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"OPt/ÞNFSPt"HPTUP XXXNBSNJMCS
em
A Marinha Operativa
nos Rios da Amazônia
Editorial
Estou certo de que conseguimos atingir o nosso objetivo ao dis-
pormos de um veículo de comunicação capaz de apresentar, à so-
ciedade brasileira, as atividades que a Marinha do Brasil desenvol-
ve em prol do conhecimento e da defesa da nossa “Amazônia Azul”.
Na primeira edição, os leitores conheceram, na matéria princi-
pal, o Navio-Patrulha “Macaé” - o primeiro de uma nova classe de
navios que têm, por missão, contribuir para a vigilância e proteção
das Águas Jurisdicionais Brasileiras. Na atual edição, apresentamos
algumas atividades de grande relevância que a Marinha desenvolve
na Amazônia: a atuação operativa da nossa Força na região, com
a matéria sobre a Operação “Negro-I”; a campanha contra o es-
calpelamento, acidente comum na região, provocado pelo enrolar
dos cabelos nos eixos desprotegidos das embarcações regionais; e a
construção, pela Marinha do Brasil, de lanchas escolares, destina-
das ao transporte digno de estudantes.
Mostramos, também, a Operação “UNITAS LI”, exercício mi-
litar multinacional; o Aviso de Pesquisa “Aspirante Moura”, meio
naval recentemente adquirido; a participação da Marinha do Brasil
na ajuda humanitária ao Chile, em decorrência do terremoto ocor-
rido em fevereiro naquele país; o Sistema de Informações sobre o
Tráfego Marítimo (SISTRAM); as Bandas Marcial e Sinfônica do
Corpo de Fuzileiros Navais; Mulheres na Marinha; entre outras.
Esperamos aumentar ainda mais o grau de interesse da socieda-
de brasileira em nossa Instituição, com a publicação de importan-
tes reportagens sobre o dia-a-dia naval. Aproveito a oportunidade
para instigar os leitores a nos encaminharem suas impressões em
relação ao nosso periódico, com dúvidas, críticas e sugestões, para
que possamos aperfeiçoar o seu conteúdo e atender aos anseios e
curiosidades dos públicos-alvo.
Dessa forma, na edição de agosto, damos continuidade à nossa
Marinha em Revista, que muito colabora com a atividade de co-
municação social da Marinha do Brasil. Uma boa leitura a todos!
MARINHA Revista
Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 www.mar.mil.br
em
A Marinha Operativa
nos Rios da Amazônia
Comandante da Marinha
Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto
20
Operação “UNITAS LI”
uma presença marcante 33
Meios Navais
Aviso de Pesquisa Ciência
“Aspirante Moura” 12 Trindade: onde o sol
ilumina primeiro o Brasil 36
Tecnologia
Alta tecnologia no Controle Cultura
Naval do Tráfego Marítimo 16 Sinfonias de
uma Banda Militar 40
Artigo
A Comunicação Social Gente de Bordo
na Marinha 19 Suboficial Zomar 43
Hospital de
Campanha da
Marinha no Chile
Diminuindo o sofrimento de um país
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Fayga Cruz Soares Pinto
Fotos: Hospital de Campanha
Angústia, sofrimento e perdas. Esse foi o cenário encontrado pela equipe de saúde da
Marinha do Brasil assim que chegou ao Chile, após o terremoto ocorrido no dia 27
de fevereiro deste ano. O que viram foi um país parcialmente destruído, com milhões
de desabrigados. O tremor de terra deixou mais de 800 mortos, afetando os sistemas
telefônicos e de energia elétrica e deixando milhões de desabrigados.
N
o desafio de minimizar os pro- Inicialmente, o HCamp seria utiliza- o Comando da Força de Fuzileiros
blemas, um esforço conjunto e do na região sul do país, local mais gra- da Esquadra (ComFFE) e o Centro
de caráter humanitário levou o vemente comprometido. Entretanto, de Medicina Operativa da Marinha
Governo do Brasil, por intermédio da atendendo à solicitação do Ministério (CMOpM) ativaram, em menos de
Marinha, a disponibilizar um Hospi- da Saúde do Chile, ele foi utilizado para 48h, a primeira fração do Grupamen-
tal de Campanha (HCamp) para pro- substituir a seção de emergência do to Operativo, embarcando em aero-
ver apoio de saúde e humanitário às Hospital Dr. Félix Bulnes e montado na nave da Força Aérea Brasileira, com
vítimas da catástrofe ocorrida no Chi- região metropolitana de Santiago, capi- destino a Santiago.
le, sob o Comando do então Diretor tal do Chile, em um centro esportivo. No dia seguinte, foi apresentada
do Centro de Medicina Operativa da a sua composição com um efetivo de
Marinha e atual Diretor do Centro de MONTAGEM DO HOSPITAL 101 militares, comandados pelo Con-
Perícias Médicas da Marinha, Contra- No dia 1º de março, após rece- tra-Almirante (Md) Sérgio Pereira:
Almirante (Md) Sérgio Pereira. ber determinação de mobilização, o Capitão-de-Fragata (Md) Carlos
Eduardo de Loureiro Araujo, do Hos-
pital Naval Marcílio Dias, mais 46 no
componente médico e 53 na seguran-
ça e apoio ao serviço de combate. Ao
todo, foram realizados seis voos em
aeronaves C130 da Força Aérea Bra-
sileira, com um carregamento de 34
toneladas de material.
O Capitão-de-Fragata (Md) Araujo,
do Hospital Naval Marcílio Dias, um
dos encarregados do HCamp, explica
que os militares da área médica eram
de diversas especialidades. “O HCamp
foi formado por médicos de especiali-
dades cirúrgicas, clínicas e de radiolo-
gia. Contamos, também, com um ci-
rurgião bucomaxilo-facial, enfermeiras
de nível superior e farmacêutico. No
que diz respeito às Praças, possuíamos
técnicos de enfermagem, laboratório
e radiologia”.
Chegando ao Chile, foi mantido
o planejamento inicial de funciona-
mento da emergência 24h por dia,
6
“Identificar erros e acertos é um dos para Oficiais e Praças visando a capa- Preparação e Mobilização de Meios
objetivos finais de uma missão mili- citação para o guarnecimento de uma para a execução de Tarefas Especiais,
tar”, destaca o Contra-Almirante. Unidade Médica nesse nível. no âmbito da Força.
No início do ano, a Marinha do As Tarefas Especiais consistem
Brasil participou ativamente das ativi- SEMINÁRIO DE TAREFAS ESPECIAIS em ações que viabilizam e cooperam
dades de resgate e de reconstrução do Pensando em registrar as experiên- com a execução de programas de
Haiti, por ocasião do terremoto ocor- cias obtidas nos dois episódios (Chile contingência, em respostas a emer-
rido no início do ano. Por essa expe- e Haiti), a Marinha do Brasil organi- gências. Tal execução fica a cargo de
riência, pode-se afirmar que a atuação zou, nos dias 7, 8 e 9 de junho, no Rio uma Força/Grupo/Unidade-Tarefa,
no Chile foi mais tranquila, princi- de Janeiro, o “Seminário sobre Tare- organizada por elementos diversos
palmente no que diz respeito à parte fas Especiais”. da Marinha, revestindo-se de carac-
logística. Além disso, o Centro de Me- O propósito foi identificar erros e terísticas de emergência e multidis-
dicina Operativa da Marinha realiza, acertos e, o mais importante, estabele- ciplinaridade, dada a diversidade de
anualmente, um curso de formação cer uma Sistemática de Planejamento, suas naturezas.
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Operações
F
ragata “Constituição” (F42) e com exercícios de guerra antissub- No dia 17 de maio, a Marinha do
Submarino “Tikuna” (S34). Esses marino, antissuperfície e antiaérea, Brasil participou do “Dia da Armada
são os nomes dos meios navais realizados com o intuito de melhorar Argentina”, em uma cerimônia que
que protagonizaram a participação a interoperabilidade entre as Mari- contou com a presença da Minis-
brasileira na Operação “UNITAS LI”, nhas participantes. Ao final da comis- tra da Defesa da Argentina, Nilda
uma das mais antigas operações navais são, um conflito entre países fictícios Garré, e do Comandante da Armada
multinacionais do mundo. Este ano, foi simulado, no qual o Brasil, repre- Argentina, Almirante-de-Esquadra
no período de 13 a 26 de maio, navios, sentando o país laranja, conseguiu Jorge Omar Godoy. Ao final, cerca
submarinos e aeronaves da Argentina, cumprir sua missão e saiu vitorioso. de 400 militares argentinos se apre-
Brasil, Estados Unidos da América e O Grupo-Tarefa (GT) brasileiro sentaram em um desfile, na Base
México navegaram no litoral argenti- foi composto pela Fragata “Consti- Naval de Mar Del Plata.
no, com a participação de cerca de 3 tuição”, pelo Submarino “Tikuna” e
mil militares, dos quais 320 brasileiros. por um helicóptero AH-11A “Super EM ALTO-MAR
Sob o mote “solidariedade hemis- Lynx”, do 1º Esquadrão de Helicóp- Crossdeck, Leap-Frog, Light-Line. Mais
férica”, o evento ocorre há 51 anos, teros de Esclarecimento e Ataque. do que palavras em inglês, esses são no-
A cerimônia de abertura, realizada mes de exercícios que podem ser usados
“A presença de muitas no dia 13 de maio, em Mar del Plata numa situação real de guerra. Logo no
nações neste tipo de (Argentina), contou com a presença primeiro dia de mar (18), foi realizada
de representantes dos quatro países uma Parada Naval. Todos os navios
exercício nos aproxima de participantes. O representante brasi- participantes se posicionaram no dispo-
uma missão multinacional. leiro, o Comandante da 1ª Divisão da sitivo por cerca de 20 minutos. Após a
A nossa presença Esquadra, Contra-Almirante Edlan- Parada, começaram os exercícios.
emite um sinal de der Santos, destacou a importância O primeiro deles foi o Crossdeck.
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(Estados Unidos da América). O exer- o navio argentino que participava da Para o Contra-Almirante Edlander,
cício também foi executado pelas ae- atividade com o Brasil, ARA “Patagô- exercícios como esses são importantes
ronaves AS565 “Panther” (México), nia”, despediu-se da Fragata “Cons- para promover a integração e intero-
SH-60B “Warrior” (Estados Unidos da tituição”. Nesse momento, a F42 si- perabilidade entre os países partici-
América), AS550 “Fennec” e SA-316B nalizou que a tarefa estava encerrada, pantes. “Atuando com Forças amigas,
“Alouette III” (ambas da Argentina). içou a “Bandeira de Faina”, colocou nós podemos trocar conhecimentos.
No contexto das ações de guerra a música tema do navio (Simply The Aprendemos com eles e eles conosco.
antissuperfície, foi realizado o exer- Best – Tina Turner) e aumentou a ve- Hoje, o foco é a capacidade de apri-
cício de tiro Gunnex 603, em que a locidade para o desengajamento. morarmos a operação em conjunto”.
F42 disparou tiros de canhão contra
o alvo Killer Tomato, que é um ma-
terial inflável de cor vermelha. Pos-
teriormente, executou o Leap-Frog
com o navio mexicano ARM “Baja
Califórnia” e com os argentinos ARA
“Robinson” e ARA “Sarandi”. Nes-
se exercício, os navios são treinados
para transferir carga leve, executan-
do a aproximação e manutenção da
posição, sem efetivar a passagem de
material. Para que seja realizado, é
necessário que dois navios fiquem
Submarino “Tikuna”
bem próximos, um ao lado do ou-
tro, mantendo a mesma velocidade
e o mesmo rumo. Após o exercício,
MISSÃO CUMPRIDA das matérias, foi possível criar um con-
Na madrugada do dia 23, ocorreu a texto histórico da simulação de guerra.
simulação de um conflito internacio- Ao final, o GT brasileiro cumpriu
nal, no qual Argentina, Brasil, Estados sua missão na “UNITAS LI”, escol-
Unidos da América e México repre- tando o navio argentino até o seu
sentaram três países (laranja, amarelo e destino. O encerramento da comissão
roxo). Foi criado um histórico e perso- aconteceu no dia 26 de maio, na Esco-
A Fragata “Constituição”, Navio nagens para compor o suposto conflito. la de Guerra Naval de Buenos Aires.
A missão do GT brasileiro (país Representantes dos países falaram so-
Capitânia do GT brasileiro, é coman-
laranja) foi escoltar o Navio-Tanque bre as lições aprendidas e os desafios
dada pelo Capitão-de-Fragata Marcos
ARA “Patagônia”, do país amarelo, até que iniciativas como essa propõem às
Borges Sertã. Possui 129 m de com-
a fictícia Ilha Manuel. Os GT norte- nações participantes. De Buenos Ai-
primento e conta com uma tripula-
americano e mexicano eram os supostos res, a Fragata “Constituição” seguiu
ção de 258 militares. O navio possui
inimigos e tentaram impedir a chegada para uma nova comissão, a Operação
modernos radares, canhões, mísseis
do navio-tanque à ilha. Durante o con- “Fraterno XVIII”, que envolveu na-
antiaéreos e antissuperfície, torpedos
flito, uma equipe de jornalistas militares vios da Argentina e do Brasil.
para emprego contra submarinos e um
brasileiros, do Centro de Comunicação Assim como a “UNITAS”, a Mari-
helicóptero orgânico AH-11A “Super
Social da Marinha, denominada Combat nha do Brasil participa de diversos ou-
Lynx”, para auxiliar em operações de
Camera, também participou da ação, tros exercícios multinacionais, todos
salvamento de vidas no mar, vigilância
com a produção de notícias simuladas. com a finalidade de adestrar as tripu-
marítima e ataque.
O trabalho era enviar notícias para ten- lações dos navios para situações reais,
tar influenciar os inimigos. Por meio sejam elas de guerra ou não
Aviso de Pesquisa
“Aspirante Moura”
Por Segundo-Tenente (RM2-T) Karla Nayra
Fotos: Primeiro-Sargento Auto
Meios Navais
O Aviso de Pesquisa (AvPq) “Aspirante Moura” (U14) foi adquirido pela Marinha
do Brasil para apoiar pesquisas de interesse da Força e da Comunidade Científica.
Batizado e incorporado à Armada no dia 17 de junho, o navio será um Laboratório
Nacional Embarcado, em que a pesquisa é um dos principais objetivos.
C
omo Laboratório Nacional possibilitará a expansão de pesquisas defesa e vigilância pela Marinha do
Embarcado, o “Aspirante Moura” em proveito das Operações Navais da Brasil”, destaca o Contra-Almirante
representará um salto qualitativo Esquadra. Dessa forma, contribuirá, Marcos Nunes de Miranda, Diretor
nas atividades do Instituto de Estudos de modo expressivo, para a continui- do IEAPM.
do Mar Almirante Paulo Moreira (IEA- dade da Política Marítima Nacional, O U14 vai apoiar, também, ativi-
PM), Organização Militar da Marinha, que orienta e subsidia o desenvolvi- dades de ensino, desenvolvidas em
sediada em Arraial do Cabo, no Estado mento das atividades marítimas do conjunto com alunos de graduação
do Rio de Janeiro, à qual o navio fica- País, visando a utilização efetiva, ra- e pós-graduação de diversas ins-
rá subordinado. O AvPq preencherá cional e plena do mar. tituições públicas e privadas con-
uma lacuna na estrutura do Institu- O navio surge no cenário nacional veniadas, funcionando como uma
to, que necessitava de um meio na- como um dos meios navais que viabi- sala de aula flutuante. Trabalhos
val capacitado para prestar apoio às lizará a inserção progressiva da “Ama- direcionados ao monitoramento
suas pesquisas. zônia Azul” na mentalidade marítima de recifes artificiais e de apoio ao
O navio agrega significativa con- nacional, ou seja, dentro do concei- combate a agentes poluidores no
tribuição às vertentes ambiental e to “conhecer para defender”. “É do mar serão realizados frequente-
científica da “Amazônia Azul”, em conhecimento científico, oriundo mente. A coleta de dados oceano-
apoio à busca de mais conhecimen- da ‘Amazônia Azul’, que decorrerá gráficos, relacionados aos sistemas
to dos mares e oceanos. Além disso, nossa soberania sobre ela, sua eficaz de correntes marinhas e ao clima,
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“ASPIRANTE MOURA”: FICHA TÉCNICA
Comprimento total - 36,06m
Boca moldada – 9,00m
Calado máximo – 2,62m
Deslocamento carregado – 543,19t
Sistema de propulsão
1 MCP MAN B&W, modelo 9L 20/27, 900 kW a 1.000 rpm
2 propulsores azimutais tipo”aquamaster” Rolls Royce/Ulstein
Geração de energia
3 Grupos diesel-geradores SCANIA-RADE KONCAR,
de 210kVA, 380 V, 50 Hz
Velocidade máxima mantida – 11 nós
Velocidade de cruzeiro – 9 nós
Raio de ação a 9 nós – 2.160 MN
Autonomia – 10 dias
O INSTITUTO DE ESTUDOS
DO MAR ALMIRANTE PAULO MOREIRA
A existência do IEAPM é decor-
rente do reconhecimento das Ma-
rinhas modernas de que o conheci-
mento do ambiente em que operam é
indispensável para aumentar a eficácia
de seu desempenho, principalmente
em face da modernização dos meios
flutuantes, dotados com sistemas e
equipamentos extremamente sensí-
IEAPM
veis e dispendiosos. Desse modo, sua
Alta tecnologia no
Controle Naval do
Tráfego Marítimo
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Juliana Amaral
Fotos: Segundo-Sargento (RM1-FN-IF) Carvalho
O
SISTRAM foi desenvolvido, em de busca e salvamento (Search and FUNCIONAMENTO DO SISTRAM
1998, pelo Centro de Análises Rescue – SAR) para determinados O SISTRAM é responsável por
de Sistemas Navais (CASNAV), países, como o Brasil, que ficou en- acompanhar a movimentação de na-
para atender a convenções interna- carregado de monitorar uma área de vios, na área SAR brasileira, por meio
cionais, sobretudo a Convenção In- 15 milhões de km2 no Atlântico Sul. de informações de navegação padro-
ternacional sobre Busca e Salvamento Considerando-se as dimensões e o nizadas, fornecidas pelas próprias
Marítimo e a Convenção Internacional volume do tráfego marítimo nessa embarcações que navegam no local.
para Salvaguarda da Vida Humana no região, o SISTRAM é um instru- Conta com militares trabalhando,
Mar (SOLAS). mento de suma importância para diuturnamente, em rotina de reve-
Por meio dessas convenções, fo- que o Brasil cumpra seus compro- zamento, acompanhando o tráfego
ram criadas áreas de responsabilidade missos internacionais. marítimo, a plotagem de situações de
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risco e realizando uma análise estatís- Elas determinam a obrigatoriedade Outro aspecto relevante é o grande
tica de dados. Diariamente, a equipe da adesão dos navios de bandeira nacio- potencial de recursos para o salvamen-
indica as rotas marítimas de maior nal e os afretados por armadores brasi- to no mar, representado pelos navios
tráfego e os tipos de navios encontra- leiros, em navegação de longo curso ou que aderem ao SISTRAM, que podem
dos em cada uma delas, além das áreas de cabotagem, navegando em qualquer deslocar-se rapidamente ao local de
de maior concentração. área marítima do globo terrestre. um incidente SAR.
O Encarregado da Seção de Opera- Os navios de bandeira estrangei-
ções do COMCONTRAM, Capitão- ra são convidados a aderir ao sistema, COMO ERA ANTES
de-Fragata Guilherme José Chaffin desde a entrada na área de responsa- No passado, as informações chega-
Guedes Pereira, explica o funcionamen- bilidade SAR do Brasil, tornando-se vam por mensagens escritas, que eram
to do sistema, quando da ocorrência de obrigatória a adesão quando dentro plotadas em cartas de elevado tama-
algum incidente ou acidente no mar: nho. O posicionamento dos navios era
“fornecemos um relatório de navios “O SISTRAM conta com acompanhado com ímãs, simbolizan-
mercantes, pesqueiros, de pesquisas etc, militares trabalhando, do os meios navais. “Era uma tarefa
posicionados na área do sinistro, para diuturnamente, em rotina de totalmente manual. Exigia muito tra-
o Serviço de Busca e Salvamento da balho comparar as informações rece-
Marinha (SALVAMAR BRASIL), para
revezamento, acompanhando bidas por mensagens e atualizá-las nas
o SALVAMAR da respectiva área (são
o tráfego marítimo, a posições corretas no mapa. O serviço
sete ao todo) e para todas as Organiza- plotagem de situações era braçal e lento, a exemplo dos fil-
ções Militares envolvidas no evento”. de risco e realizando uma mes da II Guerra Mundial”, lembra o
Essa relação de navios permite iden- análise estatística de dados”. Capitão-de-Fragata Guedes Pereira
No primeiro momento, foram utili-
tificar os recursos existentes nas em- Capitão-de-Fragata
barcações: enfermaria; profissionais de zados mecanismos computacionais para
Guedes Pereira
saúde; equipamentos de combate a in- armazenamento, obtenção de dados e
cêndio; equipamentos de comunicação; do Mar Territorial ou em águas inte- plotagem gráfica. A busca das informa-
estado de conservação; e a proximidade riores brasileiras. Grande parte dos ções passou a ser em banco de dados,
navios têm aderido ao sistema, a partir otimizando o tempo de resposta das ati-
do sinistro. Em seguida, os dados são en-
do momento em que entram na área vidades do COMCONTRAM.
viados ao coordenador do evento SAR,
de responsabilidade SAR nacional. A Hoje, a Marinha utiliza a versão III
responsável por contatar o navio melhor
escolha se justifica com base nos be- do SISTRAM, mas já existem requisitos
posicionado para apoiar as buscas. Essa
nefícios advindos da adesão, como por estabelecidos para se desenvolver a ver-
rotina envolve manutenção e atualiza-
exemplo, a rapidez na localização em são IV, que será muito mais atualizada
ção de banco de dados, geração de rela-
caso de acidentes. e possibilitará integrações com outros
tórios e mensagens entre Marinhas.
ADESÃO AO SISTEMA
Apesar do SISTRAM possuir diver-
sas fontes de informação sobre o trá-
fego marítimo, ele ainda recebe dados
oriundos da adesão de embarcações
que navegam na área de responsabili-
dade SAR do Brasil. A adesão está pre-
vista nas Normas da Autoridade Ma-
rítima para Tráfego e Permanência de
Embarcações, nas Águas Jurisdicionais
Militares do COMCONTRAM na sala de acompanhamento do SISTRAM
Brasileiras (AJB).
sistemas brasileiros e internacionais de na internet, quanto com os que são tenham acesso ao banco de dados do
acompanhamento do tráfego marítimo. distribuídos por CD-ROM; fornecer SISTRAM, com uma hierarquização
Em 12 anos de existência, as ver- as informações do SISTRAM na web, de acessos; a capacidade de baixar e
sões do sistema foram atualizadas à permitindo que todas as Organizações integrar a imagem de satélite ao sis-
medida que algum tipo de interface e Militares do Sistema de Segurança do tema de plotagem; e, por fim, adquirir
aplicativo era incluído. No começo, o Tráfego Aquaviário - as Capitanias uma ferramenta de análise, crítica e
acompanhamento do tráfego de navios dos Portos, Delegacias e Agências, comparação de dados
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Artigo
A Comunicação Social na Marinha
Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto - Comandante da Marinha
F
alar de Comunicação Social, no constitucionais e à altura da estatura nos requisitos de rapidez e fideli-
âmbito da Marinha do Brasil, im- político-estratégica do País. dade que os modernos sistemas de
plica reconhecer a importância A Comunicação Social segue seu comunicação impõem nos dias atu-
e a inadiável necessidade de tornar a rumo, adquirindo mais consistência. ais, principalmente as demandas da
nossa Instituição cada vez mais próxi- A Administração Naval tem procura- mídia em geral.
ma da sociedade brasileira. Nesse sen- do valorizar os profissionais do ramo Desse modo, considera-se vital uti-
tido, é essencial implementar veícu- ou que, por seu perfil, tenham con- lizar essa imprescindível ferramenta
los eficazes de comunicação, a fim de dições de contribuir para tornar essa para destacar a importância da nossa
melhor atingir os públicos interno e atividade mais efetiva. Para isso, foi “Amazônia Azul” e de nossas águas in-
externo, visando, dentre diversas mo- realizado, esse ano, um encontro de teriores, seja para o desenvolvimento
tivações, propagar as razões de exis- profissionais que atuam na área. A I da economia, seja para a garantia de
tência da nossa Marinha, nossas ativi- Jornada de Comunicação Social con- nossos interesses e soberania.
dades e incrementar a seleção para o tou com a presença de Oficiais e Ser- Desejo destacar o incremento da
recrutamento naval. vidores Civis de diversas Organiza- Comunicação Social na Marinha,
Em relação ao público interno, a ções Militares da Marinha do Brasil, fruto do engajamento das nossas Or-
Comunicação Social, além de mantê- além de Oficiais do Exército Brasilei- ganizações Militares nessa área, que
lo informado do que está ocorrendo, ro e da Força Aérea Brasileira. contemplou, entre diversos produ-
tem o papel fundamental de contribuir Com relação ao futuro, há que se tos, a criação de novos veículos de
como instrumento de liderança e para pensar sob o enfoque estratégico, ou comunicação para os públicos inter-
a manutenção e o fortalecimento das seja, no que é possível fazer para, de no e externo, como por exemplo, a
tradições e costumes navais. O públi- forma contínua e sustentada, torná- “TV Marinha na Web” (www.mar.
co externo, por sua vez, representa la cada vez mais dinâmica, interes- mil.br), cujo propósito é apresentar,
segmento a ser motivado a conhecer sante e cativante, compreendendo- em vídeo, aspectos da nossa Força e
a Marinha do Brasil para que, a partir a como instrumento de difusão de do trabalho dos homens e mulheres
daí, tenha a oportunidade de admirá- nossas atividades, de nossos valores que a integram.
la sendo, portanto, vital que lhe seja e de nossa rica tradição, fortalecen- Por fim, diria que as perspectivas
apresentada, permanentemente, uma do-os junto aos públicos de interes- da Comunicação Social da Marinha
imagem correta da Instituição e en- se. Importa, também, intensificar e são alvissareiras, pois há suficientes
fatizada a necessidade de se dispor dinamizar a Comunicação Social, razões para acreditar que constituirão
de uma Força pronta, de porte com- dando visibilidade às nossas ações reflexo de um porvir venturoso para
patível com suas responsabilidades junto à opinião pública, com foco toda a nossa Instituição
Capa
ataque aéreo, o navio disparou com canhão e metralhadoras,
o que possibilitou o desembarque de um Pelotão de
Fuzileiros Navais, utilizando Embarcações de Transporte de
Tropas e Lanchas de Ação Rápida.
E
sse cenário simulado, com utili- operações combinadas realizadas pe-
zação de munição real, fez par- las três Forças Armadas, sob a coorde-
te dos exercícios da Operação nação do Ministério da Defesa.
“Negro-I”, realizada pelo Comando do
9º Distrito Naval (Com9ºDN) e coor- A IMPORTÂNCIA DA OPERAÇÃO
denada pelo Comando da Flotilha do O Capitão-de-Mar-e-Guerra Joaquim
Amazonas (ComFlotAM), no período Henrique Rocha, Comandante da Floti-
de 10 a 14 de maio, no Rio Negro, no lha do Amazonas e Comandante do
Estado do Amazonas. Participaram do Grupo-Tarefa da Operação “Negro-
exercício os Navios-Patrulha Fluvial I”, que estava embarcado no NPaFlu
(NPaFlu) “Pedro Teixeira”, “Raposo “Raposo Tavares”, destacou, durante
Tavares” e “Roraima”; o Navio de As- a realização do exercício, que, atu-
sistência Hospitalar (NAsH) “Carlos almente, a guerra não é mais aquela
Chagas”; dois helicópteros; diversas guerra clássica e que os eventuais ini-
Lanchas de Ação Rápida (LAR) e Em- migos são indefinidos. “As ameaças
barcações de Transporte de Tropas hoje são difusas e, por isso, não po-
(ETT); e Fuzileiros Navais do Batalhão demos dizer que estamos, dentro do
de Operações Ribeirinhas (BtlOpRib). contexto do exercício, combatendo
Assim como ocorre com a Esqua- um inimigo definido, mas sim vários
dra, operações como essa são reali- tipos de inimigos que possam sur-
zadas três vezes ao ano pela Marinha gir. Portanto, não estamos aqui para
do Brasil nos rios Amazonas, Negro e atacar apenas um alvo, mas sim para
Solimões e nos seus afluentes, com a adestrar a tropa para a manutenção
finalidade de adestrar as tripulações da soberania nacional, seja qual for
dos navios e das aeronaves e os fuzi- nosso inimigo”.
leiros navais. O propósito principal Outro aspecto importante refere-se
é contribuir para a manutenção e a à área do exercício, sensível e estraté-
consolidação da integridade territo- gica, por tratar-se da Região Amazô-
rial, manutenção da ordem e integra- nica. “Esse é um aspecto considerável
ção da Região Amazônica, além de para a atuação da Marinha. É muito
fiscalizar embarcações na área fluvial importante nos mantermos prontos
sob jurisdição do Com9ºDN, sedia- para qualquer eventualidade, sejam de
do em Manaus (AM). Na região, a grupos armados ou de qualquer ou-
Marinha participa, também, de tra ameaça semelhante. Esse tipo de
22
NPaFlu “Pedro Teixeira” e “Raposo Tavares” navegam no Rio Negro
militares que ali servem e os apoiam no o nível de adestramento dos militares ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA
momento do desembarque terrestre. envolvidos, o NAsH não precisou ser O Brasil é um País pacífico por
Outro aspecto importante é a fami- acionado por este motivo. Teve, sim, tradição, vive em paz com seus vizi-
liarização com as ETT, onde utilizam que atender um ribeirinho que tinha nhos e rege suas relações internacio-
armamento orgânico e realizam tiros sido picado por uma cobra, em comu- nais pelos princípios constitucionais
sobre a margem. Eles aproveitam para nidade próxima a Velho Airão. Ao ser da não-intervenção, defesa da paz e
se familiarizarem dentro de seu pelo- acionado, o navio enviou médico e solução pacífica dos conflitos. Essa
tão e conhecerem os elementos que enfermeiro, a bordo de sua lancha or- convicção é parte da identidade na-
combaterão, lado a lado”. gânica, para realizar o atendimento. cional e um valor a ser conservado
Em relação à área de atuação, ele
destaca a importância de se conhecer a
região. “Para nós, é muito importante
o reconhecimento da área da Região
Amazônica, de seus rios e afluentes, em
que atua o Batalhão, de extrema impor-
tância para o Brasil, pelas suas rique-
zas”, afirma.
Já em relação ao NAsH “Oswal-
do Cruz”, por tratar-se de um navio
hospital, é ele quem dará o primeiro
suporte em caso de algum acidente
real. Apesar de serem mantidos todos
os requisitos de segurança, princi-
palmente quando se utiliza munição
real, é possível ocorrer algum aciden-
Fuzileiros Navais durante adestramento de tiro
te. Porém, mostrando a eficiência e
pelo povo brasileiro, não justificando, “As ameaças hoje são fronteiras, é ressaltada a necessidade
contudo, que o País não esteja prepa- de a Marinha operar na região da foz
rado para defender-se de agressões e
difusas e, por isso, não do Amazonas e em suas grandes ba-
também estar pronto para opor-se a estamos aqui para atacar cias fluviais.
ameaças, que são difusas e muitas ve- apenas um alvo, mas sim O documento menciona, ainda, a
zes não identificadas imediatamente. para adestrar a tropa exigência de avanço de projetos de de-
A Estratégia Nacional de Defesa para a manutenção da senvolvimento sustentável, passando
(END) é bem específica em relação
à atuação das Forças Armadas na Re-
soberania nacional, seja pelo trinômio monitoramento/con-
trole/mobilidade e presença, destacan-
gião Amazônica. Nela, além de ser
qual for nosso inimigo”. do que o Brasil será vigilante na reafir-
mencionada a importância da pre- Capitão-de-Mar-e-Guerra mação incondicional de sua soberania
sença de unidades das três Forças nas Joaquim Henrique Rocha sobre a Amazônia brasileira
24
Marinha constroi
lanchas escolares para
Social
atender ribeirinhos
da Amazônia
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Juliana Amaral
Fotos: Segundo-Sargento (RM1-FN-IF) Carvalho
Social
N
o ano de 2009, a Marinha do o objetivo de garantir conforto e se- comunidades que margeiam os rios da
Brasil e o Ministério da Educação gurança aos estudantes. “Isso contri- Região Amazônica”, afirma Balaban.
(MEC), por meio do FNDE, as- buirá para o acesso e permanência Para o presidente do FNDE, “so-
sinaram um convênio para o desenvolvi- dos alunos na escola, em especial das mente trabalhando em conjunto com
mento e construção de 600 lanchas es- a Marinha do Brasil poderíamos ter
colares. As duas primeiras embarcações, um transporte com todos os itens
construídas na Base Naval de Val-de- “Somente trabalhando em de segurança para as nossas crian-
Cães (BNVC), em Belém (PA), foram conjunto com a Marinha ças. Esta parceria com a Marinha,
entregues ao Presidente do FNDE, Da- por meio da Empresa Gerencial de
niel Silva Balaban, no dia 8 de março, em
do Brasil poderíamos ter Projetos Navais (EMGEPRON), foi
Belém. Outras cinco foram entregues no
um transporte com todos a forma mais eficaz de se desenvol-
dia 28 de junho, em Manaus. os itens de segurança para ver o projeto”. Até o final de 2011,
As lanchas foram criadas para o as nossas crianças”. a BNVC vai construir mais 300
Programa “Caminho da Escola” com Daniel Balaban, Presidente do FNDE embarcações, sendo as demais de
26
“Vamos ajudar a recuperar
a cidadania desses jovens
e crianças, que precisam
chegar às escolas”.
Vice-Almirante Rodrigo Otávio
Fernandes de Hônkis
ITENS DE SEGURANÇA
A lancha foi construída em alu-
mínio naval, com 7,30m de compri- Fernandes de Hônkis, afirmou que este Para a Secretária de Educação de
mento, cobertura fixa e itens de segu- é um momento de quebra de paradig- Santarém (PA), Lucineide Pinheiro,
rança, tais como coletes salva-vidas; mas. “Vamos ajudar a recuperar a cida- o projeto das lanchas escolares mar-
extintor de incêndio; sirene; motores dania desses jovens e crianças, que pre- ca o início de um novo tempo e a
principal e auxiliar; luzes de navega- cisam chegar às escolas”. Na opinião realização de um sonho. “As crianças
ção; rádio comunicador; e defensas. do Vice-Almirante Rodrigo, essa é uma seguiam para as escolas em barcos
Elas podem transportar até 20 alu- valiosa oportunidade para celebrar uma pequenos, frágeis e até perigosos.
nos, sendo um assento reservado para parceria que vai diminuir a evasão esco- Mas agora, terão um meio confor-
portador de necessidades especiais. lar e aumentar a permanência na escola tável e seguro de transporte, che-
O Comandante do 4º Distrito Na- dos pequenos brasileiros moradores gando à escola de forma digna. Isso
val, Vice-Almirante Rodrigo Otávio das regiões ribeirinhas da Amazônia. é cidadania”
tragédia da Amazônia
Por Capitão-de-Corveta (T) Carla Pointis
Fotos: Segundo-Sargento (RM1-FN-IF) Carvalho
A
s vítimas são os ribeirinhos que
Escalpelamento: uma tragédia que atinge os ribeirinhos que
navegam, rotineiramente, em
navegam em barcos pequenos com motores descobertos. barcos artesanais, com motores
Mulheres e meninas são as mais atingidas. O escalpelamento improvisados e descobertos. Desse uni-
acontece quando o cabelo se enrola em torno do eixo verso, mulheres e meninas são as mais
giratório dos barcos, arrancando, de forma brutal, todo ou atingidas, pelo uso dos cabelos compri-
dos, muito comuns na região. O trata-
parte do couro cabeludo (escalpo), inclusive orelha, pele
mento dos acidentados é longo, dolo-
do rosto, pálpebras, podendo até levar à morte. Segundo a roso, não recupera os cabelos e nem as
Secretaria de Saúde do Estado do Pará, onde ocorrem 90% lesões decorrentes da perda de partes
dos casos, em média, uma pessoa por mês é acidentada. do rosto, trazendo para a vítima graves
28
sequelas físicas e psicológicas, de auto-
estima e, até mesmo, de rejeição na co-
munidade ou no grupo familiar.
A fim de prevenir essa tragédia, a
Secretaria de Comunicação Social da
Presidência da República lançou, em
âmbito nacional, em março deste ano,
a Campanha de Prevenção ao Escal-
pelamento, num evento realizado no
Centro de Instrução Almirante Braz
de Aguiar (CIABA), Organização Mi- Cerimônia de lançamento da campanha contra o escalpelamento
litar da Marinha do Brasil sediada em
Belém (PA), subordinada ao Coman-
Amazônia, Petrobras, Eletronorte, dos protótipos – nome dado à cober-
do do 4º Distrito Naval.
BR Distribuidora e Banco do Bra- tura metálica que cobre o eixo pro-
A campanha, amplamente divulga-
sil; além de parceiros empresariais e pulsor. O aspecto menos conhecido,
da pelas rádios e canais televisivos da
da sociedade. mas de fundamental importância
Região Norte, não só convocou o bar-
Na visão do Comandante do para a campanha, é que a Marinha do
queiro a revestir o eixo do motor, nas
4º Distrito Naval, Vice-Almirante Brasil intermedia os contatos entre
datas e locais indicados, como tam-
Rodrigo Otávio Fernandes de Hônkis, os parceiros da iniciativa privada e
bém investiu na conscientização dos
isso tudo faz parte de uma série de governamental; recebe a verba para
usuários das embarcações. Cartilhas,
ações, com vários protagonistas. a produção do artefato; e acompanha
filipetas e cartazes foram distribuídos
“A Marinha é um deles. A Defenso- sua produção, aprova e instala, sem
apresentando as devidas precauções
ria Pública da União, os Governos deixar de enviar, regularmente, um
para evitar esse tipo de acidente e
Estaduais e Municipais, a iniciativa relatório para os patrocinadores.
as medidas que devem ser adotadas.
O material foi entregue nos principais privada, todos estão envolvidos nesse Esse ano, no Estado do Pará, no
pontos de embarque e desembarque grande mutirão social”. período de 17 a 29 de março, a Capi-
da comunidade ribeirinha e nos postos tania dos Portos da Amazônia Oriental
de atendimento, montados pela Mari- cobriu o eixo de 515 embarcações no
nha, para a realização do trabalho. “É inaceitável estarmos Município de Breves e seus arredores
As ações de combate e de preven- no século XXI e ainda - Vila Lawton e Vila Curumúm. No
ção ao escalpelamento contam com vivenciarmos acidentes Amapá, nas cidades de Macapá e San-
tana, a campanha ocorreu entre os dias
o apoio da Defensoria Pública da
dessa natureza”. 23 e 30 de abril. Nessa região, também
União para indenização das vítimas,
Capitão-de-Mar-e-Guerra José de grande incidência de acidentes, a
em cooperação com a Federação
Nacional de Seguros Privados; do
Roberto Bueno Junior, Capitania dos Portos de Santana aten-
Governo do Estado do Pará, na isen-
Capitão dos Portos da deu 400 barqueiros, nos postos monta-
ção de impostos que incidem sobre Amazônia Oriental dos no píer da própria Capitania e no
a fabricação da cobertura metálica Igarapé das Mulheres.
do motor; dos Governos dos Mu- MARINHA PRODUZ ARTEFATOS Outra tarefa importante, realizada
nicípios abrangidos pela campanha, PARA COBRIR EIXOS DOS BARCOS por parte da equipe de militares e servi-
em questões logísticas; da Secretaria De fato, a Marinha não só apoia dores civis das duas Capitanias e da Base
da Mulher do Estado do Amapá, no como também coordena alguns as- Naval de Val-de-Cães (PA), é o adestra-
desenvolvimento de políticas pú- pectos da campanha. Talvez, o mais mento de membros de outras institui-
blicas em apoio às mulheres; de al- visível seja o mutirão realizado pelas ções, como o Corpo de Bombeiros e o
gumas empresas, como o Banco da Capitanias dos Portos para instalação Batalhão Ambiental da Polícia Militar.
30
Comandante do 4º Distrito Naval,
Vice-Almirante Rodrigo e
Entrevista
Capitão dos Portos de Santana,
Vice-Almirante Rodrigo (direita) e
Como o processo legalização da em- as testemunhas, o local... enfim, é um ao acidente, considerando as dimen-
barcação foi incluído na campanha? resumo do fato ocorrido. Reunir todas sões da região e o tempo transcorrido
Vice-Almirante Rodrigo: Enquanto essas informações já é uma tarefa difícil, desde a sua ocorrência.
os técnicos trabalham na cobertura do por se tratar de localidades remotas. Se Quais são os riscos que se pode correr?
motor do barco, os donos preenchem a embarcação não for cadastrada, a situ- Vice-Almirante Rodrigo: O risco se-
o formulário de cadastramento. O pro- ação fica pior ainda. Acontece muito da ria a apuração de um incidente, como
tótipo metálico do motor recebe uma vítima ter sido uma menina e quando o escalpelamento, não reunir provas
placa com um número de série, que recebe o seguro já é uma senhora. concretas da sua real origem. Temos de
passa a ser o número de registro da Existem muitos inquéritos abertos buscar sempre, e com muita determi-
embarcação, que, dessa forma, passa a sobre o assunto? nação, todos os dados que levem a uma
existir legalmente perante a Autorida- Capitão-de-Fragata Resende: Dos investigação segura e plena, que permi-
de Marítima, trazendo benefícios para 113 IAFN que tramitam na Capitania, ta aos envolvidos todos os direitos asse-
barqueiros e passageiros, até mesmo 79 são referentes a casos de escalpe- gurados pela legislação em vigor.
em caso de acidentes. lamento. Alguns são bem antigos e a Além do desconhecimento do apoio
Quais são os benefícios do cadastro? maior dificuldade enfrentada é a não que o governo pode prestar, em caso de
Vice-Almirante Rodrigo: O bar- localização da embarcação e de possí- acidente, existe outro motivo que pode
queiro, quando se cadastra, toma co- veis testemunhas. Para se ter idéia da levar uma vítima a não registrar uma
nhecimento de seus direitos e deveres gravidade do assunto, recentemente queixa sobre o ocorrido?
e, em caso de acidente, ele saberá como expedimos certidão referente a um fato Capitão-de-Fragata Resende: Sim.
agir. Por outro lado, a vítima também que ocorreu há mais de 30 anos. O escalpelamento é uma tragédia fa-
ficará resguardada, pois facilitará a lo- Vice-Almirante Rodrigo: Quanto a miliar. Na maioria das vezes, o dono
calização do barco, que é um dos maio- essa demora na emissão das certidões, da embarcação é membro da família.
res obstáculos enfrentados pelas Capi- estamos trabalhando no sentindo de Já tivemos caso de pai, irmão, marido,
tanias da região, na condução de um agilizar o processo. A minha orienta- cunhado...a vítima espera o tempo pas-
Inquérito Administrativo sobre Aci- ção como representante da Autorida- sar, deixa a situação abrandar e depois
dentes e Fatos da Navegação (IAFN). de Marítima na região é que o docu- registra a queixa. Não significa que
A certidão do acidente que é emitida mento seja expedido, mesmo com a o dono do barco, sendo familiar ou
após a conclusão de um IAFN permi- não integralidade de todas as informa- não, tenha agido propositalmente. Os
te que a vítima tenha acesso ao seguro, ções. Tais impossibilidades são decor- acidentes ocorrem porque as embar-
já que, no documento, constam os no- rentes das naturais dificuldades em se- cações são pequenas, confeccionadas
mes da embarcação e do proprietário, rem obtidos todos os dados referentes artesanalmente, com motores de eixos
32
Carreira Militar
Mulheres na Marinha:
uma presença marcante
Por Capitão-Tenente (T) Felipe Picco Paes Leme
e Primeiro-Tenente (RM2-T) Juliana Amaral
Fotos: Suboficial Tenório/Acervo
COMPETÊNCIA PROFISSIONAL
O CAF foi extinto em 1997 e
as militares foram integradas aos
Corpos e Quadros já existentes,
em igualdade de condições com os
homens. Elas passaram a participar
ativamente de diversas atividades da
A abertura da Marinha do Brasil à participação da
Marinha do Brasil. Em decorrência
mulher militar começou há 30 anos, com o ingresso do fluxo de carreira e da proficiência
do primeiro contingente. Inicialmente, atuaram em demonstrada nas distintas comis-
serviços técnicos e administrativos, mas, aos poucos, sões, as militares têm sido paulati-
foram conquistando espaço e se tornaram uma parcela namente, designadas para funções
e cargos mais elevados, inclusive os
relevante da força de trabalho.
de Direção de Organizações Mili-
tares. As Oficiais do Corpo de En-
A
presença feminina nas Forças de 1980. Na época, o Ministro da genheiros e do Quadro de Médicos
Armadas remonta à década de Marinha, o Almirante-de-Esquadra podem, inclusive, serem promovidas
1970, quando diversos países
começaram a admitir mulheres nas “Eu sou da primeira turma,
corporações militares. Essa tendência
e nós não encontramos
internacional ocorreu em um cenário
de racionalização do trabalho militar,
barreiras, mas incentivos,
quando se buscou o enxugamento dos porque nós fomos convidadas
quadros e a necessidade de emprego a entrar. A Marinha nos abriu
de pessoal qualificado. Naquele mo- as portas”.
mento, as atenções se voltaram para Capitão-de-Mar-e-Guerra
as mulheres que, a partir de meados (Md) Cláudia Regina Yago
da década de 1960, se escolarizavam e Rodrigues da Silva
escolhiam novas profissões, algumas,
até então, inimagináveis. Maximiano Eduardo da Silva Fonse-
No Brasil, a inserção de militares ca, Patrono das Mulheres Militares
Capitão-de-Mar-e-Guerra (Md) Cláudia
do sexo feminino ocorreu a partir da Marinha, criou, por intermédio da
34
ao posto de Oficial-General, con-
“Sou oriunda da quarta
correndo em iguais condições com
os homens.
turma de mulheres. Fui
A Capitão-de-Mar-e-Guerra (T) muito bem recebida
Aldner Peres de Oliveira, por exem- pelo efetivo masculino
plo, é a Diretora do Serviço de Seleção da turma. Nunca tive
do Pessoal da Marinha. Em relação
às dificuldades encontradas ao longo
problemas”.
Capitão-de-Mar-e-Guerra (T)
da carreira, ela afirma ter apenas boas
recordações. “Sou oriunda da quarta
Aldner Peres de Oliveira
turma de mulheres. Fui muito bem re-
cebida pelo efetivo masculino. Nunca compartilha da mesma opinião. “Eu
tive problemas. Esse convívio profis- sou da primeira turma, em que nós
sional com homens vem desde a época não encontramos barreiras, mas sim Capitão-de-Mar-e-Guerra (T) Aldner
de estudante. Sou da área tecnológica, incentivos. Uma vontade de dar cer-
engenheira de formação e técnica em to por parte da Alta Administração
da natureza da mulher. No fundo, é a
telecomunicações. Na realidade, nas Naval, principalmente porque nós
mulher que administra a casa. Então,
duas instituições em que estudei, nós, fomos convidadas a entrar. Não exis-
foi mais um fator a ser administrado,
mulheres, éramos um quantitativo tia nenhum movimento para se ter
foi mais um desafio a ser superado e
mínimo, não chegávamos a 5%. Mas mulheres nas Forças Armadas. A Ma-
a mulher mostrou mais uma vez que
acho que essa aceitação se deu mais rinha simplesmente abriu as portas”.
é capaz, tanto que não houve desis-
pela competência profissional que nós Em relação ao fato de ter que con-
tência. Houve, sim, uma aceitação por
tivemos e trouxemos para a Força”. ciliar a vida profissional com a par-
parte dos familiares. Eu casei depois
A Vice-Diretora de Ensino do ticular, a Capitão-de-Mar-e-Guerra
que entrei para a Marinha. Os meus
Hospital Naval Marcílio Dias, Ca- (Md) Cláudia afirma que também não
três filhos sempre me apoiaram muito
pitão-de-Mar-e-Guerra (Md) Cláu- houve dificuldades. “Ter que fazer vá-
na carreira. Quando eu tive meus três
dia Regina Yago Rodrigues da Silva, rias coisas ao mesmo tempo faz parte
filhos eu já estava na Marinha e, hoje,
eles já fazem faculdade”.
De acordo com as duas, o ingres-
so das mulheres nas Forças Armadas
MULHER, UMA PRESENÇA QUE HUMANIZA A MARINHA e, em particular na Marinha, veio
para humanizar as relações. Veio para
Essa característica foi destacada em organizadas, preservando sua peculiar unir o racional ao emocional, dando
uma mensagem alusiva à data, assina- gentileza o que, em muito, harmoni- o equilíbrio necessário, importantíssi-
da pelo próprio Comandante da Ma- zou e humanizou o nosso, por vezes, mos para o desenvolvimento de nos-
rinha, Almirante-de-Esquadra Julio rígido ambiente de trabalho. Exigen- sas atividades.
Soares de Moura Neto: tes e entusiastas, foram responsáveis Quando questionada sobre algum
“Durante esses 30 anos, as mari- por uma nova dimensão profissional, fato inusitado, a Capitão-de-Mar-e-
nheiras têm demonstrado sua firme- experimentada pelas diversas Organi- Guerra (T) Aldner destacou o seu
za, segurança e responsabilidade, sem zações Militares. Conquistaram, pois, embarque em um submarino. “Um
abrir mão da sensibilidade inerente com justiça, posições de prestígio tor- motivo de orgulho para mim foi o fato
à sua própria característica de ser; nando-se, de forma inequívoca, indis- de eu ter sido a primeira mulher a em-
têm sido meticulosas, dedicadas e pensáveis à nossa Instituição”. barcar em um submarino e ficar vários
dias a bordo, submersa, convivendo
naquele ambiente”
Trindade:
onde o sol ilumina
primeiro o Brasil
Por Capitão-Tenente (T) Felipe Picco Paes Leme
Fotos: SECIRM/Acervo
A ilha possui uma extensão de 8,2 Km2 e é fortemente acidentada, com elevações que
atingem até 600 metros. Surgiu há 3 milhões de anos de uma zona de fraturas que
se estende desde a plataforma continental brasileira. Devido a sua origem vulcânica,
a presença de lavas, cinzas e areias vulcânicas pode ser constatada. Porém, a última
erupção ocorreu há aproximadamente 50 mil anos.
C
om o fim da construção, este do País, para quem navega pelo mar, criado no âmbito da Comissão Inter-
ano, da Estação Científica da Ilha vindo da África ou da Europa. ministerial para os Recursos do Mar
da Trindade (ECIT), a Marinha É nesse pedaço de terra inóspito que (CIRM), com o propósito de promover e
do Brasil estabelece um novo rumo às a Marinha do Brasil está presente des- gerenciar o desenvolvimento de pesqui-
atividades científicas desenvolvidas na de 1957, quando entrou em operação o sas na ilha, no Arquipélago de Martim
ilha, que se localiza a 1.148 km de Vi- Posto Oceanográfico da Ilha da Trinda- Vaz e na área marítima adjacente. Há al-
tória (ES) e 1.416 km do Rio de Janeiro de (POIT) e, desde então, sua continui- guns anos, a Marinha tem recebido uma
(RJ), na extremidade oriental da cadeia dade somente tem sido viável, em virtu- quantidade crescente de solicitações para
de montanhas submarinas Vitória- de do apoio da Marinha, por intermédio a realização de pesquisas em Trindade.
Trindade, elevando-se a 5.500 metros do Comando do 1º Distrito Naval. “O PROTRINDADE atende às
do fundo oceânico. A nova Estação Científica faz parte diretrizes da Política Nacional para os
Pela distância em que se encontra, do Programa de Pesquisas Científicas da Recursos do Mar, da Política de Defe-
é considerada como a porta de entrada Ilha da Trindade (PROTRINDADE), sa Nacional e da Política Nacional de
36
Meio Ambiente”, afirma o Capitão- Por sua localização, próxima às principais bacias
de-Mar-e-Guerra (RM1) Camilo de
Lellis Menezes Felippe de Souza, As-
petrolíferas e à região de maior desenvolvimento
sessor da SECIRM. “O programa é
econômico e concentração populacional do País,
para promover pesquisa diversificada, Trindade constitui-se em um posto avançado, vital
com referência a temas relevantes e para a defesa nacional.
para incentivar a formação de recursos
humanos com capacidade de conduzir IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA e concentração populacional do País,
investigação científica de qualidade nas A Ilha da Trindade é um bem da Trindade constitui-se em um posto
ilhas e adjacências”, complementa. União, conforme disposto no artigo 20, avançado, vital para a defesa nacional,
Além da Marinha do Brasil, parti- inciso IV, da Constituição Federal, entre- propiciando, ainda, a obtenção de da-
cipam do programa os Ministérios da gue à Marinha do Brasil pela Secretaria dos essenciais à previsão meteorológi-
Defesa, das Minas e Energia, da Ciên- do Patrimônio da União. A Convenção ca e à pesquisa científica.
cia e Tecnologia, do Meio Ambiente, das Nações Unidas sobre o Direito do
e da Pesca e Aquicultura; e o Con- Mar (CNUDM) dá ao Brasil o direito APARATO LOGÍSTICO
selho Nacional de Desenvolvimento de estabelecer, ao seu redor, Mar Terri- A Marinha do Brasil se faz presente
Científico e Tecnológico (CNPq). torial, Zona Contígua, Zona Econômica na ilha, hoje, por cerca de 30 militares,
Cabe ressaltar que, na ilha, já existem Exclusiva e Plataforma Continental. operando uma estação meteorológica
pesquisas em curso, como os projetos Por sua localização, próxima às de grande importância para previ-
TAMAR e o de reflorestamento, do principais bacias petrolíferas e à região sões feitas para a área de responsa-
Museu Nacional. de maior desenvolvimento econômico bilidade do Serviço Meteorológico
científica.”
Capitão-de-Mar-e-Guerra (RM1)
Camilo
ambientais e incorpora uma série de
conhecimentos acumulados nas ex-
periências anteriores, como venti-
lação natural e sistema fotovotaico
de energia (painel solar). “A própria
Marinho brasileiro. É a única ilha dias de viagem, foram necessários 126 construção da Estação já constitui sua
oceânica brasileira com água potá- deslocamentos aéreos entre o navio e a primeira experiência científica”, com-
vel e conta com geração de energia, terra, com duração de mais quatro dias. plementa o Comandante Camilo.
refeitório, frigorífica, telefone, tele- Isso mostra a complexidade logística A localização e as características
visão e acesso à internet. empregada na ocasião”, lembra o Ca- da ilha influenciaram, também, a es-
A cada dois meses são realizadas pitão-de-Mar-e-Guerra (T) Barbosa. colha do PVC como material para
viagens de reabastecimento, ocasião A concepção do projeto da ECIT construção, por ser mais eficiente
em que os militares selecionados em- foi feita por equipe da Universidade para obras em locais de difícil acesso.
barcam para servir por quatro meses, Federal do Espírito Santo, que possui É leve, fácil de transportar, resistente
sendo que, a cada viagem, há um re- larga experiência nesse tipo de cons- à corrosão, não conduz calor (e por
vezamento de metade da guarnição. trução em lugares inóspitos, onde a isso oferece excelente conforto tér-
“A seleção desse pessoal leva em conta a natureza dita as regras, como no Ar- mico) e não propaga chamas. De ma-
capacitação específica e a vocação para quipélago de São Pedro e São Paulo nutenção barata, com acabamento
a situação peculiar de longo afastamen- e na Antártica, locais onde a Marinha que dispensa pintura, é de manuseio
to da família. Por ser muito íngreme, também possui estações científicas. simples, permitindo fácil qualifica-
o preparo físico é fundamental”, afirma O projeto buscou soluções arqui- ção de mão-de-obra e grande veloci-
o Capitão-de-Mar-e-Guerra (T) José tetônicas para minimizar os impactos dade de construção
Marques Gomes Barbosa, do Coman-
do do 1º Distrito Naval.
Para a construção da ECIT, foram
superados diversos desafios, entre eles
a dificuldade de acesso à ilha, devido
à distância. Não há praias que facili-
tem o desembarque por superfície, em
função da existência de um anel de co-
rais. É necessário cuidado com a arre-
bentação e com a mudança repentina
do tempo, muito comum no local.
“100 toneladas de material foram
embarcadas no Navio de Desembar-
que de Carros de Combate ‘Mattoso
Maia’, em Vitória (ES). Após quatro
38
ÁFRICA
OCEANO ATLÂNTICO
BRASIL
Vitória 1.148km
Ilha da Trindade
Rio de Janeiro 1.416km
OCEANO PACÍFICO
continente Antártico, entre 1839 e 1843, foi levada pelo Cruzador “Barroso”
A DISPUTA POR TRINDADE
visitou-a em companhia do botânico com a missão de impedir a sua utiliza-
A primeira notícia de um desem- inglês Dalton Hooker. Em 1876, rece- ção por navios inimigos, em operação
barque na ilha data de 1700, quando beu a visita de cientistas do navio inglês no Atlântico Sul. Ao término da guer-
o astrônomo inglês Edmund Hal- “Chalenger”, entre eles John Murray, ra, a ilha foi desguarnecida.
ley, julgando haver descoberto uma T.H. Moseley e M. A. Buchanam. Em 1941, durante a 2ª Guerra
nova ilha, dela tentou se apossar em Em 1882, passou a fazer parte Mundial, foi novamente guarnecida
nome da Inglaterra. A partir de en- do território brasileiro. Em 1895 e para impedir que submarinos do Eixo
tão, foi intermitentemente utilizada 1896, os ingleses a ocuparam mais a utilizassem como base de apoio e
como ponto de apoio marítimo por uma vez, com a justificativa de es- para assegurar a sua posse efetiva pelo
traficantes escravagistas e piratas in- tabelecer uma estação de cabo-sub- Brasil. Ao término da guerra, foi no-
gleses. Em 1756, lá teriam estado os marino que se estendia à Argentina. vamente desguarnecida.
portugueses que, mais tarde, viriam Esse ato foi energicamente rechaça- Em 29 de maio de 1957, foi cria-
a ocupá-la entre 1783 e 1795. Nesse do pelo Brasil, por via diplomática, e do, pelo Aviso nº 1420 do Ministro
segundo período, 150 homens da Ma- em 1897, com a ida do Navio-Escola da Marinha, o Posto Oceanográfico
rinha Portuguesa deixaram uma série “Benjamim Constant”, foi colocado da Ilha da Trindade (POIT). Sua ocu-
de benfeitorias, cujos restos até hoje um marco de soberania na ilha, com pação permanente foi aprovada em
são encontrados. os seguintes dizeres: “O direito ven- 1958, ficando o POIT subordinado à
Nos séculos XVIII e XIX, foi visi- ce a força”. Diretoria de Hidrografia e Navega-
tada por navegadores, exploradores e Em 1916, foi ocupada pela primei- ção (DHN). Em 1986, por decisão do
naturalistas. Lá esteve James Cook em ra vez por brasileiros, em virtude da 1ª Ministro da Marinha, o POIT passou
1775, dois anos antes de sua morte. Sir Guerra Mundial. Cada guarnição per- à subordinação do Comando do 1º
Clark Ross, quando em sua viagem ao manecia seis meses na ilha. A inicial Distrito Naval.
Certa feita, disse Napoleão Bonaparte: “Coloque uma banda na rua e o povo a seguirá,
para a festa ou para a guerra”. Tão certo estava o Imperador francês que, desde o
ano de 1808, quando da chegada da Família Real e da Corte portuguesa ao Brasil,
Bandas de Música e Marcial da Brigada da Marinha executam músicas vibrantes com
trajes vistosos, arrastando sempre um imenso público. Foi assim o início da brilhante
trajetória das Bandas de Música do Corpo de Fuzileiros Navais.
S
egundo o Dicionário de Música ainda, o uso de instrumentos elétricos realizar o curso de formação no Cen-
(Zahar Editores – 1985), banda e eletrônicos como guitarra, contra- tro de Instrução Almirante Sylvio de
de música é um “conjunto de baixo elétrico e teclado. Tais equipa- Camargo, Organização Militar da
instrumentos de sopro e percussão mentos são usados, principalmente, Marinha do Brasil localizada na cida-
associado, originalmente, à música em concertos mais elaborados, pro- de do Rio de Janeiro.
militar”. Uma banda militar é for- duzidos nas praças públicas, coretos,
mada por flautim, flauta, clarinete, escolas, teatros e igrejas. UM SONHO QUE SE TORNOU REAL
saxofone, trompete, trombone, tuba, A Banda Sinfônica do Corpo de Desde a infância, o pequeno Sa-
bombardino, sousafone e percussão, Fuzileiros Navais é composta por 90 muel já gostava de cantar. Numa
possuindo sempre um regente à fren- músicos militares dos sexos masculino noite de sábado, assistindo a um con-
te. Também podem ser acrescidos ins- e feminino, nas graduações de Subo- certo da Banda Sinfônica dos Fuzi-
trumentos de orquestras como oboé, ficial e Sargento. Presta-se concurso leiros Navais pela televisão, declarou
fagote, trompa, violoncelo e har- para a carreira militar de músico do convicto: “um dia farei parte dessa
pa. Nos dias atuais, popularizou-se, Corpo de Fuzileiros Navais, a fim de banda e serei um grande cantor”.
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“Um dia farei parte dessa banda e serei um grande
cantor”. A “profecia” virou realidade e, hoje, o Sargento
Samuel Alves é o principal tenor solista da Banda
Sinfônica dos Fuzileiros Navais.
BANDA MARCIAL
A música marcial é a inspiração de
todas as bandas militares. Os compas-
sos de uma banda marcial constituem
sons envolventes, que podem fazer as
massas vibrarem. A Banda Marcial do
Corpo de Fuzileiros Navais mantém
a tradição dos desfiles e apresenta-
ções públicas, ocasiões em que 130
militares realizam criativas evoluções.
Compõe-se de bombos, taróis, cai-
xas de guerra, surdos, pratos, pífaros
e cornetas. Mas são as gaitas de fole
escocesas as grandes estrelas.
Ao longo dos anos, a Banda Marcial Apresentação da Banda Marcial em Copacabana
vem divulgando a Marinha do Brasil e
o Corpo de Fuzileiros Navais, não só o renomado gaiteiro espanhol Carlos enorme. Saímos nos principais jor-
no território brasileiro, como também Nunes, campeão mundial de solo de nais da cidade”, destacou.
no exterior. Tem despertado o interes- gaita de fole. “Ele nos convidou para
se pela formação de fanfarras escolares participar da gravação de seu DVD, SERVIÇOS
para as quais serve de modelo, ajudan- na cidade de Lorena, na França. Foi Além da Banda Marcial e da Banda
do a manter uma tradição histórica, uma experiência incrível”, recordou. Sinfônica, o Corpo de Fuzileiros Na-
principalmente do interior. A banda Além da gravação, na mesma ocasião, vais possui, também, o Conjunto Mu-
tem seu aquartelamento estabeleci- a Banda Marcial tocou no Festival de sical Fuzibossa. O conjunto possui um
do na histórica Fortaleza de São José, Gaitas de fole de Lorena, ao lado de repertório de músicas popularmente
construída em 1736, na Ilha das Co- 74 bandas e 48 grupos folclóricos. O consagradas, destacando-se sobretudo
bras, localizada na Baía da Guanabara, evento durou uma semana e reuniu a música brasileira.
no Rio de Janeiro. cerca de 700 mil pessoas. “Tínha- Mais informações sobre as apresen-
A Banda Marcial apresentou-se mos, inicialmente, três apresenta- tações musicais das Bandas Sinfônica,
na cerimônia de coroação da Rainha ções agendadas. Lá, outros convites Marcial e Fuzibossa e sobre o ingresso no
Elizabeth II, da Inglaterra, nas come- surgiram e fizemos um total de 14 Corpo de Fuzileiros Navais podem ser
morações “cabralinas”, em Portugal, e apresentações. A receptividade foi obtidas no site www.cgcfn.mar.mil.br
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Gente
Gente de Bordo
de Bordo
O Suboficial (DT) Pedro Zomar Qual foi a comissão (viagem) que
Ferreira da Silva foi agraciado, no ano mais o marcou e por quê?
passado, durante o aniversário do Co- Foi na chegada ao Rio da Janei-
mando-em-Chefe da Esquadra, como a ro, após a Viagem de Instrução de
Praça da ativa com o maior número de Guardas-Marinha de 2002, depois
dias de mar: 1653, ao todo. Consideran- de uma longa viagem. Foi uma emo-
do-se que um ano tem 365 dias, pode-se ção diferente ver o navio se apro- Suboficial Zomar
dizer que ele permaneceu, efetivamente, ximando do cais e os familiares da
no mar, cerca de 4 anos e meio. tripulação erguendo faixas dando as profissão que exige do militar muito
Com passagens pelo Navio-Aeró- boas-vindas aos seus entes queridos. tempo embarcado.
dromo Ligeiro “Minas Gerais”, Navio- Confesso que chorei quando vi mi- Qual a diferença entre o “Marinhei-
Escola “Custódio de Mello”, Fragata nha família. ro Zomar” e o “Suboficial Zomar”?
“Liberal”, Navio-Escola “Brasil”, entre Como é ficar longe da família por São muitos anos de carreira que se-
outros, o Suboficial Zomar serve, atual- tanto tempo? param o Marinheiro do Suboficial Zo-
mente, na Namíbia, na África, desde o dia Não é fácil conviver com a distân- mar, com uma bagagem muito gran-
2 de abril de 2010, como componente da cia da família, mas nós nos adapta- de e acúmulo de experiências. Com o
Missão de Assessoria Naval na Namíbia. mos. Faz parte da vida do marinheiro. tempo, as responsabiliddaes aumenta-
Em 1994, as Marinhas do Brasil Além disso, o navio sempre procura ram. Outra coisa importante é o fato
e da Namíbia iniciaram uma coope- proporcionar algo em termos de la- de eu ser, em qualquer Organização
ração, com parcerias na formação de zer para que possamos trabalhar com Militar que sirva, um exemplo para os
pessoal e construção naval. tranquilidade, mesmo na ausência da mais novos.
O que o motivou a entrar na Marinha? família. E quando o navio atraca em Ainda sente uma sensação diferen-
A Escola de Aprendizes-Marinhei- um porto, a primeira preocupação é te quando o navio suspende?
ros de Pernambuco distribuiu cartazes, entrar em contato com a família, seja Apesar de todos esses dias de mar,
em 1979, nos colégios da rede pública por telefone ou pela internet. ainda sinto sim ... cada suspender é
em Pernambuco, a respeito do concur- Sua especialidade é Direção de Tiro uma emoção diferente, já sabendo que
so para ingresso na Marinha do Brasil (DT). Fale um pouco das responsabi- será uma nova história que será escrita
como Aprendiz-Marinheiro. Nosso lidades e dificuldades de sua profissão. em minha vida.
professor de física era Major do Exér- A minha profissão exige mui- Qual mensagem você deixa para
cito e me incentivou a fazer a inscrição. ta dedicação, muito conhecimen- os jovens marinheiros que ingressam
Estudei e deu tudo certo. to técnico e muita precisão. Como na Marinha?
O que representa para você atingir nós trabalhamos praticamente com Não desistam dos seus sonhos e
essa marca de dias de mar? sistema de armas, não podemos co- estudem sempre, pois quando me-
Posso dizer que atingi o ápice da meter erros nos alinhamentos que nos se espera, as oportunidades apa-
maturidade profissional, com muita fazemos, pois qualquer erro pode recem. Então, vocês têm que estar
dedicação e entusiasmo. causar um acidente fatal. E é uma sempre preparados
Parecia o grito de uma ave marinha que que lá estavam haviam morrido e que o
ele nunca havia escutado, anteriormente, cruzador afundava rapidamente. Sobre-
em sua vida. Sua curiosidade o levou a viveram os que estavam em locais abri-
levantar e olhar para o mar. Para sua sur- gados, como ele, e foi preciso procurar
presa, viu uma balsa com uma pessoa que depressa uma balsa para, com outros,
agitava uma peça de roupa e gritava algo se afastar do local, para não ser sugado
muito estranho para ele: “Socorro!”, que pela água que entrava no casco. Acre-
na língua inglesa não tem significação al- dita-se que a explosão foi causada por
Ray Highams tinha 17 anos e era guma. Eram náufragos! um tiro do próprio navio, em um exer-
o segundo ajudante do cozinheiro do Com o vigor típico da juventude, cício com metralhadora antiaérea que,
Navio Mercante britânico S. S. “Balfe”, Ray correu escadas acima, até o passa- por acidente, atingiu uma das cargas de
um velho cargueiro ainda a carvão. O diço do “Balfe”, para alertar o pessoal profundidade antissubmarino que esta-
navio partira de Cardiff (País de Ga- de serviço. Logo o navio manobrou vam estocadas na popa.
les), em junho de 1945, com destino a para se aproximar da balsa. Arriaram Não houve tempo para usar o rádio e
Salvador, no Brasil, com uma carga de uma rede no costado e alguns dos tri- transmitir o sinal de socorro e, ainda em
cimento. Depois, escalaria em outros pulantes desceram por ela para içar os procedimento de guerra - que não se es-
portos da América do Sul. três homens que estavam deitados na perava mensagens do cruzador para não
A Segunda Guerra Mundial ter- balsa, enfraquecidos pela falta de água, revelar sua posição -, a Marinha do Brasil
minara na Europa em maio de 1945 de comida e por queimaduras causadas desconhecia o naufrágio, agravando-se
e corria-se o risco de ainda encon- por águas vivas e exposição ao sol. Ha- assim a tragédia. Dos 372 tripulantes,
trar submarinos alemães no Oceano via tubarões próximos, que foram afu- cerca de 100 foram fulminados pelo efei-
Atlântico, principalmente aqueles que gentados com tiros de fuzil. to da explosão e os outros embarcaram
não haviam se rendido e procuravam Os náufragos falavam português em balsas sem cobertura, onde ficaram
alcançar um porto da Argentina, que e eram da tripulação do Cruzador precariamente à mercê do oceano. Mui-
ficara neutra no conflito. “Bahia”, da Marinha do Brasil, que tos estavam feridos, havia falta de água
No dia 8 de junho, Ray Highams afundara quatro dias antes. Por sinais, potável e comida. A maioria não resistiu.
acordou cedo para iniciar sua tarefa ma- conseguiram comunicar aos tripulantes Foi a curiosidade de um garoto in-
tinal de descascar batatas. Amanhecera do “Balfe” que havia mais pessoas no glês, por aves marinhas, que possibili-
um lindo dia tropical e o mar estava cal- mar. Imediatamente, o navio mercante tou o salvamento de alguns marinheiros
mo. Era uma boa oportunidade para ele iniciou uma busca e logrou recolher um brasileiros que, por pouco, também esta-
aproveitar o ar livre e a claridade do con- total de 36 náufragos, contando os da riam perdidos. Em 1997, o Sr. Highams
vés. Sentou-se, então, na soleira da porta primeira balsa, alguns tão fracos que fa- recebeu, em Londres, a Medalha Mérito
da cozinha e iniciou seu trabalho. leceram pouco tempo depois. Entre os Tamandaré, com o reconhecimento da
Os ruídos de bordo eram os rotinei- que sobreviveram, havia um único Ofi- Marinha do Brasil pelo que fizera.
ros, aos quais os marinheiros logo se cial, o Tenente Lúcio Torres Dias (viria Fui apresentado a ele no início de
acostumam e, depois de alguns dias de a ser Almirante), que falava inglês e, as- 2002, no Rio de Janeiro, pelo sobre-
viagem, até acordam quando eles cessam sim, pode relatar o que havia ocorrido. vivente Almirante Lúcio Torres Dias,
no meio da noite. Apesar de absorto no Ele estava de serviço na máquina do quando veio ao Brasil, convidado pelo
que fazia, Ray percebeu um som destoan- “Bahia”, quando o navio foi sacudido Clube Naval. Cinqüenta e seis anos
te do usual, quase imperceptível, caden- por uma fortíssima explosão. Ao che- haviam se passado, após o naufrágio do
ciado, que parecia vir de fora do navio. gar ao convés, constatou que todos os Cruzador “Bahia”
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