sgarbi.ad@gmail.com Existem diferentes formas para se conhecer uma realidade: mito, religião, senso comum, ciência, arte e filosofia. - Estas formas não se excluem, mas
coexistem, embora uma ou outra possa ter
sido enfatizada numa ou noutra época. - O mito: tipo de conhecimento intuitivo (imediato) da realidade. Basta a crença, não é necessária a compreensão.
- No mundo primitivo, tribal, tudo é mito e
tudo se faz por magia. Quando a sociedade torna-se complexa o mito passa para setores como o campo religioso. Mas, o desenvolvimento do pensamento reflexivo não destrói a consciência mítica. O senso comum: conhecimento herdado e transmitido pelo grupo social. É fragmentário, difuso, ametódico e assistemático. Não é questionado, num primeiro momento. Cabe ao bom senso questioná-lo. Nas sociedades onde impera a dominação o senso comum passa a ser uma ideologia. A ciência: surge no século XVII, com as bases do método estabelecido por Galileu. Usando os recursos da experimentação e da matematização os cientistas delimitam o objeto estudado e descobrem as regularidades nos fenômenos observados estabelecendo leis e teorias. Pode-se discutir esta definição de ciência distinguindo Ciência Moderna e Ciência como um todo. As diretrizes para o ensino médio (2012), por
exemplo, afirmam: “A Ciência é conceituada
como o conjunto de conhecimentos sistematizados, produzidos socialmente ao longo da história, na busca da compreensão e transformação da natureza e da sociedade” (DEM, § 2o ). A arte é um tipo de conhecimento intuitivo do mundo. O artista intui a realidade e provoca pela sua obra uma nova interpretação da experiência vivida.
A imaginação passa a ser a mediadora entre o
vivido e o pensado. O mundo imaginado antecede o real, aponta suas possibilidades. - A filosofia: embora a reflexão esteja presente no dia-a-dia de todas as pessoas (todo ser humano é um filósofo – dizia filósofo italiano Antonio Gramsci) a reflexão do filósofo especialista é diferente, pois o mesmo conhece a tradição dos pensadores; debate com os teóricos do seu tempo e cria conceitos de maneira metódica, rigorosa e sistemática.
A reflexão é a principal característica da filosofia.
Reflexão (do latim reflectere) significa “fazer retroceder”, “voltar para trás”, “recurvar”. Retomar o próprio pensamento, pensar o já pensado, voltar-se para si mesmo e colocar em questão o que já se conhece. - A reflexão filosófica é: radical porque é um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se, para ir às raízes das coisas e dos fenômenos; de conjunto porque não se contenta com uma parte, mas busca sempre a totalidade do fenômeno, não busca o particular mas o geral; rigorosa (crítica) por estabelecer critérios de análise com um método claramente explicitado para proceder com rigor, garantindo a coerência e o exercício da crítica. - A filosofia não quer explicar a realidade (função da ciência), mas compreendê-la, o que supõe a busca de sentido das coisas e da vida.
Não existe “filosofia”, mas sim “filosofias” que
exerceram a “prática” do filosofar buscando o sentido das coisas. - A filosofia ocidental surgiu na Grécia, por volta dos séculos VII e VI a.C. - O pensamento mítico (Homero – Ilíada e
Odisséia; Hesíodo – Teogonia) e a tragédia
grega (Entre os mais famosos temos: Ésquilo 525-456 a.C.; Sófocles 496c – 406 a.C.;Eurípedes c.480-406ª.C.) antecederam a filosofia. A Filosofia não se inicia na Grécia continental, mas nas colônias Gregas: Jônia (metade sul da costa ocidental da Ásia Menor) e Magna Grécia (sul da Península Itálica e Sicília). Este novo tipo de reflexão foi chamado por
Pitágoras de filosofia (= Philo + sophos). pois
ele se considerou um “amigo da sabedoria”. Os gregos dessacralizaram a natureza ao inventar conceitos e ao estimular o debate argumentativo e deixaram para o Ocidente grandes intuições como:
a ideia de que a natureza segue leis naturais e
necessárias que podem ser conhecidas pelo homem; nos deixaram a ideia de que o nosso pensamento também segue leis universais e necessárias, o que possibilita um conhecimento seguro e rigoroso - desenvolvimento da lógica;
entenderam o homem como um ser dotado de
livre arbítrio, de vontade, de decisão, mostrando que as ações humanas decorrem de forças humanas e não de desígnios divinos, e além disso, os acontecimentos seguem leis naturais. Para que os gregos pudessem chegar a este ponto, alguns elementos culturais foram importantíssimos, como: a invenção da escrita alfabética, do calendário e da moeda, que possibilitaram o desenvolvimento de um pensar abstrato; o surgimento da vida urbana que permitiu a instauração da “polis” - a cidade como referencial ético. A política é inventada a partir da introdução da idéia de lei, que não é manifestação da vontade divina, mas da vontade de uma coletividade humana. A cidade é organizada, regulada, racionalizada. Nela vai se desenvolver o espaço público e um novo tipo de discurso, de palavra. Não são os deuses que falam, nem os poetas, mas os homens que expressam sua opinião discutem os assuntos da coletividade, buscam adeptos para suas teses. - Os primeiros filósofos foram chamados de pré- socráticos – por anteciparem a filosofia do período clássico representado por Sócrates, Platão e Aristóteles – teorizaram sobre o universo e a natureza (phisis), pois buscam os fundamentos, o princípio (arché) de todas as coisas.
No período clássico os temas mais discutidos
são: ética; política; estética e teoria do conhecimento. No entanto o filósofo aborda todo o saber de seu tempo (física, astronomia, biologia) tornando-se uma espécie de “cientista”. - A separação entre filosofia e ciência ocorre somente no século XVII, quando o método científico começa a se desenvolver. Deste período até o século XIX vão surgindo as chamadas ciências particulares: física, astrologia, química, biologia, psicologia, sociologia etc.
Hoje o cientista se especializa em partes da
realidade e o filósofo continua a olhar o objeto do ponto de vista da sua totalidade, busca uma visão de conjunto. O objeto material da filosofia é toda a realidade e o objeto formal é a reflexão. Assim, na reflexão filosófica, foram enfocados temas diferentes de acordo com a realidade de cada época. Existem muitas formas de classificar os campos de investigação filosófica. Uma destas classificações distingue os seguintes campos: Lógica (do grego logos, “razão”, “teoria”, mais primitivamente “palavra”). Metafísica (do grego meta, “além de”). Teoria do conhecimento, também chamada de gnosiologia (do grego gnosis, “conhecimento”). Epistemologia (do grego episteme, “ciência”). Antropologia (do grego anthropos , “homem”). Axiologia (do grego axios, “digno de”, “o que vale”). Filosofia política (do termo grego politiké, derivado de polis, “cidade”). Ética (do grego ethos, “costume”). Chamada também de filosofia moral (do latim mos, moris, normas, regras de conduta assumido livre e conscientemente pelos indivíduos). Estética (do grego aisthesis, “faculdade de sentir”, compreensão pelos sentidos”). Também chamada de filosofia da arte. Filosofia da linguagem – Reflexão sobre a linguagem como elemento estruturador que explica a relação do ser humano com a realidade; a natureza da linguagem; os sentidos dos signos e proposições lingüísticas etc. Pode se subdividir em diversas outras, conforme a corrente de pensamento: semiótica; filosofia analítica da linguagem; hermenêutica... Aparecem também entre as áreas da filosofia as diversas “filosofias de”: filosofia da religião, filosofia de cada uma das ciências, como filosofia da matemática, filosofia da história, filosofia do direito etc. - Reflexão radical, rigorosa e sistemática dos problemas relacionados à educação (transmissão da herança cultural, processo pelo qual se torna possível a gestação do novo) e à pedagogia (teorias sobre a educação, exemplo: pedagogia filosófica ou essencialista, positivista, dialética). - Investiga o ser humano que se quer formar, os valores emergentes que se contrapõem a outros, já decadentes. Estuda também os pressupostos do conhecimento subjacentes aos métodos e procedimentos utilizados. - Busca discutir as questões: qual a concepção de humanidade que orienta a ação pedagógica? Que valores orientam nossa ação. Vai avaliar as técnicas e os métodos para julgar se são adequados ou não aos fins propostos sem cair no tecnicismo.
- Tem ainda a função de
interdisciplinaridade, pela qual estabelece a ligação entre as diversas ciências e técnicas que auxiliam a pedagogia. - Entre os vários temas destacaremos em nosso curso os seguintes temas:
- Aproximação à filosofia. - Filosofia da Educação na formação do educador.
- Antropologia filosófica e educação.
- Epistemologia e educação. - Axiologia e educação.