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Resumo
Uma tendência que está ganhando maior espaço na pesquisa educacional é o uso do termo “Epistemologia”.
A presente pesquisa, ainda em andamento, visa analisar as posições de diversos autores sobre esse assun-
to. A pesquisa está se realizando tendo como base o levantamento bibliográfico, e as reflexões do próprio
autor do trabalho sobre essa tendência.
Debruçando-se sobre a interface entre a Esse autor considera que o termo “Epistemologia”
Epistemologia e a Pedagogia, MENESES DÍAZ (1992) é empregado atualmente tanto para se referir à Filosofia
ressalta que o termo “Epistemologia” aparece pela pri- da Ciência como à Teoria do Conhecimento, tendo esta
meira vez em 1854, sendo empregado por Ferrier para ser última um sentido mais amplo. A Epistemologia das Ci-
oposto à noção “Ontologia”. Este sentido não é de todo ências da Educação está ainda por elaborar-se, se aceita-
congruente com a significação literal presente em sua raiz mos a definição de Piaget como “o estudo da constituição
grega, que interpreta-se como discurso da ciência: dos conhecimentos válidos, de uma ciência particular”,
episteme. Tal incongruência persiste quando apesar de seu pois quase nada tem-se feito a respeito. Da mesma forma,
significado literal, o termo não refere-se ainda assim, sem- na sua visão, se entendemos a Epistemologia como sinô-
pre ao mesmo objeto: às vezes designa uma teoria geral nimo de “Teoria do Conhecimento” ou “Filosofia da Ci-
do conhecimento, às vezes uma teoria regional do conhe- ência”, que significa um estudo crítico das ciências em
cimento, a saber uma teoria do conhecimento científico. geral, sobretudo de sua validade, então tem-se dito e es-
Mas, o problema do conhecimento é a pedra angular da crito muito sobre Epistemologia e Educação, em particu-
Epistemologia. Na sua opinião, em todo momento coe- lar sobre a controvérsia na pesquisa educacional entre os
xistem diversos sistemas e correntes em torno do conhe- paradigmas “quantitativo” (positivista) e qualitativo
cimento. Na Filosofia Antiga, com Platão e Aristóteles (hermenêutico ou crítico).
principalmente, pode-se encontrar reflexões próximas ao
Neste contexto, cabe assinalar, também, que cons-
epistemológico, ainda não teorias no sentido estrito, sim-
tatamos que alguns estudiosos usam o termo “Filosofia da
plesmente colocações nas que subjaz uma determinada
Ciência” e não “Epistemologia”. Por exemplo, desde a
concepção epistemológica.
concepção “estruturalista” da ciência de MOULINES
Por sua parte, JIMENEZ LOZANO (1992), dis- (1994), a principal característica da ciência é estar for-
correndo também sobre as questões epistemológicas da mada por teorias, entendidas estas como “entidades abs-
Educação, sustenta que o conhecimento humano é consi- tratas” que não existem de forma isolada, mas que for-
derado como objeto de estudo da Filosofia desde a Anti- mam “redes”_ termo que está ganhando mais espaço nos
güidade. A Filosofia ocupa-se dele, de maneira muito trabalhos na área de Educação_ ou “holones”. A Filosofia
ampla, mas não é senão após a Idade Média, com o rápido da Ciência, estuda os “nós” e as “cordas” que conformam
desenvolvimento das ciências nos Séculos XVI e XVII, a ciência, ou seja, ela tem como tarefas identificar e re-
quando esta doutrina converte-se em uma disciplina filo- construir as teorias particulares e suas relações.
sófica específica e independente, que no século XIX rece-
Uma posição contrária ao uso do termo de “Filoso-
be o nome de “Teoria do Conhecimento”. No século XX
fia da Ciência” é de THUILLIER (1975) que prefere usar
nasce a Filosofia da Ciência como disciplina filosófica
o termo “Epistemologia” e não “Filosofia da Ciência”, já
que tenta substituir a tradicional teoria do conhecimento.
que para ele, o termo “Filosofia da Ciência” pode ser en-
Paralelamente, ele adverte que o termo “Filosofia Ainda que não seja recente refletir
da Ciência” pode ser entendido como o “imperialismo da epistemologicamente sobre a Educação, só nos últimos
Filosofia”, preferindo usar o termo “Epistemologia”. Esta tempos é mais comum na pesquisa educacional, usar o
doutrina tenta responder questões do tipo: Como se cons- termo “Epistemologia” para fazer referência às reflexões
titui uma teoria científica? Qual é o papel na prática cien- filosóficas sobre o conhecimento, à relação sujeito - obje-
tífica do contexto ideológico e social? Na sua opinião, o to, às estratégias de pesquisa, à interface teoria - prática,
objetivo da “Epistemologia” é estudar a gênese e estrutu- à cientificidade dos conhecimentos educacionais etc. Atu-
ra das teorias científicas a partir do ponto de vista lógico almente, na área educacional se faz menções, entre ou-
e também histórico e sociológico. O conceito de tras, à “Epistemologia Social” (FULLER, 1991) e
“Epistemologia” é de fato empregado de múltiplos mo- “Epistemologia Feminista” (HARDING, 1990). Contudo,
dos: varia de acordo com a região e país, em função do constatamos que essas perspectivas têm emergido, princi-
uso em que é empregado, servindo para designar uma te- palmente, não do pessoal que trabalha com Didática,
oria geral do conhecimento (de natureza filosófica), ou Psicopedagogia, Administração educacional etc. Portan-
estudos mais específicos sobre a gênese e a estrutura das to, é ainda muito mais relevante, salientar a emergência
ciências. entre os educadores de tendências como as de
“Epistemologia Educacional” (SÁNCHEZ GAMBOA,
Uma das posições que está ganhando maior espa-
1987), “Epistemologia Pedagógica” (GARCÍA CARRAS-
ço na pesquisa educacional, é a “Teoria Crítica”, que tem
CO; GARCÍA del DUJO, 1995), “Epistemologia das Ci-
uma grande inspiração marxista. Assim, na pesquisa, ob-
ências da Educação” (DIAS de CARVALHO, 1994) e
servamos que a maioria dos autores que partem desta po-
BECKER (1994). Assim, coincidimos com HOYOS
sição, utilizam o termo “Epistemologia”, como se isso fosse
MEDINA (1992), quando diz que é um bom indicador
unanimidade entre os marxistas. Para nós, convém res-
que a comunidade pedagógica procure apoio na
saltar que na filosofia marxista, e em particular na prati-
“Epistemologia”, já que isso sem dúvida dar-lhe-á me-
cada no “bloco socialista”, não era muito usado o termo
lhores elementos para o exercício de suas atividades.
“Epistemologia”. O conhecimento científico era aborda-
do sobretudo pelo Materialismo Dialético, e especialmen- Na pesquisa educacional brasileira é nos anos 90
te nas partes relacionadas com a Teoria do Conhecimento que estão começando a ter maior espaço as discussões
e a Lógica Dialética e nos denominados “Problemas Filo- epistemológicas. Nesse sentido, cabe entender essa ten-
sóficos das Ciências Naturais”, “Problemas Filosóficos das dência, como parte de um contexto no qual a pesquisa
Ciências Pedagógicas”, “Problemas Filosóficos das Ciên- educacional tem tido diversas oscilações. Diversos auto-
cias Agropecuárias”, “Problemas Filosóficos das Técni- res no Brasil têm discorrido sobre as dificuldades da pes-
cas” etc. Pode-se apontar também que nos países socialis- quisa educacional neste país.
tas durante muito tempo o estudo interdisciplinar da ci-
Um dos primeiros trabalhos epistemológicos fei-
ência era considerado como pertencente à “cienciologia”,
tos sobre a pesquisa educacional no Brasil, é o de
disciplina que estudava os fatores internos e externos que
SÁNCHEZ GAMBOA (1987). Esse autor tem entre seus
influem no desenvolvimento da ciência, para influir na
referenciais principais as categorias marxistas do “histó-
tomada de decisões, no planejamento, organização, e di-
rico” e do “lógico”, sua própria Dissertação de Mestrado
reção da ciência.
Referências bibliográficas
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