NA PoNTA DA I-íttGUA Louis-Jean Calvet

1. Estrangeirismos
- guerres em torno da língua
Carlos Alberto Faraco [org.], 3 u ed.

As pgjíticas
2. Língua materna
- letramento, variação e ensino
Marcos Bagpo, Miúael Stúbs & Gilles Gagté,3u ed.
3. História concisa da lingüística
'W'eedwo
Barhara od, 4u ed.
'4,:, Sociolingüística
- am& introd.ação crítica
Louis-J earL Calvet, 2" ed.
5. História concisa da escrita
Charles Higounet, 2" ed.
Para entender a lingüística
LINGUISTICAS
elementar de uma disciplina
- epistemologia
Robert Martin, 3" ed.
7. Introdação aos estados cwltarais
Armand Matt e7art, Érik Neveu, 2u ed.
8. A pragmdtica
Françoise Armengaud
9. História concisa da semiótica
Anne Hénault
10. Hlstória concisa da semântica
Tradução r
Irène Tamba -Mecz
lsneeL DE Ollvelnn Dunnrr
n. Lingüística computacional teoria & prática
Gabriel de Ávila Othero e Sérgio de Moura Men uzzi JoNns TeNrrN
jLingüística histórica ïJma introd.wção &0 estudo da
',,72. Mnncos Bne No
história das línguas
Carlos Alberto Faraco, 2^ ed. Pref acior
13. Lwtãl clm palavra,s
- coesão e coerência
Irandé Antune s, 2u ed.
GwnN Mürlrn DE Olvnlnn

14. Análise d,o discarsl Históría e práticas

Francine Mazière
-
15. Mas o que é mesn+o "gramática"?
Carlos Franchi
16. Análise da conversação: princípios e rnétodos
Catherine Kerbrat-Orecchioni
77. As políticas lingüísticas
Louis-J ean Calvet ffigmffi** "Lr"
 Título original: Les politiques linguistiques
O Louis-Jean Calvet
@ IPOL - lnstituto de Políticas Lingüísticas, Florianópolis, SC

Eorron: Marcos Marcionilo

Cnpn E pRorEro cnÁrrco: Andréia Custódio
RevrsÃo: Telma Pereira
Consrlxo EDtroRtALz Ana Stohl Zilles [Unisinos]
Corlos Alberto Foraco tUFPRI
Egon de Oliveira Rangel IPUCSPI
SUMÁRIO
Gilvan Müller de Oliveira [UFSC, lpol]
Henrique Monteogudo [Univ. de Santiago de Compostela]
José Corlos Sebe Bom Meihy INEHO/USPI
Konovillil Rojagopalan [Unicamp]
Marcos Bagno [UnB] PREFACIO
Morio Marta Pereira Scherre [UFRJ, UnB]
Rachel Gazolla de Androde [PUC-SP]
Salma Tannus Muchoíl tPUC-SPl capítulo.I; NAS oRIGENS DA PoLÍTICA
Stella Maris Bortoni-Ricardo [UnB] LINGIIISTICA ...t.. ....... 11
ct P-BRAS| L. CATALoGAçÂo NA TONTE
I. Nascimento do conceito e seu campo de aplicação .. 12
SINDICATO NACIONAT DOS EDITORES DE IIVROs,

cl6e
RJ
tr. O primeiro modelo de Hau{en...... ........... n
Calvet, LouisJean, 1942-
m. A abordagem "instlrumentalista": P. S. Ray e V Tauli 25
As políticas lingüísticas / LouisJean Calvet; prefácio Gilvan rV O se$undo modelo de Hau$en...... ............ n
Müller de 0liveíra ;tradução lsabelde 0liveira Duarte,Jonasïenfen,
Marcos Bagno. - 5ão Paulo: Parábola Editorial : 1P01,2007.
V A contribuição da sociolingüísttca"naíva" ..... ........ n
. -(Na ponta da língua ; 17)

Capítulo IIt.AS TIPOLOGIAS DAS SITUAÇOES

ïradução de: Les

lnclui bibliografia
politiques linguistiques
PLURILINGUES ...... ......... 37
I sBN 978-8s-884s6-60-0 I. Ferguson e Stewart.... ...... 38

1. Linguagem e línguas - Aspectos políticos. 2. Linguagem

I[. As propostas d.e .. ..... .. ... ...
Fasold ...... ..... .. M
e línguas - Política governamental.3. Planejamento linguístico. l. m. A {radede Chaudenson...... ...... ....... 49
lnstituto de Políticas Lingüísticas. ll. ïítulo. lll. Série.
Conclusão. ...... 58
07-247. CDD:3ffi.449

capítulo III.
cDU 316.7481
OS INSTRUMENTOS DO
Direitos reservados à
PLANEJAMENTO LINGúSTICO ...... ................. 61
PARÁBOLA EDITORIAL
Rua Clemente Pereira, 327 - lpiranga
I. O equipamento das línguas ............ ffi
04216-060 São Paulo, SP A escrita ...... 63
Fone: [1 1] 691 4-4932 | Fax: l11l 6215-2636
home page: www.parabolaeditorial.com.br O léxico ....... 65
e-mail: pa ra bolaEpara bolaed itorial.com.br A padronizaçã0,........ 67
Todos os direitos resenndos. Nenhuma parte desm
obn pode ser reproduzida ou
Do "in vívo" p&r& o "ín vitro" ...... 6B
tansrnitiúporqulquerfurnadouqrniquer neios(deúônkoounrecânico,irduindo
fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados serrì
tr. O arúiente lingüístico ...... n
permissfu por escito da Paníbola Editorial Ltda.
m. As leis lin$üísticas ...... ............ ...... 74
ISBN: 978-85-88456-60-0 Nornear a língutã . 7B
@ desta edição: Parábola Editorial, São Paulo, julho de 2OO7 Nornear es .funçõ es .......... BO
 AS PoLíTrcAS LrNcüísncns

Princípio de territorialidade 0u de personalidade? 81

O direito à língua u
Conclusão. .....,.o.... ............ 85

capítulo fv: A AÇÃo soBRE A t txcue (o coRpus) 87

I. O problema dalíngua nacionalnaChina ....... 87
tr. Intervenção no léxico e na orto grafiade uma PREFÁCIO
Iín$ua: o exemplo do francês ............ .............. 93
Os " decretos lingüístic0s "......... 93
As leis lingüísticas 93
A ortografi& .......... 95 Faz pouco tempo que o termo 'política lingüísti-
As indústrias da língu&....... 100 ca' e st â cu culando de ma neff aminimamente siste mâtt-
m. A fixação do alfabetobamb atanoMali ................ 101
ca no Brasil, contr ariamente ao que ocorre em vários
M A "revolução lingüís ttca" na Tur q1J1a.................. 108
V A padrontzação de umalínSua: outros países latino -americanos, notadamente na Ar-
o exemplo da Norue$a .... .......................... 112 gentina ou nos países andinos. Na metade da déça-
da de 1980, por exemplo, fui aluno de um hacharela-
Capítulo v: AAÇÃo SoBREASLNGUAS (o s?hrus) 177 clo em lingüística em uma importante universidade
I. A promoção de uma línguaveicular: o caso da brasile Lra, com várias âreas de estudo, e não tive ne-
Tanzàrua... ...... ...... 7I7
nhum contato com o termo ou a disciplina.
tr.A promoção de uma língua minoritârra: o caso da
Indonésia .. ... .. .. ... .. ... .. .. o.. .. ...... ....,. 722
É que 'política lingüística', enquanto disciplina
m. A pazlingüísttcasuíça ...... ............................. 126 nascidarLasegunda metade do século XX, como Calvet
M A defesa do statusinternacional de uma ríngua: mostra nesta inttodnção, está associ ada ao plurilin-
o exemplo do francês ............ ......... 130 güismo e a sua gestão. Está associ ada a mudanças polí-
Na Europe...:..... 132 ticas que levaram a a\tetações no estafuto das diver-
A francofonia 136
siìs comunidades lingüísticas que integr am a cidada-
O francês no rnundo r4t
v A substituição deumltnguacolonial: os inícios rria, como ocoÍreunaesteira do processo de descoloni-
daarúização na Africa do Norte...... ....... r45 ,rrç,ão da Ás La e da Afrtca a pai:trr dos anos 1950, en-
No Marrocos 148 tt'c outros.
Na Tunísiã ........,. 150 No Brasil, onde a ideologia da'1ín$uauntca', des-
Argélía
Na ;............. 152
tlc: te mpos coloniais, tem camuflado a realidade pluri-
CONCLUSÃO ...... .................. 157 lírrgiïe clo país, paÍe cralnaveÍ pouco lugar para as ques-
Irirrs crnpíricas e teórtcas levantadas pelos estudiosos
161
tlirs políticas lingüísticas. O consenso em torno da lín-
INDICEDENOMES.... ...... ...... 165 ptnr tinica 'todos os brasileiros se entendem de norte
-
g AS PoLíTlcAS LlNcÜísrlcns
a sul do país, poÍqu e falampoÍtuguês [alguns acrescen-
tartam: "e aqui não há dialetos"] tem sido ampla-
mente hegemônico, inclusive em muitos quadros uni-
versitários, comprometidos, eÍn $rande parte, com a
execução de mais esse item do 'projeto nacional'brasi-
leiro. Note-se, poï exemplo, que até a sociolingüística
majorttanamente prattcada no país é uma sociolingüís-
ttca das vaúâveis e varlantes do porfuguês
ciolingüística do monolingüismo, portanto.
- uma so-
Nas duas ílttmas décadas, entretanto, o panora-
rna das reivindicações dos movimentos sociais, a di-
versifi cação de suas pautas, o crescimento das ques-
tões étnicas, regionais, de fronteira, culturais, torna-
ram muito mais visível que o Brasil é um país consti-
tuído poÍ mais de 200 comunidades ltngüísticas dife-
rentes Qüe, a seu modo, têm se equipado para partici-
par da vid a política do país. Emerge em vários fóruns
o conceito de 'língiuas brasileiras': línguas faladas por
comunidades de ctdadãos brasileiros, histort caÍnente
assentadas em terrttório brasileiro, parte constitutiva
da cu1 ttn abrasile 7ra,independentemente de serem lín-
guas indígenas ou de imigraÇão,línguas de sinais ou
faladas por grupos quilombolas. Emergem tanbém
olhares inovadores sobre o próprio português, nasci-
dos dos novos papéis que o Brasil desempenha em
contexto regional e mundial.
O crescimento desses movimentos sociais e a tea-
ção do Estado a essas reivindicações vão tornando dia
a dia mais claro o âmbito das Íesponsabilidades das
políticas lingüísücas seus métodos e interesses. So-
bretudo, vão tornando mais claro que 'política lingüís-
ttca', para além de uma multidisciplina constituída de
pnerÁcro 9
conhecimentos técnicos de lingüística, antropologia,
sociolo 1ia, histórta, direito, economia, politologia, mo-
btrtzados par a a analise das situações lingüísticas é, como
diz Lta Yarcla, uma prâtrca políttca, associada à inter-
venção sobre as situações concretas que demandam de-
cisões políticas e planifi cação de políticas públicas.
O livro de Calvet vem, assim, effi um bom momen-
to. E um livro que temoménto da apÍese ntaçãoconceitual
sistemâttca, necessámano atual momento das discussões
políticas envolvendo as Línguas do Brasil e as ações polí
tico-lingtiísticas do Estado. Ap orta, akém disso, análises
de situações político-lingüísticas em várias partes do
mundo, mostrando com isso soluções pÍoduzidas em
planejamento de clrpus e em planejamento de status das
línguas, seus limites e possibilidades.
E umacontributção importante parao que temos
chamado de 'virada político-lingüística': o movi-
mento pelo qual os lingüistas (mais que a lingüística)
passam a trabalhar junto com os falantes das línguas,
apoiando tecnicamente suas demandas políticas e cul-
turais. Deixam de atuar no campo da 'colontzação de
saberes' para atuar no que Boaventuta Santos chama
rle 'comunidade de saberes', e passam do campo uni-
versitário ao campo dos conhecimentos pluriversitá-
rios, o que prÌoúza a pesquisa-ação sobre uma visão
tlc pesquisa que tem tratado os falantes das Línguas co-
rno meÍos informantes descartáveis ) rtma vez que o
Srrrvador capfrxe o 'dado' lingüístico
Calvet define a lingüística como o estudo d.as co-
nrrrrridades humanas aftavés da língua. Em outro con-
Ir:xto, afirma que são as lín$uas que existem para seÍ-
vir iros homens e não os homens païa servir às lín-
 :!iri#i.':,. llJliiì*,,, r!1i;riil::,:, diffi,

t0 AS POLíTICAS LINGÜíSTICNS

$uas. Sua obra vai se estrufrxat centralmente eÍn tor-

no a essas rnáximas, descrevendo os conflitos huma-
nos e procurando d.esenvolver uma conceiítação para
a compreensão dessas situações que tern sua "questão
teórica primordial levantada pela própria idéia de
CAPíTULO I
política lingüística": em que rnedida o homem pode
intervit naL:rrgua ou nas Iínguas? NAS ORIGENS DA
Gu,vex Miru,nn DE OLrrruRA
POIíIIcA LINGÜíSTICA
IPOL, Florianópolis, julho de 2007

A intervenção humana na língua ou nas situa-

ções lingüísticas não é novidade: sempre houve indiví-
duos tentando legislar, ditar o uso correto ou intervir
na forma da língtra. De igual modo, o poder político
sempre privilegiou essa ou açpela lín1tta, escolhendo
governar o Estado numa língua ou mesmo impor à
maiorLa alíngua de uma minoria. No entanto, a Hpkfi:
(determrnação das grandes decisões re-
%_,!íngüística
ferentes às relações entre as ltnguas e a sociedade) e o
planejamento. lingüístico (sua implem entação) são con-
óeitos recentes que englob aÍn apenas em parte essas
prâttcas antiÉas. Se observarmos, por exemplo, que a
escolha de um alfabeto para umalíngua se origtna da
política lingüística, isso não significa que Cirilo e Me-
tódio, ao crtarem o alfabeto glagolítico (ancestral do
cirflico), ou que Thonmi Sambhota, ao definir o alfa-

.
Traduzimos o francês planffication por "planejamento", termo
muito mais empregado no português brasileiro do que "planific ação" (é
o caso, por exemplo, do Ministério do Planejamento) (". do E.).
12 AS PoLíTrcAS Lr NG ü
beto tibetano, tenham escrito um capítulo da historia
da políttca lingüística. Da mesm a Ínanletra, se em ce?
tos países, como a Turquia ou a Indonésia, alínSaa do
Estado foi forj ada pela interv enção súre umalíngua já
existente, para rnodernizâ-la, adapta-Ia às necessida-
des do país, não colocaÍemos no mesmo plano os inven-
tores de línguas artificiais (ido, esperanto, volapuque
etc.), cujas criações, na Ínatorua das .vezes, nttnca saí-
Íam do papel. A política lingüística é inseparâvel de
sua aphcação e" é a esse binômio (potítica lingüística e
planejamento lingüístíco) que é dedicado este livro.
Neste primeiro capítulo, acompanharemos o apa-
recimento desse binômio, que se deu na segunda me-
tade do sócu1o XX, e mostrarcmos as relações que e1e
estabelece com as questões políticas dessa época.
I - Nascimento do conceito e seu campo
de aplicação
O sintagma language planning, traduzido para o
português poÍ planejancento lingüístíco, ap)afeceu em
1959 num trabalho de Einar Haugenl sobre os proble-
mas lingüísticos da Noruega. C autor procutaya mos-
trar nesse trabalho a intervenção normativa do Esta-
do (por meio de regras ortogr âftcas, poÍ exemplo) para
construir uma identidade nacional depois de séculos
de domin açã,o dinamarquesa. Hau$en retoma esse
mesmo tema em 1964, d.urante uma reunião organi-
zada por William Bright, na lJniversidade da
1. E. Haugen,, "Planning in Modern Norway", in Anthropo-
logical Linguistícs, I/3, 1959.
ísncns NAS oRTGENS DA polírrcn LrNGüísrrcn t3
Califó rÍrLa, evento que Ínarca o surgimento da socio-
lingüístiçaz. Na mesma ohra, encontra-s e tarúém um
texto de Ferguson sobre as national profile formwlas,
que discutiremos no capítulo seguinte e, observando a
lista dos particrpantes (nrigtrt, Hau1an,Labog Gump erz,
Hymes, Sarnatttt)Fer$uson...), podemos dtzer que fal-
tava apenas Fishman para completar o "tiÍne" que
repÍesentarta, nos anos 1970 e 1980, a sociolingüísti-
ca e/ou a sociologia da lin guagem nos Estados tlni-
dos. Desse modo, .o "planejarnento lingüístico" recehe
seu batismo na mesm a época que a sociolingüística, e
pouco mais tarde será definida por J. Fishman como
s o ciolingüíst tca ap\tcada3 .
Em seguida, Fishm ãn, Ferguson e Das Gupta
publicam eÍn 1968 uma obra coletlaa dedtcada aos
problemas lingüísticos dos países em via de desenvol-
vimento, e durante o ano universitário de 1968-1969,
quatro pesquisadores (|yotirindra Das Gupta, Joshua
Fishmân, BjôrnJernudd eJoan Rubin) rcúnem-se no
East-West Center do Havaí para refletir sobre a natu-
reza do planejamento lingüístico. Eles organizam) en-
tre os dias 7 e 10 de março de 1969 , rtma reunião so-
bre o mesmo tema, para a qual foi convidado um Êru-
po de pessoas (antropólogos, lingüistas, sociólogos,
economistas...) que ja haviam trabalhado no campo
2.E. Haugen, "Linguistics andLanguage PlanninÊ", in William
lìright (org.). Sociolinguistícs. La Haye: Mouton, 1966.
3. J. Fishman, Sociolinguistics. Rowley, Mass.: Newbury House
I'rrblishers, 1970.
4. Joshua A. Fishman, Charles A. Ferguson, Jyotirindra Das
Gupta, "Language Problems of Developing Nations", írL Amerícan
Artth.ropologist, New Series, vol. 73, no 2 (Apr., 1971), pp. 404-405.
14 AS PoLíTrcAS LtNGüÍsrlcns
da política ou do planejarnento lingüístico. Esse en-
contro deu origem a uÍna ohra, Can Langaage be
Planned? ("alín1uapode ser planej ada?"), qúe fazuma
análise do estado da questão na épo caí.
J. Rubin, J. Das Gupta, B. Jernudd, J. Fishm an e
C. Ferguson: temos aqui o "bando dos cinço" an$ófonos
que perrnaneceriaÍn) durante anos, no centro da refle-
xão sobre esse novo campo (veremos mais adiante que
os mesmos temas serão igualmente úardados por pes-
quisadoÍes fr ancófonos, germanófono s e hispanófono s) .
É posswel acompanhar os progressos do planejamento
lingüístico sobretudo através das púlicações de uma
coleção (Contribwtions to the Sociolngry of Language)
dirigida por Joshua Fishman na editora Mouton. De
fato, em poucos anos, essas publicações reunir am uma
impressionante concentração de trabalhos:
- Adva,nces in Languãge Planning, editado por
J. Fishmân, 1974;
- Langaüge and Politics, editado por William
O'Barr e Jean O'Barr, 7976;
Selection &mlng Alternates in Language
- virriedade, não ftcarão muito longe dessa visão. Em
Standardization, the Case of Albanian, deJanet
Byron, 1976;
- Languege Planning for Modernizatíon, the Case
of Indonesian arcd Malagsian, de S. Takdir
Alisjab aÍta, 1976;
Adv&nces in the Study of Societal Multilin-
- gwalism,
editado por J. Fishmãfr, 7977;
5.Joan Rubin, BjornJernudd (orgs.). Can Language be Planned?
Honolulu: The lJniversity Press of Hawai, L971.
N A s 15
"
ï'.:.;ï)n.,'' ),:;:' ;': ;,,,,,
s e s,e ditado p o r r
Rubin, B. Jernudd, J. das Gupta, J. Fishmãfr,
C. Ferguson, 7977;
Adv&nces ín the Creatian andRevision of Writing
Systerns, editado por J. Fishmâfr, 1977;
Colonialisrn and Language Polícy in Vietnam,
de John DeFrancis, 1977 etc.
Por esses títulos, é possível perceber uma espécie
de resumo da histónado conceito, e apresença de uma
alternância entre uma aborda$em mais gerd, e estud"os
cle caso (a Albâni à, ãIndonésia, aMalasia, o Vietnã...).
Paralelamenta, â noção de política lingüística apa-
rece em inglês (fishm ân, Sociolingwistícs, \970), etn es-
lranhol (nafael Ninyoles, Estructura social y polítíca
linguistíca,Valencia, 19 75), em alemão (F{elmut Glück,
"Sprachtheorie und Sprach(en)politik", OBST, 18, 1IB1)
(ì em francês. Em todos os casos e em todas as defini-
ções, as relações entre a política lingüística e o plan eia'
rrre nto lingüístico são relações de subordinação: assim,
l)irra F'ishmâfl, o planejamento é a apltcaçáo de uma
política lingüística, e as definições posterioÍes, em sua
l1)94, por exemplo, Pierre-Étienne Laporte apresenta'
ril ir política lingüística como um quadro jurídico e a
1'1:(lr'ganização lingüística como um conjunto de ações
"(lu(: fem por újetivo esclarecet e asse$uraÍ determi-
rr;rrlr t status artma ou mais línguas"6. De fato, no inter-
vrrlo, iì mar$em da corrente pred.ominante, apatecem
íi. l'it:rre-Etienne Laporte, "Les mots clés du discours politique en
iun(',nnFlrrtrn:rrt linguistique all Québec et au Canada", in Claude Truchot
f rrrp. ), Lr piluriliryp,Lismn européen Paris: Champion, 1994,p.97-98.
 ,;:litlììq:;,rriiiilir',;ì,,',, ;;ìih*giii"*,

I6 AS POLTTIcAS LtNGÜÍsrlcns NAS oRTGENS DA polírtcn LINGüísrtcn 17

outras denorninações: arnénagenxent linguistíque no rle tdéta, o term o glotopolítícas aparecerâ em francês,
Québec, nzrmelizaçãl na Catalanha; cada úÍna delas criado por Marcellesi e Guespin, com definições im-
com efeitos de sentido particulares e irnpor tãncta llrecisas, sem que essa inovação terminológica cause
desigual. Os catalães por exernplo (prim ettaÍnente rlrna alterução no campo conceifual considerad.o.
Lluis Aracil, depois o conjunto de pesquisadores agru- Nesse conjunto de textos e de análises, é preciso
pados sob a classtficação de "sociolingüística catalã"), observ aÍ uma importante diferen ça de ponto d.e vista
pÍocutaram distin gutr a ruzrrnalização da substitui- cntre os pesquisadores amertcanos e os pesquisadores
ção ou da assírnilaçã0. I{um conflito lingüístico no curopeus. Os primeiros têm tendêncLa a acenfriar sobre-
qual o espanhol era aLíngua dorninante e o catalão, a tudo os aspectos técrncos da intervenção sobre as situa-
Língua domin ada, eles julgar am rnais conveniente çires lingüísticas consti tuída pelo planejamento, questio-
"trotmaltzar" Ltma sifuação "afiormal". Na realtdade, rrando-se muito pouco a respeito do podet qúe ha por
trata-se mais de um prograÍna político do que de um trás dos decisores. O planejamento thes parece muito
conceito: em face do espanhol imposto pelo poder mais importante do que a política e tem-se, às Yezes, a
franquista, os lingüistas cataTães milrtavampara qlle impressão de que eles fantasram a possibilidade de um
rl a nejamento sem política. O sintagm alangweg e planning
sua língua fosse promovida às funções até então ocu- 1

padas pela língua do Estado. Os quebequenses, por pôcle assim cobrir sozinho, durante muitos anos, um

sua vez) preferem aménagernent. linguistiqae a pla- rlomínio que teve origem visivelmente nessas duas ações,
cornplementares decerto, mas que é preciso distinguir
nejamento (planification) para evitar fazer referên-
c()rn cuidado: as decisões do poder (a política) e a passa-
cia à intervenção planejadora do Estado. Neste caso,
gr:ttt à ação (o planejamento). E* contraparttda, os pesr'
não se ftata em absoluto de uma diferença teónca,
rltr isadores euÍopeus (franceses, espanhóis, alemães) pa-
mas, sim, de uma questão de embalagem: apresenta-
rr:ccrn mais preocupados com a quesffio do poder, embo-
,!

se o mesmo produto com outro nome; e Rainer Enri- ',"t'

nr os sociolingüistas cataTães se sifuem num sistema de

:..1."

que Hamel tem tazão ao salientar que "os três tet

sulrstitutção de um poder por um outro. "te

mos - planejamento, nzrma,lização e arnénagernent -

Por outro lado, o período durante o qual apare'
se referem ao mesmo núcleo conceitual, mas se dis-
(rr:nr na literatura cíentífica essas noções e as tentati-
tinguem pelas suas conotações"7. Na Ínesma ordem

,ï. A glotopolítica é essencialmente o problema da minoria

. (Mnrt,trllosi, "De la crise de la linguistique à la linguistique de la crise:
O termo aménagement deriva do verbo arnén&ger, "attanjar,
dispor, arrumar" , e não tem equivalente exato em porfu$uês no senti- ln er n,ir rlinguistiqrte" , in La Pensêe, no 209, 1980) ou e1a atnda "desig-
do usado no Québec para tratar da política lingüística (n. do E.). nê ur.i rlivt:r'sos enfoques que uma sosiedade tem da ação sobre alíngua,
7. Rainer Enrique Hame1, "Politicas y planificación del lengu àja" ,
qr:is r'ln rionÍisiente ou não" (Guespin e Marcellesi, "Pour 1a gloto-
in Iztapalapa. Mexico: no 20, 1993, p. 11. lrrrlilirlrrt:", irr: Langages, flo 83, 1986).
 --
ï8 AS poLíTrcAS
Lr Nc ü
vas de equacionar as situações de plurilingüisrno
(diglossia, fórrnulas tipológicas. . .), que discutiÍeÍnos
no capítulo seguinte, têrn aver coln as questões da épo-
ca. os primeiros textos de Haugen (sobre o pLaneja-
mento lingüístico na No ruega) e de Ferguson (sob re a
diglossia) datam do mesmo ano, 1959, e durante as
décadas de 1960 e 7gr0 as publicações nesses dois
campos se multiplicam. Ora, trata-se do período que vem
imedi atamente após a desõol onrzaçao de inúmeÍos
/1t.
países afrtcanos e asiáticos, e o título de uÍna das pri-
meirás obras publicadas nesse domínio, Languege
Problems of Developíng Natíons (New york, 196g), é
característico do campo conceifual no qual nasce essa
disciplina. Paralelamente, observa-se o aparccimento
de reflexões sobre as relações entre língua e naciona-
lismo (]oshua Fishm ân, Languege and, ÌrTaüonalísm.
Rowley, Mass.: Newbury House publishers, rgZz),
sobre a situa ção lingüística das antrgas colônias (Louis-
Jean calvet , Linguistique et colonialisme petit traité
de glotophagie. Paris: Payot,
-
rgí4), sobre a situa
ção da
língua catalã, na Espanha (Aracil, Ninyoles). Em can
Language be PlannedT (tgZr), os estudos de caso re-
metem à lrlanda, Israel, Filipinas, Afríca orien tal,
Turquia, Indonésia, Paquistão: em todos esses traba-
thos, temos a impressão de que a ênfase é dada aos
países novos , recém-independentes e em vias de de-
senvolvimento, como se a política lingüístic a não dis-
sesse respeito aos países europeus. E, no início dos
anos 1990, uma coleção de obras public ada na Fran-
ça, sob a direção de Robert Chaudenson, alu drcâpelo
seu título ("Langlles etdéveloppement") à obr ade 196g
referida açtma: a polítrça lingüística parece ter nasci-
ísncns políncn
NAr, oRrGEN s DA LINGüísrtcn 19
tlo como resposta aos problemas dos países em "vLa
tlc tlesenvolvimento" ou das minorias lingüísticas.
Mais tarde, os problemas lingüísticos do Qu éhec,
bctn como aqueles suscitados nos Estados Unidos pela
irrrigração de hispanofalantes e, posteriormente, os que
rrpÍrrecem na Europa com a construção da Comunida-
tlc Econôrnica Européia, mostrarão que política e pLa-
trc.iamento lingüísticos não estão vinculados soÍnente ao
tlcsenvolvirnento ou às situações pós-coloniais. O texto
fundador de Haugen sobre a Noruegabastariaparacom-
l)rovar ç[ue as relações entre lín$ua(s) e vida social são
rlo mesmo tempo problemas de identidades, de cultura,
tle econornia, de desenvolvimento, problemas dos quais
ttenhum país escapa. E perceberemos que hâ também
uma política lingüística da fuancofonia, da anglofonia
L:tc. Desse ponto de vist ã, â emergôncia de novas nações
terâ simplesmente servido como um revelador.
Reiteremos: tratamos aqui da emergência de um con-
ceito, o de pútica/planejamento lingtiístico, ç1ue implica
ao mesmo tempo uma abordagem cientÍfica das situações
sociolingüísticas, a elúoração de um tipo de intervenção
sobre essas sifuações e os meios paÍa se fazer essa inter-
venção. Podemos encontrar prefigurações de carâtet ín-
eontestavelmente cientÍfico entre os lingtiistas do Círculo
cle Praga, por exemplo, que intervierarnno campo da pa-
clronização do tchecoe, ou em Antoine Meillet, que expri-
rniu seu ponto de vista súre a Europa lingüístical0. Mas
9. Ver D. de Robillard, L'aménagement línguistique: problématí-
qu,$ et perspectives. Provença: IJniversidade de Provença, 1989, pp.
5:Ì-71, tese.
10. Louis-Jean Calvet, A. Meillet, "La politique linguistique et
I'l'iurope: lesmains sales", inPlurilinguismru. Paris: CERPL,flo 5, 1993.
 polírtcn LINGÜísrtcn 2l
20 AS POL|TICAS LINGÜíSTICNS NAS oRIGENS DA

(os bretões
trata-se' nesses casos, apenas de prefrgwações, que prefe- po rninor rtârto do interior de u.m Estado
quíchuas no
rimos não úordar nesta breve apresentação histórica. na Fra nÇã,poÍ exemplo, ou os indígenas
Estado
nquador) pode fazer o mesmo. Mas apenls 3
tem o podãÍ e os meios de passar ao estági"
II - O primeiro modelo de Haugen
1: !**;
E
jamenio, de pôr em prâttca suas escolhas políticas'
de políticas
Quando o term o planníng, "planejarneÍtto" , sur- ï"; isso eúc, sem excluir a possibilidade (é por exem-
ge na literatura lingüística, ele é tomado em seu senti- lingüísticas que transcendam as fronteiras
reu'
do econômico e estatal: determinação de objetivos (u* plo o caso da francofonia, mas trata-se de uÍna
lingüística pertinente
plano) e a aplica ção dos meios necessários para atin- nião de Estados), nem a política
(as lín$uas re$io-
gir esses objetivos. Desse modo, pode-se falar do pla- às entidades menoÍes que o Estad.o
1íLa Ínaror
nej arnento da rcatalidad"e, do planej aynento da ec0n0- nais, poÍ exemplo), devemos admitir Qüe,
são iniciativa
rnia etc. Nos anos 7920 e 1930, só a União Soviética parte ão, casos, as políticas lingüísticas
no seio d,o
dispunha de um pl,ano, e é essencialmente na segunda clo Estado ou de uma entidade que disponha
(com o a catalurúa,
metade do século XX que essa prâtica se generalur,olJ. Estado d.e certa autonomia política
Mas essa generalização se constituiu sobre princípios a Gali za o1J o País Basco na Espanha). .
diferentes. De fato, é preciso distinguir o planejarnen- o modo como Hau$en, em sua comuflcaçao fia
a noção de
to ind,icativo ou incitativo, baseado no acordo entre as reunião de Los An$eles em 7964, definiÍa
campo
diferentes forças sociais, do planejamento imperativo, planejamentg mostra que e1e se situava nesse
que implica a socialização dos meios de produção. O icleológico:
primeiro é aquele praticado nos países ocidentais, o da necessida-
o planejamento é umaatividade humana decorrente
se$undo car actertzarta os países do Leste. Nesses dois pa13um problema' E1e pode ser
de de se encontr ar rrnasolução
casos, entretanto, esse planejamento tem pontos em e ad, ho c, maspo de também set ot$anaa'
completamente informal
comum: é nacional, repousa sobre a análise de pers- do e deliberado.
pode ser executado poÍ indiúduos particulaÍes ou
pectivas a médio e long o prazo, passa pela elabor ação ser oficiar. (. . .) se o planejamento forbem
feito, ele compr eenderá'
e depois pela execu ção de um plano, poÍ fim é susc eti- de dados, a escolha de planos de
etapas tais como apásq'isa extensa
e sua aplicação11'
vel de avaltação. ações alternativos, a tãm adadedecisão

O aspecto "nacioïtal" ou "estata|" da políttcalin- pÍo-

De fato, Hau$en partiu essencialmente do
güística, que aparcce aqui, é um traço importante de e da padrontzaçáo. Ele ci-
lrl*rra da noÍma lingüística
-o
sua definição. Efetivamente, qualq-uer grupo plde ela- (qut
trrvrr'r)or exemplo, {ramâtico indiano Panini
borar uma política lingüística: uma diáspora (or suÍ-
dos, os ciganos, os falantes de iídiche...) pode se reu-
nir em congresso para decidir uma polític â, e um gru-
zz As PoLÍTtcAS LtNcüísrtcns
viveu no século IV antes de Cristo), ou ainda os
gram'âticos gregos e latinos, defïnindo o planejamento
lingüístico como "a avaliação da mu dança lingüísti-
ca". Consciente das contradições entre essa aborda-
$em e as posições decididarnente descritivas e não
normativas da lingüística, eLe afirmava que o planeja-
mento lingüístico devia ser uÍna tentativa de influen-
crat as escolhas em matéria de língua, situando-se as-
sim, implicitamente, ao lado daquilo que defini acima
como planejamento indicativo. Além disso, suas refe-
rências passavarnpela teoria da decisã0, essencialmen-
te utilizada no campo da "adrninistração" oü, se pre-
ferirmos, da gestão econômica. Nesse domínio, utili-
za-se geralmente o modelo de Herbert Simon, que dis-
tingue quatro fases:
diagnóstico de um problema;
con cepção das soluções possíveis;
- escolha de uma das soluções;
- avaliação da solução tomada.
E o plano escolhido por Haugenpata apresentar
o planejamento lingüístico inspirava-se diretamente
nesse modelo, uma vez que ele analisava os diferentes
estágios de um planejamento lingüístico como um "pÍo-
cedimento de decisão": os problemas, os decisores, as
alternativas, a ava\iação e a aplicação.
Para ele, tod.os os przblema.s se reduzem ao caso
-
gerul da não-comunic ação: pode haver um fracasso
relativo, quando os interlocutores falam formas dife-
rentes da mesma língua, oü fracasso total, quando os
interlocutores não falam a mesma língua.
- Os decisores. Quem dispõe de autoridade sufi-
ciente para dirigir e controlar a rnud ança lingüística?
NA"; ORIGENS DA POIíTICN LINGÜíSTICN 23
llrruge n constata inicialmente que a 9pa.rição das pri-
llrciras gramâtrcas e dos primeiros dicionários das lín-
grlus modernas coincide nos séculos XV e XW com a
$nrcrgênci a de países ricos e poderosos. É, pot exem-
prlo, o caso da gramattca de Nebrij a elaborada para o
espirnhol (t+SZ), da fundação da Academia Francesa
lx)r Richelieu (1635) etc. Em seguidã, à partir do sécu-
lrr XIX, os progressos do ensino e a difusão da literafr*
rü tornam necessâna uma padronização das línguas e
observa-se o aparecimento de indivíduos empenhados
em normaírzaÍ sua lín$ua: Fréderic Mistral em telação
ao provençal, Aasen em rdação ao dinamarquês, Korais
ern rel ação ao gre$o etc. Esses homens, esses primeiros
"planejadores lingüísticos", considerados poÍ Hau$en
Çomo meio lingüistas e meio patriotas, eraÍnindivíduos
isolados, oa ohradeles tem avef com iniciativa indivi-
dual. Ao conlrâno, â intervenção sobre a língua ínca
clccidida por Atattirk se vincula à ditadura, e podemos
cncontrar entre esses dois extremos toda uma varied-a-
dc de organizaçóes ç1ue interviefam na lín$ua: igrejas,
r*ociedades literárias ou científicas etc.
As alternativ as. H;art$en destaca primeiramen-
te que, mesmo havendo $rupos menores çlue a "rraçâo"
(como os galeses) ou maiores ç1ue a "Íuação" (como os
.iucleus, eüe têm problemas lingüísticos), é no seio da
"rração" qlte Se encontram oS meios ofïciais pafa se de-
nenvolveÍ um planejamento lingüístico. Em seguid.a,
fïrrendo referència às funções da lín$ua propostas por
.f rrkúsofl, Haugen
explica que a lín$ua nâo seffe ape-
nas pata transmitir informação, ela também dtz coisas
sobre o falante, sobre o grupo. A função de comunica-
ção leva à uníformídade do código , iâ a função da ex-
 2 4 As PoL[TrcAS LtNcüÍsrrcns
pressão, ao contTâlrro, leva à sua d,íversif;caçã.o.Isso se dá
porque o objetivo do plan ejamento não é necessariamen-
te gerar um código uniforrne: ele pode visar à diversida-
de ou à uniformidade, à rnudança oí à estúilidade.
A avaliação das diferentes soluções passa pela
-
identificação das formas lingüísticas envolvidas paraque
sejam fixados os limites nos quais é possível intervir.
Convém saber se existe urfla ou mais norÍnas, se existe
utna ortografra, ou mais de uÍl1a. Enfim, é preciso dotar-
se de cnténos objetivos qúe, em relação com as finalida-
des visadas, permitirão a escolha da solução. De manei-
ru geral,, segundo Hau$en, uma forma lingüísttca é efrcaz
se for fâcil de aprender e fâcil de utilir,at.
A aplicação,Haugen destaca que os decisores são,
-
no final das contas, os usuários da ltngua, e que são por-
tanto eles que precisam ser convencidos a aceitar a solu-
ção escolhid.a. I)esse ponto de vista, o indivíduo quase
não tem relevância, a não ser aquela que the é dadapor
sua autoridade pessoal ou cientifica. Em contrap afitda,
o governo controla o sistema escolar, as mídias; e para
ele a melhor estratégtaconsiste em introduztÍ areforma
lingüísíca escolhida por meio da escola.
É possívelçpe o leitor deste texto fique surpÍeso com
o fato de que Haugen, àquela época,ttão estivesse criando
nada de novo. Conhecendo bem a história lingüísttca da
Noruega, e\e adotou alguns conceitos da economia fulane-
jamento), da administração (teoria da decisão) e os
cou nos exemplos de intervenção do Estado sobÍe as"ú-
lín-
guas (Noruegã, Gtécta, Turquia etc). Assim, âo propor
um novo sintagm à, o planej amento lingüktico,Haugen não
chegou acrra! um conceito novo, mas delimitou sobretudo
um domínio de atividade, sem desenvolver qualquer crttt-
*'qqffiF
il
NAs oRTGENS DA polírtcn LtNGüísrlcn 25
c{l aos conceitos adotados. Mais precisamente, Hau$en
(luase não questiona o problemado poder, das relaçóes de
fbrça de que dão testemunho as relações lingüísticas. Isso
lxde seÍ em pafie explicado pelo fato de ele não ter levado
ern conta o plurilingüismo, os problemas de relações entre
as línguas, mas também pelo fato de estar vinculado a
uma concep ção liberal ameflcana do planejamento. Ele
também não levantou o prúlema do controle democrâtt-
co sobÍe as decisões dos planejadores, considerand.o que o
listado deve escolher e apltcar a solução que the parcça
melhor para resolveÍ um problema. IJá' de fato ) em fudo
isso, a exportação e a aphcação mecanicista de mod.elos
rrtilizados na economia liberal e na administração de em-
presas, sem nenhuma anáhse socio\oEga das relaçóes de
força que se encontram em jogo.=Nessa época) o planejn'
mento lingüístico se limitava essencialmente à proposição
ele soluçõesconcefnentes à padrontzação das hnguas, sem
que os vínculos entre línguas e sociedades fossem verda-
eleiramente levados em conta.
IU - A abo rdagem "instrumentalista":
P. S. Ray e V. Tauli
I{ão faltam definições que apÍesentam a Lín$ua
c()mo um "instrumento de comunicação", sendo fâctl
ohscrvaf o carâter restritivo de tais definições, que ig-
llorflm aquilo que é essencial nalín11Ja, isto é, seus
víttettlos com a sociedade. As abordagens estruturalis-
tnn rla língua foram crtadas com base nessa restrição,
r iïri çontra ela que se desenvolveu umanovamaneira
tle nlro rdar os fatos das línguas, que foi batrzada de
"Ê{xrirrlingüística", mas que constitui de fato altn$uís-
 26 AS polírrcns LrNGüísrrcns
L tica no sentido amplo, indo a fundo nas implicações
da definição da ltnÊua como "fato social'1
Encontramos esse enfoque instrumentalista em
alguns trabalhos que maÍcam a emergênci a da política
lingüística. Assim, Punya S. Ray, numa obra public ada
em 196312, insistia no carâter instrurnental da lín gúa,
considerando que seu funcionarnento podia ser aperfet-
çoado pela intervenção na escnta, na gramâttca ou no
léxico. Sua aborda$em erarelativamente simplista: por
um lado, pode-s e avaltat a eftcâcta de uma híngua, sua
racionalidade, sua normalização e poÍ outro, apefieiço-
at a língua a partir
desses diferentes pontos de vista
como se troca uma peça defeituosa de um a mâquina.
Essa manetÍa de consid ef ar a língua como um
instrumento que pode ter o funcionamento aperfeiçoa-
do é passível de crítica, mas acontece que o problema
da avaliação (neste caso das línguas, mas também das
situações lingüísticas) estará no centro das reflexões
prévias a uma intervenção planejadora. Como medir
o grau de eficâcia de uma ltngua? Essa questão, que
está no centro da int ewenção de Ray, está evidente-
mente mal formul ada e) portanto, ftca sem resposta.
Uma língua não é, em si mesma, racional ou eftcaz;
ela responde ou nã o a necessidades sociais , ela segue
ou não a progressão da demanda social. O problema é
saber em que medid a a organtzação lingüística de uma
socied ade (ur línguas ern contato, seus domínios de
uso etc.) responde às necessidades de comun tcação
dessa socied ade, mas essa abordagem era dificilmente
12. Punya s. Ruy, Language standartization: studies in
Prescriptive Linguistics. Haya: Mouton, 1963.
27
:: ;;* ;:::; ilïï1e60, dian,e da ausên
r'irr rlc formalização da sociolingüística nascente.
Valter Tauli se situ a namesrna linha ao propor, em
lll(i,tt, uma "introdução auma teoria do planejamento
lirrgtiístico"l3. Certamente ele faz, âQffi e ú, algumas re-
li.r'ôncias à nafufezasocial daltngua, como que por obri-
tlrrÇiìr), mas paruele a língua é essencialmente um instru-
rrrrrlrto, ilo sentido mais banaldo termo, um instrumento
llode ter seu funcionamento aperfeiçoado, sendo esta
(
ll to
n lrrrefa do planejamento lingüístico. Em 1962, ele ja
nl)r'osentava essa posição com veemência:
Uma yez qlJe altnguaéuminstrurnentl,isso significa que uma
língua pode ser avalíada, alterada, corrigi da,regulada,melhora-
cla e novas línguas podem ser criadas à vontadela.
Mas como avaltar uma língua? Tauli imagina essa
irvlliação baseado no modelo do decatlo, compettção
t.slrrrrtiv a em que os atletas concoÍrentes recebem certo
Ir rirnero de pontos segundo seu desempenho em dez
Irrotlalidades diferentes. Mas essa metáfotanão the for-
nrìco os meios para avaliar globalmente umalíngua, e
t'lc rr rcduz a uma abordaÉem pontilhista, selecionando
rrlgrrns domínios, demonstrando um dogmatismo sur-
l)r'condente. Assim, para ele, a ordem "t7orma|" das
lrrrhvras na frase é a ordem sujeito-verbo, a distinção
t:rrtre masculino, feminino ou neutro é inútil e absur-
13. Valter Tauli, Introdactíon to a TLteory of Languege Planning.
llp;rslla: Almqvist & Wiksells 1968. O livro vinha sendo redigido
rlrsrIt: 1962,
14. Yalter Tauli , "Practtcal Linguistics: the Theory of Langua$e
'lrrrurirrg", in Horace Ed. Lunt (org.) ,Proceedings af theÌXinth Congress
f
,f l,irtqu,ístics - Cam,bríge, 1962. Haia: Mouton, t964, p. 605.
28 AS polírrcns LrNGüísrrcns
da, a escrita deve seÍ aLfabéttca e fundamentadarll;lma
análise fonoló gtca etc., e o papel do planejador será,
modifi caf o instrumento línguapara aproximá-lo dessa
normalidade. "O planejamento lingüístico", aftrma
Tauli, "é uma atividade cujo objetivo é o aperfeiçoa-
mento e a crtação de lín$uas"ls.
Se as posições de Ray e Tauli, às vezes no limite do
absurdo, aproximam-se de um irnpasse, elas também
demonstram os laços entre o grau de conceitualtzação
ao qual chegou a lingüística e o modo de teonzação do
planejamento lingüístico. Esse instrumentalismo se tor-
nou possível graças a vma lingüística que analisav a a
língua de um ponto de vistatnterno, fazendo abstração
de seu aspecto social, e suas posições, às vezes cari cafri-
rais, assinal avaÍn aa mesmo tempo os defeitos e as li-
mitações dessa lingriística.
O leitor terá percehido Qüe, até aqui, os teóricos
do planejamento lingüístico patectam se interessar
apenas pela Língua, poÍ sua padrontzação, poÍ sua
"melhoÍia", e isso ocorÍeu também poÍ conta da lin-
güística estrutural, de sua abordaÊem interna. Mas o
planejamento lingüístico logo vai se interessar poÍ
outras questões, passar dos problemas de forma aos
problemas de estatuto, evolução paralela à da lingüís-
ttca, que lentamente ia se tornan do sacioltngüística.
IV - O segundo mod"elo de HauÉen
Em 7967, Hetnz Kloss propôs a distinção entre
"Iín$ttas Abstand" (em alemão: "distâÍtcia", "afasta-
15. Op. cit, p. 608.
nâ=, nfr lí,t N:i DA polírrcn LINGüísrrcn 29
nrr-nln") tr "lín$uas Ausb&u," (a*
alemão: "desenvolvi-
tirrulrl"): rlc um lado, as lín$uas percehidas como isola-
rlat,, iÍrtlt'llcnclentes, e, do outro, aquelas çlue são peïce-
l rir l;rs ('onlo lín$uas próximas, de umamesm a farrtfltal6 .
'l'al rlili:r'(ìn ciaçao não deixou de reperc:utir nas ques-
tíir.r,irlt: planejamento lingüístico. Assim, o $rego por
Ë=ïr'lrr1rlo,, Iín$ua ",Lbstand" , como o basco ou o htSn$a'
Ir r, I tit( r (Ìt'rl considerado como tnte$rantede um continÍLurn
"Auúau" como
rlr' vru'irrçries, ão contrârio das lín$uas
u rtirliinlo, o espanhol, o portu$uês ou o francês, ou
dlrrrlrr r:onlo o alemão, o dinamarquês, o inglês, o ho-
lrrrrrltls; (ì essa diferença de status tem incidências cla-
tnrr n(lli problemas lingüísticos da Europa. De fato,
lrirrlr' srr irrraginat a divisão dos países da Comunidade
l',r',nurrrica Européia em dois $rupos: um de lín$uas
p"r'r rrrrirritrirs e outro de Línguas românicas; mas o $re$o e
rr lrirsrrr Íìcam fora dessa classificação... Dois anos de-
lxrr:i, ltkrss introduztlJ uma distinção entre o planeja-
*tïntrt rlrt (:orf)us e o pl,anejatmento do statttsl7, que tena
IÍ'frt'f t'rrssões importantes. O planejamento do clrpus
âi; r rl;rt'iorrava às intervenções na folma dalíngua (cri-
rrq'rtr r r lt' u ma escrita, neol o$ta, padro ntzação. . .), en-
l,1llan
rluÊr r rlu ,, ejamento do status se relacio nava às in-
lç,r vrnçocs nas funções da lín81Ja, seu statas social e
ãrrrrri rt'l;rções com as outras lín$uas. Assim, é possível
rfrrr' :rr rlucira mudat o vocabulário de umalín$ua, citat
lln\',ts p;rllrvras, ltttar contra os empréstimos: tudo isso
ll; I ltrinz Kloss, "Abstand Languages and Ausbau Lan{ua$es",
i*i ltrtltr tt1nilr4r1ical LangttAges, no 9, 1967.
Iï. I lt:inz Kloss, ResearcLt Possibílitíes on Group Bilingualisnc: A
li , g4t1í (.)r rtilróc: CIRB, 1969.
30 AS PoLíTrcAS LrNGüísrcAS ffr- ilttt(,t NS DA políilcR LINGÜíSrtcn

pertence à esfera do corpus; mas é possível também que

b) sintaxe terminologia
se queira mo dtficar o status de um alíngua, pfornovê-la b) desenvolvimento
c) léxico
à função de ltngua oficial, introduzt-la na escola etc., e estilístico
isso se relaciona ao status. Essa distinção ampliou con-
sideravelmente o campo da políttcalingúística e se dis- l'rrt'rt ilustrar esse esquema, vejamos o exemplo
tanciou notavelmente da úorda$em instrumentalista rlntir't't:lo cla Indonésia. O primeiro estágio é constituí-
que acúamos de evocar. rlrr 1rr.tl r:scolha de uma norma: identifica-se o pÍúle-
Observamos desde então, na literafrxa relativa ao Ila (rstrigio Ia), a qLtestão aqui era saber qual lín$ua
planejamento lingüístico, umatendêncra a apresentar as rerin {t língua do Estado e) neste caso, o rnalaio foi
diversas operações em termos dicotômicos; começando Fãr'irllritkr para substituir aLíngua colonial, o holandês
por Haugen que, em 1983, retomou essa distinção e a
leEtrïp{ir t lh). Essa decisão foi tomada em 7928, du-
integrou a seu mode1o18. Sua apresentação pode ser re- t'ruitr unla reunião do Partido Nacional Indonésio, ou
sumida no esquema seguinte, Qüo cruzaas noções de statws
reirr, lrr:lrr antes de a Indonésia proclamar sua inde-
e clrpus com as noções de fornca e fwnção dalíngua: lleutlrlrr:ia. Temos, neste momento preciso da histó-
Função
!lrr, unt c:xemplo de políttca lin$üística que não pôde
Forma
(planejamento (cultur a da língua) rel lrrrstlr cm prâttca, pois, como af:lrmamos, o plane-
lingüístico) l*tttr t tlo ltrecisa do Estado.
N t rttt se$undo momento, eSSa Hngua seria padro-
Sociedade 1.Escolha 3. Aplicação (processo tiir,arlrr nos níveis gráÊtco' sintático e lexical (estâgros 2
(planeja- (processo de educacional)
mento do a) correção fi,|t. ,'). () malato era, de fato, uma 7ín$uaveiculat de
decisão)
statws) b) avaltação frrr nrns Íltrtuantes e convinha ftxar-lhe uma norÍna.
a) identificação
I lrrur vezresolvidos os problemas formais, passou-se
do problema
b) escolh a de uma Êtnn prnlrkrrnas funcionais: difusão da forma estabelecida,

norma r r rr I rr.'rto' rtvali ação (sa,b).Mas é claro que isso só poderia

*=r Ír'ilu tlcpois da independência, eÍn 7946.

Língwa 2. Codificação 4. Modernízação
(planeja- (padronizaçao) (desenvolvimento l,'irr;rlrnente, eSSa implementação exigia que altn-
mento do a) trans crição funcional) $rrn lr r:isrr "tnoderntzada", out seja, que fossem criados o
rp
coruws) 8râfica aì mod ernizacão
ça da ïnr'alruhil'io e a estilística necessários às novas funções
rfu*' r'lrt iriir preencher. Desse Ínodo, inspirando-se pre'
18. Einar Haugen, "The Implementation of Corpus Flanning: fe*'Itr'i;tItttcnte em palavras malaias, ou em palavras
Theory andPr acúce",inJuan Cobamúias Joshua Fishman (orgs.), Pr ogr ess
;
rl* nrrtnrs lírrguas locais ou de outras línguas asiáticas,
ín Languege Planning. International PersTcectives. Haia: Mouton, 1983. n lrrrrrr isi Uahasa Indonesia (Comitê da Lín$ua
32 AS PoLÍTrcAS LINGüísrtcns
Indonésia) elaborou o vocabul arLo funcional dalíngua,
rehattzada como bahasa indonesía (língua indonésia).
Vê-se Qü0, nesse esquema, o percuÍso do planeja-
mento lingüístico esboçado por Haugen (do estágio 1, es-
colha d.e uma norÍna) ao estágio 4, modermzação da lín-
$ua) se apresenta, aos mesmo tempo, como técntco e
burocr áttco: há um decisor (geralmente o Estado) que
escolhe uma língua parapreencher determinada funçáo
(a função oficial, poÍ exemplo), ç1ue confia a especialis-
tas a tarefade codificar essa língttae que depois operacio-
naltzasua escolh a (aTtnguapassa a ser uLútzada em dife-
rentes níveis do aparelho do Estado: ensino, meios de
comuni cação etc.) , fazendo eventuais coffeções na esco-
tha etc. Mas não ocoÍïe em nenhuma parte desse esque-
rna a menor crítica em relação aos pÍocessos de decisão,
nenhuma sugestão de uma possível consulta democr âL:'-
ca junto às populações envolvidas ou ainda de um con-
trole democrático dos estágios 1 (.rcolha) e 2 l{r rl rr r'f l,n font, ro lado dos occitanosle ; Lambert-Félix
(codificação): se a 1ínguapertence àqueles que afalam, o
problema da língua apffiece aqlJL como uma questão de
Estado, e isso geraem algumas situações, como na Fran-
ça, conflitos entre esse Estado, os falartes da hínguanacio-
nal e as minorias lingüísticas do território.
V - A contribuiqão da sociolingüística"nativa"
Pelo que vimos até agora, os teóricos e, às yezes,
os técnicos do planejamento lingüístico não estavam
pessoalmente implicados nas situações nas quais in-
tervinh aÍn seu status era o do especialis ta que obser-
va uma situação, a avalta, faz propostas de mudança
ou de reorganrzação e, eventualmente, as apltca. Utili-
N^:; oRTGENS DA polírrcn LrNcüísrlcn 33
r,rrrrrlo uma metâfara médtca, eles a$tan como um ci-
rirr'gião que abte um coÍpo, constata o mal e opera. A
r u'igi rralidade da contributção dos sociolingüistas cata-
l{rrs, occitanos e crioulófonos se deve ao fato de Qüe,
nrrsscs casos, o cirur$tão era também o pactente, e de
r t rrr tcoria e ptáttca est avaÍn estreitamente Lt$adas.
f
A situação da Catalurtha, sob o franquismo, po-
rlrt'irr ter servido de exemplo a FergusoÍI, quando ele
alu'(:scntou seu conceito de diglossia: o espanhol era
nli ir variedade alta, alínSrta do Estado, da escola, da
frrr,;liçir etc., enquanto o cataTãa,vatiedade batxa, esta-
1'Íl r'(:sorvado à comuntcação famtltat, ínttma. Mas
l'ì'r plnson tinha uma visão estática da diglossia, que
tirlr irl)r.ì recta como LLma repffittção funcional harmo-
Irirrsrr tlos usos, e é, precisamente essa visão que será
rfrrrslirrnada pelos lingüistas "nativos", oü seja, aque
lr=a r rri r r rrclos de situações diglóssicas, parttcularmente
l'r rrrlrnl,, no lado dos crioulófonosz} e Lluis Aracil, no
lrrrlrr rlos çatalães21. Eles aftrmavam que a diglossia
nrirr rtit utÌla coexistència harmoniosa etttre duas va-
r lr=r l;rr lrs lingüísticas, mas uma situação conflituosa
enlrr u nrrr língua domin artte e umalín$ua dominada.
I ltrl, rl,' ircorclo com Lluis Aracil, esse conflito só po-
*l;.r l;r lt'\,rr iì duas situações: ou aLín$ua dominada
rfra,rlrÍu('('(: ()tn favor da lín$ua dominante (o que ele
,'\ nrt:il, Conflicte Língüistíc i norn+alitzacío lingüistic& ü
lll(iS (vcrsão francesa, mimeo) e 79BZ (versão catalã).

34 AS PoLíTrcAS LtNcüísrrcas
chama de substituição), ou ela recllpera suas funções e
seus direitos (o que ele ch aÍna de normalização).
Essa abord agem deve seÍ situada numa análise
de tipo eletromecânico das situações lingüísticas, Qü€
consid eta o binômio Línguas/sociedade como um
homeostato, ou seja, como um sistema que funciona no
modo da auto-regulação. Aracil propurüa a distinção
entre as "funções sociais da Lín{ua" e as "funções 1in-
güísticas da soctedade", podendo as relações entre es-
ses dois grupos desernbocar na substifuição ou na nor-
maltzação.No primeiro caso, quando as funções lin-
güísticas da sociedade não encontram resposta adequa-
da nas funções sociais da 1ín8úa, esse déficit num dos
conjuntos cri a, por "feedback positiv o" , ltÍn défictt das
funções recíprocas no outro conjunto, e essa amplia ção
resulta , pela multipltcação do défictt inicial , nâ substi-
tuiçã0. No segundo caso, âo contrârto, o déficit provo-
cã, por "feedbacLt ne$atiyo", urna re$ulação) rtma
autocorreção ou um esforço compensatório entre as
funções lingüísticas da sociedade e as funções sociais
dalíngtâ, o que leva à norrnalizaçã0. Ir[esses aspectos,
a sociolingüística catalã forneceu à política lingüística
vinda da Am,értca do l.{orte um quadro teórico que the
faltava, fazendo a Ltgação entre as situações lingüísti-
c3s (a diglossia, poÍ exemplo) e as situações sociais.
Esse modelo eletrornecânico é originalmente des-
critivo, explicativo. Mas a noção de nlrncã,lização lin-
güístíca vai adquirir, paulatinamente, na Catalunha
um sentido mais militante. Com efeito, o feedbac"le ne-
gativo que reorganrza as funções lingüísticas da socie-
cade é, no plano teórtco, o produto de rtma auto-
regulaçã"o.Mas pode-se tmagtnar também que a ação
nÂ', or{tGENS DA polírtcR LINGÜísrtcn 35
rr'litrrnte leve ao mesmo resultado ao afriat sobre a de-
rrrir rrtla social parajustifi car uma pÍoposta
lingüística.
lìrr. cxemplo, pode-se considerar qlle a difícil situaçáo
rlrrs línguas re$ionais como obretão, o occitano, obasco
rtt:., seja o resultado de uma ausência de demanda so-
r.iirl: essas línguas existem, mas não têm utilidade so-
r,i;rl c estão, poÍ conta d.isso, condenadas a desapafecet.
(e não mais a
Mits é possí*l ç1ue a interv ençãohumana
rrrrto-rãgrdação homeostática) aja sobre a demanda so-
t,iirl parajustificar a oferta lingüística: se dois grupos
rt,ivindLcam, digamos que por razóes identitârtas, o di-
r,t:it' a su.as htnguas, essas lín$uas têm então, ípso facto,
u nr papel e um lugar na sociedade'
Esse deslocamento pro$ressivo do teórico Íumo
rro rnilitante era seguramente facilitado pela situação
rlir catalunha Qüe, após o retorno da democfacra fla
l,)s1ranha, recup efava sua autonomia e dispunha de
políticas ou legislativas.
1,,,ssibilidades d.e interv ençáo
Assim, quando uma lei de normalrzaçáo lingüística
lìri promul gada na catalunha (Ll,ei de Norrnalítzacio
Lingüistíca a CatalunUa, 23 de abril de 1983) , a ptó-
se modificou: e1a não é
1rr.ia noção de normalrzação
,,,ri, o pióduto da auto-re$tt1ação, mas o produto da
vontadt httttt arla, da intervenção do podet publico'
Indiquei acim a que os primeiros teóricos - notte'
rrrnericunor - dapolítica e do planej amertto lin$üísticos
l)Lìcavam pela fartade visão
teórtca; eles tendiam arLe-
gligen ctar o aspecto social da intervenção planeiadora
sr rSre as línguas. Di ante d.eles, os lingüistas
europeus,
t:Írr parttcuúr os lingüistas falantes de línguas domi-
r,,rdãs, insisti ram rLa existê rLcua de conflitos lingüís-
lic's, contribuindo notavelmente para enriquecer a
B o AS PoLíTrcAS LtNcüísrrcns

teoria. Mas su.a situação os levou a mistutat os assun-

tos e a pass aglentamente, do teórico ao militante. Esse
deslocamento tem, ao menos, o m,érito de nos lembrar
que na polítícalingüísticaha tanúém política e que as
intervenções nalíngua ou nas línguas têm um carâter
eminenternente social e político. Mas isso nos lembra
cAPíruLo n
igualmente que se as ciências raramente estão ao.abri- AS TIPOLOGIAS
go de contaminações ideológicas, â política e o plane-
jamento lingüístico não escapam à regra.
DAS SITUAçõES PLURILíNGÜES

' No capítulo anterior, acompanhamos o nascimen-

drs noções de planejamento lin$üístico e de política
ígtica. Mas o procedimento presente naqueles di-
iltes textos, tomando como ponto de pattida o dia-
co de um déficit de comunicação, de um "pto-
t', pata chegar à concep ção das soluções possí-
C à escolh a de uma delas e, poÍ fïm, à sua aplica-
lfnplic avaque se dispusesse, PoÍ um lado, d.e meios
dfïcos de avali ação das situações, e por outro, de
de intervenção sobre essas situações. Como as-
utos, podemos entender por que essas primei-
lbOrda$ens se preocup avam apenas com a tnter-
na língua: rLa época, a lin$üística só possuía
para descrever a Língua em si mesma, send.o
de apreerLder seu objeto de estudo em suas
som a sociedade e sua história. De fato, pata-
nte às primeiras preocupações de política lin-
, desenvolveu-se o que atualmente se chama
f'_f_gtiÍstica, que dara à política lin$tiística
os meios
gos de que ela necessitava. São esses instrumen-
G apresentaÍemos neste Capítulo.

3 8 AS PoLíTIcAS LrNcüísrrcns
I-FergusoneStewart
Paralelamente aos primeiros textos sobre o planeja-
mento lingüístico Qüo, como vimos, sc interessavam es-
sencialmente pela ação súre a Línguã e, por isso, não
levavam em conta as situações plurilíngües (apesar de
elas serem amplamente majoritÁnas no mundo), no iní-
cio dos anos 1960 apareceÍam tentatwas de equactonar
as situações plurilíngües e a primetradelas foi, sem dúvi-
da, o artigo de Charles Ferguson súre a diglossial. O
autor apÍese ntava modelos de situações nas quais coe-
xistem duas variedades de uma mesmalíngua (ele deu
quatro exemplos: árabe clássrco / árabe dialetal , alemão-
padrão / alemão suíç o, grego catarévussa / grego demótico,
fuancës / crioulo haitiano), variedades que são uttltzadas
em sifuações precisas: o que ele úamava de "vartedade
ahta" eta utiltzada nos discursos políticos, nos serÍnões,
nas mídias etc., e o que chamava de "vartedade batxa" se
empregava nas coÍrversações familiares, na vida cotidia-
frâ, na lite ratura popular etc. Posteriorme ttte, Joshua
Fishman ampliou esse modelo, abandonando a tdéta de
re\ação $enélica entre essas duas "variedades"2: apartir
de entÃo, considera-se que há diglossia cada vez que se
manifesta uma reparLrção funcional de usos entre duas
ltnguas ou entre duas formas de uma mesm alíngua; as-
sim há diglossia tanto entre o ârabe clássico e o arabe
dialetal como entre uÍrralín{ua européra e várias línguas
africanas. Esse conceito vai conquistar um enorÍne su-
1. Charles FergusoÍI, "Diglossia", in Word, n" 15, 1959.
2. Joshua Fishman, "Bilingualism with and'without Diglossia,
Diglossia with and without Bilingualism", in Journal of Social Issues,
ÍÌo 32, 7967.
A1, TtpoLoclAS DAs strunçÕes PLURIIírue Ürs 39
(i()sso na literafrxa ctentíftca: entre 1960 e 1990, esti-
nrüm-se cerca de 3.000 artigos ou obras dedicadas à
tliglossia3. Em seguida, serão lançadas, com diferentes
graus d.e sucesso, as noções de triglossiaa, de tetra$lossias:
( ) texto de Ferguson ftzera escola, e aqui não havia poÍ
(lue interromper o paradigma. Com efeito, poÍ que não
:' i
lìrlar de "decaflossia", de "ecossiglossia" pala designar
irs situações nas quais coexistem dez ou vinte lín$uas?
t )c fato, tudo isso procedi a de uma total incompreensão
rlirquilo que charles Ferguson quiserafazer. Ì'{a realida-
tlc, sua intenção era iniciar uma série de descrições de
situações-tipo e espeÍava que outros lin$üistas descre-
vcssem outras situações, a fim de elab oraruma taxonoÍíÍa
ir partir da qual seriam construídos princípios descriti-
vos e uma teoria.
Ferguson apÍesento Lt utnalon$a explic ação sobre
(rssa questão em um artigo posterior: "Diglossia
Itcvisited" (Sowth West Journal of Lingwístics, vo1. 10,
n" 1, 1991). E escÍeveu mais precisamente: "MeuS
eram, em ordem cÍescente: situações claras,
'll.ietivos
l ;r xonomia, princíPios, teorias."
Compreende-se melhor o que ele queria fazet
(lulndo se examinam suas intervenções posteriores no
rlotttínio da tipolo Sta das situações plurilín$ües. De
lìrtg, outra pÍeo utpação vem à tona: uma tentativa de
iì. Mauro Fernandez, Diglossia: ã, Comprehensive Bibliography
I !)(;0 t gg0. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Co.,
lllll:ì.
4. Abd.errahmin Youssi, "La Triglossie dans la typolo$ie
in La linguistique, 19, 2, 1983.
lr rrFlr ristique" ,
Henri Gobbard, LAlien atio n líng ui stíqwe : analy e t étr aglo s síque .
5. s
I'rrr is: Itlammarion, I976.
40 AS POLITICAS LINGUISTICAS
equacionar, ou de formular, as situações plurilíngües
de diferentes países6.
E o texto de Ferguson dedicado a esse problema
é, quanto a isso, muito claro. Desde sua primeira fase,
o autor definia seu újetivo: comparar diferentes situa-
ções. Em seguida, pÍopunha a distinção entre ftè,s ca-
tegorias de línguas (major langu,eges, mínor languages e
langueges of special status), cinco tipos de língaas
(vernâcula, padrão, clássica, pidgin, crioula) e sete
funções (gregâria, oficial, veicular, Língua de ensino,
r eligtão, Língua int ernacLonal, Língua új eto de ensino)
Isso lhe permitia pôr determinada situação "eÍn equa-
ção". Ele apÍesentou, poÍ exemplo, a situação do
P;'araguai da seguinte maneira:
3L: 2Lma1 (So,Vg) + 0Lmin + lLspec(Cr).
Esta fórmula deve seÍ lida da seguinte marnetra:
no Paraguat,hâ 3 línguas (3 L), duas Línguas majori-
tárias (Z fmü),uma padro nrzada' oficial: o castelhano
(So); outra vernâcula, gregâria: o guarani (Vg), nenhu-
mahínguaminorttârta (O fmin) e uma Línguaespecial,
clássic a, reltgiosa: o latim (1 Lspec Cr).
Geralmente não se dá, atenção suficiente à ma-
netta como emergem as pÍoposições científicas (ou
mesmo as descobertas), onde se pode encontrar um
6. Ivilliam Stewatt, "Att Outline of Linguistic Typology for
Describing Multilingualism", in Study on the Role of Second Languúges
in Asia, Africa and Latín Anlerica. Washington: 1962; idem, "A
Sociolinguistic Typology for Describing National Multilingualism",
tn Read,ing in the Sociologry of Languege. Haia: Mouton, 1968; Charles
Ferguson, "National Sociolinguistic Profile Formul a" , in W. Bright
(otg.) , Sociolinguistics. Haia: Mouton, 1966.
Af TtPoLoGtAS DAS slrunçÕrs PLURIIírueÜes 4l
lnestim átvel material epistemológico. Aqui, a situaçâo
I particularmente interessante. De 1962 a 1964, na
Universidade de Washin$ton e depois na Universida-
d; de Georgetown , Charles Fer$uson pediu a seus alu-
AOI que descrevessem a situação sociolin$üísttca de
dlferentes países. Cada descri ção deveria sef apÍesen-
tsda e discutida em seminârro. Depois o trabalho evo-
ilUlu para a úaboração de um formato-tipo: as descri-
3Ëee deveri aÍn ser apÍesentadas sob a
forma de um
fou*o de uma pâgtna em inglês corcente (ou seja,
ponto
.
tando o vocabulário técrnco). Mas como o de
tida eta a vontade de clrnper&r situações, esses
mos erampouco manejáveis. Assim nasceu ardéta
prffite formulAs. Restava, obviamente, elaborá-las.
1ütes de tudo, que lín$uas considetat? A resposta
prime ff amente, intuitiv a:
Enffe as lÍnguas qtre deveriam ser incluídas nas descri@es, algumas
pareciam ter uma importân cia clararrrcnte maior no pÍocesso de
COmunicaÉo nacional, ouffas, uma importância menor' oufras ter
rinda pouca importância connrnicativa direta, mas desfrutando de
umsten$especial que ltres concedia importância suficiente para
rr incluídas. Bsses três tipos de línguas podem, de maneira cômoda
ofansparente,serchamadasdemnjorlnnguage,hnguamaiontÁia
(Lmqi), mirnr l^awwe,hngnminoritríria (l-,min) e l,ang,nges of
spciat stafin,línguas de stattnespecial (Lspec)
7.
Passou -se em seguida à formalizaçã,0 dos crítéríos
permitiam siflrar cadalín$ua em uma das cate$o-
POr exemplo: uma língua podia ser considetada
language em determinado país se eJa reunisse
dsa seguintes condições:
ï, Charles Ferguson, 1966, P. 310.

AS PoLíTtcAS LrNcüísrrcns
seÍ falada por mais de 25 Ya da população ou
por mais de um milhão de pessoas (o quíchua
na Bolívía, por exemplo, farado por um terço da
populaÇão, mas sem nenhum status oficial);
ser língua oficial (o irlandês, por exemplo, lín-
gua oficial da lrlanda, mas falado apenas por
3o/o da população);
ser lín írua de ensino em 50 Yo das escolas se-
cundárias do país (por exernplo, o inglês na
Etiópia, país cujalíngua oficial é o amârtco e
onde, embora poucas pessoas falem inglês, esta
é a língua de ensino da maioria das escolas
secundárias e superiores).
o mesmo ocorri a em rclação às rninor languages
e às languages of special status: o procedimento consis-
tta em dffinir as categorias p&re qwe as línguas jd consi-
deradas em diferentes sítuações nacíonais pudessem en-
contrar seu lugar. Em outros termos, eta o saber dos
informantes (neste caso, os esfudantes que participa-
raÍn do semin ario) sobre sua comunidade lingüística
que pautava a wiaçãa das categorias de línguas e os
crttérios de classificação nessas categorias. Na Etiópia,
por exemplo, muito provavelmente por consid eÍaretn
o inglês como uma "língua majoritâria", é que a tel.-
ceira condição da defini ção foi a escolhida.
Mas esse tipo de inforrnações (número de línguas
majoritárias, minoritárias etc.) etabastante limitado.
Para acrescentar dados sobre os tipos e funções das lín-
guas em contato, Ferguson adotou uma tipotogia pro-
posta por Stewart em lg\z, reduztndo o número de
tipos d.e sete paru cinco (ele abandonou os tipos ,,artifi-
cial" e "marginal") e conservando as sete funções.
è= r U'r rt ilr,rAl, DAS SITUnçÕf S PLURtIírue ÜgS 43
l,'u i tI tÌl vaivém entre descrições empíticas e
frrurt;rliz;tç;icl que pautou a emer$ência do modelo de
F:.rg.uson. lisse procedimento, que vai da coleta de da-
1f n* ;t lt:lrtirtiva de estúelecer um quadro teórico
é, sem
rlrryrrll, r,gmpletamente CoeÍente, mas nesse CaSO apÍe-
cr=nl;r lnÌla séria desvanta$em: até que todas aS situa-
r*lr,f; I ísticas tenharn sido analisadas exaustivamen-
i r rgii
tr,, n rlultrlro será submetido a constantes revisões que, a
rlr.lrt'rttlcr do caso, poderão se traduzir num aprimora-
lurnlo rlo modelo (a versão otimista), ou em Seu
rfnlslionamento (a versão pessimista). Aliás, o próprio
l'ì.rgusorì estava consciente das limitações do trabalho,
íriifirrr;rllrndo que ele apresentava "uÍna solução pouco
,.atlslìrlriria para um probletna com o qual alguns dos
ntrus cstudantes e eU mesmo temos nos confrontado
Irrr ;uros: como compaÍar nações, de umaÍnaneira útil,
rl,' unl ponto de vista sociolin$üístico"8, e ele destacil/a
trunlrtirn que certas informações estavam ausentes de
fìu;rsi lìirmulas (diferença entre lín$uas indígenas e lín-
llnirli tlc migrantes, sistemas grâficos utilizados, taxas
r lt' ;r rurlfabetismo etc.).
lìm 1968, Stewart retomou o problerna)que jâúot-
r lru rr oÍn 1962, de um a rnarrerra ligeiramente diferente:
lu ( )lrtrnha doravante levar em conta
quatro atributos (pa-
rlru rrir,ação, autonomia, historicidade e vitalidade), clJJa
r'urrrbinação (ausênctai Íepresentada pelo sinal de - e a
em ques-
lu (rscrìça pelo sinal de + , em relação ao atributo
lirrr) lrcrmitia definir sete tipos de língtt'&s, se$undo o es-
r
lu(:rrra explicitado no se$uinte
quadro:
 AS polírrcRs LtNGüísncns A6 TrpoLoctAs DAs srrunçÕrs pLURnírueüEs

Atributos Classe 6: hehratco Cr

Tipos de (leia-se: um clássico religioso)
língua
Padronização Autonomia Historicidade Vitalidade . ,.' , : ."
r .* "latim Crs
(leia-se: um clássico, religioso, ensinado)
+ + + + padrão
+ + + clássica
+ + artiflcial Essas tentativas de equacionaÍ as siíraçõgs pÌrrri-
+ ; ; vernâcula Lürg,irsúrem o flanco a um certo número delg_çrtiçâsi ,i
+ + dialeto
+ crioula o A escolha dos aftthutos de Stewart nem sem-
pidgin pre é evidente. Dessa maneita, dizet que o
crioulo não possui o atributo "auton omia"
E acrescenta mais três funções às sete pÍopostas (porque se deve esclar ecer "crioulo de base
por Ferguson (provinci al, capital, literâria) e divide as lexical francesa, inglesa, portuguesa" etc.)
línguas de um país em seis classes, de acordo coÍn a provém, effi parte, da ideolo gia: por que se-
porcentagem da população falante da lín gua: tia necessário esp ectftcat crioulo francês para
Classe 1: língxra faladapor mais de TSo/o da poptrla@o uma Língua falada nas ilhas Seychelles, por
classe 2:ltng;e_falada,poÍ mais de s\%o da popula@o exemplo, e não língua românica pata o fran-
classe 3:LíngnfaladapoÍ mais de Zs%a da poputa@o cês ou língua germânica para o inglês? Não
classe :hnguafaladapor mais de r}q/o da popula@o haveria por trás dessa aprese ntação a recusa
classe 5: língua faiada,por mais de syo da populaçao em considerar os crioulos como línguas ple-
classe 6: lÍngua faladapor menos de syo da popula@o nas e uma maneita de abordar as línguas do
Isto the permite aprese ntar a situação das ilhas ponto de vista do senso comum em detrimen-
Curaçao (Antilhas Holandesas) da seguinte maneira: to da perspectiva científica?
Certas classificações envelh eceÍn rapidamen-
Classe 7: papiamento K(d:A : espanhol) te (o crioulo haitiano seri a, por exemplo, con-
(leia-se: um crioulo em situ ação diglóssica com o espa-
siderado atualmente como padro nízado e
nhol, variedade alta)
muitas línguas afuicanas teriam) em vinte
Classe 4: holandês So
(leia-se: um padrão oficial)
anos, mudado de classifi cação), o Qüe suscita
/. "inglês Sigs o problema da dirnensão histórica dessas f&-
(leia-se: um padrão internacion aL, gregárto,língua ensinada) mulas unicamente sincrônicas.
Classe 5: espanhol Sisl (d:L :
paptarnento) Certas funções não são avaltadas de manetta
(leia-se: um padrão internacional, ensinad o, literário, em precisa. Assim, existem línguas "oficialmente
diglossia com o papiamento)
oficiais", como o gaélico na lrlanda, cujo status
 As PoLíTlcAS LINGÜísrtcns
rcd, é nulo , e \ín$uas sem funções oficiais que
podem d.esempenhar entretanto um papel im-
portante, como o francês na Ilha Maurício" ' dade
U - As propostas de Fasold
Essa úord a$em ilustr ada pelos ftaba|hos de
Ferguson e Stewart foi deixada de lado durante muito
tempo até que Ralph Fasold a retomasse , ern 1984e.
primeiro, ele resurniu os textos de Ferguson e de stewart
seguida, retomou o proble-
çlue acúamos de citar; errL
rnade um ponto de vista ligeiramente diferente:
- p; um hdo, ele destacauma certaprevisibilida-
de das funÉes aszumidas pelaslínguas ,rtão é
quú-
quer lín$ua que pode assumir qualquer função;
em
poÍ outro lado, ele taçiocina unicamente
- termos de atributos e de funções, d'e modo que
uma [ín$uadeve possuir certos atributos para
pÍeencher determinada função. Seu ponto de
vista é resumido no se$uinte quadro:
atributos sociolingüísticos requeridos
oficial 1 padronïzaçáo
2 uttlizada corcetamente Por certo
número de cidadãos escolarizados
nacionalista 1 nacional para
uma Parte imPortante da população
Z - amplamente utrlizada rla comunica-
ção cotidiana
3 ampla e freqüentemente falada no paN
9. RalPh Fasold, The Socíolinguístics of Society' London:
Blackwell, 1984.
AS TTpoLoGIAS DAS slrunçÕes PLURtt-íwcÜes
4 sem alternativa maior no país pata a
mesma função
5 aceitável como símbolo de autentici-
6 ligada a um passado glorioso
de grupo 1 utiltzada por todos na conveÍsação
cotidiana
2 - conside rada pelos falantes como
unificando-os e distinguindo-os dos demais
veicular 1 considerada como "adquirível" Por,
pelo menos, uma minoria do País
internacional 1 presente na lista das "lín$uas
internacionais Potenciais"
escolar 1 padronização igual ou maior do que
a língua dos alunos
religiosa 1 clássica
Esses atributos, cLLJapÍesença $atante que deter-
minad a língua possa preencher determinada função,
criam, no entanto, alguns problemas; parttcularmen-
te os dois se$uintes:
o atributo "clâssico" necessâtto para q1le uma
-
línguapossa preencher a função religiosa provém de
uma certaconcep ção de reli$ião. O que dizet,por exem-
plo, da lín Êua do vodu? Ou das lín$uas africanas de
iniciaç áo? É pouco provável çlue o autof as consideÍe
como ltnguas clássicas, o que demonstra uma concep-
çáo limitativa da religião.
A lista das "lín$uas internacionais poten-
ciais" de Fasold é instrutiva: ele cita, de fato, o in-
glôs, o espanhol, o Íusso, o alemão, "perheps
Mandarin Chinese and maybe zne 0r two others"ro
..ì
.:ll
10. Op. cit., p. 76.
,l::
$i
&
48 AS PoLíTrcAs LrNGüísrrcns
("talvez o mandarim e quiçâ mais uma ou duas lín-
guas mais"), demonstrando assim grande ceguetra
quanto a línguas como o ârabe, o suaíli, o quíchuâ, o
bamb ata) o malaio etc., faladas em vários países e,
portanto, no sentido próprio do termo internacionais.
Tem-se aqui a impressão de que Fasold consid eÍacomo
internacionais apenas as línguas admitidas como lín-
guas de trabalho rLa oIvU ou na Unesco: em vez de
dar uma defini ção unívo ca da noção de lín g:ua inter-
nacional, o que the permitrta classifi cat sem ambi-
güidade essa ou aquela Língua nessa categoria, ele
sanciona o resultado de uma relação de forças , de
um momento da história.
No entanto, ãtdéta de cruzamento entre aft:úluto
e função eÍa interessante, e a previsibilidade, assim
postulada, poderia tw encontrado uma solução no
domínio do planejamento lingüístico. vejamos, poÍ
exemplo, a aprese ntação de Fasold da situação do
híndi, ao questionar-se sobre a possibilidade de esta
língua vir a ocup aÍ a função "nacionalista" fla Índia:
Unidade sociopolítica: Índia
Função: nacionalista
Língua: híndi
Atribwtos requeridos Atríbutos possuídos
1. sínúolo de identidade nacional +/-
2. largarnente uültzada no cotidiano +/-
3. ampla e freqüentemente faladano país +/-
4. sem alternativa maior no país
5. aceifável como sínüolo de autenticidade + pffspectives. Aix-en-Provence:
6. ligada a um passado $orioso +/-
AS npoLoGrAS DAS strunçÕrs pluRtlírueües 49
(+ /- significa que o atributo é possuído unica-
rnente por uma pafte da população: * pata os falan-
tes do híndi, - para os outros).
Essa apresentaçãonos levartaa concluir que o híndi
tem poucas chances de chegar apreencher. a funçãonacto-
rralista na Índi â.." . Percebe-se o interesse, se essa úorda-
gem fosse mais bem trabalh ada, de estabel eceÍ fichas
para todas as línguas de um país e pafa todas as funções
potenciais dessas línguas. Mas temos a impressão de que,
após as intervenções de Fhsold no deb ate, essa vertente
de pesquisa foi mais uma yez abandonada.
III - A grade de Chaudenson :!,
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Na década de 1990, Robert Chaudenson tentou ;
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elaboraf rrm instrumento de medida e de compatação $
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do status e do corpus dahíngua francesa nos países da '&
ã
w,
francofoniall. Sua abordagem consistia em situar os
.t'
cliferentes países analisados a pafiu das funções (ott
status) e dos usos (ou corpus) de um alíngua (no caso,
o francês, mas pode-se, como destaca o autor, se$uir o
mesmo procedimento pata qualquer lín{ua: in$lês,
espanhol etc.); esses países aparccem ÍepÍesentados
por pontos em um grâfico bidimensional.
E claro que o problema aqui é sabeÍ como medir
o status (considerado por Chaudenson num sentido
clássico) e o cnrpus (defrnido por ele como o volume de
produ ção lingüística realtzado na lín$ua e a nafiiteza
11. Robert Chaudenson, La francophonie: représentatíons, réalités,
Institut d'études créoles et
l'r'ancophones, 1991.
50 AS PoLíTrcAS LtNcüísrrcns Â*, lpoLoGrAS DAS strunçõrs pluRtlírue Ürs 51

da competência lingüística dos falantes). o autor pro- O interesse dessa abordaÊem consiste, evidente-
pôs um modo de cotação complexo, levando em conta rrrc:nte, flo fato de que ela permite refletir sobre a situa-
as se$uintes entradas (nos reportaremos a seu texto çrio respectiva dos diferentes países no espaço
para os valores numéricos atribuídos a cada entrada): Í'r'irncófono, sobre os rea$rupaÍnentos que ela revela-
A. Status riir no gtâfico etc. Mas o valor de um grâfico assirn é,
1. Oficialidade solrretudo , didâtico, pofçlue e1e visualtza os resulta-
2. Usos "institucionalizados" rlos de umaanâlise, permite aptesentar o conhecimento
3. Educaçáo (1 não adquiri-lo: o conhecimento que temos na parte
4. Meios de comunicação de massa srrperior da grade se encontra napffite inferior, rnani-
5. Setor secundárto e terciário privado ÍLrstado de maneira diferente...
B. Corpas Outra uttltzação possível dessa$rade consiste em
a) aprop rtação lingüística t:rrrrsiderat as língu,&s em relação & t,Lm país e não mais
b) vernacularidade / vernaculanzação versu,s u,n, ytaís em relação e tLrna língua, como no trabalho de
veicularidad e / veiculartzação l,irsold .Pata ilustrar isso, consideraÍel cadaltngua sob
.) os tipos de competências ll'ôs pontos de vista:
d) produ ção e exposi ção lingüísticas o seu greu de uso, isto é, ã porcentagem de falan'
vejamos o resultado dessa avalíação apltcada em tes no país considerado (o corpus deChaudenson);
três países: Ruanda, Madagascar e llha Maurício: o seu grau de reconhecimento,isto é, o Érut de ofï-
100 cialidade da língua (o statas de Chaudenson);
90 o seu gra,w de funcionalidade, isto é, as possibili-
80 dades que a língua tem de preencher as fun-
7A ções destinadas a ela (que pode se apÍoximar
Madagascaï
da rel ação atributos/funções de Fasold).
H:: 40
o
Maurício
r
Apenas os dois primeiros termos (grau de uso e $tau
lt: rcconhecimento) serão levados em consideruçao no $tâ-
30 l-ttxr. Só depois, ao nos questionarÍnos, â partir do gráfi.co,
2A srrlrre estratégias de planejamento lin$iístico é que o pro-
10 lrlt:rna do grau de funcionalidade será levado em conta.
0
Itrr enquanto, o mais simples é ilustrar este ponto de vista
02030 40 50 60 70 80 90 100 ('{)lll dois exemplos: o do Marrocos e o do Ma1i. Acornpa-
F 'p*l r rlrci por alto o modo de crílculo de Chaudenson no que diz

Situação em rclação ao francês rcslrcito ao "status" (o $rau do reconhecimento), ffiffi sim-

52 AS POLITICAS LINGUISTICAS Aã ïtpOLOGtAS DAS strunçÕes PLURtlítlcÜEs 53

plifiquei o procedimento no que diz respeito ao "cnrptn" (o ãn$sheq (estou citando apenas as quatro principais lín-
poderiam constar neste
graude uso), levando simplesmente em conta uma avalia- Sas do país, mas todas as outras
pAfi*) tem um statw e um cnrpus de rgual valor, porórn
ção (qur me é própia, pois não dispomos de nenhum
número oficial sobre esse assunto) da por centagern da ftaeir; o bamb afa tem um cnrpt'ts nmito mais importante
população falante das diferentes línguas em contato. ggr: seu statt,ts e o francês conhece asituação inversa:
Consideremos o gráfico do Marrocos: três línguas
$0 t
coexistem no país com statas diferentes o âtabe, o m francês
berbere e o francês, e podemos veÍ que elas aparecem ï0
em posições extremamente contrastantes no quadro. O t0
ârabe tem um status e um clrpus de valor sensiveknen- m
te igual (e1e é falado por cerca de 90o/o da população e t0
tem o status de língua oficial), o francês tem um status
m songhai
t0 peul ba::úara
mais importante que seu clrpus, e o berb ere está em t0 tamasheq a
o
situação inversa (falado por aproximadamente 50%o 0
da poprÃação, ele não possui nenhum status oftcial). 10 2A 30 40 50 60 7a

As lín$uas do Mali
100
90
80 Qual pode sef a utilidade destes $tâficos? Eles
nOË permitem fazer uma leitura imediata da
7A
rel açáo
l;t lín$uas e as-
lEl60 tfltre status e cnrpus para cada uma das
El so ;lm avaliar a situação lingüística do país. se consid.e-
40
fêrmos, de fato, que *" *?neira $etal é desejável que
30
$ffia língua posstl a um status coÍfespondente a seu
2A *r*Ì

10
&rput, temos três situações teóricas:
er: ' *'
I . a das lín{uas que se encontram na üa$onal (ou
0
020 30 40 50 60 7A 80 90 seja, as línguas para as qgais stnttn : corptn).fi
claro que elas podem se situ ar Ínars Í1o alto ou
l*'p-*l
menos no alto nessa dia$onal, dependendo de sua
As línguas do Marrocos
condição de hn$uade unificação nacional (corpus
próximo do valor mríximo: o áxúe no Ma:rocos)
Quanto ao Mali, a situação é igualmente contras-
tante, mas de maneita diferente: o songhai, o peul e o ou re$onal (o peul e o songhai no Mali);
 LíTrcAS LrNGüísrrcns
''"":::
2. a das Línguas que se encontram acima da dia-
;;:'::,ï;ï::rn,.rn. de 10;
gonal (como o francês no Mali e, de maneira de falantes, enquanto o san$o (sango 1960)
menos clata, no Marrocos) e que possuem um tinha um $rau de reconhecirnento nulo e úfrl
status superestimado; graude uso que pode ser estimado em aprox:'
3. a das línguas que se encontrarn abaixo da madamente 80 % dos falantes.
diagonal (como o berbere no Marrocos) e que o No ano 2000, so a política pretendida t1er
têm, portanto, um status insuficiente. efeito, pode-se estimar o fuancës com um Êtilt
Ta1 visualtzação da situ açãolingüística de um país de uso em ascendência devido ao pro$resso
pode assim: da escolartzação (hipoteticamente em 200/0,
1. servir de base para a reflexão sobre o planEa- pela necessidade da demonstração), o san$o
mentolingústico: percebem-se de imediato as con- igualmente em progresso (90 o/o), com as d-uas
tradições ou acoerërLctaentre os graus de uso e de línguas dividindo entre si o status (50/50); o
reconhecimento das línguas em contato; que possibilitaria o se$uinte $râftco:
2. permitir representar, no plano diacrônico, a
100 o
evolução esperada de uma situação após a in- 90 francês 1960
terven çáo planejad ora. 80
Em outros termos, temos aqui um instrumento que 70
60
permite apresentar um diagnóstico e formular objetivos. a
50
Uttltzando um exemplo extremamente teórico, o 40 san$o 2000
da República Centro-Afri carua, que adotou uma "lei 30
20
fixando a polític a de rcorgantzação lingüística da Re-
10 sango L960
publica", segundo a qual o francês e o sango passaÍam 0
a ser as duas línguas ofi.ciais do país. É possível avaliar 020 30 70 90
a situa ção dessas línguas, em termos de grau de uso e
tc"'Gl
de gtau de reconhecimento, no momento da indepen-
República Centro-africana
dência do país e após a inteÍvenção dessa nova políti-
ca lingüística:
Percebe-se Qüe, nesta hipótese, o francês desc etra
o No momento da independência, o francês (to c o sango subiri a para a linha dia$onal, mas Qüe, aun'
grâfico: francês 1960) tinha um grau de reco-
rlir assim, a sifuação não corfesponderia ao desejável
nhecimento máximo, unica Língua de admi- (r:orpus : status). S. o cnrpus do francês aumentasse'
nistraÇão, de escolanzação etç. e um grau de o lugar da língua se apfoximana da diagonal, mas paf a
b 6 AS PoLíTIcAS LlNcÜísrlcns
que o sango fi.zesse o mesmo deslocamento seria ne-
cessário aumentat o seu status (t* detrimento do
francè,s). A avaltação sociolingüísttca termina aqai e
entramos no domínio das escolhas da República Cen-
tro-Afrrcana: dar, por exemplo, ao san$o um status
semelh ante a seu clrpus implic aria tkar do francês
seu status de 1ín9ua oficial e isso levanta outros pro-
blemas que não são da alç ada do lingüista.
Contudo, e isto conduz agora ao gr&u de funcío-
nalidade, se diante de ta1 grâfico um país decidisse
intervir sobre o grau de reconhecimento de um a Lín-
8Ía, para tentat apÍoximâ-La de seu $rau de uso, suÍ-
8e a questão de saber se tal lín$ua está equipada para
preencher essa função. Como delimttar essa noção de
grau de funcionalidade? Nesse caso, o melhor é partit
da idéia de Fasold de que certas funções implicam cet-
tos atributos. Mas Fasold expunha o pÍoblem a em ter-
mos estatísticos: tal língua possui ou não esse ou aquele
atributo e portanto pode ou não preencher determina-
da função. Meu ponto de vista é muito mais dinâmico
e pode seÍ formulado da seguinte maneita: se queÍe-
mos que tal línÊuapreençha tal funÇão, o que ,é precr'
so fazer então pafa equrpâ-la? IJtilizando um exemplo
simplista: é evidente que para introduztr ufnalín$ta
no sistema de ensino (ou seja, transformâ-la em lín-
€uade esc olanzação) , é necessário primeuÍarnente dar'
the uma transcrtção, alfabéttca ou outra, dar-lhe uma
norma , forjaÍ uma terminologia gramatical etc. E isso
nos condu z a reflexões eminentemente ptâttcas sobre
a rcLaçáo qualid ade/preço desse equipamento ou so-
bre a relação custohenefíçio. Se temosz por exemplo,
diante do que eu chamaria de um "grâftco de avalta-
AS TrpoLoGtAS DAS srrunçÕes pluRnírueües 57
ção da situação lin güística" , inúmeÍas possibilidades
de polítrca lingüística (aumentar o grau de reconheci-
mento de uma, duas, inúmeÍas línguas, por exemplo),
um dos crttérros de escolha a ser levado em conta po-
deria ser a relação entre custo da opetação e o benefí-
cio social decorrente.
Nos exemplos mencionados acim a, fiz referên-
cia, para ilustrar a uttltzação desse grâfico no do-
mínio da política lingüística, a uma ação sobre o
$rau de reconhecimento das línguas. Mas evidente-
mente o contrârio também é possível, e pode-se as-
sim tomar a decisão de intervir no grãu de tLSy das
línguas. os grupos minoritários que lutam pela so-
breviv ëncta da sua Língua, criando, por exemplo,
escolas privadas nas quais ela seja ensinada, empe-
nhando-se em transmiti-la às crianças etc., não fa-
y,em nada além de tentar agtr sobre o grau de uso
dessa Língua. Isso significa que temos dois estágios
Ëuçessivos de reflexão: a escolha de um tipo de ação
{nobre o reconhecimento ou sobre o uso) e a detet
ruinaçã,o do equipamento necessário à Língua no
domínio da funcionalidade. Entretanto, mais rÍna
ven, isso jâ não está no âmbito da análise sociolin-
${lística, mas no das decisões políticas.
Percebe-se que essas proposições são largamente
prtt$ramâttcas e que convém agora seguir areflexão e
t expcrimentação com base nestes dois pontos:
Como medir, de maneira unívoca) o grãu de wso
e o grew d,e reconhecirnento de LtÍnaLínguú
Como determinar, de maneira precisa, o que
constitui a funcionalidade de LtÍnaLíngua?
 AS polÍrtcns LINGÜísrtcns
58
Conclusão
De modo mais $eral, os modelos tipológicos que
apresentamos neste capítulo estão longe de esgotaÍ o
que conviria saber sobre uma situação pafa pensar
uma eventual política lingüística. De fato) para elabo-
rar um modelo capaz de elucidar a cornplexidade das
situações, seria conveniente consid eraÍÍnos diferentes
fatores, dos quais a lista se$uinte nos dá um a rd'êta:
1 . Dados quantitativos: quantas lín$uas e
qllantos
falantes Para cada uma delas'
2. Dados jurídicos: status das Lín$uas em conta-
to, reconhecidas ou não pela Constttutção,
uttlrzadas ou não na mídta, no ensino etc.
o
J. Dados funcionais: lín$uas veiculafes (e sua
taxa d e v e i cul ari d a d e ), hín$ua s tr an s n a ci o n ai s
(faladas em diferentes países fronteiriços) ;Iín'
guas gregârias, Iín$uas de uso religioso etc.
4. Dados diacrônicos: expansão das lín$uas, taxa
de transmissão de uma $eraçâo a outra etc.
5. Dados simbólicos: prestígio das lín$uas em
contato, sentimentos lingüísticos, estraté$ias
de comuntcação etc.
6. Dados conflituais: tipos de relações entre as
hínguas, complementattdade funcional ou con-
corrên cia etc.
Podemos peÍ ceber que se é fâcú', poÍ um lado, me-
dir ou delimitar os quatro primeiros tipos de fatores
desde Qüe, evidentemente, sejam feitas as pesquisas ne-
cessárias, poÍ outro, os dois últimos são mais comple-
xos e, súretudo, difíceis de introduzlt em um modelo
dicotômico. Mas, pelo afã, de apresentar esqllemas bem
As npoloctAs DAS slrunçÕrs PLURIT-ítleÜEs 59
construídos, coÍremos o risco de sacrificar a precísão
sm prol da elegância. A $rade de Chaudenson, PoÍ
exemplo, inte gra com facilid ade os fatores quantitati-
vos elurídicos, mas não deixa nenhum espaço aos fa-
tores simbólicos ou conflituais. As propostas de Fasold
integr aÍnos dados funcionais 0, em çettamedida, sim-
bólicos, mas não dão conta do fator diacrônico' De
fato, todas as propostas de Fer$uson, Stewart e Fasold
apÍesentam uma visão estática das situações qugl no
entanto, estão em evoluç ão petpétuí., taito no plano
eïmflstïco (númerô de falantes, índiCe de transmissão
etc.) quanto no plano simbólico. Of â, ã avaltação ptévia
à determinação da políticahrng,drística deve necessar'a'
mente levar em consid eração as evoluções em cuÍso.
Por isso ébemprovável que surjam novos modelos, mais
COmpletos, mais eftcazes, passando, talvez, PoÍ outra
aborda$em. Pode-se, pof exemplo, ima$tnat um modelo
lnform attzado alimentado te$Ãatmente com no-
Qüe,
VOS dad.os, fornecetla",nlíne" uma avútaçáo dinâmi-
oa das situações.
plurilin-
Vê-se que arcflexão sobre as situações de
muito mais
$üismo nos remete à língua de maneira
fit*. Não Se trata mais, nesse caso, de a$u sobre o
t'Cllptrs" pata lutar contra empréstimos ou pafa mo-
detnizat a lín$ua, PoÍ exemplo, mas paf a totnâ-La
fUncional, a fim de que possa desempenhar o papel
que se espefa que ela desempenhe do ponto de vista
du ttottls. E essa passa$em do ponto de vista do corpus
3o do status. mesmo que {iço!--o-gr3 seja
muitas
.-9-s=93
veues dirícil de seÍ manüda (ìorpi,i; ê iiiaíus estão
f?eqüentemente muito imbricados, o gfau de equipa-
mento d.e um a língua, pof exemplo, estando em tela-
 As PoLíTlcAS LINGÜísrtcns
60

social) , é urn testemunho

ção dueta com sua função
políttca
da evolu ção paralera da ciê ncia lingüística: a
lingüística . ã planejamento são tributários da teoria
na qu al foram concebidos.
Mas qualquer qlle seja o rnod.elo utilizado, ainda cAPíruLo lll
súsiste o prúlema de súer de quais meios dispomos
OS INSTRUMENTOS DO
para intervir sobre a lín$rLa e sobre as lín$uas'
São

esses meios que apÍesentaremos no capítulo se$uinte. PLANEJAMENTO LINGÜíSTICO

Uma açáo planej ada sobre a lín$ua ou sobre as

línguas nos remete ao seguinte esquema: consideram-se
uma situação sociolin$üística inicial (S1), Qüe depois
de analis ada é consid erada como não satisfatórta, e a
situação ç1ue se deseja arcançar (s2). A definição das
diferenças entre s1 e s2 constitui o campo de interven-
ção dapolítical,ingüístíca, e o
probleÍna de como passar
de s1 parasz é o domínio do planeiamentolíngüístico.
Apresentadas desta maneita, as coisas podem
parccer simples. Entretanto, vimos no capítulo ante-
rior os problemas que a descri çáo e a tipolo Êta das
situações sociolingüísticas apÍesentavam quando da
escolha d.e uma política lingüística. Neste capítulo,
abordaremos os problemas decorrentes d"essas esco-
lhas. A partir do momento em que um Estado se pÍeo-
cupa em administrar sua situação lin$üística, apfe-
senta-se o problema de saber de que meios ele dispõe
pAIa isso. Como intervif r*a forma das Lín$uas? Como
modifi cat as relações entre as línguas? Quais são os
62 AS PoLíTIcAS LI NG ü
processos que permitem passar de um" gffi.g".g_fi_getiis-
tyc,7, estágio das escolhas gerais, âo estágio da imple-
megtaÇão, do planejamento lingüístico ?
I- O equipamento das lín$uas
Pode parecer estranho aplicar o termo "equtpa-
mento" às línguas, sobretudo depois que nos distan-
ciamos de uma conce pção instrumental da línglJa,
como fizemos no primeiro capítulo. Entretanto, este
termo é absolutamente apropriado, principalmente
se nos lembrarmos do primeiro sentido do verbo equi'
pã,ri "Provef uma erú arcação do necess âtio patacum-
prir serviço ou realtzaÍ missão, $uatnecet". De fato,
se todas as línguas são iguais aos olhos dos lin$üis-
tas, essa iguald ade se situa num níve1 de princípios,
isto é, num nível extremamente abstrato. Mas, tta
realidade, todas as línguas não podem cumpÍir, igual-
mente, âs mesmas funções. Por exemplo, é cf,arc que
uma língua âgrafa não pode ser veículo de uma cam'
panha de alfabettzaçáo, que se terâ dificuldades em
ensinar informâtrca numa língua que não disponha de
vocabulário computacional, ou ensinar $ramâttca
nuÍna língua que não disponha de uma taxonomia
gramattcaT, que uma língua falada por uma ínftma
minorta da população de um país dificilmente poderâ
sef escolhida como Língua de unificação desse país
etc. Se, entretanto, poÍ tazões políticas, Se desejar
utrltzar essas línguas nessas funções, seÍ â necessário
reduz:r seus déficits, equipá-las para que possam
desempenhar seu papel.
ísrtcns os INSTRUMENTos Do PLANEJAMENTo t-lneÜísrtco
A escrita
O primeiro estágio desse equipamento é dar um
sistema de escrita às línguas âgrafas, o que implica,
em primeiro lugar, estabelecef uma desctição fonológi-
ça dalíngua e conhecet o sisteÍna de sons a transcÍe-
Vef. Em seguida, será necess ârto escolher um tipo de
escrita: alfabétrcaou não -alfabétrcae, no primeiro caso,
que tipo de alfabeto? Esta escolh a náo é simples. Apro-
ximad amente um quarto da humanidade uttltza, Pof
exemplo, um sistem a não-alfabético: o dos caracteÍes
chineses. Quando se tornou necess âno transcrever as
línguas africanas, longas discussões opusetam os de-
fensores do alfabeto latino aos que defendiam o alfúe-
to ârabe ou um a grafra uttóctone. Essas discussões ti-
úam, evidentemente, üffi sústrato ideoló$ico: poÍ um
lado, hâ uma estreita liga ção entre a expansão dos sis-
temas de escnta e a expansão das religiões (o alfabeto
ârabe está ligado ao Islã, o ahfabeto latino é petcebido
como associad.o à cristandade), e por outro lado o alfa-
beto latino eravisto por alguns como um traço simbóli-
co da época colonial. Mas, üante desses dois sistemas
absolutamente estranhos à Africa ne$ra, havta tam-
bém os sistemas grâficos autóctones: silabários em $erd'
fecentes eúa, aos olhos de seus partidários, tinham a
varftagem de constituir escritas autônomas e de asse$u-
tgr aidentidade afttcanal. Esses sistemas tinham tam-
bém um conteúdo cienífico: o alfabeto âtabe,por exem-
1. Vide: Pathé Diagne, "TraÍrscription et harmonisation des
langues africaines au Sénégal", comurncaçáo à reuniã o "Latranscripton
gt l'harmonisation des langues afrtacarÍles", Niamey (Nigéria) ,17 a 21
de julho de 7979.
 ,*-

OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO LINGÜíSIICO

As polÍrtcRs LI NG Ü ísrtcns
64
Oléxico
p1o, não permite notaÍ as vo$ais das lín$uas africanas
e o alfabeto latino é, nesse aspecto, mais
preciso, mais Outro proble fna é o do léxico. O desenvolvi-
eftcaz etc. Esses debates levar ão a decidir em
favor d-o mento das ciências e das técnicas, a multiplrcação
arfúeto latiflo, ao meÍros temporarlarnettte, em
1966,
das comunicações especi altzadas ftzeram com que
quando a Unesco reuniu em Bamako um conjunto de hoje em dia apenas algumas lín$uas veiculem a
especialistas . TrataÍemos d.essa reunião no
capítulo
modernidade com a aiuda de um vocabulário pró-
se$uinte. prio; as outras lín$uas se contentam em tomar eÍn-
Considerand.o todos esses pontos, vê-se
que o
prestado esse vocabulário. Dessa fotma, a tendên-
planejamento lin$üístico passa primelÍaÍnente
poÍ
cia atu aL é falar de info rmâtrca utili zando um voca-
uma descrição precis a dalín$ua; erfise$uida'
poÍ uma
bulário em inglês. De maneira mais ampla, existem
rcflexão sobre o que se espeÍa de um sistem a de es-
milhares de línguas que permitem dtanamente a
uma oÍ-
crita. Será necess âtto,poÍ exemplo, escolher mithões de falantes comunicar-se de manerta
tografta de tipo fonoló$ico, rLa qual a cada fonema gatisfa tórra em seu ambiente social tradicional, mas
coÍÍesponda um {rafema oü, Se Se pteferu, a cada que são Lncapazes de asse$urat uma comuntcação
som uÍna letta? Ou, ao contrârio , serâ necessário científica. Seria, por exemplo, uma situação delica-
escolheÍ uma orto $tafta de tipo etimológico'
na qual
da aprese ntar a teotta da relativid ade numa lín{ua
a forma gerar de um a pa\avra nos darâ informações lndíge na da Amazônia. Isso pode não tet, certamen-
sobre sua história e sobre a famíLta ria qual
está
te, nenhuma importància, iâ que se um índio wayana
inseri d,a? No primeiro caso, âs palavras francesas da Guiana quiser, PoÍ exemplo, se especi altzat em
temps (temp o)-, taon (mutuca) e tant
(tanto) podetão
egtudos nucleares, ele o fata em francês ou em in-
ser grafadas como tã. No se$undo caso, se destacarâ glês. Mas uma política lin$üístic a também pode de-
o fato de eúe, mesmo utilizando letras aparentemen- eidir equipar determtnadalíngua paÍa utrltzâ-la no
te inúteis, u $rafta temps aprese nta a vantagem de ensino de matem âttca ou de medicina.
rcportar ao latim tetnpus e -às palavras temporaíre Isso nos remete a outro domínio do planej arnen'
(tá*porário)
- ou ternporíser (temp ofr1'ar) . . .
tu lingüístico: o da terminol o$ta, no qual a principal
É só depois dessa fase técntca e ctentífica, em palavÍas2 ou a neolo$ia. Tra'
atividade é a Sfia çfu9- de
que ahíngua estarâ equtpadano plano $tâfico, que se tepettoriar
ta-se aqui de determinar as necessidades, de
purru à iu* prâttca: divulgar o sistema de escrita n vocabulário existente (empréstimos, neolo$ia espon-
selecionado , através de abecedários, manuais,
da or-
tânea), de avalrâ-lo, de eventualmente melhorá-lo, de
gantzaçáo de carnpanhas de alfabettzação, da intro-
harmo ntzâ-\o e de, depois, divul $a-lo sob a fotma d-e
áuçao dalíngua recém-transcrita no sistema escolar,
çliçionários terminológicos, de bancos de dados etc.
no meto Stâfico etc.
 llírtcRs LINGÜísrtcns OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO LINGÜíSTICO
66 67

úje- que elenã o "a$rade" , seja porque entra em concorrên-

Esse procedimento pode, então, Íesponder a dois
cia com palavras já em uso, produtos da neologia es-
tivos muito diferentes:
pontânea ou de empréstimo a outra língua.
o Pode-s e tratar de equipaÍ uma 1ín$ua para que
ela possa fllmpÍir uma função q1le até então Em f**g_,pS, por exemplo, se uma palavra como
logiciel seffi$ôJ sem dificulãade no lugri do termo in-
não cumpria. É o problema com.q1le se con-
glês sffiware, se uma palavra com o remtne-ménillges
frontaram os países d.o norte da Áfri ça, qúan- en-
tra poeticamente em concoÍïência com brainstirming,
do se decidiÍam pof uma política de atabtza'
sús- nada garante que baladeur, tír d,angle, tir parroit,
Ção,ou da Indonésia, quando e1a decidiu
restovite ou prêt-à-rnonter substituirão, Íespectivamen-
tituir, na fun çáo oficial, o holandês pelo malaio'
te, wall<,man, cnrner, passing shot,
o Pode-s e ttatat também de lutat, no quadro de fast-food au kitz. Esses
neologismos parecem ir contra um uso já estabelecido.
uma língua iâ equtpada, contra os emprésti-
veremos nos capítulos seguintes diferentes exem-
mos, de substituir um vocabulário alienígena
plos desse tipo de ação.
por um vocúu1 ârto endógello. Esse é o pÍo-
blema com qlle se enfrentam o Québec ou ain-
da as comissões de terminolo$ia criadas nos Apadronização
diferentes ministérios franceses'
Nos dois casos, entretanto, vemos a impottàncta Quando um país decide promoveÍ uma língua
para determinada função, ele pode ter de erLcarar uma
(mencionada a pÍopósito da esciita) da descrição das
aituação de dialetação. Isso significa que essa língua
línguas e da análise dos seus pÍocessos d.e criação lexical:
pode seÍ falada de maneira diferente por toda a ex-
uma palavra não é forja da aleatoriamente, é necessário
tensão do território, com uma fonologia diferente, um
respei tar, ao mesmo tempo, o "gênio" da lín$ua e os
vocabul âtto e uma sintaxe parcialmente diferentes.
sentimentos dos seus falantes. Portanto, a terminologia
Inrpõe-se então o problema de saber qual será a forma
implica, poÍ um lad.o, um conhecimento preciso dos
que exeÍcerâ a função escolhida pelos decisoÍes. Mes-
sistemas de derivaÇão, de composição d-a línÊua, um
Í11o nesse caso, há tamb ém diferentes soluções: pode-
inventário das raíres etc. e, poÍ outro, implica que as
ãe selecionaÍ uma das formas em pÍesença ou então
palavras criadas, os neolo$ismos, sejam aceitos pelos
forJar uma forma nova a partu das formas existen-
falantes, isto é, que sejam em primeiro lugar acettáveis.
tõn. O primeiro caso remete a um sistema auto titârto,
Porque um neologismo pode ser refutado (este, aliás, ó
gu 8 um centralismo jacobiro, quando
um caso muito freqüente; os especialistas em termino- se escolhe, poÍ
logia produ zefnmuito mais termos que nin$uémjamais
ttltlrzará do que termos q1le "pe$am"), seja poÍque elc' 2. Exemplos extraídos do Dictionnaire des termes
fficiels de la
não coÍresponde aos gostos lingüísticos dos falantes, hrytur ,lï'u,nçaise, Duecrion des journaux officiels, paris, 1gg4.
68 AS PoLíTIcAS LINGüísncns
exemplo, o dialeto da capital. No se$undo caso,faz se
necess ârta uma descri ção precisa das variedades dia-
letais para se tentar cÍtar rtma forrna interrn ediârta,
uma espécie de lugaÍ-comum dos diferentes falares,
que serâposteriormente difundida por diferentes meios
(mídia, escola etc.). Esse problema aparcce primeita-
mente no nível da $rafta: como transcfever uma pala'
vta pronunciada de diferentes formas pelo território
de manenfa que todos a feconheçam? Em seguida, no
nível do léxico: qual vafLante conservar quando o mes-
mo újeto ou a mestna noção não são nomeados da
mesm a maneufa nas diferentes formas dialetais? Por
fim, hâ a questão da sintaxe quando, poÍ exemplo, é,
preciso escolher a norma que setâ ensinada.
No capítulo IV, apresentaremos um caso concre-
to de padrorLLzaÇão, a propósito da elaboração da lín-
gra oficial da Repúbltca Popular da China.
Do "ínvívo" p&ra, o "invitro"
As intervenções que acabamos d.e mencionar so-
bre a transcrição das lín$uas, seu léxico ou sua padro-
ntzação implicaÍrL que se pode mudat ahn$ua. OÍa, as
línguas sempÍe mudatam) porém mud.araÍn de outra
maneira: sem intervenção do podeÍ, sem planejamento.
Quando se estuda a histótta da escrita, PoÍ exem-
p1o, verifi.ca-se que nalenta evolução que vai dos pÍi-
meiros cuneiformes mesopotâmicos aos silúários e
depois aos alfabetos, é a prátttca social, em resposta às
necessidades sociais , Qúa desempenhou o papel mo-
tor. Da mesm a rnaÍteira, o léxico das lín$uas semprc
esteve em mutação, através da neolo$ia espontânea
pl tNsrRUMENTos Do pLANEJAMENTo LINGÜísrlco 69
OU do empréstimo. Sempre que novas reaLidades pre-
eisaram ser nomeadas, elas o foram sem dificuldades:
lseim, a invenção da eletricidade se fez acompanhar
da crração da palavra eletricídade, construída sobre
Uma ruizlatina, 0 o surgimento d.e um novo esporto, o
futebol, se fez acomp anhar do empréstimo à lín$ua
lnglesa da pal avra football. Enfrffi, Qüando se conside-
fA o número de hínguas existentes na sup etfícte do $1o-
bo (entre 4 e 5 mil, com uma média de 30 poÍ país),
tEm-se a impressão de que estão dadas todas as iondi-
ções para que as pessoas não se compreend.am. Con-
htdo, apesaÍ da multiplica ção das hín$uas seÍ conside-
fada por alguns como amaldtção de Búel, a comuni-
Õação funciona em todos os lu$ares.
Isso porquehâdois tipos de $estão das situações
lingtiísticas: uma que procede das práticas sociais e
oütra da intervenção sobre essas práticas. A primei-
fA, que denominaremos de $estão in vívo, tefete-se ao
tnodo como as pessoas resolvem os problemas de co-
ilUnicação com que se confrontam cotidianamente.
ESSa gestão resulta em "línguas aproximativas" (ot
pidgins), ou ainda em línguas veiculaÍes que são "cfia'
das" (como o munukufiiba, no Con$o) ou "promovi-
das", isto ,é, umalínguajá existente que tem suas fun-
ções ampliadas (como o bamb ata no Mali, o wolof no
Senegal ou o inglês no mundo). Em ambos os casos,
rcja a comuntcação asse$unda $raças à "criação" ou
tnrefuncionaltzação" deuÍnahíngta, isso não tem nada
à
* ver com umadecisão oficial, com um decreto otl urna
leir tem-se aqui, simplesmente, o produto de uÍna prât:r-
eâ, Aliás, essa prâttca não resolve apenas os problemas
do plurilingüismo. Dessa forma, todo dta, em todas as
 AS políncns Lt NG ü
72
na púlicidade, nos programas de televisão, na rfií-
zes,
sica etc. Mas, ao mesmo tempo, quando Se estuda de
perto uma situação sociolingüística e se conhecem bem
as línguas e as variantes lingüísticas em contato, consta-
ta-se que muitas delas não ap)afeçeÍn nessas mídias.
É essa presença ou ausên cia das línguas sob a for-
ma oral ou escrita na vida cotidi ana que chamâriios de
, amb irent e tingüktic q .Pode - se, p or exemplo, elab ot aruma
ã firra semiológtcada sociedade: entre as lín$uas em conta-
geografia de Nova York apafitr das línguas ç1ue podem
ser lidas nas placas de lojas (inglês, chinês, italiano,
ârúe etc.) e acomp anhar, também, as mudanças em
curso através das vafuações desse ambiente. Dessa for-
ma) à medida que se aproximava a data da rettocessão
pela Grã-Bretanha de Hong Kong à China OgSf), foi
possível per ceher uma progressão da presença do chi-
nês e uma regressão da do inglês no ambiente lingüístico
de Hong Kong no decorrer d.os anos 1990.
A situ ação de Nova York, de Hon$ Kon$ ou de qual-
queÍ outra capttal, rtca em informações, eslá relaciona-
da ao in vivo, mas o planejamento lin$üístico pode tarn-
hémintervir ín vitro sobre ela. De nada adi anta, na rcalt'
dade,pÍover uma hínguade um alfabeto se ele não aparc'
ce ftavida cotidiana dos falantes dessa Ltngua. Assim, âs
placas indicando o nome das ruas, os sinais de trânsito,
as placas dos caÍros, os cartazes publicitÉmos, os pfogra'
mas de râdio ou televisão são lugares privilegiados de
intervenção para a promoção das lín$uas. Um viajante
que desembarcasse nos anos 1990, poÍ exemplo, no ae-
roporto de Bihao ou de Barcel orta) após vinte anos de
ausência2 se surpreenderia com a prese nçada língua basca
no primeiro caso e do cataTão no se$undo, presença que
se deve, evidentemeÍrte, a LtÍna intervenção planej adota
ísrlcns os TNSTRUMENTos Do pLANEJAMENTo l-llleüísrlco 73
Sobre o arnbiente lingüístico, a uma conquista ou fecon-
quista desse ambiente poÍ Ltnguas ç1ue haviam sido ex-
cluídas. Da mesmamarLeita, entre 7970 e 1980, as ruas
de Argel conheceraÍn do ponto de vista do ambiente $â'
fico, umamudançatotal: o ârúe substituiu o francês eÍn
todas as situações evocadas acima. E essa m&rc&çã,0 de
território, seja produto de prátlicas espontâneas ou de
ptâttcas planejadas, nos fornece um instrumento de 1ei-
to há aquelas que são expostas e outras que dificilmente
se faz,em notar; e isso eslá vinculado a seu peso sociolin-
güísticoeaseufuturo.
É por essa mzãoçpe o planejamento lingtiístico agrfâ
sobre o ambiente, paraintervir no peso das l:rrguas, na sua
presença simbolica. Mais uma vez, aação invítro utiliza os
meios da a@o in vivo, inspira-se nela, mesmo que dela se
diferencie ligeiramente. Entre aprâttca espon{aneade um
açougueiro norte-africano que afixaem seu estabeleciúen-
to em Paris a sua ruzão social em átrabe, poÍ exemplo, e a
intervenção dos poderes púlicos exigindo que essa razão
social seja tafiúém indicadaem francês, que ela seja então
fraduztda, pode-se observar aí a vontade de manifestar
uma identidade através da língua (neste caso, uma língua
escrita) e duas abordagens diferentes desta busca
identitária: uma passando pelos comportamentos espon-
tâneos e outrapelainterven@o da lei.
Mas a função dessa marcação de território é a
mesma nos dois casos. Uma inscrição em ârabe, chi-
nês ou húraico nas ruas d.e Nova York ou de Paris cons-
titui uma mensagem em dois níveis. Primeiramente, ro
nível da de no tação, a merLs agem limita consideravelmente
seus receptoÍes potenciais (somente os ç1ue sabem ler es-
 t ..4
74 AS POLIÏICAS LINGUISTICAS
sas ïínguas podem decodifïcar a mensagem). Mas, ao
mesmo tempo, no nível da conotação, a inscnção cons-
titui outro tipo de mensa$em: mesmo quem não sabe
ler ârabe ou chinês pode, entretanto, reconhecer esses
sistemas $ráficos, Wapresença desemperúa, nesse caso,
um papel simbólico, um papel de testemunho. Assim,
a inscição em ctma da porta de um restautante, que
indica em chinês "restaurante cantonês", díz duas coi-
sas. Por um lado, üz àqueles que sabem ler chinês, "este
é tmrestaurante cantonês" e ü2, por outro lad.o, àque-
les que não sabem ler chinês, "isso é chinês'1 E se mui-
tas lojas, um a ao lado da outra, aftxam sua razão social
em chinês, a coexistência dessas inscrições dirá "esta é
uma rua chinesa" ou "este é um bairro chinês". Esse
duplo nível de leitura nos mostra a importância do meio
grâfico. Quando o Estado toma a decisão de intervir
nesse domínio, ãlíngua que é afixada pode não ser lida
pela maioria das pessoas (isso depende, evidentemente,
do grau de alfabefrzaçáo da população), mas ela é per-
cebida, entretanto, como o que ela é: uma lín$ua escri
ta; e sua presença simboliza,logicamente, uma escolh:r
política. No capínilo v, veremos um exemplo desse tillo
de intewenção com o caso da arúização nos países tlr
Afnca do Notte.
III - As leis lingüísticas
Quando uma decisão é tomada, uma opção é est,,,
thida, é preciso fazer com que ela se encaixe nos fatos
Ao contrário da gestão in vivo, nà qual a mudança s('
propaganaptítttca dos falantes poÍ uma forma de corr
senso que é necessário esfudar com precisão, â $esl;tn
OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO LINGÜíSTICO 75
in vitro deve, por sua ve%, se impoÍ aos falantes e, para
'isso, o Estado dispõe essencialmente da lei.
A lei é, segundo o dicionârro,uma "regraimperati-
va imposta às pessoas a pafiir de fora". o que significa
que as leis não se aplieatrLaos objetos, aos bens, mas ao
uso que os homens fazem desses objetos, desses bens.
Para dar um exemplo simplish, uma lei não pode impe-
dtr prédios de se incendi arem ou proibir o dinheiro de
desapare ce\ mas pode proibir as pessoas de pôr fogo nos
prédios ou de roubar o dinheiro. Além disso, o direito só
pode intervir sobre o que é jundicamente definrvel. Des-
B0 ponto de vista, é possível questionar o sentido da no-
ção de lei lingüísttca ou de direito lingüístico. A língua
pode ser újeto de lei?3 o que é certo é que os Estados
intervêm freqüentemente no domínio lin$iístico, respon-
dendo a esta pergunta de maneir a prâtrca e evitando o
debate teórico, mas eles intervêm de fato nos comporta-
mentos lingüísticos, no uso das Línguas. Isso ocoÍïe por-
que as políticas lingüísticas são geralmente repressoras e
precisam, por essa tazão, da lei paruse imp or não existe
ylanej ament o lingüí stico s em sup ort e i urí dic o .
Faz-se necessámo distinguir, neste momento, entre
lnúrneras concepções de leis lingüísticas. lHâ, de fato:
As leis que se ocupam da forma da línguâ,
fixando, por exemplo, a grafra ou intervindo
no voc abulâno por meio de listas de palavras.
As leis que se ocupam do uso que as pessoas
fazem das hínguas, indicando qual hnguadeve
ll. Ver a esse respeito R. Rouquette, "Le droit et la qualité dela
httgue", inJ.-M. Eloy (otg.), La qualité delalangae ? Le cas-dufrançais.
P:ris: Champion, 1995.
7 6 AS PoLíTtcAS
ser falada em dada situação ou em dado mo-
mento da vidapifulica, fixando, poÍ exemplo,
alíngua nacronal de um país ou as línguas de
trabalho de uma organtzação.
o As leis que se ocupam da defesa das línguas,
seja para assegurar-lhes uma promo ção maior
(internacional, poÍ exemplo), seja paraprotegê-
las como se protege um bern ecológico.
Evidentemente possível aprofundar-se ainda mais
é ções regionais (por exemplo: na Catalunha, na Galiza,
nos detalhes das legislações lingüísticas e tentar elaborur
uma tipologia. Joseph Turia, poÍ exemplo, propôs uma
classificação relativamente complexa, que faz pnmetra-
mente uma distinção entre as legíslaçõeslingükticas estru-
turais (que intervêm no status dasKnguas) e aslegislações
lingüísticas funcionals (que intervêm na utili zação das Lín-
guas). Entre estas últimas, ele faz em seguida vma dis-
tinção entre as legislações lingükticas oficiaís (que inter"
vêm no uso oficial das línguas), legislações lingüística.s
institucionais (qte ttatarndo uso não-oficial das línguas).,
as legislações lingüísticas padronizadlrfrs ou não
p a dr o niz ador a s, as leg í sl a ç õ e s lingük ti c as m aj orít á,rí a s (q t r,'
protegem as línguas de uma maioria) e as legislações liu
güísticas minorítárías (qut protegem as línguas de uln:r
minoria) etc. Tudo isso, como se vê, é extxemamente conr
plicado, mas como a lei é urn dos princrpais instrumcrr
tos do planejamento lingüístico, faz-se necessámo pôr ttrrr
pouco de ordem nessa profusão.
Distinguiremos as leis lingüísticas, inicialmeÍrlr
segundo seu campo de aplicação geogâfica. Dessa Íìu
4. Joseph Turi, "Le pourquoi et le comment du
linguistieÍa", in Langage et Societé, fro 47,7994, Ottawa.
Lt NG ü ísrtcns os TNSTRUMENToS Do pLANEJAMENTo LrNGüísrrco 77
ffiâ, existem as legislações internacionais que fixam as
línguas de trabalho das organtzaçóes internacionais
(ottru, unesco, corte Internacional de Justtça etc.) ou
que protegem as minorias lingüísticas (como a Decl&r&-
ção sobre os direitos das pessnes pertencentes a minorias
nacionais ou étnicas, religiosas e Lingüísticas, adotada pe-
las Nações Unidas em 7992), legislações nacionais (que
se aplicam dentro dos limites de um Estado) e legisla-
no País Basco). E jâ se pode logo imaginar qúe apare-
çam contradições e oposições entre esses três níveis.
Num segundo momento, é preciso fazer uma distin-
ção segundo o nível de interv enção jurídíca. Em al-
guns casos, a situa ção lingüística é definida pel a pró-
pria constituição. É o caso da Esp anha, por r"r*plo,
que no artigo 3 de sua constituição de 7g7g distingue
entre a língua oficial do Estado (castelhano) e as lín-
$uas oficiais das comunidades autônomas (o basco, o
eatalão, o galego). E* outros casos, a situação lingüís-
tica é definida por uma lei (nacional ou regional) , ehá,
casos em que ela é, enfim, definida por recom enda-
ções, resoluções, cuja forya de lei é menor, visto que o
nÍvel de inteÍvenção jurídtça condiciona sua efrcâcia.
Se uma lei lingüística nacional pode ser, de acordo com
oË casos e as escolhas, incitativa ou imper ativa, uma
resolu ção tomada por uma organi zação internacional
tem pouca chance de ser aplicada fora dos casos em
,
gue se ftata de uma legisla ção rnterna, visando, por
ËNemplo, fixar as línguas de trabalho dessa organiza-
çâo. Quando se conhece a Lncapacidade de um orga-
f,lsmo como a oNU ou a Comunidade Europ éra dran-
tg de problemas mais importantes, só é possível consi-
78 As polírrcns LtNcüÍsrrcns OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO LINGÜíSTICO
79

derar suas intervenções no domínio da proteção das etnonímica, que pode testemunhar uma aproximação
minorias lingüísticas como brincadeiras de criança. fonética (quando na Ãfrtca,por exemplo, ã hngua
hã_
Tudo isso pode ser resumido no quadro abaixo: mana transfoÍmou-se eÍn hambara, oLto pularirc tor_
nou peul), uma alusão pejorativa (quanao os índios
Nível de intervenção
shuars são chamados pelos espanhóis de jibanr,s,
geográfico jurídico isto
é, camponeses) e às vezes um desejo identit
ârio (q,run-
do o congo Belga se torn ou zaíte e, depois, República
internacional constituição
nacional lei Demouâttcado conso). Rainer Enrique Hamei p*rr._
regional decretos be nessas práticas "a expressão de pãfti.as liniriísti-
resoluções cas que existem desde que os seres humanos
Íecomendações se orga-
nuzaram em socied ade e arnplia taÍn suas relaçõr,
ã,
contato, de troca e de domin ação diante de outras
so-
ciedades que eram cultur ar elingüisticamente
diferen-
tes"S. De fato' ness a matéÍ*a,"*?, ngliti-ga_ringtiistic-a co-

StçÍ lealmente qg+ndo se rerìõmëïã; e üilaõs ãróitó,

forma das línguas uso das línguas defesa das línguas
Mas este quadro geral não esgota todos'os pro-
blemas da intervenção jurídica sobre alíngua e sobre
as línguas nem os efeitos colaterais desta intervenção.
Nome&r ãlíngua
Segundo a Bíblia, Deus criou o mundo e nomeou
seus constituintes. Entretanto, desde então, os hornens
não pataram de renzrne&r o mundo: os nomes dos
povos, os nomes dos lu$ares não pataram de vartar,
de acordo com as invasões ou alternâncias de poder.
Desse modo, hâ uma constante valsa toponímica e
das leis lingüísticas pode se manifestar simplesmente
no nome que o texto jurídic o dâ às línguas. Acabamos
de observaÍ que, de acordo com a constituição
espa-
nhola, a língua oficial do Estado é o castelhano,
e esta
denorninação pam uma língua que todos chamam
de
espanhol já constitui um fato de pol rtica lingüística.
De fato, ao sugerir relações entre-alíngua euma
re-
gião do país, castela, evidencia-se que
não há corres-
pondôncia termo a termo entre o puír, a Espanha,
ea
língua, o castelhano (ex-espanhot). Ao tornar-se
ofici-
almente "castelhano", o espanhol não mudou, conti-
nua a mesma lín$ua. Mas c&stelhano deno ta ames-
.se
coisa que espanhol, ele ôònôt a algo completamente
Ti
diferente. Da mesma manei ra, nalnãonésia,
*dri;,
"
5' Rainer Enrique Hamel, "Politicas y planificación
del lenguaje:
una introducción", in Iztapalap&, ÍLo zg, rgg3, México.
80 AS PoLíTrcAS LINcüísncns
ao tornar-se híngua oficial, foi rebattzado de bahasa
indonesia (língua i.ndonésia), com o mesmo tipo de
vaúações conotativas. É de se prever que inúmeÍas
línguas, atualm ente tratadas de modo $enértco como
crioalo.s, venh ama seÍ, nos próximos anos, rebattzadas:
haitiaflo, reunionês, guineano , martiniquês, cabo-
verdiano* ou mauriciano; e a função de cada denomi-
nação será revalotizar simbolicamente essas formas
lingüísticas e insistr na sua dimensão identitârta.
Nornear esfanções
Outro efeito dessas leis está na denomina ção das
funções das línguas. Língua nacional, lín$ua oficial,
língua regional, língua "própria"; encontram-se nos
textos legais numerosos qualifïcativos qlle fazem refe-
rëncia às funções daLtnÉua ou das línguas e que nem
sempre têm o mesmo sentido. Se, paraum fuancë,s, os
adjetivos "nacional" e "oftcial" aplicados à lín$ua po-
dem parcçer sinônimos, na Afrtca francófona eles têm
sentidos muito diferentes: aLíngua"oftctal" é alíngua
do Estado, geralmente o francês (co-oficial com o in-
glês em Camarões e com o sango na República Centro-
Africana), enquanto as outras línguas "nacionais" são
algumas línguas africanas ou todas as lín$uas afttca-
nas do país. Desse modo, no Senegal, ao lado do fran-
cês, Itngua "ofi.cial", âlei distingue seis línguas "nacio-
nais" (o wolof, o sereÍe, o diol ã, o mandtnsa, o peul e
. De fato, confï.rmando a previsão d.o autor, o antigo "crioulo
do Cúo Verde" passou a ser oficialmente denominado lqabuverdianu
(n. da trad.).
os TNSTRUMENToS Do pLANEJAMENTo LrNcüísrrco 81
o soninkê) $entre as cerca de vinte Línguas faladas no
país. Em Camarões, em contrapartida, ao lado das
duas línguas "ofrctais", todas as línguas africanas fa-
ladas no território do país, mais de duzentas, são con-
sid.eradas ltnguas nacionais. E esses dois exemplos nos
rnostram que a denominação das funções da lín$ua
pela lei tem repercussões evidentes sobre as possibili-
dades de política lingüística. É possível tmagrnar, de
fato , rtma política lingüística que trate, como no
Senegal, de seis línguas nacionais, mas é, dtfícil conce-
ber uma política lingüística que englob e duzentas Lín-
guas. Seria particularmente impossível introduzir to-
das elas na escola. . . Mas essa distinç ão entte lín$uas
ofïciais e línguas nacionais nã o é, a anica pratrcada na
Afrtca. O artiÊo 7 da Constituição daMaurttàniaesti-
pula, por exemplo, que:
o o ârabe é alíngua oficial do país;
o o hass antya, o pula at, o saracolê e o wolof são
as línguas nacionais;
o o francês e o inglês são as línguas de úerfrira.
Enfim, €ffi certos casos, a lei não escolhe entre
essas diversas possibilidades. Assim, a Constituição
ftancesa determinoü, desde 1992, que "a ftancês é a
língua da Republtca", sem determinar se ela é ahnÊua
oficial ou nacional.
Princípio d,e terrítoríatidad,e ou d,e persnnalidade?
Todos sabem que hoje em dia não há, necessaria-
mente coincidência entre uma língua e as fronteiras
de um Estado. Sabe-se, também, que há, Línguas que
são faladas em um território menor que o do Estado
 82 AS PoLíTrcAS LrNGüísrrcns
OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO
LINGÜíSTICO 8 3
(o bretão naFranç â, o galego na Espanha) ,
enchâlín- guas, e também sobre a gestão do país.
$uas cujo território se sobrepõe às fro ntetras interes- o princÍpio de
territonalidadt tplicado na Suíç a,porr*r*pl
tatais (o basco ou o catalão entre a Fra nçae a Esp anha), o, gaìantiu
um futuro melhor ao roman che, mas o prinãipio
que hâ, enfim ,línguas que são dorninantes em vários da
territotialidade não garantiu amesma situa
Estados. Existem tamhém os impérios lingüísticos ção ao ga-
lês no País de Gales.
(fu ancófono, anglófono, hispanófono, lusófono,
Mas essas situações (nérgica,suíça, país de
arabóforlo...). Mus, como mencionamos, a política lin- Gales)
são relativamente simples se comparadas
gúística continua tendo, na grande maioria das vezes, às de países
extremamente plurilíngties coïno o sene ga],
uma dimensão nacional: ela intervém em um tervitó- por exeÍn_
plo. Ali são faladas mais de vinte línguas,-sei,
rio delimitado pelas fronteir&s. Ora, existem outros du, quais
são consideradas "nacionais" (wolof, serere
casos possíveis: as diásporas e os grupos de mrgrantes,
ga, peul, diola, soninkê), às quais
, mandin-
poÍ exemplo, que não se definem pelo território que é preciso acrescentar
alín$ua "oficiú", o francês. Se no fufuro fosse
ocupam mas, sobretudo, por sua dispersão, Foi isso tornada
a decisão depromovet as 1ínguas nacionais
que levou a distinguir, nas políticas lingüísticas , entre a novas fun-
ções (função de ensino, por exemplo), seria necess áno
g qïi"çl,qig_d e Wri/_grialidade e o princípio de,perso-
escolher enfre dois grandes tipos de soluções:
nalidade: No primeiro caso, é o território que ''deter-
1. Poderia se tomar a decisão de que o wolof, o
mina a escolha dalíngua ou o direito à língua: apren-
peul, o diol a etc. seriam ensinadãs nas regiões
de-se o catalão numa escola da Catalunha, o holandês
do país onde são dominantes como línguas
na pafte flamenga da Bél gica etc. E esse o princípio
maternas, isto é, dividir o território em seis
que estava na base da reforma do ensino empreendida
regiões de ensino. Foi a decisão escolhida
na Guiné durante o governo de Seku Turé e abando- na
Guiné de seku Tur é. Adificuldade está no fato
nada em seguida6. Ir[o segundo cas o, â pessoa que per-
de que um wolof que more na região do rio
tence a um grupo lingüístico reconheiïão tèm o direito
senegal deverá, ser escora nzado eÍn peul, que
de falar sua língua, não importa emque ponto do ter-
um diola que more em Dakar será escola n ãdo
ritório: por exemplo francês ou holandês em Bruxe-
a, t a

emwolof, e que (o inverso) uÍn wolof morando

ïâs, inglês ou francês no Canadâ etc. ou ainda, uÍn
na casamansa será escolanzado em diola etc.
estrangeiro vivendo na França tem o direito a um in-
t&ptete diante de um tribunal. A escolh a entre os dois
2. Poderia se tomar a decisão de que os falantes
das seis lín$uas oficiais teriam direito a urn
princípios tem rcpercussões sobre o futuro das lín-
ensino na sua línguaonde quer que se encon_
trassem. Mas a dificuldade estaria na neces_
6. Ver Calvet, La guerre des langues et les politiqws
sidade de abrir escolas para peuls, para wolofs,
linguistiqaes. Payot, 1987, pp. 176-180.
pata mandingas etc., e ainda assegu tat em

AS polírtcns LINGüísrlcns
todas as escolas um ensino nas seis lín$uas.
Imagine-se o custo da operação, ainda que às
vezes seja possível combinar o princípio de
territorialidade e o princrpio de personalidade.
Dessa forma, o princípio de personalida{ e é
aplicado em tòdo o Cana dâ, enquanto o prin-
cípio da territorialidade só é aplicado no
Qaébec. Mas neste caso há somente duas lín-
guas em jogo e as coisas seriam muito mais
complexas com seis, dez ou vinte línguas.
O direíto àlíngua
Tratamos até aqui do direito lingüístico, ou seja,
da intervenção da lei no domínio da forma, do uso ou
da defesa das línguas. I.{o que concerne à form a e ao
uso, a Let, se for aplicada, constrange o cidadão. Ela o
obriga, por exemplo, a falar uma ltnguaem determina-
da situ ação e de determinada maneira. PoÍ outro lado,
quando se trata da defesa das línguaS, â lei pode cons-
tranger as instituições: entramos aqui no campo do di-
reito que os indivíduos têrn a uma língua. Num primei-
Ío momento, a expressão "direito à Lín$ua" nos remete
à proteção das minorias lingüísticas, e o próprio fato
de se falar em proteção morttu até queponto elas estão
ameaçadas. Mas hâ tarúém, mundo afora) rtm grande
número de países nos quais os cidadãos não falam a
lingüâ dó È.iàao. É, putã.,r1armênte, ò caso dos países
afrtcanos nos quais a língua oficial (inglês , francês ou
português) é muito pouco falada, oü dos países da Áfri-
ca do Norte nos quais o ánabe oficial tem pouca relação
com o ârúe falado e menos ainda com o berb ere.
OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO LINGÜíSTICO
85
Essas situações dão outro sentido à expÍessão
,,direito à língua,,. o fato de não falar ahíngua do Es-
tado prrva o cida dao de inúmeÍas possibilidades so-
ciais, e consideÍamos que todo cidadão tem direíto à
língua d,o trstad,o, isto é, que ele tem direito à educa-
çã;,à alfab ettzação etc. Mas o princípio
de defesa das
minorias lingüístic as faz com Qü€, para\elamente, todo
cidadão terúa d,ireito ã, suã, língua. Assim, a situação
de um francèsbretão não é amesma de um marÍoquino
que fale o beú eÍei o primeiro fa[a, de todo mod.o, o
(o bretão);
francès e reivindica o dirrito à sua híngua
quanto ao se$undo, pode ser que eke não fale nem leia
o ánabe oficiál, encontrando-se duas vezes prejudica-
do (porque sua [ín$uanão é tecoúecida e porque ele
não domin a alín$nreconhecida)'
Portanto, uma política lin$üística pode dar conta
ao mesmo tempo do direito à língua do Estado e do
direito do indivíduo à língua mas, como no caso dos
princípios de territorialidade e de personalidade, isso
será pÍoporcionalmente mais difícil quanto mais Íru-
meÍosas forem as lín$uas em jo$o'
Conclusão
seja paraequipar as lín$uas, intervir no ambien-
te lingüístico ou paÍa legisl aÍ, o planejamento lin$üís-
tico consti ln in vitro umaespécie de répltca dos fenô-
menos produzidos continu amente in vívo. A lingüísti-
ca nos tem ensinado çlue as lín$uas náo podem seÍ
d.ecretadas, mas que são produtos da hist1rta e da
prâttca dos falantes, que elas evoluem sob a pressão
de fatores históricos e sociais. E, paradoxalmente,
 :úr]jisiaiffiíiffiffip:,, ;;F

As PoLíTtcAS Ll NG Ü ísrtcns
86

existe o desejo de intervir nesses pÍocessos, de querer

modifi caf o curso das coisas , de acomp at*tat a mu-
dança e afriar sobre ela.
Essa pretensão pode parccer eÍroÍme. Mas aS Íe-
lações entie o in vívo e o in vitro que acúamos de cApírulo rv
mostr ar e o fato de que o plan ejamento lingüístico, d"e
cetta forma, "imi ta" o ctlÍSo natural da evolução das
A AçÃO SOBRE A I-íNGUA
hínguas nos mostr arn que o primeiro instrumento do (o coRPUs)
planejamento lingüístico continua sendo o lingüista.
análise, da aLça'
s, u política lingüística é, emúltima
da dos decisores, nenhuÍna decisão pode ser tomada
sem uma descri ção precisa das situações (probl eÍna Quando propõem uma intervenção na forma da
Itngua, âs políticas lingriísticas-'pod"em ter diferentes ob-
visto no capítulo anterioï), do sistema fonológico, jetivos: fixação de uma escrita, enriquecimento do léxi-
lexical e sintático das línguas em contato etc., e
co, luta contra as influências estrangeiras ("purifi cação")
tampouco sem que se levem em consid etação os senti-
padronização etc. Neste capífulo, apresentaremos, bre-
*r*1os Hngüísticos, âs relaçóes que os falantes estabe-
vemente, alguns g.ãgmos desses tipos de intervenção.
lecem com as línguas com as quais convivem diaria-
mente. A política tem sido definida como a arte do
possível. Àplicada à política lingüística, essa proposi- I- O problema dalíngua nacional na China
çáoevidencia o pup.i fundamental do
lingriista. É ele
pode indicar o çlue é tecníçarnente possível fazer e
A idéia de que se fala o "chinês" na china é sin-
ç1,,e
gularmente redutora. Além das línguas minoritárias,
o que será psicologicamente acertâvel pelos falantes.
em torno de cinqüenta, faladas por cetca de SYa da
Toda a arte da polítrcae do planejamento lingüísticos
populaÇão, existe um vasto conjunto composto por oito
está nessa complementaridade necessária entre os ci-
línguas diferentes, as do $rupo han: a língua do Norte,
entistas e os decisores, nesse equilíbrio instável entre
o wu, o xian, o $an, o min do Notte, o min do Sul, o Yuê
as técnicas de intervenç áo e as escolhas da sociedade.
e o hakkal, elas mesmas divididas em mais de 600
dialetos locais. Isso significa que o país está longe de
ser lingüisticamente unificado: ainda que todos os hans
utilizem o mesmo sistema de escttta, eles não pronun-

1. ver A. Rygalotr, Grarnmaire elrmmtaire du chirnis.Paris: PIJ$ lgZs.

88 AS PoLíTrcAS LrNGüísrrcns
ciam os caraçteres da mesma maneka, não têm a mes-
masintaxe; em suma: os chineses não se compreendem
entre si de um canto a outro do país, quando falam sua
língua materna. É por isso que alíngua do Norte (bati-
zada,nessa função, de guanhua) foi logo utiliz adacomo
Língua veicular da administração, como língua do fun-
cionalismo público. Paralelamente, esse funcionalismo
público utiliz avauma línguaescrita clássica, norm atrza-
da, o wen Uetu, que se difercnciava do bai U&fr,hngua de
literatuÍa popular, do teatro etc.
Em 1919, durante o movimento de 4 de Maio, os
esfudantes e os intelectuais conclaÍnatamos escritores a
substituir a forma escrita cf,âssica do chinês, o wen Uan
(considerado como símbolo da ordem antiga), pelo bai
hua (mais próximo da LínÉua falada, mais familiar).
Oralmente, súrepondo-se às hnguas locais, â línguauti-
lizada na administração do Estado continu ava a se di-
fundir. Tratava-se sempre do guenhua ("Iíngua dos fun-
c;lonâtios" ou "Língua dos mandarins"), conhecida no
Ocidente pelo nome de mandarim. (palavra cnada so-
bre o verbo português mandar). O movimento de 4 de
Maio, naturalmente em favor dobaihuano que concerne
à língua escrita,rcclamavatafiúém a emergência de uma
Iíngua de unificação, o gul Uu ("Língua nacíonal"). Foi
depois da revolução comunista de 7949 que se instalou o
problerna da normaltzação dessa ltngua de unificação,
doravante cham ada pu tong hu,a ("língua comum"),, que
" A verdadeira etimologia de mandarim é o termo sânscrito
mantri, "conselheiro de Estado", que passou para o malaio como
mantarl. Pode ter havido uma confluência desse étimo com o verbo
portuguës mandãr, mas é só uma hipótese (n. da trad.).
2, A denominação gal Uu foi conservada em Taiwan, razão
pela qual os comunistas a mudaram.
A nçÃo soBRE A r-írueun (o coRpus)
89
foi definida ern 1956 em rcLação a sua pronúncra (de
Pequim), a seu léxico (dos dialetos do Norte) e a sua
sintaxe (da literatura embaihua).
A partir daí, a forma dessa língua sofre diversas
intervenções, principalmente no dornínio da escrita.
A pafi* de 1955,o governo socialista publicou vma
lista de 515 catacteres e 54 partículas simplificadas,
a fim de factlita4 através da rcdução do número de
traços, a aprendizagem da escrita3. Em seguida, em
1958, criou-se um sistema de latinização aa rn
Êra, o
pín uin, com uma função normalmente auxiliai:
aJu-
dat na aptendtzagem dos catacteres, servir ao ensino
do chinês como língua estran gera, redigir os tele gra-
mas etc. Mas, ao mesÍno tempo, numerosos indícios
apontavam para uma possível inte nção do Estado de
substifuir $tadualmente os catacteres por essa trans-
crição. Sobre isso, urna frase de Mao eÍa contin ua-
mente cttada: "Nossa língua escúta deve ser reforma-
da, ela deve seguir no rumo da foneti zação comuÍn
a
todas as línguas do mund o"4. Em 7977, no entanto,
uma nova lista de cafacteres simplificados foi
public ada, dando então a entender qut a nova versão
se diri$tamais uma vezà reor gantzaçãoda esc
ritaclás-
sica. Mas essa reforma foi abandonada devido à pres-
são de um movimento de opinião no qual o escritor pa
Kin desempenhou um papel de destaque. Esse movi-
3. ver L.-J. calvet, La guerre d,es langues et les politiqaes
linguistiqaes. Paris: payot, lggZ,
pp. 225_225.
4. w. I,ehmann (org.) . Language and Linguistícs in the peopre,s
Repablíc 0f china. Austin: universiiy of Texas press,
rgTS, p.51;
zhou Youguang, "Moder mzation of the chinese Languagc,,
InternationalJowrnal of the sociologg of Langtrege,no 59,
, in
19g6.
 9ï
A nçÃo soBRE A Lít{sun (o coRPUs)
AS polÍrtcRs LlNoÜísrtcns
90
O putonghua,tal como falado pelosbilín$ües,
sofre quase sem-
rruito $rande da
mento defendia que uma modifi caçáo pre distãrções mais ou menos $raves, que atin$em seu sisteÍr1a
parte
escrita acabana desfïgurando e perdendo uma ionológico. por exemplo: certos traços fonológicos
do patorryhun
que nos dialetos,
importante da her ançacultgral han. Não é sempre e as dife refic'ações que eles permitem não existem

tâtto como o da China recrta dessa incluindo os dialetos do tipo Nortes'

um poder autori
maneir â, Q esse episódio confirma o çlue foi apresenta-
Paradifundir uma hín$uauniformiz ada, o $overno
uma
do no capítulo anterior: é dificil impor in vítro dispõe de certo r{tmero de meios: a televisão,
o cinemâ, â
duas hi-
reform a re4ertada in vivo. Essa oscilação entre escola... Mas a escola desempenha seu papel imperfelta-
poÍ um "diúeto" '
póteses, refo ffnat os caracteres ou substituí-los mente; muitos dos professofes d-ão aula em
técnica' A
sistema de base fonrâttca, não é somente seu conhecimento do putonghuaó insuficiente
etc-Acres-
especificidade da situ açáo lingüística chines
a faz com fato allngua náo desfrutar de
centemos a isso o de ãss
chineses do Nor-
custas de algumas mu danças, tod'os os popular. se as pessoas
Ç[üe, às um movimento de adesão
possam (graças a esses te, sobretudo as d.e pequim , a falam sem muitas
dificul-
fossam ler esses caracteÍes e
sua lín- aáa.* (mas os pequineses Íepresentam menos de LTo
da
caracteres) escÍever tanto o pu tong hua como
suas
o \ilu etc. A mudançapara o população), o rãstã da população han prefeteutthzaÍ
$ua materna, seja o hakkâ,
afecef nessa :uttrtzaçáo
pi" Uin mudari a tadtcalmente essa situação, visto
q1le
ãràpriu, ti"srras e deixa transp
uma úni- fortes sentirientos identitários. Assim, em duas das três
uma transcri çáo fonética só pode consideraf a situ açáo do
a lín$ua oficial' maiores cidades do país, xangu e cantão.
ca língúa e essa seria naturalmente lín$ua nacional
d'elineua- pu tong huanão é exatantente a de uma
Assim, PoÍ trás de um debate sobre a escrita,
que diz respeito acetta poÍ tod-os.
se um outro, muito mais importante,
mail'ltenção desses
ao futuro lin$üístico do país: a Bm Xan$ai, o putonghua pouco falado na escola;nos serviços
é
sobrevivência que não
carasteres garãntiri a) ern certamedid à, ã públicos, o sentimento xenófobo em relação àqueles
seria' evi- falam o shan$ ayefise manifesta de tal forma
que che$aa seÍ
d,asltn$uas han, e a passa$em à rom afir'ação
é evidente
a irnposiçao d,, u*ohín$ua
(o pu tong'u-o) ' alvo de ataque nos jornais (. . .) Quanto a cantáo,
dentemente, habitan-
que o prúlem a dahng,n(a preferência lin$üística
dos
De mod,o mais amplo, a políttça de d'esenvolvi- econômicos e
do país' trr) .rt ârelactonad.o com os inúmefos contatos
mento do pu tong h,ua criou, em $tande parte de Hon$ Kong'
as crianças, comerciais entre os húitantes da cidade e os
uma verdad e'ra situação de bilin$üismo: por isso tudo, a utrlidade prag mâlrcado cantonês é incomp atâ'
poÍ exemplo, apÍendem primeiro a lín$ua que seus vel. Nos trabalhos que mais attaemos
jovens (aqueles que os
pais thes t urrr*item (qtt continua sendo chamada colocam em contato com pessoas que vêm de
Hong Kong)
o
oficialmente de "dialett') e adquir em, em se$uida'
Essa lín-
pu tong hua (mais freqüentemente na escola) ' de chinois contemp oraiÍ!" in J. Maurais
graoficial está natuialmente submetida à influência
G,problèmes
(org.), La crke dnslnnguns. Paris: Rúert, Governo do Québec, 1985,p' 421'
d.os falares locais:
 A nçÃo soB RE A lírue un (o coRPUSl 93

exige-se dos empregados

"*
ur;:t:;ï; ;l:ff; Voltaremos a essa hipótese a propósito d.e outros
akémde um relativo domínio do inglês e do puton$hua6' estudos de caso.

Podemos obs ewaf que a políticade difusão de uma

línguanacion aI na China esbarr a eÍn muitas dificulda-
d.es. Algumas não são novas e podetão seÍ resolvidas
com o tempo. A situação lin$üística da Frafiça na épo'
ca daRevoluÇão, por exemplo (muito semelhante à si-
tuação da China de hoje), não impediu que alín$ua
francesa se impusesse, em dois séculos, como Lín$ua
itnica. Mas a principal dificuldade da China, hastante
específica, reside no fato de se trat at de um país muito
gr:ande. Será que é possível mudar pela lei, por d'ecre-
tos, pela administração, em suma, pof meio do plane-
jamento lingüístico, as práticas lin$üísticas de um bi-
thão e trezentos milhões de pessoas que falam tantas
língns diferentes? Só o futuro podetâfesponder
pergun ta, mas se ima$inarÍnos Ç[üo, patalelamentq rtma
híngua como o in$lês se difunde sem problema pelo
mund.o com uma função veicular, a comp aração das
duas situações parece indicar que a açáo ín vitro tem
ceÍtos limites. Se, como su$erimos, o planejamento
lingüístico constiírt in vitro uma "imttação" dos fenô-
menos de mudanças in vívo, essa tendência mimética
talveztenhaseus limites e impossibilidades. Desse ponto
de vista, o exemplo chinês contribuL para a reflexão
teótrcae podemos nos per$untar,como no célebre prin-
cípio de Peter (segundo o qual todo ernpfe$ado tende,
em uma hierurquia, a che$ar até seu nível de incompe-
tência), se as políticas tingüisticas não estã,0 destinadas a
U - Intervenção no léxico e na orto$rafia de
uma lín$ua: o exemplo do francês
Para defendeÍ sua hn$ua, aEtança dispõe de es-
truturas anti$as (como a Academia Francesa) e de ou-
tras mais recentes (como a Delegação Geral pafaaLín'
gua Francesa) e interv ém essencialmente no domínio
da terminologia. Essas intervenções se manifestam prin-
cipalmente poÍ textos legislativos, decretos ou leis.
O s " de cr eto s língüístíc o s "
a esta
A partir do início d.os anos 1970, fotam criadas,
nos diferentes ministérios franceses, "comissões de ter-
minolo gia" enc,affegadas de elúorat, em SeuS respecti-
vos domínios, o vocabul ânoadequado. Entre 1973 e 1993,
é possível contat 48 poftanas em campos variados como
as técnicas espaciais, o furisffio, o audiovisual, a púlici-
dade, a agriculfrxa e os idosos. Em 1994, a Dele$ação
Geral paru aLín$ua Francesa reuniu, sob a forma de um
dicion âno (Dictionnaire des terrnes fficiel,s de la lnngue
françaíse), o conjunto de termos e expÍessões
"aptova-
d.os" (é aformul açáo oficial) por esses decretos.
@j

Asleislíngüístícas
alcançnr uyn dia 0u 0utr0 seu, greu de ínfficácia. #
Ao conffârto de pases como a Notue$a, aFtança ffi

promulÉou pouquíssimas leis lingüísticas que dtzem ffi

#1
94 AS PoLíT rcAS Lr
respeito à língua francesa. A primeLra delas, em uÍn
período mais recenta, é a lei de 31 de dezembro de 1975
relativ a ao empfego da ltnguafrancesa, conhecida como
"ket Bas-Auriol", substituída depois pela "lei Toubon'1
Em seguida, veio a lei constitucional de 25 dejunho de
1992, acrescentando à Constituição um título: "Das
comunidades européias e da União Européta'1 Esta lei,
adotada pelo Congresso (reunião das duas assembléi-
as) e tendo por objetivo modiftcar a Constituição com o
objetivo de permitir a assinatura dos acordos
Maastricht, acrescenta, na prLmeLÍa aLínea do artigo 2
da Constituição de 4 de outubro de 1958, a se$uinte
frase: "A lín guada Repitbltca é o francês'1 Até essa data,
não havia nada na Constituição que definisse o papel
daltngua ftancesa na França. Em seguid a, vierarn duas
leis com importâncias diferentes:
- Atanalei "Tasca'1 Elaborada em 1993 pela Secre-
de Estado pata a Francofoni a e pata as
Relações Culturais no Exterior, essa lei seria
adotad a em 17 de março de 1993 pelo último
Conselho de Ministros do governoBérégovy e
nunca foi apresentada ao Parlamento: as elei-
ções legislativas subseqüentes pÍovo catam
uÍna mudança de maioria e de governo. Ncr
entanto, ela é mencionada aqulpoÍque consti-
tui o modelo da lei apresentada abaixo.
A lei de 4 de outubro de 7994, ou "lei Toubon".
- Adotada em 23 de fevereiro de 7994pe1o Con
selho de Ministros, suscitou uma vasta polô
tnrca na opinião púb1ica e na imprensa inter
nacional (que, de ÍnarnerÍa geral, zorúou rL
França). Em 27 de julho de 7994, depois rlt'
N c ü ísr r ce s A nçÃo soBRE A lírueun (o colpus) 95
uÍn recurso protocolado pelo grupo socialista
da Assembléia Nacional, o conselho constitu-
cional anulou muitos artigos e disposições da
lei, por julgá-los çontrârios ao arttgo 11 da
Declarução dos direitos do homem e do cida-
dão. seu objetiv o eÍagriginalmente regul amen-
tar o uso da lín gua fianèèsa para todos os ci-
dadãos e foi limitado,após a intewenção J;
conselho constitucion a7, apenas aos funcio nâ-
de rios no exercícro de sua função. A lei intervi-
nha essencialmente em cincá domínios:
o o mundo do trabalho (contratos etc.);
o as relações de consumo (publicidade em francês);
o o ensino (obrigatonamente em francês);
o o audiovisual (kancês obrtgatorio nos progra-
mas e na publicidade);
os colóquios, congressos etc. (todo pafitcipan-
te francês deve se expressar em francês).
A ortografía
os franceses têm uma re\ação estranha com a
ortogr afia de sua língua: recla Ínarn sempre de suas
clificuldades e incoerências, mas2 ao mesmo tempo,
não permitern que ela seja modtftcada. Talve z sejapoÍ
isso que as intervenções do Estado nessa matéria te-
nham sido sempre extrem amente prudentes e come-
clidas. Existe um decreto de 26 de fevereiro de 1901
"relativo à sirnplrficação do ensino da sintaxe françe- ,tl
sfì
r{.
H0" que dá, sirnplesmente, uma lista de exceções orto-
rì
*l
r
$ráficas e especi ftca que "nos exames ou concursos
w'
&
tlcpendentes do Minis térto da Ins trução púbhca, que &
..
.
#,
ü
 AS PoLíTlcAs LINGÜ ísrtcns A nçÃo soBRE A líruoun (o coRPUS) 97
96

não seja O proble ma seú, retomado no início dos anos

comportem provas especiais de orto$r afta,
o tlso 1990. Em 19 de junho de 1990, o Conselho Superior
,orrrìderado como erro por parte dos candidatos
das exceções indicadas" ' ' '
daLíngla Francesa enviou ao primeiro-ministro um
Essas exceções são em número limitad'o:
relatório, rcahzado a seu pedido, contendo algumas
, plural nas colls-
Ace rtação do sin$ulaÍ ou do
proposições de retific ação da orto$r afta7:
truções onde o sentido permite a compfeen- o substitui ção do hífen pela a$lutin ação em certas
pa?avras(portern0nn&íe,millefzuil'le,pingpongetc.);
são (d,es habits d,e femrne orL de femrnes, ils ont
ôté leur chapea,tr ou l,eurs chapeaux) ' o plural de palavÍas compostas se$uindo o mo-
Acettação de dois $ênefos parapalavras como delo das simple s (un pèse-l'ettre, des pèse-lettres,
I
tLn üLre-d,ent, des cwre-dents etc.);
a,vnotrr, orgue, gens, hYrnne ' ' '
) Aceita çá6 da ausência do hífen nas palavras o simplificação do uso do acento $tave e do acefL'
compostas (pomme d'e terre o1Jp0rnme-de-terre) ' to circunflexo;
Algumas exceções em telaçáo à concordância o o caso parttcular de laisser no patttctpto pas-
)
nominal (por exempl o: se faire fort, forte otforts, sado seguido de um infi.nitivo, que passotl a
nu ìu ,u, pieds, d,erni ou demíe heure. . .).
p,ied,s
seÍ invari âvel (etl,e s'est laíssé rnourir, ie les aí
laissé partir);
I Algumas exceções em relação à concordância
o a $rafia de algumas palavras foi
do verbo preced.ido de vários sujeitos ou de finalmente,
um sujeitã coletivo (te chat ainsi que le tigre retific ada em função de alguns princípios de
pe6 coerência int errra (charríot nolugar de ch,aríot)
sont d,es carnivyres ou est un C&rnivore, Un
d,e connaíssances sffit ou swffísent) ' e de simpl tftcaçã.o (nénwfar no |u$ar de
nénuphar) etc.
o No caso de um patttcípio passad.o construído
O $rupo de trabalho que elaborou esse texto to-
com o auxil iar avoir e se$uido de um infinitivo
da for- mou algumas pÍecauções: trabalhou com a Academia
o1r. de um outro parttcípio, acettaçáo
que l'on a trouvé ou Francesa, consultou o Conselho dehnÊuaFrancesa do
mainvari âvel: l,es sauva,ges Fran-
trowvés errant dans les bois' Québec e o Conselho da Ltn$ua e daComunidade
muito mod'e- cesa da Bé1 gtca. Confudo, não consultou nem os suíços,
Percebe-se que essas exceções eÍam
quenlfreqüentou uma escola ftancesa sabe nem oS afrtcaÍlos. Mas o statws dessas modificações
rad.as, mas
ortogr âficas é extternarnente ambíguo. De fato, o texto
qlre elas forám muito pouco aprrcadas. Particularmente
difundido pela dueção dos diários oficiais se intitula
.r' exercícios de ditado, o professoÍ geralmente espe-
grâfi-
rados alunos que eles Íeconstituam as formas
pÍeocupado
cas que ele est à dttundo e não está muito 7. "Les rectrfrcations de 1'orto$raphe" , irL Journal officiel d'e la
Répubtíque françaíse, no 100, 6 de dezembro de 1990.
com as exceções.
 (o coRPus) 99
98 AS PoLíTlcAS LIN(,ul', t!, = =- * lçlt: soBRE A t-íneun

ele
"As rellfrcações da ortoSr#ta", o Qüe deixa entenrlt,r rlrrr $g nrto grafia típtco do planejamento indicativo:
é
em fazer pÍoposições
para as palavras em questão hâ, doravante, uma lor rrr;r ãão tem força de 1ei, contenta-se
€ erperu qrr. elas sejam
incorporadas ao uso 'Iá' o tex-
anttga e uma rettfrcada, Mas o primeiro-ministro, rro r{'
proíbe, pof exemplo, o eÍn-
ceber em junho de 1990 esse rc\atono, declarou: te de 1gg4 é umalei que
maÍcas re$istradas constituídas de
uma ex'
pr*gu de
O governo nunca pensou em legislar nessa matérta: a lín1lu;r
prcssão ou termo estran$eiro
(art. I4), pÍevendo que
pertence a seus falantes, Qüo não deixam de tomar, torkr tlr,r públicos çloe
êË coletividades o1.1 os .rtubrlecimentos
liberdades com as normas estabelecidas. Mas é atrrbuiÇrro rl, todo e qualquer
não a respei tarem poderão perder
,

governo fazw aquilo que está em sua a1çadaparafavorct,('r ,

auxflio d.o'Estad.o (ãrt. 15), ; determtna
que os ofi-
uso que pareçamais satisfatório neste caso, esse que os fi('
nhores propõem8.
- ciais e os agentes da polícia
judictârta estão habilita-
(art. 16) etc'
dos a investigar , ,ori, tatar as infrações
E no próprio texto do rcLatório havia uma hcsi essas di-
IJma râptda análise pode tta relacionat
tação estilística entre, de um lado, uÍna apresentaçao foi no go-
f,erenças a íÍna oposição esquerda/dueita:
em termos de prlplstas ou reclmendações e, de outro, socialista,
veÍno de Michel nocard, primeiro-ministro
o enunciado de regr&s, no tom imperativo que convérrr ortçrafia foi p11-
que o texto súre as retifi.c1çõT-da
pÍi-
,blicado, e foi no governo de Édouurd Balladur,
a esse $ênero.
É impossível saber se as modificações serão acei-
meiro-ministro de direita, foi púlicad, a lei rela-
eüe
tas pelos falantes, e isso não vem ao caso aqui. Por da lín gu,afrutr.ru. Assim, gffi maté-
tiva ao empre$o
outro lado, é interessante compataf o tom dos dois a um planeja-
rta de ríngua, a.rqr.ãu se incl:rrLarta
textos que acabamos de citat. No primeiro capítulo que a direita se
mento inãicativo, du mesm a ma11erfa
deste livro, frzemos uma distinção geral entre o plane- : teríamos
inclin arra par aum planej amento imperativo
jarnento indicativo (qur se fundamenta na combirta- por essas coÍ-
aqui posiçães inveÍsas àquelas adotadas
ção entre diferentes forças sociais) e o planej anoento rentes políticas no domínio ecoÍrômico.
imperatívo (que implica a sociali zação dos meios de Mas a existência d.e um projeto de
lei elaborado
produção). Essa distinção fazta referência ao planeja- (a "lei Tas-
em 1993, PoÍ 1,1m outro $overno socialista
mento econômico, mas pode ser igualmente apltcada ca,,), invalida ess a anâltse. O fato
de alei Toubon ter-se
ao plan ejamento lingüístico. Desse ponto de vist a, deve- é tnteressante'
inspirado em alguns pontos da 1ei Tasca
se destacat Qüe, em matéria de hngua, o Estado fran- entre a posição
pois mostr a qr1e não hâ uma opostçáo
,,esque rda,, e a posi çâo de " ditelta" sobre a rtn$ua,
J

côs passou, effi quatro anos, de um tipo de planeja-

ì1

de
mento ao outro. O texto de 1990 sobre as retificações e dirigista de
mas súretudo uma posi çáo nacionalista w
,ï

lado. As leis ou
um lado e rrÍnaposição hberal d.e outro
ìl
Ì1

rl
,l
evidentemente'
8. Op. cit., p. 7. projetos d.e 1ei Tas ca eToubon estav aÍn, !
'$
s'
&
tr
t
I
 A nçÃo soBRE A líue un (o coRPUS) Ioï
AS PoLíTlcAs L|NcÜísrtcns
i i{*ì
mui- rto francôs no d.omínio tecnológico paraharcar a ten-
e*r larlg rII rlti i$isrlcl (mesmo que a prirnertafosse dência aos empréstimos ao inglês.
**r *tlFgns lr'pt't:ssiva qlle a se$unda) e do planejamento
Michel Rocard estava
ilipetrltlvn. .l;i 11 texto aceito poÍ
indicativo' III - A fixação Mali
rl* lr*l' rkr libcralismo e do planejamento do alfabeto bamb
políícalingtiística da Fran- ^ra,no
I rrirerr rrr rrrl, no âmago da O bamb ara (bamanan-kan) é nÍna Língua falada
(coexistência
r.tr r ,Í.risrr:'r duas posições anta$ônicas
de outros países no Mali e no Senegal ) t:ma variedade de urn conjunto
rrrt,raÍca a políticalin$üística
r=!ìqÉr
mais vasto, o mandinga, que é dividido em dois grupos:
r rr,r' it 'l'urqura e aNoruega)
que é ttptca da relaçáo
sua lín$ua, hesitar.' o mandinga do oeste, com o mandinka da Gârúia
o
;rrrrrrgrtriì que os franceses têm com
e da Casamansa e o khassonkê do Mali;
rlu t:lttrc a vont ade de ordem e a displicência'
. o mandinga do leste, com o bamb afa no Senegal
e do Ma1i, o malink e daGuiné, o jula de Burkina-

As índústríns da l'íngua Fasso (ex-Alto Volta) e da Costa do Marfim.

"in- Esse conjunto constitui um grupo de falares tão
No início dos anos 1980, sur$iu a expressão próximos uns dos outros que se torn a dtfícil classifi-
o conjunto das no-
rlristrias da 1ín grta" pafa designaÍ car o bamhara, o malinque ou o jula como línguas
tecnologias de infotmaçâo, um crÚ7'arnento
de
vr.rs
diferentes ou como dialetos de rLma mesm alíngua (o
i rrform atica,inteligência
artificial, ciências cognitivas
tratar-se, da produ- mandinga). Na época da independência desses paí-
(,) lingüística. Trata-se, ou dev efra
ses, essas línguas não tinham um sistema de escrita
ção Jr újetos
(dicionários eletrônicos, corretoÍes oÍ-
de textos, d' oficial: alguns missionários haviam apenas improvi-
tográficos, softwares de pÍocessamento sado transcrições pafa redigir catectsmos. Mas, em
bancos de co-
tradução urio* âttca, bases de dados, alguns países, diferentes projetos de organtzação de
(neolo lra,
nhecimentos etc.) e produtos lingüisticos
pesquisa de ponta campanhas de alfabe trzaçáo de adultos, em línguas
terminologia...) ,ro qtad.ro de uma
locais, demandavam uma transcrtção precisa. É por
de carâtet multidisciPliruar' .
isso Qüe, de 28 de fevereiro a 5 de março de 1966, a
No início uno, 1990 , afirançainvestiu mui-
d.os
propria- IJnesco reuniu em Bamako 35 especialistas em lin-
to em pesquisa nessa ârea, seja a pesquisa güístic a e alfabetrzação oriundos de cin co países euro-
no quadro
mente francesa ou a pesquisa d.esenvolvida
das instituições francófonas multinacionais.
o d.esa- peus e de nove países afrtcanose com o újetivo de con-
nos pÍo-
fi.o era $a3nttf apresença da[ínguaftancesa
computador etc.),
dutos de info rmâttca (pro gramasde 9. Alemanha, Dinamarca, FranÇà, Grã-Bretanha e URSS; Ca-
(infovias, rede tipo marão, Costa do Marfim, Guiné, Alto-Volta, Mali, Niger, I.{igéria,
nas comunicações lnod.ernas Senegal e Sudão.
de um vocú:ut!á-
internet etc.) e tambémna pÍodução
 A nçÃo soBRE A líueun (o coRPUS) t 03
As PoLíTlcAs LINGÜísrtcns
t02
da Afri- Dessa forma, üffi camponês do Mali que tivesse
cluir e de unificar as transcrições das lín$uas aprendido a\w em sua hngua reconh ecia na $rafia ó o
ca Ocidental. O relatóriofinal d-essa reunião propunha som /c/ , correndo o risco de ficar desotientado se the
son$h ay-
seis alfabero, (mand rn$a, Ped, tamasheq, caíssem nas mãos publicações feitas na Gutné ou em
q1le deveriaÍn
z,arma, úus a e kanuri)l affaUetos esses Burkina Fasso (países vtzinhos), onde o mesmo som
O
ser submetidos à ap tovaçáo d.os Estados-membrosl0' eÍa transcrito Ìi ou c. Ele coffta o risco tatnrúém de
Ínafieïra"
alfabeto mandin$a se apfesentav a dase$uinte confundir o ó, pois no seu país esse sinal $râfico indi-
abddyeêfggbhikkhkmnnwnyoôprsshttyuwyZ. cavao "o úerto " e ono Sen egalindica o "o fechado" (a
uo)) d'enotam uma diferença de acento não é evidente). Da mesm a rna-
o acento sobr e o "e" e sobÍe o neira, o "e aberto", /e/ , era transcrito é na Guiné, flo
pronúncia fechada d.essas vo$ais, as vo$ais lon$as são
e as nasais por Mali e no Seneg a\ e na Costa do Marfim e em Burkina
notadas pela duplic açáo (ii, oo, aa et:c.)
E variantes etarn muito mal recebidas,
um c(tr)' acÍescentado à vo$al (an' of in
etc') ' Fasso. eSSaS
rnarL- impossibilitando, poÍ exemplo, a publicação de Ína-
Mas Íros países ond.e se falav a :utmalíngUa
alguns aspec- nuais de alfab etrzação comuns a diferentes países que
dinga, esse alfâbeto foi modificad'o em
partilh avaÍn a mesma Lín$ua. .
tos. Por exemplo:
Temos aqui um caso muito particulaÍ. E difícil ima-
o em rilaçao às oclusivas palatais, certos
par.'.
grnar Qü€, por exemplo, no conjunto dos países
(ty t dy);
:,.r,comooMali'preferiramas$rafiasc(c))e francófonos, ahngua francesa seja escrita de diferentes
j,, àquelas pÍopostas,pela lJnesco
palatal, o Sen e$a1 preferiu maÍteiras, oü que cada um dos diferentes países
o em relaçáo a
"ár*
fr. ao nY PÍoPosto;
hispanófonos adote suas próprias Íegras ortográfi-cas11.
..e'' e,,o,,' VaÍiações era'n No entanto, foi essa a situação cnadana Aftica Ociden-
o em ,,Luçeoàs vogais
aS

a tabela úaixo: tal para determinadas lín$uas. Os diferentes países nos

ainda maiores, como mostra
quais se falava a mesmaKngua náo tinham um mesmo
o aberto
fechad'o e aberto
o fechado
e alfabetoparaessa lingua, os mesmos Sons não eÍaÍntrans-
o o
Bamako 19 66 ê
o
critos da mesma maneira nas diferentes línguas falad.as
o
Guiné e
c em um mesmo país. Dessa forma, a felJnião da Unesco
eg o
Costa do Marfim
o c de 1996 propunha transcreveÍ as oclusivas palatns ty e
Burkina Fasso et dg para o marlün$a e c e j para o peul. . .
o ó
Mali e
ô o
Senegal e

11. Constatam-se, de fato, algumas variantes $ráficas entre a

escrita do inglês nos Estados Unidos e rra Grã-Bretanha, mas elas não
13 a 16 de setembt'rr
* Unesc oICI,Í.IBALING/' eão padronizadas.
""**t*o
de 1966, p. 3.
 AS PoLíTlcAS LINGÜísrlcn:;
104
É verdade que em relação ao mandingà, as for
mas faladas no Mali (bamb ara) ) ern Burkina Fasso c
na costa d.o Marfim (iula) e rtaGuiné (malinkê) apre-
sentavam diferenças, mas elas não constituíam um
obstáculo à comuntcaçáo, e a unificaçâo da orto$rafia
tertasido um meio de padrontzâ-las. cadapaís, entre-
tanto, estabeleceu seu próprio alfabeto e) no que
conceÍne ao Mali, um decreto de 26 de maio de 7967
fixou o alfabeto do bamb aÍa da se$uinte rnafuelÍai
fl, fl, ilY, fl, o, ó,P,t,
ã,b, d,i, e, érf, É,h, i, k,1,
Mesmo assim, todos estavam pelo menos consci-
entes da incoerência de uma situação naqual um mes-
mo som existente nas diferentes lín$uas não era tÍans'
crito da mesma maneiÍa. A DNAFLA (oivisão Nacio-
nal de Alfab ettzaçáo Funcional e de Lin$üística Apli-
cada) organi r,or1. entáo, em 1978 e 1979, jornadas de
estudos dedicadas ao problema da untficaqão inteÍrra)
isto é, da defi.nição de um alfabeto comuÍn a todas as
Iínguas d.o Mali (nove, ao todo). Foi assim que se e1a-
borou um "alfabeto para a transcrição das lín$uas
nacionais do Mali", adotado em se$uida pelo decreto
de 19 de julho de 7982.
Esse alfabeto "comum" pode parecet extrema-
mente complicado: e1e é composto de 55 catacteÍes'
d.os quais apenas 19 são comuns a todas as ltnguas, 4
são comuns a oito lín$uas e 11 são utthzad.os apenas
po1' uma \íngua (o tamashtq). Em outras palavras, a
homog ertetzação da ttanscrição dos sons nas diferen-
tes línguas foi efetivamente teahzada, mas se peÍdeu
a oportunidade de apÍove ttat a economia çlue a utili-
zaqão de dígrafos podertatw proporcionado. PoÍ exem-
A nçÃo soBRE A líneun (o coRPUS) t 05
plo: a paftu do momento em que existe no alfúeto
latino um c ou um s e um h, podem-se uttltzar os
dígrafos sh ou ch para transc revef o som inicial de
,iá,poÍ exemplo. O alfúeto malaio (que tem à dispo-
sição s, c e h) possui, no entanto, um signo fonético
específico pafa notar esse Som, da mesma fotma que
q
o signo y paranotar o som que outros escrevem com
e t,Ínasérie de letras marcadas para assinalaÍ as ônfa-
ses. Certamente o resultado é de $rande pÏecisão, pró'
ximo d.e um a transcrição foné tica, mas ao lado dessa
t,9t,w,Y, z'
precis ão em relação à articul ação dos solls, não é pos-
s, sh,
sível notar os tons do harrrbata.
E isso levanta r1rn prú1ema importarúe: de uma
ÍnarLeta o1"1 d.e outr a, 3.grande m{oria das e9crit1s,
1o
daptói^u
imperfe:tção vem
{*pndg.q imp erfetta, eïsiâ
nature za daescrita. De fato, paraser efi. caz) um alfúe'
to dev e atender a certo numero de critérios (pot vezes
contraditórios) que precis aÍn seÍ combinados:
1. Ele deve seÍ unívoco, isto é, a mesma letra ou
o mesmo grupo de letras d.eve transcÍeveÍ Sem-
pÍe o mesmo Som e o mesmo Som d'eve SeÍ
sempre transcrito pela mesm a letra ou pelo
mesmo gÍupo de letras (sabemos que não é
esse o caso do alfabeto latino apltcado ao poÍ-
tuguês , âo francès ou ao in$lês, por exemplo)'
Nessa perspe ct1a, o alfabeto malaio é coeten-
tc, salvo flLm aspecto: a nota ção das nasais e
das pré-nasais. As vo$ais nasais' como men-
cionamos, são de fato notadas com o acrésci-
c(nni arr : /ã,/ron: /õ/ etc., mas as
mo de um
consoantes pré-nasais são notadas pÍecedidas
(fl|': rmb, ns, ng. oÍ4, como as palavras
d.e um
J
I

compostas são escrita, ;J;:: ;:ï:
união dos elementos entre si, nem sempre é
fâctl saber' si o 'n)'2 pertence aumavo$al nasal
ou a vmaconsoante pré-nasal. Assim ) emuma
seqüência como sansabantura, 'f,ln'touro de
três anos" (san : ano, saba : tiês, ntura -
touro) , cotÍe-se o risco de se fazer rtÍnaleitura
decompondo diferentemente os elementos: sa
/ nsaban / tu,ra, sa,n / saban / tur&....
2. Ele deve permitu a notação de todos os sons
pertencentes à língu a, tncluindo os tons; o que
não é o caso do alfabeto {gg}41-4": os pares ba
(cabra) eba (rio) , jo ("fetiche") eio ("razão"),
g6té ("canhão") e gêIé ("mirante") , joli ("san-
Êue") ejoti ("chaga"),flni ("teado") efi,ni
("ces-
to") , entre outros, sg escrevem da mesma
maneita, sendo o primeiro elemento de tom
baixo e o segundo de tom alto.
3. Ele deve ser de fâcil aprenüzado e utiltzação.
Os pontos 1 e 2 nos mostr am que esse não é
úsolutamente do caso.
4. Sua aprendtzagem deve poder ser reutilizada
(por exemplo: o conhecimento do alfabeto la-
tino, ao pÍeço de algumas mu danças, permite
a leitura do português, do italiano, do espa-
nhol, do francês, do inglês, do alemão etc.).
Percebe-se que pode haver oposição entre a von-
tade de precisão e a busca d.e uma facilidade de utili-
zação; o problema consiste em encontrat um bom equi-
líbrio. O futuro nos ürâ se o alfabeto malaio entrou
em uso sem difïculd.ades, mas esse exedflo'nos per-
mite evocaï os diferentes probleÍnas inerentes ao es-
A nçÃo soBRE A lírueun (o colpus) 107
tabelecimento de um ahfabeto e de uma orto grafia. Os
princípios que aparcntemente nortea ram a fixação
desse alfabeto são, de certa maneíra, contraditórios:
percebe-se uÍn desejo de ftcar próximo aos fatos
da
Língua, manifestado por uma giande precisão na no-
tação das consoantes, desejo esse que dãsaparece quan-
do se ttata da not ação dos tons. Mas or pãres de putu-
vras que se diferenciarn pelo tom são em nrimero ii*i-
tado, e freqüentem ente a sintaxe é suficient e parasu-
primir a ambigüidade. Assim, é pouco provrível que
haja confusão entre um adjetivo com o bon (,,grosrã,,,
de tom baixo) e um verbo como bon ylançaf,:de tom
alto), ou entre um verbo como boti (,,ro* ar,,, de tom
baixo) e um substantivo como boti ("fetich e,,', de tom
alto) etc. E isso nos mostr a qlJe a escr rta não precisa
fazw estritamente a mesma distin ção reayzaáa peto
código oral. G&ard Galtier ass inalava que tanto
no códi$o escrito como no código oral, espera-se que cadasigno
seja plenamente reconhe cívele distinto de outros signos.
úr,
os procedimentos utilizados panesse fim são diferentes no
código escrito e no código oÍalrz.
E prosseguia dizendo que se poderia imagin at uma
maneira de distinguir os poucos pares prúlemáticos
seÍn notar sistem attcarnente os tons mediante acentos,
como jâ fora proposto, mas simpresmente escrevendo
de maneira ligeiramente diferente um dos dois termos.
Não continuaremos esse debate aqui, que pode
parccer excessivarnente téçntco; o que se per cehe ,é que,
12. G. Galtier, "Problèmes actuels de la transcription
du bambara
et du soninké", comutncação feitaà Reunião de especialìshs para
a trans-
crição e harmonização das línguas africanas, Niamey, julho
de tgrg.

r 08
As polírlcRs LINGÜísrtcns
no momento da fix açáo de um sistema ortogrârtco, o
planejador não precisa necess aflaÍnente se súmeter
ãs exi gènctas de precis âo ctentífica do lingüista.
Tal conclusão vale de maneira $eral' É preciso
saber para quem e para qual uso a ttanscrição está
sendo fetta, para quem e para qual uso as palavras
são criadas, pala quem e para qual uso se padtorurza
úrnaltngua. ò quesignifica que a intervenção n? -fo:
Ína de uma 1íngua d.eve estar ligada a uÍna utilidade
pratica e não a rrna tdéta abstrata que se possa teÍ'
IV - A 'orevolução tin$iística" na'Turquia
que
DiL d,evrirni, a "revolução lin$üística": é assim
d.est$na, em furco, o conjunto d-as reformas tealtza-
se
das pelo regime de Mustafa Kemal Atatrirk logo
depois
(1923). Naqu ela época, o tur-
da fun daçáo da República
co escrito se transformar a er'uma rínguaerudita cheia
de palavÍas de origem ánúe e peÍsa' à qual a $rande
maiori a dapopula çáo não tinha acesso e que náo trans-
(com a
crevia em absolutamente nad a aLtngua falada
qual mantinha quase nenhuÍnatelação). Alem disso, o
alfabeto utilizado estava mal adaptado àríngua: em
turco,
há oito vogais breves e três lon$as, mas o alfab eto âtúe
só permite a nota çáo de três vo$ais. Devido a isso,
o
probt, rna d.e um a reforÍna na escnta estava posto ha-
(num Es-
via tempo, mas era ptattcamente impossível
tado muçulmano teocrâtico) tocar no sistem a $tâfico
que servira païatranscreveÍ o Alcoráo.
Os jorrãn, dirigentes que ascend- erarn ao poder
pelo modelo euÍopeu)
(leigos, inovadores á
^urcados
nao podiam acettar, nesse como em outros ârúitos,
A nçÃo soBRE A lírueun (o coRPUs) 109
os vestígios do Imp ério OtomaÍto. Mas a imposição de
uÍna reforma da escrita que não fosse percebida como
dirigida contra a reTtgtão era uma questão muito deli-
cada. Mustafa Kemal Atattirk esperou cinco anos: em
1928, criou uma "comissão lingüística" encarÍegada de
elaborar um novo alfabeto Çl1te, alguns meses mais tar-
de (1 " de novembro de 1928) foi adotado pela Assem-
bLétaNacional. I.{a realidade, Atatürk execut ara prevta-
mente um verdadeiro golpe de força ao anunciag num
discurso de 8 de agosto, Qü0 esse novo alfabeto fora
adotado: só restava à Assembléia l.{acional rattficâ-lo.
Esse alfabeto, adaptado do alfabeto latino, eÍa
produto de urna escolha políttca e ideoló gtca que ten-
dia a larctz,ar a 7íngrta. Faltava apenas impô-lo, e as
coisas passaÍ am a andar rapidamente: eÍn menos de
dois anos seu uso passou a seÍ obrigatório em anunct-
os, documentos administrativos, livros, jornais e, evi-
dentemente, no ensino. O antigo alfabeto desapareceu
ao mesmo tempo em Qüe, paralelamente, se suprimia
o ensino do átrabe e do persa nas escolas.
Mas o novo re$ime turco não parafla por aí. Por
um 1ado, foram suprimidas as construções gramaticais
arúe-peÍsas de quais estava coalhada aLíngua escÍita;
depois, confi.ou-se a uma "socied ade de esfudo da lín-
êuafrJÍca" atarcfa de substituir todo o vocabulário âra-
be-persa poÍ um vocabul âno de ori$em frJrca. De fato,
a maior parte do vocabulârto científico e teórico era
composta de empréstimos do ârabe e) num primeiro
momento, foi feito um inventârto dos elementos lexicais
disponíveis em turco em sentido amplo:
Por "tur co" ,os artesãos da "revolução lingüística", entendiam
toda Língm, annga ou mod erna, pertencente à famíli a turca:
 A nçÃo soBRE A r-íruoun (o coRPUS) rll
As PoLíTlcAs LI NG Ü Ísrtcns

o Crtação de neologismos poÍ deriva çao de pa-

desde arnguadas inscrições do orkh onatéos falares vivos do
etc', passando lavras turcas. Assim, flo lu$ar da pala\rfâ' âra-
Turqurstãõ, do Cáururo, do Volg a, da Sibéria
evidentemente' os be tah,kík (entrevista), que aliás estavaeÍn con-
pelo Uigur e pelo Tcha$h atat,seÍn esquecer,
corrèncra com o termo francês "u11!<et" , foi
ãidrtot anatólios e balcânicos13'
construí da sorwsturma sobre a raLz snr- (ques-
Por sua amplitud.e, esta defini çáo catacterLzaYa tionar), de onde deriva sucessivamente s}rus-
que se asse-
perfeitamente apÍoposta do poder turco, (questionar-se), depois sorustur (enffevtstar)'
de purificaçáo, r*o
melhav a aum vãrdadeiro trabalho Os especialistas em terminologia clte$ararn a
sentido que se fala hoje de purtficaçáo étnica'
dar piouu de sua grande engenhosidade. Por
O primeiro resultado dãsse trabalho,
púlicado em
lexicais de t"t-plo, para sústituir as palavr as de on$em
lgg4,foi uma enofine coletânea de formas arabi rnyiettes (tnàngulo) e mysed,6es Stexa$o-
em turcola,
origem ârabe ou persa com selJ. equivalente no), eles p arttramdos números turc os iirc (tres)
turcos; obra
.rgïiaa de uma ústa a1fúét'ca de termos e alti (seis), acres centaratrrum sufixo tnventa-
termes fficiel't qt
olJasemelhança com o Díctíonnaire d,es
seqüência do do, mas de conson ãncia tsrca (-gtn) que lot
la Langue françaíse,publicado em 7gg4 na o sufixo
s ua veztinha a vanta$em de rccotdar
projeio dâ lei'Toúãn, é impressionante. A púlicaç?o
é a pafirr ÊreÊo -gnne, para cttar ücgen otyige(t," '
dos dados lexicais deveria cãntinuar, e {e19s ,e*,

um importante trabalho de neologia o criaçao de ãeologismos por compo siçáo. Foi

que se empreendeu
assim que "reftt$etador" passou a sef charna'
qrp Louis B az'rnapresentaem quatro capítulos:
do buzd,otabi (d; buz, "gelo", e dolap, "artnâ-
o Exum açao de palavÍas anttgas' em $etd' caídas ára- rio ") ou que o termo de ort$eríL arab-e
em desuso , pulusubstituir os empréstimos
bes ou peÍsas. Por exemplo, _o termo
azetha}áO beynelmilel loi substituído por utuitara'rasi, de
kÌind,,
,,údeta,, é utili rido (sob a form a kent)
, ul,us-lar ("os povos") e &ra,i"irrt, walo entre") '
para substituir, com o sentido de "cidade",
o o Empréstimos das línguas européias. O fato de a
muito paÍti- ,,púifi cação" do vocabul âno turco estar hem
peÍSa sehir.Eventualmente, üffi 1.1So

cular da etimolo$ia serviu pafljustificaÍ

a rna- direcionad"a contra o arúe e o peÍsa {tca rnais
nuten çâo de umlmpréstimo. É assim
qlle ok'ul evidente nos empréstimos que foru* feitos de 1

1.r.orá) eraexplicailo pel ara,r'

oku- (ler) ou que outras ltnguas, particularmente do fr ancês. Tem-
.if

,social" eÍajustificadó peh ratz snu (raça) " ' "cabeleireiro", restoratffi, omlet'
:u
se assim frki))a w
,i

ou ain da atom eneriisi, culo sentido é evtderrte' #

ffi

Foi assim que se constituiu (e continua se constitu-

t
in, ,,La réforme linguistiçlue en Turquie",
in I' &
ffi

langues' Hamburg: ind.o, pois o trabalho ainda não se cornpletou) o iiz türk'çe' r
Fodor e C-HuSeg. (o.gt.), La réfornne d'es ffi
Ë
n
Buske,1983, P. 167. O "furco puro", expressão ç1ue catactetl1,a petfettamente
74. Tararna Gerd.isi (Recueít d'e d'épouittement) 'Istambul: s'e'' 1934 '
1 12 AS POLÍTICAS LINGÜíSTICAIi
o alvo visado. O resultado desse conjunto d"e medidas
resumido por Louis Baztn da seguinte rnaneira:
A distân cia entre alínguaturco-otomana (escrita) do fim do
século XIX ou do início do século XX e alínguaf,rca"republi-
caÍra" atual,escrita e ensinada,é a essa alturalão $rande quc,
mesmo transcritos do antigo sistema inúo-tvrco no novo alfa-
beto turco-latino, os textos otomanos do último período sã0,
em sua $rande maioria, incompreensíveis para um turco com
menos de 60 anos que não teúa feito cursos especializados (de
nível universitário) 1s.
Percehe-se que o exemplo turco entra no quadro
de um planejamento absolutamente imperativo, pos-
sibilitado pela existèncta de uma incontestável vonta-
de de reformãa, sobretudo, de um poder forte. O exem-
plo da Notuega, apresentado abaixo, nos mostrarâque
as coisas não se passam da mesma maneira no qua-
dro de países democráticos.
V - Apadronização de umalíngua:
o exemplo da Noruega
No início do século XIX, depois de ftezentos anos
de dominação dinamarquesa (1523-1314), a NoÍue-
ga passou para a jurisdição sueca, antes de obter a
independência. Nessa época, a situaçáo lingüística ca-
racterrzava-se pela coexistèncta do dinamarqlJês lite-
râtto,Língua do ensino e da literatura, de uma for-
ma-padrão urbana e de diferentes dialetos rurais, com
15. Louis Bazin, "La réfarme linguistique en Turquie", in I.
Fodor e C. Hagège (org s.), L a réforme des langues. Hamburg: Buske, 1 I 8 3,
p. 155.
A AçÃo soBRE n líueun (o coRPUS) r 13
c Uma notável dificuldade de intercompÍeensão entre
a prim erra farma e as últimas. Einar Hau$en apte'
sentaa situação dessa época distin$uindo cinco vari-
edades hngiísticas:
o dinamarquês puÍo, essencialmente uttltza'
do no teatro, no qual domin avam os atores
dinamaÍqueses;
a forma-padrão lite rârta, Lín$ua da escola, do
templo, Qü0 pode ser definido como um dina-
mafqrlês pronunciado com sotaque noÍue$uês;
a forma-padrão familiar, Lngua dabut$uesia,
intermedtârta entte a forma precedente e a
seguinte;
a forma-subpadrão urbana, língva das ctda'
des, com importantes YartatLtes locais;
o por ftm, os dialetos Íurais16.
Ao longo daquele século, essa situação vai seÍ
objeto de numeÍosas discussões e de numeÍosas pro-
posições. O debate se cristalizou inicialmente em tor-
ão de duas abordagens. Por um lad.o, Knud Knudsen
(I8L2-1895) propunha partn da línÊua falada urha-
fia (bUfotkets talesprog) para estabelecer uma forma-
padrao, passando para o norue$uês a ptonírLcra dina-
mafquesa. Por outro lado , Ivat Aasen (1813-1896)
propunh apafitr dos dialetos rurais para construir íma
lnguanorueguesa unificada. Essas duas idéias de lín-
guas foram battzadas de rnarLeuÍas diferentes. No pfi-
meiro caso: dansLt (dinarnarquês) , dansk,-n0rsk,
(dinamarco-norueguês) ou rigsmã,/ (form a patalela ao
16. B. Hau$en, Language Conflict andLangaãge Planning, the Case
of Ìulod,ernl{orwegian. Cambridge: Harvard
lJniversity Press, 1966.
114 AS POLITICAS LINGUISTICAS
alemão reichssprache); e no segundo caso: norsk (to-
rueguê s) , national sprng (língu a Ítactonal) ou Lansmã\.
A dupla rigsmãl/Lansrnãl vai, poÍ muito tempo, ser a
tradução lexical das posições eÍn presença: o primeiro
termo designava uma hngualtterâria, próxima ao di-
rramaÍquês (hoje chamada bokmã,l), e o segundo, o
pïojeto de Língua padronízada a pafitr dos dialetos
(hoj e chamada ny nor sk) .
A tentaíva de padroninação da lín{ua vai paftu
dagrafta: após 1905 , quando a Noruega obtémsua inde-
pendêncta definitiva (dissolução da união com a Sué-
cia), âs comissões lingüísticas se multiplicam e o ParLa-
á. um n(tmeto impre s sion ante de
mento norue guê s votar
reforma ortogrâficas OgOf, 1913, 1916, 1923,7934,
1936, 1938, 1941, 1945, 1959, 1981) que correspon-
dem, cada uma delas, a opções políticas diferentes. A
reforma ad"otada em 1938, por exemplo, insprradapelo
Partido Comunista, que tinha então grande influência,
seria acusada, depois da ocupaçáo alemã, de querer "in-
troduzur a ditadura do proletariado no domínio lingüís-
tico", sústituída em 1947 por uma outra grafia supri-
mida em 1945, depois da Libertação. Pode-se, de ma-
neira geral, consid erar que os partidários do bokmãl
(língua mais próxima do dinamarquês) se situam mais
à direita no túuleiro político, enquanto os partidários
do nynorsk (língua inspir ada nos dialetos populares) se
situam mais à esquerda.
Duas variedades de norueguês escrito coexistem
aindã"hôje; e o Coníeïho da Língua Norúeguesa publi-'
ca todo áno certo número de modificações ortogr âfi-
cas que os man:uais escolares devem acolher (eles são
revisados a cada cinco anos). Ensinarn-se nas escolas
A nçÃo soBRE A lírucun (o coRPUS) tt5
as duas formas (nynorsl<, e bokmãl) e se dedica muito
tempo à aptendizagem das formas ortográficas e das
flexões. Mas estamos tratando aqui da língua escrita,
e a situação é sempre mais compHcadanalínguafd,a-
da. Desse modo, André Catafago distin$ue hoje seis
variedades de norueguês:
1. o nynorsla tradicional (conservador);
2. o nrynnrslq, moderntzado (radical);
3. o bakmãl tradicional (moderado);
4. o bokmãl modernrzado (radical);
5. o norue$uês comum (ou s&mnnrsk,, espécie de
bokmãl untftcado com estrufuras nynorsk);
6. o riksmàl (variedade não oficial, mais tradicio-
nal ainda que a Yarredade 3)tt.
Essas variedades se distinguem particularmente pela
pronún6ã, pelo lugar do acento e por intermináveis de-
bates opondo os defensores de uma nofinaúntca àqueles
que defendem o reconhecimento dos fatos dialetais; en-
quanto se publicarn regulamente listas de palavras com
menção às diferentes formas de acenfuação.
Essa situação, que ja dura quase dois séculos,
evidentemente tem origem na vontade de uma parte
da população de construir uma forma lingüística que
não seja dinamarques a e de apagar dalíngua os traços
da dominação dinamaÍçluesa. Tratava-se da bus ça de
uma forma identitâria que havia se tornado incômo-
da pelo fato de que nem todos os din amarqueses pos-
suíam a mesma imagem da sua identidade. Mais tar-
q
:::
$
17. André Catafago, "Le norvégien: des problèmes mais pas de w
&
crise véritable", ín:Jacques Maurais (otg.), La crise deslangaes. Gover 'ffi
&
no de Qu€béc /Paris: Robert, 1985, p, 286.
W
rt6 AS PoLíTrcAS LINGüísrtcns
de, o debate se transformou ligeiramente: atualmente
não se ffata mais de afumar através de uma unifi.ca-
ção lingüística a existëncta de umanação norue$uesa,
que não é contestada, mas de saber se se queÍ uÍna
norma úntca ou se se admite a pluralidade das for-
mas lingüísticas.
De todo modo, essa situação, que pode parecer
excêntrica, nos leva ao princípio que formulamos a
respeito da China, segundo o qual 3s políticas lingüís-
ticas estão destinadas a alcançar, mais cedo ou mais
tatde,o Seu $taude ine ftcácta. Se a sifua çao norue gue'
sa paÍ ece bloqu eada, evidentemente não é pelas Ínes-
mas razõesi na China, como vimos, o probleÍna é a
imensidão do território e o tamanho da população e)
no caso da Noruegà, o problema é a $estão democtâti-
ca e as constantes mudanças que ela suscita. Não se
deve concluir com isso que a demauacia,é um sistema
no qu al a política lingüistica se adapta mal (se a Tur-
quia de Atatrirk, onde os objetivos do planejamento
foram a\cançados, não repÍes entaverd.adeiramente um
modelo democrâtrco,não se pode dtzer a mesma coisa
da SuíÇa, eve administra o seu plurilingüismo de ma-
rLeLta que satisfaz a todos), mas sim que o constante
questionamento das decisões não facilitq Yerdadeua'
mente, aprâtrca de uma política lingüística, o que sig-
nifica simplesmente que é mais prudente prolon$ar o
momento da reflexão antes de passar ao estágió do
planejamento.
cApírulo v
A AçÃO SOBRE AS r_íruGuAs
(o STATUS)
I{as situações de plurilingüismo, os Estados são le-
vados às vezes a pÍomover uma ou outralíngua até en-
tão dominada oü, ao contrârio, rctrrat de uma líng;r_
um status de que ela gozava, ou ain dafazer respettar um
equilíbrio entre todas as línguas, ou seja, administrar o
status e as funções sociais das línguas em presença. Nes-
te capífrÃo ãpresentaremos algtmas dessas intervenções.
I - A promoção de uma língua veicular:
o caso da Tanzãnia
Tendo se tornado independente em 1964, fruto
da fus ão entre a anttgaTan{anrcae a ilh a de Zanzhar,
a Tanzània é um país de aproximadamente 36 mi-
thões de habitantes (zooo), ro qual são faladas apro-
ximad amente 720 línguas que hoje devem ser apte-
sentadas em 3 grupos:
o de um lado, há as hnguas primeiras da popu- @
ìi
lação, em gtande maioria bantas, com mino- #
ilrff
i;
rias cuchíticas e nilóticas e algumas línguas s
$
asiáticas faladas por migrantes; ;{
rï
,&

o de outro, há um a,nga;t;#;:Ï:
Írou lín$ua nacion al, mats ou rnenos bem fala-
da, de acordo com a idade das pessoas: o suaíli.
Em 1969, Wilfred ïVhiteley estirnava em 15
milhões o seu número de falantes:
Os que falam suaíli como língua maternae que provavelmente
não passam de um milhão... Aqueles que o adquirem como
segundalíngua eo utilizam freqüentemente em suavida cotidia-
na. Esses são, çertamente, mais de dez milhões.. .Um grupo com
provavelmente mais de um milhão e que ulrliza a língua de
forma limitada. . .E finalmente aqueles que utihzamesporadica-
mente alínguacom um conhecimento muito limitadol.
o Por fim, há umalíngualegada pela época co-
lonial: o inglês.
Para compÍeender essa situação, precisamos Íe-
troced.er ao início do século XIX, aos primeiros teste-
munhos de que dispomos sobre a existência dessa lín-
Êua.Henry Salt, poÍ exemplo, escreve em 1814:
fu seguintes palawas me foram dadas por mariúeiros de umbarco
inabeque se autodenominavam sowaulis, o que aparenta ser um
povobem diferente do povo somauli. Essa tnbo ocupa a costaleste
da lrfncade Mugdaúo. .. Ílas proximidades de Momb aç*.
Na realida de, não se ftatrra de uma "tribo", mas
de uma língua essencialmente veicular (exceto em
Zanztbar, onde eta língua primeira) , hanta em suas
estrufuras, porém com um vocabul fuio heterogêneo e
1. Wilfred Whiteley, Swahili , the Rise of a National Langaage.
Londres: s.e.? 1969, p. 3.
2. ,Henry Salt, A Voyage to Abyssínia and Travels. Londres: s.e.,
1814 (apud W. Whiteley, p. 1.)
A nçÃo soBRE AS líneuns (o ITATUS) I ï9
composta pela sua metade de empréstirnos do ârúe,
desenvolvida graças ao comércio maúttffio, ao longo
da costa oriental da Africa e em direção ao interior do
continente, na rota das catavarlas. No centro desses
dois eixos de difusão, encontra-se a ilha de Zanzhar,
que d.esempenhayâ, naquela época, üffi importante
papel comercial: trâftco de escravos, importação de
algodão americano, exportação de cravo- da-índia, de
marfi.m etc. Foi assim que uma ltngua veicul ar de ma-
rinheiros penetrou lentamente o continente africano,
atravessando-o de leste a oeste, por influência de fato-
res essencialmente comeÍciais. Essa expansão in vivo
será em seguida sústituída pela ação in vitro da coloni-
zação alemã: o suafl.i se tornoü, no fim dos anos 1880,
alíngua de administração da Deutsch Ostafnca e per-
manecetâ assim após a primefua Guerra Mundial na
Tanganicabritânica. Por volta de 1960, essa língua era
uttlizada num vasto tercttório: Tanzãnt4 Quênia,
Uganda, Ruanda, Burundi, numa parte do Zure, no
sul da Somrília e no norte de Mo çambtqüe, constituin-
do-se então num arquótipo da língua veicular: apenas
7 Yo de seus falantes a tinham como Língua materna
(ou seja, sua taxa de veicularidade chegava a 93o/o).
No momento de sua independência, em 1961, a
Tanganica (qrr em l964passa a se cltamar Tanzânia)
herda essa sifuação: um país governado em inglês ,uma
popul ação que fala mais de cem Línguas diferentes e o
suaíli (ou kisuaíli3) que serve de lín 1ua veiculaÍ nos
3. Ki é o preftxo banto que indica o nome de uma Língua e ba
indica o nome de um povo, assim os bakongo falam l<,ikongo, os balaba
falam ciluba etc.
 As políttcns LINGÜísrtcns
A nçÃo soBRE AS lírueuns (o ITATUS) t21 w
t20
portos' MaS do inglês de um lado, e das Línguas vernáculas do ou-
mefcad.os, ao lon$o das estradas, nos
eSSe
â tro. Essa expansão foi facilitada poÍ alguns fatores:
suafli foi a língua das campanhas pela independênciâ,
Ltnguaem que Julius NyereÍe se dirigia
ao povo e q1le se o A herança histónca em prirneiro lugar. No
libettação' momento da independëncta, a Língua já, era
tornou, poituttto, lentamente, o símbolo da
Nyerere faz do hâ muito tempo escrita e :utrTrzada na admi-
Eleito presid ente da Rep ihhca eÍn 1962,
esse novo país. nistra çãolocal, e essa sifuaç ão, muito diferente
suaíli o instrumento qlle permitiria unir
1960, os candida- da dos países afrrcanos colontzados pela Fran-
Seu uso começa no mais alto nível: em
nos termos ler e d-a 1ei, Çã, facilit a-va sua pÍomo ção.
tos à assembl étanactonal d.eviam,
de 1965 O fato de que, simbolicamente,o suaflieravisto
falar fluentemente o inglês' mas a par1.,xr
essa
é fetta em como altngua da independência, sem nenhu-
cláusula desap arece, e a camparúta eleitord,
do ma conota ção colonial.
suaíli. Isso levarta a uÍna evidente democrattzaçáo
anos 7970, o O fato de que não eta) por assim dizer, aLín-
recrutamento d.os eleitos e, no início d.os
parlamento reúne çluase qlre unicamente nessa rtngua.
se €ua de ningu,ém, e sua pÍomoção não podia
paralelamente, o suaili se torn ava aLtn{ua oficial dos tri- ser entendida como o poder de um grupo étni-
que Íepfesentava co sobre os outros.
bunais de prim erfainstância (19 64), o
igualmentã um importanteavanço democrâLrco,e
seu uso o E evidentemente o fato de que era falado por
se estendia lentamerúe a funções oficiais
cada vez mais Íma vasta maioria da população.
A Percebe-se então que a "estrutttta lingüística" do
numerosas, até tornar-Se' finalmente, língvanacional'
Tanzànta pode ser país foi consideravelmente modificada, e que aTanzànta
evolução da situaçáo lingüística da
repÍes entada da se$uinte martetraa:
nos fornece um exemplo trpico de ação sobre as lín-
guas. E claro que essa ação necessitou em seguida de
Língua utilizada uma intervenção sobre aLíngua, tanto sobre sua for-
Ì{ív eL
períod.o coloníal Depoís da Independêncitr ma (neologia) quanto sobre seus usos (promoção). Dois
nacional inglês suaíli e inglês ministérios LrLam tratar inicialmente desse planeja-
suaíli suaí1i
distrito mento lingüístico: o da edu cação e o do "desenvolvi-
vernácu1o suaí1i
aldeia mento comunttâtto e da culturanacronal"s. O primei-
vernáculo
vizinh arrça ro se ocupava da introdução da Língua no currículo
escolar, o segundo, do desenvolvimento de uma ex-
percebe_se qlle o suaíli se estendeu funcionalrnt:r rrr
pressão liter ârta em kisuaíli. Inúmeras comissões ou
tantO
,,p1ra cirnA,, CO6O "p1fabaixO", em detritllt:lttr
associações privadas passar am a trúalhar em segui-

de Jean O'Barr, Language an'd I'ul '

ttr
4. Tabela emPrestada 5. ï[il]iam O'Barr, Langa"age and, Politi"cs. Pans: Mouton, 1976, p. 45.
Paris: Mouton, 1976, P. 75'
 AS PoLíTtcAS LINGÜísrlcns
122
da pela mod. erniT-,ação da língua, enquanto se criava no
university college de Dar-es-salaam um "Institute of
swahili Research'1 Mas tudo isso está relacionado a
uma outra abordag em, desenvolvida no capítulo ante-
rior, e sobr e a qttd, não nos estendeÍemos.
U - A promoção de uma lín$ua minoritária: o
caso da Indonésia
A Indonésia é composta poÍ aproxim adamente três
mil ilhas e tem vn'apopula ção de 235 milhões de habi-
tantes (em 2003), divididos em diferentes $rupos
etnolingüísticos', que falam aproximadamente 200 lín-
guas diferentes. Em rgzï, quando o país erauma colô-
,riu holandesa, o partido Nacionalista Indonésio, Qüe mi-
litava pela independência, procl anLa çlue o malaio será a
Itnguanacion aJ, dalndonésia. Essa decisão não tinha na
ép ã ca nenhum e feito, constituía urna p o1ític a Ingüística
rã* planejamento possível, e sua função er:a actma de
tudo simbóli cai a afirmação da existência de umalltngua
nacionat implicava a existêr.cla d.e uma naçã,0. A ltn$ua
escolhi daparaessa função erauma Ingvaveicular, utili-
zada, sobrefudo, nos portos e nos mercados e, a|ém de
tudo, minoritál"ia: ahíngaa mais falada no arquipéla{o
era o javanês, mas a escolha do malaio apresentuta a
vantagem de evitar as polêmicas e os conflitos que a pro-
moção do javanês Podefla causaÍ.
Quando a Indonésia obteve sua independêncirr
em meados dos anos 1940, decidiu-se entáo aplicar'
6. Javanês: 39,4 % , sudanês:
4,3o/o, outros : 28,4o/o .
A nçÃo soBRE AS lírueuns (o srATUs) t23
essa anttga polític a, datada de quase vinte anos, e ado-
tar o malaio como Ltngua nacional. Temos então um
quadro trpico de intervenção in vitro sobre asLínguas,
que se propõe a gerir pelo molde do monolingüismo
um país extrem amente plurilíngüe. Mas essa interven-
ção tornarLa necessária uma açãa sobre a Ltngua: será
preciso "equip ar" o malaio (reb attzado de bahasa
indonesia, "língua indonésia"), fixar pata ele uma o?
tografia e the fofiar um vocabulário que the permitis-
se cumprir suas novas funções.
O malaio, qae foi durante rnuito tempo escrito
com a ajuda de um alfabeto adaptado do ârabe, ga-
nhou, em 1901, nas então Índias Holandesas, uma
ortogr afia Latina fixada por C. van Ophuysen, seme-
thante aos princípios da escrtta do holandês em dois
j
aspectos: o som /j/ erugrafado e o som /t/ eragrafado
0e. Panlelamente, em 1904, os britânicos instituíam
na Malásia a orto grafia Wilkinson, levemente diferen-
te. A Indonésia independente ganha em 1947 um novo
sistema, a orto grafia Soewnadi (do nome do ministro
da educação da época), cLtJa modifi cação seria pÍo-
posta inúmeÍas vezes (r* 1956, depois em 1961 e,
por fim, em 7972). Finalmente , a vetsão adotad a for a
rilttma, a da ortografta EYD (trjaan Yang Dísernpur-
nakau "oÍtografia aperfetçoada"), e que hoje é utili-
zada tanto na Indonésia quanto na Malásia e em
Cingap'úfa7. Não entratemos nos detalhes de suas Íe-
$ras; vamos nos contentar em destacat q1Je, ào contrâ-
7. Yer Pierre Labrousse, "Réforme et discouÍs sur la réforme: Ie
cas indonésien", in Istvan Fodor; Claude Hagège (orgs.), La réforme
des langues. Hambourg: Buske Verlag, 1983, vol. 2, p. 340-341.
$
n
I
124 AS PoLíTrcAS LINGüísncns
rio do exemplo africano desenvolvido no capítulo an-
terior, temos aqui uma política que buscou, delibera-
damente, normattzar a escrita de uma Língua falada
em tn(tmeros países.
Restava o probleÍna do léxico. De manerra parado-
xd, esse problemafoi úordado primeiramente pelo inva-
sor japonês era, em 794I, criou lJÍrra "Comissão da Lín-
$ua Indon,ésia" Kotnisi Bahasa Indonesía, encarce$ada de
pesquisaÍ a gamâícae o vocúuLámo dalngua. Em 1945,
essa comissão foi substituída por um "Centro de Ltngua e
Culfura" , quie se encaÍïegou da tarefa de equipar altngua
respeitando um certo número de princtpios. Tratava-se
de buscar primeiramente uma palavra qrLejá existisse em
baLtasa indonesia, recorref a rma palavra tomada de ou-
tra língua do arquip élago se não existisse a palavra em
bahasa ou escolher LLrna palavra de outra lingua astâttca;
a solução de usar um termo de uma ltngua internacional
européia vinha emultimo lugat'. Assim, apúavramalata
swantantra substifuiu o empréstimo aatonomi, a palavra
jav anesa tírnib el sub stituiu o inglê s le ad, a p alavr a sudane sa
nuerí substituiu o inglês pain, apalavra zer&h foí escolhi-
dapara designar o âtomo etc.
Em seguida, esses princípios foram interprcta-
dos muito livremente, e Pierre Labrousse indica que
três procedimentos são atnda hoje uttltzados:
o o empréstimo2 como eÍn analis (do inglês
analysr) ou em Lripotik, (do holandèshypotheek);
o o decalque semântico, como em iklan batu
nisan ("inscnçã,o em escultrua funerátta")
pelo inglês tornbstone;
8. S. Takdir Alisjahb atta Language Planning for Mod,ernízatíon,
the Case of Indonesian and. Malasgan. Parts: Mouton: 7976,
A nçÃo soBRE AS lírue uns (o ITATUS) t25
oa ressem anttzação das palavras indonésias,
quando os vocâbulos arnanat, "mens a$em,,,
toma o sentido de "otdem" (arnanat bayar,
"ordem de pagamento").
Percebe-se que a distinção entre cnrpws e estatuto,
ou entre a ação sobre aLínÉua e a ação sobre as línguas,
é muito artificial e Qüe, se possibilitou belas sínteses
dicotômicas, deu pouca atenção aos fatos. tlma políti-
ca lingüística não intervém sobre uma forma daltngua
ou sobre as relações com as línguas: freqgçg!91fÌ_g*!-e.rg
ryuda+mje estatuto dg ulpg_l*ggg, implicfu_ _emsegui-
ff-*-.-.:.-''.-ì".*'-**'*-***""'--,.;*-.}..:....'."*;,-'".'****'.'*.*.:**'
da,gmginte_ry9.ng_ão_gp-br"e_"9:.e.!"ç_g1pg:(oquedenomina-
mos seu "equip amento"), e o caso indonésio é umbelo
exemplo disso. Esse é outro ponto súre o qual o caso
indonésio tem valor gerd.. Pierre Lúrousse destacaque
as inúmeras intervenções sobre altngua nunca sus crta-
rarn o menor problema na população:
A idéia de que o indonésio é umaríngua "tmperfeita", quef
precisa ser desenvolvido, ou seja, que ela éum"instrumento" j
sempre apefieiçoável, impôs-se facilmente em uma sociedade
i
multilíngüe e no contato com o holandês que se aela ï
assemelha
em diversos pontos. Em relação às sociedades em que os proble-
mas lingüísticos provocam constantes tensões, essa
]
tma$em ï
desmistificada dalíngua é muito originale.
E essa ausência de tensão está,, sem dúvida ne-
nhuma, relacionada à função veicular do malaio, ão
fato de que ele não eÍa) no início, visto como ahíngua de
um 9rupo, de uma facção detentora do poder que esti-
vesse impondo a própna Língua aos outros.
 126
AS PoLÍTIcAS LINGÜísTIcn:,
A nçÃo soBRE As tírueuns (o srATus)
III - A pazlingüística suíça lz7

A suíça constitui uÍn exempro que O país é oficialmente trilíngüe

quadrilíngtie desde 1938 (dataeÍn desde 1g4g,
contradtzir
concepção rornânüca de
Estado-naçao que
que o rornanche foi
coÍnuÍn (quando não da
faz
dalíngurr adicionado ao aremão, ao fuancë,
. ão ftariano) e essas
mça comum) tanta o sírnbol' quatro línguas são todas
quanto a $aruntia da unidade "nacionais,,,-irê, deras (ale_
nacional. pierre Knecht, mão, ftancês e italiano) sendo
definindo corn hurnor a parte ao mesmo ternpo adrni-
francófona do país coÍno nistrativas. concr etamente,isso
"lJma suíça lingúis ücamente signifi ca queeÍn cada
francesa ou uÍna França um dos pontos do tercrtórto,ern
politic amente suíça"10, ,ãduuÍn âo, .urrtõrr,
ilus trabemessa separa uttlrza-se na administraçã o
a abordasem polítrca (os surços ção entre e naescola alíngua falada
locakn
ços) e a abordagemlingüís n àôr
são evidentemente suí-
suíços não fa'am,,suí_
"\t, e que
de trabalho.
no níver federal existern três
È.tu situação é uma boa
rínguas
Ço", mas alemão, ftancês, italiano difercnça entte os princípios ção da
ou roÍnanche) 'ustra
de territorialidade e de
Essas quatro rínguas se personalidade que foru*
territottalmente da seguinte
rcpaftem * estatís tica e ãprrrrntados no capíturo III:
*nrr.i ru, A língu a de ftabarho obed eee,
74o/o de germanófonos, suíça, ao prin cípio da
em qutnzecantões; territoriaridade, tant2no setor .na
27o/o de francófonos, privado ,o*á no setor púbrrco,
el,m quafto cantões; com aadministração federar posta
à.parte.No; grundes negócios
4o/o de italófonos em
) um cantão; (bancos, seguros erc.)
, tração feíerar,os quadros
ro/o de rornanchófonos.
ir.',nt*&
r. - 7

médios e superiores sã0, na "iãã*ilil

ÁJém disso, certo númercde
cantões ébrríngue ou
trtlíngüe (crisões, valais, F
ib"tg", Berna). Ìn.o entanto, o
Estado deve funcio nffi, a
administraçao deve administrar
e ocorre, entÃo, o prúlerna
de sú et emqual(is) lí;il;?;
$ercnctar esse plurilingúisrno. Pois
se a suíça é, comfre-
qüëncta, consid eruda
corno um rnodero de- dem
Marianne Duval-valentin tern ocracia,
razãoern súlinhar que:
Não é suficiente que proposições de leis e os
1s referendos
possam ser livre mentediscutidor;
a necessário também que os
cidadãos possam debatô-los
numa ïínguaque thes seja famila{r.
maioria dos.lror, bilíng,ies (alemão-
francês) , até Ínesmo tnlíngür,
(ro* o acréscimo do italiano).
Percehe-se que os executivãs
da maio rrugrr*noronu (Tsyo
populaçlo) se dirigemgeralmente da
emfran"ê, uo, rornânic os (20o/o
da popul açao)
'os romanches aceitarun se express ar emtrancês
ou em alemão,o mesmo ocoÍïendo
emrclaçao aos
F"lggrgrçq3
christian Rub atter resurniu essa
situação de ma_
nerra clata: "A su íça não é uma
coÍnunidade plu rtlín-
8üe, Ínas uma justaposição de quatro
coÍnunidades
geralmente unilíngries,
cujas rcrações são regtdas pero
princípio de tercitorialidàd.e"73.
Ao lado dessa situa-

10. pierre Knecht, ,,1 e français

linguistiques,et sociolinguistiqurs;', em suisse Íomande, aspects il"-",i";;1ïTi*""i::,?liu'ï"qug.(o_,{,.),Laréformedestansues.
Hamburg: Busk e yertag, rgsg, uJ.ïï
io Albert valdman (org.) Le 72. M. Duval-Valentin, op. ,)ïãï.
français h'ors de France. pír's, cËampi";; , cit. , p. 46g.
rgrg.
11' Marianne Duval-valentin, ,,La
i?""t;,i*:r* _yne
crise a,l rrune;; ." suisse romande?,,
'ffi,"àJ":lï:'f#ï#ï"';
situation ringuistique em
Paris: l oe( â Sf
Rnhcrf. 1gg5,
Paris: Le Robert: ory
b. .
 AS PoLíTIcAS LINGÜísrlcns
128
ção federal
que ocupa
, cada uma dessas comunidades
uma porção do território conhece sua própria situaçáo
lingüística. Assim, nâ pafie {ermanófona, que serviu
como um dos exemplos utilizados por Charles Fer$uson
para ilustrar sua noção de diglossia, tem-se uma situa-
ção dialetal que faz com que se possa falar de
um
berndütsch (alàmão de Berna) , de u.Ín züridütsch' (ale-
mão de Zurique), e assim por diante, com a coexistên-
cia entre uma colge* suíça (espécie de denominador co-
mum dos dialetos), o Schwyzerditsch e o Hochdeutsch
(alemão-padrão), essencialmente uttltzado na escrita (e
freqüentemente chamado de Schriftdeutsú). Se$undo
Duval-Valentin,
a Suíça se enco ntrana seguinte situação paradox al:hâ, de um
lado, vário s organismo que defendem a plJr eza dalíngua ale'
s cípio de tenitorialidade (paruquatro comunidades lin-
mã, mas existem, de outro, numerosas associações voltadas para
a proteção e a melhora daprâttca dialetal. Temos aqui uma
Spr a chpJt eg e ldefes a da língua] complem entadap oÍ um a enét gt-
14.
ca Mund,artpflege [defesa dos dialetos]
A comunidade Íomanche exibe também uma
grande vartação dialetal. Sua Lín$ua é dividida em
três grupos de falantes (romanche dos Grisões, ladi-
no dos Dolomitas e o friulano), eles mesmos dividi-
dos em inúmeÍas formas locais entre as quais a co-
munic ação nem sempÍ e é fâci1. Além d.isso' no cantão
dos Grisões, o romanche (falado poÍ 26o/o da popu-
1ação) coexiste com o alemànico (5S%) e o italianrr
(7'6%) e se encontra ffi*çããõ pot essas duas lín-
guas, tanto na sua forma (empréstimos e decalques )
quanto Íta sua existêrucra.
14. M. Duval-Valentin, op. cit., p. 498.
A nçÃo soBRE AS r-írueuns (o srATus)
129
Ìt[o cantão de Tessino, nota-s e rsualment e a coe-
xistên cia do italiano, de um dialeto lombardo e do
falar Iocal, e para ilustrar essa diversidade M. Duval-
Valentin utrltza o seguinte exemplo: um habttante
médio de Tessino, pata expressar que está com dor
de cabaÇã, dtrâ à sua mulhet) em"patod,, doril'co, a
um conhecido, em dialeto , fa m& ãï;íesta e numa
situação mais formal, em rtahano, mi
fa male la tes-
ta. Do lado francófono, enfim, nota-se uma certa
ocorrêncta de regionalismos, mas a situação não é
em nada compatâvel à que acahamos de descrever
para o italiano ou o rom anche.
Abaixo do nível federal, que garante tanto a ges-
tão da confeder ação (.m três línguas) quanto o prin-
$tiísticas), os cantões também podem intervff napolí-
ttca lingüística. Um bom exemplo é constituído pelo
cantão bilíngüe de Friburgo, que produ ztrt um *mapa
das Línguas" (rm alemão: sprachencharta), garuntin-
do no cantão a tgualdade dos direitos ao francês e ao
alemão, mas propondo, sobretudo, certo nímero de
prtncípios $erais. Assim, encontramos ness a carta, poÍ
exemplo, a condenação da unific ação lingüística em
torno de um a língua mEorttárta, da anexação de po-
pulações que falam a mesmalíngua etc.
,bem como a
formulação dos direitos lingüisticos dos ctdadãos e dos
deveres ltngüísticos das autoridades.
Percehe-se que hâ especificidades na gestão do
plurilingüismo suíço: o encaixe de níveis de compe-
tência. Existe um regulamento federal, os cantões bi-
lín$ües geram sua próprta situa ção e as comunidades
têm competência em matétta de ensino para dect4o a
r 30 AS PoLíTrcAS LrNGüísrrcns
Língua ou as 7ínguas utilizadas. O resultado mais im-
portante desse tipo de abordagem é que a maioria lin-
güística (germ anófona) não se comporta como uÍna
maiorta, não impõe sua lín$uaàs minorias. E essa "paz
lingüística", garuntrda por um aparato jurídico preci-
so, coÍtstitui um modelo de polític a e de planejamento
que alguns países poderrarn invejar.
fV. A defesa do statws internacional de
-uma língua: o exemplo do francês
I{o capítulo anterior, apresentamos a ação da
França sobre a forma da Língua. Mas ela intervém
também de tnaneura contínua sobre seu status, so-
bretudo seu status internacional. Foi com a Revolu-
ção que se iniciou íma ação cultural e lingüística
externa, ação que se faz por intermédio das "obtas",
ou seja, essencialmente das congregações religiosas
francesas no exterior. Seja através de subsídios às
escolas cristãs, de subvenções aos missionários cató-
licos, aos protestantes, à Aliança Israelita Univer-
sal, durante quase um século a cultura e a Iíngua
ftancesas são promovidas no exterior graças a dife-
rentes vetores religiosos. Foi preciso esperar o fim do
século XIX para que organtzações leigas viess em fa-
zer parte desse quadro: as Alianças Francesas, recen-
temente criadas (1883) , em seguida a Missão Latca
(f gOZ). O Estado, nessa época, não intervinha dire-
tamente nesse campo, contentando-se em ftnanctar
iniciativas privadas, poÍ intermédio do Ministério das
Relações Exteriores, do Ministério das Colônias e, de
maneLra mais inusit ada, das receitas geradas pelas
A nçÃo soB RE AS lírue uns (o STATUS) ï3t
apostas em cavalos.. Só em 1909 é que é criado um
serviço "das escolas e das obras ftancesas" no Ministério
das Relações Exteriores, que foru reorganrzado após a
guena de 7914-1918 em três seções erLcarregadas, res-
pectivamente, da ação universitária, da ação artística e
das obrasls. Mas foi durante a segunda Guerra Mundial
que a ação culfural exterior da Fran ça garútou sua forma
afriaJ.. Em 1941, o generd, de Gaulle criou, effi Londres,
"comissariados" da França livre, rLa realtdade ministéri-
os, entre os quais o comissariado das relações exteriores
dividido em urna "Dtreção dos Assuntos Políticos" e um
"Serviço dos Assuntos Administrativos e Consulares e
das Obras Francesas no Exterior"16. Esse último se tor-
nou, em 7945, após a tribertação, a "Dtreção Geral das
Relações Culturais e das Obras Francesas no Exteri of'
e Çlqe, sob denomtnações diversas, se mantém atéhoje.
Essa Direção Geral se ocupa essencialmente do
ensino do francôs no exterior (aliás, é a unrca, num
ministé,rio formado por diplomatas, cujos membros
vêm em pafie da Educação Nacional) e os cargos de
adidos culturais que começ araÍn a seÍ criados no fim
dos anos 1940 eram, geralmente, ocupados poÍ uni-
versitários. Assim, uma opção fundamental ganha
forma lentam ente: a difusão da cultura francesa no
exterior passa pela difusão da lín1ua francesa, o que
implica, por exemplo, que não se traduzam os livros
.
No original, "Part Mutuel": or$anismo que detém na França o
monopólio da organrzação e do registro das apostas em corridas de
cavalo efetuadas tanto nos jóqueis como fora deles (n. do E.).
15. Ministère des Affaires étrangères. Histaires de díplomntíe culturelle
fus orígines à 1995. La documentationfrançake, Paris, 195, p. 32-38.
16. Journal fficiel de la France libre, 74 de outubro de 1941.
IBz AS PoLíTIcAS LrNGüíslcA:,
mas que eles sejam difundidos eÍn francè,s. Não se tratir
de um a opção muito lógica: pode-se ler a literatura rus-
sa, alemã, ou espanhola em tradução fuancesa ou italia-
flã, ouvir em francë,s uma conferência sobre a pintura
chinesa ou assistir a filmes japoneses em inglês. A esco-
tha francesa será diferente e maÍca ainda hoje a políti-
ca lingüística externa do país. A Direção Geral das Re-
lações Culturais se tornou em seguida Dire ção Geral
dos Assuntos Culturais e Técnicos (t956), depois Di-
reção Geral dos Assuntos Culturais, Cieníficos e Téc-
nicos (1969), mas a despeito dessas diferentes denomi-
nações, que comprovam a ampliação de suas compe-
tências (ur técntcas, depois as ciências se juntando à
cultura), ela continuarâ seguindo a Ínesma política: di-
fundir ao mesmo tempo a culfura) a ciência e aLngua
francesas, o que implica, logicamente, Qüe se dedique
muita energia ao ensino dalíngua. Essa é arazão pela
qual a França é o país no mundo que mais envia profes-
soÍes ao exterior: sua política culfural externa é antes
de tudo uma política de difusão da Línguafrancesa. Não
apÍesentaremos aqui os centros de impulsão e de deci-
são Íesponsáveis por essa políticai a França se equipou
com um número impressionante de estruturas, de or-
ganismos, de comissões, que intervêm de um a Ínanerra
ou de outra no domínio daLínÉua e das Línguas, e nos
contentarcmos em resumff a política lingüística exter-
na do país.
NaEuropa
Em meados de dezembto de 1994, no momento
em que a França se preparava para assurnir a presi-
A nçÃo soBRE AS lírueuns (o ;TATUS) t33
dência da União Europ éia, o ministro francês dos
Assuntos Europeus propunha limitar a cinco as Lín-
guas de ffabalho da Comunidade Econômica Européta
(qur é preciso distinguir das línguas oficiais, que são
as línguas de todos os países-membros), expondo-se
aos protestos de alguns "pequenos" países. O proble-
ma posto aqui é, ao mesmo tempo, técntco e político.
Se nos attvermos ao ponto de vista legal, havta treze
Línguas "nacionais" dtfetentes na Europa dos Quinze,
mas uma vez que dois Estados ÍenuncLatam ao uso de
uma de suas Línguas nas instituições européias (a Ir-
landarenunciou ao rlandês e Luxemburgo ao luxem-
burguês), restar aÍn apenas onze Línguas oficiais, o que
nos dá 110 combinaçóes possíveis de interpretação si-
multâttea. Isso implica cabines de tradução, profissio-
nais (os intérpretes trocam de turno a cada vinte mi-
nutos), üffi gasto enorme. Ou seja, é evidente que a
situação não pode permanecet assim e que é preciso
limitar o númeÍo de Línguas, ou então encaÍat pagar o
enoÍme custo da iguald ade das línguas (como os
quebequenses pag arn o custo do bilingüismo). Mas a
hipótese de uma limitação do númeÍo de línguas nos
remete a um plano político mais amplo.
Existem, de fato, aqui, duas soluções: limitar o
n(tmero de línguas de trabalho (proposta
- contesta-
apÍesentadapela França) ou não fazw nada (po-
da
-
Iítrca que poderia levar à dominação de fato poÍ pafie
do inglês). As reações diante dessa hipótese são, evi-
dentemerrte, diferentes de acordo com cada país, e com-
preende-se poÍ que a França, que da grande imporânc;ia
à defesa da Língua, tenha se oposto a ela. Inversamente,
134 AS PoLíTtcAS LrNcüísncns A nçÃo soBRE AS lírue uns (o srATus) ïBs
pode-s e tmagtnar que determinado nitmero de países que em suas escolas, e essa insistê nciapode ser aprese
nta-
recusem a rdéta das cinco hnguas esteja disposto a acet- da como um. projeto "etJÍopelJ', (fõrmar jovôns
euro-
tar urn statws particul ar concedido ao inglês, qu e jâ é a peus trilíngües), mas constitui ao mesmo tempo
uma
Itnguainternacional de trabalho... A esse dehate técnico- defesa do francês (se apenas uma 1ínguafor
ensinada,
político se junta outro: a lista das línguas de trabalho essa seria obviamente o inglês, uÍna segun da
ltngua é u
pÍopostapelaErança. Trata-se do inglês, do francês, do necess ârta pata garantir um lugar u, {runcês) .
alemão, do espanhol e do italiano, ou seja, as 1ínguas Percebe-se então que a política lingüística da
Fran-
mais faladas na Europa dos Qutnze. E essa escolha é ça em telação à Europa está dividid a entre esses dois
evide ntemente p olític a: e\a enfattza a comuni cação no s ei o pnncípios: a $estão lingtiística da Eu rcpa e a
defesa da
da Europa, excluindo na mesma tacada o porfuguês, lín$ua francesa. Por trás disso, existe ã iaeiu de que
o
muito mais falado no mundo do que o italiano, o aiemão futuro do francês está emjogo na un tão Europ éi;,que
e até mesmo o francês. ou seja, essa escolha ignota o épteciso a todo custo evttat que o inglês se torne
aunr-
statws mundial das Línguas e considera apenas as estatís- calíngua de ttabalho, idéi a expressa claramente
na ohra
ticas (número de falantes) na Europa. Paralelamente à public ada pelo Minist érro das Relações Exteriores:
abordaÉem técrnca (é preciso limitar as línguas de trúa-
Não nos enganemos , énaunião Europé iaque estarâem jogo
tho) , a ptoposta francesa apresentav a vma abordagem o
fufuro do francês. Se amanhã, affiruzãode concessões
sucessi-
polític a em dois níveis: vas, o inglês se impuser com o aúntcalíngua
de ffabalho, como
o é preciso evttar que o inglês se torne a untca poderemos defender o status tnternacional
do francês?lz
Ttngua de trúalhoda tlnião Europ éra;
Essa posição, que mostr a claramente onde
. é preciso escolher as línguas de trúalho em contra o inimigo (o rnonolingüismo, obviam ente,
se en_
função de critérios europeus (razão das cinco mas
o monolin$üismo anglofono), deixa de lado
línguas propostas, as mais faladas). outra pro-
hlematica. Se o status internacional do francês está
Essa úorda1am, que se situa no quadro da política
simbolrcamente em jo€o na Eu topa, seu futuro
eutopéta, mascata, de fato, interesses nacionais: a pro- esta-
tístico se decide na Afurca' onde a demog rafta e os
posta da FranÇa, Wresentada como capaz de resolveÍ aÍi
possíveis pro$ressos da esc olarrzação garunteÍn
dificuldades de funcionamento das instituições européi- à lín-
Êua um reservatórto imenso de potenciais falantes. E
as, pode ser consideradatambém como uma maneira dc
isso nos condu z a autro lado da política lingüística
defender o francê,s, uma vez que as reações dos "peque- da
França: aquele que se refere à francofonia.
nos países" constifuem uma defesa de suas línguas base-
ada numa defesa do princrpio da igualdade...
17' Ministère des Affaires étrangeres, Histoíres d,e diplornatie
Do mesmo modo, há muito tempo a França in- culturelle des orígines à 1995. Paris: La documentation
siste em que os países europeus ensinem duas línguas française, 1gg5,
p.198.
r 36 AS PoLíTtcAS LINcüísrtcns
Afrancofonia
E preciso consider aÍ a francofonia sob dois pon-
tos de vista: a francofonia é, com efeito e ao mesmo
tempo ) rtma realtdade sociolingüística, produto da his-
tórta particularmente da histótta colonial e um
- -
conceito geopolítico Íece nte, cuja tdéta foi lan çada em
7g64poÍ dois chefes de Est ado,Léopold Sedar Sen$hor
e Habib Bourgutba.
[Jrna realíd,ade sociolingüística - Desde o co-
A)
meço da era colonial, o francês experimentou urna
expansão mundial que faz dele, atualmente, a se$un-
da 1ín8ua internacional, depois do inglês e na ftente
do espanhol, se considerarmos o númeÍo de países onde
ele é ahngua oficial ou o númeÍo de países que o utili-
zaÍn em suas intervenções na ONU, e a qltartalín$ua
internacional (depois do inglês, do espanhol e d.o por-
tuguês), se consideraÍmos seu nitmeto de falantes.
Portanto, o francês está presente na Europa, na
Afrtca (.* ce,tcade quifrze países), tto Oceano Índico,
nas Antilhas, na Am értca Lattna (Guiana Francesa),
na Am értca do Norte (Cana dâ), no Oriente Médio (Lí
bano) e) eÍnmenor escala , nã Asia (Vietnam) Camboia,
Laos). Em 1995, foi avaltado em I20 milhões o núme-
ro de pessoas que uttltzavaÍn cotidianamente o francês
no trabalho ou em farnília.Trata-se aqui de minhapro-
prra estimativa, fundam entada em cálculos cujos deta-
thes tornartam cansativa essa exposição.O Alto Con-
selho da Francofoni a) rntma obra intitul ada mm de la
francophonie dans le rnonde, rapport 7990, distin$uia:
o os francófonos reais que dominarn o francês
como primeira ou se$unda língua e o utiliz'altl
habitualmente: 106 milhões;
A nçÃo soBRE As lírueuns (o ITATUS) 137
os francófonos ocasionais , etêvivem no espa-
ço fuancófono, mas com domínio rudimentar
e prâtrca limitada do francês: 55 milhões;
enfim, os francófonos por opção, aqueles que,
fora do espaço fuancófono, aptenderam ou
aprendem o francês: 100 milhões.
De toda forma, independentemente da exatidão
dos números, essas pessoas vivem em situações
sociolin$üísticas muito diferentes, que vão de lugaÍes
onde o francês é uma Língua altamente dominante
(Franç a, Québec) uma pafte daBérgica) a países
onde
é apenas a língua do Estado (ou seja, do ensino da
,
administração, da jus trça, etc.), falado por aproxi ma-
damente 10 %o da população (é o caso dos países da
Aftica fuancófona). Essas situações se diferenciam
também pelas línguas com as quais o francës é ali con-
frontado. Existe m países onde o francês coexiste pta-
ticamente com apenas uma língua, como a Tunísia;
outros onde ele coexiste com dezenas, até mesmo cen-
tenas de línguas (seneg al, camarões, zare). E, enfim,
essas situações se diferen ctam pelos tipos de relações
entre as línguas, onde o francês pode ser a 1íngua do-
minante (como na Ãfrtca) ou aqíngua dom tnadi(como
no canadá, ou na Louisiana). Em alguns desses paí-
ses, surge um problema sociolingüístico impor tante:
eles se encontram numa sifuação de digloss ta, mas com
a pafiicularidade de que a maiorra da pop ulação não
fafa a "variedade úta", a lín$ua oftciaJ,, e r. encon ffã,
portanto, excluída de fato da vidapitblrca, do ensino etc.
B) um conceito geopolítico. - Em 1966, durante
sua primetra reunlão, a ocAM (organtzação comum
Africana Malgaxe e Maurtctana) apresentou ao gover-
r 38 AS PoLíTrcAs LINGüísrlcns
no francës um projeto de "Commonwealth à ftance-
sa" (expressão ja uttltzada no ano anterior pelo presi-
dente da Tunísia, Habib Bourguiba ), e essa fórmula
mostrava perfeitamente o aspecto $eopolítico da
francofonia: tratava-se de aftrmar, após as indepen-
dências das anttgas colônias, a existência de um a entt-
dade política comparâvel àquela que constituíam os
países do antigo impérto britânico rea$rryados n17ma
associ ação po1ítica.
A lista dos países "frartcófonos" no sentido
Éeopolítico é hgetramente diferente da dos países
s o ci olingüis ti carnente " fr ancófono s ", mas é t$uaLrn e nte
vartada. Se consid etarrnos, por exemplo, os quareftta e
sete Estados e goveÍnos rea$rupados (sob um statws ou
outro) pela ACCT (,tgancia de Cooperação Culturd, e
Técni ca), constatamos que ao lado de países como a
França ou a Bélgic a,inteira ou parctalmente frartcófonos,
e de países outrora coloni zados pela BéLgtca ou pela
França, onde o francês é, como vimos, â Lín$ua ofi.cial,
encontramos países onde não se fala mais o francês
(Egito, Guiné-Bissau, VietnaÍn...), assim como outros
países em que o francês tem um papel considerâvel e
estão ausentes (Argélia). E essas apaÍentes incoerênci-
as mostrarn bem que a adesão a essa or$anização dc
coopeÍ ação francófona se origuna de uma escolha políti-
ca: é evidente que o Vietnarn ou o Egito são muito me-
nos francófonos que a ArgéLta, e que sua pÍesença fra-
quela associ ação não provém de um alo$tca lin$tiística,
mas de posições acerca da polítrca internacional.
Qual é a políttca francófona da França? E1a corr
sistiu primelrarnertte, como no resto do mundo, e tÌì
defender aLín$ua francesa, em $aranttÍ sua pÍesen(rir
A nçÃo soBRE AS lírueuns (o srATUs) r39
nas estruturas dos Estados-membros, chegando a se
opor discretamente em algumas regiões (como nu Afrt-
ca) à promoção das línguas nacionais, ou a não
favorecê-las. Mas a francofonia sofreu eÍn 1989 uma
tevrtavolta importante, ao menos em termos de dis-
curso. Dur ante o encontro dos chefes de Estados
francófonos em Dakar) em maio de 1989, o presiden-
te François Mitterrand defendeu um discurso novo ao
se referLÍ a um diálogo das línguas e das culturas no
espaço francófono. I)esde então, tem-se dado desta-
que às "lín$uas parceLras", aos problemas de desen-
volvimento. Mas se trata aqui da cooperação multila-
terd", uma vez Qüe, no quadro da cooperação bilaterú,,
a França não demonstra ter mudado de política lin-
güístic a em relação à Afutca. E sur ge aqui uma contra-
dição entre as políticas bilaterais (impulsionadas pelo
Ministérto da Cooperação) e multilaterais da França.
Se a tdéia é, a de Qüe, poÍ exemplo, o mais importante
na Áfrrca é difundlt alíngua ftancesa, o mais lógico
seria concentrat esforços no sistema de ensino e na
mídia. Porém, se consideÍaÍmos que o importante é
garanttÍ nesse continente um desenvolvimento endó-
geno, então é preciso perguntar como transmitir o sa-
lrer, a expetièncta, se a escola em lín$ua ftancesa ó o
rrrelhor vetor dessatransmissão, se a utilização de cer-
tas línguas africanas não traria melhores resultados.
ll a escolh a entre essas duas direções é fund amental:
no primeiro caso, garante-se (por meio do francês) a
l)romo ção individual de algumas elites; no segundo
rìrrso, se buscaria (por meio das Línguas africanas) rtma
l)r'orno ção coletiva. I.{o entanto, â França tem tendên-
r:irr iì tomar o partido da Línêua francesa (e portanto
r 40 AS PoLíTrcAS LtNGüísrtcns
da promo ção individual) em sua polític a btlateral,
enquanto os organismos francófonos multilaterais ) em
grand e pafie frnanciados pela França, voltam-se cada
vez mais, porém com menos Íecursos, paÍa a se$unda
direção.
Além disso, a francofonia é freqüentemente
campo de batalha de um a guerra latente entre os paí-
ses francófonos do Norte ) em particul ar a França e o
Canadâ, eü0, paralelamente às suas políticas multila-
terais, têm çada um uma política bilatera| que nem
sempre vai na rnesma d:rr:eção. Ess a guerra dos chefes
faz da francofonia um lugar de oposição entre os paí-
ses do l{orte, detentores de fundos financeiros, em
detrimento da elaboração de uma linha polítiça clata.
A França não tem políticafrancófona claramente ex-
pressa nem no domínio bilateral, nem no domínio
multil ateral. Robert Chaudenson exprime perfeitamen-
te essa incoer ëncta quando escrevel8:
O interesse imediato do Sul não está nem nas indústrias da
língua nem nas infovias, mas numa difusão em massa, adaptada
e eftcazdalíngu afuançesa no Sul, porque é,na Afrtca,a condi-
effatanto do desenvolvimento como da democracia.
ção prim
Mas, a\émdisso, é çIarc que o Sul tem um interesse poderoso,
mas indireto, effi que o francês esteja presente tanto nas indús-
trias lingüísticas e culturais quanto nas infovias.
Ele esboçava, dessa form a, rtmapolític a ftancófo-
na possível, que consistiria em dotar a francofoni a de
$randes objetivos comuns, mas reservando a cada uÍn
dos países-membros objetivos esp ecíftcos, em função dc
18. Robert Chaudenson, La politique francophone: y a-t-íl un pilott'
dans l'avion? Comunicação ao Colóquio de Rennes, abril de 1995.
A nçÃo soBRE AS LíNeuns (o ITATUS) 14t
suas necessidades e de seus meios. Esse procedirnento,
no entanto, entratta em contradição com as reivindica-
ções dos países do Sul e um certo clientelismo dos pen-
ses do Norte, e o resultado disso é uma paralisia quase
total da política lingüística francófona, apesar dos
o expressivos meios financeiros de que ela dispõe.
O francês no rnundo
Para o resto do mundo, assim como pata a Euro-
pâ, de acordo com o que ttatamos aciÍna) o problema
da polrtrca lingüística da França tem um nome: o in-
glês. Foi em 1919 Qüe, pela primeLta vez na históúa
das relações internacionais, um tratado foi redigido
em duas línguas, o francês e o inglês. O presidente
americano Woodrow Wilson exigira que o Tratado de
Versalhes não fosse escrito apenas em francês, como
era feito até então. Data simbólrca, pois desde então a
Irrança se esforça por mantw o status internacional
rle "sua" lín$ua, altâs, com sucesso: tanto na Unesco
como na ONU, o francês está entre as poucas lín-
grras de trabalho, numerosas delegações o uttltzam
r:nr suas intervenções e, sobretudo, o número de
l'r'ancófonos no mundo está em constante aumento.
Assim, os franceses não são mais maioria no rneio
rlos francófonos e o francês não pertence mais so-
rrrcnte à França. Mas eis que o francês não é mais a
1rrirrreiraLínÊua internacional , ele éIagamente ultra-
Irrrssaclo pelo inglês, e seus status é comparâvel ao do
rsl);rrrhol, até mesmo ao do portu$rlês... É possível ler
nnnrir publicação que ja citamos do Ministério das
Itrlirçires Exteriores, a seguinte passagem:
 142 AS poLíTrcAs LtNcüísrrcns
Não erremos de alvo: nãose trata de inici ar amabatalha contra
o in$lês, mas de nos batwpela manutenção de um pluralismo
lingüístico e cultural que nos parecenecessário não apenas paru
nós mesmos, mas paramuitos de nossos parceirosie.
É verdade que na reivindicação da exceção cultu-
ral, por exemplo, a França cettamente defendeu seu
cinema, mas ao Ínesmo tempo o cinema italiano ou es-
panhol, assim como é, verdade que os cineastas japone-
ses gostariam que seu governo tomasse posição seme-
thante. Mas acontece que esse pluralismo lingüístico e
cultutal, evocado sempre que o francês se encontra
arneaçado, é ptattcamente esquecido quando suas po-
sições estão mais seguras, como na França ou na Afnca
francófona.
Os autores das Histoires de diplomatie culturelle oh-
servam que quando Maurice Couve de Murville, que foi
ministro das Relações Exteriores por dez anos, redigiu
suas memórias, dedicou quatrocentas páginas às rcla-
ções entre a França e os grandes países do mundo e qua-
tro páginas às questões culturais. No entanto, durante
esses dez anos, ametade do oÍçamento de seu ministério
se destinou aos assuntos culturais e técrucos2'. É verda-
de que durante muitos anos a difusão do francês no
exterior foi, antes de tudo, mais um rnercado do que
uma política. os editores e os autores de métodos de
ensino ttratam lucros importantes dessa postura, e
como eÍa preciso, pela Lógtca coÍneÍ ctal, substituir
cicltcamente esses métodos, os "rnetodólogos', se jun-
tatam para produzur novas "teorias'1 Aborda$ens es-
19. Ibid., p. 197,
20. Op. cit., p. 104.
A nçÃo soBRE AS r-írucuns (o ;TATUS) 143
trutur al-glohal, audiovisual, comun tcattva se suce-
diam, os exercícios estruturais foram durante deter-
minado tempo uma panacéta, logo substituídos pelas
microconversações, e depois por outras inovaçõrr.
or,ganismos para-universitários (BELC - Bur eau
d'Études pou r |a Langue etla Civilisation Française à
l'Eftaní.er, CREDIF - centre de Recherche et Juúa.
pour la Diffusion du Français) se especi ayzavam no
ensino do francês no exterior, antes que o FLE
(F rançais La n{ue Etrangere) se tornasse
umaespecia-
lidade propriamente universitárta.Havia em tudo isso
interesses econômicos evidentes, uma aborda€em teó-
rica cuja superfi ctalrdade saltava aos olhos e LtÍna re-
lativa ausência de reflexão políttca.
Esse desequilíbrio entre o desinteresse potrítico e
ir $enerosidade ftnancetra frente à polítrca cultur al e
lin$üística se prolongou sob as presidências de
Georges Pompidou e de yaléry Giscard d,Esta tng, e
ftri depois da eleição de François Miter rand, qrr, ,,
rrrultipltcatam os otganismos, âs reuniões, as deci-
sões sobre a língua e a francofonia, que se viu um
clrefe de Estado se interessar dnetamente por esses
lrroblemas. Mas o fato de a política lingüística da
Irrança seÍ, aparcntemente, ffatada no mais alto ní-
vcl não garante sua unidade.
se a política lingüística da França tem uma coe-
r'ôncia, onde ela se encontra? É possível duvidar dessa
(r(x-)rëncta pú razões acima de tudo técnicas:
os luga-
rcs de decisão são múltiplos, não existe, poÍ exemplo,
I rrrì espaço de teflexão acadëmtco que
pudesse forne-
(:(rr aos tornadores de decisão relatótios
concretos ) Ltm
;r(iornpanharnento das situações, uma análise da con-
 AS polÍrlcns LINGÜísrlcns
144
juntura. pode-se também observar u.rna certa contra-
dição entre a defesa verbal do plurilingüismo na Euro-
pa e o pouco empenho na defesa desse princípio nas
fronteiras da Fran Ça, Wand.o se trata das línguas regi-
onais. Pode-se enfim, apesaÍ de uma leve mudança de
foco após a cúpu1a de Dakar, notar que a política lin-
güística da frarrcofoni a parcce ignoÍaÍ as línguas ditas
;'p^rrriras", desprezando o princrpio de plurilin$üismo
das regiões, além de não se preocupaÍ com o 1u$ar das
línguas no desenvolvimento quando se tratado caso do
francês na nfrica. Além do mais, em telaçáo à ação
lingüística no plano inteÍno e no plano externo, paira
uÍn não-dito sobre todas as estratégias desenvolvidas: 0
inglês. A "lei Toubofr" faz o tempo inteiro referèncta a
"termos estran$eiros", uma ve7' ç[Ue oS exemplos que
aparecem no Dictionnaire des termes officíels delal,angue
palavÍas inglesas, e a as-
françallse substituem todas as
ptraçâo ao plurilin$üismo defendido, no que diz respei-
io à Europ a, tem sempÍe por função a de se opor dire-
tamente à arneaça de uma posição dominante do inglês.
Dessa forma, PoÍ todas eSSaS razóes, tem-se a
impressão de que essa política lin$üística não tem
nenhurna unidade e podemos tnda$at, com Robert
Chaudenson, "Se há um piloto no avião". Mas a coe-
rência dessa política se encontra num outro níve1, no
da defesa da ríngua francesa, tanto do ponto de vista
do cyrpws (luta contra os emptéstimos, neolo$ia em
diferentes campos, indústrias da línÉua...) como do
ponto de vista do status (lugar do francês nas insti-
iuições internacionais, ensino do francês como lín-
que a Revolução decidiu
Êua estran ge:t..a etc.). Desde
que para :UtÍna República untca e indivisível efa ne-
A nçÃo soBRE AS lírueuns (o STATUS) 145
cessária uma língta untca e indivisível, o modelo
Ínonolíngüe passorl a rcinar e foi aplicado tanto na
França como na Lfrtça na época colonial. os princí'
pios af1y;mados (plurilin$üismo na Europa, diálogo
entre o francês e as lín$uas parceiras no espaço
francófono) são, muitas vet,el, uma tâttca. No en-
tanto, mais que uma contradição entte tâttca e estra-
tégta, é preciso enxer$at aqui uma subordinação dos
princípios a um fim: a políttca lingüística da FrarLça
tem uma coerência teleológica profunda, Qüo a con-
duz a :uma incoerência teórtca e a estratégras varia-
das. Ela não defende em tod.os os lugares os mesmos
princípios porque defende o francès em todo e qual-
qttt lu$ar, ainda que não o reconheça em vo7' a\ta e
mesmo que nem sempre saiba com o fazë-lo.
V. A substitui ção de um lín$ua colonial: os
- inícios da arabização na Africa do Norte
Vimos no primeiro capítulo que os sociolin$üistas
e os militantes catalães utrltzavaÍn anoçáo de normali-
zação para design ar a ação sobre as línguas que leva-
ram à substituição sústituição do espanhol, nas fun-
çoes ottcrais, pelo catal,áo. Nesse caso
F.
patttulat, tra-
tava-se de d,evolver ao cataLáo um status que e1e o,cupa-
va no início do século. A situação do ârúe rLa Africa
do Norte é compl etamente diferente. Se$undo G.
Grandguillaumezr: "A arabtzaçáo consiste em tornar
21. Gilbert Grandguillaune, Arabísation et polítique línguistiqae
uu. Maghreb. Paris: Maisonneuve & Larose, 1983, p' 9'
A maioria das
irrformações expostas nesse capítglo vem dessa úra'
 t 46 AS poLíTtcAS LtNoüÍsrrcns
o árabe aquilo que ele não é". E acrescenta mais adian-
te que se trata de arútzação e não de rearúização:
ceftamente um retorno às fontes, à lín gua das
origens pare ce ttanqutltzador e se apÍese ntacomo fun-
damentalmente legítimo. Mas conceber a arabização
como um retorno a um estado de culfura e de lín{ua
pré-colonial é, evidentemente, uma ilusão . para falar
apenas da línÊlra, ela deve exprimir hoje um mundo
totalmente diferente do que foi outrora, partrcular-
mente seu uso no lugar do fuancès a conduz a expÍes-
sar realidades novas em relação ao fundo lingüístico
ârabe tradicional. Existe a rearabização no sentido de
uma restaumção da línÊua árabe coÍno língua de cul-
tutta, mas não no sentido da pura ressurgênci a de uma
situação lingüística passad a22.
A situação do ârabe na Africa do Norte é, de
fato, diferente da do catalão na Espanha: as estrutu-
ras do Estado do qual o ârabe devia ser o meio de
expressão e de gestão não existiam antes da colontza-
ção. Além disso, ali o contexto lingüístico era muito
particular. Muito se escreveu sobre as relações entre
as línguas em contato, o ârabe, o berbete e o francês, e
é exttemamente dificil esclar ecet essa questão. O que
é cefto é que existem na Afrrca do Norte dois conjurr-
tos de hnguas maternas: o conjunto ârabe e o conjun-
to berbere. Sob denominações diversas (berbe re, cúila,
tamashek, tamazight, tachelhit, chleuh...), o berb ere
sempre foi considerado, desde a conquista árabe,como
um dialeto minoritário (mesmo que ele seja, sem üJ,-
vida, ainda hoje majoritário no Marrocos), não mere-
22. Op. cit., p. 31
A nçÃo soBRE AS tíNreuns (o STATUS) t47
cendo o reconhecimento oficial. Quanto ao ârabe como
Língua maternâ, ele foi igualmente desvaloúzado:
O julgamento (desfavorável) devalor atribuído ao ârabefalado
cotidianamente se resume em apresentá-lo sob o aspecto de
uma coffupção do ârabeliterário que precisa, o mais rapidamen-
te possível, ser abandonado ou desap ateçetz3 ,
Além dessas línguas maternas, os três países da
Afncado Norte (MaÍïocos, Arg efrae Tunísia) estavarn
confrontados com duas outras línguas, o fuancès de uma
parte, herança da época coloniú, c o ârabe. Mas é deli-
cado definir esse ârabe, que não e aYrngua falada. Exis-
te, de um lado, o ârabe clássico, Língua do Alcorão, sa-
cramentadacomo fator identitâno e comobase da comu-
nidade dos crentes. Trata-se, propri amente falando, de
uma língua morta, como o latim, Qüe se apÍende essen-
cialmente lendo o Livro Sagrado. Existe, de outro lado,
o árúe moderno, língua das mídias, do aparelho de
Estado, sobre o qual Grandguillaume escreve:
Sem referência culfural própria, essa língua tarhémnão tem co-
munidade. Ela r,eraé ahnguafalada de ninguémnarealidade da
vida cotidiana (. . .) Bssa faltade referência comunitária dalíngua
árúemoderna foi oportuna paraos defensores daarúwação: por
isso eles tentam, confra todas as evidências, estúeleceÍ uma confu-
são entre essa língua e a língua materna. Os exemplos na história
das controvérsias em que a reivindi cação dawabaaçaoé expressa
em reivindicação dalíngua materna são abundantesza.
É portanto esse ârabemoderno que está no centro
do processo de arubtzação, Ç[u0 se manifesta no MaÍïo-
23. Michel Barbot, "Réflexions sur les réformes modernes de
I'arabe ltttéral", in: Istvan Fodor; Claude Hagège (orgs.) , La réforme des
langues. Hamburgo: Buske Verlag, 1983, vol. 1, p. 133.
24. Gilbert Grandguillaume, op. cit., p. 25.
l4g AS PoLíTlcAS LlNcÜísrlcns
cos aparttr de 1957 (decisão abortada- de arabtzar
- prepaÍada, foi um fracasso total e, em conseqü èncta,
o ensino primário), na Tunísia apartir de 1958 (insti-
tuição dos dois primeiros anos de ensino em arabe) e
na Ar gélta a parttr de 1962 (instauração na escola pri-
mârta de sete horas semanais de ârúe em trinta horas
de ensino). Nesses três casos, é possível perceber que é
através da escola que o processo se inicia. Mas as dife-
renças entre os três países nos obrigam a abordá-los
inicialmente de maneira separada. Apres entaremos
então sucintamente suas políticas lingüísticas nos anos
1960 e 1970 antes de fazer uma tentatla de síntese.
No Marrocos
Apesar do silêncio oficial que patrava atébem pou-
co tempo sobre a questão, o Marrocos é um país lin-
güistic amente heterogêneo: ali o berb efe é falado como
prime iralínÊuapor pelo menos metad e dapopula ção" .
No entanto, em fevereiro de 1956, algumas semanas
antes da independência, foi criadaem Rabat aLt$acon-
tra o Analfabetismo, cujas carnpanhas de intervenção
eÍam unicamente em arabe, e observaÍemos que em to-
dos os debates sobre o uso público das Lrnguas no Mar-
rocos o probl erna do berb ere nunca foi abordado: ape-
nas o Movimento Popular (fundado em 1957) reivindi-
caú,perÍnanentemente o ensino do berbere...
É no início do período escolar de 1957,logo após
a independência e sob o impulso do ministro da Edu
cação, Mohamed El Fassi, que o primeiro ano do pri
25. Nenhum recenseamento foi feito sobre essa questão e tlir'
pomos somente de dados aproximativos sobre' ela.
A nçÃo so B R E AS r_íw c uns ( o srATU s) 149
tnarro será atabtzado. A medida, precip ttada e mal
o ministro Íenunciou ao catgo em 1958. Mas a ques-
tão passa a fazw parte da ordem do dia: o rei crra
uma comissão de reforma do ensino encatregada de
preparar um projeto, e o problema da anbização será
de novo abordado em junho de 1958, durante a pri-
metra rcunrão do Conselho Superior de Educa ção.
A primeira solução escolhida seria a de classes ex-
perimentais: em 1960, úre-se uma classe inteiram ente
arúizada em Rabat e em Fez, uma outra, em 1961 ) eÍn
CasablarLca. Na mesma épocâ, o Ministério da Adminis-
tração Pública e da Reforma Administrativa inaugutava
cursos de formação em árabe pata todos os funcionâ-
rios. Paralelamente, organismos de reflexão sobre a
arabtzação foram criados em Rabat (Instituto de
Arabwação, Secretaria Permanente do Congresso pata a
Coordenação da Arabrzação nos Países Arabes), enqu an-
trr o Conselho Superior de Educação Naciond,, emoutu-
hro de 1962, exigiu que o ârabe fosse a itnrcalíngua de
cttsino. Na época, o ministério hesitava entre duas estra-
tcgias: arúaat ano por ano ou matéria por matéria. A
1rt'imeira solução foi a escolhida e lançada emoutubro de
lÍ16:l: em \967, todo o ciclo prtmáno seria desse modo,
nno após ano, atútzado. Mas os resultados não foram
srrÍìcientemente convincentes: o afluxo dos alunos e a
tlucrla do ruvel do ensino levaram o ministro Benhima a
rrgrrlamentar em 1965 o acesso dos alunos ao secundá-
liu. Allesar das violentas reações provocadas por essa
rlrt:isrìo, o ministro iria mantô-la em abril de 1g66 e anun-
r*rriir, oo mesmo tempo, sua intenção de que o ensino
tfari rrrltérias cientrficas voltasse a ser feito em francês.
 AS PoLíTlcAs LlNoÜísrtcns
A nçÃo soBRE AS lírueuns (o STATUS) r 51
tso
çFe o arabefalado seja alprancarrrcnte unificado.
Em 1958,
Em 1965, o Ministério da Justiça foi oficialrnente
o arúe foi introduzido nos dois primeiros anos do irtrnâ'
arabtzado, os demais setores da administração continua-
rio, medida que foi acompanhadapela supressão d.as esco-
tarrLa utilly:ar o franús ou o ánúe, de acordo com a oca'
las corânicas. I.{o mesmo ano, decidiu-se por írrLatntnwen'
sião, mas princrpalmente o francês, â itúgar pelos inúme-
çao no ambiente lingüístico: as placas de todo
o comércio
Íos protestos dos usuários" Grandguillaume destaca com
,,esse afrancesamento perse$ue o maÍïoquino foram ar#aadas. OÍizeanos mais tatde,Ahmed Ben Salú,
humor ç1ue
que erao responsável pela educação no $overno, decidiu
até o úmulo, pois até as autori zaçóes de enterro são
restabelecer o ensino do francês nesses dois primeiros anos.
redigidas em língua estran$ e1ra"26. De fato, deixando de
Aparentemente contava com o apoio do presid ente
lado a justiça , a xú:u;açáo da administração ocoÍïeria de
Bourguiba, mas, offi novembro de 1969, dois meses após o
maneira não-coordenada, deso rdenadamente.
Em outubro de 1968, o rei anunciou uma medida início do ano letivo, ele perde seu posto. No entanto' sua
reforma serâ aplicada e mantida durarfie dois anos. Em
um tanto surpÍeendente, mas que parecia aptesentar o
problema do ensino de maneira diferente. Tratava-se 1g7!,o primeiro ano do primrírio será novamente aur:útzado;

de abrir em todo o país íÍna espécie de ciclo pré-esco-

çar, de escolas corânicas "modeÍnas", çIue aS crianças
freqüentariam dos 5 aos 7 anos. Esse sistem a, qLte seria
efetivamente estabelecido, colocav a craramente em de-
bate a questão súre qual arube ensinar: se as crianças
maÍïoquittur someç avamseu ciclo escolar com dois anos
de escola corânica, evidentemente era o ánabe do Alco-
rão que iriam ali estudar. Entrariam em seguida no sis-
temade ensino primário. Para o resto, apesar dos pro-
testos d.e umapafie da opinião, o bilingüismo era man-
tido a parttr do terceiro ano do primâtto.
NaTunísia
A Tunísia éo pú da Afficado Norte sL1ia
em 1976 será a vez da arútzaçáo do se$undo ano o em
Ig77, do terceiro. Paralelamente, xfu:u:xra-se certo ni:rlrrc'
ro de matérias no seffindário (filosofia, história, $eoSafra)
e no superior (ciências humanas).
Ainda nessa mesma época, um debate (iniciado na
Assembléia Nacional em 1970) sobre aar:ú:uaflo a$ttavaa
classe polÍtica e os intelectuais. O principal újetivo era fa'
z,er oposição à no@o de "ürnisifica@o", defendida por al-
Éuns ministros, Qtr€ não colocava o problema
lingtiístico em
primeiro plano. Posteriormente, ern 1974, surgiu umapolê-
mica entre Hedi Balegh, Qüo reivindicava o uso do dialeto
flrnisiano e não das "hnguas aristocráticas" (o atúehteúr
rio e o francês), e o ministro \Ãzah para quem "o arcbe
falado não é,smalínguade c;lvúuação'1 Aolon$o desse tem-
l)o, a arabizaç,ãn da administraúo ocoÍïeu, assim
coÍno no
sitqa@o

linguística é a mais simples: o berbere praticamente desapa-

Marrocos, desord.enadamente. Apenas os ministérios da
.Justiça e do Interior foram arúaados no início dos
anos
Íoceu de cena e o reduzido tamanho do território faz com
lg7\,mas em ç1ue árúú Uma anedota famosa ilusffabem
r:sse problema. O presidente da Repúlica, Húfu Bourg;uiba,
26. Op. crt., P. 79.

ïì
 AS polírtcns LINGÜÍsrlcns A nçÃo soBRE AS líneuRs (o srATUs) r 53
r52
do: dez horas semaÍrais, além de um ensino religioso
rurm discurso pronunciado em 1g65, assinalava que o fato
instaurado em 1964 e do primeiro ano do ptimârro
de redigir os autos em árabeliterrírio, enquanto os depoi-
intetamente atúizado e, por fim, a cttação de um "efl'
mentos eÍam feitos em ârúe falado, fana com qrle esses
sino original" inteiramente arabizado e de tendência
ultimos coÍïessem o risco de ser deforrnados' e ele teria
religiosa que será mantido até 1976. Em tazáo da au-
declarado a um oficial de polícia (em dialeto ttmisiano): "Ela
sência de professores habilitados, haverâ um recruta-
prestou depoimento em dialeto, escreva-o tal e qual'l sete
mento de "monitores" de um nível muito baixo, quase
anos mais tarde,em julho de lgTL ele voltaria a esse tema
sempÍe oriundos de escolas corânicas, bem como de
numa entrevista à televisão francesa, discorrendo sobre os
,'Eu não falo com eles emârúe rcgtÃar, o árúe professores egípcios e, posteriormente, sírios. Depois do
tnnisianos:
golpe de Estado que destituiu Ben Bella, em 1965, a
ffiffi o áxúe ç111e eles mesmos falam " '"
dos antigos,
arabtzaçáa segue no mesmo ritmo: em 1967, o se$undo
Esses diferentes debates podem parecer estranha-
ano do primâno é arúizado, os anos se$uintes são par-
mente calmos se comparados ao que aconteceu na Ar-
gélta.É verdade que na Tunísia, como iâmencionamos,
cialmente arútzados em 1968 etc. Na universidade, flo
entanto, as coisas ocoÍïem muito mais lentamente: os
não havia o prúlema do berb eÍe, o que desapaixonou
estudantes são hostis ao ensino em ârúez', o que Leva,
consideravelmente as discussões. Mas, a despeito do
em 797| à instauração de um exatne obrigatório de
peso da reli grão, o prúlema do dialeto, do ârúe falado
árabe em todas as licenciafuÍas ensinadas em francês.
ou tunisiano, como se queira (em tunisiano é chamado
As coisas andam igualmente rápido nas en$rena'
de bâ,rbríl), foi exposto de um a rnarLe:rta clxa, em dife-
gens do Estado. Em 1968, üffi decreto decide pela
rentes níveis, inclusive no mais elevado, o que está lon-
arútzação da administração. Em seguida) eml97},uma
ge de seÍ o caso dos dois outros países'
portaria ministerial fixa o nível de domínio da 1ín9ua
ârabe que os funcionários públicos devem ter (os altos
NaArgéIia funcionários serão dispensados desse pré-requisito em
1973). Essas medidas são acolhidas de maneiras dife-
O problema da atútzaçâo na ArgéLra se encontra,
rentes: os funcionários públicos, em particular, temem
desde o início, mergulhad.o nas contradições internas
,,socia1ista", cuJa política extetrLa o im- ser dispensados ou não ser pÍomovidos. Mas a arabtzação
de um Estado
pulsiona em direção aos países do Oriente e que faz', l)rosse$ue no mesmo ritmo, ou quase: o noticiário cine-
rrratogr âfico havia sido arúrzado em 1967, um terço das
por outro lado, referëncias permanentes ao islamismo.
Alguns meses depois da independência, no começo do
ano letivo de !962, o governo da ArgéLra introduzhu 27 . Segundo uma pesquis a reabzada pela Universidade de
sete horas semanais de ensino do fuabe no sistema es- Itrrr.kcley por encomend,a da Argélia em 7967,80% dos jovens ar$eli-
rrrrs são hostis à arabtzação da universidade.
colar primário. A refotÍna continuarâ em ritmo força-
 AS polírtcAs LINGÜÍsrtcns
t54
primeiro ano do secundâno o são
seções cientrficas do
em 197\, as inscrições públicas em 1976 etc.
Ao longo dessa política de arútzação, três pro-
blemas estão constantemente subjacentes:
o O problema dos dialetos. Em 1963, Pof exem-
plo, houve uma $tande polêmica sobre as can-
ções difundidas pela Rádio Alger, crittçad.as
por serem quase seÍnpÍe em âtabe clássico'
embor a ia existisse uÍna canção popular em
ârabe argelino.
o O prúlema do cabila. Da mesma forma q17e
no Marrocos, é difícil saber com cetteza
quantos ar$elinos têm o berb ere como Lín$ua
materflâ, mas podemos estimá-los em 30Yo
da popu|ação. Desde a independência, esses
berberes se opuseratn à ambrzação em nome
da defesa de sua lín$ua e de sua cultur â, o que
os levou primeiramente se en$Earern Í7a ma-
nuten çãa do francês, e depois a teçvindicar a
utilização oficial das "línguas populares", ol'l
seja, o afabe ar$elino e o berbere. Diante des-
sas hesitações, o poder respondeu com a r0-
pressão: suprimiu, em L973, a câtedra clt:
berbere que Mouloud MammeÍi ocupava tìrr
universidade; proibiu, em 1976, a revista Lt'
Fichier Berbère e proibiu, em 1980, uma corr
ferência de Mammeri sobte apoesia cabila clt.'
o E por trás de tudo isso aparcce, obviamentc, t I
problema da religião, comum aos três paíst':;
da África do Norte.
Esses três países tinham um passado colnum (territ"
rio originalmente berbere osupado pelos árabes e colonizr tt 1,,
A nçÃo soBRE AS lírueuns (o srATUs) r 55
posteriormente pela França) um problema comum (corno
e
passar a um ensino arúe?), mas2 como vimos, com $tua-
e úordagens muito diferentes d.esse problema. É bem
lO.,
verdade ç1ue eles tentararn harmonmar suas políticas lin-
giiísticas (Conferência dos Ministros da Educação Nacional
da Africa do Norte em fevereiro de 1966, em Túnis; úa@o
de um Comitê consultivo norte-africano erLcarfe$ado de tra-
balhar pela determinação de um "atúe fundamerttÃ" em
toda a Afnca do Norte; se$unda reunião da Conferênc;n
dos ministros da Educação nacional em abril de 1967 em
Argel; tercekareunião em junho de 1969 em nabat etc').
Mas, na rcahdade, eles não constituíram or$anismos co-
muns de arútza$o.A lista dessas instituiçoes apÍesentada
por G. Grand.guillaume é, desse ponto de vista, eloqüente.
Sob o títtrlo "As instittdçoes da atabaação" , de dá dois or-
ganismos permanentes, O Insütuto dn Estt'dos e dn Pnquka
pera a Arabização Gm Rúafl e a Secretarin d"e Coord"ermçã'o
rln Arabizaçã0, financiada pela Lrgaarane e que trúaftta
com a terminolo*a, aos qlrais é preciso acrescentar quatro
organismos que se reúnem periodicamente, enffe os quais
apenas o Comitê Cornultívo Ìlorte-fficano ptodtntu uma
obra, dedicada ao "ambe funcional'1 Mas é pouco, sobrefu-
cloporque o conflito fronteiriço entre aLrgehae o Marrocos
a respeito do território saaráui não facilitou a colabora@o
enfre os lingiiistas desses dois países.. '
E, difícil hoje em dia avaliar o resultado dessas
políticas lingüísticas (alguns se felicitam, outros che-
t{am a drzeÍ que se criou uma $etação de
analfúetos
Mas evidente que a arúLaa-
r:rn ârabe e em francês). é
Ção, ao menos na Ar géLiae no Marrocos, está lon$e d'e
,ricr um $rande SuceSSo, e podemos tentar listar as prin-
r:ilrais razões das dificuldades encontradas:
 AS políTtcAs LtNGüísrrcns

a constante confusão entre o nível político e o

nível religioso. Esse problema certamente foi tra-
tado de maneiras diferentes em cada país (ru-
primiram-se as escolas corânicas na Tunísia, elas
foram transformadas numa espécie de ciclo pré-
pnmánto no Marrocos), Ínas o estatuto ideológi-
co muito pafttcular da lín Êua para os ârúes
coNcLusÃo
pesou enofinemente sobre as discussões.
o fato de alínguaescolhida como línguanacio-
nal nunca ter sido uma língua falada pelo povo; As políticas lingüísticas estão em ação emtodo o
o problernaberberc, em pelo menos doii dos mundo, sempte acomp anhando rnovimentos políticos
três países: fia Argélia e no Marrocos, a arabt- e sociais, e a mud ançalingüística vem rcforçat aemer-
zação foi vista pelos berberes como dirigida
$ëncta de nações e suas coesão oü, ao con ttâtto,a divi-
contra sua ltngua e sua culfura. são de alguns países em novas entidades políticas. Men-
o fato de o francês, mesmo que sua impor- cionamos muitos exemplos dessas situações, particu-
tãncta tenha diminuído muito, ter-se tornado larmente nos capítulos IV e v deste livro. Na Norue-
uma Língua de privilegiados.
8a, a busca de uma língua unific ada veio rcforçar a
Assim, a função nacionalista da arabrzação foi
vontade nacional atuando sobre alíngua pata distin-
de certa form a "poluída" tanto pelo integralismo mu-
$ui-la o máximo possível do dinamarquês. Em outros
çulmano como pelos conflitos entre árabãs e berbeÍes lu$arcs, essa tradução tingüística do naóionalismo pode
e os ressentimentos pós-coloniais com relação à lín gua
acomp anhat as piores ações militares: na ex-Iugoslá-
francesa. No mesmo ponto em que a Tanzànta e a
Indonésia, países iguaknente muçulmanos, soú efam via, por exemplo, os que falavam ontem uma lingua
promover uma língua nacional que não lesava as lín- comum, o servo-cro ata, empenham-se hoje em falar o
guas maternas, ou onde a Suíça tentou, com êxito, sérvio, o cro ata ou o bósnio1. I{os países da Africa do
or$ani zat seu plurilin$üismo, os países da Africa do Norte, onde os problemas religiosos misturam-se aos
Norte ftzetam uma escolha que só pod eflacausar vio- probleÍnas lingüísticos, eles sempre dific ultaram os de-
lentos conflitos e cujos efeitos continuamos a ver. bates etc. As políticas lingüísticas existem para nos
Mas o efeito mais marcarúeda história sobre as situa- tecordat, ern caso de dúvida, os 1aços estreitos entte
ções lingursticas reside, sem dúvida, ro fato de que os paí-
línguas e sociedades.
ses da Africa do Norte ainda estão por garantir o stafin
de
uma das hnguas mais faladas no mundo, enquanto a França 1. Em 1991 foi publicado, em Zagreb, um dicionário das
distin-
trúalha pelo status de sua língua no mundo. ções entre as línguas seÍvo e cro ata: Razlikovni Rjecnik Srpsk,og i
KrvastslQog Jezika.
 r 58 As PoLíTrcAs LING
Mas outras políticas lingriísticas (nu Tanzània,
na
suíça, na Indonésia , flã catalunha.. .) parecem
ter tido
sucesso. corno explic ar o fato de que uma política
1in_
gúística poss a ter êxito ou dificuldades
em ser apltca-
da? Os fatores que facilitam o êxito podem
ser históri-
r:r (ru épocadaindependência da Tan ,a"a,;;;;;;*
Plo, o suafli iâ eraescrito e unlizado havia *,rito tempo
na administração local, o que facilitou sua promoção).
Os fatores
!ão freqüentemente simbólicos: o suafli ain-
da eravistó cómo alíngua daindependênc ia, enão
po-
dia ser assimilado à língu a de um grupo étnico
impãn-
do-se às outras, como aconteceu com o malaio
na
Indonésia. Os fatores que rfi,*m contra são, às
vezes,
técntcos: a âusenôin dte;qtpamenir;ã;
pittipitação demasradamã"à grande, ou ainda
ffiïi;*;,
o tama-^
nho do país (como no caso da china). Esses fatores
se
devem freqtientemente ao imperialismo lingüístico
do
Estado' como nos países da Afrtca do Norte,
onde a
Irngua nacional não é exatamente aquela faladapelo
povo. Por fim, são fatores que dependem,
de maneira
contraditória, dos modos de decisão: se regimes políti-
cos fortes, como o da Turquia, podem seÍïr
dificul dade,
ao Ínenos por um tempo, irnpor sua política, por
outro
lado, muita democÍacratanúém podr, ,o*o
no caso da
Norue Êa, prejudicar o processo de planejamento.
o que é necessário então paraque uma política lin_
$tiística tenha todas as chances de dar certoi À 1.r, dos
esfudos de caso apresentados neste livro e
de outros que
não tivernos tempo de mencionar, é possível fazer
uma
lista dos fatores ottmaadores, lista que tem
origem, aliás,
no bom senso. Panque uma lín$ua possa
ser, por exem_
plo, promovi da alínguanacion ã, é prefenvel iue,
üísncns
coNcl_usÃo
t s9
o se]a falada por uma larga rnaiori a dapopula
ção;
o seja ac'ettÁvel como símbolo da unidadã nìcional,
sern prejudicar ninguém) e o melhor
caso seria a
escolha de umartnguaveicular, se houver;
o seja equipa da, pronta para preencher as
fun_
ções às quais se destina. caso conftário, esse
equipamento deve ocorrer imperativamente
antes da promoção da hngua;
o a políttca lingüís tica seja óxplic ada à popula-
ção e acetta por ela.
Em sua obradedicada à história do suaíli, Wilfred
whiteby se interrogava: "eue lições nos dão a Turquia
dos anos 1930 e 7940, aMalasia e a China
dehoje ou
1984 de George orwell?", E, essa associ ação
entre al-
guns exemplos de planejamento lingtiístico
e um roman_
ce de ficção política, que foi du rante rnuito
tempo sím-
bolo do totalitarismo, é interessante porque
enfatiza
precisamente o problema da democraciu.
E* todo pla-
nejamento, há um reduzido número de planejadores
e
um grande núrnero de planejados aos quais raramente
se pergunta a opinião. Deste ponto de
vistâ, o exemplo
da fuancofoni a é tnteressante. Vê-se bem a importânlia
da Afnca para o futuro da lín
Êuafrancesa, mas uma
política lingtiística conseqüente ãeveria
tamb émquestio-
nar-se sobre a importância do francês para
o futuro da
Afutca: qual o papel das línguas no desenvorvimento
que lugar o_ furcês pode ocupar neste processo
etc.
As políticas linffiticas apresentam também pro_
blemas teóricos. A história iecente da i"rãr"r;ôa;
humana vol untârta sobre as línguas nos mostra
o que
2.w. whiteleSr, swahili, the Rise of a Nationar Language. London:
s.e., 1969,p. 93.
r 60 AS PoLíTrcAS LtNGüísrlcns
hâ de política lingüística na lingüística. Os primeiros
teóricos se pÍeocupavam apenas com a ação sobre a
forma das línguas, num a época em que a lingüística se
preocupava apenas em descrever a estrutura das lín-
guas. Depois, à medida que a lingüística se torna so-
ciolingüística e que tenta d.escrever as relações entre
línguas e sociedades, passando a interessar-se pelo
plurilingüisrno e pelos sentimentos lingüísticos etc., âs
políticas lingüísticas vão se interessaÍ pelas funções
das línguas, e essa passagem do clrpus ao status de-
monstra tanto a evolução da política lingüística quan-
to da ciência das línguas.
Mas a questão teórica pfurnordial levantada pela
própria idéia de política lingüística é a seguinte: em
que medida o homern pode intervir sobr e a língua ou
sobre as línguas? InúmeÍos exemplos nos mostr amque
essa intervenção é possível, mas eles não dispensam a
teortzação... De fato, vimos que as políticas lingüísti-
cas funcionam no modo da ímitaçã.0, oqe elas tentam
reprodu zw in vítro o que acontece milhaÍes de vezes in
vivo na história das línguas. Mas vimos também que,
às vezes, tais políticas fracassam, Qüe elas colidem com
dificuldades práticas: a imitação atinge, etttão, seus
limites. E esse princípio de evolução tendencial paru
um nível de ïnefïCiência poderia ser um tipo de vin-
gança das línguas, ou seja, dos falantes, sobre os que
pretendem thes impor uma evolução.
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Meillet, A. 19, 161 Sedar Sen$hot,L. 136
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T
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N Tse Tun$, M. 89
Nebrija,23 Turé, S. 82, 83
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