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RESUMO: Este trabalho tem como principal objetivo apresentar uma reflexão acerca das atividades
propostas em dois livros didáticos do Ensino Médio: “Novas Palavras” e “Português: Novo Ensino
Médio”, atentando para as práticas de leitura e análise textual através de textos literários, enquanto
processos importantes para a formação do sujeito crítico. Assim, nosso objeto de estudo são os gêneros
literários em livros didáticos de Ensino Médio. Pretendemos, com isso, lançar um olhar sobre o trabalho
com textos literários, procurando investigar se estes atendem a uma construção significativa de
conhecimentos inerentes à linguagem em suas manifestações de interação verbal entre os indivíduos,
bem como em suas atividades sócio-culturais. Para balizar esta pesquisa, utilizamos o referencial teórico
fundamentado por PCN (2001), Soares (2001), Mendonça (2006), Foucault (2006), Marquez, (1998).
Constatamos que os textos devem ter uma constituição interativa que trabalhe a formação significativa
do indivíduo em uma relação dialógica com a sociedade de forma geral.
ABSTRACT: This work has as main objective to present a reflection on the activities proposed in two
high school textbooks: "Novas Palavrass" and "Português: Novo Ensino Médiol", paying attention to the
practices of reading and textual analysis through literary texts, as processes important for the formation
of the critical studant. Thus, our object of study are the literary genres in school textbooks. We intend,
therefore, have a look at working with literary texts, seeking to investigate whether they serve a
meaningful construction of knowledge inherent in the language in their expressions of verbal interaction
between individuals, as well as their socio-cultural activities. To mark out this research, we used the
theoretical reasons of PCN (2001), Smith (2001), Mendoza (2006), Foucault (2006), Marquez (1998). We
found that the texts should have a constitution that works interactively to significant formation of the
individual in a dialogic relationship with society in general.
PALAVRAS-CHAVES: Leitura e análise textual. Gêneros literários. Livro Didático do Ensino Médio.
KEYWORDS: Reading and textual analysis. Literary genres. Textbook of high school.
INTRODUÇÃO
1
Doutoranda em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística – PROLING/UFPB.
Professora titular da Faculdade Maurício de Nassau, unidade de Campina Grande, PB.
2
Graduada em Letras – Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Vale do Acaraú.
Assim, percebemos que uma reflexão que levante questões referentes ao tipo de
trabalho que vem sendo desenvolvido no contexto escolar, ao qual estão sendo expostos
os alunos, poderá apresentar resultados importantes, podendo confirmar nossas
preocupações ou frustrá-las. Por esta razão, esta pesquisa se propôs a investigar as
atividades trazidas por livros didáticos do Ensino Médio, em especial, as que utilizam
textos literários aplicados nas aulas de leitura e literatura, lançando um olhar para as
propostas de ensino de leitura e de análise textual.
Assim, é através de uma trabalho de leitura e de produção textual por meio dos diversos
textos, gêneros e discursos no meio social, que os educandos irão passo a passo
construindo sua autonomia, adquirindo noções éticas como respeito a si mesmo e ao
outro, solidariedade, valores morais e autoconfiança.
Diante desse panorama, a leitura deve ser encarada como uma habilidade indispensável
à vida social, à construção dos sujeitos sociais. Essa habilidade pode e deve ser
construída com base em práticas e processos de letramento diversos e específicos. Desse
modo, construir na prática, a habilidade de ler, compreender e analisar textos de
Assim, a autonomia do professor para planejar e executar suas aulas é transferida para o
material e este se impõe, assumindo o discurso da verdade. Dessa forma, como afirma
Mendonça (2006), o livro se apresenta como um formador de opinião acima do
professor, inserindo-se, no dizer de Foucault (2006, p. 39), nas “[...] sociedades de
discurso, cuja função é conservar ou produzir discursos, mas para fazê-los circular em
um espaço fechado, distribuí-los somente segundo as regras escritas”. Portanto, através
do Livro Didático e dos professores, a escola trabalha em favor da homogenização.
Pensar sobre Literatura a partir dessa relativa autonomia ante outros modos
de apreensão e interpretação do real corresponde a dizer que se está diante de
um inusitado tipo de diálogo, regido por jogos de aproximação e afastamento,
em que as invenções da linguagem, a instauração de pontos de vista
particulares, a expressão da subjetividade podem estar misturadas a citações
do cotidiano, a referências indiciais e, mesmo, a procedimentos
racionalizantes. Nesse sentido, enraizando-se na imaginação e construindo
novas hipóteses e metáforas explicativas, o texto literário é outra forma, fonte
de produção, apreensão de conhecimento.
Contudo, as aulas de literatura devem ter como principal objetivo transformar o aluno
em um leitor de literatura. Para isso, o professor antes de tudo deve ser um leitor crítico
e capacitado a estimular os alunos à leitura para que estes possam tomar gosto pelo ato
de ler.
Tendo em visa esta concepção, com a compreensão das diferentes formas assumidas
pelo texto literário e o conhecimento dos critérios que permitem organizá-las em
gênero, o aluno terá condições de ver no texto algo que transcende um conjunto de
palavras escolhidas por um autor, será capaz de reconhecer, naquele estilo, a tradução
de uma visão de mundo feita a partir de uma perspectiva pessoal.
A leitura vista, como prática sociocultural, deve estar inserida em um conjunto de ações
sociais e culturais e não exclusivamente escolarizadas, entendida como prática restrita
ao ambiente escolar. Portanto, pensar em leitura e interpretação textual ultrapassa o
âmbito da escola, mas, sem dúvida, não pode prescindir dela, inclusive por ser a
instituição escolar das mais democratizadas pelas quais quase todos conseguem chegar e
passar, ainda que, em muitos casos, alguns obtenham sucesso e outros não.
Neste tópico nos propomos a analisar os textos trazidos por dois exemplares de Língua
Portuguesa utilizados no Ensino Médio, quais sejam: Livro Novas Palavras, 1ª série
integrado para os anos de 2009, 2010, 2011, dos autores Amaral, Ferreira, Leite e
Antônio, editora FTD; e o livro Português: Novo Ensino Médio, do autor Maia, editora
Ática, ano 2005.
Abaixo segue o primeiro livro citado e, em seguida, uma das propostas de atividade
apresentadas por ele propostas.
Este livro traz em seu corpus textos literários compostos por poetas de renome, entre
eles Luís de Camões, em consonância com a gramática e faz uma adequação à proposta
metodológica entre os gêneros literários, os exercícios propostos, o estudo da gramática,
como observamos abaixo:
Podemos observar, nesse texto, que o poeta procura definir o Amor como algo inerente
ao homem, mas que o perturba e o inquieta. No entanto, percebemos que essa tentativa
de classificação, ao contrário de precisar o objeto em questão, torna-o ainda mais
impreciso diante das antíteses, paradoxos e figuras de linguagem utilizadas. Tal
procedimento não ocorre de forma aleatória, mas é uma estratégia linguística que o
poeta utiliza para expressar a ideia de que o amor é um sentimento indefinível, isto é,
que não é passível ao controle da razão do homem – tese, inclusive, caríssima entre os
românticos. Além disso, é característico em Camões o olhar pessimista e desencantado
no que diz respeito à vida.
É possível fazer também uma intertextualidade com uma temática, aliás, muito antiga,
que é a efemeridade, ou seja, o caráter passageiro dos bens da vida, a qual podemos
encontrar, inclusive, no livro bíblico Eclesiastes e na literatura das antigas Grécia e
Roma.
Na primeira questão é solicitado ao aluno fazer uma escansão do primeiro verso, que é o
recurso de separar o poema em sílabas métricas, de acordo com a tonicidade do poema,
a fim, de marcar se o poema é uma redondilha maior ou menor (5 ou 7 sílabas por
estrofe), se os versos são decassílabos (10 sílabas), alexandrinos (12 sílabas) etc. Esta
primeira questão trabalha o conhecimento do aluno apenas quanto à estrutura de textos
literários, em especial, sua métrica.
A quinta questão pede que o aluno apresente dois resumos, um com a tese defendida
pelo autor e outro com a contradição, antítese, contida no primeiro terceto. Aqui o aluno
poderá se manifestar em sua produção, pois apesar de o resumo se tratar de uma
paráfrase, há sempre a subjetividade de quem o produz.
Por fim, a sexta questão exige apenas que o aluno transcreva os versos que melhor
exprimem a ideia de que o amor é um sentimento contraditório e incompreensível.
Diante do exposto, podemos observar que a atividade proposta é focada num processo
de releitura, como o próprio nome da atividade indica, já que a todo o instante solicita
do aluno um retorno ao texto para “encontrar” o que se pede. Havendo, nessas “idas e
vindas” apenas duas questões relevantes para a construção de sentidos do aluno,
questões 4 e 5. Pelo menos o poema não é abordado como pretexto para estudar
questões gramaticais. A gramática, na atividade, aparece de forma sucinta, em forma de
complementação, uma vez que ela é trabalhada em correlação com o texto, convidando
o aluno à interpretação e à aplicação da mesma nos exercícios propostos. Por outro lado,
as demais questões não permitem que o aluno avance criticamente, muito menos,
contribuem para a formação deste enquanto sujeito social.
A atividade deixa, pois, a desejar vez que poderia ter explorado mais a subjetividade do
aluno, a construção de sentidos com base em intertextualidades, levantado questões para
debates e para formação de opiniões entre os educandos.
Outra obra analisada foi o livro Português Novo Ensino Médio do autor Maia, editora
Ática, ano 2005, que traz gêneros e tipos textuais como textos narrativos,
argumentativos, poesias, contos, etc. Segue abaixo a ilustração do livro supracitado.
Dentre os textos trazidos pelo livro em questão está o conto O gari de Arlete Nogueira
da Cruz, como observamos abaixo.
Figura 5 – Proposta de atividade do livro Português: Novo Ensino Médio de J. D. Maia. v. único. São
Paulo: Ática, 2005.
A meta principal, desta análise do material didático é, pois, observar, sob um olhar, o
que se emprega em sala de aula. Isso porque a aprendizagem é tema de importância
primordial em qualquer sociedade que vise o desenvolvimento integrado e total de seus
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas análises dos livros didáticos do Ensino Médio pudemos constatar que a utilização
de textos literários são ótimos instrumentos para formação cognitiva e social dos alunos,
bem como para o desenvolvimento de competências básicas como o da leitura e da
escrita. Entretanto, estes textos, quando presentes nos livros didáticos de Ensino Médio,
não contribuem efetivamente para a construção dos alunos em sujeitos sociais críticos,
vez que limitam suas propostas de atividades a meros processos de releitura e ao “jogo
de procura e acha”, deixando de explorar de forma mais contundente a subjetividade, a
construção de sentidos e a criticidade dos mesmos, seja deixando-os fazer suas análises
textuais a partir dos explícitos e implícitos dos textos, seja trazendo suas comparações
com outros textos (intertextualidade), seja apresentando sua construção de sentidos.
Tais processos tornam os indivíduos aptos a se posicionarem de forma crítica diante de
diversos contextos de produção discursiva, sabendo lidar com a diversidade de textos
que circulam socialmente, além de estimular a prática de uma leitura crítica desses
textos.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BLOOM, Harold. Como e por que ler. Tradução de José Roberto O’Shea. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2000.
MÁRQUEZ, Gabriel Garcia. Cem anos de solidão. 45. ed. Rio de Janeiro: Record,
1998.
MAIA, João Domingues. Português: Novo Ensino Médio. Vol. Único. São Paulo:
Ática, 2005.