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DA IDENTIDADE DA
TECNOLOGIA MODERNA
(PROF. DRA. ANGELA LUZIA MIRANDA1)
1
Dra. em Filosofia (Universidad de Salamanca-ES); Dra. em Ética (Universidad del Pais Vasco); Professora da
ECT/UFRN. Texto produzido e elaborado como material didático para as aulas da disciplina de Ciência,
Tecnologia e Sociedade. Proibida sua reprodução sem autorização prévia de autoria.
DA IDENTIDADE DA TECNOLOGIA MODERNA2
1. INTRODUÇÃO
Este texto pretende, então, fornecer uma reflexão, ainda que introdutória
sobre a identidade da tecnologia moderna.
2
Texto extraído de MIRANDA, Ângela Luzia. Da natureza da tecnologia: uma análise filosófica
sobre as dimensões ontológica, epistemológica e axiológica da tecnologia moderna. 2002. 161f. Dissertação
(Mestrado em Tecnologia) - Programa de Pós-graduação em Tecnologia, Centro Federal de Educação
Tecnológica do Paraná, Curitiba, 2002. Parte do que aqui será apresentado fora exposto em comunicação
apresentada pela autora desta pesquisa. Cf. MIRANDA, Angela L. Da natureza da tecnologia: uma análise
sobre a gênese da tecnologia moderna. In: Simpósio Internacional: Ciência e Tecnologia como Cultura e
Desenvolvimento – Um Enfoque Histórico, 2001, São Paulo. Caderno de Resumos...CIHC/USP, Nov/2001,
10 pp.
3
HEIDEGGER, Martin, A questão da técnica. In: Cadernos de Tradução, n. 2, DF/USP, 1997, p.
42.
3
8
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. In: OS PENSADORES. São Paulo:
Nova Cultural, 1987, pp. 5 e 6.
9
Vale lembrar que o conceito de “historicidade” filosoficamente é introduzido por Hegel na época
contemporânea, somente a partir do séc. XIX. Neste sentido, cf. as obras de HEGEL: Lições sobre a filosofia
da história e Fenomenologia do espírito, citado por CORBESIER, Roland. Introdução à filosofia. Tomo I, 3
ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasiliense, 1990, pp. 92 e 93.
5
10
Neste sentido justifica-se a inversão histórica por nós utilizada, quando da exposição da gênese da
tecnologia moderna (Cf. tópicos .4.1 e 4.2 deste capítulo). Como se observa, historicamente Marx é anterior a
Heidegger. No entanto, a opção metodológica de iniciar o estudo da questão por Heidegger, tem em vista sua
análise fenomenológica sobre o assunto, que constitui, em nosso entendimento, ponto de partida, mas não de
chegada. A visão de dialeticidade e historicidade do real empregada por Marx, pode nos auxiliar, cremos nós,
a dar um passo adiante na compreensão da identidade da tecnologia moderna.
8
11
SCHAFF, Adam. A sociedade informática. São Paulo: Brasiliense, 1993 , p. 154 e 155.
10
12
ENGUITA, Mariano F. Tecnologia e sociedade; a ideologia da racionalidade técnica, a
organização do trabalho e a educação. In: SILVA, Thomaz T. da. Trabalho, educação e prática social; por
uma teoria da formação humana. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. p. 231.
13
KNELLER, , G. F. A ciência como atividade humana. Rio de Janeiro: Zahar, 1980. pp. 269 e
270.
11
15
BIROU, Alain. Dicionário das ciências sociais. Lisboa: Ed. D. Quixote, 1966, citado por
GAMA, Ruy. A tecnologia e o trabalho na história. São Paulo:Edusp, 1987, p. 30 e 31.
13
16
Alguns estudiosos (como Heidegger) entendem que apesar de os gregos fazerem esta distinção
entre teoria e prática, nao se pode dizer que o gregos separam a teoria da prática. Para os gregos a theresis é a
mais profunda prática.
17
REALE, Giovanni. História da filosofia antiga. Vol. 1. São Paulo: Loyola, 1995, p. 250.
14
A palavra techné tem em grego uma extensão muito mais vasta que a
nossa palavra ‘arte’. Com essa se pensa uma atividade profissional
qualquer fundada sobre um saber especializado , isto é, não só a
pintura, a escultura, a arquitetura e a música, mas também, e mais
ainda, a arte sanitária, a arte da guerra e até mesmo a arte do piloto. E
dado que a palavra exprime que tal consuetude e ou atividade prática
não se apóia só sobre uma rotina, mas sobre regras gerais e sobre
conhecimentos seguros, ela chega facilmente ao significado de ‘teoria’,
significado que tem correntemente na filosofia de Platão e de
Aristóteles, especialmente onde se trata de contrapô-la à pura empiria
ou ‘prática’. Por outro lado, techné se distingue de epistéme, a ‘ciência
pura’, enquanto a techné é pensada sempre a serviço de uma práxis.18
18
Id. Ibid.
19
REALE, op. cit., p. 211.
20
DUSSEL, Filosofía..., op. cit., p. 13. (Tradução livre).
15
21
COTTIER, Georges. Criteri di giudizio etico sulla tecnologia. In: BAUSOLA, Adriano et al.
Etica e transformazioni tecnologiche. Milano: Vita e Pensiero, 1987, p. 72.(tradução livre)
16
A palavra tecnologia não é nova; apesar das afirmações de que ela foi
inventada no séc. XVIII, há fortes argumentos contrários. O Dicionário
etimológico da língua portuguesa, de Antenor Nascentes dá como
origem a palavra grega Technologia e o Dictionaire grec-français de A.
22
ARISTOTELES, Ética a Nicômaco. 1140a , 10-16. Ib. ibid. (tradução livre).
23
ARISTÓTELES, La Política. 1253b, 33 – 1244a , 1. Apud, COTTIER, op. cit., p. 76.(Tradução
livre).
17
24
GAMA, R. Engenho e tecnologia. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1983, p. 40.
25
VARGAS, M. Dupla transferência; o caso da mecânica dos solos. Revista USP. São Paulo, n. 7,
p. 3-12, 1990. Apud RIBEIRO DE SOUZA, Sonia Maria. Um outro olhar. São Paulo: FTD, 1995, p. 229.
Semelhante posição adota o autor ao discorrer sobre “Tecnologia, técnica e ciência”, in GAMA, Ruy (Org.)
Ciência e técnica (ontologia de textos históricos). São Paulo: T. A. Queiroz, Editor, 1984, p. 14 e VARGAS,
Milton. Metodologia da pesquisa tecnológica. Rio de janeiro: Globo, 1985, p. 13 e ss.
18
26
GAMA, Engenho..., op. cit., p. 9.
27
GAMA, Engenho..., op. cit., p. 50.
28
GAMA, R. História.da técnica e da tecnologia. São Paulo, 1985, p. 10 e 11.
29
GAMA, Engenho..., op. cit., p. 42
19
30
GAMA, História...., op. cit., p. 11
31
GAMA, R. Engenho e tecnologia. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1983, p. 40.
20
sentido de tecnologia a partir do séc. XIX não é o mesmo que o registrado até
o séc. XVII.
32
MEDEIROS e MEDEIROS. O que é tecnologia. São Paulo: Brasiliense, 1993, p. 7 e ss.
33
HEIDEGGER op. cit. O original consta da obra em alemão, intitulada Die frage nach der technik..
21
que, para efeito de nossa avaliação e tendo em vista o objetivo deste trabalho,
tornam-se imprescindíveis traduzi-los aqui34.
34
Ao descrever a biografia de Heidegger, Safranski lembra que a conferência sobre A questão da
técnica não é um avanço isolado neste terreno. Heidegger toma a palavra num debate que já estava
acontecendo na Europa, sobretudo, com o desconforto do mundo pós-guerra diante da técnica e da
necessidade de discutir a relação entre política e tecnologia. Neste cenário, figuravam tanto os apologéticos,
quanto os críticos da tecnologia. Por exemplo, do lado dos críticos, encontramos as manifestações em
homenagem a Kafka, um homem horrorizado com o “poder do mundo coisificado”; a análise profética de
Huxley em Admirável mundo novo; a obra de Weber, O terceiro ou o quarto homem, em que ele descreve o
horror de uma civilização técnica e a visão de Friedrich Jünger, para quem a técnica não é só um meio, mas
um modo de vida. Do lado dos anticríticos da crítica, figuravam posições, como: o “mal” não reside na
técnica, mas no ser humano; “é preciso evitar a demonização da técnica, e em troca analisar melhor a técnica
da demonização”, descrevia um artigo publicado no Monat, e que também era a posição de Max Bense. Além
desses, vale lembrar ainda que o físico Heisenberg, bem como o filósofo José Ortega y Gasset (com a
publicação de sua obra Meditações sobre a técnica) também participavam deste contexto. Ambos, inclusive,
faziam-se presentes na referida conferência de Heidegger, a qual fora, “talvez o maior sucesso público de
Heidegger na Alemanha do pós-guerra”. Cf. SAFRANSKI, Rüdiger, Heidegger: um mestre da Alemanha
entre o bem e o mal. São Paulo: Geração Editorial, 2000, pp. 455-472.
35
HEIDEGGER, op. cit., p. 41.
22
36
HEIDEGGER, op. cit., p. 53.
37
DUSSEL, Filosofía...,op. cit., p. 66. (Tradução livre)
23
Disso decorre que o significado das coisas existentes a priori se altera com a
intervenção humana pela técnica. Um rio que abriga uma hidroelétrica, deixa
de ser ele mesmo e passa a constituir outro significado. Como rio ele é agora a
essência da central elétrica: o rio que tem a pressão da água. Em verdade, não
é o rio que abriga a hidroelétrica, mas é o rio que está construído na central
hidroelétrica; a sua existência vale pela energia que produz e não por ser ele
mesmo o rio.
38
Id. Ibid.
39
HEIDEGGER, op. cit., p. 61.
24
Assim já não podemos ver uma cachoeira sem pensar quantos watts de
potência vamos extrair dali; já não vemos uma floresta sem deixar de calcular
quanto ganharemos pela extração da madeira dali... Heidegger observa: já não
vemos as coisas em si, como ser, mas como subsistência, algo a meu dispor.
41
HEIDEGGER, op. cit., p. 81.
42
HEIDEGGER, op. cit., p. 89.
43
HEIDEGGER, op. cit., p. 93
26
44
DUSSEL, op. cit., p. 68.
45
MARX, Karl, O capital, I, p. 331, nota 89, Apud, Dussel, Filosofia...op. cit., p. 14. (Tradução
livre)
46
Conferir a reflexão de ENGELS sobre O papel do trabalho na transformação do macaco em
homem, In: MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Textos. Vol. 1. São Paulo: Edições Sociais, 1977.
27
47
Titulo da obra do jovem Engels, em 1844.
48
Citado por DUSSEL, op. cit., p. 119.
28
49
MARX, Los grundrisse, I, p. 706. Apud BRYAN, op. cit.,, p. 52.
29
50
MARX, Capital y tecnologia. Manuscritos de 1861-1863. p. 93, citado por BRYAN, op. cit.,p.
63.
51
MARX, O capital.., op. cit.,p. 426.
52
DUSSEL, op. cit., p. 231. (Tradução livre).
30
Concluindo a contribuição de Marx para nossa reflexão, vale lembrar que para
este filósofo que se transferiu para a Inglaterra, berço da Sociedade Industrial
e germe do capitalismo, a fim de compreendê-la in loco, a tecnologia deve
ser compreendida a partir de três níveis: como instrumento de trabalho,
como processo de produção e como capital.
53
Citado por DUSSEL, op. cit., p.121.
54
MARX, O Captal, capítulo inédito, pp 86 e 87, citado por BRYAN, op. cit., p. 53.
31
55
Vale dizer, que o sentido de instrumento objetivo dado por Marx, não se refere somente à
ferramenta.; a máquina-ferramenta, é mais que ferramenta, à medida que executa a função da força motriz
humana. O esclarecimento tem em vista a preocupação semântica da qual se ocupa Ruy Gama. Segundo ele,
“instrumento” é diferente de “ferramenta” que é diferente de “máquina”. (Cf. GAMA, Ruy. Meios de
trabalho. Téchne. São Paulo, n. 10, maio/junho, 1994, pp. 2; 31-35).
56
MARX, Los Grundrisse, II, p.221, citado por DUSSEL, op. cit., p.141. (tradução livre)
32
57
REGIS DE MORAIS, J. F. Ciência e tecnologia: introdução metodológica e crítica. São Paulo:
Cortez & Morais, 1977, p. 105.
58
Citado por JAPIASSU, H. As paixões da ciência. São Paulo: Letras & Letras, 1999, p. 157.
33
59
Id. Ibid.
60
DUSSEL, op. cit.,, p. 231. (tradução livre)
34
61
Citado por SOUZA, S. M. R de. Um outro olhar. São Paulo: FTD, 1995, p. 230.
62
KNELLER, G. F. A ciência como atividade humana. Rio de Janeiro: Zahar, 1980, p. 245 e 246.
35
63
HABERMAS, J. Técnica e ciência enquanto ideologia. In: OS PENSADORES. São Paulo: Abril
Cultural, 1983, p. 305. O significado de razão instrumental será retomado no próximo capítulo quando
abordarmos o conhecimento da tecnologia.
64
In: OS PENSADORES, Benjamim, Habermas, Horkheimer e Adorno – Vida e Obra. São Paulo:
Abril Cultural, 1983, p. XVII.
36
Habermas observa que até o séc. XIX não havia interdependência entre
ciência e técnica. É com Galileu (séc. XVII) que as ciências passam a gerir
um saber tecnicamente aproveitável, mas que só terá reais chances de
aplicação concreta a partir do séc. XIX, com a pesquisa em grande escala,
oriunda da Revolução Industrial. Deste modo, a tecnologia confere à ciência
precisão e controle nos resultados de suas descobertas e a prerrogativa não
somente de um saber destinado a facilitar a relação do homem com o mundo,
mas destinado a dominar, controlar e transformar o mundo. “O caso da
biologia genética revela como a tecnologia da física, da química, da
cibernética determinaram uma atividade interdisciplinar que resultou em
descobertas e mudanças na biologia”66.
65
HABERMAS, Técnica..., op. cit., pp. 330 e 331.
66
Exemplo citado por CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1998, p. 279.
37
Vale dizer aqui que, quando Habermas realiza a leitura acima descrita
sobre a dimensão ideológica da técnica e da ciência, era a década de 70,
período em que o contexto geo-político é marcado pela chamada “guerra-
fria”, cuja hegemonia política é americana, espaço situado das pesquisas de
Habermas e o lugar privilegiado de onde o filósofo observa a realidade,
sobretudo, com a subordinação das pesquisas científicas no processo de
militarização dos EUA. É o que Habermas denomina de “complexo ciência-
técnica-indústria-exército-administração”.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
predominância daquele sobre este. Dela era possuidor o artífice ou artesão que
ao fabricar os produtos manufaturados (prática) detinha o conhecimento da
constituição de todo o processo de produção (conhecimento universal)68.
Ao contrário, ser possuidor da técnica hoje (ser técnico) significa tão
somente ter a habilidade de operar, monitorar a máquina, sem que seja
necessário conhecer integralmente seu processo de funcionamento. A
máquina, sim! Esta detém o conhecimento acumulado do trabalhador.
Portanto, a techné, que fora adquirida no decorrer de toda história do trabalho
humano, tornou-se trabalho objetivo da máquina, reservando-se ao homem
somente a função de operar (a máquina) e não mais a função de criar. Por
isso, segundo a visão marxista, o modo de produção capitalista representa a
perda qualitativa do trabalho humano69.
Vimos que, afora a discussão sobre o uso do termo, o fato é que nunca
chegaremos à essência da técnica ou da tecnologia, falando do que é
técnico ou do aparato tecnológico, conforme também alertou Heidegger.
Este é outro aspecto importante como conclusão desta primeira parte.
Disso decorre a necessidade de elaborar uma reflexão filosófica sobre o
que é a tecnologia, e, ao fazê-la, conclui-se que não podemos atribuir o
mesmo significado à tecnologia antes e depois da era moderna. Semelhante à
história da ciência na modernidade, a tecnologia sofre e propicia
68
O trabalho do artesão foi possível ser visto até o século XIX, quando do início da Revolução
Industrial. Bravermann descreve o artesão, nesta época, como aquele que “estava ligado ao conhecimento
técnico e científico de seu tempo na prática diária de seu ofício”. E acrescenta: “Estes artesãos eram uma
parte importante do público científico de sua época e, como norma, mostravam um interesse pela ciência e
pela cultura que ia além do diretamente relacionado com o seu trabalho”. Neste mesmo sentido,
encontramos a leitura de Landes sobre os primeiros artesãos a ocupar a função de maquinistas. Ele constata:
“Ainda mais impressionante era a preparação teórica desses homens [...]. Mesmo os maquinistas
(Millwright) ordinários, como faz notar Fairbain, eram, em geral, ‘um bom aritmético, sabia algo de
geometria, nivelamento e medição, e, em alguns casos, possuía conhecimento muito preciso de matemática
prática. Podia calcular a velocidade, resistência e potência das máquinas, podia desenhar em plano e em
seção...’ Grande parte desses ‘feitos e potencialidades intelectuais elevados’ refletiam as abundantes
oportunidades para a educação técnica em ‘povoados’ como Manchester, que iam desde as academias
dissidentes e sociedades ilustradas até os conferencistas locais e visitantes, as escolas privadas ‘matemáticas
e comerciais’ com aulas vespertinas e uma ampla circulação de manuais práticos e publicações periódicas e
enciclopédicas”. Citado por ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola: educação e trabalho no
capitalismo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989, pp. 119 e 120.
69
MARX, Los Grundrisse..., op.cit., pp. 497 e 498. Neste sentido conferir a análise sobre o
desenvolvimento capitalista e apropriação de saber, in: BRYAN, op. cit., p. 42.
39
70
Cf item .4.2 deste capítulo.
71
BASTOS, João Augusto S. L. A. de. (Org.) Tecnologia e interação. Curitiba: CEFET-PR, 1998,
p. 13.
40
72
NOBLE, D. América by design. New York, Oxford University Press, 1980, p.33. Apud: GAMA,
R. A tecnologia e o trabalho na história. São Paulo: Edusp, 1987, p. 19
73
Ibid. A crítica do referido autor é assim explicitada: Colocada a questão em termos marcusianos,
a crítica da sociedade burguesa cede lugar à crítica da tecnologia e da ciência; o responsável
historicamente não é o capitalismo, mas a máquina, a tecnologia, a ciência. É fácil constatar a freqüência
com que essa formulação aparece, explícita ou implicitamente nos discurso antitecnológicos de diversos
matizes. Diferentemente da posição de Ruy Gama, consideramos que a posição de Noble não encerra a
responsabilidade somente na tecnologia, pois ele afirma que a tecnologia não é só meio, mas também produto
da sociedade capitalista. Portanto, ele admite uma relação recíproca entre capitalismo e tecnologia, enquanto
forma de subsistência histórica. Em outros termos, corroboramos com Noble, colocando a seguinte questão:
tendo em vista que a mola propulsora do sistema capitalista é o lucro, é possível pensar a sociedade
capitalista sem o desenvolvimento tecnológico nos moldes do que aí está, advindo do atrelamento entre
ciência e técnica a partir da época moderna?
74
A compreensão que “a tecnologia é tão antiga quanto o próprio homem” (FORBES) é analisada
por GAMA, R. A tecnologia e o trabalho na história. São Paulo: Edusp, 1987, p. 14 e ss.
41
Disso tudo concluímos que a tecnologia não é neutra. Ela é atividade cuja
identidade é histórica e não instransponível ou determinada desde
sempre. E sua identidade depende desta avaliação. E porque é um
fenômeno histórico, outro pode ser o entorno ou a “natureza” que
podemos dar a ela.
75
A expressão constitui o próprio título da obra de Robert Kurz.
76
SANTOS, B. S de. Crítica da razão indolente contra o desperdício da experiência. São Paulo:
Cortez, 2000, p. 22 e ss.
77
HOBSBAWN, E. A era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Cia das Letras, 1995.