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Hoje, um em cada quatro norte-
americanos acredita na previsão dos
astros e um em cada dois franceses
tem algum interesse pela astrologia.
Se esse saber foi constituído, em
seus traços básicos, na Mesopotâmia
de cerca de 2000 a.C., ele perma
neceu por muito tempo prerrogati H istória d a astrologia
tradução:
Kelly Passos
Q
EDITORA
GfOBO
Copyright © Verla g C. H. Beck oHG , München 200 3
Copyright da tradução © 20 07 by Edit ora Gl obo S .A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode
ser utili zada ou reproduzida e m qu alquer me io ou forma, seja
mec ânico ou eletrônico, fotocópia, gravação etc. nem apropria da
ou estocada em sistema de bancos de dados, sem a expressa
autorização da editora.
Título srcinal :
Gesch.ich.te der Astr olo gie
Prefácio ............................................................................ 11
I. Introdução ..................................................................... 15
1. O tempo interpretado: o que é astrologia? ............ 16
A astrologia no contexto das disciplinas esotéricos, 17
2. Os elementos dainterpretação astrológica ............... 20
Conceitos básicos e ferramentas, 21 — Campos de
atuação e questionamentos, 30
II. Dos primórdios ao complexo sistema de
interpretação .................................................................. 34
1. Calendário, culto e cosmos: astrologia na Idade
da Pedra? ..................................................................... 36
Religiões astrais na Europa antiga, 36 — Círcullos
de pedra, cones e chapéus: a conotação religiosa
dos calendários, 38
2. Mesopotâmia ............................................................. 45
A consolidação da tradição no segundo milênio, 448
— Dos presságios astrais à astrologia, 62
3. A influência do Egito ............................................. 74
Teorias dos decanatos, 77 — Hermes Trismegisto,i,7 9
A astrologia na Antigüi dade .............................................. 83 2. Filosofia natural e esoterismo ............................... 227
1. A astrologia grega até H ip ar co ........................................ 87 Um conflito entre sábios, 228 — Mag ia natura^
Os filósofos, 87 — A transmissão da astrologia babilônica: hermetismo, medicina, 237
Berossos, 92 — Hiparco calcula a precessão, 94 3. Astrólogos profissionais e professores unive rsitáos . • 24 2
2. A ascensão da astrologia à condição de técnica A ferrament a astrológica, 242 — A práti ca do
dominante de interpretação do tempo em Roma .......... 96 aconselhamento e estudos psicológicos: Girolamc
As escolas filo sóf ica s e a astrologia, 96 — Sinais celestes Cardano , 24 4 — Diagnósticos políticos e hist ories, 24 8
e alta política: o exem plo de Virgílio, 10 5 — Astrólogos e 4. O primeiro acontecimento midiático de massa
imperado res, destino e política, 109 — As grandes obras da Idade Moderna ...
....................................................... 251
astrológicas do fim da Antigüidade, 121 — A astrologia
torna-se alvo dos tribunais cristãos, 127 O Almanaque
do dilúvio parade1524,
Johannes
253 Stõjfler, 251
— A previsão
3. Como as antigas religiões se posicionaram frente
VI. O fim da astro logia? Revoluçõ es científic as e
à astrologia? 133
pesqu isa na tura l ilum inist a 25 9
...............................................................................
criação?, 134 — Judaísm o: entr e Jerusalém, 1. A astrologia sob a influênc ia das confi ssõe s . . . . . . . 261
Alexand ria e a Babilônia, 137 — Cristianismo: Messias ou fil ho de Satanás: a discussão em torne do
a variedade de posturas possíveis, 149 — horóscopo de Lutero, 262 — A Igreja Católica e o
Man ique ísmo: a astrologia em nova vestimenta, 164 controle do discurso, 267
Cor em v ez de escur idão: a Idade M é d ia ................. . 170 2. As “revoluções” científicas e filosóficas .. ............. 27 0
O fim do modelo geocêntrico, 272 — Newton e o>
1. Introdução: a construção do “Ocidente cristão” . . . . 170
estabelecimento de uma visão de mundo mecaniciista,
2. A astrologia na cultura islâ m ic a ....................................... 172 279 — A astrologia em crise, 283
A astrologia islâm ica entr e ciênci a, fil osofi a natural e
esoterismo, 175 — De Bagdá a al-Andalus, 1 80 3. Do iluminismo ao romantismo ............................... 29 5
Iluminismo, esoterismo, astrologia, 295 — Romanttismo
............................................
debates filosóficos e o meio social daqueles que praticam essa arte. ustnilogia nos últimos an os , pelos muitos incentivos discu ssõe s;
Para apresentar a história da astrologia ocidental em um único N.iclja Paprotzki foi de grande ajuda no levantamento d bibliografia
livro, é necessário, na escolha e apresentação do material, enfocar i' na revisão. Devo um agradecimento especial à editor;C. H. Beck
importantes representantes de cada época q ue ilustrem os debat es e as r pnncipalmente a Ulrich Noite, que incentivou o projeo e o acom
linhas de evolução da astrologia do período em questão. Com isso, o |i.mliou com grande interesse e profissionalismo. Last ut not least,
critério a ser considerado não é a representação completa, mas a rele- ifiadeço à minha mulher Heike pelas maravilhosas coiversas sobre
vância dos exemplos escolhidos. Ao mesmo tempo, é importante reve- o sentido e a falta de sentido da astrologia, bem como pda felicidade
lar as conexões existentes en tre as épocas. Para manter a cla reza, segui ■l< uma vida plena. A ela, então, dedico este livro.
Planeta Domicilio
Sol Leão
Lua Câncer
Mercúrio Gêmeos e Virgem
Vênus Touro e Libra
Marte Áries e Escorpião
Júp iter Peixes e Sagitário
Saturno Aquário e C apricórnio
Planetas utilizados hoje
Urano Aquário
Netuno Peixes
Plutão Escorpião
(.hôra , de
mado “a “ascendente”
hora” e skopein,
(do“olhar”). Hoje, esseascender).
latim ascendere, grau da eclíptica é cha-
Com o ascendente ( a c ), já se men cion a um impor tante ele me n-
to do horóscopo. É muito fácil entender como ele surge: se o horós-
copo é o registro momentâneo do céu estelar, então, há também um
horizonte que separa a metade visível da metade invisível do céu.
Com a rotação da Terra, todos os doze signos e todos os planetas rea-
lizam, em vinte e quatro horas, uma volta completa em torno do
observador. O signo que “ascende” no Oriente é o signo ascendente;
ao meiodia, os signos e os planetas passam pela chamada culminação,
posicionandose no meio do céu (que ao norte do Equador, porém,
não se encontra em posição perpendicular em relação ao observador),
para desaparecerem novamente no Ocidente à noite. O meio do céu I In. 4: H oróscopo do p olítico Joschka Fischer. Um ho róscopo é a ajplicaç ão grá-
11. ,i das constelações planetárias num determinado momento, num .determinado
é chamado na astrologia de medium coeli ( m c ), o horizonte ocidental,
loi nl, aqui em 12 de abril de 1948, 5h30, em Gerabronn.
poente, é o descendente ( d c ). Da mesma forma como AC e DC se
encontram face a face, há, em oposição ao MC, também o immum
pivtivamente à latitude de cada local. Nesse gráfico, imcluemse,
coeli (em latim, “fundo do céu”). i nI.i<>, os planetas, e os respectivos aspecto s form ados entrre eles são
Ao transcrevermos graficamente esses quatro pontos do céu da
drino nstr ados mediante linhas de ligação (muitas vezes em cores
perspectiva de um observador, surgem, então, dois eixos principais
diferentes). A figura 3 mostra uma forma contemporânea i de repre
do horóscopo que, por sua vez, formam quatro quadrantes. Atualmen-
••i iiiação do horóscopo. Tratase do horóscopo natal do poolítico ale
te, costumase dar preferência a uma representação circular na qual a iii.io Joschka Fischer com o Sol e o ascendente em Ariies; como
linha horizontal representa o horizonte (AC à esquerda, DC à direita), Ii v li e r nasceu pouco antes do amanhecer, o Sol encontra:se na pri-
enquanto a divisão vertical (MC em cima, DC abaixo) é adaptada res meira casa logo abaixo do ascendente.
dos quatro quadrantes em três segmentos cada, os quais são contados s são “desencadeadas” em determinados momenjs. De certo
em sentido antihorário a partir do ascendente (ver também p. 191 e lliitilo, isso eqü ivale a “dinam izar o horóscopo.
segs.). Desde a Antigüidade, a posição das casas de um planeta rece- A forma mais simples de dinamização consiste n análise dos
beu atenção especial, visto que oferecia referências mundanas para a 1 ilnsitos (do latim transite, “transição” ) que ocor rem en u m momen
1
interpretação: a sétima casa tinha a ver com relacionamento e casa- ln concreto. Com velocidades de rotação diversas, os ;lanetas atra-
mento; a décima, com o sucesso social; a quinta, com os filhos; a vessam o zodíaco e tocam nos pontos que, no horoscop» natal, estão
segunda, com bens materiais e assim por diante. Embora a astrologia identificados por eixos ou por planetas. Nesses períodis, “desenca-
tenha se tornado mais cautelosa com essas classificações estereotipa- deiam o fator” da maneira correspondente ao seu carátír.
das, pouco mudou até hoje no sentido básico atribuído a cada casa. Uma outra técnica de dinamização, também conh^ida desde a
A arte da interpretação de horóscopos reside em extrair uma lei- Antigüidade, consiste em “deslocar” lentamente todo o horóscopo
tura de um quadro geral extremamente complexo que tanto dê conta i,ii |irai. Existem várias possibilida des: as direções deslocam o horós
dessa complexidade como a reduza, isolando temas principais e criando , , ,|u> radical anualmente no arco diário de um planeta (geralmente o
uma espécie de hierarquia dos elementos interpretativos. Além disso, Sul, daí se falar em direção do arco do Sol); no caso do Sol, todos os
tratase de “traduzir” a linguagem simbólica abstrata para a linguagem l.ilores são “desloca dos” em aproximadamente I o por ano (o arco diá
concreta do cotidiano. A maioria dos astrólogos trabalhava e ainda tra- nii do Sol), o que acarreta transições muito lentas dos fatores deslo
balha descrevendo inicialmente uma impressão geral (começando
i udos sobre os fatores radicais. Um método alternativo consiste nas
com a posição do Sol, com o ascendente e os eixos principais), para
i hnmadas prog ressões; nesse caso, também se utiliza a equação “um
depois se dedicar a posições individuais dos planetas, que são introdu-
ii no um dia”, observandose, contudo, o m ovimento de todos os pla
zidas nessa impressão geral a fim de completála. Observase a locali-
nrias. Caso se queira, por exempl o, elaborar o horós copo de progres
zação de um planeta nos signos e nas casas, bem como a estrutura de
., o para o 25a ano de vida, observamse as posições dos planetas no
1
aspectos na qual ele pode estar inserido. Daí resultam interpretações
dia após o nascimento, relacionandoas ao horóscopo) radical.
muito detalhadas e, por vezes, também contraditórias, que o astrólogo
l)o mesmo modo, os solares têm sido utilizados de;sde sempre
tem de levar em conta para apreender toda a personalidade do nativo
p.ua a dinamização de um horóscopo: calculase, para umi determina-
(no caso da interpretação do horóscopo natal).
do ano de vida, o retorno exato do Sol a sua posição radicail e elabora
Dinamizações: o eixo do tempo — As possibilidades da astrologia 'ii■para esse momento do “aniversário astronômic o” e para o domicílio
não se esgotam em absoluto no trabalho de interpretação de um horós- jin.il um horóscopo próprio, que será interpretado em relaação ao res
copo, como exposto acima. Além de ser possível comparar vários pedivo ano de vida. Oslunares — horóscopos para o retorno da Lua
horóscopos entre si e interpretar os aspectos existentes entre eles, a ii sua posição radical ou simplesmente horoscopos da Lu<ja Nova — ,
tradição astrológica desenvolveu uma série de técnicas para incluir por sua vez, são utilizados para uma espécie de “sintoniz^ação preci
a dimensão temporal na interpretação, pressupondo que nem todos mi", Como só têm validade de um mês, recebem naturalmeente menor
os fatores de um horóscopo natal — falase também de horóscopo Importância do que os solares.
sa, que pretendia dominar tod as as técnicas citadas — é uma disci- plli vaslos setores da economia. Enquanto antigamente ç astrólogos
plina altamente exigente. Multam de prever períodos de fome, enchentes, doenças q preços de
econômicos, o interesse hoje recai principalmente so(re possíveis
tHiiliii'. na bolsa de valores e o desenvolvimento de diterminadas
Campos de atuação e questionamentos . iii|mi'síis. Há uma série de técnicas que merecem ser analiadas: astró
Interpretações e instrumentos astrológicos podem ser aplicados em |iiy.ii', especializados em economia examinam, por exemplo, as horósco
questionamentos completamente diferentes. O horóscopo é, na maio- •iimde l undação de em presas (elaborados com b ase no registro comer
ria das vezes, o ponto de partida para a interpretação, mas é claro que i Ml ou no “nasc imen to” da idéia para a empresa), compar amnos com
pode ser elaborado não só para pessoas, como também para aconte- ■• limóscopos natais de seus executivos e funcionários, relacionando os
cimentos históricos, países, empresas e muito mais. Daí resultam liiHiliem com os horóscopos de determinados estados ou cdades para
ilc.i olirir os melhores locais para o estabelecimento das empresas, ou
diferentes campos de atuação da astrologia, que, grosso m odo, podem
ser divididos em duas áreas: o interesse público e o privado. nli,eivam os trânsitos e demais vibrações a fim de dar conselhos a res
1 .1 i|ii de investimentos. Há uma série de grandes empresas que contra
Astrologia mun dana — O principal interesse da astrologia — o que astrólogos. Ao lado das tarefas citadas, esperase tambéim que, por
pode parecer surpreendente diante da situação atu al — co ncentrava i i i asíiln de novas contratações, estudem os horóscopos dos candidatos
se, até a Idade Moderna, menos nas questões particulares e muito . Mmo intuito de verificar se co mbinam com a visão da empre sa, co m os
mais nas públicas. A astronomia descrevia a qualidade do tempo em imiros funcionários e com o trabalho exigido.
relação a acontecimentos políticos e econômicos. Ao se analisar, por A análise dos fatos políticos, porém, sem pre esteve e (continua a
exemplo, o horóscopo de um rei, não se agia em razão do interesse i i ii no foco da “astrologia da atualidade”. Diversas técniicas foram
Inventadas para entender e prognosticar o desenvolvimentto de cole
por sua personalidade individual, mas porque ele representava e condu- li\ulatles (ver Baigent et aí., 19 89), en tre elas, a análise doíis horósco
zia o destino do país. O termo técnico para esses questionamentos é,
desde a Antigüidade, astrologia mundana (do latim mundus, mundo). |in'. de fundação de cidades, estados e países, bem como aa interpre
A astrologia mundana abrese, por sua vez, num leque de dife- Iiii,,In ilos horóscopos natais dos seus soberanos. Como oo rei ou o
rentes ramos. No passado, eram de grande importância os prognósti- imperador representavam o país inteiro, admitiase quee os seus
hmúscopos também eram importantes para os súditos. Es:ssa hierar
cos para a agricultura, que previam condições climáticas e os resul-
tados das colheitas. Com o advento da meteorologia científica, esses iliii/nçao servia, de quebra, para explicar por que várias pessoais sofriam
prognósticos tornaramse obviamente desnecessários, de modo que ii mesmo destino em uma batalha ou em épocas de fome, í apesar de
Todas as técnicas já expostas podem ser aplicadas ao horóscopo iiliin <•,i inserção de outros instrumentos conduzem a uma <ampliação
individual, que, via de regra, é elaborado com base no momento do inpnneiicial da sua capacidade assertiva. O trabalho astrolóógico é, no
nascime nto, visto que ess e — ao contrário do momento d a concep- Hiiinlo mais verdadeiro, um processo criativo, que gera iiinterpreta
ção — pode ser determinado com precisão e também po rque o corte ^ftes e, às vezes, estabelece conexões surpreendentes.
à PréH istória e à Idade Antiga: será q ue os círculos de pedra da Idace 11WMH, I, 11 54 ). É claro que querem os saber o que se n te n d e exata
Antiga, os muros da Idade da Pedra e os artefatos da Idade do Bron;e ini uh por essa palavrachave, pois o significad o religiço do Sol e da
já não ind icam um tamanho grau de com pet ênc ia astronômica paia I UH pode trazer con seqü ência s mitológicas, rituais e sci a is comple
buscarmos aí as srcens da ciência dos astros? Itfllienle distintas e os recorrentes círculos em formale raios sobre
Hi ir. c anéis nad a revelam a respeito da função religio s d e tais peças
iiii mesmo do papel de sacerdotes em uma determinad; comunidade.
1. C alendár i o , culto e cosmos : |*mii Isso, é preciso recorrer a outras informações obti<as no contex
ASTROLOGIA NA IDADE DA PED RA? i i il.r* descob ertas. Gen eralizaçõ es precipitadas têm d: se r evitadas.
A* conclusões e interpretações são inicialmente válida; apenas para
Os estudos da PréHistória e da Idade Antiga confrontamse com o Mr«'KÍílo onde os objetos descobertos se encontram, p<ra dali serem
grande problema de lidar com registros arqueológicos que não podem i i. iididas por analogia, com toda a cautela, a povoaçcçs vizinhas.
ser interpretados em associação com documentos escritos. Ao contrá- Apesar dessa limitação, a pesquisa de tais culturas alcançou,
rio do que ocorre no Egito ou na Mesopotâmia, onde fontes escritas dúvida, resultados surpreende ntes, principalmente nos locais
facilitam substancialmente a interpretação de monumentos, registros onde uma variedade de objetos encontrados fornece um cenário dife
da Idade Antiga têm de ser interpretados no contexto em que foram lem i.ido com boas possibilidades de comparação. Um jo m exemplo
encontrados — o ensemble — e à luz de características culturais ger ais i i lístandinávia da Idade do Bronze. Hoje, a tese de qiie cultur as da
de uma época ou de uma área de povoação. É evidente que muitas Mide do Bronze que habitavam a Dinamarca e o sul da Suécia con
lacunas têm de ser preenchidas com conclusões, mais ou menos jus- h imiii ao Sol e ao seu movimento no céu uma enorme importância
tificáveis, estabelecidas por analogia, como também com teorias espe- MIiy,i(isa, enfatizada em seus rituais, pode ser vista como plausível.
culativas, a fim de se chegar a afirmações generalizadas acerca da I Nu grande número de representaç ões de navios mostra constância
região de uma determinada cultura. Nesse sentido, o importante é li miográfica: determinados conjuntos de símbolos só são encontra
que quanto mais contextos forem conhecidos, menor será a especula- .|.i. no percurso dos navios do leste para o oeste, outros, ao contrário,
ção, quanto mais descobertas arqueológicas passíveis de comparação .1
...... para o leste. Podese excluir a hipótese de que e:ssa recorrên
existirem, maior a segurança na interpretação. i i,i .eja fruto do acaso. Com o comprova Flemming Kaiul, temos de
siderar a grande disseminaçã o de certas carac terística s mitológi
i ,i i' cultuais na região sul da Escandinávia, que se corncentram na
Religiões astrais na Europa antiga . i.indc importância do Sol e nas conotações iconográficcas do navio
No que se refere à questão das concepções religiosas e cosmológicas 11\.ml, 1998, I, 25872).
da Europa antiga, estreitamente ligada à questão da competência Não são apenas as representações de navios quee revelam a
astronômica das culturas da época, as últimas décadas trouxeram importância religiosa do movimento do Sol na Idade do IBronze, mas
alguns avanços. Em razão de uma série de descobertas que mostram huiibém a descoberta mais famosa daquele período, a ch.iamada “car
um simbolismo astral em objetos de uso e adornos, muitos cientistas iniigem solar de Trundholm”. Encontrada em 1902 em SSjaelland, no
tendem hoje a admitir que a Europa do Neolítico e da Idade do noroeste da Escandinávia, a carruagem apresenta a figgura de um
luto a um simples instrumento destinado a medir intervalos de tempo, r . 1, 1 certo de que a arquitetura e sua expressão artísttica não podem
mas serve à determinação qualitativa do tempo em um contexto reli- mt explicadas somente como calendários, conforme supõem outros
gioso. Recorrências astronômica s, como a trajetória anual do Sol i i<nl istas, mas sim como uma cosmologia materializada em pedra.
pelos quatro pontos cardeais ou as fases da Lua, que serviam à divi- |'m meio de comparaçõ es (aliás, vagas) com as culturais detentoras de
são do tempo, receberam, por esse motivo, grande atenção nas cultu- cm lita do terceiro e segundo milênios antes de Cristco fica evidente,
ras do mundo antigo que possuíam uma escrita, e resta supor que o wy,undo North, que “acontecimentos astronômicos cenitrais [...] foram
mesmo aconteceu nas culturas européias desprovidas de escrita. absorvidos em explicações religiosas” (1996, 519; cf. ttambém North,
Enquanto questionamentos a esse respeito eram antes discutidos I'>'M, xxv). Isso não exclui, evidentemente, que as consttruções tenham
sobretudo com base nos círculos de pedra neolíticos — dos quais possuído a função adicional de calendários, especialmente se conside
Stonehenge é o monumento mais famoso — , desenvolveuse, nos larmos o calendário como uma conquista significativa jpara a religião.
últimos anos, uma discussão inflamada em torno da existência de A interpretação de Sto nehen ge to rnase difícil, i na medida em
calendários na Idade Antiga, que alguns cientistas julgam reconhecer 1 11 k■não se pode esquecer que não estamos diante; de um único
em artefatos e cones de ouro da Idade do Bronze. Uma análise sucin- niiiiuimento, mas de toda uma série de construções, quue foram ergui
ta pretende esclarecer esse ponto. , |.is e ampliadas por um longo período de tempo (de apnroximadamente
religiosas. Podemos, no entanto, admitir a conotação religiosa da arqui- possível observar também na Europa uma mudança cultur^al que abran-
geu muitas áreas da vida intelectuale econômica e levou, u a profundas
tetura de inspiração cosmológica e a grande importância que os mem-
reestruturações sociais. (Menghin, 2000, 1013).
bros daquelas culturas atribuíam aos cicl os do Sol e da Lua. Hoje,
H istória d a astitrologia 41
40 Kocku von Stuckrad
Menghin imagina que os “senhores do tempo” utilizavam aque-
les cones de ouro como “chapéus” para consolidar, de forma mágica,
a sua autoridade. Embora a maioria dos cientistas se mantenha céti-
ca diante dessa teoria, muitos examinaram com maior precisão as
suas descobertas, supostamente apenas adornadas com saliências (ele-
vações), inscrições (cavidades) e linhas, buscando, como Menghin,
recorrências que pudessem indicar a existência de um calendário.
Alguns acabaram fazendo descobertas e supondo que as culturas da
Idade do Bronze teriam conhecimentos matemáticos até agora igno-
rados, conseguindo integrar os trajetos solar e lunar num sistema de
calendário lunissolar.
Independentemente de como essa discussão venha a se desen-
volver, podemos já agora assegurar o seguinte: parece inadmissível
que uma cultura sem escrita pudesse haver transmitido complexos
procedimentos matemáticos, como os que são necessários à elabora-
ção de um sistema de calendário, através de gerações, ainda que
tivessem de fato chegado até aí. As formas matemáticas propostas por
Menghin e outros são tão complexas que teriam sido destituídas de
qualquer manuseio prático numa cultura sem escrita.
I 1^. 4: O D isco Celeste de Nebra. O dis co de 3.60 0 anos e pesando 2,lk g é deco-
O disco celeste de Nebra — No ano de 2002, foi encontr ado na cida- i,i<Iocom 32 estrelas de ou ro, bem com o com repr esentações falcif: ormes e circula-
IVK, cujosignificado astronômico tem sido objeto de discussões científicas.
de de Nebra, no estado alemão da SaxôniaAnhalt, um disco com
uma representação do céu que logo começou a ser discutido como uma
das mais espetaculares descobertas dos últimos cem anos. O ensemble c o que acreditam eufóricos os pesquisadores do Instittuto Estadual
— espadas de bronze com pegadores dourad os, entre o utros — indi- ilr Arqueologia da cidade de Halle.
ca o início da Idade do Bronze, ou seja, há aproximadamente 3.600 Apesar de ser, sem dúvida, impressionante, o disc;o é de difícil
anos antes da nossa era. O “disco celeste ” com suas representações interpretação. Será qu e o disco completam ente dourado^ representa o
das estrelas, do Sol e da Lua, pesa dois quilos e é sensacional por ser Sol ou a Lua Cheia? Os sete pontos dourados que o artissta reuniu em
até agora a prova mais remota da existência de uma cosmologia euro- nin grupo simbolizam as Plêiades? As foices podem seer entendidas
péia antiga (ver figura 4). Se considerarmos as características do local como faces da Lua ( então, por que duas?) ou como “bbarca celeste”
— do Mittelberg, perto de Nebra , vêse a maior montanha d a região sobre a qual o Sol se locomove durante a noite? Será quee uma das foi-
do Harz, o Brocken — , então não é impossível que os dados astronô- ces é idêntica à Via Láctea? Os riscos localizados nas eextremidades
micos representados correspondam às figuras celestes observadas — do disco reproduzem os limites do horizonte para obser^vações astro-
H istória d a astroiologia 49
48 Kocku von Stuckrad
no sexto mês, e ao abate de porcos no sétimo mês, e relatórios referen iluções. Nils Heessel conclui, a partir dessa evolução, que o interes
tes a obras do rei Gudea de Lagash testemunham que se costumava kr cm torno das possibilidades divinatórias do horóscopo cresceu no
escolher dias apropriados para a colocação da pedra fundamental para tlivnrrer do tempo, enquanto as fases anteriores se concentraram
não prejudicar de antemão todo o projeto, como mostram pesquisas lolmtudo na regulamentação do comportamento social. Assim, essa
recentes de Nils Heessel. Assim, um texto do período de 1500 antes da li adição diagnostica tornouse interessan te também para outras
nos sa era logo viria a se tornar uma das obras de consulta mais impor- rticas. Um texto do século XI antes da nossa era, por exemplo, prevê
tantes para a comunidade de sacerdotes astrólogos, sendo já conheci- li desenrolar de uma enfermidade febril, interpretando o futuro do
do na capital hitita de Hattusa e na cidade de Ugarit em 1300. Trata doente com base no mês, no dia e no horário em que a febre havia
se do chamado “Almanaque Babilônico”. O Almanaque divide o ano t omeçado (Heessel, 2000, 10410 e 2379). Um outro exemplo seria
solar em doze meses de trinta dias cada, procedendo, portanto, de forma ii serie “Quando uma cidade se situa em uma elevação”, na qual a
diferente da utilizada, via de regra, nos cultos do calendário lunar. Para Interpretação de sinais que aparecem depende do mês de observação
cada um dos 360 dias do ano, consta uma avaliação que vai de infor- c. em alguns casos, — como na con strução de um tú mulo — se
mações bastan te gerais como "apropriado”, “desapropriado” e “parcial- rslende também ao dia da construção (Freedman, 1998, 2402).
mente apropriado” a dicas concretas de natureza prática. Para o mês de Aqui, cabe indagar qual o papel para a vida cotidiana dessas clas
primavera Nisannu, por exemplo, consta: «llicações de dias bons e ruins, às vezes extremamente meticulosas.
Protocolos datados de rituais de sacrifícios, documentos jurídicos e
Mês Nisannu, 13“ dia: ele não deve se casar; 142 dia: apropriado para uma série de cartas conservadas nos levam a concluir que o horósco-
ir à Jus tiça ; 15Qdia: será tomado por um feitiço; 16a dia: alcan ce um po estava solidamente ancorado na vida pública. Documentos assí
objetivo! 17s dia: um médico não deverá tocar em nenhum doen te. rios de Assur, Nínive e Kalhu mostram nitidamente que havia um
(Labat, 1941, 23)
i uiilado extremo em evitar dias desapropriados para a assinatura de
contratos e a realização de rituais. Mardukschakinschumi, o princi-
Os prognósticos afetam todos os domínios da vida privada e
pal feiticeiro do rei, escreve ao seu senhor que não iria realizar no dia
pública. Embora se encontrem entre eles algumas informações sobre
seguinte o ritual real b t rimki, que se estenderia por vários dias, com
questões militares, como a conquista de uma cidade, o Almanaque
a seguinte justificativa:
destinase em primeira linha à organização do cotidiano. De resto, até
hoje ainda não se conseguiu ordenar as razões subjacentes aos prog- O Rei, meu Senhor, sabe que um feiticeiro não deve proferir a “oração
nósticos em um sistema fechado. das mãos erguidas”em um dia perigoso. Por isso, vou conferir, reunir e
A repercussão do Almanaque Babilônico foi ampla. Ele foi copia- copiar várias (porém,
nicas, recitar — precisamente 20,somente)
as orações, 30 — tábuas canônicas
amanhã à noiteeou
nãonacanô-
noite
do, ampliado e adaptado a outros questionamentos, principalmente
de caráter religioso. O chamado “Horóscopo de Assur", que comple- do décimo quinto dia. [...] No entanto, se o Rei, meu Senhor, desejar,
deve escrever a Calah e mandar rezar contra todo o Mal para o Príncipe
tava o Almanaque, contém informações sobre a realização de cultos,
Herdeiro e o Príncipe da Babilônia a “oração das mãos erguidas” e rea-
orações e rituais, sobre a observância de tabus ou sobre qual dia seria lizar o ritual de proteção perante o deus da Lua. Que mal (isso) teria?
ideal para levar oferendas de pão a qual divindade. Outro anexo refe-
(Parpola, 1993, 191)
rese às conseqü ências que adviriam do desrespeito a essas recomen
manuseio, hoje conservadas no Museu Britânico, é possível imaginar I,iI processo de sistematização dos presságios, iniciado ainda no
que tais textos tenham sido a obra de consulta mais impo rtante para os xiyundo milênio. Pois documentos semelhantes foram encontrados
astrólogos profissionais das cortes (RochbergHalton, 1988, 8). Milhares mio só nas grandes bibliotecas da Babilônia e da Assíria, mas também
de presságios, distribuídos e m 70 “livros”, ou seja, tabule tas, estã o ins- i i ivizinho Império dos hititas, hoje Anatólia. Na capital hitita
i
critos aqui e avisam, de uma maneira relativamente uniforme, quais llattusa, descoberta no ano de 1907, também foram encontradas,
acontecimentos terrestres devem ser esperados diante de determina- iilrm dos já citados almanaques, tabuletas da série de presságios, que
das aparições celestes. E is um exemplo: “Se Vênus des apareceu no Imam traduzidos do babilônio para o idioma hitita. Uma dessas tabu-
necessária para procedimentos de cálculo” (1951, 97s.) de passar por uma formação intensa que, via de regra, estava estreita-
mente ligada aos templos existentes no país. Pertenciam à mais alta
Os astrólogos — Já foi mencionado acima que os especiali stas em i ninada intelectual e religiosa do rei no. No período neoassírio, encon
astronomia detinham um papel importante na religião e na política da Iramos dinastias inteiras de astrólogos que conseguiram manter os seus
Mesopotâmia. Hoje, temos a sorte de possuir conhecimentos deta- postos na corte ao longo de vários séculos. Havia também astrólogos
lhados acerca da situação profissional e pessoal dos astrólogos do pe- que trabalhavam por conta própria, porém, a importante tarefa de pers
ríodo neoassírio e neobabilônico. As cartas, relatos e outros documen- i ruta r os fenômenos celestes, aconselhar o rei e realizar rituais apro
pi lados ficava a cargo daqueles especialistas altamente respeitados que
tos conservados
intelectual nos nas
dominante permitem
cortes. vislumbrar o cotidiano e o clima liahalhavam na esfera diretamente em torno do rei. Enquanto pesqui
s.is mais antigas falavam com freqüência do grande poder dos astrólo-
No primeiro milênio a.C. — e mesmo antes, de forma um pouco
diferente — o rei empregava um séquito de conselheir os e espec ia- gos mesopotâmicos que agiam “atrás do trono”, seus relatos e cartas ao
listas que eram responsáveis tanto pela elaboração teórica de parece o i revelam uma imagem completamente diferente. Eles eram depen-
res como pela realização de rituais, evocações e práticas divinatórias dentes econômica e politicamente dos favores do soberano. “Man-
(cf. a esse respeito Parpola, 1993; Maul, 1994; Brown, 2000, 3352). de me, por favor, um burro”, escreve o astrólogo babilônico Nergalitir
Um termo neoassírio geral para esses especialistas é ummânu, usual a seu rei, “para que alivie os meus pés” (Thompson, 19 00, II, LXl);
H 59
58 Kocku von Stuckrad istória d a astrolog ia
um outro pede ajuda médica: “Bilipusch, o mago babilônico, esta A menção de um presságio "que não pode ser evitado” referese
doente. Faça o rei ordenar que um médico venha vêlo” (Thompson, no lato de que os sinais interpretados acabavam em decisões diretas
1900, II, XXXiv-XXXv). E, sobretudo, se não fornecessem os relatórios iln rei ou dos funcionários dos templos. Como os fenômenos celestes
pedidos pelo rei a contento, viase a sua precária situação de depen icpirsentavam a vontade das divindades, em muitos casos, era possí-
dência da corte: vel influenciar positivamente os presságios negativos com a ajuda de
llliiiiis apropriados. Essa tarefa era atribuída aos especialistas em
Com relação à questão que o Rei, meu Senhor, me escreveu: “Você cer Metrologia, que muitas vezes também ocupavam cargos sacerdotais
tamente deve ter observado algo no céu”; eu observei atentamente, (rl. o exemplo de Mardukschakinschumi acima). O pensamento
(porém) devo dizer que nada vi, nem ninguém, (por isso) não escrevi ao Itnscado em correspondências da astrologia mesopotâmica era, assim,
Rei. Nada se elevou; nada pude observar. [...] O Rei, meu Senhor, deve
liíto rigorosamente “sincrônico”, mas sim um empreendimento volta-
ter me abandonado! (Estou) em profundo temor, (pois) nada tenho a
relatar. (Parpola, 1993, 34s.) do ã Para
comunicação com aso forças
compreender divinas.em correspondências de ori
pensamento
Concretamente, o trabalho dos astrólogos consistia em observar jicm mesopotâmica e suas con seq üên cias para o trab alho dos astró lo-
gos no início do primeiro milênio a.C., vale a pena dar uma olhada no
toda noite com atenção o céu e possíveis sinais, fossem de fenômenos
a ser aguardados, como movimentos de planetas ou fases da Lua, ou I hviners Manual. Lá está escrito explicitamente:
extraordinários, como aparições de cometas, colorações do céu etc.
Os sinais no céu nos dão tantas indicações como aqueles na Terra.
Faziamno consultando as cópias existentes nos arquivos da grande
O céu e a Terra produzem presságios de igual modo. Embora suijam
série de presságios Enuma Anu Enlil e deduzindo o que deveria ser separadamente, não são independentes um do outro, (pois) o Céu e a
feito. Um ótimo exemplo é o seguinte relatório enviado ao rei: Terra estão ligados. Um mau sinal no céu é (também) ruim na Terra
e um mau sinal na Terra é ruim no Céu. (Oppenheim, 1974, 204)
No que concerne à chuva que neste ano foi tão escassa a ponto de nada
se poder colher: tratase de um bom presságio para a vida e a força do
Em seguida, por ocasião do surgimento de um presságio celeste, o
Rei, meu Senhor. Talvez o Rei, meu Senhor, responda: “Mas onde você
texto proclama o sábio, por ocasião do surgimento de um presságio
vê algo assim? Expliqueme!”. Em um relato que Eamuschallim enviou
i eleste, a consultar os respectivos manuais (ou seja, sobretudo o EAE)
a seu senhor Marduknadinahhe consta: “Quando encontrar um sinal
no céu que não possa ser evitado e lhe aconteça que a chuva seja escas- quanto à importância do sinal e ao mesmo tempo buscar presságios ter
sa, providencie para que o Rei tome o caminho da guerra contra o ini- icstres que ocorressem paralelamente e pudessem apoiar a interpreta
migo: ele vencerá qualquer país em que pisar e os dias da sua vida serão t, >í<i encontrada ou contradizêla. Só com essa espécie de contro le r ecí-
numerosos”. (Parpola, 1993, 77) proco seria possível obter certeza na interpretação. E, mesmo assim, o
texto não deixa dúvidas sobre a difícil situação do astrólogo:
E provável que o conselho de fomentar a guerra em tempos de
más colheitas tivesse razões muito pragmáticas, afinal, o que é mais (Quando) tiveres identificado o sinal e te mandarem salvar o Rei e os
fácil do que, havendo fome no próprio país, servirse dos estoques do seus súditos do inimigo, da peste e da fome, o que dirás? Quando vie-
vizinho? rem queixarse a ti, como queres evitar (as más conseqüências)? (Oppen-
heim, 1974, 205)
tória da cultura, no entanto, é relevante examinar aquela constância 28a, a maré subiu 3 varas 8 dedos (1 vara = 24 dedos = 50 cm). 2/3 varas
notável dos métodos de interpretação astrológica. Como se chegava, para uma enchente [...] Por ordem do Rei, (foram feitos) sacrifícios.
por exemplo, a uma interpretação de conjunções de Saturno e Marte? Neste mês, uma raposa invadiu a cidade. Tosse e [...]. (VAT 4956; cf. Van
E por que os livros didáticos do nosso tempo ainda interpretam essas der Waerden, 1968, 99).
conjunções quase exatamente como se fazia há 2500 anos?
Esse diário é um mero texto de observação que descreve os tra-
Perguntas como essas impõemse constantemente em qualquer
estudo sobre a história da astrologia. Aqui, gostaria de destacar os ídos dos astros e acrescenta acontecimentos de todos os setores ima-
chamados “diários astronômicos”, pois são um exemplo importante gináveis da vida, que, por um lado, também foram avaliados como
do procedimento empírico de uma ciência dos astros orientada pelo sinais e, por outro, eram adequados para se estabelecer analogias
pensamento em correspondências. Esses diários pertencem a um entre presságios planetários e terrestres. Por mais aleatória que possa
grupo maior de textos de observação que registram absolutamente parecer à primeira vista a simultaneidade da raposa na cidade, de tos-
ses, de uma enchente e de determinados acontecimentos celestes, é
tudo o que acontece no decorrer de um ano. Os diários provenientes
dos arquivos dos palácios trazem observações meteorológicas e astro exatamente essa compilação que possibilita, por meio de um “pensa-
H istória d a astrolog ia 65
64 Kocku von Stuckrad
mento vertical”, uma percepçã o valorosa de sincronias ocultas. Arqui luinoso astrólogo do século II, recorreu a eles, escolhendo como ponto
vavamse os textos e, na próxima ocorrência dos sinais descritos, os ile partida para as suas análises dos movimentos dos planetas o ano
especialistas pesquisavam os antigos acontecimentos, visando encon ile 748 antes da nossa era, pois “de um modo geral, a partir desse
trar analogias para o presente. Podese chamar, com toda a razão, um período, mesmo as antigas descrições foram conservadas para nós até
tal trabalho de pesquisa e sistematização de “empírico”. ONdias de hoje” (Syntaxis III, 7).
Além disso, esse antigo diário também testemunha a existência
de cálculos destinados a prognósticos, pois sob o 15° se encontra a ( 'lilculos pe rió dicos — Desde o início, o pensamento em períodos
observação “eclipse lunar que não ocorreu”, referindose ao eclipse i íeli cos foi parte integrante da astrologia. Isso permanece até hoje,
lunar de 4 de julho de 568 antes da nossa era, que não pôde ser 'fiois os astrólogos continuam tentando vislumbrar as dinâmicas ocul
observado na Babilônia, porque a Lua Cheia surgiu pouco após o lus da História, para retratálas com a ajuda de ciclos planetários. Da
meiodia. Entretanto, o eclipse, aparentemente, tinha sido calculado
para o dia correto. luesma forma, no contexto religioso, o pensamento em grandes fases
revelou-se muitas vezes, desde a Antigüidade, um fator decisivo para
Pela análise desse texto, obtémse uma imagem muita clara da determinar no presente o “l ocal no eixo do tempo” da história mun-
prática de observação dos babilônios, a qual prossegue nos diários dial, uma história mundial que, ao menos no meio judaicocristão
mais recentes e forma também a base da astrologia seleucida. Consi- miiçulmano, sempre foi entendida também como história santa. Na
deravamse, sobretudo, os seguintes aspectos: primeiramente, o tra- Mesopotâmia — isso ficou nítido com os exemplos da tabuleta de
jet o lunar era estudado minuciosam ente . Aqui, importavam princ i- VfMuis de Amisaduga e do retorno dos planetas, como descrito no
palmente a data da Lua Nova, da Lua Cheia e da Minguante (ou seja, Mul.Apin — havia, igualmente, um interesse pela sistematização
a última visibilidade da Lua e a correspondente diferença de tempo periódica dos movimentos das estrelas. Contudo, não é possível falar
entre o nascer da Lua e o pôrdosol), bem como o trajeto da Lua em um domínio matemático de tais contextos antes da época persa.
através da eclíptica. Enquanto no século VI as posições eram denomi U m dos textos mais antigos a esse respeito é o SH 135. Conhe
nadas com base nas constelações, no período seleucida os signos (ou i Ido há quase cem anos, tem sido datado do final do século VI a.C.
seja, a divisão da eclíptica em doze segmentos iguais) se consolida- Alem da mera enumeração dos períodos, esse texto indica explicita-
ram como sistema de referência. A isso se acrescentavam observa- mente as regras de cálculo para os planetas. Para Vênus, por exem-
ções detalhadas sobre eclipses lunares, com descrições exatas do plo, ensina que se deve, após oito anos, descontar quatro dias da data
decurso do tempo, das posições de outros planetas em relação à Lua i nleulada para o retorno do planeta. Assim, cinco períodos sinódicos
etc. A documentação dos equinócios e solstícios, bem como das fases
de Sirius, completavam os dados. iuin,iperíodo
Mie sinódico
seguinte, abrange
para Vênus, emo média
tempo 584
de uma
dias)conjunção com oaSol
correspondem 99
Outro ponto importante dizia respeito à trajetória dos planetas meses babilônicos menos quatro dias. No texto citado, procedese da
Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno, considerandose todos os mesma forma em relação a Mercúrio, Marte, Saturno e Sirius (cf.
“dados de referência”, como ascensões e declinações ou culmina- Vmi der Waerden, 1968, 1059).
ções. Além disso, constam descrições de conjunções de determina- I , evidente que se p ode também potencializar os períodos ou
dos planetas entre si ou com outras estrelas do zodíaco. Esses dados teliit lonálos com os períodos de outros planetas. Esse tipo de cálculo
eram de uma precisão surpreendente, de forma que Ptolomeu, o em grandes perí odos” é de grande relevância para espec ulaçõ es
Os horóscopos mais antigos — Por “horóscopos” entendese geral O aqui citado Anubélsunu era descendente de um famoso
mente a representação da posição dos planetas em um dado momen- "escrivão do Enuma Anu Enlil” e se destacou ele próprio como autor
to, sobretudo aquele do nascimento de uma criança (falase, então, de textos astrológicos. Podese concluir, então, que horóscopos eram
também de “genetliologia”). Os mais antigos horóscopos conhecidos elaborados no período seleucida não só para o rei, mas também para
do ambiente babilônico encaixamse exatamente nesse gênero astro Indivíduos das classes altas. Em muitos casos, os dados restringem
lógico, uma conclusão que, entretanto, não se aplica de forma gene- «e ,i enumeraçã o das posições planetárias ou — co mo acon teceu aqui
ralizada para toda a literatura antiga. Em grego, entendese freqüen a interpretações muito rudimentares das respectivas constelações.
temente por hôroskopos (lat. horoscopus), que significa “observação Alem disso, constam muitas vezes informações suplementares, pro-
da hora”, não o cenário completo do nascimento, mas somente o venientes dos “sinais” que eventualmente tenham surgido no momen-
to do nascimento. E importante registrar que os astrólogos babilôni
ascendente, ou seja, o signo ascendente no Leste (cf. Ptolomeu,
i os interpretavam seus horóscopos de um modo muito semelhante,
Tetrahihlos III, 2). Da mesma forma, no que se refere à técnica e à
interpretação os horóscopos babilônicos diferem nitidamente dos d.i mesma forma como haviam interpretado antes os presságios de
gregos, embora se possa admitir que na era seleucida tenha havido nascimento, com base nas grandes séries. A intenção era similar, a
um intercâmbio intensivo de conhecimento. Do ponto de vista tenv iet nica para obtenção das informações é que se tornou bem mais
poral, os horóscopo s babilônico s precedem os gregos e os egípcios. piccisa. Francesca Rochberg resume:
ciência dos astros mesopotâmica. mundo das estrelas. Para os egípcios, porém, o Sol era, em primeiro
lugar, uma força divina, adorado como ajudante nas viagens ao mundo
di is mortos e ao Além, ao mesmo tempo em que representações do céu
3. A INFLUÊNCIA DO EGITO estrelado eram raras (cf. Koch, 1993, 51938; Hornung, 1999, 339).
I Imã exceção é o chamado “Teto Astronômico no túmulo de Senen
Os antigo s escritores gregos e romanos já considera vam o Egito como iiuit, a pessoa de maior confiança da rainha Hatxepsute, sobre o qual
a terra d a magia e das ciência s ocultas. Em uma época na qual restava m estavam retratados os meses e os astros mais importantes. No túmulo
de cor
35, essesDo
237,1). livros e têlos
ponto sempre
de vista do àconteúdo,
ponta da as obras(stromateis
língua” atribuídasVI,
a 4, Todos
simpatia essesseescritos
(como têmna
chamaria emfilosofia
comum grecoromana),
o fato de partirem
que de uma
integra
Hermes Trismegisto abrangem praticamente todo o conhecimento vii a correspondência entre macrocosmo e microcosmo em uma
antigo de magia, alquimia, astrologia, mas também de filosofia natu- estrutura de pensamento teosófica. Essa teoria logo viria a se tornar
ral do Egito helenístico, aglutinando tradições mais antigas, sobretu- o cerne de todo esoterismo. Tal forma de pensar também predomina
do as teorias dos decanatos, com a filosofia grega. As seguintes áreas nos escritos do Corpus Hermeticum. A isso se soma — no século II —
são especialmente interessantes: um componente neoplatônico que fala da ascensão do adepto pelas
As chamadas genik a tratam do grande campo da astrolqgia_uni esferas planetárias de acordo com os conhecimentos que Hermes
versal, ou seja, da análise de evoluções mundanas em conexão com Trismegisto transmitiu a seu filho Tat (= Thot) em um ritual de reve
acontecimentos cósmicos. A esse grupo pertence a teoria dos senho- luçào. O platôn ico “lar dc luz” da alma é, ao mesmo tempo, lugar de
res sobre determinadas eras e especulações sobre o esperado fim do libertação cristã dos sofrimentos do mundo. Podemos reconhecer
mundo, como já eram formuladas muito antes na Grécia. Ao mesmo iii|tii muito bem como a tradição pôde ser adaptada de forma dinâmi-
tempo, o thema mundi , ou seja, o horóscopo do nascimento do ca aos mais diferentes contextos religiosos e sociais. Para os cristãos
mundo, também era explicado. Afirmações sobre eclipses, aparições em NagHammadi, Hermes Trismegisto era um sábio egípcio que já
meteorológicas (raios, trovões, ventos, as chamadas brontologias), liavia anunciado a salvação por Jesus em seus ensinamentos. Por essa
sobre cometas e terremotos formavam supostamente uma parte da ra/ão, a astrologia para eles também era uma disciplina “santa”, que
“forma srcin al” dos escrito s herméticos.
Um escrito cientificamente polêmico, geralmente chamado de níio Os
se opunha
escritos de
quemaneira alguma aos ensinamentos
na era helenísticaromana cristãos.
receberam os nomes
Salmeschiniaka e que aponta para tradições egípcias antigas, parece de Nechepso e Petosiris possuem um parentesco de forma e conteúdo
formar uma espécie de elo entre a astrologia mundana e a individual, com os escritos herméticos. A autoridade do “rei Nechepso” poderia
pois contém dados detalhados sobre a localização dos decanatos e se srcinar de Necho II, que governou na 26a dinastia (677672), mas
também uma compilação de remédios, amuletos e diferentes técnicas urto se pode afirmálo com precisão. O mesmo ocorre com o “alto
para se defender de influências cósmicas. De modo geral, a astrologia nik irdote Petosiris cuja real existência na era ptolomaica não é com
curativa ocupava uma importante posição nos escritos herméticos. Iiiovada. Costumase presumir, então, que os autores egípcioshele
QUANDO SE FALA EM
ASTROLOGIA CLÁSSICA se quer dizer, via de regra, o
desenvolvimento da ciência dos astros babilônica no período greco-
romano até se tornar, nos primeiros séculos da era cristã, a principal
disciplina a se ocupar com a interpretação da realidade. A astrologia
H 83
82 Kocku von Stuckrad istória d a astrolo gia
não só foi incorporada às sete artes no cânone científico romano como Cem anos mais tarde, Cícero ainda testemunha a propagação da
ars mathem atica, mas também evoluiu para uma espécie de lingua fran tisl rologia nas classes menos privilegiadas, ao incitar (baseandose em
ca daquela época, na qual as mais diversas culturas e religiões podiam Enio) o seu irmão Quintus a escarnecer dos ignorantes que se enri-
facilmente se entender. Isso aconteceu graças à interação de inúmeras quecem explorando os ainda mais ignorantes:
condições sociais, políticas, religiosas e científicas, das quais somente
as mais importantes poderão ser apresentadas neste capítulo. Agora quero declarar o seguinte: não reconheço os que tiram a sorte
Nesse contexto, é preciso esclarecer que a cultura romana assi nem os que adivinham o futuro por dinheiro, nem mesmo as invoca-
milou tradições astrológicas que lhe eram inicialmente estranhas, ções dos mortos, como as que o teu amigo Appius costumava realizar;
integrandoas num sistema próprio. A confiar nas escassas fontes finalmente, não dou importância a um augure de Marte ou aos obser-
existentes, antes da expansão dos romanos por todo o mundo medi vadores da aldeia ou aos astrólogos do circo, nem para os profetas de
terrâneo, a astrologia não era nem um pouco bem vista na Itália, se 6 Isis, nem para os intérpretes de sonhos; pois todos esses não são verda-
que era sequer conhecida. O primeiro registro do termo astrologi no deiros adivinhos graças a uma ciência ou a uma arte, mas sim videntes
supersticiosos e trapaceiros inescrupulosos: desprovidos de conheci-
sentido de “observadores das estrelas”en contrase em Enio (2 3016 9
mento, de razão ou sob o domínio da pobreza. Não conhecem o atalho
a.C.), que também menciona os signos zodiacais, porém, não é pos para eles mesmos e, no entanto, mostram o caminho a outro; aos que
sível deduzir daí a existência de uma astrologia já elaborada (citado prometem riqueza, pedemlhes eles mesmos um tostão. (Sobre a adivi
por Cícero, Da República I, 18, 30). No século II a.C., encontramos nhação I, 132)
referências a atividades exercidas por astrólogos, mas que curiosa-
mente ainda são associadas às camadas sociais mais baixas. Assim, o Quem aqui fala é o ex periente filós ofo e sacerdote — Cícero atua-
historiador romano Va lerius Maximus (i, 3, 3) relata, em torno de 3 1 va, ele próprio, como áugure, ou seja, como intér prete de sinais — ,
a.C., sobre astrólogos que teriam sido banidos de Roma e da Itália no querendo proteger a alta arte da interpretação do futuro das mãos dos
ano de 139, junto com adeptos do culto ao Zeus Sabazio. Consta charlatães. Voltarei a falar ainda sobre a discussão filosófica em que
taremos ainda que tais ações sempre eram realizadas em momentos ele se baseia (ver pp. 96105); por enquanto, basta apontar que à
de revoltas sociais e políticas, pois se acreditava que os astrólogos «'•poca de Cícero os astrólogos certamente deviam estar entre os inú-
poderiam sublevar o povo com suas profecias. Cato, um aristocrata meros adivinhos que tentavam ganhar a vida na agitação das feiras
conservador, confirma essa postura quando, no ano de 160 a.C., em torno do Circus maximus. O fato de as elites às vezes também
ordena aos guardas das propriedades agrícolas (eles mesmos escra- buscarem o conselho dos astrólogos é testemunhado por Horácio
vos) que não consultem em hipótese alguma os “caldeus”, ou seja, os a respeito de si mesmo aproximadamente em 35a.C., enquanto
astrólogos (De agricultura I, 5, 4). Aproximadamente em 100 a.C., luvenal, em torno de 112 a.C., está convencido de que essas consul-
ficaria comprovado que esse perigo não era apenas fruto da imagina- tas eram feitas exclusivamente pelas mulheres das classes baixas
ção, pois um guarda, um certo Athenio, previu que uma rebelião de (Sátiras VI, 582s.).
escravos teria sucesso e que ele próprio se tornaria rei da Sicília. A presença dessa astrologia de certa forma indefinida e de orien-
Após um breve êxito, no entanto, foi executado. O historiador Diodoro tação pragmática pode ser igualmente comprovada em muitos docu-
descreve Athenio como um “especialista em astrologia” (Historia mentos dos séculos seguintes. A crescente reputação alcançada pela
XXXVI, 5, 14). iistrologia até nos círculos cultos do Império Romano só pode ser
sentido clássico quanto a importante teoria do Grande Ano (como ! iido, o máximo, um estágio anterior do zodíaco.
Aristóteles a denomina), que já se encontra formulada em Platão c
I Eudoxos — A situação é bem diferen te em relação ao aluno de
que também viria a exercer uma forte influência. Sob essa teoria se
I Platão, Eudoxos de Cnido (4 08 3 55 a .C.). Sabemos de várias fontes
oculta a opinião de que os períodos de órbita dos planetas — aque-
MUtigas que Eudoxos supostamente esteve no Egito por um bom
les “entes vivos”— podem ser relacionados entre si. Até à sua época,
período, talvez entre os anos de 381 e 380 a.C. E difícil dizer hoje o
segundo Platão, somente os ciclos do Sol e da Lua teriam recebido
i|iie ele teria aprendido exatamente ao encontrar os sacerdotes egíp-
atenção, porém,
cios. Porém, no século I d.C., ninguém menos que Plutarco atribuía
os homens, com exceção de poucos entre muitos, não compreenderam n Kudoxos um número considerável de dout rinas astrológicas: o
as órbitas dos outros planetas e não lhes dão nomes, nem as medem de conhecimento de uma teoria egípcia dos aspectos (De Iside et Osiride,
acordo com observações realizadas, comparando as suas trajetórias em líip. XXX) e o nome de algumas constelações (cap. xxn), bem como a
números. [...] A despeito disso, podese entender que o número de eras relação entre o Sol e a Lua, por um lado, e o significado intrínseco do
perfeito encerra o ano perfeito quando a velocidade de todas as oito escarabeu (cap. LXXIV-LXXV), por outro, que é uma constelação locali-
órbitas, decorridas umas em relação às outras e medidas conforme o zada no chamado círculo das doze horas e no zodíaco (mais exata-
círculo do Mesmo e a progressão uniforme, retornar aos seus pontos de mente, em Câncer). Em Cícero (Sobre a adivinhação II, 87) encon
partida. {Timeu, 39e).
Iramos a informação de que Eudoxos teria rejeitado a previsão da
No momento em que um tal Grande Ano estiver concluído e todos hiografia a partir da data de nascimento (dies natali). Em compensa-
os planetas tiverem alcançado novamente a sua constelação de parti ção, ele parece ter praticado uma forma elementar de astrologia uni-
da, haverá uma “destruição de tudo o que existe na Terra por um pode- versal, a qual inclui, por exemplo, previsões para o ano com base na
roso fogo” {Timeu, 22d). Esse mito da renovação da Terra por um posição da Lua na noite de AnoNovo.
Não se deve superestimar o que Eudoxos pode ter aprendido
“fogo universal” era muito difundido na Grécia. Tudo indica que tenha
com os egípcios. Sua importância reside sobretudo em testemunhar
nascido na Pérsia e tenha sido trazido para o Ocidente por meio dos
o crescente interesse dos gregos pela ciência dos astros oriental. Além
cálculos periódicos babilônicos.
são determinadas por esses dois movimentos opostos. Esse raciocínio nstros importantes como Sirius ou Órion sobre as condições climáti-
cas (II, 5, 361b, 23s.).
filosóficometafísico foi fundamental para a astrologia clássica.
A importância de Aristóteles também se torna visível em outra área, Com essas poucas estações da filosofia grega até o século IV,não
pretendi de forma alguma postular que uma “astrologia" já seria visí-
a saber, na combinação dos quatros elementos com as quatro “qualida-
vel. Continua a valer o que Franz Boll formulou há mais de cinqüen-
des primordiais”e estados agregados, que teria influência até a astrolo-
ta anos: seria “equivocado acreditar que, até aqui, a interpretação dos
gia moderna. Aristóteles distinguia as seguintes correspondências:
nstros teria desempenhado algum papel no mundo grego; nem Platão,
nem Aristóteles, nem mesmo os pitagoristas se preocuparam com o
Qualidade Estado agregado Elemento
ofício dos caldeus” (Boll, 1950, 67). No entanto, é necessário levar
Quente seco fogo em consideração a filosofia grega, pois ela mostra por que as tradi-
Quente úmido/líquido ar ções astrológicas infiltradas do Oriente foram absorvidas de modo tão
Frio úmido/líquido água fértil na Grécia, Afinal, não só no fim da Antigüidade, mas também
Frio seco terra na Idade Média e Moderna, a astrologia continuou a desenvolver
aqueles modelos cosmológicos elaborados por Platão e Aristóteles.
H istória d a astrolog ia 95
94 Kocku von Stuckrad
época. Tratarei desse tema mais à frente num capítulo próprio, poli ^ n ie m , por essa razão, analisar algumas dessas contribuiçõe s e, na
mesmo que essa tese talvez seja exagerada, não pode haver dúvid.i dí Bfphludc, concentrarme nas questões intensivamente discutidas à
que a comb inação de modelos diversos de periodizações — a “grau M tiii . 1 , referentes ao fatalismo, ao determinismo e à liberdade huma
de conjunção” de Júpiter e Saturno, combinada com “semanas de in«l, l>em como ao modelo cosmológico que sustentava uma relação de
anos”* ou mesm o a localização do ponto vernal — tenha se mosti.i 1%NIImi e efeito entre os astros e os seres humanos. Embora se costu
do extremamente relevante para todas as religiões da Antigüidade. I: Hli* atribuir as diferentes posições em relação a esses temas a deter
l Minadas “escolas filosóficas”, uma tal sistematização não reproduz
B | 4 lei|iiadamente as verdadeiras discussões. Em muitos casos, houve
2. A ASCENSÃO D A ASTROLOGIA tlliia assimilação de alguns argumentos do partido contrário, ao mesmo
À CONDIÇ ÃO DE TÉCN ICA DOMIN ANTE DE Hfinpo que outros foram rigorosamente rejeitados. Parece, portanto,
INTERPRETAÇÃO DO TEMPO EM ROMA amtMis adequado apresentar essas questões por temas.
Nessa época, foram lançados os fundamentos para uma reflexão i iiusais estão todas ligadas entre si e de que o mundo todo forma uma
sobre a astrologia, que até hoje pouco se modificaram nos seus traços unidade. Esse mecanismo obrigatório era denominado de heimarmene,
principais. Quer se tratasse dos defensores de uma interpretação de n que de início significa simplesmente “destino”. Mas esse conceito
mundo astrológica ou dos seus opo nentes — os modelos desenv olvi pouco tem a ver com o nosso conceito de destino. A heimarmene é
dos na cpoca romana foram definitivos para as futuras discussões antes de tudo uma cifra para a regularidade do cosmos, que, aliás,
iiiin pode ser pensada como estática, mas sim como um sistema
* Uma semana de ano eqüivale a setenta anos. (N. T.) illnámico de forças, que se desenvolve como um ser vivo e se modi-
sobre todas as partes ao mesmo tempo. A conexão entre diferente» Wr o ser humano não está de modo algum à merc ê de um cego meca
níveis do cosmos — mesmo que estejam naturalmente subordinado» p!»nw>, já que a sua responsabilidade reside, antes, no conhecimento
à causalidade — pode ser interpretada como uma conexão de corre s | |li seu destino. A frase mais famosa a esse respeito, que S êne ca vai
pon dências . Para a astrologia, a conseqüência daí resultante é o falo Pll<« ar nas obras de Cícero, é a seguinte: “O destino conduz quem con
de as estrelas, por serem parte da alma do mundo como os seles lenle e arrasta quem não consente" ( Ducunt volentem fata, nolentem
humanos, encontraremse numa relação dinâmica de correspondeu Imh iint [Epistolae107,10]). Em outras palavras: quem possui o conhe
cia com o mundo terrestre, de forma que a sua observação permite lllt lenlo da sua destinação e age em harmonia com as necessidades
obter informações sobre evoluções que transcorrem na esfera mim ■ Iflhinicas é livre e assume sob eranam ente as obrigações que lhe são
dana. É evidente que esse modelo pôde ser facilmente relacionado ao Il1i|tostas — um paradoxo que não convenceu a todos, tornandose
hermético “como em cima, embaixo”. f. |ih|eto freqüente de debates filosóficos até a Idade Moderna. Pensemos,
Aqui se coloca a interessante questão de saber se ainda é possível |Hit exemplo, no famoso diktum de Kant, segundo o qual é livre quem
falar em liberdade humana quando todo o destino — o fatum, conto lllipõe leis a si mesmo.
diziam os romanos — se srcina na ação causai da heimarmene. Muitos Com o passar do tempo, a stoa foi reprimida por outras corren
críticos interpretam a heimarmene como a “pressão dos astros”, argu 1 lilosóficas, o que pode ser justificado po r mudanç as que disser am
mentando que ela representaria o fim de qualquer ética, pois o homem frspeito não só ao debate filosófico, mas também a processos sociais
já não seria mais responsável por seus atos. No entanto, essa crítiea P políticos dos primeiros séculos da nossa era, criando um novo clima
diminui a posição dos estóicos, como se pode averiguar no exemplo de llilelectualfilosófico. Sobretudo o médio e o neoplatonismo logo sobre-
Sêneca (aprox. 465 d.C.). O filósofo romano é um dos representantes is lni|aram a stoa, transformandose em um modelo elucidativo determi
mais conhecidos da filosofia estóica, a qual se ocupou principalmente Himte para a astrologia. Nesse contexto, o neoplatonismo absorveu
com as questões relativas à ação correta e à “boa vida”. Sêneca, que MKpectos da doutrina estóica, como por exemplo, a idéia do cosmos
prova em suas obras um conhecimento exato das doutrinas astrológicas, i nino um ente vivo ou o papel dos planetas como instâncias podero
tinha uma relação ambivalente com a questão da heimarmene. Por um »ns, Pensadores como Filon de Alexandria (século I d.C.) e, mais
lado, ele admite uma urgência inexorável e uma predeterminação do hitdc, o filósofo neoplatônico mais importante, Plotino (20570), ata
destino — principalmente, em relação ao cosmos como um todo fnm tais pensamentos a idéias herméticas e astralmísticas no senti-
por outro lado, sempre traz à tona a responsabilidade do homem livre do platônico, gerando dessa forma um modelo que, embora reconhe-
a lógica de sua crítica, o discurso social viria a tomar um curso com | Hll" Julgamentos precipitados. Em alguns trechos dos seus diálogos,
pletamente diverso depois de apenas cem anos. De repente se reco HÇlt no também apóia a astrologia (ver Sobre a adivinhação I, 17s.), o
nheceu que um bom astrólogo de fato sabia prever com precisão .1 que mostra nitidamente que seu ataque não se dirige contra a astro
morte de um soberano. Há exemplos famosos disso sobre os quai» ktMln um todo, mas sim contra a sua ramificação fatalista e
1 01110
ainda falarei.
HpMrnninista.
Esses são, portanto, os argumentos mais importantes postulado', Apresentei a posição de Cícero em detalhes, porque muitos dos
por Cícer o co ntra a astrologia. Acrescente mos rapidamente aind i ^ ■ * argumentos foram cons tanteme nte retomados nos séculos seguin
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outros: a influência dos pais, que determinam pela concepção a apn I í*"« A discussão que e nvolve fatalismo, liberdade humana, as influên
rência e o caráter da criança; o fato de pessoas nascidas ao mesmo
tempo poderem sofrer destinos completamente diversos famoso
( 0
l.iuetativos sempre
socialização e do os
inflamou meio, bem como
espíritos, a complexidade
pois abrange os fundados fator es
argumento dos gêmeos); pessoas com uma deficiência nata seriam as I HliMitos sistemáticos da interpretação astrológica do tempo.
vezes capazes de superar o dé ficit “do destino” por meio da discipli
na e da força de vontade. E finalmente: se aceitássemos as premissas
da astrologia, teríamos de admitir constelações natais até para os
Sinais celestes e alta política: o exemplo de Virgílio
bichos. “Seria possível afirmar maior disparate do que esse?” (§ 98) ■ () ono de 44 a.C., no qual Cícero escreveu sua obra sobre as profe
Em suma, podemos constatar que Cícero expôs as discussões d.i representou um marco profundo para a história romana, pois
Nova Academia com um brilhantismo até então quase inalcançado e ■ (líSiii havia sido assassinado e o Império encontrav ase em meio a
influenciadas sobretudo por Carnéades e Panaitios. Todavia, é precl ff lliiiii grande agitação. Além disso, o poder militar dos partos no Leste
so cautela ao julgálo. Mesmo em trechos de diálogos que Cícero | »|gnilieava uma ameaça permanente. Numa tal situação, reagiase
denomina expressamente como sua própria voz, ele não raro incorpo I tllmile de sinais celestes com uma sensibilidade ainda maior do que
ra argumentos que advêm da história da filosofia. O que se sobrepõe 1 normal. A aparição de um cometa sobre Roma no ano de 44 foi
11
a tudo — e aí se encontra o ponto arquimediano do seu pensamento i Imediatamente associ ada à morte de César e dizi ase que Sidus
— é o ceticismo inquebrantável, a considerar que não há verdades i l"h um (a “estrela de Júlio [César]”) seria uma prova de que o sobe
definitivas, passíveis de ser impostas ao homem incontestavelmentc ■ rimo teria se elevado até as estrelas e continuaria a viver agora em
E com razão que Marie Theres Fõgen afirma: “Cícero [...] não pre I Voims, Leão ou Libra. Essa s associaç ões entr e o poder de um sobe
tendeu com Sobre a adivinhação prestar um voto pessoal de (des B Ml e o mundo dos astros tornaramse cada vez mais comuns, de
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crença nem soterrar os métodos romanos tradicionais de interpreta ■ Mmdo que no Império pr aticame nte todos os poderosos se esfo rça
ção do mundo”(1993, 258). A atitude característica da Nova Academia I Vmtie m provar a sua legitimidade por quaisquer constelações de pla
de busca pelo conhecimento objetivo também se manifesta no fato í lift.is ou outros sinais cele stes. Porém, um cometa raram ente figura
de Cícero ter nutrido amizades duradouras com filósofos ainda que Vii entre esses sinais, já que via de regra era interpretado como
defendessem posições completamente opostas, como Poseidônio, ■ Mgnino. O Sidus lulium era, portanto, uma exceção, mas também
Varro e Nigidius Figulus. Poseidônio e Varro eram adeptos cultos da Bftlosfia uma certa variabilidade que permitia aos intérpretes alterar a
Um cometa, cuja aparição na crença comum anuncia desgraça para o I Ia muito tempo, [Domiciano] tinha o conhecimento certo do ano e dia
mais alto soberano, já havia se mostrado no céu por muitas noites <l.i sua morte, na verdade, até mesmo da hora e de como seria o seu fim.
seguidas. Inquieto, [Nero] consultou o astrólogo Ba[l]billus e ao rece I m sua juventude, os caldeus lhe profetizaram tudo isso. [...] Mesmo
Domiciano temia ambos. Talvez se possa interpretar que a stm Isso não lhe serviria de nada. Sua própria mulher contratou os
compreensão do destino não considerava que ele iria ocorrer sol) IMitssinos que viriam a realizar a profecia que determinava a morte
quaisquer circunstân cias — uma crença que marcou o seu pa i e seu dl' Domiciano para a quinta hora do dia 18 de setembro de 96. Um
irmão de modo inabalável — , mas que seria neces sário ajudar a sorti' ilii antes, o imperador informou às pessoas de confiança que “no dia
para ter parte em seu brilho. Assim, Domiciano não perdia uma opoi Í»*H‘ linte, a Lua em Aquário seria manchada de sangue e ocorreria um
tunidade, apesar da crença temerosa na procedência da antiga prole ||tt do qual os homens em todo o mundo falariam” (Suetônio,
cia, de afastar qualquer perigo do seu meio. Muitos que possuíam um
horóscopo de soberano ou deixavam supor intenções nesse sentido miliciano
PiniU' 14,1).um
fazendo Domiciano
corte emtentou “desviar”
sua mão, esse presságio
esperando que isso simples
bastasse
foram brutalmente perseguidos pelo imperador e, em muitos casos,
|IMI(t realizar a profecia.
assassinados.
( Hitro acontecimento desse dia deve têlo levado à beira do deses
As reflexões astrológicas permeavam toda a sua política, o que se
Jtciu () imperador mandou convocar um astrólogo culpado de alta
percebe sobretudo nas obras imponentes com as quais Domiciano que
IfMl^rto, supostamente por ter calculado o dia da morte do soberano
ria tornar visível a deificação do imperador. Nesse ponto, ele superou
(Vn ( 'ramer, 1 954, 143s .). À ardilosa pergunta sobre se seri a capaz,
até mesmo a famosa DomusAurea (“casa dourada”) que Nero fez cons
flinio astrólogo, de prever o seu próprio destino, aquele Ascletarius
truir em Roma. A Domus Flavia (“casa dos Flávios”) foi construída,
fPNpondeu que em breve seria retalhado por cães. Para provar que ele
como antes a casa de Augusto, sobre o Palatino e se elevava sobre as
pnliiv.i errado, o desesperado Domiciano ordenou, então, que o matas
casas dos Júlios e Cláudios e o Circus Maximus. A cúpula gigante que
Inn de imediato e o sepultassem cuidadosamente. Mas aconteceu
cobria uma suntuosa sala de 1.200 metros quadrados era decorada com
«IkikIiI erente. Uma tempestade repentina apagou o fogo sepulcral e
símbolos astrológicos, mostrando “as estrelas e a esfera celeste” sob ,i
yili|uanlo os responsáveis pela incineração buscavam abrigo, uma
qual se encontrava o trono como se estivesse elevado da esfera terrcs
Hiiililha atacou o cadáver e o retalhou. O imperador soube disso na
tre. E assim que Martial (Epigramme vil) descreve a construção, repre
Hnile do dia 17 de setembro, reagindo com pânico.
sentando outros cronistas.
No dito 18 de setembro, Domiciano tentou evitar todos os peri
Todos esses esforços não puderam afastar de Domiciano a som
bra da antiga profecia. Ao contrário: o imperador tentava histérica Jpi» ( 'liegada a hora da sesta, retirouse para os seus aposentos. C os -
tumava deixar uma espada sob o travesseiro. Porém, Parthenius, um
mente fugir ao seu destino. Devemos novamente a Suetônio um rela
tliiii traidores, a havia afastado deixando apenas a bainha, o que
to detalhado:
|)unií( iano não percebeu. Ele queria apenas esperar a quinta hora
A medida que o momento da perigosa ameaça se aproximava, ele se Mhiii que tudo fosse superado. Após uma espera quase interminável,
tornava cada dia mais preocupado. Mandou revestir todas as parede, Nci^unlou pela hora e recebeu a falsa resposta de que a quinta hora
dos quartos por onde costumava andar com pedras que emitiam refle jri Imvia passado. Toda a tensão experimentada por Domiciano desfezse
xos para que pudesse ver pelo efeito de espelho tudo o que aconteci.i (jt ia vez e, ao ser indagado a caminho do banheiro por Stephanus,
o momento
Com o certo
fim dadodinastia
atentado garantiu
flaviana, o seuda
o ápice sucesso.
influência dos astró ■gróscopo, o queaopôde
Devemos ser feito
astrólogo sem problemas
Hephaistion pelo
de Tebas próprio
(século iv) tioavô.
que o
logos na corte imperial havia ficado para trás. No entanto, o direcio- Hlnioscopo de Adriano tenha chegado até nós. Hephaistion, por sua
namento da política por critérios astrológicos continuaria a existir, em 1 V*1/. recebeu as infor maç ões por Antigonus de N icéia , um astrólo
especial com Adriano. Bgli d o século II. Esse horóscopo não deixou dúvidas para os espe
MHtilislas da época de que um grande futuro como imperador aguar
Adrian o ou um ast ról ogo tor na-se im pe ra do r — Após o assassinato ■ lliiva a criança, e podese considerar como certo que Adriano desde
de Domiciano, iniciouse um novo capítulo na história romana. Agoi.i ■ |i t> do len h a conhecido bem as expectativas que o horóscopo lhe
eram os Antoninos que regiam os destinos do país, primeiro, na pes I tlupunha. De início, não parecia que ele conseguiria realizálas.
soa do septuagenário Nerva, e logo deveriam conduzir Roma a um Adriano só pôde introduzirse nos círculos mais próximos do impe
novo florescimento político e cultural. Nerva foi bastante esperlo Im<I<>i por meio de sua estre ita lig ação com a espo sa de T rajan o,
nomeando imediatamente, quando subiu ao trono no ano de 96, um * |Mnl ma. Naturalmente, logo surgiu o boato de que Plotina e Adriano
sucessor de 43 anos, Trajano, que, de fato, assumiria o poder apenas I (Mantinham uma relação, o que não seria incompreensível, pois Trajano
catorze meses mais tarde (98). Trajano ficou famoso sobretudo por Intelessavase mais pela guerra e por rapazes bonitos, enquanto a
seus êxitos militares e por suas obras imperiais em Roma, o que lhe Intelectual mulher do imperador encontrava em Adriano um interlo
trouxe o título de Optimus Princeps, "melhor dos soberanos”. Em fhlloi extremamente culto.
117, extensão
uma no fim deinimaginável,
sua regência, o Império
o mar Romanohavia
Mediterrâneo havia
se conquistado
transforma IrudoI)eadotado
qualquer modo,
Adriano Trajano
ainda morreu
no leito em Após
de morte. 8 de assumir
agosto odetrono,
117,
do em águas continentais romanas e o poder central em Roma se via Aduano, que em seu tempo de estudante havia sucumbido comple-
cada vez mais confrontado com a tarefa (no fundo, insolúvel) de tra tamente ao ideal grego de cultura, pôs em prática seus conhecimen
zer as províncias, cultural e religiosamente díspares, para uma linha |tc. de maneira conseqüente. Conhecia não só os filósofos gregos e fa
uniforme. lm a yrego fluentemente, mas também era versado em arquitetura e
Adriano, o sucessor de Trajano, levou adiante a política do seu > t omo se pode deduzir — em astrologia. Os anais romanos enalte
padrasto, porém, o seu foco principal deslocouse do campo mililai i em a sua capacidade de calcular previamente, a cada AnoNovo, o
teiras e suas obras atin giram um lugar de desta que in conte stáve l mi Hftns i liegarem às mãos dos nãoiniciados (vil, 5; ver também IV, 11).
astrologia do fim da Antigüidade. Principalmente a ciência dos aslnn ■Vudciicias astralmísticas semelhantes também podem ser encon
e a filosofia muçulmanas herdaram o seu conhecimento na Idail* pfNtliis em outros autores, como Kritodemus, Manilius e Firmicus
Média e produziram inúmeros comentários e complementos, cuiclnn tJMiilnnus. A religião era, para autores romanos, ação concreta, que
do para que a astrologia sistemática, de orientação científica, não t# ÍHIii eslava separada do cotidiano. Por isso, a pesquisa científica do
esquivasse ao conhecimento dos futuros pensadores. Hliindo dos astros estava sempre indissoluvelmen te atada a per spec
|KVii>. lilosóficas e religiosas.
Vettius Valens — Vettius Valens de Antiochia viveu aproxim ad.i ( <>m exceção da compilação de horóscopos, as Antologias não
mente na mesma época que Ptolomeu. Os dados biográficos exalou llliiuçaram grande repercussão nas gerações posteriores devido a
desse astrólogo de srcem humilde só são conhecidos por algum.n ItMiiii certa falta de estruturação. Mesmo Wilhelm e HansGeorg
observações inseridas em suas Antologias. Com base nos horósoi (Jilud el, de quem não se pode dizer que alguma vez teriam o mitido
pos contidos nessa obra, é possível delimitar ainda mais o tempo de MHiii Iõnt e por mero desinte resse, r eclam am da “confusa compila
forma a deduzir que tenha sido concluída no ano de 188 d.C. A Ias# tyfln que levaria alguém a “devolvêla com resigna ção, após um tra
de criação mais importante de Vettius Valens situase com certc/,i I abnegado, ao merecido esquecimento (19 66, 219). Vettius
entre os anos 50 e 60 do século ll, quando surgiram os livros II \m Vnlnis não pode concorrer com seu contemporâneo Ptolomeu, mas
das Antologias. ftlliou para a história como o astrólogo que, com sua compilação de
A grande importância desse astrólogo reside na vasta reunião dó llniosi opos, disponibilizou aos outros o material de pesquisa.
horóscopos empreendida por ele. Vettius Valens não se limitou >
mera tarefa de compilação, mas seguiu um plano científicoempírii n, t'li Mficfis Ma tern us — Firmicus M aternus, que atuou aproxi mada
interpretando os horóscopos a posteriori (ex postfactu) à luz da tradl ;Ptimlr I5 0 anos mais tarde (em torno de 335 d. C.) , também conside
ção interpretativa herdada, buscando, desse modo, averiguar e, se |m ii .i .i si rologia como a ciência por excelência e como uma sabedoria
necessário, aperfeiçoar as teorias dos “velhos”, como freqüentemm llti1 1.i11 1<ante revelada por He rmes, apta a libertar os adeptos — no
te os chama. “Reconhecemos, assim”, segundo Neugebauer e Vim Hplilldo neoplatônico — do poder do destino. Os astrólogos eram para
Hoesen, “que a astrologia helenísticoromana ainda estava em fase de plr dr i erto modo, os sacerdotes da hermética religião dos astros. Na
desenvolvimento no fim do século II d.C. A propaganda antiga e .i Vldii "burguesa”, Firmicus trabalhava como advogado em Roma e che
análise insuficiente da ciência moderna conseguiram muitas vc/.f* j|iiii ili mesmo a senador. Infe lizmen te, sabem os muito pouco sobre
livros, o primeiro traz uma justificativa e caracterização geral da astro li tiHlrólogos passaram por vários períodos difíceis desde o início do
logia, enquanto os outros — em analogia aos sete planetas — documcn W i io Romano. Com grande freqüência foram banidos de Roma ou
tam o conhecimento comum da época. (iitmn da Itália, às vezes também punidos com a pena de morte
Firmicus não foi um especialista inovador em astrologia, que '(lilic 16 e 93 d.C. houve onze expatriações, regulamentadas p elo
averiguou empiricamente as teorias herdadas e lhes deu prossegui lllln dc Augusto do ano 11). O fato de tais decretos também serem
mento. Limitouse à exegese e revisão da bibliografia mais antiga, em ■Jlovmlos por imperadores como Tibério ou Adriano, que, como
especial, Manilius e “NechepsoPetosiris”, ou seja, fontes egípcim WlON, er am adeptos entusiasmados da astrologia, evidencia que não
herméticas atribuídas àqueles sábios místicos (é interessante notm limava aqui de extinguir a astrologia como disciplina, mas somen
que faz pouca referência a Ptolomeu). Porém, sua afirmação de que P iiiim determinada elite que, em razão das suas profecias sobre o
teria sido o primeiro a apresentar aos romanos a astrologia helenísii hprim lor, causava inquietação no Império ou aquela que se tornava
ca é simplesmente mentirosa; embora explore Manilius intensiva noliccitla por seu próprio horóscopo “soberano” (examinado detalha
mente, não menciona esse antecessor em uma sílaba sequer. ■HHifiiU’ por Cramer, 1954).
Na biografia desse sábio, que criou, ao lado da obra de Valens, o I,m parte, essa avaliação também é pertinente para imperadores
maior compêndio de conhecimento astrológico do fim da antigüi í|)l< i icnça cristã, que, após a “conversão de Constantino ”, com bate
dade, refletese nitidamente a mudança do discurso público em rela fHin astrologia por motivos relacionados ao poder político ou a
.1
ção à astrologia, que marcou o Império Romano no século IV. Por. piplniaram eles mesmos sob certas condições. Entretanto, observa
apesar de Firmicus suplicar (em I, 1, 14) continuamente aos plane ■f# que um julgamento comp letame nte novo ganha espaço no século
tas proteção ao imperador Constantino, convertido ao cristianismo, ,(V, cvpulsando a astrologia do discurso erudito e do cânone das con
ele viria a defender mais tarde uma posição completamente radical limnadas ciências livres (as artes liberales). Perante o tribunal encon
após a morte de Constantino (em abril de 337 d.C.), o antigo astro Wtvmn se agora não mais astrólogas e astrólogos isolados que tinham
logo tornouse de maneira igualmente cristão e, a seguir, inimigo pp >i' defender da acusação de alta traição ( maiestas ), mas toda uma
feroz de qualquer forma de astrologia. Assim, parece ser um bom excm dlti Iplina. E ainda mais: os imperadores cristãos e os representantes
pio de que cristianismo e astrologia são mutuamente excludentcs, ■ il.i l|'ie|,i aliados a eles criminalizavam a curiosidade (curiositas ) dos
('•d escrita como extrem amente perigosa e o adepto deve con hece r
Acessos mágico-m íst ico s — Na Antigüidade, todo um gênero de nar- liem as senhas e evocações necessárias para a viagem às esferas celes
rativas se ocupava com a ascensão de homens iluminados aos cani |c, Para ilustrálo, mencion emos dois documento s, o “Livro dos mis
pos celestes. Geralmente, eram os heróis dos escritos bíblicos leiios”e o “Testamentum S alomonis”.
Enoque, Moisés, Salomão e outros — que encontravam um ace sso () Livro dos mistérios (Sefar ha-razim) é um texto conservado ape-
às esferas divinas e que, após o seu retorno, relatavam as suas expe nascm fragmentos, mas que pode ser datado com grande certeza do
riências numa cerimônia de revelação aos outros homens “embaixo Hei uloVI ou talvez até mesmo do século IV d.C. Tratase de uma
Os textos atribuídos a eles chamavamse, então, "Apocalipse”(“Reve rs|lócie de manual com uma enume ração detalhada de p ráticas mági
lação”) ou também “Testamento”. No tempo dos rabinos, ou seja, a i .e., com invocações, rec eitas e orações, inseridos num quadro cos
partir do século II d.C., juntaramse aos heróis bíblicos um número lógico que se orienta pela divisão comum do firmamen to em sete
cada vez maior de rabinos, como o Rabi Akiba ou outros místicos My,mentos. Cada capítulo descreve cada um dos céus, bem como os
de Jerusalém que, não sem razão, foi designada por muitos como |ior sua vez, que é relacionado pela tradição a qualidades joviais e
locus classicus do conflito judaico com a astrologia e que se presta de generosas e à quintafeira, possui do mesmo modo um significado
maneira especial a demonstrar o primado da reflexão teológica sobre oculto adicional no texto, pois o hebraico tsãdãq/tsedaqa h é o nome do
a astrológica. Tratase do segmento no Tratado Shabat 156ab que foi planeta e também significa “justiça”, o que permite aos rabinos expli
conscientemente dividido pelos compiladores do Talmude em várias 1nr passagens da Bíblia que tratem de um modo de vida justo utili
correntes argumentativas. Iniciase com a menção ao livro de notas /nndose da simbologia astrológica.
do rabi Jehoschu a ben Levis no qual se encontram teorias sobre o des Interessante é, em seguida, a terceira parte da discussão na qual
tino reservado a alguém que tenha nascido numa segundafeira, numa n conceito de mazzal, ou seja, a predestinação astrológica, continua a
teologia ao longo de séculos. Várias passagens do Novo Testamento presente no Apocalipse, pois Áries é a constelação da vitória messiâ-
indicam que a data não pode ser descoberta: “Quanto a esse dia e a nica (5, 6 s.), e a descrição da ira do cordeiro (6, 16) ou da sua função
essa hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas i omo pastor (7, 14; 7, 17) pode ser interpretada como valorização do
somente o Pai” (Mt 24, 36; Mc 13, 32). Os Atos dos apóstolos dizem i ordeiro da Páscoa abatido. Cristo é o ÁriesMessias que, em analo-
algo semelhante: “Não compete a vós saber os tempos nem os gia ao signo da primavera, aparece como o portador do Ano Novo e do
momentos que o Pai fix ou em seu poder” (1, 7). B em ao contrário do s liovo Eon. O "cordeiro” aqui não é de modo algu m tão pacífico como
escritos de Qumran e dos grupos cristãos apocalípticos, ficou proibi lepresentado geralmente na teologia cristã, mas possui todos os atri-
do aos homens, dessa forma, prever os acontecimentos da história bui os do Áries lutador e vitorioso.
santa a partir dos movimentos dos astros. João trata o tem a da previsibilidade do fim de forma difer ente de
Diante dessa postura contrária à astrologia, o Apocalip se de Jo ão Paulo. Depois de o sexto anjo ter tocado a sua trombeta, relatase o
soa quase herético e não é de surpreender que esse escrito tenha tido ne^uinte: “Foram soltos os quatro anjos que estavam preparados para
dificuldades em obter reconhecimento canônico. Franz Boll expôs, já n hora, o dia, o mês e o ano a fim de matar a terça parte da humani-
em 1914, num estudo brilhante, a forte dependência do autor do Apo dade”(9, 15). O momento exato do fim — como em muitos apoca-
calipse da ciência dos astros helenística e da mitologia astral. Quase lipses judaico cris tãos — está determ inado por Deus desde o início.
los são o sol e a lua e dá à luz o filho Horus (a iconografia posterior va desde Carnéades e Cícero. A evidente tensão entre fatalismo
de Maria foi fortemente influenciada pelas tradições egípcias ligadas e determinismo, por um lado, e o livrearbítrio humano, por outro, o
a Isis). Fica evidente que João recorre em sua visão a constelações i|ii.il, antes de tudo, possibilita a ação ética, foi intensamente discuti
reais quando vemos a enorme imagem do dragão que se estende de iln por quase todas as religiões — pensemos em F ilon de Alexand ria
Câncer a Libra (ou seja, até as patas do Escorpião) e, por essa razão, c I lávio Josef o. Muitas vezes se chegou a soluções conciliadoras,
realmente parece varrer um terço das “estrelas do céu”. fr|citandose a astrologia fatalista, porém conservandose a interpre
Quero limitarme a essas alusões instantâneas, pois o que inte l.iç.lo simbólica básica da qualidade do tempo. O que caracteriza a
ressa aqui é apenas a presença de uma simbologia de teor profunda |n>■■!ura de influentes apologistas cristãos do século l é um golpe mais
mente astrológico que permeia todo o Apocalipse de Joã o. Por mais nidical. Do aluno de Justino, Taciano, passando por Orígenes (apro-
o cristianismo tornouse
maniqueísmo e o budismo ao longonovamente
até mesmo da rota dareligião
seda. No século
oficial
VIII,
no reino o
11
istã.astrologia.
llessa
Citaremos aqui algumas das características mais importantes
úgrico* até ser derrotado pelo ataque dos mongóis no século XIII No sistema maniqueísta, é atribuído aos planetas um status seme
Alguns vestígios com srcem no século XVII ainda são encontrados cm lltnnle àquele encontrado nos manuscritos gnósticos e herméticos. Eles
santuários budistas n a China. O manique ísmo possui imensa ro le j fepresentam os maus poderes da heimarmene e são responsáveis como
vância para a história da religião do fim da Antigüidade, exatamenlí j hii ontes, ou seja, como forças soberanas, pelos setores cósmicos nega-
tivos Os planetas dominam o quarto setor do Universo junt o com os
* Os úgricos dominaram a Mongólia de 745 a 840. (N. T.) do/e signos do zodíaco. A eles foi concedido o poder sobre a guerra e a
mútuas que em alguns países — pensemos em C astela — foram de llius, e cuidavam dos peregrinos. A caaba está vinculada a uma longa
certo modo até mesmo institucionalizados num determinado centro, trmlição, imbuída também de significados astrais. Os rituais ligados ao
É claro que existiam os “vales de inocentes” onde quase ninguém mmtuário foram mais tarde adaptados ao islamismo por Maomé, que
sabia ler e escrever quanto mais entendia o grego, o hebraico e o fri ebeu uma revelação de Deus (Alá) pela primeira vez no ano de 610.
árabe, justamente na região cristã. Contudo, em inúmeras cortes Em 622, quando Maomé viajou para Yathrib (mais tarde chamada
cristãs as ciências clássicas foram transmitidas e lecionadas. E quan- llr alMadina, a “cidade do Profeta"), iniciouse uma nova era. Apenas
to mais o tempo passava, maior se tornava uma certa necessidade de dl^umas décadas após a hégira — ou seja, a migração dos muçulmanos
pura Medina, com a qual se inicia a era islâmica — os seguidores do
se equiparar à alta cultura islâmica, o que a partir do século X levou Pioleta já haviam conseguido dominar uma enorme região. A expansão
a um interesse crescente pelas ciências naturais, pela filosofia e natu
ralmente também pela astrologia. lllAmica só estagnou temporariamente com a batalha de Poitiers na
Elucidarei neste capítulo as correntes mais importantes da astro- liimça (733). Seguiuse uma fase de reflexão e adaptação das doutrinas
logia medieval. Se acompanho uma divisão entre domínios muçulm.i religiosas às condições políticas e sociais. Porém, as divergências de opi
nos e cristãos, isso não significa que esses deveriam ser vistos como Mlilo, principalmente quanto à sucessão do Profeta e à interpretação cor
separados uns dos outros. Porém, as fronteiras existentes dentro do rela do Alcorão, provocaram cisões e a formação de correntes muçulma-
discurso europeu sobre a astrologia também se estenderam aos idio nas opostas. Não vamos tratar aqui detalhadamente da história do
mas e algumas obras clássicas inicialmen te só estavam disponíve is em Mliligo islamismo, mas é preciso destaca r que os soberanos muçulmanos
traduções árabes. Além disso, o Islã acolheu e desenvolveu em espe Nr ativeram às práticas dos seus antecessores, fomentando da melhor
ciai as disciplinas esotéricas da Ásia Menor. Portanto, nessa religião, o íoi ma possível as artes conhecidas da Antigüidade. Não só os filósofos
desenvolvimento da astrologia não ocorreu como no cristianismo lati Hiegos já eram conhecidos e estimados no reino persa dos sassanidas,
no e grego, o que, por sua vez, exige uma apresentação em separado. Imnhém a medicina, a astronomia e a matemática desfrutavam de gran
tle prestígio. Isso continuou sob o domínio muçulmano, o que se deve
et u parte a uma (relativa) tolerância do islamismo perante outras “reli-
giões de livros”, sobretudo o judaísmo e o cristianismo, por outro lado,
2. A ASTROLOGIA NA CULTURA ISLÂMICA
tinnbém ao fato
liirma alguma de o exercício
proibido da astrologia
pelo Alcorão. e daéciência
Um exemplo a Sura não ser de
7, 67:
A religião islâmica sur giu num ambiente cultural completamente aber-
to a idéias astrológicas ou esotéricas em geral. Como pudemos ver
I Ele foi Quem srcinou o sol iluminador e a lua refletidora, e determi
anteriormente, havia na região síriopersa uma série de comunidades nou as estações do ano, para que saibais o número dos anos e seus côm -
religiosas que se ocupavam intensivamente da ciência dos astros. I putos. Deus não criou ist o s enão com prudência; ele elucida os versí
Maomé, nascido no ano de 570 em Meca, conhecia os grupos gnósti culos aos sensatos. Na alteração da noite e do dia, e no que Deus criou
cos, judaicos e cristãos por meio de encontros diretos, pois havia viaja nos céus e na terra, há sinais para os tementes.
muçulmano das tradições antigas. Depois, com base numa evoluçíin iJllmann (197
lliuitas vezes
2) e Sezgin (1978 polêmicas
cientificamente ) — cujas classi ficações, porém, s ão
— adquirimos uma boa
que vai “de Bagdá ao Andalus”, introduzirei os representantes mais
importantes da ciência dos astros muçulmana. Não há como superes litiçao da incrível produtividade científica dessa época. Vários tex
timar a sua influência para os períodos subseqüentes. llis, entre os quais alguns muito importantes, esperam até hoje uma
|dli,i1o crítica, o que dificulta de antemão a descrição da ciência dos
Hslins muçulmana — que, de qualquer forma, supostamente nem
li i|iier existe.
diretamente assimilado nas doutrinas muçulmanas tanto a partir do ■ «o destacava por um alto grau de formação neoplatôn ica, como havia
Egito (Alexandria) como da Síria e da Mesopotâmia. Entretanto, além I ultIo o caso de Bardesanes. Uma série de textos herméticos e posições
das comunidades religiosas gnósticas, maniqueístas e persas, há um doutrinárias fluíram para as sociedades muçulmanas por meio desses
grupo que é de especial interesse no que se refere à formulação do K ilms grupos de sabeus. Uma trama heterogênea de tradições astroló
pensamento astrológico: os sabeus. O seu exemplo permite estudai yli as, práticas mágicas e filosofia hermética influenciou o discurso
concretamente como ocorreu a transformação dos acervos de conho i pn dominante na Ásia Men or no fim da Antigüidade e imprimi u sua
cimento e a imbricação dos discursos. O termo sabeus sempre dou marca inconfundível também no islamismo nascente.
à ciência dos astros e criou uma obra cuja influência para a astrono- Idis ramos devem ser considerados, inclusive a chamada (pelos crí-
mia e a astrologia posteriores, sobretudo no mundo cristão, só pode ticos) astrologia superstitiosa, ou seja, a ciência dos horóscopos e as
ser comparada à de Ptolomeu. Bfolecias concretas.
Abü Macshar nasceu na cidade de Balkh em Khurasan (ou nas
suas proximidades), onde viviam judeus, nestorianos, maniqueístas, A conexão dessa fundamentação científica com um panorama concre
I to de todos os segmentos tornou o texto de Abu Macshar um guia ideal
budistas,teve
sempre hindus e zoroastristas,
familiaridade. comde,
Apesar cujas doutrinas Abü
supostamente, ter Macsliai
servido para os latinos, o qual lhes abria de uma vez áreas centrais da com-
preensão da natureza. Trezentos anos após o seu surgimento, esse livro
desde cedo aos soberanos abassidas em Bagdá, manteve durante toda
leve uma repercussão no Ocidente jamais alcançada no Oriente islâmi-
a sua vida uma grande proximidade com o Islã xiita, ou seja, aquela
co. (Blume, 2000, 22)
significativa divisão que negava o direito sunita ao califado, porque
somente o “verdadeiro" califa — que atuaria às oculta s e apareceu,i
Kssa avaliação certamente não se aplica da mesma forma aos
novamente no m omento ce rto — poderia trazer um reinado justo
liiitros escritos de Abü Macshar. A importância da sua contribuição
(logo voltarei a esse tema). Abü Macshar deixou uma obra vastíssima,
Bma o discurso astrológico islâmico pode ser demonstrada com base
que inclui Flores astrologiae (“Flores da astrologia”), uma coleção dc
hn sua “tábua", o zíjal-hazarât. Aqui, ele não se limita à apresentação
informações e aforismos breves, mas úteis, que era muito apreciada
l(* métodos de cálculo astronômicos, mas fundamenta a sua ciência
como obra de consulta; De revolutionibus nativitatum (“Sobre as revo-
foin um conceito hermético. A ciência dos astros, segundo o autor, foi
luções dos nascimentos”); dois escritos sobre Electiones (“Escolha i
fnclada aos sábios por uma fonte divina, mas os homens teriam
de momentos) e um influente zíj.
esquecido esse conhecimento. O seu zij baseiase num escrito que
O responsável por sua influência no Ocidente foi sobretudo o
flHvia sido escondido em Isfahan ainda antes do dilúvio para se tor
Grande livro que introduz a Ciência de realizar 'previsões a partir dos
hui agora novamente acessível aos homens. Abü Macshar usou nessa
astros, escrito no ano de 848 em Bagdá. Esse tratado foi traduzido
fllim parâmetros planetários hindus que ele associa, no entanto, ao
para o latim traduziu
(que também aproximadamente
os outros em 1133depor
escritos Johannes
Abü de sob
Macshar) Sevillia
o títu ilsicma de P tolomeu — em vez, portanto, de ser “antediluviano” , seu
lo de Liber introductorius maior (“O grande livro de introdução ) M testemunha a progressiva retomada da astrologia antiga sob a
Pouco tempo depois (1140), Hermanon de Caríntia produziu uma llliontação m uçulmana.
outra tradução, independente daquela de Johannes, com o título A schia, cuja teologia gira em torno do conhecimento do “Imame
Introductorium in astronomiam (“Introdução à astronomia/astroln ;0i ulto”, recebeu com muito interesse também uma outra teoria de
gia”). Enquanto em outras obras as informações técnicas ocupavam o Alai Macshar. No seu importante escrito sobre as “Grandes Conjun
tjOcs" (al-qirânât, a autenticidade desse documento chegou a ser con-
primeiro plano, o Liber introductorius tem uma importância mais
rial vindoem
(falecido do 1007)
Oriente.
que,Ementre
Córdoba,
outraslecionava o astrônomo
coisas, aplicou alMajrili
as tábuas de fDn para
fimn o latimastrorum),
judiciorum (Alcabitii
em 1142 editado liberde
dúzias introdu
vezesctorius
desde aadedição
niagiste-
de
alKhwârismí ao meridiano de Córdoba e adaptouas ao calendário [•'.rhard Ratdolt (Veneza, 1503), ger alment e com a inclusão do comen
islâmico, que contava a partir da hégira. AlMajrití formou vários Iflno escrito pelo reitor da Universidade de Paris, Johann Dank da
astrônomos famosos e logo outras cidades da península espanhol,i ln\ftnia (século XIV). Essa obra contém uma apresentação abrangente
seguiram o exemplo de Córdoba, entre elas, Sevilha, Valência, Sara llii sistema matemático e interpretativo da astrologia que se utiliza
goça e Toledo. Com freqüência de longas citações de Dorotheus e Macshallâh e traz
Desde o início, houve na Espanha um intenso intercâmbio entre Uma lista detalhada de nomes de cidades e suas condições climáticas.
as religiões, fomentado de maneira sistemática não apenas pelos Alcabitius tornouse conhecido sobretudo por seu sistema das
soberanos muçulmanos. Judeus e convertidos ocuparam uma posi 1'ihtisastrológicas (ver p. 28). Tratarei ainda várias vezes desse com
çãochave, pois o seu poliglotismo os tornava tradutores de primeir.i |tle\o tema, mas temos de entender desde já o problema e a solução
linha. As fronteiras entre as religiões — não se deve esqu ecer que as elnborada por Alcabitius. A maneira mais simples de separar o horós-
"conversões”, em qualquer direção, jamais eram completas — ness.i copo em doze partes (casas) é, claro, a divisão uniforme do círculo
época eram ainda mais instáveis do que de costume, e todos compar cm partes de 30°, o chamado sistema de casas iguais. A cúspide da
tilhavam um ambiente cultural comum, que repercutiu no norte lati Ilf'i iina casa localizase nesse caso na vertical (90°) em relação ao
no mesmo antes do impulso dado pelas traduções (ver p. 204 e segs.) Mmendente. No Equador, onde o ponto de culminaç ão se enco ntra
Isso, porém, não significa que aqui se constataria um multiculturalis ||r lato no zênite, tal divisão do círculo corresponde ao curso real dos
mo vivo e livre de conflitos, já que identidades religiosas se constitui movimentos dos astros. Logo que nos movimentamos, porém, para o
ram justamente também dentro de delimitações; o status dos judeus, i Imiie ou para o sul, o ponto de culminaçã o — o medium coeli (mc)
por exemplo, era extremamente precário e estava subordinado ao não é mais idêntico à cúspide da décima casa igual. Dependendo
arbítrio dos soberanos (Lion Feuchtwanger o descreveu de maneir.i tln distância do Equador (declinação), acontecem as seguintes
magistral em A judia de Toledo). Contudo, exatamente esses períodos Kmdanças: entre o 0ode Capricórnio e o 30° de Gêmeos crescem os
de tolerância religiosa — com o sob Afonso X de Castela — foram cnl ■ri os diários, os graus da eclíptica ascendem rapidamente uns após
turalmente muito produtivos. Em alAndalus deparamonos, assim Hk outros e, então, a distância entre o ascendente e o MC aumenta;
calendário de festas cristão. E preciso entender que a divisão e medi j manuscritos desse calendário em oito versões diferente s, provenien-
ção do tempo não era uma empreitada fácil, pois não havia instru- tes de toda a Europa, ou seja, versões romanas, germânicas e celtas
mentos precisos para a determinação das posições do Sol. Carlos I (uma versão eslava ainda não foi encontrada até h oje). A mais antiga
Magno teria ficado, portanto, extremamente feliz ao receber do cali versão, francorenana, surgiu em 789 na abadia de Lorsch.
fa Hârün alRashid, no ano de 807, um relógio de água com o qual
podia medir com exatidão horas de igual ou de diferente duração
I Assim, uma transferência de conhecimento das áreas de cultura
muçulmana para as cristãs pôde se desenvolver já no início do século IX,
Carlos tinha muito interesse pela astrologia, como se percebe na sua conhecimento esse que os cristãos associaram às próprias tradições,
correspondência com Alcuíno de Tours, seu amigo e professor. Também f ( 'em anos mais tarde — ou seja, ainda antes dos maciços trabalhos
o seu escrivão da corte Eginardo dá vários testemunhos desse interes de tradução do ár abe para o latim iniciados mais tarde — foram orga
se por observações astronômicas, e, assim, não é de admirar que * m/ados tratados sobre aritmética, geometria, astrono mia e calendá
Carlos M agno — e, depois dele, se u filho Luís, o Pio, de quem se [ tios no mosteiro beneditino de Santa Maria de Ripoll, ao pé dos Pire
diz que tinha sempre astrólogos à sua vo lta — te nha fomentado 1 lieus, cujas traduções logo circularam por toda a Europa. Durante muito
intensamente a educação em seu reino durante toda a sua vida. tempo os historiadores não conseguiam entender como Hermanon
Mesmo antes, missionários já haviam fundado escolas monásticas
Í
| ( 'ontractus (10 13 54) , um monge do mosteiro de Reichenau, pôde
em Fulda, São Gall, Reichenau e Regensburg e, a partir do século I redigir no seu vale alpino austríaco um tratado detalhad o sobre a uti-
IX, cresceu o interesse pela formação erudita do clero. Essas escolas lização do astrolábio. A resposta é simples; ele teve acesso a uma
dedicavamse às disciplinas teológicofilológicas e filosóficas, e tam rxcmplar dos textos de Ripoll. Hermanon, um excelente matemático,
bém à agricultura, à música e à ciência dos astros. A última era
importante, como já foi mencionado, principalmente para as ques I escreveu após 1040 uma crítica aos cálculos de Beda e conciliou tam
tões relacionadas ao calendário. [ |)i'm matematicamente o grande calendário da Páscoa, tão importante
O gênero do computus, um sistema matemático de calendários, I tiara os cristãos, com os dados reais. Em seu escrito De mensura astro-
como havia sido desenvolvido por Beda, teve grande difusão e foi sendo lubii, redigido em torno de 1045, Hermanon adaptou o calendário
complementado por regras vigentes entre os camponeses e teorias H lunar árabe dos seus mod elos hisp ânicos p ara o calendári o solar lati
f tu), juliano (Borst, 199 8, 32 93 4).
202 Kocku von Stuckrad
j História da astro log ia 20 3
Com isso já cheg amos a uma época marcada por um v ivo proces Uma superstição proibida, mas se declarou nitidamente a favor da
so de encontros culturais entre o Islã e o cristianismo. "astrologia natural”, pois ela seria um importante elemento da ciência
natural. Gerbert teria usado o astrolábio já em 989 na escola da cate-
dral de Reims. É possível imaginar bastante bem como o conhecimen-
Proce ssos de intercâm bio cultural
to acerca da utilização do astrolábio se expandiu na Europa no século XI
Gerbert deA urillac, o papa astrólogo — Uma das personalidades mais Mlravés desse e de outros locais — por exemplo, o mosteiro de R eic h
influentes no intercâmbio entre a ciência grecoárabe e a cultura cris pnau — , e como o instrum ento logo passou a fazer parte do equipa-
tã foi Gerbert de Aurillac (aproximadamente 9401003). A carreira mento técnico básico usado também entre os astrólogos cristãos (vide
desse sábio ilustra o grande interesse do clero da época por inovações figura 6). O astrolábio facilitou muito a observação do céu, já que com
científicas. Ainda como noviço, Gerbert foi educado em Barcelona rle bastava medir o ângulo de altitude de um único astro bem visível
nas artes liberais, aprendeu árabe, matemática, aritmética e música e, para também se poder ler, com base nessa posição calculada, a posi
assim, foi um dos primeiros a levar o novo conhecimento para além \'flo de todos os demais astros fixos. Desse modo, era fácil determinar
dos Pireneus. Sua erudição logo ganhou fama e impressionou o papa, 0 ascendente, um pressuposto básico para o cálculo do horóscopo. De
em 98 3, Ge rbert tornouse abade em Bobbio e, em 991 , arcebispo d< lliteio, porém, o que estava em primeiro plano era a utilidade para o
Reims (ainda que inicialmente não tivesse o reconhecimento papal), mero cálculo do tempo e do calendário.
Hostilizado por alguns em razão de sua srcem simples, foi beneficia
do em sua carreira por ter tido o imperador Otto III entre os seus alu Ile nascimen to da astrologia no sécu lo XII — Na segunda metade do
nos, o qual lhe confiou, no ano de 998, a arquidiocese de Ravenna líeulo XI, os sábios cristãos passaram a se ocupar intensamente
Um ano mais tarde, tornouse papa, nomeandose Silvestre II. Em da ciência dos astros árabe. Por meio de traduções, depois também
seus escritos, deixou evidente como a assimilação da ciência árabe foi 1om pesquisas próprias, tentouse alcançar a vantagem de conheci-
importante para o avanço do cristianismo e, com sua influência, con mento dos muçulmanos e dos judeus e, tanto no campo literário
seguiu difundir o conhecimento astronômico sobretudo nas escolas Kimo na arte e na iconografia, é possível constatar um nítido aumen-
monásticas e nos grande centros europeus. Para esse fim, recorreu to de motivos astrológicos (cf. Blume, 2000, 1863). As Cruzadas
principalmente aos textos de Ripoll sobre o astrolábio e fomentou i ontribuíram para que os processos de intercâmbio cultural se intensi
o estudo da terminologia árabe e sua tradução para o latim. Graças a lk assem e para que se possa falar, o mais tardar a partir do século XII,
essa política, outros cientistas cristãos — Fulbert de Chartres, de um acervo europeu de tradições e de uma atividade científica pre-
Hermanon C ontrac tus ou Walch er von Malvern — puderam sei mente em todo o continente. Primeiro, foram centros como a escola
estudados intensamente. Não há dúvida de que, para Gerbert, a ciên dt* Chartres, onde se absorveram as doutrinas dos muçulmanos, bus
cia dos astros ocupava o primeiro lugar entre as quatros artes clássi i ando unilas a uma teologia cristã. O teólogo Pedro Abelardo (em
cas do chamado quadrivium a aritmética , a música, a geometria torno de 110040) também estava ligado a essa escola e se tornou
e a astronomia (Lindgren, 1976, 38 s.). (onhecido por sua dialética escolástica, que, obviamente, também
Em seu escrito sobre o astrolábio, Gerbert também se posiciona aplicou à astrologia. Assim, argumentou que a astrologia poderia, de
em relação à astrologia. Assim como, antes dele, anteriormente Isidoro lato, retratar e prognosticar as naturalia , ou seja, as causas naturais
de Sevilha, o culto papa rejeitava o horóscopo natal, considerando o das mudanças que ocorrem na agricultura ou na medicina, mas não
Milo da ciência(cf.
cristianismo árabe e no novo
Hastings, flores
1927, cimen
2042). Eletonão
da ciên cia dos aastros
se limitou umano
mera recepção, e sim realizou também estudos próprios, nos quais
ivnliou sistematicamente informações colhidas em suas viagens à
Nlcília, à Síria e supostamente também à Espanha. Traduziu as
lábuas de alKhwârismí e ocupouse, seguindo Abü Macshar, igual-
mente das especulações sobre o surgimento e o desaparecimento de
frinos e religiões. Atribuiu a diferença entre cristãos, de um lado, e
judeus e muçulmanos, de outro, ao fato de que os cristãos estariam
nob a influência do Sol e de Júpiter, enquanto os muçulmanos e os
J u d e u s estariam sob a influência de Saturno, Marte e Vênus. Para jus
lllieálo, explicou, por exemplo, que os muçulmanos sagram a sexta
íeira (Vênus), os judeus, o sábado (Saturno) e os cristãos, o domingo
(Sol). Essas especulações foram adotadas por outros pensadores.
Joaquim de Flora (falecido em 1202) , por exemplo, prognosticou em
Um I'.vangelium aeternum para o ano de 1260 o irrompimento de uma
construção
época. Comdaa absorção
cultura erudita alemã)e jádahavia
da filosofia sido
ciência preparado
antiga nessa
por intermc mentos
t|Ue científicos
concerne da Idade Bernardus
à astrologia, Média, combinando verso e prosa. em
baseouse essencialmente No
dio dos muçulmanos, a postura do homem observador em relação ao Aln1 Macshar cuja Grande introdução havia sido traduzida pouco
cosmos mudou. A natureza como parte desse mundo tornouse objc miles por Hermanon de Caríntia.
to de interesse do conhecimento e, assim, foi, ao mesmo tempo, de A Cosmographia é dividida em duas partes: Megacosm os descre-
certa forma dessacralizada e submetida à vontade do homem. A as ve a ordem do mundo celeste eterno, imutável, enquanto Microcos
trologia desempenhou um papel decisivo no desenvolvimento da mos trata do nível terrestre, exposto à transformação e à decadência.
moderna ciência natural. O tradutor anônimo que, em 1160, na ( K planetas são seres divinos recrutados por Deus que, com os seus
Sicília, traduziu o Almagesto de Ptolomeu do grego para o latim movimentos, podem revelar o futuro àquele que é sábio. Toda a his
denominou a astrologia tanto veterum lima como speculum moderna lúria, segundo Bernardus, já teria sido planejada e disposta por Deus
rum, ou seja, suprema arte dos antigos e espelho dos modernos lio momento da criação, bem como o papel reservado à alma huma
Interessante é que os tradutores dedicaramse primeiro aos escritos na que, em seu caminho para a Terra, tem de atravessar as diversas
astrológicos e matemáticos. Aqui, com certeza, era mais nítida a ♦"deras planetárias. Todos esses temas já nos são muito bem conhe
necessidade de suprir lacunas. Nesse sentido, é característico do i idos, pois sua longa história se inicia no fim da Antigüidade e come-
interesse daquela época que a principal obra de Ptolomeu, o to da Idade Média. O fator novo foi a grande difusão desses mode-
Tetrabiblos, já tivesse sido traduzida em 1138 por Plato de Tivoli los em círculos cristãos e o seu vínculo com uma necessidade de
enquanto
traduzida sua
em complexa
torno de obra
1160astronômica, o Almagesto, só viria
na Sicília e, independentemente a sei
dessa Conhecimento
[9Nsa questão. da ciência natural. No próximo capítulo, detalharei
tradução, em 1176 por Gerard de Cremona (cerca de 111487), I Primeiro, pretendo focar as atividades científicas do imperador
Esse sábio, que atuava em Toledo e, sem dúvida, figurava entre os dii dinastia Staufer Frederico II e do sábio Michael Scotus, que tam
tradutores mais importantes do seu tempo, elaborou ainda uma teo licoi atuou nesse ambiente (cf. Haskins 1927, 24271). A política dos
ria para o cálculo das casas (intermediárias) que se aproximava Nlnuferjá havia sido marcada sob Fred erico I, o Barbarossa, pelo
daquela que mais tarde seria desenvolvida pelo grande sábio renas lulorço em alcançar um alto nível cultural na corte. Frederico I, que
centista Regiomontanus (143676). n a ele mesmo analfabeto, cuidou para que os seus filhos recebessem
balho com
pública a ciência
e, por dos astros
outro, servisse aosadquirisse, porinstrumento
soberanos de um lado, legitimid.it
para a suali tia
lins.Iilosofia que serviria
Os planetas a desvendar
são, também para aele,
presença
sinais de Deus nospor
utilizados fenôme
Deus
apresentação (Stierlin, 1988, 31722; Blume, 2000, 4951). Além disso, |iui.i revelar ao homem os mistérios da evolução do mundo e do cos
a regência de Frederico II representa uma prova de que é preciso i<< I iims O Liber introductorius é um compêndio enciclopédico de todo
.
cuidado com clas sificações simples das atitu des “cristãs” diante di (i conhecimento da Idade Média Central sobre a ciência dos astros.
ciência e da astrologia na Idade Média Central, pois, em meio às Cau Ilata não só dos fundamentos teóricos dessa ciência, mas também
zadas e a uma carga retórica do significado para a história sacra da luta llir, peculiaridades do simbolismo planetário (inclusive dos nodos
contra o judaísmo e o Islã — o próprio Frederico II chamou às Cruzadai liin.ires) e da arte do horóscopo.
professor no curso
Colônia, onde geral da
teve Tomás de então
Aquino recémfundada Universidade
entre os seus alunos. Na esteide prever
de voltaoà futuro.
sua fonteComo a astrologia
primária, ela guia oconduz
homemtodas
forçosas amente
coisas terrestres
a Deus,
ra de Aristóteles, Albertus Magnus defendeu uma separação sistema li movimentador imóvel de todas as mudanças. Com isso, o domini
tica entre teologia e pesquisa científica, o que o levou a um método liino consegue realmente reverter o alvo da crítica eclesiástica à
de observação da natureza que ele concebia como uma delicada imei (Hlrologia e apresenta a ciência dos astros como uma importante dis-
são na viva abundância da criação (apresentado em sua obra de dois ciplina do conhecimento religioso.
volumes, Zoologia). No que se refere à astrologia, também acompii Ao contrário de teorias platônicas que costumam contemplar os
nhou Aristóteles, considerando os astros como instrumentos do “Pri HNlroscomo seres divinos (ainda que de uma categoria inferior), Alber
meiro Acionador” que atuam como membros de um todo. Como os llis ressalta que eles não são mais que instrumentos físicos de Deus e
quatro elementos surgem do movimento dos corpos celestes, todas as l|tie, portanto, não podem ser influenciados por orações, sacrifícios ou
mudanças que ocorrem no mundo sublunar são causadas pelo movi lit uais. Dessa forma, ele rejeita todas as tentativas de querer evocar,
mento dos astros. «calmar ou guiar magicamente os astros, tentativas empreendidas
No entanto, para Albertus, essa conexão causai estendese ape- (iiílo só) no seu tempo por certos astrólogos. Como já ocorria na
nas aos níveis mundanos, ou seja, ao corpo terrestre como um todo, Anligüidade, a divinização dos astros era entendida como inconciliá
a guerras, ca tástrofes ou epidemias, en quanto o individual no homem Velcom a doutrina monoteísta, não a astrologia como um todo (o fato
teria duas srcens, ou seja, a natureza e o livrearbítrio. Quanlu Be essa divinização ter subsistido por tanto tempo revela paralelamen-
menor
sujeito oaocontrole do natureza;
poder da homem sobre os seus impulsos,
no entanto, mais ele
não se deveria estai diilm
concluir te tomo foi difícil impor na prática uma posição monoteísta).
que seu comportamento seja predeterminado. Já que isso também linnás de Aquino — Urrt dos pensadores mais influentes da escolás
não havia sido defendido por nenhum astrólogo verdadeiramenle tlm loi Tomás de Aquino , aluno de Albertus Magnus e també m domi
sábio, a ciência dos astros seria conciliável com o cristianismo. lili ,mo. Nascido em torno de 12 25, filho de um conde de Aquino
O Speculum astronomiae (“O espelho da astronomia”), redigido (Nápoles), lecionou em Paris, Colônia, Bolonha, Roma e Nápoles e
por Albertus Magnus na década de 1260, é um dos mais importanles i ilou, até a sua morte precoce no ano de 1274, uma obra inicialmente
escritos medievais sobre astrologia. Paola Zambelli pressupõe, em sn i limito polêmica. Em 1276, importantes teorias de Tomás de Aquino
I
mento uma fronteira muito mais nítida do que aquela delineada poi lodo:rao adesenrolar
arte dos de
horóscopos
uma vidailegítima
humana.e herética ao querer prever
pensadores antes dele. As sentenças da revelação ou da fé, ou seja,
também os mistérios, só podem ser julgadas pela razão com o isenta1,
de paradoxos, sua exatidão só pode ser justificada como provável ■ No que se refere aos astros, ele explica que, se quiser mos enten
I
A verdade das sentenç as de revelação — que Tomás, porém, nune. i df los apenas como sinais e não como causas que produzem efeitos,
põe em dúvida — é descobe rta pela fé. D iferen temen te dos platôni s|Mil;io, ainda resta esclarecerdo que são sinais materiais e se eles mes
cos, que pressupõem uma alma imortal e entendem o conhecimcnln lUlos têm de ser vistos como efeitos de causas superiores. Como os
como “recordação”, Tomás de Aquino parte do princípio de que Dcin ■Mms são de natureza física também só podem produzir efeito sobre
cria a alma somente no momento da concepção e de que o conhc( 1 bolsas físicas, ou seja, sobre o corpo humano (medicina!) e os impul
mento surge pela percepção sensorial, no qual o conhecimento d. 1 •« í|«s ligados a ele. A razão e o livrearbítrio, ao contrário, são de natu
idéias também está envolto e, assim, “ se revela” ao intelecto. Jp/ a imaterial e, portanto, independentes da influência dos astros ou,
Essa concepção da alma e do conhecimento tanto repercutltl Mo máximo, indiretamente influenciados por eles. O sábio, conclui
sobre o julgamento da astrologia como sobre a idéia de que o cosmo» Tomás de Aquino, domina o astro.
seria uma ordem universalista, na qual o Ser estaria hierarquicamm Embora essa interpretação dominicana de Aristóteles viesse a
te subordinado a Deus, que indica a todos os entes o lugar que llie< I O''1 canonizada mais tarde no âmbito d o dogmatismo católico, houve
cabe. Isso se evidencia na segunda parte da Summa theologiae, ein b|iusitores famosos dessa posição. Em Paris, por exemplo, não pou
que Tomás de
permitida”. Aquino
Sua esclarece “se
argumentação podea previsão a partir dos
ser reproduzida astros
mais ou sei m
mentiu tgos lilósofos tentaram escapar a essa reformulação cristã de Aris
MlMiles restau rar sua doutrin a “srcinal” pela interpr etação de Ibn
dessa forma: como basicamente é permitido a partir da observa ^ .111 Mlislid em latim, Averroes, 112 69 8). Aque les averroístas, entre eles,
das causas chegar a conclusões sobre os efeitos e como os movimen NlKn e Brabant, Johann es de Jandu n e Boéc io de Dácia, con testa
tos dos corpos celestes são a causa das alterações mundanas, a pre\ 1 f^Min a autoridade da I greja, defe nden do a opin ião de que as idéias
são a partir dos astros deve ser permitida. O conhecimento do fuliim jfpliKiosas seriam apen as v éus alegór icos a en cob rir as verdades filosó
pela análise do passado e do presente é um ato da razão que exigi jflt as puras. Ele s renegar am a etern idade da alma criada, desta cand o
inteligência e uma comparação consciente. Esse ato não só é pernil HHc somente o mundo como um todo seria eterno; haveria, afinal,
Helenas uma alma universal, que seria uma emanação da divindade
216 Kocku von Stuckr ad H is tór ia d a astrolo gia 217
eterna. Assim, a razão divina permearia todos os setores do cosmos e, Como não queria se contentar com opiniões, mas sim estudar
conseqüentemente, também as participações da alma humana nu fie mesmo as fontes, Bacon estudou grego, hebraico e árabe e pôde,
mundo seriam predeterminadas. Dessa maneira, o livrearbítrio e ,i dessa forma — ao contrário de Tomás de Aquin o — , ler os textos dis-
razão indepen dente do homem quase não podem ser fundamentados, cutidos no srcinal. Suas teses, freqüentemente expostas com ardor,
ao contrário, devese considerar que são guiados pelos astros (ou pel.i Niiscitaram, naturalmente, críticas por parte do clero, que provocou
causa que se oculta atrás deles). Hló mesmo o seu encarce ramen to em 127 8. Porém, sua boa relação
E fácil imaginar os debates exaltados que aconteciam àquel.i mm o papa Clemente IV ajudouo várias vezes a prosseguir as suas
época nas universidades européias. A trincheira abriase princip.il pesquisas com certa independência. Foi também Clemente quem
mente entre os dominicanos e seus concorrentes franciscanos. Esses levou Bacon a redigir sua obra principal, Opus maius (“Obra maior”,
voltavamse decisivam ente contra o “intelectu alismo ” dos dominic.i I2(>5), à qual se seguiram dois escritos menores de elucidação. Nesse
livro, a alquimia, a astrologia e a magia são tidas como pontos altos
anos, que residia
vontade como no fato de Albertus
dependente e Tomás
da razão. de Duns
Johannes Aquino considerarem
Scotus (apro ■t' uma ciência natural baseada na experiência (já o título da obra
ximadamente 12781308), uma liderança entre os opositores dess.i •lude ao processo de conhecimento da alquimia, conhecido como
opinião, fundou, ao contrário, a doutrina do primado da vontade, que opus magnum). A ligação indissolúvel do método empíricocientífico
seria superior à razão. O que também se aplicaria a Deus, cuja von com as disciplinas esotéric as trouxe a Bacon mais tarde — e, na ver
tade é absolutamente livre e não pode ser examinada à luz da raz.in llrnle, ainda hoje — a crítica de estar ainda preso às idéias supersti-
Devese, portanto, simplesmente acreditar nas sentenças da teologi», ciosas da Idade Média, apesar da inegável perspectiva aberta por ele
que não podem ser objeto de fundamentação filosófica. pura a ciência posterior. No capítulo II, já apontei para o fato de que
No entanto, um outro franciscano, ao qual me dedicarei agoni, lima tal argumentação ignora completamente a história do conheci-
tem importância decisiva para o nosso tema. mento, pois se baseia em opiniões sobre “objetividade” e “ciência”
»|lie só surgiram no séculoXIX. Muito pelo contrário: as disciplinas
Roger Bacon — Roger Bacon (apro ximadame nte 1214 94) foi deno esotéricas astrologia, alquimia e magia são parte integrante da pes-
minado, não sem razão, o primeiro cientista da natureza completo d.i quisa empíricocientífica. A ciência era até duzentos anos atrás tam-
Idade Média. Proveniente da Inglaterra, lutou durante toda a sua vulii bém filosofia natural (eu afirmaria até mesmo que isso ainda se apli
por uma separação rigorosa entre teologia e pesquisa filosóficocien CM;>c iência de hoje).
tífica. As três principais colunas da ciência são para ele a experiêm u Em sua obra, Bacon defende uma astrologia sana , ou seja, uma
"nstrologia saudável”, apoiada sobre a experiência e os experimentos.
o experimento
basearia e a matemática,
sobre qualquer e o ou
autoridade conhecimento
opinião, mascientífico nãoa prrt*
sim sobre sá 1'lxige da Igreja que assuma ativamente o controle e o fomento dessa
pria reflexão e o exame dos fatos. Por esse motivo, convocou a cicn i lOncia dos astros para, dessa maneira, romper a autoridade dos
cia a movimentarse das opiniões para as fontes, da dialética par.i i ii‘tlrólogos pagãos. Bacon mostra conhecer muito bem as tradições
experiência, dos livros para a natureza. A pesquisa empírica levou Msimlógicas e assimila minuciosamente as posições de Ptolomeu, de
Bacon a formular leis como a do reflexo e da refração, a fabricar im Ali ben Ragel, de Abü Macshar e outros. Referindose aos argumen
trumentos ópticos e fazer invenções, entre elas, as lentes convexa'. I los desses, explica que nenhum sábio astrólogo teria defendido de
a pólvora. inodo conseqüente a influência dos astros sobre o destino. Somente
Primeiro, é preciso explicar a importância fundamental do trabalho cordam que não pode ser uma data qualquer (tratase supostamente
das academias platônicas da Itália para todo o discurso esotérico da de 4 de julho de 1442), pois, afinal, é a representação política da casa
Renascença. A redescoberta do Corpus hermeticum e a sua tradução monárquica; no entanto, realmente não se pode esclarecer de manei
por Marsilio Ficino também foi relevante para a astrologia. Em segui 111 alguma se há aqui uma referência ao horóscopo da nova fundação
da, examinarei as relações entre a astrologia, de um lado, e as discus de Florença de abril de 802) ou ao horóscopo natal de Cósimo de
( 8
sões naturalfilosóficas e mágicas, de outro. Na terceira parte, sera a Mediei, como supõe Blume (2000, 126138).
vez dos praticantes intelectuais. Mostrarei como os astrólogos desco Certo é que os Mediei estavam envolvidos nas inflamadas dis-
briram o indivíduo, dedicandose a uma vasta clientela, e como oíe cussões filosóficas do século XV. Aristotélicos e platônicos opunham
receram à política diagnósticos históricos que foram intensamenlr »<*, em parte, de modo inconciliáve l, e sábios com o o carde al Cusanus
discutidos. Finalmente, apresentarei um acontecimento histórico (Nikolaus Krebs de Kues, 140169) agitaram a categoria com suas
cultural de extrema importância: a publicação em massa de folheio* teorias científicas que relativizavam pela primeira vez a posição
astrológicos na primeira metade do século XVI. Pela primeira vez, pie eu epcional do homem no cosmo (ver próximo ponto). O platônico
visões astrológicas alcançaram um amplo público e tornaramse ohje ( ieorgios Gemistos, que fugira de Bizâncio e se denominava “Plethon ”,
to de debates gerais que, por sua vez, refletiam um estado de ânimo como seu ídolo, também contribuiu à sua maneira para essa agitação.
exaltado da população. Mm seu livro Sobre as leis, Plethon defendeu uma completa restaura-
do do mundo dos deuses e da religião grega e proclamou a heimar-
nirne, portanto, o “destino”, a lei que tudo abrange de uma divinda
íCuminho
coberta doque viriahermeticum.
Corpus a encantar o mundo culto da Renascença: a des-
E justamente a tensão entre os pólos que constitui a peculiaridade da Hstrais. Essa rejeição, no entanto, não obstava uma intensa ocupação
Renascença. Com a astrologia, o que se pode perceber nos seus interesses relativos
fe medicin a e também na sua correspondência. Assim, é criticado
Mar silio Fic in o — Marsilio F icino é o mais jovem dos três sábios quase vista como a qualidade intelectual por excelência (detalhes em
Criou uma vasta obra que abrange, além de traduções e comentários Klibansky et al., 199 0, 36 79 4). Ficino uniuse à opinião de Aristóteles,
a textos antigos, tratados próprios e uma intensa correspondência. t|iie qualificara a melancolia como um dom divino único do homem
Ocupouse com todos os temas virulentos da época, da filologia e da pensante e escreveu uma obra de três volumes sobre os sintomas e o
ciência natural à música, magia e experiências paranormais. Com fre Iratamento do caráter saturnino: De vita triplici. Nessa obra, ressalta
qüência, esses temas uniamse de forma surpreendente na pessoa de lumbém a polaridade dos astros, que leva o homem a ser livre para
Ficino, quando, por exemplo, filosofava sobre a harmonia das esferas decidir entre o lado positivo e o negativo do planeta.
— no sentido de Pitágoras — e, ao mesmo tempo, traduzia com sua Essa visão da astrologia está inserida numa imagem do cosmo e
citara as dimensões cósmicas em ações práticas. De fato, era tido por do homem que Ficino esboçou de modo rigorosamente neoplatôni
alguns contemporâneos como “Orpheus redivivus” que curava doen j co. Partindo do princípio do pensamento em correspondência que
tes com sua música e domesticava animais selvagens. Indo abrange, que liga o mundo celeste com o terreno e o ideal com
Sua relação com a astrologia não é fácil de ser decifrada, pois o material, o filósofo florentino descreve um reino de hierarquias
redigiu escritos claramente contra a astrologia e, por outro lado cujos segmentos voltamse todos para a perfeição. No meio do reino
o que foi demonstrado por Paul Oskar Kristeller, um importante de hierarquias encontrase a alma em sua forma tríplice, ou seja, a
intérprete de F icino — , atevese até a sua morte a uma forma práti alma do mundo, a alma das esferas e a alma humana. A alma huma-
ca de astrologia que se poderia designar de filosóficomágica. Mesmo j na é um reflexo direto da alma do mundo, ou seja, em última análi-
ra a ligação da alma humana com o seu equivalente astral ou com tod.r, nomia humana pelo pensamento científ ico, como se manifesta ainda
as almas astrais. (Garin, 1997, 102) j hoje no debate sobre a bioética. O indivíduo havia se tornado o cen
Sobre um cen ário de uma tal visão de mundo, que relaciona <li Iro do
Asdiscurso.
questões inflamaramse principalmente em torno da astrolo-
modo enigmático tudo o que é anímico, também se entende mellioi gia. Em seu polêmico escrito Disputation es adversam, astrologiam divi-
o papel desempenhado pela magia para Ficino. Em muitos escritos, mtricem (“Crítica à adivinhação astrológica”), que, na edição de
em especial no terceiro livro do De vita, que leva o título de De vitu 1495, contém não menos que 360 páginas infólio, Pico desenvolve,
coelitus comparanda (“A vida da perspectiva cele ste ”, 1489), tral.i sobre o pano de fundo de seu projeto sobre a liberdade do homem,
detalhadamente dos elementos astrológicos da medicina e da magi.i uma crítica fulminante à astrologia. Porém, como no caso de Ficino,
por meio de uma ligação entre elemen tos corresp ondent es — plan não deveríamos fazer precipitadamente uma crítica rigorosa ou uma
Antes de tratar das características básicas dessa argumentação, iml e mito, o que o leva a abrir todas as áreas do conhecimento à inter-
é importante lançar um olhar sobre a biografia de Pico. De início, era venção da razão humana e a limpálas de resíduos de crenças. Isso faz
o festejado sábio da academia platônica dos Mediei em Florem,a. com que a importância dos seus escritos ultrapasse o século XV.
mas viuse em dificuldades quando o papa Inocêncio VIIIproibiullir Em suas doze Disputationes, essa teoria se mostra em todos os
um debate público no qual pretendia expor a conciliabilidade da filo kus argumentos, dos quais citarei rapidamente os mais importantes.
sofia platônica com a cabala judaica e a religião cristã. Assim, desde Anatureza deveria ser interpretada, segundo Pico, a partir dos seus
próprios princípios, ou seja, das causas mais próximas, e não por leis
cedo, sentiu
liberdade aversãono
científica; pela
queinfluência
concernedos poderosos
à crítica da Igreja
à astrologia, sobre
uma pro a errais e não verificáveis empiricamente, como os astrólogos o fazem.
fecia elaborada por três astrólogos, entre eles seu adversário Lucius Enquanto somente se pode aceitar racionalmente efeitos reais dos
Bellantius, um médico de Siena, deve têlo atiçado ainda mais nstros, os astrólogos operam com qualidades e forças ocultas que
Previram que não sobreviveria a seu 33e aniversário. Quando Pico estão presas a um determinado local, por exemplo, o signo zodiacal
morreu, pouco antes da publicação de Disputationes, em 17 de ou as casas, ainda que o Sol ou a Lua nem sequer apareçam. Utili-
zando as teorias de Cusanos, Pico defende que o lugar, no entanto, é
novembro de 1494, ou seja, com quase 32 anos de idade, muitos logo
lona grandeza geometricamente ideal e dependente do ponto de
admitiram que “os astros haviam contestado Pico”. Também o sen
observação à qual não eqüivale de modo algum uma determinação
amigo e aliado na luta contra uma astrologia que oprimisse o homem,
lisica real. Uma argumentação análoga é desenvolvida por Pico tam-
o monge dominicano florentino Girolamo Savonarola (145298), seria
bém em outras áreas, da relação entre astrologia e medicina, passan-
apanhado por um trágico fim, pois foi queimado publicamente em
do pela teoria das Grandes Conjunções e seu efeito para a história
Florença. Críticos da astrologia eram freqüentemente também inimi
mundial, até a teoria das marés, da “luz” e do “calor”. Com base no
gos da autoridade eclesiástica, e, enquanto Ficino buscava uma sín
exemplo dos mapas astrais, explica que não se pode investigar a per-
tese entre cristianismo, platonismo e ciência dos astros, Pico e
sonalidade a partir do horóscopo e de causas gerais, mas sim a partir
Savonarola, ao insistirem na liberdade humana, tornaramse forçosa
das circunstâncias e, com isso, das causas diretas:
mente alvo
terização dodo podercom
homem cristão. O cernemiraculum
o magnum dos escritose como
de Picocopula
é a carac
mundi, Se veneras Aristóteles como símbolo da ciência, também eu comparti-
ou seja, “grande milagre” e “transmissor” e elem ento de junção da rea lho dessa admiração. Porém, a causa de Aristóteles, é o que dizes, seria
lidade. O homem aqui não é mais apenas parte do mundo, mas sim o céu e as constelações de astros no momento do seu nascimento. Eu
dominador autônomo e magnífico das realidades. Sua liberdade sig o nego. Menos em razão do argumento banal de que, entre muitos que
nifica, portanto, ao mesmo tempo, uma ruptura com o Todo. E claro I avistaram a luz do mundo sob a mesma estrela, não surgiu Aristóteles
que mesmo Pico não nega as influências dos setores astrais sobre as algum; penso muito mais que existem — independente do céu, que
condições terrestres, mas admite, porém, apenas causas naturais, figura como causa universal tanto para os porcos da Boécia quanto para
nunca formulada dessa maneira, da elevada posição do homem pc mas causas diretas. A unidade entre o mundo terreno e o celeste sig
I■ liílica
rante o mundo e perante Deus, bem como pela conseqüente libci que o cosmo é uma engrenagem que gira incessantemente.
tação da dignidade humana daqueles invólucros que antes a pren ■ Com isso, Pomponazzi não nega em absoluto o direito da astrol ogia de
diam e, ao mesmo tempo, protegiam. ■ chegar a conclusões sobre acontecimentos terrestres a partir de sinais
■ t deste s, mas interpreta a relação entre es ses níveis de forma diferen
Pietro Pomponazzi — Em Pádua, um bastião do aristotelismo na l ei 1 Ir dos platônicos ao buscar causas naturais e não metaf ísicas para os
tura que lhe foi dada por Avicena, lecionava e atuava Pietro Pomponaz/I ■ rventos terrestres. El e vê, por exemplo, sob os fenômenos paranor
(14621524), o qual questionou intensivamente Ficino e Pico e, de | mais, milagres ou a ação de “demônios” não uma força simbólica ou
certo modo, ofereceu uma terceira possibilidade de tratar os temas d.i | misteriosa, mas uma relação física muito simples (que, tal vez, apenas
liberdade, força do destino, ciência, magia, religião e astrologia. A sua [ liíío tenha sido ainda descoberta) ou a capacidade do espírit o humano
obra também viria a marcar os séculos seguintes. Pomponazzi concoi ■ ilu provocar efeitos m ateriais pela imaginação e pela tensão psíquica.
da com Pico que somente causas naturais podem ser válidas para .i ; Médicos e filósof os, segu ndo o autor, teriam muito o que contar s obre
explicação de fenômenos; entretanto, diferentemente de Pico, que, o que a fé e a força da imaginação são capazes de produzir.
com sua ênfase na liberdade humana, de certa forma provoca uma No décimo segundo livro de De incantationibus, Pomponazzi
ruptura ontológica entre o mundo e o homem, Pomponazzi volta a I npresenta uma interpretação da sucessão das religiões que provocou
inserir oo fizera,
Ficino homemounos acontecimentos
seja, cósmicos,naembora
pela sua participação nãomundo
alma do como c If, um escândalo.
nismo ligada àMuito longe
história de eaceitar
sacra uma
voltada interpretação
para do ele
um objetivo, cristia
vê a
pelo reflexo das correspondências. Para Pomponazzi, o homem esta mudança religiosa inserida num esquema de ascensão e declínio que
completamente acorrentado ao determinismo e à animalidade, que sr desenrola de maneira inevitável. Quando surge uma nova religião
ele, na verdade, rec onhec e — e eis a verdadeira tragédia do sábio — , j | para substituir uma mais antiga, isso se revela em fenômenos celes-
mas dos quais não pode escapar. Como Prometeu, o homem sapien tes especiais que, por sua vez, munem os fundadores da religião e
te está preso às rochas e é torturado pelo abutre. A dignidade do seus adeptos de capacidades paranormais. “As forças dispersas em
homem reside apenas em conhecer a sua mortalidade e, no entanto, ervas e pedras, em seres racionais e irracionais, podem se concentrar
contra
aos qualquer
séculos astrologia
seguintes, viriade concepção
a suscitar mitológica
uma crescenteou esotéricaentre
separação que, exemplos de ecomo
sofia natural era no
ciência estreito
início odaeloIdade
existente entre hermetismo, filo-
Moderna.
astronomia científicomaterialista e astrologia de orientação religioso
psicológica. Agrippa von Nettes he im — Na agitada vida de Agrippa, que, na ver-
Deve ter ficado claro nesse rápido esboço que Ficino, Pico e dade, se chama Heinrich Cornelius, a ligação entre hermetismo e
Pomponazzi trataram de temas que tocam os alicerces da religião, ciência natural mostrase com toda a nitidez. O pensador de Colônia
filosofia e ciência. Com o radicalismo próprio a cada um, esses três lornouse conhecido por sua obra, surgida em 1510, De occulta phi-
sábios desenvolveram perspectivas que viriam a marcar a cultuu limphia (“Da filosofia oculta”), na qual, apesar de sua pouca idade,
tários sobre o Tetrabiblos de Ptolomeu, entre eles, Valia (1502), Pon eramPara os astrólogos
de valor praticantes,
inestimável, as tábuas
as primeiras de direção
igualmente e de casas
publicadas por
tanus (1503), Schõner (1529), Camerarius (1535), Cardano (1553),
Melanchthon (1553), Garcaeus (1576) e Junctinus (1580). O arca Regiomontanus como Tabulae directionum, em 1467. Tábuas de ca-
bouço teórico de Abu Ma‘shar foi assimilado por muitos; além disso, sas tinham, por sua vez, a vantagem de se poder ler as cúspides das
Naibod e outros contribuíram para a difusão das teorias de Ali ben casas para uma determinada latitude diretam ente da tabela — em
Ragel e de Alcabitius. Scaliger editou Manilius e Pruckner, Firmicus geral, de acordo com Regiomontanus, mais tarde também segundo
(1583), o que deu maior impulso à divulgação da astrologia helenís Plácido — sem ter de dominar os cálculos (tais quadros sinópticos
tica, principalmente pela impressão de livros. são utilizados ainda hoje). Tudo isso levou a astrologia a deixar os
1537) e Fleinrich Rantzau (152699; a respeito de Rantzau, vri (ver próximo item), a ponto de o príncipeeleitor Frederico, o Sábio,,
Oestmann, 2003). mandar prender por algum tempo o autor da profecia.
O famoso abade Trithemius von Sponheim dedicou ao impera.
ilnr Carlos V, em 1534, um tratado “Sobre os sete espíritos que regemi
Di agnósti cos políti cos e hist óricos
o mundo segundo o desígnio de Deus”, no qual discorre que sete;
Numa época tão turbulenta do ponto de vista político, militar, cienll Inteligências celestiais, correspondentes aos sete planetas, regeriami
fico e religioso como foi o século XVI não é de surpreender que intci ilida uma 3 5 4 anos e um quarto, ou seja, uma analogia ao ano lunarr
pretações astrológicas tenham desempenhado um grande papel no «Ir3 5 4dias e um quarto. De Adão até a sua era contou e interpretou!
ambiente político público. A astrologia já era disciplina obrigatória j vinte ordens; a vigésima se estenderia de 1525 a 1819 e seria regidai
havia duzentos anos em universidades que dispunham de uma facul |m'Io arca njo Miguel e pelo Sol. Tais interpretações hist óric as pos
dade de medicina, e fazia parte das tarefas dos professores, por exem fcinam uma longa tradição, mas receberam um enorme impulso n o )
pio, em Bolonha, elaborar pareceres regulares sobre os acontecimen niS ido XVI, principalmente em virtude do cisma da Igreja.
tos do ano seguinte, das condições climáticas a doenças iminentes ato j
248 Kocku von Stuckrad H istória d a astrolog ia 249 )
Nostradamus — N essa época, também atuava Nostradamu s, astrólo 4. O PRIMEIR O AC ON TEC IME NT O MIDIÁ TICO
go e profeta tão famo so quan to polêmico, q ue uni u a teoria cl i«
m DE MA SSA DA IDADE MO DE RN A
Grandes Conjunções e outras técnicas astrológicas a um olhar visio Jií no início do sé culo XV, realizouse na Europa uma mudança no tra-
nário sobre o futuro. A pesquisa moderna pressupõe que Nostradarnii’. tamento midiát ico dos temas astroló gico s — principalmente no
desenvolveu aptidões especiais menos no que se refere à sua ferr.i ludoeste alemão — , quando gravuras ba ra ta s em madeira começa
ment a astrológica — ao calcula r horóscopos ocor riam lhe erros tiin mm a substituir os caros e suntuosos volumes da cultura cortesã
grosseiros que client es e colegas caçoavam dele — e muito mais cm (Blume, 2000, 1649). Calendários, previsões anuais e interpretações
relação ã comercialização de sua pessoa (Brind dAmour, 1993), , históricas, redigidos nas línguas locais, fo ram acrescid os de figuras e
Resumia suas ambíguas profecias em quadras, os chamados qun lomaramse compreensíveis a um amplo público, deixando, dessa
trains— cem quatrains formavam, por sua ve z, uma cen túria — , que t forma, os ambientes de estudo dos sáb ios p ara ir parar nas estantes
foram editadas em várias publicações após 1555, causando grande de livros de comerciantes, artesãos e leigos.
agitação. Assim, esse prognóstico sombrio foi lido posteriormente
como previsão da morte de Henrique II da França (1559): “O jovem ■ O Al mana que de Johann es St õffl er
leão abate o velho num campo semelh ante à guerra/ no duelo na gaio
la dourada perfurará os olhos; da segunda ferida, o velho leão morre (.'orno já disse, aproximadamente no fim do século XV estabeleceuse
rá, então, uma morte horrenda”. Que Henrique morreria de um san o gênero das efemérides comentadas. Ao lado dos calendários de
gramento no olho após um duelo já havia sido previs to pelo astrólogo, Regiomontanus, citavase muito uma segunda tábua, publicada pelo
professor e bispo Lucas Gauricus, cuja profecia Nostradamus talvc/ astrônomo de Tübingen Johannes Stõffler e seu colega da cidade de
tenha habilmente adotado. Mas o próprio Nostradamus tem sido í.il Ulm, Jakob Pflaum, no ano de 1499, sob o título Alm anach nova.
sificado até hoje, já que suas “profecias” são tão pouco concretas que Stõffler compilou também uma tábua sobre localidades com dados
podem ser facilmente relacionadas a qualquer acontecimento. referentes a latitudes e longitudes geográficas de diferentes cidades
da Europa que eram necessárias para a correção do tempo na utiliza-
A aplicação de técnicas astrológicas a questões políticas e histri
ção do almanaque fora de Ulm e para o uso de tabelas de casas. Essas
ricas, bem como o mau uso de tais interpretações pelos soberanos,
láhuas práticas, junto com instruções e comentários, eram tão popu
estiveram, foi o que pudemos ver várias vezes, entre as funções mah
[ lares que logo passaram, entre 1499 e 1551, por treze novas ediçõ es,
importantes da astrologia desde o seu início. O que aí se acrescentou
apesar de exigirem um difícil trabalho técnico de impressão. Para o
de novo na Renascença foi a enorme difusão e popularização dessa* uno de 1524, encontravase a seguinte previsão:
interpretações históricas. Quero expor isso agora com o exemplo dns
expectativas de fim dos tempos no início do século XVI, nas quais tee Não veremos [no ano de 1524] eclipse algum do Sol ou da Lua [um
nicas astrológicas, agitações políticas e apocalipses cristãos form;nn B eclipse havia sido previsto para o ano de 1523]. Mas, no decorrer do
uma mistura singular que não poderia ter surgido sem a impress.iu ■ ano, se realizarão algumas configuraçõesde planetas bastante sur-
em massa de folhetos. preendentes. Assim, haverá, em fevereiro, vinte conjunções de peque-
na, média e grande importância. Dezesseis delas ocorrerão num signo
de água. Anunciarão mudanças e transformações e revoluções às quais
|
sos ancestrais. |Disse: “Quando derrotarmos os turcos, a profecia de Daniel estará
fliula e terminad a, então, o di a final cert am en te estará à porta”( Con-
larvas à mesa , W A, 678; citado de acordo com Koselleck, 1995, 21).
Stõffler conclui sua sombria previsão astrológica com as pal.i
vras: “Portanto, elevai vossas cabeças, vós, bons cristãos” ( Almancuh
nova plurimis annis venturis inservientia, Veneza, 1502, ro). Nesse
2 A pr ev isão do di lú vi o p a r a 152 4
escrito, insinuase algo que se tornaria, cada vez mais, tema de dis
Hermenêutica do fim do mundo — É claro que a Ref orma c ontri-
cussões públicas nas próximas décadas: a junção de duas linhas dc
tradição diversas num cenário específico de fim de mundo, ou sejn, buiu
Aquelapara estimulardea ânimo
tendência crença da
daspopulação
pessoas noeuropéia
advento foi
dosainda
últimos dias.
estimu
uma religiosoescatológica e uma astrológica. Ao observarmos inicial liulapela morte de Maximiliano I, no ano de 519, e pelas lutas entre
1
mente a vertente religiosa, vemos que é formada de previsões judaico iis Habsburgos e a França, para não falar na ameaça representada por
cristãs, mas também heleníst icas, do fim da Antigüidade — pensemos doenças mortais que se alastravam por toda parte, como a sífilis e a
na grande propagação dos oráculos sibilinos. Ao lado dos sibilinos, peste. O terreno estava, portanto, preparado para toda espécie de
estavam entre os importantes portadores de profecias autores como registro radical e interpretação do futuro. Assim, Sebastian Brant, um
Joa chim von Fiore, Pseu do Methodius, Birgitta von Schw eden e — ja humanista de Estrasburgo, expressa com precisão, em 1520, pouco
naquela época — Hildegard von Bingen. Via de regra, reavivavam se mites de sua morte, o que muitos pensavam:
do lado cristão as profecias bíblicas, bem como o Apocalipse de Joãu.
em especial a profecia sobre o surgimento do anticristo. Que todos conscientes se preparem
A revolução européia ocorrida após a passagem para o século XVI quando mil e quinhentos se contarem
e em número vinte e quatro
parecia confirmar completamente tais expectativas: os turcos que se
então se dirá por todo o lado
aproximavam foram estilizados como símbolos do anticristo, a batalha
que tal cruel acaso se elevará
de Viena tornouse repetição paradigmática da batalha de Alexandre, que todo o mundo deva findar.
que provocara igualmente uma mudança dos tempos. Essa evocação Deus ajude a santa cristandade!
de antigas mudanças de épocas foi descrita enfaticamente poi Oh, clero, deixe que lhe seja dito
Reinhart Koselleck com base no exemplo do painel de Albrechi que não será destruído, apartado.
Altdorfer, surgido em 1528 com o título de “A batalha de Alexandre" Deus não quer que venha um rio
O pintor Altdor fer tinha contato com o astrólogo Grünpeck e participa que afunde todo o reino da terra
va, portanto, das discussões astrológicas da época. “A batalha dc ou abata o séquito de pagãos,
Alexandre”, afirma Koselleck, “era atemporal como encenação, como entre todos os cristãos,
aqueles que se ocultam
figura ou molde da batalha final entre Cristo e anticristo; os seus
e que em demasia o corrompem.
companheiros de batalha eram contemporâneos de todos aqueles (citado de acordo com Talkenberger, 1990, 182)
para o conflito entre a Igreja Católica e o movimento de Refomiii brlormador deveria ser o pequeno profeta anunciado. Essa piníão
encenado por Martinho Lutero, que logo dividiu o cristianismo curo tonrece ter sido compartilhada pelo próprio Lutero, pois, no no de
peu e provocou conflitos devastadores, os quais, finalmente, atingi 1527, mandou imprimir o escrito em Wittenberg e Erfurt, ma, espe-
ram o seu apogeu temporário na Guerra dos Trinta Anos. No séi 1>>
11
cificamente, na tradução alemã elaborada por Roth. Foi urrt hábil
das confissões, como geralmente é chamado, a astrologia tornou jogada, pois exat amente ness e ano servos alemães que exigarn do
um meio decisivo para legitimar demandas próprias e deslegitimai o| Imperador o soldo prometido após a defesa de Roma saquqram a
respectivos adversários. Podese entender bem o que isso signilu k'idade Santa e expulsaram o papa de sua residência. A Witten)erg de
por meio da discussão em torno do horóscopo de Lutero, cuja d.ilii I utero foi exibida, então, como a "nova Roma”, e não admira qu a Pro-
ção e interpretação podiam se dar, dependendo do interesse, tlp f/notticatio tenha sido um tal sucesso que Lutero tenha publcado o
maneira completamente diversa. rscrito novamente em 1535, em Estrasburgo; de fato, o prognóitico de
lichtenberger foi reimpresso ainda inúmeras vezes até o ano d» 1813.
O direito de Lutero ao papel de conotação quase messiârica de
M essia s ou fi l ho de Satan ás: a di scussão |reformador foi posto à prova logo cedo com o seu horóscopo natal, pelo
em tor no do horós copo de Lut ero «|iial ele mesmo teve inicialmente um interesse pertinaz. Er.quanto
Os prognósticos e folhetos astrológicos que surgiam em prolus.iu l.utero antes costumava citar 1483 como ano de seu nascimento, pas
n o u , em face da Grande Conjunç ão e de seu significado, a preferjr o ano
foram, no início do século XVI, um meio decisivo para a formação <1 1
opinião pública, como já pudemos constata r acima. Dois prognóstico* lli! 1484. Seus amigos protestantes gostavam de tratar dessa questão, e
de teor quase idêntico atiçaram de maneira especial a disputa entre 1’hilipp Melanchton debateu minuciosamente com seus colegas Philo
católicos e protestantes, ou seja, aquele do astrólogo papal Paulus von 1’feil e Carion as alternativas que aqui se ofereciam. Concordaram com
Middelburg (1486) e o do astrólogo da corte imperial, Johannrt o de outubro de 1484, embora discordassem do horário. Eke escre-
2 2
Lichtenberger (1488), que, como se supõe, simplesmente adotou ve a seu amigo Johannes Schõner, o famoso astrólogo de Nurennberg:
algumas coisas de Middelburg. Ambos remetiam à Grande Conjunç.lo I Carion mudou a hora de nascimento de Lutero, examinada pebr Philo,
do dia 25 de novembro de 1484 e ao eclipse solar subseqüente no para a nona hora. No entanto, a mãe afirmou que L utero teria nascido
signo fixo de Leão sobre o qual se acreditava que teria um longo cln no meio da noite (mas eu acredito que ela tenha se enganado).).
to. Em sua Prognosticatio, que abrange quarenta páginas infólio Eu próprio prefiro um outro mapa astral, que Carion tambérm prefe
Lichtenberge r afirma que, logo após 148 5, surgiria um sacerdote <lt< ■[ re, embora ele seja desagradável por causa da localização de Maarte e da
grande santidade, que alguns privilégios da nobreza e leis teriam de sei ■[ conjunção nas casas [em torno de] 5o, que representa uma grannde con-
abolidos em razão da grande miséria dos homens e que uma série di< junçã o com o ascendente.
falsos profetas agitaria o cristianismo. Porém, um pequeno prolti.i Aliás, qualquer que seja a hora em que tenha nascido, essa a maravi-
entraria, então, em cena, um sacerdote versado na interpretação dim ; lhosa conjunção em Escorpião não pode srcinar um homem i lutador,
escrituras que prepararia uma boa reforma e melhoria da Igreja. (de acordo com Hoppmann, 1998, 65)
como a considerava uma superstição mágica, dava maior ênfase ,n A I greja Cat óli ca e o contr ol e do discurs o
doutrinas antigas, que estudou minuciosamente, incluindoas no cm ■ crescente popularização da astrol ogia, que, desse m odo, escafu
rículo. De acordo com os estatutos de 1545, os matemáticos “inferiu ■ I con trole do Esta do e da Igreja, os dive rsos progn ósticos do ln
res" deviam lecionar aritmética e os conceitos básicos da astronomiii tempos, que primeiro agitaram as massas para depois se revej
segundo De S-phaera, de Sacrobosco; os matemáticos “superiores'', ,m lir m infundados, os desafios p rotestantes e, principalmente, is
contrário, Euclides e o Almagesto, ou seja, a principal obra astronrt* llltidanças científicas de paradigma também não deixaram de caujr
mica de Ptolomeu. ■frito no que se refere à postura da Igreja Católica perante a ast>
A astrologia difundida por Melanchthon, dotada de legitimai;ín i nigia. É verdade que a ciência dos astros deterministaprognóst;a
cristã, influenciou muitos sábios que tiveram contato com Witlcn Stra tida há muito como inconciliável com a doutrina eclesiástica,
berg, entre eles, Georg Joachim Rheticus, Erasmus Reinhold, Heinrii li Bo rém , até o século XVI, os astrólogos profissionais continuaram a fer
Rantzau e o famoso teólogo dinamarquês Niels Hemmingsen, • u> 11
confessa em uma carta a Rantzau: ■Itilcrados e inúmeros representantes do clero estavam diretamerte
■involvidos em atividades astrológicas. Papas como Paulo II, que em
Klcii discurso de coroação pronunciouse a favor da verdade das pt>
Por isso, muitos sábios, instruídos por uma longa observação do minii
Hrcias astrológicas, ou o papa Sixtus IV, que mandava astrólogos ccn
do, prevêem as coisas futuras, e os astros não são os seus construtoic.,
mas os seus anunciadores, não são os seus operários, mas os seus guiai
■Irutados calcularem as datas favoráveis às suas decisões políticas,
Pois os próprios acontecimentos têm as suas próprias causas, em paití ■frpresentam uma postura moderada e pragmática em relação à CQr
necessárias e naturais, em parte também voluntárias e fortuitas. Comil Bbnração dos astrólogos. Não poucos papas aplicaram abertamente a
isso era compreendido pelo especialmente bom Philipp Melanchllimi, ■ ftklrologia em seu trabalho e apoiaram, na medida do possível, a astro
um homem de pensamento santíssimo (que, à mesma época, vimos ■ M lugia erudita. O papa Leão X, por exemplo, permitiu que o famoso
ouvimos como professor em Wittenberg); ele era para seus alunos um ■>»lrólogo Augustinus Nifo portasse o brasão da casa dos Médici e
pregador que os incitava a se esforçar muito no estudo da maternal ii i|,| K tr iou na universidade papal fundada por ele — - a Sapientia — ur^a
para que fossem estimulados ainda mais à devoção a Deus, o Criadui ■ trttedra de astrologia, no ano de 152 0. Paulo III já foi mencio nadlo
e à vidência. Quem, portanto, não valoriza a ciência dos astros, nauí j B jto is nomeou Lucas Gauricus bispo , depois que este lhe profe tizaira
um ser humano, mas um animal que despreza os dons. Quem, ao i iiil* I
trário, se ocupa com esse estudo, tornase um companheiro dos anjol( | ■ Hhonra papal.
No entanto, a atmosfera modificouse já sob Paulo III, pois ‘se
que daí extraem a matéria para o louvor a Deus. (citado segundo
I Ipcrcebia que as rédeas deveriam ser encurtadas para não passear
Oestmann, 2003, 35) ■ wdiante aquilo que Mic hel Fo ucault chama de controle do discursso.
A influência de Melanchthon (não só) sobre a astrologia ili* i ■ d) ponto de mudança mais importante da Cont raRef orma foi o
cunho protestante do século XVI foi considerável. H C o n cí lio de Trento, que se reuniu com alguns intervalos entre 15445
■ • 1563 e regulamentou novamente os princípios da doutrina católicca,
■ Ibrni como a organização da instituição. As resolu ções do Tridentin urim
K ||mi maneceriam válidas para a Igreja Católica em suas proposiçõQes
m llondamentais até o Con cilio do Vaticano II (196265). Uma comissã;ão
Mais uma vez, mostrase que a ciência astrológica ocupava um ça o seu livro sobre o tema co m a frase: “ A assim chamada volução
lugar tão sólido no pensam ento dos soberanos que — de maneira científica nunca existiu [...]” (Shapin, 1998, 9). De uma pepectiva
semelhante aos editos dos imperadores romanos contra a astrologia históricocultural e históricosocial, falar de uma ruptura r/olucio
— não era toda uma disciplina que estava conden ada, mas a utiliza- iiííria em direção à modernidade é uma estilização mítica d; verda-
ção abusiva da ciência dos astros para a dissolução da estrutura esta deiras srcens que tanto nivela a multiplicidade e a incoeréieia dos
tal ou para a suspensão da liberdade humana. Isso também vale para processos quanto os encadeamentos e os precursores na cincia da
a bula Constitutio inscrutabilis , promulgada pelo papa Urbano VIIIem Idade Média e do início da Idade Moderna. Em virtude do<estudos
l de abril de 1631: a causa foi uma profecia do mesmo ano que pro
2
d e Lorra ine Daston (por exemplo, Daston, 2001 ), para S teve Sh ap in
vocara inquietação na população no tocante ao futuro do Estado ecle c muitos outros, atualmente é até mesmo questionável se “buve no
siástico. Urbano VIII, que, aliás, não se deixou impedir de apoiar o século XVII sequer uma entidade cultural única, coerente, bamada
astrólogo Campanella, condenou nessa bula, mais uma vez, unica 'ciência’ que pudesse ter conhecido uma mudança revoluconária”.
mente a instrumentalização abusiva da astrologia, como a entendia a Visto dessa forma, tratase apenas de
Igreja, sem questionar a sua legitimidade como um todo. É óbvio que
essa ação papal era em si mesma uma instrumentalização da astrolo um feixe de múltiplas práticas culturais que serviam ao projósito de
gia, destinada à legitimação do direito ao poder e ao controle da opi entender, explicar e dominar o mundo natural, mas que depunham
nião pública. Nunca houve uma astrologia neutra. cada uma departicularidades próprias e se modificaram cada i^ a à sua
própria maneira. Hoje somos muito mais céticos frente à tese de que
haveria algo como um “método científico”— uma sentença coerente de
processos universais, eficientes, para a aquisição de conhecimentos
2. As “REV OLU ÇÕES” C IENTÍFI CAS
científicos — e ainda mais céticos diante de exposições históricas
E FILOSÓFICAS
segundo as quais esse método teria surgido no século
XVII e, a partir daí,
nos teria sido transmitido sem maiores problemas. (Shapin, 19)98, 1Is.)
Foi também o mesmo papa Urbano VIII quem pôs Galileu Galilei, em
1632, diante da Inquisição, porque ele havia se engajado de muitas Em vez de prosseguir contando o mito da revolução ciientífica,
maneiras pela aceitação da nova doutrina de Copérnico da rotação da
hoje se tende a analisar os processos culturais para produção? de opi
Terra em torno do Sol. Com isso, chegamos à questão das chamadas
niões compartilhadas coletivamente sobre realidade, verdade, homem
revoluções científicas do fim do século XVI e início do século XVIl
c natureza e, com isso, são avistados os contextos sociais qu<e contri-
Com o conceito de “revoluções”, os historiadores do século XX defini buíram para a imposição de um modelo científico ou filosóffico. Isso
ram — de fato, o termo surge inicialmen te em 194 3, em Alexandre
também é decisivo para a astrologia, pois somente com uma I tal abor-
Koyré — uma radical e completa reestrutur ação do conhecime nto da
dagem é possível reconhecer que a crise à qual, sem dúvidaa, a ciên-
natureza que superou os modelos medievais e renascentistas do cosnui,
cia dos astros chegou nessa época não foi engendrada por umiia supos-
possibilitou pela primeira vez uma “ciência objetiva”, abrindo assim a
ta refutação científica de suas proposições básicas, mas por)r fatores
porta para a “modernidade” — ou seja, para o nosso tempo. Na ciên
sociais e medidas relacionadas ao controle do discurso com os)s quais a
cia histórica atual já não há mais tanta certeza a respeito do status
singular dessa suposta revolução; Steven Shapin, por exemplo, come astrologia perdeu sua reputação pública — por exemplo, pela ç extinção
I
linha aquilo que a partir daí foi considerado pela maioria como objc P resultado des se trabalho foi De revolutionibus orbium coelestiun
tiva e cientificamente sustentável e os processos com cuja ajuda se [Sobre as revoluções dos orbes celestes), cuja primeira versão impress;
tentava adquirir conhecimento científico. Nesse sentido, deuse con [foi entregue ao autor no dia 25 de maio de 1543, o dia da sua morte
tinuidade a propostas que já haviam sido formuladas na Idade Médiii, Jrt entre 1510 e 1514 , Co pérnico enviara um p rimeiro esbo ço de su;,
na Renascença e na Reforma, agora complementadas por observa fceoria a conceituados matemáticos e astrônomos, mas a reação des.
ções pioneiras na física. Isso não foi uma revolução, mas sim o esta llenhosa dos sábios foi tão arrasadora que ele se recolheu amargura
belecimento de um método como disciplinamestre cultural. 1 tio e somente por conselhos de amigos e colegas foi levado a, finaf
liiente, publicar o escrito.
O interessante é que foram sobretudo astrólogos que incitaram
O fi m do modelo geocê nt ri co
I o mestre à publicação, entre eles, Rheticus (Georg Joachim), que;
Nicolau Copérnico — Nicolau Copérnico (14731543) é, com cerle | publicara ele mesm o, em 153 9, em Danzig, um relatório prévio sobre
za, um dos mais importantes precursores do novo pensamento. Su.i <ii teoria de C opérn ico e agora obtivera para o vasto man uscrito a auto
descoberta do movimento da Terra em torno do Sol foi tida posterior |rização de impressão do rei da Polônia e Saxônia, ajudando a finan
mente como mudança fundamental, e em 1832 Goethe expressou >l iar a public ação. A nova doutrina que, devido à resistência por partes
com páthos,mais
descoberta, perante o chanceler
sublime, mais ricaVon
em Müller, que essaque
conseqüências, seria “a maioi
o homem cia Igreja, só se impôs hesitantemente dizia em suma que a Terra rea
f lizava três movimentos: um em torno do próprio eixo, um em torno>
jamais fizera, mais importante que toda a Bíblia”. Contudo, Copérnico | do Sol e um movimento pendular do eixo terres tre em torno do póloo
pôde recorrer a modelos de cálculo que haviam sido desenvolvidos cclíptico, o que, por sua vez, provoca a precessão. Para a Igreja cris,
antes dele, da mesma forma que o modelo da Terra como esfera ja | lã e, na verdade, tanto para c atólicos como protesta ntes, esse m ode
possuíra adeptos desde a Antigüidade (ver a respeito Krüger, 2000). í Io era uma af ronta na medida em que soterrava a posição singular daa
Copérnico estudara inicialmente em Cracóvia com os famosos [ 'Terra — e, com isso, do homem — co mo centro e derradeiro fim daa
astrônomos e astrólogos Johann von Glogau e Albert Brudzewo, depois criação divina. A í residiu a verdadeira revolução que permaneceriaa
Caso alguém se sinta ultrajado pelo fato de essas coisas seren) apresen-
tadas diante do grande público, junto ao qual a esperança de êxito é
bastante pequena, desejo que ele reflita com exatidão que ngo chega-
remos por outro caminho aos verdadeiros conhecedores que vivem
ocultos aqui e ali senão pelo caminho da publicidade.
(Opera omnia ed.
a Spharea Ti, Iurem cum Luna ferentem reprur L Frisch, vol. I, 420)
(3 Cubus primum corpus regulare sentans distantiam.
Geometricum distantiam ob orge T|Orbis Magnus.
Tiusque ad 2J. exibens, Icosaedron ab orbe Magno ad A astrologia não era, portanto, algo para as massas, mais para os
7 Spharea 21 Sphaream Ç veram distantiam poucos sábios que trouxessem consigo 0equipamento de icálculo e
8 Tetraedron siue pyramis, 2J. este indicans. interpretação necessário para distinguir o certo do infundadJo.
rius Sphaeram % attingens, inte 1 Spharea Ç.
O fato de os sinais do céu indicarem ou também aniunciarem
rius cf maximam inter Planetas k
Octaedron a Spharea Ç e Ç. acontecimentos terrestres era óbvio para Kepler, como para ;a maioria
distantiam causans. orbem exhibens distantiam.
e Spharea cf • X Spharea $ . de seus contemporâneos. Quando, em 10 de outubro de 1Í604, uma
f; Dodecaedron,3 . corpus a Spharea |x Sol Medium siue Centrum Vni Nova pôde ser vista, o astrônomo aproveitou a oportunidade para se
Cf usque as Magnum orgem tel versj immobile. expressar sobre a questão da estrela do Messias (ver p. 151).». Em dois
Fig. 10:Página extraída doMysterium cosmographicum de Johannes Kepler,<li escritos — De Stella Nova in pede Serpentarii (1606) e De an-nno natali
1596. Kepler demonstra aquias “maravilhosas proporções das esferas celesh■■■ ( 'hristi (1614) — ele esboçou a teoria de que, como tambénm a Nova
como foram pesquisadas por ele combase nos cinco corpos geométricos regulare. do ano de 1604 fora precedida de uma conjun ção de Júp ite r e e Saturno
ção universal”, que partia da lei uniforme dos acontecimentos no cosmo pela primeira vez o movimento dos cometas (e, com isso, arginenta
e na Terra e servia, assim, como explicação tanto para a estabilid;i<l< Vii contra a opinião astrológica tradicional de que com etasser iam
do sistema solar como para a descrição de movimentos provocados, presságios imprevisíveis), serviulhe de ensejo para expresar sua
como a queda livre, o movimento pendular etc.; em terceiro lugar, ,i repulsa ao poder do clero. Em Theologiae gentilis ori gines ph ijsop hi-
descoberta da natureza colorida da luz que Newton pôde comprovai Cne (As srcens filosófi cas da teologia pagã), em cuja redação c(meçou
com a divisão espectral da luz no prisma. utrabalhar em 1683, expõe que antes teria havido uma autêntca reli-
Essas descobertas apresentadas em 1687, em sua principal obr.i gião de filosofia natural que conhecia a verdadeira estrutura do
Philosophiae naturali s principia mathematica (Os prin cípios matemáti cosmo. De maneira simbólica, isso teria sido formulado no piagoris
cos da filosofia natural, observese que aqui se fala de “filosofia natu mo. Somente mais tarde, tal conhecimento perfeito teria sido cor-
ral” e não de “física”), logo o tornaram famoso além da Inglaterra. Um rompido, ao se idolatrar as estrelas e povoar o cosmo com alrrias. N o
ponto crucial para a imposição de suas opiniões, que se encontravam décimo primeiro capítulo chega ao ponto de afirmar que a ieligião
em clara concorrência à filosofia natural de René Descartes (1596 cristã com seus sacerdotes cônscios de poder não seria men0s cor-
1650), é a enorme influência política que Newton possuía e que rupta que seus antecessores orientais e judaicos. Aqui, aliás, tinha
ampliou continuamente. Em 1669, foi nomeado professor catedrátieo consciência de compartilhar da opinião de Thomas Hobbes. O culto
de matemática em Cambridge; em 1672, tornouse membro da “Royal nos astros, conclui Newton, é apenas a outra face da falsa teoiria dos
Society of London for the Improvement of Natural Knowledge”; em cometas, como também hoje a atribuição de almas aos astros e? a ado-
1696, recebeu o primeiro cargo público; em 1701, foi eleito para o ração de ídolos, santos e entidades inferiores do cristianism o afasta-
parlamento; em 1703, para presidente da Royal Society (até a s im riam da autêntica filosofia natural que, Newton tinha certezía, teria
morte); em 1705, tornouse nobre com o título de “sir”. reconhecido Deus como instância única, absoluta e ordemadora.
O fato de Newton, com isso, ter sido visto como a personifica Mais uma vez, vêse aqui como a ciência dos astros está estreittamen
ção do “novo pensamento” contribuiu para que uma parte considera le imbricada com outras áreas da cultura: “[A] reforma da astro^nomia
vel de sua criação, que se encontrava fora dos estreitos limites du leve funções morais, teológicas e políticas diretas" (Simon Scchaffer
matemática, fosse esquecida pela posterioridade. Somente hoje essa em Curry, 1987, 241).
imagem começa a ser corrigida, ressaltandose com maior intensid.i Em que residiu, então, o desafio do novo pensamento desenvol-
de os interesses esotéricos de Newton, suas contribuições para o hei vido por Copérnico, Galileu, Newton e outros, o qual levou a s<Se falar
metismo, a alquimia e a astrologia (Curry, 1987; Dobbs, 1991, de revolução científica? Um desafio já foi mencionado, ou s seja, o
Fauvel, 1993). Assim, redigiu aproximadamente no fim do século XVII fato de que, na visão de mundo heliocêntrica, a posição singuular do
vam à interpretação demasiado banal do futuro. Inem estudos privados, seja numa forma popular simplificai, seja
Os conflitos encarniçados entre as confissões cristãs tiver,mi, iirte e literatura. Somente poucos assimilaram a indicaio de
além desses efeitos externos, também influência direta sobre como ,i pler citada acima de que, desde que a astrologia se limitíse de
astrologia podia ser exercida no contexto erudito. A ContraReforma ma conseqüente à interpretação simbólica dos aconteciientos
levou a Igreja Católica a aumentar consideravelmente sua press.m lestes e deixasse a cargo de outros as explicações físicas, aderia
sobre a ciência e a filosofia. Muitas universidades encontravam si ;ritar sem problemas novo paradigma. Em vez disso, muitoíastró
0
sob a direção de jesuítas ou dominicanos que se opunham veemcn os se prenderam à visão de mundo tradicional, expondose ridí 0
temente ao platonismo crescente e, em vez dele, difundiam uma filo jlo. A longo prazo, ao contrário, e em última análise, somere nos
sofia neoescolástica. O jesuíta espanhol Suarez havia reform ulado .1 culos XIX e XX foi exatamente isso o que aconteceu: a astroloia foi
doutrina aristotélica e ela foi lecionada dessa forma em influentes
universidades — e ntre elas, Oxford, Paris, Pádua e Colônia . Com iliseqüentemente
llvainterpretativaseparada
perdeu odaseu
astronomia, a ciênciaquantitativamecâ
status de ciência dos astrosquali
isso, a astrologia de certo modo foi pulverizada entre as frontes: de ita e estabeleceu se, ao mesmo tempo, fora das univers idade; com o
um lado, encontravamse os tradicionalistas neoescolásticos que lllsi•iplina psicológica.
ofereciam resistência ao sistema copernicano e permaneciam atados
a um modelo aristotélico, que se baseava na separação entre mundo Klotno reagiram os astrólogos? — Os abalos na identidade da astro
sublunar e celeste, construindo um mundo do “primeiro movimento Bh^ia que, por um lado, surgiram junto com o questionameiito do
(primum mobile) estabelecido atrás das esferas planetárias, empirica ftiodelo aristotélicoptolemaico do cosmo e, por outro lado, com o
mente não palpável; esse modelo estava, no entanto, numa posição fKlnbelecimento de um método mecanicistaquantitativo pod<;m ser
perdida, pois do outro lado ocorriam ano a ano descobertas simples nitidamente reproduzidos a partir das biografias e obras dos astrólo-
mente inconciliáveis com o modelo. Além disso, a astrologia tradicio gos do século XVIi. As reações ao desafio copernicano transcorreram
nal era criticada pela perspectiva da filosofia natural mecanicista ile maneira muito diversa em cada país, de forma que é preçiso se
matemática por ainda trabalhar com princípios qualitativos que se distanciar de generalizações simples. Porém, vale basicamente dizer
esquivavam a qualquer explicação empírica e se apoiavam sobre que foi na luta entre aristotelismo — ou melhor: n eoescolásttica —
requisitos não prováveis. Sob o primado da nova doutrina puramente f o novo pensamento que os caminhos se separaram. Aqueles: astró-
quantitativa e relacionada à matéria visível, a astrologia chegou a um logos que lutaram contra a visão copernicana do mundo e aindla bus
estado de urgente necessidade de explicação. Citram a congruência com a interpretação cristã passaram proj>gressi
Vmnente para a retaguarda argumentativa, enquanto aquelees que
A diferenci ação de ramo s do conh ecimento — O que observamos neguiram o caminho do platonismo místico prédelineado por I Kepler
aqui pode ser talvez melhor descrito como uma diferenciação de ramos 01 1simplesmente não se importaram com a astronomia heliocêêntrica
do conhecimento. Aquela tradição astrológica que fora parte inte criaram a base para a sobrevivência de sistemas astrológicos c dentro
grante das ciências eruditas desde a Renascença, no sentido de uma ila nova visão de mundo. Pretendo apresentar agora os mais i impor-
occulta philosophia, foi sendo gradualmente descartada do discurso tantes astrólogos, entre os quais alguns autores de obras extrema-
científico. Ela não possuía mais perspectivas de desenvolvimento nas mente abrangentes na segunda metade do século XVII.
!
uma congregação beneditina com sede em Siena. Mais tarde, prolci O fato de haver influências reais na astrologia que se srcinavam,
■tlmal. do primu m mob ile além das esferas, como Aristóteles Oexpli
sor de iniciação em matemática e física na Universidade de Pádua tf
■ tara, foi difundido pela maioria dos astrólogos italianos que , dess a
professor catedrático na universidade milanesa em Pávia. Placidm
como é chamado até hoje, redigiu um grande número de escritin ■ forma, podiam contar com o respaldo da Igreja. Aqui, merecem ser
sobre a ciência dos astros nos quais apresentava a conciliabilidadc da ■ filados A. Francesco Bonatti, de Pádua, Antonio Tattoni, de Tsrni e
astrologia científica com o credo cristão. Placidus reagiu principal ■ I’ Ciambattista Riccioli, que com o seu extenso Almagestum r0vum
f dc inspirou em Ptolomeu, formulou uma crítica incisiva a Copérnico
mente à crítica de seu patrício Pico delia Mirandola, ao tentar elinn
I r (lalilei e também apresentou uma ob servação histórica da astrolo
nar qualquer orientação “qualitativa” da astrologia. Ele via os signo»
zodiacais, casas, aspectos e todos os outros fatores como elemenloi I ||la listando todas as Grande s Conjunções de 3 98 0 a.C . até 23 5§ d.C.
§ As obras de Pla cidus e seus colegas haviam sido publicadas ; com
fís ico-rea is que derivariam de princípios naturais. Esses princípiol
seriam transmitidos pela luz, o que significaria uma influência diicla ■ Btitorização da Igreja; porém, em 168 8, a cúria modificou a suía pos
§ lura, inserindo todos os livros astrológicos no Index (também os de
dos fatores astrológicos e não uma simples correspondência qualiia
tiva. No lugar de divisões geométricas e sua conotação platônicomh ^■P lacid us). A proibição foi reforçada em 17 09, o que provocou a trans
■frrència do núcleo da astrologia da Itália para a Inglaterra e os IPaíses
tica no sentido de Kepler, Placidus insistia na interpretação físico
■ftaixos. Um ensejo para a nova depreciação da ciência dos astrros foi
causai das relações de efeito, como podiam ser encontradas m
tradição aristotélica. ■ fornecido
■ cm peloem
Bolonha, famoso
1676, astrônomo Gio vanni
um prognóstico, Montan ari,
continuado que putblicou
até 1686,, cujas
Em sua principal obra, Physiomathematica sive coelestis philo\o
■ previsões acertadas lhe trouxeram reconhecim ento por toda j parte.
phia (Fisiomatemática ou Filosofia do céu), publicada inicialmente suli
I IVna que Montanari admitiu em um a outra publicação , em 16885, ter
pseudônimo em 1650, depois postumamente, numa edição aprimoia
^■feito os prognósticos, aparentemente tão bem ponderados, de i modo
da em 1675 em Milão, Placidus se volta de maneira conseqüente con
I completamente arbitrário, a fim de provar que é possível ob ter t tantos
tra os sistemas de casas e métodos de direção deduzidos meramenlc
■ MOertos por acaso quanto com a astrologia “erudita”. Foi um golpe
da geometria, como, por exemplo, aqueles de Campanus ou Regiomoii
tanus. Basea ndose em Ptolomeu, exige — já que a luz represemana p considerável para a corporação astrológica.
lado estava Jean Ba ptiste Morin de Villefranche ( 15 83 1 65 6) , <|in ■ lliccanicista que via De us como a ca usa primeira de tudo o qu ac o n
fora introduzido tardiamente na ciência dos astros, ao travar conhci i Btrce. Os corpos dos átomos movimentamse em um espaço azio e
mento com o alquimista e astrólogo escocês Davison, mas que, apo* 4 (pormeio desse movimento causam os eventos terrestres. P<r isso,
sua nomeação em 1630 para catedrát ico de mate máti ca no Collègc <l< [(íiissendi seguia a visão de mundo copernicana, mas com a í>lução
France, logo tornouse o astrólogo mais famoso do seu tempo. Moiln tonse nsua l atenuante d e Tycho Bra he — o Sol conti nua a giar em
desfrutava de enorme reputação junto às rainhas da França, da Suo i>i [ turno da Terra como centro, porém, os cinco planetas giram en torno
e da Polônia, bem como aos cardeais Richelieu e Mazarin; ele er.i 11
astrólogo da corte de Luís XIII e como tal também esteve presenii .m Un Sol —era, jáa que
ninibém essadesolu
opinião seução parecia
amigo não contradizer
Marinus a Bíblií. E ssa
Mersenne (15881648),
nascimento de Luís XIV, no ano de 1638. Apesar de haver publicado jl|iic colaborou estr eitament e com De sca rte s, Ho bbe s e o astrólogo
inúmeras obras nas quais se confrontava criticamente com Copérnu i| Kliimpanella. Em sua Quaestiones celeberrimae in genesin, putlicada
e Placidus, a fama de Morin assentavase sobre sua extensa produç.io, I Um 1623, Gassendi desenvolveu uma posição platônicortifstica
que abrange 26 livros e foi escrita em latim (e, portanto, somcntí peniclhante à de Kepler, a quem também se referiu expressanente
amplamente recebida após traduções posteriores), a Astrologia gallu ii, j
liniís tarde (Harmonie universell e, 1636).
que consumiu trinta anos de pesquisa e cuja publicação, porém mt Apesar dessas tentativas de adaptar a astrologia à nova vi;;ão de
ano de 1661 em Flaia, financiada por sua antiga cliente, a rainln
fluindo, também na França a ciência dos astros ganhou fama de ser
Marie Louise da Polôn ia — , o mestre não mais presenciou. Im i
lim método antiquado e nãocientífico. Primeiro, o fundador da Acade-
imensa obra, composta por mais de oitocentas páginas, 39 tabelas t|
mia francesa, o ministro J. B. Colbert, declarouse em 1666 pessoal-
oitenta exemplos de horóscopos, entendese como uma enciclopédia
mente contra a astrologia, proibindo rigorosamente aos membiros da
completa da astrologia praticante, bem ao estilo de Junctinus. Nilijj
M Aeademia o estudo dessa ciência. E quando o rei Luís XIV, cujo Ihorós
posso tratar aqui das várias técnicas inovadoras e das regras de inlri
I inpo natal Morin ainda pudera elaborar, estendeu, em 31 de jull ho de
pretação altamente complexas desenvolvidas por Morin (algum.m
obras estão disponíveis em traduções inglesas e francesas; ver aihiln I |(iH , a proibição de calendários e almanaques astrológicos a ttoda a
2
Í
sublunar, que, por sua vez, é formado por quatro qualidades primi m j rente. Embora as prin cipais universidades — tanto as que seguiaam os
diais. O zodíaco está solidamente ligado ao primum mobile-, o tragictil |empiristas como também os Cambridge platonists — rejeitassem a
em Morin é que, com a queda desse sistema aristotélico, também .11 I |Ntrologia como disciplina séria e alguns eruditos trabalhassem i com
suas conclusões acabaram perdendo parte de seu poder de convicçiin | el.i apenas às ocultas, a ciên cia dos astros não desapareceu do dilebate
1
das apenas 22 novas publicações astrológicas, em 1642, elas saltaram ; Trs extraídos d e sua própria prática; na terceira, o autor traita do
subitamente para 1966; nas décadas seguintes, foram publicados em horóscopo natal. No anexo, encontrase, além disso, uma bibliogra
média três panfletos por dia. ; fln com obras astrológicas (que faziam parte da biblioteca de Lálly) e
Mesmo o mais famoso de todos os professionals, William I illy mo mesmo um índice analítico.
No que se refere à astrologia horária, Lilly alcançou excelência, e
(160281), que costuma ser chamado de “true father of British astio «s gerações seguintes — como W. J. Simmonite e Zadkiel no séciulo XIX
logy”, foi levado a tribunal repetidas vezes, mas também se beneficiou
U praticamente limitaramse a copiar as suas obras. Quero> citar
da alta conjuntura da astrologia após 1641 (sobre a biografia de I.i v.11
O rei Carlos I o consultou muitas vezes, mas não acolheu o conselho lítulo Merlinus Libe ratu s e continuada até 1783 sob o pseudônimo
de Lilly de deixar Londres imediatamente e foi, por influência de de seu editor “Merlinus redivivus”. No entanto, as coisas para Par
Cromwell, executado em Londres, em 30 de janeiro de 1649. I m Iridge não foram fáceis. Não só esteve muitas vezes envolviido com
outro prognóstico, no entanto, provocou tempestades ainda maioreu os tribunais, tendo sido obrigado sob o rei Jacob II a deixar a Irnglaterra
em 1651, Lilly publicou o escrito Mon archy or No Monarchy ih por um tempo, até ser reabilitado pelo rei Guilherme III. Ncj debate
E ngland, no qual previu uma catástrofe para Londres. Quando, i nl público, um outro episódio lhe pregou uma dura peça: Jtonathan
1665, a peste irrompeu e, em 1666, a capital foi vítima de um incen Swift publicou, sob o pseudônimo Isaac Bickerstaff, um alrraanaque
dio devastador, Lilly foi intimado a se apresentar à comissão de invi s satírico para o ano de 17 08 no qual profetizava qu e Partridgee morre
tigação do incêndio e interrogado a respeito do seu prognósl ieo,| tia “inevitavelmente" em 29 de março de 1709, às 23 horas. lUm ano
Declarou não ter sabido previamente o exato momento, mas se mom | depois, Swift repetiu a dose com o escrito “As profecias cutmpridas
trou convicto de que deveria ter havido causas naturais para o inc< ii do Mr. Bickerstaff, no qual anunciava a morte de Partridge,; além de
dio. A comissão encerrou o caso aí. Mia confissão de fracasso, a descrição do velório e o «epitáfio.
Os almanaques de autoria de Lilly foram continuados após a nunln "Uickerstaff” completou: “Weep ali you customers that use/ FFIis pills,
do mestre por seu filho adotivo e aluno, Henry Coley. De modo gci.il, his alman acks, or shoes" [“Chorem, todos vocês clientes que i usaram/
tenha sido escrita pelo próprio Flamsteed para expressar a sua inc li novas listas. Dessa maneira, a ciência dos astros interpretattiva per-
nação pela astrologia, sem ter de assumila publicamente. Corno deu o seu alicerce.
Os iluministas passaram a considerar a astrologia como “ pseudo
mostra Günther Oestmann em um novo estudo (2003a), Flamsteed l iência” ou como superstição. Quando, em 178589, Johann CHiristoph
era um cientista familiarizado com todas as técnicas astrológicas Adelung publicou sua influente Geschichte der menscehlichen
Nurrheit (“História da loucura humana”, em 7 volumes), a as,strologia
l.imbém foi levada ao banco dos réus. Adelung ocupouse dde Lucas
<iauricus, por exemplo, expondo sua suposta com petência ao e escárnio
sipação à luz da Razão, representa um ponto central. Nesse meio [ (os vestígios mais antigos são o poe ma Regius, datado aproximadamen-
tempo, há alguns estudos que se ocupam minuciosamente com esse te de 1390, e o manuscrito Cooke, de cerca de 143040), e^s mais
contexto (NeugebauerWolk, 1999, Trepp & Lehmann, 2001; vide imtigos manuscritos constitutivos são de meados do século XV,porém,
também Kippenberg & Von Stuckrad, 2003, 7081). Aí se revela que rsses grupos só entraram no espaço público no século XVII, quando
a veneração ao iluminismo e ao conhecimento, como praticada poi determinadas lojas se uniram em associações maiores, tentando orga-
muitos intelectuais do século XVIII, jus tam ente não se baseia nos nizar os seus sistemas. A fundação da grande loja maçônica de
modelos de razão de um René Descartes, mas na busca de autores I ondres, no ano de 1717, co nstitu i, por essa razão, o verdadeiro início
renascentistas pela “Luz da Razão". Por meio do vínculo entre esole da história maçônica. Paralelamente, os rosacruzes chamavam cada vez
rismo e iluminismo se reconhece quanto os envolvidos se imporia mais atenção. Em seus manifestos Fama Fratemitatis (1614) e Qonfessio
vam com o saber superior, o conhecimento absoluto e uma verdade (1615/1616) haviam apresentado o legendário fundador Christian
que transcendesse o mero entendimento. O homem por inteiro devi' Kosenkreutz como um adepto que teria lido o “Livro do mundlo” (liber
ria ser apreendido por esse iluminismo, o que daria início a um renas mundi) e que teria sido iniciado na tradição de Hermes e dai Tabula
cimento do homem que depois foi transferido também para contex Smaragdina. Além disso, a lenda em torno da abertura de seu túmulo,
tos políticos e culturais. em 1604, se assemelha à descoberta dos antigos escritos na s<epultura
Como já apontado, a conexão de discursos iluministas com ,i de Hermes Trismegisto. Dessa forma, o hermetismo moderno umiuse a
idolatria da Razão à época do Renascimento ocorreu de maneira mais reivindicações religiosas e políticas que no século XVIII encontravam
nítida no seio das sociedades secretas do século XVIII. eada vez mais ressonância, inclusive em círculos iluministas.
No que se refere à importância da astrologia para a hisstória da
Semântica astrológica nas sociedades secretas do século XVIII ■ cultura cabe notar que dentro daquele s grupos foi desenvol\|vido um
O esoterismo é, na verdade, relevante para a cultura européia não > 8 simbolismo impregnado de elementos astrológicos. Os sisteemas d e
apenas do ponto de vista da história das idéias, mas se manifestou graus seguiam — com o nos antigos mistérios — a semântica aastrológi
também em processos sóciohistóricos, sobretudo no século XVIII. ()s ea, as iniciações realizavamse com referências a tradições her^rmético
círculos dos maçons, rosacruzes, iluminados e outras assim chamadas esotéricas, baseadas num a cosmologia neop latônica. Essa cos.smologia
rito esco cês” os sete querubins: Miguel estava para Saturno, assi m ■Interna completo cósmicoreligioso que não mais diz respeito o
como Gabriel estava para Júpiter; Uriel para Marte; Chamaliel pai.i horóscopo natal ou à astrologia mundana, mas que, em compens-
Vênus; Rafael para Mercúrio; Tsaphiel para a Lua; Zerachiel para o a/lo, era especialmente adequado à compreensão dos elementos 9
Sol. Nos rituais, eram postos performaticamente em cena as res Interpretação astrológica como forças psíquicas. As obras surgids
pectivas divindades e anjos que representavam cada um princípios ■flesse conte xto — por exemplo , Opus mago-cabbalisticum et theos-
espirituais e éticos que o adepto tinha de conhecer e integrar em filiicum (1735, reedições em 1760 e 1785) ou Geheime Figuren dr
seu caminho. /los<>ukreuzer aus dem 16. und 1 7. Jahrhu nde rt (“Figuras secretas d<s
Na “Maçonaria Egípcia”, as paredes da sala onde os “magos de rosacruzes XVI e XVll”) (1789), de Georg Welling —
Mem phis” realizavam seus rituai s — o santuário — eram revestidas jfxpõem a as dos séculos
trologia de man eira con seq üe nte como uma “ciên cia pi
de damasco vermelho no qual estavam apostas representações de Itiordial”, que, além de discussões sobre sistemas heliocêntricos (u
Saturno, Osíris, Isis, Hórus e Harpócrates. A sala era iluminada com fcrocêntricos, é capaz de unir simbolismo cósmico com disposições
Miiímicas e, com isso, é a primeira a fundamentar o “saber supericr”
quinze velas, distribuídas pelos pontos cardeais. O altar ficava no
leste. Saturno, vestido de preto, pendurado sobre a entrada, era con ilos iluministas.
siderado o pai dos deuses, crescido de um tronco de árvore e símbolo
da matéria primordial. Osíris, pintado em cores amarelas na parede ao [ Rom ant i smo e a restaur ação da ant i ga ci ênci a dos astros
sul, era o símbolo do fogo oculto do Sol, filho real de Saturno, esposo
Aproximadamente no fim do século XVIII, a astrologia praticamente
de Isis e pai de Hórus. ísis, representada em cores brancas e símbolo d.i
linha desaparecido, portanto, dos debates científicos. A ciência natu-
umidade, da natureza e da Terra (Lua), era a filha mais velha de Sa
ral empírica estava começando a evoluir para disciplinamestre, para
turno e, como rainha, irmã e esposa de Osíris. Hermes (Mercúrio ou
se impor definitivamente no século XIX. Porém, mais uma vez, seria
Thot) era seu ministro. Finalmente, no leste, encontravase Hórus
eirado descrever essa evolução como unilateral e clara, tão forties
como deus da razão, segurando nas mãos as figuras da felicidade e d,i eram as forças adversárias e as ambivalências inerentes à ciência
morte. À esquerda, ficava a representação de Harpócrates, irmão moderna que garantiram à astrologia — ainda que em forma modiffi
de Hórus e deus do silêncio. Saturno portava do lado direito do peilo cnda — a sua existência. Tratarei mais detalhadamen te da situaçião
o símbolo do Sol, do lado esquerdo, o da Lua; diante de si, segurava o na GrãBretanha no próximo capítulo. Neste trecho quero volttar
cetro de Mercúrio, que dividia luz e escuridão. No meio do santuário, 11atenção para aquelas áreas da cultura que não se satisfizeram comi a
havia um ataúde entre duas palmeiras, à cabeceira, um ramo de tama meionalização do cosmo e dos mu ndos vivos e, em vez disso, d e fe n -
rindo e sobre ele, o símbolo de Mercúrio. A frente do ataúde, havia deram uma completa integração do “vivo" igualmente na ciêncija.
um tapete igualmente decorado com símbolos. Snmandose isso ao novo entusiasmo pela Grécia antiga, também a 1
A encenação servia basicamente para mostrar aos adeptos e fazê astrologia continuou a ser transmitida com naturalidade. A diferen^ça
los experimentar fisicamente o que de fato acontece em seu interioi era essencialmente que, no século XIX, os astros foram estetizados s e
Quando ainda o belo mundo regíeis Oh! Nunca mais quero censurar sua crença
no leve laço da alegria conduzíeis nos astros, no poder dos espíritos.
homens mais ditosos, Não só o orgulho do homem preenche o espaço
seres formosos do país das fábulas! [...] com espíritos, com forças misteriosas,
Onde agora somente, como nossos sábios dizem, também para o coração que ama
uma bola de fogo gira sem alma, a natureza comum é estreita e significado mais profundej
guiava outrora sua dourada carruagem
há no conto de fada da minha infância
Hélios em serena majestade. [...]
do que na verdade que a vida ensina.
Para um enriquecer entre muitos,
E apenas o alegre mundo das maravilhas
esse mundo de deuses precisou perecer.* que dá resposta ao coração encantado,
abrindpme seus espaços eternos,
oferecendome ricamente milhares de ramos
sobre os quais o espírito inebriado feliz se embala.
* “Da ihr noch die schõne Welt regiertet,/ Na der Freude leichtem Gãngelbanil/
Glücklichere Menschenalter führtet,/Schõne Wesen, aus dem Fabelland! [.. |/ A fábula é o lar do amor;
Wo jetzt nur, wie unsere Weisen sagen,/Seelenlos ein Feuerball sichdreht ' Ele gosta de viver entre fadas, talismãs,
Lenkte damals seinen goldenen Wagen/ Flelios in stiller Majestãt. (...]/ /Einem
ii gosta de crer em deuses, porque é divino.
bereichen unter allen,/ MuBte diese Gõtterwelt vergehen. Os antigos seres das fábulas já não são,
agora ocupa o primeiro plano. A astrologia não é mais ciência, e sim Outros seguiram
von Hardenber g, 17 72a 18
mesma cartilha.
01 ) fala Quando Novalis
do significado (Fiedrich
qualitativo <e rel a-
arte desembaraçada e religião que, como linguagem de sinais do uni
verso vivo, animado e acessível ao coração que ama, reivindica seu ções numéricas e denomina a astronomia de “verdadeira metifísica”
lugar cultural. e "astrologia correta”; quando, com base nos trabalhos de Fran; Anton
Mesmer — cuja d issertação traz o título signif icativo De nfluxu
Romantismo — O tom que foi anunciado aqui continuaria a ser ouvi ustrorum in corpore humano (“A influência dos astros sobre c corpo
do no século XIX como um baixo contínuo. A estetização e psicologi/a humano”) — , numerosos pesquisadores naturais, ent re eles (>po eta
ção das forças astrais tornaramse um elemento não irrelevante <l.i Justinus Kerner, buscam um princípio primordial que percorra todo
reflexão na arte e na pesquisa natural do romantismo, o qual derivavii o universo e a matéria, também reproduzido na astrologia; e quando
da busca por uma explicação totalizadora e nãoreducionista du filósofos como Gustav Theodor Fechner elaboram reflexões especula-
cosmo. Partindo da filosofia natural de Schelling (17751854), que se tivas sobre o animismo dos planetas e a participação das almas huma-
nas, que se reencarnam repetidamente na alma divina do muindo —
então fica evidente uma opção alternativa àquela ciência qu<e parte
* “O! nimmer will ich seinen Glauben schelten/ An der Gestirne, an der Geislri
Macht./ Nicht bloB der Stolz der Menschen füllt den Raum/ Mit Geistern, mil do primado da razão pura e do paradigma da racionalização rrnecani
geheimniBvollen Kráften,/Auch für ein IiebendHerz ist die gemeine/ Natui u t ista do cosmo.
eng, und tiefere Bedeutung/ Liegt in dem Màhrchen meiner Kinderjahre,/ Ais m Essa valorização da astrologia como “astronomia metafísic?a” fun-
der Wahrheit,
dem entzückendie das Leben
Herzen lehrt./
Antwort DieDieheitre
gibt,/ ihre Welt
ewgender Wunder
Rãume mir ists allein,/Mli
erõffnet,/ I)n■ damentada na filosofia natural dev e, porém, ser claram ente distin
tausend Zweige reich entgegenstreckt,/ Worauf der trunkne Geist sich selly Kiiida de uma arte de horóscopos de interpretação prática, cojmo foi
wiegt./ Die Fabel ist der Liebe Heimatwelt;/ Gern wohnt sie unter Foen, exercida na Inglaterra. No continente, no século XIX, some nte ppoucos
Talismanen,/ Glaubt gern an Gõtter, weil sie gõttlich ist./ Die alten Fabelwcsi n misavam vir a público com obras de fato astrológicas. O “vidJente e
sind nicht mehr,/ Das reizende Geschlecht ist ausgewandert;/ Doch eine 1<Sprai
> 1
astrólogo” de Munique, J. K. Vogt, constitui uma exceção. Terria pre-
braucht das Herz, es bringt/ Der alte Trieb die alten Namen wieder,/ Und an deni
Sternenhimmel gehn sie jetzt,/ Die sonst im Leben freundlich mit gewandeli visto a queda de Sebastopol e o declínio de Napoleão III e se suuicidou
Dort winken sie dem Liebenden herab,/Und jedes GroBe bringt unsJuf>ih't em 1860, quando um prêmio de loteria calculado por ele não s^e reali-
Noch diesen Tag, und Venus jeneSchóne”. zou. Mais importante, contudo, foi o professor catedrático de ErlíJangen,
que o universo seria banhado por um único princípio espiritual, i|iie D A ASTRO LOGIA MODERNA
abarcaria
“Der Menschtudo.und
Essa
dieteoria foiFragmente
Sterne. exposta emzursua coletâneader
Geschichte de Weli
ensaiox
seele" (“O homem e os astros. Fragmentos sobre a história da alm.i
Exatamente como Deus, a astrologia ajuda aquees que
do mundo”) (1834). ajudam a si mesmos. [...] O homem pode ser o mtstre do
Excetuandose essas tentativas de restauração da ciência dos seu destino. Porém, o homem não deveria lutar demasia-
astros no meio culto, porém, é preciso constatar que a astrologi.i damente para ser o mestre. O imprudente jamais c será; o
amargou no século XIX uma existência de desprezo social. Os astrólo sábio raramente deseja sêlo.
E vangeli ne A dams
gos praticantes ainda exerciam sua atividade, mas não podiam fa/i i
valer influência alguma na sensibilidade pública e nas universidade.
Todo homem e toda mulher são uma estrela.
Somente na forma finalmente “espiritualizada” de entusiasmo bui ALEISTER ClíOWLEY
guês pelos gregos difundiuse uma ciência dos astros largamente des
tituída de saber específico, que representava mais uma especulai, ;tn
construída para pesquisadores naturais de tendência romântica do
que um prosseguimento das tradições astrológicas. Uma tal continm NliMA REVOLUÇÃO CIENTÍFICAnem o iluminismo trouxeram o ifim da
dade existiu apenas na GrãBretanha, de onde, aproximadamente nu Msl rologia nas c ulturas da Europa e da América do Norte. É verdade
fim do século XIX, a astrologia teve de ser de certo modo reimportadii que a ciência dos astros se modificou sob as circun stânci as da nnoder
para o continente. nidade, adaptandose a novas necessidades e argumentaçõíes, no
rntanto, não pode haver dúvida de que ainda hoje a astrologiía deve
»er considerada como um sólido elemento da cultura moderna. Neste
Mpítulo, quero reconstituir as linhas básicas dessa evolução, icome-
dindo com a situação na GrãBretanha, que — como já foi apoontado
foi marcada por uma impressionante continuidade nos camjipos da
prática astrológica. Na França e na Alemanha, ao contrário, ai astro-
logia teve de ser novamente importada da Inglaterra em tonrno de
I
questionamento da visão de mundo mecanicista, ou seja, a nova "revu lllilizadas
(t, criandopor
umastrólogos ativos
mercado que node vários níveis
século para agir pubicamen
XIX já mostrava os on to rn os
lução cie ntífi ca” pela Teoria da Relatividade e a mecâni ca quântn .i
Muitos astrólogos hoje são da opinião de que a mecânica quântica ole que ainda hoje podem ser encontrados.
rece um modelo capaz de comprovar brilhantemente a interpretai, .ln Contudo, antes de tratar dessa questão em mais detalles, cabe
não causai dos astros. No esboço histórico abaixo, examinarei as rel le [Irinbrar as novas discussões da corporação astrológica, que estavam
xões relacionadas a isso, bem como um outro campo de discus são .n lidadas à descoberta de outros planetas e à especulação sobre even-
tentativas de aplicar as conquistas metódicas da pesquisa social eni|>i
tuais corpos celestes.
rica às asserções da astrologia.
Mas comecemos com a GrãBretanha, que pode ser chamada
de centro da astrologia no século XIX. Planetas sobre planetas
Por mais de mil anos os astrólogos trabalharam com sete planetas
2
I
ampliação não contribuiria para o esclarecimento, mas, no máximo, * ® por Vulcão ainda persistiu mesmo quando foi possível explicar de for
abriria as portas à arbitrariedade. Além disso: por que interpretar di inu conclusiva a divergência da órbita de Mercúrio com a ajuida da
igual modo tudo o que pode ser visto no céu? Teoria da Relatividade de Einstein.
Do outro lado estão aqueles que insistem — completamen te eoi
conso nância co m a tradição esotérica — em que a descoberta de
novos fatores teria um significado específico e que deveríamos no*
arriscar a uma diferenciação da interpretação. Plutão é um hoio
exemplo disso: sua descoberta, no ano de 1930, foi tida postem >1
3 18 Kocku v on Stuckrad
História da astrologi;ia 31 9
TH K
Imiidade à revista em forma de livro. Smith realizou esse desejo,
Ãttaffffímg aatcoíogcr lias, em troca da tentativa de preparar prognósticos astrológicos ao
yisto popular, colheu o enorme deboche por parte de seus colegas
OF THE NINETEENTH CENTURY;
( U ú ••T ir SrRAac.i. i vo A s trouoo kh J
Irofissionais. Smith participou ainda de uma outra publicação, tam
OR, MAGAZINK OF CK I.ESTIA L INTEI.1,1 GE NC ES: lem editada por Wright, o The Prophetic Messenger, publicada pela
COKMCtM» IM |l imeira vez em 182 6. E sse a nuári o de bastante sucess o distinguia
m a uem o i sei xe x jc NORHAND, v do Vox Stellarum por conter quase exclusivamente prognósticos
of PAKIS
H. R. H. THE PRINCESS OL1VE OF CUMBERLAND, istrológicos para cada dia do ano seguinte. “Raphael'' se tornara neste
ST&f /ttrmbrro of t«r /Hmtirtí, ínterim um nome que vendia bem, de forma que, após a morte de
THK EDITOR OF THE PROFHETIC ALMANACK, Smith no ano de 1832, vários prognósticos ainda foram escritos sob
A SD OTMKR CE!J?BRA TKI> ASTROLOOERS.
ii seu pseudônimo.
not-ooàojr tir de 1824 como autor de textos astrológicos. Em 1831, fundou uma
HIEROGLYPHIC—No. XII. folha concorrente do Prophetic Messenger de Raphael com o título de
f/O RO SC O PE O F H IS M A JE S T Y GE OR GE IV. l he Herald of Astrology, rebatizado em 1836 de Zadkiels Almanac.
CONTENTS. I liimo seu amigo e concorrente Raphael, também Zadkiel visava a um
OMH VAT I0 MI Md Pa iDim oia CIHOtIVí or ('t»K*UID. mercado que se diferenciava daquele do Vox Stellarum por dirigirse
bjr Ih f R oyal M cmlin M./ M No III m
Nat IUTVof HIS MAJI.ST Y
(iEORGKIV . . 1*0 ((htíik Ruvi.n>nllclpatf<lfnw
... .iii'!fcpproftcul of S l« « 1#T ii um vasto público sem conhecimentos técnicos específicos. Além de
TV Ottvvt
..........
Morrison
O debate and Others (18até
foi conduzido 38 ),o rejeitava a as trologia
Clube Athenaeum por razões religiosas I
londrino. iigualmente membro da
a,lendário astrológico deLondon Meteorological
meteorol ogia. Em 184Society, publicava
8, seguiuse um
uma obra
A astrologia meteorológica con stituía um outro campo de discus I '.nllire ervas medicinais intituladaMed icai Botany or Herhal Guide to
são. Morrison interessavase muito, como vários de seus contempo llwalth. No prefácio, o autor explica que praticava a terapia de plantas
râneos, pelas questõe s de ciênci a natural relativas ao s prognóstico* I imedicinais havia nove anos e teria vendido desde a abertura de seu
climáticos e associouse à London Meteorological Society para co|o I i oinsultório particular mais de 9 mil caixas de suas “famosas pílulas de
conselho foi eleito em 1840. Aqui também se discutiam modelo* | Mtpiter”, a umshilling cada, para todas as partes do Reino Unido.
Teosófica experimentou uma enorme repercussão, pois sua constru laimbém a reencarnação cíclica de indivíduos. O horóscopo é, por
ção de uma “espiritualidade oriental” como “sabed oria primordial dii comseguinte, uma representação simbólica das forças cármicas pelas
douépoca)
da em 1896 a Astm
como logical Society,
vicepresidente e H.com
S. Robert C. Cross
Green como (o “Raphael
tesoureiro, ,i fonte, bebi depositar
tadamente as águas algo
daverdade e nas próximas
dessa verdade. páginas
(Leo, 1907, v) tentei desajei-
qual depois de um ano já possuía cerca de cem membros. Em segim
do lugar, Leo construiu, em 1898, um consultório astrológico sem Em 1903, a empresa de astrologia de Leo faliu. Devido a inacei-
igual àquela época. Sua crescente popularidade, justamente em cír táveis condições de trabalho e à sensação de exploração, houve
culos teosóficos, fez com que tivesse de delegar trabalhos a uma diemissões em massa, que Leo evidentemente atribuiu a Urano no
equipe de colaboradores que, em 190 3, já contava com nove pessoas. s(eu meiodocéu e às conjunçõe s astrológicas do ano. A partir daí, ele
ções introduzidas por Leo; assim, ele se despediu dos antigos métn estava presente apesar de a sua própria mãe ter morrido no mesmo
dos das direções primárias prognósticas, muito difíceis de calculai, dia, de uma grave doença) e voltadose sobretudo para áreas de utili-
introduzindo, com base nas progressões secundárias segundo Plac idus I zação pragmática da astrologia. Assim, analisava os índices da bolsa de
(que podem ser facilmente calculadas pelas efemérides), um “horós 1 valores com base na astrologia e, na década de 1920, desenvolveu até
copo de progressão”, que representa uma mistura de direções secun mesmo um método de previsão de resultados de corridas de cavalo.
dárias e direções primárias zodiacais. Nesses anos, a época do florescimento da astrologia britânica já
Alan Leo tornouse u m conceito , principalmen te para aqueles I fazia parte do passado. Principalmente pela influência da Sociedade
que se aprofundavam no estudo da astrologia. Como o astrólogo te(i Teosófica no continente, surgira um novo centro de pesquisa astroló-
sofo não publicava anuário s prognósticos, permaneceu, no entanto, ! gica, que logo deu srcem a novas teorias e a uma ciência dos astros
desconh ecido do grande público que se orientava pel os almanaque'. I; muito exigente. Esse centro ficava na Alemanha.
dos Raphaels e Zadkiels. Sua importância está em outra parte: “Lei»
realizou a sua idéia de ‘modernizar’ a astrologia. Ele o conseguiu inte
grando a astrologia popular em um ocultismo esotérico. O resultado 2. A EVOLUÇÃO EM OUTRO S PAÍSES
foi uma nova criação duradoura: a astrologia como uma espécie <lr
ocultismo popula r, ou melhor: ocultismo de class e média” (Curry, II A continuidade da atividade de publicação e aconselhamento astro-
1992, 159). Um mérito de Alan Leo que igualmente não pode sei lógico na GrãBretanha do século XIX é um fenômeno singular. Ao se
subestimado consiste no fato de, após ter se envolvido desde 191) 'olhar para os outros países europeus e para os Estados Unidos,
|
mente não se pode encontrar um intercâmbio de posições além d. 11 | renascimento na esteira de um ocultismo vicejante, impelida por pes-
fronteiras de países (ou melhor: além das fronteiras de línguas), exi c soas vindas do meio rosacruz ou ocultista. Os escritos da Sociedade
tuandose a influência da Sociedade Teosófica nos países germanolA teosófica tiveram, ao contrário, apenas uma pequena influência na
nicos. Começarei com a França. I I rança. O prim eiro livro didático astrológico depois do famoso Astrolo-
I f/ui j>allica (1661) de Morin foi redigido por Eugène Jacob, aliás, Ely
[ Siat (18471942): Les mystères de lhoroscope (1887), um tratado,
“Splendid isolation" também na França que, bem ao estilo de Lévi e Papus, unia uma astrologia esotérica
[ com tradições cabalísticas. Interessan te é a utili zação do simboli smo
Cabalistas e Rosa-Cruz — Na França, onde a crítica da religião cru
‘ nstrológico no jogo de tarô, que, com a ajuda de ilustraç ões, se tornou
solidamente
te, desenvolvida,
embora houvesse a astrologiafrancês
um esoterismo quase próprio
desapareceu totalmcn XIV
no século ucessível a um maior número de leitores. Podese acompanhar o tarô
i até a Renas cença, mas o uso das cartas na mag ia astr ológica é um
que se revelou na literatura e na arte do romantismo. Com base 110
lenômeno do fim do século XIX. Nós o encontramos não apenas na
mesmerismo, nos trabalhos de Claude de Saint Martin, Martines dc
I rança, mas principalmen te também na magia cerimonial, como foi
Pasqually e outros, desenvolveramse correntes espíritas e ocultislas
cultivada em diversas ordens secretas (a mais importante foi a Flermetic
nas quais se estabeleciam reflexões esotéricas que não raro também
Drder of the Golden Dawn, fundada em 1888, que exerceu forte
tratavam da astrologia. Porém, isso era algo bem diferente da prátk.i
influência sobre a magia do século XX — repres entada sobretudo por
de aconselhamento astrológico profissional. Dois autores devem sei
Aleister Crowley).
citados aqui: o primeiro é o abade Louis Constant (181 07 5), mais I
conhecido como Eliphas Lévi, que se confrontou intensivamente Mem óri a e co ntinu aç ão — Um a recepçã o da astrologia britânica tra-
com a cabala e as tradições esotéricas da Renascença; em 1856, foi dicional aconteceu somente por meio de F. Ch. Barlet (Albert
publicado o seu Dogme et rituel de la haute magie (em alemão, como l aucheux, 18381921), um proeminente cabalista e rosacruz que
Transzendentale Magie. Dogma und Ritual, Munique, 2000), no qual transmitiu os seus conhecimentos ao farmacêutico Abel Thomas.
combina teorias cabalísticas com trabalho mágico, uma prática tam- Esse, por sua vez, publicou em 1895 sob o nome de Abel Haatan o
bém popular em muitas sociedades se cretas — por exemplo, a 11 breve tratado Traité d astrologie judiciaire . Fomalhaut , já citado acima,
RosaCruz. Um outro autor importante dessa época foi Gérard um padre parisiense de nome Charles Nicoullaud (18541925),
Encausse (18651916), que redigiu sob o pseudônimo Papus uma publicou dois anos mais tarde seu Manuel dastro logi e sphér iqu e et
série de publicações que até hoje ainda são editadas, entre elas, o jmdiciaire, no qual não só anunciava a existência do planeta Plutão,
vasto Traité méthodique de la Science occulte (“Tratado metódico sobre mias também apresentava as analogias entre simbolismo astrológico e
a ciência oculta”, 1891). Papus, como Lévi, descreve a cabala (cristã) tairô. Porém, a astrologia na França só ganhou uma nova popularida-
como ciência oculta que retrata todas as dinâmicas ocultas do univei de por meio de Henri Selva (18 61 aprox. 196 2) e Paul Choisnard
so. “A astrologia”, constata, “é uma das ciências divinatórias antigas (118671930). O primeiro baseouse nos estudos de Morin e os tornou
H istória d a astrolo g ia 33 9
338 Kocku von Stuckrad
sendo agressivamente perturbadas, a casa saqueada por um band o ili lima mulher: Evangeline Adams (18681932) trabalhou inicialmente
vândalos e a publicação da revista dificultada. como astróloga profission al em Bosto n, ante s de partir para Nova
Até a sua morte, em 1899, Broughton lutou contra a desvaloi i/,i York no ano de 1899. N o dia 16 de março, hospedouse no Hotel
ção pública, às vezes violenta, da astrologia. No decorrer do tempo, nu Windsor. O gerente Warren Leland ofereceulhe a opção de ocupar o
entanto, cresceu a sua aceitação geral e Broughton pôde construir mm primeiro ou o quinto andar. Apesar do preço mais alto, decidiuse
reputação como principal astrólogo do continente com a ajuda de sim pelo primeiro. Como Leland também se interessava um pouco por
atividade como professor e de suas publicações. Em 1898, foi puhli astrologia, mostrou a ela o seu mapa astral ainda no mesmo dia.
cada a obra de referência Elements o f Astrology (N ova York: 11> *« Adams viu imediatamente que ele se encontraria em grave perigo no
Author), um exigente livro didático que também se dedicava espec i.il dia seguinte e interrogouo sobre acontecimentos do passado que
mente à astrologia mundana de prognósticos. Além de Broughton apu tivessem ocorrido por ocasião de duas conjunções semelhantes.
rentemente ter sido o primeiro a chamar a atenção para o notável Constatouse que à época pequenos incêndios irromperam no hotel,
"ciclo de vinte anos dos atentados contra presiden tes americanos,
expressouse em Eleme nts of Astrology sobre os horóscopos de dirigen mas
novoLeland
perigo. gracejou e não seria,
O dia seguinte deu ouvidos
afinal, diaàsdeadvertências
St. Patrick, asobre
bolsa um
de
tes europeus. É verdade que errou bastante em seu prognóstico quanlo valores estaria fechada e ele não poderia, portanto, perder dinheiro.
ao rei Alfonso Xlll, mas as suas previsões para o imperador Guilherme ii Quando Leland, na manhã seguinte, tomou o elevador para o quinto
— morreria de morte natural, sua vida começaria em riqueza, mas lei
pavimento, o andar inteiro já estava em chamas; o fogo espalhouse
minaria em pobreza, quer dizer, a Alemanha se afundaria em dividir.
rapidamente, destruindo o Hotel Windsor por completo. Na catástro-
— acertaram um pouco mais .
fe, morreram a filha de Leland, membros de sua família e muitos hós-
O trabalho de Broughton teve o apoio de seu aluno mais conheci
pedes. Ele próprio veio a morrer três semanas mais tarde. A visão
do, o “catedrático” W. H. Chaney (18211903). Chaney, cujo filho ilc
retrospectiva de Adams a respeito:
gítimo com a cantora de spiritual Flora Wellman ficou famoso com o
nome de Jack London, percorreu uma carreira muito instável (quando
Um amargo sucesso, os senhores dirão — minha primeira interpretação
criança queria ser pirata, o que mais tarde atribuiu à conjunção de Sol astrológica em Nova York. E foi realmente! Eu teria dado tudo o que
e Marte em seu radical). Junto com o seu professor, lutou pelo reco tinha na época para que a minha previsão não tivesse sido tão terrivel-
nhecimento social da astrologia e também se destacou como escritoi mente verdadeira. Mas os astros haviam decidido diferente. E haviam
Entre os seus livros mais importantes estão Chaneys Ephemeris from resolvido, no que se referia a mim, que do mau viria algo bom: a segun-
1800 to Date (Salem, 1877) e Chaney s Prime r o f Astrology and American da notícia mais importante após o incêndio foi a informação do sr. Leland
Urania (St. Louis, 1890). Ao lado de Llewellyn George (18761951),
cuja editora até hoje publica obras astrológicas, Broughton e Chaney I —
de impressa em grandes
Boston, previra letras
odesastre. nas
(Adams,capas
1926,—39)
de que Evangeline Adams,
devem ser abordados, portanto, como os mais importantes represen
tantes de seu tempo. Mais uma história na qual uma previsão exata levou à reputação
astrológica. Evangeline Adams abriu logo depois um consultório na
A pr im eira -d am a d a ast rol ogia am er ic an a: Ev an ge line A dam s — As Carnegie Hall e se tornou a astróloga mais conhecida dos Estados
primeiras décadas do século XX foram especialmente marcadas poi Unidos. Escreveu dois livros muito lidos (Astrology: Your Place in the
no do século XX. Tornouse conhecido por meio de seu livro Guide In mais, ao mesmo
astrologia tempo
européia. que iniciava
Voltarei uma no
a falar nisso interação
item 4.crescente com avol-
Antes, quero
Horoscope Interpretation (Filadélfia, 1941), bem com o por seus estu
dos sobre os “Símbolos Sabeus” (Sabian Symbols, Nova York, 1953), I tar a atenção para a Alemanha, bem como para os deslocamentos
uma interpretação astrológica dos diversos graus do zodíaco, que lundamentais de enfoque na astrologia que se srcinaram do desen-
Jon es afirma terem sido desenvolvidos pelos antigos sabeus (sobre a volvimento da psicologia do inconsciente.
importância dos sab eus, ver p. 178 ). Um segundo a ser citado aq ui é
Elbert Benjamin Williams (18821951), que, sob o seu pseudônimo
[“História do novo ocultismo”] (1891) ainda hoje é uma obra de rele Primeiro, fundou em 1907, em Viena, a primeira “Sociedade astroló-
rência. Kiesewetter morreu de uma intoxicação por drogas que inge gica" à qual se seguiu uma outra em Munique. Quando se mudou
rira para obter poderes de vidência. para Leipzig a fim de escrever para o Prana, fundou a “Deutsche
Outro influente teósofo foi Franz Hartmann (18381912); foi Astrologische Gesellsc haft [Sociedade astrológica alemã]. Vollrath
mouse médico em St. Louis, nos Estados Unidos, onde também tr.i logo lhe permitiu anexar ao Prana um suplemento mensal, Astro
vou conhecimento com a teosofia. Após uma longa estada em Adyai, logische Rundschau [“Panorama astrológico”], que se tornou a revista
na índia, voltou para a Europa em 1885, junto com Helena Blavatsky, astrológica mais importante e influente até ser proibida, em 1938,
a partir de 1914, os dois trilharam caminhos diferentes. A Astro• cos. Efemérides, tabelas de casas e formulários de horóscopos tam
logische Bibliothek [“Biblioteca astrológica”], publicada por Vollraili, ■611 facilitavam o trabalho dos inúmeros astrólogos.
cujos primeiros volumes haviam sido escritos por BrandlerPrai Iii Iniciemos o panorama com Alfred Witte (18781941), o funda
prosseguiu e tornouse um projeto bastante bemsucedido. Mas .i llor da “Escola de Hamburgo", que até hoje possui adeptos. Ao servir
Primeira Guerra Mundial inicialmente interrompeu todas as demais M Primeira Guerra Mundial, esse funcionário público hamburguês
11
tentativas de estabelecimento da astrologia na Alemanha. Isso vale pnearregado de medições acreditou ter avistado na constelação de
também para as ambições de outros astrólogos, a saber, o já citado
Alexander Bethor, além de o teósofo Otto Põllner, Albert Kniepf, dc I ,(*ilo um corpo celeste móvel que logo tomou por um transnetunia
llo e chamou de Cupido. Ele “descobriu” ainda três outros corpos
Hamburgo, e Wilhelm Becker, de Berlim, que divulgou os trabalhos t destes — Hades, Zeus e C ronos — , antes que seu colaborador
de Alan Leo na Alemanha.
liiedrich Sieggrün (18771951) completasse a lista dos supostos
li.insnetunianos com outros quatro: Apollo, Admetos, Vulcano e
Desenvol vi mento de novas escolas na Repúbli ca de W eim ar
1’oseidon. Nenhum desses corpos celestes jamais foi confirmado pela
Depois da Primeira Guerra Mundial, o processo já iniciado de esta
nstronomia, o que não impediu Witte de descrever minuciosamente
belecimento da astrologia na Alemanha foi rapidamente retomado
0 seu efeito no horóscopo (adeptos atuais da Escola de Hamburgo
A República de Weimar pode ser até mesmo definida como uma
denominam os transnetunianos de “centros de energia imateriais”).
época do florescimento de uma exigente ciência dos astros, já que
1ssa, porém, foi apenas uma parte das suas inovações. Nos anos de
essa disciplina desfrutava de um interesse por interpretações dc
mundo alternativas que crescera de um modo geral e de uma tolerân 191923, Witte publicou um esquema de interpretação do horósco-
cia do Estado, ainda que momentânea, perante um pluralismo ideo po complexo e inteiramente novo, fragmentandoo em diversos
lógico. Intelectuais que, no contexto da Primeira Guerra Mundial, horóscopos parciais (por meio da rotação do radical através das cúspi-
estiveram envolvidos em violentos debates em torno da crítica da des das casas iguais). Os aspectos não tinham mais importância algu-
civilização, da luta cultural nacional e dos cenários de crise, freqüen ma para ele, em vez disso, calculou pontos médios de distância entre
os planetas e os uniu em chamadas constelações de planetas. Se
temente
Ao mesmo também tomavam
tempo, a palavra
os principais quando da
astrólogos se tratava
Alemanhade astrologia
desenvol tomarmos os oito planetas hipotéticos que Witte atribuiu aos signos
viam novas técnicas de interpretação e consolidavam o lugar cultural num novo sistema como regentes, podese imaginar como a interpre-
da astrologia por meio da fundação de comunidades e publicação dc tação de horóscopos se tornou realmente complexa. Mesmo depois
escritos. Em 193 3, existiam na Alemanha duas grandes confedera dc os alunos de Witte, W. Hartmann e F. Sieggrün terem empreendi-
ções, centenas de associações astrológicas e círculos de estudos, seis do uma tentativa de exposição sistemática da nova corrente com seu
publicações mensais e almanaques editados regularmente, bem como folheto Die Hamburger Astrologenschule [A escola de astrólogos de
ceira geração por Baldur R. Ebertin, ver p. 383). Ebertin escrrviMi illnda uma outra tese para esse posicionamento: “Violência, nem seii
mais de sessenta livros e publicou uma revista chamada Menscli lm |>reutilizar energia extraor dinária co rretamente, esfalfarse. — Soluço
Ali [“Ser humano no cosmo”], mais tarde renomeada de Kosiiih violenta de tensões, desafiar para a luta decisiv a. — Ferimento, acidei
biologie, depois de Meridian . Mas o indiscutível clássico de Ebcilln (••, privação de liberdade” (Se nte nça 087 1 [199 6, 195] ).
é, sem dúvida, Kombination der Gestirneinflüsse [“Combinação diitl Assim, chegamos ao pósguerra, quando as escolas astrológica
influências dos astros”], conhecida no meio simplesmente conirt líveram de reatar com dificuldade com o que fora elaborado r(a
“KdG”. Nessa obra, fornece para todas as combinações imaginável* liepública de Weimar. Uma astrologia igualmente exigente, orienta4a
de elementos interpretativos as trológicos — em número de 17 J
1 1 por debates filosóficos, históricos e científicos, viria, porém, a perten-
breves e incisivas sentençaschave que devem servir como sugesi.ln cer ao passado durante décadas. Em contrapartida, uma ciência dc>s
para a interpretação, mas que não raro foram utilizadas como mci.m nstros de orientação psicológica impôsse de maneira crescente ria
peça s de montar. j Alemanha, marcando, ao lado de escolas esotéricas, o atual cenáriQ.
O decisivo na Escola Ebertin é, além da exclusão das casas in(« i
mediárias, a interpretação das somas médias, baseada em Alfic.l Astr ologia e na cion al -soc ia lism o — O nacionalso cialismo não f<oi
Witte, ou seja, aqueles locais no horóscopo que se encontram exain uma tempestade que simplesmente desabou sobre a Alemanha, m%s
mente no meio de dois fatores de interpretação, independentemrnli' o resultado de uma evolução que há muito já se esboçara. Não f(oi
de haver ou não um aspecto “clássico”. Com a ajuda da análise tl.n sem importância a participação dos astrólogos na reformulação cress
somas médias, produzemse relações entre fatores à primeira vishi cente dos discursos públicos, na estilização de uma ciência dos astrojs
separados, que fazem surgir uma complexa estrutura total. Do poiil 0 "alemã”, que também implicava a desvalorização de uma astrologija
de vista
afinal os esotérico, um tal método
aspectos também não éde
se srcinaram emuma
absoluto arbitrário,
progressiva pnK
divis.m "nãoariana” ou “judaica”, já antes de 1933 e da subseqüente sincroo
nização das ciências e da mídia pelos nacionalsocialistas. Paralelaa
do círculo completo que foi relacionada a misteriosas correspondi 11 mente, os astrólogos também foram incluídos no tratamento controo
cias já na Antigüidade (Pitágoras). Para expressar o fato de que o sim | verso da ciência dos astros pela ideologia nacionalsocialista, quije
humano está inserido num sistema de forças m ultif acetado e na HI oprimia cada vez mais interpretações desagradáveis. O resultado fobi
mica do cosmo, Ebertin f ala da “cosmobio logia”, na qual a astroloyjM I uma situação altamente precária para muitos astrólogos, sendo quas«se
é apenas o instrumento central de medida. O conceito foi mencion.i que completamente impedidos de atuar em público.
gradável. Nos últimos anos da Segunda Guerra Mundial, Wull! 1946 por E. Symours.
desempenhou um papel não irrelevante na "guerra oculta" dos nacio Após a suspensão dos Astrolo gisc hen Monatshef te, houve a publi
nalsocialistas, por exemplo quando se tentou localizar com pêndulo', eação de diversos órgãos sucessores, entre eles, os Neue Aspekt
e cálculos astrológicos os submarinos britânicos ou o paradeiro dc |“Novos aspect os”] (publi cado s p or K. F. Voss), Sein und Werdei
Mussolin i na prisão (ver Howe, 199 5, 3 17 2 4). Mais tarde, Wull'1 ["Ser e devir”] (K.Kolbe) e Berliner Beitrage [“Contribuições berlinen
descreveu em suas memórias muitos detalhes interessantes sobre c ses"]. A maior influência , contudo, veio da Escola de Hamburgo, re a
papel da astrologia na ideologia e política nacionalsocialistas (Wullf, tivada pelo aluno de Witte, L. Rudolph, a qual, depois de uma sim
1968). Depois da guerra, havia, de fato, interesse por tais relatos, plificação das teorias srcinárias, também despertou interesse ni
como atesta a revista Der Spiegel de 1949/1950 ao publicar umii exterior. O mesmo vale para Reinhold Ebertin, que fundou um cen
reportagem com 29 capítulos intitulada “Glanz und Elend der deuls tro de pesquisa em Aalen e publicou em sua própria editora a revist.
che n Kriminalpolizei” [“ Brilho e desgraça da polícia criminal alemã" |, Mensch im Ali — agora sob o tít ulo Kosmohiologie [“Cosmob iologia”]
na qual a astrologia e a atuação de Wulff também são abordadas. Em 1946 , foi fundado o estado de Hessen, que apresentav a umi
A edição onde constou o primeiro capítulo (40/1949) estampava um legislação liberal a respeito de associações e coalizões. A seguir, o;
horóscopo na capa. principais astrólogos reuniramse na cidade de Wiesbaden e criaram,
no dia 16 de outubro de 1947, às 10h06 MEZ, o Deutsch en Astrologen-
Hesitantes recomeços — Em 1945 , a astro logia alemã, no ent anto, Verhand e.V. ( d a v ) [Associação alemã de astrólogos], que se baseou
estava tão meticulosamente destruída que demorou muito tempo até conscientemente nos trabalhos de Vollrath, Korsch e outras persona-
conseguir se restabelecer. A divisão da Alemanha em zonas de ocupa lidades importantes. Um exame obrigatório de admissão na Asso-
ção causou ainda mais dificuldades, pois cada um dos aliados lidou ciação destinado a “astrólogos de prática científica", proposto por
de forma muito diferente com os astrólogos. Enquanto na zona leste, Korsch em 1933, foi aceito e formalmente prescrito. Entre os memi
administrada pelos russos, o exercício da astrologia permaneceu basi- bros fundadores estavam Walter Koch, Willy Bischoff, Fritz Bruni
cam ente proibido — uma postura que não mudou mais tarde, na hübner, Erich Carl Kühr, Heinrich Reich, Friedrich L. Thiloj,
Alemanha O riental — , nas outras zonas, as interdiçõ es do governo Joh annes Vehlow, Fritz W erle, Hellmut Wolff, Heinz W. Duphorn <e
nacionalsocialista foram gradativamente abrandadas. Assim, a Kosmo- outros. O DAV evoluiu rapidamente para a associação profissionail
hiosophische Gesellschaft [Sociedade cosmobiosófica] de Hamburgo mais importante da Alemanha. Em 1950, já havia cem membro^
foi uma das primeiras comunidad es a receber, em 194 6, uma autori registrados, 5 4 deles com exame de admissão prestado; hoje mais dfe
zação de funcionamento do governo militar e a licença para editar os mil astrólogos estão reunidos na Associação.
Astrologischen Monatshefte [“Cadernos mensais astrológicos”], que Uma descrição do cenário astrológico na Alemanha do pósguerr,ra
foram publicados até 1963 e continham contribuições críticas, prin- ficaria incompleta sem mencionar o mais importante mentor de um;ia
cipalmente sobre o movimento astrológico no exterior. A Sociedade astrologia de orientação crítica: Thomas Ring (18921983). Como nee
Cosmobiosófica era ligada à tradicional técnica de horóscopos ingle- nhum outro, Ring, que era não apenas astrólogo mas também psi,j
Físic a co mo filosofia natur al herm ética — Alguns astrólogos recebe Na segunda metade do século XX, a astrologia foi intensamente
ram com entusiasmo a proximidade de tal construção com o princípio reavivada por uma série de mudanças e evoluções, e hoje está solida-
astrológicohermético “como acima, abaixo”. Um deles é Theodor mente ancorada em todas as culturas do mundo ocidental. A maioria
Landscheidt:
das pessoas sabe o seu signo, muitas também o ascendente, e as pre-
visões dos horóscopos em revistas e jornais diários (com bastante fre-
Com isso, o -princípio astrológico do cosmo como estrutura holística que qüência produzidas por gerador aleatório) são estudadas por uma
liga todos os sistemas parciais nele contidos é não só conciliável com a
série de leitores, ainda que só sejam levadas a sério de maneira sele-
ciência natural moderna, como até mesmo comprovado por ela. [...] fA|
idéia básica da astrologia sobre o cosmo como um processo orgânico que tiva. Essa forma de confronto lúdico com a astrologia é criticada por
liga todos os processos parciais microcósmicos e macrocósmicos em astrólogos profissionais como tolice que mais prejudica do que ajuda
uma unidade [revelase] um modelo avançado. (Landscheidt, 1994, 28) a reputação da ciência dos astros. O fato de ela ser, no entanto, tão
popular, deveria ser atribuído a uma natureza interpretativa geral do
respondem às constelações do zodíaco sideral. A experiência adquirid.i ,m deixam reconhecer um distanciamento de direções espiritiisreli
longo de milênios mostrou, no entanto, que a posição dos astros de nosso giosas da astrologia, bem como de uma técnica de prognóstios que
sistema solar no zodíaco trópico leva a interpretações mais exatas. trabalha de forma determinista; além disso, o que se quer é etabele
A migração do ponto de Aries pelo zodíaco sideral é, aliás, relacio cer publicamente a ciência dos astros como séria ciência exprimen
nado a mudanças de época na Terra. A duração de uma órbita comple tal. Nesse ponto, a influência da psicologia do inconsciene e da
ta é de aproximadamente 26 mil anos. Esse período é chamado de ".um “astrologia revisada” de Thomas Ring é inconfundível. Nemi astro-
platônico”. logia mundana, que até o século XIX foi o ramo mais importmte da
ciência dos astros, nem o confronto com a história da próprj disci-
Tese 7
plina têm importância na carta de teses, o que assinala uma liferen
Para todas as asserções astrológicas vale dizer que se baseiam em "coi ça em relação à astrologia anglosaxã.
respondências estruturais”. A realização de cada estrutura é possível de
múltiplas formas. Podese, por exemplo, desenhar um triângulo de mui No que se refere à astro logia de orientação espiritual, fafa qu al-
tas maneiras; contudo, um triângulo é sempre diferente de um quadra quer referência à idéia de uma migração de almas, ou seja, à possibi-
do. Assim, cada estrutura também pode se realizar de maneira divers.i, lidade de, pela interpretação do horóscopo, realizar caractefizações
mas não arbitrária. de existências anteriores ou marcas cármicas. Também a ligação da
Na consciência dessa diferença entre estrutura e realização se dis alma individual com a “alma do mundo”, conhecida da astrologia
solve o aparente paradoxo entre “livrearbítrio" e “determinismo”: noss;i renascentista, compreendida de modo neoplatônico, não é incorpora-
estrutura é determinada, mas somos livres em seu desenvolvimento. da aqui, supostamente porque tal estreitamento religiosoesotérico da
Dessas reflexões resultam claros limites de asserção para a inter astrologia pareceria ir de encontro à reivindicação de prova ernpírica.
pretação: assim, não se pode fazer asserção alguma sobre o nível (por O mesmo motivo deveria ser buscado para compreender a Rejeição
exemplo, de inteligência) de um ser humano, mas sobre a estrutura (no
de prognósticos co ncret os; afin al, uma disciplina da as trologiai que —
caso da inteligência, por exemplo, maior ênfase teórica ou maior ênla
principalmente nos Estados Unidos e na GrãBretanha — airtida hoje
se na inteligência prática etc.).
No prognóstico, o “evento concreto” também não é apreensível, mas possui inúmeros adeptos.
sim o seu “significado”decorrente da estrutura, um significado que pode A carta de princípios esquivase de um confronto crítico tem rela-
se manifestar em diversos acontecimentos “de igual sentido”. ção à reivindicação de que a astrologia seria uma ciência ermpírica.
formação e o círculo de atuação da infância à velhice. Com isso, a ênla logia, pois todos os estudos realizados para demonstrar uma ( correla-
se do diagnóstico se evidencia.
mia no século XX. Depois de terem contribuído durante três anos para “corpo etér eo dos planetas e o “logos planetário , que, a partir r de um
aplicados de modo, por assim dizer, “não igual”. Uma comparação volvimento da astrologia no século XX foi díspar e inovador.
entre o radical e o horóscopo das casas resulta então numa diferenç.i
A Esc ola Eb er tin — Uma outra escola internacion almente famosa
entre estrutura
(horóscopo das de predisposição
casas). Mas isso (radical) e influência
não basta: para umadointerpretação
ambiente está ligada ao nome Ebertin. As chamadas “cosmobiologia" e ‘cosmo
completa no sentido de Huber é necessário incluir um terceiro horós psicologia", desenvolvidas por Reinhold Ebertin (ver p. 35z) conti-
copo, chamado de "horóscopo dos nodos lunares” (mkh). Também nuou a ser expandida por seu filho Baldur R. Ebertin, que. por ter
aqui se trata de um mapa elaborado de maneira fictícia que faz dos estudado psicologia, introduziu cada vez mais elementos psicológi-
eixos dos nodos lunares do radical o ascendente do MKH, no qual, cos profissionais na cosmobiologia. Por “cosmobiologia" B^Idur R.
então, os planetas radicais são respectivamente inseridos. Mas como Ebertin entende
o MKH representa um “ingresso” nas influências cármicas do nativo, ou
seja, no passado, a seqüência dos signos ou das casas é invertida. uma ciência empírica com um ramo de ciência natural e um ramo de
Na interpretação, o astrólogo formado por Huber salta, portan ciências humanas. Nesse sentido, a cosmobiologia transcende: a obser-
to, continuamente entre três horóscopos, valorizando principalmente vação exclusiva do ser humano. Ao lado do ser humano, toda a Natureza,
que está inserida no acontecimento cósmico e na sua rítmica, também
o MKH, já que fornece informações sobre as influências cármicas não
reconhecíveis no horóscopo básico, as quais devem ser associadas ao deve ser observada. (Ebertin, 1989, 21)
presente e muitas vezes até mesmo consideradas como as verdadei
Embora a cosmobiologia, com a sua pretensão de ser unna ciên-
ras causas das ações e dos sentimentos. Daí resulta uma verdadeira
cia empírica acessível à fundamentação da ciência natural, síe distin
“astrologia dos nodos lunares ” (Huber, 199 3) que trabalha não só
ga das propostas teosóficas, a Escola Ebertin, no entanto, perttence ao
com o MKH, mas também com a posição do nodo lunar no radical, contexto da astrologia de orientação espiritual, já que seu conceito de
com a migração do ponto da idade pelo MKH e até mesmo com o aco-
ciência se baseia, por um lado, na filosofia natural românticça e, por
plamento do "nodo lunarponto da idade" com o ponto da idade “nor-
outro, em modelos holísticos esotéricos. Ciência natural e \humana
mal”. A ampliação daí resultante dos instrumentos de análise, por um
lado, impõe enormes exigências ao astrólogo; por outro lado, os críti são vistas como uma unidade; a astrologia, por sua vez, conmo uma
disciplina central para a decifração das variadas conexões entitre indi-
cos vêem o perigo de uma certa arbitrariedade, pois caso não se
encontre algo adequado no horóscopo básico, depois de um olhar no víduo, coletividade e cosmo.
I
individual ou o eu, podendo inv adir espa ços transp essoa is <e co ns
te conclusões sobre influências cármicas que, por sua vez, formam a
I ciência. Tradições místicas, sobretudo das religiões orientis, m as
causa da encarnação atual. Principalmente em casos em que quadros também a experimentação com substâncias que alteram a cinsciên
de doença psicológicos e psicossomáticos não podem ser suficiente- I cia são métodos compar áveis que auxiliam a instaurar una com
mente explicados pelas experiências da infância, há, segundo 1 preensão do vínculo cósmico do ser.
Ebertin, geralmente um trauma cármico que pode ser entendido e Não cabe tratar aqui das variadas diferenças e contextosdas dis-
integrado pela análise do horóscopo e, depois, sobretudo por uma cussões existentes dentro do movimento transpessoal. O importante
terapia de regressão, para iniciar um processo de cura. é apenas o fato de a psicologia transpessoal ter desenvolvido um
I modelo elucidativo e uma visão do homem que foram ret omados por
Astrolog ia tra nsp essoal — Pertencem às escolas astrológicas que ten- astrólogos para produzir uma relação entre fatores individuais do
tam ampliar a interpretação do inconsciente por meio de teorias espi- horóscopo e suas correspondências cósmicas, transpessoais. Assim, o
rituais também aquelas que, com base em Roberto Assagioli, Dane processo de desenvolvimento da alma humana, como pode ser reco-
Rudhyar, Ken Wilber e outros, estabeleceram uma chamada “astrolo- nhecido no horóscopo, não acaba com a integração de experiências
gia transpessoal”. Roberto Assagioli (18881974) estudou medicina e reprimidas ou de partes diferentes da personalidade em um çuadul
trabalhou como médico especialista em neurologia e psiquiatria antes [ to, mas com a abertu ra e evolução dos níveis espirituais da ccansciên
de desenvolver uma técnica que chamou de “psicossíntese”. Enquan- cia. O indivíduo só terá atingido o mais alto grau de desenvojlvimen
to, de modo geral, a psicossíntese é comparável com outras formas I to do seu horóscopo ao se reconhece r como parte de um pro cesso
integrativas de terapia; seu ramo especial da psicossíntese espiritual cósmico, como parte de uma transformação humana total.
ou também transpessoal foi largamente recebido por pensadores de Dessa forma, mencionamos as mais importantes corrrentes e
posições da astrologia contemporânea. Apesar das diferençass que se
orientação esotérica
transpessoal referese(por exemplo,
a níveis da Escola
espirituais Huber). A expressão
da personalidade (o “sobre tornaram visíveis, devese ressaltar mais uma vez que as posiç<;ões des
consciente”) que Assagioli considera tão reais quanto impulsos sexuais j critas co mo linhas principais de modo algum se excluem muttuamen
ou agressivos. Em vez de reduzir a espiritualidade à sublimação de te. Ao contrário, será preciso falar de prioridades e interesses ( diferen
tais impulsos, como Freud o fizera, Assagioli a vê como um fator essen- [ tes com os quais as esco las astrológicas se esforçam em inter rpretar a
cial do completarse do ser humano, como último grau do desenvol- vida individual e coletiva. Por exemplo, a visão básica teosçófica de
vimento do “eu próprio”. Bruno Huber não o impediu de assinar a carta de princípios ddas asso
ponto de vista epistemológico, atualmente se exigiria de uma discipli- bém não para
ginados são exatas
achar nem contestáveis.
de modo Dois caminhos
argumentativo a saídapodem
desse ser inma
labirinto:
na empírica que seus dados fossem descritíveis, reproduzíveis e con-
testáveis com exatidão. Mas todos os estudos disponív eis até o mome n- primeiro, deveríamos basicamente refletir sobre o que entendeirnos
to que se esforçam em comprovar esses critérios fracassaram, ao por “validade”, “ciê nci a”, “prova” etc. Apontei no capítulo VI que; as
menos na medida em que têm por objeto determinados fatores dos chamadas revoluções científicas no fundo representam apenas uiima
horóscopos e não se limitam a teorias gerais da astrologia mundana transformação dos critérios que bastam como explicação a um púhbli
(como o efeito da lua cheia etc.). co crítico. O fato de disciplinas fundamentadas em comunicaçãcjo e
de uma mudança recente dos critérios de validade da ciência reco- Ocidental entre 1964 e 1986 que há, de fato, uma correlação sigifi
nhecida a partir do século XIX. cativa entre a fase da lua e o número de acidentes de trânsito (ur
Em segundo lugar, se deveria chegar à conclusão que métodos preendentemente, porém, a maioria dos acidentes foi registrad. na
quantitativos da pesquisa social empírica não provaram suficiente- lua nova, o que contesta as expectativas correntes), mas essa suos
mente as afirmações da astrologia. Ao contrário, a prioridade deveria ta correlação não poderia ser explicada astrologicamente, e sim elo
ser dada aos métodos qualitativos, ou seja, métodos que consideram aumento do trânsito por ocasião dos feriados cristãos da Pás:oa,
os contextos de casos isolados. Não se trata de modo algum de con- Pentecostes, também no Carnaval etc., que, aliás, são rigorosam<nte
frontar um método contra o outro, diversas variantes mistas também fixados pelo calendário lunar. Extraindose essas e outras deturpa<ões
foram experimentadas com algum sucesso. Além disso, astrólogos, (por exemplo, os domingos sem circulação de automóveis) a sup)sta
mesmo quando rejeitam métodos estatísticos, no fundo lançam mão relevância também desaparece (ver a contribuição de Miillei na
de asserções desenvolvidas exatamente dessa maneira. Todo prognós- Zeitschrift fü r Anom alistik 2 [2002] [“Revista de anomalística"].
tico de horóscopos trabalha forçosamente com probabilidades esta- A segunda possibilidade de uma quantificação empírica enfoca as
tísticas que também podem ser provadas por inversão. No entanto, o constelações de horóscopos. Assim, seria possível pesquisar se atletas,
foco deveria permanecer sobre métodos qualitativos. É verdade que, políticos e outros grupos profissionais exibem constelações comun^ se
dessa forma, não se atinge uma quantificação estatística, mas gene- determinadas constelações adoecem com maior freqüência ou qual o
ralizações cuidadosas e, principalmente, uma compreensão mais exata índice de casamentos e divórcios entre outras constelações. Como
sobre se e como a astrologia “funciona”. esses questionamentos demandam um grande volume de dados, é evi-
dente que somente o desenvolvimento de computadores criou o instru -
mental para se chegar a análises relevantes. Entretanto, houve impor-
Tentativas de quantificação
tantes trabalhos anteriores, ligados sobretudo ao nome Gauquelin..
Há duas possibilidades para se averiguar as afirmações da tradição
astrológica: direcionar o interesse para contextos da astrologia mun- O casal Gauquelin — Michel Gauquelin (1928 91 ) foi um psicóllogo
dana, por exemplo, para a questão de saber se são registrados mais francês que, junto com a sua mulh er Françoise Schneider Gauqujelin
acidentes de trânsito na lua cheia ou se são requeridos mais divórcios (nascida em 1 929 ), coletou dados estatístico s de mais de 50 mil
em períodos de Vênus retrógrado, ou tantos outros. Provar essas afir- horóscopos num minucioso trabalho realizado ao longo de décaddas a
mações com base em material empiricamente garantido é relativa- partir de 1955 (Gauquelin, 197071). Partindo de uma crítica avas-
mente simples, ainda mais que hoje temos à disposição um enorme saladora a seus antecessores, principalmente Paul Choisnard e I Karl
volume de dados que pode ser analisado com ajuda do computador. Ernst Krafft, Michel Gauquelin apresentou análises de grupos prc fis
0
Geralmente os resultados de tais estudos são decepcionantes para a sionais selecionados, cujos horóscopos revolveu em busca de ca&rac
Composições
minadas base nesses estudos,não
planetárias os necessariamente
Gauquelins presumiram
sugerem que
umadeter-
pro- decisiva não é apenas a questão de saber se um dado é significattivo,
mas o que ele realmente significa. Isso também vale para os expperi
fissão concreta, mas sim correspondem a características da persona- mentos estatísticos de data mais recente.
lidade favoráveis àquelas profissões. Daí desenvolveram a chamada
Character-Trait-Hypothese, na qual uma combinação de qualidades Estudos mais recentes — Os trabalhos dos Gauquelin encon trara m
do caráter, quando mencionadas nas biografias consultadas pelos um amplo eco dentro e fora do cenário astrológico. Seus resultaados
Gauquelins com uma determinada freqüência mínima, é tida como foram averiguados e discutidos em contraprovas. Já mencionei qijue a
Hermenêutica em vez de ciência exata Inversamente, uma forte rejeição da astrologia (no sentido de um sisstema
de disbelief) nutrese muito evidentemente do fato de se evitar «expe-
Não há um estudo objetivo e consensual que pudesse comprovar cla- riências pessoais próprias com horóscopos, ligado à falta de conliheci
ramente o “funcionamento” da astrologia. Entretanto, não se pode mento astrológico. Isso se aplica sobretudo aos homens, que claraiimen
negar que muitas pessoas confiam nas afirmações da astrologia e, te evitam muito mais ocuparse da astrologia do que as mulherets e a
muitas vezes, também as vêem confirmadas pelas próprias experiên- quem, portanto, costumam faltar o respectivo conhecimento e e expe-
cias. Como essa discrepância pode ser explicada? Por um lado, seria riências. (Wunder, 2002, 209s.)
1. Introdução
Astrologia eletiva: interpretação astrológica de empreendimentos, “inícios”, (gr. Dodekatopos: teoria dos do ze lugare.s (—>casas) do horóscopo.
katarchaí, em latim medievalelectiones), que não se refere ao nascimento, Efemérides: tabelas das posições dos astros para cada dia.
mas a casamento, contratos, fundação de empresas, batismo etc. Epanaphorai: signoszodiacais ascendentes que seguem um —» fctrow; ver tam-
Astrologia individual: interpretação dos astros para o indivíduo, principalmente bém —>apoklima.
por meio do horóscopo natal. O mais tardar a partir de Ptolomeu, oposta à Escolha de dias —» astrologia eletiva.
—» astrologia mundana. Exaltação (greg.hypsôma, lat. exaltatio, altitudo): local do zodíai) no qual um
Astrologia mundana: em oposição—>astrologia
à individual, a interpretação astro- determinado planeta tem maior influência; tanto no que se ;fere simples-
lógica dos acontecimentos do mundo tanto em relação a condições climáti- mente ao signo como também a dados exatos de graus (por xemplo, o Sol
cas, colheitas etc. como também a grandes agrupamentos sociais como cida- é tido como exaltado em Aries, a 19°). Ver também—> Eapeiomata.
des, reinos e povos. Fundo do Céu —>Immum Coeli.
Astrologia naturalis (astrologia natural): influência dos planetas ou constelações Genethlioalogiae: estudo do horóscopo natal.
sobre o clima e o corpo humano. Horoi (lat.fines): fronteiras ou regiões: segmentos do zodíaco na asrologia plane-
Astrologia universal—>astrologia mundana. tária; distribuição dos 30 graus de um signo entre os cinco plftetas de acor-
Astrometeorologia: estudo astrológico do clima. do com diversos sistemas.
Brontologia:
Casa (gr.oikos,livros de trovões,
lat. domus, também
domicilium ): áreachamados “Tonitrualia".
de especial de cada astro no
de domínio Horóscopo
para a lunar: horóscopo
lua cheia, com uma elaborado
validadepara a lua
de um mêsnova,
lunar.mais rarar,ente também
zodíaco, principalmente no 15ograu de um signo. O astro é tido então como Horoskopos (gr. “observador das horas”): grau ascendente da eclíptia e, portanto,
"regente”do signo. de significado igual a—» ascendente. Ao mesmo tempo, comocúspide da 1*
Casas: áreas individuais formadas pela divisão da eclíptica em doze segmentos aos casa, ponto de partida das—>casas. Mais tarde, também usado no sentido
quais são atribuídos determinados significados na arte do horóscopo. Ao de um "registro momentâneo”de constelações zodiacais.
lado da divisãoigual em segmentos de mesmo tamanho, ainda na antigüi- Hypsomata —>exaltação.
dade foram desenvolvidos também sistemas desiguais, que se baseiam no —> Iatromatemática: medicina astrológica; ver também >m—elothesie.
Medium Coeli como IO1 cúspide de casas e calculam as casas intermediá- Immum Coeli (ic, gr.ántimesouránêma): fundo do céu, culminação inferior.
rias de forma correspondente. Katasterismen: lendas sobre ascensão ao céu.
Catasterismos: lendas sobre ascensão ao céu, mitos da constelação. Kentron, pl. Kentra —>Pontos cardinais.
Chronokratores: regentes sobre determinados espaços de tempo. Kleroi: teoria dos acasos (lat.sortes) em relação a prognósticos. Os acasos foram
Clima: as zonas paralelas ao Equador, localizadas contra o horizonte em virtude pesquisados em conexão com o — >ascendente.
da inclinação do eixo terrestre, e a mais usada denominação de lugares na Klimaktere: períodos de sete anos, de especial importância segundo a teoria astro-
geografia antiga. O número de climas não é uniforme. lógica devido aos ciclos de Saturno.
Constelação: grupo de astros e configuração de estrelas; ao mesmo tempo, posi- Livros de trovões —» brontologia.
ção dos planetas num determinado momento. Lugares: teorias dos lugares(—>casa/casas).
Culminação: passagem de um astro por um meridiano. Lunários: livros lunares.
Decanos: estrelas que se sucedem na ascensão depois a cada dez dias. A teoria pro- Medium Coeli (MC, gr.mesouránêma): meio do céu, culminação (sujperior).
vém do Egito e foi modificada mais tarde, de maneira a designar segmentos Meio do Céu —>Medium Coeli.
zodiacaisode
Descendente: 10° ou
signo seus regentes.
zodiacal ou astro que declina a oeste. Melothesie:
humano,teoria
de das correspondências
importância entre
central para o nível zodiacal
a medicina e par,rtes
astrológica. do corpo
D)jstinguemse
Direções: "deslocamento" de todos os fatores do horóscopo no arco diário de pla- melothesie de decanos,melothesie zodiacal emelothesie planetáária.
netas escolhidos, em geral, do Sol. Direções são interpretadas, como “des- Mesuranema —>Medium Coeli.
dobramentos” de modo semelhante a —>trânsitos e —>progressões. Monomoiriai: graus; teoria sobre as influências dos 360 regentes c dos graus do
Dodekaeteris: ciclo de doze anos. zodíaco sobre o destino.
Dodekaoros: círculo de doze horas (horas duplas); mais tarde, depois, círculo de Natividade: horóscopo natal. O "nativo” é, portanto, o detentor do hihoróscopo.
doze animais.
H istória d a astrcrolog ia 42 3
4 22 Kocku von Stuckrad
S ímbolos astrológi cos
Signos zodiacais
Y" Áries 'tf Touro
H Gêmeos 69 Câncer
Q Leão TtPVirgem
Libra TTL, Escorpião
/ Sagitário <■3 Capricórnio
™ Aquário X Peixes
Astros
©Sol 3) Lua
5 Mercúrio 9 Vênus
Cf Marte % Júpiter
f i Saturno ^ Urano
Netuno $ Plutão
Aspectos principais
cr Conjunção )f Sextil
□ Quadratura A Trígono
o®Oposição
Outros símbolos
AC Ascendente DC descendente
MC MeiodoCéu (Medium Coeli) ICFundodoCéu (Irrmmum Coeli)
£2 Nodo lunar ascendente B Planeta retrógrado >
1 . Índ i ce O no m ást i co
H istória d a astrciolog ia 42 7
alKhwârizmí, 182, 413 Assur, 502, 56 Birgitta von Schweden, 252 Campanella, T., 270, 39
alKindí, 1824, 186, 413 Assurbanipal, 52, 56, 62 Bischoff, W., 361 Campani, G., 212
alKurfan, 182 Atenas, 119, 129, 157, 225 Bizâncio, 171, 180, 223 Campanus de Novaral92, 286
Allectus, 264 Athenio, 84 Blake, W., 315 Campion, N., 375
alMadina, 173;ver também Yalhrib Atlas, 24 Blavatsky, H. P., 3268, 330, 333, 343 Cannae, 102, 195
alMajrití, 190, 414 Augusto, 1079, 114, 121, 127 4, 346 Capite, 135
Aloros, 93 Aveni, F., 46, 375 Blois, 269 Cardano, G., 221, 2«, 2448, 257,
Altdorfer, A., 252 Averróisver Ibn Rushd Blume, D., 185, 205, 210, 223, 251 287, 302, 363, 39841 5
Altmann, M., 347 Avicenaver Ibn Sina Boécio de Dácia, 217 Carion, J„ 248, 2545263
Amenófis III, 120 Boécio, A. M. S., 200, 202, 413 Carlos I, 292
América do Norte, 309, 327;ver tam Baal, 140 Bôer, W., 363 Carlos Magno, 198, 2(2, 203
bém Estados Unidos( e u a ) Bõhme, J., 297 Carlos V, 249
Babilônia, babilônios, 458, 51, 536,
Amisaduga, 534, 67 Bohr, N., 368 Carnéades, 100, 1034 1556
58, 63, 66, 68, 74, 93, 126, 137, 146 Carus, C. G., 365
amMacmün, °Abdallah, 180, 182, Bacon, R., 183, 213, 21820 Boll, F., 91, 106, 1524
189 Bolonha, 210, 215, 244, 248, 257, Casaubon, I., 227
Anatoli, J., 194 Bagdá, 174,193,17980,
18990, 413 182, 184, 186, 264, 269, 287 Cassirer, E., 228, 236
Anatólia, 53 Bombaim, 326 Castela, 172, 197
Bailey, A. A., 3434, 3801 Cato, 84
anNadím, 179 Balbilla, J., 110, 120 Bonatti, F. A., 287
Ansaleoni, 286 Bonaventura da Bagnorea, 213 Cavalcanti, G., 229
Balbillus, T. C., 1102 Cavalieri, B., 243
Antigonus de Nicéia, 117 Bonifácio IV, papa, 118
Bardesanes de Edessa, 163 Cecco d Ascoli, 212
Antinous, 119 Bordeaux, 269
Barlet, F. Ch. (A. Faucheux; Abel Celso, A. C., 135
Antiochus Epiphanes,110 Borst, A., 203
Haatan), 335 César, C. J., 105, 1078
Antiochus Epiphanes Philopappus, C. Bõss, H., 376
Barton, T., 20, 137, 156 Chamaliel (anjo), 300
J., 110 Bradshaw, J., 322
Bayer, K., 3512 Brahe, T„ 275, 278, 289 Chaney, W. H., 33940, 343
Antiochus IVde Comagena, 110 Becher, Th., 357 Chanina, rabi, 1478
Anu, 558 BrandlerPracht, K., 3478, 356
Beck, R., 135 Brant, S., 253 Charles (príncipe), 20
AnubélSunu, 73 Becker, W., 348, 359 Bressendorf, O. von, 353 Chartres, 205
Apoio, 107, 349 Beda, 2023, 413 China, 164, 175, 413
Broughton, L. I)., 33940, 343
Appius, 85 Bel, 92 Chipre, 180
Brown, D„ 56, 58, 623, 375
Argélia, 165 Bel ver também Marduk Choisnard, P. (Flambarrt, P.), 3356,
Brudzewo, A., 272
Aristóteles, 88, 901, 1778, 183, 185, Bellantius, L., 232 Brunhübner, F., 361 389
194, 200, 210, 213, 214, 2167, Bellarmin (cardeal), 278 Bruno, G., 227, 279 Cícero, 846, 89, 9910?, 155, 195
229, 2334, 282, 287, 412 Bender, H., 363 Ciro, 63
Budapeste, 369
Arnold de Villanova,212 Benincasa, 286 Cláudio (imperador), 11(0
Arzt, Th., 3678, 370 Berlim, 348, 351, 357 Burckhardt, J., 245 Clemente de Alexandria,, 161
Asarhaddon, 54, 62 Bernardus Silvestris, 209, 414 Cairo, 190 Clemente IV, papa, 219
Asclépio, 81 Berossos, 923 Caldéia, 149 Cleostrato de Tenedos, 558
Ascletarius, 115 Besant, A., 343 caldeus, 45, 84, 91, 101, 109, 113, Colbert, J. B„ 289
Ashmole, E., 291 Bethor, A. (Aquilin Backmund), 348 157, 163, 1656; ver também Coley, H„ 2923
Assagioli, R., 381, 3845 Bezold, C., 170 Babilônia, Mesopotâmia Colombo, C., 196, 243
Assíria, assírios, 51, 534,74, 93 Bilipusch, 60 Camerarius, 242 Colônia, 134, 1656, 21445,237, 284
Meisternthal, 40
Melanchthon, Ph., 242, 248, 2646 Necho II,7881
Néftis, Panaitios,
Papus 86, 104 G.), 3345
(Encausse, Platão,de8791,
Plato Tivoli,93,2078
152, 1Í83, 226, 412
Menghin, W., 41, 42 Nergal, 46 Paracelso (Theophrastus Bombastus Plethon (Georgios Gerrmistos), 223,
Mercúrio (divindade), 300 Nergalitir, 59 von Hohenheim), 237, 2401, 415 225, 227
Mersenne, M., 289 Nero, 1104, 120 Paris, 17, 191, 197, 207, 215, 217, Plínio, o Velho, 92
Mesmer, F. A., 307 Nerva, 116 226, 284, 313, 319, 331, 336 Plotina, 117
Mesopotâmia, 356, 448, 58, 678, Neugebauer, O., 58, 712, 77, 124 Parker, R. A., 77, 290 Plotino, 99, 160, 162
71, 746, 95, 139, 175, 1789, 4112 NeugebauerWõlk, 298, 299 Parmênides, 53 Plutarco, 89, 236
H istória d a astrírolog ia 44 3
44 2 Kocku von Stuckrad
neoplatonismo, 81, 99, 125, 135, 137, 316, 362, 392, 416, 425; Plutão, 267, 269, 275, 277, 284, 2867, rituais, 17, 19, 378, 46;02, 58, 59,
1778, 198, 200, 229, 241, 379, 25, 3124, 335, 362, 392, 416, 290, 292, 2945, 317, 319, 3212, 61, 81, 1445, 173, 3, 215, 300,
413; ver tamhém platonismo 425; Saturno, 23, 25, 32, 46, 648, 3323, 33840, 349, 357, 359, 362, 381
nestorianos, 184 70, 73, 93, 96, 103, 106, 109, I 13, 373, 3779, 3868, 390, 395, 415, RosaCruz, 334
Netuno ver Planetas 151, 158, 186, 207, 229, 249, 256 417, 419, 421 rosacruzes, 2989, 301
New Age, 95, 137, 372, 380, 385 7, 264, 2778, 300, 311, 314, 337, progressões, 29, 1867, 246, 332, 420,
nodos lunares, 166, 211, 382, 383 355, 362, 387, 390, 392, 421, 425; 422 sacrifícios, 46, 51, 65, I3, 215
nominalismo, 213 Urano, 25, 3125, 329, 331, 355, psicologia, 310, 338, 345, 3625, 372 Sagitáriover signos zodi;ais
Nova Academia, 100, 104 362, 392, 416, 425; Vênus, 23, 25, 3, 3757, 37980, 383, 385, 3878, Salmeschiniaka, 80
46, 525, 658, 70, 73, 105, 135, 396 Saturnover Planetas
ocultismo/ciências ocultas, 74, 226, 144, 157, 196, 207, 225, 244, 273, psicossíntese, 381, 384 schia, 185
2378, 332, 335, 3467 278, 292, 300, 302, 306, 362, 388, público, 17, 30, 32, 48, 70, 92, 100, Schweizer Astrologen-Buiit 376
392, 425 109, 120, 126, 130, 210, 222, 232, sibilas, 252, 303
Órion, 76, 91, 144 Sidus lulium, 105, 108
platonismo, 81, 99, 118, 137, 157, 242, 2445, 248, 251, 258, 2778,
signos zodiacais: Aquár3, 212, 25,
paganismo, 44, 128, 1334, 162, 199, 162, 216,
2846, 371,223, 225,412;
378, 227,ver
232,também
235, 280, 290, 2934,
319, 3213, 299, 307,
332, 3389, 349,315,
355, 69, 73, 945, 115, 15, 313, 316,
219, 225, 253, 297, 372; ver tam •372, 42 5; Áries, 23, 3, 27, 57, 69,
bém politeísmo Platão; neoplatonismo 374, 387, 417
Plêiades, 43, 76, 144, 153 94, 95, 135, 136, 1?3, 192, 315,
Pallas (asteróide), 3136 357, 3778, 421, 425 Câncer, 25,
"panbabilônica", interpretação históri- Plutãover Planetas qualidade do tempo, 16, 20, 30, 150,
politeísmo, 46;ver também paganismo 73, 89, 92, 154, 192, 394, 419,
ca, 74 155
política, 16, 54, 58, 62, 69, 86, 94, Quaoar (planeta), 314 425; Capricórnio, 25, 73 , 92, 106
Panteão de Adriano, 118 8, 191, 425; Escorpião, 25, 73,
Peixesver signos zodiacais 105, 10710, 112, 114, 116, 119 quatro elementos, 177, 214, 238, 373
20, 1289, 156, 172, 174, 204, 154, 2634, 316, 425; Gêmeos, 22,
pensamento de correspondências, 369 quatro humores, 91
20910, 2223, 254, 264, 280, 303, 25, 191, 315, 425; Eeão, 25, 65,
perseguição de astrólogos, 114 105, 225, 262, 267, 329, 3367,
pesquisa social empírica, 310, 379, 35960 racionalidade, 212, 217, 2278, 233,
ponto vernal, 946, 136, 372, 422; ver 261, 283, 2956, 299 349, 387, 419, 425; Ljbra, 25, 58,
386, 388 105, 109, 154, 192, 425; Peixes,
philosophia perennis, 226 também precessão radicalver horóscopo
precessão, 22, 94, 95, 123, 134, 136, reencarnação, 327, 419, 422; ver tam 25, 65, 945, 186, 31(6, 387, 394,
Picatrix, 198 425; Sagitário, 22, 2'5, 103, 192,
pitagorismo, 281 137, 197, 273, 372, 378, 412 bém imortalidade da alma; karma
regentes, 162, 337, 349, 4201 278, 425; Touro, 25, 57 , 69, 136,
Planetas: Júpiter, 23, 25, 32, 46, 656, predeterminaçãover determinismo 3156, 394, 425; Virgem, 223, 25,
6870, 73, 93, 96, 1067, 109, 147, presságios, 49, 524, 56, 5962, 65, religião, 167, 19, 35, 39, 445, 54, 58,
704, 115, 168, 281, 411 623,74, 77, 79, 92, 109, 120, 125, 1067, 145, 154, 302,. 394,425
151, 164, 186, 195, 207, 244, 249,
254, 2567, 2778, 292, 300, 306, princípios primordiais, 33, 152 1306, 149, 1645, 168, 1712, “Símbolos Sabeus”, 344
316, 323, 362, 392, 425; Marte, priscilianistas, 129 176, 179, 189, 195, 2223, 225, simpatia, 81, 101, 121, 1í83, 283
23, 25, 46, 64, 668, 70, 73, 85, profecias, 834, 92, 103, 1056, 108 232,
3056,2346,
3247,239,
331,260,
334,264,
345,281,
364 sincronicidade,
Sirius, 56, 667, 3689,
76, 91 3770
103, 113, 118, 135, 158, 162, 164, 12, 123, 127, 150, 185, 24950,
252, 2567, 267, 277, 293, 2956, 6, 368, 372, 381 Sociedade Teosófica, 310,), 3257, 330,
186, 207, 254, 256, 2634, 292, 331, 334, 343, 346, 3559, 380, 417
300, 302, 3156, 340, 355, 362, 359; ver também presságios; religião dos astros, 125
prognósticos retrogradação dos planetas, 23 sociedades secretas, 260, , 2979, 334
366, 387, 390, 392, 425; Mercúrio, Sol, 212, 25, 279, 35, •3740, 423,
23, 25, 46, 667, 147, 164, 244, professionals, 290, 31 1 revistas astrológicas, 353, 358
prognósticos, 30, 33, 46, 50, 623, 66, revoluções científicas, 22, 260, 270, 46, 568, 65, 67, 69, 7171,73,75, 82,
273, 292, 300, 302, 313, 323, 328, 889, 945, 103, 106;.7, 113, 118,
362, 392, 425; Netuno, 25, 3124, 163, 181, 186, 220, 24650, 2623, 300, 387