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XXIV Encontro Nac. de Eng.

de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004

Eficiência energética nas indústrias: cenários & oportunidades

Antonio Vanderley Herrero Sola (CEFET-PR) <sola@pg.cefetpr.br>


Prof. Dr. João Luiz Kovaleski (CEFET-PR) <kovaleski@pg.cefetpr.br>

Resumo
O presente trabalho faz um estudo de cenários no contexto energético, político e tecnológico
e analisa ações de eficiência energética no âmbito industrial. O objetivo é avaliar os
impactos das medidas governamentais e levantar oportunidades de mercado. O estudo de
cenários aponta para uma necessidade de crescimento econômico com uso racional de
recursos naturais. Uma pesquisa junto a algumas indústrias da região de Ponta Grossa,
Paraná, revela dificuldades na substituição dos equipamentos e processos obsoletos.
Observam-se maiores oportunidades de mercado nas atividades de projeto e desenvolvimento
de produtos, sobretudo nos setores elétrico e eletrônico. Esperam-se, com as novas medidas
governamentais, oportunidades de desenvolvimento tecnológico em outras áreas como a
construção civil.
Palavras-chave: Eficiência energética, Estudo de cenários, Oportunidades de mercado.

1. Introdução
O racionamento de energia elétrica em 2001, quando veio a público a crise do setor elétrico,
fez crescer em todo o país o sentimento de economia desta fonte. A necessidade de um
sistema elétrico confiável e o aumento nas perdas de energia e pressões ambientais
intensificaram as ações de eficiência energética na geração, distribuição e no consumo final.
Medidas como as privatizações de parte das empresas do setor elétrico, imprimindo um
caráter mais competitivo, mudaram o perfil do mercado. Uma empresa, cujo objetivo é vender
energia elétrica, não tem nenhum interesse em trabalhar para reduzir o consumo. As ações de
eficiência energética visam à redução de perdas e conseqüentemente o consumo de energia.
Atividades de P&D, para o planejamento energético e o desenvolvimento científico e
tecnológico, apresentam retorno financeiro em longo prazo e não atraem empresas privadas
(JANNUZZI, 2000). As recentes medidas governamentais – como as novas regras do setor
elétrico e o Plano do Governo Federal – trazem novas perspectivas. O objetivo é avaliar os
impactos dessas medidas no âmbito industrial e levantar oportunidades para novos mercados.
O estudo pode contribuir para o planejamento estratégico das organizações. O crescimento
econômico, principalmente através de exportações, deve gerar trabalho e renda ao país.
As indústrias consomem quase a metade da energia elétrica produzida no país e fabricam bens
que consomem energia. Isso faz desse segmento o objeto do estudo aqui desenvolvido. São
verificadas, junto às indústrias, ações de eficiência energética com relação aos programas de
conscientização, de gestão energética e utilização de tecnologias energeticamente eficientes.
Preliminarmente o cenário energético é analisado a partir de informações do Balanço
Energético Nacional do Ministério das Minas e Energia. O cenário político analisa o Plano
Plurianual 2004-2007 do Governo Federal. O cenário tecnológico apresenta algumas
tendências e mostra ações do Ministério da Ciência e Tecnologia. Em seguida, é apresentado
o caso das indústrias. Finalmente, é feita uma análise crítica, com a discussão também sobre
oportunidades de mercado.

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2.0. Metodologia
O Governo Federal, como agente orientador e regulador, possui um papel relevante no setor
energético. As ações governamentais são operacionalizadas através dos Ministérios. São
analisados os estudos desenvolvidos pelo Ministério das Minas e Energia e pelo Ministério da
Ciência e Tecnologia. Tais trabalhos são criteriosos e fornecem subsídios importantes para a
compreensão da conjuntura nacional. Eles têm caráter oficial. Fazem uso de sofisticadas
técnicas de modelagem e painéis de especialistas. No plano político o Governo Federal tem
conseguido, junto ao Congresso Nacional, aprovar Leis importantes para o setor energético.
Um estudo de cenários no contexto energético, político e tecnológico aponta a situação atual
do país e possibilita projeções futuras.
As indústrias são peças importantes no contexto estudado. Consomem quase a metade da
energia elétrica produzida no país e produzem bens que consomem energia. Em função disto,
desenvolveu-se um estudo de caso em algumas indústrias da região de Ponta Grossa/Pr para
avaliar as ações de eficiência energética. Foram efetuadas entrevistas com os Gerentes de
Produção das indústrias consultadas. Na pesquisa qualitativa as questões foram as seguintes:
– Conscientização para eficiência energética;
– Gestão energética;
– Política de uso de tecnologias energeticamente eficientes.
Foram selecionadas aleatoriamente três indústrias, sendo elas do setor de peças automotivas,
alimentos e bebidas. Todas as indústrias possuem um nível elevado de automação. As
empresas possuem o certificado NBR ISO 9001:2000 e outras certificações obrigatórias para
cada setor. Além de atender o mercado interno, todas as organizações pesquisadas exportam.
Apenas uma delas possui Gestão Integrada, com ISO 9000, 14000 e 18000. As demais estão
se preparando para a certificação NBR ISO 14001.
Os resultados do estudo apresentam uma análise dos cenários propostos e o caso das
indústrias. Posteriormente é feita uma análise crítica e levantadas oportunidades de mercado.

3.0. Resultados

3.1. Cenário energético


O conceito de eficiência energética está ligado à minimização de perdas na conversão de
energia primária em energia útil. As perdas ocorrem para qualquer tipo de energia, seja
térmica, mecânica ou elétrica. No Balanço Energético Nacional do Ministério das Minas e
Energia – MME (2003a) a Oferta Interna de Energia (OIE), ou a matriz energética, é obtida
pela soma das perdas e do consumo final. A parir de 1970, o balanço vem registrando,
anualmente, um aumento gradual das perdas, na distribuição, armazenagem ou nos processos
de transformação. Em 2002 as perdas de energia atingiram algo em torno de 10% da OIE. Em
países com grande geração térmica as perdas estão entre 25% e 30% da OIE. Para Goldenberg
(2000) os equipamentos e processos utilizados em transportes, em residências ou indústrias,
foram desenvolvidos com o pensamento de um tempo em que os recursos energéticos eram
fartos, baratos e não se tinha muita preocupação com as questões ambientais.
Através do balanço energético do MME (2003a), pode-se ter a compreensão necessária sobre
os aspectos de utilização de energia no país, bem como a respeito de algumas medidas
governamentais sobre o assunto. O consumo de energia per capita tem crescido, em média, a
uma taxa de 2,2 % ao ano. Isso implica em dizer que o consumo de energia deverá dobrar em
trinta anos. O Brasil deverá atingir em 2020 uma taxa de crescimento da Oferta Interna de
Energia de 3,3 % ao ano, enquanto a demanda mundial projeta uma taxa de 2,26 % ao ano. Se

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a Oferta Interna de Energia for comparada com o PIB, o Brasil precisa investir, nos próximos
anos, o dobro em energia em relação ao Japão, por exemplo. O setor industrial, que consome
46,2 % da energia elétrica ofertada, aumentou o consumo em 6,6 % de 2001 para 2002. No
âmbito residencial, o consumo caiu 1,4% no mesmo período, frustrando o setor por dois anos
consecutivos. No setor industrial, o aumento se deu, principalmente, em razão das
exportações e ao término do contingenciamento da eletricidade após a crise de abastecimento
de 2001. Já no setor residencial – onde se concentram também os consumidores de bens e
serviços do mercado interno – a queda percentual reflete uma redução no consumo de energia
relativa ao bem-estar da população. Verifica-se, nos últimos anos, uma redução percentual no
consumo de lenha e petróleo. Em contrapartida, o consumo de energia a partir de
hidroelétricas e dos derivados de cana-de-açúcar vem crescendo. No Brasil, 72,9% da energia
elétrica vem das hidroelétricas enquanto 12% é de origem térmica. No mundo, 39,1% da
energia elétrica tem origem do carvão mineral, 17,4% do gás natural e 17,1% hidráulica. Isso
coloca o Brasil em condição privilegiada em relação à utilização de energia limpa. Em 2020 o
nosso país estará consumindo 2,75 % da energia mundial, mas com 2,2 % apenas de emissões
de carbono. Entretanto, as exportações de bens não energéticos do Brasil embutem mais
energia e carbono do que as importações (MACHADO, 2002). Isso significa que são gastos
mais recursos energéticos para produzir que outros países.
O crescente aumento de perdas de energia elétrica, além de comprometer a confiabilidade do
sistema elétrico, afeta o meio ambiente, exige maiores investimentos em geração, onera a
produção e torna o produto nacional menos competitivo no mercado internacional. Em função
disso, para promover a racionalização da produção e do consumo de energia elétrica, foram
tomadas algumas medidas governamentais. Conforme Jannuzzi (2000, p. 88), fica evidente a
tendência do Governo Federal de atuar de forma indireta no setor energético, usando menos
recursos públicos, de impostos, e mais recursos dos próprios consumidores de energia – não
devendo acontecer o mesmo para eficiência energética e P&D de interesse público.

3.2. Cenário político


Um dos objetivos estabelecidos no Plano Plurianual do Governo Federal PPA 2004 – 2007 é
promover o “crescimento com geração de emprego e renda, ambientalmente sustentável e
com redução de desigualdades sociais”.
Através do MME (2003b), o Governo apresenta justificativas para a Política Pública de
eficiência energética. Inicialmente assume o papel de estruturar, orientar e exercer sua função
disciplinadora e de regulação do setor energético. Com isso pretende corrigir as imperfeições
e eliminar as barreiras que impedem o bom funcionamento do mercado. De forma proativa
assume o compromisso de evitar a descontinuidade de políticas e programas, bem como a
adoção de uma clara estratégia política que envolva os agentes privados e públicos.
O Governo Federal, através da Política Pública de eficiência energética, mostra-se consciente
dos seus desafios, quanto às questões sociais, ambientais e investimentos em infra-estrutura.
Reconhece também que a crise que levou ao racionamento de energia elétrica, em 2001,
trouxe perdas para o país, tanto para empresas como para a população em geral. Mas também
encara como uma oportunidade para o desenvolvimento de ações de conservação, uma vez
que a crise energética foi um alerta para o uso racional de energia. A seguir são apresentadas
as intenções governamentais, com algumas ações já encaminhadas.
– Trabalhar junto à população – através de cursos, marketing, campanhas, prêmios – visando
à mudança de hábitos para gerar uma cultura de combate ao desperdício. Nesse sentido, já
existem alguns programas em escolas e junto a algumas empresas, através do Programa
Nacional de Conservação de Energia Elétrica. – PROCEL.

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– Ampliar a legislação e orientações regulatórias sobre eficiência energética. Atualmente a


Lei 10295/2001 estabelece níveis máximos de consumo de energia ou mínimo de eficiência
energética para aparelhos e máquinas fabricados ou comercializados no país. A novidade é a
definição de mecanismos de eficiência energética para edificações, a exemplo do que ocorre
em alguns países. Um outro aspecto a destacar é a exigência de níveis de eficiência energética
em contratos de desempenho para empresas públicas, bem como no uso do poder de compra
do Governo.
– Aumentar a produtividade energética nos principais setores econômicos do país, através de
capacitação, informação, marketing e principalmente financiamentos. Pretende-se agir no
sentido de incentivar a substituição de equipamentos e de processos obsoletos. Aumentar a
penetração do gás natural em substituição aos derivados do petróleo, reduzir a emissão de
poluentes e inserir eficiência energética nas estratégias empresariais de controle da qualidade
e produtividade.
– Promover o desenvolvimento e a difusão de tecnologias inovadoras relacionadas ao uso
racional de energia. As principais ações previstas são a expansão de laboratórios, o
desenvolvimento de equipamentos energeticamente eficientes, o desenvolvimento de
materiais e técnicas construtivas para edificações e a utilização do gás natural em veículos,
residências, no comércio e em serviços.
– Promover investimentos em eficiência energética no uso final, através de legislação e
contratos de concessão de concessionárias, com aplicação de investimentos, aprimoramento
de instrumentos de avaliação e melhoria do processo de fiscalização. Essas ações visam a
evitar algumas distorções quanto à aplicação de recursos em programas de eficiência
energética, conforme a Lei 9991/2000. Algumas concessionárias, visando benefícios próprios,
priorizaram investimentos em iluminação pública, compartilhando investimentos com
prefeituras, ou investiram em melhoria de suas próprias instalações (JANNUZZI, 2000, p.
90). Por exemplo, no ciclo 1998-99, foram alocados 50% dos investimentos em projetos de
melhoria na eficiência em iluminação pública e apenas 12% na indústria (ANEEL, 1999).
– Criar condições para relações comerciais sustentáveis, através de incentivos fiscais e
tributários, preços e orientações. Pretende-se criar um modelo financeiro, inclusive, obrigando
a análise da eficiência energética nos projetos candidatos a financiamento. Os profissionais, as
Empresas de Serviços de Conservação de Energia – ESCO e Empresas de Serviços de
Serviços de Energia – ESE serão certificados e terão qualificação técnica de projetos.
– Trabalhar a eficiência energética no planejamento energético através de modelos e
softwares. Cenários serão analisados e metodologias de conservação de energia serão
desenvolvidas, comparando-se custos de geração com custos de programas de eficiência
energética. A Empresa de Pesquisa Energética – EPE, criada recentemente através da Lei
10857/2004, deve trabalhar também nesse sentido. Os estudos da EPE devem subsidiar o
planejamento e a política energética nacional. Jannuzzi (2000, p. 103) afirma que estudos para
avaliar as necessidades e potenciais de investimentos em eficiência energética e P&D de
interesse público – principalmente pesquisas que um setor privatizado não tem interesse em
realizar – são relevantes para o desenvolvimento do país. A EPE é um passo nesse sentido.
– Incentivar a participação de empresas em projetos de eficiência energética enquadrados no
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, para obtenção de RCE – Reduções Certificadas de
Emissões. Deve ser trabalhado na divulgação do mercado de RCE e proposição de
mecanismos de financiamento com a contrapartida dessa certificação. O Brasil, a exemplo de
outros países, também é signatário do protocolo de Kyoto, firmado no Japão em 1997. Em
função disso, tem compromisso de reduzir emissões de carbono, visando a minimizar o efeito
estufa e suas conseqüências danosas ao clima do planeta.

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– Otimizar o uso de insumos energéticos através de geração distribuída, com informações,


regulamentação, incentivos fiscais e financiamentos. Devem ser feitos estudos para
regulamentação da geração distribuída – como energia eólica, fotovoltaica, pequenas
hidroelétricas ou uso de biomassa para gerar energia elétrica. A cogeração – geração própria
de eletricidade – também deve ser incentivada. A cogeração e a geração distribuída são
localizadas próximas aos consumidores, evitando custos com transmissão. O Programa de
Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica – PROINFA, instituído pela Lei
10438/2002 e modificado pela Lei 10762/2003, visa à diversificação da matriz energética
brasileira. O Programa busca incentivar o investimento em soluções em energias renováveis,
como eólica, biomassa e pequenas centrais hidroelétricas.
– Promover o uso racional de energia nos programas sociais do Governo Federal, através de
articulação, informação e projetos pilotos. Deve ser trabalhada a sensibilização, bem como a
melhoria de equipamentos utilizados em zonas carentes. São previstos também critérios de
eficiência energética em programas nacionais de saneamento e habitação.
– Estabelecer alianças estratégicas entre os diversos agentes através de uma rede de agentes:
setor público; concessionárias; consumidores; fabricantes de equipamentos; ESCO e ESE.
Para que as intenções políticas do Governo Federal sejam materializadas, o desempenho da
economia do país deve ser levado em conta. Os fatores econômicos estão diretamente ligados
à estabilidade política do Governo, conforme afirma o economista Furuguem (2004). Se o
contexto político ficar turbulento, a oferta de financiamentos externos deverá retrair. Os
investimentos externos serão reduzidos, o risco-Brasil subirá e haverá pressão sobre o dólar,
sobre a inflação e sobre a taxa de juros. Isso impedirá o crescimento econômico e a geração
de empregos. Se o Governo conseguir manter-se estável politicamente, a inflação será
controlada e até cairá. A taxa de juros reduzirá, a economia será recuperada, com o PIB
crescendo acima de 3% ao ano. Haverá, então, melhora na oferta de empregos e salários.

3.3. Cenário tecnológico


Não há dúvidas sobre a importância da microeletrônica na atualidade e no futuro,
principalmente para o Brasil. Novos produtos de solução eletrônica – desde um brinquedo,
um roteador ou um automóvel – são construídos com chips e softwares embarcados. Segundo
dados sobre o mercado de informática no país, do Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT
(2000), 46% da importação é de partes e peças de computadores ou para circuitos eletrônicos.
Em 2000 os componentes eletrônicos causaram déficit da balança comercial de R$ 3 bilhões.
Destes, R$ 1,7 bilhões foram de Circuitos Integrados. O MCT, através dos seus Programas,
quer mostrar que, no Brasil, com a inovação tecnológica e a capacitação de pessoal, tem-se
um caminho para se reduzir custos para o país, buscar maior competitividade e gerar trabalho.
O Programa Nacional de Microeletrônica do MCT (2002) espera atrair grandes empresas de
projeto de Circuitos Integrados – CI; produtores de bens de consumo; pequenas empresas de
projetos prestadoras de serviços; Universidades para gerar mão-de-obra qualificada e também
apoio financeiro. As grandes empresas internacionais na área de CI são atraídas ao país que
oferece mão-de-obra especializada. Atualmente poucos estados possuem universidades com
estrutura e pessoal qualificado para o desenvolvimento de pesquisas nessa área. Fomentando o
crescimento de uma rede de universidades em todos os estados brasileiros, o projeto poderia
colocar no mercado empresas ou profissionais capacitados em projetos. Poderia ser
estabelecida uma forte parceria entre empresas de projeto e fabricantes de bens de consumo.

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3.4. O caso das indústrias


Apenas uma das empresas pesquisadas trabalha a conscientização do pessoal para consumo de
energia, mas com metas de consumo por produto e dentro de um sistema de Gestão Integrada.
Essa empresa acredita que um processo de conscientização só dá bons resultados com
procedimentos específicos e dentro de um sistema de gestão. As campanhas, quando isoladas,
são momentâneas e apresentam resultado menos duradouro As demais empresas afirmam que
ações relativas ao consumo de energia estão inseridas em alguns procedimentos e orientações
do Sistema de Gestão da Qualidade – ISO 9000. As empresas que estão se preparando para
certificação pela ISO 14001 estão definindo indicadores de consumo de energia por produto,
para atender a essa norma. A gestão energética está inserida em outros sistemas de gestão.
Uma ação constatada por uma das empresas é a mudança de nível de classe de tensão elétrica.
Com isso, a empresa aumenta a flexibilidade na escolha de fornecedores de energia elétrica e
o poder de negociação do preço das tarifas. A Lei 10848/2004 dispõe sobre a comercialização
de energia elétrica e modifica outras leis sobre do assunto. Uma outra empresa afirmou que
procura manter uma parceria e que a fidelidade com a concessionária traz outros benefícios. O
relacionamento empresa-concessionária é constituído de interesses de ambos os lados. As
empresas afirmam que as concessionárias não são incisivas quanto às ações de eficiência
energética na indústria. Os contratos são feitos conforme a legislação pertinente.
Apenas uma das empresas – a que possui um sistema de Gestão Integrada – afirmou possuir
uma política permanente para substituição de equipamentos ou fontes energéticas. Todas as
demais empresas consultadas afirmaram que, quando fazem a substituição de equipamentos
obsoletos, optam por outros que são energeticamente eficientes. Porém, essa substituição visa
à melhoria de um determinado processo ou produto. Ou seja, não existe uma política
permanente da empresa nesse sentido. Nesta questão, existem alguns fatores importantes a
serem considerados. Ainda existem muitos processos e equipamentos instalados nas indústrias
brasileiras de origem estrangeira e funcionando há muito tempo. Os processos com projetos
mais antigos receberam adequação no que diz respeito à tecnologia de controle, normalmente
redes industriais de computadores. Existem caldeiras funcionando há mais de 50 anos e
motores há mais de 30 anos. Substituir equipamentos significa, às vezes, alterar todo o projeto
de um processo ou de uma planta industrial. Isso implica em investimentos com um tempo de
retorno financeiro muito longo. As grandes indústrias normalmente são de capital aberto e
alegam que os investimentos dependem dos acionistas.
Com relação à utilização do gás natural, por exemplo, uma das empresas admite que o custo é
maior. Entretanto, essa empresa reconhece que o gás natural traz outros benefícios, como
menor índice de manutenção e a disponibilidade do produto em tempo integral, através do
gasoduto – isso evita problemas com a produção. Outra empresa afirma que o custo do gás
natural não compensa e prefere usar lenha, cavacos ou serragem.
A cogeração – geração própria de eletricidade – pode ser feita a partir de um gerador próprio.
O vapor de uma caldeira, usado para o processo industrial, também pode ser reaproveitado
para acionar uma turbina e gerar eletricidade. Apenas a empresa que possui um sistema de
Gestão Integrada admitiu ter cogeração. Todas as indústrias afirmaram que existem estudos
sobre cogeração, mas o alto custo do investimento dificulta a implantação.
Os empresários são conscientes de que as ações com melhores resultados dependem de
investimentos na empresa. As estratégias empresariais buscam, sobretudo, compatibilidade
com os seus negócios. Cada organização tem suas dificuldades e seus interesses próprios. Mas
estão prontas para aproveitar as oportunidades, como incentivos fiscais e financiamentos. Elas
se mobilizam para atender à legislação governamental ou às leis de mercado.

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4. Análise crítica e oportunidades


O Governo Federal deve ampliar a legislação que define índices mínimos de eficiência
energética para produtos. Com isso, eficiência energética é um conceito que está, cada vez
mais, sendo embutido nos produtos. Cada vez menos serão necessárias ações externas de
controle por parte dos consumidores. Em termos de mercado, este fato significa que as
empresas com atividades de projeto e desenvolvimento de produtos serão mais exigidas do
ponto de vista legal. Mas também é uma oportunidade para as organizações ganharem
mercado com o desenvolvimento de novos produtos energeticamente eficientes. O BNDES
possui, até 31/07/2007, um programa para desenvolvimento da indústria nacional de software
e serviços correlatos – PROSOFT. Deve financiar empresas brasileiras que desenvolvam
softwares, inclusive embarcados em equipamentos. Além da expansão de mercado para
empresas de bens de consumo, destacam-se as oportunidades no mercado tecnológico da
construção civil e para fornecedores de produtos e serviços no âmbito governamental.
Nas empresas são encontrados equipamentos e dispositivos microcontrolados com sistemas
eletrônicos de potência. É o caso de motores de alto rendimento com controle eletrônico de
partida, velocidade e freqüência. Isso deve se estender para os setores comercial e residencial.
Equipamentos microcontrolados, programados com softwares embarcados, dotados de
inteligência artificial, deverão, dentre outras tarefas, fazer também o controle de consumo de
energia. Considerando um cenário político favorável, capaz de atrair investimentos externos,
o mercado deverá se abrir para o desenvolvimento de pesquisas de Circuitos Integrados em
Universidades e para novas empresas de projetos na área. O projeto da Lei de Inovação,
enviado ao Congresso Nacional em abril de 2004, dispõe sobre medidas de incentivo à
pesquisa científica e à inovação tecnológica. Segundo projeção do MME (2002), até 2022, há
uma tendência para a concentração de investimentos em materiais elétricos e eletrônicos, nos
setores automotivo e químico, principalmente em MG, RJ, SP, PR e RS. A projeção prevê um
aumento de consumo de energia e de bens nas classes A e C, bem como a recuperação real
dos salários somente a partir de 2007. A classe social com melhor renda retomará o pleno uso
da eletricidade. Consumidores, principalmente de regiões carentes, terão acesso pela primeira
vez aos benefícios da energia elétrica.
O MCT vem trabalhando em novas tecnologias, como os sistemas de células a combustível,
que usam elementos como o etanol para produzir hidrogênio e gerar energia elétrica.
Entretanto, as políticas de substituição de equipamentos, processos e fontes de energia
dependerão da eficácia das medidas governamentais. Os profissionais de projeto, das ESCO e
ESE também dependem das medidas. Fatores sujeitos às leis de mercado, se não forem
equilibrados por leis específicas, podem retardar o processo de renovação tecnológica. Além
de ser viável, sob o ponto de vista de retorno financeiro em curto prazo, a substituição deverá
melhorar a qualidade dos processos e produtos fabricados. Se continuar em declínio o
consumo de produtos derivados de petróleo e lenha e a oferta aumentar, o preço cairá,
tornando-se um atrativo aos usuários. Isto poderá desestimular o uso de fontes renováveis.
As empresas pesquisadas afirmam que as normas de Gestão Ambiental agregam valor de
mercado ao produto e melhoram a imagem da empresa perante a comunidade e os
consumidores. Vem crescendo no mundo o número de empresas certificadas pelas normas de
Gestão Ambiental. Segundo o INMETRO (2003), até o final de 2003, a International
Organization for Standardization – ISO registrou no continente Europeu 18243 empresas
certificadas, na Ásia 13410 e na América do Norte 2700. Em 1998, o Brasil tinha apenas 2
(duas) empresas certificadas e, até março de 2004, registram-se 664 empresas com certificado
NBR ISO 14001. O Governo Federal poderia criar mecanismos – a exemplo da Lei
8248/1991, com benefícios fiscais para o setor de informática – para incentivar as normas de
Gestão Ambiental, ou de Gestão Integrada, principalmente nas pequenas e médias empresas.

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5. Conclusão
Equipamentos e processos obsoletos, utilizados ainda hoje nas indústrias, têm uma grande
parcela de responsabilidade pelas perdas de energia verificadas no Balanço Energético
Nacional. Do ponto de vista operacional, econômico ou ambiental as perdas trazem prejuízos
para toda a cadeia produtiva. A velocidade de modernização das tecnologias e o uso de fontes
energéticas renováveis dependem da eficácia das medidas governamentais. Uma empresa que
trabalha com sistema de Gestão Integrada mostra-se mais consciente e apresenta uma política
energética mais consistente. Evidências nas empresas mostram que a cultura para eficiência
energética é gerada a partir de uma política permanente. O Governo Federal, através de
incentivos, poderia fomentar a Gestão Ambiental ou a Gestão Integrada. Isso contribuiria para
acelerar o processo de modernização tecnológica e tornaria as empresas mais competitivas.
O Brasil precisa retomar o crescimento econômico e gerar trabalho e renda. Para isso, é
necessário investir em energia, preferencialmente renovável, minimizando impactos
ambientais. O crescimento do consumo do setor industrial, devido ao aumento das
exportações, mostra que o mercado internacional é um caminho natural para o crescimento. O
produto nacional, para tornar-se mais competitivo, deverá embutir menos energia e carbono.
O Governo Federal, através de legislação específica, põe a ênfase de eficiência energética no
produto. Ao longo do tempo, isto tende a eliminar a necessidade de ações externas de controle
de eficiência energética. As empresas com projeto e desenvolvimento de produtos são mais
exigidas do ponto de vista legal. Também é uma oportunidade para essas empresas ganharem
mercado com produtos energeticamente eficientes. A microeletrônica tem um papel relevante
nos novos produtos. Com os investimentos necessários, abrem-se oportunidades de trabalho
na área elétrica e eletrônica, tanto em Universidades como nas empresas de projetos,
principalmente no sul do país. Também são abertas oportunidades de desenvolvimento
tecnológico em outros setores como a construção civil.

Referências
ANEEL (1999). Agência Nacional de Energia Elétrica. Relatório Síntese dos Programas de Combate ao
Desperdício de Energia Elétrica. Ciclo 1999/2000. Brasília, DF.
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JANNUZZI, G. de (2000). Políticas públicas para eficiência energética e energia renovável no novo
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