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Santa Maria, RS
2017
MARCELO ADRIANO DUART
CIMENTÍCIOS
Santa Maria, RS
2017
D812e Duart, Marcelo Adriano
Efeitos da adição de nanotubos de carbono e C-S-H
precipitado nas propriedades de nanocompósitos
cimentícios / Marcelo Adriano Duart ; orientação Sergio
Roberto Mortari ; coorientação Oscar Endrigo Dorneles
Rodrigues – Santa Maria: Centro Universitário
Franciscano, 2017.
130 f. : il.
Primeiramente a Deus pela sua presença e condução da minha vida, por ouvir minhas
preces, pela família que tenho, pela minha saúde, pelos meus amigos, pelas oportunidades, por
minha felicidade e por me ajudar a vencer.
À minha família, em especial minha mãe e minha irmã que presenciaram meu esforço e
fizeram de tudo para tornar esta caminhada o menos árdua possível.
Ao meu saudoso padrasto Carlos, que me incentivou na matemática e principalmente
por ter me mostrado o valor da honestidade e bom caráter.
Aos amigos, que nas horas de desabafo souberam me ouvir, nas horas de alegria e
diversão me fizeram mais feliz ainda.
Ao meu professor orientador Professor Dr. Sérgio Roberto Mortari, pelos ensinamentos,
pelas orientações, pelo apoio, pela disponibilidade, pela confiança e principalmente pela
oportunidade de realizar um sonho.
Ao meu professor coorientador Professor Dr. Oscar Endrigo Dorneles Rodrigues, pelos
ensinamentos, pelas orientações, pelo apoio e pela amizade.
Aos professores do programa de Pós Graduação em Nanociências do Centro
Universitário Franciscano por seus ensinamentos e contribuições indispensáveis.
Ao colega Paulo Obregon do Carmo por contribuições e auxilio nos trabalhos
experimentais.
A todos os pesquisadores e autores citados pelo conhecimento adquirido e
enriquecimento deste trabalho realizado.
Aos funcionários do Laboratório de Materiais de Construção Civil (LMCC) da
Universidade Federal de Santa Maria.
À Universidade Federal de Santa Maria pela estrutura disponibilizada.
Ao Centro Universitário Franciscano pela estrutura disponibilizada.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelos
recursos financeiros disponibilizados.
Civil construction industry has been developing technologically with the growth in the number
of works in various sectors such as housing, transport, industry and infrastructure. This study
is intended to contribute to the development of scientific cementitious materials by studying the
use of carbon nanomaterials as carbon nanotubes (CNT) and nanoparticles of Hydrated Calcium
Silicate (C-S-H) incorporated into the matrix of these materials, which can be categorized as
composite, in this case nanocomposites. Materials performance is usually related to the
existence of considerable flaws or deficiencies in some properties or characteristics. The
incorporation of nanomaterials is a possibility for the amelioration or even create some
characteristic and materials property. The use of CNT has already been investigated and the
results have shown that though with increase of costs produced materials have positive
characteristics such compression and tensile resistance increase and still elasticity modulus
increase. Currently steel is used but the fibers and filler materials such as CNT may be an
alternative because they can have tensile strength up to 100 times higher than steel, as recent
research has shown. The main assumption is that nanoparticles such as C-S-H and oxidized
multi walled carbon nanotubes (MWCNT-OX) favor the kinetics of cement hydration and
contribute to the nucleation and crystal growth enhancing material characteristics produced as
concrete and mortar, for example. In general, it was verified that the combined additions of C-
S-H with Ca / Si = 0.8 ratio with nanotubes brought positive results of nanocomposite
nanostructure improvements, verified by porosity, permeability analysis and qualitative
analysis of electron microscopy images. An increase in the value of the mechanical properties
analyzed was shown as a 33% increase in compressive strength, 38% increase in modulus of
elasticity and 30% in tensile strength. It is also concluded that using the C-S-H addition with
Ca/Si ratio = 0.8 in isolation is a viable alternative to produce relevant results with a lower cost
than to opt for mixed additions, since CNT are still materials with high cost and more complex
production than C-S-H.
Figura 1 - Concreto com CCA, produto hidratado C-S-H. Fonte: Duart (2008). ..................... 28
Figura 2 - (a) hidratação normal do cimento; (b) formação de pasta mais porosa; (c)
incorporação de seeding de C-S-H e (d) preenchimento dos vazios. Fonte: Adaptado de
Thomas, Jennings e Chen (2009). ........................................................................................... 30
Figura 3 - Nanotubo de carbono (NTC). Fonte: Eatemadi et al (2014).................................... 35
Figura 4 - Quiralidade dos NTC. Fonte: Adaptado de Eatemadi et al (2014). ......................... 35
Figura 5 - Vetores quirais em folhas de grafeno. Adaptado de: Eatemadi et al (2014). .......... 36
Figura 6 - Seção transversal - formação de NTCPM: Modelos Russian Doll e Parchment. .... 37
Figura 7 - Forma de crescimento root growth, de NTC. ......................................................... 38
Figura 8 - Forma de crescimento tip growth, de NTC. ............................................................ 38
Figura 9 - Produção de NTC pelo método de descarga de arco elétrico. Anodo (-), catodo (+).
.................................................................................................................................................. 39
Figura 10 - DQV esquema do processo produção de NTCPM. ............................................... 40
Figura 11 - Hidratação de partículas de cimento e formação de C-S-H. .................................. 42
Figura 12 - Estrutura do C-S-H – Fonte: Adaptado de Feldman e Sereda (1970). .................. 43
Figura 13 - Análise térmica diferenical (DTA). Isotermas calorimétricas. Fonte: Adaptado de
Thomas, Jennings e Chen (2009). ............................................................................................ 44
Figura 14 - Simulação da estrutura química do C-S-H para variadas relações Ca/Si. Fonte:
Adaptado de Abdolhosseini Qomi et al. ................................................................................... 46
Figura 15 - DRX. C-S-H Ca/Si=1,4 obtido por: (a) solução de CaO e SiO2 e (b) hidratação de
C3S e SiO2 em pasta. Fonte: Adaptado de Nonat (2004).......................................................... 47
Figura 16 - Patentes. Nanotecnologia aplicada à indústria de cimento. Fonte: Adaptado de
Nano Werk (2012). ................................................................................................................... 48
Figura 17 - Estruturas cúbicas e romboédricas. Fonte: Adaptado de Amyx, Bass e Whiting
(1960). ...................................................................................................................................... 50
Figura 18 - Porta amostra do ensaio de porosimetria (MIP). Fonte: Adaptado de Micromeritics
(2017). ...................................................................................................................................... 50
Figura 19 - Esquema de intrusão de mercúrio. Fonte: Adaptado de Micrometrics (2017). ..... 51
Figura 20 – Ilustração da intrusão de mercúrio (MIP). Fonte: Adaptado de Webb (2016)...... 53
Figura 21 - Características da intrusão de mercúrio. Fonte: Adaptado de Webb (2016). ....... 54
Figura 22 - Concreto de cimento Portland................................................................................ 55
Figura 23 - Componentes microestruturais do concreto. Fonte: Mehta e Monteiro (1994). .... 56
Figura 24 - Tamanho de partículas e área superficial. Fonte: Adaptado de Sobolev et al, 2009.
.................................................................................................................................................. 58
Figura 25 - Curva granulométrica. Brita basáltica. .................................................................. 62
Figura 26 - Curva granulométrica areia natural........................................................................ 62
Figura 27 - Efeito estérico. Aditivo superplastificante. Fonte: The masterbuilder bureau, 2016.
.................................................................................................................................................. 65
Figura 28 - Reagentes químicos usados na produção de seeding de C-S-H............................. 66
Figura 29 - Forno tubular utililizado na produção de NTC. Centro Universitário Franciscano.
.................................................................................................................................................. 67
Figura 30 - Barca com NTCPM produzidos por DQV. ............................................................ 67
Figura 31 - Processo de oxidação química de nanotubos de carbono. ..................................... 68
Figura 32 - Processo de sonicação e produção de C-S-H precipitado. ..................................... 69
Figura 33 - Material precipitado e processo de filtragem. ........................................................ 70
Figura 34 - Moinho usado para moagem do C-S-H. ................................................................ 70
Figura 35 - Componentes dos nanocompósitos – materiais secos (cimento, areia, granilha) e
adições (NTCPM-OX e C-S-H). .............................................................................................. 71
Figura 36 - Corpos de prova cilíndricos. .................................................................................. 72
Figura 37 - Processo de cura submersa em água. ..................................................................... 73
Figura 38 - Formas metálicas e corpos de prova moldados para ensaio de tração na flexão. .. 73
Figura 39 - Ensaio de tração na flexão. Máquina universal, LADIP, UFSM. .......................... 74
Figura 40 - Ensaio determinação de módulo elasticidade dinâmico. Equipamento ultrasson,
LMCC, UFSM. ......................................................................................................................... 75
Figura 41 - Velocidade em ultrassom x porosidade. Adaptado de: Lafhaj et al. (2006). ......... 76
Figura 42 - Amostras acondicionadas para ensaio de porosimetria por intrusão de mercúrio. 76
Figura 43 - Equipamento – Porosimetria por intrusão de mercúrio. ........................................ 77
Figura 44 - Microscópio eletrônico. MEV / FEG. LAQIA – UFSM. ...................................... 78
Figura 45 - Microscópio eletrônico. MEV / FEG. Central Analítica – UFC. .......................... 78
Figura 46 - Amostras fixada nos suportes (stubs) e cobertura em ouro. ................................. 79
Figura 47 Amostras preparadas para uso no MEV / FEG. ....................................................... 79
Figura 48 - DRX do C-S-H (Ca/Si=0,8), produzido em laboratório. ....................................... 80
Figura 49 - Difração de raios X de argamassa de cimento Portland. Fonte: Adaptado de
Medeiros et al (2015). ............................................................................................................... 81
Figura 50 - DRX do C-S-H (Ca/Si= 1,2), produzido em laboratório. ...................................... 81
Figura 51 - Espectro Raman da amostra de NTCPM. Renishaw in Via Spectrometer System,
com Laser disponíveis em 532 nm e 785 nm. .......................................................................... 82
Figura 52 - Espectro na região do Infravermelho de NTCPM-OX. FTIR. .............................. 83
Figura 53 - Nanotubos in natura (NTCPM) e nanotubos funcionalizados (NTCPM-OX), Após
30 minutos disperso em água destilada. ................................................................................... 85
Figura 54 – Aglomerado de NTCPM não funcinalizados, no interior de um poro. ................. 85
Figura 55 - NTC funcionalizados. Adaptado de Kim et al (2017). .......................................... 86
Figura 56 - Ensaio de intrusão de mercúrio. Porosidade total em fragmentos dos corpos de
prova. ........................................................................................................................................ 87
Figura 57 - Nanocompósito ST2-1,2 – análise por MEV / FEG. ............................................. 88
Figura 58 - Análise MEV/FEG -Nanocompósito S2-0,8. ........................................................ 89
Figura 59 – Análise MEV/FEG - Material de controle. .......................................................... 90
Figura 60 - Distribuição dos tamanhos dos poros. Amostras ensaiadas por MIP dos
fragmentos dos corpos de prova. .............................................................................................. 91
Figura 61 - Distribuição da porosidade em função dos diâmetros dos poros dos fragmentos
dos corpos de prova. ................................................................................................................. 92
Figura 62 - Material de controle (C). análise MEV / FEG e distribuição dos poros. ............... 93
Figura 63 - Nanocompósito (ST2-0,8). Imagem por MEV / FEG e distribuição dos poros. ... 94
Figura 64 - Processo de nucleação e crescimento de C-S-H. ................................................... 95
Figura 65 - Imagem MEV / FEG e espectro de EDS. Nanocompósito ST2-0,8. .................... 96
Figura 66 - Permeabilidade dos nanocompósitos e material controle, medida pelo ensaio
intrusão de mercúrio dos fragmentos dos corpos de prova. ..................................................... 97
Figura 67 - Comparação entre porosidade total e permeabilidade dos fragmentos dos corpos
de prova. ................................................................................................................................... 98
Figura 68 - Resistência à compressão axial simples, dos corpos de prova. ............................. 99
Figura 69 - Correlação: Teor de adição de nanomaterias e resistência à compressão dos corpos
de prova. ................................................................................................................................. 100
Figura 70 - Resistência tração na flexão dos corpos de prova................................................ 102
Figura 71 - Análise MEG/FEG - nanocompósito ST2-0,8 ..................................................... 102
Figura 72 - Correlação: Teor de adição de nanomaterias e resistência tração na flexão dos
corpos de prova. ...................................................................................................................... 103
Figura 73 - Módulo de elasticidade dinâmico dos corpos de prova. ...................................... 104
Figura 74 – Análise MEV/FEG -Nanocompósito ST2-0,8. ................................................... 105
Figura 75 - Correlação: Teor de adição de nanomaterias e módulo de elasticidade dinâmico
dos corpos de prova. ............................................................................................................... 106
Figura 76 - Módulo de elasticidade x relação Ca/Si. Fonte: Pelisser, Gleize e Michel (2011).
................................................................................................................................................ 107
Figura 77 - Propriedades mecânicas comparadas dos corpos de prova. ................................. 108
Figura 78 - Curva de área acumulada dos poros versus dimensão do poro. Amostra:
nanocompósito ST1-0,8. ......................................................................................................... 121
Figura 79 - Curva de área acumulada dos poros versus dimensão do poro. Amostra:
nanocompósito ST2-0,8. ......................................................................................................... 121
Figura 80 - Curva de área acumulada dos poros versus dimensão do poro. Amostra:
nanocompósito ST2-1,2. ......................................................................................................... 122
Figura 81 - Curva de área acumulada dos poros versus dimensão do poro. Amostra:
nanocompósito T2. ................................................................................................................. 122
Figura 82 - Curva de área acumulada dos poros versus dimensão do poro. Amostra:
nanocompósito S2-0,8. ........................................................................................................... 123
Figura 83 - Curva de área acumulada dos poros versus dimensão do poro. Amostra: material
de controle(C). ........................................................................................................................ 123
Figura 84 - Relatório sumário do ensaio MIP. Amostra: materia de controle (C). ................ 124
Figura 85 - Relatório sumário do ensaio MIP. Amostra: nanocompósito S2-0,8. ................. 125
Figura 86 - Relatório sumário do ensaio MIP. Amostra: nanocompósito T2........................ 126
Figura 87 - Relatório sumário do ensaio MIP. Amostra: nanocompósito ST2-1,2. ............... 127
Figura 88- Relatório sumário do ensaio MIP. Amostra: nanocompósito ST2-0,8. ................ 128
Figura 89 - Relatório sumário do ensaio MIP. Amostra: nanocompósito ST1-0,8. ............... 129
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Parâmetros do cimento CP V-ARI, conforme norma ABNT NBR 5733/1991 ......63
Quadro 2 - Composição química do cimento CPV-ARI, conforme fabricante........................63
Quadro 3 - Parâmetros físicos do cimento CPV-ARI, conforme fabricante.............................64
Quadro 4 - Relações Ca/Si para produção de seeding de C-S-H..............................................69
Quadro 5 - Variação dos componentes adicionais ao nanocompósito......................................71
Quadro 6 - Quantidade de materiais para produção de corpos de prova................................120
Quadro 7- Componentes do cimento Portland DRX. Fonte: Nobre (2016). ..........................130
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Análise térmica. Fonte: Adaptado de: Thomas, Jennings e Chen (2009)..............108
LISTA DE EQUAÇÕES
UNIDADES
Å - Angstrom
cm - Centímetro
cm² - Centímetro quadrado
dm³ - Decímetro cúbico
g - Grama
kg - Kilograma
kPa - Kilopascal (10³ Pascal)
kV - Kilovolts
l - Litros
MPa - Megapascal (106 Pascal)
m - metro
m² - Metro quadrado
m³ - Metro cúbico
ml - Mililitros
mm - Milímetro
nm - Nanômetro
µm - Micrômetro
ºC - Graus Celsius
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO. .................................................................................................................... 27
3 MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................................. 61
1 INTRODUÇÃO.
Estudos na área de nanociências são considerados como um dos mais promissores e seus
resultados podem contribuir para o desenvolvimento de muitos setores entre eles o da
construção e engenharia. O setor da construção civil tem se desenvolvido muito, nas últimas
décadas, e isso impulsionou a demanda pelo consumo de matérias primas e insumos da
construção produzidos a partir de recursos naturais, como é o caso do cimento Portland, o
material principal do concreto.
O concreto é o segundo material mais consumido no planeta (consumo médio de 1,9
tonelada por habitante, por ano), valor inferior apenas ao consumo de água (IBRACON, 2009).
A produção do cimento Portland consome recursos naturais como calcário, minério de
ferro e argilas, que são encontradas em jazidas e que tendem a serem esgotadas com a
exploração crescente. Na produção do concreto e outros materiais cimentícios o cimento
Portland é o principal componente, tanto por suas propriedades como também na agregação de
custos.
Melhorar as características de produtos que consomem cimento é um desafio que pode
resultar na redução de consumo de aço em estruturas, aumento da durabilidade e desempenho
de obras, como também propiciar a criação de projetos de obras cada vez mais arrojados.
Confome Bhushan (2010), a aplicação de materiais em nanoescala é uma revolução da
ciência, que tem propiciado modificações nas características e propriedades dos materiais como
também, a criação de novos materiais com características que podem contribuir para a solução
de muitos problemas, entre eles o desenvolvimento sustentável.
O desenvolvimento do concreto de cimento Portland foi marcado pela descoberta de
aditivos químicos, entre eles os superplastificantes, que são aditivos de última geração à base
de ester policarboxílico modificado. Estes aditivos possibilitaram produzir concretos plásticos
e menos viscosos, reduzindo o consumo de água, e consequentemente o aumento da resistência
mecânica dos concretos, melhora da durabilidade, sem necessariamente implicar no maior
consumo de cimento.
Adições minerais como sílica ativa e cinza volante são produtos que contribuíram para
a melhoria das características dos cimentos e argamassa, principalmente no tocante a redução
da porosidade. Tal contribuição se deu em microescala. Estas adições em forma de pó ajudam
a preencher espaços vazios, tornando concretos e argamassas menos porosos, além de contribuir
para a formação de uma matriz cristalina através da reação pozolânica, visto que tais materiais
são ricos em Sílica amorfa que reage com o hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) produzido na
hidratação dos silicatos do cimento Portland (C3S e C2S), onde: C = CaO, S = SiO2 e H = H2O,
conforme nomenclatura usada por Taylor (1997).
Duart (2008) estudou a microestrutura de concretos produzidos com adição de cinza de
casca de arroz (CCA) e através de análises de porosimetria por intrusão de mercúrio, difração
de raio X (DRX) e microscopia eletrônica de varredura (MEV), figura 1, verificou que a adição
da CCA provoca modificações microestruturais perfeitamente perceptíveis no que contribuem
para o aumento da resistência à compressão dos concretos, redução do consumo de cimento e
redução da porosidade.
Figura 1 - Concreto com CCA, produto hidratado C-S-H. Fonte: Duart (2008).
CH
(a)
C-S-H
(b)
Iwgne (1999) considera que o uso da nanotecnologia deve ser buscado para solucionar
os problemas de deficiência dos materiais convencionais. Neste sentido, caso o concreto tivesse
um comportamento homogêneo, quanto as suas propriedades mecânicas de compressão e
tração, elementos estruturais em construções seriam mais duráveis e teriam os processos de
cálculo e produção mais fáceis e mais seguro, assim como acontece com elementos em aço.
Pesquisadores como Raki et al (2010) consideram que estudos em nano escala podem
propiciar análise mais profunda no processo de hidratação dos materiais cimentícios e também
suas interações com aditivos, nanofibras e nanofilers. Raki et al (2010) afirmam ainda que
através da nanotecnologia é possível modificar as reações do cimento através da criação de
1.2 JUSTIFICATIVA
A busca por novos materiais e suas interações com materiais já existentes é uma
demanda crescente visando melhorar a performance e principalmente solucionar problemas de
falhas dos materiais existentes. Thomas, Jennings e Chen (2009) verificaram ser possível
aumentar a nucleação no espaço entre os silicatos (C3S), que são os componentes em maior
quantidade e também os que mais contribuem para a resistência dos concretos e argamassas,
principalmente nas primeiras idades. Esta nucleação foi estimulada por de adições de C-S-H,
produzido em laboratório que chamaram de “seeding de C-S-H”.
Estes pesquisadores verificaram aumento da cinética da hidratação do C3S (através de
análise térmica diferencial - DTA). Verificaram ainda o preenchimento dos vazios, conforme
figura 2, produzindo uma matriz mais densa a partir da redução da porosidade e também da
redução dos diâmetros dos poros.
Figura 2 - (a) hidratação normal do cimento; (b) formação de pasta mais porosa; (c)
incorporação de seeding de C-S-H e (d) preenchimento dos vazios. Fonte: Adaptado de
Thomas, Jennings e Chen (2009).
1.3 OBJETIVOS.
1.3.1 Objetivos Gerais.
Neste sentido este projeto está inserido em uma série de campos da ciência e aplicações,
como engenharia, química, física, ambiental, entre outras como a análise econômica financeira,
visto que a construção civil é uma das áreas que mais impulsiona o desenvolvimento de países
em crescimento como o Brasil.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.
Conforme a literatura, as nanopartículas são partículas que apresentam pelo menos uma
dimensão menor que 100 nm. O tamanho das partículas é importante, pois na escala
nanométrica as propriedades e características dos materiais podem ser afetadas drasticamente,
conferindo a possibilidade de desenvolver materiais com propriedades melhores e até mesmo
com novas propriedades aos materiais originais.
A redução do tamanho do diâmetro médio dos materiais à escala nanométrica, pode
potencializar propriedades físicas e químicas, permitindo seu uso em concentrações
extremamente reduzidas e conferir características antes não apresentadas por um dado produto
em escala natural (macro ou nanoescala). Esse alcance de propriedades se deve basicamente ao
fato de tais estruturas possuírem dimensões nanométricas, que resultam em uma área superficial
elevada, maior grau de dispersão e funcionalidades que são dependentes do tamanho da
estrutura (ABDI, 2011).
Para Ge e Gao (2008), a nanotecnologia tem gerado produtos com características únicas
que podem ajudar a corrigir problemas das construções e ainda podem modificar as
especificações e técnicas de construção. Mann (2006) afirma que a nanotecnologia é o uso de
pequenas partículas de materiais para criar novos materiais em escala maior.
Os novos materiais produzidos não necessariamente possuem tamanho nanométrico,
mas têm em sua composição estruturas nanométricas que geram novas propriedades e novas
aplicações conforme Revista Novas tecnologias, 2009.
Para Duart e Mortari (2015), nanopartículas como NTC podem ser agregadas à
nanocompósitos cimentícios e melhorar propriedades mecânicas.
A utilização de NTC pode possibilitar a produção de nanocompósitos com resistência
à tração, que atualmente é uma deficiência dos compósitos à base de cimento Portland
e também possibilitar no futuro a eliminação de materiais como barras de aço em
estruturas de concreto armado, na sustentação de edifícios ou outras aplicações em
construções. (DUART e MORTARI, 2015)
O vertor quiral C (n.a1 + m.a2) também determina o diâmetro (d) do NTC pela
expressão:
Sendo
Onde:
a: é uma constante para a estrutura da folha de grafeno
1
Kevlar é a marca registada da DuPont - Fibra polimérica sintética de aramida.
1ª etapa - crescimento arredondado sobre o material catalisador (metal), que serve como
precursor do tubo.
2ª etapa - Ocorre a difusão de átomos de carbono em torno das laterais deste precursor,
com exceção da ponta que geralmente permanece vazia e garante que o material ficará oco,
figura 7.
3ª etapa - No caso do crescimento por extrusão, a partícula metálica do precursor
permanece fixa ao substrato e o material rico em carbono, com formato de tubo prossegue seu
crescimento para cima, figura 07.
O aparato usado é uma câmara cujo interior basicamente é composto por dois eletrodos
de grafite puro com diâmetros em torno de 6 a 12 mm, figura 9. A fonte de carbono é situada
no anodo (-) e na outra ponta fica localizado o catodo (+). Tudo fica imerso em um eletrólito
ou então sob atmosfera inerte de um gás (argônio ou hélio).
Figura 9 - Produção de NTC pelo método de descarga de arco elétrico. Anodo (-), catodo (+).
Os dois eletrodos são mantidos em uma diferença de potencial e então são aproximados
até a ocorrência da descarga elétrica, que provoca a ionização do gás formando um plasma em
alta temperatura (acima de 3000 ºC) e consequentemente o deslocamento de carbonos (fase em
vapor) para o cátodo, conforme Prasek et al. (2011). Pode-se usar arco pulsado, porém o uso de
corrente contínua é mais reportado para este método.
Na produção de NTCPM o tamanho (diâmetro) dos tubos é consequência da quantidade
de vapor de carbono no plasma, formado geralmente sem o uso de catalisador. Para produção
de NTC de paredes simples usam-se metais de transição (Fe, Ni, Co) como precursor
catalisador.
Devido a necessidade de grande energia (alta temperatura) este método não é
considerado adequado para produção em escala industrial, embora os nanotubos formados
apresentem grande pureza com poucos defeitos estruturais.
Mudanças nos parâmetros, como o gradiente de temperatura, implica na variação do
diâmetro dos tubos e também na formação de tubos em aglomerados (feixes).
Forno
tubo de quartzo
exaustão
gases
Este método produz NTC de boa qualidade e também propicia uma boa produtividade,
a baixa custo, além da possibilidade de controledos parâmetros de síntese (temperatura, vazões,
catalisadores, tempo de síntese).
Além de NTC podem ser sintetizados também outras formas de materiais de carbono
como grafite, carbono amorfo e eventualmente fulerenos e grafenos.
hidrofóbicos e tendem a se aglomerar na presença da água e então não formar uma material
com matriz homogênea.
Estes autores defendem o uso de processos de funcionalização como a oxidação em
meio ácido tornando os NTC dispersíveis em água.
O tratamento químico (funcionalização ou ainda oxidação química) nos NTC tem sido
empregado por muitos pesquisadores com a finalidade de anexar à superfície do NTC, grupos
químicos através de ligações covalentes.
Para Souza Filho e Fagan (2007) entre os vários grupos funcionais mais usados
destacam-se os grupos carboxílicos porque o átomo de carbono do COOH pode se ligar
covalentemente com os átomos de C do NTC.
Deve-se considerar ainda que os processos de oxidação como a imersão em meio ácido
(H2SO4 : HNO3) são eficientes para anexar os grupos funcionais como COOH e tornar os NTC
dispersíveis em água, mas deve-se ter cuidado no processo pois o meio ácido pode acabar
destruindo grande parte dos NTC, pois as paredes dos tubos podem ser corroidas durante o
processo químico.
Pode-se considerar nucleação como a formação de uma nova fase dentro de uma fase já
existente e separada desta por uma superfície bem definida, que serve de início para o
desenvolvimento de regiões ordenadas e crescimento cristalino.
O processo de nucleação começa com a formação de núcleos de uma nova fase. Estes
núcleos aumentam ou diminuem de tamanho devido à agitação térmica.
A nucleação pode ser classificada como homogênea ou heterogênea. Na nucleação
homogênea ocorre a formação de núcleos de maneira aleatória no volume do material, sem
sítios preferenciais para formação dos mesmos.
Na nucleação heterogênea existem agentes nucleantes e formação de núcleos em centros
de nucleação preferenciais. A nucleação superficial da amostra sempre é heterogênea, e a
nucleação volumétrica pode ser homogênea e ou heterogênea, dependendo da constituição do
material.
Este resultado também foi verificado por Hubler, Jennings e Thomas (2011), que
concluíram que seeding de C-S-H (produzido em laboratório) atuou como acelerador do
processo de hidratação de cimentos adicionados de escória de alto forno, comprovado pela
análise térmica diferencial e também pelo aumento da resistência à compressão das amostras
produzidas.
Thomas, Jennings e Chen (2009) relatam a existência de um período de aceleração e
formação de pico na hidratação, figura 13, indicando que o processo de hidratação do C-S-H
pode ser autocatalítico, ou seja, as partículas de C-S-H gerada no processo de hidratação ou
partículas adicionadas intensionalmente estimulam a formação de novas partículas de C-S-H.
Ca/Si < 1,5) e γ-C-S-H (1,5 < Ca/Si < 2,0). Esta conclusão é importante e esclarece as diferentes
propriedades de cimentos diferentes.
Abdolhosseini Qomi et al. (2014) pesquisaram através de simulação computacional a
estrutura molecular do C-S-H para diferentes relações Ca/Si e verificaram que dos menores
para os maiores valores desta relação, a estrutura vai ficando cada vez mais amorfa, conforme
ilustra a figura 14.
Estes autores verificaram ainda que para relação Ca/Si mais baixa (1,1) a estrutura
lamelar apresenta menores defeitos e para as relações Ca/Si maiores (1,5 e 1,8), várias pontes
tetraédricas são removidas da cadeia de sílica criando uma estrutura mais desordenada.
Na fase experimental, Abdolhosseini Qomi et al. (2014) compararam o C-S-H com
relação Ca/Si=1,7, que é típico da hidratação do cimento Portland, com C-S-H produzidos com
relações Ca/Si=1,1 e Ca/Si=1,0 e verificou que estes últimos eram materiais mais rígidos e mais
resistentes que o primeiro.
Figura 14 - Simulação da estrutura química do C-S-H para variadas relações Ca/Si. Fonte:
Adaptado de Abdolhosseini Qomi et al.
Nonat (2004) esclarece que, embora o C-S-H seja comumente considerado como um
gel, na verdade ele tem estrutura cristalina. Ao se analisar por difração de raio X pode-se
confirmar isto, visto que tais produtos possuem padrões de difração definidos, conforme figura
15.
O C-S-H são partículas nanométrcas e formam monocristais de espessura de 5 nm,
conforme salienta Nonat (2004).
Figura 15 - DRX. C-S-H Ca/Si=1,4 obtido por: (a) solução de CaO e SiO2 e (b) hidratação de
C3S e SiO2 em pasta. Fonte: Adaptado de Nonat (2004).
O cimento Porland é um dos materiais mais usados na construção civil. Sua produção
mundial foi de 3,497 bilhões de toneladas no ano de 2015, conforme site de pesquisas
STATISTA (2017), que relata ainda que a China é o maior produtor mundial, sendo responsável
por mais 2300 bilhões de toneladas (67 % do total mundial). O Brasil aparece em 5º no ranking
mundial, com 72 bilhões de toneladas de cimento, em 2015.
Materiais produzidos à base de cimento são caracterizados por boa resistência à esforços
de compressão, porém são pouco resistentes à esforços de tração.
A durabilidade destes materiais é afetada pela porosidade característica, que leva a
possibilidade de deterioração pelo meio ambiente, em especial aos ataques químicos por íons
presentes no ar, água e solo que atacam os materiais de reforço, principalmente os metálicos
que levam então as estruturas ao risco de ruptura em casos extremos de corrosão.
Segundo Jennings e Tennis (1994), a estrutura dos poros é complexa porque o próprio
produto de hidratação do cimento (C-S-H) é poroso.
Dois tipos de porosidade são definidos:
- A porosidade capilar, ou seja, a grande porosidade remanescente entre as partículas de
cimento hidratado.
- A porosidade do gel de C-S-H, porosidade mais fina geralmente menor que 10 nm.
A porosidade do gel de C-S-H influencia nos mecanismos de fissuração e fluência,
enquanto que a porosidade capilar influência na permeabilidade e resistência mecânica.
A permeabilidade da pasta do concreto e argamassas é afetada não apenas pela
porosidade, mas também pela distribuição dos tamanhos dos poros.
Desta forma a maior quantidade de poros com dimensões maiores torna-se uma
condição mais favorável, para permeabilidade, do que a quantidade mais elevada de poros de
pequena dimensão (situação mais refinada dos poros).
Duart (2011) verificou a modificação da porosidade de concretos de cimentos Portland
ao adicionar cinza de casca de arroz em teores de 15% em relação a massa de cimento e
observou ainda, o refinamento dos poros ao analisar a porosidade por intrusão de mercúrio que
revelou que concretos com cinza de casca de arroz apresentavam maior quantidade de
microporos quando comparados ao concreto convencional (sem adições de cinza).
Para Roy et al (1993), a distribuição dos tamanhos dos poros em materiais precisa ser
exibida em limites inferiores e limites superiores para que se possa ter a noção da destribuição
da estrutura porosa.
Os limites superiores da distribuição dos poros variam com a relação água/aglomerante
e com o grau de hidratação.
Para uma pasta de cimento com relação água/cimento a/c=0,4 e com um dia de cura, o
tamanho dos poros varia entre 10 e 700 nm, enquanto a mesma pasta com 320 dias de cura, tem
a distribuição dos poros entre 8 e 64 nm, devido ao avanço do processo de hidratação e formação
de estrutura cristalina mais densa.
A porosidade é calculada considerando o volume total dos poros em relação ao volume
da amostra analisada. Materiais mais porosos são menos densos e possuem maior
permeabilidade e menor resistência mecânica.
Outro parâmetro estrutural de importância é o empacotamento (disposição de grãos),
como mostrado na Figura 17.
Para grãos uniformes, a porosidade será diferente para configurações cúbicas se
comparadas às estruturas de configurações romboédricas.
Figura 17 - Estruturas cúbicas e romboédricas. Fonte: Adaptado de Amyx, Bass e Whiting (1960).
Neste método, o mercúrio é forçado a penetrar nos poros da amostra que é preparada
previamente e colocada no porta amostras, conforme figura 18.
O mercúrio não penetra de forma espontânea, porém o porta amostras vai sendo
preenchido com mercúrio com pressões crescentes, conforme esquema da figura 19.
Como o mercúrio é um material que não “molha” superfície dos poros, a pressão de
intrusão pode determinar o diâmetro dos poros, desde que se conheça o ângulo de contato entre
o mercúrio e a amostra ensaiada, Roy et al (1993).
A Porosimetria de mercúrio é baseada na lei da permeabilidade que domina o efeito de
um líquido que penetra em pequenos poros.
Para líquidos como o mercúrio, que não causam molhamento, considerando poros
cilíndricos o diâmetro do poro pela expressão de Washburn é dado pela equação 02:
O volume de mercúrio que entra nos poros é medido por um penetrômetro de mercúrio
(dilatômetro de capacitância elétrica). Esses dispositivos são muito sensíveis e podem
detectar uma mudança em volume de mercúrio inferior a 0,1 μL... Dos dados de
pressão versus intrusão, o instrumento gera distribuições de volume e tamanho
usando a equação de Washburn. Claramente, quanto mais precisas as medidas de
pressão, os dados de tamanho de poro resultantes são mais precisos.
(MICROMERITICS, 2017).
Os poros raramente são cilíndricos e, por isso, a equação acima constitui um modelo
particular. O volume de mercúrio que penetra nos poros é obtido através de uma relação direta
com a pressão aplicada.
A distribuição dos tamanhos dos poros é determinada pelo volume de mercúrio
introduzido em cada incremento de pressão e a porosidade total é determinada pelo volume
total introduzido, segundo Abell, Willis e Lange (1999).
O cálculo da área superficial dos poros é feito considerando o trabalho reversível ( dW),
requerido para imersão em mercúrio, de um objeto não molhável, de área (dA), conforme
equação 3:
Ao medir o volume pela intrusão de mercúrio deve-se reconhecer que o valor obtido é
dependente da pressão. Isto acontece porque o porosímetro fornece um registro contínuo da
Deve-se ainda atentar para algumas características deste tipo de ensaio como o fato de
que poros cegos (fechado) permanecem não preenchidos e aumentos adicionais pressão pode
causar danos temporários ou estruturais do material da amostra.
Como uma técnica amplamente aceita e bem estabelecida para caracterizar a estrutura
do poro de um meio poro, a MIP tem muitas características especiais em comparação
com outros métodos de caracterização da estrutura porosa (Gao e Hu, 2013; Giesche,
2006). Em primeiro lugar, pode-se investigar uma ampla gama de tamanhos de garganta
de poro (normalmente entre 3 nm e ~ 500 μm). Em segundo lugar, é uma técnica
relativamente econômica. Em terceiro lugar, pode fornecer um conjunto abrangente de
informações sobre características de poros. Em resumo, a abordagem MIP não só pode
medir diretamente a distribuição de diâmetro de garganta de poro (PSD) e porosidade,
mas também pode avaliar indiretamente outras características dos poros, como área total
da superfície do poro e diâmetro médio dos poros. (NA ZHANG et al., 2015).
Analisando a figura 21, percebe-se vários tipos de volume. No canto superior esquerdo
está um recipiente de partículas individuais com características do volume a granel em que estão
incluídos os vazios interparticulares e "externos". No canto superior direito está um Partícula
porosa.
A secção transversal das partículas é mostrada rodeada por uma banda envolvente
chamada envelope. A figura 21(A) apresenta o volume dentro do envelope, figura 21(B) tem-
se o mesmo volume, menos o volume "externo" e volume de poros abertos, e na figura 21(C)
ilustra-se volume dentro do envelope, menos os poros abertos e fechados.
Este método tem o ponto negativo de fazer uma simplificação errônea de que o diâmetro
dos poros é o mesmo dos canais que os interconectam. Pesquisadores ja observaram que pode
acontecer o “efeito garrafa” em que o orifício de entrada é menor que o diâmetro interno do
poro e neste caso a pressão deve ser maior para fazer a entrada no poro e dar uma ideia de
dimensão menor.
Outra limitação deste método é que as amostras precisam ser secas, para realização do
ensaio. O proceso de secagem em estufa, por exemplo, pode modificar a estrutura dos poros e
o ângulo de contato.
Mesmo considerando as limitações do método, ele tem uma grande contribuição para o
estudo de materiais porosos e fornece informações importantes para se fazer comparação sobre
a estrutura porosa de materiais padrões e materiais compósitos.
2.2.1.3 Permeabilidade.
2.2.2 Microestrutura.
2.3 NANOPARTÍCULAS.
Figura 24 - Tamanho de partículas e área superficial. Fonte: Adaptado de Sobolev et al, 2009.
Estes átomos tem uma afinidade maior por reações do que os átomos do centro das
partículas que se encontram ligados e confinados por partículas ao seu redor e tendem a uma
estabilidade, conforme Rong et al (2004). Os átomos da superfície estão disponíveis para
reações químicas e atrações físicas. Isto pode ser explorado de forma positiva em adições
minerais empregadas em cimentos.
Partículas que em escala macro ou micro podem ser consideradas inertes, quando em
escala nano, passam a ter atividade devido aos efeitos de superfície.
A redução do tamanho das partículas traz consigo um efeito que pode ser negativo,
considerando algumas aplicações. É o caso da aglomeração, caso em que as partículas tendem
a se agrupar, no caso do cimento e suas adições às partículas tendem a formar flocos quando
em contato com meios líquidos. Este fato acaba resultando em baixa dispersão, o que reduz o
potencial uso destes materiais.
Partículas em meios líquidos tendem a formar colóides e o resultado da energia potencial
resultante (atração física pelas forças de Van der Waals e repulsão eletrostática) pode propiciar
ou não a aglomeração.
O ideal é que as partículas se distribuam de forma uniforme na matriz, resultando em
maior efetividade das propriedades desejadas.Visando contornar estes problemas, a indústria
tem desenvolvido aditivos químicos baseados em nanotecnologia e também sistemas mais
eficientes para promover a mistura dos componentes do concreto.
2.3.4 Nanocompósitos.
Alguns autores ainda consideram como condição necessária para ser um nanocompósito
a adição de no máximo 5% de partículas ou materiais nanométricos.
Para Oliveira et al. (2006), nanocompósitos podem ser formados pela combinação de
diferentes materiais do tipo inorgânico-inorgânico ou orgânico-inorgânico, sendo este último
chamado de materiai híbrido.
Beeldens (2006) testou nanoparticulas de Dióxido de Titânio (TiO2), na produção de
blocos de pavimentação em concreto e observou que, em contato com a luz e através do efeito
fotocatalítico, os blocos podiam eliminar os poluentes como óxido nítrico (NO e NO2), emitidos
pelos veículos.
Nanopartículas de TiO2 são largamente testadas para produção de concretos
autolimpantes. Na presença da luz, a superfície que contém tais nanopartículas tende ao
clareamento e este aspecto resulta na economia com processos de limpeza evitando consumo
de materiais de limpeza, repinturas.
Sobolev et al. (2009) obtiveram resultados experimentais que mostram que a resistência
à compressão de argamassas com nanossílica (SiO2) foram superiores aos de argamassa
contendo fumo de sílica aos 7 e 28 dias. Estes autores verificaram que uma adição de 10% de
nanossílica com agentes dispersantes resultou em um aumento de resistência à compressão de
26% aos 28 dias, enquanto adições de 15% de fumo de sílica resultou apenas no aumento 10%
de resistência.
Saafi (2009) desenvolveu nanocompósito em concreto com adição de CNT para servir
como sensores, baseado nas propriedades elétricas dos CNT. Foram desenvolvidos sensores in
situ, sem fio para detecção de danos em estruturas de concreto.
Estes sensores foram incorporados ao concreto fresco e após o processo de
endurecimento passaram a configurar estruturas auto-sensíveis para detectar a propagação de
fissuras e a acumulação de dano durante o carregamento (in loco) e sem fio. O processo basea-
se na mudança da resistência elétrica dos sensores incorporados todo vez que existe
modificações nas dimensões dos elementos estruturais.
Balazs (2007) investigou a autorecuperação de materiais através do crescimento
catalítico por polimerização de microcápsulas que se expandem para o interior das rachaduras
do concreto e atuam como se fossem leucócitos artificiais. O efeito de se “auto-curar” é possível
pela introdução de nanocápsulas na matriz de cimento. Verifica-se neste exemplo mais uma
característica que pode ser desenvolvida para um material convencional como o concreto e que
apresenta falhas e pontos fracos e que são intrínsecos.
3 MATERIAIS E MÉTODOS.
3.1 MATERIAIS.
3.1.1 Agregados.
Foi usada areia natural do tipo normal brasileira, padronizada pelo Instituto de Pesquisa
Tecnológica (IPT), conforme norma ABNT NBR 7214 - Areia normal para ensaio de cimento
- Especificação, sendo aproveitada apenas o material passante na peneira de malha 2,4 mm e
cuja análise granulométrica segue a curva da figura 26. O ensaio seguiu as recomendações da
norma ABNT NBR NM 248:2003- Agregados - Determinação da composição granulométrica,
figura 26 e também da norma NBR NM 52:2003: Agregado miúdo - Determinação da massa
específica e massa específica aparente. As quantidades usadas em cada nanocompósito e
também material referência encontram-se detalhadas no Apêndice A.
O cimento utilizado foi o cimento Portland de alta resistência inicial (CP V- ARI) como
composição de todos os nanocompósitos assim como para o material controle. Este tipo de
cimento foi escolhido devido ao fato de ser um cimento com alta finura e praticamente puro,
ou seja, formado basicamente de clínquer conforme determina a norma ABNT NBR 5733:1991
- Cimento Portland de alta resistência inicial, expressa no quadro 1, o que lhe confere
características de endurecimento rápido e maior resistência se comparado aos demais tipos de
cimento Portland.
As quantidades usadas em cada nanocompósito e também material referência
encontram-se detalhadas no Apêndice A.
Composição química
Perda ao CaO Resíduos
Al2O3 SiO2 Fe2O3 CaO MgO SO3
Fogo livre Insolúveis
% % % % % % % % %
Parâmetros Físicos
Para facilitar o processo de mistura e reduzir o teor de água foi usado aditivo químico
superplastificante para concretos, considerados aditivos químicos de 3ª geração, baseado em
uma cadeia de éter poli carboxílico modificado, que atua como dispersante do material
cimentício, propiciando plastificação e alta redução água, tornando o concreto com maior
trabalhabilidade sem alteração do tempo de pega.
Optou-se pelo superplastificante pois o mesmo apresenta:
- Maior poder de redução de água do que os aditivos polifuncionais tradicionais.
- Redução do consumo de cimento para uma determinada resistência.
- Aumento da trabalhabilidade do concreto com baixa retração plástica.
A figura 27 simula o efeito de atuação do superplastificante utilizado. Os polímeros de éter
poli carboxílico possuem largas cadeias laterais, que se depositam na superfície das partículas
Figura 27 - Efeito estérico. Aditivo superplastificante. Fonte: The masterbuilder bureau, 2016.
Cadeias de éter
policarboxílico Cadeias de éter
adsorvidas na policarboxílico
partícula de adosorvidas na
cimento partícula de
cimento
partícula de
cimento
3.1.5 Água.
Alguns tipos de nanocompósitos tiveram na sua composição o C-S-H, que foi produzido
em duas relações Ca/Si: 0,8 e 1,2. O C-S-H foi produzido no laboratório de química do Centro
Universitário Franciscano, através do método de precipitação química dos reagentes: nitrato de
cálcio tetra hidratado Ca(NO3)2 · 4H2O e silicato de sódio (Na2SiO3), conforme figura 28,
seguindo o método descrito por Thomas, Jennings e Chen (2009).
Os detalhes da produção estão melhores descritos em 3.2.1 (Produção do nanotubos de
carbono de paredes múltiplas (NTCPM).
A quantidade usada em cada nanocompósito e também material referência encontra-se
detalhada no Apêndice A.
3.2 MÉTODOS.
A produção de NTCPM foi realizada pela técnica de deposição química à vapor (DQV),
no laboratório de nanomateriais de carbono do Centro Universitário Franciscano, conforme
figura 29.
O sistema é composto por um forno tubular com capacidade de temperaturas de 90º até
1300ºC e um tubo de quartzo 90 cm de diâmetro.
Este processo ocorreu por precipitação direta, conforme método descrito por Thomas,
Jennings e Chen (2009). Os reagentes químicos utilizados foram nitrato de cálcio tetrahidratado
(Ca(NO3)2 · 4H2O) e silicato de sódio (Na2SiO3), misturados nas devidas proporções, obtidas
pelo cálculo estequiométrico, em função da massa atômica dos elementos e controlando-se a
relação Ca/Si, conforme quadro 4.
Produziram-se 2 tipos de C-S-H com diferentes relações Ca/Si (0,8, e 1,2).
Estas relações Ca/Si foram adotadas porque representam valores normalmente
encontrados para o C-S-H gerado na hidratação normal do cimento Portland, que pode variar
de 0,6 a 1,5.
A próxima etapa foi o processo de filtração em funil de Büchner com uso de filtro de
papel, conforme figura 33(b).
a b
Após filtragem, os materiais foram secos em estufa na temperatura de 100º C, até que o
material tivesse a constância de peso. Posteriormente, foram submetidos à moagem no moinho
de bolas (esferas cerâmicas), no laboratório de materiais cerâmicos do Centro Universitário
Franciscano, por um período de 12 horas, conforme figura 34.
Na produção dos corpos de prova para o ensaio de tração na flexão, foram usadas formas
metálicas de corpos de prova prismáticos com dimensões 4 x 4 x 16 cm (h x l x c), conforme
figura 38(a). Tais formas são similares às usadas para ensaio de tração na flexão em argamassas.
Cada conjunto de formas possui 3 corpos de prova, conforme figura 38(b), que foram
moldados com o mesmo tipo de nanocompósito. O resultado da resistência de cada
nanocompósto foi tomado como a média aritmética dos valores de resistência dos 3 corpos de
prova.
Figura 38 - Formas metálicas e corpos de prova moldados para ensaio de tração na flexão.
Onde:
Ed = módulo de elasticidade dinâmico;
ρ = massa específica (kg/m3)
µ = coeficiente de poison = 0,2
O ensaio de ultrassom é interessante, pois possibilita verificar a modificação da
densidade do material e então, informar a influência do uso das adições de nanoparticulas nos
corpos de prova testados. Este ensaio possibilita ainda verificar a modificação da densidade do
material e então informar a influência do uso das adições de nanoparticulas nos corpos de prova
testados. Para IAEA (2012), regiões de baixa compactação, vazios ou material danificado no
concreto provocam a redução correspondente na velocidade de pulso calculadas. Tal conclusão
é coerente com os resultados obtidos por Lafhaj et al (2006), conforme figura 41.
(OINA), sendo possível identificar os cristais formados pela hidratação do cimento e também
do processo de nucleação do C-S-H.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES.
A produção de C-S-H seguindo o método de Thomas, Jennings e Chen (2009) foi bem
sucedida visto que os materiais representam o padrão de difração compatíveis como o C-S-H
de pastas de cimento, conforme figura 48 e figura 50.
característica dos grupos Fe-O, revelando a presença do catalizador utilizado (FeO2) assim
como relatado por Bajaj, Malhotra e Choi (2010).
Analisando o espectro para material funcionalizado, figura 52(a), o pico 1117 cm-1
representa o estiramento da ligação (C-O).
Observa-se também o pico típico de ácido carboxílicos e em 3429,01 cm-1.
A figura 52 apresenta as modificações expressivas sofridas pelo material, antes e após o
processo de oxidação química com ácidos (funcionalização).
Atieh et al (2010), conforme figura 53, que afirmam que “os espectros FTIR dos NTCPM
funcionalizados mostram um pico amplo em torno de 3425 cm-1, que é uma característico do
estiramento do grupo hidroxila (O=C−OH e C−OH) que pode ser atribuído à oscilação de
grupos carboxílicos (-COOH)”.
Esta mesma conclusão foi relatada por Tehrani et al (2013), que verificou grupos
carboxílicos (-COOH) nos picos 3415 obtidos para análise de NTCPM (MWCNT) oxidados
com HNO3, resultando nos produtos funcionalizados (MWCNT-COOH), conforme figura 54.
Duart e Fagan (2014) usaram esta técnica e também obtiveram exito na funcionalização
de NTCPM e consequentemente a dispersão em água.
Estes resultados são compatíveis com a pesquisa de Kim et al (2017) que conseguiram
dispesar nanotubos de paredes múltiplas com uso de enzimas, conforme ilustra a figura 57.
4.2 POROSIDADE.
POROSIDADE TOTAL
100%
92%
70%
58% 57% 55%
20,0 18,4
13,9
11,5 11,3 11,0
Analisando-se a figura 58, verifica-se que a porosidade total dos nanocompósitos são
inferiores a do material de controle(C), que teve porosidade total de 20%. O melhor resultado
foi obtido para o nanocompósito ST2-0,8 cuja porosidade total foi 11,0 %, o equivalendo apenas
à 55% da porosidade total do material controle.
Os traços S2-0,8, ST1-0,8 e ST2-0,8 apresentaram praticamente o mesmo resultado,
considerando a margem de erro (5%) e tiveram a porosidade variando de 55% a 58% valores
bem baixos se comparados ao material controle. Os nanocompósitos mais porosos dentre os
analisados foram T2 que apresentou praticamente a mesma porosidade do material de controle,
considerando a margem de erro. O nanocompósito ST2-1,2 apresentou porosidade
intermediária com valor de 70% em relação ao material de controle, o que representa um
desempenho razoável.
Na figura 59, percebe-se que existe a presença dos NTCPM-OX e várias partículas de
C-S-H de relação Ca/Si=1,2 isoladas porém não existe um entrelaçamento entre as mesmas e
percebe-se também vários NTCPM-OX isolados, o que indica que o processo de nucleação e
crescimento é pouco expressivo. Isto deve-se a menor reatividade do C-S-H de relação
Ca/Si=1,2.
Percebe-se ainda, que o local onde as partículas se encontram é uma área bastante porosa
e desta forma as partículas de NTCPM-OX e C-S-H não estão fazendo um preenchimento
relevante.
Figura 62 - Distribuição dos tamanhos dos poros. Amostras ensaiadas por MIP dos
fragmentos dos corpos de prova.
79,8%
73,1%
59,6% 57,3% ø > 50nm
47,7% 50,6% (macroporo)
Figura 63 - Distribuição da porosidade em função dos diâmetros dos poros dos fragmentos
dos corpos de prova.
308% 301%
245%
236% 236%
151% 165%
A área superficial em função da dimensão dos poros também é uma análise quantitativa
sobre a distribuição dos poros. As curvas de área acumulada dos poros versus dimensão do poro
estão disponíveis no apêndice B. A análise deste parâmetro não foi discutida neste texto.
Figura 64 - Material de controle (C). análise MEV / FEG e distribuição dos poros.
microporo
microporo
6,9% ø < 50 nm
13,3%
(microporo)
2 nm < ø < 50 nm
(mesoporo)
ø > 50 nm
(macroporo)
79,8%
microporo
Além da modificação da estrutura porosa o refinamento dos poros vai causar efeitos nas
propriedades mecânicas, que serão abordadas mais adiante.
Figura 65 - Nanocompósito (ST2-0,8). Imagem por MEV / FEG e distribuição dos poros.
microporo
20,8% ø < 50 nm
(microporo)
31,4%
2 nm < ø < 50 nm
(mesoporo)
ø > 50 nm
47,7%
(macroporo)
ST2-0,8
Montija (2007) alerta para a existência de falhas em materiais como concreto que
normalmente são resultados de fatores intrínsecos desde a preparação do material até seu
comportamento frente a fatores ambientais e também solicitação de carregamento.
Pode-se dizer então, que em suma, quando o concreto é solicitado a deformar-se, esta
deformação se distribuirá entre elementos cristalinos e não cristalinos de diferentes
tamanhos, naturezas e rigidez e estágios temporais de desenvolvimento, além de poros
e microfissuras que representam falhas de continuidade de rigidez originadas na
própria formação dos produtos de hidratação, na retração do material e no
amassamento do concreto. (MONTIJA, 2007).
Também é possível observar a presença dos NTCPM-OX que se alocaram num espaço
poroso e em seu entorno o crescimento dos cristais de etringita e também o próprio C-S-H, que
torna a região toda mais densa, o que reflete as caracteristicas de redução de porosidade e
também aumento de resistência à compressão, tração e módulo de elasticidade.
4.3 PERMEABILIDADE.
PERMEABILIDADE (mDarcy)
100% 96%
78% 83%
61%
O material de controle(C) foi o mais permeável seguido pelo nanocompósito T2, cuja
permeabilidade representou 96% daquela expressa pelo material C. Este resultado é explicado
pela maior porosidade e também distribuição dos diâmetros dos poros do nanocompósito T2,
que apresentou 73,1% de macroporos e somando o percentual de mesoporos (20,1%), conforme
figura 61, que nesta condição possibilita a passagem de fluido com maior facilidade.
A adição de NTCPM-OX mesmo em um percentual de 0,2%, parece não ter modificado
consideravelmente a estrutura poroso no nanocompósito T2. Isto pode ser explicado por não
apresentar a reatividade e a facilidade de nucleação quando aplicado isoladamente sem o
seeding. Porém no caso do nanocompósito ST2-0,8 cuja medida da permeabilidade foi de
apenas 0,07 mili Darcy, representando apenas 21% da permeabilidade medida para o material
controle, conforme figura 68.
Vefica-se ainda que os nanocompósitos ST1-0,8 e ST2-1,2 apresentaram praticamente
a mesma permeabilidade 83% e 78% respectivamente, quando comparados ao material
controle, conforme figura 68. A porosidade total dos mesmos expressa valores mais
contrastante 58% e 70% respectivamente, conforme ilustra a figura 69. Ao analisar a
distribuiçao dos poros pode-se verificar que o nanocompósito ST1-08, teve uma estrutura
porosa ligeiramente mais refinada com menor valor de macroporos e maiores valores de
mesoporos e microporos, se comparado ao nanocompósito ST1-0,8.
Figura 69 - Comparação entre porosidade total e permeabilidade dos fragmentos dos corpos
de prova.
foi o resultado mais destacado. Provavelmente, estas adições tenham provocado uma maior
nucleação e maior modificação estrutural dos nanocompósitos com este tipo de adição.
A adição de 0,2% de NTCPM-OX no nanocompósito T2, não modificou
consideravelmente a permeabilidade, quando comparada ao material controle, conforme figura
68, assim como a porosidade total e distribuição dos tamanhos dos poros, conforme figura 58 e
figura 62, respectivamente. Já adição 2% de C-S-H Ca/Si=0,8 no nanocompósito S2, tornou
este material com uma permeabilidade muito baixa, se comparado ao material controle. O
mesmo resultado foi verificado para a porosidade e distrubuição dos tamanhos na matriz porosa.
Outro resultado importante que se percebe foi que a combinação de NTCPM-OX e C-
S-H Ca/Si=0,8 propiciou vantagens maiores, quando comparados ao nanocompósito S2 ou
mesmo ao material controle. Isto leva a conclusão que existe sinergia entre estas duas adições
e que nos maiores teores a nucleação e crescimento de C-S-H parecem realmente ser mais
existente.
Neste ensaio também foi considerado como margem de erro 5%, para os resultados
obtidos. Ao analisar a resistência à tração, figura 72, o que se verifica é um comportamento
pouco diferenciado para os nanocompósitos que contém NTCPM-OX em especial os
nanocompósitos mistos (NTCPM-OX + C-S-H).
O nanocompósito mais resistente foi o ST2-0,8, que teve um crescimento de resistência
de 33% quando comparado ao material controle, conforme figura 72. Este comportamento é
coerente com o desempenho da resistência à compressão, que foi 30% maior que o material
controle, conforme figura 70.
O nanocompósito ST2-1,2 passou a ser o segundo mais resistente à tração, com 29% de
resistência acima do material controle, considerando a margem de erro pode-se atribuir a este a
mesma resistência à tração do nanocompósito ST2-0,8, o mais resistente e isto se deve pela
menor posoridade que tornou o material mais denso, mas também pela presença das partículas
de NTCPM-OX, que ao se colocarem de forma uniforme na matriz do nanocompósito,
reforçaram o mesmo, conforme ilustra a figura 73.
Analisando a figura 70, verifica-se que este mesmo material teve a resistência à
compressão de 17% quando comparado ao material controle. Pode-se explicar esta situação em
função das características dos materiais uma vez que os NTCPM-OX são materiais com alta
resistência à tração. Muitos pesquisadores admitem que tais matérias podem ser até 100 vezes
mais resistentes que o aço.
Considerando que o C-S-H (Ca/Si-1,2) não ser foi reativo quanto o C-S-H (Ca/Si-0,8),
mesmo assim sua adição implicou em moderada modificação de porosidade e permeabilidade,
quando comparado ao material controle, conforme figura 69, e, portanto, menor processo de
nucleação e crescimento de C-S-H estimulado pelo C-S-H (Ca/Si-1,2), adicionado.
Mesmo assim, o que se pode concluir é que a presença do maior teor de NTCPM-OX
(0,2%), combinado com a adição de C-S-H (Ca/Si-1,2 e Ca/Si-0,8) foi determinante para
reforçar a matriz cimentícia do nanocompósitos e elevar a resistência a flexão do mesmo. Pode-
se observar isto claramente na figura 74, onde estes tipos de nanocompósitos apresentam uma
curva na posição superior do gráfico e com uma inclinação considerável, representando a
influência da modificação de adição na resistência medida.
S1-0,8 e S2-0,8
ST1-1,2 e ST2-1,2
18,5
seeding+nanotubos Ca/Si=1,2
Linear (T1 e T2)
17,5 Linear (S1-1,2 e S2-1,2)
Linear (S1-0,8 e S2-0,8)
Linear (ST1-1,2 e ST2-1,2)
16,5
Linear (seeding+nanotubos Ca/Si=1,2)
15,5
14,5
13,5
12,5
0 1
1,0 (C-S-H) 2,0 (C-S-H)
2
0,1 (NTCPM-OX) 0,2 (NTCPM-OX)
ADIÇÃO (%)
Esta hipótese ainda pode ser reforçada pelo fato de que os 4 compósitos mais resistentes
são de adição mista.
126% 135%
122% 130%
50,0 119% 125%
114% 114%
120%
109%
45,0 106% 106% 115%
100% 110%
105%
40,0 100%
46,6 47,6
95%
43,5
41,1 42,0 90%
35,0 39,5
39,5 85%
37,5
36,6 36,6 80%
34,5
30,0 75%
C T1 S1-1,2 T2 S2-1,2 ST1-1,2 ST2-1,2 S1-0,8 ST1-0,8 S2-0,8 ST2-0,8
Nanocompósito
Melhor análise ainda pode se verificar na figura 76, na qual as curva destes
nanomateriais apresentam a maior inclinação representando que o módulo de elasticidade varia
sensivelmente ao aumento do percentual de adições, de 0,1% para 0,2%. Os coeficientes de
correlação (R2) destas curvas são superiores a 0,95 demonstrando inequívoca relação entre o
parâmetro adição e a variação do módulo de elasticidade.
assim como aconteceu com resultados de resistência à compressão axial simples, conforme
figura 70.
Esta conclusão é bem clara ao se analisar a figura 77. Este comportamento é coerente
com a análise já feita a respeito da pouca modificação em função da baixa contribuição destes
tipos de nanocompósitos na nucleação e crescimento de C-S-H.
43,0
41,0
39,0
37,0
35,0
33,0
0 1,0 (C-S-H)
1 2,0 (C-S-H)2
0,1 (NTCPM-OX)
0,2 (NTCPM-OX)
ADIÇÃO (%)
Figura 78 - Módulo de elasticidade x relação Ca/Si. Fonte: Pelisser, Gleize e Michel (2011).
O resultado apresentado está de acordo com análise feita por Thomas, Jennings e Chen
(2009), que verificaram que toda vez que se aumenta a adição de seeding de C-S-H, para mesma
relação Ca/Si , conforme tabela 1, o grau de hidratação (parâmetro α) medido em 24 h de
mistura, também aumenta assim como aumenta a temperatura e a quantidade de calor gerada
em função das reações químicas que se pronunciam.
Tabela 1 - Análise térmica de C-S-H. Fonte: Adaptado de Thomas, Jennings e Chen (2009).
adição Calor (24h) α (24h) SSA (28d)
-1
(%) (kJ mol ) (m2/cm3)
0,0 46,3 0,383 118
0,5 50,0 0,413
1,0 60,7 0,502 126
2,0 67,3 0,556 136
2,7 72,5 0,599
4,0 83,2 0,688 147
5. CONCLUSÃO.
Com relação a produção de nanomateriais, foi possível concluir que o método utilizado
para produção nanotubos de carbono, o método DVQ, propiciou um material de qualidade e na
quantidade satisfatória para a realização das etapas da pesquisa. O método para funcionalização
(oxidação química) também teve êxito, conforme os resultados demonstraram.
Quanto a produção de C-S-H o método de prociptação foi apropriado e resultou no
material adequado para os ensaios realizados.
Quanto a produção de corpos de prova e realização de ensaios de propriedades
mecânicas e propriedades físicas, foi constatado que o planejamento inicial foi adequado e as
adaptações de quantidade e dimensão das amostras não comprometeram a qualidade dos
resultados, mas sim tornaram exequíveis os testes previsto, dentro do orçamento planejado e
também dos equipamentos uitilados.
Os resultados quantitativos e qualitativos levaram a conclusão que a incorporação de
nanomateriais como NTCPM-OX e C-S-H resultou no aumento do valor da resistência
mecânica de compressão e tração como também do módulo de elasticidade dinâmico, se
comparados ao material controle.
Nas análises de microscopia eletrônica de transmissão foi possível observar a
modificação da estrutura porosa dos nanocompósitos produzidos e então verificar a influência
da incorporação de nanomateriais como NTCPM-OX e C-S-H. Foi possível observar ainda,
através deste tipo de análise, a presença dos NTCPM-OX incorporados à matriz cimentícia de
forma uniforme revelando então que o processo de funcionalização dos NTCPM teve êxito,
uma vez que não se verificou formação de aglomerados destes materiais.
Verificou-se que junto com as melhoras das propriedades mecânicas houve a melhoria
das propriedades físicas como porosidade e permeabilidade, quando comparados ao material
controle, que não apresentava nenhum tipo de adição.
Nas propriedades físicas verificou-se a redução da porosidade total e também a melhor
distribuição dos tamanhos dos poros (refinamento) para os nanocompósitos mistos (com
adições de NTCPM-OX e C-S-H) em especial aqueles com C-S-H relação Ca/Si=0,8.
O nanocompósito ST2-0,8 foi o que apresentou a menor porosidade total sendo
praticamente 55% da porosidade do material de controlee também a quantidade de microporos
foi mais que o dobro do percentual apresentado pelo material controle. Isto resultou ainda na
redução da permeabilidade para apenas 21%.
na resistência à tração foi comprovada. Isto pode ser relacionado ao fato das partículas de NTC
serem materiais de alta resistência à tração e consideradas por muitos pesquisadores até 100
vezes mais resistente que o aço.
Então, a presença destes materiais de carbono funciona como um reforço, assim como
uma fibra, quando em teores mais elevados (0,2% de NTCPM-OX) ou então quando
combinados com C-S-H relação Ca/Si=0,8 que produz uma nucleação expressiva. Neste caso a
presença dos NTCPM-OX acaba reforçando ainda mais os cristais que crescem nestes núcleos
de nanopartículas.
De forma geral verifica-se que as adições combinadas de C-S-H com relação Ca/Si=0,8
com NTCPM-OX trouxeram resultados positivos de melhoria na nanoestrutura dos
nanocompósitos produzidos e também com relação as propriedades mecânicas aqui estudadas.
Os resultados ainda podem levar a conclusão que, usar a adição de C-S-H na relação
Ca/Si=0,8 de forma isolada, pode ser uma alternativa viável pois leva a resultados relevantes e
com um custo bem mais baixo que optar por adições mistas, visto que ainda os NTC são
materiais com custo elevado e produção mais complexa do que o C-S-H precipitado.
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C 260,0 598,0 487,5 130 1,43 0,55% 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,50 0,44
S1-0,8 260,0 598,0 487,5 130 1,43 0,55% 2,60 0,00 1,00 0,00 0,00 0,50 0,44
S1-1,2 260,0 598,0 487,5 130 1,43 0,55% 0,00 2,60 1,00 0,00 0,00 0,50 0,44
S2 -0,8 260,0 598,0 487,5 130 1,43 0,55% 5,20 0,00 2,00 0,00 0,00 0,50 0,44
S2-1,2 260,0 598,0 487,5 130 1,43 0,55% 0,00 5,20 2,00 0,00 0,00 0,50 0,44
T1 260,0 598,0 487,5 130 1,43 0,55% 0,00 0,00 0,00 0,26 0,10 0,50 0,44
T2 260,0 598,0 487,5 130 1,43 0,55% 0,00 0,00 0,00 0,52 0,20 0,50 0,44
ST1-0,8 260,0 598,0 487,5 130 1,43 0,55% 2,60 0,00 1,00 0,26 0,10 0,50 0,44
ST1-1,2 260,0 598,0 487,5 130 1,43 0,55% 0,00 2,60 1,00 0,26 0,10 0,50 0,44
ST2-0,8 260,0 598,0 487,5 130 1,43 0,55% 5,20 0,00 1,00 0,52 0,20 0,50 0,44
ST2-1,2 260,0 598,0 487,5 130 1,43 0,55% 0,00 5,20 2,00 0,52 0,20 0,50 0,44
Figura 80 - Curva de área acumulada dos poros versus dimensão do poro. Amostra:
nanocompósito ST1-0,8.
Figura 81 - Curva de área acumulada dos poros versus dimensão do poro. Amostra:
nanocompósito ST2-0,8.
Figura 82 - Curva de área acumulada dos poros versus dimensão do poro. Amostra:
nanocompósito ST2-1,2.
Figura 83 - Curva de área acumulada dos poros versus dimensão do poro. Amostra:
nanocompósito T2.
Figura 84 - Curva de área acumulada dos poros versus dimensão do poro. Amostra:
nanocompósito S2-0,8.
Figura 85 - Curva de área acumulada dos poros versus dimensão do poro. Amostra: material
de controle(C).