Cristãos SECRETOS
TESTEMUNHO
Richard Dower
Mikhail e Ana Kulakov: entrevistados por Mike
Ryan durante um programa de Missão Global,
em St. Louis, em julho. Kulakov foi preso várias
vezes ao longo de sua vida
para dentro da igreja, interrompendo o
culto. As autoridades multam o jovem
pastor adventista de 18 anos de idade e
ordenam que ele assine uma declaração
atestando que a congregação é indiscipli-
nada e ilegal. Ele concorda em assinar,
mas somente depois de fazer três corre-
ções: a congregação não era indisciplina-
da; a Igreja Adventista havia sido regis-
trada até que o governo revogara seu
status; e havia solicitado novo registro
mas não obtivera resposta.
Duas semanas depois, as autoridades
invadem novamente a igreja e proíbem a
realização de toda e qualquer reunião ali.
O pastor é encaminhado ao tribunal,
onde recebe multa correspondente a duas
semanas de salário. É advertido de que, se
transgredir mais uma vez, será multado
sete vezes mais. E uma terceira transgres-
são o levaria à prisão.
Poucas semanas depois, com lágri-
mas nos olhos, os membros daquela
igreja adventista se agrupam numa fria
manhã de inverno e cantam hinos, en-
quanto seu querido templo é terraplena-
do por ordem do governo.
O jovem pastor não fica intimidado.
Continua ministrando aos membros da
sua igreja, apesar de ter sido aprisionado
to por alguns dias. Nada pode fazer cessar
seu trabalho. Ele até encontra uma ca-
verna onde pode batizar secretamente,
de
em águas geladas, os novos conversos.
te
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na União Soviética
Por volta de 1935, o governo comunista da União Soviética fechara quase todas
as igrejas. Em 1945, após seu primeiro aprisionamento e vários anos de exílio na Si-
béria, meu avô, Pastor Peter Kulakov Sir, mudou-se para a cidade de Ivanovo. Ali
havia um pequeno grupo de fiéis adventistas do sétimo dia que se reuniam todos
os sábados em uma casa pequena, perto da cidade, onde morava a família dele e
de um outro pastor que fora perseguido. Nenhuma calçada, nem transporte cole-
tivo ou iluminação pública conduzia àquele lugar de adoração.
As autoridades exigiam que todas as pessoas trabalhassem para o governo. O
ministério profissional era estritamente proibido. Como pastor clandestino, meu
avô trabalhava como fotógrafo. Era uma excelente maneira de conhecer novas
pessoas e partilhar secretamente sua fé cristã. Na União Soviética, sempre houve
pessoas sedentas da Palavra de Deus. Depois de conversar com as pessoas, meu
avô as convidava para irem à sua casa. Uma a uma, sob a escuridão da noite, as pes-
soas caminhavam na poeira até a casa dele.
– Naqueles anos compreendi e apreciei a verdade contida nas palavras de Davi:
”Quanto a mim, bom é estar junto a Deus” (Sal. 73:28) – diz meu pai. – As prova-
ções uniam os membros da igreja em amor e serviço ao Senhor.
Todos os que iam ali sabiam que era ilegal adorar em casas particulares e que qualquer dia pode-
riam ser aprisionados por participarem nos cultos de adoração. Em agosto de 1945, tarde da noite, lon-
ge das luzes da cidade, meu avô batizou, às escondidas, oito pessoas – incluindo seu filho, meu pai, Mi-
khail. Dois dos que foram batizados tornaram-se informantes da KGB, os quais, mais tarde, informaram
o governo sobre aquelas pessoas. Quando meu pai completou 18 anos de idade, o pai dele foi preso
pela segunda vez. A tocha do ministério pastoral foi então passada ao meu pai.
Depois do julgamento, durante uma visita informal de cinco minutos com seu filho, meu avô advertiu
meu pai acerca dos informantes da KGB. Contou ainda a Mikhail que ele também seria aprisionado dentro de
pouco tempo. O temor da perseguição não intimidou meu pai. Ele continuou o ministério na casa de seus pais.
Dentro de poucos meses, meu pai e seu irmão Stephen foram presos e sentenciados a cinco anos nos
campos de trabalho de Stalin. Mas, mesmo ali nos campos, meu pai encontraria dois ou três cristãos com os
quais se reunia para adorar a Deus. Cada sábado era dia de novas perseguições. Ao recusar trabalhar no sába-
do, ele era levado a um “buraco escuro” ou “casa de detenção”, e sua escassa ração diária era reduzida pela
metade.
Milagrosamente meu pai conseguia manter a Bíblia longe da vista dos oficiais da KGB, durante as
inspeções regulares. Esse Livro manteve sua fé viva durante aqueles anos em que foi rigorosamente
testada tanto a fé dele, como a de seu irmão, seu pai e seus familiares.
A separação dos queridos familiares foi muito difícil para meu pai.
– Naqueles anos de perseguição – diz ele – minha fiel companheira e milhares de outras mulheres
cristãs sabiam que precisavam estar preparadas para viver separadas do marido, bem como dos filhos,
para crescerem separados do pai. Para pessoas como essas, era óbvio que nosso refúgio está no Senhor
Deus; nosso conforto na Sua Palavra; nossa força na união de todos os Seus filhos. – Peter Kulakov é
Progresso em algumas áreas – Recente- Desafios restantes – À medida que a Igre-
mente, em um fabuloso avanço, mais de ja leva a sério sua missão ao mundo, po-
cinco anos depois de a igreja de Ashga- demos esperar mais desafios ainda. Os
bat ter sido terraplenada, a congregação pioneiros da Missão Global, por exem-
adventista recebeu permissão para rei- plo, têm penetrado em países e regiões
niciar seus cultos a cada sábado. onde é proibido o testemunho cristão.
Em outras partes do mundo, há tam- Seu testemunho tem sido criterioso e si-
bém sinais de esperança. Em anos recen- lente, e as novas congregações realizam
tes, o governo cubano concedeu nova li- seus cultos às escondidas – continua-
berdade religiosa à Igreja Adventista. A mente vigilantes, temendo a repressão.
Missão Global e o ministério Maranatha A situação no país de Jabel não
Volunteers International (Voluntários In- apresenta sinal algum de melhora. A
ternacionais Maranata) participaram de Rádio Mundial Adventista continua seu
um programa de evangelismo em massa e ministério, transmitindo especifica-
construção de igrejas em Cuba, e o núme- mente cultos divinos para ajudar a pro-
ro de adventistas aumentou muito. ver os recursos espirituais a essa igreja
necessitada.
Revista Adventista, dezembro 2005