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FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA EQUATORIAL

COORDENAÇÃO DE TEOLOGIA

RESUMO

RONILDO PEREIRA MONTEIRO

BELÉM – PARÁ
2015
Resumo da obra “A Heresia da Ortodoxia: Como o Fascínio da
Cultura Contemporânea pela Diversidade está Transformando
nossa Visão do Cristianismo Primitivo.”
Ronildo Pereira Monteiro*1

RESUMO
O presente artigo se propõe a expor a obra “A Heresia da Ortodoxia”, objetivando analisar a
influência do pensamento relativista contemporâneo nos estudos do cristianismo primitivo.
Por intermédio desta exposição, há o intuito de despertar o interesse nas questões relacionadas
aos pressupostos da tese de Walter Bauer, o qual retrata que a heresia teria precedido a
ortodoxia na comunidade cristã primitiva.

PALAVRAS-CHAVE: Ortodoxia, heresia, diversidade, unidade, cristianismo primitivo.

INTRODUÇÃO
O livro “A Heresia da Ortodoxia” é uma resposta à tese de Walter Bauer (Teólogo,
lexicógrafo e estudioso alemão da história da igreja). Esta tese afirma que o cristianismo
primitivo não era unificado; que não havia uma homogeneidade na pregação dos apóstolos
que denotasse continuidade histórica com Jesus, ou seja, não havia uma ortodoxia. Segundo
Bauer, no início, o cristianismo era, essencialmente, diversificado e que (somente mais tarde)
com o fortalecimento da igreja romana, os diversos grupos cristãos foram considerados
heréticos. Dessa forma, ao longo dos anos, a visão romana do cristianismo teria sobrepujado
as diversas comunidades cristãs. Portanto, a ortodoxia, na verdade, seria a maior das heresias.
Destarte, o trabalho contemporâneo de boa parte dos segmentos de estudos do Novo
Testamento (como o Jesus Seminar) consiste em remontar o cenário do cristianismo do
primeiro século, pressupondo a veracidade dos estudos de Bauer. Nesta obra, Andreas
Köstenberg e Michael Kruger visam demonstrar a implausibilidade da teoria de Bauer e
apontar um caminho, epistemologicamente, mais adequado aos estudos dos primórdios do
cristianismo. No contexto mais genérico, esta obra é uma oposição à visão relativista da
sociedade pós-moderna que afeta, consideravelmente, a visão do cristianismo primitivo e
contemporâneo.
Os autores apresentam um desenvolvimento da influência acadêmica da tese de Bauer.
Dentre outras personagens importantes que se apropriaram dos trabalhos dele, Köstenberg e
Kruger destacam, no Século XX, Rudolf Bultmann (Professor de Estudos do Novo
Testamento na Universidade de Marburgo) o qual fez da obra de Bauer o embasamento para
sua teologia existencial. Vale ressaltar que Bultmann exerce grande influência na teologia
contemporânea; e a mesma é esclarecida em sua obra Theology Of The New Testament.

*Bacharel em Teologia pelo Faculdade Batista Equatorial.


Outros estudiosos também foram fortemente influenciados pelo trabalho de Bauer,
como Arnold Ehrhardt (Professor de História da Igreja na Universidade de Manchester) que
fez um estudo do credo apostólico e verificou que havia diferenças nos conteúdos do credo,
concluindo que a tese da diversidade fornecia um eficiente escopo. Dessa maneira, Ehrhardt
buscou reformular a história da igreja primitiva. Novamente, em 1965, a tese de Bauer
fundamentou os estudos de Helmut Koester (Professor de História Eclesiástica na
Universidade de Harvard) acerca do período apostólico. No ano de 1971, Koester e James M.
Robinson (Professor de Religião na Universidade de Claremont) publicaram o livro
Trajectories Through Early Christianity que teve grande atuação no meio acadêmico. Neste
livro, os autores recomendam a substituição dos termos “canônico” ou “não canônico”,
“herético” ou “ortodoxo” nos estudos do Novo Testamento, alegando que esses eram
inadequados, tendo em vista a pluralidade do cristianismo primevo.
Köstenberg e Kruger revelam James D. G. Dunn (Professor de Teologia da
Universidade de Durhm) como aquele que se apropriou “de modo extremamente influente da
tese de Bauer”. Em sua obra Unity and Diversity in The New Testament,em 1977, Dunn aplica
aos estudos do Novo Testamento a tese de Bauer e conclui que a diversidade excede a
unidade. Porém, destacava que a crença em Jesus como Senhor exaltado constituía-se de um
elemento unificador das comunidades cristãs, embora acreditasse que esse resultasse em
panoramas concorrentes. Essas foram as substanciais proposições da tese de Walter Bauer, no
âmbito acadêmico. Por outro lado, Elaine Pagels (Professora de Religião na Universidade de
Princeton) e Bart Ehrman (Professor de Ciências da Religião da Universidade de Carolina do
Norte em Chapel Hill) são responsáveis pela popularização da tese de Bauer. Pagels, em
1979, a adotou nos documentos gnósticos de Nag Hammadi, chegando à mesma conclusão
que os demais policitantes. Para Ehrman, a obra de Bauer é o trabalho mais importante do
século XX, sendo, por esse, divulgada nos mais famosos meios de comunicação. Esses são os
argumentos essenciais de Köstenberg e Kruger, posteriormente, ao influente trabalho de
Bauer, intitulado Orthodoxy and Heresy in The Earliest Christianit; originalmente publicado
em 1934, na Alemanha, e somente traduzido para o Inglês no ano de 1971.
Köstenberg e Kruger salientam a falta de uma base sólida para as asserções de Bauer.
Henry E. W. Turner (Da cátedra de Lightfoot de Teologia, em Durham) realça três elementos
unificadores no cristianismo primitivo: momentos de eucaristia da comunidade cristã, a
centralidade da revelação bíblica e o fato de os cristãos primitivos possuírem um credo e uma
confissão de fé. Validando essa assertiva, Jerry Flora e Arland J. Hultgren (Professor de Novo
Testamento do Luther Seminary) realizaram seus estudos comparando a ortodoxia primitiva
com a posterior, constatando que essa não era a mesma do início do cristianismo. Todavia,
notaram que a sua essência já estava em curso nas primeiras gerações da igreja; e frisam que a
ortodoxia posterior está estritamente vinculada às doutrinas e práxis dos primórdios da igreja
cristã, estabelecendo uma continuidade histórica com os ensinos dos apóstolos e até mesmo
de Cristo. Em favorecimento a esta conclusão, Howard Marshall (Professor de Exegese do
Novo Testamento na Universidade de Aberdeen da Escócia) afirma, com base em seus
estudos no Novo Testamento, que a noção de Ortodoxia e Heresia é claramente identificada já
no final do Século I. Andreas Köstenberg (em seu ensaio sobre diversidade e unidade) propõe
três temas integradores presentes nas comunidades cristãs primitivas: o monoteísmo, a
mensagem salvadora do evangelho e a crença em Jesus como o Cristo e Senhor exaltado. E,
contrapondo a proposta de Bauer, Köstenberg assevera que a diversidade é produto da
unidade, pois a ortodoxia precede a heresia.
Köstenberg e Kruger tencionam a responder a questão: “quão diversificado era o cristianismo
primitivo?”. Os autores empreendem sua pesquisa nos mesmos paradigmas metodológicos
que Bauer se fundamenta e investigam, minuciosamente, os indícios geográficos que, segundo
Bauer, explana a precedência da heresia à ortodoxia. Na Ásia menor, Paul Trebilco (na obra
Christians Communities in Western Asia Minor into the Early Second Century) acentua os
dois primordiais testemunhos antigos concernentes à heresia e ortodoxia: o Livro
Neotestamentário de Apocalipse, destinado as Sete Igrejas da Ásia Menor: Éfeso, Esmirna,
Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia; e os escritos de Inácio (Bispo de Antioquia)
endereçados a Éfeso, Magnésia, Trales, Roma, Filadélfia e Esmirna. Com base nesses
escritos, Bauer presumiu que a ausência de cartas em outras igrejas (como a de Colossos, por
exemplo) era a comprovação de que as mesmas não compactuavam com a visão ortodoxa do
cristianismo de Inácio e João, porque, de acordo com Bauer, elas eram gnósticas; entretanto,
segundo Trebilco, a maior parte dos estudiosos atuais acredita que o gnosticismo não estava,
essencialmente, desenvolvido nos tempos de Inácio e João. Além disso, há evidências internas
de que a ortodoxia antecede a heresia nesses escritos.
As afirmações de Bauer são consideradas insuficientes por Köstenberg e Kruger, pois
eles dizem que não há como sustentar a afirmação da precedência da heresia, em frente a
poucas evidências. É importante mencionar que o próprio Bauer reconheceu que os dados
disponíveis não fundamentavam suas conclusões: “Sem dúvida, trata-se apenas de uma
conjectura e nada mais”.
No Egito, as conclusões de Bauer, a priori, partem de que o gnosticismo era a visão
cristã que predominava muito antes de qualquer presença ortodoxa. Dentre outros livros,
Bauer considera de natureza gnóstica os seguintes escritos: “A Epístola de Barnabé e “Os
Ensinamentos de Silvano”. Darrel Bock refuta tal assertiva, sublinhando que não há prova
suficiente para sustentar essa afirmação e que seria necessário que o historiador completasse
as lacunas com várias inferências. Bock, além de tudo, observa grande influência ortodoxa no
conteúdo destes livros.
Outro argumento que Bauer oferece para afirmar sua tese é que o movimento
Marcionista teria sido a forma de cristianismo mais antiga na região de Edessa. Köstenberg e
Kruger focam que Bauer dedicou atenção especial à região, apesar da ínfima importância que
Edessa desempenhou para o cristianismo primitivo e a limitação exacerbada da literatura.
Thomas Robinson (avaliando a hipótese da originalidade do Marcionismo em Edessa)
questiona: “Se o Marcionismo precedesse a ortodoxia na região, por que Edessa ficou por
pelo menos um século sem qualquer testemunho cristão?”. Em resposta, Robinson aponta
para o fato de o Marcionismo surgir apenas quando Marcião foi excomungado, em Roma, no
ano 144d.C. Sendo assim, a hipótese de Bauer se mostra falha outra vez.
Outro fator significativo é que, possivelmente, a expressiva comunidade judaica
existente em Edessa tenha sofrido certa intervenção do centro judaico em Antioquia. Uma vez
que judeus e cristãos mantinham boas relações nas primícias do cristianismo, pode-se inferir o
contato de um proto-cristianismo ortodoxo na região. Tendo em vista que o movimento de
missionários cristãos não pode ser descartado, porquanto, segundo Robinson, Edessa não
estava totalmente isolada do Império Romano. Então, a respeito da limitação dos traços nessa
região, é muito mais provável que a ortodoxia tenha precedido a heresia, conjuntamente, em
Edessa.
Os autores iniciam sua investigação em um centro do cristianismo primitivo bastante
influente: Roma. De acordo com Bauer, a igreja romana era a dinamizadora da ortodoxia e
que a mesma seria apenas uma crença que teria solapado as demais nuanças cristãs e, de
forma coercitiva, teria se autodenominado a crença correta.
Darrel Bock avulta que inúmeras crenças chamadas ortodoxas estavam presentes na
Ásia Menor, de onde procederam muitos textos importantes: O Evangelho de João,
Apocalipse e várias cartas de Paulo. Do mesmo modo, Bock marca que os textos litúrgicos
mais antigos procedem da Síria e não de Roma, bem como a figura de liderança do Bispo, a
qual não seria uma criação romana, sendo que em Jerusalém pode-se inferir que Tiago exercia
a liderança da igreja (At 15; Gl 2.9). À vista disso, Köstenberg e Kruger certificam que as
alegações de Bauer não se apóiam diante de uma análise detalhada dos testemunhos históricos
disponíveis. Em contrapartida, atestam que há mais comprovação de que a ortodoxia estava
difundida e que era a crença, a partir da qual, mais tarde, surgiriam outras vertentes cristãs.
Ademais, outro problema referente à tese de Bauer (segundo os autores) é que
intentando analisar o cristianismo primitivo, ele se utiliza de materiais que remontam o Século
II, negligenciando os escritos neotestamentários. A partir de então, eles esclarecem que a
ortodoxia reporta-se aos ensinos de Cristo e dos apóstolos, com base no Novo Testamento; e
definem, ainda, o termo “ortodoxia” como o “ensino correto a respeito da pessoa e obra de
Jesus Cristo, incluindo o modo de salvação”, em contraste com o ensino a respeito de Jesus,
que se desvia das normas-padrão da doutrina cristã. Os mesmos perscrutam, outrossim, a
credibilidade do Novo Testamento, dando foco à confiabilidade desses registros e como a
literatura neotestamentária revela um cerne cristológico ortodoxo. Outro testemunho histórico
que reforça a tese de uma ortodoxia (no início do cristianismo) é alguns materiais litúrgicos
anteriores aos próprios documentos neotestamentários, os quais demonstram uma cristologia
bem elevada. As fórmulas confessionais “Filho de Deus”, “Jesus é o Messias”, “Jesus é o
Senhor” e outras existentes no Novo Testamento, indicam um padrão teológico definido no
pensamento cristão primitivo.
Apesar de os autores exemplificarem que a diversidade advinha da unidade,
Köstenberg e Kruger, a partir do Novo Testamento, identificam a presença da diversidade. Na
visão deles, ela não atinge a unidade doutrinária comum no pensamento cristão primitivo
porque aqueles focalizam a diversidade legítima (do prisma apostólico) que permite a
coexistência de perspectivas diferentes, porém secundárias. Por outro lado, a diversidade
ilegítima constitui-se da negação do cerne doutrinário bem definido da ortodoxia primitiva
(heresia) a qual era veementemente rejeitada. No Novo Testamento, alguns ensinamentos
foram considerados ilegítimos pelos representantes da ortodoxia primitiva: “A Heresia
Colossenses” (Bricolagem de aspectos judaicos com alguns elementos do gnosticismo,
incluindo diversas nuanças filosóficas). Algo semelhante ocorre, ainda, em Creta e em Éfeso;
enfatizando o comportamento dos cristãos judaizantes na circuncisão, ao ponto de diminuir a
importância de Jesus como senhor (parte do cerne teológico primitivo) e, em compensação,
elevando a lei Moisés. Para Köstenberg e Kruger, os autores do Novo testamento são o único
grupo de cristãos primitivos do qual se pode analisar e identificar a unidade teológica, cujas
raízes estão no Antigo Testamento. Consequentemente, não existem evidências acessíveis que
possibilitem fazer afirmações consistentes de que a heresia estava bem difundida tal qual a
ortodoxia primitiva. No entanto, a ortodoxia pode ser verificada desde o nascimento do
cristianismo; iniciando com Jesus e, sucessivamente, sustentada por seus apóstolos.
Köstenberg e Kruger objetivam sobressair à importância do cânon para a comunidade cristã
primitiva, refutando a ideia de que o cânon foi uma produção dos séculos subsequentes ao
início do cristianismo, manipulado por líderes da igreja. Os autores validam que o conceito de
cânon antecede a igreja pós-neotestamentária e que se antecipa, até, de qualquer decisão
formal da igreja, no que se refere à inclusão ou não de determinados livros.
Os autores rejeitam e consideram indevido conceituar cânon como uma “lista final e
fechada de livros”. Tal definição é simplista e desconsidera os desdobramentos históricos que
fazem referência a um escopo mais amplo, contemplando não somente a história da igreja,
mas também perpassando a história da redenção, com a crucial finalidade de atestar a
atividade redentora de Deus. Köstenberg e Kruger mostram que a ideia do cânon deve ser
averiguada através do alicerce histórico do conceito de aliança, com suas raízes no Antigo
Testamento. A partir disso, os autores demonstram a correlação dos escritos canônicos do
Novo Testamento com o recebimento do Decálogo (Centro do cânon do Antigo Testamento)
mostrando que o conceito do cânon não está fundamentado na política eclesiástica da igreja
do século IV ou consecutivo, mas no desenvolvimento da história da redenção da qual
participava os cristãos primitivos. A própria missão dos apóstolos de levar a mensagem de
salvação até as regiões geográficas mais distantes (Mt. 28.19) motivou o registro escrito da
mensagem; havendo, dessa forma, a consolidação da autoridade apostólica. Para os autores,
os escritos do Novo testamento não obtiveram autoridade somente a partir do século IV, pelo
contrário, os escritos já detinham autenticidade antes mesmo de serem redigidos,
considerando a procedência apostólica no mesmo nível dos profetas do Antigo Testamento.
Köstenberg e Kruger certificam a presença do cânon (logo na origem do cristianismo)
e que a comunidade cristã considerava os escritos de Paulo como escritura sagrada no mesmo
nível das Escrituras Veterotestamentárias. A concepção de um Novo Testamento está
pressuposta na citação de alguns textos antigos que fazem referência a: 2 Pe 3.2, At 1.20, Mt
15.4 e outros. Outro fator que contribui para assegurar a tese da presença de um cânon
primitivo é que tais textos eram lidos publicamente nos cultos, em analogia à leitura pública
dos textos do Velho Testamento, evidenciando assim, sua autoridade canônica. De acordo
com os autores, esta autoridade era consolidada pelos pais apostólicos Clemente (Líder em
Roma), Inácio (Bispo de Antioquia), Policárpo (Bispo de Esmirna) e Papias (Bispo de
Hierápolis). O Didaquê, bem como a carta de Barnabé, legitimam a autoridade dos Textos
Neotestamentários. Bem antes da metade do segundo século, a comunidade cristã primitiva já
considerava os livros do Novo Testamento como Escrituras dotadas de autoridade, ainda que
não estivessem plenamente desenvolvidos. No entanto, os cristãos entendiam-se participantes
de uma nova aliança com novos documentos de revelação: o cânon neotestamentário.
A transmissão dos textos do Novo testamento é explorada e avaliada a possibilidade
de deturpação desses ao longo de seu desenvolvimento. A confiabilidade do processo de
produção dos mesmos (no período do cristianismo primitivo) é investigada e os resultados
pautados na investigação demonstram o vínculo peculiar das comunidades cristãs com os
livros do Antigo Testamento. O desenvolvimento do cristianismo primitivo, assim como no
judaísmo, foi “definido e moldado ao longo das gerações futuras pelo mesmo meio: a
produção e a utilização de livros”. Por isso, o conceito de que o cristianismo primitivo era um
movimento de analfabetos (das classes mais baixas) não se mantém, posto que a constituição
social da comunidade cristã primitiva era mais diversificada do que Bart Ehrman considera;
era um movimento dotado de uma cultura literária relativamente sofisticada e comprometida
com a produção e propagação de seus textos sagrados. Os nomina sacra2 patenteiam uma
elevada estrutura organizacional que os escribas cristãos possuíam como uma espécie de
“programa de normatização”, visando à produção de cópias dos textos sagrados de forma
confiável. Além do mais, os escribas cristãos eram profissionais treinados e multifuncionais
(Tal como Tércio, citado em Romanos 16.22) que possibilitavam a produção de cópias
particulares para a comunidade cristã. Esse fato é desconsiderado por Ehrman.
Köstenberg e Kruger observam que, desde muito cedo os cristãos adotaram o formato
códice para seus textos, a despeito da larga utilização do rolo no mundo greco-romano. Essa
preferência precoce por códices tem sugerido a conexão entre códice e cânon, pois
unicamente neste formato ficaria executável a compilação dos escritos paulinos ou dos
próprios evangelhos em um só volume. Diante disso, tendo em conta o uso dos nomina sacra
e o maior manuseio e predileção pelo formato códice, é exequível que o Novo Testamento se
encontrasse como edição completa no prelúdio do segundo século, exibindo a solidez
organizacional da cultura escriba cristã. Tendo em consideração a cultura, os cristãos
primitivos prezavam bastante pela cultura escrita; eles se valiam de uma rede social de
escribas profissionais, o que tornava viável a proliferação de cópias por todo o Império
Romano. Por isso, os autores asseguram que as primeiras comunidades cristãs eram munidas
de infra-estrutura suficientemente adequada à difusão literária.
No que dizem respeito à produção das réplicas das obras, os autores passam a apurar a
probabilidade de desvirtuação, alusiva aos escritos ao longo dos séculos. As cópias desses
eram realizadas manualmente e, neste processo, poderiam ocorrer equívocos intratextuais.
Neste segmento, Köstenberg e Kruger demonstram que o texto original pode ser recuperado
com a ajuda da crítica textual, já que o Novo Testamento dispõe de um vasto testemunho
manuscritológico, superior a outros escritos do mundo antigo; apresentando uma grande
abundância de variantes textuais. Os autores dividem-nas, basicamente, em duas categorias:
significantes e insignificantes. Enfatizam que a maioria das variantes neotestamentárias não
traz qualquer impacto sobre o texto. Tais variáveis expressam alguns deslizes comuns
(efetuados pelo copista) como a inversão da ordem das palavras (o que pode alterar o sentido
da estrutura frasal), lapso de sentença e ortografia incorreta; porém, nada que prejudique a
ideia central da obra. Sob outra perspectiva, as variantes significativas são aquelas que, de
alguma forma, lesionam o sentido de um excerto; e estão (em menor número) presentes nos
Manuscritos Neotestamentários. Não obstante, Köstenberg e Kruger acentuam que é plausível
estabelecer, por meio da crítica textual, qual dessas se remete ao texto original. Isso é possível
devido à imensa quantidade de manuscritos, o que facilita estipular o paralelismo entre os
documentos.

CONCLUSÃO
Nesta obra, Köstenberg e Kruger retratam uma objeção à temática de Bauer,
ponderando os substanciais argumentos dela. Para tal, os autores demonstraram que o
cristianismo primitivo não era tão diversificado quanto Bauer declarava, pois há mais
evidências que apontam a precedência da ortodoxia à heresia, nos mais importantes centros do
cristianismo primitivo.

1
São termos abreviados, presentes nos primeiros manuscritos cristãos, com o objetivo de destacá-los como
sagrados. Estes termos estão presentes em várias regiões e em diversos idiomas.
Evidenciaram que a ortodoxia remonta aos ensinos dos apóstolos e de Jesus, que as
primeiras comunidades cristãs eram vinculadas com os aspectos unificadores (como a crença
de que Jesus era o Messias, vaticinado no Antigo Testamento). Salientam, ainda, as
influências da teoria de Bauer na construção do significado e formação do cânon, através de
seus atuais proponentes; e examinam a transmissão dos escritos neotestamentários, provando
que são documentos confiáveis e que, mesmo havendo diversas variantes textuais, é possível
identificar qual delas se refere aos textos originais. Sobretudo, os autores visam expor como o
fascínio pela diversidade, em nossa cultura, está contaminando nossa visão do cristianismo
primitivo; elucidando que a tese de Bauer não foi bem fundamentada historicamente.

ABSTRACT
This article aims to explain briefly the work "The Heresy of Orthodoxy", aiming to
analyze and reflect on the influence of contemporary relativistic thinking in early Christian
studies. Through this exhibition, there is the intention to awaken interest in issues related to
the assumptions of the thesis of Walter Bauer, who portrays that at the beginning of
Christianity there was a great diversity of practices and theological nuances thus proposing
that heresy would have preceded orthodoxy in the early Christian beginnings.

KEY-WORDS: Orthodoxy, heresy, diversity, unity, early Christianity.

KÖSTENBERGER, Andreas; KRUGER, Michael. A Heresia da Ortodoxia: Como o


Fascínio da Cultura Contemporânea pela Diversidade está Transformando nossa Visão do
Cristianismo Primitivo. Tr. Susana Klassen. São Paulo: Vida Nova, 2014. 320 p.

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