões regulares da 17 a
Divisão haviam sido drenados até a última gota, para dar reforços para o Oriente Médio, Malásia, e centros
de treinamento de infantaria, e foram despachados para a Birmânia compostos em grande parte de recrutas;
em alguns casos, esses recrutas haviam ingressado no batalhão horas antes do embarques. Na 16 a Brigada,
por exemplo, a maioria dos homens tinha pouca experiência com munição real e ninguém, exceto alguns
graduados, lançara granadas.

Na segunda metade de fevereiro, pouco antes da queda de Rangum, a 7 a Brigada britânica, formada de dois
experimentados regimentos blindados desembarcou. Esta foi uma adição valiosa, pois os japoneses não
tinham tanques. A brigada blindada salvaria repetidamente a situação, embora fosse cada vez mais difícil
utilizar seus blindados, à medida que recuavam para o montanhoso norte da Birmânia.

As forças britânicas, incluindo o Estado-Maior, totalizavam uns 120.000 homens. Essas tropas foram
repelidas para o sudeste da Birmânia, onde logo foram isoladas ou obrigadas a recuar por rápidas manobras
de envolvimento dos japoneses. Após o desastre havido no rio Sittang a 23 de fevereiro quando uma ponte
importante foi destruída, deixando duas brigadas na outra margem, a 17 a Divisão só podia reunir 80 oficiais e
3.404 de outros postos (do total de uns 16.000 homens) dos quais apenas 1.429 ainda tinham seus fuzis.
Durante todo esse período as perdas, em homens e material, foram realmente muito grandes. Quando o
General Sir Harold Alexander chegou a Rangum para substituir o General Hutton no comando, a 5 de março,
a queda da cidade era iminente. A 17a Divisão recuou para Prome.

Nesse ponto, Slim entra na história. A primeira providência do General Alexander foi pedir que um
comandante-de-corpo e seu QG fossem trazidos de avião para assumir o controle da 17 a Divisão Indiana e da
1a Divisão Birmanesa.

Quando o chefe do Estado-Maior-Geral Imperial, General Brooke, recebeu este pedido, pensou em enviar
um comandante-de-corpo de primeira classe, do serviço britânico, que estudara guerras européias. Mas o
velho amigo de Slim, ex-colega e companheiro de instrução, General Nye, lembrou-se desse notável oficial
gurkhas e apresentou seu nome, declarando que, tendo tido experiência com tropas britânicas e indianas, ele
podia compreendê-las e levantar-lhes o moral, que era o fator mais importante na luta na selva, numa área
remota e com baixa prioridade quanto ao recebimento de suprimentos. Ele achava que Slim, que ainda não
mostrara qualquer brilhantismo, era a pessoa certa para realizar uma longa retirada: era homem obstinado,
espírito indômito e, como os soldados britânicos, nunca sabia quando estava vencido. E também estava
talhado para a tarefa porque tinha a confiança dos gurkhas, que desempenhariam papel cada vez mais
importante as batalhas que teriam pela frente.

Foi assim que, a 19 de março de 1942, Slim assumiu o comando do Corpo da Birmânia (Burcorps), baseado
em Prome, situada na estrada oeste que liga Rangum a Mandalay. A 17 a Divisão já estava em retirada para
Prome. A 1a Divisão Birmanesa fora desenvolvida ao longo de toda a fronteira oriental da Birmânia com o
Sião, para o caso de os japoneses virem por ali. Agora os japoneses haviam jogado sua cartada, essa área
poderia ficar aos cuidados das tropas de reconhecimento da Força de Fronteira Birmanesa. O plano de
Alexander era reter os japoneses na linha Prome-Toungoo, sobre as duas estradas que corriam de Ranhum
para o norte. Entre aquelas duas cidades havia através das colinas, uma brecha coberta de selva, com 140 km
de largura, sem qualquer estrada de ligação; dois exércitos chineses desciam para o sul, na direção de
Toungoo, para bloquear o caminho pelo leste.

Estes “exércitos” chineses, que agora entravam na Birmânia, equivaliam a divisões britânicas, em efetivos;
suas divisões equivaliam a brigadas britânicas e seus regimentos, a batalhões. Eles eram bons soldados, com
anos de experiência na luta contra os japoneses. Mas tinham duas deficiências. Primeira, a estrutura de
comando era complicada, de modo que o General Alexander tinha de transmitir suas ordens por intermédio
do general americano “Vinegar Joe” Stilwell, e daí para os comandantes-de-exército chineses, que podiam
apelar para o generalíssimo Chiang Kai-shek, na distante Chungking, se não gostassem das ordens.

Segunda, a política de Chiang Kai-shek era manter essas divisões, que eram parte do seu exército central,
pois havia exércitos provincianos, intactas e manter seus exércitos “em existência”. Chiang Kai-shek estava
sempre com o pensamento voltado para o momento em que, após a guerra, iria lançar esses exércitos no
combate ao líder comunista, Mao Tsé-tung, para decidir quem governaria a China – os nacionalistas de
Chiang ou os comunistas de Mao. O resultado é que os chineses lutavam por manobra, de modos e maneiras
estranhos para Alexander e Slim, que desejavam impor métodos mais ortodoxos, corajosos e diretos na luta
contra a fé nos exércitos chineses.

Por outro lado, os chineses haviam-se oferecido para prestar socorro à Birmânia um ou dois meses antes de
Wavell aceitar o oferecimento. Eles culpavam os britânicos pelo atraso e pelo uso parcelado das forças
chinesas na batalha pela Birmânia. Sua opinião sobre o arrojo e a combatividade dos comandantes britânicos
e indianos era também compreensivelmente ruim, após o colapso de Cingapura e Hong-Kong.

Slim descobriu que as condições vigentes no QG do Corpo birmanês que comandava eram muito difíceis.
Seu destacamento de sinaleiros foi formado com homens do QG da Birmânia e contava com apenas quatro
aparelhos de rádio cujas baterias tinham de ser recarregadas por um gerador acionado a pedal. O transporte
era escasso e poucos os oficiais de Estado-Maior. Isto, contudo, tinha seu lado positivo, pois, sendo pequeno
o QG, era, portanto, muito móvel. A grande desvantagem que Slim enfrentava era a falta de comunicação
com suas duas divisões, embora excelente a comunicação com a 7 a Brigada Blindada, que poderia ser o
trunfo de Slim, se pudesse usá-la.

Os dois comandantes divisionários de Slim, o Major-General D.T. Cowan, que acabara de assumir o
comando da 17a Divisão, e o Major-General Bruce Scott, da 1 a Divisão Birmanesa, tinham sido subalternos
seus no 6o de Gurkhas Rifles. Assim, eles “estavam reunidos mentalmente”, que é a melhor de todas as
formas de comunicação. Bastava enviar-lhes curtas mensagens para que Slim se tranqüilizasse quanto à
interpretação que dariam.

A brecha entre Prome e Toungoo era intransponível para o Burcorps, que apenas recentemente aprendera a
lutar com grande número de veículos que reuniram à maneira britânica, ao passo que para os japoneses era
uma arena ideal, porque treinados a marchar e lutar a pé e cujo forte eram os movimentos rápidos de
infiltração e cerco.

Slim assumiu o comando em condições verdadeiramente deprimentes. A 1 a Divisão birmanesa ainda não fora
substituída em Toungoo pelos chineses. A 17a Divisão, embora reequipada com material dos arsenais
abandonados em Rangum, ainda estava abalada pela experiência por ela vivida em Sittang. Slim, contudo,
achava que se pudesse concentrar suas duas divisões, ele poderia ajudar a recuperar o moral com um contra-
ataque e um avanço. O inimigo não tinha resposta para seus tanques.

As ordens dos comandantes japoneses eram para levar os exércitos britânicos e chineses a travar combate
diante de Mandalay e ali destruí-los. Dever-se-ia dar especial atenção à destruição dos exércitos chineses a
quem os japoneses mais temiam, sobretudo após a péssima exibição dos soldados britânicos na Malásia.

Uma semana após receber suas instruções, o General Iida, Comandante do 15 o Exército japonês, preparara
seu plano. Duas novas divisões (18a e 56a) e dois regimentos de tanques estavam a caminho, mas ele decidiu
não esperar por eles, preferindo avançar pelas duas estradas, com a 33 a Divisão à esquerda, contra Slim, em
Prome, e a 55a Divisão à direita, para cercar os chineses que se concentravam em Toungoo, com amplo
movimento de flanco pelos Estados chans. Os japoneses tinham uns 400 aviões a apoiá-los nesse ataque. Os
restos da RAF estavam concentrados em Magwe, entre Prome e Mandalay, mas sem a aparelhagem de aviso
antecipado, que ficara no aeródromo de Rangum. A RAF atacou uma concentração de aviões japoneses no
aeródromo de Mingaladon, perto de Rangum, mas no dia seguinte os japoneses, por sua vez, a
surpreenderam em terra, em Magwe, e praticamente a eliminaram. Os poucos aviões que sobraram, partiram
para Akyab, no golfo de Bengala. Os japoneses passaram a dominar por completo os céus da Birmânia e
concentraram-se na destruição de comunicações ferroviárias, de pontes rodoviárias e ferroviárias e vapores
fluviais, no Irrawaddy. Também bombardearam Mandalay e a capital de verão, Maymyo, onde ficava o QG
de Alexander.

Estes ataques causaram pânico nessas cidades e a maioria dos habitantes indianos, birmaneses e chineses
partiu; somente os anglo-indianos e os anglo-birmaneses permaneceram em seus postos e continuaram
guarnecendo as ferrovias, as embarcações fluviais e os postos de correio e telégrafo.

A 29 de março Slim recebeu ordens para desfechar um ataque (sem quaisquer objetivos determinados) para
aliviar a pressão sobre os chineses em Toungoo. A 17 a Divisão ainda não estava totalmente reorganizada e a
1a Divisão birmanesa ainda se concentrava em Allanmyo, 60 km mais ao norte. Slim atacou com a esvaziada
17a Divisão, apoiada pela 7a Brigada Blindada.

O ataque fracassou desastrosamente, a despeito do bom trabalho dos blindados, e a infantaria recuou em
confusão, quase em debandada. Um velho humorista da Primeira Guerra Mundial afixou um cartaz na
estrada, ao norte de Prome, dizendo: “Os últimos sobreviventes dos batalhões, apresentem-se aqui”.
Os japoneses, então prosseguiram nos dois flancos e montaram obstáculos na única estrada que conduzia da
posição da 17a Divisão para o norte. Somente ataques decididos dos blindados romperam esses obstáculos e
permitiram que a 17a Divisão continuasse recuando para o norte.

Certa feita, os japoneses amarraram um jovem oficial de cavalaria britânico a um obstáculo e desafiaram o
ataque britânico a disparar. Os britânicos abriram fogo, destruíram o obstáculo, e com ele o oficial. Doutra
feita, os japoneses, a oeste do Irrawaddy, encontraram parte de uma força britânica que atacara com sucesso
Henzada, atrás das suas linhas. Os japoneses dominaram essa força e capturaram 17 homens, aos quais
despiram e alinharam para exercícios de baioneta. Um sargento ajudante e um soldado chamado Williams
(um galês) conseguiram fugir, e embora feridos, atravessaram o Irrawaddy a nado e levaram a notícia da
presença dos japoneses ao QG de Slim, a 20 km dali.

Slim foi obrigado a recuar. Seu corpo entrava agora num cinturão seco, no tempo mais quente do ano, em
que a temperatura chegava a 45oC e com dificuldade para achar água. Embora o terreno fosse mais adequado
para tanques, nem a divisão, nem seus comandantes e, aliás, nem o próprio Slim tinham tido qualquer
experiência em lutar com uma brigada blindada e tendiam a usar os tanques em pequenos grupos, com
destacamentos de infantaria bem dispersos, mais para apoiar seu moral do que propriamente por motivo de
ordem tática ponderável.

Wavell, que chegara a Birmânia para reunir-se com Alexander e Stilwell a 1 o de abril, disse ao primeiro
ministro britânico que o completo domínio do ar pelos japoneses estava trazendo de canto chorado os
comandantes aliados da Birmânia. A 5 de abril Alexander cabografou a Wavell, comunicando-lhe que a
ausência de qualquer apoio aéreo começava a minar o moral das tropas. No dia seguinte, em carta
particularmente dirigida a Wavell, Alexander admitiu que o estado do moral das suas tropas baixara de modo
a deixá-lo angustiado. A 17 a Divisão, disse ele, estava cansada e desanimada, portando-se, por conseguinte,
lamentavelmente em Prome. A falta de apoio aéreo significava que Alexander e Slim não tinham meios de
realizar reconhecimento sobre território ocupado pelo inimigo, obtendo informações unicamente através de
patrulhas terrestres, que não era o ideal.

Como diz a História Oficial sobre este período: “O cenário estava preparado para a batalha decisiva pela
Birmânia Central, com tudo a favor do inimigo. O exército japonês era homogêneo, com irretorquível
superioridade aérea e, tendo as comunicações marítimas asseguradas e controlando o porto de Rangum,
podia ser facilmente reforçado. Os exércitos aliados, por outro lado, embora sob um só comandante, serviam
em verdade a dois senhores, pois os chineses só obedeciam ordens ratificadas pelo seu Generalíssimo. Os
Aliados estavam praticamente sem apoio aéreo e as forças britânicas foram diminuindo em efetivos e
eficiência à medida que a campanha prosseguia, porquanto não podiam ser reforçadas nem reequipadas”.

A 17a Divisão recuou através da 1 a Divisão birmanesa, que estava desenvolvida a 50 km ao sul dos campos
petrolíferos de Yenangyaung, perto de Magwe. A 17 a Divisão, menos uma brigada, que foi incumbida de dar
proteção aos campos petrolíferos, ficou posicionada no flanco esquerdo da 1 a Divisão birmanesa. Os
blindados estavam agora reunidos no centro, tendo um regimento seu com a 17 a Divisão. Isto foi feito a 8 de
abril.

A 33a Divisão japonesa penetrou esta comprida frente linear entre as duas divisões e estabeleceu um
obstáculo no Pin Chaung, ao norte de Yenangyaung. Os japoneses haviam, uma vez mais, evitado as estradas
e marchado para esse objetivo e talvez mais de 50 km atrás da posição britânica. A 1 a Divisão birmanesa, já
agora sem aguerrimento e transportando seus feridos, tentou, com a ajuda de tanques, romper o obstáculo.
Ela só escapou ao esfacelamento graças a um contra-ataque feito pela 38 a Divisão chinesa. Mas a Divisão
birmanesa deixou para trás metade dos seus efetivos e a maior parte dos canhões e veículos que possuía, que
os japoneses passaram a usar. A aquisição de transportes, porém, fez que os japoneses se limitassem às
estradas, diminuindo a rapidez do deslocamento que faziam.

Foi preciso certa persuasão para que os chineses realizassem um ataque, mais quando o fizeram, deram
excelente demonstração de como usar aquele tipo de terreno e de pequenas habilidades táticas que foi uma
lição prática para os soldados britânicos e indianos que assistiram ao ataque.

Slim permanecia inabalável diante de tantos desastres e suas piadas meio pesadas estimularam seu Estado-
Maior e seus comandantes, cujo moral deslizava para o ponto mais baixo.
Slim reuniu forças e, com a ajuda da 38 a Divisão chinesa, estava decidido a atacar a 33 a Divisão japonesa,
agora estendida na retaguarda.

Mas a 19 de abril o General Alexander convocou uma reunião com Slim e Stilwell para lhes explicar as
novas ordens enviadas da Índia pelo General Wavell. Este dizia que se uma retirada total da Birmânia fosse
inevitável, a 1a Divisão birmanesa tinha de manter-se unida aos chineses, por ser politicamente essencial que
Chiang Kai-shek não se considerasse abandonado pelos britânicos. Assim, a Divisão birmanesa tinha de ser
reorientada para leste, na direção da estrada da Birmânia e de Lashio.

Slim perguntou se poderia fazer esse ataque com a 28 a Divisão de Infantaria e a 200 a Divisão Mecanizada,
ambas chinesas, recebendo permissão para isso.

Entrementes, porém, a 55a Divisão nipônica penetrara secretamente, através dos estados chans, para o leste
da planície da Birmânia e ameaçava Lashio e a estrada da Birmânia. Os chineses, pronta e naturalmente,
recuaram para cobrir essa posição, que era sua linha vital de ligação com a China.

E o fizeram sem ordens do General Stilwell. Certa feita, para fazer com que a 200 a Divisão Mecanizada
atacasse e recapturasse a aldeia Taunggyi, Stilwell oferecera ao comandante 50.000 rúpias (cerca de 7.000
libras) se a tomassem naquela noite. O suborno deu resultado. A aldeia foi recapturada antes do anoitecer.

Algumas divisões chinesas não puderam chegar à China a tempo de recuar até o norte da Birmânia e
atravessar uma trilha, inundada pela monção, ao longo do vale do Hukawng até Ledo, no nordeste de Assam.
O robusto General Stilwell, de 60 anos de idade, fez esse árduo caminho a pé.

Assim, Slim ficou sem o concurso das experientes tropas chinesas.

Ao Burcorps foi, então, ordenado que recuasse para a Índia, por Kalewa, e Slim enviara essa ordem aos seus
comandantes divisionários a 26 de abril.

Havia três caminhos para a retirada. O primeiro era pelo malárico vale do Myittha, para Kalemyo, o que seria
desastroso para os britânicos, pois lhes cortaria a retirada para a Índia. Portanto, Slim despachou a 2 a Brigada
birmanesa por esse caminho. Alexander mandou Slim enviar outra brigada, por vapor fluvial, Chindwin
acima, para defender Kalemyo. Isto deixava a 1 a Divisão birmanesa com apenas uma brigada, de modo que
uma das três brigadas da 17a Divisão foi colocada sob seu comando.

O segundo caminho para a Índia ficava sobre o Chindwin, até Monywa, e a 1 a Divisão birmanesa tomaria
essa rota.

O terceiro passava pela ponte ferroviária de Sagaing, sobre o Irrawaddy, e dobrava para o norte até Shwebo
Ye-u e, dali, para oeste, até Shwegin e Kalewa, de onde dobrava para Kalemyo. As duas brigadas da 17 a
Divisão com a 7a Divisão blindada tomariam esse caminho. Enquanto a monção não chegasse, as trilhas
arenosas ao longo dessa estrada seriam capazes de suportar veículos carregados. Esta foi a principal rota de
retirada de cerca de 250.000 indianos da Birmânia para a Índia. A fim de ajudá-los a cobrir a caminhada,
foram, ao longo da estrada, ocultados depósitos de alimento. Houve casos de cólera e outras doenças entre os
refugiados, que foram deixando pelo caminho os cadáveres daqueles que a morte não permitiu a fuga. E não
foram poucos.

Tomando esse caminho, a 17a Divisão ainda podia manter contato com o restante das divisões chinesas até
Mandalay.

Quando essas ordens foram dadas, o Burcorps estava estendido entre Pakokku, no Irrawaddy, perto da
confluência com o Chindwin, e Maiktila, 80 km a oeste da ferrovia Rangum-Mandalay. O QG do Corpo
estava em Sagaing, a 16 km a oeste de Mandalay.

Os gurkhas da 17a Divisão travaram ação de retaguarda em Kyaukse antes de atravessarem o Irrawaddy, em
Sagaing.

A 30 de abril as duas divisões já haviam cruzado o Irrawaddy e um vão da enorme ponte que havia em
Sagaing fora destruído e o maior número possível de barcos foi inutilizado ou despachado rio acima.
Na noite de 30 de abril a 1a Divisão birmanesa partiu para Monywa.

A 33a Divisão japonesa, em sua perseguição, não subiu o vale do Myittha, mas, após ocupar Pakokku e
Myingyan, a guarda avançada de um regimento chegou à margem oeste do Chindwin, em frente a Monywa,
a 1o de maio. Outros batalhões, subindo o rio em barcaças de desembarques, também chegaram ao
amanhecer de 1o de maio, mas, felizmente, não atravessaram o rio na direção de Monywa.

Cerca de 2.400 funcionários e criados indianos que subiam o rio num barco foram alvejados quando
passavam por Monywa e esta foi a primeira indicação que Slim recebeu sobre o paradeiro dos japoneses. Se,
como Slim passou a temer, Monywa tivesse caído, aos japoneses não seria difícil cortar todos os caminhos
para a Índia; significaria também que eles estavam entre seu QG de Corpo e suas divisões. Assim é que ele
ordenou que a 1a Divisão birmanesa, com um esquadrão da 7 a Brigada Blindada, se concentrasse e atacasse.
Ele também mandou que a 48a e a 63a Brigadas partissem de trem ao encontro da 1a Divisão birmanesa. A 17a
Divisão devia mandar a brigada restante para Ye-u, a fim de cobrir aquele caminho. A seguir, deitou-se e
dormiu, para preservar a atmosfera de calma em seu QG, que era essencial.

O Major-General Bruce Scott, Comandante da 1 a Divisão birmanesa, tomou as providências necessárias para
desfechar o ataque. Entretanto, às 05 h de 1 o de maio, seu próprio QG divisionário foi atacado por uma força
de penetração japonesa, mas conseguiu escapar, lutando, levando consigo os documentos essenciais.

A 63a Brigada, com um esquadrão de tanques, foi a primeira a chegar e iniciou o ataque a Manywa que,
segundo ficou confirmado, estava realmente ocupada pelos japoneses. Ela penetrou até os piquetes, mas não
conseguiu entrar na cidade, porque os japoneses a contra-atacaram duas vezes naquela noite.

Bruce Scott decidiu atacar Manywa com duas brigadas, a 13 a e a 16a, a 2 de maio. A 1a Brigada birmanesa,
que devia chegar naquela tarde, ficaria na reserva. As duas brigadas atacaram, tiveram alguns ganhos, e,
depois, foram detidas. Isto foi próximo do final de uma retirada muito longa e os oficiais e os soldados
estavam esgotados e desanimados, especialmente porque haviam sido totalmente informados de que estavam
a caminho da Índia.

Naquela tarde a 1a Brigada birmanesa, com um batalhão da 48 a Brigada, passou pelas posições da 16 a
Brigada e tentou avançar, mas não conseguiu fazer o menor progresso.

Nesse meio tempo, o transporte divisionário, embora atacado com freqüência, conseguira evitar Monywa e
chegara à estrada norte para a Índia. A 63a Brigada também recuou, de repente, para o norte, em obediência à
ordem que, depois, ficou provado ser falsa. Bruce Scott, porém, decidiu voltar ao ataque, mas sem qualquer
progresso. Mais tarde se disse que as ordens que a 63 a Brigada recebera haviam partido dos japoneses;
porém, é mais provável que esta quisesse acompanhar o transporte divisionário para um lugar seguro.

Devido a essa pressão, os japoneses passaram a atravessar novamente o Chindwin, evacuando Monywa, que
tinha perdido qualquer importância, pela movimentação verificada. O restante da Divisão birmanesa rompeu
contato e recuou para o norte.

A 16a Brigada recebeu ordens de ir para Shwegyin e entrincheirar-se firmemente para proteger a ponte
Shwegyin-Kalewa, sobre o Chindwin, que tem ali 400 m de largura.

Alexander e Stilwell reuniram-se em Ye-u a 1 o de maio e, à luz das notícias recebidas de Monywa, decidiram
abandonar a linha do Irrawaddy de imediato. O grosso da 7 a Brigada Blindada, que estivera cooperando com
a 38a Divisão chinesa na margem oeste do Irrawaddy, ao norte de Mandalay, recebeu ordens para recuar para
Shewegyin por Ye-u. Esta foi a última vez que os comandantes se falaram, pois o aparelho de rádio de
Stilwell, muito convenientemente, daí por diante deu defeito.

A 58a Divisão nipônica, uma vez desembarcada na Birmânia, foi despachada, com a 55 a Divisão, para
destruir os exércitos chineses, que voltavam à China, tidos como o principal inimigo.

A 33a Divisão japonesa tinha dois trabalhos. O primeiro era destruir o restante das forças britânicas que
recuavam para Kalewa; o segundo era perseguir as divisões chinesas restantes que haviam sido isoladas.
O 213o Regimento japonês, com um batalhão de artilharia de montanha, tomara Monywa. O 214 o regimento
avançava de Shwebo para Ye-u.

Do ponto de vista britânico, a situação se transformou numa corrida para Shwegyin entre eles e os japoneses.
Os britânicos estavam a braços com refugiados indianos, e eram muitos, que percorriam o mesmo caminho.
Era também uma corrida contra a chegada da monção, que poderia tornar as trilhas intransponíveis para
veículos e tanques.

A principal preocupação dos britânicos era salvar os tanques e, se possível, o restante dos canhões das duas
divisões e tantos homens quantos pudessem chegar. As baixas receberam prioridade, pois Alexander estava
decidido a não permitir que esses homens caíssem nas mãos dos japoneses que, naquele período da guerra,
estavam matando à baioneta a maioria dos prisioneiros, pois não queriam que estes atrapalhassem seu
avanço.

Alexander incutiu em Slim a idéia de que a retirada da área de Ye-u só se completaria quando o 5 o Exército
chinês, do General Sun Li-jen, tivesse chegado a Shwebo.

Slim tomou providências para cobrir-lhe a retirada. Ele mandou a 48 a Divisão tomar posição de ambos os
lados do Chindwin, para proteger uma barreira flutuante que os sapadores haviam construído no rio. O 213 o
Regimento japonês, que subia o Chindwin de barco, foi atacado por aviões da RAF vindos da Índia, mas isto
não o deteve. Ele continuou avançando. A 5 de maio aviões japoneses bombardearam e romperam a barreira
e, no dia 7, bombardearam Shwegyin.

No dia 9, um batalhão japonês desembarcou na margem leste do Chindwin, a 13 km abaixo de Shwegyin.


Uma companhia de gurkhas que acabara de chegar do sul os viu desembarcar à noite, mas nada fez, ainda
que armada de metralhadoras e morteiros. Seu moral estava no ponto mais baixo e, embora tivesse ordem
para interceptar os japoneses, a companhia desviou-se, para tentar reunir-se a seu batalhão. No caminho,
porém, morreu o comandante da companhia, que lutara o tempo todo, desde o rio Bilin.

Como as baterias dos rádios se haviam esgotado, não se enviou mensagem alguma à 1 a Divisão birmanesa,
em Shwegyin, sobre este desembarque japonês.

A 1a Divisão birmanesa atravessara o Chindwin e recebera ordens de Wavell para retirar-se para Tamu, onde
poderia ser adequadamente abastecida por rodovia e ferrovia da Índia.

A travessia que os britânicos faziam do Chindwin, em Shwegyin, estava em franco andamento e a 17 a


Divisão, com os tanques, começara a chegar.

Contudo, às 05h45 do dia 10, pequenos grupos de japoneses abriram fogo contra a posição defensiva de um
excelente regimento indiano, o Real Regimento Jat, que dava cobertura à travessia. Os japoneses
contornaram essa posição e ocuparam uma pequena elevação do terreno que dominava a bacia por onde se
realizava a evacuação pelo rio. Isto pôs a bacia de desembarque fora de ação, porque, a despeito dos contra-
ataques dirigidos contra eles, os japoneses não se deixaram desalojar. Mas os três barcos a vapor restantes
aproximaram-se, sob a proteção das altas margens, a uns 200 m a montante e evacuaram o resto dos doentes
e feridos.

Assim que o Major-General Cowan soube da chegada dos japoneses, despachou dois batalhões de gurkhas, o
1o/3o e o 1o/4o, cada qual com efetivos apenas de companhia, para proteger seu flanco sul. Ele também
deslocou o 2o/5o de gurkhas e um esquadrão do 7o de Hussardos em apoio. Um contra-ataque, desfechado à
tarde, fracassou; não se pôde usar muito a preponderância em tanques, a pressão japonesa aumentou e a
maior parte do seu 213o Regimento entrou em luta.

Cowan decidiu abandonar Shwegyin e recuar para Kaing, do outro lado de Kalewa. Como a trilha
atravessava pequenas mas íngremes colinas, todos os tanques, canhões, morteiros, transportes motorizados,
aparelhos de rádio e os estoques de equipamento restantes tiveram de ser destruídos. Às 05h os tanques,
canhões e morteiros começaram a disparar rapidamente o resto da sua munição, produzindo uma das mais
ferozes pequenas barragens da guerra. O autor, por acaso, estava do lado receptor desta e pode garantir isso.
Esta barragem impediu qualquer novo avanço japonês.
O restante da 17a Divisão atravessou com êxito em Kaing, sem seus canhões, tanques e transportes e sem que
os japoneses a perseguissem. Apenas um tanque atravessara antes. Este avançou em 1944 e voltou para
Rangum, onde havia desembarcado na Birmânia em dezembro de 1941.

A monção chegou alguns dias depois, pondo fim a praticamente todas as hostilidades, porque fez encher rios
e regatos.

Durante toda a luta Slim ficara ao lado de seu Corpo e por vezes deve ter ficado cansado com a maneira
como outros generais comandavam suas divisões e brigadas. Os dois esforços que fez por atacar haviam sido
frustrados pela retirada dos chineses, cujos pensamentos e esforços haviam sido atraídos pela retenção da
iniciativa pelos japoneses.

Na retirada, Slim cuidou para que o QG de seu Corpo atravessasse a salvo o Chindwin e, depois, retornou a
Shwegyin, onde observou o embarque final. No momento em que chegava, as primeiras patrulhas abriam
fogo e sua presença impediu qualquer manifestação de pânico. Ele permaneceu ali e encarregou-se de tudo
até que Cowan chegou de Ye-u.

Mas Slim nunca tivera, de fato, uma oportunidade. Ele assumiu o comando de duas divisões desconjuntadas
e que haviam sofrido derrotas em combate. Ele não tinha mais reforços; os japoneses dominavam o ar e
estavam equipados com excelentes barcaças de desembarque, com as quais podiam explorar as vias fluviais e
facilmente desenvolver os flancos das suas tropas.

Embora, nos estágios posteriores, os japoneses mobilizassem apenas um regimento para repelir suas
divisões, isto era o bastante, no estado em que se encontravam. Os batalhões birmaneses haviam
praticamente fracassado e não se podia confiar neles. Os três batalhões britânicos haviam sofrido o peso da
batalha, e só restavam uns poucos de seus melhores integrantes. Os batalhões indianos se mantinham firmes
na defesa, mas depois de mortos seus hábeis oficiais e praças graduados, que confiança poderia, merecer?
Até mesmo os gurkhas de Slim começaram a ceder, sob a tensão de uma retirada de 1.600 km, a que se
atribui a duvidosa distinção de ser a mais longa retirada de qualquer unidade do exército britânico. Os
britânicos gostam de glorificar as derrotas e desastres, mas é difícil encontrar-se nesta algo que se possa
elogiar.

A retirada durara três meses e meio e Slim comandou o Burcorps durante dois destes. As forças britânicas
sofreram 13.000 baixas, entre mortos, feridos e desaparecidos, além de quase todos os seus tanques, canhões
e veículos. Mas durante todo esse período sombrio, Slim, com seu hábito de visitar o maior número possível
de unidades até a chamada “linha de frente”, tornara-se reconhecido pelos soldados e identificado com eles.
Ele não ficava alheio, mas partilhava a sua angústia e as suas dificuldades. Mantinha-se tão a vontade com o
soldado britânico quanto com o indiano e o gurkha. Esta identificação com seus homens, somada a inúmeras
outras qualidades que possuía, foi seu grande feito. Foi isto que o tornou querido dos seus comandados e
compensou qualquer possível falta de brilhantismo e originalidade nas decisões tomadas. Ele era o
“buldogue” britânico, feio, mas seguro e obstinado.

Quando foi obrigado a deixar seu comando, em Imphal, aqueles a quem liderara pelas sombras da escuridão
o saudavam. Slim assim lhes respondeu: “Ser saudado pelos exaustos remanescentes daqueles a quem se
conduziu somente na derrota é infinitamente comovedor – e nos dá humildade”.

O XV Corpo e o Arakan

O Tenente-General N. M. S. Irwin, comandante do QG do 4 o Corpo, fora incumbido por Wavell, a 30 de


abril, do comando da área de Imphal, quando em retirada o derrotado Burcorps. Irwin levou a 23 a Divisão
para essa frente e dos remanescentes do Buircorps formou-se uma nova 17 a Divisão Ligeira, com duas
brigadas, ainda sob o comando de Cowan e composta, na maioria, de gurkhas. Irwin passou a comandar o
Exército Oriental e o Tenente-General Scoones, outro membro do 6 o de gurkhas ao tempo em que Slim era
seu Ajudante, assumiu o comando do 4o Corpo.

Slim foi nomeado Comandante do 15o Corpo, com o difícil mister de manter a lei e a ordem em Bengala,
onde havia um problema extremamente sério de segurança interna. Tendo a “Missão Cripps” prometido
independência à Índia após a guerra, o Partido do Congresso Indiano exigiu, a 14 de julho de 1942, a
imediata retirada de todo o domínio britânico da Índia. Gandhi, o Pandit Nehru e outros líderes importantes
foram presos por isso e ameaçados de deportação.

A Índia Oriental explodiu em cenas sem precedentes de distúrbios, rebelião e sabotagem. Registraram-se
mortes de soldados do exército britânico e da RAF, alguns queimados vivos, e muitas ferrovias e serviços de
comunicações foram pesadamente danificados.

Esses ataques verificaram-se em pontos estrategicamente importantes, indício da existência de planejamento


cuidadoso. Em determinado momento, pontes em todas as rodovias e ferrovias que iam da Índia para
Bengala e para a área em que o exército combatia os japoneses foram destruídas. Isto também fez que
entrasse em colapso a distribuição de arroz e outros alimentos, generalizando-se a fome na área de Bengala,
assoberbada por refugiados de guerra. Mais de 60 batalhões britânicos e indianos, além de unidades da RAF,
somando aproximadamente 100.000 homens, foram necessários, no verão de 1942, para esmagar a
insurreição e restaurar a ordem.

Normalizada a situação, houve maior disponibilidade de brigadas e Slim dedicou-se ao treinamento de suas
novas divisões, à luz do que aprendera na Birmânia. Ele estipulou que se deveria salientar sobretudo a
aptidão. Pequenas forças foram designadas por ele para o serviço de patrulha, passando a fazer parte do
programa de adestramento a natação, a técnica da travessia de rios e a abertura de trincheiras, a adequada
utilização de mulas, o sistema de defesa e o comportamento no ataque. Sobretudo, procurou treinar a mente
dos seus comandantes de modo que não se sentissem “isolados” e tivessem de recuar se uns poucos
japoneses aparecessem à sua retaguarda. Fez que todas as unidades, inclusive o serviço médico, treinassem
nas serras e se mantivessem prontas para defesa, porquanto os japoneses ignoravam completamente os
direitos dos não-combatentes. Outras formações também haviam chegado às mesmas conclusões, mas Slim
era incansável na tarefa de cuidar que seus memorandos sobre treinamento segundo essas diretrizes fossem
rigorosamente obedecidos. Enfatizou também o treinamento noturno, tristemente ausente nos currículos de
adestramento dos exércitos britânico e indiano em tempo de paz.

Wavell queria tomar a ofensiva contra os japoneses, mas a guerra fora adversa para os Aliados no Oriente
Médio nessa época (outono de 1942), o que fez que se transferissem tropas que lutavam na Índia para ajudar
as que se batiam naquele teatro de operações. Portanto, uma ofensiva para voltar à Birmânia Central não era
possível (à exceção das forças incursoras de Wingate), de modo que Wavell decidiu capturar a ilha Akyab, na
costa do Arakan. Se bem sucedido, isto reduziria a ameaça de um avanço japonês pela costa, na direção de
Assam e Bengala, e também daria uma base aérea para a RAF apoiar qualquer tentativa de penetração da
Birmânia. Mas o propósito principal desse empreendimento limitado era levar o exército indiano a uma
vitória qualquer, visando a restaurar seu moral e prestígio na Índia e na Grã-Bretanha, que nessa época
estavam muito baixos. Akyab, com sua pequena guarnição e suas limitadas comunicações com o resto da
Birmânia, parecia no ponto de ser tomada. A 17 de setembro, Wavell enviou instruções ao Comando
Oriental, mandando-o capturar Akyab e reocupar o Arakan.

A região que conduz a Akyab consiste de uma série de serras que correm no sentido norte-sul e são cortadas
por numerosos regatos e rios, com precipitação pluviométrica muito alta. Há dois caminhos principais para
Akyab, um pela costa e outro pelas margens do rio Mayu, separados pela estreita e íngreme serra de Mayu. A
única ligação entre esses dois caminhos se fazia por uma estrada que penetrava uma série de túneis sob a
serra, acerca de 70 km ao norte de Akyab. Toda a área era fortemente malárica.

Em dezembro, a 14a Divisão indiana, do Major-General Lloyd, composta de quatro brigadas, avançou contra
a guarnição japonesa, formada de dois batalhões. Os japoneses recuaram para Rathidaung e Donbaik, a
apenas alguns quilômetros ao norte de Akyab, atraindo os britânicos ainda mais para dentro da região
espantosamente difícil. Ali, durante quase um mês, Lloyd tentou mas não conseguiu penetrar as defesas
japonesas. Já então, os japoneses estavam recebendo reforços da Birmânia Central e a força de Lloyd foi
aumentada, primeiro para seis brigadas, depois para nove. Outros ataques contra as posições japonesas,
habilmente instaladas, fracassaram e, em março, os japoneses passaram à ofensiva. Expulsaram todas as
forças britânicas a leste do rio Mayu e aprontaram-se para destruir os britânicos na península de Mayu. Não
estando limitados às estradas, como os britânicos, eles conseguiram fazer isso quase que apenas por
manobras, isto é, não precisaram lutar muito.

Slim viu primeiro a 14a e, depois, a 26a Divisões serem retiradas do seu comando para fazer essa fracassada
ofensiva, porque Irwin, como Comandante do Exército Oriental, decidira dirigir a batalha pelo Arakan do seu
QG, em Barrackpore, Calcutá, sem um QG de Corpo intermediário comandado por Slim. Em março, porém,
Irwin mandou Slim visitar a frente do Arakan e informar sobre as condições ali vigentes. Já então Lloyd,
com nove brigadas, tanques e bastante artilharia, contra, no máximo, o equivalente a duas brigadas
japonesas, estava no seu ponto mais baixo.

Slim informou que a colocação de nove brigadas sob um comando divisionário era basicamente errado,
porque o controle se tornava impossível. Ele comunicou também que as táticas empregadas por essas
brigadas eram confusas e que lição alguma se extraía das operações do Burcorps durante a retirada. Na
verdade, as forças de Lloyd estavam repetindo os mesmos erros cometidos. O resultado dessa inépcia arriara
o moral dos oficiais e soldados a nível muito baixo.

O relatório de Slim, por inferência, era uma crítica a Irwin, seu comandante, que tentara dirigir a campanha a
500 km de distância do som dos canhões. Akyab parecera um alvo muito fácil.

A 5 de abril, após a remoção de Lloyd, a Slim e seu QG foi ordenado que se transferissem para Chittagong, a
fim de se prepararem para assumir o comando operacional, mas não o controle administrativo, o que era
muito curioso. Slim foi, dessa forma, metido em muito difícil situação. Não estava totalmente no comando e
tinha consigo apenas metade do seu QG, o qual treinara escrupulosamente. As nove brigadas à sua frente
eram comandadas pelo Major-General Lomax, cujo inexperiente 26 o QG Divisionário substituíra o de Lloyd.
Os japoneses continuavam envolvendo o flanco esquerdo das nove brigadas, duas das quais haviam sido
destruídas. As comunicações com a frente eram mínimas e a monção deveria começar quatro semanas
depois.

Contudo, após nove dias angustiantes, o Comando Oriental entregou toda a responsabilidade ao 15 o Corpo,
de Slim.

A situação não exigia do comandante brilhantismo especial, mas firmeza, calma e coragem – qualidades que
Slim possuía. Ele decidiu que durante a monção basearia suas tropas na linha Maungdaw-Túneis-
Buthidaung. Para poder retirar-se ordenadamente para essa linha, dispôs-se, primeiro, atacar os japoneses
com o maior número de homens que pudesse lançar naquela região difícil e mandou Lomax preparar-se para
o ataque.

Mas, como acontecera três vezes antes, ele agiu tarde demais e os japoneses, mais flexíveis, deslocaram-se
primeiro. Dez dias depois que Slim assumiu o comando, os japoneses lançaram um gancho pela direita
contra a área dos túneis.

Lomax tentou envolve-los, porém, embora em inferioridade numérica, os nipônicos conseguiram escapar
com facilidade da armadilha e ocuparam a área dos túneis 30 km mais próximo da base de Slim, em
Chittagong. O plano de Lomax se fora, e, coisa que se havia tornado comum nos primeiros anos de
operações nessa frente, ele não tinha número suficiente de oficiais e soldados treinados para cumprir suas
ordens. Os japoneses, a despeito dos reforços, ainda estavam em inferioridade numérica em mais de três para
um e não tinham blindados nem artilharia pesada.

A desmoralização era tal, que Slim pensou em retirar-se para Cox’s Bazar, em Assam. Ele achava que se
devia permitir que os japoneses ocupassem essa terrível área malárica e que seus soldados se abstivessem de
enfrentá-los na selva, onde seriam possivelmente vencidos por eles, que tinham maior mobilidade e arrojo.

Ele emitiu essa opinião por escrito, salientando a completa perda de moral das suas tropas. Irwin e Wavell
concordaram com ele, embora com relutância. A retirada começou a 11 de maio, mas a monção interveio e os
japoneses não os perseguiram.

A 26a Divisão, com suas três brigadas, permaneceu no Arakan durante a monção e as seis outras brigadas
foram retiradas para a Índia, para reaparelhagem.

A 15 de maio ocorreu um pequeno drama. Slim estava à mesa, com os membros mais importantes do seu
Estado-Maior, para jantar. A monção ainda não começara e Slim permanecia calado, deprimido por haver
participado de outra derrota. O Oficial-Chefe dos Sinaleiros chegou à mesa e entregou ao seu general uma
mensagem secreta e confidencial que, devido à sua natureza, ele próprio decifrara. Slim leu-a, contraiu os
músculos faciais, colocou a mensagem no bolso e continuou comendo.
Pouco depois, entregaram-lhe outra mensagem, “Altamente Secreta e Pessoal”, trazida pelo mesmo oficial.
Slim leu-a, relaxou um pouco e entregou as duas mensagens ao Chefe de seu Estado-Maior, dizendo: “Acho
que isto merece uma garrafa de vinho, ou coisa parecida, se tivermos”.

A primeira mensagem dizia: “O senhor foi demitido do comando. O senhor voltará a Calcutá, onde aguardará
novo posto”, assinado, Irwin, Tenente-General, Comandante do Exército. A segunda mensagem dizia:
“Cancele minha primeira mensagem. Fui demitido do comando e o senhor me substituirá, Parabéns”,
assinado, Irwin, Tenente-General.

Deste modo, Slim assumiu o comando do grupamento que se transformaria no famoso 14 o Exército.

Um novo exame da guerra

Tanto na retirada como no Arakan, as tropas britânicas foram paralisadas porque as forças japonesas, muito
menores, porém mais móveis, podiam por isso superá-las em manobras e fazê-las perder os transportes e
canhões dos quais dependiam.

Tudo isso mudaria de repente, quando aquele errático gênio militar, Orde Wingate, apareceu em cena como
um Djim e transformou a guerra do Pacífico.

Slim conhecera Wingate na Abissínia, quando ambos comandantes-de-brigada. Wingate conseguira uma
famosa vitória, ao levar à rendição, com 400 homens, na maioria guerrilheiros sudaneses e etíopes treinados
por ele, 12.000 italianos. Ele então entrara em triunfo, à frente dos seus etíopes, acompanhado do Imperador
Haile Selassié, na capital da Abissínia, Adis Abeba. Slim era então um comandante-de-brigada que perdera
sua primeira batalha.

A vez seguinte em que se encontraram foi quando Slim acabara de assumir o comando do Burcorps, em
Prome, no sul da Birmânia. Wingate conseguira uma entrevista com Slim, agora tenente-general e
comandante-de-corpo, durante a qual insistiu muito na sua teoria, de que a melhor resposta à penetração era a
contra-penetração; ele fora enviado pelo General Wavell, para ver se podia formar ou assumir o comando de
uma força de guerrilheiros na Birmânia. Wavell via em Wingate o remédio capaz de transfundir ânimo em
seus generais. E ele conseguiu o esperado por Wavell, ao expor as idéias originais que tinha sobre a guerra
que ali se travava. Nessa ocasião, Slim ponderou que acabara de assumir o comando, que as unidades que
tinha sob comando não tinham aprendido ainda a lutar a guerra ortodoxa, quanto mais a guerra de guerrilha,
e que não dispunha de tropas para empregar em, no seu entender, inúteis e desnecessárias ações diversivas.
Slim falava em grande parte baseado no compêndio da Escola de Estado-Maior. Ele fora incumbido de uma
tarefa espantosa, para a qual precisaria de todos os seus soldados, cujo número diminuía rapidamente. E por
certo não podia permitir que o último deles se apresentasse como voluntário para uma divisão que parecia
atraente, mas possivelmente inútil.

Wingate compreendia as dificuldades de Slim e, após mais alguns minutos de conversa em particular,
retornou a Maymyo, onde fez um extenso exame da situação, dirigido a Wavell, dizendo que, na verdade, era
tarde demais para criar brigadas de penetração na Birmânia, e que devia retornar à Índia, onde organizaria
uma força ofensiva para entrar em ação no ano seguinte.

Pelo restante de 1942, Wingate formou e treinou uma brigada de dois batalhões, um britânico e um gurkha.
De fevereiro a maio de 1943, esta força atravessou o Chindwin, na área de Imphal, marchou em média 2.400
km atrás das “linhas” japonesas e voltou após ter baixas de um terço dos seus efetivos.

Durante todo esse período, esta força foi abastecida e apoiada pelo ar. Assim, ela não só provou que os
japoneses não eram invencíveis, como também mostrou como neutralizar as táticas de penetração dos
japoneses que tanto contribuíram para destruir o moral do exército indiano. A longa série de derrotas de Slim,
devidas ao esquema tático empregado pelos nipônicos, poderia agora terminar. A glória da revolução técnica,
em pensamento militar, que mudaria a estratégia militar durante os trinta anos seguintes, deve caber a
Wingate que, uma vez apegado a uma idéia que considerava vencedora, levava-a a termo apesar de todas as
dificuldades.
O abastecimento aéreo não era novidade para os britânicos, que já o havia realizado ocasionalmente, quando
a situação o exigia, na Mesopotâmia e na fronteira noroeste da Índia, desde a guerra de 1914-1918. As
Companhias Independentes Australianas haviam-no ensaiado e praticado em 1941, antes das suas operações
nas ilhas de Timor, Nova Guiné e nas Salomão, estando bem desenvolvido em 1943. Os russos haviam usado
aviões para reabastecer seus guerrilheiros, como também os alemães, durante a captura de Creta. Mas
Wingate e seus seguidores haviam ido muito mais longe, confiando implicitamente no ar como o único meio
de abastecimento, com destacamentos de sinaleiros da RAF em terra (usando aparelhos de rádio da RAF,
transportados em dorso de mulas), que podiam falar com os pilotos, inspirar-lhes confiança e indicar o que
desejavam que se fizesse. O Comandante-de-Esquadrão (mais tarde Comandante-de-Ala) Sir Robert
Thompson ajudou a desenvolver essa estreita cooperação entre o exército e a força aérea, tanto naquela
época como mais tarde, e o Coronel Peter Lord foi a força-motriz do trabalho de organização da base de
abastecimento aéreo, mas ninguém teria levado essa idéia à consecução sem o estímulo e a energia de
Wingate.

A primeira operação de Wingate, estrategicamente foi bem sucedida apenas em parte, mas teve a virtude de
dar ao soldado que ali se batia mais confiança, mais moral. Se os batalhões de Wingate, que de início não
eram melhores que os existentes na Índia, podiam sobrepujar os japoneses, também eles poderiam fazê-lo.
Como diz a História Oficial: “O fato de os Chindits haverem penetrado no norte da Birmânia, danificado a
ferrovia, causado baixas e conseguido retornar, embora sem seu equipamento e seus animais, foi excelente
tônico e, em grande parte, compensou o fracasso no Arakan”.

Não há dúvida de que Wingate, a sua moda, teve efeito muito marcante sobre Slim, mais estereotipado como
general. Wingate estava sempre atraindo a atenção com algum grande golpe. Slim e seus homens aprenderam
com os rompantes de gênio de Wingate, e adaptaram as lições de suas campanhas aos seus papéis maiores,
mais essenciais, sérios e regulares.

Com um comprovado abastecimento aéreo e uma organização adequada de apoio aéreo, Slim podia agora
dar-se ao luxo de planejar e preparar uma ofensiva, sem o receio, no fundo, de sempre ter de conformar-se
com as envolventes táticas de penetração do inimigo.

Levantando o Moral

Wingate acompanhou Churchill à “Conferência de Quebec”, em agosto de 1943, onde a estrutura de


comando das forças aliadas foi completamente reorganizada e o Comando do Sudeste Asiático (SEAC) foi
criado, tendo à frente um comandante supremo. A escolha para o exercício do cargo recaiu na pessoa do
Vice-Almirante Lorde Louis Mountbatten, tendo sido vencida a indicação dos americanos, que optavam por
Wingate, pelos Chefes de Estado-Maior britânicos. Stilwell foi nomeado Subcomandante Supremo de
Mountbatten, e um Estado-Maior britânico-americano serviria sob o comando de ambos. Os comandos da
Índia e do Sudeste Asiático funcionariam separadamente. Todas as forças de terra a leste de Calcutá ficariam
sob o SEAC (South East Asia Command), e seriam formadas por elementos do 11 o Grupo de Exércitos, sob o
General Sir George Giffard, da África Oriental. O 14 o Exército, agora comandado por Slim, seria parte do
11o Grupo de Exércitos, e incluiria as divisões que se encontravam no Arakan, as da área de Imphal e,
também, a projetada nova força Chindit, quando esta entrasse na área de operações. Assim começou uma
bem sucedida parceria que durou quase dois anos, pois Giffard e Slim se respeitavam e tinham um pelo outro
muita simpatia.

A maneira óbvia de recapturar a Birmânia e destruir as forças japonesas que a dominavam seria tomar seu
único porto, Rangum, sem o qual as forças nipônicas “definhariam”. Esta possibilidade fora abandonada,
devido à falta de barcaças de desembarque, de modo que os planos para 1944; giraram em torno do interesse
americano na Birmânia - ou seja, como a única rota por onde uma linha de abastecimento poderia chegar à
China e, assim, impedi-la de sair de todo da guerra.

Deste modo, a “Conferência de Quebec” decidiu que o objetivo principal da ofensiva na Birmânia, em 1944,
seria abrir uma estrada e um oleoduto em Ledo, passando por Mogaung e Myitkyina, até Kunming. O
oleoduto abasteceria um grupo de bombardeiros americanos que atacariam alvos japoneses e esquadrões de
caça incumbidos de apoiar as forças chinesas no continente. Uma área ao sul, que compreendia Indaw, seria
defendida pelos Aliados para proteger esta rota para a China. O 14° Exército ajudaria, com uma ofensiva do
Imphal para Indaw. Mas a figura central do plano seria Wingate que, com uma força Chindit ampliada,
composta por seis brigadas de quatro batalhões cada uma, deveria cortar e manter cortadas as comunicações
entre o sul e as forças japonesas que enfrentavam Stilwell na estrada de Ledo e os chineses do rio Mekong, a
leste, até o momento em que essa área pudesse ser tomada por divisões regulares do 4 o Corpo.

Desta forma, Slim se limitaria, em 1944, a apoiar os Chindits, enquanto os chineses treinados pelos
americanos de Stilwell e os exércitos chineses em Kunming fariam o avanço. Stilwell foi colocado sob o
comando de Slim nesta ofensiva, mas sendo também subcomandante supremo, ele podia fazer o que bem
quisesse. Uma razão para que Slim recebesse papel tão limitado era que o Comando da Índia, sob
Auchinleck, de tal forma exagerara as dificuldades administrativas e de engenharia que o 14 o Exército
encontraria na penetração da Birmânia pelo leste, que Churchill e Roosevelt, com seus consultores, acharam
que não poderiam obter muita ação ofensiva do exército indiano. Auchinleck ainda não compreendera os
novos poderes, mobilidade e liberdade de ação que o abastecimento aéreo oferecia.

Os japoneses, contudo, também estavam pensando em ação ofensiva. A primeira operação Chindit mostrara-
lhes que suas comunicações eram agora vulneráveis a ataque pelas montanhas. Em junho de 1943, o
comando japonês na Birmânia realizou uma conferência para estudar a melhor maneira de defender a
Birmânia à luz das operações Chindits daquele ano. Na conferência ficou decidido que o melhor modo de
frustrar a ofensiva britânica, da qual havia muitas indicações, seria atacar e cortar as vulneráveis
comunicações do 4o Corpo, que se evidenciavam como um cacho de uvas pendente do Dimapur, no vale do
Brahmaputra. Eles poderiam então voltar-se e destruir as três divisões britânico-indianas baseadas na região
ImphaI-Kohima. Primeiro fariam um ataque diversivo no Arakan, para afastar as reservas do 14° Exército,
para, a seguir, lançar seu ataque no norte. Como resultado dessa conferência, o Exército de Área da Birmânia
também informou que um avanço para o centro de Assam estava além da capacidade do exército, naquele
momento.

Tóquio examinou todo o plano do ponto de vista político e militar. Os japoneses haviam formado a Liga
Nacional Indiana e o Exército Nacional Indiano (ENI) e adotado política agressiva para com a Índia, na
esperança de reforçar o formidável movimento de independência antibritânico, para que os britânicos se
vissem impossibilitados de usar a Índia como base de operações. O QG Imperial decidiu que faria dessa
ofensiva (que esperava pudesse compensar suas derrotas no Pacífico) um meio de provocar mais distúrbios
na Índia, através do ENI, que consistia de cerca de uma brigada de soldados efetivos. Também reforçou a
Birmânia com mais duas divisões e uma brigada independente.

O 14o Exército, de Slim, foi atraído para a campanha pela ofensiva nipônica. Os japoneses ainda
desprezavam os britânicos - forças indianas que, até então, sempre puderam derrotar com forças inferiores.
Desta vez eles próprios estavam excessivamente estendidos, pois não compreendiam todo o valor do
abastecimento e apoio aéreos. Sem perceber que a planície de Imphal era uma região adequada à ação dos
tanques, eles avançaram praticamente sem blindados, num esforço por destruir as forças britânicas de um só
golpe. Também dependiam da captura de suprimentos para se manterem, e suas linhas de comunicação eram
vulneráveis à penetração Chindit.

Slim estava preocupado primeiramente com a ofensiva dos japoneses no Arakan e, depois, com o ataque que
dirigiam contra Imphal Kohima. Seu objetivo seria perseguir os derrotados japoneses Birmânia adentro, após
ter conseguido os objetivos Mogaung-Myitkyina e depois que o oleoduto e a estrada para a China estivessem
abertos.

Em 1944 Slim estava com 53 anos, mas ainda era tão ativo e lépido quanto um homem vinte anos mais
moço; e a energia e atenção com que encarava questões como precauções antimaláricas e patrulhas haviam
revigorado todos os postos sob seu comando. Ele visitava o maior número possível de unidades e se tornava
conhecido.

O Lorde Mountbatten, que era excelente conhecedor de homens, sentiu que havia encontrado um vencedor
quando conheceu Slim. Ele próprio fizera demorada visita a todas as unidades do exército, marinha e força
aérea tão logo chegou, para ser visto e para sentir o estado de espírito dos oficiais e dos soldados. Ele os
encontrou atentos, mas frustrados.

Mountbatten transmitiu muito do seu conhecimento da soberania do comando a Slim e o aconselhou a adotar
o mesmo procedimento. Mountbatten fez, afinal, o que pôde para criar em torno de Slim uma atmosfera que
lhe fosse muito favorável, solicitando inclusive os préstimos de Frank Owen para redigir dois jornais das
forças armadas, cujo objetivo principal era identificar as unidades dispersas como forças unidas sob o
comando do 14o Exército, todas visando ao mesmo objetivo. O jornal do SEAC satirizava as dificuldades dos
soldados e os obrigava a rir de si mesmos, aliviando, assim, grande parte da tensão acumulada. Logo, todos
os homens, em todas as posições, passaram a aguardar com interesse os novos números do jornal: eles
mantinham cada esforço em perspectiva e, sobretudo, glorificavam os comandantes, especialmente Slim.

Slim compreendia perfeitamente a manobra e até ria-se disso, achando ridículo que de repente o houvessem
elevado à condição de herói. Mas todo homem poderoso deve ter um arguto bobo da corte que possa faze-lo
ver-se como os outros o vêem e manter seus pés plantados no chão, e o homem que assumiu este papel foi
Welchman, o Chefe de Artilharia de Slim, que o acompanhava desde os tempos de Gallabat e Prome. Ex-
campeão de natação, artilheiro, espirituoso, o Brigadeiro Welchman era provavelmente quem mais
contribuía, depois da mulher de Slim, para impedir que o exercício do alto cargo lhe viesse subir à cabeça e o
tornasse pomposo demais, o que afinal não sucederia, pois Slim era por natureza capaz de rir de si mesmo;
afinal de contas, ele não fora mestre-escola e jornalista, entre as guerras, por nada. Ele sempre tinha uma
opinião objetiva sobre uma situação, qualquer que fosse, e foi isso que o colocou acima dos seu
comandantes-de-corpo e de outros rivais para a obtenção do cargo.

Havia, contudo, uma fenda na armadura de Slim. Ele jamais pôde libertar-se do seu fraco pelos gurkhas e da
propensão desses magníficos soldados para um certo exagero. Ele nunca pôde ser rigoroso com os seus
generais gurkhas e os tratava com uma tolerância que não estendia aos demais, talvez por ver neles, apesar
de suas “travessuras”, os mais fiéis seguidores que encontrou tanto no 14 o Exército quanto no Q-G-Geral da
Índia, e por sentir que sempre podia recorrer a eles quando as coisas ficavam difíceis. Como dissemos, ele
teve a sorte de encontrar uma esposa leal, inteligente e sensata, a quem não hesitava em ouvir em momentos
delicados de sua vida, inclusive militar.

Slim era o homem talhado para estimular e elevar o moral de oficiais e soldados que lutavam na Birmânia.
Pois não participara ele, por dois anos, dos seus sofrimentos? Ele esperava, agora, poder prometer-lhes
tempos melhores, com superioridade aérea, boas rações, mais blindados e artilharia, estradas melhores,
reforços e licença.

Ofensiva japonesa
Pelo final de 1943, os japoneses tinham seis divisões na Birmânia (15 a, 18a, 31a, 33a e 56a) com a 53a Divisão
por chegar. Destas, a 55a Divisão seria lançada numa ofensiva diversiva no Arakan, e três divisões (15 a 31a e
33a) iriam com o ENI atacar Imphal e Kohima. Os japoneses também estavam preocupados com um
desembarque naval perto de Rangum, e colocaram suas brigadas de reserva no sul da Birmânia como
precaução contra essa possibilidade.

Seus efetivos aéreos haviam sido consideravelmente reduzidos pela retirada de unidades para reforçar as
depauperadas forças aéreas do Pacífico, passando os britânicos, diante disso, a contar com efetiva
superioridade aérea.

Para enfrentar este ataque de duas pontas, feito com quatro divisões (uma no Arakan e três em Imphal), Slim
de início tinha, - além da superioridade aérea, o 15 o Corpo (5a e 7a Divisões indianas e a 87a Divisão Oeste-
Africana) no Arakan e o 4o Corpo (17a, 20a, 23a Divisões indianas) na área de Imphal, além da 26 a Divisão e
da 254a Brigada de Tanques na reserva.

Slim também tinha, sob o comando de Stilwell, três divisões chinesas (22 a, 30a e 38a) na estrada de Ledo, no
norte, e em 1944 teria as seis brigadas das Forças Especiais (os Chindits) disponíveis para ação ofensiva
contra as comunicações japonesas.

Para completar o quadro, o 33o Corpo (2a britânica, 36a indiana e 5a Brigada de Pára-quedistas) estava na
reserva do 15o Grupo de Exércitos, com as 19a e 25a Divisões indianas, a 50a Brigada de Tanques e a 3a
Brigada de Serviços Especiais também disponível, como parte da reserva geral. No leste da Birmânia, dois
exércitos chineses estavam estacionados no Salween.

Por conseguinte, Slim dispunha de uma força formidável, mas encontrava dificuldades em aplicar seus
efetivos contra os japoneses devido à falta de boas estradas. Os japoneses também tinham a vantagem inicial
de estar em linhas internas, atrás de um obstáculo maciço, de modo que podiam mover facilmente divisões
de um setor para outro, enquanto que os Aliados tendiam a ficar retidos na periferia.
Mas, excluindo-se os chineses, na frente de Salween, e incluindo as reservas mantidas no Ceilão, os Aliados
dispunham de 15 divisões, duas brigadas de tanques e cerca de nove ou dez brigadas independentes para
enfrentar no máximo sete divisões japonesas e uma brigada mista na Birmânia.

Examinemos, porém, o teatro de operações do Arakan. Lembremo-nos de que Slim, quando comandava o
15o Corpo, teve de recuar para a área de Bawli Bazar - Cox's Bazar, deixando a linha Maungdaw (na costa) -
os Túneis e Buthidaung (no rio Mayu) para os japoneses. Estes haviam passado a estação da monção no
verão e outono de 1943 reforçando a linha. O Tenente-General Christison, que substituíra Slim no comando
do 15o Corpo, desenvolveu suas divisões, de modo que sua 5 a Divisão defendia a faixa costeira, a 7 a Divisão
estava sobre a serra de Mayu, no vale do Mayu e despachara a 81 a Divisão Oeste-Africana num amplo
movimento de flanco, descendo o rio Kaladan, mais a leste. O 25° de Dragões, um regimento de tanques,
também fora levado, em segredo, para a frente do Arakan. A prioridade máxima era a construção de estradas.

Durante os últimos meses de 1943, Christison avançara suas forças metodicamente pela península de Mayu,
de modo que em meados de janeiro de 1944 ele estava em condições de poder disparar uma ofensiva geral
contra os japoneses que defendiam a estrada Maungdaw-Buthidaung. Os japoneses, possivelmente para atrair
os britânicos mais ainda pela península abaixo, antecipando seu próprio contra-ataque, evacuou Maungdaw,
mas se mantiveram firmes na área dos Túneis no centro da linha. Slim deslocou a Divisão indiana para a
frente do Arakan, colocando-a na reserva naquela área.

O 143o Regimento japonês defendia a área dos Túneis, com um destacamento no rio Kalapanzin (Mayu),
diante da 7a Divisão indiana.

O General Giffard (11 o Grupo de Exércitos) estava concentrando o 15 o Corpo no Arakan para, se pudesse,
fazer um ataque à linha Maungdaw-Buthidaung em meados de janeiro de 1944, mas o 15 o Corpo já estava
atrasado.

A 5a Divisão indiana finalmente atacou Rabazil, a 26 de janeiro, mas, após quatro dias de luta intensa, não
avançou nada. A 30 de janeiro, Christison moveu sua artilharia média e seus tanques para o outro lado da
serra de Mayu, para juntar-se à 7a Divisão, a fim de lhe dar condições de prosseguir no ataque. A 2 de
fevereiro, antes de iniciar um giro pela frente do Arakan, ele visitou o QG de Slim. Como resultado do
exame a que procedeu, ordenou que a 36a Divisão britânica se concentrasse em Chittagong, atrás do 15 o
Corpo, mas com ordens para que não a movimentassem sem sua permissão. Por conseguinte, Slim dispunha
de cinco divisões na frente do Arakan.

A 3 de fevereiro, a 5 a Divisão defrontava os japoneses na área dos Túneis com suas três brigadas na linha.
Duas brigadas da 7a Divisão estavam espalhadas por uma distância de 16 km, desde o sopé da serra de Mayu
até o outro lado do rio Kalapanzin (Mayu). A terceira brigada, com tanques, encontrava-se pronta para atacar
Buthidaung. O QG do 15o Corpo ficava em Bawli Bazar.

Uma “Área Administrativa”, situada em Sinzweya, recebera gasolina, munição e suprimentos vários.

O Tenente-General Hanaya, Comandante da 55 a Divisão, fora encarregado da “Operação Ha-Go”, cujo


objetivo era, depois de cortar a comunicação da 7 a Divisão britânica, destruí-la e fazer o mesmo com a 5 a
Divisão, na faixa costeira. Para esta ofensiva Hanaya dispunha, além da guarnição de Akyab, de quatro
regimentos, cada um equivalente a uma brigada britânica. Ele não tinha blindados, artilharia média e
nenhuma unidade aérea. Sua artilharia era levada em dorso de animais.

Hanaya dividiu sua divisão em quatro partes. Dois batalhões deviam defender Akyab. (Nessa época, a 36 a
Divisâo britânica estava treinada em desembarques navais e se encontrava estacionada em Chittagong com
96 barcaças de desembarque). Um batalhão guardaria a costa da península de Mayu. Dois batalhões (a
coluna Doi) defenderiam os redutos situados entre o rio Kalapanzin e o mar. (Esta linha vinha sendo
submetida a sucessivos ataques pela 5a e 7a Divisões, com um regimento de tanques e artilharia média). Ele
usou seu regimento de reconhecimento para isolar os oeste-africanos no vale do Kaladan.

A principal força atacante da Hanaya consistiria de um regimento, reforçado por mais dois batalhões e um
regimento de sapadores, totalizando cerca de 5.000 homens. Colocados sob o comando do Major-General
Sakurai, ordenou-lhe Hanaya que passasse pelas linhas da 7 a Divisão indiana a leste do rio Kalapanzin e
tomasse Taung Bazar. Depois, deveria atravessar o rio, bloquear o Passo de Ngakyedauk, na área dos Túneis,
e destruir as formações britânicas (7 a Divisão) que estavam entre a serra de Mayu e o rio Kalapanzin. Ao
mesmo tempo, a coluna Doi atacaria do sul. Um grupo incursor da coluna Sakurai também atacaria e
destruiria a ponte de Briasco, cortando assim as comunicações rodoviárias com a 5 a Divisão.

A coluna Sakurai iniciou seu avanço às 23h de 3 de fevereiro, dirigindo-se para o norte, pela posição da 114 a
Brigada, que se encontrava muito dispersa, ignorando a retaguarda. A 114 a foi o único inimigo encontrado
antes de ela ocupar Taung Bazar, às 08h30 de 4 de fevereiro, depois de cobrir uma distância, em linha reta,
de 20 km, à noite e por terreno bastante difícil. Na névoa matinal seu corpo principal marchou em fileiras de
16 homens num grupo compacto, pelo centro de um largo vale, de mais ou menos 400 m, através das linhas
britânicas.

Uma hora após haver chegado a Taung Bazar, um batalhão da coluna atravessou o rio Kalapanzin, em barcos
capturados, cruzando-o também, mais tarde, dois outros batalhões. As tropas avançadas desses batalhões
encontraram-se com alguns soldados da 89a Brigada ainda naquela noite. Pelo meio-dia de 5 de fevereiro, os
cinco batalhões e o regimento de sapadores (que era uma unidade combatente) estavam já na outra margem
do rio.

Na manhã do dia seguinte, Sakurai mandou meio batalhão atravessar a serra de Mayu e tomar a ponte de
Briasco, cortando assim a estrada Bawli Bazar-Niaungdaw, atrás da 5 a Divisão. Um batalhão foi despachado
para tomar o passo de Ngakyedauk, por onde passava a estrada, recém-construída, que conectava a 5 a e 7a
Divisões. O restante da sua força recebeu ordens de ir para o sul, a fim de tomar Awlanbyin e Sinzweya,
onde se situava a área de administração britânica.

O movimento de penetração, executado com arrojo, surpreendeu por completo os britânicos, embora
algumas patrulhas de reconhecimento especial tivessem previsto esta operação, baseando-se em informações
que haviam recolhido. Suas advertências foram ignoradas. O QG da 114 a Brigada ouvira o ruído de homens e
animais movimentando-se na noite, mas julgou tratar-se de grupos de transporte de rações que se dirigiam
para a frente.

Quando o Major-General Messervy (Comandante da 7 a Divisão, que possuía considerável experiência de


batalha, pois estivera no Deserto Ocidental) ouviu, às 09h do dia 4, a notícia de que cerca de 800 japoneses
estavam avançando sobre Taung Bazar, ordenou que sua brigada de reserva (a 89 a) os localizasse e
destruísse.

Na noite do dia 4, Slim ordenou que se pusesse suprimento aéreo à disposição das duas divisões e que uma
brigada da 26a Divisão fosse posta à disposição de Christison.

Durante todo o dia 5, a 89a Brigada manteve-se firme, mas os tanques do 25 o de Dragões informaram ter
avistado grande número de inimigos marchando na direção da serra de Mayu. Slim, a ouvir isto, colocou o
restante da 26a Divisão sob o comando de Christison e ordenou que ela avançasse para Bawli Bazar o mais
breve possível. O General Giffard, que estava visitando Slim, ordenou a concentração de toda a 36 a Divisão
em Chittagong.

Pelo anoitecer do dia 5, portanto, as duas divisões avançadas (5 a e 7a) estavam ocupando suas posições.
Como haviam sido colocadas em regime de abastecimento aéreo, o corte das suas comunicações rodoviárias
não foi importante. Ao mesmo tempo, poderosos reforços das duas divisões estavam avançando, vindos do
norte.

Hanaya ordenou então que a coluna Doi atacasse para o norte com o maior número de homens possível, em
cooperação com o ataque a Sinzweya. Por conseguinte, um dos dois batalhões avançou vigorosamente para o
norte, no dia 6.

O controle de Sakurai sobre os batalhões da sua coluna estava fraquejando. Um estafeta que distribuía nova
relação de sinais de chamada e freqüências radiofônicas para substituir os comprometidos foi morto,
influindo o incidente na coordenação dos ataques feitos posteriormente por Sakurai.

O grupo destacado para atacar a ponte de Briasco atacou a área de administração da 5 a Divisão indiana e
causou alarma, confusão e baixas. Outro batalhão japonês atacou o QG da 7 a Divisão indiana, penetrando-lhe
o centro de comunicações. Quando afinal foram expulsos, todo o sistema de comunicações estava destruído e
os códigos, comprometidos. Messervy, agora incapaz de exercer o controle de suas tropas, ordenou que seu
QG destruísse papéis e equipamento de valor e recuasse, em pequenos grupos, para Sinzweya. A maioria dos
homens conseguiu fazer isto durante as 24 horas seguintes. Os japoneses também tomaram algumas das
posições de canhão de Messervy.

Contudo, os três comandantes-de-brigada da 7 a Divisão indiana decidiram, por conta própria, usar o QG da
33a Brigada como centro de informações e manter-se nas posições que ocupavam, dando prova de poder de
decisão diante de informes de pânico.

Christison, contudo, que supunha a 7 a Divisão totalmente vencida, ordenou que a 5 a Divisão, sob o Major-
General Evans, se deslocasse com suas três brigadas para Sinweya, do outro lado da serra de Mayu.

Neste estágio, no dia 6, Slim, que era mais experiente, disse a Christison que os japoneses só poderiam
manter aquele regimento na retaguarda das tropas avançadas por pouco tempo. Portanto, era essencial que as
duas divisões avançadas se mantivessem firmes, enquanto ele despachava a 26 a e a 36a Divisões para destruir
a força de penetração nipônica.

Na tarde do dia 6, Messervy apareceu na Área Administrativa em Sinzweya e tomou providências para
defendê-la. Enquanto a área fosse defendida, a ofensiva japonesa tinha de extinguir-se, pois os nipônicos,
para sustentá-la, precisavam dos suprimentos ali existentes.

A Área Administrativa resistiria de 6 a 24 de fevereiro, quando o passo de Ngakyedauk foi reaberto. Seus
defensores eram o Regimento West Yorkshire, dois esquadrões de tanques dos Dragões e algumas peças de
artilharia média e de montanha. Repetidamente o perímetro foi rompido e restaurado por contra-ataques. Mas
os japoneses tomaram o hospital e mataram médicos, enfermeiras e pacientes que ali se encontravam. A
maior parte do depósito de munição foi destruída por fogo da artilharia japonesa.

Em outro local, as brigadas resistiam em suas posições, enquanto que a 26 a Divisão, apoiada pela 36a,
avançava para o sul, contra violenta oposição de forças japonesas, pequenas mas experientes.

Os japoneses haviam esperado conseguir superioridade aérea temporária sobre o campo de batalha, para
impedir que o abastecimento aéreo pusesse termo a seus planos. Entre os dias 4 e 14 seus caças realizaram
cerca de 350 incursões e seus bombardeiros atacaram Bawli Bazar, a ponte de Briasco e Sinzweya. Eles
perderam 14 aparelhos, tendo causado danos, enquanto a RAF perdeu 11 caças. Portanto, as tentativas de
abastecimento feitas pela RAF, apesar das escoltas aéreas, foram perigosas,
tendo algumas delas, pelos riscos de que se cercaram, de ser abandonadas. Alguns aviões de abastecimento,
que tiveram de voar a 60 m de altitude para lançar com precisão os suprimentos que carregavam, foram
derrubados por fogo antiaéreo japonês.

Mas a partir do dia 9 a RAF conseguiu certa superioridade aérea e, a despeito de mais algumas perdas,
passou a fazer o abastecimento diariamente. Em cinco semanas, o Comando de Transporte de Tropas realizou
714 incursões e lançou 2.710 toneladas de suprimentos.

O apoio aéreo tático, por caças-bombardeiros, ajudou as forças de terra a repelir repetidos ataques da
infantaria japonesa.

A 10 de fevereiro, o General Giffard chegou à conclusão de que seria impossível atacar Akyab antes da
monção, de modo que, como mencionamos, liberou a 3a Divisão da sua função naval, entregando-a a
Christison, colocando a 25a Divisão no seu lugar, em Chittagong. A 26 a Divisão estava fazendo um cavalo de
batalha do seu avanço, pois, tão grande o medo dos prodígios de penetração feitos pelos nipônicos, enviou
numero excessivo de destacamentos para proteger suas linhas de comunicação.

No dia 16, o impaciente Slim, decidido a conquistar uma vitória, agora que dispunha de seis divisões,
ordenou a Christison que reiniciasse o avanço e desobstruísse a posição Túneis-Buthidaung. Recomendou-
lhe também que fizesse a 81a Divisão, que estava parada no Kaladan desperdiçando valiosas incursões de
abastecimento aéreo, avançar de modo a colocar sob ameaça a retaguarda japonesa.
No dia 13, Slim disse a Giffard que estava muito satisfeito com a maneira como a batalha se desenrolava. O
abastecimento aéreo, agora, funcionava bem. A 7 a e a 26a Divisões se haviam encontrado em Taung Bazar. As
brigadas avançadas da 7a Divisão defendiam suas posições (os japoneses tinham agora poucos homens para
atacá-las). A Área Administrativa estava sendo defendida e a 5 a Divisão destacara uma brigada de combate
para atacar o passo de Ngakyedauk.

Os japoneses tornaram a atacar a área no dia 14, mas devido a problemas de comunicação, os ataques, vindos
de direções diferentes, não foram coordenados, realizando-se aos bocados. Messervy decidiu colocar o resto
da 89a Brigada na área, pois sua guarnição dava sinais de cansaço.

No dia 23, o passo de Ngakyedauk já estava desobstruído e cerca de 500 feridos foram evacuados de
Sinzweya pela estrada, suspendendo-se o abastecimento aéreo da 7 a Divisão.

Slim ansiava por ver encerrados os acontecimentos no Arakan, pois tinha certeza de que este ataque era
apenas a preliminar de um grande ataque à frente do 4 o Corpo, na área de Imphal. Ele queria que a situação
fosse estabilizada, para que pelo menos duas divisões pudessem ser postas na reserva.

No dia 24, com a aprovação do QG de seu exército, o Tenente-General Hanaya abandonou a ofensiva “Ha-
Go”. O 112o Regimento já se havia posto em retirada, mesmo sem ordens, devido à total falta de alimento.

Este foi o fim. Os japoneses retiraram-se tranqüilamente. A batalha custara ao 15 o Corpo 3.560 baixas, mas
do ponto de vista japonês foi um esforço muito louvável. Uma divisão japonesa havia, por algum tempo,
lançado duas divisões em confusão, levando os britânicos a lançar contra ela seis divisões. A ofensiva “Ha-
Go” foi feita por 8.000 decididos soldados nipônicos, contra um total eventual de 180.000 soldados
britânicos, que incluíam 27 batalhões indianos, 17 britânicos, 7 oeste-africanos e 5 gurkhas, além de 26
regimentos de artilharia. Nem todos, porém, foram desenvolvidos ou lançados em ação. O Tenente-General
Hanaya, o Major-General Sakurai e apenas quatro coronéis foram combatidos por oito majores-generais
britânicos e 27 brigadeiros. Algumas vezes, toda a 5 a Divisão indiana esteve, em defesa de sua posição,
empenhada contra apenas um batalhão japonês.

Mas foi uma vitória importante para os britânicos e saudada como tal. Pela primeira vez era rechaçado por
forças das potências ocidentais um ataque nipônico feito em parte do continente asiático. Os australianos
haviam descoberto como fazer isto na Nova Guiné, 18 meses antes, mas eles compunham um grupo coeso e
que tinham confiança uns nos outros.

Na realidade, o triunfo pertenceu a Slim. Foi sobretudo a sua determinação que fez as divisões manterem-se
firmes diante do que parecia um desastre. Soldados indianos haviam lutado lado a lado com soldados
britânicos com certo êxito. As divisões tinham visto que podiam confiar no abastecimento aéreo e que não
precisariam recuar, se cortadas as suas comunicações rodoviárias.

Deu-se muita importância à vitória britânico-indiana no Arakan. Mountbatten divulgou uma ordem do dia
cumprimentando todas as forças envolvidas no acontecimento. Em seu livro Defeat into Victory, Slim
saudou-a como “o momento decisivo da campanha da Birmânia”. Diz ele: “Pela primeira vez, uma força
britânica enfrentou, resistiu e, afinal, desbaratou um grande ataque dos japoneses, para, em seguida, expulsá-
los das mais fortes posições naturais possíveis. Posições que levaram meses preparando e se mostraram
sempre decididos a defendê-las a todo custo”. (Isto se refere à captura da linha Maungdaw-Túneis-
Buthidaung, feita nos dias 19/21 de março, pela 5 a, 7a, 25a, e 26a Divisões, ajudadas pelo 44 o Comando dos
Fuzileiros Reais). “Os soldados britânicos e indianos mostraram-se, de homem para homem, superiores ao
melhor que os japoneses podiam lançar contra eles”. “Foi uma vitória sobre a qual não se pode discutir e a
repercussão que alcançou no seio dos soldados que a conquistaram como, também, sobre todo o 14 o Exército
foi imensa”.

A última sentença provavelmente é válida, mas a anterior, escrita na Austrália 12 anos após o acontecimento,
ainda soa como propaganda necessária, naquela época, para estimular o moral na Índia e no resto do 14 o
Exército. Na realidade, como todos os homens no Arakan sabiam, os japoneses estavam em inferioridade
numérica na proporção de pelo menos 10 para um, e os britânicos tinham esmagadora superioridade em
blindados, artilharia pesada e apoio aéreo.
Do ponto de vista japonês, como o Major-General Evans diz, na biografia que escreveu de Slim, “a despeito
de Hanaya não ter conseguido destruir a 5a e 7a Divisões, a “Ha-Go” conseguiu êxito num aspecto importante
- o General Slim se viu obrigado a lançar em combate suas reservas do Arakan, como o General Kawabe
esperava. Foi um empreendimento arrojado e corajoso, pois 8.000 japoneses mantiveram em xeque o 15 o
Corpo durante quase três semanas, embora por preço elevado. A conquista e manutenção da supremacia
aérea sobre o campo de batalha pelas forças aéreas aliadas, o abastecimento aéreo da 7 a Divisão, a afortunada
presença de tanques a leste da serra Mayu, a renovada combatividade dos soldados britânicos e indianos e a
impossibilidade de os nipônicos reabastecerem todas as suas unidades dispersas foram fatores decisivos na
derrota que o Japão experimentou”.

Slim ainda estava poupando suas divisões, contente por haver dado a pelo menos cinco delas a oportunidade
de receber o “batismo de sangue” numa batalha vitoriosa. E quando estréia vencendo, o guerreiro é, quase
sempre, mais guerreiro.

Imphal-Kohima
Lembremo-nos de que, do ponto de vista japonês, a ofensiva “Ha-Go”, no Arakan, fora apenas um engodo
feito para atrair as reservas das divisões de Slim antes do inicio do ataque de três divisões (a “Operação
Ugo”) contra o 4o Corpo, na área de Imphal. Slim, percebendo a estratégia dos nipônicos, ansiava por obter o
mais breve possível a liberação das reservas que havia provisoriamente cedido a Christison.

Mas Slim subestimara o potencial japonês. Ele considerava que, devido às dificuldades do terreno e à falta de
comunicações, os japoneses só poderiam lançar e manter três regimentos de uma só vez entre Kohima e a
área de Tiddim, com mais alguns regimentos na reserva.

O 4o Corpo, integrado pela 17 a, 20a e 23a Divisões, estava espalhado por ampla área, com as comunicações
rodoviárias até o terminal ferroviário, em Dimapur, numa extensão de 320 km, disposto paralelamente à
frente japonesa e sobre montanhas que alcançavam até 2.100 m de altura. Envidava-se grande esforço de
engenharia para melhorar essa estrada e construir novos aeródromos, hospitais e depósitos na planície de
Imphal. Mas pouco se fez por melhorar a trilha que corria, no sentido oeste, de Imphal a Silchar, no vale do
Assam, que teria sido uma linha de comunicações muito mais curta, mais fácil e menos vulnerável. Talvez o
Q-G-Geral temesse que um caminho direto para as planícies de Bengala propiciasse a qualquer invasor a
penetração da barreira de colinas.

O Tenente-General Scoones comandava o 4 o Corpo desde julho de 1942. A 17a Divisão participara de
pequenas ações de patrulha contra os japoneses nos últimos 18 meses. Sob a orientação de Scoones, ela
passara a desenvolver uma atitude muito cautelosa para com os japoneses, exagerando talvez o respeito pelo
adversário.

Scoones e Slim haviam servido juntos no 6 o dos gurkhas e, academicamente, Scoones era tido como melhor
general. Seus conceitos e opiniões eram cuidadosamente ponderados, em geral corretos. Slim respeitava sua
opinião. Eles trabalhavam em excelente harmonia, incumbindo-se Scoones da maior parte do trabalho
intelectual e Slim injetando estímulo e determinação no que tivesse de ser feito.

O 4o Corpo de Infantaria consistia de seis batalhões britânicos, 12 indianos e 11 gurkhas, mais alguns
batalhões birmaneses e do Assam anexados ao QG do Corpo. Mas esta infantaria era apoiada, na planície de
Imphal, por uma boa brigada de tanques e um regimento médio de artilharia que, se corretamente
desenvolvido, teria superado tudo que os japoneses pudessem utilizar. Infelizmente, às vésperas da batalha,
subestimara-se a quantidade de munição necessária, que por isso era sempre escassa. Devido à natureza da
região, havia um grande contingente de sapadores tanto no corpo como trabalhando nas estradas e
aeródromos. Os habitantes da área a leste do Chindwin, os nagas, que viviam ainda despidos, e os chins eram
amistosos para com as tropas aliadas e violentamente antinipônicos e foram organizados numa série muito
útil de recrutas que prestavam boas informações.

Na segunda quinzena de fevereiro de 1944, uma brigada de pára-quedistas, que seria usada como infantaria,
foi transferida para Kohima.

Assim, quando do início da ofensiva japonesa, Slim dispunha de três divisões de infantaria e uma brigada de
pára-quedistas na área Kohima-ImphaL-Tiddim, apoiadas por uma brigada de tanques e muita artilharia. Um
perigo era o grande número de sapadores e cantineiros na planície de Imphal. Além do QG do Corpo, havia
os enormes depósitos de suprimentos, munição e gasolina, hospitais e outras instalações do exército e da
força aérea. Os japoneses esperavam reabastecer-se nesses depósitos.

A RAF tinha seis pistas de pouso na planície, duas das quais podiam ser usadas o ano inteiro. Na área da
fortaleza, em torno do QG do Corpo e da RAF, havia 51.000 homens. Muitos deles mais tarde seriam
evacuados por via aérea, por serem bocas inúteis que precisavam ser alimentadas.

Ponderando sobre a defesa, Slim concluiu que tinha três caminhos a tomar. Ele podia, como no Arakan,
mandar que as três divisões defendessem suas posições, muito estendidas, enquanto eram abastecidas pelo ar,
para depois lançar um contra-ataque na direção de Dimapur com suas reservas de exército. Mas estas
divisões, brigadas e batalhões não se haviam adestrado na técnica do recebimento de suprimento aéreo, que
seria difícil, mas não impossível, nas colinas, e ainda não tinham plena confiança nesse sistema. Deixar as
divisões onde estavam significava que a organização de abastecimento e manutenção na planície de Imphal
seria muito vulnerável e era essencial que os suprimentos não caíssem em mãos japonesas. Além disso, as
tropas poderiam sentir-se isoladas, dada a extensão da área a ser defendida, havendo mais probabilidade de
ceder.

A segunda opção de Slim era tentar um contra-ataque antes que a ofensiva japonesa iniciasse. Com suas
tropas dispostas como estavam, destreinadas para atacar e com o moral bastante baixo, após dois anos nas
colinas maláricas, esta não era uma boa escolha. Seria melhor que essas tropas se mantivessem na defesa e
desgastassem o inimigo, que estaria muito longe da base, até que estivessem relativamente fortes para atacar.
Entretanto, com a chegada dos Chindits, transportados de avião para a Birmânia Central, ganhou o exército
uma forma de poder contra-atacar as comunicações japonesas.

A terceira possibilidade, que Slim escolheu, era concentrar-se na planície de Imphal, onde havia aeródromos,
suprimentos, reservas de munição e, sobretudo, tanques, e fazer dela uma fortaleza, defendendo-a até que os
japoneses se desgastassem. Um contra-ataque a partir de Assam viria em seu socorro. Era essencial que os
reforços fossem despachados de avião assim que liberados do Arakan, onde a ofensiva “Ha-Go” os retivera.
O perigo era que as divisões fossem incapazes de romper contato a tempo de recuar para a planície de Imphal
em boa ordem, mantendo-se capazes de lutar como unidades formadas. Além disso, uma vez iniciadas, as
retiradas afetam muito a estrutura dos exércitos, sendo difícil detê-la. Era exatamente nesse ponto que Slim
demonstraria toda a sua determinação, calma, autoconfiança, coragem e firmeza. De início, a batalha tática
teria de ser travada por Scoones e pela RAF enquanto Slim ficava nos flancos, dando a ajuda necessária.

O papel da RAF seria verdadeiramente critico. A Terceira Força Aérea Tática (FAT) fora formada a 18 de
dezembro de 1943, tendo o Marechal-do-Ar Baldwin no comando, e era responsável por todas as atividades
de lançamento de suprimentos na área do 14 o Exército durante a batalha de Imphal. A larga experiência
militar de Baldwin no exército e na força aérea o capacitava plenamente para manter a necessária cooperação
das unidades aéreas com o exército, e após a criação do Comando do Sudeste Asiático, ele trabalhou
estreitamente ligado a Slim. Durante dois anos eles viveram no mesmo rancho de oficiais e no transcurso
dessa convivência ele ajudou muito a Slim na resolução de questões referentes a procedimentos aéreos,
campo em que Slim não tinha muita experiência.

Em dezembro de 1943 ele tinha 23 esquadrões de caças e caças-bombardeiros sob seu comando e o volume
destes cresceu quando a luta em Imphal experimentou progressivo aumento de atividade, em março de 1944.

Como ilustração da relativa intensidade do esforço aéreo, que desempenhou papel tão saliente na defesa de
Imphal e na derrota subseqüente dos japoneses, estes realizaram 1.750 incursões aéreas entre 10 de março e
30 de julho. No mesmo período, os esquadrões de caças da 3 a FAT da RAF realizaram 18.660 incursões e os
esquadrões de caças da Força Aérea Americana, 10.800 incursões. A RAF perdeu 130 aviões e a Força Aérea
Americana, 40, destruídos ou desaparecidos.

Além das suas operações em Imphal, a 3a FAT também era responsável pelo abastecimento das forças
Chindits. Os primeiros grupamentos destas forças chegaram à Birmânia, de avião, na noite de 5/6 de março,
no momento em que três divisões japonesas se preparavam para atravessar o Chindwin, na direção contrária,
para atacar o 4o Corpo na área ImphaI-Tiddim. Slim era oficialmente responsável por essas forças e, também,
pelas três divisões chinesas sob Stilwell, que avançavam lentamente do nordeste de Assam para o sul pela
estrada de Ledo. Na prática, ele estava menos preocupado com elas do que com as tropas que defendiam as
frentes de Imphal e do Arakan e tinha dúvidas quanto à possibilidade de os Chindits levarem a cabo com
êxito o que lhes cabia fazer. Mais adiante examinaremos seu papel e o lugar de Slim nele. Entretanto, a
presença dos Chindits atrás da frente japonesa durante toda a luta em Imphal não deve ser esquecida.

Assim, os japoneses tinham três divisões e mais o duvidoso auxílio do Exército Nacional Indiano (com
efetivos equivalentes a uma brigada), para atacar três divisões britânico-indianas, uma brigada de tanques,
uma brigada de pára-quedistas e uma preponderância em artilharia. Os britânicos também dominavam o ar,
sobre a área, e estavam cercados de tribos amistosas nas colinas, cujos recrutas organizados podiam fornecer
boas informações.

Slim calculara que os japoneses, devido às dificuldades administrativas, só podiam lançar em combate três
regimentos para tal ofensiva. Contudo, quando chegaram, no começo de março, informes de que a 33 a
Divisão chegara ao vale do Kabaw, completo, com um regimento de tanques leves e dois regimentos de
artilharia pesada, o General Scoones sentiu que teria de rever seus planos de defesa.

O 4o Corpo estava espalhado por uma extensão de 280 km, desde Kohima, no norte, até o Forte White, no
sul, e de Imphal, no centro, até Sittaung, a 120 km para o leste, no rio Chindwin.

As duas brigadas da 17a Divisão estavam entre as colinas, na área de Tongzang-Tiddim, apoiadas por duas
brigadas da 23a Divisão, à retaguarda. A brigada restante da 23 a Divisão ficou na reserva, na planície de
Imphal. A 17a Divisão, durante seus dois anos de ocupação, construíra uma área administrativa, inclusive um
hospital, no Marco 109, que, a despeito da experiência no Arakan, não estava defendido.

A 20a Divisão encontrava-se baseada em Tamu, com posições avançadas de Sittaung ao rio Yu.

Na planície de Imphal, Scoones tinha a 37a Brigada da 23a Divisão e a 254a Brigada de Tanques na reserva.

A brigada de pára-quedistas fora despachada para Ukhrul, a fim de proteger o acesso a Kohima, e havia um
pequeno destacamento nas colinas de Jessami, a leste de Ukhrul, como proteção adicional.

O plano de ataque japonês dividia sua força em três grupos. No sul, a 33 a Divisão japonesa devia cercar a 17a
Divisão, de Cowan, cortando suas comunicações com Imphal, enquanto que uma coluna, sob o Major-
General Yamamoto, se dirigia para o norte, pela estrada Kalemyo-Tamu, e depois para oeste, na direção de
Palel e Imphal. Esta coluna, avançando por estradas, tinha a maior parte dos tanques e da artilharia pesada.

No centro, a 15a Divisão, após atravessar o Chindwin, deveria deslocar-se, ao sul de Ukhrul, por trilhas
existentes na selva, contra a estrada de Imphal imediatamente ao norte da planície de Imphal. A 31 a Divisão
devia cruzar o Chindwin, entre Tamanthi e Homalin, e avançar por sobre uma formidável cadeia de
montanhas para capturar Kohima.

A ofensiva no sul, pela 33a Divisão, devia começar uma semana antes das duas divisões à sua direita, para
afastar as reservas aliadas de Imphal e Kohima. Mutaguchi esperava que a 33 a Divisão indiana, com seus
tanques e blindados, abrisse uma comunicação rodoviária entre suas posições avançadas em Kalewa e
Kalemyo e a planície de Imphal dentro de três a quatro semanas, quando os suprimentos transportados pelas
duas divisões posicionadas ao norte deviam estar acabando. Ele também esperava reabastecer-se de
alimentos e gasolina nos depósitos que havia nas áreas da 17 a Divisão e de Imphal. Ele não pretendia gastar
muito tempo na eliminação da 17a, depois do que avançaria rapidamente para o norte, deixando para trás uma
pequena força de contenção, incluindo um batalhão do ENI, para sitiar seus remanescentes nas áreas Tiddirr-
Forte White, se necessário.

A 15a Divisão não estava com todos os seus efetivos quando a ofensiva começou; compunha-se apenas de
seis batalhões de infantaria e 18 canhões, tendo perdido um batalhão no combate ao desembarque aéreo
Chindit.

À parte a coluna de Yamamoto, com seus tanques e artilharia pesada, e a coluna e QG da reserva da 33 a
Divisão, as demais forças teriam de atravessar montanhas elevadas, através de trilhas abertas na selva, para
alcançar seus objetivos. Elas transportariam suprimentos e munição que dariam para três semanas, quando
então, segundo esperavam, a estrada Kalemyo-Tamu-Palel-Imphal estaria aberta para seus veículos de rodas.
Para esta empresa, instalaram-se depósitos de suprimentos ao longo do rio Chindwin e de trilhas que iam das
ferrovias da Birmânia Central até este rio.

O plano era ambicioso e arriscado, pois se não conseguissem alcançar seus objetivos, os japoneses estariam
perdidos. Mas nessa época os japoneses, principalmente “o vencedor de Cingapura”, Mutaguchi,
desprezavam de tal modo as divisões britânico-indianas que a idéia de fracasso nem sequer lhes passava pela
cabeça. No QG do Exército de Área da Birmânia não havia tanta confiança, especialmente na 5 a Divisão
Aérea japonesa, que previa abertamente o fracasso.

Durante longas horas Scoones conferenciou com Slim sobre os problemas que tinham pela frente. Decidiu-se
lutar e vencer a batalha na planície de Imphal, em torno dos seus depósitos de suprimentos. Para que isto
fosse possível, todas as bocas desnecessárias, incluindo os milhares de trabalhadores contratados para
construir as estradas e aeródromos, teriam de ser evacuadas.

A 17a e a 20a Divisões recuariam para a planície. Pretendia-se que a 17 a Divisão se desvencilhasse por
completo quando lhe fosse ordenado. Ela deixaria uma brigada na estrada de Tiddim, na entrada da planície,
e o QG e a outra brigada entrariam para a reserva do corpo. Os principais trechos da estrada seriam
demolidos durante a retirada.

A 20a Divisão, que agora estava voltada para o leste, disposta em ângulo reto com a linha de frente e com
suas linhas de comunicações bem protegidas, manteria sua posição na frente de Tamu, mas preparada para
retirar-se quando recebesse a ordem. Um dos seus objetivos seria evacuar ou destruir seus depósitos
administrativos em Moreh, tarefa que sempre prejudicava o moral da tropa.

A 23a Divisão também entraria para a reserva do Corpo, com responsabilidade especial de manter aberta a
estrada para Kohima. Assim, se tudo corresse bem, o 4 o Corpo teria uma divisão e meia de infantaria e a
brigada blindada como reserva móvel.

Slim também decidiu reforçar sua frente central, despachando uma divisão do Arakan por via aérea.

O exame crítico do plano, feito após o evento, não deixa dúvida de que era um bom plano. A dificuldade
seria para as divisões avançadas romperem contato e recuar, em caminhões, por uma precária rodovia de 160
km de comprimento, através de colinas cobertas de selva e paralela à frente. Mas a 17 a Divisão, cujo batismo
de fogo se verificara numa batalha travada no sul da Birmânia em 1942, era a mais experiente das divisões
neste tipo de operação, embora estivesse novamente atrapalhada por excesso de transportes motorizados e de
suprimentos estocados para ação ofensiva.

Tendo assistido ao começo da partida da 77a Brigada, por avião, para a Birmânia Central na noite de 5 de
março, Slim foi para o QG do 4 o Corpo, em Imphal. Ali, ele tornou a estudar com Scoones os planos
montados para enfrentar a esperada ofensiva japonesa. Slim, embora com relutância, concordou com o plano
de Scoones para a retirada da 17a e da 20a Divisões, desde que a ordem de retirada fosse dada pessoalmente
por Scoones ao comandante divisionário somente depois de certo de que a grande ofensiva começara. Depois
de haver feito tantas retiradas, Slim não queria mais uma, especialmente porque o exército indiano há anos
vinha, por causa disso, engordando a fama de grupamento de baixa confiabilidade, o que resultaria no fato de
a retirada da 17a Divisão ocorrer tarde demais.

Scoones organizou a defesa da planície de Imphal dispondo em torno das áreas administrativas, dos
depósitos de suprimento e aeródromos unidades capazes de resistir. Ele fora bastante sensato, procurando
transmitir a experiência adquirida no Arakan a todos os soldados de engenharia, artilharia do corpo,
batalhões de infantaria da reserva e regimentos da RAF sobre como se defenderem e nomeando comandante,
com pequeno Estado-Maior, para cada área. Mais tarde estes grupamentos de defesa foram reunidos no
interior de um perímetro central que cercava os mais importantes aeródromos e alguns depósitos de
suprimentos tiveram de ser abandonados. O trabalho de engenharia deslocou-se da construção de estradas
para o preparo de posições defensivas.

A 17a Divisão, de Cowan, ainda estava sob a antiga ordem de atacar Kalemyo, mas haviam-no informado da
possibilidade da sua retirada para Imphal, sem poder recorrer à ajuda da reserva do corpo.
Gracey, da 20a Divisão, embora ainda patrulhasse ofensivamente, pôs em execução seu plano de retirada de
todos os comandantes-de-brigada e oficiais de Estado-Maior, ficando apenas por se dar a ordem final de
retirada.

A 9 de março, uma patrulha gurkha, de dois homens, comunicou a travessia do rio Manipur por 2.000
japoneses, acompanhados de canhões e mulas, logo ao sul da área defendida de Tiddim-Forte White, mas a
informação não foi confirmada, permanecendo ignorada. Tongzang, na retaguarda da 17 a Divisão, foi
atacada, do leste, a 10 de março. Cowan reagiu apenas ligeiramente. Devemos lembrar-nos de que a divisão
estava na área havia 18 meses e de que muitos informes assustadores eram comprovadamente falsos.

Atrás da 20a Divisão, de Gracey, os japoneses também haviam infiltrado grande número de soldados, mas
seu primeiro ataque no vale do Kabaw, ao sul de Tamu, feito a 11 de março, foi repelido.

Já então Scoones estava convencido de que a ofensiva japonesa começara. No dia 13, ele deu a Cowan
permissão para retirar a 17 a Divisão para a planície de Imphal, e disse a Gracey que evacuasse todas as
unidades de sapadores e os trabalhadores antes da retirada da 20 a Divisão.

O bem elaborado plano de retirada de Gracey foi posto em vigor e, com pequenas dificuldades, funcionou.
No dia 21, toda a sua divisão já estava na outra margem do rio Yu e, nos dias seguintes, ele recuou para as
colinas de Shenam sem que qualquer unidade fosse isolada.

Cowan resolveu resistir por mais 24 horas além do momento em que deveria ordenar a retirada, o que se deu
às 05h do dia seguinte. Também ordenou que todos os suprimentos excedentes fossem destruídos. Ele não
havia prevenido a qualquer de seus comandantes que tal retirada podia ocorrer, de modo que a ordem os
surpreendeu por completo. Já então havia quatro obstáculos japoneses na longa e difícil linha de retirada da
divisão, com destacamentos e depósitos de suprimentos isolados entre esses obstáculos. A brigada de
retaguarda de Cowan defendia a vital ponte sobre o rio Manipur, para que a 17 a Divisão pudesse atravessá-lo,
mas Scoones foi obrigado a lançar em combate as reservas que tinha na planície de Imphal para desvencilhar
a 17a.

Era clara a necessidade de reforços. Giffard instruíra Slim a retirar algumas das suas divisões da frente do
Arakan, enquanto Mountbatten conseguia a concordância dos Chefes de Estado-Maior britânicos e
americanos e do fugidio Stilwell para retirar aviões americanos que faziam a rota para a China, sobre o
Himalaia, a fim de deslocarem a 5 a Divisão do Arakan para Imphal. No dia 20 de março, a primeira brigada
da 5a Divisão já se encontrava, levada de avião, na planície de Imphal. Scoones logo mandou um batalhão
para Kohima, conservando o restante na reserva.

O 33o Corpo, sob o Tenente-General Stopford, estava na reserva da frente do War Office e, após muitas idas e
vindas de altas patentes aliadas, finalmente decidiu-se que este e a 2 a Divisão britânica passariam para o
comando de Slim, para aliviar a pressão sobre Imphal. A 23 a Brigada PLA (Penetração de Longo Alcance)
(Chindit) ficaria sob o comando do 33 o Corpo e, mantendo-se a 14a Brigada PLA de prontidão para, se
necessário, ajudar. Wingate queixou-se vigorosamente da remoção de suas forças, destinadas a operações de
penetração ofensiva, para atividades que não lhe destinavam, e a 14 a Brigada acabou sendo-lhe devolvida.

A verdadeira preocupação de Slim era a longa e precária linha de comunicações com Kohima e, mais além,
com o terminal ferroviário, em Dimapur, onde havia 45.000 “soldados administrativos”, dos quais somente
500 sabiam atirar com fuzil. Se os japoneses desembocassem no vale do Brahmaputra, isolariam não só o 4 o
Corpo como também Stilwell, na frente do Ledo, e o enorme estabelecimento da força aérea e o hospital
existentes no nordeste de Assam. Nessa conjuntura, Stilwell dispôs-se a suspender sua ofensiva e despachar
uma divisão chinesa para ajudar os britânicos a sair das dificuldades em que se encontravam. Com os
reforços que havia recebido, Slim, em vez disso, mandou o 33 o Corpo, de Stopford, concentrar-se no terminal
ferroviário de Dimapur para defender e manter a estrada aberta até Kohima. Estas ordens foram executadas a
27 de março, quando a situação piorava em todas as frentes. Os elementos avançados da 2 a Divisão britânica
e a 23a Brigada PLA não puderam chegar antes de 2 de abril, mas a 29 de março a 31 a Divisão, de Sato, já
havia cortado a estrada entre Imphal e Kohima.

Agora, as quatro divisões e três brigadas do 4o Corpo estavam isoladas, pela estrada, do resto do exército. A
17a Divisão, contudo, compensara o lento começo de sua participação com a habilidade e a audácia com que
eliminou os obstáculos levantados em sua linha de retirada. No caminho, ela infligiu tantas baixas entre as
tropas comandadas por Yanagida, que este recomendou a Mutaguchi que se suspendesse a ofensiva.
Mutaguchi ficou tão irritado, que demitiu Yanagida imediatamente. A 4 de abril, a 17 a Divisão conseguiu
retirar quase todos os seus homens, mulas, armas e caminhões para a planície de Imphal, tendo realizado
ampla demolição na sua retaguarda, obstaculizando o avanço dos tanques e da artilharia média japonesa. A 5 a
Divisão estava chegando de avião, dando a Scoones, para enfrentar as três divisões nipônicas, a 17 a, a 20a, a
23a Divisões, a 5a Brigada de Pára-quedistas e uma brigada de tanques.

Os erros contidos no plano de defesa de Slim foram, primeiro: ele subestimara o vulto da ofensiva japonesa;
segundo: deveria ter dado a Scoones ordens mais incisivas sobre a retirada das suas divisões avançadas. Em
seu livro, Slim não foge à responsabilidade desses erros.

Era natural que os japoneses, com seu fanático espírito ofensivo e a despeito da forma quase criminosa com
que negligenciava as conseqüências administrativas dessa arremetida Índia adentro, distanciando-se de suas
bases cerca de 320 km, devessem dar as cartas e impor sua vontade às forças britânicas.

Numa batalha prolongada, porém, os japoneses estavam em desvantagem. Como tinham de usar simples
trilhas pelas cristas de montanhas de até 2.200 m de altura, as forças que faziam essas penetrações eram
levemente equipadas. Suas bases estavam muito distantes, do outro lado o Chindwin, sua artilharia era
relativamente reduzida e eles tinham de confiar na queda de Imphal para conseguir os suprimentos que iriam
necessitar, bem como da abertura de uma estrada para caminhões, de Kalewa, pela 33 a Divisão.

Enquanto Mutaguchi começava a afogar o 4 o Corpo, os Chindits estavam agarrando as 18a e 56a Divisões
japonesas que enfrentavam Stilwell e os exércitos chineses a leste. A questão agora estava em saber quem
apertaria mais forte. Tendo o domínio dos céus da Birmânia e com os aviões-transporte fornecidos por
Churchill e Roosevelt, as forças aliadas podiam continuar respirando, graças ao suprimento aéreo, até que os
japoneses tivessem de afrouxar seu domínio.

Mutaguchi deu às suas forças três semanas para alcançar seus objetivos. Ele subestimara flagrantemente a
resistência britânico-indiana e, também, as próprias dificuldades administrativas. Ele nem sequer adotara a
tradicional tática chinesa de deixar ao inimigo cercado uma saída para a retirada, a fim de o tentar a não
resistir demais. O 4o Corpo foi obrigado a resistir, e ao “vencedor de Cingapura” não ocorreu que, após mais
de dois anos de guerra, os soldados britânicos e indianos estariam inevitavelmente mais treinados e mais
experientes. Mutaguchi ainda procurava dar as cartas, mas o decidido Slim aguardava que as forças
japonesas fossem perdendo impulso e se esgotassem. Enquanto isso, ele reunia e desenvolvia reservas
descansadas.

No fim de março, parecia que toda a 31a Divisão japonesa estava avançando sobre Kohima e Dimapur. A 16 a
Brigada da 5a Divisão foi levada de avião para Dimapur. Slim despachou-a para Kohima, ponto-chave do
avanço japonês sobre Dimapur e para a ajuda a Imphal, por rodovia. O comandante da 161 a Brigada,
Brigadeiro Warren, imediatamente partiu para o combate ao inimigo.

Entrementes, o Tenente-General Stopford assumiu o comando da área quando seu 33 o Corpo começou a
chegar. A experiência de Stopford fora adquirida na Europa, e os métodos por ele adotados eram mais
adequados à guerra européia do que àquela que ali se travava. Ele também teve de treinar seu Estado-Maior,
ainda muito inexperiente. Slim a princípio o considerava muito lento e estereotipado, mas por força da
insistência de Slim, ele acabou por se tornar mais rápido e mais identificado com as peculiaridades daquela
frente.

Agindo com base no preconizado pela Escola de Estado-Maior, de “concentração no ponto vital”, Stopford
mandou a 161a Brigada de volta a Dimapur, a despeito dos protestos de Warren, apenas para mandá-la
novamente para Kohima, quando os japoneses atacaram alguns dias depois. Na verdade, as ordens da 31 a
Divisão eram para tomar Kohima e só avançar sobre Dimapur quando a estrada do sul estivesse aberta,
embora, naturalmente, Slim e Stopford não soubessem disso. Se Warren tivesse permanecido na área de
Kohima, provavelmente se venceria a batalha mais cedo e a estrada para Imphal teria sido aberta com mais
rapidez. Acontece que Kohima foi defendida graças ao heroísmo da sua pequena guarnição, que resistiu por
quase dois meses, até que Stopford conseguiu avançar em seu socorro.

Stopford desenvolveu sua 2a Divisão no vale do Brahmaputra, para proteger o sistema de comunicações de
área contra um possível ataque. Slim, porém, descontente com os métodos adotados por Stopford, a 8 de
abril demitiu-o dessa tarefa, designando a 3 a Brigada de Comando da costa do Arakan para realizá-la. Pouco
depois, uma coluna Chindit capturou um grupo de ordens de operações da 31 a Divisão que mostrava que
sobre o vale não pesava qualquer ameaça.

A 10 de abril, com a concordância de Giffard, Slim ordenou uma ofensiva geral. O 4 o Corpo, de Scoones,
ficou incumbido de reter a 33a Divisão japonesa ao sul de Imphal e, usando linhas internas, atacá-la, assim
como à 15a Divisão. Desse mesmo 4o Corpo deveria sair uma força para Ukhrul, a fim de cortar as
comunicações da 31a Divisão.

Stopford, cuja brigada avançada entrara em contato com a brigada de Warren, que pressionava Kohima,
deveria fazer desse local o ponto de partida para o ataque à 31 a Divisão, que obedeceria o seguinte plano:
parte da força seria colocada na área de Jessami-Charasom, atrás da 31 a Divisão, enquanto o grupo principal
dessa força iria atacar pela estrada de Imphal.

Stilwell devia prosseguir em seu avanço, descendo a estrada de Ledo sem se preocupar com sua retaguarda.
Os Chindits acelerariam as operações, para ajudar o avanço de Stilwell e para atrair reservas.

Havia aviões suficientes para permitir que as forças de Stilwell e os Chindits continuassem sendo abastecidos
pelo ar, bem como duas brigadas do 33 o Corpo e uma do 4o Corpo. O 4o Corpo podia recorrer aos seus
depósitos e aos suprimentos desembarcados de aviões. Os aviões-transporte continuariam evacuando todas as
bocas desnecessárias da planície de Imphal.

Esse conjunto de medidas deixou tudo preparado para os dois meses seguintes de operações.

Logo que o 33o Corpo começou a pôr-se em posição, e assim que Slim localizou todos os regimentos das três
divisões nipônicas que o enfrentavam, ele ordenou sem mais demora a ofensiva. Um bom método ofensivo
está em dar combate a todos os inimigos conhecidos e mantê-los na luta, para que não tenham tempo de
tentar outras manobras. Slim começou a procurar impor-se ao inimigo desde os momentos iniciais da
ofensiva, certo de que os japoneses, se as bases de suprimentos britânicas fossem defendidas, perderiam o
impulso e a iniciativa. Após dois anos e meio de campanhas fracassadas, Slim ainda conservava a esperança
de vir a tomar a iniciativa sobre o inimigo. A decisão foi exclusivamente sua, que ainda tinha de funcionar
como força-motriz dos seus dois corpos, de Stilwell e dos Chindits, que se mostravam hesitantes após a
morte do seu líder. A 2a Divisão britânica não tivera nenhuma experiência anterior na guerra na selva e não
fora especificamente treinada para isto. Alguns generais do 4 o Corpo não podiam ser criticados, se pareciam
um pouco cautelosos quando novamente em confronto com tão determinado quanto selvagem adversário.
Mas Slim daí por diante não os deixaria em paz, e os levaria a ir mais decididamente atacar o inimigo onde
quer que se encontrasse.

A força total que Slim desenvolvera contra as três divisões de Mutaguchi, que começavam a ficar sem
suprimentos, equivalia a quase nove divisões, mas a despeito do abastecimento aéreo, ainda era difícil lança-
las todas em combate.

Na planície de Imphal, os japoneses tentavam pressionar por todos os lados. A 33 a Divisão estava atacando a
17a Divisão, que havia passado a cobrir a trilha Imphal-Silchar, caminho para a planície de Bengala, a oeste.
A 20a Divisão ainda se encontrava nas colinas de Shenam, entre Tamu e a planície de Imphal, e resistia
valentemente ao 213o Regimento de Infantaria, de Yamamoto, apoiado por seu regimento de tanques e sua
artilharia média, trazida de Kalemyo. Scoones recebera ordens de tomar Ukhrul e, para tanto, lançou a 5 a e a
23a Divisões, mas elas estavam encontrando dificuldade para ganhar, por trilhas isoladas, as altas colinas, e
contra a resistência da 15a Divisão japonesa.

O principal problema de Scoones era o abastecimento. A escala de rações fora reduzida. Scoones solicitou
que os aviões de abastecimento operassem dia e noite e o Marechal-do-Ar Baldwin, agora encarregado dessa
operação, fez o melhor que pôde para atendê-lo, dentro dos limitados recursos que possuía. Scoones ainda
tinha o equivalente a mais de cinco divisões para enfrentar as duas que o atacavam, e superioridade aérea
esmagadora, o que lhe dava a certeza de que suas tropas não cederiam.
Slim vinha sendo pressionado para “ajudar” Imphal, mas ele achava mais importante derrotar o inimigo.
Assim, insistiu para que seus dois corpos realizassem os movimentos de cerco através de Jessami e Ukhrul.
Os japoneses poderiam retirar-se no começo da monção, mas Slim desejava que eles se retirassem
derrotados, e não como, naturalmente, pretendiam.
Já não havia mais dúvida quanto à queda de Kohima, dada a forte pressão que sobre ela fazia a 2 a Divisão, de
Stopford, que, aprendendo a arte da guerra na selva, verificou que tinha caminhões demais e outros
apêndices desnecessários nesse tipo de guerra. Quando preparam efetivos para guerra, os oficiais de Estado-
Maior raramente levam em conta se haverá estradas suficientes para se usar todos os veículos que julgam
necessários à formação. Eles se esquecem de que a marcha a pé, com uns poucos caminhões para transportar
suprimentos, é extraordinariamente rápida, como os japoneses demonstraram tantas vezes, e que após certo
ponto, os caminhões atrapalham mais do que ajudam.

Contudo, não se podia esperar que os soldados aliados se nivelassem aos japoneses em fanatismo e vocação
para a morte. Disse John Masters, em seu livro The Road past Mandalay, que os japoneses poderiam quase
todos ter sido agraciados com a “Victoria Cross” ou com a “Medalha de Honra do Congresso”, se julgados
por padrões britânicos e americanos. Por conseguinte, os Aliados tiveram de lançar o máximo da sua
superioridade técnica para superar o espírito kamikaze dos nipônicos. Ataques aéreos de apoio, maciços e
cerrados, e prolongado bombardeio de artilharia pesada e morteiros estavam sempre na ordem do dia. Os
tanques tinham de ser guinchados para serem posicionados de forma a que seus canhões pudessem destruir
uma posição de Bunker japonesa que poderia deter o avanço de 500 soldados de infantaria. Tratores eram
usados juntamente com tanques e artilharia média para que eles pudessem ser postos em posições de onde
poderiam assestar seus canhões nessa dificílima região montanhosa e coberta de selva.

Slim manteve-se rigorosamente fiel ao plano que tinha em mira, isto é, transformar toda a ofensividade do
soldado japonês em veneno que os destruísse. Os japoneses estavam a 160 km ou mais das suas bases. Os
Chindits haviam cortado duas das suas três linhas de comunicações e, enquanto atacassem, os japoneses
gastariam munição e gasolina e não teriam tempo de reunir alimentos.

Stopford mandou que a 23a Brigada de Penetração de Longo Alcance, de Perowne, avançasse sobre Ukhrul,
para flanquear os japoneses. Stopford agora corria, enquanto Scoones continuava resistindo, com suas 5 a e
23a Divisões tendo avançado pouco para Ukhrul.

O 4o Corpo, de Scoones, foi alvo de certa crítica do Estado-Maior-Geral, em Londres, por causa da sua
aparente letargia. Isto evidenciou-se na mensagem que Mountbatten mandou a Giffard perguntando “quando
pode iniciar sua ofensiva para o norte” (partindo da planície de Imphal). Giffard apoiava a estratégia de Slim.
Scoones trocou a 23a Divisão, de Roberts, pela 20a Divisão, de Gracey, na esperança de que esta conseguisse
melhor resultado quando despachada para Ukhrul.

Mutaguchi ordenou que o General Sato fizesse outro ataque, juntamente com a 15 a Divisão, mas Sato,
carente de munição e suprimentos, com seus homens curtindo fome e com o flanco ameaçado, ignorou a
ordem e começou a recuar para o Chindwin. Por isto, foi, em junho, demitido do comando. Yanagida, da 33 a
Divisão, fora demitido em maio e Yamaguchi, que comandava a I5a Divisão, foi demitido quase que junto
com Sato. A demissão em massa de comandantes divisionários, determinada por Mutaguchi, ação sem
precedentes, ajudou a acelerar o declínio do moral das suas tropas.

O avanço sobre Ukhrul foi atrasado por violentas tempestades. A brigada de Perowne, espalhada em colunas,
foi detida pelo mau tempo e por pequenos bolsões de resistência. A 20 a Divisão, de Gracey, embora operando
ao longo de uma estrada levemente pavimentada e que não era tão vulnerável ao tempo chuvoso, também foi
detida.

A 2a Divisão, de Grover, abrira caminho, lutando, pela estrada de Imphal, desde Kohima, e a 22 de junho
deu-se a junção dos dois corpos no Marco miliário 109, logo ao norte da planície de Imphal. Stopford
avançara até 11 km de Kohima, porém Scoones só conseguira avançar pouco mais de 15 km colina acima, na
saída da planície. Isto resultou em recriminações entre os dois corpos; parecia que Scoones não avançara
para o norte com vigor suficiente e esperara, “como uma donzela atada a uma árvore, que um cavaleiro a
salvasse”, como disse um oficial do 33o Corpo.

Contudo, a tentativa feita pelos britânicos de cercar a 15 a e a 31a Divisões pela captura de Ukhrul fracassara.
Estas duas divisões, compreendendo a importância de Ukhrul, lutaram obstinadamente para manter esse
corredor aberto até que suas esgotadas divisões passaram. De 3 até 7 de julho, os japoneses haviam resistido
vigorosamente na área de Ukhrul. A resistência organizada cessou no dia 8 e a 23 a Brigada e a 20a Divisão se
reuniram. Foi-lhes então ordenado que perseguissem vigorosamente o inimigo, que recuava para o
Chindwin. Mas, como diz a História Oficial: “Não havia necessidade de executar a sugestão de Giffard, de
levar a perseguição até o Chindwin, pois grande parte dos homens da 15 a e 31a Divisões que haviam
sobrevivido à batalha (Kohima-Imphal) foi encontrada morta ou moribunda, vitimada por doença e exaustão.
Corpos, canhões, veículos e equipamento jaziam no atoleiro em que se haviam transformado as trilhas de
Ukhrul. Eram cenas de horror que despertavam pena, pois era evidente que muitos deles, dobrados pela
doença, pelos ferimentos e pela fome, haviam caído na lama mole que enchia valas e buracos e nela se
afogado”.

Assim, quando a monção começou, terminou a grande ofensiva “U-Go”, a chamada “Marcha sobre Délhi”.

Ela fora uma tarefa administrativamente impossível para os japoneses, que passaram a depender da inação do
4o Corpo para que pudessem abastecer-se em seus depósitos de suprimentos. Como, porém, foi montado
forte esquema defensivo em torno desses depósitos e dos aeródromos que lhes traziam ajuda, a ofensiva
japonesa estava condenada, desde que se mantivesse de pé o moral da tropa que com ela teria de se chocar.
Slim sempre compreendera isto, tanto que se esforçou por manter o moral não só dos seus homens mas
também dos seus esgotados comandantes-de-corpo e divisionários, exortando-os sempre a lançar-se à
batalha. Estando ele próprio lutando em condições iguais, não tinha dificuldade em identificar seus
problemas, de modo que não se tratava apenas de uma exortação vinda de cima quando os conclamava à luta.
Ele sempre liderara da linha de ataque, e não da lateral, portando-se como um símbolo da determinação, da
resolução, da coragem, da resistência e da energia.

Slim vencera sua maior batalha. Dos quase 100.000 homens com que Mutaguchi iniciou a ofensiva “U-Go”,
perderam-se 53.000, 30.000 dos quais morreram. A maioria dos que escaparam, ou se encontravam
desnutridos, ou feridos ou portavam doença contraída na região. As duas divisões norte, com suas
comunicações precárias, sofreram o pior, e as 15 a e 31a Divisões japonesas podiam ser riscadas como
unidades combatentes até que pudessem ser reaparelhadas e obter reforços. A 33 a Divisão, baseada em
estradas, recuou em melhor ordem, mas ainda era hostilizada pela RAF, que a acompanhava inexoravelmente
pelas estradas e provavelmente causou quase tantos danos a seus veículos e equipamento quanto as divisões
de infantaria tinham feito.

Slim calculou que as perdas japonesas, incluindo o Arakan, atingiam a 90.000 homens, o que parece
grandemente exagerado, a julgar pela resistência que conseguiram fazer, mais tarde, na campanha. Contudo,
os historiadores japoneses têm admitido repetidamente que aquela foi a maior derrota terrestre até hoje
sofrida pelos nipônicos, só superada pela reconquista americana das Filipinas e pela incursão russa na
Manchúria, bem no final da guerra. As perdas do 14 o Exército, incluindo o Arakan, foram de 24.000 homens,
ou seja, 4.000 em Kohima, 12.000 em Imphal e os 8.000 restantes durante o avanço do 33 o Corpo, e no
Arakan.

Por duas vezes Slim subestimou a força do ataque, no Arakan e em Imphal. Mas em cada caso, com a grande
ajuda e cooperação de seus superiores, Giffard e Mountbatten, e das sempre dispostas forças aéreas, que não
cessavam de apoiar a quem quisesse lutar, ele pôde recorrer imediatamente a grandes reforços, que, quando
desenvolvidos de modo adequado, podiam esmagar o inimigo pelo peso dos números, dos blindados e do
poder de fogo.

Slim conseguiu seu objetivo declarado: deixar os japoneses dar com a cabeça contra a parede quando
estivessem longe das suas bases, de modo que ele pudesse derrotá-los em terreno por eles próprios escolhido.
O fato de se terem os japoneses saído muito melhor do que ele esperava, não fez, no entanto, que ele
perdesse a calma nos momentos críticos. Assim é que, ignorando o clamor por mais ação e os gritos de
alarma dos políticos e civis britânicos indianos, manteve-se firme no caminho já traçado.

A primeira vitória que conquistou, no Arakan, deu-lhe muito mais confiança em si, o que lhe permitiu
superar com firmeza a ameaça, muito maior, em Imphal. Seus longos anos de derrota haviam terminado. Ele
agora podia olhar confiante para o futuro.

O Plano “Blackpool”
Uma vez delineada a participação de Slim nas batalhas do Arakan e de Imphal, voltemos atrás para um
rápido exame da atuação dos Chindits e das forças de Stilwell, que também estavam sob seu comando-geral.
De acordo com o estabelecido em Quebec, os Chindits de Wingate deviam operar ao sul da linha Mogaung-
Myitkyina e cortar todas as comunicações das 18 a e 56a Divisões japonesas, que defrontavam os exércitos
sino-americanos.

Após haver cedido a 23a Brigada ao 33o Corpo, Wingate ficou com cinco brigadas, cada qual integrada por
quatro batalhões, sob seu comando. Uma destas, a 16 a Brigada, entrou na Birmânia a pé, enquanto que as
demais chegaram de avião, a partir da noite de 5 de março. Pelo final de março, elas haviam colocado um
obstáculo quase inexpugnável sobre as principais linhas de comunicação dos nipônicos, ao norte. Um
destacamento da 77a Brigada, mais tarde chamado Força Morris, bloqueara a estrada Bhamo-Myitkyina, e
privando também os nipônicos do tráfego pelo rio Irrawaddy. A ferrovia Mandalay-Myitkyina foi igualmente
cortada. Uma formidável posição defensiva ficou estabelecida na “White City”, na ferrovia, como um pote
de mel, para mais aguçar a ofensividade do soldado nipônico. Travou-se ali violenta luta, de 6 a 18 de abril,
na qual a força atacante, composta de seis batalhõees, foi virtualmente destruída com sua artilharia.

Wingate não viu o sucesso obtido, colhido que fora pela morte, num desastre aéreo, a 24 de março; uma
grande tragédia, sem dúvida, para o exército britânico. Slim escolheu para substituí-lo o Comandante-de-
Brigada Lentaigne, assumindo John Masters o comando da 111 a Brigada, de Lentaigne.

Os japoneses haviam sido quase que completamente surpreendidos pelos desembarques. Após a primeira
operação Chindit, eles esperavam idêntica incursão, mas, como Slim, seu Comandante-de-Área subestimara
seus possíveis efetivos. Durante algum tempo os japoneses permaneceram na ignorância do vulto da força
Chindit, em virtude do que despachavam apenas batalhões contra ela, que foram sendo batidos um por um.
Ao todo, onze batalhões entraram em luta com os Chindits e foram por eles derrotados durante esse período.
Estes batalhões saíram principalmente das unidades que protegiam a costa da Birmânia contra possíveis
desembarques navais, pois assim que perceberam o tamanho dos desembarques Chindits, os japoneses
souberam que Mountbatten não se podia dar ao luxo de desembarcar na costa naquela estação, tampouco
pelo ar no norte da Birmânia. Um batalhão foi retirado de cada uma das divisões que enfrentavam os
chineses e da 15a Divisão, em Imphal.

O papel de Slim nesses acontecimentos foi ambivalente. Ele não se entusiasmara com a operação Chindit e
em grande parte o planejamento para a sua formação se fez sem o seu conhecimento. Deveu-se à insistência
de Mountbatten para que se realizasse a operação e à exigência inabalável de Stilwell para que se cumprisse
a promessa feita pelos britânicos em Quebec - a vinda dos Chindits de avião. Slim, infelizmente, sempre
desfavorável a essas operações no norte da Birmânia, tendia a depreciá-las. Era até certo ponto natural que
ele se ressentisse da presença de um comandante como Wingate operando na sua frente, porque
incomodavam a seus generais a independência e singularidade com que Wingate combatia o inimigo, embora
reconhecesse Slim que ele muito fizera, com seus sucessos, em favor do moral do 14° Exército. Mas havia
também alguns efeitos contraproducentes sobre o moral dos homens do 4 o Corpo, que se julgavam
esquecidos após terem defendido a linha por dois anos inteiros. Wingate agira quase que independentemente
do 14° Exército, embora Slim tivesse de refreá-lo mais de uma vez; com Lentaigne, um companheiro gurkha,
no comando, Slim achava que podia exercer melhor controle.

Por outro lado, uma vez realizada a operação, Slim apoiou os Chindits, que haviam perdido seu líder, o
tempo todo, e estimulou Lentaigne como sucessor de Wingate. Embora tivesse necessidade premente de
aviões, ele jamais permitiu que os Chindits ficassem sem eles e manteve obstinadamente a promessa feita a
Stilwell de que os Chindits seriam lançados no apoio do avanço que faria no norte, e não seriam desviados
para apoiar o 4o Corpo em Imphal.

Pouco antes de sua morte, Wingate sugerira a Slim que desviasse todo o seu esforço para oeste, a fim de
cortar as comunicações sobre o Chindwin, guarnecendo as margens leste do rio atrás de Mutaguchi. Slim,
embora atraído pela idéia, recusou-a por dois motivos. Primeiro, ele achava que a região seca, sem água e
aberta desde Kalewa até o sul, era inadequada para operações Chindits; segundo, ele não podia fugir à
palavra empenhada a Stilwell e ao que ficara decidido na “Conferência de Quebec”, de que o objetivo
principal da temporada de 1944 era abrir caminho para a China. Wingate, que estava decidido a não perder o
domínio sobre as comunicações japonesas com o norte da Birmânia, observou que Stilwell parara seu avanço
e que os chineses na frente de Salween estavam inertes, devido à ameaça japonesa às suas comunicações
rodoviária e aérea no vale do Assam. Pouco adiantava, disse ele, cortar as comunicações de uma força que se
podia manter perfeitamente sem elas, por lhe ser possível viver das suas reservas e de produtos locais.
Mas Slim permaneceu inflexível. Os britânicos haviam prometido cortar e manter cortadas estas
comunicações com o norte, e a promessa seria cumprida. Dois dias depois Wingate morria.

Esta foi uma decisão leal, corajosa e honrosa por parte de Slim, que deveria sentir-se extremamente tentado a
aliviar a pressão sobre suas tropas em Imphal. A decisão pode ter sido também influenciada pelo fato de Slim
não querer dever aos Chindits a vitória sobre os japoneses, a qual esperava conseguir. Agora que tinha o 33 o
Corpo sob seu comando, a vitória seria certa, porque os japoneses não poderiam suportar por muito tempo a
falta de suprimentos.

Mesmo assim, embora o papel principal dos Chindits fosse ajudar a força sino-americana a avançar para
Mogaung e Myitkyina e abrir caminho para a China, suas operações também ajudaram muito o 4 o Corpo a
resistir ao ataque japonês.

A 111a Brigada, que operava ao sul de Indaw, e a 14 a Brigada, que desembarcara em Aberdeen, haviam
cortado as comunicações terrestres das 31 a e 15a Divisões japonesas, que atacavam Kohima e o norte de
Imphal. Também destruíram depósitos a leste do Chindwin e isolaram grande quantidade de transportes entre
Homalin e Indaw, destruindo várias pontes atrás deles. Do ponto de vista aéreo, a invasão Chindit atraiu
metade do esforço da 5a Divisão Aérea japonesa, que deixou seus transportes do outro lado do Chindwin
excessivamente faltos de apoio.

Em abril, a invasão teria um efeito ainda mais sério. Mutaguchi vinha dependendo da 53 a Divisão, que havia
chegado à Birmânia, como reserva para ajudá-lo a tomar Imphal. O Exército de Áréa da Birmânia, porém,
desviou toda a 53a Divisão para eliminar as forças aeroterrestres. Mutaguchi queixou-se, mais tarde: “Se eu
tivesse apenas um regimento da 53a Divisão, poderia ter tomado Imphal e aberto o caminho para o vale do
Assam”.

Em maio houve importante mudança no plano dos Chindits. Lentaigne acreditava, erroneamente, que
suprimentos estavam sendo infiltrados entre os obstáculos em “Aberdeen”, “White City” e “Broadway”,
onde, de qualquer modo, as pistas de pouso logo seriam inundadas pela monção iminente. Por isso, ele
decidiu mudar sua área de operaçõees para o norte. A esgotada 16 a Brigada foi retirada de avião e as outras
forças dirigiram-se para Myitkyina, Mogaung e o lago Indawggyu, com a 111 a Brigada formando novo bloco
em “Blackpool”.

Stilwell era radicalmente contrário a este plano, por considerá-lo conflitante com os acordos feitos na
“Conferência de Quebec”. Ele temia que toda essa manobra acabasse permitindo que reforços japoneses
chegassem a Mogaung-Myitkyina (o que aconteceu). Por isso, queria que os Chindits continuassem operando
na área que conheciam e dominavam, proibindo-os de imiscuir-se no planejamento da batalha tática,
dominado que estava pelos efeitos que uma retirada pudesse ter sobre o moral dos birmaneses. Ele dispunha
dos “Incursores de Merrill” para penetrações de curta distância e apresentou vigorosamente suas objeções a
Mountbatten, Slim e aos Chefes de Estado-Maior em Washington.

Slim instruiu Lentaigne no sentido de tentar convencer Stilwell, mas este foi ignorado. Mountbatten levou
Slim, que estava ocupado com as inferências da batalha de Imphal, a avistar-se com Stilwell. Com seu tato e
sua simpatia funcionando a pleno vapor, e confiando na antiga amizade que os unia e na identidade de
propósitos que mantinham, Slim conseguiu convencer Stilwell de que o plano de Lentaigne assentava em
necessidades logísticas. Como anódino, ele ofereceu-se para colocar toda a força Chindit, formada de cinco
brigadas, à disposição de Stilwell e sob seu comando. Isto causaria mais dificuldades, posteriormente, porque
Stilwell não sabia bem o que eles já haviam feito, nem conhecia a capacidade daquele grupamento. Slim, a
despeito de tentar compreender e de apoiar os Chindits, jamais gostou do seu papel e dos métodos de
operação por eles adotados e ficou satisfeito em ter menos uma formação com que se preocupar. Stilwell
concordou com o plano “Blackpool” e em assumir o comando dos Chindits.

As brigadas Chindits restantes logo se envolveriam em luta muito intensa com a 53 a Divisão, que entrou
diretamente em ação contra elas tão logo chegou à Birmânia, despachando um só batalhão para ajudar
Mutaguchi no Chindwin. A 111 a Brigada foi forçada a evacuar o obstáculo “Blackpool”, após infligir e
receber pesadas baixas. A 77a Brigada, de Calvert, atacou para o norte, sofrendo aproximadamente 1.000
baixas em três semanas de luta na lamacenta monção, antes de capturar Mogaung. Um regimento da 38 a
Divisão chinesa, de Stilwell, juntou-se à luta no último instante, de modo que os Aliados entraram em
Mogaung, juntos, a 25 de junho. Esta foi a primeira cidade da Birmânia a ser recapturada. Os efetivos de
combate da 77a Brigada estavam agora reduzidos a pouco mais de 300 homens.

Nesse meio tempo, Stilwell vinha avançando lentamente, por meio de uma série de ganchos em torno dos
regimentos da 18a Divisão, que o enfrentava. Estes ganchos eram realizados pelos “Incursores de Merrill”,
que haviam treinado com os Chindits e eram a única unidade de terra totalmente americana existente no
continente asiático. O grupamento americano era de excelente qualidade, mas Stilwell, forçado pelas
circunstâncias, usou-o repetidamente, até que, em agosto, estava acabado. Os “Incursores” foram lançados
num último golpe, brilhante em seu planejamento e execução, no qual marcharam sobre as acidentadas
colinas e tomaram o aeródromo em Myitkyina, numa forma de “salto entre ilhas” em terra tão sonhado por
Wingate. Uma divisão chinesa foi levada imediatamente de avião para lá, mas não antes que 3.000 japoneses
se entrincheirassem numa posição praticamente inexpugnável, na cidade de Myitkyina, de onde só foram
varridos após dois meses e meio de luta, e por 30.000 soldados aliados.

Finalmente, em agosto, quando Myitkyina caiu e os chineses se deslocaram para o sul de Mogaung, a
campanha no norte se aproximava do término. A partir de julho, os Chindits começaram a ser retirados de
avião, sendo substituídos pela 36a Divisão britânica, também levada de avião do Arakan. Somente as mulas
dos Chindits ficaram ali, para ajudar a 36 a Divisão a descer a ferrovia. Os exércitos chineses, no Salween,
fizeram afinal um ataque maciço e arrastaram a enfraquecida 56 a Divisão japonesa para o sul de Bhamo. Em
setembro, os objetivos da “Conferência de Quebec” haviam sido alcançados. Mogaung e Myitkyina, além de
uma área ao sul delas, estavam em mãos aliadas e em pouco o oleoduto e a estrada para a China foram
abertos. O aeródromo de Myitkyina podia ser usado como posto de parada e a perigosa rota para a China
sobre o Himalaia, embora ainda usada, podia seguir um caminho de vôo menos difícil.

Além disso, os Aliados estavam também firmemente instalados na planície do Irrawaddy, enquanto a 36 a
Divisão britânica descia na direção de Indaw e da capital de verão de Maymyo, onde se situava o QG do
Exército de Área da Birmânia. Na frente central, Kalemyo, no Chindwin, a base da ofensiva “U-Go”, só
cairia a 13 de novembro, de modo que a ofensiva setentrional de Stilwell-Chindit conseguira atravessar as
montanhas, passando a constituir séria ameaça ao flanco direito e à retaguarda de Mutaguchi muito antes que
o 14° Exército tivesse atravessado o Chindwin.

A operação sino-americana-Chindit derrubara a pedra angular da defesa japonesa, mas isto não aconteceu
sem que se registrasse atrito no alto comando, talvez porque os atritos sejam inerentes a toda e qualquer
tarefa que tenha de ser bem feita...

A reconquista da Birmânia
A 3 de junho, aproximadamente três semanas antes da queda de Mogaung e Myitkyina, e da reunião dos 33 o
e 4o Corpos, Mountbatten recebeu uma diretiva dos Chefes de Estado-Maior Combinados, em Washington,
salientando que o grande objetivo da campanha da Birmânia era abrir uma rota segura através da qual
pudessem ser levados suprimentos para a China.

Isto significava que o objetivo principal de Mountbatten não era necessariamente a conquista da Birmânia,
mas a abertura de um oleoduto de Ledo, em Assam, para a China. Ele não receberia nenhuma barcaça de
desembarque, sendo obrigado a usar da melhor maneira o que possuía.

Na frente de Imphal, Mountbatten queria que o 11° Grupo de Exércitos, de Giffard, prosseguisse no avanço,
após ajudar Imphal, para arrastar o inimigo para a outra margem do Chindwin. A 9 de junho Giffard recebeu
ordens de eliminar o inimigo da margem oeste do Chindwin e fazer cabeças-de-ponte do outro lado, antes
que a monção parasse, em setembro. Ele receberia mais duas divisões, a 19 a indiana e a 11a leste-africana,
mas perderia a 36a Divisão britânica para Stilwell, a fim de substituir os Chindits.

Giffard transmitiu suas ordens a Slim que, por certo, não pretendia dar trégua aos japoneses e ordenou a
Stopford e a Scoones que perseguissem as 15 a e 31a Divisões japonesas com suas nove divisões e, se
possível, destruíssem as duas divisões nipônicas antes que elas chegassem ao Chindwin.

Os japoneses, por sua vez, já estavam convencidos de que a ofensiva “U-Go” fracassara. Mutaguchi ordenou
que seu I5° Exército recuasse para a serra Zibyu Taugdan, entre o Chindwin e a ferrovia central. Contudo, ele
ainda queria que sua 33a Divisão, que estava mais bem equipada, defendesse um flanco sul que ia da serra
Zibyu Taugdan até Kalewa e Kalemyo, cobrindo o vale do Gangaw.

A 31 de julho, a 23a Divisão, depois de recapturar Tamu, aproximava-se do Chindwin; a 20 a Divisão avançara
lentamente, sobre terreno difícil, para Homalin; a 5 a Divisão substituíra a 17a que, embora esgotada pela luta,
avançava ao longo da estrada de Tiddim, contra pouca resistência, e a Divisão Leste-Africana se concentrava
em Imphal.

Após a ajuda a Imphal, Slim, sem deixar que suas forças descansassem para tomar fôlego, reorganizou suas
divisões de modo que as divisões descansadas pudessem prosseguir na perseguição. O QG do 4 o Corpo, de
Scoones, e as 17a e 20a Divisões, que haviam defendido a linha durante dois anos, retiravam-se para a Índia,
a fim de serem reequipadas. A 50 a Brigada de Pára-Quedistas também foi retirada, para ser usada em outro
local. Infelizmente Slim não gostava de qualquer forma de operação de pára-quedistas e não só estes não
tiveram qualquer oportunidade na sua frente. Slim mudou seu QG para Imphal. Ele mandou que o 33 o Corpo,
sob Stopford, continuasse perseguindo a 33a Divisão japonesa, para o sul, com a 2 a Divisão britânica, a 5a e a
20a indianas e a 11a leste-africana, que agora formavam seu corpo.

Mountbatten mandara Stilwell limpar a área ao sul de Mogaung Myitkyina, até Katha Bhamo, com o
objetivo de tirar partido dessa penetração na planície do Irrawaddy para formar uma linha de Kalewa a
Lashio.

Ele queria que os 4o e 33o Corpos atravessassem o Chindwin, ganhassem a área de Ye-U e Shwebo,
deslocando-se dali para Mandalay. A esta manobra denominaram “Operação Capital”. Mountbatten desejava
ardentemente fosse feito um desembarque para capturar Rangum e, assim, encaixotar os exércitos japoneses
na Birmânia, mas ainda não dispunha de barcaças de desembarque suficientes. Todavia, determinou que os
planejadores começassem a trabalhar esta operação, à qual deu o nome de “Drácula”.

Giffard queria que Slim re-despertasse o moribundo teatro do Arakan, para tentar a tomada de Akyab,
objetivo que vinha há muito escapando à captura.

Devido a divergências de opinião entre os Chefes de Estado-Maior americanos e britânicos, só depois que
Churchill e Roosevelt, por fim, se reuniram com seus Chefes de Estado-Maior, na “Conferência Octágorio”,
realizada em Quebec nos dias 11 a 16 de setembro, é que Mountbatten recebeu as determinações que deveria
dar cumprimento. Em primeiro lugar, garantir a segurança da rota aérea de abastecimento existente para a
China, incluindo o ponto de parada em Myitkyina, e também abrir uma rota terrestre e, depois, lutar pela
recaptura da Birmânia o mais breve possível. A “Operação Capital” foi aprovada, pois o ajudaria a alcançar
seu primeiro objetivo, a proteção da rota aérea para a China e a abertura de uma rota terrestre. A “Drácula”
também foi aprovada, mas deveria ser cumprida, se possível, antes de 15 de março de 1945. Se não pudesse
ser montada antes da monção de 1945, a “Operação Capital” deveria ser explorada ao máximo possível para
conquistar a Birmânia por terra.

Estas ordens foram transmitidas a Slim até onde eram pertinentes. Enquanto isso, ele exortava Stopford a
recapturar os pontos de travessia sobre o Chindwin em Kalewa e Sittaung. Também ordenou a perseguição
do inimigo pela estrada de Tiddim, sobretudo porque, assim procedendo, ele poderia ampliar a frente do seu
ataque e confundir os japoneses quanto ao seu objetivo imediato, que era Kalewa.

Mas isto ocorreu no auge da monção, quando era mais fácil dar ordens do que cumpri-las. Doenças de toda
sorte dizimavam os soldados, por mais que se tomassem precauções. O transbordamento de rios e regatos
detinha o avanço e destruíam pontes, algumas vezes atrás das tropas avançadas. Deslizamentos de terra
bloqueavam estradas e, até, jogavam encosta abaixo trilhas e pistas de rolamento de tráfego e de
deslocamento de tropa. Os aviões não podiam fazer reabastecimento entre as montanhas envoltas em nuvens.
As mulas e jipes com tração nas quatro rodas e correntes nos pneus eram as únicas formas de transporte que
podiam vencer a lama. A 36a Divisão japonesa, embora solapada por doenças e falta de suprimentos, ainda
conseguiu opor obstinada resistência ao movimento dessas quatro divisões, que muitas vezes só podiam
avançar numa frente da largura de um jipe.

Assim, somente a 13 de novembro, quando a monção acabou, é que a 11 a Divisão leste-africana e a 5 a


Divisão se encontraram, em Kalemyo. Entretanto, cruzara-se o Chindwin em Mawlaik e Sittaung,
aumentando a frente, e a 2 de dezembro Kalewa caiu e uma “Ponte Bailey” flutuante, de 345 m, foi esticada
sobre o Chindwin. Uma estrada para o norte foi aberta no coração do norte da Birmânia, pelo Natal, quando
então o tempo estava seco.

As forças japonesas já haviam sido reorganizadas em três exércitos. Mutaguchi fora demitido. O 33°
Exército, voltado para o norte e formado pelas maltratadas 18 a e 56a Divisões, ainda enfrentava os chineses
de Stilwell, os exércitos chineses de Yunnan de Salween e a 36 a Divisão britânica, na longa linha de Lashio a
Mandalay. O 15o Exército, com os remanescentes das 15 a e 31a Divisões, a 33a Divisão, que se encontra
melhor equipada que as outras, e a 53 a Divisão, que fora muito maltratada em “Blackpool” e Mogaung,
enfrentavam o 33o Corpo, de Stopford, ao longo da linha do Irrawaddy, desde Mandalay até Pakkoku, com
uma divisão na reserva, em Meiktila. O 28° Exército, formado pela 55 a Divisão, que defendera Akyab tão
habilmente, e a 54a Divisão mais um regimento, defendia o Arakan e a costa, até Rangum e o delta do
Irrawaddy, com algumas reservas na área petrolífera de Yenangyaung. As duas divisões restantes, que
constituíam a reserva do Exército de Área, eram mantidas móveis na área da ferrovia Rangum-Mandalay, de
modo que pudessem ser deslocadas rapidamente para qualquer frente ameaçada. Agora que os Aliados
detinham a iniciativa, os japoneses, por sua vez, viram-se obrigados a espalhar suas forças sobre esta frente
de 1.600 km de largura. Todas as suas divisões haviam sido seriamente maltratadas e os reforços, novo
equipamento e suprimentos enviados do distante Japão, tendo de atravessar o Pacífico Sul, dominado pelos
americanos, eram parcos.

Após sua experiência com os Chindits, todos os exércitos e o Exército de Área da Birmânia mantiveram
consideráveis reservas, para o caso de ocorrerem outros ataques aeroterrestres.

A despeito das ordens para que fossem capturados certos objetivos identificados, tal como Mandalay, Slim
manteve-se fiel à crença de que o grande objetivo seria quebrar o exército nipônico, depois do que, tudo o
mais se seguiria. Ele não se deixaria hipnotizar pelos nomes de cidades, mas perseguiria, cercaria e destruiria
o inimigo onde quer que estivesse. Era agora um comandante-de-exército muito confiante e maduro que
enfrentava seus superiores. Slim ganhara imensamente em estatura e autoconfiança, porque as vitórias
alcançadas no Arakan e Imphal deveram-se à firmeza com que agiu na condução das batalhas que ali foram
travadas.

Mas o esforço de Slim era agora seriamente limitado por problemas administrativos. A distância do terminal
ferroviário de Assam, em Dimapur, ao novo terminal ferroviário de Shwebo, na Birmânia, era de 640 km,
que atravessavam algumas das piores regiões do mundo. Sua primeira tarefa teve de ser a transformação
dessa rota numa estrada que pudesse ser utilizada em qualquer estação, ou ele seria surpreendido sem
comunicações na planície da Birmânia na monção seguinte.

O fino cordão umbilical com a Índia limitaria o vulto das suas operações e o número de divisões que poderia
desenvolver, a menos que fosse bem apoiado pelo abastecimento aéreo. Ele calculou que poderia
desenvolver no máximo quatro divisões e meia, incluindo duas brigadas de tanques, para operações na
planície da Birmânia. A vantagem da captura de Akyab e das ilhas Ramree, ao largo da costa do Arakan, é
que essas ilhas proporcionariam excelentes bases aéreas para abastecer a Birmânia Central, agora que as
bases de Imphal e Assam estavam ficando muito distantes, por conseguinte, antieconômicas. Slim decidiu
então lançar o 15o Corpo, comandado por Christison, na captura dessas futuras bases com quaisquer barcaças
de desembarque disponíveis.

Mas a captura de Akyab não seria de sua responsabilidade. Em novembro, o General Giffard colocou o 15 o
Corpo, de Christison, e a área da Linha de Comunicação diretamente sob o comando do seu próprio 11 o
Grupo de Exércitos, para livrar Slim da responsabilidade de suas áreas de retaguarda e deixá-lo entregue ao
prosseguimento da luta na frente.

Meses antes, quando a captura pelas forças sino-americanas de Kamaing, ao norte de Mogaung, parecia
remota, Stilwell concordara em servir sob o 11 o Grupo de Exércitos, desde que, quando Kamaing fosse
capturada, ele passasse à direta subordinação do Comandante Supremo. A 16 de junho, quando da captura de
Kamaing, ele pediu que se cumprisse a promessa e Slim perdeu o controle sobre o Comando da Área de
Combate Norte de Stilwell, que incluía, na época, os Chindits e a 36 a Divisão, que os substituíra. Por
conseguinte, Mountbatten pediu a nomeação de um Comandante-Chefe de Forças Terrestres, para que ele
pudesse lidar com um só comandante-de-exército.
Deste modo, também em novembro de 1944, o QG do 11° Grupo de Exércitos foi abolido e formou-se novo
QG das Forças de Terra Aliadas do Sudeste Asiático (ALFSEA), para comandar todas as operações de terra
contra os japoneses na Birmânia. A longa, bem sucedida e amistosa parceria de Giffard e Slim foi rompida e
Giffard retornou à Grã-Bretanha. O Tenente-General Oliver Leese, um oficial dos Guardas que comandara o
8o Exército na Itália, foi posto no comando da ALFSEA.

A frente italiana jamais passara dos 200 km de largura e era fácil de controlar, com boas comunicações. Um
comandante-de-exército podia convidar seus comandantes divisionários para jantar sem que este tivessem de
abandonar o comando por mais de algumas horas. Leese tentou isto na Birmânia, sem jamais compreender
que os comandantes divisionários tinham de, ali, viajar a cavalo, de jipe, aviões pequenos e carros alugados
por um período de dois ou três dias, para jantar e logo depois despedir-se. com um rápido “Prazer em vê-lo”.
Lee demorou muito a compreender o tamanho, distância e a formação constitucional do seu comando.
Giffard, que detestava voar, pois sofrera tantos acidentes, sempre ia de avião para toda parte, fazendo
relatórios e entregando cópias, com sugestões, somente a Slim. O moral da tropa, tão terríveis as condições
ali vigentes, era sempre motivo de cuidados, sendo essencial que o comandante fosse visto com um fuzil ao
ombro na linha de frente. Slim, Stilwell e Giffard não descuidavam deste dever essencial, dever imposto a
todo subalterno, e se esforçaram física e mentalmente para cumpri-lo nas vastas extensões de terreno
fragilmente dominado, mas Oliver Leese no começo tentou comandar por controle remoto e da prancheta.
Um comandante-de-batalhão que pensa que pode comandá-lo de um abrigo subterrâneo e não visita seus
pelotões avançados diariamente, está errado, por mais hábil que possa ser. Ele jamais fará com que os
soldados lutem com perfeição. O mesmo acontece com um comandante-de-exército ou de corpo. Ele tem de
ser visto para ser crido, especialmente no começo de uma campanha, quando os soldados estão ainda
carentes de experiência, e no fim, quando esgotados. Portanto, é da mais alta importância que tenha boas
condições físicas e miolos. Mas seu maior bem é a sensibilidade, de modo que ele seja um aparelho receptor-
transmissor, sensível aos sentimentos, muitas vezes não expressados, dos seus homens, e, assim, capaz de
converter essas reações em ordens que eles possam cumprir com satisfação. Como Slim mostrou em seus
ensaios sobre Coragem e outros assuntos, ele desenvolveu bastante esta sensibilidade e este tipo de reação -
não era sem razão que o chamavam de “Tio Bill” - que lhe serviram muito mais do que o brilhantismo
acadêmico e técnico.

Depois de Imphal, Slim queria perseguidores, de modo que reorganizou os escalões superiores do seu
comando e procurou homens dotados de muito arrojo e determinação para dirigir suas divisões. Nomeou o
Tenente-General Messervy, que fora vencido no Deserto Ocidental e no Arakan, mas lutou sempre como um
gato selvagem, para substituir Scoones no comando do 4 o Corpo, depois de reconstituído. O Major-General
Evans, que adquirira imensa experiência no Oriente Médio, no Arakan e em Imphal como comandante e
como oficial de Estado-Maior operacional, para o comando da 7 a Divisão. O Major-General Rees, um galês
dinâmico, que comandava seus homens na frente de batalha, sempre na frente, para dirigir a 19 a Divisão.
Messervy também tinha a 268a Brigada e a 255a Brigada sob seu comando.

Lembremo-nos de que Slim calculara que poderia manter somente quatro divisões e meia em campanha nas
planícies da Birmânia. Assim, o 33o Corpo, de Stopford, também seria reduzido, a bem da velocidade. A 2 a
Divisão (britânica) recebeu novo comandante, o Major-General Nicholson, mas aquele seguro veterano de
campanhas que se saíra tão bem em Imphal, o Major-General Gracey, ainda comandava a 20 a Divisão.
Stopford também tinha uma brigada de tanques (254a) sob seu comando.

Estas divisões eram irreconhecíveis, comparadas com as inexperientes divisões de 1943. Sobrava-lhes
confiança após as vitórias de Imphal e do Arakan. Com pouquíssimas ordens, deslocavam-se com rapidez,
sabiam cuidar da retaguarda, conheciam o inimigo e sua tática, compreendiam como tirar partido do
abastecimento aéreo e o tremendo poderio do bombardeio de apoio cerrado e sabiam como concentrar-se,
numa espécie de mola comprimida, para o próximo avanço.

Grande parte dos elogios por esta transformação cabe ao General Auchinleck, Comandante-Chefe na Índia,
responsável por todo o treinamento do exército indiano e dos exércitos britânicos e africanos na Índia.
Extremamente sensato, Auchinleck planejara fazer do novo exército indiano um grupamento aguerrido,
disciplinado e ágil. Em meados de 1944 sua política estava dando excelentes resultados.

O plano japonês era tentar defender uma linha ao norte de Shwebo-Ye-U e, sobre o Chindwin, até o sul de
Kalemyo, que os britânicos haviam capturado, enquanto reorganizavam seus exércitos derrotados. O plano
de Slim consistia em não deixá-los em paz.
O 4o Corpo, de Messervy, devia atravessar a serra de Zibyu-Taungdan, partindo da cabeça-de-ponte de
Sittaung, capturar Pinlebu e, depois, desviar-se para o sul, ainda a oeste do Irrawaddy, para capturar o
complexo rodoviário, ferroviário e os aeródromos de Shwebo, no cinturão seco. A 36 a Divisão, que descera
pela ferrovia, cobriria seu flanco esquerdo.

A Brigada Lushai e a 28a Brigada Leste-Africana deviam descer o vale do Gangaw, partindo de Kalemyo,
como medida preliminar, e, uma vez iniciado o avanço geral, a 11 a Divisão Leste-Africana seria levada de
avião para a Índia, a fim de aliviar as condições de abastecimento.

As 2a e 20a Divisões, de Stopford, deviam atravessar o Chindwin em Kalewa, para capturar Ye-U (perto de
Shwebo) e Monywa.

Atravessando o Chindwin em Sittaung a 4 de dezembro, a veloz 19 a Divisão, de Rees, sem esperar pela
chegada de sua artilharia, atravessou a serra de Zibyu-Táungdan e entrou em contato com a 36 a Divisão, em
Indaw, a 16 de dezembro. Informes do Serviço de Inteligência e documentos capturados indicavam que Slim
entendera mal as intenções dos japoneses e que estes estavam recuando para a outra margem do Irrawaddy.
Nestas novas circunstâncias, Slim tomou a corajosa decisão de alterar por completo seu plano inicial. Ele
agora sabia que suas divisões cumpririam à risca as suas ordens e decidiu desviar sua força principal para
tentar a captura da grande base administrativa de Meiktila, na outra margem do Irrawaddy e a 110 km ao sul
de Mandalay. Os aeródromos, os centros de abastecimento, de material bélico, o hospital e a rede de
comunicações de Meiktila-Thazi compunham o principal centro administrativo do 33° e 15° Exércitos
japoneses. Depois de Rangum, esta era a área mais importante da Birmânia e sua captura solaparia toda a
defesa do Exército de Área da Birmânia e a lançaria em confusão. Slim tinha tanques superiores aos dos
inimigos e podia aplicá-los melhor na região seca, plana, ampla e arenosa em torno de Meiktila. Seu
grupamento aéreo (o QG do 221° Grupo estava situado ao lado do seu e trabalhavam unidos) também
poderia ser usado com muita eficiência, naquela região, muito aberta, durante o tempo excelente da estação
seca.

Slim mudou, sem consultar a ninguém, todo o plano, e saiu uma obra-prima. O fator principal é que Slim
sabia que podia confiar nos seus comandantes, enérgicos, engenhosos e de “mentalidade ofensiva”, e em
seus soldados para executar seu plano ambicioso. O conhecimento da região seria para ele de grande valia.
Ele não usaria pára-quedistas, embora dispusesse desse tipo de tropa, pois achava que eles atariam suas
mãos.

O avanço partiria do norte, para manter os japoneses voltados para aquele setor, enquanto metade do seu
exército desceria o vale do Gangaw, em direção a Pauk e Pakokku, atravessaria o Irrawaddy e avançaria
rapidamente por ampla, aberta e seca região até Meiktila, tomando-a de um só golpe. Seu plano quase
desmorona, em virtude da retirada de 75 aviões-transporte americanos para aumentar o tráfego da ponte
aérea, a fim de atender ao sempre queixoso Chiang Kai-shek (e sua mulher, que tinha grande influência nos
Estados Unidos e odiava os britânicos).

A 16 de dezembro, Slim avisou a Oliver Leese que iria introduzir mudanças no plano e no dia 18 deu-lhe o
esboço do novo plano, ao qual deu o nome de “Capital Aumentado”. Também deu instruções a Messervy e
Stopford. Algumas divisões passariam a integrar outros corpos.

Seu plano geral era abrangente e ambicioso. Acompanhado pelo Comando de Combate Norte, de Stilwell,
ele destruiria as forças inimigas na Birmânia. Avançaria para a linha Henzada-Nyaunglebin (500 km ao sul
de Mandalay e 110 km ao norte de Rangum) e em seguida tomaria um porto no sul da Birmânia. Ele
precisaria da 17a Divisão, agora reaparelhando-se na Índia. Conservaria a 28 a Brigada Leste-Africana e a
255a Brigada de Tanques com seus tanques Shermans.

Slim teria que dar cumprimento a seu plano em quatro meses, porque depois disso chegaria a monção, e se
não conquistasse um porto no sul nesse período, então toda a sua força correria perigo e passaria a depender
inteiramente do abastecimento aéreo de Assam, e a distâncias cada vez maiores.

Para iludir os japoneses, Slim organizou um plano de logro estratégico. Um falso 4 o Corpo, com rádios
ligados a enviar sinais falsos, foi instalado em Tamu. Todas as unidades do 4 o Corpo deviam manter silêncio
radiofônico. A Brigada Leste-Africana lideraria o avanço do 4 o Corpo, simulando ser a 11 a Divisão Leste-
Africana. O Irrawaddy seria cruzado em pontos alternativos, para confundir o inimigo.

A fronteira entre os dois corpos, com o 4 o Corpo a oeste, seria o rio Chindwin, que Stopford podia usar como
via navegável. Entre o 33 o Corpo, no centro, e o Comando de Combate Norte, de Stilwell, estaria o
Irrawaddy.

Os japoneses deviam ser destruídos entre o martelo do 33 o Corpo, de Stopford, que desceria sobre Mandalay,
e a bigorna blindada do 4o Corpo, de Messervy, em Meiktila. Stopford teria as 2 a, 19a 3 20a Divisões e a 254a
Brigada de Tanques (Lee-Grants e Stuarts) e Messervy teria as 7 a e 17a Divisões, a 28a Brigada Leste-
Africana e a 255a Brigada de Tanques (Shermans).

Stopford iniciou seu avanço a partir de Kalewa a 24 de dezembro; a 20 a Divisão avançou sobre Monywa e a
2a Divisão, sobre Shwebo. A 19a Divisão também se dirigia para Shwebo. A 14 de janeiro, a 20 a Divisão
chegara a Monywa. Contudo, o mau tempo no Chindwin retivera os suprimentos e os importantíssimos
tanques (agora que estavam penetrando na zona seca) e fizeram Stopford parar durante toda uma quinzena.

Mas sua agressiva 19a Divisão, sob Rees, atravessara o Irrawaddy, em Thabeikkyin, e avançara a leste do
Irrawaddy, para o sul, na direção de Kyaukmyaung, penetrando, desse modo, a linha japonesa naquele rio.
Os japoneses reagiram violentamente, com ataques fanáticos disparados pelas suas esgotadas 15 a e 53a
Divisões, de modo que a parada de Stopford não foi completo desperdício de tempo.

A 36a Divisão britânica foi despachada por Stilwell para as minas de rubi de Mogok, no outro lado do
Irrawaddy, de modo que a 19a Divisão era a única disponível para atacar Mandalay.

Stopford decidiu atacar Mandalay pelo noroeste e pelo sul. A 19 a Divisão desceria diretamente pela margem
leste do Irrawaddy; a 2a Divisão, com os tanques, desceria pela linha férrea de Shwebo até Sagaing, quase do
lado oposto de Mandalay, e atravessaria naquele local. A 20 a Divisão atravessaria perto de Myinmu e
avançaria sobre Kyaukse, a alguns quilômetros ao sul de Mandalay.

O 4o Corpo, de Messervy, tinha 240 km a percorrer em trilhas de carros de boi, descendo o doentio vale do
Gangaw. A Brigada Leste-Africana, com suas mulas, de início avançou rapidamente. Em seguida a 7 a
Divisão passou por ela e uma brigada chegou a Pauk a 26 de janeiro, quatro dias antes do prazo, sem
encontrar resistência. Os japoneses não compreenderam a importância dos poucos informes que receberam
sobre este avanço.

Uma das principais dificuldades de Messervy foi levar equipamento de navegação para a operação e treinar
seus inexperientes batalhões para fazer uma travessia de assalto. Messervy planejava, com a 7 a Divisão,
estabelecer uma cabeça-de-ponte sobre o rio, que ali tinha mais de 1.600 m de largura, e usar a 17 a Divisão e
a brigada de tanques para uma arremetida contra Meiktila. Nyaungu, ao sul de Pakokku, foi escolhida como
o local da travessia. A cidade ficava exatamente na fronteira do 15° com o 28° Exércitos japoneses; assim,
não poderia ter sido melhor a escolha. Nyaungu era defendida pelos frágeis remanescentes do Exército
Nacional Indiano.

Slim tinha agora a iniciativa. A própria largura do Irrawaddy ocultava suas intenções. Ele avançara numa
frente ampla até o rio e podia escolher o local de travessia, enquanto que os japoneses tinham de cobrir um
grande trecho do rio. A única preocupação de Slim eram a disponibilidade de barcos e o estado de
treinamento nesse tipo de manobra dos seus homens, especialmente dos sapadores de campanha, que seriam
os principais responsáveis.

A 1° de fevereiro, o 33o Corpo chegara ao Irrawaddy, de modo que Slim estava pronto para agir. A 19 a
Divisão, ao norte de Mandalay, ainda era a principal atração para os japoneses.

A 12 de fevereiro, a 20a Divisão, de Stopford, começou a atravessar o rio, em Myinmu, a 50 km a oeste de


Mandalay, ao longo do rio. Isto atraiu os japoneses. Logo na noite seguinte a 7 a Divisão, de Messervy,
situada a 14 km mais ao sul, lançou-se na travessia de assalto. A 20 a Divisão conseguiu uma cabeça-de-ponte
que representou verdadeiro pote de mel, atraindo toda a ira da 33 a Divisão japonesa, que durante as três
semanas seguintes, até 5 de março, contra ela se atirou. Esta ação diversiva permitiu que o 4 o Corpo
atravessasse com certa tranqüilidade. A exuberante 19 a Divisão, de Rees, aproximou-se 30 km de Mandalay.
A 2a Divisão, de Stopford, tivera de esperar pelos barcos e balsas da 20 a Divisão, mas, após algumas
dificuldades, conseguiu atravessar o rio a 21 de fevereiro, em Ngazun, a 24 km de Mandalay.

Assim, no começo de março de 1945, Slim cruzou o Irrawaddy em quatro locais, passando a ameaçar o
centro de comunicações dos nipônicos e a cidade de Mandalay, a velha capital. Ainda assim, os japoneses
não tinham percebido plenamente que estavam sendo envolvidos por um movimento de tropa que visava à
tomada de Meiktila, que era a chave de todo o plano.

Slim merece não só o crédito de haver elaborado o plano mas, também, de lhe ter dado direção enérgica,
fazendo que seus corpos e divisões o executassem com determinação, graças, em primeiro lugar, à escolha
que fez de comandantes agressivos. Stopford ainda estava muito influenciado pelo treinamento da Escola de
Estado-Maior, sempre deliberando, querendo arrumar tudo antes de agir, jamais arriscando-se num golpe
rápido. Mas ele era seguro e talvez fosse vantajosa a tenacidade de buldogue que possuía para compensar o
arrojo cavalariano de Messervy.

Antes das batalhas que culminaram na captura de Mandalay e Meiktila, o alto comando já estava planejando
as etapas seguintes. Uma importante divergência entre a atitude dos Chefes de Estado-Maior (e mesmo de
Mountbatten) e a de Slim era que os primeiros pareciam obsedados pela captura de cidades, ao passo que
Slim se preocupava, acertadamente, com a destruição dos exércitos japoneses. Ele sabia que podia correr
riscos administrativos com um exército vitorioso e que o moral do inimigo era mais importante do que
números alinhados num quadro estatístico.

No dia 5 de fevereiro, Mountbatten fora informado de que sua tarefa principal era “liberar a Birmânia o mais
breve possível” e que ele deveria “visar à realização do seu objetivo com as forças atualmente à sua
disposição”.

Já então, Akyab e Taungup, na costa da Birmânia, haviam caído, sem oposição, nas mãos de Christison,
diminuindo os vôos de abastecimento e apoio aéreos e possibilitando uma rota para abastecer Slim desde
Taungup até Prome. Mountbatten transmitiu as ordens a Oliver Leese, comunicando-lhe que seriam postos à
sua disposição os recursos disponíveis para o plano “Drácula”, ou seja, o desembarque em Rangum. Desta
forma, o avanço de Slim seria ajudado por esses desembarques, além dos que estavam planejados para ser
feitos a oeste e ao sul das suas posições.

Os japoneses estavam confusos quanto às intenções britânicas. Seu Serviço de Inteligência havia sofrido, ao
que tudo indicava, colapso quando eles recuaram, como acontece tantas vezes, e eles se encontravam às
cegas. Pensavam eles que a 19 a Divisão rumava para leste e não para Mandalay. Os vários desembarques os
haviam confundido por completo. A 13 de fevereiro, a 2 a Divisão japonesa recebeu ordens de ir para a
Indochina, a fim de repelir esperados desembarques americanos ali, acompanhada da 5 a Divisão Aérea, cujos
remanescentes compreendiam todo o esforço aéreo japonês na Birmânia.

Achavam os nipônicos que a aproximação do 4 o Corpo pelo sul seria uma incursão tipo Chindit, e não a
arremetida principal, motivo por que decidiram concentrar-se num contra-ataque sobre a cabeça-de-ponte da
20a Divisão, em Myinma. Na verdade, Tóquio abandonara os japoneses na Birmânia ao próprio destino, com
a finalidade única de reter o maior número possível de soldados, aviões e barcaças de desembarque aliados,
para que não fossem desviados para a frente principal do Pacífico.

Slim também estava pensando no que fazer após a captura de Meiktila. Achava que um avanço planície
abaixo, para Rangum, deixaria seu longo flanco leste aberto a um contra-ataque, de modo que pensou em
enviar parte do 33o Corpo para os Estados Shans. E disse a Leese que tudo dependia da obtenção de
abastecimento aéreo suficiente, apresentando-lhe um rol de necessidades do setor, que Leese aprovou.

A 18 de fevereiro, após um revés inicial para os leste-africanos, mais ao sul, Messervy ordenou que toda a
sua 17a Divisão e sua brigada de tanques atravessassem o Irrawaddy, para a cabeça-de-ponte já conquistada
em Nyaungu. Meiktila, seu objetivo, distante a 130 km dali, ficava do outro lado de uma região arenosa, de
vegetação rasteira e cortada por leitos secos de rios. A 21 de fevereiro, a 17 a Divisão pôs-se a caminho. A 7a
Divisão, de Evans, recebeu ordem, ao mesmo tempo, de avançar para a cidade petrolífera de Chauk, no sul, e
capturar Myingyan, a nordeste. A 17 a Divisão, de Cowan, com seus tanques, depois de superar rápida mas
violenta oposição no caminho, chegou aos arredores de Meiktila. A 1° de março, Cowan atacou e, ao
anoitecer, Meiktila havia caído, juntamente com um utilíssimo aeródromo construído na orla leste da cidade.
As patrulhas que sondavam na direção de Thazi e Pyawbwe encontraram o inimigo. Assim, completou-se a
parte mais audaciosa e importante do plano de Slim.

O próprio Slim recebeu alguns golpes rudes enquanto aguardava a queda de Meiktila, mas os absorveu bem,
não se desviando do plano traçado.

A 23 de fevereiro Slim foi informado de uma exigência imperiosa do Generalíssimo Chiang Kai-shek. Exigia
ele a devolução de todas as forças americanas e chinesas sob o Comando de Combate da Área Norte, de
Stilwell, para que participassem de uma ofensiva na China. Isto aliviaria as 18 a e 56a Divisões japonesas, que
enfrentavam o referido Comando, de toda oposição, exceto da 36 a Divisão, podendo elas voltar-se contra o
14° Exército. Mountbatten teve de se multiplicar em esforços para impedir o deslocamento dessas tropas e da
maioria dos aviões-transporte. Mas, enquanto estava preocupado com a execução de um plano audacioso, no
qual o abastecimento era a chave, esta algaravia fez trepidar o coração do sistema administrativo de Slim.
Mas ele era um veterano, agora, e não mostrara quaisquer sinais externos de inquietação.

Slim, cumprindo o que considerava ser o dever essencial de um comandante, foi visitar primeiro Stopford,
em Monywa, e depois foi com Messervy para Thabutkon, perto de Meiktila, para visitar Cowan, onde
observaram o andamento de uma batalha com tanques. Em certo momento o grupo do comandante-de-
exército foi envolvido, saindo feridos dois integrantes do grupo, mas o comandante-de-exército, o
comandante-de-corpo e o comandante-divisionário permaneceram imperturbáveis, de pé e ilesos. Este
incidente teve o efeito, sem dúvida significativo, de levantar o moral das tropas na linha de frente.

Cowan enfrentava o inevitável contra-ataque japonês. Do que vira no local, Slim decidiu despachar sua
divisão de reserva, a 5a, para ajudar Messervy, deixando uma brigada transportável de avião em Imphal,
pronta para ser levada para Meiktila. Nesse meio tempo, Cowan se decidira por uma defesa agressiva de
Meiktila, atacando vigorosamente todos os japoneses que se aproximassem, deixando apenas uma pequena
guarnição na cidade.

Stopford, tendo verificado que suas cabeças-de-ponte estavam firmes, planejou, etapa por etapa, a captura de
Mandalay. A 19a Divisão atacaria do norte; a 2 a Divisão avançaria ao longo do Irrawaddy, para atacar pelo sul
e sudoeste; a 20a Divisão faria uma conversão mais a leste, para atacar do sul e sudeste.

A 19a Divisão logo penetrou na cidade, mas foi detida pelas ameias do Forte Dufferin, cuja destruição exigiu
pesado bombardeio de artilharia e aéreo. A 20 a Divisão fez bom progresso, mas o avanço direto da 2 a Divisão
parou em meio aos pagodes da velha capital de Ava e por causa de alguns campos minados.

Mandalay não estava fortemente defendida, e Slim, compreendendo que Meiktila era o ponto nodal da
batalha, ordenou que a 20a Divisão enviasse uma coluna para o sul, para Meiktila, enquanto que a 2 a Divisão
carregava fortemente sobre Mandalay, pelo sul.

Os japoneses não se haviam recuperado da confusão e orientaram mal os seus contra-ataques. Havia pouca
coordenação entre as forças que tinham ao sul de Meiktila e ao norte. Finalmente, porém, eles
compreenderam que a chave era Meiktila e atacaram a 17 a Divisão e a brigada de tanques de todas as
direções. Estes ataques não eram nem muito fortes nem coordenados e os tanques britânicos causaram
verdadeira devastação nos integrantes da infantaria japonesa em campo aberto. Cowan foi reforçado pela
brigada aerotransportada da 5a Divisão e pôde defender a vital área do aeródromo.

Entrementes, a 19a Divisão, ajudada por poderosos ataques aéreos, capturaram o Forte Dufferin e Mandalay a
20 de março. O centro de comunicações de Myingyan foi dominado pela 7 a Divisão, de Evans. A recém-
chegada 5a Divisão tomou Taungtha, entre Meiktila e o Irrawaddy, que fora ocupada pelos japoneses para
que eles cortassem as rotas terrestres da 17 a Divisão. A 5a Divisão, em seguida, avançou para Meiktila,
completando o movimento de flanco.

A crueza das batalhas pelo Irrawaddy, Mandalay e Meiktila pode ser julgada pelo número de baixas
registrado. O 14° Exército teve 10.500 mortos e feridos, além dos 7.000 que, doentes, foram levados para a
retaguarda. Os japoneses, atacados por tanques em campo aberto, por esmagador apoio aéreo e por divisões
rejuvenescidas, sofreram baixas muito maiores e perderam grande parte da artilharia que possuíam.
A Slim, todos os elogios pelo êxito de um plano ambicioso. Durante a retirada e depois dela, ele sempre quis
atacar, mas conteve suas ânsias até que tivesse à frente de suas tropas os comandantes dotados de
agressividade suficiente para levá-lo a cabo sem olhar para trás. O abastecimento aéreo, desenvolvido por
Wingate e Stilwell, possibilitara isso, e a força aérea deveria, com razão, receber boa parte dos elogios pelo
grande sucesso obtido. Mas foi Slim que correu o risco e foi Slim que venceu. Messervy, Cowan e Rees
foram instrumentos solícitos de agressão e sua infantaria e seus tanques, pela sua habilidade tática no campo
de batalha, completaram a parte rotineira e vital do trabalho - e sofreram as baixas, além da tortura do calor,
da poeira e das doenças.

Slim vinha antecipando sua próxima ação muito antes da captura de Meiktila e da queda de Mandalay. A
monção se aproximava e era essencial que antes disso Rangum fosse tomada, ou suas tropas poderiam ficar
sem suprimentos. Mas Slim sabia que o grande objetivo era a derrota dos japoneses, e não a captura do país.
Assim sendo, procurou não dar trégua aos japoneses, nem tempo para se recuperar.

O 15o Corpo, de Christison, realizava, sem oposição, a captura de Akyab e da ilha de Ramree, sem, no
entanto, conseguir cortar a fuga da 54 a Divisão para o Irrawaddy. Slim exortou Leese a capturar Rangum
enquanto o 14° Exército se movia para o sul.

Slim dera ordens ao 33o Corpo, de Stopford, para primeiramente estender seu flanco esquerdo a fim de
limpar a área de Maymyo, que fora o local do QG do Exército de Área da Birmânia, e depois deslocar-se
para o sul, numa frente ampla, desde Nyaungu, no Irrawaddy, até Meiktila, para aliviar o 4 o Corpo, de
Messervy. O 33o Corpo então devia descer pela rota do Irrawaddy, passando por Prome, até Rangum, mas
com a tarefa de fazer, de passagem, a limpeza atrás do 4 o Corpo.

Messervy preparava-se para arremeter pela ferrovia, através de Toungoo, contra Rangum. Ele propôs, e Slim
aprovou, que deveria reorganizar sua força numa coluna mecanizada e aerotransportável, de duas divisões e
uma brigada de tanques.

Nessa época, a força de Slim teve de ser reduzida, para diminuir as necessidades de abastecimento aéreo.
Leese aguardava a planejada operação de desembarque, chamada “Zipper”, na costa da Malásia, destinada a
capturar Cingapura. O Comando de Combate da Área Norte foi desfeito a 1° de abril e a 36 a Divisão.
começou a concentrar-se, após meses na companhia das forças sino-americanas em Mandalay.

Tornara-se cada vez mais difícil manter os efetivos das divisões britânicas, cujo ânimo em nada se beneficiou
da crassa e estúpida declaração ministerial, feita na Câmara dos Comuns, de que todas as tropas com três
anos e meio de serviço no exterior já haviam retornado à Grã-Bretanha. A maior parte das 2 a e 36a Divisões
britânicas estava no exterior há mais de quatro anos, e a declaração simplesmente se referia às que vinham
servindo com relativo “luxo” no Oriente Médio e na Itália, e não ao “Exército Esquecido”. Um plano de
repatriação, chamado “Píton”, plano eminentemente político, destinado a angariar votos nas eleições gerais
seguintes, foi preparado, estabelecendo que depois de certo período no além-mar a tropa deveria retornar à
Grã-Bretanha. As unidades britânicas foram virtualmente destruídas no processo, e os remanescentes das 2 a e
36a Divisões foram trazidos da Índia, para ajudar no treinamento de reforços destinados a um desembarque
de assalto naval.

Portanto, Messervy recebeu todos os transportes dessas duas divisões e organizou seu corpo baseado em
caminhões. Ele tinha de percorrer 510 km em 42 dias, antes do começo da monção, para tomar Rangum. O
ataque naval e aerotransportado de Christison a Rangum estava marcado para o começo de maio.

Para ajudar a administrar a área recapturada da Birmânia e permitir que Slim desse continuidade à batalha
que travava, o General Snelling foi trazido da Índia, para cuidar da manutenção do 14° Exército. Snelling
fora o competente braço direito de Slim durante toda a campanha e, parafraseando a analogia, atuava como
um segundo fora do ringue enquanto Slim boxeava dentro dele.

A partida de Messervy foi adiada por nove dias pela obstinada resistência japonesa em Pyawbwe. Só então
ele se pôs a caminho. Seu plano visava também à captura de aeródromos existentes no caminho, para facilitar
o reabastecimento, evitando, porém, pontos fortemente defendidos. Ele faria uma divisão saltar por cima da
outra, de aeródromo em aeródromo, de modo que sempre haveria uma ponta para apoiar e receber os
suprimentos trazidos de avião. Pyinmana foi capturada a 19 de abril; os aeródromos de Toungoo foram
tomados a 22 de abril e Pegu, a 1 o de maio. Messervy estava a apenas 80 km de Rangum quando fortes
chuvas, fora da estação, detiveram o avanço dos seus tanques.

O avanço de Stopford, descendo o Irrawaddy, foi mais sóbrio e deliberado, como de hábito. Sua tarefa era
eliminar, sem deixar bolsões intactos, o inimigo, que se poderia concentrar e tornar-se incômodo mais tarde.
Stopford teve de proteger o flanco direito de Messervy, que era mais amplo. Ele capturou Chauk a 18 de
abril; os campos petrolíferos de Magwe e Yenanyaung a 21 de abril; Allanmyo, no Irrawaddy, a 28 de abril, e
entrou em Prome a 3 de maio - avanço excessivamente rápido para um comandante “cauteloso”. Os
japoneses buscaram segurança no Pegu Yomas, coberto de florestas mas sem água, onde se transformaram
nos maltrapilhos sobreviventes de um exército outrora orgulhoso.

A 1° de maio, pára-quedistas gurkhas saltaram na chamada Ponta do Elefante, nos arredores de Rangum, e
derrubaram toda a oposição. Os desembarques navais de Christison também não tiveram oposição e logo se
evidenciou que Rangum não estava defendida. O General Kimura ordenara a sua evacuação a 29/30 de abril
e mandou a guarnição escapar por Pegu, agora defendida por Messervy, que ocupava uma posição muito
favorável à defesa. Ali caiu sobre o exército japonês da Birmânia a gota d’água que o dissolveu.

O 4o Corpo e o 15° Exército, de Christison, encontraram-se em Hlegu, a meio caminho entre Rangum e
Pegu, a 6 de maio e Slim completara seu plano para a conquista da Birmânia.

Os dois grupamentos tinham ainda trabalho por fazer. Teriam de limpar os remanescentes (cerca de 6.000
homens) de quatro divisões no Yomas, e igual número a leste do rio Sittang. Estas operações foram
intensificadas e, para os suboficiais que as executaram, porque ela se transformara numa guerra de
suboficiais, foi muito emocionante. Para muitos dos elementos das tropas de reforço foi a primeira ação, mas
para o Alto Comando foi apenas “limpeza”.

Depois de 44 meses de luta cruenta, durante os quais Slim esteve ativamente empenhado nela, a guerra na
Birmânia chegou ao fim, rendendo-se os japoneses em agosto de 1945. A região que lhe serviu de palco era
das mais difíceis, e o inimigo, extremamente fanático. Mas, embora as baixas por doença fossem grandes na
Birmânia, as baixas em combate, em comparação com outros teatros de operações, foram relativamente
pequenas, considerando-se o número de soldados envolvidos.

Slim assumiu o comando de todas as forças na Birmânia, incluindo o 15 o Corpo, de Christison, a 6 de maio
de 1945. Este foi o começo de uma série de movimentos e manobras no alto comando. Os protagonistas
foram principalmente Leese e Slim.

Stopford recebeu o comando das forças na Birmânia, como Comandante de um novo 12° Exército, enquanto
Slim mudava o QG do seu 14° Exército para Délhi, de onde partira o apoio ao seu exército indiano. Isto
ocorreu a 14 de maio.

Cena semelhante à tentativa de Irwin de demitir Slim ocorrera. Oliver Leese chamara Slim ao seu QG,
cumprimentou-o pelo maravilhoso êxito alcançado e sugeriu que, depois disso, ele precisava de um repouso,
pois vinha lutando, quase sem cessar, há mais de três anos, desde o começo de 1942. Agora que a Birmânia
fora conquistada, a guerra seria de operações combinadas e Slim, naturalmente, não tinha nem tempo nem
experiência para desenvolvê-las. Ele, portanto, sugeriu que Slim devia descansar e aguardar novo posto.

Mountbatten e Leese estavam planejando a invasão da Malásia, uma operação chamada “Zipper”, que seria
conduzida pelo Tenente-General Ouvry Roberts, um enérgico e inteligente Engenheiro Real, no comando de
um recém-formado 34o Corpo. Anteriormente, ele comandara a 81a Divisão (oeste-africana) no Arakan.

O Estado-Maior de Planejamento Conjunto do SEAC fixou como objetivo a área de Port Dickison - Port
Swettenham, na Malásia. Na opinião dos integrantes do órgão as praias próximas de Morib e Sepang eram as
únicas adequadas a um desembarque rápido de veículos. Entretanto, a abrupta mudança de comando
verificada na cúpula causaria aos generais participantes tanta preocupação quanto às posições que ocupavam,
que eles não pareciam suficientemente interessados em verificar os fatos nos quais se apoiara o planejamento
da “Operação Zipper”. A “Zipper” “enguiçaria” no dia do desembarque.
Slim, descontente com o tratamento que lhe deram após a participação que teve na conquista da Birmânia,
decidiu partir de licença para a Inglaterra no começo de junho, fazendo ali um relato do que se passava com
ele. A 1° de julho, foi promovido a general.

Slim apelou pessoalmente para o Conselho do Exército, como era de seu direito, ficando então decidido que
Leese é que sairia de licença tomando Slim o seu lugar.

A 6 de julho Oliver Leese deixou o posto de Comandante-Chefe da ALFSEA, indo “Christison ocupar o
cargo. O Japão rendeu-se a 14 de agosto; Mountbatten voltou ao Ceilão, após breve visita a Londres, nessa
mesma data. Slim retornou a 15 de agosto e, no dia seguinte, Christison transferiu-lhe o comando do
ALFSEA. Christison não obteve um comando de exército, descendo dois degraus, pois voltou ao comando
do seu velho 15o Corpo.

Slim, de certo modo, a partir daí sai de cena. Talvez Leese estivesse certo quando admitiu que Slim estava
cansado, ou que não fosse capaz de ver, com a inclusão das “Operações Combinadas”, o conjunto dos
assuntos militares subseqüentes. A guerra saíra da sua base segura, na Índia, e ele estava meio perdido na
selva da política de ocupação do pós-guerra no Sudeste Asiático.

A 17 de agosto, Mountbatten traçou os planos de ocupação do já agora muito ampliado Comando do Sudeste
Asiático, que incluía a Birmânia, a Malásia e Índias Orientais Holandesas, Sião e Indochina do Sul. Slim
transmitiu as instruções de Mountbatten a seus generais no mesmo dia, ampliou-as com outra instrução
administrativa, baixada no dia 23, que o Chefe de Estado-Maior do ALFSEA preparara enquanto Slim se
encontrava na Inglaterra.

Em suma, o 14° Exército limparia a Birmânia e a entregaria ao 4 o Corpo (Messervy), que então se
transformaria no Comando da Birmânia. A 10 de agosto, Sir Miles Dempsey substituiu Stopford no comando
do 14° Exército, assumindo o cargo de Comandante-Geral da ocupação da Malásia e Cingapura, incluindo a
“Operação Zipper”, que ainda estava, segundo os planos, para realizar-se como exercício. O 14° Exército,
baseado em Cingapura, então assumiria o comando das Índias Orientais Holandesas. O 12° Exército (para
cujo comando Stopford fora designado) iria para Bancoc e assumiria o comando do Sião e da Indochina. A
maior parte do planejamento da “Operação Zipper” fez-se antes de Slim assumir o comando do ALFSEA;
mas, como comandante-geral, não teve ele como fugir à responsabilidade de boa parte do quase desastre em
que se constituiu a operação. Ele aprovara a execução da operação depois de já inteiramente desnecessária, e
lhe fixara a data.

A “Zipper” começou a 9 de setembro, 26 dias após a rendição dos japoneses. A razão da medida se apoiava
no desejo de impressionar os malaios. Dois couraçados, quatro cruzadores, seis porta-aviões de escolta e 15
destróieres escoltaram os comboios organizados para dar curso à operação e a primeira leva de barcaças de
desembarque partiu para as respectivas praias na hora certa.

Em Morib, nenhum dos 20 primeiros veículos chegou à praia, situada do lado posterior de um trecho de 100
m de água lamacenta, sem a ajuda de veículos de recuperação. Cinqüenta veículos “afogaram-se” no
primeiro dia. Do QG divisionário, apenas um jipe atingiu a praia. A área escolhida para que fosse retirado o
revestimento à prova d’água do veículo (após o desembarque) eram na verdade, inacessível a veículos, pois a
separava da estrada profunda vala lamacenta e o aqueduto ficava 30 cm acima do solo. Quando os veículos
finalmente chegaram a terra, atolaram no lamaçal que margeava a estrada.

As condições na praia de Sepang eram muito melhores. Encontrou-se ali uma praia bem mais adequada que a
de Morib. Port Dickison foi ocupada no dia 10. Mountbatten, Slim e Roberts (34 o Corpo) visitaram o QG da
25a Dovisão (Hawthorn), em Klang, a 11 de setembro, antes deste mudar-se para Kuala Lumpur, para uma
entrada cerimoniosa, a 13 de setembro.

Contudo, diz a História Oficial que se o desembarque encontrasse oposição, ainda assim os 26.000 soldados
japoneses espalhados por toda a Malásia (mais 70.000 estavam em Cingapura) e sem qualquer apoio aéreo
não teriam condições de barrar a invasão, embora as tropas que desembarcaram nas praias de Morib tivessem
de ser retiradas e se fizesse necessário introduzir uma revisão sensata nos planos.

A “Píton” de tal forma dizimara as divisões britânicas, que todos os movimentos de pós-guerra, no Sudeste
Asiático, foram feitos por divisões indianas (com apenas umas poucas unidades britânicas especializadas a
acompanha-las). Assim, no que se refere à “Operação Zipper”, o exército indiano podia apenas afirmar que
tinha feito o melhor possível para dar execução a uma tarefa mal planejada. As maquinações do Alto
Comando no Sudeste Asiático, de onde Slim não sai imaculado, devem ser responsabilizadas por boa parte
do mau planejamento feito.

Finalmente, o 4o Corpo foi desativado a 1o de outubro, iniciando-se a dispersão da tropa logo a seguir. O 12 o
Exército assumiu o Comando da Malásia na mesma data. Ao 15 o Corpo passou o Comando das Índias
Orientais Holandesas; o 34o Corpo, que realizara a “Zipper”, teve a 1 o de novembro, o mesmo destino do 4 o
Corpo.

Slim passou o comando do ALFSEA a Dempsey a 8 de novembro e partiu para a Inglaterra, a fim de
promover a reconstituição e, depois, dirigir o Colégio Imperial de Defesa. Estava então com 54 anos de
idade.

Ali permaneceu até 1947. Contudo, não se dava bem com o Chefe do Estado-Maior-Geral Imperial, Lorde
Montgomery, que o considerava um “Cipaio”. Reformando-se em 1947, ingressou nas Ferrovias Britânicas,
sendo nomeado Vice-Presidente da empresa em 1948.

No ano seguinte, ou seja, em 1949, voltou ao exército, para substituir o Lorde Montgomery na Chefia do
Estado-Maior-Geral Imperial. De 1953 a 1958 ocupou o cargo de Governador-Geral da Austrália. Tornou-se
Diretor e Considerável da Torre do Castelo de Windsor em 1964, permanecendo no exercício do cargo até
pouco antes da sua morte, que se verificou aos 79 anos de idade. As exéquias, realizadas no Castelo de
Windsor a 22 de dezembro de 1970, contaram com a presença de milhares de velhos companheiros, dos mais
variados postos.

Slim não foi, de modo algum, um grande capitão de guerra. Numa época em que a técnica dos duelos
mudava com muita rapidez, ele não foi responsável por quaisquer grandes inovações no método tático ou no
estratégico. E tampouco, ao contrário de Wavell, assimilava rapidamente os novos meios de lograr o inimigo.
Por exemplo, ele jamais gostou de usar forças especiais, como pára-quedistas ou comandos, talvez por não
ter percebido todo o seu potencial, o que sem dúvida reduziu a robustez de suas forças. Ele relutava em
explorar as oportunidades que as operações tipo Chindit possibilitavam e, embora não pudesse conseguir
coisa alguma, naquele teatro de operações, sem o abastecimento aéreo, ele demorou a confiar nele. Seu
desenvolvimento de tropas era sensato, mas raramente brilhante. Somente a captura de Meiktila, em 1945,
traz a marca do gênio.

As qualidades que possuía eram pouco vistosas, mas profundas: firmeza, perseverança e julgamento baseado
em bom senso. Como um historiador disse, sobre Blucher, o parceiro prussiano de Wellington em Waterloo,
Slim também era “dotado de bom senso, fervorosa energia e coragem indômita... foi derrotado muitas vezes
e não era o que se pode chamar de autêntico ás da arte da guerra... Contudo, no campo de batalha, a
determinação e a coragem que demonstrava valiam seu peso em ouro”. Talvez Slim nem sempre fosse tão
confiante como parecia ser. Algumas mensagens que ele enviou a seus superiores durante a batalha de
Imphal depõem contra a sua reputação de general calmo e frio. Mas ele, ainda assim, mantinha sempre a
aparência de calma, e independente das incertezas que possa ter sentido, estas não chegaram a seus
subordinados. Esta capacidade para interpretar, para fingir, foi um dos maiores bens de Slim, porque lhe
permitiu utilizar ao máximo a capacidade que possuía.

As qualidades humanas de Slim eram igualmente importantes. Numa área em que a proporção do moral para
o físico era de 6 para 1, em lugar da famosa proporção de 3 para 1 de Clausewitz, era vital que os soldados
tivessem confiança no seu general. Slim fez mais que isto: instilou confiança, lealdade e afeto em soldados,
de todas as raças, uma lealdade que manteve coeso o “Exército Esquecido”, e dirigia bem os comandantes
que lhe eram subordinados, chegando mesmo a angariar o respeito de um brilhante individualista como
Wingate e do difícil e antibritânico Stilwell.

Estes atributos não teriam sido o suficiente sem a capacidade de aprender, que transformou Slim do medíocre
brigadeiro de 1940 no excelente comandante-de-exército de 1945. O fracasso inicial em Gallabat fez dele um
homem mais arrojado em ataques posteriores - muito embora ele exagerasse em Deir-ez-Zor, usando duas
brigadas para tomar uma aldeia mal defendida. A retirada da Birmânia envolveu-o num novo tipo de guerra
em que a princípio foi superado pelos japoneses. Mas ele pôs-se a estudar novamente - com resultados que
apareceram nos programas de treinamento que fixou para o 15 o Corpo, na operação de salvamento no
Arakan, em 1943, e, finalmente, na percepção do papel do abastecimento aéreo como agente impeditivo da
penetração dos nipônicos. Esta fase atingiu o ponto crucial nas batalhas do Arakan e Imphal de 1944.
Imediatamente após, Slim mostrou espantosa resistência - depois de dois anos de luta defensiva - passando à
ofensiva quando ainda incerto o resultado da luta em Imphal. Somente no fim é que ele parece ter ficado em
inferioridade e ter perdido a confiança em si mesmo, nas águas complexas da grande estratégia do Sudeste
Asiático.

Um “general de seus soldados”, Slim foi mais um homem de campanha do que um grande estrategista. Ele
sempre se mostrou disposto a improvisar e cumprir a tarefa, sem perseguir a perfeição, como alguns dos seus
equivalentes na Europa tendiam a fazer.

O Duque de Wellington certa feita comentou, mordazmente, sobre alguns marechais de Napoleão, dizendo
que “eles planejavam suas campanhas com aquele mesmíssimo espírito como se fossem fazer esplêndidos
arreios. Fica muito bonito, e funciona muito bem, até que se parte; então, a pessoa está perdida. Eu faço
minhas campanhas com cordas. Se algo sai errado, dou um nó e vou em frente”.

Slim, colocado repetidamente face a face com o fracasso ou com a falta de suprimentos, dava um nó e ia em
frente para a vitória. Provavelmente, nenhum outro general britânico da época poderia, nas mesmas
condições, ter realizado tanto quanto Slim.

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