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Linguagem, Surdez e Educação Bi- sidiando aos educadores com ferramentas a

língue fim de romper o discurso do “despreparo”. A


busca de qualidade para o ensino dos “dife-
rentes” incide na garantia de qualidade para
Tatiane da Silva Campos1 todos os alunos inseridos na escola regular.

Pedro Stieler 2 2. Linguagem e Surdez

1. Introdução 2.1. O Desenvolvimento da Linguagem


A falta de uma linguagem tem graves consequ-
Quando nos remetemos ao assunto
ências para o desenvolvimento social, emocio-
surdez3 , é imprescindível que tenhamos pri- nal, e intelectual do ser humano. O valor fun-
damental da linguagem está na comunicação
meiramente, o entendimento teórico e prático
social, em que as pessoas fazem-se entender
do que representa e o que está envolvido nes- umas pelas outras, compartilham experiências emo-
cionais e intelectuais e planejam a condução de suas
ta temática. O conhecimento prévio de como
vidas e a de sua comunidade. A linguagem permite
ocorre à construção e o desenvolvimento da comunicação ilimitada acerca de todos os aspectos
da realidade, concretos e abstratos, presentes e au-
linguagem em um contexto geral torna-se fun-
sentes. Permite também reinventar o mundo cultural
damental para que possamos avaliar até que para além da experiência física direta do aqui e ago-
ra”. (CAPOVILLA, 2004, p. 19-20)
ponto fatores biológicos podem ou não afe-
tar o desenvolvimento cognitivo, psicológico Entender o processo do desenvolvi-
e social das pessoas com surdez, bem como mento da linguagem é, antes de tudo, enten-
auxiliar na definição da escolha de métodos der o conceito de linguagem, que, para Lyons
adequados para o ensino e aprendizagem dos (1987) se constitui como um sistema de comu-
sujeitos surdos. nicação natural ou artificial, humano ou não,
Portanto, neste primeiro momento, fa- que utiliza toda e qualquer forma que conte-
remos uma abordagem acerca do desenvol- nha algum tipo de intenção comunicativa. Já
vimento e da aquisição da linguagem, para para Chomsky, linguagem é “o conhecimento
posteriormente, abordar as concepções meto- que a pessoa tem que a torna capaz de ex-
dológicas na aprendizagem de pessoas sur- pressar- se através de uma língua, isto é, um
das do ponto de vista patológico/clínico, sócio- sistema linguístico com determinadas regras
antropológico e educacional da surdez. altamente recursivo, pois permite a produção
de infinitas frases de forma altamente criati-
No âmbito da escola, o estudo contribui va”. (1986, p. 3 e 1995, p. 6).
para uma reflexão acerca das principais mu-
danças ocorridas no cenário educacional com Desta forma, a linguagem é capaz de
vistas a atender adequadamente a todos, sub- transmitir uma informação, mas não estabe-
1 Especialista no Ensino da LIBRAS pela UTP/ lece uma habilidade comunicativa por ser res-
UNÍNTESE, habilitada pelo MEC como Tradutora e In- trita a códigos, signos, gestos, imagens, entre
térprete de LIBRAS; Licenciada em letras pela Univer-
sidade Anhanguera UNIDERP. outros, que apenas indicam, informam, orien-
2 Pedagogo e Mestre em Educação nas Ciências tam e até mesmo manifestam uma informação
pela Unijuí, Doutorando em Epistemologia e História da
Ciência pela Untref/UNÍNTESE. de forma limitada. A língua, embora seja ine-
3 Terminologia que tem sido amplamente utili- rente à linguagem, pertencendo a um conjun-
zada por diversos teóricos para referirem-se de modo
geral as pessoas com perda auditiva independente de to de sistemas, é capaz de desenvolver a ha-
suas questões culturais.

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bilidade comunicativa por possuir um sistema momento em que uma palavra for comunicada
composto por regras, e estruturas (gramática) ou uma palavra nova aprendida. Através da ca-
amplas e aptas a comunicar qualquer fato, pen- pacidade auditiva a criança pode associar o
samento ou ideia de natureza humana, nos di- nome do objeto com a sua imagem, criando
ferenciando dos animais por, através dela, ser- assim um significado4 para este objeto. A partir
mos capazes de manifestar nossas intenções do contexto de suas vivências e do ambiente
e emoções, nos desenvolvendo cognitiva e so- onde a criança está inserida é possível que a
cialmente. No entanto, Capovilla (2004), apon- mesma construa um significante5 para este
ta para o fato de que se não houver uma boa mesmo objeto. Assim, esta referência servirá
base e um bom nível de competência linguísti- para dar nome ao que estiver sendo evocado
ca, capaz de permitir uma comunicação ampla pelo pensamento através das imagens men-
e eficaz, o mundo da criança ficará confinado tais. Neste sentido é possível estabelecer a
a comportamentos estereotipados aprendidos relação existente entre a linguagem e a brin-
em situações limitadas, comprometendo, as- cadeira, sendo esta última o processo inicial
sim, este desenvolvimento. de construção simbólica para uma criança com
capacidade auditiva. Como seria esta aquisi-
No desenvolvimento da linguagem exis-
ção para uma criança com surdez? Os fatores
tem três fatores que precisam ser considera-
biológicos poderiam ou não interferir neste de-
dos: os fatores biológicos, os afetivos e so-
senvolvimento?
ciais. Na formação inicial do desenvolvimento
ocorrem as relações representativas através 2.2. A Aquisição da Linguagem
do objeto simbólico que se constitui através
Desde o nascimento somos dotados de
do brincar, através do qual a criança constrói
reflexos e instintos, inerentes a fatores biológi-
representações e significados ao manipular os
cos. O bebê quando chora expressa sua vonta-
seus brinquedos e associar imagens presentes
de ou suas necessidades através deste choro,
ou ausentes ao faz de conta. Assim a criança
como forma de comunicar o que está sentindo
passa a explorar o mundo através de ações
ou o que está vivenciando. Estas manifesta-
sensório-motoras e, posteriormente, de ativi-
ções do choro só são percebidas quando este
dades mais complexas de exploração, promo-
bebê está inserido num ambiente familiar preo-
vendo a organização simbólica desse mesmo
cupado em atender as suas necessidades. Seu
mundo. Neste estágio do desenvolvimento o
choro então é tido como um sinal de que algo
simbolismo é fundamental para que a criança
está errado; o bebê recebe atenção da mãe,
possa, através da capacidade de representar
por exemplo, e geralmente seu desconforto é
ou evocar coisas à situações ausentes, lidar
aliviado.
com objetos, fatos ou situações só imaginadas,
ou seja, seu pensamento começa a expandir-
-se indo além do que estiver no campo da sua 4 Na Linguística Geral o SIGNIFICADO refere- se
ao valor linguístico o conceito atribuído ao objeto/ signo
percepção. (palavra).
5 SIGNIFICANTE, é a manifestação fônica do sig-
A estimulação auditiva manifesta-se atra- no. Como exemplo, temos: (SIGNO = SIGNIFI- CANTE
vés da reprodução ou repetição que ocorrem + SIGNIFICADO), o signo (LÁPIS) o significante (mani-
festação fônica do signo lápis) significado (lápis é utiliza-
posteriormente as representações mentais, no do para escrever e sua escrita pode ser removida com o
uso de uma borracha).

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À medida que o bebê cresce, percebe que a criança passa a adquirir uma língua atra-
que suas manifestações são atendidas. Come- vés da aprendizagem e construção de novos
ça a construir uma significação para o choro vocábulos. Em outro momento, quando não há
ao perceber a reação da mãe e interagir com a presença da mãe, a criança poderá se utilizar
ela. Assim, independentemente de fatores bio- desta mesma fala, a chamada fala egocêntrica,
lógicos (que podem representar perda auditiva para desenvolver a mesma atividade. Este es-
ou não) o desenvolvimento da linguagem tem tágio do desenvolvimento marca a aproxima-
origem num processo de interação social, não ção entre o pensamento e a linguagem, tornan-
estando condicionado a fatores biológicos. do-os cada vez mais entrelaçados, formando
o pensamento linguístico6 , que para Barthes
Em continuidade ao seu processo de
(1991) são os significantes que constituem o
aquisição da linguagem, o bebê passa do cho-
plano de expressão (exemplo, a manifestação
ro aos gritos, do balbucio para as primeiras pa-
do choro) e os significados, o plano de conte-
lavras. Segundo Vygotsky (1998), até os dois
údo (a significação, a verdadeira intenção do
anos de idade o pensamento e a linguagem
choro). (p. 43).
são independentes; a linguagem é denomina-
da linguagem não-intelectual e o pensamento Sendo assim a origem do pensamento
é não verbal. Neste momento, a linguagem linguístico está na fala egocêntrica. Mas esta
serve apenas como meio de comunicação do “fala” por não ter um objetivo social para a
bebê com a mãe. Já o pensamento, se desen- criança poderá ser silenciosa e não compre-
volve por meio de imagens auditivas, visuais, ensível para os outros, tornando-se cada vez
táteis, olfativas e gustativas. Ainda segundo mais interiorizada, até sua completa apropria-
Vygotsky (1998) a partir dos dois anos de idade ção por parte da criança, por volta dos seis ou
é que a criança começa a utilizar a linguagem sete anos, segundo Vygotsky (1998).
com objetivo diferente de apenas comunicar,
É necessário que tenhamos a compre-
mas de também emitir o pensamento.
ensão de que o pensamento adulto tem seu de-
A língua desenvolvida pela criança vai senvolvimento garantido através das relações
depender do ambiente no qual ela estiver in- sociais nas quais a pessoa estiver exposta, por
teragindo. A língua utilizada pela mãe servirá mais que no bebê, pensamento e linguagem
de estímulo para a construção linguística da tenham origens diferenciadas, em determinado
criança. Por exemplo: se no momento da brin- momento eles se encontram e se tornam in-
cadeira a criança estiver construindo uma casi- dependentes devido à estimulação linguística
nha, a mãe mesmo não tocando no brinquedo recebida pelo meio em que vivem. O desenvol-
poderá orientar a criança na construção, apon- vimento da linguagem não acontece igual para
tando métodos para isto – selecionando uma todas as crianças, visto que depende muito do
peça por vez, tomando cuidado com a posição meio em que a criança vive, dos estímulos que
correta das peças para constituir o formato ela recebe e de outros fatores.
desejado. Neste momento a criança passa a
construir os significados e os significantes dos
objetos a partir desse contexto onde a língua 6 Teoria desenvolvida pelo lingüista Ferdinand de
Saussure de que o signo é composto de um significante
esta sendo vivenciada. É um momento rico em e de um significado (SIGNO = SIGNIFICANTE + SIGNI-
FICADO).

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2.3. A Surdez e o Desenvolvimento da Lin- linguística desta criança. Assim, quanto mais
guagem cedo for diagnosticada a perda auditiva e os
trabalhos de estimulação visual forem inicia-
Seguindo o raciocínio acima apresenta-
dos, maior será o desenvolvimento cognitivo e
do, a linguagem, no seu processo inicial, evolui
linguístico.
à medida que o ambiente for favorável, rico de
informações e representações. A criança com Se na fase do balbucio a criança for es-
capacidade auditiva passa a adquirir uma lín- timulada visualmente e, posteriormente, reali-
gua principalmente alicerçada na audição e na zar contato com a Língua de Sinais, o estímulo
oralidade, na reprodução ou repetição de pala- linguístico necessário e adequado para o seu
vras (signos) que aos poucos ganham signifi- desenvolvimento será oportunizado da mesma
cação. Já a criança com perda auditiva estará forma como ocorre com as crianças com ca-
alicerçada nos estímulos gesto-visuais para a pacidade auditiva, concluindo-se que a lingua-
construção dessa significação. gem não é por si só um processo biológico e
sim um processo social que também envolve a
Independente de a criança ter ou não
afetividade.
capacidade auditiva, o desenvolvimento da
linguagem estará sujeito ao meio em que ela Na aquisição linguística através da Lín-
estará inserida. Se a criança com perda auditi- gua de Sinais, o momento em que a criança
va – e dependendo também do grau da perda passa do estágio do balbucio para a construção
auditiva - não receber estímulos adequados, linguística do pensamento no uso dos sinais, o
certamente poderá retardar o desenvolvimen- signo para esta criança será o sinal atribuído a
to da linguagem e posteriormente, a aquisição determinado objeto. Assim, na construção des-
linguística. se signo, a criança compreenderá o seu signi-
ficante (o formato do sinal atribuído ao objeto),
Dessa forma, o bebê com surdez tam-
passando a ter para esta, um significado.
bém se manifesta através do choro, do grito e
do balbucio. A diferença está neste balbuciar, Fica claro, então que o diferencial na
acompanhado também de gestos para mani- aquisição da linguagem pela criança surda
festar uma intenção de comunicar-se. Gestos está nos estímulos que devem ser visuais e
estes que tendem a se repetir com o mesmo não auditivos.
formato para comunicar a mesma intenção em
2.4. O diagnóstico da surdez
diferentes situações.
Inúmeras podem ser as causas da per-
A partir desta fase, diferentes motivos
da auditiva, a qual poderá ser congênita ou ad-
poderão prejudicar e retardar o desenvolvi-
quirida. As causas da perda auditiva congênita
mento desta criança, ou seja, dependerá de
são: hereditariedade, viroses maternas (rubéo-
quanto tempo a família irá demorar a detectar
la, sarampo), doenças tóxicas da gestante (sí-
sua surdez, de quanto tempo os especialistas
filis, citomegalovírus, toxoplasmose) e a inges-
médicos irão demorar a diagnosticar o grau de
tão de medicamentos ototóxicos (que lesam
perda auditiva e principalmente, dos recursos
o nervo auditivo) durante a gravidez. A perda
que as famílias irão utilizar para estimular o
auditiva é adquirida, quando existe uma pre-
desenvolvimento da linguagem e da aquisição
disposição genética (otosclerose), por sequela

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de meningite, ingestão de remédios ototóxicos, tão era amplamente defendido pela linguística.
exposição a sons impactantes (explosão) e Esta crença vinha de longa data, desde Aristó-
contágios virais, por exemplo. teles, no século IV a.C com a ideia de que to-
dos os processos envolvidos na aprendizagem
De modo geral o grau de perda auditiva
ocorreriam a partir da audição, assim como na
poderá ser diagnosticado através de exames
Idade Média, na qual os “surdos não teriam
como o de audiometria e o bera. Os graus de
acesso a salvação” pelo fato de não poderem
perda auditiva são classificados de acordo com
ouvir a palavra de Cristo. Da mesma forma,
a perda em decibéis (dB), se a perda for de 0
nos séculos XVIII e XIX, havia a idéia de que
a 15 dB é considerada normal, se a perda for
o surdo seria incapaz de aprender e pensar.
de 16 a 40 dB é considerada leve, se for de 41
No entanto, Wundt considerado o fundador da
a 55 dB é moderada, se for de 56 a 70 dB é
Psicologia Experimental, foi o único acadêmi-
moderada severa, de 71 a 90 dB é considerada
co a tentar lidar com a língua de sinais como
severa e mais de 90 dB é considerada profun-
uma “linguagem de próprio direito”, embora
da. (BRASIL, 1997). Nos casos de perda au-
ainda considerada como uma forma inferior de
ditiva leve a moderada, a prótese auditiva po-
comunicação, com sinais equivalentes a mera
derá contribuir para o desenvolvimento da fala
pantomima (p.20-21).
e até mesmo desenvolver a audição através de
intervenções clínicas fonoaudiológicas, no en- Assim, na segunda metade do século
tanto o desenvolvimento da linguagem estará XVIII, havia dois métodos de ensino de sur-
condicionado a uma limitação auditiva. dos: o método francês, baseado em sinais e
o método alemão baseado na oralização (CA-
No caso de considerar-se a perda entre
POVILLA, 2004). Contudo, em 1880, a partir
severa e profunda, a prótese auditiva não obte-
do Congresso de Milão, o método que utilizava
rá um sucesso significativo no que diz respeito
sinais foi proibido e o método oral intensificado
à evolução da linguagem e à aquisição linguís-
como o único a ser utilizado no espaço educa-
tica. Quando o estímulo da linguagem estiver
cional.


condicionado ao uso da prótese auditiva, este
(...) ficou decidido no Congresso Internacional
desenvolvimento estará também sujeito às li-
de Professores Surdos, em Milão, que o méto-
mitações auditivas do indivíduo e ao tipo de do oral deveria receber o status de ser o único
método de treinamento adequado para pessoas
prótese a que o mesmo tiver acesso, uma vez
surdas. Ao mesmo tempo, o método de sinais foi
que nem todos terão condições de acesso a rejeitado, porque alegava que ele destruía a capaci-
dade de fala das crianças. O argumento para isso era
uma prótese auditiva que seja adaptada a sua
que ‘todos sabem que as crianças são preguiçosas’, e
necessidade de forma eficaz. por isso, sempre que possível, elas mudariam da difí-
cil oral para a língua de sinais”. (WIDELL, 1992, p. 26)
3. Surdez e Educação
A história do oralismo nos mostra o
3.1. Aspectos históricos e culturais da sur- quanto este método foi defendido e utilizado
dez no contexto educacional como forma de tornar os deficientes auditivos
Capovilla (2004), ao nos localizar na his- normais diante da sociedade que os rejeitava.
tória quanto à surdez, diz que até o início dos De lá para cá, avançamos muito, mas ainda
anos de 1960 havia uma crença de que a fala persiste uma divergência e até mesmo uma
era a única forma de linguagem, o que até en- contradição em relação aos subsídios a serem

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utilizados para estimular o desenvolvimento da Uma linha de pesquisa filmava as conversações
entre surdos em língua de sinais; outra filmava
linguagem em crianças com surdez, apesar de as professoras [...] enquanto davam aulas [...],
hoje, o oralismo ser considerado um dos prin- falando e sinalizando ao mesmo tempo. Enquan-
to a primeira linha de pesquisa permitiu a desco-
cipais responsáveis pelo fracasso escolar de berta de regras fonológicas, morfológicas e sintáticas
muitos surdos em todo este período. da língua de sinais dinamarquesa, a segunda permitiu
uma descoberta desconcertante.


Conforme Capovilla, apesar de todos os [...] As próprias professoras perceberam então
esforços para permitir a audição e levar o sur- que, quando sinalizavam e oralizavam ao mes-
mo tempo, elas costumavam alternar entre as
do à oralização, os resultados foram muito mo- duas, ora omitindo sinais e ora omitindo palavras
destos, dada a importância da linguagem para e pistas gramaticais que eram essenciais à com-
preensão das comunicações [...] A conclusão descon-
o desenvolvimento humano.


certante óbvia é a de que, durante todo o tempo, as
No entanto, o que permaneceu esquecido du- crianças não estavam obtendo uma versão visual da
rante todo o século, desde o Congresso de Mi- língua falada [...], mas sim uma amostra lingüística in-
lão, é que a língua oral não é a única forma de completa e inconsistente, em que nem os sinais nem
linguagem. Como o objetivo maior da filosofia as palavras faladas podiam ser compreendidos ple-
educacional oralista era permitir o desenvolvi- namente por si sós”. (2004, p.29).
mento da linguagem, e como ela não havia chegado
a realizar satisfatoriamente este objetivo, na década Crescem então, as pesquisas sobre a
de 1970 passou a tornar-se cada vez mais atraente língua de sinais e seu uso como o meio de co-
a idéia de que aquele mesmo objetivo de permitir ao
surdo a aquisição e o desenvolvimento normais da municação capaz de atender as necessidades
linguagem poderia vir a ser alcançado por uma ou- dos surdos e contribuir para a sua constituição
tra filosofia educacional que enfatizasse não a língua
oral, mas todo e qualquer meio possível, incluindo os enquanto sujeitos, pois permitia a construção
próprios sinais”. (2004, p. 24) de habilidades comunicativas. A partir daí, se
Ganhava importância aí, a filosofia da intensifica a busca pela convivência em socie-
Comunicação Total que se fundamentou basi- dade difundindo e sensibilizando as demais
camente em se opor ao oralismo “puro”, não pessoas a utilizarem-se dela também, estrutu-
chegando a constituir-se como um método de rando-a e consolidando-a como língua.
ensino propriamente dito. Utilizava-se da fala, Os que se identificam com a Língua de
da sinalização e de todos os recursos de que Sinais, em sua grande maioria, rejeitam o uso
se dispunha, para o desenvolvimento da lin- de próteses e não se denominam “deficientes
guagem e aprendizagem do surdo. Represen- auditivos”. Usam-na como forma de promove-
tou significativo avanço, mas igualmente ao rem e envolverem mais pessoas receptivas a
método do oralismo, a Comunicação Total não esta interação e com isso, preferem cultural-
respondeu às questões do desenvolvimento da mente ser reconhecidos apenas como “surdos”,
linguagem, principalmente de leitura e escrita, criticando termos como “mudo” ou “deficiente
como se esperava, uma vez que havia a cres- auditivo”, colocando-as como terminologias
cente constatação de que a língua sinalizada pejorativas.
era muito diferente da língua falada, dando
início a uma série de pesquisas realizadas no Atualmente surdos e ouvintes têm cada
Centro de Comunicação Total de Copenhague, vez mais se manifestado a favor de uma edu-
relatadas por Capovilla, para descobrir por que cação bilíngue, método de ensino que, gra-
razão isto ocorria: dativamente, vem ganhando força por ter se
mostrado mais eficaz no desenvolvimento lin-
guístico e cognitivo dos surdos.

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3.2. A Influência Clínica no Ensino de Sur- sentimentos de inferioridade aos alunos. Desta
dos forma, o foco principal da educação - que seria
o de ensinar - ficou ofuscado pelo sentimento
Como vimos, a educação para os sur-
de total incapacidade.
dos fundamentada em aspectos físicos e bio-
lógicos, estruturou-se na reabilitação (através Quadros (2006) demonstra, através de
de tratamentos clínicos e terapêuticos). A rea- uma pesquisa que a significação de conceitos
bilitação, aqui compreendida como a forma de de vocábulos em português aprendidos pelos
tornar o surdo mais parecido com as demais alunos surdos neste método, não era consegui-
pessoas, no caso, as ouvintes. Assim, falar da pela grande maioria. Ao perguntar a estes
e ouvir torna-se seu principal objetivo e para alunos o significado das palavras e pedir-lhes
isso, utiliza-se do oralismo para “fazer surdos que explicassem esse significado, alguns até
ouvirem” (através da leitura labial) e falarem oralisavam (pronunciavam as palavras), porém
(através da oralização). sem ter o entendimento do real significado das
mesmas.


Na descrição de Sckliar, podemos per-
(...) Num outro dia a professora de português
ceber no oralismo o seguinte foco:


distribuiu um livro para cada aluno, eu esperan-
O oralismo foi e segue sendo hoje, em boa par- do, daí eu disse; - Ah! Desculpe-me, mas não
te do mundo, uma ideologia dominante dentro entendo estas palavras. - Mas é este aí que você
da educação do surdo. A concepção do sujeito vai ler – disse ela. Então eu, muito brava, quis
surdo ali presente refere exclusivamente uma fugir da sala de aula e ela me segurou pelo braço.
dimensão clínica – a surdez como deficiência, Na hora do intervalo, eu fui para casa, chorei muito e
os surdos como sujeitos patológicos – em uma pers- disse para meus pais: - Pai, mãe, na escola vai tudo
pectiva terapêutica. A conjunção de ideias clínicas e bem, mas as professoras não me ensinam, não me
terapêuticas levou em primeiro lugar a uma transfor- dão atenção, só mandam eu ir fazendo isso, aquilo,
mação histórica do espaço escolar e de suas discus- mas eu não entendo nada. Todos os meus amigos
sões e enunciados em contextos médico-hospitalares conseguem.” (QUADROS, 2006 p.4)
para surdos”. (Skliar, 1997, p.256).
A maior dificuldade do oralismo é exa-
Hoje, quando nos deparamos com alu- tamente a construção da significação do signo
nos surdos que passaram por todo este pro- (vocábulo). Os deficientes auditivos com perda
cesso, observamos em seus discursos a cons- auditiva de moderada à severa que se utilizam
tante analogia de que “eram semelhantes a da prótese auditiva, após terapia fonoaudioló-
papagaios” limitados a repetir as palavras do gica, em sua maioria, conseguem desenvolver
vocabulário português trabalhadas em sala de a oralidade e compreender vocábulos através
aula. Buscavam assim atender a expectativa da leitura labial. Esta habilidade facilita em al-
de familiares, amigos e professores de que, guns aspectos, o convívio familiar e social, vis-
ao exercitar a fala e com um amplo acompa- to que a tendência da maioria é fazer com que
nhamento fonoaudiológico conquistassem es- a minoria se adapte às condições predominan-
paço entre a maioria ouvinte7 . Estas tentati- tes.
vas foram frustrantes e constrangedoras pelo
fato de que muitos, em sua maioria, possuíam É preciso lembrar que do ponto de vista
uma deficiência acentuada, impossibilitando clínico, a partir do desenvolvimento da tecnolo-
progressos e causando depressão, irritação e gia na segunda metade do século XX, a próte-
se auditiva, o implante coclear8 e o tratamento
7 Termo utilizado pela comunidade surda em rela-
ção às pessoas que não são surdas e não compartilham 8 Implante Coclear é um dispositivo eletrônico de
das suas vivências, experiências visuais e culturais. alta tecnologia, também conhecido como ouvido biônico,

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fonoaudiológico seriam suficientes para o de- oralismo como um método muito limitado e te-
senvolvimento cognitivo e linguístico de pesso- oricamente superado. No entanto, a influência
as com surdez, desde que esse procedimento clínica ainda persiste.
fosse precoce e contínuo a fim de possibilitar a
3.3. A Língua Brasileira de Sinais
constituição do sujeito, utilizando-se da moda-
lidade oral como sistema lingüístico predomi- Mesmo após o Congresso de Milão em
nantemente aceito por todos. Por conta disto, 1880, que enfatizou a oralização e como con-
muitos surdos e suas famílias buscaram e bus- sequência, toda opressão em torno do uso de
cam na medicina a “cura” para a perda auditi- sinais, as Línguas de Sinais permaneceram
va, como meio de tentar “sanar” a deficiência e vivas, graças à persistência de diversos gru-
se sentirem parte de um contexto social maior. pos de surdos que continuaram a utilizá-las e
registrá-las. A Língua de Sinais, contudo não
No entanto, do ponto de vista educacio-
é universal, pois cada país possui sua própria
nal o êxito não seria o mesmo. Em uma sala
língua. Nos Estados Unidos, por exemplo, os
com 20 ou 30 alunos, a comunicação será oral
surdos se utilizam da ASL (Língua de Sinais
e para que o deficiente auditivo possa acom-
Americana) para se comunicarem, a qual é
panhar a aula e todo o contexto da sala, preci-
amplamente aceita no sistema de ensino.
sará de informações auditivas, obtidas exclu-
sivamente por meio da leitura labial, o que se A LIBRAS, desde o ano de 2002 é ofi-
torna inviável, visto que diferentes motivos difi- cialmente a língua de sinais do nosso país,
cultam e as vezes até impedem a visualização conforme a lei nº 10.436 de 24 de abril.


da boca de quem fala. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais –
LIBRAS a forma de comunicação e expressão,
No processo de alfabetização, a situação em que o sistema linguístico de natureza visual-
-motora, com estrutura gramatical própria, cons-
é ainda mais preocupante, pois todo o proces- titui um sistema linguístico de transmissão de
so de significação de novos vocábulos também ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas
surdas do Brasil”. (BRASIL, 2002).
ficará condicionado ao quanto o aluno conse-
guirá assimilar com o seu grau de sua capaci- No Brasil a Língua de Sinais foi difundi-
dade auditiva. Sua habilidade comunicativa e da com a chegada do professor francês Her-
receptiva estará sempre condicionada às cir- nest Huet em 1857, a convite de Dom Pedro II
cunstâncias da sala de aula, à prótese auditiva com o objetivo de fundar a primeira escola para
utilizada, às estratégias comunicativas utiliza- meninos surdos de nosso país. O professor
das pelo professor, além de um grande esforço Huet era surdo e partidário de L’Epée ou seja,
por parte do aluno na tentativa de acompanhar utilizava-se de Sinais na educação de surdos.
e compreender todo esse contexto. L’Epée é considerado por muitos, o “pai” dos
surdos, porque graças ao seu trabalho e princi-
De forma diferente do oralismo, o uso
palmente ao registro deste, realizado na Fran-
da Língua de Sinais numa perspectiva bilíngue
ça, a Língua de Sinais tornou-se conhecida em
tem sido eficaz no espaço educacional por per-
diversos países, ganhando uma estrutura gra-
mitir ao seu usuário uma compreensão ampla
matical específica em cada país que a adotava.
e completa de todo o contexto. Assim temos o
Com Huet, no Brasil, começou a ser usada ini-
que estimula eletricamente as fibras nervosas remanes-
centes, permitindo a transmissão do sinal para o nervo cialmente a Língua de Sinais Francesa - LSF,
auditivo, a fim de ser decodificado pelo córtex cerebral.

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a qual com o tempo e com o uso por surdos passa a ser de quem a utiliza, e de acordo com
do Brasil passou a incorporar uma estrutura a legislação vigente a LIBRAS é “oriunda de
gramatical própria, diferenciando-se em vários comunidades de pessoas surdas do Brasil” e
aspectos. No entanto, até hoje se percebe no não propriedade, assim como ocorre com toda
“sotaque” da LIBRAS muitos sinais semelhan- língua que é de todos os seus usuários inde-
tes a Língua de Sinais da França. pendente de pertencerem ou não ao grupo ori-
ginário desta língua. Com a regulamentação, a
Basicamente a Língua de Sinais Brasi-
LIBRAS, apesar de sua origem, passou a ser a
leira incorporou uma gramática organizada e
segunda língua oficial de nosso país, atualmen-
estruturada sintaticamente em Sujeito, Verbo
te acessível a todas as pessoas interessadas
e Objeto – SVO sendo que toda a conjugação
em conhecê-la e utilizá-la como meio de comu-
verbal, na maioria das vezes, é feita pela in-
nicação. Contudo, a grande maioria usuária da
corporação dos advérbios de tempo, negação,
LIBRAS ainda são os surdos e ouvintes partici-
modo e intensidade entre outros. Já a sua cons-
pantes de comunidades surdas, que a utilizam
trução fonológica, chamada de parâmetros dos
não apenas como meio de comunicação, mas
sinais em LIBRAS, é formada primariamente
também como ferramenta de uso profissional
pela Configuração de Mãos (CM), Movimento
como acontece no caso dos Professores e dos
(M) e Ponto de Articulação (P.A) e secundaria-
Tradutores e Intérpretes da LIBRAS.
mente pelas Expressões Não Manuais, Orien-
tação e Direção do Sinal. Estes parâmetros são 3.4. O bilinguismo na educação de surdos
fundamentais para que um sinal em LIBRAS
O Método Bilíngue de Ensino envolve
seja realizado, porém não são suficientes, pois
duas línguas no contexto educacional. A Lín-
existem ainda fatores linguísticos que precisam
gua de Sinais, como primeira língua, (L1) e a
ser analisados, como a aplicabilidade e o con-
língua oficial do país - no caso do Brasil a Lín-
ceito destes sinais, ou seja, um sinal não sur-
gua Portuguesa - como segunda língua (L2).
ge apenas por ter sido inventado ou criado por
Ao adotar esta metodologia de ensino, a esco-
algum usuário da LIBRAS. Para ser validado e
la está assumindo uma política linguística em
reconhecido um sinal precisa estar estruturado
que duas línguas estarão envolvidas e passa-
fonologicamente e linguisticamente de acordo
rão a coexistir no espaço escolar. Este método
com parâmetros e aspectos culturais dos sur-
surgiu na década de 1970, com base em con-
dos pré-existentes, principalmente ainda ser
ceitos sociológicos, filosóficos e políticos que
aceito e reconhecido pela comunidade surda
reconhecem que o surdo vive numa condição
como sendo um sinal (signo) capaz de transmi-
bilíngue e bicultural, pois convive diariamente
tir a verdadeira significação da representação
com duas línguas e duas culturas.


do objeto a ele atribuído.
[...] os efeitos positivos da educação bilíngüe
Apesar de os surdos serem os principais [...] incluem o desenvolvimento adequado de
competências linguísticas e comunicativas, a
difusores e orientadores em relação a cons- aquisição espontânea da linguagem, com o de-
trução linguística e o uso da LIBRAS, não po- senvolvimento intuitivo de regras linguísticas e
em contextos sociais naturais motivados linguistica-
demos dizer que a LIBRAS seja propriedade mente, a conexão baseada na experiência entre o
exclusiva dos surdos. Ao obter um status lin- uso da linguagem e a formação de conceitos, o de-
senvolvimento de padrões de linguagem apropriados
guístico, sendo reconhecida como Língua, ela à faixa etária para auxiliar em uma série de funções

9
(por exemplo, auto-regulação, interação, obtenção e conhecimento de mundo, adquirido até então,
expressão de informação) e, finalmente, o desenvol-
através do uso da Língua de Sinais.


vimento de respeito e identidade próprios como pes-
soa surda”. (Oksaar, 1990, apud CAPOVILLA, 2004) Vygotsky (1989) pontua que o significado das
palavras é um fenômeno do pensamento apenas
Na abordagem educacional, o bilinguis- na medida em que o pensamento ganha corpo
mo aceita o fato de que as crianças surdas são por meio da fala e só é um fenômeno da fala na
medida em que esta é ligada ao pensamento,
interlocutoras naturais da Língua de Sinais, sendo iluminada por ele; Este intrica- do e complexo
sendo assim a sua primeira língua ou língua sistema que envolve a linguagem e pensamento re-
vela o quanto ineficaz se torna o constante passo a
materna, como alguns denominam. Um dos passo na direção de “fazer uma criança surda falar”
entraves para o êxito da educação bilíngue é ao invés de propiciar a ela um meio rápido de comu-
nicação linguística através da aquisição da língua de
que cerca de 90% dos surdos têm família ou- sinais como primeira língua, que proteja e cumpra o
vinte, portanto seria necessário que a família papel fundamental de resguardar o seu natural de-
senvolvimento no que se refere a ter o domínio, de
também aprendesse a se comunicar na Língua fato, de um instrumental linguístico que lhe sirva para
de Sinais, pois a língua oral, que geralmente é as operações mentais que envolvem mecanismos lin-
guísticos”. (apud Fernandes, 2005. p. 20)
a língua da família da criança, constitui-se para
o surdo como segunda língua. Outra questão De todos os métodos apresentados, o
ainda em discussão diz respeito ao momento bilinguismo tem provado ser o mais eficaz no
em que o processo de ensino-aprendizagem sistema de ensino, pois parte da ideia de utili-
da segunda língua no espaço educacional. zar no ensino, o uso de duas línguas. “O indi-
Educadores e teóricos, além da comunidade viduo bilíngue é, portanto, um agente que usa
surda, têm defendido que o aprendizado seria e atualiza dois sistemas simbólicos distintos
ineficaz caso as duas línguas fossem ensina- objetivando representar conceitos” (Fernan-
das ao mesmo tempo sendo que a LIBRAS de- des, 2005). E isto está de acordo até mesmo
veria sempre ser contemplada como língua por com o pensamento difundido por Vygotsky de
excelência de instrução, inclusive do próprio que o desenvolvimento do uso dos signos é um
português (Salles, 2004, pág. 21). processo histórico e social (Vygotsky, 1991 a,
51sgs).


O ensino do português condicionado ao
Se na perspectiva o ser humano aprende gra-
uso da LIBRAS como uma língua de instrução, dualmente do mundo sociocultural um sistema
é ensinado na modalidade escrita apenas, sen- simbólico fundamental para fazer os recortes da
realidade e, assim, organizar e ordenar a expe-
do que a modalidade oral/auditiva estará a cri- riência apreendida, a falta do domínio do instru-
tério do interesse do aluno surdo em aprendê- mental linguístico em termos ideais (que permita à
criança não apenas uma comunicação básica, mas
-la e utilizá-la ou não, ficando condicionado ao o sucesso de usar uma língua como principal instru-
grau da sua perda auditiva. O ensino do portu- mento do pensamento) é inadmissível”. (Fernandes,
2005. p. 21)
guês escrito será o foco do educador bilíngue
e não a estimulação oral/auditiva. Sendo que O uso da Língua de Sinais para o Ensi-
o objetivo, neste caso, é o de estabelecer um no da Língua Portuguesa (LP) é o que torna o
viés comunicativo com o aluno surdo de forma aluno surdo realmente consciente e satisfeito
que ele possa compreender os signos/vocábu- quanto ao que foi lhe ensinado. Todavia, se-
los do português associando-os aos seus con- gundo as fontes bibliográficas dos pesquisado-
ceitos e a significação construída destes vo- res já mencionados, a Língua de Sinais não
cábulos através do seu pensamento e do seu deve ser adotada exclusivamente, devendo a

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Língua Portuguesa com a sua gramática, a es- Paraa inclusão e aprendizagem do
crita e produção textual, a fim de que o aluno aluno deficiente auditivo, faz-se necessário o
surdo não venha a excluir-se. conhecimento e a utilização de métodos ade-


A ideia de que uma língua leva ao não uso da quados às suas necessidades individuais. No
outra língua ou uma língua acaba sendo mais caso dos surdos, o uso da Língua Brasileira
utilizada que outra vem com a política de subtrair
as línguas ao invés de utilizar uma política lin- de Sinais como primeira língua (L1) e a Lín-
guística aditiva” (no sentido de Cummins, 2003). gua Portuguesa como segunda língua (L2). No
Ademais, “os surdos tem assumido uma postura de-
fensiva diante do português pelo fato de que a língua entanto, para que o desenvolvimento cognitivo
ainda é tida como a língua melhor, a língua oficial, a seja estimulado e ocorra aprendizagem, há que
língua superior em oposição à língua de sinais bra-
sileira representada apenas como uma opção, como se entender o “sujeito” em suas necessidades
um instrumento utilizado somente se o aluno surdo específicas, estando atentos a quem é esse
não venha a conseguir acessar a língua, pois se en-
tende que a língua aqui, é a portuguesa, e, portanto, aluno e, a partir disto, buscar as ferramentas
os sinais como não-língua”. (Quadros, 2005. p. 30) e os subsídios necessários para o seu sucesso
Com o uso da Língua de Sinais pode-se escolar.
trabalhar os conceitos e as temáticas do portu- Assim, o desenvolvimento linguístico de
guês, para que a semântica envolvida no con- cada pessoa não pode estar condicionado às
texto e a sua aplicação em frases e orações, suas condições biológicas. Através da língua
sejam compreendidas pelo surdo. O ensino do também nos definimos enquanto humanos,
português escrito como segunda língua pode num processo dinâmico de socialização, onde
ser realizado com muito mais eficácia utilizan- o convívio com as pessoas “iguais e diferentes”
do o meio de comunicação em LIBRAS neste promove a interação e desta forma, aprendiza-
processo. Ensinar aos surdos, em Língua de do.


Sinais, conteúdos referentes à gramática do
[...] Convive-se com a diferença de esta-
português que antes pareciam quase impos- tura, de peso, de sexo, de condição social, de
ocupação, etc.: todos somos diferentes, abso-
síveis de serem ensinados - como o caso da
lutamente. Entretanto, a diferença não deixa de
fonética das letras, separação de silabas, dí- ter um aspecto grandemente positivo. A diferen-
ça alegra, sugere, incita a conquistas e à construção
grafos e encontros consonantais e até mesmo
de algo diferente, possivelmente melhor, melhorado.
fonologia – torna-se possível através do méto- É importante que crianças de diferentes faixas etárias
e condições sociais convivam na sociedade numa
do bilíngue.
forma de aprendizado e complementação mútua. É
preciso conviver e pensar as diferenças desde a in-
4. Considerações Finais fância”. [...] (Feltrin, 2004. p.64)

Ao compreendermos que o desenvol- Ao considerarmos todas as questões


vimento do pensamento é determinado pelos abordadas neste estudo, mais uma vez salien-
instrumentos lingüísticos e pela experiência ta-se que a educação, enquanto direito básico
sociocultural da criança, envolvendo questões comum a todas as pessoas, é valor pelo qual é
de interação social, estimulação do meio, e, imprescindível lutar para se fazer valer. Neces-
fortemente, pelas relações afetivas, passamos sitamos dela, principalmente, para nos desen-
a perceber o quanto é definitivo o papel da volvermos cognitivamente, .para garantir um
escola e da educação . Daí a importância de espaço de desenvolvimento , onde as diferen-
uma educação de qualidade tornar-se acessí- ças representem riquezas sociais positivas.
vel a todos, sem distinção.

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O convívio com a diferença alegra, su- 5. Referências Bibliográficas
gere, incita a conquistas e à construção de
BARTHES, Roland. Elementos de Semiologia.
algo melhor. É exatamente o “conviver” e o
São Paulo: Cultrix, 1991.
“pensar” nas diferenças que nos oportuniza um
encontro com a “verdadeira pedagogia”, a pe- BRASIL. Ministério da Educação. Educação
dagogia do ensinar e do aprender como sendo Especial – Deficiência Auditiva. Brasília: SE-
um processo mútuo, no qual, a cada desafio, ESP, 1997.
busca-se uma alternativa e uma estratégia ino-
BRASIL. PNAES – Programa Nacional de
vadora, não apenas pensando no “diferente”
Apoio à Educação dos Surdos. Brasília: MEC/
como sendo o único beneficiário deste proces-
SEESP, 2002.
so, mas no qual todos poderão ser fortalecidos
e beneficiados na aprendizagem, a partir do CAPOVILLA, Fernando. CAPOVILLA, Ales-
momento em que este ensino passa a ser (re) sandra. O desafio da descontinuidade entre a
pensado. língua de sinais e a escrita alfabética na edu-
cação bilíngüe do surdo congênito. In:___.
O entendimento de que a manifestação
Linguagem e cérebro humano – contribuições
linguística de uma pessoa está intrinsecamente
multidisciplinares. Porto Alegre: Artmed, 2004.
ligada ao seu potencial Cognitivo, faz com que
p. 19-51.
o foco de toda a atividade pedagógica seja di-
recionada para o seu desenvolvimento. fazen- CHOMSKY, N. Knowledge of language - its
do desta seja uma preocupação primária. Ao problems. Massachusetts: Mit Press, 1986.
não direcionar o planejamento para atender a CHOMSKY, N. Linguagem e mente. Brasília:
uma demanda predominante, e sim buscar o Editora da UnB, 1998.
respeito e a valorização das minorias, o fazer
pedagógico estará atendendo necessidades CHOMSKY, N. The Minimalist Program. Cam-
individuais e sendo propulsor da inclusão. bridge (Ma): Mit Press, 1995.

Para isso, propomos mudanças de es- FELTRIN, Antônio Efro. Inclusão social na es-
tratégias e de metodologias, acreditando que cola: quando a pedagogia se encontra com a
um planejamento “audacioso” e inovador, ba- diferença. São Paulo: Paulinas, 2004.
seado na perspectiva inclusiva e, neste caso, FERNANDES, Eulália. (org). Surdez e bilin-
bilíngüe não estarão beneficiando somente guismo. Porto Alegre: Mediação, 2005.
uma minoria (os surdos), mas com certeza,
GOLDFELD, Marcia. A criança surda: lingua-
beneficiando a todos os envolvidos direta ou
gem e cognição numa perspectiva sócio intera-
indiretamente neste processo, a fim de fazer
cionista. São Paulo: Plexus, 1997.
com que exista uma “diferença” e esta diferen-
ça não esteja apenas centralizada no “diferen- LYONS, John. Linguagem e lingüística: uma in-
te”, mas focada no processo de aprendizagem, trodução. Tradução M.W. Averbug. Rio de Ja-
garantindo qualidade para todos. neiro: LTC, 1987.

QUADROS, Ronice Muller de. O ´BI´em bilin-


güismo na educação de surdos. In:¬¬¬¬__.
FERNANDES, Eulália (Org.). Surdez e bilin-

12
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