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net/publication/239552041
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All content following this page was uploaded by Débora Martins Santos on 13 August 2014.
RESUMO: O artigo apresenta a experiência do Programa de Ações Educativas em Promoção de Saúde no Envelhecimento do Núcleo de Atenção ao Idoso,
ambulatório da Universidade Aberta da Terceira Idade, da UERJ. O programa é interdisciplinar e inclui várias modalidades educativas, abertas aos idosos e
usuários em geral. As atividades incluem grupos de sala de espera, grupo fechado (Encontros com a Saúde), grupo aberto (Roda da Saúde) e produção de
materiais educativos (folders e mural). O trabalho pauta-se numa visão de saúde articulada à qualidade de vida e concebe a educação como diálogo, troca
de experiências, parceria, respeito ao outro, reflexão, problematização da realidade e busca de alternativas/escolhas possíveis. As necessidades do idoso
são consideradas no processo educativo, potencializando sua capacidade de aprender, criar, decidir, respeitando as particularidades do envelhecimento. A
experiência valoriza e trás ao debate a complexidade e riqueza da dimensão educativa da saúde, consolidando-se como campo estratégico para a formação
profissional e o desenvolvimento de modelo de atenção pautado no cuidado integral e no aprofundamento da articulação teórico-prática em promoção
da saúde. No plano do ensino, o trabalho estimula uma nova sensibilidade na cultura profissional, capaz de incluir o outro e seus saberes, considerando
as condições socioeconômicas e culturais e sua relação com a saúde. Na dinâmica do serviço, o programa representa um “abrir portas” à participação,
aproximando profissionais e população, fortalecendo o compromisso com assistência de qualidade, centrada no vínculo, na responsabilização e na partilha
dos desafios à qualidade de vida e saúde no envelhecimento.
PALAVRAS-CHAVE: Envelhecimento - promoção da Saúde. Educação em Saúde – idosos. Educação Popular em Saúde.
ABSTRACT: This paper presents the experience of the Program of Educative Actions in Health Promotion for Aging, maintained by the Elderly Assistance
Nucleus, an outpatient clinic of UERJ’s (Rio de Janeiro State University) Third Age Open University. It is an interdisciplinary program that includes several
educational activities, open to the elderly and users in general. Its activities include waiting room groups, closed groups (Meetings with Health), open groups
(Health “Wheel”) and the production of educational material, such as folders and boards. The work is based on a view of health integrated to quality of
life, and sees education as a dialogue, interchange of experiences, partnership, respect to others, reflection, the questioning of reality and the search for
possible alternatives and choices. Elderly needs are considered in the educational process, boosting their capacity to learn, create, decide, respecting the
particularities of the aging process. The experience honors and brings to discussion the complexity and richness of the educational dimension of health,
consolidating itself as a strategic field for professional training and development of a model of assistance based on comprehensive care and practical-
theoretical articulation for health promotion. On a teaching level, the work stimulates a new sensibility on the professional culture, capable of including
others and their knowledge, considering the social, economic and cultural conditions and their relationships with health. On a service level, the program
represents a “door opening” to participation, bringing together professionals and the population, strengthening the vow to quality assistance, centered
on human bonding, on responsibility and on sharing the challenges to quality of life and health on aging.
KEYWORDS: Ageing – health Promotion. Health Education – elderly. Communitarian Education.
RESUMEN: Este artículo presenta la experiencia del Programa de Acciones Educativas en la Promoción de la Salud para el envejecimiento, mantenida por
el Núcleo de Ayuda a los Envejecidos, del Ambulatorio de la Universidad Abierta de la Tercera Edad de UERJ (Universidad del Estado de Río de Janeiro). Se
trata de un programa interdisciplinario que incluye varias actividades educativas, se abre a los ancianos y los usuarios en general. Sus actividades incluyen
grupos de sala de espera, grupos cerrados (Reuniones con la Salud), grupos abiertos (Rueda de la salud) y producción de materiales educativos, como
carpetas y tableros. El trabajo se basa en una concepción de salud integrada a la calidad de la vida, y considera la educación como diálogo, intercambio
de experiencias, aparcería, respecto al otro, reflexión, cuestionamiento de la realidad y búsqueda de alternativas y opciones posibles. Las necesidades de
los envejecidos se consideran en el proceso educativo, alzando su capacidad de aprender, crear, decidir, y respetando las particularidades del proceso del
envejecimiento. La experiencia valoriza y trae a la discusión la complejidad y la riqueza de la dimensión educativa de la salud, consolidándose como un
campo estratégico para el entrenamiento profesional y el desarrollo de un modelo de ayuda basado en los cuidados comprensivos y la articulación práctico-
teórica para la promoción de la salud. En un nivel de enseñanza, el trabajo estimula una nueva sensibilidad en la cultura profesional, capaz de incluir los
otros y su conocimiento, frente a las condiciones sociales, económicas y culturales y sus relaciones con la salud. En la dinámica del servicio, el programa
representa una “abertura de puertas” a la participación, reuniendo a los profesionales y a la población, consolidando la dedicación a la ayuda de calidad,
centrada en la vinculación humana, en la responsabilidad y en el compartir los desafíos a la calidad de la vida y a la salud en el envejecimiento.
PALABRAS LLAVE: Envejecimiento - promoción de la salud. Educación para la salud - ancianos. Educación Comunitaria.
tro Nacional de Educação Popular com maiores comprometimentos atividades de informação, educação
e Saúde, 2007). de saúde e/ou risco de fragilização, e comunicação do serviço, visando
Da ótica das políticas para ao até a atenção em nível hospitalar a potencializar o intercâmbio da
envelhecimento, a Política Nacional e asilar. A equipe é formada por equipe e o alcance do trabalho. O
do Idoso no Brasil (1994) inclui em profissionais de medicina, enfer- objetivo deste texto é apresentar
suas diretrizes a difusão de informa- magem, psicologia, nutrição, fisio- um panorama desta experiência e
ções sobre o envelhecimento por terapia, serviço social, odontologia apontar sua contribuição para um
entender que este diz respeito a to- e fonoaudiologia. O trabalho é or- modelo de atenção e de formação
da sociedade e se relaciona ao curso ganizado por projetos transversais profissional pautado no cuidado in-
de vida. A importância de processos às áreas e há espaços permanentes tegral e na promoção da saúde.
1. Participam também do projeto Isis S. Menezes (fisioterapeuta), Adriana da S.M.B.Motta (nutricionista), Luciana B. Motta (médica), além de residentes e estagiários
das diversas áreas profissionais envolvidas.
Bases conceituais e O destaque para esta relação é va- ços sociais e de saúde – que intera-
metodológicas das ações lioso na medida em que a visão de gem continuamente. Para ampliar
saúde como bem-estar amplamen- possibilidades de envelhecimento
educativas em saúde do
te definido substituiu o conceito de ativo, as políticas devem articular
NAI/UnATI saúde como ausência de doença. ações intersetoriais voltadas a esses
O projeto de ações educativas Embora criticado por sua idealiza- determinantes, transversalmente
do NAI/UnATI tem como referên- ção, (“completo bem-estar físico, influenciados por aspectos relativos
cia conceitual o debate contempo- mental e social”), o conceito de a gênero e cultura.
râneo sobre promoção da saúde e saúde da Organização Mundial de Por assumir características pró-
envelhecimento ativo, alinhado Saúde (OMS) teve o mérito de ter ximas a esta concepção, a política
à visão de educação em saúde na destacado dimensões positivas da do idoso no Brasil é apontada como
perspectiva da educação popular. saúde (bem-estar), para além da di- exemplo de promoção da saúde.
A compreensão da saúde rela- mensão negativa (doença/ausência Na década de 1980, a OMS defi-
cionada à qualidade de vida é o eixo de doença). Esta ampliação concei- niu a promoção da saúde “como el
central do trabalho. O termo qua- tual foi incorporada na Lei Orgâ- proceso que permite a las personas
lidade de vida é amplamente utili- nica de Saúde do Brasil (1990) e é adquirir mayor control sobre su
zado na atualidade, em contextos parte fundante do ideário do mo- propria salud y, al mismo tiempo,
discursivos diversos e com conota- vimento de Reforma Sanitária no mejorar esa salud.”, conceito con-
ções variadas. De difícil definição, país, ao ressaltar os determinantes sagrado na Carta de Otawa, em
expressa um conjunto de elemen- sociais no processo saúde-doença 1986. A Carta reafirma o sentido
tos identificados como fundamen- da população. ampliado da saúde, cujos pré-re-
tais ao que se possa entender como Envelhecimento com qualidade quisitos são: alimento, abrigo, paz,
boa vida ou vida que valha a pena de vida é preocupação do campo renda, ecossistema estável, uso
ser vivida. De acordo com a revisão gerontológico e originou formula- ininterrupto de recursos, justiça
de Minayo et al. (2000), qualidade ções teóricas diversas e um lastro social e eqüidade (Buss, 2000).
de vida é uma noção que envolve discursivo sobre velhice bem-su- A visão dos recursos funda-
aspectos subjetivos e parâmetros cedida, no qual emergiu o conceito mentais à saúde e sua aproxima-
materiais, captados tanto pelo grau de envelhecimento ativo, proposto ção à temática da qualidade de
de satisfação em relação ao senti- pela OMS, que se define como “o vida fomentaram uma concepção
do de realização pessoal, prazer, processo de otimizar oportunidades mais abrangente de intervenção
amor e felicidade, quanto pelo para saúde, participação e seguran- em Saúde, para além das clássi-
atendimento de necessidades bá- ça de modo a realçar a qualidade de cas ações assistenciais e preventi-
sicas como alimentação, educação, vida à medida que as pessoas enve- vas. Propõem-se como campos da
habitação, emprego, lazer, trans- lhecem” (WHO, 2002,p. 13). O con- promoção da saúde: as políticas
porte, dentre outros. Traço histó- ceito pretende uma mensagem mais públicas saudáveis, a criação de
rico, relativismo cultural e caráter inclusiva do que o termo “envelhe- ambientes favoráveis à saúde, o
de classe balizam a compreensão cimento saudável”, já que conside- reforço da ação comunitária, o de-
de qualidade de vida, a qual deve ra participação como engajamento senvolvimento de habilidades pes-
ser pensada em relação ao grau de continuado na vida, mesmo que soais e a reorientação dos Serviços
desenvolvimento das sociedades, eventualmente limitado ao espa- de Saúde. Há interfaces e comple-
sua forma de organização e valores ço doméstico ou coexistente com mentações entre eles, baseados na
culturais. A hegemonia do modelo algum nível de incapacidade. Por- idéia de responsabilização coleti-
norte-americano, apoiado no con- tanto, não se restringe à habilidade va pelos problemas de saúde, que
sumo e na exploração indiscrimina- para se manter fisicamente ativo ou exigem ações de todos os setores e
da da natureza, é questionada pela inserido na força de trabalho. a presença efetiva do Estado e da
ótica da sustentabilidade e da distri- O envelhecimento ativo é de- sociedade em “tornar mais fáceis
buição crescentemente desigual da sejável como condição de desfrute as escolhas saudáveis”. Esta idéia
riqueza (Minayo et al., 2000). da longevidade e trata-se de meta avança em relação ao enfoque edu-
Saúde e qualidade de vida são complexa pela reconhecida influên- cativo focado exclusivamente nas
mutuamente implicadas, pois saú- cia de um conjunto de determinan- orientações para o comportamento
de é dimensão da qualidade de tes econômicos, comportamentais, individual e o autocuidado, como
vida, ao mesmo tempo em que pessoais, relacionados ao meio tradicionalmente assumido pelas
qualidade de vida impacta a saúde. ambiente físico e social e aos servi- políticas de saúde.
No Brasil, a promoção da saúde deve estar articulada ao processo responsabilizados pela sua doença,
vem sendo proposta como estraté- de construção da cidadania e de por ignorarem informações e não
gia transversal às políticas de saúde, viabilização prática dos direitos cuidarem de si, do seu ambiente,
capaz de articular uma apreensão sociais dos idosos. A oportunida- da sua saúde (Vasconcelos, 2001;
ampliada das necessidades sociais de de condições e práticas favorá- Stotz, 1993).
de saúde e contribuir na operacio- veis à saúde e ao bem-estar é base Em meados da década de 70
nalização de princípios como huma- para se pensar a busca de um “bom inicia-se um processo importante
nização, integralidade da assistência envelhecimento” e inclui, além de crítica a esta postura, conside-
e intersetorialidade (Brasil, 2006). da garantia de direitos humanos rando o desenvolvimento da teoria
O debate sobre a promoção da básicos, aspectos como: inserção crítica ou progressista no campo da
saúde tem crescido no Brasil em social e ocupação dotadas de signi- educação, a ampliação do concei-
anos recentes e expressa um campo ficado; alimentação equilibrada e to de saúde, a multicausalidade do
complexo, com tensões conceituais atividade física; uso prazeroso do processo saúde/doença e, principal-
e contradições que resultam da corpo e lazer gratificante; apoio e mente, a vinculação entre compor-
confluência de forças distintas que satisfação nas relações familiares e tamentos e condições de existência.
marca seu próprio desenvolvimen- sociais; acesso a ações preventivas e Nesse sentido, cabe ao profissional
to. Dentre as críticas à emergência a acompanhamento assistencial. se aproximar dos indivíduos, co-
da promoção da saúde no contexto A idéia norteadora do projeto nhecer a realidade, ouvir as inquie-
atual da sociedade capitalista, des- é ampliar espaços de informação tações, dialogar, respeitar e valorizar
tacam-se os interesses econômi- e debate que estimulem os idosos as opiniões e experiências vividas.
cos subjacentes, seja pela redução a pensar a relação corpo/vida e a Despojar-se do papel de autoridade
de custos com o sistema de saúde, atuar na direção de integrar o fazer para assumir um papel de parceiro
alinhada ao ideário neoliberal con- individual e coletivo que envolve no processo, numa relação de hori-
temporâneo, seja pela expansiva a saúde. Acredita-se que tal visão zontalidade. Claramente, trata-se
apropriação mercadológica do pro- – orientada pela Educação Popular de um confronto entre o conhe-
duto “saúde” e a criação de novas em Saúde – possibilita operar com cimento científico e o cotidiano,
dependências de serviços, centra- uma visão integradora da promoção gerador de dúvidas e produtor de
das numa visão estrita de desempe- da saúde, que articule a abordagem novos conhecimentos, tanto por
nho corporal (Bunton et al, 1995). do autocuidado às necessidades so- parte dos profissionais quanto dos
Dentre outros aspectos apontados, ciais e ao fomento da participação usuários. Assim, compreende-se
destacam-se os limites do conhe- popular como condição ao maior que a construção de conhecimen-
cimento científico que informa a protagonismo dos idosos no pro- tos “(…) implica uma interação co-
promoção da saúde – problematiza- cesso social em curso. A abordagem municacional, em que sujeitos com
ção sobre o “risco”, a imposição de sobre comportamentos e práticas saberes diferentes, porém não hie-
valores culturais, a utopia da saúde saudáveis deve incluir a reflexão rarquizados, se relacionam a partir
perfeita e o neohigienismo (Castiel, sobre a produção social da saúde– de interesses comuns. Nessa pers-
1999; Nogueira, 2001). doença e reconhecer o contexto pectiva, todos somos educadores e
Assumindo a importância de pessoal, cultural e político como fazemos circular saberes diversos
permanente autocrítica sobre o dimensões relevantes na dinâmica e de diferentes ordens construídas
sentido da promoção da saúde no das ações educativas (Assis, 2005). no enfrentamento coletivo ou in-
cotidiano assistencial, em rela- Educação pode ser entendida dividual de problemas concretos.”
ção ao discurso amplo/global e à como uma prática social, que (Carvalho et al, 2001, p. 102)
reprodução de práticas estreitas, ocorre em qualquer tempo e local A reflexão sobre os modos de
o projeto de ações educativas do na vida do homem. A perspectiva viver,considerando uma perspec-
NAI/UnATI parte da premissa de tradicional da Educação na área de tiva individual e coletiva e as mu-
que a saúde deve ser abordada à saúde compreendia, até início da danças possíveis que levem em
luz da questão social e dos desa- década de 70, o repasse de infor- conta a autonomia e o direito do
fios para o envelhecimento com mações técnicas pelos profissionais outro.(Campos, 2004, p. 747).A
qualidade de vida no Brasil atual, de saúde visando normatizar, im- preocupação em problematizar os
marcado por profundas iniqüida- por comportamentos adequados, determinantes do processo saúde-
des e pela fragilidade das políticas definidos pela ciência, em espe- doença, as percepções, crenças,
públicas. Nesta ótica, promoção do cial a medicina, a higiene e a epi- desejos em sua articulação com as
envelhecimento saudável, ativo, demiologia. Os indivíduos eram políticas sociais e econômicas, é
uma tônica do trabalho. Assim, as entendendo que cada uma tem em espaço de troca de experiên-
práticas educativas devem valer-se um grau de alcance próprio e que, cias e criação de vínculos afeti-
de metodologias que incorporem o integradas e combinadas, podem vos e de novas amizades;
outro em todo o processo, privile- ampliar o potencial de informação, – possibilitar o intercâmbio de in-
giando o diálogo como exercício de comunicação e educação no servi- formações sobre os direitos dos
relações democráticas, solidárias e ço. À luz dos princípios teórico-me- idosos e estimular a participação
afetivas entre os sujeitos. Conforme todológicos apontados, acredita-se popular na defesa das políticas
Freire (1998, p. 159), a amorosidade que ações neste campo são estra- sociais;
é também ingrediente fundamental tégicas para a construção compar- – suscitar reflexões e ações que
do trabalho educativo, na medida tilhada da consciência sanitária, questionem e rompam precon-
em que “educar exige querer bem”. concebida como apreensão crítica ceitos em relação à velhice;
Isto é especialmente valioso nas do direito à saúde no contexto de – valorizar as expressões dos ido-
ações com idosos pela particular re- afirmação da cidadania. sos e o maior intercâmbio e so-
levância do apoio social na velhice. Objetivos relacionados ao en- lidariedade intergeracional.
De outra parte, é também preo- sino e à pesquisa articulam-se a As ações educativas desenvol-
cupação do projeto considerar as este objetivo geral. O projeto visa a vidas atualmente no âmbito do
necessidades específicas do público contribuir para despertar ou refor- projeto são a seguir caracterizadas:
idoso nas ações educativas. Há neste çar a sensibilidade de estudantes e a) Mural interativo e caixa de su-
segmento uma disponibilidade para profissionais de saúde, através do gestões: São canais permanentes
aprender, criar e se relacionar, que exercício interdisciplinar no plane- de comunicação com a população
deve ser valorizada e estimulada. jamento, coordenação e avaliação usuária do NAI, com o objetivo de
Cabe, porém, contextualizar o pro- das ações. No plano da pesquisa, estimular sua participação no ser-
cesso educativo diante de eventuais objetiva-se a produção de estudos viço, democratizar o espaço institu-
limites do envelhecimento relacio- em promoção da saúde e envelhe- cional e estimular a reflexão sobre
nados à cognição, como: concentra- cimento e o aprofundamento de saúde e qualidade de vida. O mural
ção, memória, coordenação motora, estratégias metodológicas e de é estruturado com recursos gráfi-
visão, audição, dentre outras. avaliação de ações educativas em cos e visuais (contraste de cores,
Destaca-se, por fim, a interdisci- saúde, a fim de oferecer subsídios diagramação do espaço, estrutu-
plinaridade como estratégia central ou referências para as práticas em ração de legendas criativas, dentre
do projeto, na qual os diferentes outros contextos de atenção ao ido- outras), com vistas a despertar a
profissionais envolvidos constroem so (Assis et al, 2002). atenção do público. As informações
um campo comum de atuação, con- Os objetivos específicos que dispostas buscam interlocução en-
tribuindo com seus conhecimentos norteiam as ações em seu conjun- tre as atividades desenvolvidas pe-
específicos para compreensão e en- to são: lo NAI e os usuários do serviço. Os
frentamento das questões referen- – ampliar conhecimentos da po- idosos participam da composição
tes ao processo saúde/doença no pulação e dos profissionais de do mural através do envio de ma-
envelhecimento. saúde sobre o processo de en- teriais para divulgação e das críticas
Em síntese, a educação no âm- velhecimento e sobre fatores de e sugestões direcionadas ao NAI.
bito do projeto é pensada em seu risco e de proteção das doenças Há uma seção específica do mural
sentido emancipatório, de cons- e agravos mais comuns entre os para o retorno periódico das con-
trução de sentidos e de afirmação idosos; tribuições da caixa de sugestões,
de sujeitos que possam atuar indi- – estimular o autoconhecimento incluídas como temas para debate
vidual e coletivamente pela pro- e reforçar a auto-estima visando na sala-de-espera. Essas atividades
moção da qualidade de vida e pela ao desenvolvimento de capaci- estão organicamente relacionadas
valorização dos idosos no contexto dades do idoso e retomada/re- aos grupos que são realizados na
social brasileiro. construção de projetos de vida; sala-de-espera e servem também
– provocar a reflexão e construir como espaço de divulgação das
Ações Educativas em possibilidades para o autocuida- demais atividades do projeto e do
Promoção da Saúde no do como condição para maior próprio ambulatório.
autonomia e participação dos b) Grupo Encontros com a Saúde
Envelhecimento
sujeitos; (GES): São grupos fechados, de
O projeto prevê diferentes mo- – fortalecer a rede de suporte social quatorze encontros de duas horas,
dalidades de ações educativas, do idoso, através de sua inserção com média de doze pessoas, cuja
programação inclui temas como para planejamento e sistematiza- 21 Encontros, cujos temas encon-
envelhecimento, alimentação, ati- ção das reuniões e dinâmicas de tram-se no anexo 1.
vidade física, estresse, sexualidade, grupo, avaliação dos idosos sobre a d) Grupo Roda da Saúde: É um
memória, saúde oral, direitos dos proposta educativa e avaliação de grupo aberto, realizado semanal-
idosos, arte de sentir e se comu- cada grupo pela coordenação. mente, com duração de duas horas,
nicar, doenças comuns na velhi- c) Encontros sobre Promoção da caracterizado como “chá da tarde”.
ce (hipertensão arterial, diabetes, Saúde: São eventos direcionados Esta atividade foi criada em fun-
alterações ósteo-articulares e de- aos idosos que participam ou já par- ção do desejo de permanência dos
pressão), dentre outros. Durante a ticiparam dos GES, criados como idosos em atividade grupal após o
participação nos grupos, os idosos estratégia de educação continuada término do GES e/ou do Curso de
passam por uma avaliação multidi- em função da demanda dos parti- Nutrição e Terceira Idade oferecido
mensional de saúde e qualidade de vi- cipantes de manterem vínculo com pela UnATI. Do ponto de vista do
da, proposta como uma abordagem o Projeto ao término dos grupos. ambulatório NAI, também se mos-
educativa em nível individual, ba- Os encontros são abertos ao pú- trava oportuna a possibilidade de
seada em instrumento que enfoca blico em geral e acontecem qua- encaminhamento para atividade
fatores de risco e proteção, a partir tro vezes ao ano, em auditório da grupal a qualquer momento, sem a
de uma visão ampla da pessoa e de universidade. Os temas abordados necessidade de se esperar o término
seu contexto de vida. Na entrevista, são sugeridos pelos participantes na dos grupos fechados. A participação
os idosos passam por um exame fí- avaliação ao final de cada encontro. dos idosos no “Roda” pode ser pon-
sico sumário e são orientados quan- A duração do evento é de duas ho- tual ou continuada, conforme o in-
to à realização de alguns exames ras e, apesar de direcionado a um teresse pelas temáticas, divulgadas
laboratoriais básicos. A avaliação público mais amplo, busca-se pre- previamente nos murais do ambu-
multidimensional é feita em dupla servar o clima de envolvimento e latório e da UnATI. A programação
ou por um profissional, de acordo participação dos grupos, dentro dos é definida pelo próprio grupo, a
com limites de competência de limites da atividade. Para isso, as partir de planejamento conjunto
cada área. É também disponibiliza- estratégias são: a) articular os mo- e/ou das sugestões de temas emer-
da aos interessados uma avaliação mentos de abertura e fechamento gentes no processo educativo. Es-
nutricional pelo Projeto Nutrição e ao contexto do projeto, inclusive pera-se que cada encontro produza
Terceira Idade, na qual os idosos re- fazendo a divulgação de dados coletivamente algo considerado
cebem uma orientação nutricional de saúde e qualidade de vida dos “uma reflexão útil à vida”, não
individualizada após a identificação idosos que participaram do GES, dependente diretamente de con-
conjunta das questões alimentares de acordo com o tema; b) trazer tinuidade ou de abordagem prévia
envolvidas. A coordenação do GES convidados que contribuam com a de outros temas para assumir sen-
é feita por um profissional do NAI, temática do dia e mobilizem o de- tido. A contribuição dos idosos na
com experiência de trabalho edu- bate; e c) valorizar a apresentação pesquisa dos temas e na apresen-
cativo em grupo, e dois treinandos, de produções artísticas dos idosos tação de suas produções (poesias,
preferencialmente de áreas profis- da UnATI e de outros grupos cultu- textos, histórias…) é incorporada
sionais diversas. Os encontros são rais como momentos de descontra- às dinâmicas e fortalece a integra-
baseados em dinâmicas de grupo, ção e incentivo à expressão criativa ção grupal. Os recursos didáticos
cuja proposta básica a ser recriada dos idosos. Atualmente os encon- são os mais diversos, como sorteio
por cada equipe coordenadora está tros ocorrem em turno reservado à de pontos para discussão, trabalho
apresentada em material instrutivo reunião geral de rotina da equipe em subgrupos, dramatização, jogos,
de apoio (Assis et al. 2002). São rea- do NAI para propiciar o convívio reflexão sobre poesias ou músicas,
lizados dois grupos por semestre. A dos idosos com os profissionais e pequenas exposições com apoio de
continuação dos idosos no traba- treinandos do serviço em espaço cartazes, dentre outras. Ao longo
lho educativo pode se dar através alternativo à assistência cotidiana. da reunião é servido um chá que
dos Encontros sobre Promoção da Através do grupo Roda da Saúde, simboliza o clima de proximidade
Saúde (eventos periódicos) e/ou do que agrega participantes com in- e aconchego buscado na proposta
grupo aberto Roda da Saúde. O GES serção mais antiga no projeto, tem educativa. A dimensão de acolhi-
conta com materiais educativos de sido estimulada a participação dos mento/vínculo é destacada pelos
apoio (Viva bem a Idade que você tem, próprios idosos no planejamento e idosos no processo avaliativo, ao
baseado em material do Ministério na realização desta atividade. Até lado do formato do grupo de não
da Saúde), instrumentos próprios o final de 2006 foram realizados obrigatoriedade de cumprimen-
to de uma programação fechada. articulação permite também difun- práticas de saúde, partilhando dos
Apesar de parte dos idosos ressaltar dir os principais temas abordados esforços de superar o reducionismo
positivamente o não compromisso, na sala de espera, com o objetivo e buscar uma apreensão ampliada
há um grupo que mantém regulari- de atingir outros idosos e usuários das necessidades de saúde (Mattos,
dade na participação, caracterizan- do ambulatório, além dos que es- 2004).
do uma proposta plural que atinge tavam presentes no momento de Na dinâmica do serviço, o
a variadas demandas. A média de realização do grupo. projeto representa um “abrir por-
participação nos encontros tem si- g) Produção de materiais educati- tas” à participação, aproximando
do de 15 idosos. vos: Envolve a criação de folders, profissionais e população, fortale-
e) Grupo de sala-de-espera: São folhetos e materiais didático-pe- cendo o compromisso com assis-
reuniões realizadas no espaço da dagógicos. Objetiva dar suporte às tência de qualidade, centrada no
recepção do ambulatório NAI, com ações e, por intermédio dos parti- vínculo, na responsabilização e
periodicidade quinzenal. O plane- cipantes, disseminar informações na partilha dos desafios para o en-
jamento prévio do grupo é definido nas famílias e comunidade em velhecimento ativo na realidade
pela equipe e a sistematização dos geral. Na dinâmica dos grupos, brasileira. No plano do ensino, as
encontros é feita em formulário especialmente do grupo aberto ações educativas estimulam uma
próprio, com todas as etapas do “Roda da Saúde”, alguns mate- nova sensibilidade na cultura pro-
processo. Aborda temas diversos e riais síntese dos temas abordados fissional, através da valorização da
baseia-se no compartilhamento de são eventualmente produzidos experiência subjetiva dos treinan-
conhecimentos e experiências. As a partir da própria produção dos dos, pessoas também em contato
estratégias metodológicas envol- participantes nas reuniões. Esta é com o envelhecimento em seu cur-
vem breves dinâmicas de grupo e uma ação estratégica para reforçar so de vida, chamadas a se envolver
recursos visuais como facilitadores nestes o sentimento intencionado nas dinâmicas e a compartilhar
da discussão. É um espaço que se de co-produção do trabalho. Nesta suas questões de vida e saúde no
abre a dúvidas, críticas, opiniões e vertente do projeto inclui-se como cotidiano. Este exercício contribui
sugestões dos usuários quanto ao questão a complexidade e desafios para uma postura profissional mais
serviço e que permite a circulação da comunicação em saúde, dentre aberta a incluir o outro e seus sa-
de informações sobre eventos e os quais o de produção de textos e beres e a considerar as condições
atividades de interesse na área de materiais estimulantes, reflexivos, socioeconômicas e culturais em sua
saúde e envelhecimento. No limite ao invés de centrados na prescrição relação com a saúde. Este campo
do tempo (cerca de 30 a 45 minu- de condutas. de atuação possibilita, portanto, o
tos) e do espaço disponível (sujeito Os eixos de atuação aqui des- enriquecimento da prática interdis-
a interferências externas), o debate critos têm uma equipe específica ciplinar e, na lógica de organização
pretende suscitar reflexões sobre responsável e uma dinâmica de sis- das ações do NAI, é mais um dife-
algum aspecto da saúde na reali- tematização, planejamento e moni- rencial para o exercício da integra-
dade cotidiana de vida, apontando toramento próprios. O intercâmbio lidade em saúde do idoso (Motta et
caminhos e sugestões às questões e a articulação do conjunto do tra- al, 2007).
levantadas. Por outro lado, o gru- balho ocorrem na troca cotidiana As ações do projeto incorpo-
po estimula a proximidade da po- e nas reuniões mensais da equipe ram processos avaliativos continu-
pulação na construção do serviço, do projeto. ados e, dentre seus desafios atuais,
ressaltando a importância de sua destaca-se a busca por aprofundar
participação para que este corres- Contribuição do projeto no metodologias que permitam aferir
ponda às suas necessidades. Os cotidiano assistencial seu valor no fortalecimento dos su-
temas abordados no grupo são jeitos envolvidos, perceptível nas
correlacionados ao mural e à caixa As múltiplas frentes de atuação experiências grupais e evidenciado
de sugestões, através da articulação impossibilitam aqui uma análise na avaliação dos idosos sobre o tra-
das respectivas equipes e de alguns mais detalhada de seu alcance e li- balho (Assis, 2004).
membros comuns a ambas. O mu- mites. A trajetória desta construção A articulação entre dimensões
ral resume os principais aspectos do e algumas avaliações já realizadas individuais e coletivas, como au-
tema abordado no grupo de sala de permitem afirmar, porém, que a tocuidado, participação e políticas
espera e este, por sua vez, se utiliza experiência do projeto valoriza e públicas, é um ponto de reflexão
da sistematização do mural como traz ao debate a riqueza e comple- no desenvolvimento da expe-
eventual elemento de apoio. Esta xidade da dimensão educativa nas riência no sentido de articulação
REFERÊNCIAS
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UnATI/UERJ [Tese]. Rio de Janeiro: Ensp/Fiocruz; 2004.
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Mural Interativo
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