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Resumo
O presente trabalho faz um estudo de cenários no contexto energético, político e tecnológico
e analisa ações de eficiência energética no âmbito industrial. O objetivo é avaliar os
impactos das medidas governamentais e levantar oportunidades de mercado. O estudo de
cenários aponta para uma necessidade de crescimento econômico com uso racional de
recursos naturais. Uma pesquisa junto a algumas indústrias da região de Ponta Grossa,
Paraná, revela dificuldades na substituição dos equipamentos e processos obsoletos.
Observam-se maiores oportunidades de mercado nas atividades de projeto e desenvolvimento
de produtos, sobretudo nos setores elétrico e eletrônico. Esperam-se, com as novas medidas
governamentais, oportunidades de desenvolvimento tecnológico em outras áreas como a
construção civil.
Palavras-chave: Eficiência energética, Estudo de cenários, Oportunidades de mercado.
1. Introdução
O racionamento de energia elétrica em 2001, quando veio a público a crise do setor elétrico,
fez crescer em todo o país o sentimento de economia desta fonte. A necessidade de um
sistema elétrico confiável e o aumento nas perdas de energia e pressões ambientais
intensificaram as ações de eficiência energética na geração, distribuição e no consumo final.
Medidas como as privatizações de parte das empresas do setor elétrico, imprimindo um
caráter mais competitivo, mudaram o perfil do mercado. Uma empresa, cujo objetivo é vender
energia elétrica, não tem nenhum interesse em trabalhar para reduzir o consumo. As ações de
eficiência energética visam à redução de perdas e conseqüentemente o consumo de energia.
Atividades de P&D, para o planejamento energético e o desenvolvimento científico e
tecnológico, apresentam retorno financeiro em longo prazo e não atraem empresas privadas
(JANNUZZI, 2000). As recentes medidas governamentais – como as novas regras do setor
elétrico e o Plano do Governo Federal – trazem novas perspectivas. O objetivo é avaliar os
impactos dessas medidas no âmbito industrial e levantar oportunidades para novos mercados.
O estudo pode contribuir para o planejamento estratégico das organizações. O crescimento
econômico, principalmente através de exportações, deve gerar trabalho e renda ao país.
As indústrias consomem quase a metade da energia elétrica produzida no país e fabricam bens
que consomem energia. Isso faz desse segmento o objeto do estudo aqui desenvolvido. São
verificadas, junto às indústrias, ações de eficiência energética com relação aos programas de
conscientização, de gestão energética e utilização de tecnologias energeticamente eficientes.
Preliminarmente o cenário energético é analisado a partir de informações do Balanço
Energético Nacional do Ministério das Minas e Energia. O cenário político analisa o Plano
Plurianual 2004-2007 do Governo Federal. O cenário tecnológico apresenta algumas
tendências e mostra ações do Ministério da Ciência e Tecnologia. Em seguida, é apresentado
o caso das indústrias. Finalmente, é feita uma análise crítica, com a discussão também sobre
oportunidades de mercado.
2.0. Metodologia
O Governo Federal, como agente orientador e regulador, possui um papel relevante no setor
energético. As ações governamentais são operacionalizadas através dos Ministérios. São
analisados os estudos desenvolvidos pelo Ministério das Minas e Energia e pelo Ministério da
Ciência e Tecnologia. Tais trabalhos são criteriosos e fornecem subsídios importantes para a
compreensão da conjuntura nacional. Eles têm caráter oficial. Fazem uso de sofisticadas
técnicas de modelagem e painéis de especialistas. No plano político o Governo Federal tem
conseguido, junto ao Congresso Nacional, aprovar Leis importantes para o setor energético.
Um estudo de cenários no contexto energético, político e tecnológico aponta a situação atual
do país e possibilita projeções futuras.
As indústrias são peças importantes no contexto estudado. Consomem quase a metade da
energia elétrica produzida no país e produzem bens que consomem energia. Em função disto,
desenvolveu-se um estudo de caso em algumas indústrias da região de Ponta Grossa/Pr para
avaliar as ações de eficiência energética. Foram efetuadas entrevistas com os Gerentes de
Produção das indústrias consultadas. Na pesquisa qualitativa as questões foram as seguintes:
– Conscientização para eficiência energética;
– Gestão energética;
– Política de uso de tecnologias energeticamente eficientes.
Foram selecionadas aleatoriamente três indústrias, sendo elas do setor de peças automotivas,
alimentos e bebidas. Todas as indústrias possuem um nível elevado de automação. As
empresas possuem o certificado NBR ISO 9001:2000 e outras certificações obrigatórias para
cada setor. Além de atender o mercado interno, todas as organizações pesquisadas exportam.
Apenas uma delas possui Gestão Integrada, com ISO 9000, 14000 e 18000. As demais estão
se preparando para a certificação NBR ISO 14001.
Os resultados do estudo apresentam uma análise dos cenários propostos e o caso das
indústrias. Posteriormente é feita uma análise crítica e levantadas oportunidades de mercado.
3.0. Resultados
a Oferta Interna de Energia for comparada com o PIB, o Brasil precisa investir, nos próximos
anos, o dobro em energia em relação ao Japão, por exemplo. O setor industrial, que consome
46,2 % da energia elétrica ofertada, aumentou o consumo em 6,6 % de 2001 para 2002. No
âmbito residencial, o consumo caiu 1,4% no mesmo período, frustrando o setor por dois anos
consecutivos. No setor industrial, o aumento se deu, principalmente, em razão das
exportações e ao término do contingenciamento da eletricidade após a crise de abastecimento
de 2001. Já no setor residencial – onde se concentram também os consumidores de bens e
serviços do mercado interno – a queda percentual reflete uma redução no consumo de energia
relativa ao bem-estar da população. Verifica-se, nos últimos anos, uma redução percentual no
consumo de lenha e petróleo. Em contrapartida, o consumo de energia a partir de
hidroelétricas e dos derivados de cana-de-açúcar vem crescendo. No Brasil, 72,9% da energia
elétrica vem das hidroelétricas enquanto 12% é de origem térmica. No mundo, 39,1% da
energia elétrica tem origem do carvão mineral, 17,4% do gás natural e 17,1% hidráulica. Isso
coloca o Brasil em condição privilegiada em relação à utilização de energia limpa. Em 2020 o
nosso país estará consumindo 2,75 % da energia mundial, mas com 2,2 % apenas de emissões
de carbono. Entretanto, as exportações de bens não energéticos do Brasil embutem mais
energia e carbono do que as importações (MACHADO, 2002). Isso significa que são gastos
mais recursos energéticos para produzir que outros países.
O crescente aumento de perdas de energia elétrica, além de comprometer a confiabilidade do
sistema elétrico, afeta o meio ambiente, exige maiores investimentos em geração, onera a
produção e torna o produto nacional menos competitivo no mercado internacional. Em função
disso, para promover a racionalização da produção e do consumo de energia elétrica, foram
tomadas algumas medidas governamentais. Conforme Jannuzzi (2000, p. 88), fica evidente a
tendência do Governo Federal de atuar de forma indireta no setor energético, usando menos
recursos públicos, de impostos, e mais recursos dos próprios consumidores de energia – não
devendo acontecer o mesmo para eficiência energética e P&D de interesse público.
5. Conclusão
Equipamentos e processos obsoletos, utilizados ainda hoje nas indústrias, têm uma grande
parcela de responsabilidade pelas perdas de energia verificadas no Balanço Energético
Nacional. Do ponto de vista operacional, econômico ou ambiental as perdas trazem prejuízos
para toda a cadeia produtiva. A velocidade de modernização das tecnologias e o uso de fontes
energéticas renováveis dependem da eficácia das medidas governamentais. Uma empresa que
trabalha com sistema de Gestão Integrada mostra-se mais consciente e apresenta uma política
energética mais consistente. Evidências nas empresas mostram que a cultura para eficiência
energética é gerada a partir de uma política permanente. O Governo Federal, através de
incentivos, poderia fomentar a Gestão Ambiental ou a Gestão Integrada. Isso contribuiria para
acelerar o processo de modernização tecnológica e tornaria as empresas mais competitivas.
O Brasil precisa retomar o crescimento econômico e gerar trabalho e renda. Para isso, é
necessário investir em energia, preferencialmente renovável, minimizando impactos
ambientais. O crescimento do consumo do setor industrial, devido ao aumento das
exportações, mostra que o mercado internacional é um caminho natural para o crescimento. O
produto nacional, para tornar-se mais competitivo, deverá embutir menos energia e carbono.
O Governo Federal, através de legislação específica, põe a ênfase de eficiência energética no
produto. Ao longo do tempo, isto tende a eliminar a necessidade de ações externas de controle
de eficiência energética. As empresas com projeto e desenvolvimento de produtos são mais
exigidas do ponto de vista legal. Também é uma oportunidade para essas empresas ganharem
mercado com produtos energeticamente eficientes. A microeletrônica tem um papel relevante
nos novos produtos. Com os investimentos necessários, abrem-se oportunidades de trabalho
na área elétrica e eletrônica, tanto em Universidades como nas empresas de projetos,
principalmente no sul do país. Também são abertas oportunidades de desenvolvimento
tecnológico em outros setores como a construção civil.
Referências
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