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Informativo 627-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE
DIREITO CIVIL
NOME
 Possibilidade de voltar o nome de solteira após a morte do marido.

RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL


 Homologação de acordo extrajudicial de retificação de registro civil.

BEM DE FAMÍLIA
 Bem de família dado em garantia hipotecária.

CONTRATOS
 Se o devedor de empréstimo consignado morrer, a dívida continua existindo.

RESPONSABILIDADE CIVIL
 Acidente de carro sem vítimas: danos morais devem ser provados.

DIREITO DO CONSUMIDOR
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO
 Alteração do transporte aéreo para terrestre e ocorrência de roubo: dever de indenizar.

DIREITO EMPRESARIAL
SOCIEDADES ANÔNIMAS
 Prescrição em caso de ação de exigir contas pelo pagamento de dividendos e outros rendimentos.

RECUPERAÇÃO JUDICIAL
 Ação de indenização por danos morais contra empresa em recuperação judicial.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


RECURSOS
 (In)aplicabilidade do art. 942 do CPC/2015.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


COMPETÊNCIA
 Demanda contra as operadoras de plano de saúde de autogestão: Justiça comum.

TÍTULOS EXECUTIVOS
 Contrato eletrônico de mútuo com assinatura digital é título executivo extrajudicial.

JUIZADOS ESPECIAIS
 Ação proposta por associação de moradores cobrando taxa de manutenção do loteamento.

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1


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DIREITO PENAL
CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA
 Para fazer a prova da constituição definitiva do crédito tributário não se exige a juntada integral do PAF.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


TRIBUNAL DO JÚRI
 Sustentação oral em tempo reduzido.

DIREITO CIVIL

NOME
Possibilidade de voltar o nome de solteira após a morte do marido

Importante!!!
É admissível o restabelecimento do nome de solteiro na hipótese de dissolução do vínculo
conjugal pelo falecimento do cônjuge.
Ex: Maria Pimentel da Costa casou-se com João Ferreira. Com o casamento, ela incorporou o
patronímico do marido e passou a chamar-se Maria da Costa Ferreira. Alguns anos mais tarde,
João faleceu. Maria poderá voltar a usar o nome de solteira (Maria Pimentel da Costa),
excluindo o patronímico do falecido marido? Sim. Vale ressaltar que não há previsão legal para
a retomada do nome de solteira em caso de morte do marido. A lei somente prevê a
possibilidade de o homem ou a mulher voltarem a usar o nome de solteiro (a) em caso de
divórcio (art. 1.571, § 2º, do CC). Apesar disso, o STJ entende que isso deve ser permitido. A
viuvez e o divórcio são hipóteses muito parecidas e envolvem uma mesma razão de ser: a
dissolução do vínculo conjugal. Logo, não há justificativa plausível para que se trate de modo
diferenciado as referidas situações.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.724.718-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/05/2018 (Info 627).

NOÇÕES GERAIS SOBRE O NOME


O nome da pessoa física é um sinal (elemento de identificação) que individualiza a pessoa, fazendo com
que ela seja diferenciada dos demais membros da família e da sociedade.

Importância
A pessoa, ao praticar os atos da vida civil, identifica-se por meio do nome que lhe foi atribuído no registro
de nascimento. Desse modo, toda pessoa tem que ter, obrigatoriamente, um nome. A pessoa recebe o
nome ao nascer e este a acompanha mesmo depois da sua morte, considerando que será sempre
identificada por esse sinal (exs.: inventário, direitos autorais). Veremos mais à frente que, em alguns casos,
é possível a mudança do nome, mas de forma excepcional.

Natureza jurídica (teorias sobre o nome)


Existem quatro principais teorias que explicam a natureza jurídica do nome:
a) Teoria da propriedade: segundo esta concepção, o nome integra o patrimônio da pessoa. Essa teoria
é aplicada no caso dos nomes empresariais. No que tange à pessoa natural, o nome é mais do que o
mero aspecto patrimonial, consistindo, na verdade, em direito da personalidade.
b) Teoria negativista: afirma que o nome não é um direito, mas apenas uma forma de designação das
pessoas. A doutrina relata que era a posição adotada por Clóvis Beviláqua.
c) Teoria do estado: sustenta que o nome é um elemento do estado da pessoa natural.

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d) Teoria do direito da personalidade: o nome é um direito da personalidade. É a teoria adotada pelo


CC (art. 16): “toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome”.

Proteção do nome
O direito ao nome é protegido, dentre outros, pelos seguintes diplomas:
• Convenção Americana de Direitos Humanos (art. 18).
• Convenção dos Direitos da Criança (art. 7º).
• Código Civil (art. 16).

Princípio da imutabilidade relativa do nome


Em regra, o nome é imutável. É o chamado princípio da imutabilidade relativa do nome civil.
A regra da inalterabilidade relativa do nome civil preconiza que o nome (prenome e sobrenome),
estabelecido por ocasião do nascimento, reveste-se de definitividade, admitindo-se sua modificação,
excepcionalmente, nas hipóteses expressamente previstas em lei ou reconhecidas como excepcionais por
decisão judicial (art. 57, Lei 6.015/75), exigindo-se, para tanto, justo motivo e ausência de prejuízo a
terceiros (REsp 1138103/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 06/09/2011).

EXCEÇÕES EM QUE A ALTERAÇÃO DO NOME É PERMITIDA


1) No primeiro ano após atingir a maioridade civil
Prevista no art. 56 da Lei de Registros Públicos (Lei nº 6.015/73):
Art. 56. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente
ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que não prejudique os apelidos de família,
averbando-se a alteração que será publicada pela imprensa.

Observações:
 Essa alteração é feita mediante processo administrativo.
 Deverá haver um requerimento, de forma pessoal ou por procuração, por parte do interessado.
 Não é necessário que tal formulação seja feita por meio de advogado.
 Não precisa ser declarado nenhum motivo (trata-se de possibilidade de troca imotivada).
 Não pode prejudicar os apelidos de família (patronímicos). É isso que está previsto na lei, mas veja
adiante interessante precedente do STJ.
 Será averbada a alteração no registro de nascimento e publicada pela imprensa.

2) Retificação em caso de erros


Hipótese prevista no art. 110 da LRP:
Art. 110. O oficial retificará o registro, a averbação ou a anotação, de ofício ou a requerimento do
interessado, mediante petição assinada pelo interessado, representante legal ou procurador,
independentemente de prévia autorização judicial ou manifestação do Ministério Público, nos
casos de:
I - erros que não exijam qualquer indagação para a constatação imediata de necessidade de sua
correção;
II - erro na transposição dos elementos constantes em ordens e mandados judiciais, termos ou
requerimentos, bem como outros títulos a serem registrados, averbados ou anotados, e o
documento utilizado para a referida averbação e/ou retificação ficará arquivado no registro no
cartório;
III - inexatidão da ordem cronológica e sucessiva referente à numeração do livro, da folha, da
página, do termo, bem como da data do registro;

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IV - ausência de indicação do Município relativo ao nascimento ou naturalidade do registrado, nas


hipóteses em que existir descrição precisa do endereço do local do nascimento;
V - elevação de Distrito a Município ou alteração de suas nomenclaturas por força de lei.
(...)
§ 5º Nos casos em que a retificação decorra de erro imputável ao oficial, por si ou por seus
prepostos, não será devido pelos interessados o pagamento de selos e taxas.
(Obs: artigo todo alterado pela Lei nº 13.484/2017)

Observações:
 Essa alteração é feita mediante processo administrativo.
 Os erros a serem corrigidos são aqueles facilmente perceptíveis, ou seja, que não exigem qualquer
indagação para a sua constatação imediata. Tais erros poderão ser corrigidos de ofício pelo Oficial no
próprio cartório, mediante petição assinada pelo interessado, representante legal ou procurador.
 Ex: na certidão de nascimento da criança, constou o nome do pai como sendo Waldinei, mas na
verdade era Waldiney.
 O interessado não precisa de advogado.
 O interessado não paga selos ou taxas.
 Não é necessária a prévia manifestação do MP. Atenção porque isso é muito importante.
 Vale a pena guardar esses cinco incisos do art. 110 para as provas.

3) Acréscimo ou substituição por apelidos públicos notórios


Prevista no art. 58 da LRP:
Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos
notórios.

Obs.: neste caso, a alteração deve ser feita por meio de ação judicial.

4) Averbação do nome abreviado, usado como firma comercial ou em atividade profissional


Prevista no § 1º do art. 57 da LRP:
Art. 57 (...)
§ 1º Poderá, também, ser averbado, nos mesmos termos, o nome abreviado, usado como firma
comercial registrada ou em qualquer atividade profissional.

5) Enteado pode adotar o sobrenome do padrasto


Previsto no § 8º do art. 57 da LRP:
Art. 57 (...)
§ 8º O enteado ou a enteada, havendo motivo ponderável e na forma dos §§ 2º e 7º deste artigo,
poderá requerer ao juiz competente que, no registro de nascimento, seja averbado o nome de
família de seu padrasto ou de sua madrasta, desde que haja expressa concordância destes, sem
prejuízo de seus apelidos de família.

Observações:
 Deve haver motivo ponderável.
 O requerimento é feito ao juiz.
 Será averbado o nome de família do padrasto ou madrasta.
 É indispensável que haja a concordância expressa do padrasto ou madrasta.
 Não pode haver prejuízo aos apelidos de família do(a) enteado(a).

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6) Pessoas incluídas no programa de proteção a vítimas e testemunhas


Previsto no § 7º do art. 57 da LRP e no art. 9º da Lei nº 9.807/99:
Art. 57 (...)
§ 7º Quando a alteração de nome for concedida em razão de fundada coação ou ameaça
decorrente de colaboração com a apuração de crime, o juiz competente determinará que haja a
averbação no registro de origem de menção da existência de sentença concessiva da alteração,
sem a averbação do nome alterado, que somente poderá ser procedida mediante determinação
posterior, que levará em consideração a cessação da coação ou ameaça que deu causa à alteração.

7) Por via judicial, com motivo declarado, por sentença, após oitiva do MP
Previsto no caput do art. 57 da LRP:
Art. 57. A alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após audiência
do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro,
arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela imprensa, ressalvada a hipótese do
art. 110 desta Lei.

Observações:
 É hipótese de processo judicial de jurisdição voluntária.
 É obrigatória a oitiva do MP.
 O pedido é decidido pelo juiz por sentença.
 Será competente o juiz a que estiver sujeito o registro.
 Arquiva-se o mandado no Registro Civil de Pessoas Naturais.

Exemplos de alteração do nome com base nesse art. 57:


 Alterar o prenome caso exponha seu portador ao ridículo.
 Retificar o patronímico constante do registro para obter a nacionalidade de outro país (o STJ já
reconheceu o direito de suprimir incorreções na grafia do patronímico para que a pessoa pudesse
obter a cidadania italiana [REsp 1138103/PR]).

8) Casamento
Segundo o CC-2002, o cônjuge pode acrescentar o sobrenome do outro. Tanto a mulher pode adicionar o
do marido, quanto o marido o da mulher.
Art. 1.565 (...)
§ 1º Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro.

Em regra, o sobrenome do marido/esposa é acrescido no momento do matrimônio, sendo essa


providência requerida já no processo de habilitação para o casamento.

Imagine agora a seguinte situação: marido e mulher se casaram e, no momento da habilitação para o
casamento, não requereram a alteração do nome. É possível que, posteriormente, um possa acrescentar
o sobrenome do outro?
SIM. Aos cônjuges é permitido incluir ao seu nome o sobrenome do outro, ainda que após a data da
celebração do casamento.
Vale ressaltar, no entanto, que esse acréscimo terá que ser feito por intermédio da ação de retificação de
registros públicos, nos termos dos arts. 57 e 109 da Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/1973). Assim,
não será possível a alteração pela via administrativa, mas somente em juízo.

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STJ. 4ª Turma. REsp 910.094-SC, Rel. Raul Araújo, julgado em 4/9/2012.

Exemplo: Ricardo Oliveira casou-se com Izabel Fontana. No processo de habilitação, não foi solicitada a
mudança de nome. Desse modo, após o casamento, os nomes permaneceram iguais aos de solteiro.
Ocorre que, após 5 anos de casada, Izabel decide acrescentar o patronímico de seu marido. Para tanto,
Izabel procura o Cartório (Registro Civil) onde foi lavrada sua certidão de casamento e pede essa
providência ao Registrador Civil. Este poderá proceder à inclusão pleiteada? NÃO. Izabel e Ricardo deverão
procurar um advogado e este ajuizará uma ação de retificação de registro público, com base nos art. 57 e
109 da LRP, expondo a situação. O juiz, após ouvir o Ministério Público, poderá determinar que Izabel
inclua em seu nome o patronímico de seu marido, passando a se chamar Izabel Fontana Oliveira.

9) União estável
Se duas pessoas vivem em união estável, é possível incluir o patronímico de um deles no nome do outro?
Ex.: Carlos Andrade vive em união estável com Juliana Barbosa. É permitido que Juliana acrescente o
patronímico de seu companheiro e passe a se chamar “Juliana Barbosa Andrade”?
SIM, também é possível, conforme entendeu o STJ. Foi aplicado, por analogia, o art. 1.565, § 1º do CC,
visto acima, que trata sobre o casamento.
Como a união estável e o casamento são institutos semelhantes, é possível aplicar a regra de um para o
outro, pois “onde impera a mesma razão, deve prevalecer a mesma decisão” (ubi eadem legis ratio ibi
eadem dispositio).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.206.656–GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/10/2012.

Exigências para o acréscimo do patronímico do companheiro:


Segundo decidiu o STJ, são feitas duas exigências para que a pessoa possa adotar o patronímico de seu
companheiro:
a) deverá existir prova documental da relação, feita por instrumento público;
b) deverá haver a anuência do companheiro cujo nome será adotado.

10) Separação/Divórcio
Regra: na separação e no divórcio, o nome é mantido, salvo se a pessoa que acrescentou o sobrenome de
seu cônjuge desejar retirá-lo.

Exceção: somente haverá a perda do sobrenome contra a vontade da pessoa que o acrescentou se
preenchidos os seguintes requisitos:
1) houver pedido expresso do cônjuge que “forneceu” o sobrenome;
2) a perda não puder causar prejuízo à identificação do cônjuge. Ex.: Marta Suplicy;
3) a perda não puder causar prejuízo à identificação dos filhos;
4) restar provada culpa grave por parte do cônjuge.

Isso está previsto no Código Civil:


Art. 1.571 (...)
§ 2º Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o cônjuge poderá manter o
nome de casado; salvo, no segundo caso, dispondo em contrário a sentença de separação judicial.

11) Morte do cônjuge


Ex: Maria Pimentel da Costa casou-se com João Ferreira.
Com o casamento, ela incorporou o patronímico do marido e passou a chamar-se Maria da Costa Ferreira.
Alguns anos mais tarde, João faleceu. Maria poderá voltar a usar o nome de solteira (Maria Pimentel da
Costa), excluindo o patronímico do falecido marido?

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SIM. Vale ressaltar que não há previsão legal para a retomada do nome de solteira em caso de morte do
marido. A lei somente prevê a possibilidade de o homem ou a mulher voltarem a usar o nome de solteiro
(a) em caso de divórcio.
Apesar disso, o STJ entende que isso deve ser permitido.
A viuvez e o divórcio são hipóteses muito parecidas e envolvem uma mesma razão de ser: a dissolução do
vínculo conjugal. Logo, não há justificativa plausível para que se trate de modo diferenciado as referidas
situações. Assim, o dispositivo que apenas autoriza a retomada do nome de solteiro na hipótese de
divórcio deverá ser estendido também às hipóteses de dissolução do casamento pela morte de um dos
cônjuges.

É admissível o restabelecimento do nome de solteiro na hipótese de dissolução do vínculo conjugal pelo


falecimento do cônjuge.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.724.718-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/05/2018 (Info 627).

Impedir a retomada do nome de solteiro na hipótese de falecimento do cônjuge implicaria em grave


violação aos direitos da personalidade e à dignidade da pessoa humana após a viuvez, especialmente no
momento em que a substituição do patronímico é cada vez menos relevante no âmbito social, quando a
questão está, cada dia mais, no âmbito da autonomia da vontade e da liberdade e, ainda, quando a
manutenção do nome pode, em tese, acarretar ao cônjuge sobrevivente abalo de natureza emocional,
psicológica ou profissional, em descompasso, inclusive, com o que preveem as mais contemporâneas
legislações civis.

Vale a pena transcrever esta observação da Min. Nancy Andrighi sobre o tema:
“É da nossa tradição aceitar que uma pessoa, geralmente a mulher, abdique de parte significativa dos seus
direitos da personalidade para incorporar o patronímico do cônjuge após o casamento, adquirindo um
determinado sobrenome que não lhe pertencia inicialmente e, assim, transmudando-se a sua própria
genética familiar.
Os motivos pelos quais essa modificação foi – e ainda é – socialmente aceita com tamanha naturalidade,
aliás, são diversos: vão desde a histórica submissão patriarcal, passam pela tentativa de agradar ao outro
com quem se pretende conviver e chegam, ainda, em uma deliberada intenção de adquirir um status social
diferenciado a partir da adoção do patronímico do cônjuge.
Todavia, é indiscutível que a transformação e a evolução da sociedade em que vivemos coloca essa
questão, a cada dia, em um patamar de muito menor relevância e, mais do que isso, a coloca na esfera da
liberdade e da autonomia da vontade das partes, justamente porque se trata de uma alteração substancial
em um direito da personalidade, indissociável da própria pessoa humana.”

RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL


Homologação de acordo extrajudicial de retificação de registro civil

É inadmissível a homologação de acordo extrajudicial de retificação de registro civil de menor


em juízo sem a observância dos requisitos e procedimento legalmente instituído para essa
finalidade.
Ex: Sandro namorava Letícia, que ficou grávida. Ao nascer a criança, Sandro a registrou como
sua filha. Alguns anos depois, por meio de um exame de DNA feito em uma clínica particular,
descobre-se que o pai biológico da menor é, na verdade, João. Diante disso, o pai registral, o
pai biológico e a criança, representada por sua mãe, celebraram um acordo extrajudicial de
anulação de assento civil. Por intermédio deste instrumento, as referidas partes acordaram
que haveria a retificação do registro civil da menor para que houvesse a substituição do nome

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de seu pai registral pelo pai biológico. As partes ingressam com pedido para que o juiz
homologasse esse acordo. O pedido deverá ser negado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.698.717-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/06/2018 (Info 627).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Sandro namorava Letícia. Eles tiveram uma briga e, nesta noite, Letícia teve uma relação sexual com João.
Logo em seguida, Letícia voltou a namorar Sandro.
Três semanas depois, Letícia descobriu que estava grávida.
Sandro, pensando que a criança recém-nascida era sua filha biológica, assim registrou a criança (Marcela).
Alguns anos depois, por meio de um exame de DNA feito em uma clínica particular, descobre-se que o pai
biológico da menor é, na verdade, João.

Acordo
Sandro (pai registral), João (pai biológico) e Marcela (representada por sua mãe Letícia) celebraram um
acordo extrajudicial de anulação de assento civil.
Por intermédio deste instrumento, as referidas partes acordaram que haveria a retificação do registro civil
da menor Marcela para que houvesse a substituição do nome de seu pai registral Sandro pelo pai biológico
(João), bem como a retificação do registro no que diz respeito aos respectivos avós paternos.
As partes ingressaram com pedido para que o juiz homologasse esse acordo.

O pedido deverá ser acolhido? O referido acordo deve ser homologado?


NÃO. Esse acordo não pode ser homologado porque foram descumpridos os requisitos e o procedimento
previstos na lei para essa finalidade. Vejamos:
1) Neste negócio jurídico, uma criança renunciou ao seu direito à filiação, transferindo essa situação
jurídica a um terceiro;
2) O negócio jurídico celebrado pelas partes teve como objeto um direito personalíssimo, sobre o qual não
se admite a transação, o que se depreende da interpretação a contrario sensu do art. 841 do CC:
Art. 841. Só quanto a direitos patrimoniais de caráter privado se permite a transação.

3) Esse negócio jurídico não preenche os requisitos básicos previstos no art. 104, II e III, do CC, uma vez
que se negociou objeto ILÍCITO – direitos da personalidade de uma menor sem que tenha sido observada
a forma prescrita em lei quando se trata de retificação de registros civis.

4) Não se fez uma apuração mais aprofundada a respeito da existência de erro ou de falsidade do registro
da criança, condições indispensável para que se possa modificar o registro de nascimento, na forma do
art. 1.604 do CC.

5) Em um caso desta natureza, não se pode relegar ao Ministério Público o papel de mero opinante no
processo de homologação.

6) Não se pode utilizar o exame de DNA realizado em clínica particular como meio de prova válido para
homologar o acordo extrajudicial, especialmente porque a prova pericial válida é aquela submetida ao
crivo judicial, em que se deve observar o efetivo contraditório e a ampla defesa, com a possibilidade de
acompanhamento da produção da prova por todos os atores do processo, com oportuna quesitação,
diligências, participação do assistente técnico e produção de laudos técnicos convergentes ou divergentes.

7) Deveria ter sido realizado um estudos psicossocial para se verificar se existia ou não vínculo socioafetivo
entre a criança e o pai registral.

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BEM DE FAMÍLIA
Bem de família dado em garantia hipotecária

Importante!!!
O bem de família é IMPENHORÁVEL quando for dado em garantia real de dívida por um dos
sócios da pessoa jurídica, cabendo ao credor o ônus da prova de que o proveito se reverteu à
entidade familiar.
O bem de família é PENHORÁVEL quando os únicos sócios da empresa devedora são os
titulares do imóvel hipotecado, sendo ônus dos proprietários a demonstração de que não se
beneficiaram dos valores auferidos. Assim, é possível a penhora de bem de família dado em
garantia hipotecária pelo casal quando os cônjuges forem os únicos sócios da pessoa jurídica
devedora.
STJ. 2ª Seção. EAREsp 848.498-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/04/2018 (Info 627).

ESPÉCIES DE BEM DE FAMÍLIA


No Brasil, atualmente, existem duas espécies de bem de família:
a) bem de família convencional ou voluntário (arts. 1711 a 1722 do Código Civil);
b) bem de família legal (Lei nº 8.009/90).

BEM DE FAMÍLIA LEGAL


O bem de família legal consiste no imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar.
Considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia
permanente.
Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a
impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no
Registro de Imóveis e na forma do Código Civil (bem de família convencional).

PROTEÇÃO CONFERIDA AO BEM DE FAMÍLIA LEGAL


O bem de família legal é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal,
previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus
proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas na Lei nº 8.009/90.

MOMENTO EM QUE A IMPENHORABILIDADE DEVE SER ARGUIDA


Se alguém está sendo executado e é penhorado seu bem de família, qual é o momento processual para
que alegue a impenhorabilidade?
O devedor deverá arguir a impenhorabilidade do bem de família no primeiro instante em que falar nos
autos após a penhora.

Se o devedor não alegar a impenhorabilidade do bem de família no momento oportuno, haverá


preclusão?
NÃO. A impenhorabilidade do bem de família é matéria de ordem pública, dela podendo conhecer o juízo
a qualquer momento, antes da arrematação do imóvel, desde que haja prova nos autos. Logo, mesmo que
o devedor não tenha arguido a impenhorabilidade no momento oportuno, é possível sua alegação desde
que antes da arrematação do imóvel (STJ. 4ª Turma. REsp 981.532-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 7/8/2012).

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EXCEÇÃO DO INCISO V DO ART. 3º DA LEI DO BEM DE FAMÍLIA


O art. 3º da Lei nº 8.009/90 traz as hipóteses em que o bem de família legal pode ser penhorado.
Veja o que diz o inciso V:
Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal,
previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:
(...)
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela
entidade familiar;

Como vimos acima, em regra, o bem de família não pode ser penhorado (art. 1º da Lei nº 8.009/90).
Esse inciso V diz, contudo, que o bem de família pode ser penhorado se o imóvel foi oferecido em hipoteca
como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar.
A hipoteca é uma espécie de direito real de garantia, disciplinada nos arts. 1.473 a 1.505 do Código Civil.
Se a parte que deu o bem em hipoteca não cumprir a sua obrigação, o credor poderá executar a hipoteca,
hipótese na qual o imóvel dado em garantia será alienado e o valor obtido utilizado para pagar o débito.
Assim, em regra, é possível a penhora do imóvel que tiver sido oferecido como garantia real pelo casal ou
pela entidade familiar.
O STJ, contudo, ao interpretar esse inciso, faz a seguinte distinção:

1) Se o imóvel foi dado em garantia de uma dívida 2) Se o imóvel foi dado em garantia de uma
que beneficiou o casal ou entidade familiar: dívida que beneficiou um terceiro:
Este bem poderá ser penhorado. Este bem NÃO poderá ser penhorado.
A situação se enquadra no inciso V do art. 3º. A situação NÃO se enquadra no inciso V do art. 3º.
Ex: Antônio toma um empréstimo junto ao banco Ex: João toma um empréstimo junto ao banco a
(contrato de mútuo) a fim de pagar a faculdade de fim de pagar tratamento médico de seu filho. Ele
sua filha. Ele oferece o seu apartamento em precisava dar uma garantia real para o caso de não
hipoteca como garantia da dívida. Se Antônio pagar as parcelas do mútuo. Como não tinha
deixar de pagar as prestações, o banco poderá nenhum bem para oferecer em garantia, pediu
executar a hipoteca, ou seja, vender o ajuda a seu amigo Pedro. Assim, Pedro ofereceu a
apartamento e utilizar o dinheiro para quitar o sua casa em hipoteca como garantia de uma dívida
saldo devedor. de terceiro (João).
Trata-se de situação que se enquadra no inciso V Se João não conseguir pagar as parcelas
do art. 3º (é uma exceção à proteção do bem de combinadas, o banco NÃO poderá executar a
família). hipoteca e vender a casa. Isso porque se trata de
bem de família e NÃO se enquadra na exceção do
inciso V do art. 3º.

Desse modo, para a jurisprudência do STJ, a exceção prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90 não se aplica
aos casos em que a hipoteca é dada como garantia de empréstimo contraído em favor de terceiro,
somente quando garante empréstimo tomado diretamente em favor do próprio devedor.

IMÓVEL DADO EM HIPOTECA COMO GARANTIA DE DÍVIDA PERTENCENTE À PESSOA JURÍDICA


Se o bem de família foi dado pelo casal como garantia de dívida contraída por pessoa jurídica, ele poderá
ser penhorado em caso de inadimplemento?
Depende:

1) Se apenas um dos cônjuges for sócio da pessoa 2) Se os cônjuges forem os únicos sócios da
jurídica: em regra, o bem será impenhorável pessoa jurídica devedora:

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10


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O bem de família é IMPENHORÁVEL quando for O bem de família é PENHORÁVEL quando os únicos
dado em garantia real de dívida por um dos sócios sócios da empresa devedora são os titulares do
da pessoa jurídica, cabendo ao credor o ônus da imóvel hipotecado, sendo ônus dos proprietários
prova de que o proveito se reverteu à entidade a demonstração de que não se beneficiaram dos
familiar. valores auferidos.
Ex: Lúcio e Carla são casados e moram em um Ex: Sandro e Michele, casados entre si, são os dois
apartamento com os filhos. Lúcio é sócio da únicos sócios da sociedade empresária SM
empresa LT. O outro sócio é seu amigo Tiago. Comércio Ltda. A empresa SM contraiu um
A empresa LT contraiu um empréstimo para empréstimo junto ao banco (contrato de mútuo).
comprar equipamentos e Lúcio deu em garantia o O casal deu o apartamento em que mora como
imóvel em que reside. Ainda que dado em garantia garantia da dívida (garantia hipotecária). Se o
de empréstimo concedido a pessoa jurídica, é empréstimo não for pago, o banco poderá
impenhorável o imóvel (bem de família), já que executar e penhorar o apartamento.
não se pode presumir que o mútuo tenha sido
concedido em benefício da família.

Em suma:
É possível a penhora de bem de família dado em garantia hipotecária pelo casal quando os cônjuges
forem os únicos sócios da pessoa jurídica devedora.
STJ. 2ª Seção. EAREsp 848.498-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/04/2018 (Info 627).

CLÁUSULA PENAL
Possibilidade de redução de ofício da cláusula penal manifestamente excessiva

Constatado o caráter manifestamente excessivo da cláusula penal contratada, o magistrado


deverá, independentemente de requerimento do devedor, proceder à sua redução.
Fundamento: CC/Art. 413. A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a
obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for
manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.447.247-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/04/2018 (Info 627).

CLÁUSULA PENAL
Conceito
Cláusula penal é...
- uma cláusula do contrato
- ou um contrato acessório ao principal
- em que se estipula, previamente, o valor da indenização que deverá ser paga
- pela parte contratante que não cumprir, culposamente, a obrigação.

A cláusula penal também pode ser chamada de multa convencional, multa contratual ou pena
convencional.

Natureza jurídica
Trata-se de uma obrigação acessória, referente a uma obrigação principal.
Pode estar inserida dentro do contrato (como uma cláusula) ou prevista em instrumento separado.

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11


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Finalidades
A cláusula penal possui duas finalidades:
• Função ressarcitória: serve de indenização para o credor no caso de inadimplemento culposo do
devedor. Ressalte-se que, para o recebimento da cláusula penal, o credor não precisa comprovar qualquer
prejuízo. Desse modo, a cláusula penal serve para evitar as dificuldades que o credor teria no momento
de provar o valor do prejuízo sofrido com a inadimplência do contrato.
• Função coercitiva ou compulsória (meio de coerção): intimida o devedor a cumprir a obrigação,
considerando que este já sabe que, se for inadimplente, terá que pagar a multa convencional.

Espécies
MORATÓRIA COMPENSATÓRIA
(compulsória): (compensar o inadimplemento)
Estipulada para desestimular o devedor a incorrer Estipulada para servir como indenização no caso
em mora ou para evitar que deixe de cumprir de total inadimplemento da obrigação principal
determinada cláusula especial da obrigação (inadimplemento absoluto).
principal.
É a cominação contratual de uma multa para o
caso de mora.
Funciona como punição pelo retardamento no Funciona como uma prefixação das perdas e
cumprimento da obrigação ou pelo danos, ou seja, representa um valor previamente
inadimplemento de determinada cláusula. estipulado pelas partes a título de indenização
pela inexecução contratual.
Ex.1: em uma promessa de compra e venda de um Ex.: em um contrato para que um cantor faça um
apartamento, é estipulada multa para o caso de show no réveillon, é estipulada uma multa de R$
atraso na entrega. 100 mil caso ele não se apresente.
Ex.2: multa para o caso do produtor de soja fornecer
uma safra de qualidade inferior ao tipo “X”.
A cláusula penal moratória é cumulativa, ou seja, A cláusula penal compensatória não é cumulativa.
o credor poderá exigir o cumprimento da Assim, haverá uma alternativa para o credor: exigir
obrigação principal mais o valor da cláusula penal o cumprimento da obrigação principal ou apenas
(poderá exigir a substituição da soja inferior e o valor da cláusula penal.
ainda o valor da cláusula penal).
Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para
o caso de mora, ou em segurança especial de outra o caso de total inadimplemento da obrigação, esta
cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de converter-se-á em alternativa a benefício do
exigir a satisfação da pena cominada, juntamente credor.
com o desempenho da obrigação principal.

Multa moratória = obrigação principal + multa


Multa compensatória = obrigação principal ou multa

Feita esta breve revisão, imagine a seguinte situação hipotética:


João celebrou contrato com Pedro por meio do qual este se obrigou a pintar um quadro.
Quando a obra estivesse pronta, Pedro receberia R$ 100 mil.
Pedro não entregou o quadro no prazo estipulado.
Diante disso, João ingressou com ação de obrigação de fazer, pedindo a condenação de Pedro a cumprir
o contrato.
Pedro contestou a demanda sob a alegação de que não estava mais encontrando inspiração para pintar.

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12


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O juiz julgou improcedente o pedido afirmando que, por se tratar de obrigação personalíssima, não seria
possível exigir o cumprimento, devendo a questão ser resolvida mediante a cobrança do pagamento da
cláusula penal.
O contrato previa multa de 20% sobre o valor do ajuste, ou seja, R$ 20 mil.
O juiz, contudo, entendeu que a cláusula penal era excessiva e, de ofício, reduziu-a para R$ 10 mil.

Agiu corretamente o magistrado? O juiz deve reduzir, de ofício, a cláusula penal contratada, por
considerá-la excessiva?
SIM.
Constatado o caráter manifestamente excessivo da cláusula penal contratada, o magistrado deverá,
independentemente de requerimento do devedor, proceder à sua redução.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.447.247-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/04/2018 (Info 627).

A cláusula penal é fixada por meio de ajuste de vontade entre as partes. Apesar disso, não se pode dizer
que a sua fixação fique ao total e ilimitado alvedrio (arbítrio, livre vontade) dos contratantes.
O Código Civil de 2002 prevê normas de ordem pública, imperativas e cogentes, que possuem o objetivo
de preservar o equilíbrio econômico-financeiro do contrato, afastando excessos que gerem
enriquecimento sem causa de qualquer uma das partes.
Entre tais normas, destaca-se o art. 413 do CC:
Art. 413. A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver
sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-
se em vista a natureza e a finalidade do negócio.

Vale ressaltar que não se trata de uma faculdade do juiz, mas sim de um poder/dever do magistrado de
coibir os excessos e os abusos que venham a colocar o devedor em situação de inferioridade desarrazoada.
Superou-se, assim, o princípio da imutabilidade absoluta da pena estabelecida livremente entre as partes,
que, à luz do código revogado, somente era mitigado em caso de inexecução parcial da obrigação.
Veja o que diz o genial Bruno Miragem:
(...) A orientação da legislação, em diferentes sistemas jurídicos, é a de impor limites à estipulação
da cláusula penal, assim como mecanismos para sua redução, quando se entendê-la como
excessiva. Em geral, estes limites resultam em norma com caráter imperativo.
(...)
Os fundamentos para admitir-se o controle da cláusula penal são diversos. O principal será a
própria preservação da equivalência material, de modo a impedir que, por convenção, se imponha
sanção desproporcional ao devedor inadimplente.
(...)
No direito vigente, a disposição do art. 413 se reconhece como norma de ordem pública,
insuscetível de convenção em contrário das partes ao constituírem a obrigação.
A redução equitativa da cláusula penal, neste caso, orienta-se, conforme já se referiu, pela
preservação da equivalência material, assim também com a incidência do princípio da boa fé. (...)
(MIRAGEM, Bruno. Direito civil: direito das obrigações. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 574-578)

O controle judicial da cláusula penal abusiva consiste, portanto, em uma norma de ordem pública, que
tem como objetivos concretizar o princípio da equidade (preservação da equivalência material do pacto)
e impor o paradigma da eticidade aos negócios jurídicos.
Existem dois enunciados doutrinários sobre o tema:
Enunciado 356 - CJF: Nas hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, o juiz deverá reduzir a cláusula
penal de ofício.

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13


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Enunciado 355 - CJF: Não podem as partes renunciar à possibilidade de redução da cláusula penal se
ocorrer qualquer das hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, por se tratar de preceito de ordem
pública.

Ademais, importante destacar o disposto no parágrafo único do art. 2.035 do CC, segundo o qual
“nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos
por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos”.

A sentença não é extra petita


Como a redução da cláusula penal é uma norma de ordem pública, ela pode ser conhecida de ofício pelo
magistrado, ante sua relevância social decorrente dos escopos de preservação do equilíbrio material dos
contratos e de repressão ao enriquecimento sem causa. Logo, diante disso, não há violação ao princípio
da adstrição (o chamado vício de julgamento extra petita).

CONTRATOS
Se o devedor de empréstimo consignado morrer, a dívida continua existindo

O falecimento do consignante não extingue a dívida decorrente de contrato de crédito


consignado em folha de pagamento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.498.200-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/06/2018 (Info 627).

Empréstimo consignado
Uma prática muito comum entre os servidores públicos são os chamados “empréstimos consignados”.
O servidor público vai até o banco e consegue um empréstimo de forma mais fácil, rápida e com taxas de
juros menores porque aceita que as parcelas de pagamento deste mútuo sejam descontadas diretamente
da sua remuneração.
Assim, no empréstimo consignado (também chamado de consignação em folha de pagamento), antes
mesmo de a pessoa receber sua remuneração/proventos, já há o desconto da quantia, o que é efetuado
pelo próprio órgão ou entidade pagadora. Em outras palavras, há um desconto direto no salário,
remuneração ou aposentadoria.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


João era servidor público e contraiu um empréstimo consignado.
O mutuário vinha pagando normalmente as parcelas. Ocorre que ele faleceu.
Diante disso, o espólio de João ingressou com ação contra o banco pedindo que fosse reconhecida a
extinção da dívida em razão da morte do consignante.
O espólio argumentou que a Lei nº 1.046/50 regulamenta a consignação em folha de pagamento, sendo
que ela prevê, em seu art. 16, que, ocorrido o falecimento do consignante, ficará extinta a dívida. Veja:
Art. 16. Ocorrido o falecimento do consignante, ficará extinta a dívida do empréstimo feito
mediante simples garantia da consignação em fôlha.

A tese do espólio de João foi acolhida pelo STJ?


NÃO.
O falecimento do consignante não extingue a dívida decorrente de contrato de crédito consignado em
folha de pagamento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.498.200-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/06/2018 (Info 627).

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14


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A partir da leitura dos arts. 3º e 4º da Lei nº 1.046/50 chega-se à conclusão de que este diploma sobre a
consignação em folha de pagamento é voltado aos servidores públicos civis e militares.
Ocorre que o STJ entende que, com a edição da Lei nº 8.112/90, foi revogada a Lei nº 1.046/50. Isso porque
a Lei nº 8.112/90 disciplinou a consignação em pagamento envolvendo servidores públicos federais.
Houve, portanto, a ab-rogação tácita ou indireta da Lei nº 1.046/50, na medida em que a Lei nº 8.112/90
tratou, inteiramente, da matéria contida naquela.
A Lei nº 8.112/90 não trouxe nenhum dispositivo semelhante ao art. 16 da Lei nº 1.046/50. Logo, conclui-
se que, com a edição da Lei nº 8.112/90, acabou a regra que autorizava a extinção da dívida em razão da
morte do consignante.
A Lei nº 10.820/2003 regula a consignação em folha de pagamento dos empregados regidos pela CLT e
dos titulares de benefícios de aposentadoria e pensão do RGPS (INSS). Assim como na Lei nº 8.112/90, não
há na Lei nº 10.820/2003 a previsão de que a morte do consignante extinga a dívida por ele contraída.

RESPONSABILIDADE CIVIL
Acidente de carro sem vítimas: danos morais devem ser provados

Os danos decorrentes de acidentes de veículos automotores sem vítimas não caracterizam


dano moral in re ipsa.
Vale ressaltar que é possível a condenação de danos morais em casos de acidente de trânsito,
no entanto, trata-se de situação excepcional, sendo necessário que a parte demonstre
circunstâncias peculiares que indiquem o extrapolamento da esfera exclusivamente
patrimonial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.653.413-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018 (Info 627).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João, dirigindo seu veículo, abalroou (bateu) a traseira do carro de Pedro.
A culpa foi de João, que estava distraído vendo uma mensagem no Whatsapp.
Vale ressaltar que, felizmente, ninguém se machucou. No entanto, o carro de Pedro ficou bem avariado.
João não pagou as despesas de Pedro.
Diante disso, Pedro ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra João.
O juiz julgou procedente o pedido quanto aos danos materiais.
Negou, contudo, a indenização por danos morais alegando que o autor não comprovou ter sofrido um
transtorno ou lesão que extrapolasse o mero dissabor da situação.
Pedro recorreu contra a sentença afirmando que o dano moral neste caso é presumido (dano moral in re
ipsa), não precisando ser comprovado.

A tese de Pedro é acolhida pela jurisprudência?


NÃO.
Os danos decorrentes de acidentes de veículos automotores sem vítimas não caracterizam dano moral
in re ipsa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.653.413-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018 (Info 627).

O reconhecimento do dano moral como categoria de dano indenizável, mesmo antes da edição do novo
Código Civil brasileiro, enfrentou uma rápida evolução decorrente de sua conformação aos paradigmas da
Constituição Federal de 1988.
Seguindo um movimento de despatrimonialização, pautado na consagração do direito subjetivo
constitucional à dignidade, o dano moral passa a ser entendido como aquele decorrente da mera violação

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15


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de direitos fundamentais e da tutela de bens personalíssimos (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de


responsabilidade civil. 4ª ed. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 94).
A jurisprudência do STJ, em casos específicos, entende que é possível a indenização por danos morais
independentemente da demonstração de dor. Isso porque, em tais situações, considera-se que o dano é
in re ipsa, ou seja, intrínseco à própria conduta que injustamente atinja a dignidade do ser humano.
Todavia, a caracterização do dano moral in re ipsa não pode ser elastecida a ponto de afastar a necessidade
de sua efetiva demonstração em qualquer situação. Isso porque, ao assim proceder, se estaria a percorrer
o caminho diametralmente oposto ao sentido da despatrimonialização do Direito Civil, transformando em
caráter meramente patrimonial os danos extrapatrimoniais e fomentando a já bastante conhecida
“indústria do dano moral”.
Em casos de acidente automobolístico sem vítima, não há, a priori, a configuração de dano moral. Ao
contrário, em casos tais, o comum é que os danos não extrapolem a esfera patrimonial e ensejem
indenização por danos materiais, eventualmente, sob as modalidades de lucros cessantes e ressarcimento
de despesas correlacionadas.
Vale ressaltar que poderá haver casos em que o acidente de carro gere também danos morais. Isso é
perfeitamente possível quando estiver demonstrado que, no caso concreto, houve circunstâncias que
extrapolaram os limites do mero aborrecimento e que, portanto, devem ser compensados por meio de
indenização que logre realizar o princípio do ressarcimento integral da vítima. Essas circunstâncias
peculiares devem, por excepcionais, ser objeto de alegação e prova pelas partes, submetendo-se ao
contraditório.
Assim, o dano moral decorrente de acidente de trânsito não corresponde ao dano in re ipsa.

DIREITO DO CONSUMIDOR

RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO


Alteração do transporte aéreo para terrestre e ocorrência de roubo: dever de indenizar

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A alteração substancial e unilateral do contrato firmado de transporte aéreo para terrestre
impede a utilização da excludente de fortuito externo para eximir a empresa de transporte
aéreo da responsabilidade civil por danos causados por roubo ao ônibus.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.728.068-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018 (Info 627).

Caso 1. Imagine a seguinte situação hipotética:


João comprou uma passagem de ônibus de Campinas (SP) para São Paulo (SP).
Durante o trajeto, o coletivo foi parado por ladrões, que roubaram e agrediram os passageiros.

João terá direito de receber indenização da empresa de transporte coletivo?


NÃO. A jurisprudência do STJ entende que o roubo dentro de ônibus configura hipótese de fortuito
externo, por se tratar de fato de terceiro inteiramente independente ao transporte em si, afastando-se,
com isso, a responsabilidade da empresa transportadora por danos causados aos passageiros.
Fortuito INTERNO Fortuito EXTERNO
Está relacionado com a organização da empresa. Não está relacionado com a organização da
É um fato ligado aos riscos da atividade empresa.
desenvolvida pelo fornecedor.

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16


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É um fato que não guarda nenhuma relação de


causalidade com a atividade desenvolvida pelo
fornecedor.
É uma situação absolutamente estranha ao
produto ou ao serviço fornecido.
Ex1: o estouro de um pneu do ônibus da empresa Ex1: assalto à mão armada no interior de ônibus
de transporte coletivo; coletivo (não é parte da organização da empresa
de ônibus garantir a segurança dos passageiros
contra assaltos);

Ex2: cracker invade o sistema do banco e consegue Ex2: um terremoto faz com que o telhado do
transferir dinheiro da conta de um cliente. banco caia, causando danos aos clientes que lá
estavam.
Ex3: durante o transporte da matriz para uma das
agências, ocorre um roubo e são subtraídos
diversos talões de cheque (trata-se de um fato que
se liga à organização da empresa e aos riscos da
própria atividade desenvolvida).
O fortuito interno NÃO exclui a obrigação do O fortuito externo é uma causa excludente de
fornecedor de indenizar o consumidor. responsabilidade.

Caso 2. Imagine agora outra situação um pouco diferente:


Pedro comprou uma passagem aérea de Brasília (DF) para São José do Rio Preto (SP).
Ocorre que a companhia cancelou o voo e, em vez de disponibilizar outro avião para transportar os
passageiros, ofereceu o transporte para o mesmo trecho mediante ônibus.
Pedro tinha um compromisso urgente em São José do Rio Preto (SP) e, por essa razão, preferiu aceitar
realizar o transporte terrestre.
Ocorre que, no percurso, o ônibus foi parado por ladrões, que roubaram e agrediram os passageiros,
dentre eles Pedro.
Diante disso, Pedro ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a companhia aérea.
A ré contestou a demanda afirmando que é pacífico o entendimento jurisprudencial no sentido de que o
roubo ocorrido em ônibus constitui-se como fortuito externo, sendo, portanto, causa excludente do dever
de indenizar.

Pedro terá direito à indenização?


SIM.
Como vimos acima (caso 1), em regra, a ocorrência de roubo de passageiros em transporte coletivo afasta
a responsabilidade do transportador, por caracterizar fortuito externo.
O caso 2, contudo, possui uma peculiaridade que faz com que a companhia tenha responsabilidade civil.
Pedro firmou com a empresa um contrato de transporte AÉREO, modalidade que, além de implicar uma
maior comodidade e celeridade em relação à via terrestre, revela-se também muito mais segura, fatores
que justificam, inclusive, o valor mais elevado da passagem.
A possibilidade de ocorrer um roubo cometido com arma de fogo dentro de um avião é praticamente nula.
Por outro lado, tem sido cada dia mais comum a ocorrência de assaltos em ônibus.
Dessa forma, a partir do momento em que a empresa altera, de forma unilateral, a modalidade de
transporte aéreo contratada pelo rodoviário, ela passou a assumir todos os riscos daí advindos.
Em outras palavras, a conduta da companhia, ao não facultar outro voo para a realização da viagem e
somente oferecer aos passageiros que o trajeto fosse feito pela via terrestre, também concorreu para o
resultado, fato que caracteriza a culpa da empresa pelo evento danoso.

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17


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Assim, pode-se dizer que a alteração substancial e unilateral do contrato firmado – de transporte aéreo
para terrestre -, sem dúvida alguma, acabou criando uma situação favorável à ação de terceiros, não
podendo a transportadora agora, após a criação efetiva do risco de ocorrência de roubo contra os
passageiros, valer-se da excludente do fortuito externo para se eximir da responsabilidade.
Por esse motivo, também NÃO é possível invocar o art. 14, § 3º, II, do CDC, pois não se verificou culpa
exclusiva de terceiro, em virtude da concorrência da transportadora para o resultado lesivo:
Art. 14 (...)
§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
(...)
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Em suma:
A alteração substancial e unilateral do contrato firmado de transporte aéreo para terrestre impede a
utilização da excludente de fortuito externo para eximir a empresa de transporte aéreo da
responsabilidade civil por danos causados por roubo ao ônibus.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.728.068-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018 (Info 627).

Uma última pergunta: em nosso exemplo, a companhia aérea pagou para uma empresa de transporte
rodoviário levar os passageiros. Se Pedro tivesse ajuizado a ação contra esta empresa de transporte
rodoviário, ele teria tido êxito? Essa empresa de transporte rodoviário que levou Pedro também é
responsável civilmente?
NÃO. Se a demanda tivesse sido manejada contra a empresa responsável pelo ônibus fretado, que realizou
o trajeto entre Brasília e São José do Rio Preto, o pedido de Pedro deveria ser julgado improcedente. Isso
porque, neste caso, seria reconhecido o fortuito externo, considerando que a empresa de ônibus não
contribuiu em nada para a produção do evento lesivo.

DIREITO EMPRESARIAL

SOCIEDADES ANÔNIMAS
Prescrição em caso de ação de exigir contas pelo pagamento
de dividendos e outros rendimentos

A pretensão do titular de ações de exigir contas da sociedade anônima referente ao pagamento


de dividendos, juros sobre capital próprio e demais rendimentos inerentes às respectivas
ações prescreve em três anos.
Fundamento: art. 287, II, “a”, da Lei nº 6.404/76.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.608.048-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/05/2018 (Info 627).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João é titular de ações nominativas da sociedade anônima “BGG S/A”.
João entende que a BGG não lhe pagou os dividendos, os juros sobre capital próprio e os demais
rendimentos corretamente nos últimos 6 anos.
Em razão disso, João quer ajuizar ação de exigir contas contra a empresa, nos termos do art. 550 do CPC,
exigindo a prestação das contas dos últimos 6 anos.
Surgiu, no entanto, a dúvida a respeito do prazo prescricional.

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18


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João poderá pedir a prestação de contas dos últimos 6 anos?


NÃO. Somente dos últimos 3 anos.
A pretensão do titular de ações de exigir contas da sociedade anônima referente ao pagamento de
dividendos, juros sobre capital próprio e demais rendimentos inerentes às respectivas ações prescreve
em três anos.
Fundamento: art. 287, II, “a”, da Lei nº 6.404/76.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.608.048-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/05/2018 (Info 627).

Existe a previsão expressa de um prazo para a ação de exigir contas?


Não. Não há um prazo prescricional específico para o ajuizamento da ação de exigir contas, o que atrai,
de modo geral, a aplicação do prazo residual de 10 anos, constante do art. 205 do Código Civil:
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

Desse modo, em princípio, o indivíduo que confiou a administração de seus bens a um terceiro goza do
prazo de 10 anos para exigir que o gestor de seus bens preste as respectivas contas.
Depois que o réu apresentar as contas, se ficar constatado que havia saldo em favor do autor, será possível
pedir o pagamento desta quantia no bojo da mesma ação.
Veja-se, portanto, que as pretensões de exigir contas e a de obter o ressarcimento, na eventualidade de
se apurar a existência de crédito a favor do demandante, embora não se confundam, são umbilicalmente
ligadas e instrumentalizadas no bojo da mesma ação. Em razão disso, o prazo para se exigir contas deve
ser o mesmo prazo para se pedir o pagamento dos valores residuais que eventualmente existam.
Logo, não havendo na lei um prazo específico para a satisfação (“cobrança”) desse crédito, oriundo da
administração/gestão de bens alheios, o exercício dessa pretensão observa, naturalmente, o mesmo prazo
prescricional da ação de exigir as contas em que veiculada, que é de 10 anos.
Prazo para cobrança de dividendos é de 3 anos e, portanto, interfere no prazo para exigir contas
O titular ações de uma sociedade anônima possui o prazo prescricional de 3 anos para exigir o pagamento
dos dividendos. Isso está previsto no art. 287, II, da Lei nº 6.404/76 (Lei das SA):
Art. 287. Prescreve:
(...)
II - em 3 (três) anos:
a) a ação para haver dividendos, contado o prazo da data em que tenham sido postos à disposição
do acionista;

Esse dispositivo legal dispõe sobre a ação de cobrança de dividendos. Não trata expressamente a respeito
da pretensão de exigir contas. Porém, como já explicado, não se pode deixar de reconhecer que a
pretensão do acionista de exigir contas da companhia não se exaure na sua simples prestação, pois se
destina, em última análise, à apuração do saldo de dividendos e, caso existente, também à sua satisfação.
Em outras palavras, sendo de 3 anos o prazo prescricional de cobrança dos dividendos, também deve ser
de 3 anos o prazo prescricional para o ajuizamento da ação de exigir contas. Isso porque o objetivo final
do autor é o de receber o saldo que ele entende que pode existir.
Seria inútil que se permitisse que o autor ajuizasse ação pedindo a prestação de contas dos últimos 6 anos,
por exemplo, e, constatada a existência de um saldo (porque os pagamentos não foram feitos
corretamente), esse mesmo autor só tivesse direito de cobrar os valores dos últimos 3 anos.
A ação de exigir contas deve se revelar útil, a um só tempo, à pretensão de exigir contas e, caso apurado
crédito existente em favor do demandante, também à sua satisfação.
A ação de exigir contas não serve apenas para tirar uma “dúvida” pessoal do autor sem que isso tenha
reflexos jurídicos.

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19


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RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Ação de indenização por danos morais contra empresa em recuperação judicial

A ação de compensação por danos morais movida contra empresa em recuperação judicial não
deve permanecer suspensa até o trânsito em julgado da decisão final proferida no processo de
soerguimento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.710.750-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 627).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João foi ofendido e maltratado pelo motorista da empresa de ônibus “Viplan”.
Em razão disso, ajuizou ação de indenização por danos morais que foi julgada procedente, condenando a
pagar R$ 5 mil.
O credor requereu o cumprimento de sentença, o que estava tramitando na 6ª Vara Cível.
Ocorre que a Viplan ingressou com pedido de recuperação judicial.
O juiz da Vara de Falência deferiu o pedido de recuperação judicial.
Diante disso, o juiz da 6ª Vara Cível decidiu suspender o processo de cumprimento de sentença, nos
termos do art. 6º, § 4º da Lei nº 11.101/2005:
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial
suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive
aquelas dos credores particulares do sócio solidário.
(...)
§ 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma
excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do
processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos
credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento
judicial.

Depois de alguns anos de tramitação, o Juiz da Vara de Falência entendeu que estavam cumpridas as
obrigações e decretou, por sentença, o encerramento da recuperação judicial (art. 63 da Lei 11.101/2005).
Um dos credores, contudo, não concordou e apelou contra a sentença.
Foi o tempo que o advogado de João lembrou do processo e pediu ao Juiz da 6ª Vara Cível que retomasse
o cumprimento de sentença, pedido que foi acolhido pelo magistrado.
A Viplan, porém, recorreu contra a decisão do Juiz da 6ª Vara Cível alegando que não se mostra plausível
a retomada das execuções individuais após o mero decurso do prazo de 180 dias, sob pena de violação ao
princípio da continuidade da empresa. Argumentou que o cumprimento de sentença deverá permanecer
suspenso até a conclusão final da recuperação judicial.

Agiu corretamente o juiz da 6ª Vara Cível?


SIM.
O STJ possui precedentes nos quais já admitiu que os processos permaneçam suspensos mesmo depois
do decurso do prazo de 180 dias previsto no art. 6º, § 4º da Lei nº 11.101/2005: Nesse sentido:
(...) 2. De acordo com o entendimento deste Tribunal Superior, admite-se a prorrogação do prazo
suspensivo das ações e execuções ajuizadas em face da sociedade em crise econômico-financeira, previsto
no art. 6º, § 4º, da Lei n. 11.101/2005. (...)
STJ. 2ª Seção. CC 111.614/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/06/2013.

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20


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Todavia, não se pode admitir prorrogação genérica e indiscriminada do prazo de suspensão do art. 6º, §
4º para todo e qualquer processo relacionado à empresa recuperanda, sendo sempre necessário analisar
as circunstâncias do caso concreto.
No caso concreto, além de se ter esgotado o prazo de 180 dias, percebe-se que o próprio processo de
recuperação judicial já havia se encerrado (ainda que pendente recurso). Logo, não havia qualquer motivo
para se manter suspenso o cumprimento de sentença.
Não seria razoável que João tivesse que continuar com sua execução suspensa, especialmente porque:
• seu crédito é muito pequeno se comparada ao porte econômico da empresa; e
• passou-se um grande tempo desde o ajuizamento da ação, o que afronta o princípio da efetividade da
jurisdição.

Em suma:
A ação de compensação por danos morais movida contra empresa em recuperação judicial não deve
permanecer suspensa até o trânsito em julgado da decisão final proferida no processo de soerguimento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.710.750-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 627).

DIREITO NOTARIAL
E REGISTRAL

RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL


Homologação de acordo extrajudicial de retificação de registro civil

É inadmissível a homologação de acordo extrajudicial de retificação de registro civil de menor


em juízo sem a observância dos requisitos e procedimento legalmente instituído para essa
finalidade.
Ex: Sandro namorava Letícia, que ficou grávida. Ao nascer a criança, Sandro a registrou como
sua filha. Alguns anos depois, por meio de um exame de DNA feito em uma clínica particular,
descobre-se que o pai biológico da menor é, na verdade, João. Diante disso, o pai registral, o
pai biológico e a criança, representada por sua mãe, celebraram um acordo extrajudicial de
anulação de assento civil. Por intermédio deste instrumento, as referidas partes acordaram
que haveria a retificação do registro civil da menor para que houvesse a substituição do nome
de seu pai registral pelo pai biológico. As partes ingressam com pedido para que o juiz
homologasse esse acordo. O pedido deverá ser negado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.698.717-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/06/2018 (Info 627).

Veja comentários em Direito Civil.

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21


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ECA

RECURSOS
(In)aplicabilidade do art. 942 do CPC/2015

Importante!!!
A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada no caso de apelação não unânime em processo no
qual se apura a prática de ato infracional por adolescente?
5ª Turma do STJ: SIM
Admite-se a incidência do art. 942 do CPC/2015 para complementar o julgamento da apelação
julgada por maioria nos procedimentos relativos ao estatuto do menor.
STJ. 5ª turma. AgRg no REsp 1.673.215-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
17/05/2018 (Info 627).

6ª Turma do STJ: DEPENDE


• Se a decisão não unânime foi favorável ao adolescente infrator: não se deve aplicar o art. 942
do CPC/2015.
• Se a decisão não unânime foi contrária ao adolescente infrator: deve-se aplicar o art. 942.
É inaplicável a técnica de julgamento prevista no artigo 942 do CPC/2015 nos procedimentos
afetos à Justiça da Infância e da Juventude quando a decisão não unânime for favorável ao
adolescente. A aplicação da técnica de julgamento prevista no art. 942 do CPC, quando a decisão
não unânime for favorável ao adolescente, implicaria em conferir ao menor tratamento mais
gravoso que o atribuído ao réu penalmente imputável, já que os embargos infringentes e de
nulidade previstos no art. 609 do CPP somente são cabíveis se o julgamento tomado por maioria
for contrário ao réu. Ora, se não cabem embargos infringentes do art. 609 do CPP quando o
acórdão não unânime foi favorável ao réu, com maior razão também não se pode admitir a
técnica do art. 942 do CPC se o acórdão não unânime foi favorável ao adolescente infrator.
STJ. 6ª Turma. 6ª Turma. REsp 1.694.248-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
03/05/2018 (Info 626).

Técnica de julgamento do art. 942 do CPC/2015 (técnica de complementação de julgamento não unânime)
O resultado do julgamento da apelação pode ser unânime (quando todos os Desembargadores
concordam) ou por maioria (quando no mínimo um Desembargador discorda dos demais).
Se o resultado se der por maioria, o CPC prevê uma nova “chance” de a parte que “perdeu” a apelação
reverter o resultado. Como assim?
Se o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento em uma nova sessão, que
será marcada e que contará com a presença de novos Desembargadores que serão convocados, em
número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial.
Ex: o resultado da apelação foi 2x1; 2 Desembargadores votaram pelo provimento da apelação (em favor
de João) e um Desembargador votou pela manutenção da sentença (em favor de Pedro); significa dizer
que deverá ser designada uma nova sessão e para essa nova sessão serão convocados dois novos
Desembargadores que também irão emitir votos; neste nosso exemplo, foram convocados 2 porque a
convocação dos novos julgadores deverá ser em número suficiente para garantir a possibilidade de
inversão do resultado inicial (se os dois novos Desembargadores votarem com a minoria, o placar se
inverte para 3x2).
Veja a previsão legal:

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22


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Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento em
sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, que serão convocados nos termos
previamente definidos no regimento interno, em número suficiente para garantir a possibilidade
de inversão do resultado inicial, assegurado às partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar
oralmente suas razões perante os novos julgadores.

Prosseguimento na mesma sessão


Sendo possível, o prosseguimento do julgamento pode ocorrer na mesma sessão, colhendo-se os votos
de outros julgadores que porventura componham o órgão colegiado (§ 1º do art. 942).

Juízo de retratação
Os julgadores que já tiverem votado poderão rever seus votos por ocasião do prosseguimento do
julgamento (§ 2º do art. 942). Mesmo que isso ocorra, ou seja, que alguém mude de opinião, ainda assim
deverão ser colhidos os votos dos Desembargadores convocados. Nesse sentido:
Enunciado 599-FFPC: A revisão do voto, após a ampliação do colegiado, não afasta a aplicação da técnica
de julgamento do art. 942.

Esse art. 942 é uma espécie de recurso?


NÃO. Trata-se de uma “técnica de complementação de julgamento nas decisões colegiadas não unânimes
de segunda instância”.

A parte que “perdeu” a apelação precisa pedir a aplicação do art. 942?


NÃO. Essa técnica de julgamento é obrigatória e aplicável de ofício, automaticamente, pelo Tribunal. A
parte não precisa requerer a sua aplicação.

Essa técnica vale apenas para a apelação?


NÃO. Além da apelação, a técnica de julgamento prevista no art. 942 aplica-se também para o julgamento
não unânime proferido em:
a) ação rescisória, quando o resultado for a rescisão da sentença, devendo, nesse caso, seu
prosseguimento ocorrer em órgão de maior composição previsto no regimento interno;
b) agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgar parcialmente o mérito.

Embargos infringentes
Os embargos infringentes eram uma espécie de recurso previsto no CPC/1973.
Os embargos infringentes só cabiam para questionar acórdão. Não bastava, contudo, que fosse acórdão.
Era necessário que ele fosse NÃO UNÂNIME, ou seja, acórdão em que houve voto vencido.
A finalidade dos embargos infringentes era a de renovar a discussão para fazer prevalecer as razões do
voto vencido.
Segundo o art. 530 do CPC/1973, cabiam embargos infringentes em duas hipóteses:
1) contra acórdão não unânime (por maioria) que reformasse, em grau de apelação, a sentença de mérito.
2) contra acórdão não unânime (por maioria) que julgasse procedente a ação rescisória.

O CPC/2015 acabou com a existência dos embargos infringentes, mas criou essa “técnica de julgamento” do
art. 942, que possui algumas semelhanças com os embargos infringentes, mas que não se trata de recurso.

“(...) Esse mecanismo, conquanto não tenha natureza recursal, faz lembrar os embargos
infringentes. Por não ser recurso, no entanto, não depende de interposição, constituindo apenas
uma fase do julgamento da apelação, do agravo de instrumento contra decisão de mérito e da
ação rescisória, não unânime.”

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23


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(GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 885).

IMPORTANTE. Situações nas quais não se aplicará a técnica de julgamento do art. 942
Não se aplica a técnica de julgamento do art. 942 do CPC ao julgamento:
I - do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas repetitivas;
II - da remessa necessária;
III - não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário ou pela corte especial.

A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada no caso de rescisão apenas parcial do julgado rescindendo?
SIM. Enunciado 63 – Jornada CJF: A técnica de que trata o art. 942, § 3º, I, do CPC aplica-se à hipótese de
rescisão parcial do julgado.

A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada no julgamento de apelação em processo de mandado de


segurança?
SIM. Enunciado 62 – Jornada CJF: Aplica-se a técnica prevista no art. 942 do CPC no julgamento de recurso
de apelação interposto em mandado de segurança.

A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada nos Juizados Especiais?


NÃO. É a posição da doutrina majoritária:
Enunciado 552-FPPC: Não se aplica a técnica de ampliação do colegiado em caso de julgamento não
unânime no âmbito dos Juizados Especiais.

A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada no caso de apelação não unânime em processo no qual
se apura a prática de ato infracional por adolescente?
5ª Turma do STJ: SIM
Admite-se a incidência do art. 942 do CPC/2015 para complementar o julgamento da apelação julgada
por maioria nos procedimentos relativos ao estatuto do menor.
STJ. 5ª turma. AgRg no REsp 1.673.215-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 17/05/2018
(Info 627).

Por quê?
O art. 198 do ECA diz que, nos procedimentos de competência da Justiça da Infância e da Juventude,
inclusive os relativos à execução das medidas socioeducativas, deve-se adotar o sistema recursal previsto
no CPC.
Como o sistema recursal do CPC prevê a técnica de complementação do julgamento (art. 942), isso deverá
ser também aplicado para os recursos do ECA.

6ª Turma do STJ: DEPENDE


• Se a decisão não unânime foi favorável ao adolescente infrator: não se deve aplicar o art. 942 do
CPC/2015.
• Se a decisão não unânime foi contrária ao adolescente infrator: deve-se aplicar o art. 942.

É inaplicável a técnica de julgamento prevista no artigo 942 do CPC/2015 nos procedimentos afetos à
Justiça da Infância e da Juventude quando a decisão não unânime for favorável ao adolescente.
STJ. 6ª Turma. 6ª Turma. REsp 1.694.248-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
03/05/2018 (Info 626).

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24


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Por quê?
Realmente o sistema recursal do CPC deve ser aplicado para os procedimentos da Justiça da Infância e da
Juventude. Isso está expressamente previsto no art. 198 do ECA.
Ocorre que ao menor infrator devem ser assegurados os mesmos direitos de que gozam os maiores de 18
anos que forem réus em processo criminal.
Por mais que a medida socioeducativa não seja considerada “pena”, ela possui, indiscutivelmente, uma
natureza sancionatória.
Se for aplicado o art. 942 do CPC em uma apelação não unânime que tenha sido favorável ao adolescente
infrator (ex: o Tribunal rejeitou a medida socioeducativa), isso significa que esse adolescente terá um
tratamento mais gravoso do que os réus maiores de 18 anos possuem no processo penal. No processo
penal, se a apelação for favorável ao réu, não se aplica o art. 942 do CPC nem caberão os embargos
infringentes do art. 609 do CPP. Isso porque os embargos infringentes somente são cabíveis na hipótese
de o julgamento por maioria ter sido contrário ao réu. Em outras palavras, os embargos infringentes são
um recurso exclusivo da defesa.
Ora, se não cabem embargos infringentes do art. 609 do CPP quando o acórdão não unânime foi favorável
ao réu, com maior razão também não se pode admitir a técnica do art. 942 do CPC se o acórdão não
unânime foi favorável ao adolescente infrator.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

COMPETÊNCIA
Demanda contra as operadoras de plano de saúde de autogestão: Justiça comum

Compete à Justiça Comum Estadual o julgamento de demanda com natureza


predominantemente civil entre ex-empregado aposentado ou demitido sem justa causa e
operadoras de plano de saúde na modalidade autogestão vinculadas ao empregador.
STJ. 2ª Seção. CC 157.664-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/05/2018 (Info 627).

Compete à Justiça Comum Estadual o exame e o julgamento de feito que discute direitos de ex-
empregado aposentado ou demitido sem justa causa de permanecer em plano de saúde
coletivo oferecido pela própria empresa empregadora aos trabalhadores ativos, na
modalidade de autogestão.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.695.986-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/02/2018 (Info 620).

Plano de saúde de autogestão


Planos de saúde de autogestão (também chamados de planos fechados de saúde) são criados por órgãos,
entidades ou empresas para beneficiar um grupo restrito de filiados com a prestação de serviços de saúde.
Tais planos são mantidos por instituições sem fins lucrativos e administrados paritariamente, de forma
que no seu conselho deliberativo ou de administração há representantes do órgão ou empresa instituidora
e também dos associados ou usuários.
O objetivo desses planos fechados é baratear para os usuários o custo dos serviços de saúde, tendo em
vista que não visam ao lucro.
Exemplo: CASSI (Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil).

Segundo a Resolução Normativa 137, da ANS, de 14/11/2006, a operadora de autogestão é...


(...) a pessoa jurídica de direito público ou privado que, diretamente ou por intermédio de entidade pública
ou privada patrocinadora, instituidora ou mantenedora, administra plano coletivo de assistência à saúde

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25


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destinado exclusivamente a pessoas (e seus dependentes) a ela ligadas por vínculo jurídico ou estatutário,
ou aos participantes (e seus dependentes) de associações, fundações, sindicatos e entidades de classes,
nos termos dos incisos I, II e III e § 2º, do art. 2º.

A principal característica das entidades de autogestão que operam planos de saúde é constituir-se em um
sistema fechado sem a finalidade lucrativa, ou seja, os planos por elas administrados não são oferecidos
ao mercado de consumo em geral, mas apenas a grupos restritos. É por isso que não se aplica, nesses
contratos, o Código de Defesa do Consumidor.

A ANS, ao regulamentar as entidades de autogestão no âmbito do sistema de Saúde Suplementar,


enumerou três tipos:
a) a autogestão empresarial (ou da própria empresa);
b) a autogestão instituída ou patrocinada (há as figuras do instituidor, mantenedor e patrocinador);
c) as autogestões associativas ou fundacionais de categorias profissionais.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


João era empregado do Banco do Brasil e possuía plano de saúde coletivo oferecido aos funcionários da
instituição.
Vale ressaltar que se tratava de plano de saúde de autogestão.
No ano de 2010, João foi demitido sem justa causa e pediu para continuar no plano de saúde com as
mesmas condições de cobertura assistencial que gozava, pagando as mensalidades.
O plano de saúde recusou o pedido.
Diante disso, João ingressou com ação requerendo a permanência no plano de saúde, com base no art. 30
da Lei nº 9.656/98 (Lei que trata sobre os planos de saúde):
Art. 30. Ao consumidor que contribuir para produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º
desta Lei, em decorrência de vínculo empregatício, no caso de rescisão ou exoneração do contrato
de trabalho sem justa causa, é assegurado o direito de manter sua condição de beneficiário, nas
mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de
trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral.

Surgiu, no entanto, uma dúvida sobre a competência. De quem será a competência para julgar a
presente ação: Justiça comum estadual ou Justiça do Trabalho?
Justiça Estadual.
Compete à Justiça Comum Estadual o exame e o julgamento de feito que discute direitos de ex-
empregado aposentado ou demitido sem justa causa de permanecer em plano de saúde coletivo
oferecido pela própria empresa empregadora aos trabalhadores ativos, na modalidade de autogestão.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.695.986-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/02/2018 (Info 620).

Compete à Justiça Comum Estadual o julgamento de demanda com natureza predominantemente civil
entre ex-empregado aposentado ou demitido sem justa causa e operadoras de plano de saúde na
modalidade autogestão vinculadas ao empregador.
STJ. 2ª Seção. CC 157.664-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/05/2018 (Info 627).

A relação jurídica mantida entre o usuário do plano de saúde e a entidade de autogestão empresarial não
é apenas uma derivação da relação de emprego.
O próprio art. 458, § 2º, IV, da CLT, incluído pela Lei nº 10.243/2001, é expresso em dispor que a assistência
médica, hospitalar e odontológica concedida pelo empregador, seja diretamente ou mediante seguro-
saúde, não será considerada como salário. Isso porque o plano de saúde fornecido pela empresa

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 26


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empregadora, mesmo a título gratuito, não possui natureza retributiva, não constituindo salário-utilidade
(salário in natura), sobretudo por não ser contraprestação ao trabalho.
Ao contrário, referida vantagem apenas possui natureza preventiva e assistencial, sendo uma alternativa
às graves deficiências do Sistema Único de Saúde (SUS), obrigação do Estado.
Ademais, as entidades de autogestão são enquadradas como operadoras de planos de saúde, de modo
que são reguladas e fiscalizadas pela ANS.
Desse modo, em virtude da autonomia jurídica, as ações originadas de controvérsias entre usuário de
plano de saúde coletivo e entidade de autogestão (empresarial, instituída ou associativa) não se adequam
ao ramo do Direito do Trabalho, tampouco podem ser inseridas em “outras controvérsias decorrentes da
relação de trabalho” (art. 114, IX, da Constituição Federal), sendo, pois, predominante o caráter civil da
relação entre os litigantes, mesmo porque, como visto, a assistência médica não integra o contrato de
trabalho.
Assim, as ações que discutem abusividade de mensalidades, cobertura de tratamento médico, deficiência
de prestação de serviços suplementares de saúde propostas pelos usuários contra as operadoras de plano
de saúde, incluídas as autogestões, são de competência da Justiça comum estadual.
Com maior razão, por já ter sido encerrado o seu contrato de trabalho, a pretensão do ex-empregado de
manutenção no plano de assistência à saúde fornecido pela ex-empregadora não pode ser vista como
simples relação de trabalho.
Dessa forma, conclui-se que a Justiça competente para o exame e julgamento de ação fundada nos arts.
30 e 31 da Lei nº 9.656/98, que discute direitos de ex-empregado aposentado ou demitido sem justa causa
de permanecer em plano de saúde coletivo oferecido pela própria empresa empregadora aos
trabalhadores ativos, na modalidade de autogestão, é a Justiça Comum estadual, visto que a causa de
pedir e o pedido se originam de relação autônoma nascida com a operadora de plano de saúde, a qual
possui natureza eminentemente civil, envolvendo tão somente de maneira indireta os aspectos da relação
de trabalho.

TÍTULOS EXECUTIVOS
Contrato eletrônico de mútuo com assinatura digital é título executivo extrajudicial

Importante!!!
O contrato eletrônico de mútuo com assinatura digital pode ser considerado título executivo
extrajudicial.
Neste caso, não será necessária a assinatura de 2 testemunhas, conforme exige o art. 784, III,
do CPC/2015.
Na assinatura digital de contrato eletrônico, uma autoridade certificadora (terceiro
desinteressado) atesta que aquele determinado usuário realmente utilizou aquela assinatura
no documento eletrônico. Como existe esse instrumento de verificação de autenticidade e
presencialidade do contratante, é possível reconhecer esse contrato como título executivo
extrajudicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.495.920-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 15/05/2018
(Info 627).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João vai até a agência bancária, conversa com o gerente e toma emprestado R$ 20 mil.
Para tomar o dinheiro emprestado, contudo, João teve que assinar um contrato de mútuo
comprometendo-se a devolver o dinheiro em 6 meses, acrescido de juros e correção monetária.
Esse contrato foi assinado por João e por duas testemunhas.

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 27


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Caso João não pague o empréstimo, esse contrato poderá ser executado? O contrato de mútuo constitui-
se em título executivo extrajudicial?
SIM. O contrato de mútuo, desde que assinado pelo devedor e por 2 testemunhas, constitui-se em título
executivo extrajudicial. É o que prevê o art. 784, III, do CPC/2015:
Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:
(...)
III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas;

Algumas informações sobre o papel dessas 2 testemunhas?


 A assinatura das 2 testemunhas é considerada como “requisito extrínseco à substância do ato”.
 Seu objetivo é o de aferir a existência e a validade do negócio jurídico. O intuito foi o de permitir que,
se houvesse alguma alegação de nulidade do negócio, as testemunhas pudessem ser ouvidas para
certificar a existência ou não de vício na formação do instrumento, a ocorrência e a veracidade do ato,
com isenção e sem preconceitos.
 Vale ressaltar que as pessoas que assinam são “testemunhas instrumentárias”, ou seja, elas apenas
expressam a regularidade formal do instrumento particular, mas não precisam saber a respeito do
conteúdo do negócio jurídico.
 Em razão disso, a ausência de alguma testemunha ou a sua incapacidade, por si só, não ensejam a
invalidade do contrato ou do documento, mas apenas a inviabilidade do título para fins de execução,
pela ausência de formalidade exigida em lei.
 Assim, em regra, não havendo a assinatura das 2 testemunhas, o contrato continua sendo válido, mas
não poderá ser considerado como título executivo extrajudicial.
 Algumas vezes a parte alega algum “problema” com a assinatura da testemunha, mas não aponta
nenhum vício de consentimento ou falsidade documental. Só alega algum “vício” da testemunha. Ex:
a testemunha do contrato foi o advogado de uma das partes contratantes. Isso não pode,
considerando que a testemunha deverá ser alguém desinteressado no contrato. No entanto, se a parte
alega apenas isso, mas não questiona a validade do ajuste, este contrato continua sendo título
executivo extrajudicial (STJ. 4ª Turma. REsp 1453949/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
13/06/2017).
 Da mesma forma, ainda que não se consiga ler direito o nome das testemunhas no contrato, isso é
considerado mera irregularidade e não retira a força executiva do título, salvo se houver alguma
alegação de nulidade (STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp 609.407/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 26/05/2015).

Sem a assinatura das 2 testemunhas, é possível que o contrato seja considerado título executivo
extrajudicial?
• Em regra, para que o instrumento particular sirva como título executivo, é necessário que seja assinado
por 2 testemunhas.
• Excepcionalmente, mesmo sem essas duas assinaturas, é possível que o contrato continue sendo título
executivo se houver outras provas que comprovem a avença.
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 800.028/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 02/02/2016.

As testemunhas precisam presenciar as partes assinando o contrato? Todo mundo tem que assinar no
mesmo momento?
NÃO.

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 28


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Apenas a título de curiosidade: contrato de locação não precisa das 2 testemunhas


O contrato de locação não precisa estar assinado por 2 testemunhas para servir como título executivo
extrajudicial.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 970.755/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 21/03/2017.

E se esse contrato for eletrônico? Ex: Pedro celebra contrato de mútuo com uma instituição financeira;
ocorre que o negócio é todo feito por meio de uma página na internet; não há papel; e a assinatura de
mutuário também é digital. Esse contrato pode ser considerado título executivo extrajudicial?
SIM.
O contrato eletrônico de mútuo com assinatura digital pode ser considerado título executivo
extrajudicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.495.920-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 15/05/2018 (Info 627).

Mas sendo o contrato eletrônico, como fica a exigência da assinatura de 2 testemunhas?


O contrato eletrônico, em face de suas particularidades, por regra, tendo em conta a sua celebração à
distância e eletronicamente, não trará a indicação de testemunhas. Isso, contudo, não afasta a sua
executividade, desde que haja outros meios de se comprovar a sua existência e validade. Um exemplo
disso é o contrato eletrônico com assinatura digital certificada por autoridade certificadora.
Assim, se o contrato eletrônico tiver sido submetido a uma certificação eletrônica, utilizando-se a
assinatura digital devidamente aferida por autoridade certificadora, mostra-se desnecessária a assinatura
das testemunhas.
Vamos entender com calma.

Assinatura digital
Para que o contrato eletrônico possa ser considerado como título executivo, ele precisa ter sido celebrado
com assinatura digital cuja autenticidade possa ser aferida.
Existe uma “lei”, ou melhor dizendo, uma medida provisória que vigora com prazo indeterminado (art. 2º
da EC 32/2001) e que regulamenta como deve ser essa assinatura digital.
Trata-se da MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil). Veja
o que diz a MP:
Art. 1º Fica instituída a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, para garantir a
autenticidade, a integridade e a validade jurídica de documentos em forma eletrônica, das
aplicações de suporte e das aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como a
realização de transações eletrônicas seguras.

Art. 10. Consideram-se documentos públicos ou particulares, para todos os fins legais, os
documentos eletrônicos de que trata esta Medida Provisória.
§ 1º As declarações constantes dos documentos em forma eletrônica produzidos com a utilização
de processo de certificação disponibilizado pela ICP-Brasil presumem-se verdadeiros em relação
aos signatários (...)

No Brasil, a infraestrutura de chaves públicas é de responsabilidade de uma autarquia federal, o ITI -


Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, ligado à Presidência da República.
Assim, para que o contrato possa ser considerado um documento em forma eletrônica (contrato
eletrônico), ele deve ter a sua validade jurídica atestada por meio da assinatura digital, na forma da MP
2.200-2/2001.

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 29


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Chave pública
Segundo o glossário da ICP-Brasil, assinatura digital é o “código anexado ou logicamente associado a uma
mensagem eletrônica que permite de forma única e exclusiva a comprovação da autoria de um
determinado conjunto de dados (um arquivo, um e-mail ou uma transação). A assinatura digital comprova
que a pessoa criou ou concorda com um documento assinado digitalmente, como a assinatura de próprio
punho comprova a autoria de um documento escrito. A verificação da origem do dado é feita com a chave
pública do remetente.”
Desse modo, a verificação da autenticidade da assinatura digital é realizada mediante um sistema
denominado “chave pública”.
A chave pública adota um padrão de criptografia assimétrico por meio do qual o usuário assina
digitalmente o documento e uma autoridade certificadora atesta (confirma) a identidade do signatário.
Apenas para você entender, é como se essa autoridade certificadora fizesse o papel de um “cartório”
(tabelionato de notas), mas tudo on line e em fração de segundos.

Autoridade Certificadora
A Autoridade Certificadora é uma entidade que emite, renova ou revoga certificados digitais.

Assinatura eletrônica é o mesmo que assinatura digital?


Não. A relação é de gênero e espécie.
A assinatura digital é uma das espécies de assinatura eletrônica.
Assinatura digital é aquela que utiliza um certificado digital, geralmente um token, que foi certificado por
uma autoridade certificadora.
Exemplo de assinatura eletrônica que não é assinatura digital: o indivíduo assina o documento em um
tablet ou celular que tenha tela touchscreen.

JUIZADOS ESPECIAIS
Ação proposta por associação de moradores cobrando
taxa de manutenção do loteamento

O Juizado Especial Cível é competente para o processamento e o julgamento de ação proposta


por associação de moradores visando à cobrança de taxas de manutenção de loteamento em
face de morador não associado.
STJ. 3ª Turma. RMS 53.602-AL, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/06/2018 (Info 627).

Imagine a seguinte situação hipotética:


“Jardim Primavera” é um loteamento urbano “fechado”. Explicando melhor, os vizinhos das ruas próximas
se reuniram e fizeram uma associação de moradores. Essa associação instituiu uma “taxa de manutenção”
do loteamento que é paga todos os meses pelos moradores. Com o dinheiro arrecadado, eles fizeram
cancelas nas ruas, contrataram seguranças particulares e, aquilo que era um conjunto residencial,
transformou-se em uma espécie de “loteamento urbano fechado” de casas sem, contudo, terem sido
cumpridos os requisitos legais.
João é um dos vizinhos, mas ele não aceitou participar da associação nem quer pagar as taxas.
Diante disso, a associação dos moradores ajuizou ação de cobrança contra João pedindo que ele seja
condenado a pagar as taxas relativas à manutenção deste loteamento.
A ação foi proposta no 9º Juizado Especial Cível da Capital.
Em contestação, o réu alegou que a associação de moradores não detém legitimidade ativa para propor
ação perante o Juizado Especial, por não se enquadrar em nenhuma das hipóteses do art. 8º da Lei nº

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 30


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9.099/95. Argumentou que as “taxas” criadas pela associação não possuem natureza de “taxa
condominial”, de forma que isso não pode ser cobrado no Juizado Especial.
Quanto ao mérito, João afirmou que a cobrança é indevida considerando que ele não é filiado a esta
associação.

Pergunta inicial: o Juizado Especial Cível detém competência para julgar ação proposta por associação
de moradores visando à cobrança de taxas de manutenção de loteamento?
SIM.
Os Juizados Especiais Estaduais são regidos pela Lei nº 9.099/95.
O art. 3º trata sobre a competência dos Juizados. Repare o inciso II:
Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das
causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:
(...)
II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;
(...)

Inciso II
O inciso II do art. 3º da Lei prevê que compete ao Juizado Especial Cível julgar as causas “enumeradas no
art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil”.
Quando fala em Código de Processo Civil, ele está se referindo ao CPC/1973, considerando que a Lei nº
9.099/95 é anterior ao CPC/2015.
Desse modo, o art. 3º, II, da Lei nº 9.099/95 falou o seguinte: os Juizados Especiais são competentes para
julgar todas as causas elencadas no art. 275, II, do CPC/1973. Vejamos quais são elas:
Art. 275. Observar-se-á o procedimento sumário:
(...)
II - nas causas, qualquer que seja o valor
a) de arrendamento rural e de parceria agrícola;
b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio;
c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;
d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre;
e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo, ressalvados
os casos de processo de execução;
f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em legislação
especial;
g) que versem sobre revogação de doação;
h) nos demais casos previstos em lei.

Vale ressaltar que, mesmo o CPC/1973 tendo sido revogado, essa relação prevista no art. 275, II, do
CPC/1973 (Lei nº 5.869/73) ainda é utilizada para definir a competência dos Juizados Especiais. Isso por
força do art. 1.063 do CPC/2015, que diz o seguinte:
Art. 1.063. Até a edição de lei específica, os juizados especiais cíveis previstos na Lei nº 9.099, de
26 de setembro de 1995, continuam competentes para o processamento e julgamento das causas
previstas no art. 275, inciso II, da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973.

Assim, o condomínio possui legitimidade para ajuizar ação de cobrança de débitos condominiais no
Juizado Especial, sendo de competência do Juizado julgar esta demanda, com base no art. 3º, II, da Lei nº
9.099/95 c/c o art. 275, II, “b”, do CPC/1973.

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 31


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Mas, no caso concreto, não se trata de condomínio (e sim de associação de moradores). Da mesma
forma, não se trata de taxa condominial...
O STJ falou o seguinte: realmente, são situações diferentes, porém, apresentam muita semelhança, de
forma que se pode aplicar o mesmo raciocínio jurídico para fins de fixação da competência.
A contribuição cobrada pela associação tem por objetivo o custeio das despesas e serviços relacionados à
administração das áreas comuns, exatamente como ocorre em relação às despesas ordinárias e
extraordinárias do condomínio edilício. Ademais, a cobrança dessa contribuição, em regra, segue a mesma
lógica inerente ao rateio das despesas condominiais.
Dessa maneira, sendo nítida a similaridade fática existente entre a cobrança de cotas condominiais e taxas
de manutenção pedidas por associações de proprietários e/ou moradores de loteamentos fechados, não
se vislumbra motivo razoável para impedir que as referidas associações proponham a ação de cobrança
no âmbito dos Juizados Especiais.
Os Juizados Especiais devem ser responsáveis pelo julgamento das causas mais simples, que podem ser
solucionadas de maneira mais célere e efetiva, sem as amarras formais que impregnam o processo civil
tradicional.

Última pergunta: quanto ao mérito, essa associação de moradores terá êxito?


NÃO. O STJ possui o entendimento consolidado no sentido de que:
As taxas de manutenção criadas por associações de moradores não obrigam os não associados ou que
a elas não anuíram.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.280.871-SP e REsp 1.439.163-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para
acórdão Min. Marco Buzzi, julgados em 11/3/2015 (recurso repetitivo) (Info 562)

DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA


Para fazer a prova da constituição definitiva do crédito tributário
não se exige a juntada integral do PAF

Importante!!!
Para o início da ação penal, basta a prova da constituição definitiva do crédito tributário
(Súmula Vinculante 24), sendo desnecessária a juntada integral do Procedimento
Administrativo Fiscal correspondente.
STJ. 5ª Turma. RHC 94.288-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 22/05/2018 (Info 627).

Lei 8.137/90
A Lei nº 8.137/90, em seus arts. 1º e 3º, define crimes contra a ordem tributária.
O art. 1º prevê o delito de sonegação fiscal, que é um crime tributário MATERIAL (com exceção do inciso
V, que é formal). Veja a redação do dispositivo:
Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social
e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;
II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de
qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 32


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III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento
relativo à operação tributável;
IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou
inexato;
V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente,
relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em
desacordo com a legislação.
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Quando se consuma o crime tributário material?


O crime tributário material somente se consuma quando houver a constituição definitiva do crédito
tributário, nos termos da SV 24:
Súmula vinculante 24: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no artigo 1º,
incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.

Constituição do crédito tributário


O crédito tributário é constituído (nasce) com um ato do Fisco chamado de “lançamento”.
O lançamento é o ato por meio do qual o Auditor Fiscal constata que ocorreu um fato gerador de tributo.
Ele, então, identifica quem é o sujeito passivo (contribuinte), calcula o quanto do tributo é devido
(aplicando a alíquota sobre a base de cálculo) e inclui também a multa (se for o caso).
Somente depois que é feito o lançamento, podemos dizer que existe “crédito tributário”, ou seja, um
crédito que o Fisco possui em relação a um devedor (contribuinte).
Ocorre que algumas vezes, depois de haver o lançamento, o contribuinte autuado não concorda com esse
ato e faz uma impugnação administrativa, ou seja, questiona esse ato alegando que ele não foi correto
(ex: não havia fato gerador, a alíquota estava errada, a base de cálculo não era aquela etc.).
Enquanto essa impugnação administrativa não for julgada, não se pode dizer que houve a constituição
DEFINITIVA do crédito tributário.
Assim, no caso de crimes tributários, enquanto o crédito tributário estiver sendo impugnado
administrativamente, diz-se que ainda não houve constituição definitiva do crédito tributário, de modo
que não é permitido o ajuizamento de ação penal, até mesmo porque não se sabe se esse crédito vai ser
mantido ou não pelo Fisco. Pode acontecer de o órgão recursal do Fisco entender que as razões invocadas
pelo contribuinte são pertinentes e que não há crédito tributário. Logo, seria temerário ajuizar ação penal
por conta de um crédito que ainda não está definitivamente constituído na esfera administrativa.

Procedimento Administrativo Fiscal (PAF)


A constituição definitiva do crédito tributário ocorre no bojo de um processo administrativo, que é mais
conhecido como Procedimento Administrativo Fiscal (PAF).
Nele constam todos os documentos e manifestações que levaram o Fisco a fazer esse lançamento e
constituir o crédito tributário.

Ao apresentar a denúncia imputando ao réu um crime material contra a ordem tributária, o Ministério
Público precisa fazer prova de que houve a constituição definitiva do crédito tributário?
SIM. É necessária a comprovação da constituição definitiva do crédito tributário a fim de que se possa
atender a exigência contida na SV 24.
Assim, na denúncia, o MP deverá indicar o número do auto de infração, cuja inscrição definitiva em dívida
ativa constituiu o crédito tributário.

Ao apresentar a denúncia imputando ao réu um crime material contra a ordem tributária, o Ministério
Público precisa juntar a integralidade do Procedimento Administrativo Fiscal?
NÃO.

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 33


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Mas e se o réu quiser impugnar esse lançamento? Se ele quiser dizer que o lançamento não deveria ter
ocorrido, que não havia fato gerador, que a alíquota foi errada etc.?
Os documentos tributários e a correção ou não do lançamento já foram analisados no procedimento
administrativo fiscal. Se o réu ainda deseja questioná-los judicialmente, apontando alguma irregularidade
ou equívoco no procedimento tributário, deverá fazê-lo por meio de ação judicial própria (ação anulatória,
mandado de segurança etc.), não podendo questionar a constituição definitiva do crédito tributário na
esfera criminal.
Assim, não se revela necessária a juntada dos documentos tributários, mas apenas a comprovação da
constituição definitiva do crédito tributário. Eventual questionamento da constituição do tributário não
pode ser feito no juízo criminal, cabendo ao réu se valer dos meios próprios para tanto.
Nesse sentido:
(...) 2. É descabida a discussão sobre a nulidade ou não do procedimento administrativo fiscal em processo
criminal. A alegação da existência de vícios no referido procedimento deve ser manejada na esfera
adequada para o exercício da pretensão anulatória do crédito tributário, e não no âmbito da Justiça
Criminal. (...)
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 469.137/RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 05/12/2017.

Dizendo isso de forma bem clara: a constituição definitiva do crédito tributário não pode ser anulada,
desfeita, desconstituída no processo penal.

Em suma:
O crime tributário material somente se consuma quando houver a constituição definitiva do crédito
tributário, nos termos da SV 24.
Para o início da ação penal, basta a prova da constituição definitiva do crédito tributário, não sendo
necessária a juntada integral do Procedimento Administrativo Fiscal (PAF) correspondente.
Se o réu deseja questionar a validade do crédito fiscal, deve fazer isso por meio da ação própria, no Juízo
cível. É descabida a discussão sobre a nulidade ou não do Procedimento Administrativo Fiscal no
processo criminal.
Caso a defesa entenda que a documentação apresentada pelo Parquet é insuficiente e queira esmiuçar
a dívida, pode apresentar cópia do referido PAF ou dizer que está tendo obstáculos administrativos de
conseguir os autos.
Se houver qualquer obstáculo administrativo para o acesso ao procedimento administrativo fiscal
respectivo, a parte pode sugerir ao Juiz sua atuação até mesmo de ofício, desde que aponte qualquer
prejuízo à defesa que possa interferir na formação do livre convencimento do julgador.
STJ. 5ª Turma. RHC 94.288-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 22/05/2018 (Info 627).

Informativo 627-STJ (29/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 34


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DIREITO PROCESSUAL PENAL

TRIBUNAL DO JÚRI
Sustentação oral em tempo reduzido

Diante das peculiaridades do Tribunal do Júri, o fato de ter havido sustentação oral em plenário
por tempo reduzido não caracteriza, necessariamente, a deficiência de defesa técnica.
STJ. 6ª Turma. HC 365.008-PB, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 17/04/2018 (Info 627).
Obs: existe decisão reconhecendo a ocorrência de nulidade pelo simples fato de a sustentação oral ter
sido feita em poucos minutos: STJ. 6ª Turma. HC 234.758-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado
em 19/6/2012. No entanto, entendo que a posição majoritária é no sentido que isso não conduz,
obrigatoriamente, à nulidade, conforme decidido no HC 365.008-PB.

O caso concreto foi o seguinte:


Na sessão plenária do Tribunal do Júri, na fase de sustentações orais, o Ministério Público falou durante 1h
pedindo a condenação do réu.
Em seguida, o advogado constituído fez a sustentação oral, defendendo o réu por apenas 9 minutos.
Submetido à votação dos jurados, o acusado foi condenado.
Depois do Júri, outro advogado assumiu o caso e impetrou habeas corpus em favor do condenado
alegando nulidade do julgamento por ausência de defesa técnica efetiva.
Alegou que o causídico constituído à época não solicitou a leitura de peças dos autos que favorecessem a
tese da defesa e não desempenhou fielmente a defesa do paciente em plenário, tendo em vista que a sua
sustentação oral durou apenas 9 minutos, tempo esse que se mostra exíguo, irrisório e ineficaz.

Em um caso semelhante a esse, o STJ declarou a nulidade do julgamento?


NÃO.
Diante das peculiaridades do Tribunal do Júri, o fato de ter havido sustentação oral em plenário por
tempo reduzido não caracteriza, necessariamente, a deficiência de defesa técnica.
STJ. 6ª Turma. HC 365.008-PB, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado
em 17/04/2018 (Info 627).

O tema é pacífico?
NÃO. Existe decisão reconhecendo a ocorrência de nulidade pelo simples fato de a sustentação oral ter
sido feita em poucos minutos: STJ. 6ª Turma. HC 234.758-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
19/6/2012.
No entanto, entendo que a posição majoritária é no sentido que isso não conduz, obrigatoriamente, à
nulidade, conforme decidido no HC 365.008-PB:
(...) embora seja realmente estranho que um advogado, durante a plenária do Tribunal do Júri, faça uso
da palavra por apenas onze minutos, isso pode, de acordo com as peculiaridades que sabemos haver no
Tribunal do Júri, decorrer de uma percepção ou de uma sinalização de que a providência máxima a ser
alcançada independerá de esforço maior. Ainda é possível ser o defensor dotado de um poder de síntese
muito grande ou, até mesmo, sinalizar essa postura uma conformidade entre as partes, visto que houve
um pedido inicial de homicídio qualificado e o próprio Ministério Público retirou da acusação a
qualificadora. (...)
STJ. 6ª Turma. HC 288.978/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para o acórdão Min. Rogerio Schietti,
julgado em 15/3/2018.

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(...) 1. Segundo a legislação penal em vigor, é imprescindível quando se trata de alegação de nulidade de
ato processual a demonstração do prejuízo sofrido, em consonância com o princípio pas de nullité sans
grief, consagrado pelo legislador no art. 563 do CPP.
2. Conforme informação prestada pelo Tribunal de origem, o recorrente não esteve indefeso durante a
sessão de julgamento, apenas porque o defensor foi sucinto, objetivo, pugnando pela absolvição do
acusado, pelo argumento da tese de negativa de autoria. Prejuízo para defesa não demonstrado. (...)
STJ. 5ª Turma. RHC 480.001/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe 23/6/2017.

EXERCÍCIOS

Julgue os itens a seguir:


1) É admissível o restabelecimento do nome de solteiro na hipótese de dissolução do vínculo conjugal pelo
falecimento do cônjuge. ( )
2) É inadmissível a homologação de acordo extrajudicial de retificação de registro civil de menor em juízo
sem a observância dos requisitos e procedimento legalmente instituído para essa finalidade. ( )
3) Não é possível a penhora de bem de família dado em garantia hipotecária pelo casal quando os cônjuges
forem os únicos sócios da pessoa jurídica devedora. ( )
4) O magistrado não poderá, de ofício, reduzir a cláusula penal por força da autonomia privada e do
princípio da congruência. ( )
5) Por se tratar de obrigação personalíssima, o falecimento do consignante extingue a dívida decorrente de
contrato de crédito consignado em folha de pagamento. ( )
6) A jurisprudência do STJ evoluiu para considerar os danos decorrentes de acidentes de veículos
automotores como dano moral in re ipsa. ( )
7) A alteração substancial e unilateral do contrato firmado de transporte aéreo para terrestre impede a
utilização da excludente de fortuito externo para eximir a empresa de transporte aéreo da
responsabilidade civil por danos causados por roubo ao ônibus. ( )
8) A pretensão do titular de ações de exigir contas da sociedade anônima referente ao pagamento de
dividendos, juros sobre capital próprio e demais rendimentos inerentes às respectivas ações prescreve
em cinco anos. ( )
9) A ação de compensação por danos morais movida contra empresa em recuperação judicial deve permanecer
suspensa até o trânsito em julgado da decisão final proferida no processo de soerguimento. ( )
10) Compete à Justiça Comum Estadual o julgamento de demanda com natureza predominantemente civil
entre ex-empregado aposentado ou demitido sem justa causa e operadoras de plano de saúde na
modalidade autogestão vinculadas ao empregador. ( )
11) O contrato eletrônico de mútuo com assinatura digital pode ser considerado título executivo
extrajudicial. ( )
12) O Juizado Especial Cível é competente para o processamento e o julgamento de ação proposta por
associação de moradores visando à cobrança de taxas de manutenção de loteamento em face de
morador não associado. ( )
13) Para o início da ação penal, é necessária a prova da constituição definitiva do crédito tributário (Súmula
Vinculante 24), mediante a juntada integral do Procedimento Administrativo Fiscal correspondente. ( )
14) Diante das peculiaridades do Tribunal do Júri, o fato de ter havido sustentação oral em plenário por
tempo reduzido não caracteriza, necessariamente, a deficiência de defesa técnica. ( )

Gabarito
1. C 2. C 3. E 4. E 5. E 6. E 7. C 8. E 9. E 10. C
11. C 12. C 13. E 14. C

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