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C
hegamos ao final de 2017— um ano denso e tenso! No Brasil, uma reflexão sobre a participação feminina na construção da Ciên-
ainda que a economia dê sinais de recuperação, as barbáries cia do Solo brasileira e da SBCS. Foi uma edição memorável!O se-
de uma crise política, moral e ética nos deixam perplexos. gundo número tratou de “As funções do solo, suas fragilidades e seu
Em escala global assistimos ao ressurgimento de uma corrida arma- papel na provisão dos serviços ecossistêmicos”. Qualquer exaltação
mentista insana. O planeta exibe recordes de temperatura e eventos sobre este tema seria redundância. Para fechar o ano temos um tema
extremos, enquanto a 23ª Conferência da ONU sobre Mudanças atual e de grandes perspectivas na ciência do solo: “Pedometria,Ma-
Climáticas — COP23 registra retrocessos. pas Digitais e Convencionais de Solos e os Modelos Conceituais
Solo-Paisagem”. Os oito artigos evidenciam que o potencial desse
Há, todavia, o que se comemorar. A AGRICULTURA BRASILEIRA conhecimento vai muito além do mapeamento digital.
—digna de ser escrita em maiúsculas— atinge a produção recorde de
240 milhões de toneladas de grãos, 30 % a mais que em 2016. Incre- Ainda que os festejos tenham sido poucos, os 70 anos da SBCS foram
mento que se deu às custas de um aumento de apenas 7 % da área densamente comemorados com muito trabalho, dedicação e partici-
cultivada. Um ganho de produtividade que, sem dúvida reflete as téc- pação. Estamos prontos para viver os júbilos dos 70 anos em 2018
nicas geradas pela ciência agrícola brasileira, em particular a Ciência com uma motivação ímpar: realizar um grande “21st Word Congres-
do Solo. O agronegócio foi responsável por 40 % das exportações bra- so of Soil Science”. Concretizaremos um projeto iniciado em 2010, em
sileira e 23 % do PIB. Se considerarmos toda a produção agrícola es- Brisbane, Austrália. O trabalho tem sido e será duro, mas o sucesso
tima-se que são extraídos dos solos brasileiros 1,6 bilhão de toneladas fará muito bem à Ciência do Solo brasileira. Para isso precisamos de
de produtos, utilizando-se apenas 9 % do território nacional. uma Sociedade fortalecida com a dedicação e participação de seus
sócios. Potencializaremos essa energia ampliando o número de só-
Em 2017, a SBCS chegou aos 70 anos, debruçada sobre uma rica cios na SBCS. Finalizamos 2017 com apenas 800 sócios, embora haja
história, muitas estórias, um sólido presente e um futuro sem fron- um potencial de pelo menos 3 mil, considerando o número de pro-
teiras. Ainda que pareça paradoxal somos uma Sociedade jovem, fissionais que atuam na Ciência do Solo no Brasil. Se cada um dos
o que é revelado pelo público predominante em nossos Congresso atuais 800 sócios motivarem a participação de pelo menos três dos
e Reuniões e pelo sucesso de nossas mídias sociais. Realizamos o seus pares seremos 2.400. Lancemos para 2018 esta campanha, para
XXVI Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, em Belém, nova- honrarmos ainda mais os 70 anos da nossa Sociedade.
mente na Amazônia, 32 anos após o primeiro. Os Núcleos Regionais
e Estaduais da SBCS também mostraram vigor com a realização de Apesar do ano difícil que termina, esta retrospectiva de 2017 nos
eventos como a 5ª Reunião Paranaense de Ciência do Solo e a 4ª Re- mostra que o saldo é altamente positivo em favor do bom, do bem,
união Nordestina de Ciência do Solo. O Núcleo Regional Noroeste do favorável e do sucesso. E sempre é assim! Prevalece o bem sobre
participou da organização e realização da XIIRCC, em Rondônia, o mau. Uma das razões, com certeza, é que a “esperança” habita cada
inovando com a realização excursões, uma em 2017 e outra que um de nós e reflete-se no senso coletivo. E na renovação do ano esse
será o ano que vem para ampliar o acesso dos participantes. No âm- sentimento é ainda mais exacerbado, como muito bem expressa o
bito editorial, foi com louvor que chegou às prateleiras da livraria da poeta Drumond: “...doze meses dão para qualquer ser humano se
SBCS o livro Pedologia:Solos dos Biomas Brasileiros, completando cansar e entregar os pontos.Aí entra o milagre da renovação e tudo
a série Pedologia. As inovações na Revista Brasileira de Ciência do começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar
Solo iniciadas em 2015 estão consolidadas. Temos agora uma re- que daqui pra diante vai ser diferente”.
vista eletrônica, em inglês e um layout arrojado, sem perder o foco
na excelência da ciência. Boletim Informativo, também com uma Feliz Natal e que façamos por nós, pela SBCS e pelo Brasil um 2018
nova qualidade gráfica, continuou divulgando os acontecimentos da diferente!
SBCS e evidenciou temas atuais e relevantes para a sociedade em
geral. Assim, abriu o ano abordando o tema “As mulheres na Ciência
do Solo”, um desafio proposto pela nossa presidente, Fatima Maria Reinaldo Bertola Cantarutti
Moreira. Foram nove artigos que possibilitaram o resgate histórico e Secretário Geral da SBCS
SBCS
Fique atento ao site, Fanpage e twitter
da SBCS. Nas nossas mídias sociais você
encontra notícias atualizadas sobre a
Ciência do Solo e áreas afins e informa-
ções sobre concursos e editais de interes-
nas mídias sociais se para quem é pesquisador.
6
Reinaldo Bertola Cantarutti (UFV) Núcleo Nordeste promove IV Reunião
Secretário Adjunto
Nordestina de Ciência do Solo no Piaui
Raphael B.A Fernandes (UFV)
Tesoureiro
Igor Rodrigues de Assis (UFV)
EDITOR DA RBCS
José Miguel Reichert (UFSM)
8 As comemorações do Dia Mundial do
Solo
9
DIRETORES DAS DIVISÕES ESPECIALIZADAS
Divisão 1: Solo no Espaço e no Tempo Embrapa lança Programa Nacional
Lucia Helena Cunha dos Anjos (UFRRJ) de Solos do Brasil com apoio de
Divisão 2: Processos e Propriedades do Solo universidades e instituições de pesquisa
Dalvan José Reinert (UFSM)
SECRETARIA DA SBCS
Cíntia Fontes
Denise Cardoso
Denise Machado
www.sbcs.org.br
Tel: 31 3899-2471
38
Contribuições da Pedometria
para a governança de solos e o
Pronasolos
42
Pesquisa Pedométrica
no Brasil
70 ANOS
Os 70 anos da Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo na 44
visão de seus ex-presidentes
NOTÍCIAS
A SBCS realizou, entre os dias
9 e 16 de setembro, em
Rondônia, a XII Reunião de
Classificação e Correlação de So-
los (RCC). O evento foi organizado
Na primeira excursão, foram visita-
dos um perfil de solo no município
de Canutama, no Estado do Ama-
zonas, e 13 perfis em Rondônia,
distribuídos entre os municípios de
nidade de conhecer novos ambien-
tes e avaliar solos pouco estudados
na Amazônia como um perfil com
alto teor de matéria orgânica, mas
sem a expressão de cargas trocá-
pelo Núcleo Regional Noroeste da Porto Velho, Ariquemes, Machadi- veis (CTC nula), um Latossolo cau-
SBCS e organizado pela Embrapa nho do Oeste, Ouro Preto do Oes- linítico com caráter ácrico e outro
Rondônia, Embrapa Solos, Uni- te, Rolim de Moura, Alta Floresta em que se discutiu o caráter sôm-
versidade Federal de Rondônia, do Oeste, Pimenta Bueno, Colora- brico; além de perfil com horizon-
Universidade Federal Rural do Rio do do Oeste, Pimenteiras do Oeste te antrópico (Terra Preta de Índio)
de Janeiro, Instituto Brasileiro de e Vilhena. ainda pouco estudado no estado
Geografia e Estatística (IBGE)e o de Rondônia.
Serviço Geológico do Brasil, com Segundo os coordenadores, os par-
suporte do Instituto Federal de ticipantes da RCC tiveram a oportu- Os organizadores deram aos parti-
Educação (IFRO). A coordenação cipantes um Guia de Campo com
geral foi do pesquisador Paulo informações sobre a caracteriza-
Guilherme Wadt (Embrapa Ron- ção dos solos a serem visitados,
dônia). além da história, geodiversidade
e cobertura florestal de Rondônia.
A XII RCC foi dividida em duas ex- Também foram disponibilizados
cursões para permitir maior nú- capítulos adicionais sobre as pes-
mero de participantes e dar opor- quisas realizadas com esses solos
tunidade para que interessados (pesquisas Coligadas), para suporte
de várias instituições de possam a discussão durante o evento.
conhecer melhor a realidade do
ambiente de produção agrícola e A segunda excursão ocorrerá de 1
os solos de Rondônia. a 8 de agosto de 2018 e a pré-ins-
crição poderá ser feita diretamente
Esta primeira viagem contou com no site do evento: http://sbcs-no-
um total de 84 participantes. Des- roeste.agr.br/rcc/xiircc/inscricoes.
tes, 74 são sócios da SBCS. Entre html.
os participantes, 78 se inscreveram
como profissionais e seis como es- Participantes da XII RCC - RO As vagas são limitadas e as inscri-
tudantes. Sócios dos Núcleos Regionais da SBCS ções já estão sendo confirmadas.
Mesa de abertura
do evento promo-
vido no Piaui, em
novembro.
pelo Núcleo Regional Nordeste en- Ramalho; o presidente do Crea-PI, Prêmio Nordeste de
tre os dias 27 e 30 de novembro, em Paulo Oliveira e a presidente da Ciência do Solo
parceria com a Embrapa Meio-Nor- SBCS, Fatima Maria Moreira. Pela segunda vez, o Núcleo Regio-
te, a Universidade Estadual do Piauí, nal Nordeste da SBCS concedeu
Universidade Federal do Piauí e Ins- A presidente da SBCS destacou o o Prêmio Nordeste de Ciência do
tituto Federal de Educação, Ciência protagonismo da Sociedade no Solo criado para reconhecer o tra-
e Tecnologia do Piauí. fortalecimento da pesquisa em balho de pesquisadores que atuam
ciência do solo e na proposição de para o desenvolvimento da Ciência
O evento contou com a presença redes regionais. Para o diretor do do Solo na região Nordeste. Em
de 500 participantes entre pesqui- Núcleo Regional Nordeste da SBCS, 2016, em Aracaju, o agraciado foi o
sadores, professores e estudantes, Júlio César Nóbrega, a temática professor Ignacio Hernán Salcedo.
além de 550 trabalhos inscritos 21 é muito importante para o Piauí. Este ano, no Piauí, a premiação foi
palestras, cinco conferências, dois “Se consideramos o fato que hoje dada ao pesquisador Luiz Bezerra
seminários, quatro mesas-redon- o estado é uma fronteira agrícola, de Oliveira.
das e minicursos, além da realiza- conciliar a produção de alimentos
ção do 1º Simpósio de Ciência do junto à preservação ambiental é a Para as pessoas que o conhecem,
Solo. nossa preocupação. Queremos que Dr. Luiz Bezerra é considerado a
a região cresça em termos de pro- memória viva da SBCS. Seu nome
Participaram da solenidade de dução, mas sem desconsiderar as consta na história oficial da So-
abertura o chefe-geral da Embrapa questões ambientais, um não vive ciedade desde 1965, quando in-
Meio-Norte, Luís Fernando Leite; o sem o outro”. gressou na diretoria como conse-
coordenador científico do evento, lheiro. Antes disso, já participava
Henrique Antunes; a vice-reitora O evento contou com o apoio do dos eventos e era um entusiasta
da UESPI, Bárbara Melo; o pró-rei- Governo do Piauí, CNPq, CAPES, da ideia de reunir pessoas interes-
NOTÍCIAS
sil. Luiz Bezerra é natural de Per-
nambuco, formado em Química
Industrial em 1946 e especialista
em solos em 1955 pela UFRRJ. Ao
longo de sua carreira, atuou no
DNCS - Departamento Nacional de
Obras contra as Secas, na Seção
de Solos do Instituto Augusto Trin-
dade de Souza no IPEANE – Insti-
tuto de Pesquisas e Experimenta-
ção Agropecuárias do Nordeste e
na Embrapa, onde permaneceu
até se aposentar em 1994. Atuou O evento contou com a presença de 500 participantes
também como professor convida- entre pesquisadores, professores e estudantes
do na UFRPE e UFSM. Destacou-se
por suas pesquisas em solos do
Nordeste brasileiro com ênfase equipe que publicou o Manual de parecer à cerimônia de entrega, a
em Física do Solo. Entre os traba- Métodos de Análise de Solo e o li- premiação foi recebida pelo pro-
lhos desenvolvidos, destacam-se vro “Sociedade Brasileira de Ciên- fessor da UFRPE, Clístenes Nasci-
a publicação de mais de 60 traba- cia do Solo, um olhar sobre sua mento.
lhos científicos; a coordenação da história”. Impossibilitado de com- Fonte: Embrapa Meio-Norte
NOTÍCIAS
PARCERIA PARA MAPEAR
SOLO BRASILEIRO
O Programa Nacional de Solos do Brasil (Pronasolos) será o maior empreendimento técnico-
científico brasileiro da área de solos. O protocolo de intenções foi assinado por 20 instituições
brasileiras, entre elas, a SBCS, representada no evento pela presidente, Fatima Maria Moreira
R epresentantes de universi-
dades e instituições ligadas
à tecnologia e ciência as-
sinaram dia 5 de dezembro, Dia
Mundial do Solo, um protocolo
gação, documentação, inventário
e interpretação de dados de solos
brasileiros para gestão desse recur-
so e sua conservação.
O presidente da Embrapa, Maurí-
cio Antonio Lopes, ressaltou a im-
portância do trabalho coletivo para
a realização da empreitada. “Não
se faz um trabalho dessa magnitu-
de intenções que oficializa o iní- Entre os maiores resultados espe- de sem uma parceria muito con-
cio do maior trabalho já realizado rados está a criação de um siste- solidada, por isso envolve atores
no Brasil dessa área: o Programa ma nacional de informação sobre de extrema importância,” frisou.
Nacional de Solos do Brasil (Pro- solos do Brasil e a retomada de “Exploramos outros planetas e co-
nasolos). Empreitada com hori- um programa nacional de levanta- nhecemos pouco o nosso próprio
zonte de 30 anos que envolve 20 mento de solo. “Esses dois pontos solo”, disse o presidente da Embra-
parceiros entre universidades, a serem atendidos estão listados pa após assinar o documento, res-
institutos de pesquisa, agências no acordão redigido pelo Tribunal saltando que o solo é um recurso
especializadas e empresas de de Contas da União, em 2015, que com o qual se deve ter cuidado. “A
pesquisa científica. deu origem ao programa,” disse produção de alimentos cada vez
o coordenador do Pronasolos, o mais sofisticados e a desertificação
Definido pelo presidente da Em- pesquisador José Carlos Polidoro, observada em diversas partes do
brapa, Maurício Antônio Lopes, da Embrapa Solos. “O programa planeta são exemplos de questões
como uma das maiores iniciativas irá obter informações importantes relacionadas a esse valioso recur-
do Brasil para proteger seu solo, o no nível de detalhamento neces- so”, comentou.
Pronasolos está orçado em R$ 740 sário para que o país consiga usar
milhões, nos dez primeiros anos, esse recurso natural tão impor- “Estamos celebrando um grande
e envolverá atividades de investi- tante”. marco nas Ciências do Solo no
NOTÍCIAS
uma região para outra que, um dos pontos fortes do Pro- tados gerados auxiliarão no plane-
A escala diz respeito a quanto um nasolos é realizar o levantamento jamento de ações em microbacias,
determinado espaço foi reduzi- de solos em escalas mais precisas nos sistemas de produção e na pre-
do para ser representado grafica- e adequadas aos diferentes usos. servação do ambiente agrícola,”
mente. Em termos simples, uma “Trata-se de um projeto estratégi- prevê a pesquisadora Graziela Mo-
escala 1:25.000 é muito mais de- co para o Brasil e seus resultados raes de Cesare Barbosa, coordena-
talhada que uma representação irão possibilitar o desenvolvimento dora da área de Solos do Iapar.
de 1:100.000 da mesma porção de e adaptação de tecnologias para
terra. Um levantamento de solos adequação das atividades agrícolas “Em um território tão vasto quan-
realizado em escala de 1:20.000 aos diferentes tipos de solo”, acre- to o brasileiro, a gestão dos solos
é considerado detalhado. Apenas dita o presidente da instituição que torna-se ainda mais complexa”,
0,0003% do território brasileiro é também integra os trabalhos. afirma Fernanda Lins Leal Uchôa de
conhecido com esse detalhamen- Lima da Diretoria de Política Espa-
to. Na categoria “semidetalhado” Subsídio a políticas públi- cial e Investimentos Estratégicos da
(1:50.000) está 1% do território na- cas de ocupação do solo Agência Espacial Brasileira (AEB). A
cional. A maior parte do solo bra- Márcio Koiti Chiba, pesquisador instituição participará do programa
sileiro, 84%, encontra-se mapeada do Instituto Agronômico (IAC), de oferecendo tecnologias espaciais
a partir da escala 1:250.000, consi- Campinas (SP), outra instituição de observação da Terra. “Estamos
derada de baixo detalhamento. participante, enfatiza o impacto honrados em poder contribuir”,
ambiental e de auxílio à gestão pú- declara.
“Claro que o grau de detalhamen- blica que o trabalho irá promover.
to varia conforme o uso. Uma área “Os dados a serem levantados com José Carlos Polidoro, da Embrapa,
florestal não precisa ter a mesma o Pronasolos são essenciais para informou que o Governo Federal,
escala que regiões de forte produ- embasar políticas públicas, não por meio do Ministério da Agri-
ção agrícola, as quais exigem maior apenas relacionadas ao uso agrí- cultura, Pecuária e Abastecimento
detalhamento”, esclarece Polidoro, cola do solo, mas também para sua (Mapa) prepara um decreto que
“faz parte do Programa definir as utilização com o mínimo impacto visa a estabelecer o Pronasolos
áreas prioritárias e escala necessá- ambiental possível para outras fi- como programa de Estado.
ria para cada uma”. nalidades”, afirma o cientista.
Para o presidente da Empresa de A preservação ambiental também Fonte: Reportagem de Fábio Reynol
Pesquisa Agropecuária de Minas está no foco do Instituto Agronô- Secretaria de Comunicação da Embrapa
Participantes do Pronasolos
• Agência Espacial Brasileira • Instituto Brasileiro de Geo- • Universidade Federal
(AEB) grafia e Estatística (IBGE) do Rio Grande do Sul
• Diretoria de Serviço Geo- • Instituto Capixaba de Pes- (UFRGS)
gráfico do Exército (DSG) quisa, Assistência Técnica e • Universidade Federal dos
• Empresa Brasileira de Extensão Rural (Incaper) Vales do Jequitinhonha e
Pesquisa Agropecuária • Serviço Geológico do Brasil Mucuri (UFVJM)
(Embrapa) (CPRM/SGB) • Universidade Federal Rural
• Empresa de Pesquisa • Sociedade Brasileira de Ciên- da Amazônia (UFRA)
Agropecuária de Minas cia do Solo (SBCS) • Universidade Federal Rural
Gerais (Epamig) • Universidade Estadual de de Pernambuco (UFRPE)
• Fundação Cearense de Mato Grosso do Sul (UEMS) • Universidade Federal Rural
Meteorologia e Recursos • Universidade Federal de do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Hídricos (Funceme) Goiás (UFG) • Estas são as instituições
• Instituto Agronômico • Universidade Federal de San- signatárias do protocolo
(IAC) ta Maria (UFSM) de intenções, outros inte-
• Instituto Agronômico do • Universidade Federal de ressados poderão aderir
Paraná (Iapar) Viçosa (UFV) ao programa.
Conhecendo a
vida do solo
A Editora da Universida-
de Federal de Lavras
(UFLA), publicou, este
ano, um conjunto de cartilhas
que é fruto do trabalho de
uma equipe de pesquisadores,
professores e estudantes de
graduação. Os editores, Maíra
Akemi Toma, Rogerio Custo-
dio Vilas Boas e Fatima Maria
de Souza Moreira e autores e
dessas cartilhas trabalharam
bastante para que pudesse ser
produzido um material ilus-
trado, de fácil compreensão e
acessível aos diversos segmen-
tos da sociedade.
NOTÍCIAS
PODE SER PAGA COM DESCONTOS
U
ma sociedade cien-
tífica forte e atuante
só é possível quan-
do reúne pesquisadores de
todo o Brasil dispostos a
apoiá-la e fortalecê-la. Para
isso, é preciso associar-se
e participar ativamente de
suas atividades. Mais quer
oferecer descontos em
eventos ou publicações, a
SBCS representa quem faz a
Ciência do Solo no Brasil e,
portanto, precisa do apoio
de todos.
O
professor Flávio Camargo, pre- Durante o evento, o professor Flávio
sidente do 21stWorld Congress Camargo contou com apoio de outros
of Soil Science, que será reali- pesquisadores brasileiros (foto abaixo).
zado pela SBCS ano que vem, no Rio de Em setembro, Flávio Camargo foi o
Janeiro, tem promovido uma série de conferencista convidado do Congresso
encontros com lideranças internacio- Japonês de Ciência do Solo, realizado na
nais em busca de apoio e divulgação cidade de Sendai. Ele ministrou a con-
para o evento. ferência sobre o tema central do WCSS
Em novembro, ele esteve em Tam- “Brazilian soil science: beyond food and
pa, na Flórida, participando do 2017 fuel”. Também foi sugerido pelo grupo
International Annual Meeting da Ame- de trabalho sobre “paddysoils” que
rican Society of Agronomy, Crop Scien- fosse organizada uma excursão técnica
ce Society of America, and Soil Scien- para o sul do Brasil durante o evento, o Flavio Camargo, ao centro, em evento no
Japão para promover o Congresso Mundial
ce Society of America e reuniu mais que já foi providenciado. As excursões
de 4 mil pesquisadores, profissionais técnicas e as turísticas já estão sendo
e estudantes em torno de palestras e disponibilizadas na página do 21WCSS O ex-presidente da SBCS, Gonçalo
debates sobre o tema"Managing Glo- A presidente da SBCS, professora de Farias também tem atuado como
bal Resources for a Secure Future. O Fatima Moreira (UFLA) também tem embaixador da Sociedade, divulgando
convite para a participação dos ameri- aproveitado as participações em even- o evento em suas viagens internacio-
canos no 21WCSS foi feito pelo profes- tos internacionais para divulgar o Con- nais como fez em Roma, durante re-
so Flávio durante a reunião inicial da gresso Mundial como aconteceu na sua união da Aliança Mundial pelo Solo/
SSSA e reforçado no discurso do pre- viagem para participação na II Confe- Global Soil Partnership (AMS/GSP),
sidente da SSSA, Andrew Sharpely. O rência Mundial sobre Biodiversidade realizada em Roma, no início de no-
novo presidente , Richard Dick, já está do Solo, realizada outubro, em Nanjing, vembro.
inscrito no 21WCSS e mostrou-se à China, e no VIII Congresso Boliviano de A Secretaria Executiva tem solicita-
disposição para auxiliar na divulgação Ciência do Solo, promovido em novem- do aos diretores de Núcleos, Divisões e
internacional. bro, em Santa Cruz de la Sierra. Comissões Especializadas, bem como a
todos os sócios empenho na divulgação
do evento em seus ambientes de traba-
lhos e redes internacionais de relacio-
namentos ligados à cientistas de solos.
“A promoção de um evento internacio-
nal é complexa e precisa envolver todos
os sócios da SBCS para que o Brasil faça
história na realização do Congresso
Mundial de Ciência do Solo, diz o presi-
dente do evento, Flávio Camargo.
As notícias sobre os preparativos
do evento, palestrantes confirmados,
viagens técnicas e detalhes sobre a
organização podem ser conferidas no
Luiz Prochonow (IPNI), Leo Walsh (University of Wisconsin), Pedro Sanches (University of Florida e site https://www.21wcss.org/ e na
conferencista do WCSS, Luiz Roberto Guilherme (UFLA) e José Eduardo Corá (UNESP) Fanpage da SBCS.
OPINIÃO
do terreno e, principalmente, por meio
de experiências passadas ao trabalhar em
paisagens semelhantes, o pedólogo iden-
tifica e mapeia componentes paisagísti-
cos. Por exemplo: feições do relevo, tipo
Pedometria, do embasamento rochoso e vegetação.
Depois, perfis de solo são examinados
em locais representativos de cada unida-
Mapas Digitais e de mapeada, a fim de se identificar o tipo
de solo dominante (ou tipos, no caso de
Convencionais de
unidades compostas, por exemplo, uma
associação de solos) e designá-lo por um
nome local (séries ou “unidades” de solo)
Pedometria:
uma breve contextualização
nacional e mundial
Ricardo Simão Diniz Dalmolin
Alexandre tem Caten
André Carnieletto Dotto
OPINIÃO
ferramentas, aplicadas a um ban-
co de dados de solos georreferen-
ciados, podem gerar ou predizer
novas informações, com a possibi-
lidade de que os dados sejam mo-
delados e interpolados para áreas
nas quais não se havia conheci-
mento dos atributos e tipos de so-
los presentes2. A Figura 1 mostra a
interface entre as diferentes áreas
de conhecimento aplicadas na Pe-
dometria.
OPINIÃO
RJ, UFSC, UFV, UNB e Unicamp.
Houve uma gama muito grande de
respostas, desde instituições que
apresentam disciplinas específi-
cas de Pedometria a aquelas em
que a Pedometria é abordada em
disciplinas de pedologia, principal-
mente em nível de pós-graduação.
Interessante observar que algu-
mas instituições que apresentam
trabalhos de destaque em Pedo-
metria, ainda não abordam esse
tema no ensino. Percebeu-se nas
informações retornadas, a vonta-
de de muitos professores aborda-
rem, de maneira mais intensiva, o
tema, pois devido às suas carac-
terísticas, prendem a atenção dos
jovens, ávidos por informações
que envolvem tecnologia.
A pedometria é a disciplina da
Ciência do Solo dedicada ao
estudo da variação espacial
e temporal do solo e, assim da pe-
dogênese, lançando mão de tecno-
dependentes. As variáveis de res-
posta são aquelas variáveis que se
deseja compreender ou estimar,
ou seja, as propriedades, caracte-
rísticas, atributos do solo, como o
processos controlados pelos com-
ponentes ambientais que moldam
a paisagem. Nesse caso, dados
representando os componentes
ambientais na paisagem são usa-
logias da informação (TIs) para a conteúdo de argila e a classe taxo- dos como variáveis explicativas ou
coleta, armazenamento, manipu- nômica. independentes para predizer va-
lação, modelagem e distribuição riáveis de resposta do solo. Os da-
de dados do solo. O insumo básico O mapeamento digital do solo, por dos do solo também podem servir
de uma aplicação pedométrica são exemplo, é um método pedométri- como variáveis explicativas, como
os dados do solo, que adquirem o co que pressupõe que o solo e suas no caso das chamadas funções de
papel de variáveis de resposta, ou características são resultado de pedotransferência, em que uma
OPINIÃO
do de matéria orgânica - pode ser Base de dados Endereço Observações
estimada a partir de outra variável, http://africasoils.net/services/data/
Africa Soil Profiles Database 18.500
como a sua cor, por exemplo. soil-databases
http://www.inegi.org.mx/geo/conte-
Archivo Digital de Perfiles de
Historicamente, a maneira mais Suelo de México
nidos/recnat/edafologia/PerfilesSue- 10.000
lo.aspx
comum de obtenção de dados do
BrazilSoilDB http://www.esalq.usp.br/gerd 5.500
solo é a sua amostragem, usando
métodos e ferramentas para a sua Sistema de Informação de So- https://www.bdsolos.cnptia.embrapa.
9.000
los Brasileiros br/consulta_publica.html
coleta e descrição no campo, se-
guidos pela análise das amostras Sistema de Información de
http://sisinta.inta.gob.ar 3.000
Suelos del INTA
no laboratório. Essa foi a maneira
Soil and Landscape Grid of http://www.clw.csiro.au/aclep/soilan-
com a qual inúmeros projetos de Australia dlandscapegrid
280.000
levantamento e de pesquisa de so-
USA National Cooperative Soil
los geraram, ao longo de décadas, Survey
https://sdmdataaccess.nrcs.usda.gov 50.000
um grande volume de dados lega- World Soil Information Service http://www.isric.org/explore/wosis 100.000
dos, literalmente ‘deixados para as
próximas gerações. Muitos desses
dados estão compilados em repo-
sitórios institucionais, com abran- se em laboratório), existem hoje metria de infravermelho ou a aná-
gências nacional, regional e global métodos alternativos tanto para lise da susceptibilidade magnética
(Tabela 1), porém uma boa parte definir os locais de amostragem se- do solo. Tais métodos, chamados
deles encontra-se dispersa e sob o gundo critérios objetivos, usando em conjunto de sensoriamento
risco de não ser reaproveitada ou técnicas de inteligência artificial1, proximal do solo, podem ser apli-
mesmo ser perdida para sempre. quanto para analisar as amostras cados in situ para obter dados do
de terra de maneira mais limpa solo sem a necessidade de coletar
No Brasil, a principal fonte de da- e não-destrutiva, ao invés de via amostras de terra (Figura 2).
dos compilados é o Sistema de análise química, como a espectro-
Informação de Solos Brasileiros Uma vez coletados, os dados do
(https://www.bdsolos.cnptia.em- solo precisam ser armazenados e
brapa.br/consulta_publica. organizados apropriadamente para
html), da Embrapa, que conta possibilitar uma eficiente distribui-
com dados de cerca de 9.000 ção para uso atual e futuro
perfis de solos. O IBGE tam- por qualquer pessoa inte-
bém disponibiliza dados, ressada. Existem inú-
principalmente os do meras alternativas
Projeto Radambrasil, tecnológicas para o
em sua página (http:// armazenamento dos
www.downloads.ibge. dados, desde planilhas
gov.br). Juntos, os dados sob eletrônicas (CSV) até
salvaguarda da Embrapa e do IBGE os sistemas de gerencia-
somam cerca de 10 mil observa- mento de bases de dados
ções (pontos amostrais, perfis) do relacionais (PostgreSQL).
solo que estão sendo usados para Como o volume de dados
construir o futuro Repositório Bra- do solo usado em aplicações
sileiro Livre para Dados Abertos do pedométricas, mesmo quando
Solo (http://coral.ufsm.br/febr/) em larga escala, ainda é relativa-
(Figura 1). mente pequeno (<< 1 Gb), bases
de dados relacionais ainda são a
Além dos métodos convencio- solução de armazenamento mais
nais de amostragem de solos (por eficiente. Além disso, elas são ca-
Figura 1. Localização das cerca de 10 mil
exemplo, locais de amostragem pazes de acomodar dados de dife-
observações do solo disponíveis para uso nas
são escolhidos a dedo e amostras plataformas on-line da Embrapa e do IBGE.
de terra são coletadas para análi- Fonte: Acervo do Grupo de Pesquisa da UFSM. 1
Boletim Informativo SBCS V 42.N 1, 2016.
Figura 2. Coleta de dados do solo utilizando sensores proximais (espectrômetro de raios gama à esquerda e medidor de
condutividade elétrica e susceptibilidade magnética à direita).
rentes tipos, georreferenciados ou cessamento, como zoom, inspeção dados já disponíveis, a exemplo do
não, com diferentes conteúdos e de atributos (botão info), buffering, Repositório Brasileiro de Dados de
formatos: desde observações pon- spatial join; (c) ferramentas de con- Ferro do Solo (www.ufsm.br/febr),
tuais contendo poucos (somente sulta de dados espacial e/ou por da Universidade Federal de Santa
análises de rotina do solo) a milha- valor de atributos; (d) possibilidade Maria, e da Biblioteca Espectral de
res de dados (análises de rotina + de exportação dos dados em for- Solos do Brasil (http://bibliotecaes-
curva espectral com ~ 2000 ban- matos abertos, como CSV e KML; e pectral.wixsite.com/esalq), da Uni-
das), além de permitirem consultas (e) ferramentas de comunicação e versidade de São Paulo.
complexas, com resultados produ- colaborativas para a manutenção,
zidos em frações de segundo. conferência e atualização dos dados Plataformas multiusuário, siste-
pela comunidade de mantenedores mas de gerenciamento e compar-
Considerando as tecnologias dispo- e usuários do sistema. Infelizmente, tilhamento de dados on-line, fer-
níveis, o sistema de gerenciamento essa não é a realidade das bases de ramentas robustas de análise de
de dados do solo deve fornecer as dados de solos. Big Data, e processos de geração
características mínimas necessárias contínua de informações do solo,
para as etapas posteriores de mo- A geração de informações atualiza- em múltiplas escalas, se tornarão
delagem dos dados. No caso da pe- das do solo para todo o Brasil re- cada vez mais comuns e devem ser
dometria, envolvem a análise dos quer a manipulação de um grande invariavelmente assimilados pela
dados do solo e da sua relação com volume de dados, os quais ideal- comunidade de cientistas do solo
os componentes da paisagem para mente deveriam estar organizados e traduzidos para a comunidade de
produzir modelos de representação e disponíveis para acesso em bases usuários de informações. A pedo-
do comportamento espacial e/ou de dados públicas e/ou privadas metria pode ajudar sobremaneira
temporal do solo; modelos de pre- abertas. No entanto, estima-se que para esse fim, fornecendo ferra-
dição dos seus atributos; modelos boa parte (talvez a maior parte) dos mentas para a coleta, organização,
das relações solo-paisagem, enfim, dados legados estão dispersos em análise e distribuição dos dados
para permitir o entendimento da repositórios institucionais de acesso legados, atuais e futuros de solos.
formação e distribuição do solo e restrito, em computadores pessoais
dos seus atributos. Entre essas ca- e/ou em meios analógicos (impres-
racterísticas, idealmente, o sistema sos em papel). Caberia aqui um es- Alessandro Samuel-Rosa Universidade
teria: (a) possibilidade de acesso on forço conjunto da comunidade cien- Federal de Santa Maria. E-mail: alessan-
-line gratuito via navegador ou ser- tífica para recuperar esses dados e drosamuel@mail.ufsm.br
Gustavo M. Vasques Embrapa Solos.
viços web; (b) ferramentas básicas torná-los disponíveis para uso, bem E-mail: gustavo.vasques@embrapa.br.
de visualização dos dados e geopro- como para revisar a qualidade dos
PEDOMETRIA
E USO DE NOVAS TECNOLOGIAS
Eliana de Souza
Marcio Rocha Francelino
Elpídio Inácio Fernandes Filho
MDS no mundo, considerando dois (2011), que apresentaram revisão Os métodos geoestatísticos diferen-
contextos: as partes instrumental e sobre trabalhos com mapeamento ciam-se dos da estatística clássica,
computacional. de solos em escala continental. principalmente, pelo uso de dados
espaciais e por empregar a auto-
Inicialmente, foi realizado um levan- De modo geral, os métodos utiliza- correlação no método da krigagem
tamento na base de artigos indexa- dos em MDS variam entre modelos como interpolador espacial. O uso
dos pela plataforma Web of Scien- estatísticos, geoestatísticos, híbri- de geoestatística nos estudos de
ce, para o período de 1992 a 2016, dos (estatísticos/geoestatísticos) solo ocorreu para se buscar avaliar
realizando busca (na língua inglesa) e métodos mais complexos, como quantitativamente a variabilidade
da palavra “solos”, no título da pu- árvore de decisão, sistemas espe- de seus atributos. Um dos primeiros
blicação, em associação com pala- cialistas, lógica Fuzzy e sistemas trabalhos a utilizar essa técnica foi
vras-chave relacionadas com méto- hierárquicos. desenvolvido por Burgess e Webs-
dos, técnicas e dados utilizados em ter, em 1980. Desde então, vários
estudos de gênese e mapeamento Segundo trabalho de McBratney e estudos de solo empregaram a
de solos. A série temporal de dados colaboradores (2000), a escolha de geoestatística para espacializar efei-
analisados permitiu identificar algu- um método para o mapeamento de tos de contaminação, salinidade e
mas tendências nessa área. solos depende de fatores, como: a fertilidade, entre outros atributos e
disponibilidade de informações de características do solo. A adoção de
Métodos matemáticos, es- solo e de covariáveis; o tamanho (ou modelos híbridos, utilizando a inter-
tatísticos e geoestatísticos resolução espacial) e as característi- polação geoestatística combinando
utilizados em MDS
A primeira visão geral das técnicas
utilizadas em Pedometria foi des-
crita por Webster (1994). Depois
disso, McBratney e coautores fize-
ram duas extensas revisões sobre
o assunto nos anos 2000 e 2003,
sendo que a mais recente lista mais
de 100 aplicações em MDS. Acres-
centa-se a essa lista, a revisão de
Goovaerts (1999) sobre o estado
da arte das técnicas geoestatísticas
na Ciência do Solo e a revisão sobre
o mapeamento preditivo do solo
efetuada por Scull e colaboradores
(2003). Ao longo do tempo, vários
outros trabalhos mostraram ten- Fonte: Acervo do Lab.de Geoprocessamento – DPS/UFV
dências e métodos utilizados em
MDS, como Grunwald e coautores Modelos digitais de elevação em diferentes resoluções espaciais
OPINIÃO
em árvores de regressão e classifi-
cação, que apresentam entre 14 e
60 trabalhos. Destaca-se também
modelos de Lógica Fuzzy, com 47
trabalhos. Vale salientar a grande
evolução no uso do classificador
Random Forest, que, apesar de
ser citado somente em 37 artigos.
Neles, concentraram-se apenas no
período a partir de 2008, quando
foi citado pela primeira vez, a 2016,
quando foram encontradas 15 cita-
ções.
O software livre ampliou o acesso Trata-se de um desafio que mere- Grunwald, S., Thompson, J.A., Boettin-
a ferramentas estatístico/matemá- ce ser enfrentado, em função dos ger, J.L. 2011. Digital soil mapping
ticas, sendo que, para a linguagem potenciais dessas técnicas. O uso and modeling at continental scales:
R, bibliotecas foram desenvolvidas das técnicas e ferramentas de MDS finding solutions for global issues.
especificamente para o processa- pode contribuir ainda mais para a Soil Sci. Soc. Am. J. 75, 1201–1213.
mento de dados pedológicos, prin- competência dos cientistas de solo McBratney, A.B., Odeh, I.O.A., Bishop,
cipalmente para fins de classifica- do Brasil. T.F.A., Dunbar, M.S. and Shatar, T.M.
ção e estudos de física do solo. 2000. An overview of pedometric te-
Referências chniques for use in soil survey. Geo-
Os resultados do levantamento de Burgess, T.M., Webster, R. 1980. Op- derma, 97(3-4): 293-327.
dados bibliográficos realizado mos- timal interpolation and isarithmic McBratney, A.B.; Odeh, I.O.A.; Bishop,
tram que os cientistas do solo estão mapping of soil properties: I. The se- T.F.A.; Dunbar,M.S.; Shatar, T.M.
se apropriando das mais modernas mivariogram and punctual kriging. J. 2000. An overview of pedometric te-
ferramentas estatísticas, compu- Soil Sci. 31, 315–331. chniques for use in soil survey. Geo-
tacionais e analíticas, buscando o Goovaerts, P. 1999. Geostatistics in soil derma 97: 293–327.
entendimento do solo e suas com- science: State-of-the-art and pers- Minasny B, Hartemink AE. 2011. Predic-
plexas relações internas e externas. pectives. Geoderma, 89(1-2): 1-45. ting soil properties in the tropics. Ear-
th-Science Reviews 106,52–62. 2011.
Scull, P., Franklin, J., Chadwick, O.A.
and McArthur, D. 2003. Predictive
soil mapping: a review. Progress in
Physical Geography, 27(2): 171-197.
Webster, R. 1994. The development of
pedometrics. Geoderma 62, 1–15.
A palavra espectro baseia-se numa frisar que existem controvérsias na As feições de absorção são resul-
representação das amplitudes ou literatura quanto a alguns concei- tantes de interações microscópicas
intensidades das frequências ao tos e que, de acordo com a área de (transições eletrônicas e vibrações)
longo da região da radiação eletro- atuação do usuário, pode haver dis- entre REM e os grupos funcionais
magnética, surgindo o termo espec- cordâncias devido à tradição usual. orgânicos (carboxil, fenólico, alcoó-
tro-eletromagnético. Logo, surgem lico) e minerais (hidroxila, silanol,
denominações como espectrorra- A REM de cada CO que interage com aluminol, ferrol) dos solos. Vários
diometria, que é a técnica de medi- o solo pode seguir diferentes cami- componentes podem ser detecta-
ção do espectro de REM emitida por nhos, sendo absorvida, transmitida dos, com amparo de vasta compro-
um objeto, sendo que o espectrorra- e refletida e, posteriormente, emi- vação na literatura, como grupos
diômetro realiza a medição física em tida. Hoje, a forma de energia mais funcionais dos óxidos de ferro, da
unidades radiométricas para cada estudada é a refletida (reflectância). água, dos filosilicatos, óxidos de alu-
comprimento de onda (CO). mínio e de alguns compostos orgâ-
Vejamos este exemplo: uma amos- nicos. Logo, o formato da curva é o
Outro termo utilizado é a espec- tra de solo recebe sobre si a energia resultado da interação de todos os
troscopia (sinônimo de espectrora- em diferentes CO (por exemplo, en- componentes mineralógicos e orgâ-
diometria), relativo à análise da in- tre 350 e 2500 nm). Cada CO é espe- nicos existentes na amostra do solo
teração entre a matéria e qualquer cífico e carrega consigo uma quan- e está relacionado às suas quantida-
porção do espectro eletromagnéti- tidade definida de energia que, ao des, sendo passíveis de detecção e/
co. Por outro lado, a expressão ‘es- interagir com algum (s) componen- ou quantificação, guardadas as limi-
pectroscopia de reflectância’, para o te (s) do solo, provoca absorções, tações de algumas propriedades.
caso em estudo de solos, se refere à
análise de parte da radiação inciden-
te no objeto nas faixas vis-nir-swir,
mir (apesar de existir energia refle-
tida em outras faixas do espectro).
Espectrofotometria, por sua vez, é
empregada para o estudo da com-
posição química de gases e soluções
por meio de espectros da energia
absorvida (ex.: espectrofotômetro
de chama). O termo espectrome-
tria, por sua vez, faz referência aos
padrões de fragmentações molecu-
lares que são analisadas por meio
da incidência da REM sobre um
composto que absorve a energia
em determinados CO. É importante Fonte: Google: eutelsat-65-west
A espectroscopia apresenta impor- de quantificação. Quando ocor- Outro ponto em discussão na co-
tante potencial nas avaliações dos rem variações espectrais de solos, munidade científica é sobre quais
solos, por dispensar o preparo es- resultantes de fenômenos de ab- elementos podem ser efetivamen-
pecífico de amostras e uso de rea- sorção específicos, elas podem ser te quantificados. Em recentes re-
gentes químicos, além de ser mais associadas a algoritmos estatísticos visões sobre o tema, nos anos de
barata e rápida que as análises de regressão múltipla, possibilitan- 2014 e 2015, os pesquisadores
convencionais, possibilitando até do a quantificação de atributos dos Soriano-Disla, Nocita e coautores
o aumento da densidade amostral, solos, atividade realizada por espe- apresentaram, em números, os
bem como leituras diretamente em cialistas na área de Pedometria e avanços e limitações na quanti-
campo ou via satélite. Ademais, a Quimiometria (chemometrics). ficação de cada atributo do solo.
partir de uma única leitura espec- Concluíram, por exemplo, que os
tral, podem-se obter inúmeras in- De fato, iniciativas de utilização da principais atributos que têm obti-
formações sobre a amostra do solo. espectroscopia, como análise de do repetitividade e confiabilidade
rotina, incluindo a sua comercializa- são: granulometria, carbono e ca-
Os trabalhos pioneiros sobre espec- ção, já existem pelo mundo, como pacidade de troca catiônica, sen-
troscopia de reflectância na Ciên- exemplo na Austrália (Environmen- do necessários mais estudos para
cia do Solo foram propostos em tal Spectroscopy Laboratory/CSIRO), componentes químicos, como cál-
1965 pelos pesquisadores Bowers África (Soil-plant Spectral Diagnos- cio, magnésio e fósforo. Isso não
e Hanks, e em 1981 por Stoner e tics Laboratory/ICARFT) e, recente- desqualifica, entretanto, o foco da
Baumgarnder. No Brasil, foi efetiva- mente no Brasil, por meio do projeto comunidade internacional em uti-
mente introduzido por pesquisado- SpecSolo, da Embrapa. A técnica da lizar sistemas de data-mining (mi-
res do Instituto Nacional de Pesqui- espectroscopia, entretanto, não é neração de dados) associados a in-
sas Espaciais, na década de 1990, um método analítico, dependente, formações espectrais, no intuito de
com maior amplitude após 1995. portanto, das análises de laboratório obter modelos mais robustos para
tradicionais. Ainda há controvérsias a quantificações desses elementos.
Com o avanço de novos sensores sobre a sistematização de bancos de No entanto, ainda são necessários
terrestres e em satélites, além de dados (bibliotecas espectrais) que maiores esforços científicos para
ferramentas estatísticas de grande atendam necessidades locais, regio- chegar a resultados satisfatórios
poder de análise, hoje já é possí- nais, continentais ou, até mesmo, que atendam, de maneira inequí-
vel avaliar grande quantidade de mundiais, mas a possibilidade de voca, às necessidades, como os
dados, especificamente na linha quantificação é um fato. agrícolas.
A)
B)
Figura 1 a) Ilustração da interação entre solo e energia, e curva espectral do solo mostrando características de absorção fundamen-
tais de grupos funcionais, sobretons e combinação de tons no visível e infravermelho próximo (400 – 2.500 nm); b) Alternativas para
a avaliação do solo - Estratégia 1: via satélite; Estratégia 2: via laboratório; Estratégia 3: via campo. (Adaptado do capítulo de livro
Spectral Sensing from Ground to Space in Soil Science: State of the Art, Applications, Potential, and Perspectives, publicado, em 2015, no
Remote Sensing Handbook, por Demattê e colaboradores)
OPINIÃO
estudo do solo iniciou-se, primei-
ro, com o Landsat (1971), multies-
pectral com 5 bandas e evoluiu
para 220 bandas no Hyperion ou
600 da Aisa-Fenix em avião. Novos
satélites hiperespectrais estão em
franco desenvolvimento e na imi-
nência de serem lançados a partir
de 2017, tais como: o EnMap (Ale-
manha), PRISMA (Itália), SHALOM
(Itália-Israel), HypXIM (França),
HyspIRI (EUA) e HISUI (Japão). A
resolução espacial também evo-
luiu dos 30 metros (do Landsat)
para 30 cm de pixel do WorldView
3 e até 2 cm em VANTs e drones.
É lógico que, para cada nível de
obtenção de dados existem vanta-
gens e limitações, as quais devem
ser avaliadas pelo usuário e seus
objetivos.
OPINIÃO
gases do aquecimento global ou dar. Imagine se o planejamento de mesma área de superfície do que o
de ser levado com a enxurrada, ruas e estradas levasse em conta a campo do estádio do Maracanã (1ha
após a chuva ou desastres am- identificação de locais com maior ou 10.000 m2). Esse mineral influen-
bientais. presença de caulinita; ou ainda, se cia por características do solo como:
esse planejamento fosse feito com cor, eficiência de herbicidas e adu-
Assim como o DNA influencia a bio- base no comportamento magné- bação fosfatada. A variação mag-
diversidade, a mineralogia, interfe- tico, avaliado por sensores direta- nética desses minerais acompanha
re nas características dos solos, po- mente no campo1. essas características e pode ser re-
dendo ser relacionada à genética presentada por modelos matemáti-
dos solos. Os minerais encontrados Existem mais de 400 tipos de mi- cos (funções de pedotransferência).
no solo podem ser de dois tipos: (1) nerais registrados no planeta Ter- A expressão magnética da maghe-
aqueles que resistiram ao processo ra. Entretanto, na região tropical, mita é da ordem de 300 a 400 vezes
de transformação das rochas em grande parte das características dos maior do que a expressão magnéti-
solo, chamados de litogenéticos; solos e suas potencialidades estão ca da hematita e da goethita.
(2) os minerais que se formaram mais relacionadas a cinco minerais,
no solo, denominados pedogenéti- em grande parte pedogenéticos: Os minerais estão por toda a parte!
cos. As estruturas dos minerais que maghemita, hematita, goethita, O homem aprendeu a sintetizá-los
vieram da rocha e se formaram no caulinita e gibbsita. Eles são muito em laboratório e a utilizá-los no dia
solo são diferentes, conferindo ou- pequenos: seu tamanho é da ordem a dia: maghemita nos cartuchos de
tras características aos solos. Con- de 0,000002 cm. Mas, apesar do ta- impressora e as antigas fitas de gra-
sequentemente, o comportamento manho, eles têm grande impacto na vação (cassete e DVD), hematita nas
magnético também vai variar. sua vida, assim como bactérias, vírus tintas, minerais nos catalizadores
e grãos de pólen. Para exemplificar a dos escapamentos dos carros para
Conhecer a característica desses capacidade de interação desses mi- filtrar os gases e outras aplicações.
minerais, como se formam e como nerais com o meio ambiente, vamos As características dos minerais já
interagem no meio ambiente, con- falar sobre o conceito de superfície são observadas e utilizadas pelo ho-
tribui para o avanço de várias áreas específica: quanto menor mais rea- mem há 24 mil anos. As esculturas
práticas e da pesquisa, que refle- tivo. O principio da superfície es- dos soldados de terra cota, na China,
tem diretamente no dia a dia das pecífica é o que permite pequenas datados de 2.200 anos atrás, contêm
pessoas e na sua qualidade de vida. estruturas do seu intestino absor- caulinita que, certamente, contribui
Por exemplo: A capacidade da água verem os nutrientes ou limalhas de para o seu estado de conservação. E
de infiltrar no solo e a enxurrada ferro enferrujarem mais rápido do nas Ciências Agrárias e Ambientais,
estão relacionadas com dois mine- que uma peça maior. Pois bem: 90 como todo esse conhecimento so-
rais: a caulinita e a gibbsita. A água
tende a infiltrar mais lentamente
em solos cauliníticos do que em so-
los gibbsíticos. A água que não infil-
tra no solo, conhecida como enxur-
rada, arrasta desde nutrientes até
agroquímicos, presos nos minerais.
A caulinita e a gibbsita também in-
fluenciam no processo de compac-
tação do solo (aumento da dureza).
Solos mais cauliníticos tendem a
ter maior potencial à compactação
do que solos gibbsíticos. Na agri-
cultura, a compactação pode dimi-
nuir a produtividade agrícola, pois
dificulta o crescimento das raízes,
1
Veja o texto Pesquisa Pedométrica no Brasil
e saiba mais sobre a importância dos senso-
res para agricultura digital. Fonte: Acervo dos autores.
vem sendo utilizado? Como o mag- caulinita e gibbsita e assinatura es- muitas vezes tinham a mesma cor,
netismo pode ajudar na avaliação do pectral para vários outros tipos de pois um grama de hematita pode
potencial natural dos solos, expresso minerais. pigmentar até um quilo de solo na
em parte pelos minerais com dife- cor vermelho sangue. Assim, quan-
rentes padrões magnéticos?2 Mais recentemente uma técnica do o solo fosse atraído pelo ímã no
que tem sido proposta e utilizada campo, poderia saber se ele era
Assim como o avanço na área da em estudos básicos e aplicados originado da rocha basáltica ou
biotecnologia está relacionado à sobre mineralogia é a assinatura arenítica. Enquanto o imã avalia a
descoberta de novas técnicas para magnética. Nas décadas de 1970- atração magnética, a suscetibilida-
identificar o DNA e mapear os có- 1980, a atração magnética (solo de magnética avalia o potencial de
digos genéticos, os avanços na mi- atraído pelo ímã) era utilizada magnetização, ou seja, o quão fácil
neralogia estão relacionados aos como técnica auxiliar no campo. é a magnetização dos minerais pre-
métodos para identificar e carac- Sobre este assunto, trabalhos im- sentes. Esse potencial de magneti-
terizar esses minerais. O método portantes foram feitos no Brasil por zação está relacionado ao teor de
mais clássico para identificar e ca- Mauro Resende, Nilton Curi e Derli ferro presente nos minerais, tipo
racterizar os minerais é a difração Santana estudando Latossolos de de ferro e até mesmo presença de
de raios-x (DRX). A descoberta da Minas Gerais, Goiás e região cen- titânio3.
difração de raios-x dos minerais tral do Brasil. O ímã ajuda a sepa-
rendeu o Prêmio Nobel de Física rar, no campo, solos com elevado Desde, então, vários avanços ocor-
para o alemão Max Von Laue, em teor de ferro total (mais de 18 %), reram tanto na parte conceitual,
1914. Considerado padrão ouro, geralmente originado de basalto, quanto na parte tecnológica de
tal método requer um investimen- de solos com menor teor de ferro equipamentos para medir o po-
to de aproximadamente R$ 300,00 total, originados de outras rochas. tencial magnético de diferentes
por amostra para conhecer os mi- Grande parte desse ferro está na materiais, dentre eles a rocha e
nerais. Outros procedimentos tam- estrutura dos minerais, especial- o solo. Boas contribuições para o
bém podem ser utilizados, como: mente os óxidos de ferro (magneti- avanço do conhecimento básico
Mössbauer, para os óxidos de ferro ta, maghemita, hematita, goethita e aplicado da assinatura magnéti-
hematita e goethita; análises ter- e ferridrita), abundantes nos solos ca dos solos em diferentes partes
modiferencial (ATD) e termogra- tropicais. É esse ferro presente na do mundo têm sido feitas pelos
estrutura dos minerais que gera as
2
O texto Uma Visão Geral do Sensoriamento
expressões magnéticas. 3
Quer saber mais sobre o magnetismo dos
Remoto e Próximo na Ciência do Solo mostra solos? Leia Suscetibilidade magnética dos
aplicações da assinatura espectral, acredita- A atração magnética era utilizada, solos tropicais: uma alternativa promissora,
mos que a assinatura magnética possa se disponível gratuitamente no endereço ele-
completar aos dados espectrais. porque, apesar de serem origina- trônico < https://goo.gl/ji88zD >
OPINIÃO
dal Barrón, da Espanha; Tadeusz
Magiera, da Polônia; as irmãs Neli
e Diana Jordanova, da Bulgária;
Barbara Maher, no Reino Unido;
Qingsong Liu, na China; Antonio
Carlos Saraiva da Costa, Maurí-
cio Paulo Ferreira Fontes, Alberto
Vasconcellos Inda Junior, Marcelo
Metri Corrêa, no Brasil, entre mui-
tos outros.
CONTRIBUIÇÕES DA PEDOMETRIA
PARA A GOVERNANÇA DE SOLOS
E O PRONASOLOS
Waldir de Carvalho Junior
Maria de Lourdes Mendonça Santos
Lucia Helena Cunha dos Anjos
O s levantamentos de solo no
Brasil, iniciados na déca-
da de 1950, objetivavam o
atendimento a necessidades pre-
mentes de planejamento, em um
Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA) e à Em-
presa Brasileira de Pesquisa Agro-
pecuária (Embrapa) que estabe-
leçam mecanismos colaborativos
cenário de quase desconhecimen- e permanentes para organização,
to dos solos do país. Em face das sistematização e operacionalidade
limitações de ordem financeira e de dados provenientes de levanta-
de pessoal especializado, foram mentos de solos do Brasil.
executados apenas mapeamentos
generalizados. Nesse contexto, fo- Em atendimento às recomenda-
ram poucos os trabalhos executa- ções do referido Acórdão, foi cons-
dos em escala de maior detalhe, tituído pela Embrapa um Grupo
necessários para embasar o pla- de Trabalho formado por profis-
nejamento das atividades de uso e sionais de diversas instituições de
conservação da terra. ensino e pesquisa do país, atuan-
tes na área da Ciência do Solo,
Recentemente, o Tribunal de Con- visando à elaboração de um Pro-
tas da União (TCU), em seu Relató- grama Nacional de Solos do Brasil
rio de Auditoria TC 011.713/2015- (Pronasolos).
1, apontou que a insuficiência de
informações e a dificuldade de Os objetivos principais do Prona-
acesso a dados de solos, devido à solos são a retomada da realização
inexistência de um sistema único dos levantamentos pedológicos
ou de uma plataforma que permita em caráter multiescalar e respec-
a interpretação desses dados, são tivas interpretações, compatibiliza-
fatores que comprometem o pla- da com as demandas oriundas das
nejamento, a execução e o monito- políticas de governo para o setor.
ramento das políticas públicas para Além disso, visa estabelecer uma
o uso sustentável da terra. base de dados integrada, na qual
as informações de solos estejam
Com base nessas constatações, organizadas e sistematizadas para
foi firmado o Acórdão TC n° consulta do público em geral. O
1942/2015, que determina, den- Pronasolos foi estruturado em três
tre outras providências, a inclu- níveis de atuação: Estratégico, Táti-
são, no próximo Plano Plurianual co e Operacional.
(PPA), de um programa nacional
de levantamentos e interpretação Para que as funções de governança
de solos, bem como recomenda ao sejam executadas de forma satisfa-
OPINIÃO
estratégia e controle devem estar na sua execução. Controle, por sua nal multi-institucional e o segundo,
presentes. A liderança refere-se ao vez, abrange aspectos, como trans- dos arranjos estaduais e regionais.
conjunto de práticas de natureza parência, prestação de contas e O nível tático terá coordenação da
humana ou comportamental que responsabilização. Embrapa Solos. O nível operacional
asseguram a existência das condi- refere-se à execução propriamente
ções mínimas para o exercício da Para o Pronasolos, foram definidos dita dos levantamentos e interpre-
boa governança. A estratégia en- três níveis de governança, confor- tações de solos, dos treinamentos,
volve o relacionamento com partes me a figura 1. O nível estratégico da execução de sistemas de acesso
interessadas, a definição e monito- se refere à alta instância do gover- e controle de dados, etc.
ramento de objetivos, indicadores no federal e será coordenado pelo
e metas, bem como o alinhamento MAPA. O nível tático trata de dois Devemos considerar também que
entre planos e operações de uni- subníveis, sendo o primeiro focado existe um sinal claro de que vive-
OPINIÃO
desta disciplina que poderão ser
construídos índices e procedimen-
tos de amplo espectro de uso. O
programa comportará validações
e interpretações em escalas dife-
rentes e em regiões distintas do
país. As validações vão assegurar
a qualidade dos produtos gerados,
e as interpretações serão conduzi-
das de forma a gerar produtos ho-
mogêneos e de alto impacto para
diversos fins.
PESQUISA PEDOMÉTRICA
NO BRASIL
Budiman Minasny
Mapeamento digital do
solo
O Brasil é um país grande em ex-
tensão e um dos mais inovadores:
foi o primeiro a usar, em escala na-
cional, um radar para mapear o seu
solo. A pesquisa em mapeamento
digital do solo tem sido adotada
por muitos grupos de pesquisa
(Ten Caten, etc.), principalmente
Figura 1 Modelagem de fatores agrícolas e ambientais.
OPINIÃO
duzida se tivermos informações ajudar a desvendar as lacunas da
detalhadas sobre as propriedades produção. Essa análise também
do solo. pode fornecer um feedback sobre
como manejar mais preci-
Espectroscopia samente os solos que
do solo maximizam a pro-
A espectroscopia dução de forma
infravermelha sustentável (Figu-
progrediu ra- ra 1).
pidamente na
última década, O Brasil é tra-
com muitos gru- dicionalmente
pos de pesquisa, forte na área de
especialmente o do Pedologia e mapea-
professor José Demattê, mento convencional do
em São Paulo, medindo e solo. Com o avanço da
mapeando o solo de um tecnologia e com a dupli-
horizonte, perfil, campo cação do poder de proces-
e região, a partir de uma samento computacional, a
amostra. cada dois anos, de acordo
com a lei de Moore, pre-
Eu vejo o Brasil como um cisaremos progredir rapi-
líder neste tema e damente na ciência
sinto que o país de- Figura 1 A agricultura digital permite a aplicação de técnicas pedométricas para fazer uso dessa
veria passar da pes- para manejar os solos de forma eficiente em grandes áreas de produção tecnologia. Podemos
agrícola
quisa para aplicações conciliar Pedometria
práticas, implemen- e Pedologia, além de
tando espectroscopias NIR como to da mudança no uso da terra, testar hipóteses sobre a influên-
novas ferramentas de medição sem a necessidade de depender cia das plantas na gênese do solo,
das capacidades do solo. Isso per- de simulações computacionais ou usando técnicas pedométricas e
mitiria uma análise rápida do solo extrapolações a partir de fazendas de detecção proximal. Nos estu-
para caracterizar suas capacidades experimentais. O monitoramento dos de classificação do solo, o Bra-
e condições. Os dados de solo, ge- bem projetado pode ser econômi- sil pode contribuir muito para o
rados rapidamente a partir desse co e fornecer uma avaliação po- Sistema Universal de Classificação
sistema, poderiam ajudar os agri- derosa dos estoques (carbono) do de Solos.
cultores a gerenciar seus insumos solo e suas alterações. Isso porque
para otimizar a produção. poderíamos saber, com confiança, Estamos vivendo uma era rica em
qual a direção que o solo está to- dados, mas – é claro - a obtenção
Monitoramento do solo mando. Além disso, permitiria a de dados de solos ainda é dispen-
Como a mudança no uso da terra descoberta de novas hipóteses em diosa. Mas esta é também uma
está acontecendo a um ritmo rápi- grande escala, que não podemos oportunidade de usar essa rique-
do no Brasil, precisamos quantifi- ver em experimentos convencio- za de dados a nosso favor, visando
car como os solos respondem a tal nais. obter melhores informações sobre
mudança. A maioria dos pesqui- o solo, compreendendo sua distri-
sadores teme que isso seja caro e A agricultura é digital buição e mudanças em resposta ao
complexo. No entanto, a Pedome- Com o aumento da expansão agrí- ambiente e às atividades humanas.
tria tem avançado nesse campo e cola em grandes áreas, incluindo o Essa evidência nos permitirá ma-
um projeto econômico pode ser Cerrado, a Pedometria pode incluir nejar melhor os solos.
implementado em áreas-chave. o big data (grande volume de infor-
mações) produzido por tais ope-
Com um monitoramento bem pla- rações agrícolas de grande escala. Budiman Minasny é professor na Uni-
nejado, deveremos ser capazes de Cruzando os dados de produção versidade de Sydney, Austrália. E-mail:
quantificar com confiança o efei- com de insumos, do meio ambien- budiman.minasny@sydney.edu.au
José Elias de Paiva Neto Raimundo da Costa Lemos Antonio Ramalho Filho
1949 /1951 1973/1975 1997/1999
José Emílio Gonçalves de Araújo José Fernando Moraes Gomes Flávio Anastácio de Oliveira Camargo
1961/1963 1985/ 1987 e 1987/1989 2007/2009 e 2009/2011
João Wanderley da Costa Lima Fernando Barreto Rodrigues e Silva Gonçalo Signorelli de Farias
1963/ 1965 1989-1991 2011/2013 e 2013/ 2015
pode deixar de render justa ho- Internacional de Ciência do Solo de científica que tem contribuído
menagem a Antônio Carlos Moniz (IUSS). Neste período destaca-se muito para o sucesso o uso racio-
(pesquisador da IAC) que liderou o a atuação de dois professores da nal e sustentável dos solos bra-
movimento que criou a secretaria UFV: Roberto Ferreira de Novais e sileiros e, indiretamente, para a
executiva da SBCS, em Campinas; Victor Hugo Alvarez V. economia do país.
o Boletim Informativo, em1975; a
RBCS, em 1977 e participou ativa- Nestes 70 anos a SBCS já promo- Há muito o que comemorar, mas
mente da diretoria da SBCS até a veu 36 Congressos Brasileiros de sobretudo, há muito o que fazer
sua morte, em junho de 2003. Ciência do Solo e muitos outros para que a jovem senhora SBCS
eventos específicos das áreas de continue amadurecendo com vi-
A terceira fase da SBCS foi inicia- Fertilidade, Biologia, Manejo e gor e otimismo. Isso depende de
da em 1997, com a transferência Conservação e Classificação e Cor- todos nós que somos e pertence-
da secretaria executiva para Vi- relação de Solos, além de dezenas mos a ela.
çosa, onde ainda permanece se- de livros publicados e 41 volumes
diada no Departamento de Solos da RBCS, que agora é um periódico Para marcar os 70 anos, o Boletim
da Universidade Federal de Viço- com reconhecimento internacio- Informativo pediu aos ex-presi-
sa (UFV). Esse período tem sido nal. As comemorações dos 70 anos dentes vivos que escrevessem um
marcado pela profissionalização culminará coma realização do 21º pequeno texto vislumbrando o fu-
dos sistemas de gerenciamento e Congresso Mundial de Ciência do turo da SBCS. A todos, nosso mui-
comunicação da SBCS e à sua in- Solo, em agosto de 2018, no Rio to obrigado.
ternacionalização, possibilitada de Janeiro. Será o marco definitivo
por meio da adequação da sua es- da maturidade científica e prestí- Reinaldo Cantarutti
trutura organizacional às da União gio internacional de uma socieda- Secretário Geral da SBCS
Egom Klant
1991/1993 - 1993/1995
A
sediar o XXV Congresso. Foram oito seja considerada não uma idosa ati-
SBCS está comemorando anos seguidos na linha de frente da va, mas, sim, a cada dia, jovem há
70 Anos. São sete décadas SBCS: dois anos como presidente e mais tempo. Para isso, há que se in-
de contribuições, especial- seis como vice-presidente. Anos in- vestir, cada vez mais, no inevitável
mente em ensino e pesquisa, com tensos, com a idealização e presidên- e inexorável caminho da Tecnologia
a geração de conhecimento e pro- cia do I Simpósio Brasileiro de Ensino de Informação e na informação ins-
cessos associados a diferentes sis- de Solos (Viçosa/1994); a liderança da tantânea. Se hoje a SBCS já se utili-
temas sociais e a cadeias produti- comissão organizadora e a presidên- za de ferramentas de T.I. (internet,
vas ligadas a esse recurso natural cia do XXV Congresso (Viçosa/1995); e-mail, Facebook e Twiter), ela tem
essencial e tão pouco conhecido e a preparação, a transição e a transfe- que passar a avaliar a utilização das
valorizado: o solo. rência da sede de Campinas para Vi- demais ferramentas disponíveis e
A trajetória e a vitalidade des- çosa; a consolidação de uma nova e das que ainda virão a ser disponibi-
sa jovem senhora foram forjados a moderna estrutura, que perdura até lizadas. Qual o uso possível para o
partir do trabalho de muitos, des- hoje. Dessa fase, vem à memória no- WhatsApp? Para o Instagram? Para
de os abnegados pioneiros que, mes com os quais tive o privilégio de o Snapchat? Para os Wikis? Para o
em meados do século passado, dividir os rumos da Sociedade. Sem Second Life? Para o Flickr? Para o
tiveram a ousadia e a coragem de citar os de Viçosa, destaco: Moniz, Pinterest? Que tal um canal de co-
fincar suas fundações, de forma li- Egon, Ramalho, Sônia, Leonor, João nhecimento com vídeos sobre So-
teral, em solo firme, até os atuais Roberto, Roque... los, no YouTube? Em suma, como
participantes; desde aqueles en- O último evento da Sociedade de utilizar, de maneira eficiente, as mí-
volvidos no conselho diretor, na que participei com intensidade foi dias sociais?
diretoria executiva, nas divisões o XXVI Congresso, no Rio de Janei- Em tempos de informação ins-
e comissões especializadas, nas ro, quando a comemoração era dos tantânea, o Google nos apresenta
diretorias dos núcleos regionais, 50 Anos da SBCS. Era 1997, um ano 299 mil resultados para a busca de
passando, acima de tudo, pelos divisor de águas em minha vida pro- pedologia (0,32 segundos). Res-
associados - razão e força da So- fissional. Esse ano marcou o início ponde com 1.010.000 para ciência
ciedade. de meu afastamento do cotidiano da do solo (0,49s). São 1.850.000 para
Minha iniciação na SBCS se Ciência do Solo, em função de minha solo fértil (0,49s).
deu em 1979, no XVII Congresso progressiva e intensiva imersão num E, para a jovem senhora, cheia
de Solos, de Manaus. Pesquisador mundo novo e desafiador: o das gran- de vitalidade, de carisma e de
da Embrapa-Solos, convivi com al- des questões ambientais e, acima de charme, o Google apresenta, para
guns dos mais destacados colabo- tudo, o fascinante mundo da Educa- a pesquisa Sociedade Brasileira de
radores da SBCS no período. Des- ção Ambiental! Assim, a comemo- Ciência do Solo, 966 mil respostas,
sa época, ficaram as lembranças ração dos 70 anos da SBCS coincide em exatos 0,40 segundos... Jovem
de expoentes, como: Camargo, com meus 20 anos de Educação Am- há mais tempo, a SBCS desperta,
Lucedino, Klinger, Clotário, Olmos, biental. Nessas duas décadas, foram cada vez mais, atenção e admira-
Bertoldo, Igor e Curi, entre tantos. mais de uma centena de projetos ela- ção...
A
de Ciência do Solo, que será realizado ga que vinha sendo desenvolvida de
SBCS é uma das mais anti- em 2018. forma lenta e gradual liderada por
gas sociedades científicas Sob os seus auspícios vem sendo Marcelo Nunes Camargo da Embrapa
entre as suas congêneres. apoiadas e divulgadas iniciativas im- Solos e consolidada nos anos 1990
Fundada em 1947 promoveu neste portantes de diversas instituições de com a sua conclusão, publicação e
mesmo ano o primeiro Congresso pesquisa e ensino no desenvolvimento lançamento em 1999, durante o 28º
Brasileiro de Ciência do Solo - CBCS de metodologias e diversos manuais, Congresso Brasileiro de Solos e tem
na cidade do Rio de Janeiro. Des- notadamente sobre Fertilidade e Bio- sido aperfeiçoado em novas edições.
de lá, vem promovendo eventos logia do solo, o Sistema de Classifica- Entre importantes atividades e
organizados por diferentes institui- ção da Capacidade de Uso das Terras, realizações cabe destacar a publica-
ções de pesquisa e ensino no país, o Sistema de Avaliação da Aptidão ção da Revista Brasileira de Ciência
com destaque para os congressos das Terras (3ªEd. 1995), e o Sistema do Solo desde 1977. Esta revista é
de solos, reuniões de manejo e Brasileiro de Classificação de Solo. Es- indexada pelo ISI Web of Knowledge
conservação de solos e reuniões tes dois últimos, desenvolvidos para e seu bom índice de impacto a classi-
de fertilidade e biologia do solo. atender às condições de ambientes fica entre os melhores periódicos de
No ano de seu jubileu promoveu o tropicais, representam, sem duvida, Ciência do Solo não publicados em
27ºCBCS em 1997 na mesma cida- atitudes de coragem e capacidade inglês, com padrão A Internacional.
Mariângela Hungria
2001/2003
A
Eventos, na época no meio do campo, grupos de trabalho para convencer
primeira percepção que tive entre Recife e Olinda, e agora cercado o professor Victor Hugo que isso po-
da SBCS foi em 1989, quan- de urbanidade. Conseguimos trazer a deria ser uma forma de aumentar a
do apresentei meu primeiro 31ª. edição do evento em Gramado e, participação e o envolvimento dos
trabalho no Congresso Brasileiro apesar do frio, conseguimos quase do- sócios e diminuir a sua carga - pelo
de Ciência do Solo, realizado em brar o público do evento anterior. Tam- menos nos assuntos considerados
Recife. Estava me formando e fi- bém concretizamos a ideia do professor mais técnicos. Combinamos que ele
quei impressionado com a presen- José Siqueira de criar o prêmio Antônio ia tratar da revisão do nosso estatu-
ça de vários autores dos livros-tex- Carlos Moniz, que hoje está consolida- to para adequar a estrutura da IUSS,
tos que utilizávamos na graduação. do e vem reconhecendo grandes vultos enquanto eu trataria da organização
Fiz a apresentação na forma de da nossa Ciência do Solo. da nossa viagem a Brisbane para de-
pôster e, assim que terminei, o Na reunião do conselho, o profes- fender a candidatura brasileira.
meu orientador, professor Gabriel sor Mateus Ribeiro, então presidente O estatuto foi aprovado com a
de Araújo Santos, se afastou - e eu da SBCS, começou os trabalhos infor- nova estrutura técnica e administrati-
fiz o mesmo em direção à praia. mando que não disponibilizaria seu va e nós fomos vencedores da conten-
No ano seguinte, comecei o nome para a reeleição. O professor da com a Itália para sediar o Congres-
mestrado em Solos na Rural do Victor Hugo, então secretário executi- so Mundial. Depois disso, o professor
Rio de Janeiro e aí muitos desses vo da SBCS - que estava resoluto em Victor Hugo, mais sossegado com os
autores viraram celebridades para relação à SBCS sediar o congresso novos rumos da SBCS, feliz com os
mim. E a praia - com as provas do mundial -, não viu outra alternativa, Núcleos e as Divisões se consolidan-
professor Ary Veloso e as deman- senão me convencer a encarar agora do, saiu à francesa, com a sensação do
das dos demais professores - ficou os meus novos ídolos, autores dos li- dever cumprido, e deixou a batuta de
só na lembrança. Já docente do vros-textos do doutorado, quase todos secretário geral da SBCS nas mãos do
Departamento de Solos da UFRGS, integrantes do conselho da IUSS. professor Reinaldo Cantarutti.
fui secretário do Núcleo Regional Mais preocupado em não decep- A imagem que me passaram do
Sul e, quando elaborei a página do cionar o professor Victor Hugo do que professor Victor Hugo era de que ele
núcleo, me familiarizei com a rica a SBCS, viajei para Brisbane, em 2008, não era muito flexível, que exercia
história da Ciência do Solo gaúcha para representar o Brasil. Era um guri certa autoridade, que tinha perso-
- até então pouco conhecida para no meio daquela turma de velhos mes- nalidade forte e que quem decidia
mim. tres. Acho que eles gostaram do meu era ele, etc. Minha convivência com
ele mostrou que ele era exatamente para comprar publicações com des- a nossa Ciência do Solo e as nossas
o contrário, ou seja: que ouvia, que conto. Ainda acho que o professor realizações.
dava oportunidade, que confiava, Victor Hugo só me convidou para a Estou no Conselho da SBCS des-
que era generoso e, algumas vezes, presidência para que eu mantives- de 2007, mas encerro minha par-
até magnânimo. Ainda tentou, sem se as anuidades em dia. Se tenho, ticipação no ano que vem, com o
sucesso, me ensinar a escolher e a na medida do possível, me mantido Congresso Mundial, onde espero
apreciar um bom vinho. No final me apoiando as ações da SBCS em rela- mostrar o que temos de melhor
disse: “na dúvida, nunca compre por ção ao Congresso Mundial, é porque e tomar um bom vinho ao lado do
menos de R$ 50,00”. ainda continuo tentando não decep- professor Victor Hugo e de todos os
Sempre fui e ainda sou um só- cionar o professor Victor Hugo, que, parceiros empenhados em realizar
cio de quinta categoria, só quitan- mesmo de longe, deseja ver o seu este sonho dele, agora comparti-
do minha anuidade quando tenho sonho realizado, ou seja: dar à SBCS lhado por todos nós, integrantes da
que fazer inscrição em evento ou a oportunidade de mostrar o mundo septuagenária SBCS.
Alguns dos pesquisadores que deram grandes contribuições à SBCS nestes 70 anos
Da esquerda para a direita: Álvaro Barcelos Fagundes: um dos criadores e primeiro presidente da SBCS. Foi ativo até 1961 e um dos fun-
dadores do CNPq, em 1955; Antonio Carlos Moniz, o pesquisador do IAC criou a Secretaria Executiva da SBCS, em Campinas, o Boletim
Informativo, em1975, a RBCS, em 1977, e foi editor das publicações entre 1981 e 1997. Participou ativamente da diretoria da SBCS, de
1973 até a sua morte, em junho de 2003; Roberto Ferreira de Novais: professor da Universidade Federal de Viçosa,foi editor-chefe da
RBCS entre 1997 e 2015 e mentor das sete edições dos Tópicos em Ciência do Solo e de quatro livros-textos em Ciência do Solo que são
utilizados em todos os cursos de ciências agrárias no país; Victor Hugo Alvarez V. O professor da UFV foi quem conduziu a adaptação do
Estatuto da SBCS ao da IUSS e liderou as mudanças que descentralizaram a Sociedade e criaram os Núcleos Regionais e Divisões Especia-
lizadas. Reinaldo Cantarutti: Atual secretário geral da SBCS e membro ativo da diretoria desde 2001.Tem sido responsável pela moderni-
zação da gestão da SBCS e da RBCS, incentivando o processo de internacionalização.