) as suas trajectórias de profissionalização, quanto as suas possibilidades
de autonomia funcional, têm como barreira estrutural os limites gerados pela própria dominância profissional da medicina.” Noémia Lopes
As Tecnologias a saúde enquanto profissões têm sofrido ao longo do tempo
um processo de evolução que lhes permitiu evoluir do estatuto de ocupação para o estatuto de profissão, sempre com supervisão médica. As Tecnologias da Saúde são um grupo de profissões com grande diversidade, não só ao nível das suas actividades laborais como também da sua trajectória, enquanto que algumas profissões como a fisioterapia adquiriram maior independência e podem exercer algumas funções sem necessidade de prescrição médica, outras estão completamente dependentes dessa directriz. Contudo a heterogeneidade de que é pautada esta categoria profissional é contraposta por dois aspectos. Em primeiro pela proximidade espacial do seu ensino que decorre nas mesmas Escolas De Tecnologia da Saúde, cujas mudanças pertencem à evolução de todas estas actividades profissionais. Em segundo e mais importante a sua origem comum resultado da delegação médica. Deste modo existe o seu desenvolvimento no mesmo sentido que é o da tentativa de independência da medicina através do monopólio do seu conhecimento. Para isso as profissões tentaram adquirir saberes abstractos, aumentar as qualificações, a especialização e sobretudo a legitimação as capacidades por meio da credenciação do ensino formal para além da explosão de organizações profissionais por volta dos anos 80 que funcionou também como tentativa de proteger o saber profissional. Mas em que medida a posse exclusiva do conhecimento é alcançado? Importa contextualizar o processo de profissionalização e a delegação médica referida como resultado da tentativa de encarregar os outros de tarefas de execução, sem interesse, sem nunca deixar de inspeccionar todas as tarefas realizadas no âmbito da saúde. Isto promove o aparecimento de um conjunto de profissões com saberes delegados e poucos saberes endógenos cuja natureza inicialmente técnica e padronizável dificulta o desenvolvimento de saberes abstractos próprios de tal modo que a suposta incapacidade de resolver problemas súbitos surja como argumento utilizado por parte dos médicos para os supervisionar. Contudo a partir do momento que adquirem o estatuto de profissão por “exercerem jurisdição exclusiva sobre a sua àrea de actividade e de formação ou conhecimento”, sentem a necessidade de se afirmarem. Contudo a jurisdição sobre a área de actividade não é alcançada e surge então a dicotomia entre o domínio de saberes e o domínio de tarefas resultante de um hiato entre as tarefas analíticas de concepção que são detidas pelos médicos devido ao reconhecimento como grupo cientificamente desenvolvido, e as tarefas de execução que são regidos pelos profissionais não médicos. ( prescrição médica dos exames de diagnóstico) daqui surge enta Com efeito as estratégias de fechamento social como é o caso do controlo do acesso à profissão permite a restrição das actividades a indivíduos não credenciados e sem competências, ainda que no contexto laboral e social o monopólio é relativo devido à autonomia restrita que surge essencialmente de duas limitações estruturais, em primeiro a dominância médica , em segundo pela sua influência no Estado. Em primeiro a medicina é encarada como ideal–tipo de profissão, cujo poder está relacionado com o saber e pelo misticismo que a necessidade social do acto médico detêm e com o reconhecimento deste como cura milagrosa, que está ao alcance Divino e com a ideia de ser capaz de salvaguardar aquilo que mais importante no contexto social ocidental, que é a vida Humana. Esta é também então considerada dominante pois para além da sua autonomia funcional, detém também a capacidade de realizar a divisão social de trabalho e controlar os grupos articulados com a sua actividade isto reflecte-se não só a nível do contexto social mas também a nível administrativo. Deste modo a sua autonomia não se finda na capacidade de auto regulação, mas estende-se à regulação de outros grupos profissionais. Ver acto médico 27 Além do impacto directo que isto tem no contexto laboral das Tecnologias de Saúde existe também a restrição estrutural profunda ao nível da influência promovida pelos médicos nas decisões estatais. Com efeito a medicina enquanto força dominante do contexto social tem acção sobre as elites e como consequência sobre o estado que funciona como força padrão que legisla as actividades profissionais das tecnologias da saúde. Esta influência toma particular realce neste âmbito, pois estas profissões são desprovidas de qualquer associação de ordem e como tal qualquer regulação é feita pelo poder público, e assim vê o seu desenvolvimento dentro de limites definidos. Apesar desta influência ter sido mais evidente antes de 1974, quando as elites eram o Estado, ela também se verifica hoje em dia por meio da Ordem dos Médicos, que como ideal-tipo de actividade tem um processo de “reinvidicação de privilégios” através da “constante e contínua actividade política” (cit. Rodrigues, 1997) (Freidson, 2001). Deste modo as profissões subordinadas vêem a sua autonomia restringida pela acção médica que é apoiada pelo poder político. Assim que o monopólio não é efectivo, a autonomia funcional desta, ou seja, a capacidade de realizar tarefas independente do controlo de outras profissões fica comprometido, sem que as profissões das Tecnologias consigam-se consagrar como profissões de igualdade na equipa que compõem. Até aqui analisei as questões de carácter mais duradouro que reduzem a autonomia, mas será a limitação médica apenas estrutural ou também conjuntural? Com o advento das novas tecnologias e a era do conhecimento a dominância médica tem sofrido abalos que se fazem sentir lentamente e que foram designados por Tousijn como o “declínio parcial da dominância médica”. Para este autor o declínio deve-se a uma rede de factores entre os quais o aumento do número de médicos, alteração da relação doutor/paciente e os desafios de outras ocupações da saúde que promovem uma alteração do controlo sobre o trabalho que fica limitado pela acção do Capitalismo que incute a avaliação constante do seu trabalho e sobre o mercado pois o aparecimento das novas profissões como das tecnologias funcionam como um desafio que se tenta ultrapassar diminuindo a autonomia destes últimos. Deste modo a dominância médica está em constante manutenção através da restrição da autonomia dos outros profissionais que ao manter sobe a sua chefia não realizam concorrência às suas actividades. A reacção destas profissões não médicas a este declínio é feita no sentido de criar projectos de profissionalização que englobam estratégias de conquista progressiva competências e o enquadramento de novas funções que se encontram já definidas informalmente no contexto de trabalho na legislação que promova a aquisição de maior número de tarefas analíticas de concepção e por consequência diminuam a dependência relativamente ao médico. Estas aspirações que partem do grupo são contudo restringido pelos aspectos estruturais mantidos na equipa que só se pode tornar multidisciplinar através da aquisição de alguma autonomia.