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O objecto

Um guia como este tem a obrigação de tentar explicar o que há de dife rente no jornalismo ambiental, em
relação a outras áreas da comunicação social. No entanto, em vários aspectos, escrever sobre o ambiente não
difere muito de escrever sobre política, economia, crime ou cultura. Os procedimentos básicos são os mesmos: a
recolha do máximo de informações, a confrontação de diferentes opiniões, a busca do rigor informativo, a
objectividade possível — tudo isto orientado pela bússola do interesse público.
Podemos tentar encontrar as diferenças através de algumas perguntas. Urna delas parecerá um pouco tola: de
que falam as notícias de ambiente? A resposta é aparentemente óbvia: do ambiente, é claro. Mas será mesmo
assim?
Pense num derrame de petróleo ou no avanço de construções numa área protegida. No problema do
aquecimento global ou na queima de lixos perigosos em cimenteiras. Na reciclagem de pilhas ou no desapare-
cimento da águia-pesqueira. O que há de comum nestes assuntos que os fazem ser notícia? E por que é que os
agrupamos sob o chapéu-de-chuva das notícias ambientais?
Há uma explicação imediata e simples para isto. Todos estes casos referem-se, directa ou indirectamente, a
alterações do meio em que vivemos. A poluição — através de um petroleiro que se afunda, de uma lixeira a
arder, de pesticidas que se infiltram no solo — nada mais é do que uma modificação no estado do ar, da água ou
do solo. Um animal que se extingue é um elo a menos na cadeia dos seres vivos. O betão de uma nova área
urbana é um elemento que transforma a paisagem. As alterações climáticas produzem variações planetárias na
temperatura do ar, no regime de chuvas e no nível dos oceanos. Nestas situações, o que muda é aquilo que nos
rodeia, e a que genericamente chamamos ambiente. Real ou hipoteticamente, estas transformações podem ter
algum efeito sobre nós próprios ou os nossos descendentes. E, por isso, são alvo do interesse da comunicação
social.
Seria ingénuo, no entanto, acreditar que o jornalismo de ambiente nada mais faz do que reportar as mutações
do planeta à medida que elas se vão materializando. Isto requereria que estivéssemos distantes da realidade,
algo que não existe em lado nenhum — nem no jornalismo, nem nas ciências sociais, nem na política, nem no
futebol. Talvez um primeiro mandamento para quem se queira aventurar no jornalismo — e não só o ambiental
— seja ter a consciência de que não somos observadores neutros, nem os objectos que tentamos enxergar e
compreender são claros e bem definidos.
Por exemplo, há muito mais factores por trás da decisão de transformar um derrame de petróleo numa
notícia, do que o seu simples efeito sobre o ambiente. Em primeiro lugar, trata-se de um acidente e, na cabeça
de qualquer jornalista, acidentes são notícia. Em segundo, é um tipo de acidente já conhecido, pelo qual o
público já está predisposto a interessar-se. Em terceiro, uma praia ou um rio manchado por uma espessa camada
de óleo é uma excelente imagem para a capa de um jornal ou para abrir um noticiário na televisão. Se houver
uma ave com as penas cobertas de negro, lutando ingloriamente para se libertar da poluição, melhor ainda.
Além disso, é o tipo de evento que provoca reacções — do Governo, das câmaras municipais, dos pescadores,
das associações de defesa do ambiente — o que não só assegura que haverá gente interessada em falar sobre o
assunto, como provavelmente alimentará novas notícias sobre o mesmo tema. A possibilidade de o derrame
provocar um dano ambiental também pesa, é claro, e muito. Mas muitas vezes a natureza e a magnitude deste
efeito são uma incógnita para o jornalista — e consequentemente para o público — mesmo quando a noticia é
publicada ou vai para o ar.
Não estamos, portanto, isolados a olhar para o ambiente e a noticiar tudo o que acontece de diferente. As
nossas opções são balizadas por uma cultura própria dos meios de comunicação social, que nos faz perceber,
imediatamente, o que é ou não notícia. A isto soma-se a noção de que o público se interessa mais por
determinados temas ambientais, e menos por outros. Existem, ainda, inúmeras pessoas e organizações que estão
empenhadas em dar a sua opinião e interferir nesta ou naquela questão. E, de modo geral, comungamos todos da
ideia de que a poluição é má, mas, em muitos casos, torna-se difícil esclarecer porquê.
Nada disso tem a ver com uma observação neutra da realidade, orientada exclusivamente pelo interesse
público. Antes de insistir na ideia nobre, mas impossível, de que um jornalista deve reportar a verdade, é melhor
termos bem claro que fazemos parte deste mesmo mundo cujas transformações pretendemos relatar. Isto pode
parecer muito óbvio, mas é sempre bom recordá-lo.
Perante as influências que condicionam o resultado do trabalho jornalístico, podemos concluir que, afinal,
não é sobre o ambiente em si que estamos a escrever, mas sobre retratos do ambiente, ou seja, sobre formas de
observar, compreender e reagir às questões ambientais. Os jornalistas, na maior parte dos casos, agem em
função das preocupações reinantes num dado momento, sejam elas da comunidade como um todo, de sectores
específicos da sociedade ou das partes envolvidas num conflito em particular. E à medida que a conjuntura
muda, os alvos de interesse da comunicação social alteram-se e a cobertura jornalística do ambiente também se
modifica.
É fácil ilustrar esta ideia com o sobe-e-desce dos temas ambientais na agenda jornalística. Em Portugal, no
final da década de 1980, a plantação indiscriminada de eucaliptos era um assunto quente. Hoje, já ninguém fala
nisso, apesar dos cenários catastróficos que, na altura, se pintavam para o futuro - e o futuro é hoje. E quem é
que se lembra das chuvas ácidas, que também foram um dos "tops" ambientais dos anos 80? Quase ninguém.
Mas, mesmo que já exista uma convenção internacional para controlar a emissão dos gases que provocam as
chuvas ácidas, o problema ainda vai perdurar por muito tempo na Europa central e está a crescer em alguns
países em desenvolvimento. A força mediática de ambos os temas decresceu, mas, na prática, os problemas não
estão resolvidos. Esta é uma característica própria do jornalismo, mas que é ainda mais acentuada no campo do
ambiente. Uma dica: vale sempre a pena remexer neste baú dos assuntos esquecidos, pois podem ali estar bons
temas de reportagem.
Num livro publicado em 1993, Anders Hansen - investigador em ciências da comunicação na Universidade
de Leicester, no Reino Unido - escreveu que "os altos e baixos das preocupações políticas e públicas sobre o
ambiente são um indicador pobre do estado e da natureza da degradação ambiental" (Hansen, 1993). Não seria
despropositado dizer o mesmo das preocupações jornalísticas.
Se não é sobre o ambiente em si que os jornalistas escrevem, talvez seja inútil tentar definir este conceito.
No entanto, é possível encontrar algumas características comuns dos temas tratados pelo noticiário ambiental.
Os assuntos a que costumamos atribuir o rótulo de "ambientais" têm, na sua comiïosição, quatro elementos que
se destacam. O primeiro deles é a noção de: risco. Qualquer modificação no ambiente ou na gestão do ambiente
envolve um efeito a posteriori - que pode ser intenso, modesto ou insignificante, positivo, negativo ou neutro. A
atenção maior, naturalmente, centra-se naquilo que pode representar um dano ou um beneficio - ou seja, nas
transformações que podem aumentar ou diminuir um determinado risco. A poluição que sai da chaminé de uma
fábrica, por exemplo, mexe com a composição do ar que respiramos, e isto pode criar um risco adicional para a
saúde das pessoas que moram por perto. A proibição de se construir sobre as dunas, por sua vez, dificulta o
avanço do mar e protege a costa da erosão — e, neste caso, há uma redução do risco de que a água engula parte
do território ocupado por pessoas, outros animais e plantas.
Além do risco, os temas ambientais estão, em boa parte dos casos, associados a processos longos. As
alterações climáticas são um bom exemplo disso. A ternperatura da Terra está a aumentar rapidamente. Mas a
. .
velocidade desta mudança mede-se em décadas ou séculos. Os cenários mais alarmantes associados a este
fenómeno só são esperados dentro de algumas dezenas de anos. Quando se diz, também, que determinados
poluentes podem provocar cancro — como as dioxinas e alguns metais pesados — estão-se a referir a riscos que
levam vários anos a materializar-se. Da mesma maneira, os efeitos da protecção ou desprotecção de espécies
animais ou vegetais não se observam da noite para o dia. Para declarar que uma espécie se extinguiu é preciso
que passem 50 anos desde a última vez que se viu um exemplar vivo da mesma.
O terceiro elemento é a incerteza científica. Quem quiser compreender os efeitos dos pesticidas nos
alimentos, os prós e contras da energia nuclear, os riscos dos campos electromagnéticos ou da queima de
resíduos perigosos em cimenteiras, terá de ir buscar respostas no meio científico. E neste campo certamente
encontrará muitas dúvidas — seja porque ainda há muita coisa que os cientistas não sabem, seja porque, entre
eles, há opiniões diferentes sobre o mesmo assunto. Na verdade, este é um atributo distintivo do próprio método
científico, que, ao responder a uma dúvida, levanta logo outras perguntas. E é sobre este mar de indagações da
ciência que flutua a nossa compreensão dos problemas ambientais e a forma como avaliamos o risco.
Um quarto factor relacionado com os temas ambientais é a sua com- plexidade técnica. Falar sobre plantas
transgénicas, por exemplo, implica falar de sequenciação genética, de clonagem, de células, de polinização
cruzada e de uma série de outros conceitos ou processos biológicos. O tema da poluição da água envolve
parâmetros que nunca mais acabam, termos complicados e cálculos dificeis para transformar resultados de
análises em números que se podem comparar com valores legais. Quando se fala de concentrações de poluentes
utilizam-se unidades indigestas, como o inacreditável fentograma, com que se medem dioxinas e que equivale a
uma gota de água na imensidão do mar Báltico.
Perante estes quatro elementos básicos dos temas de ambiente — risco, processos longos, incerteza
científica e complexidade técnica —, o jornalismo orienta-se de forma particular. O risco, por exemplo, é um
poderoso chamariz para notícias. Em muitos casos, talvez na maior parte, é a possibilidade de uma determinada
circunstância vir a provocar algum dano que justifica uma notícia de ambiente. É uma abordagem mais do que
legítima, mas também é o ponto de partida para exageros e distorções involuntárias. A noção de risco é
transmitida ao jornalista de diversas formas — por cientistas, por associações de defesa do ambiente, pelo
cidadão comum, pelo Governo, por empresas. E como tudo o que é negativo facilmente seduz a comunicação
social, nem sempre o jornalista pára para pensar o quanto o risco está a ser ampliado, de forma intencional ou
não.
Por outro lado, enquanto os temas ambientais se referem a processos longos e estruturais, o jornalismo é
primordialmente instantâneo e conjuntural. As notícias de ambiente, tal como qualquer outra notícia, procuram
dar conta daquilo que é novo ou diferente. Daí que focalizem apenas alguns pontos altos das alterações do meio
em que vivemos, e não as alterações em si, à exacta medida em que elas vão ocorrendo. Estes pontos altos
geralmente emergem de situações episódicas: uma maré negra recoloca na agenda a questão perene da poluição
marítima; uma conferência internacional sobre o clima também alerta os media para o problema do
aquecimento global. Da mesma forma, a divulgação de um estudo científico ou de um relatório de uma
organização não-governamental é capaz de acordar os jornalistas para problemas que já vêm de trás e que se
projectarão no futuro. Passado o momento, no entanto, os mesmos problemas podem cair no esquecimento, até
que um novo evento justifique que eles voltem à ribalta.
Os enfoques momentâneos de processos ambientais longos podem levar a algumas interpretações
apressadas. Uma estiagem prolongada ou um período interminável de chuvas não raro é associado, nas notícias,
ao problema das alterações climáticas. Mas é impossível dizer que uma seca no Alentejo ou uma cheia na
Inglaterra de hoje são resultado directo do aquecimento do planeta.
Este exemplo mostra, também, que os jornalistas reagem de modo próprio à incerteza científica. Os modelos
matemáticos que simulam o funcionamento do clima, por exemplo, são muito menos precisos à escala local do
que à escala planetária. Ou seja, quanto se tenta saber o que vai acontecer com a temperatura no Algarve nos
próximos cem anos, o resultado será necessariamente mais incerto do que quando se analisam as alterações
climáticas a nível global. Esta curva decrescente de fiabilidade não impede que se invoque um episódio
localizado para se falar do problema mundial das alterações climáticas — como no caso referido acima.
Enquadrar um tema genérico com a moldura da sua expressão local é, na verdade, um procedimento saudável
do jornalismo, que procura aproximar as notícias das pessoas. Mas neste exemplo em particular, este exercício
contraria o gradiente de incerteza científica sobre o assunto.
A comunicação social muitas vezes ignora as ambiguidades científicas dos temas ambientais, dando por
certo aquilo que é incerto. É comum, por exemplo, dizer-se, preto no branco, que uma determinada substância é
cancerígena, mesmo nos casos em que o que se sabe, na verdade, é que aquele produto é suspeito de provocar
cancro no ser humano. Em outras situações, ao contrário, a própria incerteza é que é notícia. Se um cientista diz
que a queima de resíduos industriais em cimenteiras é um perigo e outro diz que não há problema nenhum,
certamente esta oposição irá despertar a atenção da comunicação social, porque, na cultura jornalística, o
conflito tem um valor noticioso em si.
A apetência pelo conflito pode afectar a interpretação das incertezas científicas. Imagine que um
investigador divulga um trabalho a sugerir que, afinal, o tabaco não provoca cancro. É a opinião de um
investigador, contra o resultado de centenas de estudos, ao longo de décadas, que apontam no sentido contrário.
Ou seja, é uma única voz dissonante contra um fortíssimo consenso científico acerca dos malefícios do hábito
de fumar. É pouco provável que esta opinião projecte uma sombra de incerteza sobre tudo o que já se sabe sobre
o assunto. Mas uma das normas do jornalismo é a de que as notícias devem ser equilibradas, ouvindo-se, em pé
de igualdade, todas as partes. Por isso, é bem possível que haja notícias que dêem igual peso aos dois lados
deste confronto de opiniões. Assim, o poder mediático do conflito e a busca pelo equilíbrio terão, neste caso, o
efeito de criar dúvidas bem maiores do que as que existem, fazendo suspeitar que é incerto aquilo que é dado
como certo.
A componente técnica dos temas ambientais, por fim, representa um desafio para o jornalista. É preciso
traduzir o "ambientalês" que os cientistas, governantes e organizações não-governamentais falam, de forma a
que os leitores, ouvintes ou telespectadores percebam do que se trata. E para explicar alguma coisa, é preciso
entendê-la primeiro. Mas nem sempre isto acontece. Nas peças de ambiente, é muito comum encontrarem-se
termos ou explicações técnicas que o próprio repórter não compreendeu bem e se limitou a repetir. Ou então,
não conseguiu transpor a sua complexidade para uma linguagem mais acessível.
Com tudo o que foi dito até agora, pode parecer que o jornalismo de ambiente é uma farsa pegada, que não
só não retrata fielmente as transformações do mundo, como frequentemente embarca em interpretações
distorcidas e grosseiras da realidade. Mas em nenhum campo da actividade jornalística é possível fugir a este
tipo de armadilhas, e ter a consciência de que elas existem é um bom ponto de partida para exercer melhor a
profissão. Por isso, é importante ter em mente que os quatro pontos cardeais dos temas ambientais – risco,
processos longos, incerteza científica e complexidade técnica – não combinam bem com o ritmo e as normas
próprias do jornalismo. Eles colidem com a lógica imediatista dos meios de comunicação social, onde o que
mais importa é o evento e a novidade, e não o processo e a transformação lenta. E embatem, também, contra
barreiras práticas, como as limitações de tempo e de espaço para um jornalista consultar mais fontes de
informação, e para compreender e explicar matérias complexas, que envolvem um aspecto tão sensível como é
o risco.
A cobertura jornalística do ambiente certamente ganha quando o repórter tenta superar estas barreiras. Não
existem receitas prontas de como o fazer e há sugestões para todos os gostos e situações. Indagar-se por que é
que um determinado assunto está na agenda noticiosa, por exemplo, é um procedimento simples para tentar
situar um episódio na longa linha de um processo de mudança ambiental. Compreender melhor o risco (ver
capítulo sobre Substâncias Perigosas) e aquilo que as fontes estão a dizer é outro ponto essencial. Para isto,
nada melhor do que vestir a pele de ignorante e perguntar tudo o que não se sabe. O repórter não tem,
necessariamente, de ser um especialista e não há nada que não possa ser explicado pela simples lógica. Por isso,
indagar o porquê das coisas é sempre recompensador. Muitos argumentos não resistem a esta simples pergunta.

(Sobre a Terra: um guia para quem lê e escreve sobre ambiente – Na parte I, sobre O que há de diferente no
jornalismo ambiental?, Ricardo Garcia escreve sobre o objeto (páginas 19 a 25 aqui reproduzidas), as fontes e
o público. Na Parte 2 do livro ele apresenta Dez conselhos para quem escreve sobre ambiente. E na Parte 3,
Quinze temas ambientais que são notícia. O livro foi publicado em Lisboa pelo Público. A edição consultada é a
2ª, de abril de 2006)

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