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MARINHA Revista

"OPt/ÞNFSPt"HPTUP XXXNBSNJMCS
em

Mostrando nossa Força

A Marinha Operativa
nos Rios da Amazônia

Hospital de Campanha da Aviso de Pesquisa Trindade: onde o sol ilumina


Marinha no Chile “Aspirante Moura” primeiro o Brasil
p.4 p.12 p.36
Ao escrever o editorial da segunda edição da Marinha em
Revista, renovo a minha expectativa de uma leitura agradável e
elucidativa. Foram inúmeros os elogios que recebemos, por oca-
sião da primeira edição, tanto do público interno como do externo.

Editorial
Estou certo de que conseguimos atingir o nosso objetivo ao dis-
pormos de um veículo de comunicação capaz de apresentar, à so-
ciedade brasileira, as atividades que a Marinha do Brasil desenvol-
ve em prol do conhecimento e da defesa da nossa “Amazônia Azul”.
Na primeira edição, os leitores conheceram, na matéria princi-
pal, o Navio-Patrulha “Macaé” - o primeiro de uma nova classe de
navios que têm, por missão, contribuir para a vigilância e proteção
das Águas Jurisdicionais Brasileiras. Na atual edição, apresentamos
algumas atividades de grande relevância que a Marinha desenvolve
na Amazônia: a atuação operativa da nossa Força na região, com
a matéria sobre a Operação “Negro-I”; a campanha contra o es-
calpelamento, acidente comum na região, provocado pelo enrolar
dos cabelos nos eixos desprotegidos das embarcações regionais; e a
construção, pela Marinha do Brasil, de lanchas escolares, destina-
das ao transporte digno de estudantes.
Mostramos, também, a Operação “UNITAS LI”, exercício mi-
litar multinacional; o Aviso de Pesquisa “Aspirante Moura”, meio
naval recentemente adquirido; a participação da Marinha do Brasil
na ajuda humanitária ao Chile, em decorrência do terremoto ocor-
rido em fevereiro naquele país; o Sistema de Informações sobre o
Tráfego Marítimo (SISTRAM); as Bandas Marcial e Sinfônica do
Corpo de Fuzileiros Navais; Mulheres na Marinha; entre outras.
Esperamos aumentar ainda mais o grau de interesse da socieda-
de brasileira em nossa Instituição, com a publicação de importan-
tes reportagens sobre o dia-a-dia naval. Aproveito a oportunidade
para instigar os leitores a nos encaminharem suas impressões em
relação ao nosso periódico, com dúvidas, críticas e sugestões, para
que possamos aperfeiçoar o seu conteúdo e atender aos anseios e
curiosidades dos públicos-alvo.
Dessa forma, na edição de agosto, damos continuidade à nossa
Marinha em Revista, que muito colabora com a atividade de co-
municação social da Marinha do Brasil. Uma boa leitura a todos!

Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto


Comandante da Marinha
MARINHA Revista
Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 www.mar.mil.br
em

Mostrando nossa Força

Marinha em Revista é um periódico da Marinha do Brasil, elaborado pelo Centro


de Comunicação Social da Marinha.

MARINHA Revista
Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 www.mar.mil.br
em

Mostrando nossa Força

A Marinha Operativa
nos Rios da Amazônia

Comandante da Marinha
Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto

Diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha


Contra-Almirante Paulo Mauricio Farias Alves
Hospital de Campanha da Aviso de Pesquisa Trindade: onde o sol ilumina
Marinha no Chile “Aspirante Moura” primeiro o Brasil
p.4 p.12 p.36

Vice-Diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha


Capitão-de-Mar-e-Guerra Luiz Octávio Barros Coutinho Fotografias
Acervo Marinha do Brasil
Assessor de Produção e Divulgação do
Centro de Comunicação Social da Marinha Capa
Capitão-de-Fragata Rogerio da Rocha Carneiro Bastos Acervo Marinha do Brasil

Assessor-Adjunto de Produção do Tiragem


Centro de Comunicação Social da Marinha 30.000 exemplares
Capitão-de-Fragata Nilo Gonçalves de Souza
Centro de Comunicação Social
Jornalistas Responsáveis da Marinha
Capitão-Tenente (T) Felipe Picco Paes Leme Esplanada dos Ministérios, Bloco N,
Primeiro-Tenente (RM2-T) Juliana Amaral Rodrigues Anexo A, 3o andar
Brasília • DF • CEP 70055-900
Projeto editorial Telefone (61) 3429-1040
Centro de Comunicação Social da Marinha Brasília, agosto de 2010.

TDA Brasil faleconosco@ccsm.mar.mil.br


www.tdabrasil.com.br
Edição: Célia Ladeira
Projeto gráfico e direção de arte: João Filipe de Souza Campello
Diagramação: Rael Lamarques
A MARINHA Tarefas Especiais
Hospital de Campanha
Entrevista
Vice-Almirante Rodrigo e
OPERATIVA NOS RIOS da Marinha no Chile 4 Comandante Resende 31

DA AMAZÔNIA Operações Carreira Militar


Mulheres na Marinha:
9

20
Operação “UNITAS LI”
uma presença marcante 33
Meios Navais
Aviso de Pesquisa Ciência
“Aspirante Moura” 12 Trindade: onde o sol
ilumina primeiro o Brasil 36
Tecnologia
Alta tecnologia no Controle Cultura
Naval do Tráfego Marítimo 16 Sinfonias de
uma Banda Militar 40
Artigo
A Comunicação Social Gente de Bordo
na Marinha 19 Suboficial Zomar 43

Social Curiosidades Navais


Marinha constroi lanchas O Garoto Curioso 44
escolares para atender
ribeirinhos da Amazônia 25
Reportagem
Marinha ajuda a combater
uma tragédia da Amazônia 28
Tarefas Especiais

Hospital de
Campanha da
Marinha no Chile
Diminuindo o sofrimento de um país
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Fayga Cruz Soares Pinto
Fotos: Hospital de Campanha
Angústia, sofrimento e perdas. Esse foi o cenário encontrado pela equipe de saúde da
Marinha do Brasil assim que chegou ao Chile, após o terremoto ocorrido no dia 27
de fevereiro deste ano. O que viram foi um país parcialmente destruído, com milhões
de desabrigados. O tremor de terra deixou mais de 800 mortos, afetando os sistemas
telefônicos e de energia elétrica e deixando milhões de desabrigados.

N
o desafio de minimizar os pro- Inicialmente, o HCamp seria utiliza- o Comando da Força de Fuzileiros
blemas, um esforço conjunto e do na região sul do país, local mais gra- da Esquadra (ComFFE) e o Centro
de caráter humanitário levou o vemente comprometido. Entretanto, de Medicina Operativa da Marinha
Governo do Brasil, por intermédio da atendendo à solicitação do Ministério (CMOpM) ativaram, em menos de
Marinha, a disponibilizar um Hospi- da Saúde do Chile, ele foi utilizado para 48h, a primeira fração do Grupamen-
tal de Campanha (HCamp) para pro- substituir a seção de emergência do to Operativo, embarcando em aero-
ver apoio de saúde e humanitário às Hospital Dr. Félix Bulnes e montado na nave da Força Aérea Brasileira, com
vítimas da catástrofe ocorrida no Chi- região metropolitana de Santiago, capi- destino a Santiago.
le, sob o Comando do então Diretor tal do Chile, em um centro esportivo. No dia seguinte, foi apresentada
do Centro de Medicina Operativa da a sua composição com um efetivo de
Marinha e atual Diretor do Centro de MONTAGEM DO HOSPITAL 101 militares, comandados pelo Con-
Perícias Médicas da Marinha, Contra- No dia 1º de março, após rece- tra-Almirante (Md) Sérgio Pereira:
Almirante (Md) Sérgio Pereira. ber determinação de mobilização, o Capitão-de-Fragata (Md) Carlos
Eduardo de Loureiro Araujo, do Hos-
pital Naval Marcílio Dias, mais 46 no
componente médico e 53 na seguran-
ça e apoio ao serviço de combate. Ao
todo, foram realizados seis voos em
aeronaves C130 da Força Aérea Bra-
sileira, com um carregamento de 34
toneladas de material.
O Capitão-de-Fragata (Md) Araujo,
do Hospital Naval Marcílio Dias, um
dos encarregados do HCamp, explica
que os militares da área médica eram
de diversas especialidades. “O HCamp
foi formado por médicos de especiali-
dades cirúrgicas, clínicas e de radiolo-
gia. Contamos, também, com um ci-
rurgião bucomaxilo-facial, enfermeiras
de nível superior e farmacêutico. No
que diz respeito às Praças, possuíamos
técnicos de enfermagem, laboratório
e radiologia”.
Chegando ao Chile, foi mantido
o planejamento inicial de funciona-
mento da emergência 24h por dia,

MARINHA em Revista Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 5


juntamente com as atividades do cen- experiência mais marcante na minha
tro cirúrgico. Os médicos militares vida profissional e pessoal nesses vin-
Tarefas Especiais

brasileiros trabalharam em parceria te e três anos de serviço na Marinha


com médicos chilenos desde o dia 4 do Brasil”, afirma.
de março, quando o HCamp come-
çou a ser montado. O HOSPITAL DE CAMPANHA
Finalizada a montagem, no dia 6, O HCamp da Marinha do Brasil é
a equipe brasileira iniciou o aten- ativado cerca de duas vezes por ano
dimento à população. Foram 41 na região de Marataízes, no Estado
dias de atuação, com a realização de do Espírito Santo, no apoio às ope-
12.436 consultas; 8.893 atendimen- rações realizadas com os Fuzileiros
tos a adultos; 3.543 atendimentos a Navais e a Esquadra. Nos últimos
crianças; 737 exames laboratoriais; anos, a sua mobilização foi necessária,
1.436 exames de imagem; e 9.775
procedimentos. A desmontagem foi
realizada entre os dias 20 e 24 de Foram 41 dias de
abril, com o embarque de pessoal e
atuação, com a
de material de volta ao Brasil.
Para o Capitão-de-Fragata (Md)
realização de 12.436
Araujo, a participação em uma mis- consultas; 8.893
são tão nobre e importante marcou atendimentos a adultos;
definitivamente sua vida. “A possi- 3.543 atendimentos a
bilidade de trabalhar em um hos-
crianças; 737 exames
pital da Marinha do Brasil, em solo
estrangeiro, em uma missão de aju-
laboratoriais; 1.436
da humanitária, foi sem dúvida a exames de imagem; e
9.775 procedimentos.

também, no Rio de Janeiro, no Cam- Aeronave C130 transporta material do HCamp


po de Sant’Ana, em 2005, e no muni-
cípio de Nova Iguaçú, em 2008, em
apoio à Saúde Pública e à epidemia estrangeiro, não estando sob o co-
de dengue, respectivamente. mando da Organização das Nações
De acordo com o Contra-Almi- Unidas (ONU). “A participação pio-
rante (Md) Sérgio Pereira, a principal neira da Marinha em uma missão
característica do Hospital de Campa- desse tipo é de grande relevância e
nha é a sua capacidade de atendimen- nos trouxe ensinamentos”, relatou
to nas áreas básicas e emergenciais. o Contra-Almirante (Md) Sérgio
O HCamp tem capacidade para reali- Pereira. “Esse aprendizado servirá
zar atendimentos ambulatoriais de até de planejamento e preparo relativos
400 pacientes por dia, sendo constitu- à atuação do hospital em outras situ-
ído por barracas ou módulos. ações de catástrofes”, complementa.
No Chile, a Marinha do Bra- Ao final da operação, a equipe
sil realizou missão pioneira, quan- identificou pontos positivos, mas
do atuou pela primeira vez em solo também dificuldades na missão.

6
“Identificar erros e acertos é um dos para Oficiais e Praças visando a capa- Preparação e Mobilização de Meios
objetivos finais de uma missão mili- citação para o guarnecimento de uma para a execução de Tarefas Especiais,
tar”, destaca o Contra-Almirante. Unidade Médica nesse nível. no âmbito da Força.
No início do ano, a Marinha do As Tarefas Especiais consistem
Brasil participou ativamente das ativi- SEMINÁRIO DE TAREFAS ESPECIAIS em ações que viabilizam e cooperam
dades de resgate e de reconstrução do Pensando em registrar as experiên- com a execução de programas de
Haiti, por ocasião do terremoto ocor- cias obtidas nos dois episódios (Chile contingência, em respostas a emer-
rido no início do ano. Por essa expe- e Haiti), a Marinha do Brasil organi- gências. Tal execução fica a cargo de
riência, pode-se afirmar que a atuação zou, nos dias 7, 8 e 9 de junho, no Rio uma Força/Grupo/Unidade-Tarefa,
no Chile foi mais tranquila, princi- de Janeiro, o “Seminário sobre Tare- organizada por elementos diversos
palmente no que diz respeito à parte fas Especiais”. da Marinha, revestindo-se de carac-
logística. Além disso, o Centro de Me- O propósito foi identificar erros e terísticas de emergência e multidis-
dicina Operativa da Marinha realiza, acertos e, o mais importante, estabele- ciplinaridade, dada a diversidade de
anualmente, um curso de formação cer uma Sistemática de Planejamento, suas naturezas.

MARINHA em Revista Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 7


iniciais desde a designação do pes-
soal, preparo e embarque do ma-
Tarefas Especiais

terial, transporte, desembarque,


montagem e início das atividades
do HCamp, permitiu-me observar
as inequívocas demonstrações indi-
viduais de entusiasmo, espírito de
equipe e lealdade, motivo de orgu-
lho e satisfação diante de uma mis-
são de ajuda humanitária pioneira
para a Marinha no exterior.
Qual a importância da participação
CONTRA-ALMIRANTE o Serviço de Atendimento Médico da Marinha do Brasil em atendimen-
(Md) SÉRGIO PEREIRA de Urgência (SAMU) da área. Dessa tos humanitários?
maneira, um paciente que chegava ao Tal forma de atuação contribui de
Qual a primeira impressão ao che- HCamp era atendido de forma global forma muito positiva para a visibilidade
gar com sua equipe no Chile? (do diagnóstico clínico ao tratamento), da Marinha do Brasil. A oportunidade
O grupo chegou na cidade de San- independentemente de sua gravidade. de participar deste tipo de operação é
tiago no dia 3 de março e ficamos Os casos mais graves, que exigiam um fator motivacional para o pessoal.
impressionados com a situação. Na cuidados intensivos por tempos supe- Isto pode ser observado já na fase
ocasião, fomos muito bem recebidos riores a 12 horas, eram prontamente de seleção de pessoal em que o nú-
pelo Embaixador do Brasil no Chile, encaminhados a hospitais públicos ou mero de voluntários é, normalmente,
Sr. Mário Vilalva, pelo Adido Naval privados de referência. Foi possível bem superior ao necessário.
no Chile, Capitão-de-Mar-e-Guerra constatar que o HCamp encontra-se A criação do Centro de Medicina
Gilberto Cezar Lourenço, e pelas au- apto para a sua utilização nas mais di- Operativa da Marinha e da Unidade
toridades sanitárias locais. versas missões de ajuda humanitária. Médica Expedicionária da Marinha
Como o HCamp estava estruturado? Qual a avaliação da operação reali- permitirá cada vez mais o progressi-
O HCamp estava estruturado em zada pela Marinha do Brasil no Chile? vo conhecimento, desenvolvimento e
onze barracas do tipo canadense, com Ao substituir um hospital que foi aperfeiçoamento dessa capacidade ex-
capacidade de atender cerca de 400 severamente comprometido, do ponto pedicionária de atuação.
consultas eletivas por dia, estando de vista estrutural, a atuação da Ma- A participação nessa ajuda huma-
apto ao atendimento de emergência rinha demonstrou várias capacidades nitária ao Chile trouxe grande expe-
e urgência, realizar cirurgias de pe- (adaptação, flexibilidade, versatilidade e riência profissional ao pessoal e pode
queno e médico porte, efetuar exa- qualidade de atendimento). Entretanto, ser considerada como um dos pontos
mes complementares (laboratório e considero o aspecto mais relevante para fortes da missão.
de imagem), além do fornecimento o sucesso da missão a atuação compro- Está prevista a aquisição de outro
de medicamentos para os pacientes metida de todo o pessoal envolvido. HCamp?
atendidos. O HCamp não possuía ca- A celeridade na prontificação para o Encontra-se em processo de rece-
pacidade de internação prolongada, embarque, em menos de 48 horas, após bimento um novo HCamp, adquiri-
porém dispunha de dois leitos com to- a determinação da Alta Administração do em 2009, já tendo sido realizado
dos os recursos para terapia intensiva. Naval, demonstrou o profissionalismo, o Teste de Aceitação de Fábrica, com
Destaco, também, que a ambulância dedicação, abnegação e, acima de tudo, uma estrutura mais complexa, com-
de suporte avançado de vida do Cen- o comprometimento de cada um des- posta de barracas e contêineres, pre-
tro de Medicina Operativa da Marinha ses Oficiais e Praças. visto para atuações no nível de Uni-
realizou várias remoções de pacien- O privilégio que tive de poder dade Médica Nível Dois, conforme os
tes graves e atuou em conjunto com acompanhar e orientar estas ações critérios da ONU

8
Operações

Operação “UNITAS LI”


Exercício militar multinacional reúne 3 mil marinheiros
Por Segundo-Tenente (RM2-T) Karla Nayra
Fotos: Primeiro-Sargento Porto/Acervo
Operações

Fragata “Constituição” navegando no litoral argentino

F
ragata “Constituição” (F42) e com exercícios de guerra antissub- No dia 17 de maio, a Marinha do
Submarino “Tikuna” (S34). Esses marino, antissuperfície e antiaérea, Brasil participou do “Dia da Armada
são os nomes dos meios navais realizados com o intuito de melhorar Argentina”, em uma cerimônia que
que protagonizaram a participação a interoperabilidade entre as Mari- contou com a presença da Minis-
brasileira na Operação “UNITAS LI”, nhas participantes. Ao final da comis- tra da Defesa da Argentina, Nilda
uma das mais antigas operações navais são, um conflito entre países fictícios Garré, e do Comandante da Armada
multinacionais do mundo. Este ano, foi simulado, no qual o Brasil, repre- Argentina, Almirante-de-Esquadra
no período de 13 a 26 de maio, navios, sentando o país laranja, conseguiu Jorge Omar Godoy. Ao final, cerca
submarinos e aeronaves da Argentina, cumprir sua missão e saiu vitorioso. de 400 militares argentinos se apre-
Brasil, Estados Unidos da América e O Grupo-Tarefa (GT) brasileiro sentaram em um desfile, na Base
México navegaram no litoral argenti- foi composto pela Fragata “Consti- Naval de Mar Del Plata.
no, com a participação de cerca de 3 tuição”, pelo Submarino “Tikuna” e
mil militares, dos quais 320 brasileiros. por um helicóptero AH-11A “Super EM ALTO-MAR
Sob o mote “solidariedade hemis- Lynx”, do 1º Esquadrão de Helicóp- Crossdeck, Leap-Frog, Light-Line. Mais
férica”, o evento ocorre há 51 anos, teros de Esclarecimento e Ataque. do que palavras em inglês, esses são no-
A cerimônia de abertura, realizada mes de exercícios que podem ser usados
“A presença de muitas no dia 13 de maio, em Mar del Plata numa situação real de guerra. Logo no

nações neste tipo de (Argentina), contou com a presença primeiro dia de mar (18), foi realizada
de representantes dos quatro países uma Parada Naval. Todos os navios
exercício nos aproxima de participantes. O representante brasi- participantes se posicionaram no dispo-
uma missão multinacional. leiro, o Comandante da 1ª Divisão da sitivo por cerca de 20 minutos. Após a
A nossa presença Esquadra, Contra-Almirante Edlan- Parada, começaram os exercícios.
emite um sinal de der Santos, destacou a importância O primeiro deles foi o Crossdeck.

relacionamento mútuo e da “UNITAS”. Nele, navios receberam helicópte-


“A presença de muitas nações neste ros de outras unidades. O helicópte-
estreita as relações entre tipo de exercício nos aproxima de uma ro AH-11A “Super Lynx”, da Fragata
as nações amigas”. missão multinacional. A nossa presença “Constituição”, pousou no convés dos
Comandante da 1ª Divisão da emite um sinal de relacionamento mú- navios ARM “Baja Califórnia” (Mé-
Esquadra, Contra-Almirante tuo e estreita as relações entre as nações xico); ARA “Sarandi” e ARA “Robin-
Edlander Santos amigas”, afirmou. son” (Argentina); e USCGC “Spencer”

10
(Estados Unidos da América). O exer- o navio argentino que participava da Para o Contra-Almirante Edlander,
cício também foi executado pelas ae- atividade com o Brasil, ARA “Patagô- exercícios como esses são importantes
ronaves AS565 “Panther” (México), nia”, despediu-se da Fragata “Cons- para promover a integração e intero-
SH-60B “Warrior” (Estados Unidos da tituição”. Nesse momento, a F42 si- perabilidade entre os países partici-
América), AS550 “Fennec” e SA-316B nalizou que a tarefa estava encerrada, pantes. “Atuando com Forças amigas,
“Alouette III” (ambas da Argentina). içou a “Bandeira de Faina”, colocou nós podemos trocar conhecimentos.
No contexto das ações de guerra a música tema do navio (Simply The Aprendemos com eles e eles conosco.
antissuperfície, foi realizado o exer- Best – Tina Turner) e aumentou a ve- Hoje, o foco é a capacidade de apri-
cício de tiro Gunnex 603, em que a locidade para o desengajamento. morarmos a operação em conjunto”.
F42 disparou tiros de canhão contra
o alvo Killer Tomato, que é um ma-
terial inflável de cor vermelha. Pos-
teriormente, executou o Leap-Frog
com o navio mexicano ARM “Baja
Califórnia” e com os argentinos ARA
“Robinson” e ARA “Sarandi”. Nes-
se exercício, os navios são treinados
para transferir carga leve, executan-
do a aproximação e manutenção da
posição, sem efetivar a passagem de
material. Para que seja realizado, é
necessário que dois navios fiquem
Submarino “Tikuna”
bem próximos, um ao lado do ou-
tro, mantendo a mesma velocidade
e o mesmo rumo. Após o exercício,
MISSÃO CUMPRIDA das matérias, foi possível criar um con-
Na madrugada do dia 23, ocorreu a texto histórico da simulação de guerra.
simulação de um conflito internacio- Ao final, o GT brasileiro cumpriu
nal, no qual Argentina, Brasil, Estados sua missão na “UNITAS LI”, escol-
Unidos da América e México repre- tando o navio argentino até o seu
sentaram três países (laranja, amarelo e destino. O encerramento da comissão
roxo). Foi criado um histórico e perso- aconteceu no dia 26 de maio, na Esco-
A Fragata “Constituição”, Navio nagens para compor o suposto conflito. la de Guerra Naval de Buenos Aires.
A missão do GT brasileiro (país Representantes dos países falaram so-
Capitânia do GT brasileiro, é coman-
laranja) foi escoltar o Navio-Tanque bre as lições aprendidas e os desafios
dada pelo Capitão-de-Fragata Marcos
ARA “Patagônia”, do país amarelo, até que iniciativas como essa propõem às
Borges Sertã. Possui 129 m de com-
a fictícia Ilha Manuel. Os GT norte- nações participantes. De Buenos Ai-
primento e conta com uma tripula-
americano e mexicano eram os supostos res, a Fragata “Constituição” seguiu
ção de 258 militares. O navio possui
inimigos e tentaram impedir a chegada para uma nova comissão, a Operação
modernos radares, canhões, mísseis
do navio-tanque à ilha. Durante o con- “Fraterno XVIII”, que envolveu na-
antiaéreos e antissuperfície, torpedos
flito, uma equipe de jornalistas militares vios da Argentina e do Brasil.
para emprego contra submarinos e um
brasileiros, do Centro de Comunicação Assim como a “UNITAS”, a Mari-
helicóptero orgânico AH-11A “Super
Social da Marinha, denominada Combat nha do Brasil participa de diversos ou-
Lynx”, para auxiliar em operações de
Camera, também participou da ação, tros exercícios multinacionais, todos
salvamento de vidas no mar, vigilância
com a produção de notícias simuladas. com a finalidade de adestrar as tripu-
marítima e ataque.
O trabalho era enviar notícias para ten- lações dos navios para situações reais,
tar influenciar os inimigos. Por meio sejam elas de guerra ou não

MARINHA em Revista Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 11


Meios Navais

Aviso de Pesquisa
“Aspirante Moura”
Por Segundo-Tenente (RM2-T) Karla Nayra
Fotos: Primeiro-Sargento Auto
Meios Navais

Aviso de Pesquisa “Aspirante Moura”

O Aviso de Pesquisa (AvPq) “Aspirante Moura” (U14) foi adquirido pela Marinha
do Brasil para apoiar pesquisas de interesse da Força e da Comunidade Científica.
Batizado e incorporado à Armada no dia 17 de junho, o navio será um Laboratório
Nacional Embarcado, em que a pesquisa é um dos principais objetivos.

C
omo Laboratório Nacional possibilitará a expansão de pesquisas defesa e vigilância pela Marinha do
Embarcado, o “Aspirante Moura” em proveito das Operações Navais da Brasil”, destaca o Contra-Almirante
representará um salto qualitativo Esquadra. Dessa forma, contribuirá, Marcos Nunes de Miranda, Diretor
nas atividades do Instituto de Estudos de modo expressivo, para a continui- do IEAPM.
do Mar Almirante Paulo Moreira (IEA- dade da Política Marítima Nacional, O U14 vai apoiar, também, ativi-
PM), Organização Militar da Marinha, que orienta e subsidia o desenvolvi- dades de ensino, desenvolvidas em
sediada em Arraial do Cabo, no Estado mento das atividades marítimas do conjunto com alunos de graduação
do Rio de Janeiro, à qual o navio fica- País, visando a utilização efetiva, ra- e pós-graduação de diversas ins-
rá subordinado. O AvPq preencherá cional e plena do mar. tituições públicas e privadas con-
uma lacuna na estrutura do Institu- O navio surge no cenário nacional veniadas, funcionando como uma
to, que necessitava de um meio na- como um dos meios navais que viabi- sala de aula flutuante. Trabalhos
val capacitado para prestar apoio às lizará a inserção progressiva da “Ama- direcionados ao monitoramento
suas pesquisas. zônia Azul” na mentalidade marítima de recifes artificiais e de apoio ao
O navio agrega significativa con- nacional, ou seja, dentro do concei- combate a agentes poluidores no
tribuição às vertentes ambiental e to “conhecer para defender”. “É do mar serão realizados frequente-
científica da “Amazônia Azul”, em conhecimento científico, oriundo mente. A coleta de dados oceano-
apoio à busca de mais conhecimen- da ‘Amazônia Azul’, que decorrerá gráficos, relacionados aos sistemas
to dos mares e oceanos. Além disso, nossa soberania sobre ela, sua eficaz de correntes marinhas e ao clima,

14
“ASPIRANTE MOURA”: FICHA TÉCNICA
Comprimento total - 36,06m
Boca moldada – 9,00m
Calado máximo – 2,62m
Deslocamento carregado – 543,19t
Sistema de propulsão
1 MCP MAN B&W, modelo 9L 20/27, 900 kW a 1.000 rpm
2 propulsores azimutais tipo”aquamaster” Rolls Royce/Ulstein
Geração de energia
3 Grupos diesel-geradores SCANIA-RADE KONCAR,
de 210kVA, 380 V, 50 Hz
Velocidade máxima mantida – 11 nós
Velocidade de cruzeiro – 9 nós
Raio de ação a 9 nós – 2.160 MN
Autonomia – 10 dias

e a avaliação de sistemas de propa-


gação da energia acústica, também
serão atribuições dos pesquisadores
que estiverem embarcados. O AvPq
“Aspirante Moura” incorpora, em sua
missão é planejar e executar atividades O Instituto promove, estimula, parti-
estrutura, uma inovação na Marinha do
de pesquisa e desenvolvimento cientí- cipa e apoia a realização de pesquisas, em
Brasil, pois é o primeiro a navegar sem
fico e tecnológico, a fim de contribuir parceria com universidades, instituições e
o uso de leme, substituído por hélices
o para a obtenção de modelos, métodos, entidades governamentais e privadas, no
azimutais, que giram 360 , integradas
sistemas, equipamentos, materiais e Brasil e no exterior, relacionadas às ativi-
a um sistema de piloto automático e
técnicas, que permitam o melhor co- dades de sua área de atuação, mantendo
cartas náuticas eletrônicas, garantindo
nhecimento e a eficaz utilização do intercâmbio técnico e acompanhando a
uma melhor governabilidade.
meio ambiente marinho. evolução científica e tecnológica

O INSTITUTO DE ESTUDOS
DO MAR ALMIRANTE PAULO MOREIRA
A existência do IEAPM é decor-
rente do reconhecimento das Ma-
rinhas modernas de que o conheci-
mento do ambiente em que operam é
indispensável para aumentar a eficácia
de seu desempenho, principalmente
em face da modernização dos meios
flutuantes, dotados com sistemas e
equipamentos extremamente sensí-
IEAPM
veis e dispendiosos. Desse modo, sua

MARINHA em Revista Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 15


Tecnologia

Alta tecnologia no
Controle Naval do
Tráfego Marítimo
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Juliana Amaral
Fotos: Segundo-Sargento (RM1-FN-IF) Carvalho

Alta tecnologia para o monitoramento, controle e proteção do tráfego marítimo


brasileiro. Essa pode ser uma básica definição do Sistema de Informações sobre
o Tráfego Marítimo, mais conhecido como SISTRAM. Operado pela Marinha
do Brasil, por intermédio do Comando do Controle Naval do Tráfego Marítimo
(COMCONTRAM), o sistema acompanha os navios que se encontram navegando
na Área de Responsabilidade de Busca e Salvamento (SAR) do Brasil e as
embarcações com a bandeira brasileira ao redor do mundo.

O
SISTRAM foi desenvolvido, em de busca e salvamento (Search and FUNCIONAMENTO DO SISTRAM
1998, pelo Centro de Análises Rescue – SAR) para determinados O SISTRAM é responsável por
de Sistemas Navais (CASNAV), países, como o Brasil, que ficou en- acompanhar a movimentação de na-
para atender a convenções interna- carregado de monitorar uma área de vios, na área SAR brasileira, por meio
cionais, sobretudo a Convenção In- 15 milhões de km2 no Atlântico Sul. de informações de navegação padro-
ternacional sobre Busca e Salvamento Considerando-se as dimensões e o nizadas, fornecidas pelas próprias
Marítimo e a Convenção Internacional volume do tráfego marítimo nessa embarcações que navegam no local.
para Salvaguarda da Vida Humana no região, o SISTRAM é um instru- Conta com militares trabalhando,
Mar (SOLAS). mento de suma importância para diuturnamente, em rotina de reve-
Por meio dessas convenções, fo- que o Brasil cumpra seus compro- zamento, acompanhando o tráfego
ram criadas áreas de responsabilidade missos internacionais. marítimo, a plotagem de situações de

16
risco e realizando uma análise estatís- Elas determinam a obrigatoriedade Outro aspecto relevante é o grande
tica de dados. Diariamente, a equipe da adesão dos navios de bandeira nacio- potencial de recursos para o salvamen-
indica as rotas marítimas de maior nal e os afretados por armadores brasi- to no mar, representado pelos navios
tráfego e os tipos de navios encontra- leiros, em navegação de longo curso ou que aderem ao SISTRAM, que podem
dos em cada uma delas, além das áreas de cabotagem, navegando em qualquer deslocar-se rapidamente ao local de
de maior concentração. área marítima do globo terrestre. um incidente SAR.
O Encarregado da Seção de Opera- Os navios de bandeira estrangei-
ções do COMCONTRAM, Capitão- ra são convidados a aderir ao sistema, COMO ERA ANTES
de-Fragata Guilherme José Chaffin desde a entrada na área de responsa- No passado, as informações chega-
Guedes Pereira, explica o funcionamen- bilidade SAR do Brasil, tornando-se vam por mensagens escritas, que eram
to do sistema, quando da ocorrência de obrigatória a adesão quando dentro plotadas em cartas de elevado tama-
algum incidente ou acidente no mar: nho. O posicionamento dos navios era
“fornecemos um relatório de navios “O SISTRAM conta com acompanhado com ímãs, simbolizan-
mercantes, pesqueiros, de pesquisas etc, militares trabalhando, do os meios navais. “Era uma tarefa
posicionados na área do sinistro, para diuturnamente, em rotina de totalmente manual. Exigia muito tra-
o Serviço de Busca e Salvamento da balho comparar as informações rece-
Marinha (SALVAMAR BRASIL), para
revezamento, acompanhando bidas por mensagens e atualizá-las nas
o SALVAMAR da respectiva área (são
o tráfego marítimo, a posições corretas no mapa. O serviço
sete ao todo) e para todas as Organiza- plotagem de situações era braçal e lento, a exemplo dos fil-
ções Militares envolvidas no evento”. de risco e realizando uma mes da II Guerra Mundial”, lembra o
Essa relação de navios permite iden- análise estatística de dados”. Capitão-de-Fragata Guedes Pereira
No primeiro momento, foram utili-
tificar os recursos existentes nas em- Capitão-de-Fragata
barcações: enfermaria; profissionais de zados mecanismos computacionais para
Guedes Pereira
saúde; equipamentos de combate a in- armazenamento, obtenção de dados e
cêndio; equipamentos de comunicação; do Mar Territorial ou em águas inte- plotagem gráfica. A busca das informa-
estado de conservação; e a proximidade riores brasileiras. Grande parte dos ções passou a ser em banco de dados,
navios têm aderido ao sistema, a partir otimizando o tempo de resposta das ati-
do sinistro. Em seguida, os dados são en-
do momento em que entram na área vidades do COMCONTRAM.
viados ao coordenador do evento SAR,
de responsabilidade SAR nacional. A Hoje, a Marinha utiliza a versão III
responsável por contatar o navio melhor
escolha se justifica com base nos be- do SISTRAM, mas já existem requisitos
posicionado para apoiar as buscas. Essa
nefícios advindos da adesão, como por estabelecidos para se desenvolver a ver-
rotina envolve manutenção e atualiza-
exemplo, a rapidez na localização em são IV, que será muito mais atualizada
ção de banco de dados, geração de rela-
caso de acidentes. e possibilitará integrações com outros
tórios e mensagens entre Marinhas.

ADESÃO AO SISTEMA
Apesar do SISTRAM possuir diver-
sas fontes de informação sobre o trá-
fego marítimo, ele ainda recebe dados
oriundos da adesão de embarcações
que navegam na área de responsabili-
dade SAR do Brasil. A adesão está pre-
vista nas Normas da Autoridade Ma-
rítima para Tráfego e Permanência de
Embarcações, nas Águas Jurisdicionais
Militares do COMCONTRAM na sala de acompanhamento do SISTRAM
Brasileiras (AJB).

MARINHA em Revista Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 17


VRMTC: O SISTEMA INTERNACIONAL com o Brasil, Cingapura e Índia, que também utilizam a base
de dados AIS para acompanhar o tráfego marítimo.
VRMTC, Virtual Regional Maritime Traffic Centre, é o sis- Além dos sistemas mencionados, a Marinha do Brasil
tema internacional de acompanhamento do tráfego que foi ainda se conecta com outros sistemas internacionais e na-
desenvolvido pela Marinha Militar Italiana e é distribuído cionais de monitoramento: o Maritime Safety and Security
entre países da Europa e do norte da África. Nele, trocam-se Information System (MSSIS) - sistema desenvolvido pelo
informações baseadas em dados do Sistema de Identificação Ministério dos Transportes norte-americano, que é utiliza-
Automática (AIS), que irão contribuir para a criação de uma do pela Guarda Costeira e pela Marinha dos Estados Uni-
Trans-Regional Maritime Network (TRMN), ou seja, um sis- dos da América; e o Programa Nacional de Rastreamento
tema envolvendo os países europeus e africanos, juntamente de Embarcações Pesqueiras por Satélite (PREPS).

sistemas brasileiros e internacionais de na internet, quanto com os que são tenham acesso ao banco de dados do
acompanhamento do tráfego marítimo. distribuídos por CD-ROM; fornecer SISTRAM, com uma hierarquização
Em 12 anos de existência, as ver- as informações do SISTRAM na web, de acessos; a capacidade de baixar e
sões do sistema foram atualizadas à permitindo que todas as Organizações integrar a imagem de satélite ao sis-
medida que algum tipo de interface e Militares do Sistema de Segurança do tema de plotagem; e, por fim, adquirir
aplicativo era incluído. No começo, o Tráfego Aquaviário - as Capitanias uma ferramenta de análise, crítica e
acompanhamento do tráfego de navios dos Portos, Delegacias e Agências, comparação de dados

“Antes, era uma tarefa


totalmente manual. Exigia O CONTROLE DA ÁREA
muito trabalho comparar MARÍTIMA DO ATLÂNTICO SUL
as informações recebidas
por mensagens e atualizá- Um exemplo prático e bem-su-
las nas posições corretas cedido de aplicação do SISTRAM é

no mapa. O serviço era na coordenação da Área Marítima do


Atlântico Sul, formada por Argenti-
braçal e lento”. na, Brasil, Paraguai e Uruguai. Sua
Capitão-de-Fragata missão é coordenar as ações dos pa- nos mares são o crime organizado, a
Guedes Pereira íses americanos, inerentes à direção, pirataria e o terrorismo.
controle e proteção do tráfego marí- De acordo com o Contra-Almirante
era feito com base na troca de informa-
timo continental, a fim de assegurar Aloysio, as principais ações realizadas
ções entre as Capitanias dos Portos e
o uso das vias de comunicação marí- durante a gestão brasileira do CAMAS
o COMCONTRAM. Passado algum
timas de interesse. foram a mudança implementada nos
tempo, integrações foram realizadas com
O último brasileiro Coordenador exercícios, dando-lhes maior realismo
outros sistemas, a exemplo do Sistema
da Área Marítima do Atlântico Sul e incluindo eventos relacionados às
de Monitoramento de Meios envolvi-
(CAMAS) foi o Subchefe de Opera- novas ameaças; o recorde na participa-
dos com a atividade do petróleo. A partir
ções do Comando de Operações Na- ção de navios nos exercícios de 2008 e
dessas evoluções e integrações, surgiu a
vais, Contra-Almirante José Aloysio de 2009 (cerca de 300 navios mercantes);
necessidade de se atualizar o sistema.
Melo Pinto, que permaneceu no cargo e a atualização de todas as publicações
Para a versão IV do SISTRAM,
até março deste ano. Segundo ele, al- doutrinárias interamericanas de con-
espera-se conseguir a interface com
gumas das novas ameaças enfrentadas trole naval de tráfego marítimo.
bancos de dados de navios mercan-
tes de outras nacionalidades, tanto

18
Artigo
A Comunicação Social na Marinha
Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto - Comandante da Marinha

F
alar de Comunicação Social, no constitucionais e à altura da estatura nos requisitos de rapidez e fideli-
âmbito da Marinha do Brasil, im- político-estratégica do País. dade que os modernos sistemas de
plica reconhecer a importância A Comunicação Social segue seu comunicação impõem nos dias atu-
e a inadiável necessidade de tornar a rumo, adquirindo mais consistência. ais, principalmente as demandas da
nossa Instituição cada vez mais próxi- A Administração Naval tem procura- mídia em geral.
ma da sociedade brasileira. Nesse sen- do valorizar os profissionais do ramo Desse modo, considera-se vital uti-
tido, é essencial implementar veícu- ou que, por seu perfil, tenham con- lizar essa imprescindível ferramenta
los eficazes de comunicação, a fim de dições de contribuir para tornar essa para destacar a importância da nossa
melhor atingir os públicos interno e atividade mais efetiva. Para isso, foi “Amazônia Azul” e de nossas águas in-
externo, visando, dentre diversas mo- realizado, esse ano, um encontro de teriores, seja para o desenvolvimento
tivações, propagar as razões de exis- profissionais que atuam na área. A I da economia, seja para a garantia de
tência da nossa Marinha, nossas ativi- Jornada de Comunicação Social con- nossos interesses e soberania.
dades e incrementar a seleção para o tou com a presença de Oficiais e Ser- Desejo destacar o incremento da
recrutamento naval. vidores Civis de diversas Organiza- Comunicação Social na Marinha,
Em relação ao público interno, a ções Militares da Marinha do Brasil, fruto do engajamento das nossas Or-
Comunicação Social, além de mantê- além de Oficiais do Exército Brasilei- ganizações Militares nessa área, que
lo informado do que está ocorrendo, ro e da Força Aérea Brasileira. contemplou, entre diversos produ-
tem o papel fundamental de contribuir Com relação ao futuro, há que se tos, a criação de novos veículos de
como instrumento de liderança e para pensar sob o enfoque estratégico, ou comunicação para os públicos inter-
a manutenção e o fortalecimento das seja, no que é possível fazer para, de no e externo, como por exemplo, a
tradições e costumes navais. O públi- forma contínua e sustentada, torná- “TV Marinha na Web” (www.mar.
co externo, por sua vez, representa la cada vez mais dinâmica, interes- mil.br), cujo propósito é apresentar,
segmento a ser motivado a conhecer sante e cativante, compreendendo- em vídeo, aspectos da nossa Força e
a Marinha do Brasil para que, a partir a como instrumento de difusão de do trabalho dos homens e mulheres
daí, tenha a oportunidade de admirá- nossas atividades, de nossos valores que a integram.
la sendo, portanto, vital que lhe seja e de nossa rica tradição, fortalecen- Por fim, diria que as perspectivas
apresentada, permanentemente, uma do-os junto aos públicos de interes- da Comunicação Social da Marinha
imagem correta da Instituição e en- se. Importa, também, intensificar e são alvissareiras, pois há suficientes
fatizada a necessidade de se dispor dinamizar a Comunicação Social, razões para acreditar que constituirão
de uma Força pronta, de porte com- dando visibilidade às nossas ações reflexo de um porvir venturoso para
patível com suas responsabilidades junto à opinião pública, com foco toda a nossa Instituição

MARINHA em Revista Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 19


A Marinha Operativa
nos Rios da Amazônia
Por Capitão-Tenente (T) Felipe Picco Paes Leme
Fotos: Cabo Adamor/Acervo
Sete horas da manhã. Um helicóptero UH-12 “Esquilo”, do
3º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral, decola do
NPaFlu “Raposo Tavares” para realizar fogo aéreo contra o
inimigo, que se encontrava à margem do Rio Negro. Após o

Capa
ataque aéreo, o navio disparou com canhão e metralhadoras,
o que possibilitou o desembarque de um Pelotão de
Fuzileiros Navais, utilizando Embarcações de Transporte de
Tropas e Lanchas de Ação Rápida.

E
sse cenário simulado, com utili- operações combinadas realizadas pe-
zação de munição real, fez par- las três Forças Armadas, sob a coorde-
te dos exercícios da Operação nação do Ministério da Defesa.
“Negro-I”, realizada pelo Comando do
9º Distrito Naval (Com9ºDN) e coor- A IMPORTÂNCIA DA OPERAÇÃO
denada pelo Comando da Flotilha do O Capitão-de-Mar-e-Guerra Joaquim
Amazonas (ComFlotAM), no período Henrique Rocha, Comandante da Floti-
de 10 a 14 de maio, no Rio Negro, no lha do Amazonas e Comandante do
Estado do Amazonas. Participaram do Grupo-Tarefa da Operação “Negro-
exercício os Navios-Patrulha Fluvial I”, que estava embarcado no NPaFlu
(NPaFlu) “Pedro Teixeira”, “Raposo “Raposo Tavares”, destacou, durante
Tavares” e “Roraima”; o Navio de As- a realização do exercício, que, atu-
sistência Hospitalar (NAsH) “Carlos almente, a guerra não é mais aquela
Chagas”; dois helicópteros; diversas guerra clássica e que os eventuais ini-
Lanchas de Ação Rápida (LAR) e Em- migos são indefinidos. “As ameaças
barcações de Transporte de Tropas hoje são difusas e, por isso, não po-
(ETT); e Fuzileiros Navais do Batalhão demos dizer que estamos, dentro do
de Operações Ribeirinhas (BtlOpRib). contexto do exercício, combatendo
Assim como ocorre com a Esqua- um inimigo definido, mas sim vários
dra, operações como essa são reali- tipos de inimigos que possam sur-
zadas três vezes ao ano pela Marinha gir. Portanto, não estamos aqui para
do Brasil nos rios Amazonas, Negro e atacar apenas um alvo, mas sim para
Solimões e nos seus afluentes, com a adestrar a tropa para a manutenção
finalidade de adestrar as tripulações da soberania nacional, seja qual for
dos navios e das aeronaves e os fuzi- nosso inimigo”.
leiros navais. O propósito principal Outro aspecto importante refere-se
é contribuir para a manutenção e a à área do exercício, sensível e estraté-
consolidação da integridade territo- gica, por tratar-se da Região Amazô-
rial, manutenção da ordem e integra- nica. “Esse é um aspecto considerável
ção da Região Amazônica, além de para a atuação da Marinha. É muito
fiscalizar embarcações na área fluvial importante nos mantermos prontos
sob jurisdição do Com9ºDN, sedia- para qualquer eventualidade, sejam de
do em Manaus (AM). Na região, a grupos armados ou de qualquer ou-
Marinha participa, também, de tra ameaça semelhante. Esse tipo de

MARINHA em Revista Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 21


exercício serve para mostrar que nós “O perfeito entrosamento Capitão-de-Corveta Renato Ferreira
estamos prontos para atuar de forma e coordenação entre as Jácomo dos Santos, Comandante do
inopinada, de prontidão 24 horas por NPaFlu “Raposo Tavares”.
dia, de sobreaviso, para qualquer even-
tripulações do navio e O exercício contribui, ainda, para
da aeronave, fundindo-se
Capa

tualidade”, complementa o Coman- integrar, operativamente, os navios


dante Henrique Rocha. em uma só equipe, é de com as aeronaves e a tropa de fuzilei-
Foram realizados exercícios de tiro, fundamental importância ros navais, possibilitando a atuação nos
manobras táticas, operações aéreas, para o sucesso de três ambientes: rio, ar e terra. “Nesse
navegação em águas restritas, controle sentido, o perfeito entrosamento e co-
de LAR, transferência de carga leve,
qualquer operação ordenação entre as tripulações do navio
dentre outros adestramentos, além de que envolva o binômio e da aeronave, fundindo-se em uma só
Operações de Assistência Hospitalar navio-aeronave”. equipe, é de fundamental importância
(ASSHOP) nas comunidades próximas Capitão-de-Mar-e-Guerra para o sucesso de qualquer operação
às ruínas de Velho Airão. Todas essas Joaquim Henrique Rocha que envolva o binômio navio-aeronave.
Os exercícios de tiro efetuados pela ae-
ronave, a partir dos navios, contribuem
para aperfeiçoar este entrosamento e
coordenação”, afirma o Capitão-de-
Corveta Elias Voulgarelis, Coman-
dante do 3º Esquadrão de Helicópte-
ros de Emprego Geral, embarcado no
NPaFlu “Raposo Tavares”.
Foram realizados exercícios de tiro
com metralhadora axial e com metra-
lhadora lateral da aeronave UH-12
“Esquilo”, que renovou a qualificação
de quatro pilotos e dois fiéis embarca-
Destacamento Aéreo Embarcado no NPaFlu “Raposo Tavares” dos. Além disso, as equipes envolvidas
em operações aéreas puderam rever os
atividades têm por objetivo incremen- de operações ribeirinhas são a capaci- procedimentos específicos para mano-
tar o preparo da Flotilha no cumpri- dade de pouso e decolagem para um bra, decolagem e pouso da aeronave
mento da sua missão. helicóptero UH-12 “Esquilo”; de ope- armada, incrementando a segurança e
O NPaFlu “Raposo Tavares”, Navio rar com duas LAR orgânicas; e de alo- a eficiência das operações aéreas de ata-
Capitânia do exercício, é o segundo da jar um contingente de Fuzileiros Na- que, a partir do navio. “O emprego da
Classe “Pedro Teixeira”. Os dois são vais, com suas respectivas ETT. aeronave embarcada amplifica as possi-
os maiores navios da Flotilha do Ama- “Dentre os aspectos de maior im- bilidades do navio, aumentando o seu
zonas, com 63 metros de comprimen- portância para o adestramento do na- horizonte de atuação”, complementa o
to e 900 toneladas de deslocamento. vio, destaca-se a prática de tiro com Comandante Voulgarelis.
O navio é dotado de comunicações canhão e metralhadoras, como um A interação entre os militares tam-
por satélite e facilidades de Comando diferencial fundamental para a real bém é fato ressaltado pelo Segundo-
e Controle para um Estado-Maior em- capacitação do navio no desempe- Tenente (FN) Paulo Sergio Souza
barcado, que o habilitam a liderar um nho de missões de combate, especial- Junior, do Batalhão de Operações
Grupo-Tarefa. Outras características mente por ser um tipo de exercício Ribeirinhas. “Ao embarcarem, os fu-
que denotam a versatilidade e a ade- que só podemos realizar nesta área zileiros navais podem conhecer me-
quabilidade do navio para o ambiente da Amazônia Ocidental”, afirma o lhor a rotina de bordo dos navios e os

22
NPaFlu “Pedro Teixeira” e “Raposo Tavares” navegam no Rio Negro

militares que ali servem e os apoiam no o nível de adestramento dos militares ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA
momento do desembarque terrestre. envolvidos, o NAsH não precisou ser O Brasil é um País pacífico por
Outro aspecto importante é a fami- acionado por este motivo. Teve, sim, tradição, vive em paz com seus vizi-
liarização com as ETT, onde utilizam que atender um ribeirinho que tinha nhos e rege suas relações internacio-
armamento orgânico e realizam tiros sido picado por uma cobra, em comu- nais pelos princípios constitucionais
sobre a margem. Eles aproveitam para nidade próxima a Velho Airão. Ao ser da não-intervenção, defesa da paz e
se familiarizarem dentro de seu pelo- acionado, o navio enviou médico e solução pacífica dos conflitos. Essa
tão e conhecerem os elementos que enfermeiro, a bordo de sua lancha or- convicção é parte da identidade na-
combaterão, lado a lado”. gânica, para realizar o atendimento. cional e um valor a ser conservado
Em relação à área de atuação, ele
destaca a importância de se conhecer a
região. “Para nós, é muito importante
o reconhecimento da área da Região
Amazônica, de seus rios e afluentes, em
que atua o Batalhão, de extrema impor-
tância para o Brasil, pelas suas rique-
zas”, afirma.
Já em relação ao NAsH “Oswal-
do Cruz”, por tratar-se de um navio
hospital, é ele quem dará o primeiro
suporte em caso de algum acidente
real. Apesar de serem mantidos todos
os requisitos de segurança, princi-
palmente quando se utiliza munição
real, é possível ocorrer algum aciden-
Fuzileiros Navais durante adestramento de tiro
te. Porém, mostrando a eficiência e

MARINHA em Revista Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 23


HISTÓRICO DA MARINHA
NA REGIÃO AMAZÔNICA
A preocupação do Brasil com a
defesa da Região Amazônica não é
Capa

recente. Após a vitória na Guerra da


Tríplice Aliança, em 1865, que con-
solidou o domínio brasileiro das vias
fluviais na Região Platina, o Governo
Federal passou a constituir preocupa-
ção com a Região Noroeste do País,
devido à inexistência de tratados de
limites entre os países ribeirinhos e
atitudes hostis das repúblicas vizinhas,
que reclamavam, principalmente, as região receberam várias denominações. eixo estratégico Manaus-Tabatinga e
questões fronteiriças e de liberdade Em 1945, o Comando da Flotilha do nos rios de penetração de nossa fron-
de navegação no Rio Amazonas. Amazonas passou a integrar o Coman- teira Ocidental.
Para garantir o exercício da sobera- do do 4º Distrito Naval, como força Em 1994, foi ativado o Coman-
nia e dos interesses nacionais na Ama- subordinada. Em 23 de abril de 1974, do Naval da Amazônia Ocidental
zônia Ocidental, por meio de uma pre- desdobrou-se a Flotilha do Amazonas (CNAO), passando o Comando da
sença naval efetiva, D. Pedro II decidiu em duas unidades, sendo criado o Gru- Flotilha do Amazonas à sua subordi-
criar, em 1868, a Flotilha do Amazonas, pamento Naval do Norte, sediado em nação. Finalmente, o Decreto nº 5.349,
com sede na capital da recém-elevada Belém, e Flotilha sediada em Manaus. de 20 de janeiro de 2005, criou o Co-
província do Amazonas, cuja missão foi Em meados dos anos 1970, foram mando do 9º Distrito Naval, em subs-
a de policiar as fronteiras fluviais com as incorporados à Flotilha do Ama- tituição ao CNAO, sendo ativado em
repúblicas vizinhas e fazer executar, pe- zonas dois novos Navios-Patrulha 3 de maio de 2005, contando com sete
las embarcações estrangeiras, os regula- Fluviais Classe “Pedro Teixeira”, Organizações Militares diretamente
mentos fiscais vigentes, a fim de garan- construídos no Arsenal de Marinha subordinadas, dentre elas o Comando
tir os interesses do Império na região. do Rio de Janeiro, e três Navios- da Flotilha do Amazonas, o Batalhão de
Desde então, a Marinha do Brasil Patrulha Fluviais Classe “Roraima”, Operações Ribeirinhas e o Esquadrão
participou de diversos eventos histó- construídos no Estaleiro MacLaren, de Helicópteros de Emprego Geral,
ricos e as Organizações Militares da no Rio de Janeiro, para operarem no participantes da Operação “Negro-I”.

pelo povo brasileiro, não justificando, “As ameaças hoje são fronteiras, é ressaltada a necessidade
contudo, que o País não esteja prepa- de a Marinha operar na região da foz
rado para defender-se de agressões e
difusas e, por isso, não do Amazonas e em suas grandes ba-
também estar pronto para opor-se a estamos aqui para atacar cias fluviais.
ameaças, que são difusas e muitas ve- apenas um alvo, mas sim O documento menciona, ainda, a
zes não identificadas imediatamente. para adestrar a tropa exigência de avanço de projetos de de-
A Estratégia Nacional de Defesa para a manutenção da senvolvimento sustentável, passando
(END) é bem específica em relação
à atuação das Forças Armadas na Re-
soberania nacional, seja pelo trinômio monitoramento/con-
trole/mobilidade e presença, destacan-
gião Amazônica. Nela, além de ser
qual for nosso inimigo”. do que o Brasil será vigilante na reafir-
mencionada a importância da pre- Capitão-de-Mar-e-Guerra mação incondicional de sua soberania
sença de unidades das três Forças nas Joaquim Henrique Rocha sobre a Amazônia brasileira

24
Marinha constroi
lanchas escolares para

Social
atender ribeirinhos
da Amazônia
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Juliana Amaral
Fotos: Segundo-Sargento (RM1-FN-IF) Carvalho
Social

O início de um novo tempo. Certamente esse é o significado da construção de lanchas


escolares para transportar crianças ribeirinhas do interior da Região Amazônica às
escolas municipais. Uma pesquisa realizada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento
da Educação (FNDE) revelou que, somente na Região Norte, existem cerca de 180 mil
crianças que precisam de transporte fluvial para chegar às salas de aula. Muitas delas vão à
escola em barcos a remo, feitos artesanalmente, sem nenhum tipo de segurança.

N
o ano de 2009, a Marinha do o objetivo de garantir conforto e se- comunidades que margeiam os rios da
Brasil e o Ministério da Educação gurança aos estudantes. “Isso contri- Região Amazônica”, afirma Balaban.
(MEC), por meio do FNDE, as- buirá para o acesso e permanência Para o presidente do FNDE, “so-
sinaram um convênio para o desenvolvi- dos alunos na escola, em especial das mente trabalhando em conjunto com
mento e construção de 600 lanchas es- a Marinha do Brasil poderíamos ter
colares. As duas primeiras embarcações, um transporte com todos os itens
construídas na Base Naval de Val-de- “Somente trabalhando em de segurança para as nossas crian-
Cães (BNVC), em Belém (PA), foram conjunto com a Marinha ças. Esta parceria com a Marinha,
entregues ao Presidente do FNDE, Da- por meio da Empresa Gerencial de
niel Silva Balaban, no dia 8 de março, em
do Brasil poderíamos ter Projetos Navais (EMGEPRON), foi
Belém. Outras cinco foram entregues no
um transporte com todos a forma mais eficaz de se desenvol-
dia 28 de junho, em Manaus. os itens de segurança para ver o projeto”. Até o final de 2011,
As lanchas foram criadas para o as nossas crianças”. a BNVC vai construir mais 300
Programa “Caminho da Escola” com Daniel Balaban, Presidente do FNDE embarcações, sendo as demais de

26
“Vamos ajudar a recuperar
a cidadania desses jovens
e crianças, que precisam
chegar às escolas”.
Vice-Almirante Rodrigo Otávio
Fernandes de Hônkis

responsabilidade das Bases Navais de


Natal (RN) e Aratu (BA).

ITENS DE SEGURANÇA
A lancha foi construída em alu-
mínio naval, com 7,30m de compri- Fernandes de Hônkis, afirmou que este Para a Secretária de Educação de
mento, cobertura fixa e itens de segu- é um momento de quebra de paradig- Santarém (PA), Lucineide Pinheiro,
rança, tais como coletes salva-vidas; mas. “Vamos ajudar a recuperar a cida- o projeto das lanchas escolares mar-
extintor de incêndio; sirene; motores dania desses jovens e crianças, que pre- ca o início de um novo tempo e a
principal e auxiliar; luzes de navega- cisam chegar às escolas”. Na opinião realização de um sonho. “As crianças
ção; rádio comunicador; e defensas. do Vice-Almirante Rodrigo, essa é uma seguiam para as escolas em barcos
Elas podem transportar até 20 alu- valiosa oportunidade para celebrar uma pequenos, frágeis e até perigosos.
nos, sendo um assento reservado para parceria que vai diminuir a evasão esco- Mas agora, terão um meio confor-
portador de necessidades especiais. lar e aumentar a permanência na escola tável e seguro de transporte, che-
O Comandante do 4º Distrito Na- dos pequenos brasileiros moradores gando à escola de forma digna. Isso
val, Vice-Almirante Rodrigo Otávio das regiões ribeirinhas da Amazônia. é cidadania”

percorrerão um trecho de 5 mil quilômetros de rios, em 65


rotas, entre Belém (PA) e Tefé (AM).
O Coordenador da Pesquisa, Marcos Fleming, conta
que o levantamento vai apontar a realidade vivida pelos
estudantes das cidades ribeirinhas da Amazônia, na hora
de ir à escola. “Vamos navegar pelos rios Guamá, Tapajós,
Amazonas e Solimões, avaliando tecnicamente as embarca-
ções e identificando as rotas fluviais utilizadas na região”.
Equipe de pesquisadores da UnB
Outro propósito da pesquisa é testar as duas primeiras lan-
chas produzidas pela Marinha, avaliar sua adequação e veri-
PESQUISA DE CAMPO ficar se há necessidade de ajustes. Além disso, a pesquisa irá
identificar o número de alunos transportados atualmente
O Ministério da Educação está realizando uma pes- nas embarcações, as condições técnicas, o tempo gasto, a
quisa de campo sobre o transporte escolar aquaviário no expectativa de pais e alunos, autoridades municipais e co-
Brasil. Nove pesquisadores do Centro Interdisciplinar de munidades ribeirinhas para, assim, estabelecer uma análise
Estudos em Transportes da Universidade de Brasília (UnB) comparativa com o novo meio de transporte criado.

MARINHA em Revista Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 27


Marinha ajuda
a combater uma
Reportagem

tragédia da Amazônia
Por Capitão-de-Corveta (T) Carla Pointis
Fotos: Segundo-Sargento (RM1-FN-IF) Carvalho

A
s vítimas são os ribeirinhos que
Escalpelamento: uma tragédia que atinge os ribeirinhos que
navegam, rotineiramente, em
navegam em barcos pequenos com motores descobertos. barcos artesanais, com motores
Mulheres e meninas são as mais atingidas. O escalpelamento improvisados e descobertos. Desse uni-
acontece quando o cabelo se enrola em torno do eixo verso, mulheres e meninas são as mais
giratório dos barcos, arrancando, de forma brutal, todo ou atingidas, pelo uso dos cabelos compri-
dos, muito comuns na região. O trata-
parte do couro cabeludo (escalpo), inclusive orelha, pele
mento dos acidentados é longo, dolo-
do rosto, pálpebras, podendo até levar à morte. Segundo a roso, não recupera os cabelos e nem as
Secretaria de Saúde do Estado do Pará, onde ocorrem 90% lesões decorrentes da perda de partes
dos casos, em média, uma pessoa por mês é acidentada. do rosto, trazendo para a vítima graves

28
sequelas físicas e psicológicas, de auto-
estima e, até mesmo, de rejeição na co-
munidade ou no grupo familiar.
A fim de prevenir essa tragédia, a
Secretaria de Comunicação Social da
Presidência da República lançou, em
âmbito nacional, em março deste ano,
a Campanha de Prevenção ao Escal-
pelamento, num evento realizado no
Centro de Instrução Almirante Braz
de Aguiar (CIABA), Organização Mi- Cerimônia de lançamento da campanha contra o escalpelamento
litar da Marinha do Brasil sediada em
Belém (PA), subordinada ao Coman-
Amazônia, Petrobras, Eletronorte, dos protótipos – nome dado à cober-
do do 4º Distrito Naval.
BR Distribuidora e Banco do Bra- tura metálica que cobre o eixo pro-
A campanha, amplamente divulga-
sil; além de parceiros empresariais e pulsor. O aspecto menos conhecido,
da pelas rádios e canais televisivos da
da sociedade. mas de fundamental importância
Região Norte, não só convocou o bar-
Na visão do Comandante do para a campanha, é que a Marinha do
queiro a revestir o eixo do motor, nas
4º Distrito Naval, Vice-Almirante Brasil intermedia os contatos entre
datas e locais indicados, como tam-
Rodrigo Otávio Fernandes de Hônkis, os parceiros da iniciativa privada e
bém investiu na conscientização dos
isso tudo faz parte de uma série de governamental; recebe a verba para
usuários das embarcações. Cartilhas,
ações, com vários protagonistas. a produção do artefato; e acompanha
filipetas e cartazes foram distribuídos
“A Marinha é um deles. A Defenso- sua produção, aprova e instala, sem
apresentando as devidas precauções
ria Pública da União, os Governos deixar de enviar, regularmente, um
para evitar esse tipo de acidente e
Estaduais e Municipais, a iniciativa relatório para os patrocinadores.
as medidas que devem ser adotadas.
O material foi entregue nos principais privada, todos estão envolvidos nesse Esse ano, no Estado do Pará, no
pontos de embarque e desembarque grande mutirão social”. período de 17 a 29 de março, a Capi-
da comunidade ribeirinha e nos postos tania dos Portos da Amazônia Oriental
de atendimento, montados pela Mari- cobriu o eixo de 515 embarcações no
nha, para a realização do trabalho. “É inaceitável estarmos Município de Breves e seus arredores
As ações de combate e de preven- no século XXI e ainda - Vila Lawton e Vila Curumúm. No
ção ao escalpelamento contam com vivenciarmos acidentes Amapá, nas cidades de Macapá e San-
tana, a campanha ocorreu entre os dias
o apoio da Defensoria Pública da
dessa natureza”. 23 e 30 de abril. Nessa região, também
União para indenização das vítimas,
Capitão-de-Mar-e-Guerra José de grande incidência de acidentes, a
em cooperação com a Federação
Nacional de Seguros Privados; do
Roberto Bueno Junior, Capitania dos Portos de Santana aten-
Governo do Estado do Pará, na isen-
Capitão dos Portos da deu 400 barqueiros, nos postos monta-
ção de impostos que incidem sobre Amazônia Oriental dos no píer da própria Capitania e no
a fabricação da cobertura metálica Igarapé das Mulheres.
do motor; dos Governos dos Mu- MARINHA PRODUZ ARTEFATOS Outra tarefa importante, realizada
nicípios abrangidos pela campanha, PARA COBRIR EIXOS DOS BARCOS por parte da equipe de militares e servi-
em questões logísticas; da Secretaria De fato, a Marinha não só apoia dores civis das duas Capitanias e da Base
da Mulher do Estado do Amapá, no como também coordena alguns as- Naval de Val-de-Cães (PA), é o adestra-
desenvolvimento de políticas pú- pectos da campanha. Talvez, o mais mento de membros de outras institui-
blicas em apoio às mulheres; de al- visível seja o mutirão realizado pelas ções, como o Corpo de Bombeiros e o
gumas empresas, como o Banco da Capitanias dos Portos para instalação Batalhão Ambiental da Polícia Militar.

MARINHA em Revista Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 29


Para encerrar o evento, um grupo de
senhoras vítimas do escalpelamento fez
uma apresentação de “Dança dos Véus”,
Reportagem

ao som da canção “Cisne Branco”.


“Essa foi a maneira encontrada pelas
mulheres para homenagear a Marinha
que tanto faz pela nossa causa”, comple-
menta Maria do Socorro.
O Capitão dos Portos da Ama-
zônia Oriental, Capitão-de-Mar-e-
Guerra José Roberto Bueno Junior,
está bastante otimista em relação à
campanha. Segundo ele, é inaceitá-
vel estarmos no século XXI e ainda
vivenciarmos acidentes dessa nature-
za. “A campanha ajudará a Marinha
a legalizar milhares de embarcações.
Nós estamos fazendo um mapeamen-
to sócio-econômico dessas comu-
Apresentação de “Dança dos Véus” durante o lançamento da campanha
nidades, por meio de questionários,
para que, no futuro, sejam desenvol-
vidas políticas públicas adequadas
A qualificação da mão-de-obra de outras de Sant’Ana; o Defensor da União, Dr. às suas necessidades”. A Capitania
entidades é importante não só para di- João Paulo Picanço; a representante da planeja, ainda, levar o material pro-
namizar o trabalho que está sendo feito, Secretaria Especial de Políticas para as duzido (cartazes, cartilhas e filipetas)
mas também como forma de multipli- Mulheres, Drª Teresa Cristina Sousa; a às escolas de Ensinos Fundamental e
car o conhecimento e a experiência, Secretária Especial de Políticas para as Médio, às lideranças religiosas e aos
que pode ser aplicada em outras loca- Mulheres do Estado do Amapá, Drª Ju- agentes comunitários de saúde.
lidades. O problema é grave e a região cilene Silva; o Diretor-Geral do Banco Há quem diga que o problema é
é vasta. De acordo com o Capitão dos da Amazônia, Gilvandro Negrão; e a sócio-cultural, pois prevenir acidentes
Portos de Santana, Capitão-de-Fraga- Presidente da Associação de Mulheres é influir nos hábitos cotidianos da po-
ta Marcelo de Resende Lima, são mais pulação local. O fato é que, para a po-
de 10 mil embarcações artesanais que
navegam no Amapá e nas ilhas do nor-
“Está na hora de mudar pulação que vive nas margens dos rios
da Amazônia, a palavra escalpelamento
te da Ilha de Marajó.
a realidade que faz parte ainda aterroriza.
O lançamento da campanha no de um Brasil que poucos Mas fazer a cobertura dos eixos das
Estado do Amapá, no dia 26 de abril, brasileiros conhecem”. embarcações agora é Lei Federal. Existe,
na Câmara de Vereadores de Santana, Maria do Socorro Damasceno inclusive, uma data para que toda a po-
foi um evento de grande expressão e Presidente da Associação pulação ribeirinha possa lembrar ou to-
a Marinha do Brasil foi a grande ho- de Mulheres Ribeirinhas mar conhecimento do assunto. O dia 28
menageada. Na cerimônia, estavam Vitimas de Escalpelamento de agosto foi instituído como Dia Na-
presentes o Governador do Estado do cional de Combate e Prevenção ao Es-
Amapá, Pedro Paulo Dias de Carvalho; Ribeirinhas Vítimas de Escalpelamen- calpelamento. “Está na hora de mudar a
o Comandante do 4º Distrito Naval; o to, Maria do Socorro Damasceno; en- realidade que faz parte de um Brasil que
Assessor do Gabinete de Pessoal da tre outras personalidades importantes poucos brasileiros conhecem”, enfatiza
Presidência da República, Dr. Diogo na defesa da causa das vítimas. Maria do Socorro Damasceno

30
Comandante do 4º Distrito Naval,
Vice-Almirante Rodrigo e

Entrevista
Capitão dos Portos de Santana,
Vice-Almirante Rodrigo (direita) e

Capitão-de-Fragata Resende Capitão-de-Fragata Resende(esquerda)

Uma das realizações mais importantes da campanha de combate ao escalpelamento é a


oportunidade que o ribeirinho tem de legalizar sua embarcação.

Como o processo legalização da em- as testemunhas, o local... enfim, é um ao acidente, considerando as dimen-
barcação foi incluído na campanha? resumo do fato ocorrido. Reunir todas sões da região e o tempo transcorrido
Vice-Almirante Rodrigo: Enquanto essas informações já é uma tarefa difícil, desde a sua ocorrência.
os técnicos trabalham na cobertura do por se tratar de localidades remotas. Se Quais são os riscos que se pode correr?
motor do barco, os donos preenchem a embarcação não for cadastrada, a situ- Vice-Almirante Rodrigo: O risco se-
o formulário de cadastramento. O pro- ação fica pior ainda. Acontece muito da ria a apuração de um incidente, como
tótipo metálico do motor recebe uma vítima ter sido uma menina e quando o escalpelamento, não reunir provas
placa com um número de série, que recebe o seguro já é uma senhora. concretas da sua real origem. Temos de
passa a ser o número de registro da Existem muitos inquéritos abertos buscar sempre, e com muita determi-
embarcação, que, dessa forma, passa a sobre o assunto? nação, todos os dados que levem a uma
existir legalmente perante a Autorida- Capitão-de-Fragata Resende: Dos investigação segura e plena, que permi-
de Marítima, trazendo benefícios para 113 IAFN que tramitam na Capitania, ta aos envolvidos todos os direitos asse-
barqueiros e passageiros, até mesmo 79 são referentes a casos de escalpe- gurados pela legislação em vigor.
em caso de acidentes. lamento. Alguns são bem antigos e a Além do desconhecimento do apoio
Quais são os benefícios do cadastro? maior dificuldade enfrentada é a não que o governo pode prestar, em caso de
Vice-Almirante Rodrigo: O bar- localização da embarcação e de possí- acidente, existe outro motivo que pode
queiro, quando se cadastra, toma co- veis testemunhas. Para se ter idéia da levar uma vítima a não registrar uma
nhecimento de seus direitos e deveres gravidade do assunto, recentemente queixa sobre o ocorrido?
e, em caso de acidente, ele saberá como expedimos certidão referente a um fato Capitão-de-Fragata Resende: Sim.
agir. Por outro lado, a vítima também que ocorreu há mais de 30 anos. O escalpelamento é uma tragédia fa-
ficará resguardada, pois facilitará a lo- Vice-Almirante Rodrigo: Quanto a miliar. Na maioria das vezes, o dono
calização do barco, que é um dos maio- essa demora na emissão das certidões, da embarcação é membro da família.
res obstáculos enfrentados pelas Capi- estamos trabalhando no sentindo de Já tivemos caso de pai, irmão, marido,
tanias da região, na condução de um agilizar o processo. A minha orienta- cunhado...a vítima espera o tempo pas-
Inquérito Administrativo sobre Aci- ção como representante da Autorida- sar, deixa a situação abrandar e depois
dentes e Fatos da Navegação (IAFN). de Marítima na região é que o docu- registra a queixa. Não significa que
A certidão do acidente que é emitida mento seja expedido, mesmo com a o dono do barco, sendo familiar ou
após a conclusão de um IAFN permi- não integralidade de todas as informa- não, tenha agido propositalmente. Os
te que a vítima tenha acesso ao seguro, ções. Tais impossibilidades são decor- acidentes ocorrem porque as embar-
já que, no documento, constam os no- rentes das naturais dificuldades em se- cações são pequenas, confeccionadas
mes da embarcação e do proprietário, rem obtidos todos os dados referentes artesanalmente, com motores de eixos

MARINHA em Revista Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 31


acontece. Mas quando termina o perí-
odo estipulado, a Marinha não dispõe
nem de mão-de-obra e nem de material
Entrevista

para continuar a ação com a capilarida-


de necessária. Além disso, as distâncias
entre as cidade são enormes. Fizemos a
campanha em Santana. Um ribeirinho
que mora no norte de Marajó teria que
viajar horas, até dias, para chegar aqui.
Para que o combate ao escalpela-
mento deixe de ser pontual e passe a ser
um processo continuado, é necessário
contarmos com o apoio das prefeituras.
Assim, aumentaria nossa capilaridade.
Na Ilha de Marajó, por exemplo, são
19 prefeituras. Se cada uma delas mon-
tasse uma equipe, nós a adestraríamos.
Poderia até ser feito inicialmente um
mutirão e depois seguiria normalmen-
te, como qualquer outro serviço que o
Militares da Marinha adaptam cobertura do eixo propulsor
cidadão pode ter acesso.
O único problema que eu vejo em
deixar apenas a cargo das prefeituras
propulsores improvisados e descober- A minha jurisdição compreende os é quanto ao viés do cadastro. Quem
tos. E em uma fração de segundos, o Estados do Piauí, Maranhão, Pará e cuidaria do registro das embarcações?
passageiro deixa cair algo no fundo do Amapá. É importante esclarecer que Quem administraria o banco de da-
barco ou o próprio mestre pede para a maior incidência do escalpelamen- dos? Se pensarmos por este ângulo, a
ajudar a escoar água. No momento to é nos Estados do Pára e Amapá, na Marinha estaria sempre envolvida. Es-
em que a pessoa se abaixa, o cabe- região dos Estreitos, ao sul da Ilha de sas são questões para se pensar, mas de
lo enrola no motor e a tragédia está Marajó, região que liga o Rio Pará ao qualquer forma, já atacaríamos a parte
feita. É por isso que, na maioria das Rio Amazonas. mais importante do problema, que é
vezes, as vítimas são mulheres ou me- Por quê? proteger as embarcações e evitarmos
ninas. Porque é comum, nessa região, Vice-Almirante Rodrigo: Como as novos acidentes.
elas usarem cabelos longos. Temos re- distâncias são menores, as embarcações
gistro também de homens, aqui foram são mais improvisadas.
três. No caso dos homens, o órgão Quais são as perspectivas para a conti-
afetado foi a genitália. O short pren- nuação do combate ao escalpelamento?
deu no eixo. Nesse caso, não é mais Vice-Almirante Rodrigo: Em prin-
escalpelamento, como também não é cípio, o combate tem sido feito por
o acidente em que há esmagamento meio de campanhas. Não é um proces-
de ossos. Mas todos são brutais. so continuado. Fazemos um mutirão:
Qual é a incidência anual desse tipo capacitamos mão-de-obra de outras
de acidente? instituições, como agora para o Amapá,
Vice-Almirante Rodrigo: No ano trabalhamos com o Corpo de Bombei-
passado, registramos, na área de jurisdi- ros e o Batalhão de Polícia Ambiental,
ção do 4º Distrito Naval, 21 acidentes. marcamos a data e o local, e a campanha

32
Carreira Militar

Mulheres na Marinha:
uma presença marcante
Por Capitão-Tenente (T) Felipe Picco Paes Leme
e Primeiro-Tenente (RM2-T) Juliana Amaral
Fotos: Suboficial Tenório/Acervo

MARINHA em Revista Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 33


Lei nº 6.807, de 7 de julho de 1980,
o Corpo Auxiliar Feminino (CAF) da
Carreira Militar

Reserva da Marinha, para atuar na


área técnica e administrativa.
Assim, em abril de 1981, a Marinha
abriu, oficialmente, suas portas ao pri-
meiro contingente de mulheres. O in-
gresso foi realizado por meio de rigoroso
processo de seleção, no qual, das 10.035
candidatas, apenas 514 foram selecio-
nadas. O CAF era separado dos demais
Corpos e Quadros, em uma experiência
pioneira nas Forças Armadas brasileiras.

COMPETÊNCIA PROFISSIONAL
O CAF foi extinto em 1997 e
as militares foram integradas aos
Corpos e Quadros já existentes,
em igualdade de condições com os
homens. Elas passaram a participar
ativamente de diversas atividades da
A abertura da Marinha do Brasil à participação da
Marinha do Brasil. Em decorrência
mulher militar começou há 30 anos, com o ingresso do fluxo de carreira e da proficiência
do primeiro contingente. Inicialmente, atuaram em demonstrada nas distintas comis-
serviços técnicos e administrativos, mas, aos poucos, sões, as militares têm sido paulati-
foram conquistando espaço e se tornaram uma parcela namente, designadas para funções
e cargos mais elevados, inclusive os
relevante da força de trabalho.
de Direção de Organizações Mili-
tares. As Oficiais do Corpo de En-

A
presença feminina nas Forças de 1980. Na época, o Ministro da genheiros e do Quadro de Médicos
Armadas remonta à década de Marinha, o Almirante-de-Esquadra podem, inclusive, serem promovidas
1970, quando diversos países
começaram a admitir mulheres nas “Eu sou da primeira turma,
corporações militares. Essa tendência
e nós não encontramos
internacional ocorreu em um cenário
de racionalização do trabalho militar,
barreiras, mas incentivos,
quando se buscou o enxugamento dos porque nós fomos convidadas
quadros e a necessidade de emprego a entrar. A Marinha nos abriu
de pessoal qualificado. Naquele mo- as portas”.
mento, as atenções se voltaram para Capitão-de-Mar-e-Guerra
as mulheres que, a partir de meados (Md) Cláudia Regina Yago
da década de 1960, se escolarizavam e Rodrigues da Silva
escolhiam novas profissões, algumas,
até então, inimagináveis. Maximiano Eduardo da Silva Fonse-
No Brasil, a inserção de militares ca, Patrono das Mulheres Militares
Capitão-de-Mar-e-Guerra (Md) Cláudia
do sexo feminino ocorreu a partir da Marinha, criou, por intermédio da

34
ao posto de Oficial-General, con-
“Sou oriunda da quarta
correndo em iguais condições com
os homens.
turma de mulheres. Fui
A Capitão-de-Mar-e-Guerra (T) muito bem recebida
Aldner Peres de Oliveira, por exem- pelo efetivo masculino
plo, é a Diretora do Serviço de Seleção da turma. Nunca tive
do Pessoal da Marinha. Em relação
às dificuldades encontradas ao longo
problemas”.
Capitão-de-Mar-e-Guerra (T)
da carreira, ela afirma ter apenas boas
recordações. “Sou oriunda da quarta
Aldner Peres de Oliveira
turma de mulheres. Fui muito bem re-
cebida pelo efetivo masculino. Nunca compartilha da mesma opinião. “Eu
tive problemas. Esse convívio profis- sou da primeira turma, em que nós
sional com homens vem desde a época não encontramos barreiras, mas sim Capitão-de-Mar-e-Guerra (T) Aldner
de estudante. Sou da área tecnológica, incentivos. Uma vontade de dar cer-
engenheira de formação e técnica em to por parte da Alta Administração
da natureza da mulher. No fundo, é a
telecomunicações. Na realidade, nas Naval, principalmente porque nós
mulher que administra a casa. Então,
duas instituições em que estudei, nós, fomos convidadas a entrar. Não exis-
foi mais um fator a ser administrado,
mulheres, éramos um quantitativo tia nenhum movimento para se ter
foi mais um desafio a ser superado e
mínimo, não chegávamos a 5%. Mas mulheres nas Forças Armadas. A Ma-
a mulher mostrou mais uma vez que
acho que essa aceitação se deu mais rinha simplesmente abriu as portas”.
é capaz, tanto que não houve desis-
pela competência profissional que nós Em relação ao fato de ter que con-
tência. Houve, sim, uma aceitação por
tivemos e trouxemos para a Força”. ciliar a vida profissional com a par-
parte dos familiares. Eu casei depois
A Vice-Diretora de Ensino do ticular, a Capitão-de-Mar-e-Guerra
que entrei para a Marinha. Os meus
Hospital Naval Marcílio Dias, Ca- (Md) Cláudia afirma que também não
três filhos sempre me apoiaram muito
pitão-de-Mar-e-Guerra (Md) Cláu- houve dificuldades. “Ter que fazer vá-
na carreira. Quando eu tive meus três
dia Regina Yago Rodrigues da Silva, rias coisas ao mesmo tempo faz parte
filhos eu já estava na Marinha e, hoje,
eles já fazem faculdade”.
De acordo com as duas, o ingres-
so das mulheres nas Forças Armadas
MULHER, UMA PRESENÇA QUE HUMANIZA A MARINHA e, em particular na Marinha, veio
para humanizar as relações. Veio para
Essa característica foi destacada em organizadas, preservando sua peculiar unir o racional ao emocional, dando
uma mensagem alusiva à data, assina- gentileza o que, em muito, harmoni- o equilíbrio necessário, importantíssi-
da pelo próprio Comandante da Ma- zou e humanizou o nosso, por vezes, mos para o desenvolvimento de nos-
rinha, Almirante-de-Esquadra Julio rígido ambiente de trabalho. Exigen- sas atividades.
Soares de Moura Neto: tes e entusiastas, foram responsáveis Quando questionada sobre algum
“Durante esses 30 anos, as mari- por uma nova dimensão profissional, fato inusitado, a Capitão-de-Mar-e-
nheiras têm demonstrado sua firme- experimentada pelas diversas Organi- Guerra (T) Aldner destacou o seu
za, segurança e responsabilidade, sem zações Militares. Conquistaram, pois, embarque em um submarino. “Um
abrir mão da sensibilidade inerente com justiça, posições de prestígio tor- motivo de orgulho para mim foi o fato
à sua própria característica de ser; nando-se, de forma inequívoca, indis- de eu ter sido a primeira mulher a em-
têm sido meticulosas, dedicadas e pensáveis à nossa Instituição”. barcar em um submarino e ficar vários
dias a bordo, submersa, convivendo
naquele ambiente”

MARINHA em Revista Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 35


Ciência

Trindade:
onde o sol ilumina
primeiro o Brasil
Por Capitão-Tenente (T) Felipe Picco Paes Leme
Fotos: SECIRM/Acervo

A ilha possui uma extensão de 8,2 Km2 e é fortemente acidentada, com elevações que
atingem até 600 metros. Surgiu há 3 milhões de anos de uma zona de fraturas que
se estende desde a plataforma continental brasileira. Devido a sua origem vulcânica,
a presença de lavas, cinzas e areias vulcânicas pode ser constatada. Porém, a última
erupção ocorreu há aproximadamente 50 mil anos.

C
om o fim da construção, este do País, para quem navega pelo mar, criado no âmbito da Comissão Inter-
ano, da Estação Científica da Ilha vindo da África ou da Europa. ministerial para os Recursos do Mar
da Trindade (ECIT), a Marinha É nesse pedaço de terra inóspito que (CIRM), com o propósito de promover e
do Brasil estabelece um novo rumo às a Marinha do Brasil está presente des- gerenciar o desenvolvimento de pesqui-
atividades científicas desenvolvidas na de 1957, quando entrou em operação o sas na ilha, no Arquipélago de Martim
ilha, que se localiza a 1.148 km de Vi- Posto Oceanográfico da Ilha da Trinda- Vaz e na área marítima adjacente. Há al-
tória (ES) e 1.416 km do Rio de Janeiro de (POIT) e, desde então, sua continui- guns anos, a Marinha tem recebido uma
(RJ), na extremidade oriental da cadeia dade somente tem sido viável, em virtu- quantidade crescente de solicitações para
de montanhas submarinas Vitória- de do apoio da Marinha, por intermédio a realização de pesquisas em Trindade.
Trindade, elevando-se a 5.500 metros do Comando do 1º Distrito Naval. “O PROTRINDADE atende às
do fundo oceânico. A nova Estação Científica faz parte diretrizes da Política Nacional para os
Pela distância em que se encontra, do Programa de Pesquisas Científicas da Recursos do Mar, da Política de Defe-
é considerada como a porta de entrada Ilha da Trindade (PROTRINDADE), sa Nacional e da Política Nacional de

36
Meio Ambiente”, afirma o Capitão- Por sua localização, próxima às principais bacias
de-Mar-e-Guerra (RM1) Camilo de
Lellis Menezes Felippe de Souza, As-
petrolíferas e à região de maior desenvolvimento
sessor da SECIRM. “O programa é
econômico e concentração populacional do País,
para promover pesquisa diversificada, Trindade constitui-se em um posto avançado, vital
com referência a temas relevantes e para a defesa nacional.
para incentivar a formação de recursos
humanos com capacidade de conduzir IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA e concentração populacional do País,
investigação científica de qualidade nas A Ilha da Trindade é um bem da Trindade constitui-se em um posto
ilhas e adjacências”, complementa. União, conforme disposto no artigo 20, avançado, vital para a defesa nacional,
Além da Marinha do Brasil, parti- inciso IV, da Constituição Federal, entre- propiciando, ainda, a obtenção de da-
cipam do programa os Ministérios da gue à Marinha do Brasil pela Secretaria dos essenciais à previsão meteorológi-
Defesa, das Minas e Energia, da Ciên- do Patrimônio da União. A Convenção ca e à pesquisa científica.
cia e Tecnologia, do Meio Ambiente, das Nações Unidas sobre o Direito do
e da Pesca e Aquicultura; e o Con- Mar (CNUDM) dá ao Brasil o direito APARATO LOGÍSTICO
selho Nacional de Desenvolvimento de estabelecer, ao seu redor, Mar Terri- A Marinha do Brasil se faz presente
Científico e Tecnológico (CNPq). torial, Zona Contígua, Zona Econômica na ilha, hoje, por cerca de 30 militares,
Cabe ressaltar que, na ilha, já existem Exclusiva e Plataforma Continental. operando uma estação meteorológica
pesquisas em curso, como os projetos Por sua localização, próxima às de grande importância para previ-
TAMAR e o de reflorestamento, do principais bacias petrolíferas e à região sões feitas para a área de responsa-
Museu Nacional. de maior desenvolvimento econômico bilidade do Serviço Meteorológico

MARINHA em Revista Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 37


“A própria construção
da Estação já constitui
sua primeira experiência
Ciência

científica.”
Capitão-de-Mar-e-Guerra (RM1)
Camilo
ambientais e incorpora uma série de
conhecimentos acumulados nas ex-
periências anteriores, como venti-
lação natural e sistema fotovotaico
de energia (painel solar). “A própria
Marinho brasileiro. É a única ilha dias de viagem, foram necessários 126 construção da Estação já constitui sua
oceânica brasileira com água potá- deslocamentos aéreos entre o navio e a primeira experiência científica”, com-
vel e conta com geração de energia, terra, com duração de mais quatro dias. plementa o Comandante Camilo.
refeitório, frigorífica, telefone, tele- Isso mostra a complexidade logística A localização e as características
visão e acesso à internet. empregada na ocasião”, lembra o Ca- da ilha influenciaram, também, a es-
A cada dois meses são realizadas pitão-de-Mar-e-Guerra (T) Barbosa. colha do PVC como material para
viagens de reabastecimento, ocasião A concepção do projeto da ECIT construção, por ser mais eficiente
em que os militares selecionados em- foi feita por equipe da Universidade para obras em locais de difícil acesso.
barcam para servir por quatro meses, Federal do Espírito Santo, que possui É leve, fácil de transportar, resistente
sendo que, a cada viagem, há um re- larga experiência nesse tipo de cons- à corrosão, não conduz calor (e por
vezamento de metade da guarnição. trução em lugares inóspitos, onde a isso oferece excelente conforto tér-
“A seleção desse pessoal leva em conta a natureza dita as regras, como no Ar- mico) e não propaga chamas. De ma-
capacitação específica e a vocação para quipélago de São Pedro e São Paulo nutenção barata, com acabamento
a situação peculiar de longo afastamen- e na Antártica, locais onde a Marinha que dispensa pintura, é de manuseio
to da família. Por ser muito íngreme, também possui estações científicas. simples, permitindo fácil qualifica-
o preparo físico é fundamental”, afirma O projeto buscou soluções arqui- ção de mão-de-obra e grande veloci-
o Capitão-de-Mar-e-Guerra (T) José tetônicas para minimizar os impactos dade de construção
Marques Gomes Barbosa, do Coman-
do do 1º Distrito Naval.
Para a construção da ECIT, foram
superados diversos desafios, entre eles
a dificuldade de acesso à ilha, devido
à distância. Não há praias que facili-
tem o desembarque por superfície, em
função da existência de um anel de co-
rais. É necessário cuidado com a arre-
bentação e com a mudança repentina
do tempo, muito comum no local.
“100 toneladas de material foram
embarcadas no Navio de Desembar-
que de Carros de Combate ‘Mattoso
Maia’, em Vitória (ES). Após quatro

38
ÁFRICA

OCEANO ATLÂNTICO

Arquipélago de São Pedro e São Paulo


Fernando de Noronha
Atol das Rocas

BRASIL
Vitória 1.148km
Ilha da Trindade
Rio de Janeiro 1.416km

OCEANO PACÍFICO

OCEANO ATLÂNTICO OCEANO ÍNDICO

continente Antártico, entre 1839 e 1843, foi levada pelo Cruzador “Barroso”
A DISPUTA POR TRINDADE
visitou-a em companhia do botânico com a missão de impedir a sua utiliza-
A primeira notícia de um desem- inglês Dalton Hooker. Em 1876, rece- ção por navios inimigos, em operação
barque na ilha data de 1700, quando beu a visita de cientistas do navio inglês no Atlântico Sul. Ao término da guer-
o astrônomo inglês Edmund Hal- “Chalenger”, entre eles John Murray, ra, a ilha foi desguarnecida.
ley, julgando haver descoberto uma T.H. Moseley e M. A. Buchanam. Em 1941, durante a 2ª Guerra
nova ilha, dela tentou se apossar em Em 1882, passou a fazer parte Mundial, foi novamente guarnecida
nome da Inglaterra. A partir de en- do território brasileiro. Em 1895 e para impedir que submarinos do Eixo
tão, foi intermitentemente utilizada 1896, os ingleses a ocuparam mais a utilizassem como base de apoio e
como ponto de apoio marítimo por uma vez, com a justificativa de es- para assegurar a sua posse efetiva pelo
traficantes escravagistas e piratas in- tabelecer uma estação de cabo-sub- Brasil. Ao término da guerra, foi no-
gleses. Em 1756, lá teriam estado os marino que se estendia à Argentina. vamente desguarnecida.
portugueses que, mais tarde, viriam Esse ato foi energicamente rechaça- Em 29 de maio de 1957, foi cria-
a ocupá-la entre 1783 e 1795. Nesse do pelo Brasil, por via diplomática, e do, pelo Aviso nº 1420 do Ministro
segundo período, 150 homens da Ma- em 1897, com a ida do Navio-Escola da Marinha, o Posto Oceanográfico
rinha Portuguesa deixaram uma série “Benjamim Constant”, foi colocado da Ilha da Trindade (POIT). Sua ocu-
de benfeitorias, cujos restos até hoje um marco de soberania na ilha, com pação permanente foi aprovada em
são encontrados. os seguintes dizeres: “O direito ven- 1958, ficando o POIT subordinado à
Nos séculos XVIII e XIX, foi visi- ce a força”. Diretoria de Hidrografia e Navega-
tada por navegadores, exploradores e Em 1916, foi ocupada pela primei- ção (DHN). Em 1986, por decisão do
naturalistas. Lá esteve James Cook em ra vez por brasileiros, em virtude da 1ª Ministro da Marinha, o POIT passou
1775, dois anos antes de sua morte. Sir Guerra Mundial. Cada guarnição per- à subordinação do Comando do 1º
Clark Ross, quando em sua viagem ao manecia seis meses na ilha. A inicial Distrito Naval.

MARINHA em Revista Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 39


Sinfonias de
uma Banda Militar
Cultura

Bandas de Música do Corpo de Fuzileiros Navais encantam pela


performance marcial, beleza dos uniformes e primoroso som
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Juliana Amaral
Fotos: Segundo-Sargento Alexander/Acervo

Certa feita, disse Napoleão Bonaparte: “Coloque uma banda na rua e o povo a seguirá,
para a festa ou para a guerra”. Tão certo estava o Imperador francês que, desde o
ano de 1808, quando da chegada da Família Real e da Corte portuguesa ao Brasil,
Bandas de Música e Marcial da Brigada da Marinha executam músicas vibrantes com
trajes vistosos, arrastando sempre um imenso público. Foi assim o início da brilhante
trajetória das Bandas de Música do Corpo de Fuzileiros Navais.

S
egundo o Dicionário de Música ainda, o uso de instrumentos elétricos realizar o curso de formação no Cen-
(Zahar Editores – 1985), banda e eletrônicos como guitarra, contra- tro de Instrução Almirante Sylvio de
de música é um “conjunto de baixo elétrico e teclado. Tais equipa- Camargo, Organização Militar da
instrumentos de sopro e percussão mentos são usados, principalmente, Marinha do Brasil localizada na cida-
associado, originalmente, à música em concertos mais elaborados, pro- de do Rio de Janeiro.
militar”. Uma banda militar é for- duzidos nas praças públicas, coretos,
mada por flautim, flauta, clarinete, escolas, teatros e igrejas. UM SONHO QUE SE TORNOU REAL
saxofone, trompete, trombone, tuba, A Banda Sinfônica do Corpo de Desde a infância, o pequeno Sa-
bombardino, sousafone e percussão, Fuzileiros Navais é composta por 90 muel já gostava de cantar. Numa
possuindo sempre um regente à fren- músicos militares dos sexos masculino noite de sábado, assistindo a um con-
te. Também podem ser acrescidos ins- e feminino, nas graduações de Subo- certo da Banda Sinfônica dos Fuzi-
trumentos de orquestras como oboé, ficial e Sargento. Presta-se concurso leiros Navais pela televisão, declarou
fagote, trompa, violoncelo e har- para a carreira militar de músico do convicto: “um dia farei parte dessa
pa. Nos dias atuais, popularizou-se, Corpo de Fuzileiros Navais, a fim de banda e serei um grande cantor”.

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“Um dia farei parte dessa banda e serei um grande
cantor”. A “profecia” virou realidade e, hoje, o Sargento
Samuel Alves é o principal tenor solista da Banda
Sinfônica dos Fuzileiros Navais.

fui aprovado”, recordou o Sargento, de figurino feminino diferenciado.


emocionado, que confessou ter sido “Numa viagem do nosso Almirante
essa a maior satisfação de sua vida. aos Estados Unidos da América, ele
Um fato marcante em sua carrei- assistiu a um concerto da Banda dos
ra aconteceu em 2001, durante uma Fuzileiros Navais norte-americanos e
apresentação na Praia de Copaca- notou que as mulheres se vestiam de
bana. Na época, a atriz Vera Fisher forma mais feminina”, contou Patrí-
protagonizava uma telenovela, em cia. Segundo ela, a partir daquele pon-
cuja trilha sonora constava a música to, várias mudanças foram feitas: uma
“Luna”. “Quando eu estava no pal- estilista foi chamada para criar um
co executando a tão famosa canção, novo modelo de uniforme feminino;
a Vera Fisher entrou no palco e me
abraçou. Então, passei a cantar para
ela”, recorda-se Samuel. “Foi sur-
preendente! O público foi ao delí-
rio! Jamais esquecerei! Foi um con-
certo espetacular!”.
A “profecia” virou realidade e, hoje, o
Sargento Samuel Alves é, nada mais A PRIMEIRA CANTORA
nada menos, que o principal tenor so- Foi em 2001 que aconteceu o pri-
lista da Banda Sinfônica. meiro concurso para musicista da
Samuel descreve as principais fases Banda Sinfônica dos Fuzileiros Na-
de sua trajetória. “Prestei o concur- vais. No ano seguinte, a então clarine-
so para Soldado Fuzileiro Naval no tista Patrícia Monção prestou concur-
ano de 1993, em Brasília. Na época, so para ingressar como instrumentista
cursava o ensino médio e, após con- da banda, onde tocou por três anos.
cluí-lo, fiz as provas de graduação na “Surgiu uma vaga para soprano femi-
carreira militar, escolhendo a espe- nino. Meus colegas me estimularam, Solista Sargento Patrícia
cialidade ‘cornetas e tambores’, como eu tentei e passei”, alegra-se Patrícia
forma de alcançar meu maior objeti- ao se lembrar, revelando, ainda, que a os cabelos até a altura dos ombros pu-
vo”, lembra-se o tenor. Primeiramen- partir daquele momento, a Força pas- deram ser usados soltos; foi liberado o
te, Samuel foi incorporado à Banda sou a custear estudos de canto. “A Ma- rabo de cavalo; além do uso do sapato
Marcial. Porém, nunca abandonou os rinha do Brasil foi a única instituição modelo scarpin com bico fino e salto
estudos de canto praticados desde a militar brasileira a abrir vagas para o bem alto. “Passei a me sentir muito
adolescência como estímulo constan- quadro de cantores”. mais bonita e feminina com o novo
te ao seu sonho. Não demorou mui- E o aprimoramento dos instru- traje”, confessa a cantora.
to para a grande oportunidade apa- mentistas não fica apenas no âmbito Dentre as principais apresenta-
recer. “Surgiu uma vaga para solista musical. Foi contratada uma estilis- ções realizadas pela Banda Sinfôni-
da Banda Sinfônica. Eu fiz o teste e ta profissional para criar um modelo ca, destacam-se as participações no

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5º Festival Internacional de Bandas Durante a Copa do Mundo na África do Sul, a Banda
Militares, realizado em 1996, na ci-
dade de Modena - Itália, quando foi
Marcial desfilou na Avenida Atlântica, em Copacabana,
premiada como a melhor Banda do próximo à arena FIFA FAN FEST 2010.
Cultura

Festival; no concerto de inaugura-


na abertura do desfile de 14 de julho Atlântica, em Copacabana, próximo à
ção do Teatro Tom Jobim, em As-
de 2009 em Paris – Ano do Brasil na arena FIFA FAN FEST 2010.
sunção - Paraguai, no ano de 1996;
França. No dia 20 de junho, durante O Maestro titular do grupo, Subo-
e o concerto no 1º Festival Interna-
a Copa do Mundo na África do Sul, ficial Cesário José Barbosa Neto, con-
cional da Cultura das Três Frontei-
a Banda Marcial desfilou na Avenida tou que, em 2007, o grupo conheceu
ras (Argentina, Brasil e Paraguai),
em 2004, na cidade de Puerto Igua-
zú - Argentina.

BANDA MARCIAL
A música marcial é a inspiração de
todas as bandas militares. Os compas-
sos de uma banda marcial constituem
sons envolventes, que podem fazer as
massas vibrarem. A Banda Marcial do
Corpo de Fuzileiros Navais mantém
a tradição dos desfiles e apresenta-
ções públicas, ocasiões em que 130
militares realizam criativas evoluções.
Compõe-se de bombos, taróis, cai-
xas de guerra, surdos, pratos, pífaros
e cornetas. Mas são as gaitas de fole
escocesas as grandes estrelas.
Ao longo dos anos, a Banda Marcial Apresentação da Banda Marcial em Copacabana
vem divulgando a Marinha do Brasil e
o Corpo de Fuzileiros Navais, não só o renomado gaiteiro espanhol Carlos enorme. Saímos nos principais jor-
no território brasileiro, como também Nunes, campeão mundial de solo de nais da cidade”, destacou.
no exterior. Tem despertado o interes- gaita de fole. “Ele nos convidou para
se pela formação de fanfarras escolares participar da gravação de seu DVD, SERVIÇOS
para as quais serve de modelo, ajudan- na cidade de Lorena, na França. Foi Além da Banda Marcial e da Banda
do a manter uma tradição histórica, uma experiência incrível”, recordou. Sinfônica, o Corpo de Fuzileiros Na-
principalmente do interior. A banda Além da gravação, na mesma ocasião, vais possui, também, o Conjunto Mu-
tem seu aquartelamento estabeleci- a Banda Marcial tocou no Festival de sical Fuzibossa. O conjunto possui um
do na histórica Fortaleza de São José, Gaitas de fole de Lorena, ao lado de repertório de músicas popularmente
construída em 1736, na Ilha das Co- 74 bandas e 48 grupos folclóricos. O consagradas, destacando-se sobretudo
bras, localizada na Baía da Guanabara, evento durou uma semana e reuniu a música brasileira.
no Rio de Janeiro. cerca de 700 mil pessoas. “Tínha- Mais informações sobre as apresen-
A Banda Marcial apresentou-se mos, inicialmente, três apresenta- tações musicais das Bandas Sinfônica,
na cerimônia de coroação da Rainha ções agendadas. Lá, outros convites Marcial e Fuzibossa e sobre o ingresso no
Elizabeth II, da Inglaterra, nas come- surgiram e fizemos um total de 14 Corpo de Fuzileiros Navais podem ser
morações “cabralinas”, em Portugal, e apresentações. A receptividade foi obtidas no site www.cgcfn.mar.mil.br

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Gente

Gente de Bordo
de Bordo
O Suboficial (DT) Pedro Zomar Qual foi a comissão (viagem) que
Ferreira da Silva foi agraciado, no ano mais o marcou e por quê?
passado, durante o aniversário do Co- Foi na chegada ao Rio da Janei-
mando-em-Chefe da Esquadra, como a ro, após a Viagem de Instrução de
Praça da ativa com o maior número de Guardas-Marinha de 2002, depois
dias de mar: 1653, ao todo. Consideran- de uma longa viagem. Foi uma emo-
do-se que um ano tem 365 dias, pode-se ção diferente ver o navio se apro- Suboficial Zomar
dizer que ele permaneceu, efetivamente, ximando do cais e os familiares da
no mar, cerca de 4 anos e meio. tripulação erguendo faixas dando as profissão que exige do militar muito
Com passagens pelo Navio-Aeró- boas-vindas aos seus entes queridos. tempo embarcado.
dromo Ligeiro “Minas Gerais”, Navio- Confesso que chorei quando vi mi- Qual a diferença entre o “Marinhei-
Escola “Custódio de Mello”, Fragata nha família. ro Zomar” e o “Suboficial Zomar”?
“Liberal”, Navio-Escola “Brasil”, entre Como é ficar longe da família por São muitos anos de carreira que se-
outros, o Suboficial Zomar serve, atual- tanto tempo? param o Marinheiro do Suboficial Zo-
mente, na Namíbia, na África, desde o dia Não é fácil conviver com a distân- mar, com uma bagagem muito gran-
2 de abril de 2010, como componente da cia da família, mas nós nos adapta- de e acúmulo de experiências. Com o
Missão de Assessoria Naval na Namíbia. mos. Faz parte da vida do marinheiro. tempo, as responsabiliddaes aumenta-
Em 1994, as Marinhas do Brasil Além disso, o navio sempre procura ram. Outra coisa importante é o fato
e da Namíbia iniciaram uma coope- proporcionar algo em termos de la- de eu ser, em qualquer Organização
ração, com parcerias na formação de zer para que possamos trabalhar com Militar que sirva, um exemplo para os
pessoal e construção naval. tranquilidade, mesmo na ausência da mais novos.
O que o motivou a entrar na Marinha? família. E quando o navio atraca em Ainda sente uma sensação diferen-
A Escola de Aprendizes-Marinhei- um porto, a primeira preocupação é te quando o navio suspende?
ros de Pernambuco distribuiu cartazes, entrar em contato com a família, seja Apesar de todos esses dias de mar,
em 1979, nos colégios da rede pública por telefone ou pela internet. ainda sinto sim ... cada suspender é
em Pernambuco, a respeito do concur- Sua especialidade é Direção de Tiro uma emoção diferente, já sabendo que
so para ingresso na Marinha do Brasil (DT). Fale um pouco das responsabi- será uma nova história que será escrita
como Aprendiz-Marinheiro. Nosso lidades e dificuldades de sua profissão. em minha vida.
professor de física era Major do Exér- A minha profissão exige mui- Qual mensagem você deixa para
cito e me incentivou a fazer a inscrição. ta dedicação, muito conhecimen- os jovens marinheiros que ingressam
Estudei e deu tudo certo. to técnico e muita precisão. Como na Marinha?
O que representa para você atingir nós trabalhamos praticamente com Não desistam dos seus sonhos e
essa marca de dias de mar? sistema de armas, não podemos co- estudem sempre, pois quando me-
Posso dizer que atingi o ápice da meter erros nos alinhamentos que nos se espera, as oportunidades apa-
maturidade profissional, com muita fazemos, pois qualquer erro pode recem. Então, vocês têm que estar
dedicação e entusiasmo. causar um acidente fatal. E é uma sempre preparados

MARINHA em Revista Ano 01 • Número 02 • Agosto 2010 43


O Garoto Curioso
Curiosidades Navais

Por Vice-Almirante Armando de Senna Bittencourt

Parecia o grito de uma ave marinha que que lá estavam haviam morrido e que o
ele nunca havia escutado, anteriormente, cruzador afundava rapidamente. Sobre-
em sua vida. Sua curiosidade o levou a viveram os que estavam em locais abri-
levantar e olhar para o mar. Para sua sur- gados, como ele, e foi preciso procurar
presa, viu uma balsa com uma pessoa que depressa uma balsa para, com outros,
agitava uma peça de roupa e gritava algo se afastar do local, para não ser sugado
muito estranho para ele: “Socorro!”, que pela água que entrava no casco. Acre-
na língua inglesa não tem significação al- dita-se que a explosão foi causada por
Ray Highams tinha 17 anos e era guma. Eram náufragos! um tiro do próprio navio, em um exer-
o segundo ajudante do cozinheiro do Com o vigor típico da juventude, cício com metralhadora antiaérea que,
Navio Mercante britânico S. S. “Balfe”, Ray correu escadas acima, até o passa- por acidente, atingiu uma das cargas de
um velho cargueiro ainda a carvão. O diço do “Balfe”, para alertar o pessoal profundidade antissubmarino que esta-
navio partira de Cardiff (País de Ga- de serviço. Logo o navio manobrou vam estocadas na popa.
les), em junho de 1945, com destino a para se aproximar da balsa. Arriaram Não houve tempo para usar o rádio e
Salvador, no Brasil, com uma carga de uma rede no costado e alguns dos tri- transmitir o sinal de socorro e, ainda em
cimento. Depois, escalaria em outros pulantes desceram por ela para içar os procedimento de guerra - que não se es-
portos da América do Sul. três homens que estavam deitados na perava mensagens do cruzador para não
A Segunda Guerra Mundial ter- balsa, enfraquecidos pela falta de água, revelar sua posição -, a Marinha do Brasil
minara na Europa em maio de 1945 de comida e por queimaduras causadas desconhecia o naufrágio, agravando-se
e corria-se o risco de ainda encon- por águas vivas e exposição ao sol. Ha- assim a tragédia. Dos 372 tripulantes,
trar submarinos alemães no Oceano via tubarões próximos, que foram afu- cerca de 100 foram fulminados pelo efei-
Atlântico, principalmente aqueles que gentados com tiros de fuzil. to da explosão e os outros embarcaram
não haviam se rendido e procuravam Os náufragos falavam português em balsas sem cobertura, onde ficaram
alcançar um porto da Argentina, que e eram da tripulação do Cruzador precariamente à mercê do oceano. Mui-
ficara neutra no conflito. “Bahia”, da Marinha do Brasil, que tos estavam feridos, havia falta de água
No dia 8 de junho, Ray Highams afundara quatro dias antes. Por sinais, potável e comida. A maioria não resistiu.
acordou cedo para iniciar sua tarefa ma- conseguiram comunicar aos tripulantes Foi a curiosidade de um garoto in-
tinal de descascar batatas. Amanhecera do “Balfe” que havia mais pessoas no glês, por aves marinhas, que possibili-
um lindo dia tropical e o mar estava cal- mar. Imediatamente, o navio mercante tou o salvamento de alguns marinheiros
mo. Era uma boa oportunidade para ele iniciou uma busca e logrou recolher um brasileiros que, por pouco, também esta-
aproveitar o ar livre e a claridade do con- total de 36 náufragos, contando os da riam perdidos. Em 1997, o Sr. Highams
vés. Sentou-se, então, na soleira da porta primeira balsa, alguns tão fracos que fa- recebeu, em Londres, a Medalha Mérito
da cozinha e iniciou seu trabalho. leceram pouco tempo depois. Entre os Tamandaré, com o reconhecimento da
Os ruídos de bordo eram os rotinei- que sobreviveram, havia um único Ofi- Marinha do Brasil pelo que fizera.
ros, aos quais os marinheiros logo se cial, o Tenente Lúcio Torres Dias (viria Fui apresentado a ele no início de
acostumam e, depois de alguns dias de a ser Almirante), que falava inglês e, as- 2002, no Rio de Janeiro, pelo sobre-
viagem, até acordam quando eles cessam sim, pode relatar o que havia ocorrido. vivente Almirante Lúcio Torres Dias,
no meio da noite. Apesar de absorto no Ele estava de serviço na máquina do quando veio ao Brasil, convidado pelo
que fazia, Ray percebeu um som destoan- “Bahia”, quando o navio foi sacudido Clube Naval. Cinqüenta e seis anos
te do usual, quase imperceptível, caden- por uma fortíssima explosão. Ao che- haviam se passado, após o naufrágio do
ciado, que parecia vir de fora do navio. gar ao convés, constatou que todos os Cruzador “Bahia”

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Centro de Comunicação Social da Marinha
www.mar.mil.br

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