Sunteți pe pagina 1din 12
6, Comissdes ¢ sindicatos na greve de 1953, 7, Concly 4 Automéveis 100% naci desenvolvimentista no além- 1, Introducao. 2. Feito abaixo do ador. 4, Capi 5, Vargas & Kubitshek. 6, Entre Cuba e 0 american way of life 5*Centenas de estopins acesos ao mesme 400 mil, piquetes e a organizacio dos lo (1957) ~ Paulo Fontes, jaclores em S30 4, Introducio. Ei 2, Dez dias que abalaram Sao Paulo, 3, “China de simpatia ¢ compreensao 4, Piquetes e 2 organizacto dos trabalhadores, 6 Pensar a América Lati John D. French ~ Alexandre Fortes, Antonio 1. Negro, ‘Paulo Fontes po” ~a greve dos 145, 47 49 158 162 al REVENDO A LEGALIZACAO DOS SINDICATOS: METALURGICOS DE PorTO ALEGRE 1931-1945)" de mewtado do autor ialitlada Busconde nanos telton, Traba adores organizapto sintial ad Porto alegre de 1933 21957 (Camp nas, en — Unkamp, 1990), Una verso sinitica fet apresentads na Brasilan Sadies Asocaton Conference (Cambri, Inglett, setembro de 1956) © publcads em Cadcinos Poo © Wiguis Por alee, Secre tara Municipal de Cait, 1, 198, Agradecemoy ans enegss Remand ‘Teta da Siva e Antonio Luigi Negro, assim como to proeoeor that N, Hull e's Helona Weiss Gongalves ela eitura de uaa versio. pol finat pelos valosos coments, Alexandre Fortes 1. Introdugao A partir das greves de 1978, 0 surgimento do “novo sindi- calismo” contribuiu para uma mudanea na leitura historiografica so- bre a implantagao da estrutura sindical oficial no Brasil. Até entio, 1 visto predominante sobre aquele processo o explicava pela pas- sagem de um operariado imigrante, qualificado e semi-artesanal para outro ofiundo da migracéo rural nacional, passivo em relacio a ex- ploragio e carente de uma cultura politica de esquerda. O *sindica- to burocritico de massas” teria sido um instrumento usado pelo Es: ado para *por em consecucao um conjunto de leis ¢ de medidas de protegio ao trabalho" e criar as “condicées para a expansao in- dustrial e para a modernizagao da sociedade”.* Criticando esta visio de um Estado demitirgico, a historiografia do final da década de 70 e inicio da de 86 enfatizou a importéncia do resgate da autonamia operaria, Focalizando os processos de re- sisténcia 4 exploracao e de luta espontinea contraposta as orienta goes de partidos e sindicatos.* No que diz respeito ao sindicalismo corporativista, este deixava de ser entendido apenas como uma im- posi¢ao do Estado a0 movimento operirio, passando a ser também. encarado como 0 resultado de contradigdes internas desse movimei to, como aquelas entre base ¢ direc. A consotidacio da hegemonia comunista no sindicalismo brasileiro entre meados dos anos 20 ¢ os primeiros anos da década de 30 passatia a ser considerada decisiva nha explicaca0 do sucesso do projeto corporativista.” Para Munakata, os comunistas teriam procedico & centralizagao nos sindicatos ¢, 20 adotarem mecanismos de controle das federa- gdes sobre cles, teriam aberto caminho para a despolitizacdo dos problemas da organizacao opera, transformando-os em prerroga- liva de técnicos € especialistas e afastando os trabalhadores da ela- boracao de alternativas para o seu enftentamento.* De Decca, por sua vez, identificou uma institucionalizaglo da representacao park 7h mentar operéria na atuagio do Bloco Operdirio Camponts, articula- do pelo PCB em 1928, que teria sido decisiva para a construgio das bases sobre as quais se ergueria 0 corporativismo estatal.* Paoli, por outro lado, resgatava os elementos de continuidade das “pequenas hutas" no interior das fabricas entre a década de 20 € 0 p6s-30, gerando um discurso auténomo de interpretagao da con. digto proletaria, cujo desenvolvimento seria cortado pelo Estado Novo. Quando este discurso voltava a emergir publicamente nas gre- ves dle 1945, ele entraria em choque com a orientacio do PCB no. sentido de que os trabalhadores “apertassem 08 cintos”. Esta con- tradicao entre 0 modo como a esquerda concebia seu projeto poli ico € a experiencia operdria seria derivada do afastamento dos co- munistas do cotidiano fabri." Estes estudos contribuiram para romper com a idéia da passi- vidade operiria no p6s-30. Porém, chega-se a um paradox, Mui- (os deles apresentam o focus central do exercicio da dominacao ca- pitalista (a farica) como espaco de desenvolvimento da autono- mia operdria, Mas também alimentam a idéia de que 0 espaco institucional do sindicato oficial ¢ da organizaco partidiria seria re- fratério 4 aco aut6noma dos trabalhadores. Paralelamente, era ques- tionada a idéia do Estado como sujeito Gnico, capaz de impor 0 corporativismo ao movimento operirio, Tal papel, entretanio, vol- lava a ser exercido pelo partido politico A medida que a década de 80 caminhava para o seu final, a situagao vivenciada no interior do movimento sindical passava a co- locar em questdo as teses que estabeleciam uma associacao exces- sivamente estreita entre projetos politicos e caracteristicas organi- zacionais dos sindicatos. De um lado, consolidava-se a hegemonia das correntes sindicais que pretendiam operar uma ruptura radical com 0 modelo corporativista, De outro, a transformagio da estrutu- ra sindical esbarrava tanto nos habitos e concepedes sedimentados ras rotinas internas como nas expectativas e demandas dirigidas pelas prOprias categorias profissionais as suas entidades, A politica sindical passava, cada vez mais, a ecoar as lutas de base, abandonando o colaboracionismo e assumindo a defesa dos interesses de classe dos trabalhadores. Porém, persistia entre estes uma compreensao sobre 0 papel e a natureza do sindicato que cor- roborava muitas das caracteristicas institucionais consagradas na Con- solidacao das Leis Trabalhistas (CLT): unicidade, fornecimento de assisténcia, sustentagao por meio do imposto sindical etc, Estas, 22 contradigdes, verificadas na implementagao de um projeto que se autodefinia como de superacao da estrutura sindical oficial, traziam 1 tona os limites das abordagens historiograficas sobre o processo de implantagao daquela estrutura, A medida que bases mobilizadas diregdes combativas nao representavam condicdes suficientes para 4 sua superagio, dificil seria sustentar que sua génese se devera apenas i imposi¢ao de um poderoso agente heterénomo, fosse ele Estado ou partido politico. Cabia, portanto, reexaminar este proces so hist6rico em uma nova perspectiva, com énfase na relacao en- tre a formulacdo de demandas sociais pelos trabalhadores € seu im- pacto na definicao da pritica sindical. ‘Analisando 0 sindicalismo das décadas de 30 ¢ 40, pudemos identificar quatro éreas de atuaclo, cuja articulacio definia 0 cara~ ter institucional do sindicato: reivindicacto, beneticencia, “colocagao" no mercado de trabalho e identidade coletiva. O primeiro aspecto estd ligado a luta em torno do resgate, criacao, implementagao € generalizacao de direitos, como forma de exercicio € alargamento dos limites da cidadania operiria. No segundo, situamos os meca- nismos coletivos de amparo frente a doenca, & velhice, ao desem- prego ¢ a propria morte, O terceiro liga-se as virias formas de in~ lervengao coletiva dos trabalhadores no mercado de trabalho, que oscilam em Porto Alegre desde 0 controle total (como o closed shop dos estivadores) até uma bolsa de colocagdo reconhecida apenas por parcela do empresariado (como no caso dos metalirgicos). O {timo aspecto vincula-se ao desenvolvimento de valores e princi- pios que articulavam 0 préprie modo como os trabalhadores se autodefiniam enquanto grupo social, em sua relagdo com 0 restan- te da sociedade (como por exemplo: unidade, classismo e busca de “intelectualizagao do protetariado”).? Estes diferentes componentes se combinavam de modo dina mico a partir da constante reelaboracao da tradi¢ao de lutas opera- rias, assim como da relagio com o empresariado € o Estado. O pro- duto dessa combinagio era também objeto de disputa entre as cor- rentes politicas atuantes no movimento. Desta interacao entre dife- rentes fatores resultava a construgao de um imagindrio politico so- bre o sindicato que, mais do que qualquer determinagao estrutural ‘ow normativa, definia concretamente os contomnos € 0 ambito de atuagio dessa instituigao. ‘Concebemos, portanto, uma relacio dle mio dupla entre proje- tos politicos e movimento, Tanto a ascensio cos comunistas influenciou. 23 nas politicas adotadas pelas entidades como a pritica sindical efe~ tiva dos dirigentes operérios comunistas era em grande medida con- dicionada pelos problemas ¢ desafios colocados para 0 conjunto do sindicalismo. 0 Rio Grande do Sul foi aparentemente o alti- mo reduto da hegemonia anarquista no sindicalismo brasileiro em fins da década de 20, e 0 PCB perpassou o inicios dos anos 30 organizando sua base sindical, até ser atingido pelos efeitos da repressa0 A ascensio comunista no sindlicalismo gaticho ocorreu quando a expectativa de mudancas gerada pela Revolucio de 30 ¢ sua le- xzislacdo social dava lugar ao ceticismo sobre o empenho do Estado na implementacao do acesso 20s direitos, Coube A agio sindical ins- taurar o conflito no interior da *harmonia social” que teria sido pretensamente assegurada pela “legislacao social mais avancada do mundo", A greve dos padeiros de Porto Alegre, entre dezembro de 1933 € janeiro de 1934, foi um ponto de inflexdo marcante na relacio entre movimento operirio © Estado no Rio Grande do Sul. ApOs aguardarem por dois anos a efetivacdo do trabalho diurno e do re- pouso semanal remunerado, os padeiros realizaram a primeira pa- ralisagdo em defesa da legislagao trabalhista no estado, denuncian- do a conivéncia entre a Inspetoria Regional do Trabalho e os pa- tres no seu descumprimento. Acabaram por conquistar um acordo que contemplava parcialmente suas reivindicagdes, embora em mo- mentos de frustraclo em meio a0 movimento, sua diretoria tivesse chegado a optar pela reniincia coletiva. A negociagdo que pos fim 4 greve incluiv ainda a entrega, pelo proprio ministro do Trabalho, da carta de reconhecimento sindical A Federagio Operiria do Rio Grande do Sul (no momento jf controlada por uma maioria comu- nista). O Estado sancionava, embora involuntariamente, a necessi- dade da agao sindical auténoma como condi¢ao para a efetivagao da legislagao* Embora sem grande peso numérico no periodo, os metalirgicos Usaram sua longa experiéncia de lutas e organizagao para assumir ‘um papel destacado na tadicalizacio das lutas que se seguiriam. Fun- dada em 1905, a Unido dos Metaltirgicos desempenhou importante Papel na greve geral de 1906, levando seu dirigente, Adolpho Brandt, a acumular a presidencia da entidade com a da recém-fun- dada Federacao Operiria do Rio Grande do Sul (Forgs). Apés 1910, a Unido Metalirgica passou da hegemonia socialista para a anarquista, 24 realizando em 1911 uma greve vitoriosa contra os frequientes atra- s0$ nos pagamentos no Estaleiro Mabilde. A mesma empresa se des. tacou novamente na greve geral de 1917, em 1919 a categoria sus- tentaria a mais longa paralisacao até ent2o registrada no estado (de 13 de julho a 18 de agosto), ao fim da qual foi conquistada a jornada de oito horas? Foram os herdeiros deste pasado, alguns deles com muitos anos de militincia, que em 4 de janeiro de 1931 convocaram a assembléia de fundagio do Sindicato dos Operirios MetalGrgicos de Porto Alegre, reconhecido pelo Ministério do Trabalho, Indas- tria e Comércio em marco do mesmo ano. Nessa entidade, em meados da década de 30, os comunistas estabeleceram seu prin- cipal reduto no sindicalismo gaticho. Nao era 0 caso de esta cor- rente ter uma maioria estivel entre os membros das diversas d regdes da entidade no petiodo. Possuia, porém, grande influéncia derivada tanto da sua insercao orginica na categoria profissional ‘como cla capacidade propositiva no interior do sindlicato, lideran- do, inclusive, a resistencia aos processos de intervencao do Esta- do no seu funcionamento. (© peso dos comunistas na organizacio sindical dos metalGrgicos era tamanho que, quando as figuras publicamente relacionadas a0 partido foram afastadas, entre 1935 € 1937, 08 interventores no- meados pela Inspetoria Regional do Trabalho revelaram-se inicial- ‘mente incapazes de conduzir os trabalhos da entidade."°A estrutura partidaria de base vinculava-se também estreitamente a cultura organizativa mais geral da categoria, Foram as células comunistas que deram continuidade a organizagao clandestina nas fabricas du- rante 0 Estado Novo, possibilitando que as caracteristicas centrais da pratica militante da entidade viessem a ser retomadas rapida- mente a partir da greve de 1945."" ‘A anilise detalhada do funcionamento desta organizacio sindi- cal sob hegemonia comunista revela matizes até hoje pouco anali- sados do proceso de construglo da estrutura sindical oficial 2. Organizagito de base e construgao institucional ‘Thompson demonstra como o desenvolvimento de multiplas experiéncias organizativas perpassa o proprio surgimento Ua classe trabalhadora como sujeito coletivo ao transformar a unidade poten- 25 dos setores populares em forga politica efetiva.""Entretanto, no raras vezes a pritica das organizacbes operisias voliou-se contra suas origens, tornando-se 0 oposto das transformagdes sociais que essas pretendiam conquistar. De mecanismos para a efetivacao da part: ‘-social aberta a “um timer ilimitado de membros’, * m-se em exemplos de autoritarismo e burocracia, De instrumentos de defesa dos interesses de classe, tornaram-se amar- 12s, impedindo 0 franco desenvolvimento de lutas ¢ movimentos." Esta tensdo que percorre a histéria do movimento operario apresenta um sério complicador quando a ela se actesce a inter- vengao estatal, como no caso do Brasil p6s-30, Entretanto, os ins- trumentos para o controle ea tutela das entidades sindicais foram sen- do construfdos gradativamente, 0 que rel idéia de um corte abrupto com a tradicio de organizagio auténoma ant. Posto sindical, por exemplo, que representou um p: para desvincular a sustentacao das entidades da ad dos trabalhadores, foj adotado apenas em 1941. Foi somente no Es- tado Novo, ta de classes. Do mesmo modo, ndo se encontrava inicialmente reg) Jamentado o controle do ministéxio sobre 0s processos eleitorais nos sindicatos."*Por ia num primeiro momenta a proibicao de politizacao das | sistas 42,08 Principals elementos da forma de organizagio do trabalho, a ampla sindicalizacao, a organizacao no local de traba- tho, a nto-prol sia das ent portantes ¢ \ed0 entre organizacdes sindicais e li= has politicas (anarquista, comunista ou ministerialista) deve ser m correntes hegeménicas em uma ou ou tra entidade, uma das caracteristicas do sindicalismo, ao menos partir da década de 20, era a convivencia de diferentes tendénci as dentro de uma mesma organizacio, sob a bandeira da unidade operaria, muitas vezes erroneamente reduzida a um lema titico dos comunistas 26 No Sindicato dos Metalirgicos de Porto Alegre no p6s-30, os imentos organizativos constitufram-se em campo de disputa manente entre concepcdes sindicais antagOnicas, embora estas yamente tadas, Grande parte do debate interno se dava em torne de pro- \$ para os quais comunistas € getul representavam desafios centrais para que, em uma \dicato conseguisse se consolidar. Mesmo em uma canjuntura de radicalizagao politica ¢ social, Jagio do orte presenga na pauta da entidade. Nao se poderia ex modo, por exemplo, o fato de que dirigentes ‘comunistas se dedicassem na maior parte das suas intervengdes em assembléias a discutir problemas como a suspensio do pagamento da j6ia (taxa de ingresso), as mensalidad ou 0 regimento da caixa de beneficéncia, no mesmo perfodo em que se desenrola- va o levante da Alianca Nacional Libertadora (ANL). Portanto, 0 pr6= prio significado dos momentos mais agudos de conflito com 0 empresariado ¢ 0 Estado, como a greve de 1935, dificilmente pode- ria ser apteendido sem uma anélise de como estes epis6dios se in- amplo de construgo da organizacio sindical incia- seriam no processo m: Muitas t@m sido as andlises que apontam para um d mento dos sindicatos oficiais e dos comunistas em relacdo aos pro- cessos de luta e organizacao no ambito fabi a orga- nizagdo no local de trabalho ocupava lugar privilegiado na atuagao sindical dos metaltirgicos de Porto Alegre. Sua presenca constante na pauta das assembléias € um dos indicadores da busca de enraizamento do sindicato nas suas bases, tendo como mecanismo privilegiado a atuacao de delegados sindicais."* Freqientemente es- tes renunciavam, devido as dificuldades no exercicio da func, j4 que o delegacio colocava em risco seu proprio emprego ao canali- zar as reclamagées trabalhistas dos colegas, sendo ainda responsd- vel pela cobranca das mensalidades do sindicato."”O contato com 05 locais de trabalho era buscado também por meio de boletins de Fabrica e de visitas a empresas, na tentativa de levar para as as- sembléias aqueles que nelas trabalhavam2” © vinculo organico da entidade com 0 cotidiano fabril ina~ nifestou-se na tese sobre higiene apresentada ao Congresso Ope~ 27 rério Estadual de 1934, que foi objeto de intenso e polémico de- bate durante diversas assembléias.*!O documento demonstrava um amplo conhecimento coletivo, sistematizado pelo sindicato, a respeito dos problemas vivenciados pelos trabalhadores no seu dia- a-dia, Ele inclufa reivindicagoes como a instalagao de *patentes hi- giGnicas tipo turco”# nos locais de trabalho, de modo a evitar 0 con- tagio de doencas venéreas, ea “ventilacio ampla e continua" nas fabricas com “forjas, fomos e outros engenhos que desprendam ga ses ou vapores nocivos” causadores de “lesdes pulmonares ou en- fermidades crdnicas", Exigia também a instalacio de recintos ade: quados para as refeigdes nos estabelecimentos fabris e a concesstio de intervalos nunca inferiores a uma hora para a sua realizagio.3 Essa centralidade dos problemas tigados ao local de trabalho na pauta do debate sindical acaharia sendo cortada pela repressio, mas as raizes laneadas neste momento levaram a manutengio de um (ra- halho clandestino de organizacao de base que apareceria como contraponto ao esvaziamento do sindicato no Estado Novo e volta- ria a despontar nas greves de 1945. 0 papel institucional do sindicato implicava seu fortalecimen- to como interlocutor com o Estado e os patroes na negociacao das condigdes em que se dava a relag2o capital/trabalho, Diante da ofen- siva legislativa governamental e da resisténcia patronal em camprir Os direitos trabalhistas, a solidez organizativa era condig2o necessé- ria para habilitar o sindicato como instrumento de defesa dos inte- resses dos trabalhadores. Era fundamental manter a regularidade de funcionamento contra diferentes ameagas cle desorganizagao. Nos periodos de ascensio de lutas, a periodiciclade de reunides se per- dia em meio ao tubilhiio dos acontecimentos. Oulra era a natureza dos problemas durante as levas repressivas © 0s periados de desmobilizagao, porém com resultados similares no que diz respeito A quebra da continuidade organizativa 0 Sindicato dos Metaliirgicos de Porto Alegre geralmente reu- nia-se em assembléia a cada 15 dias, com uma média de compare: cimento de 40 associados.*'Estas assembléias constituiam-se inicial- mente na tinica instincia deliberativa da entidade e todas as deci sdes e encaminhamentos delas partiam, incluindo a leitura de cor- respondéncia recebida e remetida.**Entre 1934 e 1937, 0 sindicato possuit ao menos cinco diretorias e uma junta governativa, mas pou: cas concluiram seus mandatos. Eram recorrentes os pedidos de demissio de diretores, assim como licengas ¢ faltas, gerando pro- 28 blemas de quorum.” Havia também grande rotatividade de associa dos. Por causa disso, a diretoria costumava solicitar aos delegados sindicais a relagdo dos s6cios que permaneciam dos desistentes ‘em cada local de trabalho.¥O quadro social do inicio de 1938 re. gistrava 1,385 s6cios inscritos, sendo que 715 haviam abandonado a entidade, 268 haviam sido eliminados por falta de pagamento apenas 378 se encontravam em dia. Para contornar a tendéncia a descontinuidade, apostava-se na construcio de definigdes institu- cionais mais gerais, seja pela escolha de comissdes para elaborar um novo programa e um regimento interno seja pelo debate em torno dos estatutos da entidade ‘As questées financeiras constitufam também preocupagio cons- tante na pauta do sindicato, Até 1937, ndo havia nenhum diretor remunerado ou afastado da produgio. Sem sede prépria, 0 aluguel de uma sala do Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis ¢ Similares (Cosmopolita”), dividide com outros sete sindicatos, constituia pro- vavelmente a maior despesa fixa da entidade.“'Gastava-se também com a confecgao de boletins, meio essencial de comunicacao com a categoria, mas a estrutura do sindicato era extremamente leve, com seus fundos direcionados 4 manutencao de uma base para a acdo reivindicatoria e para a organizagao dos rabalhadores. A deci- so de efetuar qualquer despesa, tal como a compra de uma mi- quina de escrever, era sempre submetida assembleia.” sindicato mantinha-se exclusivamente com a contribuigao voluntaria dos seus associados ¢ enfrentava grandes dificuldades pa assegurat a sua regularidade. Nesse perfodo, foram intensamente debatidas duas quesiées que associavam finangas ao grau de rigi dez da disciplina entre os membros da organizacao. (© pagamento da joia teve sua extingao proposta ¢ rejeitada em diferentes ocasides."A jéia limitava a sindicalizagao, pois repre~ sentava um pagamento relativamente elevado a ser feito, quando © trabalhador tinha ainda pouca experiéncia de organizacio sind cal. Por outro lado, ela demarcava uma op¢ao clara e consciente & tendia a diminvir a rotatividade de s6cios, sendo menos provavel o ingresso de quem nao estivesse bastante convencido da importan- cia de se sindicalizar, Durante os anos de 1934 a 1937, a polariza- cdo entre manté-la ou extingui-la indicava a existéncia de duas vi- sdes sobre a natureza do vinculo associativo. A diretoria eleita no inicio do Estado Novo optou por baixar o valor da jéia em mais da metade e desenvolver uma campanha de sindicalizacao, usando 29 como chamariz 0 leque de servigos assistenciais que o sindicato pas- sava a oferecer.** Outro problema era o que fazer com aqueles que atrasavam 0 Pagamento das mensalidades. Inicialmente, exigia-se que preenches- sem nova proposta de sindicalizacdo quando se colocassem em dia € que prestassem explicagdes apds trés meses de atraso, caso con- {ririo setiam eliminados do quadro de associados, Esta linha dura era eventualmente combinada com a escolha de comissdes destinadas a irem casa dos devedores."‘Posteriormente, uma chapa de opo- sigio inverteria a questdo, responsabilizando a diretoria por afastar ‘98 associadlos ¢ propondo o perdiio das mensalidades atrasadas.* As posigdes politicas gerais nao se traduziam dirctamente numa visio mais ou menos rigida sobre os dois problemas comentados acima, Os comunistas, que propuseram a anistia 20s devedores, es- tavam entre os mais firmes defensores da manutengio da joia. pro- vavel que a primeira posigfo se vinculasse ao interesse em garantir 4 participacao dos metalirgicos descontentes no processo eleitoral, mas ela parece indicar também que, a contrario da jéia, 0 trata- mento dispensado aos atrasados nao era visto como uma questo de principio, Havia também grande preocupagio com relagao a transparén- cia na gestio dos recursos, com exposigao trimestral dos balancetes nas assembiéias e o Conselho Fiscal desempenhando papel bastan- te ativo.* Ocortiam problemas na troca de diretorias, como ausén- cia de relatorios e prestacio de contas ou dificuldade de localizar 0 livro-caixa da gestio anterior, e foi encontrado até mesmo 0 relato de uma comissdo responsavel pela busca do dinheiro que havia fi cado com 0 ex-tesoureiro da entidade.*"Coma estas ocorréncias ram comuns, a conquista de credibilidade por uma organizagio sin- ical exigia 0 desenvolvimento de mecanismos de controle da base sobre 0 uso dos recursos financeiros, assim como a indicaglo de te- soureitos de reconhecida idoneidade.* 0 projeto de atrelamento dos sindicatos ao Estado baseou-se nestas dificuldades vivenciadas na construcao das organizagoes e, adotando solusdes técnicas que despolitizaram o debate sobre al- ternativas a serem adotadas, tentou alijar as bases da gestio de suas entidades. Frente as dificuldades vivenciadas pelos delega- dos sindicais para cobrar as mensalidades dos sindicalizados, por exemplo, uma diretoria vinculada 3 Inspetoria Regional do Traba- Iho (RT) optou pela contratagdo de um cobrador, No mesmo mo- 30 Iilento, © conjunto da questao financeira saia da pauta das assem- dias e se escolhia uma comissio para resolvé-la, Assim, tornava- Ae possivel que, diante de uma proposta que implicasse gastos, fosse feita a observagio de que “s6 0 Presidente e Tesoureiro sabem se 0 sindicato comporta a despesa’. Passava a ser adotado lumbém 0 procedimento da elaboracao de um orcamento anual kendo que as despesas nao previstas neste somente poderiam ser fealizadas com autorizacio do Conselho Fiscal ¢ de uma assem- bleia oficial especialmente convocada para este fim, Deste modo, A gestao financeira se afastava gradativamente da flexibilidade exigida pela agao sindical.” A ruptura da relagao entre organizacao de hase € sustentagao. financeira abria 0 caminho para o imposto sindical, que iria além 20 dlispensar a propria adesao voluntaria «los trabalhadores como con- digao para a viabilizacao das organizacoes, Ja a retirada das deci- ses sobre a aplicagao dos recursos dla pauta das assembleias pre- parava o terreno para a definicao das despesas legais, que visiam ser previstas no Titulo V da CLT, € para o poder arbitrario dos pre- sidentes e tesoureiros na administracao dos bens do sindicato. © coroamento do processo de despolitizagao dos procedi- mentos organizativo-administrativos no Sindicato dos Metalargicos de Porto Alegre se deu com a contratagao de um funciondrio, cuja necessidade estranhamente nao foi identificada pela diretoria da entidade, mas pelo deputado classista Carlos Santos. Logo este funcionatio estaria assumindo iniimeras fungées, como a redacao das atas da entidade — tarefa que fora a propria expresso da autocapacitagao dos dirigentes operdrios. Ele revelaria também habilidades insuspeitas, como a de proferir discursos laudat6rios a cada aniversirio de Gettilio Vargas, & medida que avangava o Estado Novo,""Sintomaticamente, no mesmo perfodo se adota a remu- neragao das horas “trabalhadas” pelo presidente na entidade, apontando o exercicio das fungdes de diregao como serviga prestado a categoria, em vez de atribuigao de representagto politica voluntaria."” 3. Negociacdo e conflito: a greve de 1935 e a lula pela efetivacao da lei Entre 1931 e 1937, o Estado criou uma série de leis trabalhis- tas sem que se mostrasse efetivamente capaz de ou disposto a 31 assegurar sua implementacao. A busca por assegurar 0 cumprimento, generalizacdo de um leque de direitos bisicos, contra a resistencia empresarial, daria a tonica da primeira crise entre ttabalhadores e a politica trabalhista varguista. Os desdobramentos da greve dos padeiros, encerrada em fe- vereiro de 1934, levaram a um duplo recrudescimento. A Forgs as- sumia um discurso cada vez mais radical e claramente partidarizado, a repressio policial adquiria cariter progressivamente violento. Se 08 padeiros realizaram 0 seu movimento sem enfrentar prises € intervencao no seu sindicato, jé no segundo semestre de 1934 0 10 era outro. Em setembro, 0 segundo-secretirio do sindicato dos metalGrgicos, o htingaro Millan Knafelz, seria preso e deportado.**No mesmo periodo, ocorria a prisao de uma caravana operaria oriunda de Porto Alegre em visita a Santa Mati No final de 1934, ocorrem greves por fabrica, como a da em- Presa Schmeling ¢ Hergfeltz.""Em 1935, a atividade grevista se alas- trava, Mal os os opesirios em fabricas de tecidos de Porto Alegre lancavam uma pla- forma, pleiteando 2 para a © dia inteiro"); cump! (particularmente para os jovens © mulheres"); diversas questoes relativas a higiene © condigoes de trabalho; e regulamentacao da aprendizagem.'°Nao sendo atendidos, no mesmo dia (11/1/1935) decidiam paralisar o trabalho. Os empresérios alegavam a existéncia da legislagao social para sar sua recusa ao dilogo direto com os grevistas. Ja a Forgs argumentava que nao se entenderia com “terceiros" (a IRT), seg} dio conselho dos préprios patroes, que sempre haviam condenado a presenga de intermedirios nas negociagées, A grande limitagio do movimento téxtil foi nio conseguir a adesto da maior indastria do ramo, a Renner.” Era a partir desta base, € contando com a adestio do ex-dirigente da Forgs, Roman Martirena, que 0 inspetor regional do ‘Trabalho, Emani de Oliveira, buscava con- encer os trabalhadores da inutilidade da greve e da necessidade ndar um novo sindicato, j4 que o atual se encontrava tomado indo arrastados greve contra a sua vontade, nar- s como a da operiria Eva Lourengo da Silva. Apés 32 com um grupo de grevistas que *era pobre, tinha que € vitiva, e por isso voltara ao trabalho", Eva, indo a tesoura que portava consigo.” A idéia da greve | conduzida por “agitadores" servia para justificar a feroz Arquitetada por empresirios e governo. i nesse contexto que, atendendo aos apelos dos téxteis a lilariedade das demais categorias, os metalirgicos declararam-se preve em 16 de janeiro de 1935. A orientacao da Forgs era no Milo do desencadeamento de uma greve geral no estado, h m processo de preparacio por parte de mineiros, ferro- Livraria do Globo e transvidrios (trabalhado- F na paralisagao da cidade e do estado, o PCB possufa suas organizadas. Enquanto os jornais alardeavam o iminente retorno ao traba- idos (noticiado desde que a greve iniciara), (co Inglés, em meio a0 rio Guaiba) e seguindo pelas prin- pais fabvicas concentradas no Bairro Navegantes.* Paralisado 0 €s- Jelto por volta das 11 horas, os grevistas seguiram rumo a fabrica Win de fogaes (de propriedade do ex-prefeito Alberto Bins), onde surpreendidos pela policia e obrigados a recuar para a sede sindicato. Nenhuma outra empresa havia aderido, 0 que na interpreta ado A policia e teria sabotado o movimento." Surpreendida mento de informagdes € sem a adesto esperada, a greve fetivou-se de modo apenas parcial. Aderiram 60% dos operarios |, parcela nao especificada los empregados das empresas Micheletto € Geral de Indiistrias © a \de dos operdrios do estaleiro Martellet & Irmaos. Nao houve ‘A gravidade das repres ser pressenticla na recusa do Inspetor regional do Ttabatho em revelar a impreasa as delibe- yagoes adoladas a portas fechadas entre empresdrios do setor oF Havendo acordo sobre os percentuais, a terceira versio da conven- Gio mesmo assim nao foi aceita, por manter a obrigatoriedade da realizacao do serio, caso 0 patrio assim 0 desejasse. Nao se sabe em que termos a negociagio foi conclutda, mas ha o registro do controle posterior sobre o cumprimento da convencdo. Embora registrando avancos no seu reconhecimento como interlocutor na negociagio com 0 empresariado, a ago do sindica- to foi tolhida no perfodo pelo desenvolvimento dos mecanismos de controle estatais, As entidades envolvidas na greve foram fechadas por quase dois meses e, quando uma assembleia voltava a ser rea- lizada entre os metalérgicos, ela era aberta com a Jeitura de uma autorizagio portanto, varios meses antes do levante da ANL, a presenca policial nas assembléias @ as prisdes de lideres operiios viriam a fazer parte do cotidiano entidade, prenunciando a ditadura do Estado Novo ¢ dando novo teor A disputa interna, que passava a situar-se em grande medida enire colaboradores e vitimas em potencial da agio do Departame to de Ordem Politica e Social (Dops) 4, Repressao, esvaziamento € rearticulagao: 0 Estado Novo do preambulo aos estertores A intervencao direta das agéncias do Estado a partir da greve de 1935 se deu progressivamente. Se durante a greve as sessées ‘86 se realizavam com autorizacao policial (pratica que posteriormen- te sera recorrente), havia ainda a ressalva de que, pasado o movi mento, a entidade voltaria a funcionar livremente.”Num segundo momento, era 0 proprio inspetor do Trabalho quem passava a es- tar presente e a presidir 0s trabalhos,* ‘A caga as bruxas se explicitava, como no oficio remetido ao chefe de Policia do Estado comunicando 4 expulsio do “agitador comunista” Nery Zamora, complementado pela indicagao de que 0 indicato estaria pronto a colaborar denunciando casos semelhantes yo de 1937, sob a alegaco de evitar acefalia iminente, foi ada uma junta governativa que se manteria até ser obtido nil mero legal de votantes para a realizacio de uma elei¢io. Procuran- do legitimar as intervencdes em bases administrativas, era realizacla tuma auditoria que diagnosticaria o “desconhecimento de contabili- dade © administragio" por parte dos sindicalistas.” 36 Entre 1934 € 1937, foi evitada a presenca pol terior da entidade, embora obviamente a atuacdo da IRT estivesse sticulada com os organismos de repressio propriamente ditos. Mas © papel de mediagao de figuras ligadas a rea trabalhista, como 0 spetor regional do Trabalho € deputado classista Carlos Santos, menizava as intervencOes, buscando legitima-las apenas a partir da cio referente ao funcionamento do sindicato e As preto- fas do Estado face a este. © golpe do Estado Novo marcaria um momento qualitativa- mente diferenciado nas priticas de intervengio € controle sobre a ado sindical, ao dar tratamento criminal aos desvios da atuagl0 que lei passava a prescrever de maneira cada ver mais minuciosa. Hou ve dois marcos signifi Meu 1s de Porto Alegre. © primeito foi o lacre efetuado em 19/11/1937 nas folhas referentes as assembléias do periodo anterior, Jo sem antes sublinhar 0s nomes ou fatos “suspeitos’ com um lie is vermelho. O segundo, a presenca do proprio representante do ssembléia,” © funcionamento do sindicato durante 0 Estado Novo perdeu dos trabalhadores. Na auséncia de agao 10, as sessbes se dividiam em soleni- s (como por exemplo o aniversirio do sindicato, inauguragio Ale foto de Getulio Vargas) palestras, Nestas Gltimas, observam-se mento da questao da satide e dos direitos stas, Nos dois casos, 0 sindicato abria espaco agora para que ras (mEdicos, advogados, funcionarios da IRT, sindicalistas fas calegorias, entre outros) fossem explicar a categoria como le outro, a prevengao de problemas de satide (tuberculose, lepra, is € 0 aborto c As discussées relativas ao encaminhamento das agoes traball Ws leixavam de ser levadas as assembléias, tornando-se um assun- wjressava com uma reclamatria, enquanto no momento anterior seu debate coletivo era fundamental na constituigao da cultura 1a dos direitos entre os trabalhadores, Paralelamente, ocortia um esvaziamento da participacdo em 0 um decréscimo substancial nos indices de 37 diato nem mesmo com © Imposto sindical, que possibilitou tan- to uma diversificagio dos servicos assistenciais como um aumento no ndimero de profissionais contratados. Em 1941, nao ocorreria ne- nhuma assembléia e, entre 1943 ¢ 1944, apenas cinco se realiza- iam, contra uma média de 22 por ano em 1933-34 de 12 por ano entre 1935 € 1939. Diante deste cendrio, € espantosa a retomada, em 1945, de diversos componentes que caracterizavam a ago sindical antes de 1937. A onda de greves atingiu 0 sindicato em abril, e no seu bojo trazia de volta antigas liderangas comunistas que, com excegao do dliscreto ex-presidente Henrique Venancio Dionisio, tinham deixa- do, por motivos Gbvios, de freqiientar as assembléias. Voltavam 4 cena os delegacos de fabrica, 0 boletim mensal, a descentralizagao das tarefas através de comissdes, a busca da unidade com outros sindicatos, o debate sobre a liberdade sindical.”"Ap6s oito anos de feroz ditadura, uma onda grevista reencontrava no sindicato espa- co para o desenvolvimento do seu potencial. Este € 0 testemunho mais eloqiiente de que, se 0 Estado Novo viabilizou o atrelamento sindical ao Estado, nZo acabou com o papel das entidades como cenirios da busca de reconstrugio da autonomia operaria em no- vas bases, 5, Conclustio © exemplo dos metalirgicos de Porto Alegre contribui para relativizar diversas teses consagradas sobre a legalizacao dos sin- dicatos durante o primeiro govemno Vargas. Em primeiro lugar, lon- ge de ser um processo linear, ele foi marcado pela disputa em torno da reapropriacao de praticas ¢ discursos operirios, empresariais € estatais, Esta interacdo conflituosa determinava, em distintas con- junturas, 0 campo de possibilidades para a viabilizacao do sindi- cato Gnico, assim como 0 papel a televancia que este viria a assumir no processo de recomposicao vivenciado pela classe tra- balhadora brasileira. Se o Decreto 19,770, de 1931, € a CLT, de 1943, comungam da mesma doutrina corporativa — e no funda- mental as medidas legais do primeiro foram ratificadas pela se- gunda —, no que tange a construgio das condigées de existéncia a estrutura sinclical oficial ndo ha evolugao direta entre estes dois diplomas legais.” ‘A existéncia deste espago de interagao traz importantes ma- tizes para a anilise das relacoes entre movimento e instituicao no petfodo, De um lado, a legalizagao das entidades significava 6 reconhecimento pelo Fstado da organizacao coletiva dos traba- Ihadores e das suas reivindicacoes por direitos, De outro, abria es- paco para 0 controle estatal sobre estas mesmas organizacoes. Em um primeiro momento, houve mais continuidade do que ruptura nos sindicatos reconhecidos de acordo com a lei.”*A peo pelo registro no Ministério do Trabalho, Indiistria e Comércio colo- Cava duas possibilidades. Muitos sindicatos resumiram-se a uma exis- tencia legal, sem qualquer atuacdo efetiva. Para aqueles, porém, que buscaram afirmar-se como instrumentos de organizagio operiria den- tro da institucionalidade vigente, desafios anteriores ganharam nova intensidade, Merecem destaque os problemas da organizaga0 no lo- cal de trabalho, da sustentacao financeira, da regularidade de fun- Gionamento e do seu reconhecimento como interlocutores ante 05 patrOes. Até 1937, muitas entidades estruturaram um modus operandi que, mesmo nao resolvendo estas questées em definitivo, Forneceu dlitetrizes para o seu enfrentamento. E nese contexto que a atuacio das diferentes correntes poli ticas no interior do movimento operitio deve ser situada, Tomemos 6s comunistas como exemplo devido ao seu papel de destaque no periodo. E inegivel que a estrutura central do PCB estava sofrendo tim processo de burocratizagao, que levava a adogao de politicas uilas vezes distantes da experiéncia operiria, Prova disso & 0 to- {al alijamento da base sindical do partido das opcdes estratégicas que culminaram no levante de 1935. Parém, vale a pena recordar que em muitos momentos criticos, como no periodo entre 1937 € 1943, a repressio levou a que a organizacao comunista sobrevi- vesse na forma de células de base sem vinculo com a estrutura nacional, © que possibilitava grande margem de autonomia na definigao da sua atuacao sindical Mesmo sob a coordenacao da estrutura partidéria geral, a militincia de base do partido estava longe de aplicar cegamente sua linha sindiical sobre uma base amorfa, Ao contrario, os militan- tes comunistas reelaboravam as orientagoes partidarias a partir da sua experiéncia como operirios, Para imprimir um direcionamento As entidades, precisavam ter a capacidade de propor altermativas as questées colocadas na sua agenda coletiva, para as quais muitas ve- es 0 partido nao tinha respostas preestabelecidas. “Seria interes- 39 sante questionar, por exemplo, se a defesa da centralizacao € uni- dade feita pelos sindicalistas comunistas definia-se apenas em fun- do da sua posicao ideolégica ou se ecoava um redirecionamento de mais longo prazo nas orientagdes do movimento operatio, a partir do momento em que a organizacao por categoria profissional veto a suplantar a organizacao por oficio.” Por outro lado, quando intervinham na defesa do classismo, da transparéncia € da autonomia frente ao Estado, sem diivida os sindicatistas comunistas davam continuidade a uma tradigao de auto-organizacao, em contraponto a cooptacao € A repressdo. Assim, a consolidagao da hegemonia comunista no sindicalismo porto-alegrense, entre 1934 ¢ 1935, imbricou-se com a cobranga da promessa de direitos com que @ legislacao traba- Ihista acenava, iniciando-se com a greve dos padeiros © chegando a0 seu climax violentamente abortado no movimento em soli- dariedade aos téxteis, Para varrer a influéncia “subversiva’, fol imperativo destruir 0 modelo de aco sindical vigente na primeira metade da década de 30, por meio da intervengao das agéncias do estado no interior dos sindicatos. Mas as praticas meramente repressivas revelavam-se in- capazes de estruturar um funcionamento mais compativel com a doutrina colaboracionista, levando as entidades ao esvaziamento na primeira metade do Estado Novo, O funcionamento regular somen- te voltaria a ser retomado apés duas importantes inovagdes, organizativas. A adogao do imposto sindical viabilizou toda uma gama de novos servigos assistenciais. Paralelamente, dirigentes sindicais de confianga do estado eram substituidos por funcio- narios na condugio de tarefas para as quais os primeiros nao se dos.” Nao se esti propondo apenas o deslocamento do momento de heteronomia derivado da intervencao estatal de 1930 para 1935- 1937. 0 corporativismo embriondrio, tal como expresso na legisla- ‘¢fo trabalhista e sindical do periodo 1951-1934, € entendido aqui ‘como uma reagao a iniciativa de reorganizagao interna do sindi- calismo ¢ a luta por direitos sociais nos anos 20, Se num primeiro momento o Estado conquistou a iniciativa € a capacidade de redefinir 0 terreno dos conflitos trabalhistas, havia ainda ampla m: gem de manobra para 0 movimento operario, que legitimava © pliava a repercussao de suas lutas, pautadas agora na cobranga do da legislagao.” Embora discursivamente permeada les corporativas de “harmonia social” ¢ atuagao “dentro 40 da ordem’, a acao sindical condicionava a efetivacao dos direitos a organizacdo dos trabalhadores e usava as conquistas de categorias especificas como precedentes para sua generalizacao, avancando ra construgao de Este modelo de organizacao sinclical a0 mesmo tempo aceita- va e tensionava os limites cla legislacdo, & qual faltavam inicialmente © detalhamento e o aparelhamento para reprimir ¢ controlar com eficiéncia. Como resposta a radicalizaglo das Iutas operirias, a conjuntura de 1934 2 1937 assistiria ao desenvolvimento acele- rado destes mecanismos, (© modelo corporative também se implantou, porém, operan- do sobre tensbes ¢ dificuldades enfrentadas pela pritica sindical na construgao de organizacdes representativas ¢ vidveis, Se a despol tizagdo ¢ a burocratizacao eram riscos jé enfrentados pelo movimento operirio quando confroniado com estes impasses organizativos, €o1 be a repressio e ao controle estatais — e nao a hegemonia de qual- quer corrente politica operiria — criarem os mecanismos que bu cam cristalizé-los como caracteristicas da propria organizacio sind al. O conjunto de respostas “téenicas”, experimentado ao longo das vrias levas de intervenco e consagrado na CLT, buscava afastar base e militantes do proce ém, apesar de tudo, mesmo a longa vigencia do Estado Novo no seria capaz de destruir a experiéncia de apropriagio do sindicato oficial como es- co de luta, que voltaria « emergir nas greves de 1945, £ inegavel que a construc do sindicato Gnico fot, afinal de tum proceso em linhas gerais hem-sucedido. De 1931 até momento, raras e efémeras tém sido as tentativas de conceher a reanizacao dos trabalhadores que nao tenham esta instituica0 nos seus horizontes. Mesmo quando articuladas por grupos de op 40 ou propondo um suposto paralelismo, a propria configuracao las categorias profissionais e dos ambitos geogriificos associados o enquadramento oficial define o campo de possibilidades imagi- arias do movimento sindical no Brasil. Porém, a contradicao da es- jura sindical desde entao tem sido 0 fato de que ela s6 serve no fonte de legitimidade para o poder com vi sociati enquanto tem se demonsirado impossivel que # desenvolva sem se tornar o catalisador de conflies que a douttina corporativista pre- tendew negar. vita crtesmece | calatare leper teen atredecalto rr espaco institucional a partir das tradigdes de solidariedade © orga- 41 nizacdo operirias, legalizando os sindicatos enquanto resistia a in- tervengio estatal no seu funcionamento. A historia viria a demons- rar que esta experiencia deixou Ho profundas quanto aque- las do corporativismo na consciéncia de classe dos trabalhacores bra sileiros, Notas smo no Brasil. S80 ‘entre outros, Maria Célia Paoli, “Os teabalhadores ur Tempo, espaco, ¢ classe na historia o c Lapes (org) Garcia, jucho de um movimento oper ‘A estratégia da recusa. Si0 Gio apresentada 1 Cambridge (lnglaterra 1g in as ut starving. (1p workers’ quest (0 realize the ima 1998 * Muna pp. 4350 + Edgar Salvadori de Decca, © silé 1981, A complementaridade das a € destacada cm Al is. 1986, e Malo Tronea, 1930: A dominaga Brasiliense, 1988, «Paoli, op. > expressa0 Programa da Federagio Operdria do langado em agosto de 1933. Cf. A Vor do Tra 1. Porto Alegre, 14/10/1933, Coleco do Arquivo Edgar Levens 43

S-ar putea să vă placă și