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o eu individual é a única
curantismo, ao SOLIPSISMO e ao relativismo extremo - to
realidade e que o mundo
exterior só existe na nossa em firme oposição às pretensões universalistas do estru:
imaginação. ralismo. Ainda persiste o apelo da ideia de que sequên
padronizadas de significado simbólico estão em relac
observável e "decifrável" com outras, tendo muitos antropólogo
esforçado em adaptar esse aspecto do estruturalismo francês a u
etnografia mais sensível tanto contextual quanto historicamente.
Pode-se, pois, indagar da validade dessas críticas e até que po
foram aceitas pelos teóricos da Antropologia. Como observou J
Robbins num en aio recente, tais críticas equivalem a "versões ob
nadamente simplistas da distinção quente/frio" que ignora os ar
mentos mais sutis de Lévi-Strauss em relação à mudança social e h -
tórica. Na opinião de Robbins, a perspectiva supostamente a-histón
de Lévi-Strauss deve ser considerada uma meditação sobre "o perigo
universalizar um modelo cultural ocidental da natureza e o valor da m -
dança como constructo teórico". Por essa razão o seu legado e o
estruturalismo francês devem ser vistos como contribuiçã
ESTRUTURAliSMO
- Na
Antropologia Social a uma crescente consciência disciplinar sobre a necessida
Britânica, preocupação de cautela ao exportar modelos ocidentais de sociedade
sincrônica com a
estrutura social, por vezes
cultura, contribuição que seria de grande importância déc -
chamado morfologia das mais tarde.
social. Na Antropologia
Estrutural Francesa,
preocupação com as
fonmas elementares das
Antropologia Social Britânica
mentalidades e culturas.
Os mais destacados antropólogos britânicos nas prime -
FUNCIONALISMO
- Na
ras décadas do século XX foram Alfred Reginald Radcliff -
Antropologia Social
Britânica, tanto a teoria -Brown e Bronislaw Malinowski, cujas fortes personalidad
de Radcliffe-Brown sobre e intelectos infundiram à Antropologia Britânica uma agen-
como as partes de uma
sociedade contribuem
da teórica muito diferente da que havia consumido o esfor-
para o todo quanto a teoria ço de seus antecessores no século XIX. Trabalhando separa-
de Bronislaw Malinowski
damente e, no caso de Radcliffe-Brown, sob a influênci
sobre como a cultura
responde às necessidades de Émile Durkheim, eles fundaram a escola conhecid
biológicas de maneira
como Antropologia Social Britânica. Os "ismos" fulcrai
hierarquicamente
organizada
dessa escola foram o ESTRUTURALISMO, o FU CIONALISMO e.
136
r vezes, o FUNCIONALISMO ESTRUTURAL, baseados, em es- FUNCIONALISMO ESTR
Na Antropologia SOCIal
ial quanto à obra de Radcliffe-Brown e seus discípulos,
Britânica, preocupação
ANALOGIA ORGÂNICA de Durkheim, conceitualização da sincrônica com a estrutura
. .
tas sOCIaISa mo delar seus projetos
e ar seus oroi nas ..
ciências naturais,. a um organismo.
OCIAL. Outra inferência é de que deveria incluir a evolução Britânica, estudo da função
social de acordo com a
social, mas a Antropologia Social Britânica associava o evo- analogia orgânica.
era uma estrutura social mantida em equilíbrio ou, para usar Britânica, a contribuição de
uma parte da sociedade
um termo de analogia orgânica, em "saúde" estrutural. De- com o todo; por vezes
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dos marxistas, que a viam em conflito. Os antropólogos sociais britâ -
cos também diferiam dos particularistas históricos americanos por
orientação sincrônica e relativa falta de envolvimento com a cultura m -
terial, que por sua vez os antropólogos americanos mantinham atrav
de suas ligações mais estreitas com os arqueólogos.
A.R. Radcliffe-Brown
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início dos anos de 1930 lecionou e ocupou a cátedra do Departa-
nto de Antropologia da Universidade de Chicago. Ali interagiu com
-irropólogos boasianos como Robert Lowie e Fred Eggan (1906-1991)
egundo a maioria dos testemunhos, teria exercido grande influên-
pessoal e profissional, talvez ajudado por sua personalidade por ve-
exuberante, ampliando o apelo daquilo que concebia como ciência
rural da sociedade primitiva, para além dos limites da Antropologia
ritânica, Além da obra mencionada, seus principais livros incluem Or-
snização social das tribos australianas (1930-1931), Uma ciência natural
sociedade (1948), Sistemas africanos de parentesco e casamento (1950),
~m colaboração com C. Daryll Forde (1902-1973), e Estrutura e/unção
..1 sociedade primitiva (1952).
Apesar de exposto no início à etnologia de Rivers, em sua própria
bra Radcliffe-Brown evitou o trabalho não comparativo do mentor e
uscou uma base mais "científica" para a Antropologia. Por isso entre
antropólogos britânicos leva com frequência o crédito de ter recor-
rido às ideias de Durkheim sobre a solidariedade mecânica e orgânica
corno base teórica do seu trabalho de campo etnográfico na Austrália e
na África. Suas percepções originais transformaram por fim a teoria de
Durkheim em uma variante mais fundamentada empiricamente, na qual
a olidariedade mecânica e, especialmente, a orgânica serviam de moldu-
ra para o exercício de uma sociologia sincrônica, comparativa, de siste-
mas sociais não ocidentais. A questão primordial que Radcliffe-Brown
entou responder em suas pesquisas foi a de saber como a atividade ritual
e diferentes instituições sociais, em especial o parentesco, contribuíam
para a manutenção da estrutura social nas sociedades "primitivas". En-
re suas mais famosas contribuições à Teoria Estrutural-fun-
LINHAGENS - Grupos de
ionalista estão as definições dos princípios estruturais que parentesco de várias
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britânica na primeira metade do século XX seguiu as pegadas men - -
cantes de Radcliffe-Brown, que introduziu a obra de Durkheim p
muitos profissionais.
Bronislaw Malinowski
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círculo kula de trocas econômicas em Trobriand e explorou a Psicologia
_reudiana no contexto de uma cultura matrilinear não ocidental. No
nível da teoria, porém, o direito de Malinowski à fama em Antropologia
enta-se primordialmente na sua Teoria do Funcionalismo.
THE
KULA RING
50 O 50
! ' 1
141
dades e respostas, que por sua vez se tornam necessidades, foi inspir
no trabalho de campo em Trobriand, onde, segundo o próprio diário
Malinowski, ele sofreu porque suas necessidades biológicas básicas -
eram satisfeitas numa cultura "estranha".
Nos últimos anos, os historiadores da Antropologia têm lanç
o olhar para além do veio principal das tradições antropológicas na
nais britânica, francesa e norte-americana. Cada vez mais reconhe
não apenas o caráter internacional da Antropologia, mas tarnbé
diversidade dos contextos culturais que alimentam os antropólogo
suas teorias. Um caso exemplar é o próprio Malinowski, cujas raíz
polonesas, anteriormente encobertas, são agora investigadas. E
raízes serão provavelmente mais visíveis em histórias futuras da A-
tropologia Social Britânica.
E.E. Evans-Pritchard
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do funcionalismo estrutural estabelecido por Radcliffe-Brown, ele
dou a direção da Antropologia Social Britânica, de orientação cientí-
ca para um rumo mais "cultural", ao propor que a melhor abordagem
a investigar a estrutura social era modelá-Ia numa série de "mapas"
nitivos, lógicos e flexíveis, que dessem forma e significado ao com-
rtamento social.
Entre as décadas de 1920 e 1940, Evans-Pritchard construiu uma
- putação de africanista oriental, produzindo uma série de elegantes es-
. dos etnográficos com base em seu trabalho de campo entre as socie-
- des axante e núer do sul do Sudão; os mais conhecidos deles são Bru-
ria, oráculos e magia entre os axante (1937), Os núer (1940), Sistemas
líticos africanos (com FORTES, 1940), Parentesco e casamento entre os
iúer (1951) e Religião núer (1956). Em especial no seu trabalho com os
úer, revisitou a noção de Radcliffe-Brown de estrutura social e rejeitou
ideia de que as sociedades são mais bem-entendidas através de uma
analogia mecânica com organismos. De uma maneira que antecipava a
bra de Lévi-Strauss e Clifford Geertz, preferiu buscar interpretações
e estruturas culturais que forneciam sentido para membros de uma so-
iedade ao costurar vários aspectos da experiência de vida. Por exemplo,
núer são dotados de uma estrutura cultural unificada, ou sistema de
ógica abstrata, que informa tanto as ideias que os indivíduos têm sobre
ecologia, espaço, tempo e parentesco quanto as relações e práticas so-
iais que são geradas por essas ideias.
Além de sua reputação como prolífico pesquisador de campo, Evans-
-Pritchard é famoso também como um dos primeiros grandes defensores
da causa do relativisrno cultural. Ao contrário de Franz Boas, para quem
uma perspectiva relativista derivava da convicção de que sociedades di-
ferentes têm experiências históricas fundamentalmente distintas, Evans-
-Pritchard preocupou-se primordialmente em provar a coerência e lógi-
ca do que muitos antropólogos e filósofos (notadamente o acadêmico
francês Lucien Lévy-Bruhl [1857-1939J) encaravam como pensamento
"primitivo", a fim de mostrar que a capacidade ordenativa e de racionali-
dade não se limitava ao mundo ocidental, constituindo, ao contrário, um
sine qua non de toda vida social humana. Ficou célebre a argumentação
sobre a lógica da visão de mundo primitiva em sua obra-prima etnográ-
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Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março
c H u v A s
s E c
o S R I O S E N C H E M
O S R I O S S E C
H O R T c U L T U R A
Preparo da roça Preparo da roça para o QUEIMA DO MATO
para o primeiro segundo plantio de painço
plantio de painço ESTAÇÃO DA P E S -
e de milho CONSTRUÇÃO & REFORMA
Colheita Primeira safra Segunda safra
do milho de painço de painço
c A ç A
ESCASSEZ DE COMIDA C O L E T
FARTURA DE COMIDA
A L o E A s
Os mais Os mais
velhos jovens A C A M P A M E N T O
voltam voltam Mais jovens nos primeiros Todo mundo nos acampa
às aldeias às aldeias acampamentos principais da estação da
Cerimônias de casamento, de iniciação, mortuárias e outras
Principallemporada
dealaqueaosdinka
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Apesar de seu compromisso com uma visão histórica e relativista,
tanto irônico que a obra de Evans-Pritchard seja frequentemente
da como perfeito exemplo de pesquisa realizada à sombra do co-
alisrno europeu na África. Embora reconhecendo suas CHOQUE COLONIAL - o
~ ribuições, críticos tardios do CHOQUE COLO IAL, tanto choque histórico entre
cial. No tocante à etnografia ele contribuiu para formar uma a chamar-se Instituto
Nacional de Pesquisa de
eração de antropólogos, através do seu trabalho com o INS-
Zâmbía.
"!UUTO RHODES-LIVINGSTONE (mais tarde Instituto Nacional
PROCESSO SOCIAL - Segundo
e Pesquisa de Zâmbia) no final da década de 1930 e início o funcionalismo estrutural
e 1940; sob sua tutela, figuras da importância de um Victor em sua última fase, a
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ESCOlA DE MANCHESTER - e processual. Essa legendária ESCOLA DE MANCHESTE
Circulo de antropólogos
Antropologia Social foi responsável pela produção d
formados por Max
Gluckman na Universidade rios textos-chave de Antropologia nas décadas de 19::
de Manchester nas 1960, todos com a marca da influência de Gluckmar:
décadas de 1950 e de
1960.
própria obra dele inclui alguns clássicos nos subgên
da Antropologia Política e Legal (criada por ele), c
Rituais de rebelião no Sudeste Africano (1954), Costume e conflit
África (1955), Ordem e rebelião na África tribal (1963) e Política
e ritual na sociedade tribal (1965).
O caráter marcante da pesquisa e teona de Gluckman está
preocupação abrangente com a natureza da estabilidade social e
seu oposto, a mudança social, o que o levou com seus alunos a
CINTURÃO DO COBRE - Região senvolver um corpo original de pesquisa em áreas urb
central da Zâmbia e da
e tam b em
/ nos meios
. rurais. tra dici
icionais estu d a d os p
República Democrática do
Congo (Copperbelt) que antropólogos. Em especial, a área em processo de urb
serviu de área de pesquisa zação e industrialização da África Central chamada CI1\
para Max Gluckman
e outros antropólogos RÃo DO COBRE (Copperbelt), englobando parte da Zârnbi
ligados ao Instituto da República Democrática do Congo, foi importante I:
Rhodes-Livingstone. d e pesqUlsa
- para vanos
/ . antropo / Iogos doo Lnsti
nstrtuto
des-Livingstone que procuravam melhor entendimento dos proces
migratórios entre campo e cidade.
No tocante à Teoria Antropológica, Gluckman é especialme
muito conhecido por desenvolver a noção de que todas as socieda
RITUAIS DA REBELIÃO _ incorporam o que chamou de RITUAIS DA REBELIÃO. Er
Expressão cunhada importantes "válvulas de escape", dizia, para qualquer
por Max Gluckman dem social, devido a seu potencial de minimizar conflir
para descrever o papel
socialmente construtivo do reais sublimando-os em atos ritualísticos. Tais rituais era!
ritual para ajudar a evitar o poderosos por sua capacidade de chamar a atenção tanr
conflito real.
para o conflito propriamente dito quanto para a necessida
da autoridade legítima de conter os distúrbios da ordem social. De
forma, a estabilidade social era mantida pela incorporação da tensão
da hostilidade em atos rituais convencionais e socialmente legítimo-
Ideias localizadas sobre lei e legalidade desempenhavam grande pap
nessa abordagem, devido à influência que Gluckman acreditava terem
na administração de disputas e conflitos.
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udo da Antropologia Social Britânica
DESCENDÊNCIA
· e Iega I'mais amp Io.
po Iítico ancestral comum real ou
hipotético.
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pologia Americana herdeira de Boas. Por exemplo, em Fred E _
parcialmente convertido ao funcionalismo estrutural ao interagir
Radcliffe-Brown em Chicago e que deu à epistemologia uma per
tiva diacrônica, histórica.
O choque colonial referido por gerações posteriores de antro
logos projetou-se amplamente sobre a pesquisa britânica da prim
metade do século XX. Basicamente porque o Império Britânico, POt'-
cia colonialista de influência mundial, ocupava muitos territórios,
especial na África, que todos viam como ideal para o trabalho de carnt
etnográfico - todos com exceção dos habitantes nativos. Assim, mui
antropólogos, incluindo Evans-Pritchard, Fortes e Gluckman, reali -
ram intenso trabalho de campo entre povos que pouca opção tinha
não ser suportar a presença desses estrangeiros intrusos por períod
muitas vezes prolongados.
Em 1940, Fortes e Evans-Pritchard publicaram Sistemas políticos afr.-
canos, livro de ensaios controvertido sobre etnografia africana. Algu
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verdadeiro funcionalista. Dada a rejeição final do funcionalismo
o uma epistemologia na Antropologia, isso acabou virando um pon-
discussão, e o melodrama e retórica que caracterizaram esses deba-
niciais parecem hoje um tanto estranhos. Mas não se deve esquecer
assim como Boas, seu equivalente nos Estados Unidos, Malinowski
dcliffe-Brown deram juntos à Antropologia Britânica um caráter
rio e uma identidade no século XX fundamentada em pesquisa em-
-a e teoria rigorosa, ao contrário da especulação de poltrona e das
teses dos evolucionistas unilineares como Tylor e Morgan.
A variedade de funcionalismo biocultural de Malinowski foi a pri-
ra a ser desacreditada e descartada (junto com suas conclusões e
- inações pessoais) por sua descendência na disciplina, mas o longo e
:lOS0 trabalho de campo que realizou nas Ilhas Trobriand continua a
•. um paradigma para todos os que se formam e "vão à luta" pesqui-
r, Da mesma forma, a qualidade e o nível de detalhe de suas inúme-
monografias estabeleceram como gênero literário um estilo seminal
_ análise de dados que ainda não foi desbancado como veículo para a
osição de pesquisa em Antropologia Sociocultural. Tão importante
nto essa contribuição, o funcionalismo estrutural desbravado por
dcliffe-Brown serviu de ponte entre a obra seminal de Émile Dur-
eim e os interesses de uma segunda e uma terceira gerações de antro-
. 'logos sociais britânicos povoadas de acadêmicos do alto calibre e da
:ersidade de competências que representam Evans-Pritchard, Fortes,
_ ach, Gluckman, Firth, Douglas e Turner. Esses antropólogos con-
guiram combinar concepções de estrutura com uma visão cultural e
• lítica e uma sofisticação que ainda resistem a um exame minucioso
-o século XXI.
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