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Lucrecia Corbella

Saúde mental e memória


O teatro dos Andarilhos Mágicos

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Apresentação

Apresentar Saúde mental e memória: o teatro dos Andarilhos Mágicos, de


Lucrecia Corbella, tornou-se para mim uma verdadeira aventura, um
grande desafio. Reler o livro de Lucrecia, que inicialmente foi elaborado
como uma dissertação de mestrado em Memória Social da UNIRIO, foi
revisitar o contato de orientador-orientando de outrora e retomar lem-
branças de uma criação conjunta. Contudo, a releitura do livro, já passado
um tempo, me permitiu perceber mais uma vez os múltiplos valores de
uma escrita rigorosa e apaixonante. Essa experiência exigiu não uma repe-
tição, um rever “o já conhecido”, “o já lido”, mas a aventura de encontrar
um “outro texto”, de realizar outra “caminhada” totalmente inédita, de ten-
tar refletir sobre o que vi outrora, mas agora com um novo olhar. Como
já havia constatado anteriormente, percebi o rigor conceitual, a clareza do
livro que propõe o estudo de caso de uma experiência artística.
A pesquisa tem como foco o trabalho coletivo com pacientes em sofri-
mento psíquico na UFRJ em 1992, feito pelo grupo de teatro Andarilhos
Mágicos. Nessa minha nova leitura do texto, tornou-se claro que, além da
precisão na tematização dos conceitos no estudo de caso abordado, a pai-
xão da inteligência de Lucrecia transparece do início ao fim do livro. Isso
não poderia ser de outra forma, pois o trabalho, longe de ser uma proposta
afastada das experiências vitais (como lamentavelmente muitas vezes
acontece em pesquisas acadêmicas), parte do relato, da memória de uma
significativa vivência individual e coletiva. Ele evoca, revive e analisa um
fragmento de vida – vivida em conjunto, partilhada numa intensa expe-
riência artística. Por isso, o texto traz à tona memórias nítidas do trabalho
realizado pelo grupo, sob a direção de Raffaele Infante na UFRJ. Lucrecia
formou parte desse grupo, nesse momento participando como estagiária
de psicologia e também como atriz. A autora, inspirada claramente no
pathos artístico originário que funda o grupo, ao tecer sua escrita, tran-
sita – e nos instiga a transitar – por numerosas vivências, por inúmeros

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enfoques teóricos, apresentando uma diversidade de perspectivas concei-
tuais e múltiplas possibilidades compreensivas. A reflexão sobre a memó-
ria dos Andarilhos Mágicos torna-se um genuíno percurso reflexivo e
existencial, um verdadeiro exercício de nomadismo no plano teórico, pois
a experiência artística é analisada a partir de diversos focos e âmbitos do
conhecer. Assim, o estudo de caso é abordado de forma transdisciplinar,
multidisciplinar: como fenômeno de memória é estudado no seu aspecto
artístico, filosófico, psicológico, institucional entre outros. Nesse intuito,
Lucrecia emprega múltiplas ferramentas artísticas e conceituais – teatro,
psicologia, psiquiatria, filosofia e memória social – para encaminhar sua
reflexão sobre os Andarilhos Mágicos. Assim, a autora lança mão de um
instrumental multíplice, que exige vários olhares, quais sejam: de artista,
de psicóloga, de cientista social e de integrante de um grupo muito singu-
lar. Dessa forma, ela cumpre com as exigências metodológicas da proposta
teórica da memória social, isto é, realiza uma abordagem que foge às restri-
ções disciplinares, às imposições dos recortes de campos discursivos estan-
ques. Lucrecia abre o seu olhar, a sua capacidade de intérprete, seguindo
diversas pegadas, múltiplas trilhas do campo discursivo.
O livro adota uma estratégia clara também na escolha dos autores
principais que subsidiam a análise sobre o grupo de teatro em questão,
partindo da reflexão de pensadores significativos para investigar o mito
e a tragédia, a loucura, a memória social, as instituições psiquiátricas e,
finalmente, a experiência concreta daquele grupo teatral comandado por
Infante. Inicialmente, a interpretação de Vernant orienta a compreensão
dos mitos gregos. O renomado helenista é referência fundamental para
esclarecer o estatuto da memória nos gregos antigos, destacando-se o seu
enfoque sobre a memória e o esquecimento nesse distante mundo helê-
nico. Nessa época, a memória era considerada uma deusa. Mnemosyne
era o seu nome, ela inspirava os poetas e aedos para lembrar de um tem-
po-fora-do-tempo, de um tempo originário, e simultaneamente permitia-
lhe o esquecimento do tempo presente. Por isso, tanto os poetas como os
aedos, nessa época, eram considerados sagrados. Falavam aos homens a
linguagem dos deuses. Ao esquecer do dia a dia, do cotidiano, ingressa-
vam numa súbita loucura, num desvario temporário, para poder aceder a
uma sabedoria que lhe permitia enxergar tudo aquilo que estava para além
do tempo. Por esse motivo, também os gregos valorizavam e respeitavam a
loucura; os helenos tinham “outra” forma de entender aquele que não fazia

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parte do dia a dia “normal” da cidade. Assim, a loucura não era vista como
deficiência, patologia, incapacidade, mas como uma condição singular,
peculiar – uma diferença – que levava os homens à ruptura com o conven-
cional e ordinário, isto é, a viver e enxergar num âmbito extra-ordinário.
Após essa abordagem dos mitos e da loucura na Grécia Antiga,
Foucault é outro autor que permite avançar nas questões centrais do livro.
O pensador francês, e sua indagação sobre a loucura ao longo da história
do ocidente, permite questionar a patologização, a discriminação e confi-
namento do louco na modernidade. Num capítulo central do trabalho, dis-
cute-se a contribuição de Foucault para questionar o estatuto da loucura na
modernidade, que confina o louco, que lhe atribui uma “identidade” está-
tica, cristalizada. Nessa identidade, o considerado louco é caracterizado
como alguém que simplesmente “não tem razão”, cuja memória é “louca”,
anormal, morbosa. A partir da contribuição de Foucault, são discutidas
as mudanças históricas da interpretação da loucura e chega-se a analisar a
abordagem atual da compreensão desse fenômeno. Para além da análise do
modelo asilar, realizada pelo filósofo francês, que segrega aquele conside-
rado louco, e que lhe retira sua condição de cidadão, de membro da comu-
nidade, é apresentado o movimento de Reforma Psiquiátrica, originário da
Itália. Esse movimento, de grande importância no Brasil, terá forte influên-
cia no grupo dos Andarilhos Mágicos e no pensamento de Infante, seu
diretor, e nos seus diversos integrantes. A proposta do grupo questiona
os pressupostos identitários que definem “normais” e “loucos”, cidadãos e
incapazes. Por isso, os Andarilhos Mágicos não são cordatos nem loucos,
apenas criadores, com suas diferenças: pacientes em sofrimento psíquico,
psicólogos, estudantes, atores e outros; todos se fusionam no ato criativo,
na indiferenciação e na fusão extática consagrada pela magia teatral.
Nesse momento da reflexão – ou da vivência refletida por Lucrecia –, no
tramo final do livro, Nietzsche é convocado à festa dos Andarilhos Mágicos.
Trata-se do autor que fecha o telão reflexivo da viagem teórico-vital pro-
posta pela obra. Como compreender esses atores loucos ou esses lúcidos
criadores? Como definir e caracterizar a experiência vivida pelo grupo
de teatro Andarilhos Mágicos, cujo codinome é Qorpo Santo, em home-
nagem a um artista considerado “louco” por ultrapassadas instituições
oficiais da psiquiatria e da lei? O filósofo alemão é convocado, com sua
vigorosa e intempestiva interpretação sobre a tragédia e sobre a memória,
para esclarecer a experiência coletiva desse grupo teatral. Invoca-se Apolo

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e Dionísio. A medida, a luz, a razão e também a desmedida, a escuridão,
a sem-razão convivem no âmago do ritual trágico que dá lugar a todo
fenômeno dramático, a toda representação teatral. Finalmente, Lucrecia
traz à tona a interpretação nietzschiana do fenômeno dionisíaco para “tra-
zer luz”, para “destrinchar” a proposta e a caminhada artístico-vital dos
Andarilhos Mágicos. O autor de O nascimento da tragédia mostra que,
na essência do fenômeno teatral trágico, encontramos o singular convívio
entre o apolíneo e o dionisíaco. A tragédia é apolinização de tendências
dionisíacas. A máscara apolínea é esgrimida pelo herói trágico que lembra
sempre a destruição de Dionísio. Esse jogo artístico permite que todos os
integrantes de um ritual teatral possam “outrar-se”, possam mascarar-se,
possam adotar inúmeras identidades, possam escolher inúmeras memó-
rias, sem ficarem fixos às identidades, aos papéis sociais e às memórias
cotidianas. No seio da celebração teatral, tudo é possível, o louco torna-se
sábio; o rei-sábio vê seu reino desmoronar; os médicos tornam-se pacien-
tes, ou melhor, impacientes; a criança é um adulto; e todos os adultos são
crianças que brincam numa festa mágica que os coloca fora do cotidiano e
da pretensa maturidade. Como sustenta Nietzsche, o coro dionisíaco é um
coro de transformados, de entusiasmados.
Revejo agora o percurso desta “apresentação” e percebo que me alon-
guei um pouco nessa “introdução”; creio que se trata mais de uma “extro-
dução”, isto é, não uma apresentação sumária ou introdutória daquilo que
será degustado no livro, um resumo ou indicação de qual será o rumo da
obra em questão, mas um desafio para sair do “já dito”, uma proposta de um
“fora”, de um “externar-se” e não apenas “internar-se” (com toda a ambi-
guidade e periculosidade dessa palavrinha). Creio que fui tomado, de fato,
pelo próprio pathos dos Andarilhos Mágicos e, tentando ser rigoroso, claro,
objetivo e retratar os conteúdos do texto, fui conduzido por outros cami-
nhos: pelo entusiasmo que propõe o exercício de pensamento realizado
por Lucrecia. Tentarei, então, sintetizar esse percurso do livro. A proposta
lúcida e louca da reflexão em questão é: lembre ou esqueça sua identidade
e sua memória convencional; permita-se brincar-de-ser-outro(a). Transite
as páginas do texto sem preconceitos. Fuja dos clichês como: leitura de
livro de memória, análise de interpretação nietzschiana ou foucaultiana,
abordagem de tratado sobre Reforma Psiquiátrica entre muitos outros.
Isto é, deguste a escrita sem instruções prévias. Assim, você, caro leitor,
como eu, poderá ter uma bela experiência e será convocado a revisitar

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uma caminhada artística singular. Deixe então os rótulos de fora. Adote,
se possível, uma das máximas – ou mínimas – que inspiram o livro de
Lucrecia: siga a risca a topologia do caminhar sugerido pelo poeta espa-
nhol Machado (muito semelhante ao dos Andarilhos Mágicos) quando
diz: “Caminante no hay camino, se hace camino al andar”.

Miguel Angel de Barrenechea


Doutor em Filosofia pela ufrj, Professor dos Programas
de Pós-Graduação em Memória Social, em Educação
e das Graduações em Filosofia e em Pedagogia da unirio.

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Introdução

Este livro parte da experiência artística do grupo Andarilhos Mágicos com


o intuito de refletir sobre a relação entre memória social, teatro e loucura.
Andarilhos Mágicos foi uma experiência de teatro realizada no
Teatro Qorpo Santo do Hospital-Dia do Centro de Atenção Psicossocial
do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro
no ano de 1992, que integrava um projeto maior denominado Oficinas
Comunitárias. O grupo era formado por quatorze pessoas em sofrimento
psíquico,1 uma criança, o diretor, uma psicóloga, uma estagiária de psico-
logia, um aluno do curso de Especialização em Saúde Mental e uma atriz.
Mas, dentro do grupo, cada um era denominado de Andarilho Mágico.
O projeto Andarilhos Mágicos foi idealizado pelo psiquiatra Raffaele
Infante. A ideia tanto das Oficinas Comunitárias quanto do próprio pro-
jeto de teatro era muito inovadora para a época. Houve muita resistên-
cia às suas propostas, pois representavam grandes mudanças, trazendo
avanços inusitados para aquele cenário histórico. O Andarilhos Mágicos
sobreviveu enquanto seu diretor, Raffaele Infante, era também diretor do
Instituto de Psiquiatria. Assim que Infante saiu da direção do Instituto,
todos estes projetos morreram levando com eles seu maior idealizador.
Infante, ao ser ameaçado, acuado, e afastado de seus sonhos, continuou
lutando de forma quixotesca até que um dia, não suportando mais viver
sem seus sonhos, nos deixou. Infante sonhava realizar, através do teatro,
um mundo mais justo, uma sociedade na qual não houvesse mais precon-
ceitos, um lugar no qual as pessoas não sejam segregadas por padecerem

1 A denominação pessoa em sofrimento psíquico na área da Saúde Mental está substituindo o termo
pessoa portadora de transtornos mentais, ou ainda esquizofrênico justamente para retirar o estigma
de uma pessoa que está fadada a permanecer enclausurada em uma categoria psiquiátrica na qual
a relação com as demais pessoas se inviabiliza. O termo pessoa em sofrimento psíquico assinala
que há uma faceta desta pessoa que precisa de cuidados, em alguns momentos precisa de mais
cuidados do que em outros, mas a pessoa não é definida por uma doença e sim pela complexidade
de sua existência.

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de sofrimento psíquico, um mundo no qual as pessoas que estão mais
fragilizadas não sejam trancafiadas e torturadas com choque elétrico. Ele
acreditava que a solução para muitos desses problemas era uma atitude
compartilhada para a construção de um novo mundo. Infante acreditava
que, através da arte, mais precisamente através do teatro, seria possível
mudar a forma pela qual as pessoas se relacionam. Participei dessa expe-
riência na condição de estagiária de psicologia, e lembro que no momento
em que estávamos criando, escrevendo uma peça, construindo o cenário,
os figurinos, éramos todos artistas, todos Andarilhos Mágicos em busca
de um mundo melhor para se viver. As propostas terapêuticas, artísticas
e sociais desse grupo serão analisadas neste livro, vinculadas à questão da
memória social e do esquecimento.
Ao lidar com uma pessoa como se fosse restrita a uma mera sín-
drome psiquiátrica, ela é reduzida a uma identidade cristalizada, a “louca”,
suas memórias são totalmente desqualificadas e seu potencial criativo é
embotado. O que se investigará neste livro, a partir da experiência dos
Andarilhos Mágicos, é de que maneira as categorias de memória e criação
estão relacionadas a uma forma de se categorizar a loucura na psiquiatria
e como a arte pode mudar essa relação entre memória e loucura, apresen-
tando propostas criativas. Sempre que uma pessoa é diagnosticada por
“louca” pela psiquiatria, ela é desconsiderada como ser humano, sua pala-
vra passa a não ter reconhecimento, suas ações não têm significação, seu
poder de criação é menosprezado. Suas memórias, que fazem parte essen-
cial de sua existência, que constroem os pilares de sua vida, são destituídas
de valor, são julgadas como meras invenções de uma mente perturbada.
É justamente no esclarecimento dessas questões que caminhou esta
pesquisa, mais precisamente em relação ao teatro. Ao analisar a experiên-
cia dos Andarilhos Mágicos se pretenderá esclarecer qual a contribuição
que o teatro pode dar à construção de uma memória criativa.2
Os antigos gregos concebiam a memória, a loucura e a existência de
uma maneira muito interessante. No lugar de reduzir uma existência a um
rótulo de “louca”, que implica em restringir sua rede de afetos a ditos cui-
dados psiquiátricos dentro de um manicômio, os gregos a incorporavam

2 Este conceito de memória criativa ainda não está pronto e acabado, ele está sendo desenvolvido
por professores e alunos de pós-graduação da linha de pesquisa Memória, Subjetividade e Criação
do Programa de Pós-graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro (UNIRIO), a partir da teoria da memória do filósofo Friedrich Nietzsche.

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à vida social. No lugar de segregar com o intuito de normalizar, os antigos
gregos conviviam com os indivíduos que se afastavam do padrão conven-
cional, compartilhavam com eles suas alegrias e suas agruras. Os antigos
gregos concebiam a existência sob uma ótica trágica.
Como exposto anteriormente, o objetivo deste livro é refletir sobre
o teatro como construção de um caminho para re-significar as memó-
rias dos considerados “sem-memória”. Porque se a loucura é pensada de
forma trágica, se pode afirmá-la, afirmar a existência em sua totalidade.
A questão da memória aqui é fundamental, pois para existir é preciso ter
uma memória que não seja apenas individual, mas uma memória com-
partilhada que seja afirmativa, que afirme a vida ontem, hoje e amanhã.
Memória e esquecimento são peças-chave para propiciar uma experiên-
cia trágica que ajude na construção do novo, pois somente lembrando
situações compartilhadas pode haver um processo de re-significação de
memórias, e esquecendo lembranças pesadas pode surgir o novo.
A questão que inicialmente norteará este livro é refletir sobre a forma
pela qual uma sociedade pensa, como no caso a da Grécia antiga, que
acredita no mito. A partir das análises do pensador Vernant a respeito
da mitologia, se tematizará quais são os valores que norteiam esta forma
de pensar. Algumas perguntas que nortearão esta trajetória serão: Qual a
concepção que os antigos gregos tinham da memória? Como eles lidavam
com a loucura?
Uma vez levantada a organização do pensamento da memória e da
vida através dos mitos, a interpretação que Friedrich Nietzsche faz da tra-
gédia a partir dos antigos gregos guiará o foco da pesquisa. A obra do
filósofo que norteará este livro será O nascimento da tragédia, por refle-
tir sobre o significado de tragédia e qual sua relação com o teatro. Para
Nietzsche, a arte tem duas faces: Apolo e Dionísio. Pesquisar-se-á quem
são essas divindades gregas e o que elas representam.
Através das análises de Michel Foucault, mais precisamente na
História da loucura na Idade Clássica, se buscará compreender de que
forma este entendimento de mundo a partir dos mitos vai dar lugar a um
entendimento unívoco da razão. Os valores que são elencados em uma
sociedade que se percebe somente e exclusivamente a partir da razão serão
colocados em xeque. Levantar-se-á de que forma surge no Brasil o movi-
mento da Reforma Psiquiátrica como uma recusa a esse modelo unívoco
da razão que exclui a loucura.

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Investigar-se-á qual a teoria de Nietzsche a respeito da memória, da
relação entre lembrança e esquecimento e do nascimento da criação. Para
o filósofo, o esquecimento, anterior à lembrança, é o responsável pelo
nosso equilíbrio psíquico. Já a lembrança é uma construção cultural asso-
ciada a uma questão moral. Pesquisar-se-á a relação entre ambas na cons-
trução da memória.
A memória do grupo Andarilhos Mágicos será colocada em cena
para pesquisar de que forma teatro e memória podem estar imbricados
num movimento em direção a uma promessa de futuro no qual loucura
e razão podem andar lado a lado. Investigar-se-á o nascimento deste
grupo teatral, suas bases teóricas e seus ideais. Infante batiza o Teatro dos
Andarilhos Mágicos de Qorpo-Santo; buscar-se-á entender o motivo desta
escolha.
A partir do fato de memória Andarilhos Mágicos pretende-se pesqui-
sar como a identidade fixada em um estigma, como o da loucura, pode
dar lugar a uma singularidade. Foucault será um autor importante nesta
trajetória. Sempre ao lado de uma identidade fixada, está uma memória
cristalizada que impede a ação no presente e no futuro. A partir da teoria
de Nietzsche a respeito da memória entendida como um jogo de forças
entre lembrança e esquecimento, trilhar-se-á uma investigação sobre o
que é uma memória criativa na qual a ação, o movimento e o surgimento
do novo têm lugar.

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