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Casa da

ISSN 0100-6541
Ano 15 - Nº 4
out./nov./dez. 2012

Agricultura
Agroindústria
Familiar e
Artesanato
Rural
Agricultura

Editorial
familiar e
artesanato rural:

Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI


atividades que
se consolidam
economicamente
Governador do Estado
Agroindústria Familiar e Artesanato Rural são os temas da última edição deste ano da nossa Revista Casa da
Geraldo Alckmin Agricultura. São atividades que permeiam a agropecuária desde os primórdios, são carregadas de história e tradições
e, ultimamente, vêm ganhando uma nova dimensão econômica, deixando de ser alternativa de complementação de
Secretária de Agricultura e Abastecimento renda para se tornarem responsáveis pela própria renda do produtor rural familiar.
Mônika Bergamaschi
Esse fato não passou despercebido aos extensionistas da CATI. Dessa forma, a proposta desta edição é, sobretudo,
convidar o leitor à reflexão sobre o potencial dessas atividades. Além de resgatarem história, tradição, cultura, arte,
Secretário-Adjunto família, vão além, geram renda, emprego e contribuem para a fixação das famílias no campo, fazendo o que melhor
Alberto José Macedo sabem: produzirem e oferecerem aos centros urbanos um pouco desse rico ambiente rural.
Foi para demonstrar a importância econômica, alertar, orientar, dar sugestões e dicas para se montar uma agroin-
Chefe de Gabinete dústria familiar ou dar visibilidade ao artesanato rural, que convidamos para escrever os artigos desta edição, colabo-
Henrique Machado Júnior radores que têm acompanhado as nuances dessas mudanças.
O leitor poderá encontrar desde artigos sobre legislação, até as formas de comercialização para ambas as ativida-
Coordenador/Assistência Técnica Integral
des. Poderão verificar a história ao longo do tempo, contada por aqueles que já vislumbravam o potencial da agroin-
José Carlos Rossetti dústria familiar ao disponibilizarem os primeiros cursos de processamento artesanal da CATI, inicialmente, com o intui-
to de aproveitamento de alimentos em propostas de economia doméstica e, após, com as capacitações que tinham o
Diretor/Departamento de Comunicação e Treinamento objetivo de melhor aproveitamento e agregação de valor aos excedentes da produção agropecuária, ou seja, com uma
Ypujucan Caramuru Pinto visão de comercialização, dando início às agroindústrias familiares.
Em 2000, com o Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas (PEMH), os temas Agroindústria Familiar e
Diretor/Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes Artesanato Rural ressurgiram durante os eventos de diagnóstico participativo e nas reuniões de gênero, como os en-
Edson Luiz Coutinho contros de mulheres. Estavam ali, redescobertas, atividades que podiam cumprir a proposta do Programa: gerar em-
prego e renda e melhorar a qualidade de vida. E, assim, a CATI pode constatar o florescimento da agroindústria familiar.
Diretor/Divisão de Extensão Rural A Feira da Pequena Agroindústria, realizada de 2001 a 2004, e os cursos oferecidos pelos instrutores nas Regionais da
Escolástica Ramos de Freitas (substituta) CATI, comprovaram existir uma demanda por capacitação. Vários são os casos de sucesso que tiveram início em um
curso oferecido pela instituição.
Ainda hoje, a CATI capacita e forma novos empreendedores, e ganhou parceiros que comemoram conosco o que é
fato: agroindústria familiar e artesanato rural podem dar lucro. Como em qualquer outra atividade com fins lucrativos,
basta que os interessados se capacitem, se aprimorem, pesquisem o mercado, invistam em qualidade, design, para
oferecerem produtos diferenciados, que conquistem uma clientela que valorize as principais características desses
negócios: serem especiais em sabor e qualidade, serem atrativos, serem artesanais.

Boa Leitura!

José Carlos Rossetti


Coordenador da CATI
Expediente Sumário
Edição e Publicação - CECOR/CATI 4 Entrevista
7 Panorama da agroindútria no Estado de São Paulo
Departamento de Comunicação e Treinamento - DCT 9 Artesanato rural no Estado de São Paulo – fonte de renda que
Diretor: Ypujucan Caramuru Pinto movimenta a economia
Centro de Comunicação Rural - Cecor
Diretora: Roberta Lage
11 Produção de bebidas e vinagres – legislação é de âmbito federal
Editora responsável: Jorn. Graça D’Auria (MTB 18.760-RJ) 12 Produtos artesanais de origem animal têm legislação própria no Estado
Revisor: Carlos Augusto de Matos Bernardo de São Paulo
Foto Capa: Graça D'Auria
Reportagens: Jornalistas Cleusa Pinheiro (MTB 28.487-SP), 13 Alimentos artesanais de origem vegetal: legislação fica a cargo da
Graça D’Auria (MTB 18.760-RJ), Roberta Lage (MTB 43.382- Vigilância Sanitária
SP).
14 Agroindústria: a importância do planejamento
Supervisão Técnica dos Textos: Nutricionista Beatriz
Cantusio Pazinato e Eng.ª Agr.ª Sonia Juliatto Tinoco 15 A metodologia de organização do negócio agrícola
Designer Gráfica: Lilian Cerveira
17 Desenvolvimento de novos produtos na agroindústria familiar
Distribuição: Centro de Comunicação Rural – Cecor
Impressão e acabamento: Imprensa Oficial do Estado de 19 Embalagem e rotulagem: segurança e informação
São Paulo
Os artigos técnicos são de inteira responsabilidade dos autores. 21 Agricultura familiar tem apoio do Microbacias II
É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte.
A reprodução total depende de autorização expressa da CATI. 22 Casa da Agricultura de Taubaté
25 Linhas de crédito para agroindústria
27 Organização Rural: caminho para o sucesso entre agroindústrias de
pequeno porte
30 Agroindústrias artesanais: produtos diferenciados têm mercado certo
31 Parcerias entre órgãos estaduais e municipais resultam em
agroindústrias de sucesso – caso da Embutidos Pagan
33 Agricultura familiar coloca à mesa produtos diferenciados
36 Artesanato rural: atividade que mobiliza, socializa, preserva tradições e
Não deixe de nos escrever, por carta, ou e-mail conquista espaço como geradora de renda
Átila Queiroz – C.A. São Miguel Arcanjo

Nosso endereço: CATI – Centro de Comunicação Rural


Av. Brasil, 2.340 – CEP 13070-178 – C.P. 960 – CEP 13001-970
38 Associações e cooperativas de artesãos se fortalecem com o apoio de
Campinas, SP – Tel.: (19) 3743-3870 entidades – casos de sucesso no Litoral e no Interior de São Paulo
espacoleitor@cati.sp.gov.br
www.cati.sp.gov.br 42 Agroindústria artesanal e artesanato rural: um pouco de história
44 Aconteceu
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6 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫׀‬7

Entrevista – Leomar Luiz Prezotto do planejamento da agroindústria dade de ampliação e descentraliza- problemas, os quais individualmen-
propriamente dita, requer, também, ção das oportunidades de ocupação te seriam de difícil superação.
a implementação de uma base e remuneração da mão de obra, o
RCA – Como o senhor vê as políti-

Agroindústria produtiva primária, devidamente que gera renda para as famílias.


Esse processo pode favorecer, ain- cas públicas e as linhas de crédi-
organizada, cujo objetivo é o de to que têm sido disponibilizadas
atender às necessidades da agroin- da, um desenvolvimento local e re-
para o setor?
Familiar: dústria quanto ao tipo, à qualidade gional mais equilibrado, com o au-
e à quantidade de matéria-prima mento da arrecadação de impostos,
especialmente nos pequenos muni- LP – Até há pouco tempo, o Brasil
a ser processada. Além disso, há a não tinha programas e políticas di-
agregação de valor necessidade de implementação de
estratégias e de um conjunto de ser-
viços de apoio ao gerenciamento e à
cípios. Uma consequência imediata
é o surgimento e/ou fortalecimen-
to do comércio local. Entretanto, é
recionadas a esse tipo de produção/
agroindustrialização, de pequena

com geração de necessário dizer que esse modelo escala e da agricultura familiar. No
comercialização. entanto, isso vem mudando posi-
descentralizado não representa a
solução de todos os problemas ou tivamente. Muitos programas de
RCA – Fale um pouco sobre as boas

renda e emprego necessidades dos agricultores fami- governos federal, estaduais e muni-
práticas na agroindústria familiar. cipais têm sido instituídos nas últi-
Tânia Maris Grigolo

liares ou do espaço rural. Ele deve ser


entendido e trabalhado como parte mas duas décadas, com o objetivo
LP – As Boas Práticas de Fabricação de apoiar a inclusão dos agricultores
Por Cleusa Pinheiro – Jornalista – Cecor/CATI (BPFs) são condições e procedimen- de um conjunto de ações e de outras
atividades, próprias de cada local ou familiares no processo de agroindus-
tos higiênico-sanitários e operacio- trialização e comercialização da sua
nais sistematizados, aplicados em de cada região como, por exemplo,
o agroturismo e o artesanato, bus- produção.
Como uma estratégia capaz de agregar valor aos produtos agropecuários, a agroindústria familiar todo o fluxo de produção, com o O crédito foi uma das importantes
vem assumindo significativa importância no espaço rural, promovendo uma série de impactos sociais, objetivo de garantir a qualidade, a cando um desenvolvimento local
sustentável nos aspectos social, am- melhorias alcançadas, porém, sa-
econômicos e ambientais nas escalas da unidade de produção familiar e na região onde está inserida, conformidade e a inocuidade dos bemos que só crédito não basta; é
contribuindo para o resgate de saberes populares familiares e/ou regionais ligados ao processamento de produtos. A adoção das BPFs repre- biental, cultural e econômico, tendo
por base a agricultura familiar. necessário um conjunto de ações:
alimentos, prática que sempre esteve intrínseca no modo de vida rural. Atualmente, tem sido considerada senta uma das mais importantes pesquisa, assistência e capacitação
uma das alternativas para a reversão das consequências sociais desfavoráveis no campo, principalmente ferramentas para o alcance de níveis técnica, legislações (sanitária, fiscal/
pela capacidade de geração, direta e indireta, de novos postos de trabalho e de renda aos agricultores adequados de segurança alimentar. RCA – Como o senhor vê a orga-
nização do setor e a inserção de tributária, ambiental, previdenciária/
familiares. Além da redução de riscos, elas tam- trabalhista) adequadas ao modelo
bém possibilitam um ambiente de seus produtos?
Para falar sobre o assunto, entrevistamos Leomar Luiz Prezotto, engenheiro agrônomo, mestre em de agroindustrialização em peque-
trabalho mais eficiente, otimizan- LP – Considerando a realidade da na escala, além de outras políticas
agroecossistemas, consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) junto ao
do todo o processo produtivo, bem agricultura familiar, é necessário o públicas.
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e de outras entidades, sobre legislação sanitária, organiza-
como a segurança para a saúde dos estímulo aos processos de organiza- Os programas que incentivam as
ção da produção e pequena agroindustrialização.
consumidores. Outro efeito positi- ção. Na fase de agroindustrialização, compras governamentais também
Com trabalhos publicados sobre essa temática, Leomar fala sobre diversos temas desse segmento. vo com sua adoção é a redução de os projetos podem ser implantados têm sido muito importantes para
custos de um processo. Por isso, o em pequenos grupos. Têm-se bons a agroindústria familiar, como por
RCA – Qual o panorama da agroin- e promover a (re)inclusão social para tância desse modelo de agroindus- estímulo e o apoio técnico para a exemplos de agroindústrias de qua- exemplo, o Programa de Aquisição
dustrialização familiar no Brasil e os agricultores, melhorando a sua trialização descentralizada e de pe- adoção das boas práticas devem ser tro ou cinco famílias associadas. de Alimentos – PAA e o Programa
em São Paulo? qualidade de vida. queno porte. parte primordial das ações de assis- Já na etapa seguinte, de comercia- Nacional de Alimentação Escolar –
Para alcançar esse objetivo, muitos Nos últimos anos, houve um grande tência técnica e extensão rural. lização, para viabilizar a inserção e PNAE, do governo federal e outros
LP – A industrialização dos produtos programas dos governos federal, crescimento da população urbana, permanência no mercado, é quase tantos programas/ações de gover-
agropecuários não se constitui em estaduais e municipais têm sido ins- com demanda crescente por alimen- RCA – Quais os impactos sociais e
que obrigatória a parceria entre vá- nos estaduais e municipais.
uma novidade para os agricultores tituídos nas últimas duas décadas, tos processados e industrializados. ambientais da agroindustrializa-
rios empreendimentos, pois nesse
familiares. No entanto, as iniciativas com o objetivo de apoiar a inclusão Somando isso ao recente aumento ção familiar nas unidades de pro-
momento, quanto mais organizados, RCA – Um dos gargalos da agre-
de agroindustrialização como um dos agricultores familiares no pro- da renda média da população bra- dução rural?
maior a escala de produtos a serem gação de valor, por meio das
instrumento de desenvolvimento cesso de agroindustrialização e co- sileira, e os programas governamen- LP – Este tipo de industrialização ofertados, o que poderá dar maior agroindústrias familiares, está na
são mais recentes. No momento em mercialização da sua produção. tais, temos um cenário favorável ao proporciona nova forma de desen- segurança em termos de constân- legislação sanitária, considerada
que se discute um novo papel para o Não existem dados oficiais e exatos desenvolvimento de projetos de volvimento, com impactos sociais cia no abastecimento e menor custo muito rígida, sobretudo para os
meio rural, não mais um local apenas sobre o número de agroindústrias agroindustrialização. positivos, direta ou indiretamente. de logística de entrega etc. Quanto produtos de origem animal. Como
de atividades exclusivamente agríco- em funcionamento no Brasil. Uma Possibilita a descentralização re- maior a quantidade de produtos, analisa o assunto e o que pode ser
las, mas de pluriatividade, o modelo referência, no entanto, é um traba- RCA – Quais os principais passos gional da produção, ao aproximar maior será também a capacidade e o alterado para agilizar o processo
de agroindustrialização descentrali- lho elaborado pelo MDA, em 2011, para iniciar na atividade? as agroindústrias da produção da poder de negociação junto ao mer- de agroindustrialização em São
zado de pequeno porte, de caracte- com base nos dados da Declaração matéria-prima; a redução do custo cado, com condições mais favoráveis Paulo?
rística familiar, é visto como uma das de Aptidão ao Pronaf – DAP de 2009, LP – Deve-se iniciar pela elaboração de transporte; a utilização adequada aos produtores.
alternativas capazes de impulsio- que indicou a existência de 85.632 de um bom projeto, o qual deve es- dos dejetos e resíduos (reduzindo o Um bom exemplo é a organização LP – De fato, as legislações brasilei-
nar uma distribuição de renda mais agroindústrias de agricultores fami- tar dentro de uma visão de desen- poder poluente); e a diminuição das em rede, em que cada agroindústria ras, principalmente a sanitária, não
equitativa, ou seja, pode proporcio- liares no Brasil. São dados bastante volvimento sustentável e de viabili- migrações desordenadas da popula- se articula com outras para a viabi- são adequadas à diversidade e à pe-
nar uma importante fonte de renda expressivos e que indicam a impor- dade econômica. Isso porque, além ção etc., e, principalmente, a capaci- lização de serviços e a resolução de quena escala de produção.
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8 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫׀‬9

Panorama da Agroindústria
Dentre os obstáculos existentes na RCA – Como o senhor analisa o Su- melhorando a qualidade técnica,
legislação sanitária, destacam-se: asa e o Sisbi? Qual a diferença do gerencial e financeira de um serviço.
limitação da comercialização dos Sisbi se comparado às exigências Dessa forma, os municípios podem

Familiar no Estado de São Paulo


produtos inspecionados pelos ser- do SIF e do SIE (Sisp em São Pau- constituir um consórcio e implan-
viços estaduais e municipais apenas lo)? tar o serviço de inspeção em con-
dentro do respectivo território; le- junto e após, solicitar a adesão ao
gislação e regulamentos centrados LP – O Sistema Brasileiro de Inspe- Sisbi-POA/Suasa. Essa, sem dúvida,
ção de Produtos de Origem Animal é uma importante contribuição que Beatriz Cantusio Pazinato – Nutricionista – Divisão de Extensão Rural (Dextru/ CATI) – beatriz@cati.sp.gov.br
em grandes instalações e equipa-

A
mentos, confundindo escala com (Sisbi) é um subsistema do Sistema os consórcios de municípios podem
pesar das políticas públicas dades produtivas que, em 2009, Os dados mostram que as agroin-
qualidade, implicando grande custo Unificado de Atenção à Sanidade oferecer às pequenas agroindústrias,
disponíveis para a maior tinham registros de Valor Bruto da dústrias familiares paulistas são
em investimento; excessiva buro- Agropecuária (Suasa), que se encon- no aspecto do registro e da inspeção
inserção da produção fa- Produção decorrentes de atividades bastante diversificadas, o que foi
tra em fase de implantação no Brasil. sanitária desses empreendimentos.
cracia, altos custos, lentidão para o miliar no mercado consumidor, a agroindustriais, verificamos que o constatado, também, no Projeto de
O Suasa está organizado de forma agricultura familiar paulista ainda
registro de estabelecimentos, ró- Estado de São Paulo contava com Incentivo à Agroindústria Familiar
descentralizada e integrada entre RCA – Quais as perspectivas para encontra dificuldades em comercia-
tulos e produtos e centralização no 349 agroindústrias familiares, de um que a CATI desenvolveu, no período
a União, por meio do MAPA, que o essas atividades (agroindústria e lizar seus produtos. O mercado nem
Ministério da Agricultura, Pecuária universo de 335 DAPs ativas analisa- de 2004 a 2007, com 262 pequenas
coordena; os estados e o Distrito Fe- artesanato) que agregam valor no sempre garante uma remuneração
e Abastecimento (MAPA); exigência das. Constatou-se um total de 217 agroindústrias cadastradas, das quais
deral; e os municípios. A adesão dos meio rural? compensadora e, quando os preços
de um responsável técnico em cada laticínios, desses, 204 (94%) são fa- 140 (53,5%) participaram do Projeto.
entes federados é voluntária; para fa- são inferiores aos custos, o pequeno
agroindústria; e impedimento de bricantes de queijos, deixando claro No diagnóstico realizado, foram
zer parte é preciso solicitar a adesão LP – As perspectivas são bastante produtor enfrenta sérios problemas.
uso de tecnologias que podem ser que a maioria das agroindústrias fa- identificados os problemas, a seguir,
ao MAPA. positivas, pois há uma demanda Por isso, a transformação dos produ-
apropriadas para os agricultores fa- miliares paulistas produz derivados relacionados.
Cada serviço com adesão ao Sua- crescente por produtos artesanais tos perecíveis, in natura, em produtos
miliares, a exemplo de queijo de leite sa tem autonomia para organizar e da agricultura familiar (alimentos, do leite (62%). Em segundo lugar, Agroindústrias Familiares
processados, gerados em pequenas
cru, pasteurização lenta do leite para e gerir as suas ações da forma mais bebidas etc.) e também do arte- estão as agroindústrias de geleias e Legalizadas
agroindústrias, traz a agregação de
consumo, cachaça de alambique di- conveniente e adequada à sua reali- sanato. No entanto, é necessária a valor e aumenta o poder de barga- doces, com 23 unidades identifica- • Gerenciais – baixo grau de ins-
ferenciada de “coluna”, perfis e plan- dade, ou seja, os que aderirem não continuidade na implementação de nha na comercialização, minimizan- das (6,5%). Na sequência, contamos trução dos proprietários, sem uma
tas em pequena escala, entre outras. precisam seguir as normas do SIF, políticas e ações públicas favoráveis, do as dificuldades socioeconômicas com 20 agroindústrias familiares de formação específica para gerencia-
Em 2005, o governo federal cons- que não são adequadas às pequenas como as mudanças nas legislações, do campo. cachaça (6 %); 15 de outros deriva- mento; problemas de administra-
tituiu um Grupo de Trabalho Inter- agroindústrias, mas sim, poderão se- já mencionadas, a assistência técni- dos da cana (4%); 12 de farinha de ção básica, com dificuldades em
Com os dados disponibilizados, escrituração, contabilidade e con-
ministerial (GTI), para estudar esse guir suas próprias normas sanitárias. ca; a pesquisa; o apoio aos processos mandioca (3,5%); nove de produtos
em 2011, pela Coordenação Geral trole dos custos de produção; falta
tema e propor mudanças, que em Dessa forma, quando o Estado de organizativos; a comercialização etc. apícolas processados (2,5%); sete de
de Monitoramento e Avaliação da de planejamento, organização e es-
seu relatório final, fez constatações São Paulo aderir ao Sisbi, o que ain- carnes processadas (2%); três de vi-
Secretaria de Agricultura Familiar
que embasam e respaldam a criação da não foi feito, poderá continuar RCA – Por favor, deixe uma men- nhos (1%); três agroindústrias fami- tudo da viabilidade econômica.
do Ministério do Desenvolvimento
de normas adequadas à realidade seguindo suas próprias normas sa- sagem aos agricultores familiares Agrário, levantados a partir das liares de outras bebidas (1%) e 40 de • Tecnológicos – variedade e quan-
das pequenas agroindústrias. nitárias. que estejam ou desejam iniciar na DAPs – Declaração de Aptidão ao outros produtos diversos da agroin- tidade de matéria-prima nem sem-
No entanto, é importante deixar Na medida em que o estado ou o atividade. Programa Nacional da Agricultura dústria familiar (11,5%), não especifi- pre adequadas ao processamento;
claro que uma mudança na legisla- município tenha normas claras para Familiar (Pronaf) – de todas as uni- cados nesse estudo. falta de higiene; mão de obra não
ção sanitária deve ter compromisso a pequena agroindústria e um ser- LP – A pequena agroindústria apre-
com a saúde humana e com o meio viço que respeite esse modelo de senta importante potencial para
ambiente. Ou seja, não estamos pro- agroindustrialização, a adesão ao geração de postos de trabalho e au-
Sisbi-POA/Suasa seria um importan- mento da renda. No entanto, o em-
pondo facilidades neste processo
te avanço para solucionar esse “gran- preendimento tem características
que possam ferir esses, que entende-
de” estrangulamento existente para próprias de articulação com o merca-
mos, são princípios. Porém, da mes-
tais empreendimentos. do e podem ter variadas estratégias
ma forma, não poderá implicar em
de diferenciação dos seus produtos
exigências em estrutura física que RCA – Os consórcios de municípios e de relação com os consumidores.
impeçam a implantação da agroin- têm ajudado na comercialização Para isso, os processos organizativos Fotos: Rodrigo Di'Carlo – Cecor/CATI
dústria. Além da edição de normas de produtos artesanais? dos agricultores e a elaboração de
sanitárias adequadas à pequena um bom projeto de viabilidade, com
escala, é necessária a descentraliza- LP – O consórcio público é uma pes- acompanhamento permanente da
ção da execução dos serviços de ins- soa jurídica formada exclusivamente assistência técnica, são ferramentas
peção sanitária. Isso pode reduzir o por entes da Federação. Uma impor- imprescindíveis para alcançar os ob-
custo da execução do serviço, bem tante vantagem é que o consórcio jetivos esperados, especialmente a
como facilitar e agilizar o processo permite aos municípios agirem em melhoria da qualidade de vida das
de registro das agroindústrias. parceria e com ganho de escala, pessoas.
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10 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬11

especializada; desconhecimento mentos não adequados; problemas parte da Comissão Técnica de


das tecnologias apropriadas à fa- no armazenamento e na conser- Agroindústria Familiar, instituída pela Artesanato Rural no Estado de São Paulo

Graça D'Auria – Cecor/CATI


bricação; produção não diversifica- vação (estabilidade dos produtos); Resolução SAA n.º 32 de 30/05/2012.
da; dificuldade na padronização e
no controle de qualidade dos pro-
necessidade de capacitação sobre
processamento para diversificar a
Essa Comissão propõe a atualização
do diagnóstico, a revisão da legis- Fonte de renda que movimenta a economia
dutos gerados; carência ou inade- produção. lação vigente, principalmente para Sonia Terezinha Juliatto Tinoco – Engenheira Agrônoma – Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI) – sonia@cati.sp.gov.br
quação dos equipamentos utiliza- • Financeiros – baixa renda dos produtos de origem animal, e a pos-
dos, geralmente obsoletos. proprietários, com carência de sibilidade de desenvolver projetos
• Financeiros – dificuldades para oportunidades para gerar outras conjuntos a partir das necessidades
obtenção de crédito junto às ins- fontes de recursos e complementar das pequenas agroindústrias. Outros
tituições bancárias; falta de infor- a renda da família; falta de apoio órgãos que também realizam ativida-
mação para acesso ao crédito e às para acessar linhas de crédito; falta des de Assistência Técnica e Extensão
políticas públicas; falta de recursos de matérias-primas na proprieda- Rural com projetos de agroindústria
de capital de giro e investimento; de, obrigando o produtor a com- familiar em São Paulo podem, tam-
impostos elevados; inadimplência prar de terceiros, encarecendo o bém, participar para somar esforços
por parte de alguns compradores; produto final. e contribuir com intercâmbio de in-
dificuldade para contratação de • Comercialização – idem aos pro- formações nas atividades afins.
um responsável técnico e, ainda, blemas das legalizadas, somando-
O potencial das pequenas agroin-
necessidade de aquisição de parte -se que a ausência de registro difi-
dústrias é grande, elas devem buscar

O
da matéria-prima de terceiros. culta a comercialização formal.
o preparo de produtos bem mais artesanato rural, além los de bicho-da-seda, escamas de (PAB), executado em parceria com
• Comercialização – falta de estu-
Outros Problemas Identificados saborosos e nutritivos, preferencial- de ser uma forma de ex- peixe, argila, entre outros), são ele- órgãos dos governos federal, esta-
dos de mercado; existência de forte
• Falta de organização e de mente orgânicos, agroecológicos e pressão cultural, é uma mentos que participam no resulta- duais e municipais, e com entida-
concorrência; falta de locais especí-
lideranças para alavancar a certificados; especiais e diferencia- importante fonte de renda em di- do final de uma peça de artesanato. des representativas do segmento
ficos para a colocação dos produ-
formação de associações e/ou dos, sem concorrer com as grandes versos municípios brasileiros. No artesanal. E foi criado o Sistema
tos; dificuldade no transporte e na Um grande desafio em proje-
cooperativas, aliada à preferência agroindústrias de alimentos e de for- Estado de São Paulo, com o apoio de Informações Cadastrais do
logística e desconhecimento das tos envolvendo artesanato rural é
pelo trabalho individual. ma a atender os consumidores que de algumas instituições, está pre- Artesanato Brasileiro (Sicab), com
técnicas de comercialização e de buscar a preservação dos valores e
• Produção sazonal, com inconstân- buscam produtos mais saudáveis e sente em várias regiões, porém, há o propósito de coletar informações
estratégias de marketing. as referências culturais da região e
cia de produção e produtividade. naturais. muito o que se construir diante do sobre o setor artesanal e viabili-
adequar os produtos às demandas
Não Legalizadas • Falta de acompanhamento técni- imenso potencial. zar o cadastro nacional integrado
E os desafios são muitos, des- e expectativas do mercado.
• Legalização – dificuldade de co e de uma avaliação periódica. dos artesãos. A Superintendência
de aprender a melhor organizar No geral, os grupos de artesana-
acessar a legislação específica que Essas referências culturais estão do Trabalho Artesanal nas
Soluções e desafios grupos, associações e/ou coope- to rural são compostos por mulhe-
contemple o processamento em associadas às tradições locais ou Comunidades (Sutaco) é a coor-
A partir desses problemas le- rativas; adequar as instalações à res que buscam na atividade uma
pequena escala; ausência dos Ser- dos países de origem dos habitan- denadora do PAB no Estado de São
vantados, a CATI desenvolveu vá- forma de socialização e uma renda
viços de Inspeção Municipal (SIM) legislação, com o mínimo de inves- tes daquele espaço rural. Isso se Paulo.
rias atividades, visando apoiar es- adicional. Cada grupo tem uma his-
ou serviços locais de Vigilância Sa- timento; produzir com qualidade e traduz nos tipos de peças produ-
sas pequenas agroindústrias, tais tória de início e consolidação mas, Para subsidiar o Sicab, foi publi-
nitária; dificuldades burocráticas regularidade; até buscar inovação zidas, nas cores e em várias outras
como capacitação em higiene e frequentemente, surgem a partir cada a Portaria SCS/MDIC n.º 29 de
(desconhecimento e morosidade e diversificação de produtos para características. Descendentes de
de cursos oferecidos pelas prefei- 05/10/2010 - D.O.U. 06/10/2010, do
para regulamentar a empresa, falta boas práticas de fabricação; legis- atender a uma clientela cada vez italianos, japoneses, e outros, além
turas municipais, sindicatos rurais, Ministério do Desenvolvimento,
de informação sobre a melhor for- lação e administração básica; fi- mais exigente. Além disso, articular de caiçaras, caipiras, indígenas,
CATI (Casas da Agricultura) e, a Indústria e Comércio Exterior, que
nanciamentos; organização rural; com os municípios a criação ou am- quilombolas, cada grupo desses
ma de organização para formaliza- partir daí, acabam se formando os tem como anexo a Base Conceitual
comercialização; tecnologias de expressa sua cultura e seu modo de
ção das pequenas agroindústrias); pliação dos Serviços Municipais de grupos de artesanato. Esses cursos, do Artesanato Brasileiro, que traz as
processamento. Ofereceu, ainda, vida por meio do artesanato.
inadequação das instalações. Inspeção ou de Vigilância Sanitária, no geral, ensinam técnicas e criam definições:
• Gerenciais – mesmos problemas cursos práticos, oficinas de traba- com mecanismos que viabilizem a oportunidades para acessar os sa- O artesanato, hoje, está fre- Artesanato – toda a produção re-
das agroindústrias legalizadas. lho e orientação para a regulariza- legalização das agroindústrias que beres locais passados de pais para quentemente ligado a uma outra sultante da transformação de ma-
• Tecnológicos - além dos mes- ção de agroindústrias de pequeno filhos em cada região. atividade não agrícola que contri-
estão na informalidade, assim como térias-primas, com predominância
mos problemas das legalizadas, porte, totalizando 6.736 agriculto- bui para impulsionar a economia
disponibilizar espaços específicos A paisagem local composta manual, por indivíduo que detenha
há dificuldade na definição de res familiares capacitados. local: o turismo. No geral, os turis-
e criar novas oportunidades para pela fauna, pela flora e pelos re- o domínio integral de uma ou mais
embalagens mais adequadas aos Em 2012, a Resolução SAA n.º a comercialização. Essas são ações tas que buscam o espaço rural são técnicas, aliando criatividade, habi-
cursos minerais, o modo de vida
diferentes produtos; produtividade 58 designou técnicos de diferentes atraídos pela paisagem, comida lidade e valor cultural (possui valor
que certamente contribuirão para o das pessoas, e a disponibilidade de
baixa, em função de a produção órgãos da Secretaria de Agricultura típica e pelo artesanato. simbólico e identidade cultural),
acesso das pequenas agroindústrias subprodutos regionais, como resí-
ser manual ou pelo uso de equipa- e Abastecimento para fazerem aos mercados competitivos. duos da agricultura, da pecuária, Recentemente, o Ministério podendo, no processo de sua ativi-
da pesca e do extrativismo legal do Desenvolvimento, Indústria dade, ocorrer o auxílio limitado de
(fibras vegetais, palha de milho, se- e Comércio Exterior lançou o máquinas, ferramentas, artefatos e
mentes, peles de animais, lã, casu- Programa do Artesanato Brasileiro utensílios.
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12 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬13

Artesão – trabalhador, que de for-


ma individual, exerce um ofício
manual, transformando a matéria-
O trabalho da CATI direto com o consumidor é fun-
damental, pois o artesão observa Produção de Bebidas e Vinagres –
O
a resposta aos produtos e verifica

legislação é de âmbito federal


s grupos de artesanato ru-
-prima bruta ou manufaturada em demandas que poderão ser explo-
ral, geralmente, estão or-
produto acabado. Tem o domínio radas. Também a convivência com
técnico sobre materiais, ferramen- ganizados de maneira informal ou
os demais expositores permite uma
tas e processos de produção arte- em associações e/ou cooperativas. Marcos Fernandes Rizzo – Chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Sipov/DDA/SFA-SP) – Ministério da Agricultura,
troca de saberes, beneficiando o
sanal na sua especialidade, criando A CATI atua junto a esses, por in- Pecuária e Abastecimento – marcos.rizzo@agricultura.gov.br
grupo. Atualmente, as feiras institu-
termédio de seu corpo técnico, nas

A
ou produzindo trabalhos que te- cionais que a CATI acompanha são:
nham dimensão cultural, utilizando Casas de Agricultura, com apoio legislação que regulamenta a produção de
Feira da Agricultura Familiar e do
técnica predominantemente ma- das Regionais CATI, da Divisão Bebidas e Vinagres tem abrangência nacio-
Trabalhador Rural – Agrifam (anu-
nual, podendo contar com o auxílio de Extensão Rural e de entidades nal e está alicerçada em decretos federais. O
al), Feira Nacional da Agricultura
de equipamentos, desde que não parceiras. Os trabalhos são desen- Decreto n.º 6.871/09 disciplina a produção e o envase de
Familiar – Fenafra (anual), feiras
sejam automáticos ou duplicado- volvidos visando o fortalecimento de produtores rurais promovidas todas as bebidas alcoólicas e não alcoólicas como os su-
res de peças. dos grupos, por meio de reuni- pela Secretaria de Agricultura e cos, néctares, polpas de frutas, aguardente, licores e as-
A mesma Portaria não identifica ões e oficinas de planejamento. Abastecimento no Parque da Água sim por diante. Já o Decreto n.º 99.066/90 regulamenta
como artesanato o trabalho rea- Também são oferecidos cursos de Branca, em São Paulo, e Feiras a produção de todas as bebidas derivadas da uva e do
lizado a partir de simples monta- capacitação, com apoio da Sutaco, Regionais da Economia Solidária. vinho, como o suco de uva integral, o próprio vinho e
gem, com peças industrializadas e/ do Sebrae, do Senar, de prefeituras seus derivados, estando entre eles, o vinagre.
ou produzidas por outras pessoas; municipais e sindicatos rurais. As perspectivas para o artesana-
Pela definição legal, trata-se de bebida todo produto

Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI


assim como as habilidades apren- to rural são muito boas, pois o mer-
A CATI também desenvolve cado consumidor, cada vez mais, de origem vegetal industrializado, destinado à ingestão
didas em revistas, livros, progra-
ações referentes à comercialização, humana em estado líquido, sem finalidade medicamen-
mas televisivos, dentre outros, sem valoriza esses produtos. É preciso
apoiando os grupos na participa- tosa ou terapêutica. Também são consideradas bebidas,
identidade cultural. Também não é um trabalho articulado das institui-
ção em feiras institucionais, ótimas as polpas de frutas, os xaropes “sem finalidade medica-
identificado como artesão, aquele ções que atuam na área, na busca
oportunidades para os artesãos, mentosa”, os fermentados e os destilados alcoólicos de
que trabalha de forma industriali- da profissionalização do setor, sem
origem animal (por exemplo, o mel). Não estão incluídos:
zada, sem transformação da maté- tanto na venda propriamente dita, abandonar os preceitos da econo- São condições necessárias para registro dos esta-
repositores energéticos ou eletrolíticos, águas aromati-
ria-prima e sem desenho próprio. como no aprendizado. O contato mia solidária. belecimentos: constituir pessoa jurídica com CNPJ e
zadas e vinagres que contenham ingredientes de natu-
Outras instituições que atuam no artesanato rural reza sólida, considerados como temperos e sob jurisdi- Inscrição Estadual, ter um responsável técnico, registrar
ção da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Conselho Profissional, ter laboratório próprio ou con-
bem como, outros alimentos de natureza líquida. tratado e, ainda, a localização, as instalações e os equipa-
Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades (Sutaco) – site: www.sutaco.sp.gov.br
mentos devem ser adequados. A regularidade legal do
Autarquia vinculada à Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo, responsável pela coordenação É importante lembrar que a abrangência nacional
estadual do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB). Oferece os seguintes serviços: da legislação permite ao produtor regularizado a co- estabelecimento produtor de bebida na esfera técnica
• cadastramento do artesão, que obtém uma carteira e pode usar os serviços da entidade; mercialização de seus produtos em território nacional, vem com a obtenção dos respectivos registros conce-
• emissão de notas fiscais eletrônicas; e inclusive no mercado de exportações. Em decorrência didos pelo Ministério da Agricultura em duas etapas.
• promoção de cursos de aperfeiçoamento em técnicas artesanais, em parceria com entidades que tenham infraestrutura e disso, não existem condições específicas para produções Inicialmente, procede-se o registro do estabelecimento
que cedam os materiais permanentes necessários à sua execução; com o envio, por parte do interessado, da documenta-
“caseiras”, “regionais” ou “artesanais”. Tais produtos estão
• orientação ao artesão na busca de alternativas para programas de linhas de crédito diferenciado; ção referente às condições industriais do local de pro-
afetos às mesmas exigências impostas às indústrias, pois
• comercialização de peças dos artesãos cadastrados na autarquia, em sua sede e em alguns pontos de venda na cidade de dução (planta baixa com cortes e fachada, memoriais
São Paulo, e oferece espaços em algumas feiras em que participa. tratam-se de produtos destinados ao consumo humano
direto e todas as regras de higiene, qualidade e boas prá- descritivos das instalações e dos equipamentos e outros
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) – site: www.senar.org.br ticas de fabricação não podem ser desprezadas. documentos relacionados). Nessa primeira etapa, o fiscal
Oferece cursos de capacitação em artesanato, geralmente por intermédio dos sindicatos rurais. do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Cada bebida, vinho ou vinagre deve ser produzido
(MAPA) vai até o local de produção e emite um parecer
de acordo com o seu Padrão de Identidade e Qualidade
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) – site: www.sebrae.com.br sobre a veracidade das informações e a viabilidade das
(PIQ), específico e estabelecido em norma legal. Por
Oferece cursos de capacitação e consultoria. Participa do projeto “Talentos do Brasil Rural”, em parceria com o Ministério do instalações. Uma vez favorável, o estabelecimento solici-
exemplo, ao suco de laranja integral não pode ser adi-
Desenvolvimento Agrário, que apoia empreendimentos da agricultura familiar. tante recebe seu registro de produtor e segue, então, a
cionado água, corante ou aroma. Já o licor poderá con-
ter corantes, desde que aprovados pela Anvisa, e deverá tarefa de obtenção do registro dos produtos. Trata-se de
Secretaria de Estado da Cultura e Abaçaí Cultura e Arte – Sites: www.cultura.sp.gov.br e www.abacai.org.br uma etapa documental, quando não mais ocorre visto-
Promovem o artesanato rural paulista anualmente, durante a tradicional feira “Revelando São Paulo”. apresentar uma graduação alcoólica entre 15 e 54º GL,
além de ter uma quantia de açúcar adicionado compatí- ria fiscal, e habilita o produtor, pelo registro do produto
Laboratório de Design Solidário (Labsol) – e-mail: labsol@faac.unesp.br vel com a sua classificação: seco, doce ou creme. O vinho recebido, a iniciar sua produção. Para cada bebida pro-
Projeto de extensão desenvolvido na Unesp/Bauru, que tem como objetivos principais desenvolver técnicas ecologicamente deverá ter seu teor alcoólico proveniente, exclusivamen- duzida, deverá haver um registro único correspondente.
corretas, para a produção de artesanato e auxiliar no aprimoramento da produção já existente, em comunidades dependen- te, da fermentação do mosto de uva usado na sua elabo- Informações nos sites da Anvisa (www.anvisa.gov.br)
tes da atividade artística para a obtenção de renda. ração e assim por diante. e do MAPA (www.agricultura.gov.br).
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14 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬15

Produtos artesanais de origem animal têm Alimentos Artesanais de origem vegetal:


legislação própria no Estado de São Paulo legislação fica a cargo da Vigilância Sanitária

Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI


Maria Fernanda Garnica – Médica Veterinária – Centro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Cipoa) – Coordenadoria de Defesa
Agropecuária (CDA) – mfgarnica@cda.sp.gov.br

E
ntende-se por artesanal o processo utilizado na - até 130kg diários de carnes, como matéria-prima
elaboração, em pequena escala, de produtos para produtos cárneos;
comestíveis de origem animal com característi- - até 300 litros de leite diários, como matéria-prima Luiz Seragi Neto – Farmacêutico – Especialista em Gestão Pública da Saúde – Coordenador da Vigilância Sanitária de Amparo (SP)
cas tradicionais ou regionais próprias. O Estado de São para produtos lácteos; seragi@amparo.sp.gov.br

O
Paulo possui uma legislação própria para a elaboração - até 100kg diários de peixes, moluscos e crustáceos
de produtos artesanais desde o ano 2000. A legislação como matéria-prima para produtos oriundos do pes- s produtores rurais do Estado de São Paulo de Fabricação de Alimentos, que deve ser ministrado
estadual para a produção artesanal de produtos comes- cado; podem diversificar sua atividade econômi- por instituições de ensino idôneas, que ensine noções
tíveis de origem animal foi publicada em 1.º de março - até 150 dúzias diárias de ovos, como matéria-prima ca com a elaboração e comercialização de de microbiologia; doenças transmitidas por alimentos;
de 2000 - Lei n.º 10.507 e, posteriormente, foi feita a re- para produtos oriundos de ovos; alimentos artesanais de origem vegetal. Tal atividade manipulação de alimentos; controle de pragas; saúde
gulamentação por meio do Decreto Estadual n.º 45.164, - até 3 mil quilos por ano, para mel e produtos da foi regulamentada pelo Centro de Vigilância Sanitária do trabalhador e legislação sanitária. O CVS firmou uma
de 5 de setembro de 2000, e as normas técnicas pela colmeia (por ser um produto sazonal, considera-se a (Portaria CVS 5, de 12 de maio de 2005), regularizando os parceria com o sistema Senai/Sebrae para que os inte-
Resolução SAA n.º 30, de 24 de setembro de 2001. produção anual). alimentos caseiros, produzidos de forma clandestina, e ressados possam fazer o curso em escolas do Senai (20h
Para aprovação prévia e formação de processo de garantindo, ao consumidor, um produto preparado den- no período de 7 dias).
De acordo com as normativas, são passíveis de regis-
tro sob a forma artesanal no Serviço de Inspeção de São registro de estabelecimento artesanal, é necessário tro das normas de qualidade exigidas pela fiscalização.
Todo o processo de produção precisa ser realizado
Paulo – SISP, produtos derivados de carnes, leite, ovos, apresentar os seguintes documentos: requerimen- Segundo definição da Portaria, alimento artesanal de em local específico, distinto das dependências residen-
produtos apícolas, peixes, crustáceos e moluscos. to dirigido ao Centro de Inspeção de Produtos de origem vegetal é aquele produzido com características ciais, onde devem ser observados os parâmetros e cri-
Origem Animal (Cipoa/CDA); planta baixa das instala- tradicionais, culturais ou regionais, e em conformidade
A elaboração de produtos sob a forma artesanal será térios utilizados para o controle higiênico-sanitário dos
ções (escala de 1:100) com a disposição dos equipa- com as exigências específicas de identidade e qualidade,
permitida, exclusivamente, aos produtores rurais que estabelecimentos de alimentos. O produtor de alimen-
mentos; memorial econômico-sanitário assinado pelo estabelecidas pelas legislações de alimentos e aditivos.
utilizarem matéria-prima de produção própria, limitan- proprietário; croqui de localização da propriedade. tos artesanais de origem vegetal tem garantida, além da
do a aquisição de matéria-prima de terceiros a 50%. Para Consideram-se características tradicionais e culturais os fabricação de seus produtos, a comercialização de sua
ser caracterizado como produto artesanal, é necessário Com os documentos, é formado o processo de re- processos de elaboração transmitidos de geração em produção diretamente ao consumidor em local próprio,
que haja transformação da matéria-prima em um pro- gistro de estabelecimento. Após a aprovação prévia geração, conforme tradição cultural. Já as característi- devidamente licenciado ou, ainda, em estabelecimentos
duto e não só sua comercialização in natura. do projeto, o produtor deverá providenciar os docu- cas regionais, envolvem processos nos quais se utilizam comerciais de terceiros, no Estado de São Paulo. Não é
mentos, a seguir, relacionados: Inscrição de produtor matérias-primas regionais.
Os produtos artesanais deverão ser elaborados em permitida a terceirização da linha de produtos ou pro-
rural; Identificação do médico veterinário, responsá-
estabelecimentos apropriados para esse fim, ficando ve- vel técnico; Declaração de que se trata de produto Para garantir a preparação dentro de critérios técni- dução para outras pessoas físicas, produtores rurais ou
dado o processamento em locais destinados à residên- comestível de origem animal, com características tra- cos que asseguram a qualidade e segurança dos pro- pessoas jurídicas fabricantes de alimentos. A divulgação
cia ou a outras atividades que prejudiquem o proces- dicionais ou regionais e sua identificação; Análise da dutos, a Vigilância Sanitária condiciona o licenciamento de seus produtos, por meio de propaganda, deve ser
samento dos produtos comestíveis. Essas, entre outras água; Termo de compromisso; Requerimento de rotu- do estabelecimento à apresentação, por parte do inte- realizada segundo as regras estabelecidas na legislação
exigências, são fundamentais para a obtenção de um lagem, com layout do rótulo nas cores originais. ressado, de um certificado de Curso de Boas Práticas sanitária e no Código de Defesa do Consumidor.
alimento artesanal seguro.
Após a conclusão das obras e a elaboração do lau- Alimentos artesanais de origem vegetal – Classificação em categorias
Estão sujeitos a registro os seguintes estabeleci- do de vistoria final, o processo será encaminhado ao
mentos: fábrica de conservas; fábrica de laticínios; fá- Alimentos Congelados Geleias (Frutas)
Cipoa/CDA para registro do estabelecimento e dos
brica de conservas de pescado; fábrica de conservas Amidos e Féculas Massas Alimentícias
rótulos.
de ovos; apiário; entreposto de mel e derivados da Balas, Bombons e Similares Pães
Para iniciar o processo de registro, os interessa- Biscoitos e Bolachas Pastas e Patês Vegetais
colmeia.
dos deverão procurar a unidade da Coordenadoria Cafés Misturas para o Preparo de Alimentos
A quantidade de matéria-prima que pode ser ela- de Defesa Agropecuária mais próxima. Os endereços Cereais e Derivados Chocolate
borada de forma artesanal é limitada por lei, que con- dos escritórios, a legislação completa e os modelos Chás/Erva Mate/Composto de Erva-Mate Produtos de Côco
sidera como de pequena escala as quantidades des- dos documentos estão disponíveis no site www.cda. Doces Produtos de Confeitaria
critas: sp.gov.br. Especiarias / Tempero / Condimentos Preparados / Produtos de Soja
Colorífico Produtos de Tomate
Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI

Preparações e Produtos para Tempero à Base de Sal Salgadinhos


Farinhas Sementes Oleaginosas
Frutas e Vegetais (Dessecados) Sobremesas
Frutas em Conservas Sopas
Gelados Comestíveis Vegetais em Conserva (exceto palmito)
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16 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬17

Agroindústria: a importância do A Metodologia de Organização


planejamento do Negócio Agrícola
Sizínio Augusto Guimarães Neto – Consultor de Agronegócio do Escritório Regional do Sebrae – SP em Campinas – sizinioagn@sebraesp.com.br
Roberto de Assumpção – Engenheiro Agrônomo e Pesquisador Científico do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura e

C
omo alternativa para agre- de atuação, a análise deverá ser reali- tirá ao empresário realizar a tomada Abastecimento do Estado de São Paulo – rassumpcao@iea.sp.gov.br
gar valor ao produto e zada de forma sistêmica, estratégica. de decisão mais assertiva, pois o pro-

A
conquistar mercados antes cesso de construção da ferramenta Metodologia de Organização do Negócio Elos da Cadeia de Produção
Realizada a análise estratégica,
inimagináveis pelos produtores, eis leva em consideração todos os as- Agrícola foi desenvolvida ao longo dos últimos O primeiro elo da cadeia de produção é constituído
que posicionará a agroindústria cor-
que surge a figura da agroindústria. pectos indispensáveis para o fun- anos em resposta às dificuldades econômico- pelos suprimentos. Tais produtos ou serviços são utiliza-
retamente frente aos componentes
Mas o que é uma agroindústria afi- cionamento de todas as operações -financeiras crescentes dos agricultores familiares brasi- dos no início do processo produtivo e são oriundos do
mercadológicos, sejam eles concor-
nal? É a unidade física onde aconte- e processos que deverão ocorrer na leiros, que tornaram fundamental às pessoas ligadas à segmento à montante da produção agrícola, e na lin-
rentes, clientes, produtos substitutos
ce a transformação da matéria-pri- agroindústria. Como elementos do realidade agrícola brasileira, o conhecimento de novas guagem do agricultor familiar é conhecido como “antes
e/ou fornecedores, deverá ser res-
ma in natura, em diferentes graus, plano, destacam-se a análise do setor formas de atuação no mercado, visando obter êxito por da porteira”.
pondida a seguinte questão: quais
originada da agricultura, pecuária, são os fatores chaves de sucesso a de atuação, a análise do mercado, o meio da construção de novas oportunidades no contex-
plano de marketing (fornecimento to atual do negócio agrícola. O segundo elo da cadeia é a produção agrícola ou
aquicultura e silvicultura, alterando serem considerados no planejamen- agropecuária, que corresponde ao processo de produ-
a sua forma física ou química. Nessa to da agroindústria, que darão à em- de matéria-prima, análise FOFA – Hoje em dia, a prioridade é o aumento da agregação
fortalezas, oportunidades, fraquezas ção vegetal, animal ou extrativa. A análise econômica
estrutura, ocorrerão tantas etapas presa um diferencial no mercado em de valor com a incorporação de técnicas econômico- dessa etapa é essencial, pois permite avaliar com mais
quantas forem necessárias para que que atua? Em outras palavras, qual e ameaças), os cenários e os planos -administrativas calcadas nos princípios da gestão mo-
operacional, de investimento e fi- profundidade as relações sociais que caracterizam as
se possa atender os objetivos da em- será a estratégia de posicionamen- derna, o que requer entender, manipular e processar unidades de produção e conhecer os fundamentos eco-
presa, o que definirá o grau de trans- to da empresa frente aos elementos nanceiro (estimativa de faturamento, informações sobre sua produção, um novo insumo fun-
despesas e lucro). nômicos das associações de atividades e das práticas
formação desejado. mercadológicos que irá garantir o su- damental à sua atividade. É preciso considerar todo o ci- agrícolas adotadas pelos produtores, em outras pala-
cesso do empreendimento? Com relação à formalização, de- clo do produto, isto é, desde a produção, passando pelo vras, a capacidade desse elo agregar valor.
Presente em diversos elos, desde
a fabricação de insumos até a trans- Passada a etapa de inspiração, é ve-se escolher o modelo que melhor processamento, até o consumo.
atenda às necessidades do empre- Nesse sentido, primeiramente é preciso conhecer
formação, a agroindústria tem a fina- hora de transpirar! Nesse momento, A Cadeia Produtiva Agrícola
endedor ou grupo de agricultores. o resultado da produção, o qual pode ser medido pelo
lidade de adequar-se às necessida- sendo conhecidos os elementos do Na atualidade, os processos produtivos tornaram-se
A legalização poderá ser por meio Produto Bruto (PB), que corresponde ao valor total do
des do subsistema imediatamente à setor de atuação (mercadológicos) crescentemente complexos, por conta da participação
de uma cooperativa, associação, que é produzido, seja para a venda, seja para o consu-
sua frente e, portanto, a opção de se e escolhido o posicionamento de agentes com múltiplos interesses, sobressaindo-se
condomínio, rede de agroindústria, mo da família. Ainda, para produzir, o agricultor conso-
constituí-la passará, necessariamen- estratégico, deverão ser levantadas os consumidores na definição do que vender. Essa nova
sociedade empresarial ou agroindús- me alguns bens que são inteiramente transformados no
te, pela análise do sistema agroin- todas as necessidades para a realidade, dentro da qual também se insere a agricultu-
tria individual. O objetivo do empre- processo: calcário, adubos naturais, óleo diesel, semen-
dustrial característico para o seu cor- implantação da agroindústria. Essas ra familiar, deve ser abordada pelo desenvolvimento de
endimento definirá o formato legal tes etc. Esses bens são denominados de consumos in-
reto posicionamento estratégico no necessidades podem surgir durante uma visão sistêmica de sua cadeia de produção agrícola,
apropriado e o respectivo tratamen- termediários (CI). O agricultor utiliza, ainda, o capital fixo
o processo de construção do plano que propicia uma intervenção administrativa calcada na
setor de atuação, seja no complexo to mercantil ao qual será submetido. (D) de que dispõe, em parte ou totalmente: máquinas,
de negócios. visão orgânica do negócio, introjetando no ambiente de
da soja, do citros, da aquicultura, da implementos, meios de transporte, equipamentos para
silvicultura, da fruticultura, do café O plano de negócios da agroin- Nos aspectos legal e ambiental, o trabalho as necessidades do mercado, o que permite es- processamento de produtos (triturador, debulhadeira
etc. Ou seja, independente do setor dústria será a ferramenta que permi- projeto deve ser submetido à consul- truturar os processos tendo por princípio a articulação etc.), instalações (galpão, reservas de água, açudes etc.),
ta prévia do órgão competente, que com os setores. equipamentos de irrigação, animais de tração, entre ou-
irá avaliar qual o tipo de severidade tros. A depreciação desse capital deve ser considerada.
A seguir, encontra-se o fluxograma que representa a
e os requisitos necessários para a ob-
cadeia de produção agrícola: Quando o produtor acrescenta trabalho aos insumos
tenção das licenças (prévia, de insta-
lação e de operação). Paralelamente, e ao capital fixo dos quais dispõe, ele gera novas rique-
o projeto executivo da agroindústria zas, agregando valor a essas mercadorias. O valor agre-
deverá receber a certidão de uso gado (VA) do sistema de produção é igual ao valor do
e ocupação do solo, emitida pela que se produziu menos o valor do que se consumiu:
prefeitura, atestando a execução da
Ilustração enviada pelo autor
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

atividade na área selecionada, bem VA = PB - CI - D


como o alvará do corpo de bombei- Do ponto de vista da sociedade, um valor agregado
ros para a emissão do habite-se e a maior significa um melhor aproveitamento dos recursos
liberação do prédio para o início das disponíveis e um indicador de sua capacidade compe-
operações. titiva.
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18 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬19

Desenvolvimento de Novos
O terceiro e último elo da cadeia de produção agrí- faz para acompanhar os resultados de seu esforço para
cola refere-se ao processo de transformação industrial, certificar-se de que os objetivos planejados estão sendo
estruturado em torno da possibilidade de ampliar o alcançados.

Produtos na Agroindústria Familiar


valor agregado dos produtos oriundos da produção
Do ponto de vista estratégico, é o marketing que per-
agropecuária. A implementação de estratégia exitosa de
mite criar uma visão do negócio como um todo, o que
processamento agroindustrial depende da existência de
exige que o profissional dessa área, por sua vez, tenha
requisitos inseridos nos campos da ciência econômica,
influência sobre as outras áreas do negócio (produção e Luís Fernando Soares Zuin – Professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP – lfzuin@usp.br
da administração e do planejamento. O patamar tecno-
administração). Poliana Bruno Zuin – Professora da Faculdade de Tecnologia, Ciências e Educação - Fatece – polianazuin@hotmail.com
lógico estabelecido para efetuar a transformação da pro-

C
dução também é decisivo. A adoção da metodologia exige a reorganização do
negócio para alcançar eficiência e também para ser efi- omo o agricultor de pequeno porte pode agre-
caz, enfatizar o trabalho mais relevante aos objetivos da gar valor aos seus produtos, aumentando a
Distribuição e Consumo organização. sua renda? Como desenvolver esses produtos
Todo o esforço empreendido pelos agricultores pode em suas propriedades e disponibilizá-los da forma mais
Finalmente, é fundamental traçar objetivos que de- segura possível para o mercado consumidor? Este arti-
se perder caso não estabeleçam antecipadamente um
vem ser quantificáveis, relevantes e compatíveis. São go tem como objetivo propor para os agricultores um
plano estratégico para a comercialização e o consumo
números que orientarão o desempenho, por meio dos conjunto de atividades e tarefas gerenciais que podem
de seus produtos. É nesse momento que se realizará o
quais o gestor poderá mensurar os resultados, o que auxiliá-los nessa empreitada.
valor da produção, o qual, dependendo do caminho tra-
contribuirá para a profissionalização do negócio.

Fotos: Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI


çado no plano de produção, poderá gerar lucro ou pre- De forma geral, dentro de uma propriedade rural é
juízo. possível produzir dois tipos de produtos: as Commodities
A escolha dos produtos a serem cultivados ou criados Agropecuárias e os Bens Especiais Agroalimentares
pode ser definida como ação estratégica para o sucesso (BEAs). Na produção de commodities como, por exem-
na etapa de comercialização e consumo. Daí decorre a plo, o milho, o preço de venda é definido pelo merca-
importância do estudo e acompanhamento dos merca- do e não pelo agricultor. Por outro lado, na produção de
dos finais e das preferências dos consumidores. produtos agropecuários do tipo BEAs, o preço ofertado
ao mercado é determinado de forma mais intensa pelo
produtor rural que, a partir do contato com o consumi- Desenvolvimento de seus novos Produtos (PDP), nas
Aspectos Transversais na Cadeia de Produção: dor, define a precificação de seus produtos. quais o agricultor deve buscar conjuntos de informa-
Logística, Tributação e Crédito ções a respeito de qual produto o mercado deseja e
Os BEAs podem ser definidos como sendo uma necessita. Quanto maior for a quantidade de fontes por
Compõem o quesito logística, os serviços de trans- matéria-prima que passou, dentro da propriedade, por meio das quais o agricultor buscará as informações, mais
porte e armazenamento. Via de regra, tais serviços inte- algum tipo de processamento e/ou certificação antes seguro ele poderá passar para outra etapa. As fontes
gram todos os campos do fluxograma, permitindo sua de ser disponibilizado para o mercado consumidor, pos- de informações podem ser desde órgãos de consulto-
funcionalidade. suindo, portanto, um maior valor agregado. Exemplos: ria governamentais como a CATI e o Sebrae, Empresas
A tributação incidente sobre os produtos e serviços, vinhos, cachaças, queijos, doces, salames, vegetais Certificadoras (certificam a produção de alimentos or-
é um dos temas mais complexos a serem resolvidos por (mandioca limpa pré-cozida e embalada), entre outros. gânicos), bem como os prováveis pontos de venda de
parte dos empreendedores. A legislação é complicada e Todavia, para a produção desse tipo de alimento o agri- seus produtos alimentícios, por exemplo: padarias e su-
abrange os níveis municipal (ISS), estadual (ICMS) e fe- cultor necessita de um planejamento, desde o momento permercados.
deral (Cofins e IR). Manter a conta tributária em ordem é da produção até a comercialização desses produtos.
Na segunda etapa, cabe ao produtor rural tornar o
fundamental para evitar problemas com a concorrência.
A metodologia de desenvolvimento de novos pro- produto físico a partir da ideia selecionada na fase an-
No que se refere ao crédito, cabe ressaltar que a ala- dutos possui três grandes etapas: pré-desenvolvimento, terior. Mas, para isso, deverá começar a realizar três es-
vancagem financeira permite maior rapidez de inserção desenvolvimento e pós-desenvolvimento. A primei- tudos: um relacionado ao produto, outro à embalagem
da empresa nos mercados com o desenvolvimento de ra começa com muita pesquisa e planejamento, ati- e, por fim, um dirigido ao processo. No primeiro, relativo
novos produtos, os quais devem ser avaliados quanto à vidades voltadas para a elaboração do Processo de ao produto, cabe ao agricultor estabelecer e padronizar
sua taxa de retorno e viabilidade econômica, bem como
competitividade (qualidade e preço). Porém, a contrata-
ção de créditos deve ser precedida de análise detalhada
das formas de pagamentos, dos juros praticados e da
carência.
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

Considerações Finais
Os planos não se cumprem por si só; é necessário ge-
rir o processo, que envolve acompanhamento e contro-
le. Nesse sentido, refere-se àquilo que a administração
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20 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬21

Embalagem e Rotulagem: segurança


como será a sua formulação, ou seja, caso
decida produzir compotas, precisará defi-
nir quais frutas produzir em sua proprieda-
de e em que época poderá produzir com-
potas de morango, figo, goiaba etc., assim
como que tipo de ingredientes necessitará
e informação
para fabricá-las. Pode-se citar dois fatores Ana Lúcia Fadini – Nutricionista e Mestre em Engenharia de Alimentos – Técnica da Casa da Agricultura de Indaiatuba
da importância da padronização do pro- ca.indaiatuba@cati.sp.gov.br
duto, um interno, referente à diminuição

A
da quantidade de perdas por refugo e re- segurança dos alimentos lerar as manipulações e operações pode ser um fator bastante positivo
trabalho, e outro externo à propriedade é um tema que desper- comerciais; facilitar o armazena- para as produções artesanais (visu-
rural, que diz respeito à identificação do ta interesse em todos mento e a organização; melhorar a alização do produto), são fáceis de
consumidor com o produto. os consumidores. Já se observa rentabilidade das redes de venda; abrir e fechar, podem ser encon-
O segundo estudo refere-se à embalagem. Esse é promoções, como a de ofertar aos consumidores algu- no brasileiro a procura por produ- transmitir informação; assegurar a trados em diferentes formas e ta-
um momento importante, pois o agricultor deverá estar mas amostras do produto. tos que possam trazer algum tipo promoção do produto; e inspirar manhos, além de garantirem uma
atento a dois fatores em sua escolha: um relacionado à A última etapa metodológica do planejamento do de benefício à saúde, que exibam confiança aos compradores e con- ótima proteção ao produto. Os po-
preservação e segurança alimentar para com o alimento; PDP, a de pós-desenvolvimento, refere-se ao produto informações sobre sua origem, sumidores. Apesar de a embala- tes e os copos de vidro são comu-
e o outro, à praticidade no manuseio do produto e se ela quando este já se encontra no mercado, devendo o pro- características nutricionais, que gem proteger o alimento da expo- mente utilizados para acondicionar
chama a atenção do consumidor de forma positiva. dutor realizar duas atividades, sendo a primeira referen- remetam a aspectos de qualida- sição ao meio externo, também é geleias, compotas e alguns tipos de
te à melhoria do produto, adequando-o às necessidades de e segurança. Para conquistar a importante garantir que o material conservas. Merece destaque o fato
O terceiro estudo diz respeito ao processo, ou seja, confiança dos cidadãos, as embala- não transmita odores e sabores es- de as embalagens de vidro permiti-
o produtor rural deverá observar na sua propriedade e aos desejos dos consumidores. A segunda, diz respei-
to à padronização dos produtos. O agricultor deve ficar gens e os rótulos dos produtos de- tranhos para os produtos. rem o seu reuso doméstico.
se possui todos os equipamentos, matéria-prima e mão sempenham um importante papel.
atento à disponibilização de seus produtos, não apenas Tipos de embalagens Uma etapa de grande importân-
de obra necessários para a confecção, armazenamento
e distribuição da produção. Nessa etapa, se faz necessá- obedecendo às normas da vigilância sanitária, mas tam- A principal finalidade da em- Para uma produção em peque- cia dentro do processamento de
rio um estudo junto aos órgãos de defesa sanitária, para bém disponibilizar lotes de produtos que sejam os mais balagem é proteger os alimentos na escala ou artesanal, os principais frutas e hortaliças é o fechamento
que o agricultor conheça as normas corretas de benefi- próximos possíveis em textura, sabor e odor. Caso isso processados contra qualquer tipo tipos de embalagens utilizadas são das embalagens. A presença de
ciamento para os seus produtos. Após o conhecimento não seja feito, certamente o consumidor não irá comprar de deterioração, seja de natureza as de vidro e as plásticas. O uso de vácuo dentro da embalagem é in-
da legislação, o produtor deve confeccionar o protótipo mais que duas vezes, já que não reconhece na segunda física, química ou microbiológica, embalagens de vidro pode trazer dicadora da sanidade do produto.
do produto já com a sua embalagem, para a realização compra as características que ele gostou quando provou desde o seu acondicionamento até algumas vantagens: o vidro é um O anel de vedação presente nas
de alguns tipos de testes, como a análise da vida de pra- na primeira vez. o seu consumo. O uso de embala- material inerte, pode ser utilizado tampas dos potes de vidro é que
teleira (data de validade) e os sensoriais (textura e sabor, gens também visa diminuir as per- para acondicionar produtos ácidos garantirá o efetivo fechamento das
odor). Aprovado, o produto pode ser destinado para Conclusão das, a deterioração e o desperdício (como é o caso das frutas ou produ- embalagens, portanto, a importân-
o consumo, desde que atenda às normas da vigilância Essas são algumas atividades gerenciais relativas ao entre o distribuidor e o cliente; ace- tos acidificados), sua transparência cia da utilização de tampas novas.
sanitária e tenha os demais registros necessários para a processo de agroindustrialização no campo, mais espe- Para alguns produtos como as
comercialização daquele tipo de produto. cificamente sobre o processo de desenvolvimento de frutas cristalizadas e os doces de
novos produtos alimentícios. É preciso destacar outro massa, os filmes de celulose re-
No momento do lançamento do produto, o agricul- aspecto, não menos importante, que o agricultor deverá
tor pode combinar com os pontos de venda algumas generada ou celofane são utiliza-
levar cada vez mais em conta no desenvolvimento dos dos. O ideal é que seja um celofa-
seus produtos, é o relativo à susten- ne termossoldável, para permitir
tabilidade. Um exemplo simples é a o fechamento da embalagem. Já
utilização de embalagens que sejam para os pães que possuem cros-
biodegradáveis e que não contami- ta como, por exemplo, o francês e
nem o meio ambiente. Atualmente, o italiano, podem ser embalados
a produção de produtos orgânicos imediatamente após o assamen-
também é uma característica dese- to, desde que em sacos de polie-
jada pelos consumidores. tileno de baixa densidade (PEBD)
Portanto, os agricultores devem microperfurados. Tais embalagens
Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI

pensar em alternativas para uma permitem que o vapor d’água seja


produção de BEAs, considerando a eliminado, mantendo assim a cros-
sustentabilidade como diferencial ta dos pães crocantes. Já no caso
na produção, na distribuição, pois de biscoitos, é recomendável que
isso, consequentemente, trará um a embalagem ofereça ao produto
aumento na renda familiar. barreira ao vapor d’água, pois se o
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22 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬23

Agricultura Familiar tem apoio


biscoito absorver umidade perderá A rotulagem nutricional dos cimentos devem utilizar quadros e
sua crocância. Para aqueles biscoi- produtos deve seguir as orienta- cartazes afixados em local visível,
tos com elevado teor de gordura ções da Resolução Anvisa RDC n.º cardápios próprios, folderes ou ou-
como, por exemplo, os amanteiga- tras formas.

do Microbacias II
360/2003, a qual pode ser obtida
dos, os quais poderão desenvolver na íntegra no site da mesma. Ela
A informação nutricional que
sabor de ranço pela oxidação das caracteriza-se por ser toda des-
consta nos rótulos poderá ser
gorduras, recomenda-se utilizar crição destinada a informar ao
quantificada em laboratórios que
embalagens que, além de oferece- consumidor sobre as proprieda-
realizam a análise de composição
rem barreira ao vapor d’água, se- des nutricionais de um alimento.
nutricional, a exemplo do Centro de João Brunelli Júnior – Engenheiro Agrônomo e Gerente Técnico do Microbacias II – CATI – brunelli@cati.sp.gov.br
jam também barreira ao oxigênio É obrigatório que o rótulo de um
Ciência e Qualidade dos Alimentos
e à luz (embalagens laminadas). O

O
produto apresente o valor energé-
(CCQA) do Instituto de Tecnologia Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável com prazo de entrega até o final deste ano. Durante este
BOPP (polipropileno biorientado) é tico e a quantidade dos seguintes
de Alimentos (Ital), ou então ser Microbacias II – Acesso ao Mercado, em exe- período serão realizadas diversas atividades envolvendo
um material bastante utilizado para nutrientes: Carboidratos / Proteínas
calculada por meio de programa
acondicionar biscoitos. No caso de / Gorduras totais / Gorduras sa- cução pela Coordenadoria de Assistência a rede assistencial da CATI e os consultores privados res-
específico disponibilizado no site
queijos frescos, a embalagem de- turadas / Gorduras trans / Fibra Técnica Integral (CATI), da Secretaria de Agricultura e ponsáveis pela elaboração dos planos de negócio, obje-
da Anvisa. De qualquer forma, são
verá minimizar perdas de umidade alimentar / Sódio. A informação Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA) e pela tivando uma melhoria na qualidade técnica nos projetos
de responsabilidade das empresas
e protegê-los contra contamina- nutricional deve ser expressa por Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais das organizações de produtores rurais.
as informações declaradas.
ção. Podem ser utilizadas embala- porção, incluindo a medida caseira (CBRN), da Secretaria do Meio Ambiente (SMA), inicia
O painel principal dos rótulos Os agricultores familiares por suas características in-
gens flexíveis de PEBD. correspondente, segundo o esta- uma nova e desafiadora etapa.
(área visível em condições usuais trínsecas de produção diversificada em áreas reduzidas
Sempre que possível, deve-se belecido no Regulamento Técnico
de exposição) deve conter as se- Depois de concretizada a primeira chamada pública, e, principalmente, pela utilização de mão de obra da
utilizar uma seladora para fechar específico e em percentual de Valor
guintes informações: indicação para que as organizações de produtores elaborassem própria família, em inúmeras situações buscam a gera-
as embalagens. Considerando que Diário (%VD). Para orientação dos
tamanhos das porções, existe um quantitativa e marca. Também po- propostas de negócio voltadas ao mercado, o momento ção de renda adicional agregando valor às matérias-pri-
o fechamento das embalagens ar- agora é de implantar, no campo, os projetos aprovados. mas produzidas em suas propriedades.
Regulamento Técnico de Porções dem estar presentes chamadas nu-
tesanais muitas vezes não as veda- Participaram da primeira chamada, 135 organizações de
de Alimentos Embalados para Fins tricionais quando aplicáveis (rico Apropriando as técnicas e os conhecimentos fami-
rá totalmente, é importante que o produtores, sendo 103 associações e 32 cooperativas,
de Rotulagem Nutricional (RDC n.º em fibras, por exemplo). liares preservados há várias gerações, dominam as tec-
prazo de validade dado aos produ- tendo sido elaborados 92 planos de negócio e submeti-
tos garanta a segurança ao consu- 359, de 23 de dezembro de 2003), Nos painéis secundários da rotu- nologias de processamento artesanal de alimentos ou
também disponível no site da dos à avaliação do Projeto. Como resultado do processo
midor. lagem do produto devem constar a produção de artesanato e conseguem obter produtos
Anvisa. seletivo dessa primeira chamada, foram aprovados 38
Rotulagem lista de ingredientes (em ordem de- com características únicas e de grande aceitação pelos
planos de negócio, distribuídos em 20 regiões agrícolas,
A informação nutricional a ser crescente da respectiva proporção) consumidores. Essas famílias, com tradição e experiência
De acordo com a Resolução totalizando R$ 15,1 milhões de apoio do Microbacias II,
apresentada nos rótulos dos pro- e a declaração dos aditivos utiliza- na gestão de uma agroindústria artesanal, podem vir a
da Agência Nacional de Vigilância na forma de subvenção econômica às associações ou
dutos alimentícios deverá ser estru- dos, dados do fabricante, identifi- constituir o embrião de uma organização de produtores
Sanitária (Anvisa) n.º 27, de 6 de cooperativas de produtores rurais.
turada em forma de tabela (vertical cação de origem, informação nu- com potencial para apresentar propostas de iniciativa de
agosto de 2010, dentre os alimen-
ou horizontal, conforme o tamanho tricional, validade e lote. Quando Os planos de negócio aprovados contemplam varia- negócio a serem apoiadas junto ao Microbacias II.
tos dispensados da necessidade de
do rótulo) ou linear. Se o espaço na aplicáveis, devem constar: modo das cadeias produtivas importantes para a agricultura fa-
registro enquadram-se os produtos
de vegetais (exceto palmito) e pro- embalagem não for suficiente ou de conservação do produto, ins- miliar, como pecuária leitei-
dutos de frutas, dentre outros. Por quando o alimento for comerciali- truções sobre o uso, advertências ra, fruticultura, olericultura
outro lado, todos estes produtos zado sem a embalagem, ou quan- e número de registro no Ministério e apicultura. Grande parte
devem conter a rotulagem nutri- do uma embalagem não atender da Saúde. As portarias do Inmetro dos planos de negócio
cional em suas embalagens. a um único produto, os estabele- n.º 88/96 e n.º 157/02 tratam das aprovados irá fortalecer as
questões quantitativas das emba- associações de produtores
lagens (volume, peso etc.). rurais, estruturando-as para
Todos os alimentos industriali- atender adequadamente
zados deverão conter em seus ró- o mercado institucional da
tulos, obrigatoriamente, uma des- merenda escolar dos muni-
tas expressões: “Contém glúten” ou cípios.
“Não contém glúten”. No período de 27/08
A agroindústria familiar e o ar- a 14/09 foi realizada a se-
tesanato rural têm todas as ferra- gunda chamada pública do
Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI

Roberta Lage – Cecor/CATI


mentas para a comercialização de Projeto, que obteve a ade-
produtos de qualidade, e os rótulos são de 103 organizações
e as embalagens são vitrines para de produtores. Destas, 96
que suas informações cheguem de se comprometeram a ela-
forma clara aos consumidores. borar o plano de negócio,
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24 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬25

Mantiqueira ou descem a Serra do frutas, tem aumentado o cultivo de Santa Cruz, que no momento
Mar na bagagem de turistas que pas- laranja, lichia e banana”, conta a téc- da reportagem aguarda a téc-

Casa da
sam pela região. nica. Há, ainda, grupos de orgânicos nica para juntos irem à única
que produzem e revendem, três dias agência do Banco do Brasil de
Segundo dados do Levantamento
na semana, na Feira Municipal de Redenção da Serra apresentar
Cadastral das Unidades de Produção
Produtos Orgânicos. um projeto de renovação do
Agropecuária (LUPA 2010), são con-

Agricultura de
rebanho leiteiro. O produtor
tabilizadas 450 unidades de produ- “Com a expansão imobiliária,
pretende adquirir 20 novas ma-
ção agropecuária. As culturas variam áreas rurais maiores estão virando
trizes leiteiras e pagar os R$ 60
entre gado de corte e leite, a maioria; condomínios e as menores estão

Taubaté
mil pleiteados, via Programa
soja com 500ha, área considerada sendo transformadas em chácaras
Nacional da Agricultura Familiar
grande para a região que é de vár- de lazer. No entanto, se a produção
(Pronaf), com carência de um
zeas e montanhas; eucalipto, pela agropecuária diminuiu em quanti-
ano e juros de 2% ao ano. “As
proximidade com uma indústria de dade, vem ganhando em qualidade
células somáticas são maiores
papel e celulose; e hortifrutigranjei- e agregação de valor”, conta Fátima.
em gado velho e isso faz com
ros, que vêm conquistando cada vez O destaque é para a produção leitei-
que a qualidade do leite caia e
Taubaté é o mais antigo núcleo habitacional do Vale do Paraíba (1636), mais espaço. ra. Atualmente, 475 cooperados da
eu não receba o valor do prê-
região entregam 130 mil litros/leite/
local de onde saíam os bandeirantes paulistas em busca do ouro, O arroz já foi uma cultura de im- mio”, conta o pecuarista.
dia para a Cooperativa do Médio Vale
em Minas Gerais. No século 18, o ciclo do café deixou sua marca nos portância econômica, mas nos últi- História, turismo,
do Paraíba (Comevap), sendo 90 mil
casarões construídos, tanto na área urbana quanto na rural. mos tempos vem perdendo espaço artesanato, culinária
envasados, o restante é utilizado em
para culturas como milho, soja e trigo. tradicional e agroindústria
produtos lácteos como manteiga,
Graça D'Auria - Jornalista – Cecor/CATI Também os hortifruti ganham novas familiar estão presentes
iogurte e queijos. Para o presiden-
áreas, sendo comercializados duas em cada recanto do Vale do
te da Cooperativa, José Francisco
vezes na semana no Mercatau, desde

L
Rodrigues Gomes, o maior inves- Paraíba
ocalizada no Vale do Paraíba, Serra, município de pouco mais de 3 1996. Têm preferência os produtores
timento tem sido em qualidade. Nesse vai e vem pela região,
às margens da Rodovia mil habitantes, que não conta com locais e depois os da região, um in- que teria sido melhor ter construí-
“Embora o número de cooperados é impossível não notar o quios-
Presidente Dutra, no eixo Casa da Agricultura local. centivo a que tenham contato direto do uma área própria porque as al-
tenha diminuído nos últimos tem- que da Laticínios São João, constru-
Rio-São Paulo, a cidade de Taubaté, com o seu público e verifiquem as terações necessárias acabaram por
Fatinha, como se tornou conhe- pos, a produção aumenta de 7% a ído em frente à antiga e bela casa
“aldeia legítima ou residência do preferências e demandas. “As cadeias apresentar um custo mais alto. Além
cida quando atuava como monitora 10% a cada ano. Isso indica que os de 1870. Foi o bisneto dos primeiros
chefe” na língua tupi-guarani, vem de hortaliças e frutas são atividades do quiosque, foi aberto um ponto
dos cursos de capacitação oferecidos produtores que permanecem na ati- proprietários que, além de escolher
crescendo em um ritmo que não dei- com potencial de crescimento, tudo comercial no Mercado Municipal, ga-
pela CATI, é a gestora regional do vidade têm investido em tecnologia, a fazenda como marca de seu pro-
xa dúvidas quanto ao seu potencial, o que é produzido, é comercializado rantindo a venda local. “Tudo foi pla-
convênio CATI/Banco do Brasil. Isso principalmente em genética, reno- duto, é o único a se manter em uma
seja no consumo de bens industria- na região, não só no Mercatau, mas nejado, desde o início eu já sabia que
faz com que conheça os problemas e vação do rebanho e boas práticas, atividade rural. “Eu nunca pensei em
lizados, como de produtos advindos em supermercados, no Mercado precisava de um gado de qualidade
as potencialidades da região. “O que entregando um produto de alta qua- viver só da fazenda e da criação de
da agropecuária. Municipal e quitandas. Além disso, a e um bom pasto para ter boa produ-
sei, aprendi na Casa da Agricultura”, lidade e garantindo melhor preço”, gado leiteiro. Quando decidi que
procura por minimamente processa- ção e fazer um produto diferenciado,
Conhecida bacia leiteira, Taubaté diz a técnica, que fez o concur- argumenta o presidente. não queria atuar como advogado,
dos também é grande e, no caso das com sabor e padrão de qualidade,
foi Delegacia Regional e, hoje, está so da Secretaria de Agricultura e fui a Minas Gerais aprender a fazer
Este é o caso do pecuarista José além de um ponto de venda ideal.
entre os 21 municípios vinculados à Abastecimento/CATI e to- queijo e quando voltei já tinha todo
Sílvio Bandeira, proprietário do Sítio
CATI Regional Pindamonhangaba. A mou posse em 1992. “Nasci um plano para entrar no No momento, Carlos Marcondes
Fotos: Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI

Casa da Agricultura é comandada, em Taubaté, conheço mui- negócio”, conta Carlos de pensa em investir em outros tipos
por quase duas décadas, pela enge- tos desde criança e meu Mattos Marcondes. de queijos, inclusive os finos, como
nheira agrônoma Maria de Fátima trabalho faz parte da minha camembert e gouda, mas esbarra no
A decisão foi toma-
Santos Cardoso, auxiliada pela história, tenho orgulho de maior entrave para os artesanais: a
oficial administrativa Heloísa dos pertencer à Regional mas, da aos 26 anos de idade,
hoje com 32, Carlos está limitação de produção diária em 300
Santos. Esse relacionamento de lon- principalmente, à Casa da
à frente da Laticínios São litros/leite/dia. “Com tão pouco, fico
gos anos, vem permitindo à técnica Agricultura”. Por lá, realizou
João e a família se orgu- sem perspectiva de crescimento, e
acompanhar o desenvolvimento e as tantos cursos de processa-
lha dos produtos artesa- se aumento a produção, deixo de ser
escolhas dos agricultores familiares mento artesanal e de boas
nais: muçarela (nozinho considerado artesanal, passando à
do município, principais clientes da práticas de fabricação, que
e palito), minas frescal e produção industrial, com custos mui-
Casa da Agricultura (CA). Eles com- perdeu a conta e viu produ-
padrão, queijo cremoso, to maiores, em impostos e folha de
parecem, principalmente, em busca tores rurais montarem um
requeijão de corte, entre pagamento”, argumenta.
de informações sobre as políticas negócio e virarem empre-
públicas, como as linhas de crédito sários rurais, agregando va- outros. Carlos aproveitou Outra agroindústria familiar que
rural e a inserção em programas ofe- lor ao leite ou às frutas, em um antigo galpão para tem conquistado clientela cada dia
recidos pelos governos federal e es- forma de queijos, compo- montar a estrutura do la- maior é a Companhia dos Doces,
tadual. Os atendimentos e projetos tas, doces em massa, pães ticínio, de acordo com as instalada na Fazenda Três Irmãos em
feitos pela técnica abrangem não só caseiros e biscoitos, produ- exigências da legislação Taubaté. Gláucia de Jesus Carneiro
Taubaté, mas, também Redenção da tos que sobem a Serra da para artesanais. Hoje, diz foi a responsável pela mudança nas
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26 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬27


Casa da Agricultura ‫ ׀‬27

boca, a Companhia dos Doces e em feiras realizadas em todo o


não para de crescer! Estado, como a Revelando São Paulo.
Mas não é só de doces, quei- A presidente da Associação do
jos e outras delícias que vive Paiolinho (antigo nome do muni-
o Vale do Paraíba. É também cípio) é Maria Giselda dos Santos.
do artesanato, outra riqueza Antes, a família vivia das atividades
daquelas paragens. Segundo agropecuárias, hoje, todos vivem

Lilian Cerveira - Cecor/CATI


Paulo Queiróz, diretor da CATI do artesanato em palha de milho.
Regional Pindamonhangaba, Giselda, que aprendeu a montar as
existe um grande potencial a bonecas com uma tia, continua ino-
ser explorado. “O Vale é um ex- vando e diz que já são mais de 50
portador de cultura, culinária e personagens. Sim, elas parecem ter
artesanato. É uma região anti- vida, cada uma conta uma história
ga e tradicional, que está apro- e mostra um detalhe da vida colo-
atividades da propriedade. “Meu ma- veitando a crescente urbani- nial. Agora, na propriedade o milho

Linhas de Crédito para


rido sempre teve gado de leite e eu zação para mostrar a sua identidade é plantado exclusivamente para
era professora. Depois da aposenta- para o mercado consumidor do eixo a produção artesanal. “Os espaça-
doria, resolvi fazer doces com recei- Rio-São Paulo”, diz o diretor, lembran- mentos são maiores para a espiga
tas da minha avó, os pedidos foram do o papel fundamental que a CATI crescer mais, também são plantadas

Agroindústria
aumentando, hoje atendo restauran- desempenhou como pioneira nos diferentes variedades para dar os vá-
tes, hotéis e oito pontos comerciais”, cursos de processamento artesanal. rios matizes, tudo é natural, não há
conta Dona Gláucia. São 20 caixas de “Hoje, há uma maior oferta de capa- tingimento da palha”, frisa a artesã,
goiaba e 30 caixas de banana por se- citação feita por vários órgãos, mas a que ensina a outras como fazer uma
mana, além da abóbora cultivada na CATI teve esse papel inovador. Nosso boneca e uma flor, de uma só espiga, Alexandre Manzoni Grassi – Engenheiro Agrônomo – Dextru /CATI – amgrassi@cati.sp.gov.br
propriedade. A maior parte do doce papel no cenário atual, é lembrar ao nada é perdido. Alexandre Mendes de Pinho – Engenheiro Agrônomo – Dextru /CATI – almendes@cati.sp.gov.br
é processado em massa e vendida produtor rural familiar que para con-
Realmente, em artesanato vale
correr é preciso se associar. O desen-

O
em pedaços. Da casca da goiaba, a máxima “nada se perde, tudo se
sai a goiabada cascão e da polpa, a volvimento de uma cultura coopera- s produtores rurais paulistas comercializam a maioria de seus produtos in natura, em virtude disso, a
transforma”; se transforma em histó-
geléia e a goiabinha que, a exemplo tivista dará força e visibilidade tanto agroindústria é uma alternativa para a transformação e, consequente, agregação de valor a esses pro-
ria e se transforma em renda, mudan-
da bananinha, é vendida embala- à agroindústria familiar, quanto ao dutos. Para auxiliar a viabilidade do empreendimento, existem algumas linhas de financiamento que
do para melhor a vida das pessoas da
da em unidades, um diferencial da artesanato”, diz o técnico. estão à disposição do produtor.
área rural.
Companhia dos Doces. “Quero tornar Artesanato de Redenção da
a goiabinha tão conhecida quanto a Serra é marca da cidade Feap – Apoio às Pequenas Pronaf Mais Alimentos II - implantação de unidades cen-
bananinha”, conta a produtora que Há cinco anos, quando a arte- Agroindústrias trais de apoio gerencial, para pres-
Permite financiar itens para im-
preferiu investir não em variedade sã Rita de Cássia Bairão Camargo tação de serviços de controle de
Beneficiários: produtores orga- plantação, ampliação ou moder-
de produtos, mas nas diferentes for- assumiu o cargo de secretária de qualidade do processamento,
mas de processar banana, goiaba e Cultura e Turismo de Redenção nizados como pessoa jurídica, bem nização da estrutura de atividades
como suas cooperativas ou asso- de produção, armazenagem, trans- marketing, aquisição, distribuição e
abóbora. da Serra, a vida das famílias da
Associação das Artesãs do Paiolinho ciações. porte e serviços agropecuários. O comercialização da produção;
Apesar das características arte- limite de empréstimo é de até R$ III - ampliação, recuperação ou mo-
começou a mudar. “É que juntos, as- Itens Financiáveis: aquisição de
sanais, Dona Gláucia vem investin- 130.000,00 (produtor individual), dernização de unidades agroindus-
sociação e poder público, podem máquinas e equipamentos, além
do em maquinários para facilitar o triais de beneficiários do Pronaf já
fazer a diferença”, comenta a técnica ou até R$ 500.000,00 na forma de
trabalho e reduzir o tempo de pre- de obras para a construção de pe-
da CATI, Maria da Fátima, que acom- crédito coletivo, com juros de 1 a instaladas e em funcionamento;
paro dos doces; a última compra, quenas agroindústrias. No caso de
panha o sucesso da associação com 2% a. a. O prazo de pagamento é de IV - aquisição de equipamentos e
o lacre nos vidros, garantiu maior miniusina de leite, podem ser ad-
a venda do artesanato em palha de até 10 anos, inclusos até três anos de programas de informática vol-
prazo de validade dos doces. “Já a quiridos equipamentos para a pas-
milho e taboa. de carência. tados para melhoria da gestão das
empacotadora, foi adquirida via cré- teurização do leite e material de
dito rural do Fundo de Expansão do São bolsas, caixas, sacolas de dife- unidades agroindustriais;
laboratório.
Agronegócio Paulista (Feap)”, explica rentes formatos e variadas utilidades, Pronaf Agroindústria V - capital de giro associado, limi-
Maria de Fátima, que acompanhou flores e as famosas bonecas de palha Teto de Financiamento: até Podem-se financiar investimen- tado a 35% do financiamento para
o processo. Atualmente, são cinco de milho. “Durante a campanha para R$ 200.000,00 por produtor orga- tos que visem ao beneficiamento, investimento;
funcionários, dois fixos e três avul- uso das sacolas retornáveis, houve nizado como pessoa jurídica e até ao processamento e à comerciali- VI - integralização de cotas-partes
sos para dar conta das encomendas, um significativo aumento nas ven- R$ 400.000,00 por cooperativa ou vinculadas ao projeto a ser finan-
zação da produção rural, incluindo-
como a goiabada cascão de 33kg das”, conta Rita. A secretária de turis- associação.
mo está sempre pensando em uma -se: ciado.
feita sob medida para um hotel: é de
comer com os olhos! E quem come, forma de inserir as artesãs nas mais Prazo: até cinco anos, inclusa a I - implantação de pequenas e mé- Os limites de crédito são: até
não resiste a comprar todos os ou- variadas campanhas municipais, carência de 18 meses, juros de 3% dias agroindústrias, isoladas ou em R$ 130.000,00 para pessoa física;
tros produtos. E assim, de boca em como no Dia da Consciência Negra, ao ano. forma de rede; até R$ 300.000,00 para empreendi-
Voltar ao sumário

28 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬29

mento familiar rural (pessoa jurídi-


ca); até R$ 30.000.000,00 para asso-
ciação e cooperativa, com juros de
acondicionamento e armazena-
mento de produtos da apicultura,
aquicultura, avicultura, chinchili-
Admite-se custeio associado ao
investimento, limitado a 35% de
seu valor. O limite de crédito é de
Organização Rural: caminho para o sucesso
1 a 2% a. a. O prazo de pagamento
e de carência são os mesmos da li-
cultura, cunicultura, floricultura,
fruticultura, horticultura, ovino-
R$ 600.000,00 por beneficiário, e de
R$ 1.800.000,00 para empreendi-
entre agroindústrias de pequeno porte
nha "Pronaf Mais Alimentos". Pode- -caprinocultura, pecuária leiteira, mento coletivo, com taxa de juros
Cleusa Pinheiro – Jornalista – Cecor/CATI
-se ainda destinar até 30% do valor pesca, ranicultura, sericicultura e de 5,5% a. a. e prazo de pagamento

A
financiado para investimento na suinocultura. até 10 anos, inclusos até três anos união dos produtores, principalmente os familiares, é fundamental para que possam acessar ao
produção agropecuária. São financiáveis: de carência. mercado cada vez mais disputado. Redução de custos e maior poder de negociação também são
I - construção, instalação e mo- benefícios intrínsecos à organização rural. Nesta reportagem, apresentamos alguns exemplos de
dernização de benfeitorias, aqui- Pronamp produtores que formalizaram cooperativas, outros se reuniram em grupos e outros que reuniram a família e
Pronaf Mulher e Pronaf Jovem Destinado a produtores rurais encontraram na agroindústria um instrumento de crescimento e conquista dos mercados interno e externo.
sição de equipamentos, inclusive
As linhas destinam-se respecti- para manejo dos animais e para a que possuam renda bruta anual
vamente às mulheres agricultoras e de até R$ 800.000,00, sendo que, Coagrosol pioneiro em São Paulo. “Nosso objetivo é otimizar recur-
geração de energia alternativa à
a jovens com idades entre 16 e 29 no mínimo, 80% desta renda deve A Cooperativa dos Agropecuaristas Solidários de sos e reduzir custos. Por exemplo, se uma cooperativa
convencional; investimentos para vai entregar uma remessa de produtos em um mesmo
anos, que concluíram ou estudam ser oriunda da atividade agrope- Itápolis e Região (Coagrosol) expressa em seu nome o
suprimento de água, alimentação local que outra, por que não utilizar o mesmo meio de
em cursos de formação profissional cuária ou extrativa vegetal. São fi- desejo de seus in-
e tratamento de dejetos relaciona- tegrantes: se soli- transporte reduzindo, assim, o frete?”, questiona Euclair
agrícola, sendo que ambos devem dos às atividades de criação animal; nanciáveis itens de custeio (até R$
darizar em todos Antonio Costa, ex-presidente da cooperativa e fruticul-
Fotos: Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

também integrar unidades familia- II - implantação de frigorífico e de 500.000,00 em cada safra) e de in- tor orgânico cooperado, que tem a manga como carro-
res de produção já enquadradas no os momentos para
unidade de beneficiamento, indus- vestimento - até R$ 300.000,00 por alcançar o bem -chefe. “Além de mim, outros cooperados estão investin-
Pronaf. trialização, acondicionamento e ano agrícola. Para os dois casos, os do em frutas orgânicas, visando ampliar a participação
comum. A crise do
Para o Pronaf Mulher, os limi- armazenagem de pescados e pro- encargos financeiros são de 5% ao setor, que culmi- nos mercado externos e interno, principalmente inse-
tes, encargos financeiros e prazos dutos da aquicultura, aquisição de ano, com prazos de reembolso de nou em 2000, com rindo sucos orgânicos de manga e goiaba na merenda
de reembolso são os mesmos es- máquinas, motores, equipamentos até 60 dias após o término da co- a menor média his- escolar, o que já estamos fazendo, em pequena escala,
lheita (para custeio) e até 12 anos tórica de preços re- com o suco de laranja”.
tabelecidos para o "Pronaf Mais e demais materiais utilizados na
Alimentos". No caso da linha Pronaf pesca e produção aquícola, inclusi- para investimento, podendo-se in- cebidos pela caixa Segundo o engenheiro agrônomo, Silvio Carlos
Jovem, o limite de crédito é de até ve embarcações, equipamentos de cluir até três anos de carência. de laranja, obrigou Pereira dos Santos, responsável pela Casa da Agricultura,
os citricultores de o sucesso de uma entidade de produtores passa pelo
R$ 15.000,00, com juros de 1% a. a., navegação, comunicação e ecos-
Itápolis a buscar apoio de entidades públicas que a assessorem. “O pro-
prazo de até 10 anos, incluídos até sondas, e demais itens necessários Para mais informações Euclair, Silvio e Ulysses: agroindustrialização beneficiou alternativas de co-
ao empreendimento pesqueiro e dutor, principalmente o pequeno, precisa saber produzir
três anos de carência, a qual poderá procure a Casa da Agricultura de os citricultores.
mercialização. “Os e comercializar com eficiência e profissionalismo, o que
ser elevada para até cinco anos. aquícola. seu município! custos de produção aumentaram e muitos não estavam para ser efetivado demanda capacitação e parcerias en-
nem conseguindo colher as frutas. Com esse cenário, tre todos elos da cadeia produtiva, que inclui a extensão
reunimos um grupo e constituímos a cooperativa. Nesse rural e a pesquisa”.
Pronaf Custeio de Agroindústria período, tivemos contato com o Fair Trade (Comércio
Familiar Justo Europeu) e recebemos a proposta de comercializar
Linha que apoia o custeio do be- suco de laranja, processo que viabilizamos por meio de Coopervinho
neficiamento e industrialização da um contrato com uma indústria local”, esclarece Ulysses
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

O conceito de coopera-
produção, cujos limites de emprés- Massayoshi Murakami, presidente da cooperativa, infor- tivismo está entremeado
timo são: mando também que o suco da Coagrosol passou a ser na vida da família Tordin
vendido em países como Holanda, Alemanha e Itália, desde a aquisição, em
I - pessoa física: até R$ 10.000,00; com os quais além do suco, foi comercializado in natura 1953, de uma proprieda-
II - empreendimento familiar rural - o limão Tahiti. de em Valinhos. No início
pessoa jurídica: até R$ 210.000,00; dos anos 2000, quando
III - associações: até R$ 4.000.000,00; Em 2008, a grave crise econômica que assolou a
Europa impactou a comercialização com este mercado. retornou exclusivamente
IV - cooperativa singular: até à atividade rural, após um
“Muitos cooperados desistiram, mas após muito traba-
R$ 10.000.000,00; lho e perseverança conseguimos colocar as contas em grande período trabalhan-
V - cooperativa central: até ordem e reorganizar nossa comercialização, que hoje se do em empresas agrope-
R$ 30.000.000,00. encontra em cerca de 600 mil caixas, com meta de am- cuárias, Nivaldo Tordin,
A taxa de juros é de 4% ao ano pliação para um milhão em 2013”, ressalta o presidente. deu andamento às diretri-
e o prazo de reembolso de até 12 zes familiares e participou
Atualmente, a Coagrosol tem sede própria com um da fundação de associa-
meses. packing house para beneficiamento e cerca de 50 coo- ções e cooperativas na
BNDES – Moderagro perados. Há alguns meses, integra uma rede de 23 co- região de Valinhos e Vinhedo, principalmente às ligadas
Apoio aos setores da produção, operativas, que com o apoio do Instituto Brasileiro de ao cultivo de uva, figo e goiaba, que sempre foram des-
beneficiamento, industrialização, Associações (Ibrass) está implementando um projeto taques na região. Em 2009, sentindo a necessidade de
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30 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬31

ampliar o mercado para os vinhos produzidos artesanal- importante ressaltar que, nesse processo, as parcerias Com o aumento da idade das integrantes, o grupo fi- pria, os empreendedores compram toda a produção dos
mente por pequenos produtores, incentivou a formação foram fundamentais, como a realizada com a CATI, que cou reduzido e decidiu passar a agroindústria para a ad- lotes do irmão e do pai de Shirley. “Todos estão ganhan-
da Cooperativa Agrícola – Coopervinho Paulista, da qual proprorcionou os primeiros cursos de processamento ministração da Associação União dos Produtores Rurais do melhor e têm novas perspectivas de vida”, ressalta
é presidente. “A entidade nasceu do desejo dos peque- artesanal. das Agrovilas Penápolis e Cintra. “Pretendemos investir Sidney. Além disso, o time da Alimentos Santa Terezinha
nos vitivinicultores saírem da informalidade, reduzir cus- Bemacla na modernização dos equipamentos e das instalações foi reforçado com a contratação de outros familiares.
tos de produção e ganhar espaço no mercado de vinhos, e adquirir mais um veículo para agilizar a comercializa-
A pergunta clássica ao se deparar com um nome di- Atualmente, os proprietários estão investindo na mo-
que está em expansão no Brasil. Se cada produtor fosse ção”, ressalta José Carlos Sponton Manhani, presidente
ferenciado de uma associação ou grupo de empreen- dernização e na ampliação das instalações, em novos
legalizar a sua produção, sairia muito caro e seria demo- da Associação.
dedores é: o que significa esta sigla? No caso da agroin- cortes e em equipamentos de embalagem com maior
rado. Até o momento já conseguimos registrar todas
dústria Bemacla, fundada em 1998, é a letra inicial do Hoje, após muitos anos de dedicação e esforço, os capacidade, visando acessar novos mercados. “Já esta-
as adegas, obter o CNPJ e começamos a fazer compras
nome das integrantes que apostaram em receitas fami- calos nas mãos de Clarinda e o sorriso no seu rosto, de- mos entregando em um raio de 50km. Mas queremos
conjuntas de insumos e equipamentos. Já contávamos
liares para ampliar a renda, respectivamente Bernadete, monstram que apesar de todo o sacrifício (noites a fio atingir outras regiões do Estado, além de ampliar a ven-
com uma permissão municipal para comercialização
Erenice, Mara, Alice, Clarinda. “A primeira letra do nome ralando, moendo e preparando doces), as mulheres da da para os programas institucionais”, fala o produtor.
local e em meados deste ano obtivemos o registro no
do grupo se refere à Bernadete Rodrigues Silva, uma das Bemacla estão colhendo bons resultados. “Ficamos fe-
Ministério da Agricultura”.
maiores batalhadoras do projeto. No início, pensamos lizes pelo que conquistamos, mas é bom ver que exis-
Após um intenso período de trabalho pela regulari- em trabalhar com doce de leite, mas pela dificuldade em tem pessoas que querem continuar o sonho e ter um Delícias da Cida
zação da entidade, os 48 cooperados estão ampliando conseguir os registros necessários, com orientação dos aumento na renda”, enfatiza d. Clarinda. As bolachas feitas por Maria Aparecida do Espírito
as ações e os produtos comercializados. “Estamos inves- técnicos investimos em doces de frutas como abóbora, Santo poderiam ser comercializadas em finas bombonie-
tindo no suco de uva como forma de ampliar o acesso goiaba, mamão e banana. O nosso começo foi muito di- Alimentos Santa Terezinha
ao mercado. Diferente do vinho que preserva a marca de res de São Paulo. Mas, por enquanto, têm sido um pri-
fícil, pois além de produzir os doces em utensílios casei- Uma árvore, um banquinho e muita disposição. Esse
cada adega, o suco da cooperativa terá uma marca úni- ros, não tínhamos luz elétrica e fazíamos a comercializa- vilégio dos moradores de Promissão e dos de algumas
foi cenário que deu início à empresa Alimentos Santa
ca. Estamos em fase de acerto a aquisição de um terreno ção em carrinhos pela cidade”, conta Clarinda Ernestina cidades da região. Por semana, as mãos habilidosas da
Terezinha, que coloca no mercado da região, por se-
para implementar a agroindústria. Possivelmente, será dos Santos, 67, umas das últimas integrantes do grupo mana, cerca de 1.800 quilos de mandioca descascada e D. Cida, como é
em São Miguel Arcanjo, na região de Itapetininga, que é original, que chegou a ter 24 participantes. congelada .“Desde o recebimento do lote, tivemos que conhecida, mo-
propícia para o plantio de uva. Mas, até que a agroindús- lutar muito para nos manter como produtores rurais. Eu delam bolachas,
tria se consolide, cada produtor tem confeccionado pe- e minha família, que mora em outros lotes, sempre plan- sequilhos e pães
quenas quantidades e comercializado individualmente, tamos mandioca e comercializamos in natura de forma nos mais varia-
conta Nivaldo, explicando que para ampliar as ativida- indireta, recebendo um preço muito baixo, que mal dava dos formatos e
des contam com o apoio do Ital, do Sebrae e da CATI. Por para sobreviver”, conta Shirley Almeida dos Santos, que sabores. Alguns
meio da Câmara Setorial de Uva e Vinho da Secretaria de há 22 anos vive no sítio São João, relembrando que a ingredientes
Agricultura e Abastecimento, estamos tentando viabi- situação começou a mudar quando o marido, Sidney saem direto
lizar um caminhão de envase. Apresentamos uma pro- Alexandre da Silva, decidiu investir no processamento
posta de negócio para o Projeto Microbacias II – Acesso do pomar e da
mínimo para alcançar novos mercados. “No início, reuni- horta cultivados
ao Mercado, para investir na produção de uva para suco, mos a família e começamos a descascar e picar as man-
pois queremos alcançar em pouco tempo a produção de pelo seu marido,
diocas embaixo da sombra de uma árvore. Depois par-
500 mil litros/ano”, salienta Nivaldo. ticipamos de capacitações sobre a manipulação correta José Carlos do
de alimentos e de gestão de negócio. Com a elaboração Espírito Santo. “No final da década de 1990, trabalháva-
Assentamento Reunidas: produtores de um projeto conseguimos um financiamento, com o mos com leite, mas estava muito difícil para sobreviver
D. Clarinda, Nelson e José: comemoram a nova fase da Bemacla
encontram na agroindústria renda para se qual construímos uma sala de manipulação, compramos da atividade. Como sempre gostei de cozinhar, enxerguei
manterem na atividade rural freezers e equipamentos de embalagem à vácuo”, explica nisso uma alternativa de aumentar a renda. Conversei
Nos anos 2000, após a conquista de uma regulariza-
No Assentamento da Fazenda Reunidas, imple- o produtor. com o pessoal do Itesp, que, além de orientação técnica,
ção parcial da agroindústria, o grupo passou a acessar os
mentado em Promissão, no ano de 1988, pelo Instituto me ajudou a participar de cursos de produção artesanal
mercados institucionais via os Programas de Aquisição Com ampliação da agroindústria, tornou-se necessá-
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), mais de alimentos. Além do conhecimento técnico, aprendi
de Alimentos (PAA), e o de merenda escolar das prefei- rio também o aumento da produção. Além da área pró-
de 600 famílias lutam pela sobrevivência na atividade um valor muito importante nessas capacitações: o que
turas da região. “Esses mercados proporcionaram recur-
rural. Entre as principais atividades exploradas, ganham
sos, para que o grupo conseguisse regularizar as partes vende o produto é a história da pessoa que o produz.
destaque a avicultura de corte, bovinocultura de leite e
estruturais da agroindústria e recebesse a liberação da Isso abriu os meus olhos e me fez ver valorizar ainda mais
corte, frutas, olericultura e mandioca. Segundo Nelson licença de funcionamento”, informa Nelson Moreira.
Luiz Moreira de Barros, técnico em desenvolvimento da as minhas receitas caseiras e trabalhar com amor”, conta
Fundação Itesp, que orientou a implantação de algumas Após o falecimento de Bernadete, há três anos, a D. Cida.
agroindústrias, a agregação de valor possibilitou não Bemacla passou por dificuldades e quase fechou, mas Com recursos de um projeto do qual participou, a
apenas a manutenção de muitas famílias, mas um ple- diante do legado deixado por ela, as outras associadas
produtora montou uma pequena unidade de processa-
no exercício de cidadania para aqueles que receberam retomaram a gestão do empreendimento, conseguindo
aperfeiçoar os produtos. “As doceiras da Bemacla sem- mento anexa à sua casa, na qual instalou equipamentos
a terra e nela buscam o sustento diário. “Essas agroin-
dústrias trouxeram oportunidades de renda e emprego, pre tiveram uma grande preocupação com a qualidade. como fornos e utensílios profissionais como batedeiras
principalmente para as mulheres e os jovens. No proces- Com orientação de um grupo de nutricionistas de uma de massa. A comercialização é responsabilidade do Sr.
so de implementação desses negócios, os produtores Universidade, aprenderam a dosar as quantidades de José. Com o entendimento de que o conhecimento deve
tiveram muitas dificuldades, mas também um grande ingredientes, principalmente o açúcar, para atender às ser repassado, D. Cida se tornou professora em cursos or-
aprendizado sobre direitos e deveres e gestão de negó- exigências nutricionais do mercado, sem perder o sabor ganizados pelo Itesp em parceria com a CATI e o Senar.
cios, o que resgatou princípios básicos de cidadania. É do doce caseiro”, salienta Nelson.
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32 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬33

Agroindústrias Parcerias entre


crédito rural, que tem juro baixo e
carência para pagar. Agora, estamos
pensando se fazemos novo em-

artesanais: produtos préstimo para uma câmara fria, que


possibilitaria planejar melhor a pro- órgãos estaduais
e municipais
dução, ou se continuamos com os

diferenciados têm freezers, desligados quando não há


produtos”, conta Tarcísio. Temos que
fazer as contas, argumentam entre si;
resultam em
mercado certo cada novo investimento é estudado
com calma pela família.
O casal Mantellato tem consciên- agroindústrias de
cia de que o planejamento e contro-
Graça D’Auria – Jornalista – Cecor/CATI
le de custos são fundamentais para
crescer sem por em risco a agroin- sucesso – Caso da
Embutidos Pagan
dústria familiar, conquistada com tra-

A
balho, dedicação e capacitação ofe-
rte Alimento. Não pode- calmente. “Antes, nós não saíamos
recida por órgãos como a CATI, que
ria haver um nome que da roça, era dia e noite, hoje partici- promove, ainda, suporte na docu- Graça D’Auria – Jornalista – Cecor/CATI
melhor identificasse os pamos de várias feiras do produtor mentação e oportuniza a participa-
doces feitos por Maria Mantellato, e entregamos produtos em mais de ção em feiras. É nelas que as vendas
em Itapira. A agroindústria, criada 30 estabelecimentos comerciais em têm maior volume e bom retorno

E
há pouco menos de uma década, Itapira e sabemos que nossos doces financeiro. “Se pudesse, só fazia feiras m abril de 2002, a vida de pequenos empre-
mudou a vida da família que antes acabam indo longe pela mão dos onde os consumidores procuram e endedores do município de Amparo come-
vivia do plantio de hortaliças em es- consumidores”. pagam um valor mais justo pelo pro- çou a mudar. Aquele foi o ano da aprova-
tufa e confecção de vassouras. Hoje, duto diferenciado”, diz Maria.
Com o aumento da renda, além ção da lei municipal que criou o Serviço de Inspeção
Tarcísio, marido de Maria, ainda faz,
das instalações construídas de No comércio, a concorrência com Municipal (SIM), necessário para o funcionamento de
“mas é por gosto”, e para atender a
acordo com as regras da Vigilância produtos industrializados é maior, empresas e agroindústrias artesanais que trabalham
alguns clientes que procuram por
Sanitária e do Serviço de Inspeção mas eles ganham em qualidade. com produtos de origem animal. Nem todos os mu-
suas resistentes vassouras, confeccio-
nadas de forma artesanal. Também Municipal (SIM), necessário em fun- O público conquistado é grande e nicípios possuem tal serviço e, assim, agroindústrias
os doces são artesanais, receita da ção do doce de leite também pro- nada fica nas prateleiras dos 30 es- familiares, que trabalham de forma artesanal, aca-
família. “Quando algo não dá certo, duzido pela Arte Alimento, Maria e tabelecimentos comerciais de Itapira bam tendo que obter o selo fornecido pelo Serviço
chamo minha mãe que mora ao lado. Tarcísio compraram um carro para que revendem os doces. “Quem de Inspeção do Estado de São Paulo (SISP), mais one-
Foi dela a ideia de fazer doces para entrega dos produtos. O crédito compra uma vez, volta”, diz Maria, en- roso para aqueles que não têm, ainda, nem retorno
aumentar a renda da família, além foi obtido via Fundo de Expansão tusiasmada com a mudança, não só financeiro suficiente e nem produção para atuar fora
da Agropecuária Paulista (Feap/ na vida do casal, como na dos filhos. do município, mas que querem trabalhar de forma le-
disso, não queríamos mais trabalhar
Banagro) e está quitado, assim como “Se não tivéssemos mudado de ativi- galizada.
em contato com agrotóxicos”, conta
outro empréstimo feito via Banco dade, eles já estariam trabalhando na
Maria, que viu sua vida mudar radi- Tais empreendedores podem ser urbanos, como
do Povo. O momento atual da Arte roça; hoje, estão na universidade e,
Alimento é de impasse entre cres- com certeza, terão uma vida menos os açougues e entrepostos, que produzem e vendem
sacrificada. embutidos ou manipulam carne de frango, ou rurais,
cer ou manter a produção. Tudo que
Fotos: Graça D'Auria – Cecor/CATI

é feito, é vendido com rapidez, mas Os Mantellato querem conhecer como a agroindústria criada pela família Pagan. Dez
o trabalho ainda é pesado. Quando muitos lugares, levando sua arte em anos após a formalização, a Embutidos Pagan é refe-
chega um lote de frutas, comprado alimento (no momento da entre- rência como agroindústria artesanal de sucesso, que
de produtores da região, eles viram vista, se preparavam para participar vem garantindo a qualidade e o sabor diferenciado,
dia e noite para fazer os doces de da Fenafra 2012, realizada no Rio de resultado de receitas caseiras, produzidas em peque-
leite, goiaba, laranja, cidra, mamão, Janeiro, de 21 a 25 de novembro). na escala.
abóbora (plantada na propriedade), Eles serão um dos representantes
A matéria-prima, os suínos, são criados na proprie-
em massa ou compota, todos feitos indicados pela CATI no evento, que
dade, parte do tempero vem da horta, a receita foi
Fotos: Graça D'Auria – Cecor/CATI

com pouco açúcar e sem conservan- reúne artesanato e agroindústria de


todo país na Marina da Glória, um es- ensinada pelas tias Maria Cecília e Maria Lúcia. Foram
tes, inteiramente artesanal, de forma elas que começaram a fazer a linguiça caseira. O sa-
paço visitado por milhares de cario-
que os sabores fiquem evidenciados: bor conquistou quem mora em Amparo e quem vem
cas e turistas, que poderão conhecer
um alimento feito com arte! o famoso doce de laranja-cavalo feito a passeio pela região turística, e as encomendas de-
“Nós temos aproveitado todo o em pasta, para corte, carro-chefe nas ram início ao novo negócio. Hoje, a empresa rural de
auxílio do governo na questão de vendas da Arte Alimento. base familiar gera novos empregos, oito são da família
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34 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬35

Agricultura Familiar coloca à mesa


sos estes mais difíceis, quando se trata de produtos de
origem animal que têm maior rigor.
A médica veterinária Bárbara El Khoury é da
Prefeitura Municipal de Amparo, e fica sediada na
Casa da Agricultura local, comandada pelo engenhei-
ro agrônomo Ricardo Moncorvo Tonet, estratégia que
produtos diferenciados
facilita o entrosamento entre Estado e município. Roberta Lage – Jornalista – Cecor/CATI
Juntos com o Centro de Vigilância Sanitária, ligado

Divulgação Real Capri


à Secretaria de Saúde de Amparo, coordenado pelo
farmacêutico Luiz Seragi, formam o tripé que auxilia
àqueles que querem transformar uma receita caseira
tradicional em um negócio de família.
Bárbara diz que a Embutidos Pagan é a sua “meni-
Lisel Breuer – Fazenda Sta. Luzia

na dos olhos” e conta que tudo começou com visitas


e um levantamento daqueles que tinham interesse
em sair da informalidade e trabalhar de acordo com
as normas vigentes, e possibilidade de crescimento.

Átila Queiroz – C.A. São Miguel Arcanjo


A família Pagan começou em uma pequena sala e ti-
nham o principal: matéria-prima, espaço na chácara,
união da família e vontade de crescer. Junto com o
processo de legalização, foram vendo o que era possí-
vel adaptar e o que faltava, como suporte foram feitas
várias capacitações. “O nosso papel sempre foi o de
estar ao lado do pequeno empreendedor, ajudando-
-o a planejar os próximos passos, oferecendo todo o
e mais 13 pessoas são empregadas entre a criação e suporte necessário durante o processo. Eu creio que
o processamento. A atividade reverte, também, renda o papel dos órgãos governamentais é o de contribuir

U
para o município, levando o nome de Amparo para os com os pequenos empreendedores familiares, princi- ma receita regional. Uma técnica diferenciada no modo de preparo. Uma tradição. Algum segredo de família.
mais variados cantos, na propaganda daqueles que palmente aqueles que sobrevivem da atividade rural, Esses são alguns dos ingredientes presentes nos produtos diferenciados fabricados pela agricultura familiar.
passam por ali e fazem uma “paradinha” quase obri- para que tenham condições de permanecer nela, ter Transformar produtos in natura, em geral perecíveis, em novos produtos, de origem animal ou vegetal,
gatória na Chácara Santa Luzia, no bairro rural de Três renda e gerar mais empregos no campo. Antes de fis- como por exemplo, leite em queijo e frutas em doces, permite ao produtor agregar valor à sua produção e aumentar
Pontes, propriedade da família Pagan há mais de 60 calizar é preciso conscientizar, conquistar, usar o bom a comercialização. Para os consumidores, também há vantagens como a possibilidade de se consumir produtos mais
anos. senso, ser a alavanca que os capacite a se tornarem naturais e saborosos, preparados artesanalmente, com menos conservantes e por preços acessíveis.
Atualmente, a Embutidos Pagan comercializa, uma agroindústria”, afirma Bárbara, que se orgulha de
fazer parte desse sucesso. De acordo com informações da Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SAF/
além da linguiça caseira feita com pura carne de por-
MDA), no Estado de São Paulo há uma predominância por agroindústrias voltadas à produção de queijos. Em segundo
co, outros tipos de linguiça, salame, codeguim, chou-
lugar, porém distante, estão as cachaças de alambique e as farinheiras. A qualidade dos produtos é um dos grandes
riço e vende, também, a carne em cortes. As
diferenciais da agroindústria familiar. A consideração é de Arnoldo de Campos, diretor do Departamento de Agregação
100 matrizes já não chegam para suprir a
de Valor e Renda da SAF. “O consumidor está mais exigente. A qualidade e o sabor dos produtos diferenciados são bem
demanda mensal de 200 porcos/mês e ou-
específicos se comparados aos produzidos em grande escala industrial. O mercado exige produtos de qualidade dife-
tros são comprados na região. A receita do
renciada, de identidade cultural, feitos com responsabilidade ambiental, que promovam a alimentação saudável e que
sucesso, segundo Leonardo Pagan, geren-
tenham a sua origem identificada”, afirma Arnoldo.
te responsável pela produção, é a união de
vários fatores. Eles fizeram todos os cursos E não é só a exigência do consumidor pela qualidade dos alimentos que têm contribuído para a inserção de pro-
de processamento disponibilizados pela dutos da agricultura familiar no mercado brasileiro, mas principalmente os incentivos governamentais. “O governo
CATI, via Casa da Agricultura e Divisão de vê a agroindústria familiar como uma fronteira nova para os negócios rurais. A compra de produtos por meio do
Extensão Rural, e também de Boas Práticas Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa Paulista
de Fabricação, pela Vigilância Sanitária de de Aquisição de Alimentos (PPAIS), são importantes frentes de demanda. Além disso, há políticas para financiamentos
Amparo. Nessa parceria, participaram de fei- de agroindústrias, um trabalho para divulgar esses produtos por meio de feiras e eventos, e parcerias com supermer-
ras, como a Feira da Pequena Agroindústria, cados, hotéis, bares, restaurantes e indústrias de alimentos”, diz Arnoldo, que confirma que dois dos principais entraves
realizada pela CATI em Serra Negra, de 2001 para o pleno desenvolvimento das agroindústrias é a formalização e a gestão. “A legislação sanitária ainda é a mesma
a 2004, onde estiveram como expositores e de 60 anos atrás. É necessário criar um ambiente mais favorável. Outro ponto é que os empreendedores precisam se
palestrantes, contando aos interessados os profissionalizar. Nem todos estão capacitados para administrar o avanço de seus negócios. Há ajustes a serem feitos,
passos para formar uma agroindústria, pas- mas não há dúvidas de que há grande potencial para a agroindústria familiar”.
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36 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬37

estratégias para promover a produção. “Para varia de 1.200kg a 1.500kg de queijo de cabra da linha da Agricultura Familiar (Pronaf) - cerca de R$ 60 mil, foi
tornar nosso produto conhecido, fazemos francesa, nas variedades frescal, moleson, chevrotin, bour- possível custear as reformas, a aquisição de veículo uti-
promoções em pontos de venda e já fizemos sin, petit fromage, crottin e saint maurre. “Esses produtos litário e maquinários e o retorno dos investimentos foi
Lisel Breuer – Fazenda Sta. Luzia

algumas inserções em outdoors, revistas e são considerados diferenciados porque são nobres, nu- recuperado em seis anos de trabalho.
jornais da cidade, mas nossa melhor propa- tritivos e produzidos com matéria-prima da proprieda-
Hoje, o alambique, que conta com a atuação de dois
ganda é o boca-a-boca. Somos conhecidos de. Nossos consumidores são aqueles que apreciam um
funcionários da família, produz as cachaças branquinha
pela nossa qualidade e seriedade”, explica bom queijo e os que trabalham com a culinária francesa,
e a envelhecida em barril de carvalho, além de açúcar
Maristela. De acordo com o casal, o sabor já que esses produtos são utilizados na alta gastrono-
mascavo e melado, que são comercializados na proprie-
diferenciado dos queijos artesanais é o que mia”, avalia Paulo.
dade aos turistas rurais e consumidores cativos, em fes-
atrai a atenção dos produtos. “Nossos quei-
A divulgação dos queijos é feita por meio de de- tas, feiras e eventos do município; e no Casarão Produtos
jos podem ser considerados diferenciados
gustação em pontos de venda e de visitas na proprie- Coloniais, ponto de venda estratégico de São Miguel
porque são feitos com leite selecionado,
dade, já que o sítio participa de um programa de turis- Arcanjo, que comercializa produtos da agroindústria fa-
produzido em nossa fazenda a partir de lei-
mo rural desenvolvido pelo Departamento de Turismo miliar do município.
te de vacas Simental, com controle rígido e
de Pindamonhangaba. “Mostramos ao visitante todo o
rastreamento dos animais. Os queijos são fei- Com produção anual de seis mil litros por ano, a R$
processo, desde a ordenha até a fabricação dos queijos.
tos em pequena escala, de forma artesanal e 10 cada, a renda do alambique representa de 30 a 40%
Mas, a maior divulgação é a credibilidade junto aos con-
sem adição de nenhum conservante quími- do faturamento da propriedade. “Apenas duas pessoas
sumidores, conquistada pela qualidade dos produtos
co”, avalia Martin. da família estão envolvidas no processo, o que nos ga-
e, por isso, eles não se incomodam de pagar um pouco
rante economia no custo da mão de obra e garantia da
mais pelo queijo de cabra, que é mais caro se compara-
Família de Pindamonhangaba produz qualidade do produto final”, avalia Cecília.
Preços baixos pagos por laticínios impulsionaram do ao de vaca”, afirma Paulo.
a construção de queijaria em Itapetininga queijo de cabra para alta gastronomia “Nosso produto é diferenciado porque eu e minha
E essa credibilidade foi atestada em 2009, quando a
No sítio Algodão Doce, de 20 hectares, localizado em esposa fazemos todo o processo de forma artesanal,
Em Itapetininga, na Fazenda Santa Luzia, de 120 hec- queijaria ficou entre as três melhores do ano na catego-
Pindamonhangaba, há cerca de 140 cabras que produ- priorizando as boas práticas, a higiene na produção e a
tares, além de pecuária de corte, agricultura e reflores- ria "artesão de gastronomia", em uma pesquisa realiza-
zem leite para a Real Capri, agroindústria familiar loca- qualidade superior do produto final, comparado à ca-
tamento, funciona desde 2001 e depois de muitas ex- da pela Revista Prazeres da Mesa. “Com a produção dos
lizada no próprio sítio. “Ao comprar a propriedade, em chaça de grandes marcas. Também temos algumas téc-
periências na cozinha e na lavanderia da propriedade, a queijos, tenho hoje um público maior em relação ao do
1998, verifiquei que poderia explorá-la de forma mais nicas diferenciadas na fase da fermentação da cachaça,
Queijaria Artesanal Santa Luzia. Considerada a primeira leite. Além disso, venho buscando a sobrevivência da
lucrativa. Queria transformar o leite em um produto que descobertas pela família e que podem ser consideradas
queijaria artesanal do Estado de São Paulo, tem produ- propriedade e a independência financeira dos filhos por
agregasse valores e resolvi investir em uma agroindús- o grande diferencial”, fala Makoto.
ção mensal que varia de 1.500kg a 1.800kg dos queijos meio da agroindústria. Acredito que ainda temos muito
Minas Frescal, Ricota, Minas Padrão, Coalho, Saint Paulin, tria”, relembra Paulo França, proprietário da Real Capri. Para o casal, as principais dificuldades estão na for-
a expandir”, avalia o produtor.
Edam, Reino, Gouda com Kümmel, Gouda com Ervas Para tornar realidade o sonho da agroindústria usou malização e na legalização da atividade. “Há muitas
As dificuldades do negócio estão em encontrar mão
Finas, Parmesão e Brie. “A matéria-prima é obtida da pro- recursos próprios e para administrar o novo negócio, exigências legais”, diz Cecília. Mas as expectativas com
de obra qualificada e uma legislação mais adequada. “Os
dução leiteira da própria fazenda, com controle de qua- recebeu orientações do Serviço Brasileiro de Apoio às o negócio são positivas, assim como o reconhecimen-
governantes precisam entender que deve haver uma
lidade realizado”, explica Martin Breuer, proprietário da Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e dos técnicos da to pela contribuição da CATI. “A Casa da Agricultura de
diferenciação na legislação para a pequena agroindús-
fazenda. Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI). São Miguel sempre nos apoiou com orientações sobre
tria, pois hoje somos enquadrados no mesmo patamar
“Desde o início, contamos com os trabalhos técnicos da créditos, difusão de conhecimentos e novas técnicas,
A ideia de construir uma queijaria surgiu pelo desâ- de exigências de indústrias de porte médio ou grande, o
CATI na área veterinária, na área de plantios, de divulga- oferecimento de cursos, assistência técnica e extensão
nimo com os preços pagos pelos laticínios da região. “O que dificulta nosso crescimento”.
ção e nos projetos para busca de créditos junto a bancos rural. Apostamos nossas fichas no desenvolvimento do
preço pago não cobria os custos de produção”, conta Turismo Rural da região, que irá potencializar as vendas”,
oficiais. Esse apoio foi fundamental”, reconhece Paulo. Alambique de São Miguel Arcanjo representa
Maristela Nicolellis, esposa de Martin e tecnóloga em anima-se Makoto.
agronegócios. Com a decisão do novo negócio toma- Atualmente, a agroindústria conta com 14 funcioná- 40% do faturamento da propriedade rural
da, investiram na estrutura e em conhecimentos. Com rios, sendo que três são da família. A produção mensal Água Nova. Esse é o significado do nome
recursos próprios, compraram equipamentos e cons- Shin-Sui, que batiza o alambique de proprie-
truíram o prédio e as instalações. Além disso, participa- dade de Makoto e Cecília Okabe, localizado no
ram de cursos no Brasil e no exterior. Hoje, a pequena Sítio São José, em São Miguel Arcanjo. Nos 22
agroindústria conta com 11 funcionários que se dividem hectares da propriedade, ocupada pela família
nas etapas de produção. “Inicialmente a dificuldade era desde 1990, há piscicultura, ovinocultura, pro-
conquistar o mercado, pois as pessoas são arredias a dução de doces, compotas, conservas, vinho,
novidades. Também foi complicado desenvolver todo licores, suco de uva e o alambique, carro-chefe
o projeto com recursos próprios, que eram escassos, dos negócios. “A ideia do alambique surgiu em
pois para conseguirmos financiamentos, teríamos que 2004, pois queríamos agregar valor ao canavial

Átila Queiroz – C.A. São Miguel Arcanjo


ser pessoas jurídicas, visto que essa é uma exigência do e produzir um produto de alto padrão para um
Feap Agroindústria. Hoje, o desafio maior é gerir o negó- público de apreciadores da bebida. Desta for-
cio nos moldes estabelecidos pela lei n.º 10.507, a qual ma, buscamos a diversificação da produção e
Divulgação Real Capri

estabelece que a produção de leite máxima permitida é mais renda para a família”, conta Makoto.
de 300 litros/dia”. Para o funcionamento da agroindústria, fo-
Mesmo com as dificuldades, a comercialização dos ram investidos cerca de R$150 mil e com os re-
queijos é considerada boa pelo casal que tem algumas cursos do Programa Nacional de Fortalecimento
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38 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬39

formar uma associação e/ou uma co- menta: “atendidas as necessidades tanto, não enxergamos o artesanato

Artesanato rural: atividade que mobiliza,


operativa, aí entra o trabalho dos téc- básicas, surgem outros temas como: como um passatempo, mas como
nicos do Instituto de Cooperativismo organização dos grupos, gestão do uma atividade econômica que gera
e Associativismo, parceiros da CATI negócio, melhoramento do produto renda e garanta o sustento”, afirma
socializa, preserva tradições e conquista espaço como nessa empreitada de tornar um grupo
informal, em grupo formal, legalizado
(acabamento e design diferenciado),
até a formação de preço, cumprimen-
Cássio Oliveira.
O artesanato está inserido no
geradora de renda e apto a comercializar sua produção.
O Itesp trabalha na mesma linha,
to de contratos, escolha de embala-
gem, finalizando com a disposição
Programa Empreendedor Individual
e quem tiver interesse na consultoria,
dos produtos em feiras nas quais o
Graça D’Auria – Jornalista – Cecor/CATI atendendo assentados e quilombo- seja individual ou em grupo formal,
Itesp acompanha seus artesãos. Aí a

N
las. Nessas comunidades, existe um e/ou informal, pode procurar um dos
o Estado de São Paulo, Turismo e artesanato dão boas ciem a carteira da Sutaco, atuando consultoria acaba sendo in loco, com a
forte vínculo social e tradições cultu- 35 escritórios regionais do Sebrae-SP.
aqueles que têm um dom parcerias, conta Warny Moreira como elos entre as comunidades e os arrumação dos estandes, o incentivo
rais arraigadas que transparecem no Para 2013, haverá uma reestruturação
para o artesanato podem Santana, superintendente do órgão. artesãos. ao contato direto com o consumidor
artesanato. Elenita da Silva Pimentel, e, à exemplo de outras atividades, o
se profissionalizar e ter uma carteira Warny chegou à Sutaco por sua atu- e a prática da comercialização.
São nessas comunidades que atu- supervisora do Grupo Técnico de artesanato terá um programa próprio,
que os identifique e habilite a obter ação como liderança comunitária.
am a Coordenadoria de Assistência Formação, Capacitação Profissional, Recentemente, o Itesp assinou com oferta de cursos de maior exten-
renda e movimentar a economia, en- Conhece os entraves e o que precisa
Técnica Integral, vinculada à Secretaria Pesquisa e Acervo, e Iara Rossi, estão um Termo de Cooperação Técnica são, que englobem temas da produ-
quanto colabora com o incremento ser feito para alavancar as vendas,
de Agricultura e Abastecimento entre as responsáveis por atender com a Sutaco e cerca de 60 técnicos ção à comercialização.
cultural e a preservação de tradições. meta importante para que os artesãos
do Estado de São Paulo, e também às demandas e planejar oficinas nas do Instituto já estão sendo capaci-
Segundo a Superintendência do continuem na atividade. “Elaboramos Aí voltamos à Sutaco, para en-
a Fundação Instituto de Terras do tados para atuarem, não só no
Trabalho Artesanal nas Comunidades um questionário para identificar as contrar em suas lojas, na Rua XV de
Estado de São Paulo (Itesp), vincula- levantamento dos artesãos em
(Sutaco), autarquia ligada à Secretaria fragilidades e fortalezas e indicar o Novembro e no Metrô Vila Madalena,
do à Secretaria de Justiça e Defesa da todas as regionais atendidas pelo
do Emprego e Relações do Trabalho, que é preciso ser feito. Todo o nosso os mais variados produtos à venda.
Cidadania. Itesp, mas também na avaliação
são artesãos aqueles que com seu tra- trabalho vem sendo firmado em par- No site, blog, impressos e na mídia em
balho, fortalecem as raízes e culturas cerias com universidades, prefeituras Na Divisão de Extensão Rural dos trabalhos e na obtenção das
geral, a Sutaco disponibiliza os canais
regionais. e outros órgãos públicos que abrem (Dextru/CATI), a engenheira agrôno- carteiras de artesão. Iara e Renata
para que os artesãos ou grupo de
espaço para feiras e pesquisa para ma Sonia Juliatto Tinoco responde estão juntas nessa empreitada e,
artesãos, associações e cooperativas
A Sutaco cadastrou, desde a sua para o próximo ano, está prevista
novos produtos, assim como consul- pela área junto aos grupos produti- possam comercializar artesanatos ori-
criação nos anos 1970, quase 80 mil ar- a oferta de cursos para os artesãos
torias que possam contribuir para o vos de artesanato rural, atendendo ginados de todo canto do Estado de
tesãos, conta o ouvidor Renan Novais. de quilombos e assentamentos.
incremento do artesanato”, afirma a demandas de planejamento, ca- São Paulo, onde homens e mulheres
Atento às oportunidades e ações, ele “Serão abordadas técnicas de ar-
Warny Santana. pacitação técnica e apoio na comer- mantêm suas tradições produzindo
providencia desde os contatos inter- tesanato e design; os docentes se-
cialização. “Eu sempre digo que sem cultura e arte, preservando tradições,
nos até a exportação de peças, via No Estado de São Paulo, a Sutaco rão pagos pela Sutaco e o restan-
objetivo claro, missão definida, visão mudando suas vidas.
Agência Brasileira de Promoção de é coordenadora do Programa do te da infraestrutura ficará a cargo
compartilhada, não existe um grupo,
Exportações (Apex-Brasil). Artesanato Brasileiro (PAB Ministério do Itesp”, conta Iara Rossi.
mas apenas uma reunião de pessoas Elenita e Cacilda – técnicas da Fundação Itesp
do Desenvolvimento, Indústria e que, provavelmente, não chegarão a Para realizar este trabalho, Itesp,
Comércio), que tem por finalidade co- lugar algum”. mais diversas áreas. Como o intuito CATI e Sutaco contam com parcerias,
ordenar e desenvolver atividades que é criar alternativas que possam gerar como a do Sebrae, que oferece cursos
busquem a valorização do artesão, renda, além de aumentar a autoesti- de melhoria do produto e da emba-
elevando seu nível profissional, social ma e fortalecer o grupo, as ações são lagem, cálculo de custo, horas traba-
e econômico, além de promover e di- planejadas e desenvolvidas em par- lhadas, planejamento, gestão, técni-
vulgar o artesanato brasileiro. ceria com o Grupo de Agronegócios, cas de comercialização, entre outros.
onde Cacilda Sueli Mandelli e Renata Cássio Santos Oliveira, coordenador
O PAB destaca como artesanato o
Miranda Cunha alinham e ajustam o estadual de projetos em turismo e ar-
trabalho tradicional, que faz parte da
material produzido pelo grupo, tor- tesanato do Sebrae-SP, salienta que o
cultura de uma região e que não seja,
nando a produção artesanal não só atendimento é por demanda e a exi-
apenas, um trabalho manual ou de
um produto cultural, mas um produto gência é que se tratem de produtos
montagem de peças. Já o artesanato que reverta em renda e possa mudar
rural, é o resultante de resíduos de ati- que tenham identidade cultural com
a vida nas comunidades. o Estado de São Paulo ou com uma
vidades agropecuárias, desenvolvido,
tradicionalmente, em comunidades “O artesanato é um estímulo ao determinada região. “Embora não
encontro, funciona como um agluti- exijamos a carteira de artesão emitida
Fotos: Graça D'Auria – Cecor/CATI

rurais formadas por assentados, qui- Os grupos geralmente surgem a


lombolas, indígenas e/ou produtores nador, criando um espaço de diálo- pela Sutaco, nós a recomendamos,
partir de cursos de capacitação pontu-
rurais. Como o quadro da Sutaco é go que proporciona a discussão de pois somos parceiros nesta luta pelo
ais ou das reuniões de gênero, como
pequeno, o órgão atua com apoio de vários outros problemas referentes empreendedorismo do artesão”, co-
os encontros de mulheres realizados
agentes de cooperação em diversos à comunidade; os encontros são um menta o coordenador do Sebrae-SP.
com o apoio das Casas da Agricultura
municípios para que contatem arte- locais e dos escritórios regionais da instrumento de mobilização social”, “O Sebrae trabalha com o forta-
sãos, avaliem o trabalho e providen- CATI. “Uma vez fortalecidos, é hora de argumenta Elenita. E Cacilda comple- lecimento da competitividade, por-
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40 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬41

Associações e Cooperativas de artesãos se ArtBan: artesanato de fibra de


bananeira gera mais renda às
que começamos
a transformar a fi-

fortalecem com o apoio das entidades – Casos


mulheres de assentamento rural bra em artesana-
O que antes era jogado no lixo, to, conseguimos
um complemento
de Sucesso no Litoral e no Interior do Estado
agora é utilizado como matéria-pri-
ma para o artesanato. As fibras con- de cerca de 10%
tidas no caule da bananeira trans- na renda familiar.
Graça D’Auria - Jornalista – Cecor/CATI formam-se, pelas mãos de seis agri- Nossa autoestima
Roberta Lage - Jornalista – Cecor/CATI cultoras, em tapetes, porta-retratos, também melhorou,
pois aprendemos

Roberta Lage – Cecor/CATI


porta-joias, jogos americanos, des-
Oficina de Fibra – artesanato que cansos de panelas, bolsas, agendas e uma nova ativida-
reflete o potencial das mulheres outros tantos produtos. de e até temos uma
artesãs de Mongaguá carterinha que nos
Integrantes desde 2004 do reconhece como
As mulheres da Oficina de Fibras grupo “ArtBan”, as mulheres do
são conhecidas da CATI há bastante artesãs, oferecida
Assentamento I, de Sumaré, en- Terras do Estado de São Paulo (Itesp), pela Sutaco, orgulha-se Roseli Silva.
tempo. Na verdade, há mais de 10 contraram na arte uma maneira de que as assessora para que haja diver-
Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI

anos, quando se reuniram para ela- melhorar a renda, a autoestima e, Para os próximos anos, a expec-
boração dos diagnósticos participa- sificação das peças e maior partici-
ainda, contribuir com o meio am- tativa das agricultoras artesãs é con-
tivos propostos pelo Programa de pação em feiras. Além das modernas
biente. “O forte do assentamento era quistar um espaço próprio no assen-
Microbacias Hidrográficas. Nas dis- técnicas, os tradicionais segredos de
a produção de tomates, uma cultura tamento; obter maquinários para
cussões, viram que poderiam formar família, estão presentes nos produ-
que dava muitas despesas e preju- melhorar o acabamento das peças
um grupo para trabalhar com arte- tos. “Uso o tear e a roca, com técnicas
dicava meio ambiente e produtores e ampliar a participação de outras
sanato feito a partir do pseudocaule que aprendi com minha mãe”, relem-
pelo uso constante de agrotóxicos. mulheres no grupo, para que haja
da bananeira. Desse resíduo, despre- bra Lucinda.
Resolvemos investir na banana e deu diversidade de produtos e maior ren-
zado e fonte de fungos se não for re- certo. Hoje, são mais de 50 mil pés Os produtos ficam expostos no da. Para conhecer o trabalho, basta
tirado do campo, são produzidos os que geram renda para as famílias e Assentamento Sumaré I, nas feiras acessar o site www.artban.net.br
papéis usados na confecção de várias material para o artesanato”, conta regionais, estaduais e nacionais.
peças de artesanato. Esse papel, que Lucinda de Fátima, coordenadora do Uma loja de artesanatos de Sumaré Pérolas do Guarujá – Inovação
ganha cores, texturas e contornos grupo. também é ponto de venda dos pro- no artesanato sustentável
das agendas e blocos, produtos que
variados, é o grande diferencial da dutos ecologicamente corretos. A produzido em couro e escamas
ganharam mais destaque junto aos Para aprenderem as técnicas do
Oficina de Fibras e é com ele que as média mensal de comercialização é de peixe no Litoral Sul
consumidores, e para os cursos de ar- artesanato, as mulheres fizeram cur-
artesãs pretendem dar novo direcio- de 30 a 40 peças e o fim do ano é a
tesanato com papel de fibra, os quais sos e recebem apoio do Instituto de Os maiores desafios para a re-
namento ao empreendimento. melhor época para as vendas. “Desde
passarão a ser oferecidos à comuni- tivadora da associação: cedeu um cém-criada Cooperativa Pérolas do
“O grupo tinha 10 mulheres, hoje dade. Uma nova estratégia, tanto de galpão para o trabalho e alimenta- Guarujá está em mostrar a preocu-
estamos em sete, ao longo desse formação de uma nova geração de ção (elas se reúnem duas vezes na pação com a sustentabilidade no
tempo, houve um amadurecimento artesãs, como de nova fonte de ren- semana e a alimentação fica a cargo artesanato produzido pelo grupo
sobre o que queremos, o que rever- da para a Oficina de Fibra. da prefeitura) e um quiosque em e a conquista dos turistas para a
te em maior renda, e o que é preciso ponto turístico para a comercializa- compra de um produto diferencia-
para diferenciar nosso produto”, con- A proposta surgiu do amadure- do. Para isto, se reuniram artesãos,
ção. Além disso, provê a participa-
ta Ana Paula Correa Ribeiro, atual pre- cimento do grupo, do interesse dos técnicos da CATI, do Instituto de
ção em feiras e eventos e brinda os
sidente da Associação de Mulheres consumidores e das ações de parcei- Cooperativismo e Associativismo
visitantes oficiais com mimos con-
Artesãs da Área Rural de Mongaguá. ros, como a Casa da Agricultura de (ICA), do Laboratório de Design
feccionados pelas artesãs. A Oficina
No início, era muita criatividade em Santos, responsável pelo início da de Fibra ganhou, em 2009 e 2011, Solidário (Labsol) da Unesp/Bauru e
várias peças: abajures, caixas, porta- associação em um projeto conjunto os prêmios da Fundação Banco do da Prefeitura de Guarujá, cidade co-
-retratos, bandejas, capas de cardá- entre a CATI, o Conselho Nacional Brasil de Tecnologia Social, tornan- nhecida como a Pérola do Atlântico.
pio, agendas e blocos. Com o tempo, de Desenvolvimento Científico e do-se uma marca de Mongaguá e or- O resultado pode ser conferido na
verificaram que é melhor trabalhar Tecnológico (CNPq) e o Instituto de gulho de todos que atuaram em con- conquista de um espaço para traba-
com os carros-chefes e demais peças Cooperativismo e Associativismo junto para que se tornasse referência. lhar, cedido pela prefeitura, e na de-
Roberta Lage – Cecor/CATI

sob encomenda e que o diferencial (ICA). A Superintendência do Este ano, elas estiveram entre as re- dicação dos artesãos e membros da
do grupo está na produção do papel Trabalho nas Comunidades (Sutaco) presentantes da CATI, pelo Estado Cooperativa em desenvolver tecno-
de fibra de bananeira. Então, restrin- providenciou a carteira individual de de São Paulo, na Feira Nacional da logias que garantam um ecoprodu-
giram a produção e a criatividade artesãs para o grupo. A Prefeitura de Agricultura Familiar, realizada de 21 to, enfim, “o peixe que querem ven-
é direcionada para texturas e cores Mongaguá tem sido a grande incen- a 25 de novembro no Rio de Janeiro. der”, um dito popular que se encaixa
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42 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬43

Agricultoras artesãs de do “rolinho” (“minhoquinhas” de mas os trabalhos aumentaram e a ra com a divulgação do grupo e
Apiaí trocam a terra da roça argila) que, quando colocadas uma renda me animou a investir no ar- com orientações na comercializa-
Rodrigo Di Carlo– Cecor/CATI

pelo barro da cerâmica e sobre as outras, dão formas aos ob- tesanato. Com os lucros obtidos ção. “Buscamos espaços em fei-
promovem melhoria da jetos. São moringas, assadeiras, pe- com a cerâmica, já consegui refor- ras regionais e nas promovidas
qualidade de vida das tisqueiras, vasos, entre outras artes. mar minha casa, comprar móveis pela Secretaria de Agricultura e
comunidades rurais Depois de moldadas, alisadas e se- e fazer outros investimentos”, ava- Abastecimento. Podemos perce-
cas, as peças são decoradas com a lia. A filha de Lourdes, de 17 anos, ber que o grupo, atento às nos-
A 330km da capital paulis-
pintura feita de barro, de várias co- acompanha a mãe desde os sete
ta, na cidade de Apiaí, a arte, a sas orientações, já está com um
res, e vão ao forno para queimar. A anos. Hoje, além de confeccionar
história e a tradição estão pre- trabalho consolidado e caminha
decoração é inspirada na natureza as peças, cuida da administração
sentes em cada canto, especifi- e o barro dá formas aos utilitários sozinho”, diz Sandra Maria Ramos,
da associação. “O artesanato me
camente em um grupo de mu- de cozinhas, peças de jardinagens engenheira agrônoma da CATI
encanta. É uma satisfação transfor-
lheres agricultoras e artesãs. É e decoração. O artesanato é co- Regional Itapeva. Dois importan-
mar barro em decoração ou obje-
no bairro rural Encapoeirado, já mercializado em feiras, na casa dos tos úteis. Vejo alguns adolescentes tes parceiros são o Instituto Meio
habitado por escravos fugidos, artesãos e na sede da associação. A sem ter o que fazer, e a oportuni- e o Instituto Camargo Corrêa, que
que encontra-se a Associação média mensal de vendas é de cer- dade de atuar em um grupo como desde 2009, por meio de um pro-
Custódia de Jesus da Cruz, cria- ca de R$ 2 mil, e quando há feiras, esse, além de me aproximar da jeto social, passaram a investir na
da em 2003 e formalizada dois chegam a arrecadar até R$ 8 mil. arte, faz com que eu aprenda a im- Associação Custódia de Jesus da
anos depois. Os valores são divididos. As artesãs portância do planejamento, da res- Cruz. Os institutos auxiliaram a as-
recebem individualmente pelas pe- ponsabilidade, de saber lidar com o sociação, a criar logomarca, desen-
O grupo, que também é
ças produzidas e vendidas, e 30% é público. Também consigo comprar volver suas missão e visão, planejar
conhecido como “Arte nas
reservado para os custos fixos da o que eu quero, sem depender tan- suas ações, fortalecer a produção
mãos – Cerâmica de Apiaí”,
bem no artesanato feito com couro O biólogo Diogo veio ao encon- associação. to dos meus pais”, conta Josinalva e a comercialização. Além disso,
surgiu com o objetivo de promo-
e escamas de peixes oriundos da tro e deu identidade cultural ao tra- Maria. oferecem capacitações técnicas e
ver mais uma fonte de renda para Algumas ainda se dividem entre
pesca artesanal da região. balho manual voluntário que já era ajudam a melhorar a infraestrutura
as famílias rurais e como forma de a agricultura e a cerâmica, mas mui- O crescimento da associação
executado por Nereide Aparecida da sede do grupo. “Hoje, o espaço
Foi pensando no peixe que o bi- manter viva a tradição da cerâmi- tas já deixaram o trabalho da lavou- conta com o talento e o esforço
Sampaio, hoje presidente da coope-
ólogo Diogo Borges, especialista ca. “Antigamente, havia mestras na ra e conseguem viver só do artesa- das artesãs, mas também com está maior, mais claro e mais segu-
rativa que reúne 20 artesãos, e resul-
em microbiologia industrial, desen- região que trabalhavam com a ce- nato. É o caso de Lourdes Aparecida importantes parcerias. ro. Aprendemos como calcular os
tou em um artesanato regional, que
volveu e patenteou um processo de râmica. As técnicas eram transmiti- de Camargo, coordenadora geral A Coordenadoria preços das peças, dividir
sintetiza o modo de vida no litoral:
curtimento do couro, sem utilização une turismo, pesca e preservação das de mães para filhas. Quase to- da associação. “Antes conseguia de Assistência as responsabilidades,
de água e/ou produtos químicos, ambiental na região praiana mais das as mestras já morreram e para ajudar mais meu marido na pro- Técnica Integral ter metas e plane-
resultando em um produto atóxico, próxima da grande capital. homenageá-las e dar sequência a dução de milho, feijão e hortaliças, (CATI) colabo- jamento. Nosso
sem cheiro e perfeitamente utilizá- esse trabalho artesanal, criamos foco é manter a
vel em brincos, pulseiras, cintos e A presença do poder púbico jun- o grupo”, explica a artesã Marina tradição da ce-
adereços de modo geral. to às comunidades, reforçada pela Cordeiro, que justifica a formaliza- râmica e levar
atuação do Estado, por meio da CATI, ção em forma de associação. “É uma nossas peças para
Além do resíduo do peixe, que do ICA e do Labsol/Unesp-Bauru, forma de conseguir sustentabilida- todo o Brasil, aju-
passou a ser todo aproveitado (as tem feito diferença no ânimo dos de e visibilidade para a associação dando nossa comuni-
vísceras vão para compostagem), a artesãos e eles sentem que o maior e seus associados”. Hoje, 14 mulhe- dade rural a melhorar suas
palha de milho usada no artesana- desafio é se tornarem conhecidos, res, entre 17 e 57 anos, se dividem condições de vida”, explica Lourdes.
to não vem de cultivo local, mas do referência em artesanato diferen- nas tarefas da associação e, assim Também com a ajuda dos institu-
consumo de milho-verde nas praias. ciado e, finalmente, que isso reverta como na lavoura, usam matéria- tos, a Associação Custódia de Jesus
Dessa palha, recolhida pela prefei- em renda. “Não podemos trabalhar -prima da natureza para gerar ren- oferece cursos de cerâmica para
tura, e do couro do peixe surgem só pelo prazer e pelo apelo do eco- da, se sentirem úteis e oferecerem pessoas da região. “Queremos que
flores, uma das Pérolas do Guarujá, logicamente correto. Para ter susten- produtos de serventia à sociedade. outras gerações aprendam nossas
conta Ricardo Louzada, diretor de tabilidade, precisamos vender mais”,
pesca do município e grande in- Em todas as etapas há um cui- técnicas. Só assim, conseguiremos
DivulgaçãoArte nas mãos – Cerâmica de Apiaí

afirma Diogo Borges. A busca pela


centivador da cooperativa junto parceria com o Labsol ocorreu no dado com o meio ambiente. As manter viva a história do artesa-
com Maria Angélica de Araújo Cruz, sentido de deixar as peças mais atra- mulheres evitam, por exemplo, ex- nato local”. Quando questionadas
diretora de assistência social. Esse tivas para o público, com um design trair o barro das cabeceiras do rio, sobre a receita de sucesso, a res-
viés ecológico está presente em mais moderno e arrojado e com um para não provocar erosão. Outra posta é imediata. “As peças que
todo o artesanato, até o tingimento acabamento melhor, que conquiste característica marcante do grupo é produzimos são criadas com a nos-
das peças é feito com borra de café, os turistas que levam as peças para que tudo é feito à mão, sem o uso sa herança do passado, com o que
urucum, casca de cebola, beterraba, os seus locais de origem, divulgando de tornos ou maquinário. As peças aprendemos no presente e com
entre outros. as Pérolas do Guarujá. são confeccionadas com a técnica nossa esperança no futuro”.
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44 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬45

Agroindústria Artesanal e Artesanato


de Campos, aprendi muito com Exemplo de sucesso. A Indústria Artesanato Rural
o Caetano. Com apoio da Elena e Comércio de Alimentos Guerke, de Em São Paulo, o artesanato está
Klatilova, economista doméstica, da Ocauçu, processa entre seis e oito to- presente em muitas proprieda-

Rural: um pouco de história Divisão de Socioeconomia Rural da


CATI, intensificamos a divulgação do
uso da soja na alimentação, princi-
neladas de embutidos por mês, ten-
do o salame como carro-chefe. Quem
vê as instalações adequadas, os fun-
des como atividade cultural. A par-
tir dos anos 2000, a Secretaria de
Agricultura, em parceria com enti-
Cleusa Pinheiro – Jornalista – Cecor/CATI
palmente entre agricultores e alunos cionários uniformizados e as emba- dades públicas estaduais e federais,
da rede pública”, relembra Djalma lagens finamente desenvolvidas, não passou a estimular ações para trans-

D
esde a década de 1950, a questionar a proprietária sobre como pequeno porte, pois disponibilizava Pires da Silva, engenheiro agrônomo imagina que há alguns anos uma pu- formar essa prática tradicional em
Secretaria de Agricultura e ela preparava, fiquei muito surpresa, conhecimento sobre novos equi- aposentado, que atuou por 35 anos blicação e a participação em um cur- alternativa não agrícola de renda e
Abastecimento tem inves- quando ela falou que nunca tinha co- pamentos e tecnologias, legislação, na instituição, onde realizou capa- so da CATI foram o estopim para o emprego.
tido em uma atuação que envolve mido 'aquilo'!”, conta Lygia Pereira, serviços e produtos para agregar va- citações de produtores e participou início do negócio. “Minha esposa fez
ativamente da criação de dezenas de um curso na Casa da Agricultura. Um As influências dos diversos povos
toda a família rural e não apenas o au- nutricionista aposentada, que por 30 lor à produção. Ela serviu de mode- que formam a riqueza sociocultural
mento da produção. Com a semente anos pesquisou receitas, muitas das lo para outros eventos, incluindo a agroindústrias artesanais. dia, lendo as receitas do livro da CATI,
fiquei muito interessado e decidi in- paulista e a disponibilidade de ma-
lançada por técnicos pioneiros, os quais se tornaram fonte de renda com Feira Nacional da Agricultura e da Após anos acompanhando o tra- térias-primas, têm sido fatores deter-
cursos de processamento artesanal se a transformação em doces, compotas Reforma Agrária (Fenafra) e a Feira da balho do pai, José Caetano, a enge- vestir em uma pequena unidade de
processamento”, conta Emílio Carlos minantes para a diversidade de pro-
tornaram a base para o despertar do e outros; organizou capacitações; e Agricultura Familiar (Agrifam). nheira agrônoma Maria de Fátima dutos oferecidos por esse segmento,
empreendedorismo em várias regi- escreveu diversas publicações. Caetano Prado ingressou na CATI Guerke, relembrando os tempos ini-
Região de Marília: técnicos ciais da agroindústria. “Começamos com sustentabilidade econômica e
ões do Estado. “Em 1960, ao começar trilhando os mesmos caminhos da ambiental. “Os projetos visam abrir
A partir de 1985, a Área de investiram na agroindústrialização com o salame. Até acertamos o
a trabalhar no Serviço de Expansão agregação de valor. “Desde o início, novos mercados, aperfeiçoar e gerar
Nutrição da Dextru intensificou tempero e a forma de comercializar
da Soja, localizado na fazenda Santa tinha em mente que a organização e produtos com identidades locais e
as capacitações de extensionis- foi um grande desafio, com altos e
Elisa, ingressei em um grupo de es- agregação de valor são primordiais regionais, incentivando a organiza-
tas da Rede nos temas voltados muitos baixos, principalmente com a
tudos sobre a utilização da soja na para que o desenvolvimento rural ção dos envolvidos”, salienta Sonia
para o processamento artesanal. dificuldade imposta pela legislação,
alimentação humana, que até então seja eficaz e sustentável. Como já via Juliato Tinoco, responsável, na CATI,
“Foram realizadas capacitações a qual dificulta que muitos saiam da
era utilizada apenas em ração ani- os resultados do trabalho do meu pela articulação com os integrantes
visando ao aproveitamento do informalidade”.
mal. Em 1967, com a criação da CATI, pai e do Djalma, solicitei à direção da da cadeia produtiva de artesanato.
excedente da produção, tais
passei a atuar no Departamento de CATI e fiz muitos cursos para orientar Apesar dos problemas iniciais,
como cursos de conservas de A partir de 2007, a Dextru passou
Extensão Rural (atual Divisão - Dextru) os produtores na gestão da proprie- a família Guerke não se intimidou
frutas e hortaliças, de deriva- a coordenar as atividades em todo o
e também comecei a trabalhar em dade, incentivando a organização e diante das adversidades. Com muita
dos do leite, de embutidos e Estado. “Iniciamos com um projeto
outras frentes, com receitas cujos in- diversificação das fontes de renda”, criatividade e acompanhamento téc-
defumados etc.; a maioria com no município de Gália, na região de
gredientes eram abundantes nas pro- ressalta Fátima, que atualmente é a nico dos extensionistas da CATI, os
o apoio dos pesquisadores do Marília, onde um grupo de mulheres
priedades e que, apesar do alto valor diretora da CATI Regional Marília. gargalos da comercialização foram
Instituto de Tecnologia dos Régia, Djalma e Fátima comemoram o sucesso dos cursos
nutricional, não eram valorizados na corrigidos, a empresa foi regulariza- foi capacitado com recursos do go-
Alimentos (Ital), o que contri- Outra agrônoma, que fez da
alimentação. Lembro de uma visita Na década de 1970, o engenhei- da, se tornando uma fonte de gera- verno do Estado, para confeccionar
buiu para a formação dos nossos ex- capacitação e implementação de
a uma propriedade onde havia uma artesanato com casulos do bicho-da-
tensionistas, que se tornaram agentes ro agrônomo José Caetano Sobrinho agroindústria de pequeno porte, o ção renda. Com isso, novos produtos
grande quantidade de berinjela; ao -seda, matéria-prima oriunda de uma
multiplicadores dessas tecnologias, (já falecido) levou para as comuni- centro de seus mais de 30 anos de foram desenvolvidos e a marca vem
atividade tradicional no local”, escla-
adaptando-as à pequena produção”, dades, as quais atendia na Casa da trabalho na CATI, foi Régia Aparecida ganhando espaço nas gôndolas da
destaca Beatriz Cantusio Pazinato, Agricultura de Ourinhos, mais que região e de outras localidades do rece Sônia, informando que, em 2008,
Carpanezzi de Almeida. Das suas
nutricionista da Dextru, explicando receitas para aumentar a produtivi- Estado. o Ministério do Desenvolvimento
“salas de aula” improvisadas em cen-
também que, na década de 1990, dade das lavouras. Munido de co- Agrário solicitou levantamento de
tros comunitários, igrejas, sítios etc.,
esses cursos passaram a ser obriga- nhecimento e paixão pelas tradições grupos produtivos de mulheres ru-
saíram “fornadas” de novos empre-
tórios na programação das Casas da culturais e alimentares, introduziu no rais no Estado. “Constatamos que na
endedores. “Acompanhar a história
Agricultura. “Em função do elevado menu das atividades técnicas cotidia- maioria dos grupos, a agroindústria e
de pessoas que se mantiveram na
número de produtores capacitados nas, utensílios e receitas caracterís- o artesanato eram as atividades mais
atividade rural, com renda e digni-
e da disponibilidade das matérias-pri- ticas, que além de trazerem comida importantes”.
dade, após aprenderem técnicas e
mas nas propriedades, essas ativida- mais saudável para o prato das fa- receitas que transmitimos não tem Após essa identificação, a CATI
des acabaram se tornando embriões mílias, também lançaram a semente preço. Acredito que a agroindústria passou a viabilizar a participação de
de pequenas agroindústrias familia- para o segmento da agroindústria de artesanal é um dos principais fato- diversos grupos em feiras institucio-
res ”, completa Beatriz. pequeno porte, que se tornou uma
Fotos: Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

res de contenção de êxodo rural e nais e em outros eventos, com o ob-


grande alternativa de renda e empre- descapitalização em muitas regiões jetivo de ampliar a visibilidade dos
Em 2001, a CATI inovou im-
go nessa região, bem como nos mu- do Estado”, conta emocionada a produtos e o acesso ao mercado para
plementando a Feira da Pequena
nicípios no entorno de Marília, onde agrônoma, que mesmo aposentada, o segmento. “A partir daí, surgiu uma
Agroindústria. “Essas feiras, realizadas
atuou posteriormente. continua difundindo seu conheci- demanda de ações relacionadas com
até 2004, foram um marco na exten-
são rural paulista e serviram para valo- “Quando entrei na CATI, em 1974, mento em cursos em várias regiões planejamento, capacitação e comer-
rizar e alavancar as agroindústrias de na Casa da Agricultura de Bernardino do Estado. cialização”, ressalta Sonia.
46 ‫ ׀‬Casa da Agricultura

Aconteceu
Recuperação de áreas degradadas é tema de
atividades em Presidente Prudente
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Microbacias II – Acesso ao mercado


Em setembro, o governador Geraldo Alckmin anunciou
o repasse de recursos de R$ 15,1 milhões para 38 propos-
tas de negócios, aprovadas na primeira chamada pública
e contempladas pelo Projeto de Desenvolvimento Rural
Sustentável Microbacias II - Acesso ao Mercado. O Projeto
é da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, executa-
Nathália Sena – CATI do pela CATI e pela
Coordenadoria da
Biodiversidade e
Recursos Naturais,
da Secretaria do
Meio Ambiente De 17 a 19 de outubro, foram realizadas em Presidente
(CBRN). Prudente, atividades com o foco na recuperação de áreas
degradadas. Um curso básico em sistema agrossilvipasto-
Estima-se que ril foi oferecido pela CATI e parceiros para cerca de 30 téc-
cerca de 1.200 nicos. O objetivo foi o nivelamento dos profissionais para
famílias sejam atuarem em um padrão de excelência.
beneficiadas di-
retamente em di- Também foi realizado, na Universidade do Oeste
ferentes cadeias Paulista (Unoeste), o 1.º Fórum Interestadual de Integração
produtivas como Lavoura-Pecuária-Floresta, organizado pela CATI Regional
leite, olericultura, Presidente Prudente, em parceria com a universidade e
café, mel, fruticul- empresas do setor. O evento reuniu cerca de 500 pesso-
tura, dentre outras, com empreendimentos voltados para as entre produtores, técnicos de extensão rural, empresas
a implantação de agroindústrias, logística de transporte, do agronegócio e comunidade acadêmica. Para encer-
processamento e criação de marca. rar o ciclo de atividades, os participantes do Fórum e da
capacitação visitaram, no dia 19 de outubro, a Fazenda
Seminário Paulista de Extensão Rural – evento Ybyeta Porã, localizada no município de Rancharia, onde
culmina com a criação da Associação Paulista de verificaram os resultados positivos, após a implantação da
Extensão Rural (Apaer) integração lavoura-pecuária em terra de baixa fertilidade.
O seminário, organizado em setembro pela CATI, con- Feileite
vidou para debate expoentes de instituições nacionais Foi realizada, de 19 a 23 de novembro, no Centro de
de Assistência e Extensão Rural. O ponto alto do evento, Exposições Imigrantes, em São Paulo, a 6.ª edição da Feira
que reuniu 250 participantes, foi a criação da Associação Internacional da Cadeia Produtiva do Leite (Feileite). A
Paulista de Extensão Rural (Apaer), entidade de caráter Feira reuniu mais de dois mil animais de raças leiteiras,
técnico, científico e cultural, que terá a função de promo- provenientes de criatórios de todo país, e cerca de 20
ver estudos, debates e análises que fortaleçam os serviços mil visitantes envolvidos com o setor. Sua programação
de extensão paulista. incluiu concursos leitei-
Entre os desafios e perspectivas apontadas, foi desta- ros, leilões de animais e
que a necessidade de integração, incentivada por ações diversos eventos para-
pluri-institucionais que atendam à Política Nacional de lelos ligados ao setor.
Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER). Outras Um desses eventos
questões, foram a formação continuada dos extensionis- foi o I Congresso Via
tas e a maior troca de informações e experiências entre as Láctea, onde especia-
universidades e listas apresentaram e
os órgãos de ex- discutiram o panorama
tensão, para que da atividade leiteira. O
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

as pesquisas e os Projeto CATI Leite foi Zznperes

conhecimentos apresentado por técni-


gerados tenham cos da instituição, que mostraram a atuação em todas as
respaldo e aten- etapas de produção: pastagem, reprodução, diagnóstico
dam às deman- de doenças, enfim, tudo o que está ligado à produção lei-
das. teira com qualidade.

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