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editorial

C
hegamos ao final de 2017— um ano denso e tenso! No Brasil, uma reflexão sobre a participação feminina na construção da Ciên-
ainda que a economia dê sinais de recuperação, as barbáries cia do Solo brasileira e da SBCS. Foi uma edição memorável!O se-
de uma crise política, moral e ética nos deixam perplexos. gundo número tratou de “As funções do solo, suas fragilidades e seu
Em escala global assistimos ao ressurgimento de uma corrida arma- papel na provisão dos serviços ecossistêmicos”. Qualquer exaltação
mentista insana. O planeta exibe recordes de temperatura e eventos sobre este tema seria redundância. Para fechar o ano temos um tema
extremos, enquanto a 23ª Conferência da ONU sobre Mudanças atual e de grandes perspectivas na ciência do solo: “Pedometria,Ma-
Climáticas — COP23 registra retrocessos. pas Digitais e Convencionais de Solos e os Modelos Conceituais
Solo-Paisagem”. Os oito artigos evidenciam que o potencial desse
Há, todavia, o que se comemorar. A AGRICULTURA BRASILEIRA conhecimento vai muito além do mapeamento digital.
—digna de ser escrita em maiúsculas— atinge a produção recorde de
240 milhões de toneladas de grãos, 30 % a mais que em 2016. Incre- Ainda que os festejos tenham sido poucos, os 70 anos da SBCS foram
mento que se deu às custas de um aumento de apenas 7 % da área densamente comemorados com muito trabalho, dedicação e partici-
cultivada. Um ganho de produtividade que, sem dúvida reflete as téc- pação. Estamos prontos para viver os júbilos dos 70 anos em 2018
nicas geradas pela ciência agrícola brasileira, em particular a Ciência com uma motivação ímpar: realizar um grande “21st Word Congres-
do Solo. O agronegócio foi responsável por 40 % das exportações bra- so of Soil Science”. Concretizaremos um projeto iniciado em 2010, em
sileira e 23 % do PIB. Se considerarmos toda a produção agrícola es- Brisbane, Austrália. O trabalho tem sido e será duro, mas o sucesso
tima-se que são extraídos dos solos brasileiros 1,6 bilhão de toneladas fará muito bem à Ciência do Solo brasileira. Para isso precisamos de
de produtos, utilizando-se apenas 9 % do território nacional. uma Sociedade fortalecida com a dedicação e participação de seus
sócios. Potencializaremos essa energia ampliando o número de só-
Em 2017, a SBCS chegou aos 70 anos, debruçada sobre uma rica cios na SBCS. Finalizamos 2017 com apenas 800 sócios, embora haja
história, muitas estórias, um sólido presente e um futuro sem fron- um potencial de pelo menos 3 mil, considerando o número de pro-
teiras. Ainda que pareça paradoxal somos uma Sociedade jovem, fissionais que atuam na Ciência do Solo no Brasil. Se cada um dos
o que é revelado pelo público predominante em nossos Congresso atuais 800 sócios motivarem a participação de pelo menos três dos
e Reuniões e pelo sucesso de nossas mídias sociais. Realizamos o seus pares seremos 2.400. Lancemos para 2018 esta campanha, para
XXVI Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, em Belém, nova- honrarmos ainda mais os 70 anos da nossa Sociedade.
mente na Amazônia, 32 anos após o primeiro. Os Núcleos Regionais
e Estaduais da SBCS também mostraram vigor com a realização de Apesar do ano difícil que termina, esta retrospectiva de 2017 nos
eventos como a 5ª Reunião Paranaense de Ciência do Solo e a 4ª Re- mostra que o saldo é altamente positivo em favor do bom, do bem,
união Nordestina de Ciência do Solo. O Núcleo Regional Noroeste do favorável e do sucesso. E sempre é assim! Prevalece o bem sobre
participou da organização e realização da XIIRCC, em Rondônia, o mau. Uma das razões, com certeza, é que a “esperança” habita cada
inovando com a realização excursões, uma em 2017 e outra que um de nós e reflete-se no senso coletivo. E na renovação do ano esse
será o ano que vem para ampliar o acesso dos participantes. No âm- sentimento é ainda mais exacerbado, como muito bem expressa o
bito editorial, foi com louvor que chegou às prateleiras da livraria da poeta Drumond: “...doze meses dão para qualquer ser humano se
SBCS o livro Pedologia:Solos dos Biomas Brasileiros, completando cansar e entregar os pontos.Aí entra o milagre da renovação e tudo
a série Pedologia. As inovações na Revista Brasileira de Ciência do começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar
Solo iniciadas em 2015 estão consolidadas. Temos agora uma re- que daqui pra diante vai ser diferente”.
vista eletrônica, em inglês e um layout arrojado, sem perder o foco
na excelência da ciência. Boletim Informativo, também com uma Feliz Natal e que façamos por nós, pela SBCS e pelo Brasil um 2018
nova qualidade gráfica, continuou divulgando os acontecimentos da diferente!
SBCS e evidenciou temas atuais e relevantes para a sociedade em
geral. Assim, abriu o ano abordando o tema “As mulheres na Ciência
do Solo”, um desafio proposto pela nossa presidente, Fatima Maria Reinaldo Bertola Cantarutti
Moreira. Foram nove artigos que possibilitaram o resgate histórico e Secretário Geral da SBCS

SBCS
Fique atento ao site, Fanpage e twitter
da SBCS. Nas nossas mídias sociais você
encontra notícias atualizadas sobre a
Ciência do Solo e áreas afins e informa-
ções sobre concursos e editais de interes-
nas mídias sociais se para quem é pesquisador.

www.sbcs.org.br /sbcs.solos /sbcs_br

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 1


CONSELHO DIRETOR
NOTÍCIAS
Biênio 2017/2019
PRESIDENTE
Fatima Maria de Souza Moreira (UFLA) 4 Núcleos Regionais da SBCS têm novas
diretorias
VICE-PRESIDENTES
Milton Ferreira de Moraes (UFTM)
Antonio Rodrigues Fernandes (UFRA)
5 XII Reunião de Classificação e
Correlação de Solos é realizada em
SECRETARIA EXECUTIVA (UFV) Rondônia
Secretário Geral

6
Reinaldo Bertola Cantarutti (UFV) Núcleo Nordeste promove IV Reunião
Secretário Adjunto
Nordestina de Ciência do Solo no Piaui
Raphael B.A Fernandes (UFV)
Tesoureiro
Igor Rodrigues de Assis (UFV)

EX-PRESIDENTES 7 UFERSA realiza Simpósio de Manejo de


Solo e Água
Gonçalo Signorelli de Farias
Flávio A. Camargo (UFRGS)

EDITOR DA RBCS
José Miguel Reichert (UFSM)
8 As comemorações do Dia Mundial do
Solo

9
DIRETORES DAS DIVISÕES ESPECIALIZADAS
Divisão 1: Solo no Espaço e no Tempo Embrapa lança Programa Nacional
Lucia Helena Cunha dos Anjos (UFRRJ) de Solos do Brasil com apoio de
Divisão 2: Processos e Propriedades do Solo universidades e instituições de pesquisa
Dalvan José Reinert (UFSM)

14 Os preparativos para o Congresso


Divisão 3: Uso e Manejo do Solo
Ildegardis Bertol (UDESC)
Divisão 4: Solo, Ambiente e Sociedade
Mundial de Solos no Brasil
Cristine Carole Muggler (UFV)

DIRETORES DOS NÚCLEOS DA SBCS


Núcleo Regional Amazônia Ocidental (Amazônia e RR):
José Frutuoso do Vale Júnior (UFRR)
Núcleo Regional Amazônia Oriental (MA, TO, PA, AP)
Antonio Rodrigues Fernandes (UFRA)
Núcleo Regional Noroeste (AC e RO)
Paulo Guilherme Salvador Wadt (Embrapa-RO)
Núcleo Regional Nordeste (BA, SE, AL, PB, PE, CE, RN, PI)
Júlio César Azevedo Nóbrega (UFRPE)
Núcleo Regional Centro-Oeste (MT, MS, GO, DF)
Robélio Leandro Marchão
Núcleo Regional Leste (MG, ES, RJ)
André Garçoni Martins
Núcleo Estadual São Paulo (SP)
Rafael Otto (Esalq-USP)
Núcleo Estadual do Paraná
Oromar João Bertol (Emater-PR)
Núcleo Regional Sul (RS e SC)
Maurício Vicente Alves (Unoesc-SC)

SECRETARIA DA SBCS
Cíntia Fontes
Denise Cardoso
Denise Machado

www.sbcs.org.br
Tel: 31 3899-2471

2| BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


OPINIÃO
PEDOMETRIA, MAPAS DIGITAIS E
CONVENCIONAIS DE SOLOS E OS
16
MODELOS CONCEITUAIS SOLO-
PAISAGEM

Pedometria: uma breve


contextualização nacional e 18
mundial

Dados para aplicações


pedométricas em larga escala
no Brasil
22
Pedometria e uso de novas
tecnologias 25
Uma visão geral sobre
sensoriamento remoto
e próximo na Ciência do Solo
29
34
Assinatura magnética dos
solos: mineralogia e o DNA dos
solos tropicais

38
Contribuições da Pedometria
para a governança de solos e o
Pronasolos

42
Pesquisa Pedométrica
no Brasil

70 ANOS
Os 70 anos da Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo na 44
visão de seus ex-presidentes

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 3


NOTÍCIAS
Núcleos Regionais da SBCS
têm novas diretorias
Encerrando o ano de renovação, três Núcleos Regionais da
SBCS elegeram novas diretorias neste segundo semestre.

Núcleo Regional Núcleo Regional Núcleo Amazônia


Centro-Oeste Leste Oriental
O pesquisador Robélio Leandro O pesquisador Andre Guarconi O professor Antonio Rodrigues
Marchão (foto), da Embrapa Cer- Martins (foto) foi eleito o novo dire- Fernandes (UFRA) será diretor do
rados de Planaltina-DF é o novo tor do Núcleo Regional Leste (NRL/ Núcleo Amazônia Oriental da SBCS.
diretor do Núcleo Regional Cen- SBCS) para o mandato 2017/2019. Ele presidiu o XXXVI Congresso Bra-
tro-Oeste (NRCO/SBCS). A eleição Ele é pesquisador do Instituto Capi- sileiro de Ciência do Solo, realizado
aconteceu nos dias 27 e 28 de xaba de Pesquisa, Assistência Téc- este ano, em Belém do Pará e ocu-
setembro e só houve uma chapa nica e Extensão Rural (Incaper). pará o cargo até 2019.
inscrita, que obteve 100% dos vo- Confira a nova diretoria para o Confira a nova diretoria para o
tos. Confira a nova diretoria para o mandato 2017/2019: mandato 2017/2019:
mandato 2017/2019:
• Diretor: André Guarçoni Mar- • Diretor: Antonio Rodrigues
• Diretor: Robélio Leandro Mar- tins (ES) Fernandes – UFRA Belém
chão (Embrapa Cerrados, Pla- • 1º Vice-Diretor: Felipe Vaz An- • Primeiro Vice-diretor: Antonio
naltina - DF) drade (ES) Clementino dos Santos – UFT
• 1º Vice-diretor: Cid Naudi Silva • 2º Vice-Diretor: Renato Ribeiro Araguaína
Campos (UFMS, Chapadão do Passos (ES) • Segundo Vice-diretor: Khalil de
Sul - MS) • Secretário Geral: Marcos Ger- Menezes Rodrigues – UFMA
• 2º Vice-diretor: Dácio Olibone vasio Pereira (RJ) Chapadinha
(IFMT, Sorriso - MT) • Tesoureira: Maria Catarina Me- • Secretário Geral: Régia Maria
• Secretário: Cícero Célio de Fi- gumi Kasuya (MG) Reis Gualter – IFMA Caxias
gueiredo (UnB, Brasília - DF) • Tesoureiro: Vania Silva de Melo
• Tesoureiro: Rilner Alves Flores – UFRA Belém
(UFG, Goiânia - GO)

4| BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


XII RCC é realizada em Rondônia

NOTÍCIAS
A SBCS realizou, entre os dias
9 e 16 de setembro, em
Rondônia, a XII Reunião de
Classificação e Correlação de So-
los (RCC). O evento foi organizado
Na primeira excursão, foram visita-
dos um perfil de solo no município
de Canutama, no Estado do Ama-
zonas, e 13 perfis em Rondônia,
distribuídos entre os municípios de
nidade de conhecer novos ambien-
tes e avaliar solos pouco estudados
na Amazônia como um perfil com
alto teor de matéria orgânica, mas
sem a expressão de cargas trocá-
pelo Núcleo Regional Noroeste da Porto Velho, Ariquemes, Machadi- veis (CTC nula), um Latossolo cau-
SBCS e organizado pela Embrapa nho do Oeste, Ouro Preto do Oes- linítico com caráter ácrico e outro
Rondônia, Embrapa Solos, Uni- te, Rolim de Moura, Alta Floresta em que se discutiu o caráter sôm-
versidade Federal de Rondônia, do Oeste, Pimenta Bueno, Colora- brico; além de perfil com horizon-
Universidade Federal Rural do Rio do do Oeste, Pimenteiras do Oeste te antrópico (Terra Preta de Índio)
de Janeiro, Instituto Brasileiro de e Vilhena. ainda pouco estudado no estado
Geografia e Estatística (IBGE)e o de Rondônia.
Serviço Geológico do Brasil, com Segundo os coordenadores, os par-
suporte do Instituto Federal de ticipantes da RCC tiveram a oportu- Os organizadores deram aos parti-
Educação (IFRO). A coordenação cipantes um Guia de Campo com
geral foi do pesquisador Paulo informações sobre a caracteriza-
Guilherme Wadt (Embrapa Ron- ção dos solos a serem visitados,
dônia). além da história, geodiversidade
e cobertura florestal de Rondônia.
A XII RCC foi dividida em duas ex- Também foram disponibilizados
cursões para permitir maior nú- capítulos adicionais sobre as pes-
mero de participantes e dar opor- quisas realizadas com esses solos
tunidade para que interessados (pesquisas Coligadas), para suporte
de várias instituições de possam a discussão durante o evento.
conhecer melhor a realidade do
ambiente de produção agrícola e A segunda excursão ocorrerá de 1
os solos de Rondônia. a 8 de agosto de 2018 e a pré-ins-
crição poderá ser feita diretamente
Esta primeira viagem contou com no site do evento: http://sbcs-no-
um total de 84 participantes. Des- roeste.agr.br/rcc/xiircc/inscricoes.
tes, 74 são sócios da SBCS. Entre html.
os participantes, 78 se inscreveram
como profissionais e seis como es- Participantes da XII RCC - RO As vagas são limitadas e as inscri-
tudantes. Sócios dos Núcleos Regionais da SBCS ções já estão sendo confirmadas.

Participantes da RCC, realizada em setem-


bro. A próxima etapa será realizada em
agosto de 2018, no mesmo circuito

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 5


NOTÍCIAS

Mesa de abertura
do evento promo-
vido no Piaui, em
novembro.

IV Reunião Nordestina de Ciência do


Solo destaca o uso sustentável do solo
na segurança alimentar

C onciliar a produção de alimen-


tos junto à preservação am-
biental. Esse foi o objetivo da
IV Reunião Nordestina de Ciência do
Solo promovido em Teresina, Piauí,
tor de pesquisa do Instituto Fe-
deral de Educação do Piauí (IFPI),
José Luiz Silva; o diretor do Centro
de Ciências Agrária da Universida-
de Federal do Piauí (UFPI), Paulo
Crea-PI, Aprosoja, Terra Brasileira,
Banco do Nordeste e Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do
Piauí ( FAPEPI).

pelo Núcleo Regional Nordeste en- Ramalho; o presidente do Crea-PI, Prêmio Nordeste de
tre os dias 27 e 30 de novembro, em Paulo Oliveira e a presidente da Ciência do Solo
parceria com a Embrapa Meio-Nor- SBCS, Fatima Maria Moreira. Pela segunda vez, o Núcleo Regio-
te, a Universidade Estadual do Piauí, nal Nordeste da SBCS concedeu
Universidade Federal do Piauí e Ins- A presidente da SBCS destacou o o Prêmio Nordeste de Ciência do
tituto Federal de Educação, Ciência protagonismo da Sociedade no Solo criado para reconhecer o tra-
e Tecnologia do Piauí. fortalecimento da pesquisa em balho de pesquisadores que atuam
ciência do solo e na proposição de para o desenvolvimento da Ciência
O evento contou com a presença redes regionais. Para o diretor do do Solo na região Nordeste. Em
de 500 participantes entre pesqui- Núcleo Regional Nordeste da SBCS, 2016, em Aracaju, o agraciado foi o
sadores, professores e estudantes, Júlio César Nóbrega, a temática professor Ignacio Hernán Salcedo.
além de 550 trabalhos inscritos 21 é muito importante para o Piauí. Este ano, no Piauí, a premiação foi
palestras, cinco conferências, dois “Se consideramos o fato que hoje dada ao pesquisador Luiz Bezerra
seminários, quatro mesas-redon- o estado é uma fronteira agrícola, de Oliveira.
das e minicursos, além da realiza- conciliar a produção de alimentos
ção do 1º Simpósio de Ciência do junto à preservação ambiental é a Para as pessoas que o conhecem,
Solo. nossa preocupação. Queremos que Dr. Luiz Bezerra é considerado a
a região cresça em termos de pro- memória viva da SBCS. Seu nome
Participaram da solenidade de dução, mas sem desconsiderar as consta na história oficial da So-
abertura o chefe-geral da Embrapa questões ambientais, um não vive ciedade desde 1965, quando in-
Meio-Norte, Luís Fernando Leite; o sem o outro”. gressou na diretoria como conse-
coordenador científico do evento, lheiro. Antes disso, já participava
Henrique Antunes; a vice-reitora O evento contou com o apoio do dos eventos e era um entusiasta
da UESPI, Bárbara Melo; o pró-rei- Governo do Piauí, CNPq, CAPES, da ideia de reunir pessoas interes-

6| BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


sadas na Ciência do Solo no Bra-

NOTÍCIAS
sil. Luiz Bezerra é natural de Per-
nambuco, formado em Química
Industrial em 1946 e especialista
em solos em 1955 pela UFRRJ. Ao
longo de sua carreira, atuou no
DNCS - Departamento Nacional de
Obras contra as Secas, na Seção
de Solos do Instituto Augusto Trin-
dade de Souza no IPEANE – Insti-
tuto de Pesquisas e Experimenta-
ção Agropecuárias do Nordeste e
na Embrapa, onde permaneceu
até se aposentar em 1994. Atuou O evento contou com a presença de 500 participantes
também como professor convida- entre pesquisadores, professores e estudantes
do na UFRPE e UFSM. Destacou-se
por suas pesquisas em solos do
Nordeste brasileiro com ênfase equipe que publicou o Manual de parecer à cerimônia de entrega, a
em Física do Solo. Entre os traba- Métodos de Análise de Solo e o li- premiação foi recebida pelo pro-
lhos desenvolvidos, destacam-se vro “Sociedade Brasileira de Ciên- fessor da UFRPE, Clístenes Nasci-
a publicação de mais de 60 traba- cia do Solo, um olhar sobre sua mento.
lhos científicos; a coordenação da história”. Impossibilitado de com- Fonte: Embrapa Meio-Norte

II Simpósio de Manejo de Solo e Água


Foi realizado, entre 5 a 9 de de- de palestras, mesas redondas, Segundo os organizadores, foram
zembro em Mossoró, RN, o II sete minicursos, e a excursão registradas 200 inscrições e apre-
Simpósio de Manejo de Solo e técnica “Solos do Oeste Poti- sentação de 140 trabalhos, en-
Água para discutir o tema “Po- guar, além da programação cul- globando as linhas de pesquisa:
tencialização e uso sustentável tural. Manejo de Solo e Água na Agricul-
dos recursos tura, Fertilidade
água e solo do Solo e Aduba-
no semiári- ção e Impactos
do”. O evento Ambientais pelo
foi promovido Uso do Solo e da
pelo Programa Água.
de Pós-Gra-
duação em O ex-presidente
Manejo de da SBCS, Gonça-
Solo e Água da lo Signorelli de
Universidade Farias fez a con-
Federal Rural ferência de aber-
do Semi-Árido tura com o tema
(UFERSA), com “A década do
apoio da Ca- solo: 10 anos de
pes e do CNPq. discussão mun-
dial”, celebrando
A programa- o Dia Mundial do
ção constou Solo.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 7


Dia Mundial do Solo
NOTÍCIAS

O mundo todo atendeu ao


chamado da ONU para co-
memorar, em 5 de dezem-
bro, o Dia Mundial do Solo. O
evento tem apoio da Globo Soil
comemorativa. Foram registrados,
por exemplo, um seminário sobre o
Dia Mundial de Solos na Universida-
de Federal de Santa Maria; uma so-
lenidade para comemoração dos 40
Partership, que divulgou, na inter- anos do Programa de Pós-Gradua-
net, um mapa com as principais ção em Solos e Nutrição de Plantas
iniciativas adotadas em todo o e uma semana inteira de atividades
mundo (http://www.fao.org/worl- no Museu de Ciências da Terra Ale-
d-soil-day/worldwide-events/en/). xis Dorofeef, na Universidade Fe-
Desde 2012, a comunidade in- deral de Viçosa; mesa-redonda em
ternacional da Ciência do Solo ce- comemoração ao Dia Mundial do
lebra a data com o objetivo de au- Solo, na Universidade Federal da
mentar a conscientização sobre a Fronteira Sul, campus Chapecó; me- cos, para inferir informações em
importância dos solos para acabar sa-redonda e dia de campo sobre locais não medidos. Uma de suas
com a fome e estimular o reconhe- solos na Universidade Estadual de informações mais importantes é o
cimento dos serviços essenciais do Santa Cruz (UESC), e a 2ª edição do estoque total de carbono do solo
ecossistema - incluindo adaptação e Simpósio de Manejo de Solo e Água, a 0-30 cm do Brasil, que seria 36,3
mitigação das mudanças climáticas promovido pela Universidade Fede- Pg, sendo que 1 Pg (petagrama) = 1
- e desenvolvimento sustentável. ral Rural do Semiárido, que contou bilhão de toneladas.
Todos os anos, há eventos em mais com a palestra do ex-presidente da
de 150 países, tornando este um SBCS, Gonçalo de Farias, sobre o A SBCS
grande dia no calendário da ONU. tema A década do solo: 10 anos de A presidente da SBCS, Fatima
Este ano, a ONU comemorou discussão mundial. Maria Moreira, também divulgou,
a data lançando o primeiro mapa O Dia Mundial do Solo também nas mídias sociais da Sociedade, a
Global Soil Organic Carbon (GSO- foi comemorado com o lançamen- seguinte mensagem:
Cmap), apoiando o desenvolvi- to oficial do Pronasolos (veja maté- “Hoje, comemoramos o dia do
mento e o empoderamento dos ria nesta edição). A Embrapa tam- solo. Podemos celebrar, principal-
países para construir seus sistemas bém aproveitou a data para lançar mente, o aumento expressivo da
nacionais de informação sobre o o mapa digital de carbono orgânico consciência sobre sua importância
solo. Dessa forma, será possível dos solos brasileiros na profundi- em vários segmentos sociais. No
identificar terras que possam ser dade de 0-30 cm. Ele une modela- entanto, ainda vemos com preo-
reabilitadas para aumentar a pro- gem matemática e conhecimentos cupação sua degradação quími-
dução de alimentos e mitigar as levantados em campo para ajudar ca, física e biológica se expandir
mudanças climáticas, por meio do em diversos programas de conser- em larga escala. É necessário que
aumento do armazenamento de vação de recursos naturais. a consciência se transforme em
carbono orgânico do solo. Um dos beneficiários imediatos ações efetivas para garantir que
O tema da campanha World Soil do mapa digital será o Programa este recurso natural seja recupe-
Day 2017 foi: Caring for the planet Agricultura de Baixa Emissão de rado onde é preciso e conservado
starts from the ground. Carbono (ABC) do Ministério da onde ainda é possível, para garan-
Agricultura, Pecuária e Abasteci- tir o futuro de todas as formas de
O Dia Mundial do Solo no mento, que poderá utilizá-lo para vida do planeta”.
Brasil direcionar práticas de redução de A SBCS cumprimenta e agrade-
A SBCS também fez chamadas emissão de gases de efeito estu- ce a todos os que trabalham em
em sua fanpage para registrar e di- fa. O trabalho utilizou informa- prol do bom uso do solo no Brasil.
vulgar eventos realizados no Brasil, ções ambientais disponíveis, como Visite a fanpage da SBCS e fique
além de postar diversas notícias so- dados a respeito de solo, relevo, por dentro das principais informa-
bre o Dia Mundial do Solo, durante vegetação, clima, associando-os ções sobre ciência do solo: https://
todo o mês de novembro e na data a métodos matemáticos estatísti- www.facebook.com/sbcs.solos/

8| BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


20
INSTITUIÇÕES ASSINAM

NOTÍCIAS
PARCERIA PARA MAPEAR
SOLO BRASILEIRO
O Programa Nacional de Solos do Brasil (Pronasolos) será o maior empreendimento técnico-
científico brasileiro da área de solos. O protocolo de intenções foi assinado por 20 instituições
brasileiras, entre elas, a SBCS, representada no evento pela presidente, Fatima Maria Moreira

R epresentantes de universi-
dades e instituições ligadas
à tecnologia e ciência as-
sinaram dia 5 de dezembro, Dia
Mundial do Solo, um protocolo
gação, documentação, inventário
e interpretação de dados de solos
brasileiros para gestão desse recur-
so e sua conservação.
O presidente da Embrapa, Maurí-
cio Antonio Lopes, ressaltou a im-
portância do trabalho coletivo para
a realização da empreitada. “Não
se faz um trabalho dessa magnitu-
de intenções que oficializa o iní- Entre os maiores resultados espe- de sem uma parceria muito con-
cio do maior trabalho já realizado rados está a criação de um siste- solidada, por isso envolve atores
no Brasil dessa área: o Programa ma nacional de informação sobre de extrema importância,” frisou.
Nacional de Solos do Brasil (Pro- solos do Brasil e a retomada de “Exploramos outros planetas e co-
nasolos). Empreitada com hori- um programa nacional de levanta- nhecemos pouco o nosso próprio
zonte de 30 anos que envolve 20 mento de solo. “Esses dois pontos solo”, disse o presidente da Embra-
parceiros entre universidades, a serem atendidos estão listados pa após assinar o documento, res-
institutos de pesquisa, agências no acordão redigido pelo Tribunal saltando que o solo é um recurso
especializadas e empresas de de Contas da União, em 2015, que com o qual se deve ter cuidado. “A
pesquisa científica. deu origem ao programa,” disse produção de alimentos cada vez
o coordenador do Pronasolos, o mais sofisticados e a desertificação
Definido pelo presidente da Em- pesquisador José Carlos Polidoro, observada em diversas partes do
brapa, Maurício Antônio Lopes, da Embrapa Solos. “O programa planeta são exemplos de questões
como uma das maiores iniciativas irá obter informações importantes relacionadas a esse valioso recur-
do Brasil para proteger seu solo, o no nível de detalhamento neces- so”, comentou.
Pronasolos está orçado em R$ 740 sário para que o país consiga usar
milhões, nos dez primeiros anos, esse recurso natural tão impor- “Estamos celebrando um grande
e envolverá atividades de investi- tante”. marco nas Ciências do Solo no

Representantes das 20 instituições que assinaram o protocolo.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 9


NOTÍCIAS

Brasil,” declarou a presidente da


SBCS, Fatima Maria de Souza Mo-
reira. "Estamos quase meio sécu-
lo distantes dos levantamentos
pioneiros do Radam Brasil, IAC e
Embrapa na década de 1970 e que
visavam o reconhecimento do ter-
ritório nacional. O Pronasolos fará
agora um detalhamento mais acu-
rado com fins de manejo adequa-
do à potência agrícola que o Brasil
se tornou."

Em nome do Instituto Brasileiro


de Geografia e Estatística (IBGE),
Ivone Lopes Batista afirmou que a
instituição usará sua expertise em “Celebramos a parceria de diversas instituições em prol dessa tare-
coleta de dados em todo o terri- fa. As universidades terão o papel fundamental de formar e treinar
tório nacional para gerar dados recursos humanos para atuar neste programa grandioso. A Socie-
de cartografia e recursos naturais dade Brasileira de Ciência do Solo se sente honrada em participar
para o Pronasolos. “Estamos hon- efetivamente do Pronasolo e envidará todos os esforções necessá-
rados de participar de uma ativi- rios para apoiá-lo.” Fatima Moreira (Presidente da SBCS)
dade e um debate tão importante
para comunidade científica brasi-
leira.” “A falta de água que sofremos hoje os de seguro e crédito agrícola, zo-
nas fazendas está bastante relacio- neamentos agroecológicos e eco-
O presidente da Empresa de nada à falta de cuidados que temos lógico-econômicos dos estados e
Pesquisa Agropecuária de Mi- com o solo,” afirmou o presiden- municípios, Programa de Agricul-
nas Gerais (Epamig), Rui da Silva te da Agência Espacial Brasileira tura de Baixa Emissão de Carbono
Verneque, disse ser fundamental (AEB), José Raimundo Braga Coe- (Plano ABC), vulnerabilidade da
conhecer esse recurso natural lho, para ele, além do Programa, terra a eventos extremos em áreas
para continuar a contribuir para a o País deve ter uma política e um urbanas e rurais; planejamento de
produtividade da agricultura bra- sistema nacional de informação so- microbacias e projetos de teleco-
sileira. “Precisamos conhecer o bre solo. municações entre vários outros.
solo e suas transformações. É um Outro efeito importante previsto
trabalho grandioso, de enorme Retorno de R$185,00 para pelos especialistas envolvidos é a
envergadura e fundamental para cada real investido valorização da terra.
o Brasil,” pontuou. Verneque dis- “É preciso cuidar do solo de ma-
cursou em nome das instituições neira estratégica. O Departamen- O objetivo é mapear 1,3 milhão de
estaduais de pesquisa agropecuá- to de Agricultura dos Estados Uni- quilômetros quadrados nos primei-
ria. dos fez isso na década de 1960 e ros dez anos (veja tabela abaixo).
estima-se que cada dólar investido
A sustentabilidade e as questões no levantamento de solo resultou
ambientais foram lembradas pelo em até 120 dólares de retorno. No Etapa
Área cober-
representante do Serviço Geoló- Brasil, a literatura aponta que a (anos)
ta lev solos Escala
(km²)
gico do Brasil (CPRM/SGB), Paulo relação pode ser de um para 185
em escalas a partir de 1:50.000,” 1:100.000
Afonso Romano. “Para cumprir os 0a4 430 mil
a 1:25.000
objetivos do desenvolvimento sus- afirmou Polidoro. Ou seja, para
1:100.000
tentável (ODS) estabelecidos pela cada real investido no programa 1 a10 1,3 milhão
a 1:25.000
Organização das Nações Unidas há uma perspectiva de retorno de
250 mil 1:25.000
(ONU) será necessário conhecer o R$185,00.
10 a 30 1,0 milhão 1:50.000
solo,” ressaltou. “Não é possível se-
parar gestão da água sem falar de Os resultados beneficiarão mais 6,9 milhões 1:100.000
solo”, completou. de uma dezena de setores como Fonte: Polidoro, J.C. et al. 2016

10 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


Detalhamento varia de Gerais (Epamig), Rui da Silva Verne- mico do Paraná (Iapar). “Os resul-

NOTÍCIAS
uma região para outra que, um dos pontos fortes do Pro- tados gerados auxiliarão no plane-
A escala diz respeito a quanto um nasolos é realizar o levantamento jamento de ações em microbacias,
determinado espaço foi reduzi- de solos em escalas mais precisas nos sistemas de produção e na pre-
do para ser representado grafica- e adequadas aos diferentes usos. servação do ambiente agrícola,”
mente. Em termos simples, uma “Trata-se de um projeto estratégi- prevê a pesquisadora Graziela Mo-
escala 1:25.000 é muito mais de- co para o Brasil e seus resultados raes de Cesare Barbosa, coordena-
talhada que uma representação irão possibilitar o desenvolvimento dora da área de Solos do Iapar.
de 1:100.000 da mesma porção de e adaptação de tecnologias para
terra. Um levantamento de solos adequação das atividades agrícolas “Em um território tão vasto quan-
realizado em escala de 1:20.000 aos diferentes tipos de solo”, acre- to o brasileiro, a gestão dos solos
é considerado detalhado. Apenas dita o presidente da instituição que torna-se ainda mais complexa”,
0,0003% do território brasileiro é também integra os trabalhos. afirma Fernanda Lins Leal Uchôa de
conhecido com esse detalhamen- Lima da Diretoria de Política Espa-
to. Na categoria “semidetalhado” Subsídio a políticas públi- cial e Investimentos Estratégicos da
(1:50.000) está 1% do território na- cas de ocupação do solo Agência Espacial Brasileira (AEB). A
cional. A maior parte do solo bra- Márcio Koiti Chiba, pesquisador instituição participará do programa
sileiro, 84%, encontra-se mapeada do Instituto Agronômico (IAC), de oferecendo tecnologias espaciais
a partir da escala 1:250.000, consi- Campinas (SP), outra instituição de observação da Terra. “Estamos
derada de baixo detalhamento. participante, enfatiza o impacto honrados em poder contribuir”,
ambiental e de auxílio à gestão pú- declara.
“Claro que o grau de detalhamen- blica que o trabalho irá promover.
to varia conforme o uso. Uma área “Os dados a serem levantados com José Carlos Polidoro, da Embrapa,
florestal não precisa ter a mesma o Pronasolos são essenciais para informou que o Governo Federal,
escala que regiões de forte produ- embasar políticas públicas, não por meio do Ministério da Agri-
ção agrícola, as quais exigem maior apenas relacionadas ao uso agrí- cultura, Pecuária e Abastecimento
detalhamento”, esclarece Polidoro, cola do solo, mas também para sua (Mapa) prepara um decreto que
“faz parte do Programa definir as utilização com o mínimo impacto visa a estabelecer o Pronasolos
áreas prioritárias e escala necessá- ambiental possível para outras fi- como programa de Estado.
ria para cada uma”. nalidades”, afirma o cientista.

Para o presidente da Empresa de A preservação ambiental também Fonte: Reportagem de Fábio Reynol
Pesquisa Agropecuária de Minas está no foco do Instituto Agronô- Secretaria de Comunicação da Embrapa

Participantes do Pronasolos
• Agência Espacial Brasileira • Instituto Brasileiro de Geo- • Universidade Federal
(AEB) grafia e Estatística (IBGE) do Rio Grande do Sul
• Diretoria de Serviço Geo- • Instituto Capixaba de Pes- (UFRGS)
gráfico do Exército (DSG) quisa, Assistência Técnica e • Universidade Federal dos
• Empresa Brasileira de Extensão Rural (Incaper) Vales do Jequitinhonha e
Pesquisa Agropecuária • Serviço Geológico do Brasil Mucuri (UFVJM)
(Embrapa) (CPRM/SGB) • Universidade Federal Rural
• Empresa de Pesquisa • Sociedade Brasileira de Ciên- da Amazônia (UFRA)
Agropecuária de Minas cia do Solo (SBCS) • Universidade Federal Rural
Gerais (Epamig) • Universidade Estadual de de Pernambuco (UFRPE)
• Fundação Cearense de Mato Grosso do Sul (UEMS) • Universidade Federal Rural
Meteorologia e Recursos • Universidade Federal de do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Hídricos (Funceme) Goiás (UFG) • Estas são as instituições
• Instituto Agronômico • Universidade Federal de San- signatárias do protocolo
(IAC) ta Maria (UFSM) de intenções, outros inte-
• Instituto Agronômico do • Universidade Federal de ressados poderão aderir
Paraná (Iapar) Viçosa (UFV) ao programa.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 11


Coleção
NOTÍCIAS

Conhecendo a
vida do solo
A Editora da Universida-
de Federal de Lavras
(UFLA), publicou, este
ano, um conjunto de cartilhas
que é fruto do trabalho de
uma equipe de pesquisadores,
professores e estudantes de
graduação. Os editores, Maíra
Akemi Toma, Rogerio Custo-
dio Vilas Boas e Fatima Maria
de Souza Moreira e autores e
dessas cartilhas trabalharam
bastante para que pudesse ser
produzido um material ilus-
trado, de fácil compreensão e
acessível aos diversos segmen-
tos da sociedade.

O objetivo da coleção “Conhe-


cendo a vida do solo” é mostrar
a importância do solo, princi-
palmente da vida do solo, para
que esse recurso natural seja
conservado e se mantenha não
só para garantir a existência das
futuras gerações, mas também
para melhorar a qualidade de
nossas vidas.

A coleção é composta de 6 volu-


mes: Solos; Macrofauna; Meso-
fauna; Microfauna; Micro-orga-
nismos; Ecologia.

Para realizar o dowload gratui-


to da coleção completa em pdf,
basta acessar o link http://repo-
sitorio.ufla.br/handle/1/15080

Saiba mais sobre os trabalhos


do PEDS em:
• htt ps : / / w w w.fa c e b o o k . Inscrições a partir de 20 de janeiro
com/PEDSUFLA/ Mais informações em:
• https://www.instagram. http://www.sbcs-nrs.org.br/
com/pedsufla/

12 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


Anuidade de 2018 da SBCS

NOTÍCIAS
PODE SER PAGA COM DESCONTOS

U
ma sociedade cien-
tífica forte e atuante
só é possível quan-
do reúne pesquisadores de
todo o Brasil dispostos a
apoiá-la e fortalecê-la. Para
isso, é preciso associar-se
e participar ativamente de
suas atividades. Mais quer
oferecer descontos em
eventos ou publicações, a
SBCS representa quem faz a
Ciência do Solo no Brasil e,
portanto, precisa do apoio
de todos.

Assim, os sócios e aqueles


que desejarem se associar
já podem realizar o pa-
gamento da anuidade de rican Express pode pagar Para quem já é associado,
2018 com descontos até o em até 2 vezes, sem juros. basta fazer o login na área
dia 23 de fevereiro. No caso do Pag Seguro, é de sócio com CPF e senha.
possível pagar em parcela Quem quiser se associar,
O pagamento pode ser única, sem juros, no car- deve clicar no “Quero me
realizado no cartão de cré- tão de crédito, ou em até associar” e preencher o ca-
dito, boleto, depósito ban- 12 vezes com juros. Os in- dastro.
cário ou pelo Pag Seguro. teressados devem acessar
Quem tiver o cartão de o site da SBCS (www.sbcs. Associe-se e convide um
crédito com as bandeiras org.br) para realizar o pa- aluno ou colega para asso-
Visa, MasterCard e Ame- gamento. ciar-se também.

Associe-se e fortaleça a SBCS!


BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 13
NOTÍCIAS

Divulgando o Congresso Mundial de Ciência do Solo

O
professor Flávio Camargo, pre- Durante o evento, o professor Flávio
sidente do 21stWorld Congress Camargo contou com apoio de outros
of Soil Science, que será reali- pesquisadores brasileiros (foto abaixo).
zado pela SBCS ano que vem, no Rio de Em setembro, Flávio Camargo foi o
Janeiro, tem promovido uma série de conferencista convidado do Congresso
encontros com lideranças internacio- Japonês de Ciência do Solo, realizado na
nais em busca de apoio e divulgação cidade de Sendai. Ele ministrou a con-
para o evento. ferência sobre o tema central do WCSS
Em novembro, ele esteve em Tam- “Brazilian soil science: beyond food and
pa, na Flórida, participando do 2017 fuel”. Também foi sugerido pelo grupo
International Annual Meeting da Ame- de trabalho sobre “paddysoils” que
rican Society of Agronomy, Crop Scien- fosse organizada uma excursão técnica
ce Society of America, and Soil Scien- para o sul do Brasil durante o evento, o Flavio Camargo, ao centro, em evento no
Japão para promover o Congresso Mundial
ce Society of America e reuniu mais que já foi providenciado. As excursões
de 4 mil pesquisadores, profissionais técnicas e as turísticas já estão sendo
e estudantes em torno de palestras e disponibilizadas na página do 21WCSS O ex-presidente da SBCS, Gonçalo
debates sobre o tema"Managing Glo- A presidente da SBCS, professora de Farias também tem atuado como
bal Resources for a Secure Future. O Fatima Moreira (UFLA) também tem embaixador da Sociedade, divulgando
convite para a participação dos ameri- aproveitado as participações em even- o evento em suas viagens internacio-
canos no 21WCSS foi feito pelo profes- tos internacionais para divulgar o Con- nais como fez em Roma, durante re-
so Flávio durante a reunião inicial da gresso Mundial como aconteceu na sua união da Aliança Mundial pelo Solo/
SSSA e reforçado no discurso do pre- viagem para participação na II Confe- Global Soil Partnership (AMS/GSP),
sidente da SSSA, Andrew Sharpely. O rência Mundial sobre Biodiversidade realizada em Roma, no início de no-
novo presidente , Richard Dick, já está do Solo, realizada outubro, em Nanjing, vembro.
inscrito no 21WCSS e mostrou-se à China, e no VIII Congresso Boliviano de A Secretaria Executiva tem solicita-
disposição para auxiliar na divulgação Ciência do Solo, promovido em novem- do aos diretores de Núcleos, Divisões e
internacional. bro, em Santa Cruz de la Sierra. Comissões Especializadas, bem como a
todos os sócios empenho na divulgação
do evento em seus ambientes de traba-
lhos e redes internacionais de relacio-
namentos ligados à cientistas de solos.
“A promoção de um evento internacio-
nal é complexa e precisa envolver todos
os sócios da SBCS para que o Brasil faça
história na realização do Congresso
Mundial de Ciência do Solo, diz o presi-
dente do evento, Flávio Camargo.
As notícias sobre os preparativos
do evento, palestrantes confirmados,
viagens técnicas e detalhes sobre a
organização podem ser conferidas no
Luiz Prochonow (IPNI), Leo Walsh (University of Wisconsin), Pedro Sanches (University of Florida e site https://www.21wcss.org/ e na
conferencista do WCSS, Luiz Roberto Guilherme (UFLA) e José Eduardo Corá (UNESP) Fanpage da SBCS.

14 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


NOTÍCIAS
O sucesso do Congresso Mundial de Ciência do Solo
depende de você!
Compartilhe notícias sobre o evento com seus amigos
e colegas.
Movimente-se e ajude a SBCS a divulgar o 21st World
Congress of Soil Science usando a #wcssbrazil2018.
A SBCS conta com você!

Fique atento às datas:

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 15


P
Foto: Google Earth. Campus edometria, como definida em um
da UNESP/Jaboticabal dos artigos apresentados neste
Boletim, é a aplicação de méto-
dos matemáticos e estatísticos
para a modelagem quantitativa
de solos, com o objetivo de analisar sua
gênese, distribuição, propriedades e com-
portamentos. A maior parte dos trabalhos
envolvendo Pedometria está relacionada
ao mapeamento digital de solos (MDS).

Noto que, em nosso meio, mesmo os pe-


dólogos, envolvidos há muito tempo na
tarefa de mapear o solo, confessam que
“não entendem bem o que vem a ser
MDS”, e indagam: “afinal, qual a principal
diferença entre levantamento digital e le-
vantamento tradicional?”

Para responder a essa questão, primeiro


temos que recordar as principais etapas
usadas para elaborar os hoje amplamen-
te chamados Mapas Convencionais de
Solos (MCS), em contraposição ao MDS.

A maior parte dos MCS foi - e está sendo


- executada pelo método de amostragem
“livre”. Nele, as etapas iniciais são: pesqui-
sa bibliográfica, análises de mapas, exa-
me de fotos, imagens e/ou modelos de
elevação digital do terreno e trabalhos de
campo para reconhecimento geral in loco
e elaboração de uma legenda preliminar.

Assim o pedólogo vai mentalizando um


modelo conceitual solo-paisagem que vai,
aos poucos, sendo aperfeiçoado. A seguir,
com mais observações no campo, em fo-
tografias aéreas e/ou em imagens de saté-
lite, e/ou em modelos de elevação digital

OPINIÃO
do terreno e, principalmente, por meio
de experiências passadas ao trabalhar em
paisagens semelhantes, o pedólogo iden-
tifica e mapeia componentes paisagísti-
cos. Por exemplo: feições do relevo, tipo
Pedometria, do embasamento rochoso e vegetação.
Depois, perfis de solo são examinados
em locais representativos de cada unida-
Mapas Digitais e de mapeada, a fim de se identificar o tipo
de solo dominante (ou tipos, no caso de

Convencionais de
unidades compostas, por exemplo, uma
associação de solos) e designá-lo por um
nome local (séries ou “unidades” de solo)

Solos e os Modelos e/ou de um sistema de classificação nacio-


nal ou internacional.

Conceituais Solo- Em todas essas etapas, o modelo concei-


tual é considerado o mais importante,
pois sem ele torna-se impossível mapear
Paisagem corpos de solos com um custo e tempo

16 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


aceitáveis. Dada essa importância consul- várias limitações, como: (a) dificuldade cada célula de grade (ou pixel), as quais
tamos o Soil Survey Manual (USDA, 2016), em reproduzir o modelo imaginado (por podem ser combinadas para delinear as
o livro Mappping of the Soil de J. P. Legros exemplo, para transferir conhecimento unidades de mapeamento.
(2006) e o artigo de Hudson intitulado Soil para outros pedólogos, especialmente os
Survey as a Paradigm Based Science (SS- iniciantes); (b) a abordagem é qualitativa Alguns atributos do solo são difíceis de
SAJ, 1992), em busca de algumas frases e subjetiva, de modo que a composição serem medidos, mas podem ser inferi-
referentes a esse modelo tácito de organi- de uma unidade do mapa só pode ser es- dos de outros, medidos em um mesmo
zação espacial dos solos, tradicionalmen- timada; (c) inexistência de uma forma sis- local, usando as chamadas “funções de
te usado por pedólogos. As que julgamos temática de transferir os conceitos entre as pedotransferência”. Um exemplo típico
mais relevantes estão a seguir: regiões, e (d) alto dispêndio de tempo e é a condutividade hidráulica do solo, que
de recursos, devido à necessidade de mui- pode ser prevista a partir das mensura-
• Soil mapping is the product of the to trabalho de campo para inúmeras trada- ções de argila, matéria orgânica e densi-
work of those who read the land gens e exame de todo terreno, pois é nele dade aparente.
(Boulaine,in Legros 2006) que a maior parte das decisões é tomada.
• The repeating patterns formed by Com as novas ferramentas da Pedome-
the natural bodies of soil in the Voltemos à análise das diferenças entre tria, a eficiência dos mapeamentos de
landscape allow soil scientists to o MDS e os MCS. Seguramente, pode- solos pode ser bastante aumentada, com
develop predictive soil-landscape mos afirmar que, sob o ponto de vista menores custos e melhores qualidade e
models, which serve as the scientific conceitual, a elaboração de um e outro é consistência em relação aos métodos tra-
foundation for making soil surveys semelhante, porque ambos usam mode- dicionais. Mas, talvez, o maior benefício
(USDA, 2016) los solo-paisagem para lançar hipóteses seja o de se poder documentar e preser-
• Robust soil-landscape models are sobre o tipo de solo em locais ainda não var o conhecimento sobre as relações
subject to incremental changes and amostrados. Essas hipóteses baseiam-se solo-paisagem - o que vai exigir menos
refinements that reflect the accu- na correlação entre os fatores de forma- “prática de campo” e conhecimento in-
mulation of knowledge and data du- ção e os atributos do perfil do solo. O que tuitivo de pedólogos iniciantes.
ring the progression of the survey ( mais difere um do outro é que, em vez de
USDA, 2016). um modelo mental e qualitativo com deli- Portanto, é com grande satisfação que a
• Developing accurate landscape mo- neamentos manuais, o MDS usa um mo- SBCS lança este número de seu Boletim
dels begins with using expert know- delo que é explícito e quantitativo, identi- Informativo dedicado à Pedometria e ao
ledge and experience to anticipate ficando digitalmente cada célula de grade MDS. Esta edição chega, num momento
and portray relationships between (pixel), o tipo ou propriedade do solo. Isso especial, o do lançamento do Progra-
landscapes, geomorphic systems, é feito a partir dos dados iniciais das re- ma Nacional de Solos (PronaSolos), cujo
and soils. ( USDA, 2016). lações solo-paisagem e por meio de uma principal objetivo é iniciar um grande
• The soil-landscape model, on which seleção das chamadas “covariáveis am- “mutirão” para mapear, em níveis mais
the soil survey is based, is an opera- bientais” que, em sua maioria, são feições detalhados que os existentes, os solos do
tive paradigm. An extreme reliance geomórficas da superfície terrena que re- território brasileiro.
on tacit knowledge, the knowledge presentam os fatores formadores do solo.
gained by experience, creates se- Para tão grandiosa tarefa, temos que pôr
rious inefficiencies, both in learning Um exemplo importante é o fator relevo, em prática as modernas ferramentas de
the soil-landscape paradigm and in que é representado por atributos da su- que dispomos, tais como os sistemas de
disseminating the information re- perfície do solo, como: altitude relativa, posicionamento global (GPS), o sensoria-
sulting from its application (Hudson forma, gradiente (declividade) e aspecto, mento remoto próximo e os sistemas de
1992) facilmente calculados a partir de mode- informação geográfica (GIS), além das téc-
los de elevação digital do terreno. Outras nicas indiretas de caracterização do solo
Procuramos também algum texto sobre covariáveis podem ser selecionadas para (susceptibilidade magnética, a condutivi-
esse importante modelo solo-paisagem representar o tipo de material de origem, dade elétrica e a espectrometria, assuntos
nos nossos mais conhecidos Manuais de a vegetação e o uso da terra. Esses são, também abordados neste Boletim). Essas
Pedologia, de Descrição do Solo no Cam- então, relacionados às propriedades do técnicas podem nos ajudar a aumentar a
po e Procedimentos Normativos para interior do solo (perfil) em locais conhe- qualidade, a consistência, bem como a di-
Levantamentos Pedológicos. Surpreen- cidos, que foram amostrados no campo minuir o tempo e os recursos usados na
dentemente, nada diretamente relacio- e caracterizados no laboratório. Depois elaboração dos nossos mapas detalhados.
nado a essa “modelagem mental” foi en- que o modelo é ajustado aos dados de Para isso, há que existir uma conscienti-
contrado. Isso nos levou a suspeitar que entrada, ele pode prever atributos ou zação dos pedólogos tradicionais sobre
o modelo que vem sendo utilizado por classes de solos em locais não direta- os modelos analógicos mentais que usam
pedólogos brasileiros, além de mental e mente observados por meio das suas - uma atitude necessária para que possa
tácito, é inconsciente. covariáveis ambientais. Vários modelos haver sua transferência para os analógicos
empírico-estatísticos são utilizados para digitais via MDS e Pedometria.
Apesar de a maior parte dos mapas de so- esse propósito. Por exemplo: os lineares
los ter sido efetuada com base nesse mo- multivariados e os geoestatísticos. Com Igo Fernando Lepsch é pedólogo, pes-
delo, ele tem sido criticado por apresentar eles as previsões são calculadas para quisador aposentado do IAC.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 17


OPINIÃO

Pedometria:
uma breve contextualização
nacional e mundial
Ricardo Simão Diniz Dalmolin
Alexandre tem Caten
André Carnieletto Dotto

P edometria, neologismo deri-


vado das raízes gregas pedos
= solo e metron = medida,
remete à mensuração quantitativa
da distribuição e gênese dos solos,
minando com a definição do termo
Pedometria, na década de 1990,
pelo professor Alexander McBrat-
ney, da University of Sydney. Esse
termo, conforme a Comissão de Pe-
A Pedometria pode ser conside-
rada uma ciência interdisciplinar
entre Ciência do Solo, estatística e
ciências da geoinformação. Assim,
entre as principais técnicas e ferra-
utilizando métodos matemáticos e dometria da União Internacional de mentas utilizadas na Pedometria,
estatísticos. Há muito, esses méto- Ciências do Solo (IUSS), é a aplica- estão técnicas de amostragem,
dos quantitativos são aplicados à ção de métodos matemáticos e es- estatística tradicional, geoesta-
Ciência do Solo. Porém, foi a partir tatísticos para a modelagem quan- tística, lógica fuzzy, interpolação,
da década de 1970, por meio da titativa de solos com o objetivo de análise de incerteza, regressões,
geoestatística e da análise espacial, analisar sua gênese, distribuição, sistema de informação geográfica
que ganhou maior destaque, cul- propriedades e comportamentos. (SIG), sensoriamento remoto e es-

Foto: Acervo pessoal. Ricardo Dalmolin.

18 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


pectroscopia de reflectância1. Tais

OPINIÃO
ferramentas, aplicadas a um ban-
co de dados de solos georreferen-
ciados, podem gerar ou predizer
novas informações, com a possibi-
lidade de que os dados sejam mo-
delados e interpolados para áreas
nas quais não se havia conheci-
mento dos atributos e tipos de so-
los presentes2. A Figura 1 mostra a
interface entre as diferentes áreas
de conhecimento aplicadas na Pe-
dometria.

No ramo da Ciência do Solo, a Pe-


dometria é considerada uma das
disciplinas com maior expansão
nos últimos anos. Não por acaso,
os avanços dos sistemas computa-
cionais e tecnológicos no mundo
contemporâneo trouxeram inú- Figura 1 Principais técnicas e ferramentas utilizadas na Pedometria
meros benefícios para o advento
de técnicas de mensuração, quan-
tificação e predição de atributos tes para a sociedade, tornando as predominantemente qualitativos,
dos solos. Além disso, tecnologias informações de solo mais acessíveis enquanto que a Pedometria busca
relacionadas ao uso de computa- e atraentes para os agricultores e uma abordagem mais quantitati-
ção e algoritmos para permitir que gestores públicos, possibilitando a va, com enfoque para a precisão
os computadores aprendam com adoção de medidas pró-solo. Além e incerteza das informações gera-
os dados e façam predições (ma- do mais, essa técnica deve ser útil das.
chine learning, statistical learning, também para setores, como a in-
data mining, artificial intelligence, dústria, medicina, planejamento Em uma busca na base Scopus, uti-
e automation, etc.) têm contribuí- urbano, meio ambiente e ecolo- lizando o intervalo de 1996-2016,
do para o desenvolvimento dessa gia, saúde animal, biodiversidade e com os termos pedometric, pedo-
temática. gestão de resíduos. metrics e pedometry presente no
título, resumo ou nas palavras-cha-
Para a IUSS, o objetivo da Pedo- A Pedometria tem relação direta ves, houve um retorno de 110 tra-
metria é alcançar uma melhor com a pedologia. A modelagem da balhos, um número muito inferior
compreensão do solo como um relação solo-paisagem - na qual é ao encontrado quando o termo in-
fenômeno que varia em diferentes possível fazer predição de atribu- serido é digital soil mapping, com
escalas no espaço e no tempo. Esse tos e/ou classes de solos, predição um retorno de mais de 640 artigos
entendimento é importante tanto com aplicação da espectroscopia (trabalho de doutorado de Lucia-
para o sistema agronômico, quan- de reflectância, estudos em ero- no Cancian, PPGCS, UFSM). Nessa
to para os ecológico e hidrológico são, hidrologia, manejo, monitora- rápida análise, podemos concluir,
de que o solo faz parte. Por isso, a mento, poluição - utiliza técnicas de antemão, que grande parte dos
Pedometria deve desempenhar um pedométricas. Dessa forma, tam- trabalhos de Pedometria não usa
papel fundamental de impulsionar bém áreas, como fertilidade, física este termo no título, ou no resumo,
o reconhecimento da importância e microbiologia, têm se benefi- ou nas palavras-chaves. Essa busca
da Ciência do Solo entre a comu- ciado do desenvolvimento desse também revelou que, do total de
nidade científica. As pesquisas em conhecimento. A maior parte dos artigos retornados, 90% foram pu-
Pedometria precisam ser relevan- trabalhos envolvendo Pedometria blicados em inglês, 4% em portu-
está relacionada ao mapeamento guês e os outros 6% estão divididos
1
Veja mais em Uma visão geral do sensoria- digital de solos (MDS). Os levan- em várias outras línguas. O cres-
mento remoto e próximo na Ciência do Solo. tamentos de solos, em sua con- cimento de publicações no tema
2
Veja mais em Dados para aplicações pedo-
métricas em larga escala no Brasil.
cepção original, apresentam-se MDS ocorre a partir de 2003, coin-

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 19


cidentemente com a publicação do número de trabalhos publicados na
OPINIÃO

trabalho On digital soil mapping, comissão 1.3 – Pedometria, mas,


de McBratney e colaboradores, apenas a partir de 2016, todos
que definiu as bases conceituais do trabalhos dessa revista passaram
MDS e incentivou mundialmente a a ser publicados em inglês. Com o
pesquisa nesse tema. decorrer do tempo será possível
avaliar se exclusivamente a barrei-
O Brasil, principalmente nos últi- ra do idioma era o empecilho para
mos anos, tem acompanhado a a maior visibilidade e citação dos
proporção de publicação dos pes- artigos em Pedometria realizados
quisadores internacionais, com por brasileiros.
merecido destaque nessa área de
estudo. Em uma nova e rápida aná- Mundialmente, a Pedometria é
lise dos dados do Scopus, percebe- promovida e compartilhada por
mos que os trabalhos publicados meio de publicações, conferências
por brasileiros são ainda pouco ci- e workshops organizados pelo gru-
tados, quando comparados aos de po internacional de trabalho sobre
pesquisadores estrangeiros. Uma Pedometria da IUSS. No Brasil, a
das limitações pode ser a barreira primeira atividade mais relevante
advinda do uso do idioma portu- ligada à Pedometria foi o 2º Global
guês para a redação dos manus- Workshop On Digital Soil Mapping,
critos. Pode-se dizer que os tra- que aconteceu em julho de 2006,
balhos são excessivamente locais, mesmo ano em que foi publicado
não despertando o interesse para o primeiro artigo no Brasil sobre
a citação em estudos de escalas MDS (Giasson et al., 2006).
mais nacionais ou continentais de
outras regiões do globo. Contudo, Em 2010, a pesquisadora Maria
essa análise ainda necessita ser de Lourdes Mendonça-Santos, da
aprofundada para ser, de fato, con- Embrapa-CNPS, submeteu um pro-
clusiva. jeto ao Edital Repensa, do CNPQ,
que foi aprovado e propiciou, em
A Revista Brasileira de Ciência do 2011, a primeira reunião e a fun-
Solo (RBCS), a partir de 2011, se- dação oficial da Rede Brasileira
leciona os temas dos artigos, de de Mapeamento Digital de Solos
acordo com a estrutura científica (RedeMDS), com a participação
da Sociedade Brasileira de Ciência de várias instituições de pesquisa
do Solo (SBCS). A figura 2 mostra o e de ensino. Também em 2011, a

SBCS se adaptou à IUSS e passou a


vigorar, na sua estrutura científica,
a Comissão de Pedometria, den-
tro da Divisão Solo no Espaço e no
Tempo.

Toda essa nova conjuntura, levou,


principalmente os profissionais li-
gados à RedeMDS, a incrementar
suas pesquisas em Pedometria,
assim como uma série de ativida-
des, como a Segunda e Terceira
Reunião da RedeMDS (ocorridas
em 2012 e 2013, respectivamente)
Figura 2. Trabalhos publicados na comissão 1.3 – Pedometria,
e a divulgação das ações, por meio
da Revista Brasileira de Ciência do Solo da newsletter da Comissão de Pe-

20 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


UFMT, UFPel, UFPI, UFRGS, UFR-

OPINIÃO
RJ, UFSC, UFV, UNB e Unicamp.
Houve uma gama muito grande de
respostas, desde instituições que
apresentam disciplinas específi-
cas de Pedometria a aquelas em
que a Pedometria é abordada em
disciplinas de pedologia, principal-
mente em nível de pós-graduação.
Interessante observar que algu-
mas instituições que apresentam
trabalhos de destaque em Pedo-
metria, ainda não abordam esse
tema no ensino. Percebeu-se nas
informações retornadas, a vonta-
de de muitos professores aborda-
rem, de maneira mais intensiva, o
tema, pois devido às suas carac-
terísticas, prendem a atenção dos
jovens, ávidos por informações
que envolvem tecnologia.

Acreditamos que a Pedometria no


Brasil está no rumo certo, não só
pelos trabalhos científicos reali-
zados, mas também por todas as
ações já desenvolvidas (e as fu-
turas planejadas), alavancando a
popularização dessa técnica. De-
vemos mobilizar a SBCS para agir
politicamente nos órgãos de fo-
mento (Capes, CNPq, Fundações
estaduais), para que editais espe-
cíficos, envolvendo a Pedometria
possam ser lançados. Apostamos
Foto: Ricardo Dalmolin. Acervo pessoal. também que o PronaSolos, o qual
se desenha promissor em relação
ao mapeamento de solos no Brasil,
dometria da SBSC. Em 2014, em Em relação ao ensino, fizemos possa contribuir ainda mais para
um esforço conjunto, envolvendo uma enquete entre os colegas que o aperfeiçoamento de técnicas e
pesquisadores de todas as regiões compõem as listas de discussão metodologias que envolvam a Pe-
do Brasil, foi construído um projeto soil-mapping@googlegroups.com dometria especificamente para as
cuja temática principal era a Pedo- e Pedometria@googlegroups.com condições brasileiras.
metria. Esse projeto foi submetido com a seguinte questão: “Como a
ao Edital do INCT CNPq, porém, Pedometria está sendo abordada
Ricardo Simão Diniz Dalmolin é profes-
não foi contemplado com recur- em disciplinas de graduação e pós- sor do Departamento de Solos da UFSM.
sos. Em 2015 foi realizada, agora graduação? Informe se há uma dis- E-mail: dalmolin@ufsm.br
sob a coordenação da Comissão de ciplina específica ou este tema está Alexandre tem Caten é professor do De-
Pedometria da SBCS, o I Encontro incluso em alguma disciplina sob partamento de Agricultura, Biodiversi-
dade e Florestas da UFSC, Campus Curi-
Brasileiro de Pedometria – Pedo- sua responsabilidade”. tibanos. E-mail: alexandre.ten.caten@
metrics Brazil (Boletim SBCS Volu- ufsc.br
me 41, Número 1, maio de 2016), Obtivemos retorno de colegas do André Carnieletto Dotto é pós-dou-
já com previsão de em 2018 ocor- CNPS-Embrapa, CPACT-Embrapa, torando na ESALQ-USP. E-mail: andre-
cdot@gmail.com
rer o II Pedometrics Brazil. Esalq, UNESP/Jaboticabal, UFFS,

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 21


OPINIÃO

Foto: Arquivo do Grupo de Pesquisa da UFSM.

DADOS PARA APLICAÇÕES


PEDOMÉTRICAS EM LARGA
ESCALA NO BRASIL
Alessandro Samuel-Rosa
Gustavo M. Vasques

A pedometria é a disciplina da
Ciência do Solo dedicada ao
estudo da variação espacial
e temporal do solo e, assim da pe-
dogênese, lançando mão de tecno-
dependentes. As variáveis de res-
posta são aquelas variáveis que se
deseja compreender ou estimar,
ou seja, as propriedades, caracte-
rísticas, atributos do solo, como o
processos controlados pelos com-
ponentes ambientais que moldam
a paisagem. Nesse caso, dados
representando os componentes
ambientais na paisagem são usa-
logias da informação (TIs) para a conteúdo de argila e a classe taxo- dos como variáveis explicativas ou
coleta, armazenamento, manipu- nômica. independentes para predizer va-
lação, modelagem e distribuição riáveis de resposta do solo. Os da-
de dados do solo. O insumo básico O mapeamento digital do solo, por dos do solo também podem servir
de uma aplicação pedométrica são exemplo, é um método pedométri- como variáveis explicativas, como
os dados do solo, que adquirem o co que pressupõe que o solo e suas no caso das chamadas funções de
papel de variáveis de resposta, ou características são resultado de pedotransferência, em que uma

22 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


variável do solo - como o conteú- Tabela 1 Bases de dados de solos e estimativa do número de observações que contêm

OPINIÃO
do de matéria orgânica - pode ser Base de dados Endereço Observações
estimada a partir de outra variável, http://africasoils.net/services/data/
Africa Soil Profiles Database 18.500
como a sua cor, por exemplo. soil-databases
http://www.inegi.org.mx/geo/conte-
Archivo Digital de Perfiles de
Historicamente, a maneira mais Suelo de México
nidos/recnat/edafologia/PerfilesSue- 10.000
lo.aspx
comum de obtenção de dados do
BrazilSoilDB http://www.esalq.usp.br/gerd 5.500
solo é a sua amostragem, usando
métodos e ferramentas para a sua Sistema de Informação de So- https://www.bdsolos.cnptia.embrapa.
9.000
los Brasileiros br/consulta_publica.html
coleta e descrição no campo, se-
guidos pela análise das amostras Sistema de Información de
http://sisinta.inta.gob.ar 3.000
Suelos del INTA
no laboratório. Essa foi a maneira
Soil and Landscape Grid of http://www.clw.csiro.au/aclep/soilan-
com a qual inúmeros projetos de Australia dlandscapegrid
280.000
levantamento e de pesquisa de so-
USA National Cooperative Soil
los geraram, ao longo de décadas, Survey
https://sdmdataaccess.nrcs.usda.gov 50.000
um grande volume de dados lega- World Soil Information Service http://www.isric.org/explore/wosis 100.000
dos, literalmente ‘deixados para as
próximas gerações. Muitos desses
dados estão compilados em repo-
sitórios institucionais, com abran- se em laboratório), existem hoje metria de infravermelho ou a aná-
gências nacional, regional e global métodos alternativos tanto para lise da susceptibilidade magnética
(Tabela 1), porém uma boa parte definir os locais de amostragem se- do solo. Tais métodos, chamados
deles encontra-se dispersa e sob o gundo critérios objetivos, usando em conjunto de sensoriamento
risco de não ser reaproveitada ou técnicas de inteligência artificial1, proximal do solo, podem ser apli-
mesmo ser perdida para sempre. quanto para analisar as amostras cados in situ para obter dados do
de terra de maneira mais limpa solo sem a necessidade de coletar
No Brasil, a principal fonte de da- e não-destrutiva, ao invés de via amostras de terra (Figura 2).
dos compilados é o Sistema de análise química, como a espectro-
Informação de Solos Brasileiros Uma vez coletados, os dados do
(https://www.bdsolos.cnptia.em- solo precisam ser armazenados e
brapa.br/consulta_publica. organizados apropriadamente para
html), da Embrapa, que conta possibilitar uma eficiente distribui-
com dados de cerca de 9.000 ção para uso atual e futuro
perfis de solos. O IBGE tam- por qualquer pessoa inte-
bém disponibiliza dados, ressada. Existem inú-
principalmente os do meras alternativas
Projeto Radambrasil, tecnológicas para o
em sua página (http:// armazenamento dos
www.downloads.ibge. dados, desde planilhas
gov.br). Juntos, os dados sob eletrônicas (CSV) até
salvaguarda da Embrapa e do IBGE os sistemas de gerencia-
somam cerca de 10 mil observa- mento de bases de dados
ções (pontos amostrais, perfis) do relacionais (PostgreSQL).
solo que estão sendo usados para Como o volume de dados
construir o futuro Repositório Bra- do solo usado em aplicações
sileiro Livre para Dados Abertos do pedométricas, mesmo quando
Solo (http://coral.ufsm.br/febr/) em larga escala, ainda é relativa-
(Figura 1). mente pequeno (<< 1 Gb), bases
de dados relacionais ainda são a
Além dos métodos convencio- solução de armazenamento mais
nais de amostragem de solos (por eficiente. Além disso, elas são ca-
Figura 1. Localização das cerca de 10 mil
exemplo, locais de amostragem pazes de acomodar dados de dife-
observações do solo disponíveis para uso nas
são escolhidos a dedo e amostras plataformas on-line da Embrapa e do IBGE.
de terra são coletadas para análi- Fonte: Acervo do Grupo de Pesquisa da UFSM. 1
Boletim Informativo SBCS V 42.N 1, 2016.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 23


OPINIÃO

Fonte: Acervo do Grupo de Pesquisa da UFSM.

Figura 2. Coleta de dados do solo utilizando sensores proximais (espectrômetro de raios gama à esquerda e medidor de
condutividade elétrica e susceptibilidade magnética à direita).

rentes tipos, georreferenciados ou cessamento, como zoom, inspeção dados já disponíveis, a exemplo do
não, com diferentes conteúdos e de atributos (botão info), buffering, Repositório Brasileiro de Dados de
formatos: desde observações pon- spatial join; (c) ferramentas de con- Ferro do Solo (www.ufsm.br/febr),
tuais contendo poucos (somente sulta de dados espacial e/ou por da Universidade Federal de Santa
análises de rotina do solo) a milha- valor de atributos; (d) possibilidade Maria, e da Biblioteca Espectral de
res de dados (análises de rotina + de exportação dos dados em for- Solos do Brasil (http://bibliotecaes-
curva espectral com ~ 2000 ban- matos abertos, como CSV e KML; e pectral.wixsite.com/esalq), da Uni-
das), além de permitirem consultas (e) ferramentas de comunicação e versidade de São Paulo.
complexas, com resultados produ- colaborativas para a manutenção,
zidos em frações de segundo. conferência e atualização dos dados Plataformas multiusuário, siste-
pela comunidade de mantenedores mas de gerenciamento e compar-
Considerando as tecnologias dispo- e usuários do sistema. Infelizmente, tilhamento de dados on-line, fer-
níveis, o sistema de gerenciamento essa não é a realidade das bases de ramentas robustas de análise de
de dados do solo deve fornecer as dados de solos. Big Data, e processos de geração
características mínimas necessárias contínua de informações do solo,
para as etapas posteriores de mo- A geração de informações atualiza- em múltiplas escalas, se tornarão
delagem dos dados. No caso da pe- das do solo para todo o Brasil re- cada vez mais comuns e devem ser
dometria, envolvem a análise dos quer a manipulação de um grande invariavelmente assimilados pela
dados do solo e da sua relação com volume de dados, os quais ideal- comunidade de cientistas do solo
os componentes da paisagem para mente deveriam estar organizados e traduzidos para a comunidade de
produzir modelos de representação e disponíveis para acesso em bases usuários de informações. A pedo-
do comportamento espacial e/ou de dados públicas e/ou privadas metria pode ajudar sobremaneira
temporal do solo; modelos de pre- abertas. No entanto, estima-se que para esse fim, fornecendo ferra-
dição dos seus atributos; modelos boa parte (talvez a maior parte) dos mentas para a coleta, organização,
das relações solo-paisagem, enfim, dados legados estão dispersos em análise e distribuição dos dados
para permitir o entendimento da repositórios institucionais de acesso legados, atuais e futuros de solos.
formação e distribuição do solo e restrito, em computadores pessoais
dos seus atributos. Entre essas ca- e/ou em meios analógicos (impres-
racterísticas, idealmente, o sistema sos em papel). Caberia aqui um es- Alessandro Samuel-Rosa Universidade
teria: (a) possibilidade de acesso on forço conjunto da comunidade cien- Federal de Santa Maria. E-mail: alessan-
-line gratuito via navegador ou ser- tífica para recuperar esses dados e drosamuel@mail.ufsm.br
Gustavo M. Vasques Embrapa Solos.
viços web; (b) ferramentas básicas torná-los disponíveis para uso, bem E-mail: gustavo.vasques@embrapa.br.
de visualização dos dados e geopro- como para revisar a qualidade dos

24 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


OPINIÃO

Foto: acervo dos autores.

PEDOMETRIA
E USO DE NOVAS TECNOLOGIAS
Eliana de Souza
Marcio Rocha Francelino
Elpídio Inácio Fernandes Filho

A Pedologia do Brasil, atual-


mente, passa por momento
especial devido a dois fato-
res. O primeiro está associado à
possibilidade de implementação
Acompanhando tendência mun-
dial, vários pedólogos no Brasil
vêm se dedicando ao estudo e
aplicação das chamadas técnicas
de mapeamento digital de solos
sensoriamento remoto a um nú-
mero maior de dados relacionados
aos solos e suas conexões com as
paisagens, gerando modelos ex-
plicativos e probabilísticos que
do Programa Nacional de Solos do (MDS), que promovem a aplicação podem ser repetidos e avaliados
Brasil – PronaSolos -, que prevê o de novas ferramentas, tanto em estatisticamente quanto ao grau
mapeamento de solos, em escala nível instrumental, como no com- de acerto e de erro (ou certezas e
mais detalhada, de todo o território putacional, no desenvolvimento de incertezas).
nacional e que exigirá um enorme modelos que retratam a distribui-
esforço da comunidade pedológica ção de classes e atributos dos solos O avanço na Pedometria na Ciência
do país para a sua realização - caso na paisagem. A maior capacidade do Solo, no Brasil, resultou na cria-
venha se concretizar. O segundo de processamento computacional ção, em 2011, da Comissão de Pe-
decorre de constituir-se em uma permitiu o surgimento de softwa- dometria, dentro da Divisão 1 (Solo
grande oportunidade para utilizar res mais robustos e, consequente- no Espaço e no Tempo). Neste tex-
novas técnicas de mapeamento, o mente, a aplicação de técnicas de to será apresentado uma síntese
que remete ao segundo motivo. estatística espacial, matemática e da evolução do uso das técnicas de

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 25


cas ambientais da área mapeada;
OPINIÃO

os recursos computacionais; a faci-


lidade de implementar o modelo e
de interpretar os resultados, bem
como a exatidão do mapeamento.
Para a predição de propriedades de
solo (isto é, carbono orgânico, den-
sidade do solo, frações de textura),
Minasny e Hartemink (2011) enu-
meraram vários métodos, baseando
em critérios que incluem a facilida-
de de uso e a eficiência de predição,
Fonte: Acervo do Lab.de Geoprocessamento – DPS/UFV
elegendo o de Árvore de Regressão
Modelo digital de elevação gerado por veículo aéreo não tripulado. como o de maior potencial.

MDS no mundo, considerando dois (2011), que apresentaram revisão Os métodos geoestatísticos diferen-
contextos: as partes instrumental e sobre trabalhos com mapeamento ciam-se dos da estatística clássica,
computacional. de solos em escala continental. principalmente, pelo uso de dados
espaciais e por empregar a auto-
Inicialmente, foi realizado um levan- De modo geral, os métodos utiliza- correlação no método da krigagem
tamento na base de artigos indexa- dos em MDS variam entre modelos como interpolador espacial. O uso
dos pela plataforma Web of Scien- estatísticos, geoestatísticos, híbri- de geoestatística nos estudos de
ce, para o período de 1992 a 2016, dos (estatísticos/geoestatísticos) solo ocorreu para se buscar avaliar
realizando busca (na língua inglesa) e métodos mais complexos, como quantitativamente a variabilidade
da palavra “solos”, no título da pu- árvore de decisão, sistemas espe- de seus atributos. Um dos primeiros
blicação, em associação com pala- cialistas, lógica Fuzzy e sistemas trabalhos a utilizar essa técnica foi
vras-chave relacionadas com méto- hierárquicos. desenvolvido por Burgess e Webs-
dos, técnicas e dados utilizados em ter, em 1980. Desde então, vários
estudos de gênese e mapeamento Segundo trabalho de McBratney e estudos de solo empregaram a
de solos. A série temporal de dados colaboradores (2000), a escolha de geoestatística para espacializar efei-
analisados permitiu identificar algu- um método para o mapeamento de tos de contaminação, salinidade e
mas tendências nessa área. solos depende de fatores, como: a fertilidade, entre outros atributos e
disponibilidade de informações de características do solo. A adoção de
Métodos matemáticos, es- solo e de covariáveis; o tamanho (ou modelos híbridos, utilizando a inter-
tatísticos e geoestatísticos resolução espacial) e as característi- polação geoestatística combinando
utilizados em MDS
A primeira visão geral das técnicas
utilizadas em Pedometria foi des-
crita por Webster (1994). Depois
disso, McBratney e coautores fize-
ram duas extensas revisões sobre
o assunto nos anos 2000 e 2003,
sendo que a mais recente lista mais
de 100 aplicações em MDS. Acres-
centa-se a essa lista, a revisão de
Goovaerts (1999) sobre o estado
da arte das técnicas geoestatísticas
na Ciência do Solo e a revisão sobre
o mapeamento preditivo do solo
efetuada por Scull e colaboradores
(2003). Ao longo do tempo, vários
outros trabalhos mostraram ten- Fonte: Acervo do Lab.de Geoprocessamento – DPS/UFV
dências e métodos utilizados em
MDS, como Grunwald e coautores Modelos digitais de elevação em diferentes resoluções espaciais

26 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


pelos modelos CART – baseados

OPINIÃO
em árvores de regressão e classifi-
cação, que apresentam entre 14 e
60 trabalhos. Destaca-se também
modelos de Lógica Fuzzy, com 47
trabalhos. Vale salientar a grande
evolução no uso do classificador
Random Forest, que, apesar de
ser citado somente em 37 artigos.
Neles, concentraram-se apenas no
período a partir de 2008, quando
foi citado pela primeira vez, a 2016,
quando foram encontradas 15 cita-
ções.

O grande volume de imagens dis-


poníveis de sensores remotos de
Figura 1. Evolução das publicações relacionadas à Ciência do Solo (Número de artigos publica- vários satélites e os modelos digi-
dos entre 1992 e 2016). Consulta na base Web of Science pelos termos em inglês, associado à
palavra “solos” no título de publicação.
tais de elevação e bases de dados
CART: Árvore de classificação e regressão, IDW: inverso da distância ponderada, GAM: mod- climáticos, em nível global, levaram
elos aditivos generalizados, GLM: modelos lineares generalizados, LIBS - Espectroscopia de a um grande avanço na utilização
emissão óptica da técnica de mineração de dados
(Figura 3). Várias rotinas para es-
com o uso de variáveis auxiliares, tais utilizados na Pedometria, me- ses processamentos de mineração
tem sido servido para melhorar a rece destaque o uso de fluorescên- de dados estão disponibilizadas
exatidão das predições espaciais cia de raios-X e, principalmente, em linguagens de programação de
(Hengl et al., 2004). de Espectroscopia de infraverme- software livre, como R e Python.
lho - essa última com
A evolução do uso de técnicas re- mais referências do que
lacionadas ao MDS, no período o próprio termo MDS,
entre 1992 e 2016, é apresentada com quase 70 citações
na Figura 1. O levantamento biblio- em 2016 e totalizando
gráfico evidencia o forte incremen- 573 em todo o período.
to no uso de MDS a partir do ano Os avanços nessa área
de 2007, partindo de 10 citações apontam, em um futuro
naquele ano, para 60, em 2016. próximo, para a substitui-
O termo Pedometria, que muitas ção de parte de proces-
vezes é utilizado como sinônimo sos analíticos de labora-
de MDS, não apresentou a mesma tório por procedimentos
evolução do seu correlato, pois não espectroscópicos, mais
ultrapassou mais do que quatro ci- rápidos e ambientalmen-
tações por ano. Já o termo Pedo- te menos impactantes.
transferência passou a ser citado
mais cedo e chegou a ser citado 40 No que se refere às fer-
vezes no ano de 2014. As funções ramentas estatísticas/
da Pedotransferência objetivam matemáticas, os algorit-
estimar atributos do solo que têm mos mais utilizados até
alto custo analítico ou dificuldades 2016 foram Regressão
operacionais, por meio da correla- linear e Krigagem, com
ção com um ou mais atributos, que aproximadamente 500
podem ser obtidos com custo mais trabalhos cada (Figura 2).
baixo ou com maior rapidez. Na sequência, aparecem Figura 2. Número de citações de algoritmos de classifi-
os modelos de Redes cação/regressão/interpolação/decisão em artigos publica-
Em relação a aspectos instrumen- Neurais (109), seguidos dos de 1992 a 2016. Fonte: adaptado de Web of Science.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 27


OPINIÃO

Fonte: Acervo dos autores.

Localização de perfis em mosaico gerado por drone

O software livre ampliou o acesso Trata-se de um desafio que mere- Grunwald, S., Thompson, J.A., Boettin-
a ferramentas estatístico/matemá- ce ser enfrentado, em função dos ger, J.L. 2011. Digital soil mapping
ticas, sendo que, para a linguagem potenciais dessas técnicas. O uso and modeling at continental scales:
R, bibliotecas foram desenvolvidas das técnicas e ferramentas de MDS finding solutions for global issues.
especificamente para o processa- pode contribuir ainda mais para a Soil Sci. Soc. Am. J. 75, 1201–1213.
mento de dados pedológicos, prin- competência dos cientistas de solo McBratney, A.B., Odeh, I.O.A., Bishop,
cipalmente para fins de classifica- do Brasil. T.F.A., Dunbar, M.S. and Shatar, T.M.
ção e estudos de física do solo. 2000. An overview of pedometric te-
Referências chniques for use in soil survey. Geo-
Os resultados do levantamento de Burgess, T.M., Webster, R. 1980. Op- derma, 97(3-4): 293-327.
dados bibliográficos realizado mos- timal interpolation and isarithmic McBratney, A.B.; Odeh, I.O.A.; Bishop,
tram que os cientistas do solo estão mapping of soil properties: I. The se- T.F.A.; Dunbar,M.S.; Shatar, T.M.
se apropriando das mais modernas mivariogram and punctual kriging. J. 2000. An overview of pedometric te-
ferramentas estatísticas, compu- Soil Sci. 31, 315–331. chniques for use in soil survey. Geo-
tacionais e analíticas, buscando o Goovaerts, P. 1999. Geostatistics in soil derma 97: 293–327.
entendimento do solo e suas com- science: State-of-the-art and pers- Minasny B, Hartemink AE. 2011. Predic-
plexas relações internas e externas. pectives. Geoderma, 89(1-2): 1-45. ting soil properties in the tropics. Ear-
th-Science Reviews 106,52–62. 2011.
Scull, P., Franklin, J., Chadwick, O.A.
and McArthur, D. 2003. Predictive
soil mapping: a review. Progress in
Physical Geography, 27(2): 171-197.
Webster, R. 1994. The development of
pedometrics. Geoderma 62, 1–15.

Eliana de Souza é pós-doutoranda no


Departamento de Solos da Universidade
Federal de Viçosa (UFV). Email: eliana.
souza@ufv.br

Marcio Rocha Francelino e Elpídio Inácio


Fernandes Filho são professores do De-
partamento de Solos UFV. Email: márcio.
Figura 3. Evolução do uso do termo “mineração de dados” em estudos de solo - Número de francelino@ufv.br, elpidio@ufv.br
artigos publicados entre 1992 e 2016. Fonte: adaptado de Web of Science.

28 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


OPINIÃO

O sensoriamento é classificado como


remoto (SR) - quando sensores são insta-
lados em satélites, aviões, VANTs e drones

Foto: acervo dos autores.

UMA VISÃO GERAL SOBRE


SENSORIAMENTO REMOTO
E PRÓXIMO NA CIÊNCIA DO SOLO
José Alexandre M. Demattê
Fabricio da Silva Terra
André Carnieletto Dotto

G rave esta informação: um


sensor pode estar alocado
em qualquer posição para o
estudo do solo, desde em um saté-
lite até dentro de uma trincheira!
cialmente proposto com o termo
proximal, quando relativo ao inglês,
em publicação de Viscarra Rossel et
al., 2010), quando usados manual-
mente no campo, transportados por
Nós fazemos sensoriamento a todo
momento através do olho humano
(sensor), captando informações so-
bre os objetos por meio da energia
no espectro visível. Essa energia é
O que varia é o grau de detalhe e veículos terrestres ou em laborató- denominada de radiação eletromag-
o objetivo do usuário, em cada um rio. O sensoriamento baseia-se no nética (REM) e pode ocorrer em inú-
tem vantagens e limitações, e sem- princípio da energia que interage meras faixas, como gama, raios-X,
pre há necessidade de padrões ad- com os componentes de um objeto ultravioleta, visível (vis), infraverme-
vindos do campo. (solo), sem haver contato com ele. O lho-próximo (nir), -de ondas curtas,
termo remonta à ideia de ‘ferramen- (swir), -médio (mir ou mid), -termal
O sensoriamento é classificado como ta’ (sensor = equipamento), mas, há e micro-ondas. Os equipamentos
remoto (SR) - quando sensores muito tempo, é considerada uma que captam a REM têm inúmeras
são instalados em satélites, aviões, ciência, desde que estude as intera- denominações, mas o mais comum
VANTs, drones - e próximo (SP) (ini- ções entre energia e matéria. é radiômetro (capta radiância).

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 29


emissões e/ou reflexões. Na medida
OPINIÃO

em que ocorre uma informação (re-


flexão) em cada CO, ter-se-á ao final
uma representação gráfica (x, y)
(Fig. 1a). Essa informação é denomi-
nada de curva espectral, assinatu-
ra espectral ou digital da amostra.
Tais dados podem ser analisados de
maneira descritiva (morfologia do
espectro), atentando para três fato-
res principais: feições de absorção,
intensidade de reflectância e forma
geral da curva; ou quantitativamen-
Fonte: Google: eutelsat-65-west te, por meio de análises estatísticas
e modelagem.

A palavra espectro baseia-se numa frisar que existem controvérsias na As feições de absorção são resul-
representação das amplitudes ou literatura quanto a alguns concei- tantes de interações microscópicas
intensidades das frequências ao tos e que, de acordo com a área de (transições eletrônicas e vibrações)
longo da região da radiação eletro- atuação do usuário, pode haver dis- entre REM e os grupos funcionais
magnética, surgindo o termo espec- cordâncias devido à tradição usual. orgânicos (carboxil, fenólico, alcoó-
tro-eletromagnético. Logo, surgem lico) e minerais (hidroxila, silanol,
denominações como espectrorra- A REM de cada CO que interage com aluminol, ferrol) dos solos. Vários
diometria, que é a técnica de medi- o solo pode seguir diferentes cami- componentes podem ser detecta-
ção do espectro de REM emitida por nhos, sendo absorvida, transmitida dos, com amparo de vasta compro-
um objeto, sendo que o espectrorra- e refletida e, posteriormente, emi- vação na literatura, como grupos
diômetro realiza a medição física em tida. Hoje, a forma de energia mais funcionais dos óxidos de ferro, da
unidades radiométricas para cada estudada é a refletida (reflectância). água, dos filosilicatos, óxidos de alu-
comprimento de onda (CO). mínio e de alguns compostos orgâ-
Vejamos este exemplo: uma amos- nicos. Logo, o formato da curva é o
Outro termo utilizado é a espec- tra de solo recebe sobre si a energia resultado da interação de todos os
troscopia (sinônimo de espectrora- em diferentes CO (por exemplo, en- componentes mineralógicos e orgâ-
diometria), relativo à análise da in- tre 350 e 2500 nm). Cada CO é espe- nicos existentes na amostra do solo
teração entre a matéria e qualquer cífico e carrega consigo uma quan- e está relacionado às suas quantida-
porção do espectro eletromagnéti- tidade definida de energia que, ao des, sendo passíveis de detecção e/
co. Por outro lado, a expressão ‘es- interagir com algum (s) componen- ou quantificação, guardadas as limi-
pectroscopia de reflectância’, para o te (s) do solo, provoca absorções, tações de algumas propriedades.
caso em estudo de solos, se refere à
análise de parte da radiação inciden-
te no objeto nas faixas vis-nir-swir,
mir (apesar de existir energia refle-
tida em outras faixas do espectro).
Espectrofotometria, por sua vez, é
empregada para o estudo da com-
posição química de gases e soluções
por meio de espectros da energia
absorvida (ex.: espectrofotômetro
de chama). O termo espectrome-
tria, por sua vez, faz referência aos
padrões de fragmentações molecu-
lares que são analisadas por meio
da incidência da REM sobre um
composto que absorve a energia
em determinados CO. É importante Fonte: Google: eutelsat-65-west

30 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


OPINIÃO
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A espectroscopia apresenta impor- de quantificação. Quando ocor- Outro ponto em discussão na co-
tante potencial nas avaliações dos rem variações espectrais de solos, munidade científica é sobre quais
solos, por dispensar o preparo es- resultantes de fenômenos de ab- elementos podem ser efetivamen-
pecífico de amostras e uso de rea- sorção específicos, elas podem ser te quantificados. Em recentes re-
gentes químicos, além de ser mais associadas a algoritmos estatísticos visões sobre o tema, nos anos de
barata e rápida que as análises de regressão múltipla, possibilitan- 2014 e 2015, os pesquisadores
convencionais, possibilitando até do a quantificação de atributos dos Soriano-Disla, Nocita e coautores
o aumento da densidade amostral, solos, atividade realizada por espe- apresentaram, em números, os
bem como leituras diretamente em cialistas na área de Pedometria e avanços e limitações na quanti-
campo ou via satélite. Ademais, a Quimiometria (chemometrics). ficação de cada atributo do solo.
partir de uma única leitura espec- Concluíram, por exemplo, que os
tral, podem-se obter inúmeras in- De fato, iniciativas de utilização da principais atributos que têm obti-
formações sobre a amostra do solo. espectroscopia, como análise de do repetitividade e confiabilidade
rotina, incluindo a sua comercializa- são: granulometria, carbono e ca-
Os trabalhos pioneiros sobre espec- ção, já existem pelo mundo, como pacidade de troca catiônica, sen-
troscopia de reflectância na Ciên- exemplo na Austrália (Environmen- do necessários mais estudos para
cia do Solo foram propostos em tal Spectroscopy Laboratory/CSIRO), componentes químicos, como cál-
1965 pelos pesquisadores Bowers África (Soil-plant Spectral Diagnos- cio, magnésio e fósforo. Isso não
e Hanks, e em 1981 por Stoner e tics Laboratory/ICARFT) e, recente- desqualifica, entretanto, o foco da
Baumgarnder. No Brasil, foi efetiva- mente no Brasil, por meio do projeto comunidade internacional em uti-
mente introduzido por pesquisado- SpecSolo, da Embrapa. A técnica da lizar sistemas de data-mining (mi-
res do Instituto Nacional de Pesqui- espectroscopia, entretanto, não é neração de dados) associados a in-
sas Espaciais, na década de 1990, um método analítico, dependente, formações espectrais, no intuito de
com maior amplitude após 1995. portanto, das análises de laboratório obter modelos mais robustos para
tradicionais. Ainda há controvérsias a quantificações desses elementos.
Com o avanço de novos sensores sobre a sistematização de bancos de No entanto, ainda são necessários
terrestres e em satélites, além de dados (bibliotecas espectrais) que maiores esforços científicos para
ferramentas estatísticas de grande atendam necessidades locais, regio- chegar a resultados satisfatórios
poder de análise, hoje já é possí- nais, continentais ou, até mesmo, que atendam, de maneira inequí-
vel avaliar grande quantidade de mundiais, mas a possibilidade de voca, às necessidades, como os
dados, especificamente na linha quantificação é um fato. agrícolas.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 31


OPINIÃO

A)

B)

Figura 1 a) Ilustração da interação entre solo e energia, e curva espectral do solo mostrando características de absorção fundamen-
tais de grupos funcionais, sobretons e combinação de tons no visível e infravermelho próximo (400 – 2.500 nm); b) Alternativas para
a avaliação do solo - Estratégia 1: via satélite; Estratégia 2: via laboratório; Estratégia 3: via campo. (Adaptado do capítulo de livro
Spectral Sensing from Ground to Space in Soil Science: State of the Art, Applications, Potential, and Perspectives, publicado, em 2015, no
Remote Sensing Handbook, por Demattê e colaboradores)

32 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


O uso de sensores em satélites no

OPINIÃO
estudo do solo iniciou-se, primei-
ro, com o Landsat (1971), multies-
pectral com 5 bandas e evoluiu
para 220 bandas no Hyperion ou
600 da Aisa-Fenix em avião. Novos
satélites hiperespectrais estão em
franco desenvolvimento e na imi-
nência de serem lançados a partir
de 2017, tais como: o EnMap (Ale-
manha), PRISMA (Itália), SHALOM
(Itália-Israel), HypXIM (França),
HyspIRI (EUA) e HISUI (Japão). A
resolução espacial também evo-
luiu dos 30 metros (do Landsat)
para 30 cm de pixel do WorldView
3 e até 2 cm em VANTs e drones.
É lógico que, para cada nível de
obtenção de dados existem vanta-
gens e limitações, as quais devem
ser avaliadas pelo usuário e seus
objetivos.

Foto: Designed by tirachard / Freepik. A utilidade do SR e SP ultrapassa


as barreiras agronômicas, aden-
As aplicações do SR ou SP na (Biblioteca Espectral de Solos do trando nas áreas de geologia, uso
Ciência do Solo são inúmeras e Brasil1), que conta com a colabo- da terra, mineração, engenharia
relatadas em literatura nas áreas ração voluntária de pesquisadores civil, alimentos, geotecnia, polui-
de mineralogia, mapeamento e brasileiros. ção ambiental, entre outras. As
classificação, química, fertilida- estratégias de uso de sensores no
de e adubação, geoquímica, pe- A partir das bibliotecas, as infor- estudo do solo são inúmeras e po-
dogênese, microbiologia, física mações terão aplicações em várias dem ser escolhidas pelo usuário,
e conservação, poluição do solo, frentes de trabalho: mapeamen- dada a disponibilidade do produto
etc. Recentemente, adentraram tos de solos, quantificação de atri- e equipamento (Figura 1b). Den-
no mapeamento digital de solos e butos e, mesmo, para relacionar tro do que foi abordado e ampa-
agricultura de precisão. Em cada e entender os dados obtidos por rado por fatos científicos históri-
área de atuação, é o usuário quem VANTS, drones e satélites multi cos e recentes, o sensoriamento
escolhe a técnica ou nível de aqui- e hiperespectrais. De fato, a lite- espectral, remoto ou próximo tem
sição de dados, e jamais deixa ratura já apresenta tentativas de muito a contribuir em qualquer
de relacionar com os padrões de quantificação de argila via satélite, programa de mapeamento de so-
campo ou laboratório. desde 1993, com Coleman et al., los no Brasil e no mundo.
tendo, hoje, avançado para o mo-
Como toda e qualquer técnica, nitoramento do solo sob os mais 1
Site: bibliotecaespectral.wixsite.com.esalq
existe a necessidade de padrões. diversos aspectos.
Nesse aspecto, ocorre um movi-
mento mundial no desenvolvimen- Após o grande feito tecnológico, na José Alexandre M. Demattê é professor.
to das denominadas bibliotecas década de 1930, pela inserção das Departamento de Ciência do Solo, ESAL-
Q-USP. E-mail: jamdemat@usp.br
espectrais, como a iniciativa do Soil fotografias aéreas com resolução Fabricio da Silva Terra é professor do
Spectroscopy Group, que culminou espacial de 25 cm e visão estereos- Centro de Desenvolvimento Tecnológico,
numa publicação de espectros de cópica em 3D na Ciência do Solo, UFPel. E-mail: terra.fabricio@gmail.com
solos de grande parte do mundo, veio a contribuição das imagens de André Carnieletto Dotto é pós-douto-
rando do Departamento de Ciência do
em 2016, por Viscarra Rossel e ou- radar na década de 1970 (culmi- Solo, ESALQ-USP. E-mail: andrecdot@
tros pesquisadores. De fato, o Bra- nando no protagonismo no projeto gmail.com
sil também está construindo a Besb RADAMBRASIL).

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 33


OPINIÃO

Fonte: Acervo dos autores.

ASSINATURA MAGNÉTICA DOS SOLOS:


mineralogia e o DNA dos solos tropicais
José Marques Júnior
Livia Arantes Camargo
Diego Silva Siqueira

N este texto, serão discutidos


conceitos básicos da assina-
tura magnética dos solos,
como minerais presentes no solo
influenciam esse padrão magnéti-
Existem mais de 1,2 milhão de es-
pécies conhecidas no planeta Ter-
ra, entre animais, insetos, fungos
e plantas. Estima-se que há ainda
mais de 7 milhões de espécies a
DNA, em 1869, fez com que a hu-
manidade pudesse dar um salto
na evolução, entendendo melhor
as doenças, produzindo remédios
mais eficientes e alimentos de
co, como tal conhecimento pode serem descobertas. Essa diversi- melhor qualidade.
ajudar no avanço da pedometria dade de espécies, cada uma com
no Brasil, e o mais importante: sua característica e potencialida- Mas qual é a relação do DNA com
como esses conhecimentos po- de, é conhecida como biodiver- a mineralogia do solo? Aliás, o
dem ajudar nos planejamento e na sidade. Mas por que existe bio- que é a mineralogia dos solos e
realização das atividades agrícolas. diversidade? Qual é a sua causa? para que ela serve? Existem, regis-
Para entender o magnetismo do Grande parte da resposta está trados na Terra, mais de 30 tipos
solo e seu potencial de contribui- relacionada ao famoso DNA, uma de solos, chamados tecnicamente
ção para pedometria e agricultura sequência genética que faz com de classes de solo. Cada tipo tem
sustentável, vamos começar pela que cada indivíduo tenha uma uma característica, um potencial
mineralogia. característica. A descoberta do agrícola e ambiental: potencial de

34 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


produção de alimentos, de emitir mas, na engenharia civil, pode aju- gramas do mineral goethita têm a

OPINIÃO
gases do aquecimento global ou dar. Imagine se o planejamento de mesma área de superfície do que o
de ser levado com a enxurrada, ruas e estradas levasse em conta a campo do estádio do Maracanã (1ha
após a chuva ou desastres am- identificação de locais com maior ou 10.000 m2). Esse mineral influen-
bientais. presença de caulinita; ou ainda, se cia por características do solo como:
esse planejamento fosse feito com cor, eficiência de herbicidas e adu-
Assim como o DNA influencia a bio- base no comportamento magné- bação fosfatada. A variação mag-
diversidade, a mineralogia, interfe- tico, avaliado por sensores direta- nética desses minerais acompanha
re nas características dos solos, po- mente no campo1. essas características e pode ser re-
dendo ser relacionada à genética presentada por modelos matemáti-
dos solos. Os minerais encontrados Existem mais de 400 tipos de mi- cos (funções de pedotransferência).
no solo podem ser de dois tipos: (1) nerais registrados no planeta Ter- A expressão magnética da maghe-
aqueles que resistiram ao processo ra. Entretanto, na região tropical, mita é da ordem de 300 a 400 vezes
de transformação das rochas em grande parte das características dos maior do que a expressão magnéti-
solo, chamados de litogenéticos; solos e suas potencialidades estão ca da hematita e da goethita.
(2) os minerais que se formaram mais relacionadas a cinco minerais,
no solo, denominados pedogenéti- em grande parte pedogenéticos: Os minerais estão por toda a parte!
cos. As estruturas dos minerais que maghemita, hematita, goethita, O homem aprendeu a sintetizá-los
vieram da rocha e se formaram no caulinita e gibbsita. Eles são muito em laboratório e a utilizá-los no dia
solo são diferentes, conferindo ou- pequenos: seu tamanho é da ordem a dia: maghemita nos cartuchos de
tras características aos solos. Con- de 0,000002 cm. Mas, apesar do ta- impressora e as antigas fitas de gra-
sequentemente, o comportamento manho, eles têm grande impacto na vação (cassete e DVD), hematita nas
magnético também vai variar. sua vida, assim como bactérias, vírus tintas, minerais nos catalizadores
e grãos de pólen. Para exemplificar a dos escapamentos dos carros para
Conhecer a característica desses capacidade de interação desses mi- filtrar os gases e outras aplicações.
minerais, como se formam e como nerais com o meio ambiente, vamos As características dos minerais já
interagem no meio ambiente, con- falar sobre o conceito de superfície são observadas e utilizadas pelo ho-
tribui para o avanço de várias áreas específica: quanto menor mais rea- mem há 24 mil anos. As esculturas
práticas e da pesquisa, que refle- tivo. O principio da superfície es- dos soldados de terra cota, na China,
tem diretamente no dia a dia das pecífica é o que permite pequenas datados de 2.200 anos atrás, contêm
pessoas e na sua qualidade de vida. estruturas do seu intestino absor- caulinita que, certamente, contribui
Por exemplo: A capacidade da água verem os nutrientes ou limalhas de para o seu estado de conservação. E
de infiltrar no solo e a enxurrada ferro enferrujarem mais rápido do nas Ciências Agrárias e Ambientais,
estão relacionadas com dois mine- que uma peça maior. Pois bem: 90 como todo esse conhecimento so-
rais: a caulinita e a gibbsita. A água
tende a infiltrar mais lentamente
em solos cauliníticos do que em so-
los gibbsíticos. A água que não infil-
tra no solo, conhecida como enxur-
rada, arrasta desde nutrientes até
agroquímicos, presos nos minerais.
A caulinita e a gibbsita também in-
fluenciam no processo de compac-
tação do solo (aumento da dureza).
Solos mais cauliníticos tendem a
ter maior potencial à compactação
do que solos gibbsíticos. Na agri-
cultura, a compactação pode dimi-
nuir a produtividade agrícola, pois
dificulta o crescimento das raízes,

1
Veja o texto Pesquisa Pedométrica no Brasil
e saiba mais sobre a importância dos senso-
res para agricultura digital. Fonte: Acervo dos autores.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 35


bre a mineralogia, o DNA dos solos, vimétrica (ATG), para os minerais dos de rochas diferentes, os solos
OPINIÃO

vem sendo utilizado? Como o mag- caulinita e gibbsita e assinatura es- muitas vezes tinham a mesma cor,
netismo pode ajudar na avaliação do pectral para vários outros tipos de pois um grama de hematita pode
potencial natural dos solos, expresso minerais. pigmentar até um quilo de solo na
em parte pelos minerais com dife- cor vermelho sangue. Assim, quan-
rentes padrões magnéticos?2 Mais recentemente uma técnica do o solo fosse atraído pelo ímã no
que tem sido proposta e utilizada campo, poderia saber se ele era
Assim como o avanço na área da em estudos básicos e aplicados originado da rocha basáltica ou
biotecnologia está relacionado à sobre mineralogia é a assinatura arenítica. Enquanto o imã avalia a
descoberta de novas técnicas para magnética. Nas décadas de 1970- atração magnética, a suscetibilida-
identificar o DNA e mapear os có- 1980, a atração magnética (solo de magnética avalia o potencial de
digos genéticos, os avanços na mi- atraído pelo ímã) era utilizada magnetização, ou seja, o quão fácil
neralogia estão relacionados aos como técnica auxiliar no campo. é a magnetização dos minerais pre-
métodos para identificar e carac- Sobre este assunto, trabalhos im- sentes. Esse potencial de magneti-
terizar esses minerais. O método portantes foram feitos no Brasil por zação está relacionado ao teor de
mais clássico para identificar e ca- Mauro Resende, Nilton Curi e Derli ferro presente nos minerais, tipo
racterizar os minerais é a difração Santana estudando Latossolos de de ferro e até mesmo presença de
de raios-x (DRX). A descoberta da Minas Gerais, Goiás e região cen- titânio3.
difração de raios-x dos minerais tral do Brasil. O ímã ajuda a sepa-
rendeu o Prêmio Nobel de Física rar, no campo, solos com elevado Desde, então, vários avanços ocor-
para o alemão Max Von Laue, em teor de ferro total (mais de 18 %), reram tanto na parte conceitual,
1914. Considerado padrão ouro, geralmente originado de basalto, quanto na parte tecnológica de
tal método requer um investimen- de solos com menor teor de ferro equipamentos para medir o po-
to de aproximadamente R$ 300,00 total, originados de outras rochas. tencial magnético de diferentes
por amostra para conhecer os mi- Grande parte desse ferro está na materiais, dentre eles a rocha e
nerais. Outros procedimentos tam- estrutura dos minerais, especial- o solo. Boas contribuições para o
bém podem ser utilizados, como: mente os óxidos de ferro (magneti- avanço do conhecimento básico
Mössbauer, para os óxidos de ferro ta, maghemita, hematita, goethita e aplicado da assinatura magnéti-
hematita e goethita; análises ter- e ferridrita), abundantes nos solos ca dos solos em diferentes partes
modiferencial (ATD) e termogra- tropicais. É esse ferro presente na do mundo têm sido feitas pelos
estrutura dos minerais que gera as
2
O texto Uma Visão Geral do Sensoriamento
expressões magnéticas. 3
Quer saber mais sobre o magnetismo dos
Remoto e Próximo na Ciência do Solo mostra solos? Leia Suscetibilidade magnética dos
aplicações da assinatura espectral, acredita- A atração magnética era utilizada, solos tropicais: uma alternativa promissora,
mos que a assinatura magnética possa se disponível gratuitamente no endereço ele-
completar aos dados espectrais. porque, apesar de serem origina- trônico < https://goo.gl/ji88zD >

Fonte: Acervo dos autores.

36 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


pesquisadores José Torrent e Vi-

OPINIÃO
dal Barrón, da Espanha; Tadeusz
Magiera, da Polônia; as irmãs Neli
e Diana Jordanova, da Bulgária;
Barbara Maher, no Reino Unido;
Qingsong Liu, na China; Antonio
Carlos Saraiva da Costa, Maurí-
cio Paulo Ferreira Fontes, Alberto
Vasconcellos Inda Junior, Marcelo
Metri Corrêa, no Brasil, entre mui-
tos outros.

Nas Ciências Exatas e da Terra, a


área que estuda o comportamen-
to magnético da rocha e do solo é
a Geofísica. A assinatura magné-
tica do solo pode ser avaliada ou
estimada por diferentes técnicas
como: dados aeromagnéticos4,
magnetometria, eletrorresistivi-
dade, suscetibilidade magnética
e outros métodos. Em Ciências
Agrárias e Ambientais, a suscetibi-
lidade magnética tem sido utiliza-
da para identificar locais com dife-
rentes potenciais de adsorção de
fósforo, metais pesados, eficiência
de herbicidas, compactação do
solo, descarte de água residuária,
emissão de gases, erosão, diversi-
dade da flora, produção de cana-
de-açúcar, café e citros. A facili-
dade de automação, baixo custo,
precisão e exatidão desta técnica
a tornam aplicável e viável. Vários Figura 1 1: Modificado de Camargo et al. (2016). Disponível em:
Soil Use and Management http://dx.doi.org/10.1111/sum.12255
projetos-pilotos realizados no Bra- 2: Modificado de Siqueira et al. (2014). Disponível em: Geoderma - https://doi.or-
sil, nos estados de São Paulo, Rio g/10.1016/j.geoderma.2014.04.037
Grande do Sul, Maranhão, Piauí,
Pernambuco e Amazonas, em vá-
rias escalas (1ha a 13 milhões de O próximo passo é utilizar a mode- de modelagem na pedometria e na
hectares), confirmam o potencial lagem matemática e computacio- checagem em campo para diferen-
da técnica para o mapeamento de nal já desenvolvida com dados da tes finalidades e aplicações.
grandes áreas com base no poten- assinatura magnética do solo para
cial mineralógico local, regional ou estimar outras características e po-
estadual. tenciais do solo de interesse agro- José Marques Júnior é professor do
Departamento de Solos e Adubos da
nômico e ambiental. Essa é a con- UNESP/Jaboticabal. E-mail: marques@
4
Dados aeromagnéticos são obtidos por sen- tribuição da assinatura magnética fcav.unesp.br
soriamento remoto ou levantamento aéreo. para a pedometria: viabilizar o es- Livia Arantes Camargo e Diego Silva
Resultados preliminares do Grupo de Pesqui- Siqueira são pós-doutorandos do Labo-
sa CSME comparando assinatura magnética tudo do DNA dos solos em grandes
ratório de Mineralogia do solo UNESP/
do solo, avaliada pela suscetibilidade magné- áreas de forma precisa e prática. Jaboticabal. E-mails: liarantes@gmail.
tica, com dados aerogeofísicos, demonstram
grande aplicabilidade destes dados para pe-
Acreditamos que a suscetibilidade com, diego_silvasiqueira@yahoo.com.br
dometria, viabilizando mapeamento em larga magnética e outros dados geofí- Os autores integram o Grupo de Pesqui-
sa Caracterização do Solo para fins de
escala no Brasil. Acreditamos que os dados sicos possam ser utilizados como Manejo Específico (www.csme.com.br)
de assinatura magnética tenham grande po-
tencial de aplicação no Pronasolos. covariável ambiental no processo

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 37


OPINIÃO

CONTRIBUIÇÕES DA PEDOMETRIA
PARA A GOVERNANÇA DE SOLOS
E O PRONASOLOS
Waldir de Carvalho Junior
Maria de Lourdes Mendonça Santos
Lucia Helena Cunha dos Anjos

O s levantamentos de solo no
Brasil, iniciados na déca-
da de 1950, objetivavam o
atendimento a necessidades pre-
mentes de planejamento, em um
Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA) e à Em-
presa Brasileira de Pesquisa Agro-
pecuária (Embrapa) que estabe-
leçam mecanismos colaborativos
cenário de quase desconhecimen- e permanentes para organização,
to dos solos do país. Em face das sistematização e operacionalidade
limitações de ordem financeira e de dados provenientes de levanta-
de pessoal especializado, foram mentos de solos do Brasil.
executados apenas mapeamentos
generalizados. Nesse contexto, fo- Em atendimento às recomenda-
ram poucos os trabalhos executa- ções do referido Acórdão, foi cons-
dos em escala de maior detalhe, tituído pela Embrapa um Grupo
necessários para embasar o pla- de Trabalho formado por profis-
nejamento das atividades de uso e sionais de diversas instituições de
conservação da terra. ensino e pesquisa do país, atuan-
tes na área da Ciência do Solo,
Recentemente, o Tribunal de Con- visando à elaboração de um Pro-
tas da União (TCU), em seu Relató- grama Nacional de Solos do Brasil
rio de Auditoria TC 011.713/2015- (Pronasolos).
1, apontou que a insuficiência de
informações e a dificuldade de Os objetivos principais do Prona-
acesso a dados de solos, devido à solos são a retomada da realização
inexistência de um sistema único dos levantamentos pedológicos
ou de uma plataforma que permita em caráter multiescalar e respec-
a interpretação desses dados, são tivas interpretações, compatibiliza-
fatores que comprometem o pla- da com as demandas oriundas das
nejamento, a execução e o monito- políticas de governo para o setor.
ramento das políticas públicas para Além disso, visa estabelecer uma
o uso sustentável da terra. base de dados integrada, na qual
as informações de solos estejam
Com base nessas constatações, organizadas e sistematizadas para
foi firmado o Acórdão TC n° consulta do público em geral. O
1942/2015, que determina, den- Pronasolos foi estruturado em três
tre outras providências, a inclu- níveis de atuação: Estratégico, Táti-
são, no próximo Plano Plurianual co e Operacional.
(PPA), de um programa nacional
de levantamentos e interpretação Para que as funções de governança
de solos, bem como recomenda ao sejam executadas de forma satisfa-

38 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


tória, os mecanismos de liderança, dades e organizações envolvidas em construir um consórcio nacio-

OPINIÃO
estratégia e controle devem estar na sua execução. Controle, por sua nal multi-institucional e o segundo,
presentes. A liderança refere-se ao vez, abrange aspectos, como trans- dos arranjos estaduais e regionais.
conjunto de práticas de natureza parência, prestação de contas e O nível tático terá coordenação da
humana ou comportamental que responsabilização. Embrapa Solos. O nível operacional
asseguram a existência das condi- refere-se à execução propriamente
ções mínimas para o exercício da Para o Pronasolos, foram definidos dita dos levantamentos e interpre-
boa governança. A estratégia en- três níveis de governança, confor- tações de solos, dos treinamentos,
volve o relacionamento com partes me a figura 1. O nível estratégico da execução de sistemas de acesso
interessadas, a definição e monito- se refere à alta instância do gover- e controle de dados, etc.
ramento de objetivos, indicadores no federal e será coordenado pelo
e metas, bem como o alinhamento MAPA. O nível tático trata de dois Devemos considerar também que
entre planos e operações de uni- subníveis, sendo o primeiro focado existe um sinal claro de que vive-

Foto: Designed by Jannoon028 / Freepik.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 39


Podemos incluir o desenho amos-
OPINIÃO

tral, a quantificação de incertezas


e o pré-processamento das co-
variáveis em que as feições mais
informativas serão extraídas em
escalas apropriadas, segundo re-
sultados de Lark e pesquisadores,
em 2010.

A Pedometria, com a aplicação de


novos métodos, procedimentos
e ferramentas, dará suporte aos
mapeamentos sistemáticos no ní-
vel operacional. Procedimentos de
análise de solos usando sensores
proximais, como espectroradiôme-
tros, tensiômetros e colorímetros,
com protocolos de uso definidos
no nível tático, agilizarão e dimi-
Figura 1 Organograma de estruturação do Pronasolos. nuirão os custos. Sensores distais
serão intensamente usados, tan-
to para dar suporte à Cartografia,
mos em um mundo digital, no qual midade na geração dos produtos como para servirem de variáveis
a informação quantitativa com esperados. para os modelos de mapeamento.
uma incerteza mensurável é es- Todo este ferramental será objeto
sencial. O acúmulo de uma vasta No caso da uniformidade dos do treinamento e capacitação de
quantidade de informação geoes- produtos gerados, a Pedometria pessoal para atuação no progra-
pacial, com o rápido desenvolvi- terá papel essencial, definindo ma. O trabalho de Viscarra Rossel
mento de técnicas geoestatísticas, procedimentos comuns a priori, e demais pesquisadores (2011)
cria novas oportunidades para a que unifiquem as ações do nível demonstra como os novos dados
Pedometria, segundo resultados operacional, facilitando o acom- poderão ser explorados para me-
de pesquisa de Zhu e colaborado- panhamento e a correção de pos- lhorar a eficiência dos métodos pe-
res publicados em 2012, inclusive síveis incongruências. Especifica- dométricos.
aquelas ligadas aos objetivos do mente, no nível tático, poderão
Pronasolos. ser definidos os procedimentos O Pronasolos prevê que a produ-
para esquemas amostrais voltados ção de mapas de solos seja uni-
As contribuições da Pedometria às diferentes escalas e aos dados forme para todo o Brasil. Nesse
à governança do Pronasolos po- envolvidos, para a modelagem e aspecto, a Pedometria tem pa-
derão se dar nos níveis tático e mapeamento de classes de solos
operacional. No primeiro nível, as e, principalmente, de métodos de
coordenações estaduais e os con- validação, que irão assegurar um
selhos regionais poderão utilizar produto de alta qualidade e con-
medidas pedométricas para acom- fiabilidade.
panhar a execução no nível opera-
cional. Essas medidas se referem Ainda considerando o nível ope-
ao acompanhamento da evolução racional, a Pedometria deve estar
dos mapeamentos nas escalas de presente em todas as suas fases.
1:25.000, 1:50.000 e 1:100.000; A utilização de novos métodos
estabelecimento de mecanismos e equipamentos é fundamental
de validação e certificação dos para o sucesso do programa. Isso
produtos gerados; orientação da pode significar homogeneização
utilização de novas ferramentas e dos produtos, maior rapidez e, em
métodos de mapeamento, e ga- alguns casos, diminuição de recur- Figura 1 Modelo de elevação digital do
rantia de que exista uma unifor- sos aplicados aos mapeamentos. terreno, com diferentes camadas.

40 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


pel importante, pois é por meio

OPINIÃO
desta disciplina que poderão ser
construídos índices e procedimen-
tos de amplo espectro de uso. O
programa comportará validações
e interpretações em escalas dife-
rentes e em regiões distintas do
país. As validações vão assegurar
a qualidade dos produtos gerados,
e as interpretações serão conduzi-
das de forma a gerar produtos ho-
mogêneos e de alto impacto para
diversos fins.

Num universo de governança de


solos mais amplo, a Pedometria
pode auxiliar criando metodologias
de avaliação das condições dos so-
los, tanto atuais quanto prognósti-
cos de degradação. O conhecimen-
to das condições ideais de um solo,
por comparação de índices, criará Figura 1 Mapa de solos do Brasil na escala pouco detalhada
cenários de uso e de possibilida-
des de degradação. Expectativas
de produção, de inserção de novas a elaboração de uma estratégia Referências
culturas e de novas áreas aos pro- de governança em solos para Brasil. Tribunal de Contas da União.
cessos produtivos deverão estar o Brasil, em resposta às deter- Dez passos para a boa governança /
contemplados nos resultados es- minações e recomendações do Tribunal de Contas da União. – Bra-
perados do programa. Acórdão TCU 1942/2015. Nela, sília: TCU, Secretaria de Planejamen-
o Pronasolos é uma ação central to, Governança e Gestão, 2014. 28 p.
Um aspecto essencial do Pro- e fundamental, pois tem como LARK M., MINASNY B., BEHRENS T. &
nasolos refere-se à formação e metas principais resolver os pro- SCHOLTEN T. Special section pedo-
qualificação de pessoal para dar blemas: 1- A não existência de metrics 2007. Geoderma, 155:131-
prosseguimento, após a sua vi- dados e informação de solos em 131, 2010
gência, às ações de inventário de escala adequada para a tomada VISCARRA ROSSEL, R.A., CHAPPELL, A.,
solos necessárias ao atendimen- de decisão; 2 – A insuficiência de CARITAT, P. & MCKENZIE, N.J. On
to de exigências futuras de de- do atual nível de conhecimento the soil information content of visi-
senvolvimento de pessoas. Essa sobre os solos para que o plane- ble-near infrared reflectance spec-
ação do programa será conduzi- jamento do uso da terra e das tra. 2011. European Journal of Soil
da pelas instituições de ensino ações de conservação e recu- Science, 62, 442–453.
superior do Brasil. Elas traçarão peração do solo e da água, seja ZHU A.X., LARK M., MINASNY B. &
estratégias de formação de mais feito em nível de microbacias hi- HUANG Y.F. Entering the digital
de 500 especialistas, em todos os drográficas, e 3- A dificuldade de world (pedometrics 2009). Geoder-
níveis, para a atuação no progra- acesso aos dados e informações ma, 171:1-2, 2012
ma nos primeiros quatro anos de por parte dos tomadores de deci-
implantação. são, visto que não há um sistema
único de dados e informações de
Atualmente, um grupo de tra- solos no país, que permita aos
Waldir de Carvalho Junior é pesquisador
balho interministerial, liderado na Embrapa Solos. E-mail: waldir.carva-
usuários a interpretação desses lho@embrapa.br
pela Casa Civil da presidência da dados para gerar novas informa- Maria de Lourdes Mendonça Santos
República, com a participação ções. Por isso, o Pronasolos será é pesquisadora na Embrapa Cocais.
de representantes de diversas um serviço do País para todos os
E-mail: lourdes.mendonca@embrapa.br
instituições, está buscando criar Lucia Helena Cunha dos Anjos é profes-
cidadãos brasileiros. sora na UFRRJ. E-mail: lanjos@ufrrj.br
meios legais e institucionais para

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 41


OPINIÃO

PESQUISA PEDOMÉTRICA
NO BRASIL
Budiman Minasny

Foto: Designed by onlyyouqj / Freepik.

F oi-me pedido que escrevesse a


minha visão sobre as pesquisas
pedométricas no Brasil. Tenho
uma boa impressão, especialmen-
te sobre o Mapeamento Digital do
na escala da paisagem regional.
Os dados desse legado estão ago-
ra disponíveis, livremente, como
todas as covariáveis de satélite em
boa resolução (30 m). Eu gostaria
SoilMap. A tecnologia está agora
disponível e o Brasil tem a capaci-
dade de gerar esse trabalho. Esses
mapas não são apenas uma contri-
buição para a comunidade global
Solo porque, em 2002, passei um que os cientistas brasileiros levas- de Ciência do Solo, mas, funcio-
mês na Embrapa Solos, no Rio de sem essa pesquisa adiante. nalmente, podem ser usados em
Janeiro, trabalhando com a pesqui- muitas aplicações agrícolas e am-
sadora Maria de Lourdes Mendon- Existe uma ótima oportunida- bientais. Quanta água o solo pode
ça Santos no artigo On Digital Soil de para criar mapas nacionais de reter? Quanto carbono o solo tem
Mapping. O Brasil também sediou propriedades do solo, de acordo e qual seu potencial em armazenar
o 2º Workshop Global sobre Ma- com as especificações do Global- mais C? A análise das mudanças
peamento Digital de Solo, em ju-
lho de 2006, quando o conceito de
GlobalSoilMap foi proposto - mas,
é claro, a pedometria envolve não
apenas o mapeamento digital do
solo. Descreverei aqui minhas re-
flexões sobre quais são os pontos
fortes e potenciais das pesquisas
pedométricas no Brasil. Espero que
possam estimular algumas discus-
sões.

Mapeamento digital do
solo
O Brasil é um país grande em ex-
tensão e um dos mais inovadores:
foi o primeiro a usar, em escala na-
cional, um radar para mapear o seu
solo. A pesquisa em mapeamento
digital do solo tem sido adotada
por muitos grupos de pesquisa
(Ten Caten, etc.), principalmente
Figura 1 Modelagem de fatores agrícolas e ambientais.

42 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


climáticas só pode ser bem con- te e do solo, a Pedometria pode

OPINIÃO
duzida se tivermos informações ajudar a desvendar as lacunas da
detalhadas sobre as propriedades produção. Essa análise também
do solo. pode fornecer um feedback sobre
como manejar mais preci-
Espectroscopia samente os solos que
do solo maximizam a pro-
A espectroscopia dução de forma
infravermelha sustentável (Figu-
progrediu ra- ra 1).
pidamente na
última década, O Brasil é tra-
com muitos gru- dicionalmente
pos de pesquisa, forte na área de
especialmente o do Pedologia e mapea-
professor José Demattê, mento convencional do
em São Paulo, medindo e solo. Com o avanço da
mapeando o solo de um tecnologia e com a dupli-
horizonte, perfil, campo cação do poder de proces-
e região, a partir de uma samento computacional, a
amostra. cada dois anos, de acordo
com a lei de Moore, pre-
Eu vejo o Brasil como um cisaremos progredir rapi-
líder neste tema e damente na ciência
sinto que o país de- Figura 1 A agricultura digital permite a aplicação de técnicas pedométricas para fazer uso dessa
veria passar da pes- para manejar os solos de forma eficiente em grandes áreas de produção tecnologia. Podemos
agrícola
quisa para aplicações conciliar Pedometria
práticas, implemen- e Pedologia, além de
tando espectroscopias NIR como to da mudança no uso da terra, testar hipóteses sobre a influên-
novas ferramentas de medição sem a necessidade de depender cia das plantas na gênese do solo,
das capacidades do solo. Isso per- de simulações computacionais ou usando técnicas pedométricas e
mitiria uma análise rápida do solo extrapolações a partir de fazendas de detecção proximal. Nos estu-
para caracterizar suas capacidades experimentais. O monitoramento dos de classificação do solo, o Bra-
e condições. Os dados de solo, ge- bem projetado pode ser econômi- sil pode contribuir muito para o
rados rapidamente a partir desse co e fornecer uma avaliação po- Sistema Universal de Classificação
sistema, poderiam ajudar os agri- derosa dos estoques (carbono) do de Solos.
cultores a gerenciar seus insumos solo e suas alterações. Isso porque
para otimizar a produção. poderíamos saber, com confiança, Estamos vivendo uma era rica em
qual a direção que o solo está to- dados, mas – é claro - a obtenção
Monitoramento do solo mando. Além disso, permitiria a de dados de solos ainda é dispen-
Como a mudança no uso da terra descoberta de novas hipóteses em diosa. Mas esta é também uma
está acontecendo a um ritmo rápi- grande escala, que não podemos oportunidade de usar essa rique-
do no Brasil, precisamos quantifi- ver em experimentos convencio- za de dados a nosso favor, visando
car como os solos respondem a tal nais. obter melhores informações sobre
mudança. A maioria dos pesqui- o solo, compreendendo sua distri-
sadores teme que isso seja caro e A agricultura é digital buição e mudanças em resposta ao
complexo. No entanto, a Pedome- Com o aumento da expansão agrí- ambiente e às atividades humanas.
tria tem avançado nesse campo e cola em grandes áreas, incluindo o Essa evidência nos permitirá ma-
um projeto econômico pode ser Cerrado, a Pedometria pode incluir nejar melhor os solos.
implementado em áreas-chave. o big data (grande volume de infor-
mações) produzido por tais ope-
Com um monitoramento bem pla- rações agrícolas de grande escala. Budiman Minasny é professor na Uni-
nejado, deveremos ser capazes de Cruzando os dados de produção versidade de Sydney, Austrália. E-mail:
quantificar com confiança o efei- com de insumos, do meio ambien- budiman.minasny@sydney.edu.au

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 43


70 ANOS
Sociedade
Brasileira de
Ciência do
Solo

SBCS comemora 70 anos


O ano que termina é um
marco importante na vida
da SBCS que completa 70
anos. Trata-se da mais antiga so-
ciedade científica da área de ciên-
cos, entre eles o Congresso Brasilei-
ro de Ciência do Solo, comprovam a
relevância e a necessidade da SBCS.
Pertencer a ela deve ser motivo de
orgulho e fortalecê-la a cada dia
história, uma contribuição inesti-
mável de Luiz Bezerra de Oliveira
que, aos 95 anos, continua a con-
tá-la e a zelar por ela. O livro nos
conta que a história da SBCS está
cias agrárias do Brasil. Sua criação, tem que ser uma responsabilidade intimamente ligada ao início dos
em 1947 antecede até mesmo a de cada um dos seus quase mil só- estudos pedológicos pela Comis-
criação da Capes, CNPq e da Socie- cios espalhados pelo Brasil. são de Solos, chefiada por Walde-
dade Brasileira para o Progresso mar Mendes e, posteriormente,
da Ciência, a SBPC. O mérito da criação da SBCS de- por outros pesquisadores, como
ve-se a Álvaro Barcelos Fagun- Abeilard Fernando de Castro.
São 70 anos de história construída des, Alcides Franco e Raul Edgard
por pessoas abnegadas que acredi- Kalckmann, entre outros sócios Resumidamente esta história está
taram e acreditam que uma socie- fundadores. Tornaram realidade dividida em três etapas. A primei-
dade científica fortalece a Ciência o sonho de um grupo de profis- ra no Rio de Janeiro, entre 1947 e
do Solo no Brasil, favorece a inte- sionais, incluindo engenheiros 1975 com a realização 15 congres-
gração internacional e reúne pes- agrônomos, geólogos, químicos e sos brasileiros de Ciência do Solo
soas com interesses em comum. outras classes profissionais, com e a agregação de pesquisadores.
a realização da primeira Reunião A segunda fase aconteceu entre
A publicação da Revista Brasileira de Brasileira de Ciência do Solo, no 1975 e 1997, quando a secretaria
Ciência do Solo (RBCS), dos livros- Rio de Janeiro, em outubro de executiva ficou sediada no Institu-
textos e Tópicos em Ciência do Solo 1947. Esta história está contada to Agronômico de Campinas (IAC).
e a realização de eventos específi- no livro SBCS: um olhar sobre sua Um registro histórico da SBCS não

44 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


SBCS 70 ANOS
Galeria de Presidentes
Álvaro Barcelos Fagundes Abeilard Fernando de Castro Luiz Eduardo Ferreira Fontes
1947/1949, 1951/ 1953 e 1955/1957 1969/1971 e 1971/1973 1995 /1997

José Elias de Paiva Neto Raimundo da Costa Lemos Antonio Ramalho Filho
1949 /1951 1973/1975 1997/1999

Moacyr Pavageau Luiz Bezerra de Oliveira Antonio Carlos Moniz


1953/1955 1975/1977, 1977/1979 e 2003/ 2005 1999/2001

Leandro Vettori Raymundo Fonseca de Sousa Mariangela Hungria


1957/1959 1979/1981 2001/2003

Waldemar Mendes Francisco da Costa Verdade Mateus Rosas Ribeiro


1959/1961 e 1965 /1967 1981/1983 e 1983/1985 2005/2007

José Emílio Gonçalves de Araújo José Fernando Moraes Gomes Flávio Anastácio de Oliveira Camargo
1961/1963 1985/ 1987 e 1987/1989 2007/2009 e 2009/2011

João Wanderley da Costa Lima Fernando Barreto Rodrigues e Silva Gonçalo Signorelli de Farias
1963/ 1965 1989-1991 2011/2013 e 2013/ 2015

Ernst Poetsch Egon Klamt Fatima Maria de Souza Moreira


1967/1969 1991/1993 e 1993/1995 2015/2017 e atualmente

pode deixar de render justa ho- Internacional de Ciência do Solo de científica que tem contribuído
menagem a Antônio Carlos Moniz (IUSS). Neste período destaca-se muito para o sucesso o uso racio-
(pesquisador da IAC) que liderou o a atuação de dois professores da nal e sustentável dos solos bra-
movimento que criou a secretaria UFV: Roberto Ferreira de Novais e sileiros e, indiretamente, para a
executiva da SBCS, em Campinas; Victor Hugo Alvarez V. economia do país.
o Boletim Informativo, em1975; a
RBCS, em 1977 e participou ativa- Nestes 70 anos a SBCS já promo- Há muito o que comemorar, mas
mente da diretoria da SBCS até a veu 36 Congressos Brasileiros de sobretudo, há muito o que fazer
sua morte, em junho de 2003. Ciência do Solo e muitos outros para que a jovem senhora SBCS
eventos específicos das áreas de continue amadurecendo com vi-
A terceira fase da SBCS foi inicia- Fertilidade, Biologia, Manejo e gor e otimismo. Isso depende de
da em 1997, com a transferência Conservação e Classificação e Cor- todos nós que somos e pertence-
da secretaria executiva para Vi- relação de Solos, além de dezenas mos a ela.
çosa, onde ainda permanece se- de livros publicados e 41 volumes
diada no Departamento de Solos da RBCS, que agora é um periódico Para marcar os 70 anos, o Boletim
da Universidade Federal de Viço- com reconhecimento internacio- Informativo pediu aos ex-presi-
sa (UFV). Esse período tem sido nal. As comemorações dos 70 anos dentes vivos que escrevessem um
marcado pela profissionalização culminará coma realização do 21º pequeno texto vislumbrando o fu-
dos sistemas de gerenciamento e Congresso Mundial de Ciência do turo da SBCS. A todos, nosso mui-
comunicação da SBCS e à sua in- Solo, em agosto de 2018, no Rio to obrigado.
ternacionalização, possibilitada de Janeiro. Será o marco definitivo
por meio da adequação da sua es- da maturidade científica e prestí- Reinaldo Cantarutti
trutura organizacional às da União gio internacional de uma socieda- Secretário Geral da SBCS

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 45


SBCS 70 ANOS

Luiz Bezerra de Oliveira


1975/1977 - 1977/1979 - 2003/2005

É com imensa satisfação que aten-


do ao convite que me foi feito
para relatar minhas impressões
sobre a SBCS, vislumbrando para ela
um futuro próximo. Tenho muito or-
estrutura, atuação e ação de seus
dirigentes possui renomado reco-
nhecimento nacional e internacio-
nal, o que pode ser comprovado
pela realização do Congresso Mun-
gulho em pertencer a SBCS como sócio dial, em 2018, no Rio de Janeiro.
desde 1957, até os dias de hoje. Como Tenho certeza e confiança de que
comento no livro SBCS: um olhar so- a realização desse evento terá ple-
bre sua história, disponível no site da no sucesso graças ao desempenho
SBCS, a história de uma instituição é dos seus dirigentes elevando mais
também a história daqueles que par- ainda o conceito e o reconheci-
ticiparam e contribuíram para a sua mento da SBCS na sua trajetória
existência, não esquecendo que é fun- ascendente.
damental contá-la e partilhá-la. Como Parabéns a SBCS pelos 70 anos
impressões atuais, a SBCS pela sua de existência!

Egom Klant
1991/1993 - 1993/1995

P arabéns à septuagenária SBCS,


pelo trabalho desenvolvido nes-
tes 70 anos, cuja grande conquis-
ta foi mostrar ao mundo que os solos
tropicais - considerados marginais ao
do Rio Grande do Sul e Santa Catarina -
entidade que até os dias atuais continua
em intensa atividade.
Em 1989, durante o XXII CBCS, o De-
partamento de Solos da UFRGS se candi-
desenvolvimento agrícola, principal- datou para promover o XXIII Congresso,
mente pelas suas limitações químicas em 1991, em Porto Alegre. O presidente
-, são altamente produtivos quando do Congresso, que por tradição deveria
bem manejados, fazendo com que a ser eleito presidente da SBCS, professor
agricultura se tornasse a área de maior Sérgio Jorge Volkweiss, infelizmente, nos
contribuição ao PIB brasileiro. deixou poucos meses antes da sua rea-
A minha ligação com a SBCS re- lização. O evento foi um sucesso, aliás
monta ao ano de 1967, ou seja, há 50 como todos realizados pela Sociedade. - “cachaça” sempre foi o ensino, a pes-
anos. Foi quando, ainda estudante de Por ocasião da formação da chapa quisa e a extensão. Mas ela me permi-
mestrado no Departamento de Solos para a eleição do conselho diretor da tiu conhecer as instituições e pessoas
da UFRGS, tive o prazer de conhecer SBCS período 1991-1993, os colegas Rai- envolvidas na Ciência do Solo no país
Antônio Carlos Moniz, cuja biografia mundo Costa de Lemos e Moniz, entre - uma experiência sem igual.
todos conhecem. Naquele ano, ele ha- outros, me convenceram a aceitar a can- A SBCS tem se destacado, entre
via terminado o mestrado na University didatura à presidência. No período 1991- as congêneres nacionais, pela grande
of Wisconsin e, por isso, foi convidado 1993, trabalhamos intensamente pela capacidade de reunir os técnicos da
pelo professor Marvin T. Beatty (meu sociedade: participando do planejamen- área, sistematizar e divulgar informa-
orientador) a visitar e palestrar no De- to e organização dos eventos realizados ções científicas e de interesse social. A
partamento de Solos da UFRGS e acom- por ela; programando e realizando diver- informatização, utilização de sistemas
panhar a viagem de estudo de solos. sas reuniões de planejamento do conse- avançados para tramitação de artigos
Em 1969, participei do XII Con- lho diretor e estimulando as comissões submetidos para publicação na Revista
gresso Brasileiro de Ciência do Solo, técnicas a atuarem mais intensamente, também merece destaque, bem como
realizado em Curitiba e desde então só com destaque para a de ensino da Ciên- a atuação dos consultores científicos
deixei de participar de um deles, quan- cia dos Solos. Essa atuação deve ter sido e editores. Essas atividades devem ser
do impossibilitado. Por forte influência a razão por termos sido reeleitos no XXIV continuadas e atualizadas, sempre que
do colega e amigo Moniz, começamos Congresso Brasileiro, realizado em Goiâ- necessário. Para as gestões futuras, su-
a nos familiarizar com os estatutos da nia, para o período 1993-1995. giro atuar mais intensamente nas ques-
Sociedade e fomos incentivados a criar A presidência da Sociedade foi um tões ambientais, sociais e políticas, que
o Núcleo Regional Sul da SBCS, com dos poucos cargos administrativos que afetam o uso e manejo dos solos bra-
instituições ligadas à Ciência do Solo abracei, porque a minha - por assim dizer sileiros.

46 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


SBCS 70 ANOS
Luiz Eduardo Fontes
1995 /1997
Cabe destacar um nome. O nome de borados e conduzidos; dezenas de
um dos mais significativos associados materiais educacionais produzidos,
da SBCS e que marcou fortemente mi- entre livros, cartilhas, mapas, CDs,
nha história profissional. Meu incen- DVDs, cursos ministrados, ao vivo e
tivador, parceiro, orientador, guru e, on-line, entre tantas e diversifica-
acima de tudo, amigo: Luiz Bezerra. das atividades.
Sua participação intensa na Socieda- Agora, nas comemorações de
de, de todas e efetivas formas, lhe ga- seus 70 anos, a jovem senhora,
rante, com justiça, a denominação de com sua exuberância e vitalidade
“Senhor SBCS”. cada dia mais marcantes, me con-
Em seguida, veio a fase de parti- vida a refletir sobre passado e fu-
cipação efetiva nos rumos da SBCS, turo... O que esperar para o futuro
iniciada no congresso, em Goiânia, próximo?
quando candidatamos Viçosa para Deve-se esperar que a SBCS

A
sediar o XXV Congresso. Foram oito seja considerada não uma idosa ati-
SBCS está comemorando anos seguidos na linha de frente da va, mas, sim, a cada dia, jovem há
70 Anos. São sete décadas SBCS: dois anos como presidente e mais tempo. Para isso, há que se in-
de contribuições, especial- seis como vice-presidente. Anos in- vestir, cada vez mais, no inevitável
mente em ensino e pesquisa, com tensos, com a idealização e presidên- e inexorável caminho da Tecnologia
a geração de conhecimento e pro- cia do I Simpósio Brasileiro de Ensino de Informação e na informação ins-
cessos associados a diferentes sis- de Solos (Viçosa/1994); a liderança da tantânea. Se hoje a SBCS já se utili-
temas sociais e a cadeias produti- comissão organizadora e a presidên- za de ferramentas de T.I. (internet,
vas ligadas a esse recurso natural cia do XXV Congresso (Viçosa/1995); e-mail, Facebook e Twiter), ela tem
essencial e tão pouco conhecido e a preparação, a transição e a transfe- que passar a avaliar a utilização das
valorizado: o solo. rência da sede de Campinas para Vi- demais ferramentas disponíveis e
A trajetória e a vitalidade des- çosa; a consolidação de uma nova e das que ainda virão a ser disponibi-
sa jovem senhora foram forjados a moderna estrutura, que perdura até lizadas. Qual o uso possível para o
partir do trabalho de muitos, des- hoje. Dessa fase, vem à memória no- WhatsApp? Para o Instagram? Para
de os abnegados pioneiros que, mes com os quais tive o privilégio de o Snapchat? Para os Wikis? Para o
em meados do século passado, dividir os rumos da Sociedade. Sem Second Life? Para o Flickr? Para o
tiveram a ousadia e a coragem de citar os de Viçosa, destaco: Moniz, Pinterest? Que tal um canal de co-
fincar suas fundações, de forma li- Egon, Ramalho, Sônia, Leonor, João nhecimento com vídeos sobre So-
teral, em solo firme, até os atuais Roberto, Roque... los, no YouTube? Em suma, como
participantes; desde aqueles en- O último evento da Sociedade de utilizar, de maneira eficiente, as mí-
volvidos no conselho diretor, na que participei com intensidade foi dias sociais?
diretoria executiva, nas divisões o XXVI Congresso, no Rio de Janei- Em tempos de informação ins-
e comissões especializadas, nas ro, quando a comemoração era dos tantânea, o Google nos apresenta
diretorias dos núcleos regionais, 50 Anos da SBCS. Era 1997, um ano 299 mil resultados para a busca de
passando, acima de tudo, pelos divisor de águas em minha vida pro- pedologia (0,32 segundos). Res-
associados - razão e força da So- fissional. Esse ano marcou o início ponde com 1.010.000 para ciência
ciedade. de meu afastamento do cotidiano da do solo (0,49s). São 1.850.000 para
Minha iniciação na SBCS se Ciência do Solo, em função de minha solo fértil (0,49s).
deu em 1979, no XVII Congresso progressiva e intensiva imersão num E, para a jovem senhora, cheia
de Solos, de Manaus. Pesquisador mundo novo e desafiador: o das gran- de vitalidade, de carisma e de
da Embrapa-Solos, convivi com al- des questões ambientais e, acima de charme, o Google apresenta, para
guns dos mais destacados colabo- tudo, o fascinante mundo da Educa- a pesquisa Sociedade Brasileira de
radores da SBCS no período. Des- ção Ambiental! Assim, a comemo- Ciência do Solo, 966 mil respostas,
sa época, ficaram as lembranças ração dos 70 anos da SBCS coincide em exatos 0,40 segundos... Jovem
de expoentes, como: Camargo, com meus 20 anos de Educação Am- há mais tempo, a SBCS desperta,
Lucedino, Klinger, Clotário, Olmos, biental. Nessas duas décadas, foram cada vez mais, atenção e admira-
Bertoldo, Igor e Curi, entre tantos. mais de uma centena de projetos ela- ção...

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017 | 47


SBCS 70 ANOS

Antonio Ramalho Filho


1997/1999

de de sua fundação, o qual eu tive a técnico-científica, sobretudo consi-


honra de presidir. derando os sistemas já existentes e
No âmbito internacional, dentre conhecidos no mundo pedológico,
outros importantes eventos, pro- como é o caso dos sistemas de clas-
moveu com capacidade e sucesso a sificação norte-americana Land Use
3ªConferência Internacional de De- Capability Classification, o Soil Taxo-
gradação de Terras-ICLD3, também no nomy e o Sistema de Classificação de
Rio de Janeiro, em 2001. Mais recente- Solos da FAO.
mente teve coragem e arrojo ao assu- O Sistema Brasileiro de Classifica-
mir a realização do Congresso Mundial ção de Solos era uma iniciativa anti-

A
de Ciência do Solo, que será realizado ga que vinha sendo desenvolvida de
SBCS é uma das mais anti- em 2018. forma lenta e gradual liderada por
gas sociedades científicas Sob os seus auspícios vem sendo Marcelo Nunes Camargo da Embrapa
entre as suas congêneres. apoiadas e divulgadas iniciativas im- Solos e consolidada nos anos 1990
Fundada em 1947 promoveu neste portantes de diversas instituições de com a sua conclusão, publicação e
mesmo ano o primeiro Congresso pesquisa e ensino no desenvolvimento lançamento em 1999, durante o 28º
Brasileiro de Ciência do Solo - CBCS de metodologias e diversos manuais, Congresso Brasileiro de Solos e tem
na cidade do Rio de Janeiro. Des- notadamente sobre Fertilidade e Bio- sido aperfeiçoado em novas edições.
de lá, vem promovendo eventos logia do solo, o Sistema de Classifica- Entre importantes atividades e
organizados por diferentes institui- ção da Capacidade de Uso das Terras, realizações cabe destacar a publica-
ções de pesquisa e ensino no país, o Sistema de Avaliação da Aptidão ção da Revista Brasileira de Ciência
com destaque para os congressos das Terras (3ªEd. 1995), e o Sistema do Solo desde 1977. Esta revista é
de solos, reuniões de manejo e Brasileiro de Classificação de Solo. Es- indexada pelo ISI Web of Knowledge
conservação de solos e reuniões tes dois últimos, desenvolvidos para e seu bom índice de impacto a classi-
de fertilidade e biologia do solo. atender às condições de ambientes fica entre os melhores periódicos de
No ano de seu jubileu promoveu o tropicais, representam, sem duvida, Ciência do Solo não publicados em
27ºCBCS em 1997 na mesma cida- atitudes de coragem e capacidade inglês, com padrão A Internacional.

Mariângela Hungria
2001/2003

A SBCS completa 70 anos! Sou só-


cia e participante ativa há mui-
tos anos e vou relatar algumas
impressões sobre a evolução e como
vislumbro o futuro da SBCS em dois
reiner era coordenadora da mesa. Ela le-
vantou o maior debate na apresentação
do meu trabalho e eu admirei aquele
raciocínio brilhante da mulher que me
incentivava a continuar na pesquisa. Vi
temas: sob os pontos de vista de mu- que podíamos ser poucas, mas que ha-
lher e de pesquisadora na área de Mi- via espaço para sermos brilhantes. E essa
crobiologia do Solo. visão se concretizou. Hoje vejo pesquisa-
Como mulher, minha experiência doras, professoras e alunas cada vez em
começou no XVIII CBCS, em 1981, em maior número, cada vez mais brilhantes,
Salvador, como mestranda. Pouquíssi- em trabalhos publicados na RBCS, em
mas mulheres. Eu já estava acostuma- reuniões e congressos da SBCS.
da com isso pela escolha da graduação Fui a primeira mulher presidente da Agora, falo sobre a área de Micro-
em Agronomia, mas esperava que o SBCS, no período de 2001-2003, já sem biologia do Solo. Éramos tão poucos
ambiente científico fosse um pouco piadinhas, sem sofrer preconceito; já (principalmente poucas...), batalhan-
mais “aberto”. E lá estávamos nós, havíamos conquistado nosso espaço em do para o reconhecimento de nossas
sempre com as “piadinhas” dos cole- duas décadas. Para o futuro, vislumbro pesquisas, que, em geral, eram vis-
gas, no meu caso, ainda associando que logo a porcentagem de mulheres tas como “cosméticos” do solo, sem
que “para microbiologia, que é coisa pode ultrapassar a de homens na Socie- grandes impactos nas demais “linhas
delicada, mulher serve…”. dade, mas o mais importante é que isso já nobres”. E foi, então, que as coisas fo-
Mas nada disso importou, porque, não importa. Somos todos considerados ram mudando, o reconhecimento e a
na primeira apresentação oral de mi- pesquisadores, professores, cientistas do participação da microbiologia foram
nha vida, a poderosa Johanna Döbe- solo, independentemente do gênero. aumentando.

48 | BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | SET - DEZ 2017


SBCS 70 ANOS
Um grande marco foi a criação da Para o futuro, vislumbro uma SBCS papel cada vez mais marcante, com
Fertbio 98, minha reunião favorita na mais holística, justamente pelo entendi- embasamento suficiente nas pesqui-
Sociedade até hoje, sempre discutin- mento de que é o todo, e não as partes, sas multidisciplinares, para permitir
do temas atuais, com a compreensão que precisa ser estudado e compreendi- posicionamentos seguros e propostas
cada vez maior de que o solo é um do. Vislumbro cada vez menos sessões para políticas governamentais. Vamos
todo e deve ser estudado como um divididas em física, química, biologia, precisar de líderes com grande capa-
todo. Já não há dúvidas de que a Mi- mas sim em “estudos de caso”. Serão cidade de trabalho em grupo, para
crobiologia tem um impacto enorme estudos envolvendo pesquisadores de unir as diferentes áreas e - agora como
na fertilidade do solo, bem como em todas as áreas, tentando compreender meu desejo - espero encontrar na li-
todas as demais áreas da Ciência do problemas como “solos salinos do Nor- derança várias mulheres brilhantes,
Solo. E nossas sessões estão cada vez deste”, “solos sob rotação de culturas da como aquela na qual eu me inspirei
mais cheias de gente - já faltam cadei- Região Sul”, e assim por diante. Nesse no dia da primeira apresentação oral
ras para tanto público. contexto, acredito que a SBCS terá um da minha vida.

Flávio Anastácio Camargo


2007/2009 - 2009/2011
Quando chefe do departamento, jeito sem noção do perigo que cor-
em 2005, fui motivado por vários cole- ria, compensando pelo entusiasmo
gas a avaliar as condições para voltar- em apresentar a eles que a Ciência
mos a organizar um congresso brasilei- do Solo brasileira tinha uma grande
ro. Fiz essa sondagem e apresentei ao bagagem para mostrar ao mundo,
grupo, que, na hora, empolgado, suge- nos seus 60 anos de história e de
riu o meu nome para representá-lo. muitas conquistas nos trópicos.
Assim, 15 anos depois de apresen- Dessa primeira experiência, trou-
tar meu primeiro trabalho em Reci- xe empolgado o depoimento das in-
fe, retornei àquele mesmo Centro de tensas atividades das Divisões e dos

A
Eventos, na época no meio do campo, grupos de trabalho para convencer
primeira percepção que tive entre Recife e Olinda, e agora cercado o professor Victor Hugo que isso po-
da SBCS foi em 1989, quan- de urbanidade. Conseguimos trazer a deria ser uma forma de aumentar a
do apresentei meu primeiro 31ª. edição do evento em Gramado e, participação e o envolvimento dos
trabalho no Congresso Brasileiro apesar do frio, conseguimos quase do- sócios e diminuir a sua carga - pelo
de Ciência do Solo, realizado em brar o público do evento anterior. Tam- menos nos assuntos considerados
Recife. Estava me formando e fi- bém concretizamos a ideia do professor mais técnicos. Combinamos que ele
quei impressionado com a presen- José Siqueira de criar o prêmio Antônio ia tratar da revisão do nosso estatu-
ça de vários autores dos livros-tex- Carlos Moniz, que hoje está consolida- to para adequar a estrutura da IUSS,
tos que utilizávamos na graduação. do e vem reconhecendo grandes vultos enquanto eu trataria da organização
Fiz a apresentação na forma de da nossa Ciência do Solo. da nossa viagem a Brisbane para de-
pôster e, assim que terminei, o Na reunião do conselho, o profes- fender a candidatura brasileira.
meu orientador, professor Gabriel sor Mateus Ribeiro, então presidente O estatuto foi aprovado com a
de Araújo Santos, se afastou - e eu da SBCS, começou os trabalhos infor- nova estrutura técnica e administrati-
fiz o mesmo em direção à praia. mando que não disponibilizaria seu va e nós fomos vencedores da conten-
No ano seguinte, comecei o nome para a reeleição. O professor da com a Itália para sediar o Congres-
mestrado em Solos na Rural do Victor Hugo, então secretário executi- so Mundial. Depois disso, o professor
Rio de Janeiro e aí muitos desses vo da SBCS - que estava resoluto em Victor Hugo, mais sossegado com os
autores viraram celebridades para relação à SBCS sediar o congresso novos rumos da SBCS, feliz com os
mim. E a praia - com as provas do mundial -, não viu outra alternativa, Núcleos e as Divisões se consolidan-
professor Ary Veloso e as deman- senão me convencer a encarar agora do, saiu à francesa, com a sensação do
das dos demais professores - ficou os meus novos ídolos, autores dos li- dever cumprido, e deixou a batuta de
só na lembrança. Já docente do vros-textos do doutorado, quase todos secretário geral da SBCS nas mãos do
Departamento de Solos da UFRGS, integrantes do conselho da IUSS. professor Reinaldo Cantarutti.
fui secretário do Núcleo Regional Mais preocupado em não decep- A imagem que me passaram do
Sul e, quando elaborei a página do cionar o professor Victor Hugo do que professor Victor Hugo era de que ele
núcleo, me familiarizei com a rica a SBCS, viajei para Brisbane, em 2008, não era muito flexível, que exercia
história da Ciência do Solo gaúcha para representar o Brasil. Era um guri certa autoridade, que tinha perso-
- até então pouco conhecida para no meio daquela turma de velhos mes- nalidade forte e que quem decidia
mim. tres. Acho que eles gostaram do meu era ele, etc. Minha convivência com

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SBCS 70 ANOS

ele mostrou que ele era exatamente para comprar publicações com des- a nossa Ciência do Solo e as nossas
o contrário, ou seja: que ouvia, que conto. Ainda acho que o professor realizações.
dava oportunidade, que confiava, Victor Hugo só me convidou para a Estou no Conselho da SBCS des-
que era generoso e, algumas vezes, presidência para que eu mantives- de 2007, mas encerro minha par-
até magnânimo. Ainda tentou, sem se as anuidades em dia. Se tenho, ticipação no ano que vem, com o
sucesso, me ensinar a escolher e a na medida do possível, me mantido Congresso Mundial, onde espero
apreciar um bom vinho. No final me apoiando as ações da SBCS em rela- mostrar o que temos de melhor
disse: “na dúvida, nunca compre por ção ao Congresso Mundial, é porque e tomar um bom vinho ao lado do
menos de R$ 50,00”. ainda continuo tentando não decep- professor Victor Hugo e de todos os
Sempre fui e ainda sou um só- cionar o professor Victor Hugo, que, parceiros empenhados em realizar
cio de quinta categoria, só quitan- mesmo de longe, deseja ver o seu este sonho dele, agora comparti-
do minha anuidade quando tenho sonho realizado, ou seja: dar à SBCS lhado por todos nós, integrantes da
que fazer inscrição em evento ou a oportunidade de mostrar o mundo septuagenária SBCS.

Gonçalo Signorelli de Farias


2011/2013 - 2013/ 2015

H á cerca de 45 anos, comecei a


me envolver com a SBCS. Então
jovem pesquisador, me fasci-
nava esse admirável mundo novo da
ciência. Ao buscar fontes de informa-
Mas, voltando àqueles pioneiros,
sabe-se que eram profissionais do De-
partamento de Pesquisa e Experimen-
tação Agropecuária do Ministério da
Agricultura (hoje, Embrapa), sendo o
ção e espaços que me proporcionas- Dr. Fagundes um personagem de pri-
sem a sensação de pertencimento, meira linha na estruturação da pesqui-
me deparei com a Sociedade. Nessa sa brasileira no setor agrícola naqueles
época, ela ainda era um pouco aca- difíceis tempos, diretor que foi do ci-
nhada, restrita a pouco mais de duas tado Departamento. E aqui presumo
centenas de membros e sem percep- que, durante seu doutoramento na
ção de sua real importância e história. Rutgers University/EUA, percebeu a
Entre idas e vindas, tal envolvimento importância de sociedades científicas, (foi diretor-geral do Instituto Intera-
veio a se consolidar nos anos de 1980 como a Soil Science Society of America mericano de Ciências Agrícolas, da
e, desde então, virou um caso de - ainda jovem, fundada em 1936, mas OEA, em San José, Costa Rica) e tam-
amor (nem sempre correspondido, já bem atuante. Isso deve ter influen- bém no ensino superior (foi reitor da
diga-se de passagem)! ciado a sua liderança na ideia de cria- UFPel). Com tantos nomes ilustres,
Hoje, aposentado, mas não ina- ção de uma entidade semelhante no era natural que a SBCS tivesse nascido
tivo das lides da pesquisa científica, Brasil, ao lado de discussões com algo com densidade de propósitos.
meus olhos se voltam nostálgicos a desse propósito, havidas no II Congres- Feito o destaque nostálgico-his-
imaginar os primeiros tempos da So- so Pan-Americano de Geologia (Rio, tórico, convém agora abordar os
ciedade. Folheio registros históricos 1945) e no Congresso Brasileiro de três ciclos temporais e estruturantes
e me pergunto: o que passava nas Química (Porto Alegre, 1946). da SBCS. Do primeiro (1947-1975),
mentes de Álvaro Barcelos Fagundes, Dos outros quatro importantes na sede do Rio de Janeiro, resultou
Raul Kalckmann, Guido Ranzani e José personagens (sem demérito a outros a consolidação da Sociedade via 15
Emílio Gonçalves de Araújo, entre ou- sócios fundadores não citados neste congressos e publicação de seus
tros, ao pretender criar, nos idos de breve texto), lembro do Dr. Kalckmann, anais. Do segundo (1975-1997), na
1947, uma sociedade científica num meu professor na Escola de Agronomia sede de Campinas, resultaram a rea-
país sem qualquer tradição no mundo da UFPR, em 1969, e organizador do lização de 11 congressos nacionais, a
da ciência? Recorde-se que o Brasil de XII CBCS nesse mesmo ano em Curiti- Revista Brasileira de Ciência do Solo
então vivia a ressaca do fim do Esta- ba. Lembro ainda do professor Guido e o Boletim Informativo, além de
do Novo, de Getúlio Vargas, tentando Ranzani, da Esalq/USP, e sua grande um novo estatuto. Finalmente, do
curá-la por meio do governo conser- experiência no conhecimento dos solos terceiro ciclo, já na sede de Viçosa,
vador do general Eurico Gaspar Dutra brasileiros, tendo organizado o VII e o resultaram a profissionalização do
e sob a égide uma nova Constituição X CBCS (1959 e 1965, respectivamen- gerenciamento da Sociedade, via se-
(a quinta da República, em 1946). Re- te) em Piracicaba, além do II Congresso cretaria-executiva, uso de TICs, novo
corde-se ainda que a Sociedade Bra- Latino-americano de Ciência do Solo estatuto e regimento, filiação à SBPC,
sileira para o Progresso da Ciência só (1965, Piracicaba). Refiro-me também maior aproximação com a IUSS, con-
viria a ser criada em 1948, assim como ao Dr. Araújo, figura de destaque na solidação de Núcleos Regionais/Esta-
o CNPq e a Capes em 1951. pesquisa brasileira e latino-americana duais, etc.

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SBCS 70 ANOS
Assim, quero concluir esta bre- dade Brasileira de Ciência do Solo: um de tudo, prestar uma modesta ho-
ve crônica, destacando que ela não olhar sobre sua história, SBCS/2015, menagem a uma organização pela
teve a intenção de resumir a traje- cujo autor principal, o Dr. Luiz Bezerra qual o autor dessas breves linhas
tória de vida da Sociedade (esta, em de Oliveira, é o grande registro vivo caiu de amores há mais de quatro
extenso, encontra-se no livro Socie- de toda a sua existência) mas, antes décadas!

Fatima Maria Moreira


2015/2017 - 2017/2019

A fundação da SBCS, em 1947,


tem, de certa forma, relação
com a minha trajetória profis-
sional. Um dos seus fundadores, Ál-
varo Barcelos Fagundes, foi também
associada e publiquei na RBCS, atuan-
do também no conselho diretor. Todas
essas atividades contribuíram signifi-
cativamente para a minha formação.
Hoje, neste momento especial, estou
quem contratou Johanna Döberei- presidente da SBCS, e fico feliz por ter
ner nessa mesma época, a qual se- a oportunidade de retribuir um pouco
ria, muito tempo depois, em 1977, para o muito que foi feito por muitos.
minha orientadora de IC e mestra- A história da SBCS é a história de
do - inspiradora e responsável pelo muitos(as) profissionais que a fizeram.
rumo que escolhi. Fizeram reuniões, congressos, bole-
Tenho certeza de que muitos (as) tins, revistas e várias outras atividades
podem encontrar relações da SBCS que congregaram profissionais de todo
com sua trajetória profissional. Me o país, que apoiaram, estimularam e limitaram a ficar de espectadores (as)
filiei à SBCS em 1981, durante o XVIII consolidaram a Ciência do Solo no Bra- passivos (as); eles/elas trabalharam
CBCS em Salvador, Bahia, quando sil. O que seria de uma ciência, sem de forma abnegada e altruísta por
ainda era uma mestranda. Desde congressos, reuniões, revistas e outras um ideal. Num mundo onde o indivi-
então, nunca deixei de pagar as anu- atividades importantes para a forma- dualismo e a ganância destroem a so-
idades, nunca fiquei um ano sequer ção de profissionais e para a evolução ciedade, parabenizo todos (as) os(as)
sem estar ligada à SBCS. da própria ciência? profissionais que atuaram nestes 70
Participei de vários eventos e or- Os(as) profissionais que fizeram e anos de SBCS e espero que sirvam de
ganizei alguns; fui revisora, editora tem feito são a SBCS. Eles/elas não se exemplo para as futuras gerações.

Alguns dos pesquisadores que deram grandes contribuições à SBCS nestes 70 anos

Da esquerda para a direita: Álvaro Barcelos Fagundes: um dos criadores e primeiro presidente da SBCS. Foi ativo até 1961 e um dos fun-
dadores do CNPq, em 1955; Antonio Carlos Moniz, o pesquisador do IAC criou a Secretaria Execu­tiva da SBCS, em Campinas, o Boletim
Informativo, em1975, a RBCS, em 1977, e foi editor das publicações entre 1981 e 1997. Participou ativamente da diretoria da SBCS, de
1973 até a sua morte, em junho de 2003; Roberto Ferreira de Novais: professor da Universidade Federal de Viçosa,foi editor-chefe da
RBCS entre 1997 e 2015 e mentor das sete edições dos Tópicos em Ciência do Solo e de quatro livros-textos em Ciência do Solo que são
utilizados em todos os cursos de ciências agrárias no país; Victor Hugo Alvarez V. O professor da UFV foi quem conduziu a adaptação do
Estatuto da SBCS ao da IUSS e liderou as mudanças que descentralizaram a Sociedade e criaram os Núcleos Regionais e Divisões Especia-
lizadas. Reinaldo Cantarutti: Atual secretário geral da SBCS e membro ativo da diretoria desde 2001.Tem sido responsável pela moderni-
zação da gestão da SBCS e da RBCS, incentivando o processo de internacionalização.

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